MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE ARTES HELVIO MONTEIRO MENDES A Funcionalidade do Sistema Notacional para Pandeiro de Carlos Stasi Monografia apresentada no curso de Graduação em Bacharelado em Música e Instrumento - Percussão Orientador: Carlos Stasi São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE ARTES

HELVIO MONTEIRO MENDES

A Funcionalidade do Sistema Notacional para Pandeiro de Carlos Stasi

Monografia apresentada no curso de Graduação em

Bacharelado em Música e Instrumento - Percussão

Orientador: Carlos Stasi

São Paulo

2010

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Resumo

O objetivo deste trabalho é demonstrar a influência do sistema notacional para

pandeiro criado por Carlos Stasi, através da análise do referido sistema, bem como sua

difusão em métodos posteriores lançados nos últimos cinco anos, como os de Sampaio

(2006, 2007, 2009) e Lacerda (2007). Nosso intuito não é, contudo, de criar uma

proposta de padronização do modelo notacional desenvolvido por Stasi em detrimento

de outros já criados, senão demonstrar sua utilização – em particular no meio acadêmico

–, no ensino formal do pandeiro. Pensamos estar desta forma contribuindo para a

disseminação dos conteúdos musicais escritos para pandeiro, bem como aprimorando as

ferramentas de ensino deste popular instrumento.

Primeiramente foi realizada uma breve pesquisa histórica, com o fito de

contextualizar o instrumento, sua criação, sua chegada e difusão no Brasil. Esta

investigação demonstra de que modo o desenvolvimento do pandeiro e de sua notação

caminham paralelamente.

Posteriormente, inventariamos as notações para pandeiro e estabelecemos

comparações entre as notações de Stasi, D‟Anunciação e Gonçalvez, partindo de ritmos

brasileiros, como o samba e o baião. Procuramos demonstrar suas diferenças e

semelhanças, analisando-as de forma crítica.

Por fim, coletamos depoimentos de Stasi, Sampaio e Lacerda acerca da

aplicação e funcionalidade da notação desenvolvida por Stasi, e sugerimos algumas

conexões entre os autores em questão.

Palavras chave: Pandeiro - Notação – Percussão – Samba - Baião

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SUMÁRIO

1. Introdução.............................................................................................................5

2. O Pandeiro: um breve relato histórico...................................................................6

3. O sistema notacional de Stasi e suas aplicações....................................................9

3.1. As notações no Samba............................................................................12

3.2. As notações no Baião..............................................................................13

4. A funcionalidade da notação de Stasi nos métodos de Sampaio e Lacerda........14

5. Conclusão.............................................................................................................1

8

6. Referências Bibliográficas...................................................................................19

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1. Introdução

A notação musical surge como alternativa à música de tradição oral, com o

objetivo inicial de documentar e facilitar sua difusão, bem como permitir que esta

música seja analisada. Segundo Higa (2006), a notação tornou-se tradição na música

Ocidental entre os séculos XVI e XX.

De acordo com Pinto (2001), para quem a notação e a transcrição da música têm

viés antropológico, fixar a música no papel compreende um processo complexo, visto

que a música nasce e cresce no tempo. Sendo assim, é um reflexo da organização de

uma etnia, além de exprimir conteúdos emocionais, sociais e históricos. Seu processo de

descrição consiste em transformar algo subjetivo em algo concreto, seja a partir de

termos técnicos, ou ainda partindo de terminologias específicas de uma determinada

população.

Segundo Gandelman (2003), até o século XIII a música documental era

majoritariamente vocal, e o ritmo das melodias era resultante da duração das sílabas,

suas sucessões e variações. Entretanto, a duração do som não era precisa, sendo apenas

classificada como longa ou breve. As primeiras transcrições acontecem justamente das

transposições das alturas das notas, dando origem aos melismas, acompanhados da

indicação de duração silábica. Para o autor, a origem da escrita rigorosa do tempo na

música relaciona-se com a criação do relógio na Inglaterra do século XIII. A maior

precisão na medição do tempo permitida pelo relógio tem como consequência a melhora

da grafia do tempo.

No final do século XVIII, o avanço na construção dos instrumentos musicais

permitiu que os músicos pudessem produzir variações de intensidade e timbre durante a

execução de uma obra; consequentemente, estas alterações passaram a ser assinaladas

na partitura, indicando ao executante a modulação apropriada. (GANDELMAN, 2003).

Caminhando em paralelo com as mudanças na música e nos instrumentos, a

notação ganhou diferentes formas ao longo do tempo. Como qualquer linguagem, a

escrita musical pode trazer algumas imprecisões, ora conduzindo a um excesso de

símbolos, ora errando pela falta de informações. São permanentes os estudos acerca da

eficácia da notação musical, ou mesmo da possibilidade de relacionar sons e grafias,

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que vão da Semiótica à Filosofia da Música; por não ser este o foco de nossa

monografia, não nos ateremos majoritariamente a estas questões.

No escopo que nos concerne, notamos ainda hoje uma dificuldade de notação

para instrumentos de percussão brasileira. Esta dificuldade se deve ao grande número de

instrumentos, que por sua vez possuem os mais variados timbres e técnicas.

Corroboramos a hipótese de que a grande variedade de instrumentos e de grafias possa

ser a razão pela qual poucos compositores se lancem à escritura para percussão.

Gianesella (2009) descreve como, em virtude de um desconhecimento geral do

idiomatismo e possibilidades sonoras, os compositores se limitam a notar uma rítmica

básica, deixando a cargo dos percussionistas o refinamento da articulação e expressão,

fundamentais para a execução apropriada da obra. O autor conclui que, ao fazer isso, o

compositor está delegando ao percussionista uma grande responsabilidade, na esperança

de que o intérprete tenha o conhecimento empírico necessário para realizar tal tarefa.

A falta de elementos necessários para a compreensão da partitura resulta, não

raro, em tentativas inócuas de interpretação musical. A guisa de exemplo suponhamos

que um percussionista europeu tivesse que tocar um ritmo de samba no pandeiro. Na

partitura dele, seguramente o ritmo escrito seria um compasso de 2/2 com oito

colcheias, em uma linha ou no pentagrama com a nota sempre na mesma altura,

repetidas constantemente no pandeiro.

Possivelmente este percussionista (supondo que ele não tenha contato prévio

com o samba), escolheria um pandeiro sinfônico, de propriedades organológicas

bastante distintas do pandeiro brasileiro. Além disso, ele não teria a noção de variação

timbrística, pois esta não faz parte da grafia disponível; torna-se bastante complexa a

tentativa de indicar simbolicamente as diferenças necessárias na execução do samba,

que não está na célula rítmica (o que costuma estar escrito), senão nas acentuações e nas

diferenciações de timbre.

Este exemplo busca demonstrar uma realidade do cotidiano de percussionistas

em orquestras, bandas sinfônicas, big bands e entre outros grupos do gênero. Várias

partituras para percussão brasileira aparecem com notações extremamente rudimentares,

e cabe ao percussionista desvendá- la. Por muitas vezes, o instrumentista precisa

pesquisar isoladamente a organologia e a técnica dos instrumentos propostos para

conseguir executá- lo. Além disso, por vezes o percussionista pode encontrar

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dificuldades para executar certos tipos de instrumentos, como aqueles pertencentes à

outras culturas, pois eles possuem linguagens particulares, técnicas e funções

desconhecidas, como por expemplo, o derbake árabe, a tabla indiana, entre outros.

