Memorial Estacao Ete Toulon

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CONDOMÍNIO TOULON Lote 2 do PAL 46.744

Av. Brasil Nº 50.851 - Paciência Rio de Janeiro - RJ

SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS

PROJETO HIDRÁULICO-SANITÁRIO

AUTOR DO PROJETO:

ENGº CÍCERO ONOFRE DE ANDRADE NETO CREA-RN 334 D

NOVEMBRO 2006

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PROJETO DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS DO CONDOMÍNIO TOULON APRESENTAÇÃO Este documento constitui o projeto técnico hidráulo-sanitário executivo do sistema de tratamento de esgotos sanitários do Condomínio Toulon, situado na Avenida Brasil, Nº 50.851 (lote 2 do PAL 46.744), Rio de Janeiro, RJ.

O Condomínio comportará 237 unidades residenciais do tipo apartamento para 4 pessoas, destinado ao Programa de Arrendamento Residencial – PAR, da Caixa Econômica Federal, todas dotadas de instalações hidrosanitárias e ligadas a uma rede de coleta de esgotos.

A Estação de Tratamento de Esgotos é constituída de um decanto-digestor de alta eficiência seguido de filtros anaeróbios, que assegura eficiência satisfatória na remoção da carga poluidora com operação muito simples, eventual e de baixo custo, e atende toda população residente no Condomínio.

Natal, novembro de 2006

Engº Cícero Onofre de Andrade Neto CREA-RN 334 D

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

1. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO

1.1 - Introdução

1.2 - A opção por ETE totalmente anaeróbia

1.3 - Legislação pertinente

1.4 - O sistema projetado para o tratamento dos esgotos

2. MEMORIAL DE CÁLCULOS

2.1 - População contribuinte

2.2 – Vazões

2.3 – Carga orgânica

2.4 – Dimensionamento do decanto-digestor

2.5 – Dimensionamento dos filtros anaeróbios

3. ASPECTOS CONSTRUTIVOS

4. MANUAL DE OPERAÇÃO

5. PLANTAS (DESENHOS DO PROJETO)

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1. MEMORIAL DESCRITIVO E JUSTIFICATIVO

1.1 - Introdução

O Condomínio Toulon comporta 237 unidades residenciais do tipo apartamento para 4 pessoas, será construído pelo Programa de Arrendamento Residencial – PAR, da Caixa Econômica Federal, e destina-se a ocupação de usuários típicos desse Programa. Todas as unidades residenciais são dotadas de instalações hidrosanitárias e ligadas a uma rede de coleta de esgotos.

A Estação de Tratamento de Esgotos – ETE projetada para o Condomínio é constituída de um decanto-digestor seguido de filtros anaeróbios, que assegura eficiência satisfatória na remoção da carga poluidora com operação muito simples, eventual e de baixo custo, e atende toda população residente no Condomínio.

De acordo com o Artigo 88 do regulamento aprovado pelo decreto estadual 553/76, o dispositivo de tratamento de esgoto a ser executado deverá ser mantido e operado pelos proprietários dos imóveis por ele beneficiados. Portanto, a ETE do Condomínio Toulon deverá ser mantida e operada pelos usuários do sistema.

Alem de atender as necessidades de proteção ambiental e as exigências da legislação pertinente, a ETE projetada, totalmente anaeróbia, permite uma operação extremamente simples e eventual, sem mecanização ou consumo de energia elétrica, Este é um dos principais motivos que justificam a opção por esta solução.

De acordo com a DZ 215 R3, da FEEMA, a eficiência mínima de remoção de matéria orgânica da ETE deve ser de 80% da DBO e as concentrações máximas de DBO e RNFT deve ser de 60 mg/L, sendo que o sistema de tratamento deverá atender ou às eficiências mínimas ou as concentrações máximas permitidas. O tempo de detenção hidráulica utilizado no projeto, relativamente longo (há sistemas semelhantes operando satisfatoriamente com tempo de detenção hidráulica menor) assegura não só remoções de DBO iguais ou maiores que 80% como também concentrações menores ou iguais a 60 mg/L de DBO e RNFT.

