Mestrado em Engenharia Ambiental...Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Ouro...

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Mestrado em Engenharia Ambiental Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental DISSERTAÇÃO CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E MOLECULAR DE BACTÉRIAS REDUTORAS DE SULFATO ISOLADAS NA RPPN DO CARAÇA, MG AUTOR: IVAN CEZARINI PATRÍCIO OURO PRETO, MG 2009

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  • Mestrado em Engenharia Ambiental

    Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental

    DISSERTAÇÃO

    CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA

    E MOLECULAR DE BACTÉRIAS

    REDUTORAS DE SULFATO

    ISOLADAS NA RPPN DO CARAÇA,

    MG

    AUTOR: IVAN CEZARINI PATRÍCIO

    OURO PRETO, MG

    2009

  • Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação Engenharia Ambiental

    Mestrado em Engenharia Ambiental

    Ivan Cezarini Patrício

    “CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA E MOLECULAR DE

    BACTÉRIAS REDUTORAS DE SULFATO ISOLADAS NA

    RPPN DO CARAÇA, MG”

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título: “Mestre em Engenharia Ambiental – Área de Concentração: Saneamento Ambiental”

    Orientadora: Profa. Dra.. Maria Célia da Silva Lanna

    Co-Orientadora: Profa. Dra.. Silvana de Queiroz Silva

    Ouro Preto, MG

    2009

  • Catalogação: [email protected]

    P314c Patrício, Ivan Cezarini. Caracterização bioquímica e molecular de bactérias redutoras de sulfato isoladas na RPPN do Caraça, MG [manuscrito] / Ivan Cezarini Patrício. - 2009. xi, 89f. : il., graf., tabs. Orientadora: Profa. Dra. Maria Célia da Silva Lanna. Co-orientadora: Profa. Dra. Silvana de Queiroz Silva. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Mestrado em Engenharia Ambiental. Área de concentração: Saneamento Ambiental.

    1. Sulfatos - Teses. 2. Biorremediação - Teses. 3. Bioquímica molecular - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.

    CDU: 577(815.1)

  • II

    AGRADECIMENTOS

    A realização deste trabalho contou com a ajuda de várias pessoas, tanto de maneira

    direta quanto indiretamente, aos quais agradeço:

    - Em primeiro lugar meus pais e familiares, que sempre me apoiaram para a continuidade

    de meus estudos desde o meu ingresso na universidade;

    - Ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental – ProAgua – e seus

    coordenadores, professores e funcionários pela oportunidade de realizar o presente

    trabalho;

    - Ao programa de bolsas da CAPES e ao PRODOC-CAPES que forneceram recursos

    sem os quais a minha estadia na instituição e realização do trabalho não seriam

    possíveis;

    - À Profa. Dra. Maria Célia da Silva Lanna, que me concedeu a possibilidade de

    confeccionar este projeto no Laboratório de Microbiologia do ICEB-UFOP além com

    os meios necessários à realização do mesmo;

    - À Profa. Dra. Silvana de Queiroz Silva, que como minha co-orientadora deu importantes

    contribuições para a realização do trabalho;

    - Ao Profo. Dr. Hubert Mathias Peter Roeser e seus alunos e pesquisadores do DEGEO,

    que realizaram a coleta das amostras utilizadas neste trabalho, além de fornecer ajuda

    necessária á sua confecção;

    - A Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP – e seus professores e técnicos que

    forneceram apoio á confecção do trabalho;

    - Aos professores, técnicos, estagiários, bolsistas e mestrandos que atualmente fazem

    parte, ou mesmo já fizeram, do Laboratório de Microbiologia do ICEB cuja ajuda na

    confecção dos experimentos e apoio foram imprescindíveis para o término do trabalho;

    - Aos estudantes do Laboratório de Microscopia e Microanálise (Microlab) do

    Departamento de Geologia da UFOP (DEGEO), pela disponibilidade para realização

    das análises;

    - Aos meus grandes amigos da República DNA, da qual fui morador, que sempre me

    apoiaram de várias formas e com os quais sempre pude contar.

  • III

    SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

    1.1 Objetivo Geral ........................................................................................................ 14

    1.2 Objetivos Específicos ............................................................................................. 14

    2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 15

    2.1 Classificação Taxonômica e Caracterização dos Grupos de BRS ..................... 15

    2.2 Distribuição e Ecologia dos Grupos de BRS ....................................................... 18

    2.3 Bioquímica e Fisiologia das Bactérias Redutoras de Sulfato ............................. 20

    2.4 Utilização das BRS para Imobilização de Metais e Biorremediação ................ 23

    2.5 Estudo de BRS em Biorreatores ........................................................................... 27

    2.6 BRS Associadas à Biocorrosão ............................................................................. 30

    3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................. 33

    3.1 Área de Estudo e de Amostragem ........................................................................ 33

    3.2 Cultivo Inicial das Amostras ................................................................................. 34

    3.3 Isolamento das Culturas Puras de Bactérias Redutoras de Sulfato .................. 35

    3.4 Caracterização dos Isolados Obtidos ................................................................... 36

    3.4.1 Caracterização Morfológica ................................................................................... 36

    3.4.2 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação Taxonômica ...................... 37

    3.4.3 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação de Processos ...................... 38

    3.4.4 Caracterização Taxonômica Presuntiva dos Isolados ........................................... 39

    3.4.5 Caracterização Molecular dos Isolados ................................................................. 39

    3.5 Métodos para Escolha de Linhagens para Testes Fisiológicos .......................... 40

    3.5.1 Determinação do Tempo de Redução de Sulfato em Relação ao pH ................... 41

    3.5.2 Determinação do Número de Células dos Isolados após Redução de Sulfato em

    Diferentes Valores de pH ................................................................................................... 41

    3.6 Determinação das Curvas de Crescimento e Tempo de Geração dos Isolados 42

    3.7 Quantificação do Consumo de Sulfato pelos Isolados ........................................ 44

    3.8 Quantificação da Produção de Sulfeto pelos Isolados ........................................ 45

    4 RESULTADOS ...................................................................................................... 46

  • IV

    4.1 Amostras Positivas para Redução de Sulfato ...................................................... 46

    4.2 Linhagens Isoladas ................................................................................................. 47

    4.3 Caracterização Morfológica dos Isolados ............................................................ 48

    4.3.1 Morfologia das Colônias ........................................................................................ 48