Gianesella (2009) comenta que “existe a problemática muito comum de uma

notação gráfica deficiente, uma vez que boa parte do conhecimento técnico e estilístico

nesses instrumentos é transmitido tradicionalmente de forma oral, ou seja, através de

audição e da imitação”.

A necessidade de aprimoramento da escrita para instrumentos de percussão fez

com que este tema ganhasse certa relevância. O pandeiro, por sua vez, ganha também

relevância nesta discussão, dada sua profusão e popularidade. Uma evidência deste

movimento por uma escrita mais precisa é a proliferação de métodos de percussão, cada

qual com sua grafia e metodologia particulares.

O presente trabalho pretende abarcar na primeira parte um breve apanhado

histórico sobre o pandeiro, mostrando sua origem, como chegou ao Brasil bem como

sua difusão no cenário da música popular e no meio acadêmico.

Na segunda parte, apresento algumas análises das notações criadas para o

pandeiro, ressaltando características comuns entre eles, tomando como parâmetro o

sistema notacional de Carlos Stasi.

Por fim, exponho os depoimentos de Luiz Roberto Sampaio e Vina Lacerda, nos

quais são abordados temas referentes à notação para pandeiro e aos métodos já

publicados. Discutimos por fim as principais convergências e divergências das

notações, em uma tentativa de aclarar as questões existentes acerca da escrita

percussiva.

2. O Pandeiro: um breve relato histórico.

O pandeiro é um instrumento de percussão, que segundo Mario Frungillo (2003):

“(...) Possui uma pele presa a um „casco‟ feito de madeira ou metal, podendo ser encontrado

de bambu (Bambusa vulgaris) e „cabaça‟. Nesse „casco‟ são presos materiais (geralmente

de metal) que produzem som pelo entrechoque quando o instrumento é sacudido. Podem

ser argolas que se entrechoquem ou se choquem contra o „casco‟, „guizos‟, mas o mais

comum é que sejam encaixados pares de pequenos discos metálicos („platinelas‟) em pinos

atravessados perpendicularmente em fendas abertas em torno do „casco‟. (...) O instrumento

é basicamente segurado pelo „aro‟ com uma das mãos e percutido com os dedos ou a outra

mão inteira (...)”

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Não se sabe ao certo a origem do pandeiro, mas a partir de relatos coletados, de

trabalhos de pesquisa previamente engendrados, depoimentos de instrumentistas que se

tornaram referência neste instrumento, podemos traçar um esboço histórico.

Luiz D'anunciação expõe em seu livro “A Percussão dos Ritmos Brasileiros -

Sua Técnica e Sua Escrita”, o seguinte:

“(...) O pandeiro existiu na Mesopotâmia; que o povo hebreu conhecia-o como TOPH; que

nas antigas civilizações árabes tinha nomes como DOFF ou DOUFF e que os persas o

denominavam DAIRA (...). Universalmente identificado com a cultura musical, em certas

regiões assume propriedades específicas na forma de execução, como os pandeiros egípcios

Mazhar e Riq ou como o nosso pandeiro dos ritmos brasileiros (...).

O pandeiro brasileiro pertence à família dos frame drums1, que têm a sua origem

no Oriente Médio e vieram a espalhar-se, modificar-se e agregar-se à música e à cultura

de outros povos (LACERDA, 2007).

A invasão dos Mouros na Península Ibérica2 deixou um legado cultural na

Europa Ocidental e, com a colonização da América, essa influência é trazida para o

Brasil, principalmente através das missões Jesuíticas. Segundo Marcos Holler (2006),

em sua tese de Doutorado intitulada “A Música na Atuação dos Jesuítas na América

Portuguesa”, o primeiro documento oficial que comprova a existência do pandeiro em

terras brasileiras é a carta de 1552 de Diego Tupinambá para a corte portuguesa. O autor

tem como referência principal em sua tese Rafael Bluteau3 (1638-1734), autor de um

texto onde se encontra a descrição de um pandeiro bem parecido como o instrumento

que conhecemos hoje, porém sem a pele: “(...) É a modo de cercadura de uma peneira, com

uns vãos ao redor, em que estão metidas umas chapinhas de latão, a que chamam soalhas, que

movidas fazem um som agradável e festivo (...)”.

1 Frame drums são tipos de tambores de mão [que também podem ser tocados com baquetas,

como por exemplo, o tambor irlandês bodhran] que possuem casco estreito sem função de caixa de

ressonância. O casco funciona como uma estrutura base onde é estendida a membrana que, ao ser

percutida, entra em vibração e pro jeta um som de altura indefinida [há modelos com altura defin ida].

Alguns Frame drums possuem uma segunda fonte sonora presa ao casco, fabricada com metal, que

produz o som pelo entrechoque, quando o instrumento é sacudido (ANUNCIAÇÃO,1989).

2 Os Mouros invadiram a Península Ibérica no século XVIII e permaneceram até o fim do século

XV. A sua permanência deixou um forte legado cultural. Na música os mais variados estilos como o

flamenco e o fado nasceram influenciados por ritmos e instrumentos mouros - o violão, por exemplo,

deriva de antigos instrumentos árabes (REVISTA ABRIL, 2008).

3 Rafael Bluteau foi um clérigo teatino português que participou ativamente do movimento

ilumin ista em Portugal. Sua contribuição se dá em diversos campos, passando pelas atividades literárias,

dicionários e até como intermediário cultural entre a cultura portuguesa e francesa (INSTITUTO

CAMÕES, 2000).

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Holler ainda apresenta em sua tese a seguinte descrição sobre o uso do pandeiro

nas missões Jesuíticas:

“... Assim como o tamboril e a gaita, o pandeiro era um instrumento comum em Portugal no

período do Brasil colon ial e foi um dos instrumentos pedidos a Portugal na carta de Diego

Tupinambá, para que com eles se atraíssem os índios. [...] O Padre Fernão Cardim descreve

o recebimento do Padre Visitador Cristóvão de Gouveia na Aldeia do Espírito Santo, na

Bahia, em 1583, no qual os meninos da aldeia dançavam ao som da viola, pandeiro e

tamboril e flauta, e juntamente representavam um breve diálogo, cantando algumas cantigas

pastoris ...”

Devemos salientar que o uso do pandeiro em missões jesuíticas não tem

nenhuma relação com a sua aplicação nos dias de hoje, levando-se em consideração os

aspectos timbrísticos, rítmicos e técnicos. Embora não haja grande quantidade de relatos

ou documentos que descrevam o modo de se tocar o pandeiro nessas missões,

encontramos uma breve citação em uma carta assinada por Diego Tupinambá, coletada

por Holler (2006), na qual se denota seu uso como um artigo de presente para atrair os

índios.

Segundo Holler (2006), muitos documentos, tais como partituras e manuscritos

foram destruídos ao longo do processo de colonização, devido aos conflitos e ao próprio

processo de expulsão dos jesuítas, o que contribui em parte para a lacuna de nossa

compreensão histórica.

Sendo assim, nos vemos forçados pela falta de documentos a saltar do século

XVI ao início do XX, no qual o pandeiro difundiu-se no contexto da música brasileira e

das mais variadas manifestações folclóricas em diferentes regiões do Brasil. Segundo

Gianesella (2009):

“Devido à possibilidade de combinações de vários timbres da membrana, que vão do grave

solto até o agudo, obtido com o “tapa” (slap), mais a sonoridade metálica e aguda das

platinelas (soalhas), ele [o pandeiro] acabou sendo utilizado para tocar os vários ritmos de

origem africana existente no Brasil, como o ritmo da capoeira, o samba, o chôro, o frevo,

etc.”