1.2 - A opção por ETE totalmente anaeróbia

Comparados com reatores aeróbios mecanizados, os reatores anaeróbios apresentam grandes vantagens: produzem pouco lodo, estabilizado; não necessitam de equipamentos eletromecânicos; e requerem construção e operação muito simples.

Os decanto-digestores não apresentam alta eficiência, mas produzem um efluente razoável, que pode mais facilmente ser encaminhado a um pós-tratamento ou ao destino final. Comportam vantagens do processo anaeróbio, com operação muito simples e eventual, e os custos de construção e operação são inigualavelmente baixos.

Além dos inúmeros pequenos tanques sépticos que atendem residências ou conjunto de prédios, tem-se também, no Brasil, já um bom número de decanto-digestores de grande porte. Como funcionam com biomassa decantada, os decanto-digestores são muito “robustos”, resistem às variações do afluente e às cargas tóxicas sem prejuízo da atividade biológica. São reatores muito adequados para tratamento de esgotos “jovens”, que chegam na unidade de tratamento com grande parcela de sólidos decantáveis.

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Os modelos, de câmara única, de câmaras em série e de câmaras sobrepostas, são funcionalmente muito diferentes. O modelo de câmaras em série é muito adequado para climas quentes, com maior proveito da atividade biológica da primeira câmara.

Nos últimos anos tem sido aplicado com sucesso um decanto-digestor inovador, desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, do tipo prismático retangular, com duas câmaras em série, que tem na saída da segunda câmara um pequeno filtro de pedras de fluxo ascendente em comunicação direta, que propicia eficiência na remoção de DBO de até 70%.

O decanto-digestor pode anteceder variados tipos de unidades de tratamento de esgotos e é muito vantajoso quando associado às que removem matéria orgânica dissolvida. Contudo, para pós-tratamento dos efluentes de decanto-digestores, o mais utilizado, no Brasil, é o filtro anaeróbio.

O filtro anaeróbio consiste, inicialmente, de um tanque contendo material de enchimento, que forma um leito fixo, alimentado com esgoto ou efluente de outra unidade de tratamento. Na superfície do material de enchimento ocorre a fixação e o desenvolvimento de microrganismos, que também se agrupam, na forma de flocos ou grânulos, nos interstícios deste material. O fluxo através do meio filtrante, e do lodo ativo, é que confere alta eficiência aos filtros anaeróbios.

Apresentam as vantagens dos reatores anaeróbios com fluxo através do lodo ativo, inclusive na remoção da matéria orgânica dissolvida. Ademais: podem ser utilizados para esgotos concentrados ou diluídos; resistem bem às variações de vazão afluente e propiciam efluentes bastante estáveis; perdem pouco dos sólidos biológicos; permitem várias opções de forma, sentido de fluxo e materiais de enchimento; e têm construção e operação muito simples.

Filtros anaeróbios são utilizados para pós-tratamento de outras unidades anaeróbias porque, além de complementar o tratamento, sua capacidade de reter os sólidos e de recuperar-se de sobrecargas qualitativas e quantitativas, confere elevada segurança operacional ao sistema e maior estabilidade ao efluente, mantendo as vantagens do tratamento anaeróbio.

O efluente de um filtro anaeróbio é geralmente bastante clarificado (< 30 mg/l de SST) e tem relativamente baixa concentração de matéria orgânica (< 60 mg/l de DBO), inclusive dissolvida.

Sendo um processo de filtração, os filtros anaeróbios são eficientes também na remoção de ovos de vermes e as concentrações baixas de sólidos suspensos facilitam a desinfecção por processos físicos ou químicos.

