Mesa Fraterna: A Misericórdia à luz da · 3 Deus “ Eu Sou Aquele que Sou” e Moisés...
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Motivação:
Logo de ter vivido intensamente este tempo quaresmal, de ter aprofundado no mistério da Paixão
e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo e de ter festejado com muita alegria sua Ressurreição
caberia fazer duas perguntas: Vejo em toda a história da Salvação a misericórdia de Deus? Registro
nesse plano de Deus, que apesar de que crucificamos seu Filho, segue amando-nos com loucura, a
tal ponto de ressuscitá-lo pelo infinito amor que nos tem?
Se chegássemos a crer em plenitude em tudo o que vivemos nesta semana santa, alcançaríamos
entender que o Senhor durante anos, nos revelou e demonstrou em infinidades de vezes, sua
misericórdia para conosco. Desde a criação, o Senhor nos manifestou seu amor. E ainda que
nossos pais tenham desfeito o plano de Deus, Ele nunca nos deixou de amar e tentar “até 70 vezes
7” resgatar-nos da escuridão na qual muitas vezes submergimos. Por isso, idealiza um plano de
Salvação e tomando a muitos de seus filhos através dos séculos (Abrahão, Moisés, os profetas...),
nos faz viver, porque seu maior desejo é que a humanidade seja salva e seu reino estendido por
todo o mundo.
Mas, agora nos perguntamos de uma maneira mais profunda e interessada, o que é a
misericórdia? Falamos muito dela, conhecemos diversidade de sinônimos e definições, porém, no
fundo são somente palavras que podem soar vazias, sobretudo quando não temos uma
experiência positiva da vida. Jesus se vale de parábolas para que, partindo desde o interior de
nosso ser recebamos, sintamos e vivamos, desde nossa experiência, a mensagem da boa notícia.
Portanto, em vez de uma definição, ilustraremos ao modo de parábola, comparando a
misericórdia com o amor que tem uma mãe a seu filho (a). Uma mãe ama antes que o filho nasça,
antes que a criança a conheça, (diríamos que antes da concepção, quando sonha e pensa nele) e
esse conhecer sua mãe demora alguns anos, no entanto, ela cuida-o, atende-o, alimenta-o,
perdoa-o, ilumina seu caminho para que não tropece, mima até o extremo, dá até o que não tem,
educa-o e convida a amá-la, e, mesmo que nesse dar-se não se sinta correspondida, segue
acompanhando-o e brindando-o toda sua proteção e perdão. Se chega a sair de seu lado, seja
qual for a razão, ela segue pendente de seu andar, desde longe, mas, com os braços abertos para
recebê-lo em qualquer momento, para levantá-lo de suas quedas.
Qual mãe não se sente identificada com o exposto? “Pode uma mulher esquecer-se daquele que
amamenta? Não terá ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu
não te esqueceria nunca. ” (Is. 49,15) “Se meu pai e minha mãe me abandonarem, o Senhor me
acolherá”. (Sl 26,10) Qual filho não se sente refletido nela? Não é em vão, Deus é nosso Pai e Jesus
o Messias, o Salvador que nos conduz a Ele. Quem o vê, vê o Pai.
E agora, nos perguntamos: Conseguimos visualizar-nos neste exemplo para sentir em nossa
intimidade oque é a misericórdia? Não se pode descrever, contar, somente vivê-lo. Poderíamos
aplica-la a um irmão nosso? Seríamos capazes de ser misericordiosos como Pai?
Mesa Fraterna: A Misericórdia à luz da
Palavra de Deus
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Deus se comove pela miséria de seu povo. (cfr. Ex. 3, 7)
Deus chama Moises no meio de uma sarça, dizendo: “Moises, Moisés!” Ele respondeu: “Eis-me
aqui!”. Disse Deus: “Eu vi, eu vi a aflição de meu povo que está no Egito, e ouvi os seus clamores
por causa de seus opressores. Sim, eu conheço seus sofrimentos. E desci para livrá-lo da mão dos
egípcios e para fazê-lo subir do Egito para uma terra fértil e espaçosa, uma terra que mana leite e
mel”. (Ex 3, 4-8) O termo misericórdia não se encontra neste relato, as primeiras tradições do
relato da vocação de Moisés sugerem de forma inequívoca: “ Vi a miséria de meu povo!’
(Vocabulário de Teologia Bíblica de X. León-Dufour). Assim, a história da salvação, de Deus com
seu povo, se narra como um acontecimento da misericórdia divina e que cantaremos sem cessar
porque o salmo nos recorda que a misericórdia de Deus é eterna. (Sl 117).
A libertação do povo, a opressão do Egito, é uma experiência de misericórdia, de um Deus que
inclina seu coração cheio de ternura e amor sobre a miséria de seu povo e será uma experiência
constante que marcará o caminhar do povo pelo deserto, pois reconhece, celebra as ações de
Deus por meio de Moisés e Aarão, o sentem, percebem na nuvem e no fogo, mas, é um povo
apostata, desleal, desertor que não “aguenta” a condição limite de ser humano, diante do
adverso, reclama, murmura, queixa, renega contra Moises e contra Deus.
Exercício: Despertando misericórdia: Visualiza-te caminhando em meio do povo sofredor,
inquieto, temeroso, desesperançado, escravo das consequências das crises e descobre, no meio
deles, uma “sarça ardendo”, é dizer; A VOZ DE DEUS que te diz: “estou vendo a miséria de meu
povo”. Identifica as emoções e sentimentos que despertam em você neste momento.