Existem vários fatores importantes para a difusão do pandeiro no Brasil;

Gianesella (2009) faz uma observação que podemos considerar como relevante no

contexto dessa difusão:

“(...) Um fator que contribuiu para sua difusão em nossa cultura é sua fácil portabilidade em

comparação à maioria dos instrumentos de percussão, o que é sempre desejável, mas foi

especialmente útil no inicio do século XX, se lembrarmos da perseguição sofrida pelos

sambistas daquela época (...)”.

O grande responsável pela introdução do pandeiro no samba foi João da Bahiana

(1887-1974), segundo declara Henrique Cazes em seu livro “Choro: do quintal ao

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Municipal” (1999). O autor reproduz um relato feito pelo próprio João da Bahiana ao

MIS (Museu da Imagem e do Som):

“Na época o pandeiro era só usado em orquestras. No samba quem introduziu fo i eu

mes mo. Isso mais ou menos quando eu tinha oito anos de idade e era porta-machado no

„Dois de Ouro‟ e no „Pedra de Sal‟. Até então nas agremiações só tinha tamborim e assim

mes mo era tamborim grande de cabo. O pandeiro não era igual ao atual. O dessa época era

bem maior.”

A partir de João da Bahiana, a difusão do pandeiro foi massiva, e juntamente

com ele vários outros instrumentistas se destacaram, elevando não apenas o número de

instrumentos como também a qualidade técnica de seus executantes. Podem-se citar

como agentes desse processo nomes como Russo do Pandeiro (1913-1945), Jackson do

Pandeiro (1919-1982), Jorginho do Pandeiro (1930), Celsinho Silva (1957), Marcos

Suzano (1963), Guello (1960), entre outros.

A priori, o ensino do pandeiro era feito de forma oral, ou seja, aprendia a tocar

pandeiro quem freqüentava as rodas de choro e/ou samba. Segundo Gianesella (2009):

“Existe hoje uma verdadeira legião de excelentes pandeiristas mais jovens que se

beneficiaram desse legado. Infelizmente muitos não têm um conhecimento mais profundo

da história da música popular brasileira, muito menos da trajetória evolutiva desse

instrumento, o que levaria a uma compreensão do estilo dos precursores que abriram

caminho ao atual nível técnico de performance a que chegou o pandeiro”.

Outra forma de ensino do pandeiro no Brasil, na qual se formaliza o ensino oral

do instrumento é o uso de vídeo-aulas, recurso audiovisual que se difundiu inicialmente

nos anos oitenta e ganhou força com a internet (Wikipédia 4).

Há algum tempo o pandeiro vem ganhando notoriedade dentro do ensino

“formal”, ou seja, em escolas, conservatórios de música e universidades. Diante desta

realidade, houve a necessidade de uma representação gráfica que abordasse os diversos

elementos timbrísticos e rítmicos de uma forma clara.

Ao longo do século XX diversos tipos de notação surgiram e contribuíram

significativamente para o desenvolvimento da escrita do pandeiro brasileiro, dentre as

quais podemos citar as de Luiz d'Anunciação e Carlos Stasi. De acordo com Gianesella

(2009):

“Existem vários métodos, onde cada autor criou um sistema notacional de acordo com os

recursos timbrísticos utilizados. Mas em qualquer sistema será necessário uma bula inicial

para indicar a representação gráfica dos sons (timbres e articulações) p retendidos. Isso,

apesar de não ser nenhum impedimento defin itivo, pode ser um obstáculo na interpretação

do texto musical, pois para cada método estudado temos que nos adaptar a uma diferença

gráfica.”

4 http://pt.wikipedia.org/wiki/Videoaula

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Os métodos de D'Anunciação e Stasi obtiveram maior profusão, e embora

apresentem algumas semelhanças, seus sistemas notacionais são distintos; com isso

criaram-se duas correntes de notação para pandeiro.

A seguir, faremos um estudo sobre a funcionalidade do sistema notacional para

pandeiro criado por Stasi, e sua aplicação por outros autores que adotaram esse sistema

em seus métodos lançados nos últimos cinco anos, como Sampaio (2006, 2007, 2009) e

Lacerda (2007).

3. O sistema notacional de Stasi e suas aplicações5.

A priori faremos uma exposição de cada símbolo do sistema notacional de Stasi,

e o tomaremos como referência em comparação aos dois outros modelos notacionais –

D‟Anunciação e Gonçalvez. Teremos como rítmica modelo/padrão o samba, não apenas

por uma questão didática, como também pela íntima relação entre o instrumento e o

gênero proposto.

Gianesella (2009) considera o sistema notacional de Stasi dotado de uma grafia

bastante sintética e que facilita a leitura, ao mesmo tempo em que se identificam todas

as diferentes articulações criadas por ele:

“... Stasi, para notar as suas peças, propõe uma grafia bastante sintética que facilita a leitura,

[...] utilizando apenas uma linha, onde os sons graves (solto ou abafado) produzidos pelo

polegar estão grafados abaixo da linha, e os sons graves produzidos pela ponta dos dedos

(abafado e solto) estão gravados acima da linha. E os sons das platinelas sem o grave da

pele produzidos tanto pela ponta dos dedos como pela base da mão ut ilizam hastes sem a

cabeça da nota, mas o primeiro está grafado acima da linha e o segundo tocando a linha.”

A partir desta descrição, pode-se obter uma noção geral desta notação. Para uma

melhor ilustração e compreensão, as notações serão representadas graficamente e

comparadas com os demais modelos notacionais propostos.

As ilustrações das representações gráficas dispostas a seguir foram retiradas dos

métodos para pandeiro de Vina Lacerda (2007), Luís D'Anunciação (1989) e Dinho

Gonçalvez (1994).

5 É necessário esclarecer no início deste capítulo que o intuito deste projeto não é criar uma

justificativa de padronização do modelo notacional desenvolvido por Stasi em detrimento de outros já

criados, mas sim mostrar como este vem sendo útil no meio acadêmico e na difusão do pandeiro.

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Quadro 1 – Representações de Polegar solto

POLEGAR SOLTO 1º sinal “O”

STASI D‟ANUNCIAÇÃO GONÇALVEZ

Nota abaixo da linha. A representação é identificada

pela designação do polegar.

“O” som aberto com

polegar.

Quadro 2 – Representações de Ponta dos dedos na borda

PONTA DOS DEDOS NA BORDA (sons da platinelas) 2º sinal “TR”

STASI D‟ANUNCIAÇÃO GONÇALVEZ

Haste acima da linha sem tocá- la.

A representação é identificada pela designação dos dedos.

“TR” som com as pontas dos dedos.

Quadro 3: Representações de Base da mão na Borda

BASE DA MÃO NA BORDA (sons da platinela)

3º sinal “p.p.”

STASI D‟ANUNCIAÇÃO GONÇALVEZ

Haste acima da linha, mas tocando-a.

A representação é identificada pela designação base.

“p.p.” Som com parte posterior da mão.

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Quadro 4: Representações de Tapa de Mão (slap)

TAPA DE MÃO 4º sinal “V”

STASI D‟ANUNCIAÇÃO GONÇALVEZ “X” acima da linha. A representação é identificada

pela designação Mão. “V” Som com a palma da mão (tapa).