Decanto-digestor seguido de filtros anaeróbios compõe um sistema que pode ser muito vantajoso para tratamento de esgotos sanitários: associa, em série, um reator resistente às variações do afluente com um reator eficiente também sobre a parcela dissolvida dos esgotos; tem operação esporádica e não requer operador especializado; absorve choques tóxicos e de sobrecarga com rápida recuperação; e tem bom funcionamento desde o início da operação.

Com o uso do filtro anaeróbio, e somente assim, é possível ter uma estação de tratamento de esgoto totalmente anaeróbia, com custos muito baixos de implantação e operação, porém eficiente o suficiente para atender padrões de órgãos ambientais para os efluentes.

Um livro publicado pelo PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (FINEP/CNPq /CAIXA) em 2001 (Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios;

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Chernicharo et al, 544p.; disponível em www.finep.gov.br/prosab ) com a participação de mais de vinte especialistas brasileiros em tratamento de esgotos, registra que enquanto o custo de implantação de uma ETE convencional com lodos ativados situa-se entre R$100,00 e R$180,00 por habitante e o de uma ETE com reator UASB seguido de sistema de lodos ativados situa-se entre R$70,00 e R$110,00 por habitante, uma ETE com reator UASB seguido de filtro anaeróbio tem uma faixa usual de custo de implantação entre R$40,00 e R$60,00 por habitante atendido. Ademais, os sistemas totalmente anaeróbios têm custo de operação baixíssimo.

O mesmo livro cita (com o aval de alguns dos maiores especialistas de tratamento de esgotos do Brasil) que nas pesquisas realizadas no âmbito do PROSAB, com filtros anaeróbios utilizados para o pós-tratamento de efluentes de tanques sépticos e reatores UASB, tem-se observado que os filtros anaeróbios são capazes de produzir efluentes que atendem aos padrões de lançamento estabelecidos pelos órgãos ambientais, em termos de concentração de DBO. Registra também que atualmente os filtros anaeróbios já vêm sendo utilizados, após reatores UASB, para garantir efluente final com DBO < 60 mg/L, inclusive para cidades com população superior a 50.000 habitantes, e mesmo em condições operacionais que resultam um tempo de detenção, no filtro, metade daquele recomendado pela NR 13.969/1997, da ABNT, o efluente final sempre apresenta DBO < 60 mg/L.

Em escala real, vários sistemas com filtros anaeróbios vêm sendo aplicados no Brasil para pós tratamento de efluentes de reatores anaeróbios de porte médio e grande.

No Rio Grande do Norte, desde 1992 um sistema que associa decanto-digestor e filtros anaeróbios (sistema RN) vem sendo aplicado e desenvolvido tecnologicamente, com algumas unidades de porte médio em operação. Sistemas semelhantes ao desenvolvido no RN foram projetados também para: Rio de Janeiro, Mato Grosso, Maranhão e Alagoas. O sistema é constituído de um grande tanque séptico de câmaras em série com um pequeno filtro agregado e dois filtros anaeróbios que o ladeiam.

Um sistema semelhante a esse foi construído na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN para pesquisas no âmbito do PROSAB – Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (FINEP/CNPq/CAIXA).

As pesquisas na UFRN, desenvolvidas durante seis anos em escala piloto e com esgoto essencialmente doméstico, mostraram, entre outras conclusões, que estações de tratamento de esgoto totalmente anaeróbias, com filtros anaeróbios, podem produzir efluentes com DBO média menor que 40 mg/L e menos de 20 mg/L de sólidos suspensos, e que é possível obter alto rendimento (tempo de detenção de 5 horas e remoção de DQO maior que 85%) operando-os com carga orgânica elevada. O pior resultado em todas as condições operacionais da pesquisa ainda assim produziu, em média, um efluente com DBO menor que 60 mg/L, que atende às exigências de alguns estados do Brasil para os padrões de lançamento de efluentes no meio.