Revelação da identidade de Yahveh (Ex.34,6 s. cfr. 34,8-9)
O Senhor passou diante dele, exclamando: “Yahveh, Yahveh , Deus compassivo e misericordioso,
lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade, que conserva sua graça até mil gerações,
que perdoa a iniquidade, a rebeldia e o pecado, (Ex. 34,6-7) e a resposta de Deus a Moisés que o
invoca. Moisés inclinou-se incontinente até a terra e prostrou-se, dizendo: “Se tenho o vosso
favor, Senhor, dignai-vos marchar no meio de nós: somos um povo de cabeça dura, mas perdoai
nossas iniquidades e nossos pecados, e aceitai-nos como propriedade vossa”.(Ex.34,6-9)
A relação de Moisés com Deus é catalogada como amizade porque fala com Ele como com um
amigo (Ex. 33, 12.17) e em seus encontros cara a cara com Deus, este lhe revela o mais íntimo e
próprio de si: um coração humano, vivo, que se compadece, que vai mais além da infidelidade do
povo, que o provoca em cada passo apesar de ser testemunha e beneficiário de sua ações de seu
poder, enfim, de seu amor incondicional. Em sua caminhada pelo deserto, até a terra prometida,
Deus vai derramando misericórdia: libertação da escravidão é o ponto de partida, incluída a
separação das águas para sua passagem, a fonte de Meriba, a carne, a Lei e mais os bens materiais
e espirituais: o perdão, o amor, a tenda do encontro (cfr. Ex.33,10), a saúde com a serpente
levantada (cf. Nm21.4-9), finalmente a graça para dar tudo isso, porque “em verdade encontrei
graça diante de teus olhos”.
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Deus “ Eu Sou Aquele que Sou” e Moisés responsável do povo
Moisés faz um caminho com um povo nada fácil, embora sua confiança e amizade com “Deus o
compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade” (Ex.34,6) o
confirma como instrumento de Deus e também responsável do povo. O povo está convencido
disto apesar de sua dureza, de sua fragilidade, de seu pecado. No entanto, tendo experimentado a
bondade e a misericórdia de Deus não as reconhece; confundido crê que são diretos adquiridos
por ter tirados do Egito, “nos tirastes para fazer morrer no deserto” (Dt. 9,28 ; Ex. 32,12), é tanto
para Deus que faz como para Moisés que realiza, é uma Promessa que vem da aliança (Ex.34,10)
entre Deus e seu povo: “ Vós sereis meu povo e eu serei vosso Deus!”(Ex.6,7) – e o povo aceita e se
compromete; ““Faremos tudo o que o Senhor diga”. (Ex 24,3). Uma promessa que surge e se
fundamenta no Ser de “ Eu Sou Aquele que Sou” (Ex.3,14) no ser de Deus: “Misericordioso, Deus
Misericordioso”.
Está é a razão, o sentido, o horizonte e a meta de Deus com seu povo: conhecendo o coração do
povo, revela o seu: “ Meu coração se revolve dentro de mim, eu me comovo de dó e compaixão.
Não darei curso ao ardor de minha cólera...porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no
meio de ti, e não gosto de destruir”.(Os 11,8-9).
O encontro intimo de Moises com Deus vai transformando-o em canal de sua misericórdia que
chega até o coração do povo. Moisés pode interceder por esse povo. (Ex.32,11), mas, também.
Encarnar em si mesmo a cólera de Deus e como homem, lhe dá passagem: “se irrita e rompe as
tábuas da aliança”, “haverá captado os sentimentos de Deus?”, tem que ir aprendendo a ser
misericordioso. Também, teve que “recordar a Deus”, “vão dizer ao Egito que o tirastes para fazê-
lo morrer aqui no deserto”.
Misericórdia e perdão.
O homem bíblico, o povo de Deus, vai descobrindo sua debilidade e a necessidade da misericórdia
de Deus. Recorrem a Moisés para pedir que “reze a Deus e peça o perdão de seu pecado”; Moisés
intercede. Antes, Abraão havia negociado com a misericórdia de Deus pelos poucos justos que
havia, pelos quais não devia destruir a cidade (Gen. 18,23-33). Rebelar-se, dar as costas e não
reconhecer o Deus Misericordioso que o conduz pelo deserto (Os. 2,16), ao entrar em si e
experimentar a “falta” de algo, de Alguém – “ Por que te deprimes, ó minha alma, e te inquietas
dentro de mim? Espera em Deus, porque ainda hei de louvá-lo: ele é minha salvação e meu Deus”.
(Sal 41-42) voltai a Ele (Jer.234,7), o buscam com todo o coraçã0 (Dt 4,29-31). O salmista expressa
claramente comovido pela consciência de seu pecado: “Eu reconheço a minha iniquidade, diante
de mim está sempre o meu pecado. Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Eis que
nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado”.(Sl 50), por isso clama a Yaweh com
confiança: “ E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade. Lavai-me
totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado”.(Sl 50) E, Deus gigante e infinito de
misericórdia (Jon 4,2b), responde: “Terei eu prazer com a morte do pecador? - oráculo do Senhor
Iahweh - Não desejo eu, antes, que ele se converta e viva?” (Ez 18, 23). Isto é porque Deus se
comove de tal maneira diante da miséria, consequência do pecado, que deseja “ Que o malvado
volte ao Senhor, que dele terá piedade, e a nosso Deus que perdoa generosamente”. (Is.55,7), que
o pecador reconheça sua malicia e se volte a Ele, que se converta porque quer “ falar ao seu
coração” (Os. 2,6)
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Misericórdia e Consolação: Jesus Consolador rosto misericordioso de Deus.