Quadro 5: Representações de Polegar Abafado.

POLEGAR ABAFADO *

4º sinal “V”

STASI D‟ANUNCIAÇÃO GONÇALVEZ “.” acima da linha. A representação é identificada

pela designação Mão. “V” Som com a palma da mão (tapa).

Cabe reafirmar que a partir da contraposição dos sistemas notacionais ilustrados

acima se pretende apenas ilustrar suas semelhanças e diferenças, com a finalidade de

mostrar suas respectivas funcionalidades e não apontar qual seria o melhor.

A escolha destes sistemas se dá pelo fato de o método de D‟Anunciação se

assemelhar à estrutura padrão de notação musical. Já a notação de Dinho Gonçalves

tenta representar seu sistema de forma oral. Ao colocar o nome embaixo de cada

movimento da mão que toca o instrumento, a notação mostra-se objetiva e leve, sem

perder-se em detalhes e explicações exaustivas; Lacerda segue o sistema notacional

criado por Stasi, já previamente descrito.

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Antes de comentar as diferenças entre os métodos selecionados, mencionaremos

aquilo que talvez seja a maior semelhança entre eles: os três métodos ilustram suas

notações com fotos que, associadas ao texto, ilustram a posição das mãos e do

instrumento no corpo. O acréscimo destes recursos visuais facilita a compreensão das

notações sugeridas e das lacunas gestuais que as notações não preenchem.

A partir da análise de cada quadro é possível notar como se diferenciam os

sistemas notacionais. A descrição de todos os quadros de Gonçalves ilustra o

movimento com fotos da posição da mão no instrumento associado ao símbolo que

representa tal movimento. Mais adiante, na análise das notações no samba e no baião, os

sistemas notacionais serão descritos com mais detalhes.

No quadro 1, que representa o polegar solto, as notações de Stasi e de

D‟Anunciação apresentam semelhanças por estarem abaixo da linha, sendo possível

perceber uma relação entre movimento e som.

No quadro 2 Stasi apresenta uma haste acima da linha, sem tocá- la; já

D‟Anunciação utiliza uma nota entre duas linhas com a denominação “dedos”. Neste

caso já é possível visualizar algo que pode ser estendido para os demais quadros, que é

o fato de Stasi não necessitar da adição de linhas para representar os movimentos, o que

justamente ocorre na notação de D‟Anunciação.

No quadro 3 Stasi representa uma haste acima da linha, mas tocando-a, e

D‟Anunciação, uma nota em cima da linha 1 com a denominação “base”. Ao comparar

a notação de Stasi deste quadro com o anterior podemos notar sua semelhança, elemento

que pode gerar confusão ou dificuldade de leitura, caso a notação não esteja bem

grafada. A notação de D‟Anunciação apresenta sempre dois elementos para expressar

sua intenção: a nota e a denominação dela, presentes no início de cada compasso.

No quadro 4, Stasi ilustra com “X” acima da linha e D‟Anunciação uma nota

em cima da linha 2 com a denominação „mão‟. O uso do “X”, bem diferente das hastes,

evidencia quando deve ser executado o tapa, o que acabada facilitando a leitura,

enquanto na notação de D‟Anunciação o tapa aparece grafado em cima da linha dois,

com pouca diferença visual das demais notas.

Por fim, no quadro 5 Stasi representa uma nota abaixo da linha com um ponto

abaixo dessa nota; D‟Anunciação acrescenta uma linha extra abaixo das duas já

existentes, e posiciona uma nota em cima desta linha, denominando-a „membrana‟. Este

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ponto adotado por Stasi tem sido bastante questionado, e foi modificado por outros

autores que tomam como base a sua notação. Por outro lado, Gianesella (2009)

argumenta que, ao invés da adição da linha na notação de D‟Anunciação, poderia ser

adicionada uma figura de travessão do mesmo tipo utilizado para indicar o pedal do

vibrafone, de forma a representar a “duração da sonoridade” do pandeiro sem

abafamento.

Para uma melhor ilustração destas diferenças, analisaremos estes sistemas a

partir de padrões rítmicos que fazem parte do cotidiano do pandeiro e assim chegar a

conclusões mais concretas.

3.1. As notações no Samba

O samba é um gênero musical amplamente difundido no Brasil; sua origem e

evolução remontam à antiga África e ao Brasil colonial. Sua história, pela abrangência,

extrapola o escopo de nosso trabalho. Há, outrossim, grande quantidade de material

disponível sobre a história do gênero, de modo que focaremos apenas seu aspecto

rítmico, em que o pandeiro está diretamente inserido.

Via de regra, o samba é considerado o principal ritmo do pandeiro; os métodos

em análise dedicam grande atenção ao gênero. Também por este motivo será utilizado

como referencial.

Quadro 6: Comparação entre notações no samba.

SAMPAIO

D‟ANUNCIAÇÃO

GONÇALVES

Lacerda, bem como Sampaio, utiliza o sistema notacional de Stasi no ritmo do

samba com uma alteração: o uso de parênteses nas notas graves abafadas substituindo o

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ponto. Essa alteração será um tema discutido no capítulo seguinte juntamente com as

entrevistas feitas com Luiz Roberto Sampaio e Vina Lacerda.

Exceto essa alteração, Lacerda mantém o sistema criado por Stasi, no qua l o uso

de uma linha simplifica a leitura enquanto o uso das hastes indicativas relaciona-se

claramente com o movimento da mão direita. Ao comparar a leitura da partitura com o

movimento do instrumento, observa-se que elas se relacionam iconicamente. Esta é a

principal característica desta notação, juntamente com a percepção da sonoridade

projetada pelo instrumento. Este sistema tem a flexibilidade de adicionar elementos que

porventura sejam necessários para ornamentações deste ritmo sem causar um distúrbio

no padrão da notação.

Por não utilizarem a “cabeça” da nota, as hastes denotam a função de

acompanhamento; quando grafados com “cabeça”, indicam uma linha melódica grave

(solto ou abafado). Desta forma, a relação do movimento das mãos com a percepção

sonora facilita a compreensão e a performance do executor.

O sistema notacional de D'Anunciação é elaborado por um conjunto complexo

que segundo Gianesella (2009) privilegia o movimento ao invés do som, o que faz com

que o interprete não consiga de imediato visualizar na grafia o som intencionado. Essa

conclusão se dá pelo fato de que a notação de D'Anunciação é extremamente detalhista

na representação gráfica, isolando cada timbre e movimento necessários para executar o

“golpe” no instrumento. Dessa forma, propõe o acréscimo de uma linha suplementar

independente para o som do polegar abafado e solto, além das duas linhas já existentes

para o restante dos movimentos.

Essa somatória de linhas tende a dificultar a compreensão e a interpretação do

ritmo a ser executado, embora esta dificuldade não possa ser verificada no exemplo

escolhido, uma vez que se trata de uma seqüência simples, composta apenas por uma

semínima e uma pausa equivalente na linha da mão esquerda. Conforme a rítmica desta

linha se torna mais complexa, há que se detalhar onde ocorre ou não o abafamento; a

grande quantidade de símbolos não apenas dificulta a leitura, como pode levar o

intérprete a perder a noção de importância sobre quais elementos (linhas) deve priorizar.

Em outras palavras, o intérprete não sabe se mantém como o mais importante a mão

esquerda ou a direita.