No Paraná, a Companhia de Saneamento - SANEPAR vem aplicando grandes filtros anaeróbios para pós tratamento de reatores anaeróbios de manto de lodo. O primeiro foi construído em 1996 e atualmente existem muitos destes reatores em operação, atendendo a populações que variam de 1.500 a 50.000 pessoas, com diâmetros entre 8 e 30 m. Têm propiciado bons resultados com tempo de detenção hidráulica de projeto entre 7 e 13 horas e enchimento com brita Nº 4. Segundo informações do Engenheiro Décio Jurgensen, da SANEPAR, os sistemas compostos de RALF (reator anaeróbio de manta de lodo) seguido desses filtros anaeróbios propiciam efluentes com menos de 20 mg/L de sólidos suspensos e DBO menor que 60 mg

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No interior de São Paulo, a Companhia de Saneamento Básico do Estado - SABESP, tem empregado largamente decanto-digestor seguido de filtro anaeróbio em comunidades com população inferior a 2000 habitantes. No 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, em 2001, Alceu C. Galvão Júnior, José E. Moreno e Carlos A. C. Magalhães, apresentaram um trabalho sobre a “Avaliação dos Sistemas de Tratamento por Decantodigestores Seguidos de Filtros Anaeróbios, em Comunidades Atendidas pela Unidade de Negócio do Médio Tietê – SABESP” no qual analisam os resultados operacionais de quatro desses sistemas, a partir de dados históricos coletados nas ETEs operadas pela SABESP no período de 1993 a 2000. Os sistemas apresentaram 83% na remoção de DBO e 81% na remoção da DQO, considerando-se uma média das eficiências médias. Os dois sistemas analisados com dados mais recentes (de 1997 a 2000), um com 100 e outro com 250 ligações de esgoto, apresentaram eficiências médias de 87% e 81% na remoção da DBO, e, nos quatro, a mais baixa eficiência média foi 80% de remoção da DBO, em condições reais de operação.

Muitos outros exemplos de sucesso de ETE totalmente anaeróbia podem ser encontrados na literatura especializada.

Enfim, baseado em dados de pesquisas confiáveis mas também em dados de ETEs operando em escala real, pode-se afirmar que, para tratamento de esgotos sanitários em regiões de clima quente, o uso de estações de tratamento de esgotos sanitários totalmente anaeróbias, compostas com filtro anaeróbio antecedido de decanto-digestor ou reator de manta de lodo, é perfeitamente viável, tanto do ponto de vista tecnológico como do econômico, e pode propiciar efluentes com menos de um ovo de vermes por litro, concentrações de DBO abaixo de 60 mg/l, concentrações de sólidos suspensos totais abaixo de 20 mg/l , com ótimo aspecto visual e sem problemas de maus odores.

Na verdade, as grandes vantagens dos decanto-digestores e filtros anaeróbios, comparados com outras opções de tratamento de esgotos, estão na construção muito simples, na operação, extremamente simples e eventual, e nos custos. A extrema simplicidade da operação, aliado aos baixos custos e a uma eficiência satisfatória, é geralmente fator decisivo na escolha de reatores anaeróbios para aplicação no tratamento de esgotos. É que a operação fácil e de baixo custo garante a sustentabilidade do funcionamento da ETE com a eficiência projetada.

1.3 - Legislação pertinente

Este projeto obedece as condições técnicas constantes da legislação pertinente ao tratamento de esgotos e à proteção do meio ambiente do Estado do Rio de Janeiro, em particular observa o que estabelece a DZ 215 R3 – Diretrizes de controle de carga orgânica biodegradável em efluentes líquidos de origem não industrial, da FEEMA, e adota parâmetros de projeto condizentes.

1.4 - O sistema projetado para o tratamento dos esgotos

O sistema de tratamento é composto por um decanto-digestor de câmaras em série com um pequeno filtro agregado e dois filtros anaeróbios submersos que ladeiam o decanto-digestor. Constitui uma estação de tratamento de esgotos totalmente anaeróbia, compacta, de médio porte.

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Segue o modelo de ETE totalmente anaeróbia desenvolvida tecnologicamente na UFRN e já aplicada em escala real com sucesso em diversos casos.