    4.3.2 Morfologia das Células Observadas ao Microscópio Ótico (M.O.) ...................... 48

    4.3.3 Morfologia das Células ao Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) .......... 49

    4.4 Caracterização Bioquímica dos Isolados ............................................................. 51

    4.5 Identificação Taxonômica Presuntiva dos Isolados ............................................ 57

    4.6 Caracterização Molecular dos Isolados ............................................................... 58

    4.7 Escolha de Linhagens para Testes Fisiológicos ................................................... 62

    4.8 Curva de Crescimento e Tempo de Geração dos Isolados ................................. 65

    4.9 Quantificação do Consumo de Sulfato e Produção de Sulfeto pelos Isolados .. 66

    5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 69

    6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 75

    7 PERSPECTIVAS ................................................................................................... 77

    8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 78

    9 ANEXOS ................................................................................................................. 86

  • V

    LISTA DE FIGURAS

    FIGURA 2-1: Árvore filogenética baseada em seqüências de DNA ribossomal descritas em bactérias redutoras de sulfato. Números dentro dos quadros indicam o número de espécies diferentes presentes em um determinado grupo e entre parênteses a identificação no banco de dados. Modificado de Muyzer e Stams (2008). .............................................................................................. 17

    FIGURA 2-2: Ciclo biogeoquímico do enxofre segundo Muyzer e Stams (2008). ........... 18 FIGURA 2-3: Redução assimilativa e dissimilativa do sulfato. Adaptado de Madigan et al.

    (2009). ......................................................................................................... 21 FIGURA 2-4: Modelo de Ress revisado segundo Brunner e Bernasconi (2005). .............. 22 FIGURA 2-5: Rota de biodegradação proposta para (A) Fluoreno e (B) Fenantreno por

    BRS segundo TSAI et al. (2008). ............................................................... 25 FIGURA 2-6: Modelo da corrosão do aço por BRS segundo Barton e Fauque (2009). .... 30 FIGURA 3-1: Região do Rio Conceição, MG. Locais de coleta e principais atividades

    humanas próximas. ..................................................................................... 33 FIGURA 4-1: Crescimento dos organismos em meio sólido de Postgate C após

    enriquecimento e espalhamento das amostras. Incubação em anaerobiose por 24 horas. ................................................................................................ 46

    FIGURA 4-2: Isolados de BRS das amostras apresentando diferenças na redução de

    sulfato (visualmente) em meio Postgate C após uma semana de incubação à 32 ºC em anaerobiose, o primeiro tubo (da esquerda para a direita) demonstra um controle negativo. ................................................................ 47

    FIGURA 4-3: Isolados bacterianos ao microscópio eletrônico. A: R104A, B: R105A, C:

    R107A, D: R111A, E: R301A, F: R305A, G: R307A e H: R310A. ........... 50 FIGURA 4-4: Teste de desnitrificação de dois dos isolados. O primeiro e o segundo tubos

    (da esquerda para a direita) representam, respectivamente, um controle negativo e um positivo utilizando E. coli. ................................................... 53

    FIGURA 4-5: Dendrograma indicando a diferenciação bioquímica entre os isolados da

    amostra R1A. Os números de 1 à 12 representam, respectivamente, os isolados de R101A à R112A. ...................................................................... 56

    FIGURA 4-6: Dendrograma indicando a diferenciação bioquímica entre os isolados da

    amostra R3A. Os números de 1 à 14 representam, respectivamente, os isolados de R301A à R314A. ...................................................................... 56

  • VI

    FIGURA 4-7: Gel de agarose mostrando a amplificação do DNA dos isolados. .............. 59 FIGURA 4-8: Gel de agarose mostrando a amplificação do DNA dos isolados. .............. 59 FIGURA 4-9: Gel de agarose mostrando a quantificação do DNA dos isolados. ............. 60 FIGURA 4-10: Árvore filogenética contendo sequências do gene DNAr 16S (1.137 pb)

    construída pelo método Neighbor-Joining e modelo Maximum Composite Likelihood no programa Mega 4.1. Análise de Bootstrap com 1000 réplicas. Números de referência no GenBank se encontram entre parênteses.. .................................................................................................. 61

    FIGURA 4-11: Curvas de crescimento dos isolados e equação de sua fase exponencial. . 65 FIGURA 4-12: Valores das concentrações de sulfato e sulfeto acumulado dos isolados em

    crescimento controlado. .............................................................................. 67 FIGURA 9-1: Curva padrão de sulfato. ............................................................................. 87 FIGURA 9-2: Curva padrão de sulfeto. ............................................................................. 88 

  • VII

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 4-1: Características das colônias das linhagens isoladas observadas em meio Postgate C sólido. ...................................................................................... 48

    QUADRO 4-2: Características morfológicas ao M.O. das linhagens isoladas após técnica

    de coloração de Gram. .............................................................................. 49 QUADRO 4-3: Características metabólicas gerais dos isolados da Amostra R1A

    incubados em anaerobiose à 32ºC por 48 horas. ....................................... 51 QUADRO 4-4: Características metabólicas gerais dos isolados da Amostra R3A

    incubados em anaerobiose à 32 ºC por 48 horas. ...................................... 52 QUADRO 4-5: Diferenciação dos isolados quanto à atividade de catalase e

    desnitrificação. Teste de desnitrificação realizado após incubação à 32 ºC em anaerobiose por uma semana em meio de cultura peptonado (CLESCERI et al., 1999). ......................................................................... 52

    QUADRO 4-6: Características dos isolados quanto à utilização de diferentes substratos

    como fonte de carbono. Incubação à 32 ºC em anaerobiose por uma semana. Amostras R1A. ............................................................................ 54

    QUADRO 4-7: Características dos isolados quanto à utilização de diferentes substratos

    como fonte de carbono. Incubação a 32 ºC em anaerobiose por uma semana. Amostras R3A. ............................................................................ 55

    QUADRO 4-8: Similaridade bioquímica entre os isolados da amostra R1A. .................... 57 QUADRO 4-9: Similaridade bioquímica entre os isolados da amostra R3A. .................... 57 QUADRO 4-10: Proximidade taxonômica entre os isolados seqüenciados e os

    microrganismos catalogados no GenBank. ............................................... 61 