Lucas em seu evangelho manifesta a misericórdia em Jesus Cristo. O Capitulo 15 é um concentrado
disso. O Jesus de Lucas é a encarnação da presença misericordiosa de Deus entre nós: “Sede
misericordiosos, como o Pai é misericordioso” (Lc 6,36), o que significa, segundo o mesmo
evangelista, não julgar, não condenar, perdoar, dar (cfr. Lc. 6, 37-38); pois na mesma medida que
fazemos com os outros, assim farão conosco. (Lc. 6,31-31), resumo da regra de ouro proposta por
Jesus. “O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles. ”(Lc.6,31) Jesus nos revela
que o pensar e o fazer de Deus são muito diferentes do pensar e fazer humanos. Deus é diferente
e sua transcendência se manifesta na misericórdia até amar os inimigos (cf. Lc. 6,27-30), perdoar
as culpas, não quer somente a conversão do pecador, e sim espera com os braços abertos que
volte e quando regressa, o abraça e começa a festa. (cfr. Lc. 15), porque tem “ mais alegria no céu
por um só pecador do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão” (Lc. 15,7).
O único momento de alegria e consolo que viveu Jesus durante sua paixão foi à conversão de
Dimas, o bom ladrão (Lc 23,42-43). Serão misericordiosos como o Pai, serão filhos do Altíssimo que
é bom com os ingratos e perversos, se amam aos e fazem o bem sem esperar nada em troca, pois
a recompensa será grande(cfr.Lc.6,35). Lucas talvez viveu a experiência da misericórdia ao lado de
Paulo de Tarso, com quem esteve como “o médico querido” e “colaborador” (Col. 4,14; Flm. 1, 24)
Paulo quem mais experimentou a misericórdia de Deus ao ponto de exclamar: “Deus, que é rico
em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou...” (Ef 2,4) e ainda mais,
“Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias, Deus de toda a
consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, pela consolação com que
nós mesmos somos consolados por Deus!”(2Cor 1,3-7), chega a nos dizer que “somos consolados
para consolar”, a consolação é expressão da misericórdia. Paulo, testemunha desta misericórdia
constantemente fala com autoridade e nos transmite com profundo sentimento e emoção esta
experiência. Deus o faz viver e sentir em sua própria carne, “A compaixão de um homem concerne
ao seu próximo, mas a misericórdia divina estende-se sobre todo mundo” (Eclo 18,12), “Senhor,
vossa bondade chega até os céus, vossa fidelidade se eleva até as nuvens. Vossa justiça é
semelhante às montanhas de Deus, vossos juízos são profundos como o mar. Vós protegeis,
Senhor, os homens como os animais”. (Sl 35)
Experiência pessoal: Todos somos responsáveis dos outros: irmãos, pais, companheiros de
trabalho, estudo, comunidades... Tomo consciência de quem sou responsável e faço memória
dos gestos de misericórdia, as intercessões para com os outros... Reconheço que é Deus quem
põe em meu coração o querer e o agir. Louvo e bendigo a Deus por isto. Desfruto desta
experiência da misericórdia de Deus que passa através de mim. Renovo meu desejo de ser seu
Instrumento de misericórdia.
Experiência comunitária: Em comunidade como irmãos, filhos do mesmo pai, com os olhos
fechados, vamos serenando pouco a pouco, centrados na respiração (inalamos pelo nariz e
exalamos pela boca) soltando aquelas partes do corpo que estão tensas. Pedimos as luzes do
Espírito Santo para que traga a nossa memória, aquelas pessoas desta comunidade de irmãos,
que nos mostraram o rosto misericordioso de Deus em situações concretas de pecado,
debilidades, atitudes e gestos... e damos graças a Deus por elas... Terminamos cantando:
“Bendiz minha alma ao Senhor” (Sl 103: Salmos da Consolação. Pode estar escrito em um cartão
que no final fique com todos). Podem compartilhar esta experiência.
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Recurso para trabalhar nas Mesas
As parábolas
Parábola deriva do grego "parabolé", termo que sugere uma comparação. A parábola:
É uma composição literária com uma narração breve, real ou fictícia, ilustra uma verdade moral ou espiritual.
Um relato breve, com forma de história simples, real ou inventada, porém, não fantasiosa, mediante a qual Jesus estabelece uma comparação: “igual sucede em tal caso, assim sucede em tal outro”.
Esta comparação pretende mostrar-nos um ensinamento de tipo “espiritual”. As parábolas iluminam o povo de Deus naquilo que se refere a verdade espiritual, já que são explicações e anúncio de sua mensagem.
Todos seus detalhes tem a finalidade de sublinhar e enfatizar a mensagem único que o relato quer ensinar o modo mais compreensível e fácil de recordar.
As parábolas de Jesus são uma fonte de benção.
Jesus e as Parábolas
As parábolas de Jesus são aquelas breves narrações ditas por Jesus de Nazaré que conduz a uma educação moral e religiosa, revelando uma verdade espiritual de forma comparativa. Baseiam-se em fatos e observações críveis da natureza, tendo a maioria destes elementos na vida cotidiana.
Jesus ensina utilizando parábolas é dizer, exemplos vivos, imagens tomadas da vida cotidiana, dando-lhes conteúdos ricos e amplos, após percorrer os caminhos da Palestina anunciando o Evangelho do Reino e confirmando sua mensagem com inumeráveis sinais e milagres. As parábolas estão contidas nos evangelhos. Muitos acreditam, outros não.