O decanto-digestor tem duas câmaras em série e inclui, acoplado à segunda câmara com comunicação direta, um filtro de pedras (brita Nº 4) de fluxo ascendente. O filtro agregado ao decanto-digestor comunica-se com o mesmo através de um fundo falso de vigotas (nervuras) de laje pré moldada, espaçadas de 5cm, abaixo do qual situa-se um fundo inclinado que propicia o retorno do lodo ao decanto-digestor e evita a obstrução (colmatação) do filtro. O objetivo deste pequeno filtro é, principalmente, complementar a retenção de sólidos suspensos, mas atua também na remoção de parte da matéria orgânica dissolvida. Este reator é na verdade um tanque séptico de câmaras em série modificado pelo acréscimo do pequeno filtro ascendente, mas tem eficiência bem maior que a de um tanque séptico comum.

O efluente do decanto-digestor com o pequeno filtro agregado aflui imediatamente aos filtros anaeróbios submersos. Nestas unidades os esgotos são distribuídos e coletados através de tubos perfurados, colocados respectivamente sobre e sob o material de enchimento (leito). Sobre o material de enchimento uma tela de plástico faz a contenção para compensar o empuxo. No final de cada filtro anaeróbio encontra-se um compartimento que tem várias finalidades: permite a drenagem do excesso de lodo; dá acesso aos tubos perfurados do fundo; serve, eventualmente, para tratamento complementar; e mantém o filtro afogado.

O objetivo dos filtros anaeróbios afogados é a remoção da matéria orgânica dissolvida, para complementar o tratamento. O pequeno filtro de pedras agregado ao decanto-digestor lhe confere alta eficiência na remoção de sólidos suspensos, encaminhando para os filtros anaeróbios afogados que lhe seguem um esgoto com maior parcela dissolvida, o que propicia a formação e retenção de lodo biológico de ótima qualidade nos filtros anaeróbios principais, que por isso apresentam alta eficiência na remoção da parcela dissolvida da matéria orgânica remanescente, além da remoção complementar de sólidos de menor dimensão e de coloides, própria do processo de filtração.

Os dois filtros anaeróbios são independentes e funcionam em paralelo para facilitar a operação. Pode-se remover o excesso de lodo de um dos filtros sem ter que interromper o fluxo de esgoto para o sistema de tratamento.

As idéias, do fundo falso sobre o fundo inclinado no filtro do decanto-digestor e do compartimento à jusante dos filtros anaeróbios, além de melhorar a eficiência do sistema, objetivam, principalmente, simplificar a operação. Quando se remove o lodo da segunda câmara do decanto-digestor, também remove-se o excesso de lodo do pequeno filtro ascendente, que automaticamente retorna àquela câmara, devido ao fundo inclinado. O excesso de lodo dos filtros anaeróbios afogados é removido automaticamente, através dos tubos perfurados, quando se esgota o compartimento a jusante dos filtros, porque isso provoca velocidades de fluxo bastante elevadas nos interstícios do leito. Toda a operação pode ser executada, periodicamente, com auxílio de um carro “limpa-fossa”.

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2. MEMORIAL DE CÁLCULOS

2.1 - População contribuinte

Numero de unidades habitacionais = 237 unid

Taxa de ocupação (habitação) = 4 hab / unid

População (P):

P = 237 x 4 = 948 habitantes

2.2 – Vazões

Contribuição “per capita” de esgoto (q)

De acordo com a tabela II da DZ 215 R3, da FEEMA, para Padrão Baixo (conjunto habitacional) a contribuição per capita de esgoto deve ser 120 L/dia

Vazão média (Qmed):

Qmed = P q = 948 x 120 = 113760 L/dia

Qmed = 113,76 m3/dia (4,74 m3/h)

Vazão máxima (Qmax):

Coeficiente de reforço do dia de maior consumo (k1) = 1,2

Coeficiente de reforço da hora de maior consumo (k2) = 1,5

Qmax = Qmed k1 k2 = 4,74 x 1,2 x 1,5 = 8,53 m3/h

2.3 – Carga orgânica

Contribuição orgânica per capita (c)