  • VIII

    LISTA DE TABELAS

    TABELA 2-1: Equações estequiométricas dos principais doadores de elétrons utilizados pelas BRS. Baseada no trabalho de Liamleam e Annachhatre (2007). ...... 29

    TABELA 4-1: Número médio de UFC´s entre as amostras positivas para redução de

    sulfato. ........................................................................................................ 46 TABELA 4-2: Concentração de DNA das amostras purificadas segundo leitura do Ladder

    Massa. ........................................................................................................ 60 TABELA 4-3: Determinação do tempo de início de redução do sulfato pelos isolados em

    diferentes valores de pH. ............................................................................ 62 TABELA 4-4: Determinação do tempo de redução completa de sulfato pelos isolados em

    diferentes valores de pH. ............................................................................ 63 TABELA 4-5: Determinação do número de células em cada isolado após redução total do

    sulfato nos diferentes valores de pH testados. ........................................... 64 TABELA 4-6: Equação da fase exponensial, R2, µmax e Tg dos isolados calculados com

    base em suas curvas de crescimento. ......................................................... 66 TABELA 4-7: Relação entre o consumo de sulfato e a produção de sulfeto pelos isolados.

    .................................................................................................................... 68 TABELA 9-1: Solução Tampão A para dosagem de sulfato, segundo Clesceri et al.

    (1999). ........................................................................................................ 86 TABELA 9-2: Soluções para dosagem de sulfeto total, segundo Clesceri et al. (1999). ... 88 

  • IX

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AFS: Adenosina Fosfosulfato.

    BRN: Bactérias Redutoras de Nitrato.

    BRS: Bactérias Redutoras de Sulfato.

    BTEX: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno.

    DAM: Drenagem àcidas de minas.

    DEGEO: Departamento de Geologia.

    FAFS: Fosfoadenosina fosfosulfato.

    ICEB: Instituto de Ciências Exatas e Biológicas.

    MEV : Microscópio Eletrônico de Varredura.

    MICROLAB: Laboratório de Microscopia e Microanálise do Departamento de Geologia.

    M.O.: Microscópio ótico.

    PAH’s: Polycyclic Aromatic Hydrocarbons = Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos.

    RPPN: Reserva Particular do Patrimônio Ambiental

    Tg: Tempo de geração.

    UFC’s: Unidades Formadoras de Colônias.

    UFOP: Universidade Federal de Ouro Preto.

  • X

    RESUMO

    O estudo sobre as bactérias redutoras de sulfato (BRS) tem sido direcionado, entre

    vários aspectos, a sua identificação, considerando a importância das mesmas para os

    processos de remediação de ambientes contaminados pelas mais diversas substâncias, visto

    a atual demanda ambiental nos países industrializados. O uso de microrganismos na

    remediação requer um conhecimento detalhado sobre a sua fisiologia e bioquímica, o qual

    tem sido subsidiado por diversas pesquisas visando o aprimoramento de técnicas de

    isolamento e identificação das diferentes características que tornam este grupo de bactérias

    de grande utilidade nestes processos. No presente trabalho, a partir de amostras de

    sedimento do Rio Conceição localizado na RPPN do Caraça em Minas Gerais, Brasil,

    foram isoladas linhagens bacterianas de bastonetes Gram negativos e Gram positivos

    capazes de reduzir sulfato a sulfeto de hidrogênio. Esses isolados bacterianos foram

    submetidos a testes para a sua caracterização bioquímica e mostraram-se capazes de

    utilizar variados substratos como fonte de carbono e elétrons para a redução de sulfato.

    Testes adicionais demonstraram a capacidade destas linhagens em realizar metabolismos

    diferenciados como a redução de nitrato. Em relação à investigação da sua fisiologia foram

    determinadas as taxas de crescimento dos isolados R102A, R106A, R112A, R304A,

    R307A e R313A em cultivo controlado, assim como a eficiência destas diferentes

    linhagens para a produção de sulfeto como produto da redução do sulfato consumido,

    embora não tenham sido observadas diferenças significativas entre algumas linhagens. A

    identificação filogenética dos isolados citados, baseada nas sequências do DNAr 16S,

    indicou que os mesmos pertencem à família Enterobacteriaceae, com similaridade em

    torno de 99% com espécies de Enterobacter sp. e Pantoea sp. Com base nos resultados

    fisiológicos e filogenéticos pode-se definir tais isolados como possivelmente pertencentes à

    família Enterobacteriaceae. A utilização alternativa do sulfato como aceptor final de

    elétrons demonstrada pelas linhagens isoladas, apesar desta característica metabólica ser

    pouco comum entre os representantes da família Enterobacteriaceae é condizente com a

    versatilidade desse grupo taxonômico. Destaca-se ainda que, a flexibilidade metabólica

    para os isolados indica a possibilidade da sua utilização em processos de biorremediação e

    imobilização de metais.

  • XI

    ABSTRACT

    The study of sulphate-reducing bacteria (SRB) has been conducted, among several

    aspects, for their identification, considering the importance of this bacteria for remediation

    of contaminated environments by many substances, in observation at the current

    environmental demands in industrialized countries. The application of microorganisms in

    remediation requires a detailed knowledge about their physiology and biochemistry, which

    has been subsidized by many approaches seeking the improvement of isolation and

    identification techniques of different characteristics that make this bacterial group very

    helpful in these processes. In this work, from sediment samples of Rio Conceição located

    in the Caraça’s RPPN in Minas Gerais, Brazil, were isolated bacterial strains of Gram

    negative and Gram positive rods able to reduce sulphate to hydrogen sulfide. These

    bacterial strains were tested for their biochemical characterization and proved capable of

    using several substrates as carbon and electrons sources to reduce sulphate. Additional

    tests demonstrated the ability of these strains to perform distinguished metabolic features

    as nitrate reduction. In relation to the physiological properties were determined the growth

    rates of R102A, R106A, R112A, R304A, R307A e R313A strains in controlled cultivate,

    as well as the efficiency of the various lineages for the production of sulfide as sulphate-

    reduction product, although no significant differences have been observed among some

    strains. Phylogenetic identification of these strains based on 16s rDNA sequences,

    indicated that many of the isolates belong to the family Enterobacteriaceae, with similarity

    around 99% with species of Enterobacter sp. and sp Pantoea. Based on the physiology and

    phylogenetic results it can be conclude that the isolates as belong to the family

    Enterobacteriaceae. The capability of using sulphate as electron’s acceptor demonstrated

    by strains, despite being unusual among the family Enterobacteriaceae members is

    consistent with the versatility of this taxonomic group. The metabolic flexibility

    demonstrated by the isolates indicates the possibility of their use in bioremediation and

    imobilization of metals.