Jesus fala do Reino de Deus com tato e utiliza parábolas nas que, sem ocultar que está dizendo coisas novas, convida os ouvintes a interessar-se e adverte: “ Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!” Entenderão os que tem um coração disposto a conversão a Deus com renúncia do pecado, também em suas formas mais sutis.
O mesmo Jesus diz que ensina usando parábolas para que compreendam sua mensagem somente aqueles que aceitam a Deus em seu coração e para que os que tem “endurecidos seus corações” e estão “de olhos fechados”, não podem entender. Portanto, compreender a mensagem de Jesus significa ser um verdadeiro discípulo e não entendê-lo supõe que não está realmente comprometido com Ele e por isso, não podemos receber sua ajuda nem a de sua mensagem.
Existem alguns debates sobre se este é o significado original do uso das parábolas ou se na realidade foi colocado por Marcos para reforçar a fé dos leitores, talvez, quando se viu perseguido. Esta explicação parece ser essencial para compreender a mensagem real das parábolas de Jesus, já que deixa claro que, é necessário ter fé N´Ele para entendê-las ou de outro modo, ficam confusos.
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Características a) Tem uma forma de narração, uma espécie de conto de tamanho variável. b) São relatos da vida diária. Não são assuntos complexos nem difíceis. Os elementos que
as constitui estão tomados de experiência cotidianas de Jesus e de seus ouvintes: sementes, ovelhas, vizinhos, devedores, credores... Por isso, são relatos verídicos, não fantasiosos. Em muitos casos a trama e seus elementos estão tomados de vida e muitos ouvintes de Jesus tiveram a mesma experiência.
c) O anterior não exclui a possibilidade de que apareçam outros recursos literários como a hipérbole ou circunstâncias estranhas, exagerações de difícil justificação a não ser que aceitemos que a finalidade das parábolas seja suscitar a reflexão.
d) O interesse da parábola no radica no relato, pois se trata de um relato simbólico. Há um conjunto de símbolos e um mundo simbolizado. O conjunto de símbolos da parábola está posto ao serviço do ensinamento que Jesus quer transmitir a seus ouvintes.
e) É o caráter simbólico que faz com que a parábola ajude a compreender e assimilar o princípio de transcendência que envolve toda a temática religiosa e cristã. È através do simbólico que podemos descobrir a intervenção de Deus na história. A melhor linguagem para falar de Deus é o simbólico.
f) As parábolas não são um método original e exclusivo de Jesus. Era uma técnica utilizada por outros rabinos, mas, nas de Jesus tem detalhes que causam surpresa e direcionam um desafio.
g) Em geral as parábolas provocam experiências desconcertantes e em quase toda tem um paradoxo que rompe os esquemas usuais da vida: tem comerciantes que vendem tudo para comprar uma pérola preciosa (de que viveria depois? tem um pai que recebe e devolve seus bens ao filho pródigo que havia acabado tudo, um semeador que mal gasta a semente no caminho e nas sarças...)
h) As parábolas foram instrumentos que Jesus usou para expor sua mensagem às pessoas simples do povo, seus destinatários.
i) Jesus utiliza parábolas porque busca a claridade. Fala em parábolas porque quer que as pessoas o entendam. Não são enigmas, as pessoas ficam fascinadas precisamente porque entendiam.
Finalidade
Jesus não contava parábolas para divertir o auditório, mas, para expor sua mensagem, explicá-la e esclarecer e muito especialmente, para interpelar...
a) Um dos propósitos fundamentais das parábolas de Jesus é expor os princípios fundamentais de seu ensinamento. O centro de mensagem de Jesus é o Reino de Deus e as parábolas pretendem revelar um aspecto fundamental deste Reino.
b) A mensagem do Reino não só se “conhece”, faz falta construí-lo. Por isso, Jesus busca uma reação no ouvinte. Isto consegue com os finais imprevistos e desconcertantes das parábolas. Seus finais tocam o absurdo (p. e. deixar crescer o trigo com o joio) causando surpresa no ouvinte. Não se pode entender que alguém que escuta uma parábola de Jesus permaneça impassível pois, questiona na ordem social, moral e religiosa de seu tempo. A mensagem do Reino de Deus como uma nova sociedade justa , fraterna e solidária implica radicalidade nas decisões. Por isso, as parábolas levam a comprometer-se com Jesus e sua mensagem ou rejeitá-la.
A finalidade das parábolas de Jesus é ensinar como deve atuar um a pessoa para entrar no Reino dos Céus e, na sua maioria, revelam também seus mistérios. Em algumas ocasiões, Jesus
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usou as parábolas como armas dialéticas contra os líderes religiosos e sociais, como por exemplo a Parábola do fariseu e do publicano e a Parábola dos dois filhos. Nos evangelhos encontramos o propósito de algumas parábolas: Mateus 13,10-17; Marcos 4,10-12 e Lucas 8,9-10.
Proposta:
Parábolas sugeridas (pode escolher outras): Lc 15,1-32
a. A ovelha perdida
b. A moeda perdida
c. O pai e os dois filhos
d. O Bom samaritano – Lc 10, 25s
e. Outras
Atividade:
Ler e dialogar sobre a parábola que tocou à mesa: de acordo com a leitura e o que foi compartilhado neste documento sobre as parábolas, aprofundar:
Destinatários: A quem se dirige?
Propósito: Por que Jesus conta esta parábola? Elementos: Quais são os elementos presentes: moeda, pai, filho, casa, festa...?