De acordo com a tabela II da DZ 215 R3, da FEEMA, para Padrão Baixo (conjunto habitacional) a contribuição unitária de esgoto deve ser 45 g DBO/dia

Carga orgânica diária (Ca):

Ca = P c = 948 x 45 = 42660 g DBO/dia

Ca = 42,66 kg DBO/dia

De acordo com a tabela III da DZ 215 R3, da FEEMA, para cargas entre 25 e 80 kg DBO/dia a eficiência mínima de remoção de matéria orgânica deve ser de 80% e as concentrações máximas de DBO e RNFT deve ser de 60 mg/L. Ainda de acordo com a DZ 215 R3 o sistema de tratamento deverá atender ou às eficiências mínimas ou as concentrações máximas permitidas conforme a citada tabela.

O sistema de tratamento foi projetado para atende à eficiência mínima e às concentrações máximas exigidas nesse caso.

2.4 – Dimensionamento do decanto-digestor 2.4.1 – Volume das duas primeiras câmaras do decanto-digestor (Vc)

De acordo com a NBR 7229/93 (ABNT), Vc = 1000 + P (q t + K Lf)

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Sendo: P a população; q a contribuição de esgoto per capita; t o tempo necessário para decantação; K a taxa de acumulação de lodo; e Lf a contribuição per capita de lodo fresco.

Para: t = 8 horas; K = 38 dias (temperatura > 20º C; intervalo entre limpezas de seis meses); e Lf = 1,0 L/hab. dia :

Vc = 1000 + 984 ((120 x 0,333) + 38) = 74944 L

Vc = 75 m3

2.4.2 – Dimensões das duas câmaras do decanto-digestor

Sendo: w1 o comprimento da primeira câmara, w2 o da segunda e w o comprimento total das duas câmaras; b a largura; e h a altura útil.

Para: w = 3b; w1 = 2/3 w; w2 = 1/3 w; h = 2,10 m (parâmetros de projeto e de acordo com a NBR 7229/93 - ABNT)

Temos: w = 10,35; w1 = 6,90 m; w2 = 3,45 m; b = 3,45 m; h = 2,10 m. 2.4.3 – Dimensões do filtro do decanto-digestor

Altura útil = 0,70 m (altura do leito de pedras)

Lâmina d’água livre = 0,10 m

Comprimento do filtro (w3) = 1,45 m (para ângulo de inclinação do fundo > 30º ; velocidade ascensional < 1 m/h e w3 ≤ 1,5m)

Altura da abertura da cunha = 1,20 2.4.4 - Volume total do decanto-digestor (com o filtro ascendente acoplado) (Vt)

Vt = 75 + 5,2 = 80,2 m3 (50% de vazios no leito de pedras)

2.4.5 – Tempo de detenção inicial total do decanto-digestor (Tt)

Tt = 16,9 horas

2.5 – Dimensionamento dos filtros anaeróbios

Adotar dois filtros ladeando o decanto-digestor

Vazão de cada filtro = 56,88 m3/dia 2.5.1 – Volume de cada filtro (Vf)

Para o tempo de detenção de 10 horas

Vf = 56,88 x 0,4167 = 23,7 m3 2.5.2 – Dimensões de cada filtro (compatível com as dimensões do decanto-digestor)

Altura útil média: 1,30 m (1,25 a 1,35m)

Comprimento: 10,70 m

Largura: 1,70 m

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2. ASPECTOS CONSTRUTIVOS

A construção do decanto-digestor e dos filtros anaeróbios é extremamente simples e não requer técnicas especiais. É necessário apenas que o construtor execute o projeto com fidelidade e seguindo procedimentos usuais da construção civil.