  • 12

    1 INTRODUÇÃO

    Bactérias redutoras de sulfato (BRS) é uma designação usual para alguns grupos

    bacterianos de vida livre, no meio ambiente. Estes são organismos que utilizam formas

    oxidativas de enxofre, ao invés do oxigênio, como aceptor final de elétrons, tendo como

    produto dessa reação o gás sulfídrico (H2S), processo esse denominado de “respiração do

    sulfato” ou também de redução dissimilativa do enxofre (MADIGAN et al., 2009).

    Atualmente, dezenas de gêneros de bactérias redutoras de sulfato são conhecidos,

    podendo os mesmos ser distribuídos em vários grupos, tanto de bactérias Gram negativas

    quanto de Gram positivas. As BRS apresentam um bom desenvolvimento em uma faixa

    ampla de pH, podendo ser mesófilas, ou seja, a temperatura ideal de crescimento é de 20ºC

    a 40ºC, ou termófilas crescendo e temperatura de até 70ºC (BARTON e FAUQUE, 2009).

    A literatura registra vários trabalhos subseqüentes à descoberta das BRS, entretanto

    não se identifica continuidade nos trabalhos iniciais, ou seja, inicialmente os trabalhos

    eram baseados somente em questões de identificação e caracterização das BRS, sendo que

    o seu uso biotecnológico só foi abrangido mais tardiamente, principalmente com o

    surgimento de questões ambientais. Provavelmente este fato possa ser atribuído à

    dificuldade de isolamento e manutenção das culturas puras, pois essas são bactérias

    anaeróbias e o contato com o oxigênio pode levar á inativação ou inibição de muitas

    enzimas ou proteínas utilizadas no processo de redução. Entretanto, mais recentemente,

    têm sido detectados alguns desses microrganismos com certa habilidade na utilização de

    oxigênio (LEMOS et al., 2001). Já foi comprovada a presença da enzima catalase nesses

    organismos, fato que justifica o possível crescimento na presença de oxigênio

    (WIERINGA et al., 2000).

    Este grupo de bactéria é bastante difundido na natureza podendo ser encontrado

    tanto no ambiente aquático quanto no ambiente terrestre, mas ocorre principalmente em

    sedimentos, onde as condições redutoras são mais favoráveis. Por serem

    quimioheterotróficos utilizam compostos orgânicos de baixo peso molecular, tais como:

    lactose, acetato e propionato, além do hidrogênio molecular (H2), como doadores de

    elétrons e fonte de energia para o seu crescimento. Os compostos de enxofre mais

    utilizados como aceptores finais de elétrons pelas BRS, são sulfitos (SO32-), tiossulfatos

    (S2O32-) e sulfato (SO42-). Entretanto, a redução do sulfato, forma mais oxidativa do

  • 13

    enxofre, é a mais difundida devido à abundância do mesmo no ambiente (RABUS et al.,

    2006).

    Outro aspecto relevante com relação à redução dissimilativa do sulfato é a

    importância geológica e processos, visto que o gás sulfídrico produzido pode reagir com

    metais presentes no ambiente levando a formação de sulfetos metálicos. Evidências dessa

    atuação podem ser remetidas à participação das BRS na formação, por exemplo, de

    depósitos de Pirita (FeS2) (CARVALHO, 2004). O conhecimento desse processo permitiu

    investigar o uso dessas bactérias em processos de remediação de metais pesados no

    ambiente (WEEB et al., 1998).

    Com a crescente preocupação com relação às questões ambientais, a investigação

    de vários aspectos das BRS tornou-se relevante, uma vez que as BRS são importantes no

    ciclo do carbono e do enxofre, em condições anaeróbicas (MUYZER e STAMS, 2008).

    Com isso, muitos estudos sobre a sua dinâmica biogeoquímica, problemas chaves de

    filogenia e relação evolutiva, fisiologia celular, ecologia microbiana e aplicabilidade

    industrial vem sendo realizados.

  • 14

    1.1 Objetivo Geral

    Isolar e caracterizar bactérias com capacidade de redução do íon sulfato de

    sedimentos do rio Conceição, buscando elucidar aspectos bioquímicos e fisiológicos úteis

    das mesmas para bioprocessos.

    1.2 Objetivos Específicos

    O presente trabalho engloba os seguintes objetivos:

    1. Isolar bactérias redutoras de sulfato de amostras de corpos d’água e sedimentos;

    2. Caracterizar e identificar os isolados e seus gêneros taxonômicos levando em

    consideração seus aspectos morfológicos e metabólicos;

    3. Investigar possíveis adaptações fisiológicas ao ambiente, como o crescimento em

    diferentes pHs, respiração do nitrato e a utilização de diferentes fontes de carbono

    como doadores de elétrons;

    4. Determinar as curvas de crescimento dos isolados e seu tempo de geração, podendo

    inferir sobre sua velocidade de crescimento;

    5. Determinar a capacidade dos isolados em consumir sulfato com concomitante produção

    de sulfeto;

    6. Caracterizar o perfil filogenético dos fragmentos amplificados de 16s DNA dos

    isolados.

  • 15

    2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

    2.1 Classificação Taxonômica e Caracterização dos Grupos de BRS

    No mundo dos procariotos existem diversos organismos que são capazes de realizar

    vários tipos diferentes de metabolismos, sendo que entre eles existem os que possuem a

    capacidade única de viverem em ambientes totalmente isentos de oxigênio; realizando

    assim reações bioquímicas que produzem energia por meio da redução dos mais diferentes

    tipos de compostos que agem como aceptores finais de elétrons, entre os quais se podem

    citar o nitrato, manganês, ferro, enxofre (em diferentes formas), dióxido de carbono, bem

    como formas oxidadas de compostos naturalmente menos abundantes como o arsenato,

    cromato, selenato e urânio (RABUS et al., 2006).