Ensinamento: Que aprendizagem deixa?
O que Jesus nos revela de Deus nesta parábola?
Descreve a relação com o Deus misericordiosos do A.T.
Construir uma parábola a partir de um fato da obra em que trabalhamos e nos
encontramos.
3. Obras de Misericórdia
Definição das Obras
Quanta necessidade tem o mundo de uma boa notícia, de uma mensagem que alegre nosso
espírito e nos dê sinais de esperança. Quanta necessidade de alguém que se aproxime do
atribulado, do desesperado, do desesperançado, do desprotegido, do que sente que seu mundo
sem sentido, que não vale e não importa. Diante da necessidade de fome e sede de Deus, a Igreja
primitiva, em sua sabedoria e tradição, perscrutando as Sagradas Escrituras, descobre no Antigo
Testamento e na pessoa de Jesus ações e palavras que nos ajudam a “permanecer em Deus”, a ter
em si o Espírito Santo e a deixar-nos guiar por Ele. Estas ações que são precisamente o concreto de
nossa confissão, de que o Filho de Deus se fez carne, tomou o nome de obras de Misericórdia.
Obras que nos revelam porque devemos amar cada irmão nosso, é carne de Cristo. Deus se fez
carne para identificar-se conosco. E com o que sofre, é Cristo que sofre.
Atendendo a este sofrimento na carne e no espírito, se faz uma classificação destas obras.
As Obras de Misericórdia Corporais
O homem ao experimentar em seu corpo a falta de recursos seja interno (comida, bebida) ou
externo (roupas e teto), o sofrer carências momentâneas internas (doenças) ou externas (privação
da liberdade ou a morte) e reconhecendo que pode ser satisfeitas com ajuda de outros, dado que,
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por natureza, o ser humano é um ser social cuja plenitude se sujeita as relações humanas (de
ajuda e dependência), a Doutrina cristã propõe as sete obras de corporais (Obras de Misericórdia),
como caminho até a plenitude na caridade. A seguir umas breves notas bíblicas de cada uma
delas.
Primeira obra: Dar de comer ao faminto (Mt 25,35). A fome é característica da experiência do
deserto do povo de Deus (Dt.8,23).Entre os alimentos do deserto o pão tinha diversos significados
simbólicos. Assim, primeiramente, o maná foi qualificado como “trigo dos céus”, “o pão dos
fortes” (Sl 78,24s) e “manjar dos anjos” (Sab. 16,20) e a sua vez, foram visto como símbolo da
“Palavra de Deus” (Dt. 8,3; Is. 55,2. 6.11), “dos ensinamentos da Sabedoria” (Prov. 9,5) e da
mesma “Sabedoria” (Sir 15,3; cfr. 24,18-20). No Novo Testamento, a fome era característica dos
pobres, dos indivíduos aos quais se proclama “Bem aventurados” devido a sua “fome” física e de
justiça (Mt. 5,6). Definitivamente, sendo a fome o símbolo da necessidade de alimento e de
justiça, a ação de “dar de comer ao faminto” reflete uma responsabilidade eclesial, derivada da
mesma ação do Pai misericordioso e de Jesus de Nazaré. Hoje em dia em muitos lugares persiste e
ameaça em crescer, a extrema insegurança da vida a causa de falta de alimentação: a fome causa
ainda muitas vitimas entre tantos Lázaros aos que não permite sentar-se a mesa do rico avarento
(cfr. Lc. 16,19-31)... Nesta perspectiva, dar de comer aos famintos (cfr. Mt. 25,35.37.42) é um
imperativo ético para a Igreja universal, que responde aos ensinamentos de seu Fundador, o
Senhor Jesus, sobre a solidariedade e a partilha.
Segunda obra: Dar de beber ao sedento (Mt. 25,35). A água tem na Bíblia um significado
simbólico. Assim, a água que brotou da rocha do deserto significa o dom que Deus faz a seu povo
escolhido (cfr. Ex. 17,1-7; Num. 20,1-13). Por sua vez, a água é um símbolo do mesmo Deus, tal
como aparece na preciosa oração do Salmo 41,2s: “Como a corça anseia pelas águas vivas, assim
minha alma suspira por vós, ó meu Deus”, e no texto profético de Jeremias 2,13: “ abandonou-me,
a mim, fonte de água viva” (cfr. Is. 12,2s; Jer. 17,13). O Novo Testamento recordará que o
ministério apostólico comporta dificuldades e tribulações, entre as quais se encontra “a fome e a
sede” (1 Cor. 4,11; 2Cor 11,27). Por isso, dar de beber ainda que seja somente um copo de água
aos discípulos enviados pelo Senhor, é um gesto que não será esquecido por Deus. (cfr. Mt. 10,42;
Mc. 9,41). Não é estranho que no Apocalipse se formule uma esperança de libertação nestes
termos: “ Já não terão fome, nem sede, nem o sol ou calor algum os abrasará”, (Ap 7,15)... Não se
deve esquecer que em nossa sociedade segue ressoando o forte pedido: “Dá-me de beber!”,
pedido da Samaritana a Jesus (Jo. 4,7). Daí que privar alguém (e quanto mais aos pobres) do
acesso a agua significa negar o direito à vida, direito que está fundamentado na dignidade
humana.