Este projeto prevê a construção do decanto-digestor e dos filtros anaeróbios em alvenaria de tijolos. Devem ser utilizados de preferência tijolos cerâmicos maciços (elementos não vazados) com bom cozimento. A alvenaria deve ser revestida de forma que impeça vazamentos e infiltrações. Ao término da construção devem ser realizados testes de estanqueidade.

O bom funcionamento da ETE depende dos níveis d’água nos vários compartimentos dos reatores e da perfeita distribuição dos fluxos. Portanto, as calhas e vertedouros devem ser perfeitamente nivelados e as cotas e desníveis previstos no projeto rigorosamente obedecidos.

Merecem atenção todos os esforços aos quais a estrutura será submetida, inclusive cargas sobre a cobertura e possível empuxo de fundo devido a elevação sazonal do lençol d’água. O projeto hidrossanitário, do qual consta este documento, deve ser complementado por projeto de cálculo estrutural, ou, no mínimo, submetido à análise de estrutura por profissional competente.

A construção do decanto-digestor consiste basicamente da execução de alvenaria reta e aprumada. A construção dos filtros anaeróbios consiste basicamente na execução dos tanques em alvenaria, colocação dos tubos perfurados no fundo, colocação do material de enchimento, devidamente selecionado e limpo, no interior do tanque, fixação da tela de contenção com barrotes e cunhas de madeira, e colocação dos tubos perfurados na superfície.

Para material de enchimento do filtro do decanto-digestor será utilizado pedra britada granítica Nº 4 (50 a 75 mm) devidamente selecionada e limpa (lavada de preferência), devendo ser colocada sobre o fundo falso do filtro sem conter areia, terra, pedregulho ou outro material que prejudique o fluxo nos interstícios.

O material de enchimento dos filtros anaeróbios previsto no projeto é conduíte (eletroduto corrugado) de 25 mm de diâmetro cortado em pedaços de 30 mm de comprimento. O comprimento da peça é um detalhe muito importante porque deve ser aproximadamente igual ao diâmetro para assegurar aleatoriedade na posição das peças, para propiciar um fluxo uniforme. Peças compridas em relação ao diâmetro assumem todas posição horizontal, que dificulta o fluxo no interior das peças.

Opcionalmente podem ser utilizadas peças de plástico próprias para enchimento de reatores biológicos, tais como as fabricadas por “GM Reciclados Ltda” (Telefones: (85 3463-2180, (85)9985-2985, (11) 5052-1857) ou por “HIDROVITAE Tecnologia Ambiental” (Telefone: (11) 3608-3240, (11) 9815-4227), ou outro produto similar, ouvido o projetista. Em qualquer caso, o projetista deve ser consultado quanto às opções de material de enchimento e suas especificações ([email protected]). A orientação do projetista para aquisição do material de enchimento não acarreta custo adicional.

Ao final da obra deve ser procedida a limpeza geral e providenciada inscrição visível e indelével da data de construção, volumes e tempo de esgotamento da ETE.

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4. MANUAL DE OPERAÇÃO

A operação de um decanto-digestor, além de muito simples é eventual. Consiste basicamente da remoção do lodo na freqüência prevista no projeto, que neste caso é de seis meses (esgotamento do lodo a cada seis meses).

Antes de qualquer outra providência, as tampas de inspeção devem ser removidas e mantidas abertas por tempo suficiente para a saída de gases tóxicos e explosivos.

A remoção do lodo pode ser feita facilmente com o auxílio de um carro “limpa-fossa”.

Nos decanto-digestores, o lodo decantado acumula-se parte no fundo (sedimentado) e parte na superfície (escuma) e o líquido ocupa uma camada intermediária. Antes de esgotar o lodo, deve-se diminuir o volume a ser transportado esgotando parte dos líquidos e lançado-os na tubulação que alimenta os filtros anaeróbios. Para isso, introduz-se o mangote de sucção da bomba do carro “limpa fossa” até um pouco abaixo da metade da altura útil do decanto-digestor, onde encontra-se o líquido mais clarificado, faz-se a sucção e em seguida descarrega-se nas câmaras de entrada dos filtros anaeróbios, enquanto se observa a mudança de característica do líquido esgotado.