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A proposta da notação de Dinho Gonçalves tende para o ensino icônico, como a

maioria dos métodos e sites disponíveis. Sabemos que a natureza simplificadora do

ícone sempre foi importante para o ensino musical, uma vez que nem todos os

instrumentistas apresentam conhecimento teórico musical. Por este motivo entendemos

importante analisarmos esta notação, direcionada ao público não- leitor.

Gonçalvez mostra preocupação com a clareza e simplicidade de sua notação.

Seu método busca passar informação apresentando apenas seis elementos de timbre. No

exemplo acima, apenas quatro destes elementos são mostrados, e para representá- los são

atribuídas letras acima do ritmo, que indicam qual o movimento da mão direita a ser

executado.

Entretanto, esta notação pode apresentar limitações de funcionalidade,

mostrando-se eficaz apenas para padrões rítmicos, como o samba; sabendo ser este seu

objetivo, o método contempla sua proposta. Porém, se buscarmos expansão das

possibilidades musicais do pandeiro, tanto em relação aos timbres quanto às

ornamentações, esta notação se torna menos eficaz e menos compreensível. Isto ocorre

porque gradativamente torna-se mais difícil obter a relação entre o movimento proposto

e o som a ser ouvido; a notação de Gonçalvez privilegia o movimento das mãos, em

detrimento aos aspectos sonoros. Outro aspecto do método que dificulta a sofisticação

na performance do pandeiro é a pouca flexibilidade; o método em questão não permite a

incorporação de novos elementos, tornando-se estático.

Gianesella (2009), sobre este assunto, argumenta:

“Dentro de uma linguagem baseada no idioma popular a fluência é importante para a

caracterização do estilo, portanto um sistema que prioriza a notação dos movimentos das

mãos mais do que a sonoridade resultante pretendida aumenta a complexidade da leitura e

pode atrapalhar a performance.” (GIANESELLA, 2009)

Outras notações além das aqui apresentadas podem ser encontradas em métodos

para pandeiro. Faremos a adesão de um deles, tomando a liberdade de desviarmos

rapidamente de nosso foco; o método em questão é o de Chalo Eduardo 6, que propõe a

6 Disponível em http://www.playdrums.com/pdf/roots/3-RORE_Guide-ch1-pandeiro.pdf

Page 17: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

notação em tablatura7. Na figura 1, extraída de seu método é possível visualizar a idéia

do autor em representar o movimento das mãos associado à fonética.

Figura 1: Método para pandeiro em tablatura

Esta notação se assemelha à de Dinho Gonçalves no aspecto de ambas tenderem

para a representação icônica. O uso do quadro serve para explicar qual parte da mão

direita (R = Right) será usada. A mão esquerda (L = Left) também é acrescida à

tablatura, entretanto são indicados apenas os momentos de abafamento ou soltura da

pele do pandeiro. À esquerda do quadro estão descritas as partes da mão a serem

utilizadas, e acima estão grafadas as silabas da palavra “batucada” e os números de um a

oito para simular o padrão rítmico (não explícito) de oito semicolcheias.

Tal notação difere da ampla maioria, pois representa o padrão rítmico sem usar

qualquer símbolo da notação musical tradicional. O uso da fonética na tentativa de

expor o “swing” característico do ritmo do samba pode ajudar um leigo a melhorar a

compreensão do ritmo proposto, sugere o método.

Entretanto, esta notação pode causar complicações de outra ordem, como por

exemplo, a grande quantidade de símbolos dispostos em tabela; o grande volume de

informações e a disposição dos caracteres dificultam uma rápida compreensão do

conteúdo. Além disso, para cada novo elemento introduzido (como o tapa), seria

necessária a adição de mais uma linha na tabela. Finalmente, a disposição das colunas

da tabela é na vertical, fazendo com que se perca a noção de espacialidade possível nos

7 Forma de notação musical que diz ao intérprete onde colocar os dedos num determinado

instrumento ao invés de informar quais notas tocar (WIKIPÉDIA, 2010).

Page 18: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

demais métodos; a horizontalidade da escrita permite, em última análise, uma sensação

de fluidez e continuidade que não se percebe no sistema de tabelas.

Levamos também em consideração que este método apenas prescreve a

movimentação das mãos, porém não engloba conhecimentos da teoria musical, como

dinâmica, alturas, timbres, etc.

3.2. A notação no Baião

O principal músico atuante no processo de inserção do pandeiro nos

ritmos nordestinos foi Jackson do Pandeiro (1919-1982), um virtuoso pandeirista que se

destacou no cenário da música popular brasileira a partir dos anos 60 tocando cocos,

baiões, rojões, maracatus e samba. O pandeiro desenvolve-se no cenário da música

nordestina e ganha um espaço cativo na instrumentação desses ritmos. A rítmica do

baião no pandeiro mescla os conteúdos ritmicos da zabumba e do triângulo,

instrumentos usados nos mais variados ritmos típicos nordestinos.

O baião, assim como o samba, faz parte do cotidiano do pandeiro. Analisaremos

os vários tipos de notação criados para representar este ritmo.

Quadro 7: Comparação entre notações no Baião

Com uma visão geral dos três modelos notacionais (quadro 7), percebe-se que os

ritmos estão escritos de diferentes formas e com variados tipos de movimento das mãos.

Diferentemente do samba, onde o padrão rítmico era invariável a todos os métodos.

Mesmo com diferenças em relação à célula rítmica, buscaremos analisar o modo como

cada autor procurou grafar e transmitir os conteúdos.

Page 19: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

A notação utilizada por Sampaio associa o ritmo do pandeiro ao padrão rítmico

da zabumba8, de modo que, no pandeiro, o polegar abafado se encontre na primeira

semicolcheia e o polegar solto na quarta semicolcheia do primeiro tempo. No tempo

seguinte é apresentado o timbre “tapa de mão” que se assemelha ao golpe do “bacalhau”

na membrana inferior da zabumba. No ritmo proposto por Sampaio a alternâ ncia dos

movimentos da mão direita remete ao movimento utilizado no ritmo do samba,

facilitando a compreensão do movimento proposto.

A utilização padronizada de movimentos de mão direita no pandeiro, como

ocorre na execução de ritmos como samba e baião, servem também a outros ritmos

brasileiros. A sucessão de movimentos mais frequênte consiste em uma sequência de

polegar, ponta de dedos e base da mão; com esta sequência é possível iniciar a execução

de vários ritmos nacionais. Entretanto, esta seqüência não pode ser considerada como

um padrão lógico, pois existem pandeiristas que dominam técnicas com movimentos

totalmente diferentes, como é o caso, por exemplo, de Marcos Suzano9.

Mesmo com a adição de um elemento timbrístico (tapa de mão), a notação de

Sampaio se mantém simplificada, claramente indicando o movimento da mão

correspondente à execução rítmica, seguramente herança da notação de Stasi.