Terceira obra: Vestir ao nu (Mt 25,36). Na Bíblia a nudez é interpretada de maneira negativa,
tanto como fruto de pecado (cfr. Gen. 3,7), como por relação com o escravo que não tem direito a
propriedade e está sujeito a exploração (cfr. Gen. 37,23); a nudez se relaciona com a situação de
um preso (cfr. Is. 20,4; At. 12,8) e do doente mental que vivem em condição de alienação (cfr. Mc.
5,1-20). Falamos da nudez humilhante do marginalizado, tal como se conta no livro de Jó falando
dos pobres (Jó 24, 7.10) dados dos sofrimentos de quem carece de roupas, as Sagradas Escrituras
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propõe uma atitude de compaixão para com a nudez(cfr. Tob 4,16),(Ez 18,16) y (Is 58,7). Daí que
no juízo final, tal ação é vista como uma obra de misericórdia. (cfr. Mt. 25,36).
Quarta Obra: Acolher ao Imigrante (Mt 25,35). As palavras de Mateus 25,35: “Era peregrino e me
acolhestes” marca toda a história de Israel. O hóspede que passa e pede o teto que falta, recorda a
Israel sua condição passa de imigrante e estrangeiro de passagem sobre a terra, tal como atestam
os seguintes textos: (Lev. 19,34), (At. 7,6), (Sl. 39,13) e (Hb. 13,13s). O exemplo de acolhida
generosa e religiosa em Abraão com os três personagens em Mambré (Gen. 18,2-8), assim como
Jó que se gloria deste paradigma (Jó 31,31s) e o mesmo Cristo que aprova os cuidados que
comporta a hospitalidade (Lc. 7,44-46; 24,13-33). Os gestos de acolhida para com o imigrante são
manifestação concreta de solidariedade com o próximo, quem é, por excelência, a melhor
mediação do divino (Rm. 12,9.13).
Quinta obra: Assistir aos enfermos (Mt 25,36). A doença e o sofrimento estão entre os problemas
mais graves que atacam a vida humana. Na doença o homem experimenta sua impotência, seus
limites e sua finitude. De fato, toda doença pode nos fazer entrever a morte (CEC, no. 1500). O ato
de visitar os doentes, não é muito frequente na Bíblia, o descreve Ben Sirac como ato de amor ao
visitante (Sir.7,35). O texto manifesta a mentalidade judia que colocava seu acento no visitante e
não no doente, diferente de Mateus 25,36, no qual é o doente quem tem uma dignidade que deve
ser reconhecida, já que é o mesmo Cristo! No Evangelho de Mateus, “o doente tem uma
sacramentalidade crística que o converte em sacramento de Cristo”. Tal perspectiva exige do
visitante que descubra em seu encontro com o doente pobre e desvalido, um caminho e uma
interpelação que possa conduzir a assemelhar-se com Cristo, que “sendo rico, se fez pobre” (2 Cor
8,9). No Novo Testamento aparece de uma forma típica de visita aos doentes, na qual há três
momentos: a visita, a oração e o rito, tendo este último dois modos: a imposição das mãos ou a
unção com o óleo. (At 28,7-10) e (St 5,14). A assistência aos doentes constitui um gesto de
verdadeira caridade, um sinal orientado para promover vida e saúde, tal como realizou Jesus
Cristo, o Ungido de Deus que passou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos pelo pecado,
porque Deus estava com Ele (At 10,38).
Sexta obra: Visitar aos presos (Mt 25,36). No fundo, estão aqueles lugares emblemáticos da Bíblia
que anunciam aos prisioneiros a libertação (Is. 61,1), (Lc. 4,18) (Heb. 13,3), (Mt. 25,36). Outros
exemplos importantes desta obra de misericórdia são a proximidade da comunidade por meio da
oração de intercessão a Pedro que estava preso: (At 12,5), ou a gratuidade do apóstolo Paulo
expressa pela proximidade e ajuda dos cristãos de Filipenses durante seu cativeiro (cfr. Flp 1,13-
17; 2,25; 4,15-18). Obviamente, a atenção aos presos implica o apoio a seus familiares, para que
possam assistir melhor possível os presos... Além, a presença cristã nas cadeias podem ser de
muitas e criativas maneiras, já que definitivamente, o “visitar os presos” necessita um trabalho
político e uma reflexão que, em nome da dignidade das pessoas e dos direitos humanos, busque
promover ações que não privem da liberdade aos indivíduos e tenha atos de reparação.
Sétima obra: Enterrar aos mortos (Tob. 1,17; 12,12s). Em Israel, ser privado de sepultar era visto
como um castigo, como um dos piores males entre os homens. (Sl.79,3). Esta ação formava parte
do castigo com o qual ameaçava os ímpios (1Re. 14,11s; Is. 34,3; Jer. 22,18s). Por isso, fazer
caridade através do enterro de uma pessoa era uma das obras de piedade mais veneráveis no
judaísmo(Sir 7,33), (Sir 38,16). O testemunho relevante desta prática oferece o livro de Tobias (Tob
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1,16s). Tobias incluía obra boa “ enterrar os mortos”, depois das obras de misericórdia de “ dar de
comer ao faminto” e de “vestir o que está nu”. Esta enumeração conjunta é que possivelmente
influenciou para que esta prática de caridade fosse incluída como a última obra de misericórdia
corporal depois das seis enumeradas em Mateus 25. No marco desta caridade é conveniente
abordar um tema, que nestes últimos tempos, tem causado muitas inquietudes entre aqueles que
creem. Referimo-nos ao ato de cremar os corpos. Que resposta dá a Igreja sobre esta prática?