    Entre estes organismos existe um grupo microbiano de grande interesse, as BRS,

    que se apresentam na forma de células esféricas, ovóides, bastonetes ou vibrióides, com

    diâmetro em torno de 0,3 a 0,4 μm, ocorrendo sozinhas, em pares ou, algumas vezes, em

    agregados. Algumas apresentam flagelos polares ou peritríquios; vivendo principalmente

    em ambientes anóxicos aquáticos e sedimentos (HOLT, 1994), e perfazem o único grupo

    de organismos procariotos com a habilidade comum de produzir energia por meio da

    redução dissimilativa de sulfato para gás sulfídrico (LLOYD et al., 2001).

    Por redução dissimilativa de sulfato entende-se a utilização conjunta da oxi-redução

    de compostos orgânicos ou hidrogênio molecular com a redução de sulfato como um

    aceptor externo de elétrons sob condições anaeróbicas (TEBO e OBRAZTSOVA, 1998);

    este processo se diferencia em muito da redução assimilativa de sulfato, onde o mesmo é

    convertido a enxofre molecular na forma de aminoácidos e segue por diferentes vias

    bioquímicas (MADIGAN et al., 2009).

    Embora haja diversos estudos recentes sobre as BRS, as mesmas são conhecidas há

    muito tempo, sendo que os pesquisadores Ferdinand Cohn em 1867 e Lothar Meyer em

    1964 foram os primeiros a identificar a redução biológica do sulfato como a responsável

    por crescentes concentrações de gás sulfídrico em habitats aquáticos (RABUS et al., 2006).

    No entanto, apenas em 1895 o professor holandês Martinus W. Beijerinck (1851 – 1931)

    da Escola Politécnica de Delft isolou as primeiras culturas puras de BRS por meio do

  • 16

    conceito e metodologia, por ele mesmo formulados, de “cultura de enriquecimento”

    (MADIGAN et al., 2009).

    Desde esta época muitos avanços têm ocorrido quanto à identificação das BRS,

    uma vez que muitos trabalhos têm proposto várias características tanto bioquímicas quanto

    morfológicas visando à construção de uma chave para os grupos. Em seu trabalho, HOLT

    et al. (1994), propuseram uma divisão em quatro subgrupos levando se em consideração

    características morfológicas e bioquímicas, sendo estas últimas ligadas à oxidação

    completa dos substratos orgânicos até CO2 (QUADRO 2-1). Nas demais chaves presentes

    no livro são propostas diversas outras características para identificação de gêneros e

    espécies para cada grupo.

    QUADRO 2-1: Diferenciação de subgrupos de 1 a 4 de bactérias dissimilativas de sulfato ou enxofre

    segundo HOLT (1994).

    Características

    1. BRS

    formadoras de esporos

    2. BRS não formadoras de

    esporos; oxidação

    incompleta de substratos

    3. BRS não formadoras de

    esporos; oxidação

    completa de substratos

    4. Bactérias redutoras de

    enxofre

    Sulfato reduzido a

    sulfito

    +

    +

    +

    -

    Enxofre reduzido a

    sulfito

    -

    + ou -

    -

    +

    Substratos orgânicos

    completamente reduzidos à

    CO2

    + ou -

    -

    +

    +

    Muitos outros autores também citam a oxidação completa de compostos orgânicos

    como uma característica muito importante para a caracterização destas bactérias

    (MADIGAN et al., 2009 e CASTRO et al., 2000), sendo que a oxidação do acetato é muito

    conhecida e considerada relevante. Embora a energética de sua reação ainda não tenha sido

    totalmente elucidada, o seu mecanismo é muito bem conhecido (MADIGAN et al., 2009).

    Além desta, dentre as principais características citadas para identificação estão a

    motilidade, forma da célula e tipo de reação ao procedimento de coloração de Gram

    (CASTRO et al., 2000).

  • 17

    Embora estas características bioquímicas e morfológicas sejam até hoje muito

    utilizadas para a identificação das BRS, deve-se salientar que vários trabalhos têm se

    utilizado de ferramentas moleculares (DIAS et al., 2008; BAHR et al., 2005; MENERT et

    al., 2004; CASTRO et al., 2000 e STACKEBRANDT et al., 1997), a fim de buscar

    métodos para catalogar as diversas espécies que, atualmente, passam de 220 estando

    divididas em cerca de 60 gêneros (BARTON e FAUQUE, 2009).

    Em relação a este tópico pode-se citar um trabalho bastante abrangente realizado

    por Muyzer e Stams (2008), que agruparam grande parte das espécies conhecidas de BRS

    em uma árvore filogenética confeccionada segundo seqüências de DNA ribossomal

    presentes em banco de dados ARB-SILVA (FIGURA 2-1).

    FIGURA 2-1: Árvore filogenética baseada em seqüências de DNA ribossomal descritas em bactérias

    redutoras de sulfato. Números dentro dos quadros indicam o número de espécies diferentes presentes em um determinado grupo e entre parênteses a identificação no banco de dados. Modificado de Muyzer e Stams (2008).

  • 18

    Assim, as BRS fazem parte de cinco subdivisões pertencentes ao domínio Bacteria

    (Deltaproteobacteria, Nitrospirae, Clostridia, Thermodesulfobiaceae e

    Thermodesulfobacteria), além de 2 subdivisões pertencentes ao domínio Archaea

    (Euryarchaeota e Crenarchaeota). Deve-se ressaltar que, segundo Barton e Fauque (2009),

    as BRS presentes à subdivisão Clostridia são todas pertencentes à família Firmicutes e

    perfazem os únicos gêneros de BRS Gram positivas formadoras de esporos.

    Tais características mostram como as BRS são um grupo diverso, sendo

    adicionadas cada vez mais espécies e gêneros a este grupo em função dos estudos cada vez

    mais freqüentes.

    2.2 Distribuição e Ecologia dos Grupos de BRS

    Segundo observado em relação ao grupo das BRS, as mesmas são importantes não

    apenas pelo seu óbvio papel no ciclo biogeoquímico do enxofre (FIGURA 2-2), como

    também pela produção do gás sulfídrico que não só é conhecido pela sua toxicidade e

    cheiro característico, como também pela sua alta reatividade que causa um grande impacto

    de alterações nos constituintes do ambiente (RABUS et al., 2006).

    FIGURA 2-2: Ciclo biogeoquímico do enxofre segundo Muyzer e Stams (2008).