Antes de observar a notação de D'Anunciação, é necessário citar que o ritmo

descrito por ele como baião não corresponde ao ritmo padrão da zabumba, pois segundo

Éder “O” Rocha nos exemplos do ritmo do baião propostos em seu método “Zabumba

moderno”, o som grave da zabumba sempre se inicia no primeiro tempo, sendo ele solto

ou abafado, caracterizando o baião. Entretanto, no ritmo proposto por D'Anunciação, o

grave está deslocado dentro da última semicolcheia do primeiro tempo e na terceira

semicolcheia do segundo tempo, se assemelhando ao padrão rítmico da salsa. Em

minhas experiências na música popular, pude perceber que diversos grupos confundem

8 Zabumba é um instrumento de percussão, com medidas tradicionais aproximadas de „18x08‟,

fabricado em madeira ou metal. Seu corpo tem formato cilíndrico e suas extremidades são cobertas por

duas membranas de pele animal (bode) ou sintética, afinadas através de corda ou tarraxas. A membrana

superior é grave e define o som grave; a inferior é fina e define o som agudo. A zabumba é tocada com

duas baquetas especiais, peculiares ao instrumento: uma macia e outra, fina e flexível (SANTOS, 2005).

9 A técnica de Marcos Suzano parte do princípio de tocar o pandeiro "ao contrário", isto é,

tomando como tempo forte não a batida do polegar, mas a das pontas dos dedos contra a pele do pandeiro

(geralmente a batida das pontas dos dedos é dada fora do tempo forte, dado pelo polegar). Segundo o

músico, essa técnica facilita a realização de ritmos fora do padrão do pandeiro, como compassos ímpares,

por exemplo. (www.pandeiro.com/Suzano.php).

Page 20: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

a salsa com o ritmo do baião durante sua execução, devido a sua semelhança.

Analisaremos o ritmo proposto por D'Anunciação, interpretando-a como uma variação

do baião, abstendo-nos da discussão sobre a correção ou não da célula rítmica

apresentada.

A notação escrita por D'Anunciação, assim como no exemplo do samba, é

elaborada por um conjunto de elementos reunidos na tentativa de representar os

movimentos das mãos, o que pode resultar em alguma confusão visual. É possível

também observar a complexidade no movimento da mão esquerda, pois o autor indica

na escrita o abafamento da membrana, com a inclusão de pausas de semicolcheia e

ligaduras. A leitura rítmica deve, portanto, ser feita independentemente pela mão

esquerda e pela mão direita. Este processo, embora frutífero, mostra-se mais lento, e

dificulta a rápida compreensão e execução do ritmo proposto.

Dinho Gonçalves é mais simples em sua notação, pois seu exemplo rítmico

contém menos informações quando comparado com os outros dois sistemas

apresentados. O autor procura manter as idéias de simplificação também vistas

anteriormente. Por se tratar de um padrão rítmico simplificado, talvez possa obter-se

resultados práticos mais imediatos, assim como no exemplo do samba. Entretanto, a

ausência de alguns elementos timbristicos pode resultar em uma execução menos

refinada, ou ainda em uma execução que não explore o instrumento em todas as suas

possibilidades.

4. A funcionalidade da notação de Stasi nos métodos de Sampaio e Lacerda.

Com o intuito de saber por que a notação de Stasi foi adotada por Sampaio

(2004, 2007 e 2008) e Lacerda (2007), foram realizadas entrevistas nas quais puderam

ser discutidos alguns pontos.

Primeiramente, os autores foram questionados a respeito das notações para

pandeiro disponíveis na época da criação de seus respectivos métodos, nos aspectos

metodológico, notacional e acadêmico.

Segundo Sampaio10,

“Tínhamos uma bib liografia pequena e muita gravação em DVD e sites, com o conceito de

observar e fazer igual. Algumas poucas notações de livros como as do Guilherme

Gonçalves, sobre as escolas de samba do Rio e folhas soltas do Marcos Suzano, mas ambas

10 Entrevista concedida ao autor em 20 de novembro de 2010.

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possuíam notadamente limitações, tanto por falta de oferecer todos os sons que o pandeiro

oferece ou pela difícil interpretação dos símbolos criados.”

Já Lacerda11 relata:

“Quando iniciei minha pesquisa busquei ter acesso à maior parte dos materiais já

publicados e me deparei com uma variedade imensa de notações para o pandeiro brasileiro.

Não existia uma padronização. A proposta dos autores seguia, na maioria das vezes, a

lógica de notação baseada na utilização do pentagrama. Encontrei também autores que

desenvolveram notações baseadas na utilização de let ras para simbolizar os golpes.

Simpat izava-me mais a notação criada pelo professor Luis D`Anunciação, que utiliza três

linhas. Muito interessante, mas não muito funcional. No campo acadêmico, embora não

tenha me aprofundado muito nas pesquisas, os materiais que tive acesso seguiam o que

expus acima.

Com o lançamento do método de Roberto Sampaio (que utiliza a escrita de Carlos Stasi,

com pequenas modificações) tudo se tornou mais simples. Bem d iferente de tudo que já

havia sido proposto, a notação utiliza apenas uma linha, sendo a meu ver, de mais fácil

entendimento e maior funcionalidade.”

Quando questionados a respeito da possibilidade de terem pensado em criar um

sistema notacional durante a elaboração de seus respectivos métodos, ambos disseram

que sim, mas ao tomar conhecimento da notação desenvolvida por Stasi não sentiram

mais esta necessidade. Sampaio diz que ao escrever com Victor Bub o método Pandeiro

Brasileiro Volume 1, chegaram a criar uma notação em pentagrama, mas que acabou

sendo descartada e substituída pela notação de Stasi.

Quanto aos motivos que levaram à opção pelo sistema de Stasi, ambos os

autores destacam a clareza e objetividade da notação, o que leva a uma leitura rápida.

Conforme relata Sampaio:

“A escolha foi uma sugestão dele e do Guello12

. Na época eles estavam tocando a peça

Ello13

para dois pandeiros escrita pelo Stasi, e recomendaram que a notação poderia melhor

oferecer uma leitura ráp ida e simplificada para todos que adquirissem meu livro, e quando

pude observar e comparar com o que já tinha, achei que realmente poderia valer a p ena

refazer todo o livro.”

Para Lacerda, a notação é perfeita para o material que estava desenvolvendo,

visto que os golpes básicos do pandeiro brasileiro são grafados de maneira simples e

extremamente funcional.

11 Entrevista concedida ao autor em 19 de novembro de 2010.

12 Lu iz Carlos Coelho Pinto, percussionista.

13 Peça composta em 1999 por Carlos Stasi para Duo co m Guello.

Page 22: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

Além disso, ambos destacam como pontos positivos justamente a clareza e

simplicidade da leitura, que para Sampaio apresenta uma lógica. Para ele, ao olhar para

a notação, é possível imaginar o som e conseqüentemente com que parte da mão este

deve ser produzido.

Um ponto abordado nas entrevistas que criou divergências entre Stasi e Sampaio

(primeiro a utilizar a notação de Stasi), foi em relação a modificações na notação.

Primeiramente, perguntou-se o que poderia ser melhorado na notação de Stasi. Sampaio

prefere que não haja modificações, dizendo que o simples é bom. Já Lacerda, acredita

que, apesar da notação ter contemplado tudo o que ele desenvolveu até o presente

momento, o surgimento de novos virtuoses do instrumento, bem como mais peças solo

poderá levar à necessidade de novas criações agregadas às já existentes. Stasi entra em

concordância com Lacerda, dizendo que ao desenvolver a notação deixou em aberto um

espaço para essas futuras criações, mas sempre com a tentativa de expor o menor uso

possível de elementos na notação original.

Contudo, ambos os autores alteraram a notação de Stasi, como vimos no

primeiro exemplo, no ritmo do Samba, justamente no uso de notas com o polegar

abafado, substituindo o ponto por parênteses.