Desde o ano de 1963, uma Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé, recolhida no Direito
Canônico (1983), cânon 1176. Indica que a Igreja católica, ainda mantendo sua preferência
tradicional pelo enterro, aceita acompanhar religiosamente aqueles que escolheram a cremação e
convida a refletir sobre o profundo interrogante que é a morte para toda a pessoa humana,
conscientes de que a fé cristã afirma a sobrevivência e a subsistência (depois da morte) de um
elemnto espiritual que está dotado de consciência e de vontade, de modo que subsiste o mesmo
“eu” humano carente por enquanto do complemento de seu corpo. Para designar este elemento a
Igreja emprega a palavra “alma” consagrada pelo uso da Sagrada Escritura e da Tradição, embora
não ignora que este termo na Bíblia tem diferentes concepções (segundo afirma a Congregação
para a Doutrina da Fé). Definitivamente, se trata da fé na imortalidade da “pessoa” (o “eu
humano”/alma), que sobreviverá transformada pela ação salvadora de Deus em Jesus Cristo,
quando “Deus seja tudo em todos” (1Cor. 15,28), no “novo céu e nova terra... não haverá morte,
nem luto, nem grito, nem dor” (Ap. 21,1-5).
As Obras de Misericórdia Espirituais
Além das concorrentes necessidades corporais, a pessoa humana também sofre deficiências em
sua dimensão espiritual. Por esta razão, as obras de misericórdia espirituais cobram similar valor
(ou inclusive maior) que os auxílios materiais. Seu desenvolvimento iniciou na etapa patrística,
particularmente com Orígenes (anos 185-254), a partir de sua interpretação alegórica do texto de
Mateus 25. A reflexão foi aprofundada depois por Santo Agostinho e se consagrou de forma
particular no século XIII dentro do mundo acadêmico, especialmente com Santo Tomás de Aquino.
As sete obras de misericórdia espirituais podem ser agrupadas em três blocos: três obras iniciais
de vigilância as quais são: 1) dar conselho ao que necessita; 2) ensinar ao que não sabe; 3) corrigir
o que erra. Outras três centrais em torno a reconciliação formadas pelas: 4)consolar ao triste; 5)
perdoar as ofensas e 6) suportar com paciência as pessoas difíceis. Finalmente, aparece uma obra
síntese: 7) a oração centrada em rezar a Deus pelos vivos e mortos. A seguir, uma breve nota de
cada uma delas.
Primeira obra: Dar conselho ao que necessita. A tradição bíblica coloca em relevo a importância
do conselho (Prov. 11,14); (Sir.21,13); (Dan. 12,3). Mas, onde está o critério para um bom
conselho? Aqui podemos ver as palavras do sábio Bem Sirac que apontam a questão da verdade e
a importância decisiva da consciência reta que vá em sua busca(Sir 37,13-15). Se olhamos o
momento presente, quem sabe podemos dizer que o mais urgente é aconselhar a partir de certas
interrogações que ajudam a tocar a existência humana: “quem sou eu?”, “de onde venho e para
onde vou?”, “por que existe o mal?” O que existe depois desta vida?” (cfr. João Paulo II, A fé e a
Razão, no. 1).
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Segunda obra: Ensinar ao que não sabe. Entendes o que estás lendo? (At. 8,30), perguntou Felipe
ao funcionário que lia o profeta Isaías. E este respondeu: “Como é que posso entender se não há
alguém que me explique?”(At. 8, 31). Nesta linha, se deve recordar o texto paradigmático de Jesus
(Mt. 23,10). Quem de forma definitiva “ensina ao que não sabe” é Jesus, o Messias, dado que “Se
vivemos ou morremos, somos do Senhor” (Rm 14,8). Nesta marco surge a tarefa fundamental de
ensinar ao que não sabe. São João Paulo II, Encíclica Fé e Razão (1998), colocou em relevo esta
tarefa para nosso mundo: “É ilusório pensar que, tendo pela frente uma razão débil, a fé goze de
maior incidência; pelo contrário, cai no grave perigo de ser reduzida a um mito ou superstição. Da
mesma maneira, uma razão que não tenha pela frente uma fé adulta não é estimulada a fixar o
olhar sobre a novidade e radicalidade do ser”. (no. 48). Por isto conclui afirmando; “hoje, o mais
urgente é levar os homens à descoberta da sua capacidade de conhecer a verdade e do seu
anseio pelo sentido último e definitivo da existência” (no. 102).
Terceira obra: Corrigir o que erra. Está é uma obra de misericórdia inspirada no texto clássico do
Evangelho de Mateus, quando trata dos conflitos no seio da comunidade (Mt. 18,15-17; cfr. Tit.
3,10). A correção fraterna está presente no Antigo e Novo Testamento e em seu uso se percebe
um notável realismo. Neste sentido, a correção deve ser realizada não como um juízo e sim como
um serviço de verdade e de amor ao irmão, pois temos que nos dirigir ao pecador não como
inimigo e sim como irmãos. (cfr. 2Tes. 3,15; cfr. Sant .5,19s; Sl. 51,15). A correção fraterna deve
ser feita com firmeza (cfr. Tit 1,13), sem preguiça (cfr. Sal 6,2), sem exaltar ou humilhar o que é
corrigido (cfr. Ef 6,4). É verdade que “toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar
que de alegria. Mais tarde, porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de
justiça e de paz” (Hb.12,11). Em efeito, não se pode consolar, perdoar e suportar pacientemente
as injustiças, se não se reconhece devedor de Cristo, o qual nos oferece continuamente o modo de
reconciliar-nos com Deus.