  • 19

    Com relação à sua distribuição ambiental, as BRS são consideradas amplamente

    presentes em grandes profundidades. A grande maioria de suas espécies foram

    encontradas, principalmente, em ambientes considerados anóxicos como minas profundas

    de ouro da África do Sul e aqüíferos basálticos profundos em Washington, EUA (BAKER

    et al., 2003), ou mesmo poços petrolíferos do Golfo do México (MIRANDA-TELLO et

    al., 2004).

    Porém, muitos pesquisadores, a exemplo de Wieringa et al. (2000), evidenciam as

    descobertas de BRS com capacidade de sobreviver em ambientes onde existe a presença de

    oxigênio, sendo relatada a presença de enzimas de proteção contra os danos celulares

    recorrentes do metabolismo de redução de oxigênio como, por exemplo, a catalase e a

    superóxido dismutase. Além disso, Lemos et al. (2001) demonstraram a presença de

    metabolismo oxidativo em um exemplar de BRS identificado como Desulfovibrio gigas

    cujo gênero, a exemplo do gênero Desulfomicrobium, é amplamente relatado como capaz

    de sobreviver ao oxigênio tendo não apenas espécies identificadas em condições

    oligotróficas, como também relatadas a presença de enzimas redutoras de oxigênio em

    alguns de seus exemplares (SANTANA, 2008; BADE et al., 2000 e SASS et al., 1997).

    Assim, vários estudos recentes mostram que este grupo de microrganismos pode ser

    identificado em diversos ambientes como, por exemplo, na rizosfera de algumas plantas

    (CIFUENTES et al., 2003); em solos diversos (MILETTO et al., 2007), bem como em

    solos úmidos usados para o cultivo de arroz (LIU et al., 2009) onde os seus representantes

    Gram positivos já foram identificados como de grande importância nos processos

    biogeoquímicos destes locais (STUBNER e MEUSER, 2000), em sedimentos marinhos

    (ISHII et al., 2004), de estuários (DEVEREUX et al., 1996), e de lagos de água doce e

    salgada (PEDUZZI et al., 2003 e LI et al., 1999), no trato gastrointestinal de humanos e

    animais (DETHLEFSEN et al., 2006 e LIN et al., 1997), e até mesmo associadas à doenças

    periodontais e colites ulcerativas em humanos (LANGENDIJK et al., 2000 e PITCHER et

    al., 2000). Dentre todos estes locais, as BRS marinhas são consideradas como as mais

    abundantes já que este ambiente apresenta maior quantidade de sulfato dissolvido em

    relação aos outros citados (MUYZER e STAMS, 2008).

    Por fim, as BRS foram provavelmente as maiores responsáveis pela formação de

    depósitos de sulfetos metálicos em ambientes pré-históricos anaeróbios, sendo tais jazidas

    atualmente muito exploradas para fins comerciais (CARVALHO, 2004).

  • 20

    Assim, as BRS se mostram amplamente difundidas no ambiente, o que, ligado à sua

    diversidade metabólica, as torna de grande valia no equilíbrio dos processos biológicos dos

    ecossistemas.

    2.3 Bioquímica e Fisiologia das Bactérias Redutoras de Sulfato

    Segundo Rabus et al. (2006) existem cinco importantes atributos referentes ao

    metabolismo das BRS que são explorados na maioria dos estudos realizados atualmente:

    1. O metabolismo de sulfato a sulfeto que é bioquimicamente mais complexo do que a

    redução do oxigênio pelas bactérias aeróbicas;

    2. A ampla variedade de compostos orgânicos que podem ser utilizados pelas BRS como

    fontes de carbono e energia;

    3. O fluxo que ocorre entre doadores e aceptores de elétrons associado à cadeia

    respiratória e que envolve uma grande quantidade de carreadores;

    4. A capacidade de alguns grupos de síntese celular utilizando CO₂ durante seu

    crescimento na presença de H₂ e sulfato;

    5. A regulação do metabolismo, que o aspecto menos explorado entre os grupos de BRS.

    Quanto ao metabolismo as BRS são um grupo formado essencialmente por

    bactérias quimiorganotróficas heterotróficas, embora representantes de alguns gêneros

    como Desulfosarcina, Desulfonema, Desulfococcus, Desulfobacterium, Desulfotomaculum

    e algumas espécies de Desulfovibrio apresentem a capacidade de crescer com metabolismo

    quimiolitotrófico autotrófico, utilizando H₂ como doador de elétrons e CO₂ como fonte de

    carbono (MADIGAN et al., 2009). Porém, embora ocorram tipos diferentes de

    metabolismo em algumas espécies, todas as BRS possuem a capacidade de utilizar o

    sulfato como seu aceptor final de elétrons, sendo a rota bioquímica muito bem conhecida,

    ocorrendo a participação na mesma de diversas enzimas específicas (FIGURA 2-3).

  • 21

    FIGURA 2-3: Redução assimilativa e dissimilativa do sulfato. Adaptado de Madigan et al. (2009).

    AFS: Adenosina Fosfosulfato. FAFS: Fosfoadenosina fosfosulfato.

    As taxas de crescimento das BRS sugerem que para cada sulfato reduzido há a

    formação de uma molécula de ATP (MADIGAN et al., 2009). Além disso, diferente de

    algumas espécies de bactérias redutoras de nitrato, as BRS usualmente não excretam

    intermediários de seu metabolismo respiratório, liberando assim apenas o produto final do

    mesmo, o ácido sulfídrico (RABUS et al., 2006).

    A rota demonstrada na FIGURA 2-3 é baseada no modelo proposto por Ress

    publicado em 1973, sendo que, recentemente Brunner e Bernasconi (2005) propuseram, em

    um trabalho de revisão, adições ao mesmo levando em conta observações de muitos outros

    trabalhos posteriores. Assim, segundo a revisão do modelo de Ress proposta por ambos

    (FIGURA 2-4), a redução do sulfito para a formação do gás sulfídrico possui diversos

    passos com a formação de vários compostos intermediários como, por exemplo, o

    tiosulfato e o tritionato, além disso, pode ser observado um fluxo inverso para algumas

    dessas reações.

  • 22

    FIGURA 2-4: Modelo de Ress revisado segundo Brunner e Bernasconi (2005).