Esta alteração foi primeiramente adotada por Sampaio, que acredita que: “o

ponto era sutil demais para uma resposta rápida quando visualizamos a partitura”.

Além disso, traça um paralelo com a notação tradicional, na qual o ponto sobre a nota

significa stacatto e realça: “por mais que a nota abafada seja mais curta, é uma

pequena diferença de conceito entre abafado e curto”. Lacerda seguiu as modificações

propostas por Sampaio no intuito de padronizar a escrita.

Essa alteração é questionada por Stasi, que comenta: “Falta uma perspectiva geral

da notação do instrumento no uso das várias possibilidades que se pode alcançar. O uso

contínuo de parênteses na horizontal ocupa muito espaço, o que dificulta tanto a escrita quanto

a leitura”.

Diante dessas contraposições observadas faremos uma análise gráfica do uso

continuo da nota do polegar abafado e solto para exemplificar tais divergências.

Page 23: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

2.1.

2.2.

Figura 2.1. – Seqüência de seis colcheias; Figura 2.2. Variação.

Na seqüência da notação criada por Stasi, segue grafado o ponto abaixo da nota

com cabeça. A simplicidade do ponto permite que na variação se introduza mais

elementos timbrísticos sem poluição visual aparente. No caso de uma notação ainda

mais complexa daquela retratada no exemplo, o ponto facilita a leitura bem como a

interpretação. Um ponto em que Sampaio diverge de Stasi é no conceito de staccato em

paralelo com o som ser curto e não abafado. Para Stasi, o pandeiro tem em seu timbre

geral o som staccato e, o único som com mais ressonância é o polegar solto, sendo este

conceito um fator desprezível para notação.

3.1.

3.2.

Figura 3: 3.1. Seqüência de seis colcheias; 3.2. Variação.

Na seqüência da notação de Sampaio, seguem grafados os parênteses nas notas

com cabeça. O sinal de parênteses não é típico da notação musical, sendo notado em

seqüência, o que requer um espaçamento maior entre as notas. A falta deste

espaçamento ocasiona uma sobreposição do sinal de parênteses, o que resulta em

poluição visual, além de não dar espaço para o acréscimo de possíveis notas. Sendo

assim, na tentativa de evitar o “choque” entre os parênteses grafados, as notas devem

sem escritas de forma mais espaçadas, o que acaba prejudicando o seqüenciamento na

leitura horizontal. A alteração feita por Sampaio e adotada por Lacerda, ainda que seja

Page 24: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

uma boa alternativa, não parece corroborar a idéia de Stasi sobre novas perspectivas

para o pandeiro.

Outra alteração feita na notação de Stasi por Lacerda consiste no uso do sinal de

trinado para simbolizar o rulo fechado. Lacerda optou por utilizar esta notação de

D‟Anunciação por acreditar que o sinal “tr” polui menos a partitura.

Apesar de o próprio Stasi ser contrário à padronização da notação, os autores

entrevistados são favoráveis. Para Sampaio é desgastante repensar como ler uma nova

partitura. Já Lacerda aponta a escolha pelo uso da notação de Stasi em seu método

(entre outros motivos) como uma tentativa de padronização da notação.

Quando questionados sobre as perspectivas para o pandeiro no Brasil e no

mundo, diante das novas tendências musicais, tecnológicas e técnicas do instrumento,

Sampaio coloca-se apenas como escritor e pesquisador responsável por transmitir “as

possibilidades acústicas sonoras desenvolvidas no instrumento” a partir da

sistematização dos estudos com o intuito de aperfeiçoar a técnica. O autor afirma que o

sucesso ou fracasso de seu método é a resposta natural às perspectivas, e que até o

presente momento, vem sendo muito bem aceito.

Lacerda crê que a internacionalização e a difusão do instrumento por

percussionistas brasileiros permitem a aplicação de novas técnicas e, conseqüentemente,

leva à criação de novas possibilidades timbrísticas. Ainda cita o espaço que o

instrumento vem conquistando no universo musical, mesmo sem perder a identidade

nacional. Entretanto não se encontra mais sendo restrito ao universo do choro e do

samba, sendo inclusive utilizado na música pop e tendo seus sons modificados pelo

advento da tecnologia.

Sampaio ainda menciona o fato de outros livros sobre pandeiro e percussão

estarem utilizando a escrita de Stasi, o que demonstra o alcance desta notação. Para ele,

o uso de apenas uma linha ao invés do pentagrama, bem como a simplicidade do

método são as peças chave para a boa aceitação desta escrita. Ele ainda c ita como

exemplo uma notação para berimbau que utiliza apenas uma linha que para ele é

funcional justamente por sua simplicidade.

5. Conclusão

Page 25: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

Esta pesquisa foi desenvolvida como parte de uma problemática maior, a saber,

a dos diferentes tipos de sistemas notacionais para instrumentos brasileiros. Através

dela, procurei coletar e analisar alguns aspectos da notação para o instrumento de

percussão mais popular no Brasil: o pandeiro.

O objetivo principal foi analisar a funcionalidade do sistema notacional para

pandeiro criado por Stasi, bem como sua difusão. Através de comparações feitas com

outros sistemas notacionais, no caso de D'Anunciação e Gonçalves, e também de

autores que seguem o sistema de Stasi para confecção de seus métodos – Sampaio e

Lacerda, foi possível estabelecer as convergências e divergências das notações. Estas

comparações foram feitas com o fito de contribuir para a discussão sobre a notação

deste instrumento, e em nenhum momento teve a intenção de eleger a melhor notação.

O ponto de partida foi uma breve pesquisa histórica sobre a notação musical,

visto que sua evolução sempre deixou lacunas na tentativa de transcrever os mais

variados sons e timbres. Conseqüentemente, vários tipos de notações surgiram na

tentativa de documentar a música de forma mais eficiente. Com estes dados pude

concluir que ainda hoje a notação para instrumentos brasileiros encontra diversos

entraves, não só oriundos da própria dificuldade de transportar o sonoro para o visual,

mas também pelo desconhecimento por parte dos compositores das possibilidades

sonoras dos instrumentos, limitando-se a notar padrões rítmicos. Isto acaba transferindo

para o percussionista a responsabilidade de decifrar de que maneira deve interpretar tais

notações. Podemos supor deste modo que qualquer falha na notação musical pode

conduzir a uma interpretação equivocada, descaracterizando as intenções iniciais do

compositor.

Além da história da notação, buscamos traçar em linhas bastante gerais a história

do pandeiro, pois compreendemos que ambas estão intrinsecamente relacionadas. Ao

longo do desenvolvimento da pesquisa pude constatar que o pandeiro é o instrumento

brasileiro com maior número de métodos e apostilas lançados, dentre os quais tive

contato com cerca de dezesseis. Sendo assim, acredito que este instrumento vem

recebendo um enfoque especial, evidenciado por esta grande quantidade de tentativas de

representações. A criação de vários métodos para pandeiro permitiu o surgimento de

diferentes sistemas notacionais, que por sua vez tentam abarcar os diferentes ritmos

possíveis para o instrumento.

Page 26: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

Stasi e D'Anunciação tornaram-se as principais referências na notação para

pandeiro na atualidade, podendo-se dizer que a partir deles surgem duas correntes

distintas de notações com princípios praticamente opostos. Enquanto o primeiro é

caracterizado pela simplicidade e objetividade, o segundo é detalhista e meticuloso.