Quarta obra: Consolar ao triste. Jerusalém, em sua história, fez a experiência de total abandono.
Quando foi privada de toda consolação por parte de seus aliados (cfr. Lam. 1,19), (Is. 49,14; 54,6-
10), na realidade o Senhor era seu verdadeiro consolador (Is. 40,1). Deus consola a seu povo com a
bondade de um pastor (cfr. Is 40,11; Sal 23,4), com afeto de um pai, com o ardor do noivo e de um
esposo (cfr. Is. 54) e com a ternura de uma mãe (cfr. Is 49,14s; 66,11-13). Por isto chegou ao seu
povo sua promessa (cfr. Sl 119,50), seu amor (cfr. Sl. 119,76), a Lei, os profetas (cfr. 2Mac. 15,9) e
as Escrituras (cfr. 1Mac. 12,9; Rm. 15,4)que possibilita superar o desconsolo e viver na esperança.
Jesus, anunciado como “Consolo de Israel” (Lc.2,5), e reconhecido como “Consolador” (1Jo. 2,1),
proclama: “ Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!” (Mt 5,4). Paulo recorda
que cristo é a fonte de toda consolação (Fil.2,1) e que na Igreja a função de “consolar” é essencial,
pois atesta que Deus consola constantemente aos pobres e aflitos(cfr. 1Cor. 14,3; Rm. 15,5; 2Cor.
7,6; cfr. Sir. 48,24). De fato, tal como se apresenta a imagem de Apocalipse, a presença de Deus é
o consolo máximo dos homens: “ Ele enxugará toda lágrima de seus olhos” (Ap 7,17), e em sua
presença ” não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor...”(Ap 21,4).
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Quinta obra: Perdoar as ofensas. A história da revelação bíblica é a história da revelação de Deus
“capaz de perdão” (cfr. Ex. 34,6s; Sl. 86,5; 103,3). Esta afirmação comporta a superação da Lei do
Talião (Ex.21,24 :“olho por olho, dente por dente”). Jesus nos ensinou (Mt 5,44). Não se pode
negar que o amor aos inimigos, desde o ponto de vista humano, é seguramente a prescrição mais
exigente de Jesus. Trata-se de um mandamento que expressa o mais novo e próprio do
cristianismo, já que “quem não ama a quem odeia não é cristão” (Segunda Carta de Clemente,
13s), pois o amor aos inimigos é a “lei fundamental” (Tertuliano, Da Paciência, nº 6)e a “suprema
essência da virtude”(São João Crisóstomo, in Mat.18,3s). Por isso, para Santo Tomás de Aquino, o
perdão dos inimigos “pertence a perfeição da caridade” (ST II-II, q,25, a.8); é uma obra que
responde a uma exigência de verdade irrenunciável: reconhecer os limites e as debilidades
humanas.
Sexta obra: Suportar com paciência os defeitos dos demais. A tradição sapiencial sublinha com
força, diante dos irmãos que irritam, o sábio recorda que “ Mais vale ser paciente, valente,
dominar-se do que conquistar uma cidade” (Prov.16,32).Porque este pensamento? Por que “pela
paciência o juiz se deixa aplacar: a língua que fala com brandura podem quebrantar ossos”
(Prov.25,15; Sir.7,8). Jó é o paradigma de paciência: antes que o Senhor mandasse provações ele
era “um homem íntegro, reto, temente a Deus, afastado do mal”(Jó.1,11). E posto em prova, se
manteve fiel ao seu Criador, nunca pecou com seus lábios e nem negou contra o Senhor (cfr. Jó.
2,10) Por outra parte, Jesus é o modelo máximo da paciência com os inimigos, mesmo porque ele
não é implacável com os pecadores(cfr. Mt. 18,23-35), foi tolerante e generoso (Mt. 5,45). A
paciência tal como o amor, é um “fruto do Espírito” (Gal.5,22; cfr. 1Cor. 10,13; Col. 1,11); seu
exercício nos faz amadurecer na provação(cfr. Rm. 5,3-5; Sant 1,2-4),gerando constância e
esperança (cfr. Rm 5,5). O hino paulino do amor caminha neste sentido (1Cor. 13,1-13.4.7).
Sétima obra: rezar a Deus pelos vivos e mortos. Como conclusão das sete obras de misericórdia
espirituais aparece a prática em síntese, dado que a oração é um dom de Deus ao homem. No
entanto: “ A oração saibamos ou não , é um encontro da sede de Deus e da sede do homem. Deus
tem sede de que o homem tenha sede dele” (CEC, no. 2560). Definitivamente: “ A oração cristã é
uma relação de aliança entre Deus e o homem em Cristo” (no. 2564)e, portanto, sustenta todas as
obras de misericórdia. Na tradição cristã se encontra um fio condutor para compreender o sentido
da oração e sua relação com a vida, especialmente no famosa Regra de São Bento (século V):
“Reza e trabalha”. Trata-se da comunhão dos membros da Igreja, tanto dos que peregrinam ainda
na terra, como os bem-aventurados do céu. Neste sentido, esta última obra de misericórdia
prepara e dispõe a “aceitar” e “viver” a vontade de Deus, seja qual for, já que “se pedimos ao
Criador algo segundo sua vontade, nos escuta” (1Jo .5,14; Ef. 1,3-14).
Jesus nos ensina como praticar a Misericórdia corporal e espiritualmente.
Compartilhando experiências:
1. Quais obras de Misericórdia aparecem na parábola?
2. Identificar as Obras de Misericórdia na vida cotidiana como família Consolação.