Só após remover o líquido mais claro é que deve ser removido o lodo e transportado no carro “limpa fossa” até um local adequado para descarte. No caso do material ficar endurecido por resecamento, pode-se facilitar sua remoção rehidratando-o com agitação simultânea.

A operação de esgotamento do lodo deve ser realizada nas duas câmaras do decanto-digestor, atingindo o fundo em vários pontos, de modo a remover todo o lodo decantado.

O lodo que resta, aderido as paredes e depositado no fundo em pequena quantidade, não deve ser removido, porque este lodo ativo será importante para o desenvolvimento mais rápido da nova população bacteriana. Em outras palavras, não se deve raspar ou lavar o reator quando se procede o esgotamento.

O destino do lodo deve ser determinado antes do início da operação de esgotamento, e verificado se há algum empecilho temporário. Geralmente é da responsabilidade da empresa contratada para a operação de remoção do lodo (esgotamento)

A operação do decanto-digestor, embora muito simples, não pode ser negligente ou descuidada, sobretudo quanto à data de esgotamento. Se no tempo adequado o lodo não for removido o espaço destinado à decantação será ocupado por sólidos.

Nos filtros anaeróbios, com o passar do tempo o lodo tende a ocupar todo espaço disponível, vai acumulando resíduos inertes, a eficiência decresce e os interstícios vão ficando parcialmente obstruídos. Portanto é imprescindível que se proceda periodicamente a remoção do excesso de lodo.

A remoção do excesso de lodo dos filtros anaeróbios deste projeto deve ser executada mediante esgotamento dos mesmos, na mesma freqüência (e preferencialmente na mesma data) da operação de remoção de lodo do decanto-digestor, a cada seis meses.

A operação de remoção do lodo em excesso do filtro anaeróbio consiste em esgotar (drenar) os líquidos com vazão várias vezes maior que a vazão normal de funcionamento, provocando velocidades de escoamento nos interstícios bem mais

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elevadas, para carrear parte do lodo em excesso ali acumulado. Esta operação pode ser auxiliada por aspersão de efluente tratado ou água limpa sobre o leito filtrante.

Após a operação de esgotamento do lodo do decanto-digestor e dos filtros, deve-se proceder a limpeza do local e repor todas as tampas de inspeção e peças da cobertura.

A data do serviço e o volume esgotado deverão ser anotados para orientar a próxima operação.

Em síntese, a operação de remoção de lodo da ETE pode ser executada seguindo os seguintes passos, a cada seis meses:

1- Introduzir o mangote da bomba de sucção do carro “limpa fossa” (ou outra bomba adequada para essa operação) até metade da altura útil da primeira câmara do decanto-digestor, e esgotar o líquido mais clarificado descarregando o mesmo nas caixas de entrada dos filtros anaeróbios. Em seguida esta mesma operação deve ser repetida na segunda câmara do decanto-digestor. Quando não for mais possível remover o líquido clarificado, o que se pode perceber pelo aspecto característico da concentração de sólidos, este passo da operação deve ser encerrado

2 - Introduzir o mangote da bomba em todas as aberturas da cobertura do decanto-digestor (tampas de inspeção) e remover todo o lodo decantado nas duas câmaras, transportando no carro “limpa fossa” até o local de descarte previamente definido pela empresa prestadora do serviço. O volume de lodo previsto é da ordem de 35 m3, que requer o transporte em cinco carradas de um carro de 7 m3, ou menor número de viagens de um carro de maior porte.

3 – Introduzir o mangote da bomba de sucção do carro “limpa fossa” (ou outra bomba adequada para essa operação) no compartimento situado logo após o filtro anaeróbio, proceder o esgotamento do filtro e descarregar o líquido esgotado na caixa de inspeção de “entrada” da ETE (ou na primeira câmara do decanto-digestor). Evidentemente esta operação deve ser executada em ambos os filtro.