Ao compará- los e coletar informações com os autores que desenvolveram seus

métodos a partir de Stasi, compreendemos o porquê da opção por este sistema

notacional. Em poucas palavras, esta pode ser justificada como uma tentativa de tornar a

leitura e execução do instrumento mais eficiente.

A escolha dos ritmos samba e baião para discutir as notações se deu

principalmente pelo fato de se tratar de ritmos brasileiros intimamente ligados com a

difusão do pandeiro, principalmente no caso do samba.

Notamos como a relação das mãos com a percepção sonora característica desta

notação facilita a compreensão e performance do percussionista. Para Stasi, Isso se dá

porque foi possível criar uma notação que espelha os aspectos físicos e mecânicos de

quem toca. Para ele, a palavra Espelho é essencial nessa discussão: “Ao ver o

instrumento, aquele que toca vê diretamente os elementos na partitura porque,

fisicamente, e em termos de espacialidade, eles se assemelham. A posição de segurar o

instrumento e os pontos de ataque são transferidos à partitura de forma natural”.

Uma representação gráfica distinta encontrada durante a pesquisa foi a de Chalo

Eduardo. A notação é composta por um quadro sem qualquer nota musical, ao contrário

dos outros sistemas notacionais e métodos analisados. Cremos importante abordar tal

notação pelo ineditismo da proposta do autor, em repassar a linguagem rítmica do

instrumento para o executante não-letrado em música, fato corriqueiro em oficinas de

pandeiros.

A linguagem da notação é transmitida na representação em tabelas. Com um

quadro subdividido, denotando cada movimento da mão, Eduardo se preocupa em

abordar o ritmo com palavras escritas acima deste quadro, na tentativa de representar o

“swing14” do padrão rítmico proposto, no caso o samba. Não que esta representação seja

14 A palavra "swing" tem nos Estados Unidos e internacionalmente, dois significados. Um deles

se refere ao estilo do jazz dos anos 30 e o outro é empregado como sinônimo de "balanço", "bossa",

fluência e naturalidade no canto ou no toque instrumental (aquele pianista tem muito "swing"). Neste seu

segundo significado essa expressão é conhecida e muito usada no Brasil, sobretudo nos meios musicais.

Por essa razão ela será aportuguesada todas as vezes que for usada nesse

sentido.(www.clubedejazz.co m.br/ojazz/dicionario)

Page 27: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

necessariamente um ítem importante para um método, mas em nenhum outro

apresentou-se esta preocupação, o que poderia ser feito adicionando-se acentuações que

caracterizariam o ritmo.

Este método é criticamente analisado por Stasi, para quem a palavra batucada

não é feliz no intuito de sugerir o suingue e acentuações particulares do samba. Para ele,

sons como Ta-ki-dji-ka aproximam-se da sonoridade do samba com mais precisão.

Nossa tendência é corroborar esta opinião, dado nosso amplo convívio empírico com o

samba e sua sonoridade.

As entrevistas com Sampaio e Lacerda levaram à discussão dos motivos

da modificação na notação de Stasi, grafando o sinal de parênteses nas notas com

cabeça. Algumas divergências se fizeram saber entre os autores nestas entrevistas. A

tendência, entretanto, entre os autores que adotam o sistema gráfico de Stasi, é que as

alterações sejam mínimas, preservando praticamente na íntegra a terminologia

desenvolvida.

Sobre a querela entre a utilização do parêntesis versus a utilização do ponto,

notamos que para Sampaio, o uso do ponto leva a uma aproximação de significado do

stacatto com o sinal de abafamento, que para ele não é adequada. Lacerda justifica a

modificação feita na notação de Stasi baseada no fato desta ser necessária para melhor

visualização e para diferenciar do stacatto. Por sua vez, Stasi acredita que o uso

contínuo dos parênteses polui a leitura horizontal, além do conceito de stacatto não ser

adequado para a discussão, levando em conta as perspectivas do instrumento. Para Stasi,

o parêntesis, como na língua portuguesa, é um adendo, “uma explicação a um texto de

maior importância. Sendo assim, o som preso, essencial ao pandeiro, não pode ser

colocado na mesma altura de algo que é complementar, algo que o parêntesis indica”.

Outra questão levantada diz respeito à padronização da notação. Stasi não se coloca

a favor de uma padronização da escrita, enquanto Sampaio e Lacerda justificam a

escolha pela notação de Stasi como uma tentativa de padronizar a escrita para o

pandeiro. A princípio, a palavra padronização passa uma mensagem de engessar a

evolução e o aperfeiçoamento da escrita, porém muitos instrumentistas não a enxergam

desta forma. Neste aspecto, concordamos com Lacerda, ao dizer que a partir do

momento que se entra num consenso sobre a forma de reprodução, a compreensão

Page 28: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

globaliza-se e permite que os ritmos brasileiros e o pandeiro se difundam com maior

fluidez, objetivos que também buscamos atingir com este trabalho.

6. Referências Bibliográficas

6.1.Livros e Métodos

CARVALHO, G. V. S.; SAMPAIO, L. R. C. Estudos e peças para pandeiro

brasileiro. Florianópolis: Bernúncia Editora, 2008.

CAZES, H. Chôro: do Quintal ao Municipal. 2ª Ed. São Paulo: Editora 34 Ltda, 1999. D‟ANUNCIAÇÃO, L. A. A percussão dos ritmos Brasileiros - Sua Técnica e Sua

Escrita - O pandeiro Estilo Brasileiro. V. 1, Caderno 2. Rio de Janeiro: EBM/ Europa, s.d.

FRUNGILLO, M. D. Dicionário de Percussão. São Paulo: Editora da Unesp/ Imprensa

Oficial do Estado, 2003. LACERDA, V. Pandeirada Brasileira. Curitiba: Edição do Autor, 2007.

SAMPAIO, L. R. C.; BUB, V. C. Pandeiro Brasileiro. V. 1, Florianópolis: Bernúncia Editora, 2004.

SAMPAIO, L.R.C. Pandeiro Brasileiro. V. 1, Florianópolis: Bernúncia Editora, 2007.

SANTOS, E.R. Zabumba moderno. V. 1, Nordeste. Recife, Secretaria de Educação e Cultura, 2005.

6.2. Monografias, dissertações e teses

GIANESELLA, E. F. Percussão orquestral brasileira: problemas editoriais e

interpretativos. Tese (Doutorado em Música) - Escola de Comunicação e Artes,

Universidade de São Paulo, 2009.

HIGA, I. S. A escrita para pandeiro na música popular. Monografia (Licenciatura em Música) – Centro de Letras e Artes, Instituto Villa Lobos, Universidade do Rio de Janeiro, 2006.

HOLLER, M. T. Uma história de cantares de Sion na terra dos brasis: a música na

atuação dos jesuítas na América Portuguesa (1549-1759). Tese (Doutorado em Música) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, 2006.

6.3. Consultas em meios eletrônicos.

Page 29: MENDES, H.M. a Funcionalidade Do Sistema Notacional Para Pandeiro de Carlos Stasi

INSTITUTO CAMÕES (Portugal), Bibliografia Rafael Bluteau. Disponível em <http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/ilu1.html>, acesso em 12/12/2010.

GANDELMAN, S. Desenvolvimento Musical, Revista Ciência Hoje, 138, 2003. Disponível em <http://chc.cienciahoje.uol.com.br/revista/revista-chc-2003/138/ler-e-

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