    O metabolismo de redução de sulfato apresenta uma enorme variedade de possíveis

    compostos que podem ser utilizados pelas BRS como aceptores finais de elétrons, sendo

    que, Madigan et al. (2009) e Rabus et al. (2006), citaram, além do sulfato, o enxofre

    orgânico, sulfeto, enxofre elementar, tiossulfato, sulfito, sulfonatos, dimetilsulfoxido,

    nitrato (desnitrificação), nitrito, arsenato, oxigênio, fumarato, acrilato, urânio entre outros.

    Além disso, os autores ressaltam que compostos como o gás hidrogênio, lactato, etanol,

    acetaldeido, acetona, açucares, glicolato, malato, fumarato, succinato, aminoácidos,

    compostos aromáticos polares, hidrocarbonetos aromáticos, hidrocarbonetos saturados,

    metano, acetato, propionato, formiato, butirato e ácidos graxos diversos entre outros já

    foram identificados como doadores de elétrons, assim como a fermentação de alguns

    compostos orgânicos como o piruvato formando acetato, H₂ e CO₂ também já foi relatada.

    Por serem de grande interesse em vários processos industriais, alguns aspectos do

  • 23

    metabolismo de vários dos compostos citados, pela ação das BRS, serão discutidos

    posteriormente com mais detalhes.

    Outra interessante via que podemos citar é a capacidade de redução de alguns

    metais pesados utilizados como aceptores finais de elétrons. Embora não se tenha

    detectado crescimento significativo das culturas nas condições propensas à tais reações

    (LLOYD et al., 2001 e TEBO e OBRAZTSOVA, 1998), Cheung e Gu (2003), realizaram

    estudos com BRS em relação à redução de cromo hexavalente (Cr6-). O cromo oxidado é

    considerado altamente tóxico e cancerígeno, sendo este oriundo de vários tipos de

    indústrias, demonstrando como pode ser de grande valia o uso destas bactérias na

    biotecnologia industrial. Assim, a gama de possíveis compostos que estas bactérias podem

    utilizar em diferentes etapas de seu metabolismo, mostram como as mesmas podem

    participar dos diferentes processos bioquímicos presentes nos mais diversos ambientes.

    Em relação ao seu crescimento, as BRS mostram em vários estudos uma grande

    diversidade de dados, tendo sido relatados tempos de geração (Tg) de 1,5 dias (d) com

    velocidade máxima de crescimento (µmax) de 0,5 dias-1 (d-1) para espécies de

    Desulfoharbdus amnigenus (OUDE ELFERINK et al., 1995); 5,3 horas (h) e 0,13 horas-1

    (h-1); 8,6 h e 0,08 h-1, e 6,9 h e 0,10 h-1, respectivamente para Desulfobacter postgatei,

    Desulfobulbus propionicus e Desulfovibrio bacuolatus (LAAMBROEK et al., 1984); 7 d e

    0,004 h-1 para uma cultura degradadora de naftaleno (HaphS1) (GALUSHKO et al., 1999);

    e, por fim; 5,33 d e 0,13 d-1, e 2,47 d e 0,28 d-1 para uma cultura de Desulfovibrio sp. em

    cultivo controlado com lactato sem agitação e com agitação, respectivamente (SILVA,

    1999).

    2.4 Utilização das BRS para Imobilização de Metais e Biorremediação

    Devido à produção do H2S em seu metabolismo final as BRS têm a capacidade de

    complexar metais em ambientes aquáticos, já que o mesmo reage rapidamente com os íons

    metálicos formando sulfetos insolúveis, sendo muito utilizadas para remediar drenagens

    ácidas de minas (DAM) em barragens de resíduos (WEEB et al., 1998). Tais

    características, e também a enorme capacidade metabólica destas bactérias as tornam hoje

    de grande importância econômica, ecológica e para a biotecnologia industrial.

  • 24

    Huisman et al. (2006) evidenciaram muito bem a utilidade destas bactérias para as

    indústrias de mineração e metalurgia, pois, a excreção de H2S pelas BRS, permite a

    recuperação de metais de importância econômica, na forma de sulfetos, liberados nas

    DAM destas atividades. Prática que é mais vantajosa do que a precipitação em forma de

    hidróxidos. Além disso, relata que o uso destas bactérias tem maior vantagem econômica,

    uma vez que o uso de reagentes para esse fim, como o NaHS ou H2S industrializados, têm

    custo muito elevado. Um bom exemplo é fornecido por Lengke e Southam (2006) que

    demonstraram o uso das BRS na recuperação de ouro por bioacumulação.

    Em relação ao uso das BRS em biorremediação, as mesmas já foram identificadas

    atuando como reguladoras de uma variedade de processos que ocorrem em solos inundados

    incluindo a reciclagem de matéria orgânica, biodegradação de diversos poluentes

    aromáticos clorados em anaerobiose e a metilação do mercúrio (CASTRO et al., 2000).

    A este respeito, Teclu et al. (2008) evidenciaram que as BRS podem ser utilizadas

    como ferramentas úteis para inativar um rejeito muito comum em algumas atividades de

    mineração, os arsênicos tri e pentavalentes, que podem ser precipitados em formas menos

    tóxicas e praticamente insolúveis como por exemplo o trisulfeto de arsênico (As2S3).

    Além disso, Kleikemper et al. (2004) reforçaram, em seu estudo, como as BRS têm

    sido altamente utilizadas em áreas contaminadas por hidrocarbonetos de petróleo, sendo a

    degradação de sulfato considerada um importante processo nestes locais, Robertson et al.

    (2000), também citam esta capacidade das BRS, tendo relacionado em seu trabalho a

    degradação de certos hidrocarbonetos como naftaleno, 1,3,5-trimetilbenzeno (TMB),

    tolueno, p-xileno e etilbenzeno à degradação de sulfato por associações bacterianas, uma

    vez que nesta investigação culturas puras não foram capazes de degradar todos os

    compostos sozinhas como, por exemplo, o benzeno. Resultado parecido foi observado por

    Dou et al. (2008) que, por meio de um consórcio formado por BRS e por bactérias

    redutoras de nitrato coletado e enriquecido de um ambiente contaminado por combustíveis,

    foi capaz de realizar a degradação biológica do BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e

    xileno), um conjunto de poluentes comuns de vários tipos combustíveis e cuja presença no

    ambiente é muito preocupante devido aos seus potenciais tóxico e cancerígeno.

    Tsai et al. (2008) também evidenciaram a capacidade de associações de BRS em

    utilizar PAH’s (Polycyclic Aromatic Hydrocarbons = Hidrocarbonetos Aromáticos

    Policíclicos) para suas biossínteses, o que segundo os mesmos, é de grande valia para o

    ambiente já que tais compostos são potencialmente cancerígenos e muito estáveis à

    degradação ambiental. Além disso, o trabalho propõe uma possível rota metabólica pela

  • 25

    qual um consórcio de BRS degradou dois tipos diferentes PAH’s, o fluoreno e o fenantreno

    (FIGURA 2-5), que são comumente encontrados em diversos locais contaminados e, assim

    como todos PAH’s compostos de 2 ou 3 anéis aromáticos, perfazem um grande perigo para

    os humanos devido à sua solubilidade em água e, logo, fácil dispersão no ambiente.

    FIGURA 2-5: Rota de biodegradação proposta para (A) Fluoreno e (B) Fenantreno por BRS segundo TSAI

    et al. (2008).

  • 26

    Consórcios de BRS (inclusive associados a outros grupos de bactérias) também já

    foram identificados como responsáveis pela degradação de compostos nitroaromáticos

    presentes no ambiente como, por exemplo, os encontrados em solos e sedimentos de

    corpos d’água próximos a fábricas de explosivos, pesticidas, herbicidas e produtos

    farmacêuticos (KULKARNI e CHAUDHARI, 2007). Como tais rejeitos são considerados

    altamente prejudiciais, visto sua grande estabilidade ambiental e capacidade cancerígena

    comprovada, a sua degradação visando a remediação do ambiente é altamente prioritária

    em diversos países, visto o uso desenfreado dos mesmos ao longo dos anos (LEWIS et al.,

    2004).

    Embora grande parte dos estudos cite a biodegradação de compostos aromáticos de

    carbono como realizadas principalmente por consórcios microbianos, visto a complexidade

    da estrutura dos mesmos, Wilkes et al. (2000) evidenciaram em seu trabalho como muitos

    estudos têm identificado culturas puras de bactérias anaeróbias capazes de utilizar tais

    compostos como, por exemplo, duas culturas de BRS isoladas em seu trabalho capazes de

    degradar alquil-benzenos na presença de petróleo. Outro exemplo pode ser observado no

    trabalho de Galushko et al. (1999), que identificaram uma cultura pura de BRS isolada de

    sedimento marinho com a capacidade de degradar naftaleno.

    Ao se considerar contaminantes presentes no ambiente, as BRS também apresentam

    grande atuação. Azabou et al. (2005) em um estudo sobre a degradação por BRS do

    “Phosphogypsum” (CaSO4), um subproduto potencialmente tóxico advindo da produção

    industrial do ácido fosfórico ou por meio da reação entre o fosfato de cálcio [Ca3(PO4)2]

    das rochas e o ácido sulfúrico (H2SO4) das chuvas ácidas, identificaram a possibilidade de

    uso das mesmas para a degradação deste composto e seu tratamento industrial antes do

    despejo. Em trabalho semelhante Schröder-Wolthoorn et al. (2008) demonstraram que

    BRS podem ser utilizadas para conversão de anglesita (PbSO4) para galena (PbS), que é

    um composto bem menos solúvel e de fácil remoção por processos eletroquímicos,

    evidenciando que tal processo não pode ser apenas utilizado em solos ricos em anglesita e,

    por conseguinte, contaminados por chumbo, mas também para tratamento de despejos

    ricos em anglesita de diversas indústrias, como as de baterias.

  • 27

    2.5 Estudo de BRS em Biorreatores

    Como tratado anteriormente as BRS possuem muitos possíveis usos industriais em

    relação à biorremediação e imobilização de metais, sendo que não apenas as indústrias de

    mineração podem ser beneficiadas pelo seu estudo, como também várias outras cujos

    despejos sejam ricos em sulfatos e metais a exemplo de processos galvânicos, baterias,

    tintas e várias outras manufaturas químicas (BASKARAN e NEMATI, 2006), além de

    indústrias com despejos ricos em diferentes formas de compostos de enxofre como, por

    exemplo, curtumes, fábricas de papel, óleos comestíveis, fermentações e produtos de

    amido (HIRASAWA et al., 2008). Assim, visando esta capacidade das BRS, muitos

    trabalhos têm atualmente se dedicado ao estudo da utilização das mesmas em condições

    controladas como os biorreatores, o que pode ser muito útil para atingir o seu melhor

    potencial em processos industriais, já que se podem definir as melhores formas para seu

    cultivo.

    Embora as BRS já tenham sido utilizadas em biorreatores com resultados positivos

    para o aumento da capacidade de degradação de sulfato para diversos tipos de rejeitos

    (GROUDEV et al., 2008; MOHAN et al., 2005; ELLIOTT et al., 1998), sabe-se que as

    condições de tais despejos muitas vezes não são favoráveis para as mesmas.

    Xin et al. (2008), por exemplo, mostraram que vários estudos não atingiram bons

    resultados para tratamento de DAM utilizando BRS, e demonstra que para garantir um

    bom rendimento em relação à redução de sulfato, biorreatores que utilizam BRS podem ser

    enriquecidos com ferro metálico, já que o mesmo aumenta o pH do meio além de fornecer

    hidrogênio ao sistema pela Equação 2-1. Isso é importante porque a grande maioria das

    BRS não suportam valores muito baixos de pH (WILLOW e COHEN, 2003) e algumas

    espécies podem utilizar o hidrogênio gasoso para a redução do sulfato. Assim, os baixos

    valores de pH presentes em alguns sistemas, como as DAM, podem ser o motivo pelo qual

    o uso de BRS para remediar estes locais não tenha tido sucesso efetivo em alguns

    trabalhos.

    Equação 2-1 Feº + 2H₂O = Fe²⁺ + 2OH⁻ + H₂ 

    Além da limitação do pH, Martins et al. (2009) citam como outro grande empecilho

    do uso das BRS a toxicidade dos metais pesados presentes em DAM que são alvo de

  • 28

    biorremediação, já que compostos de metais pesados podem bloquear muitas enzimas do

    metabolismo celular; o que evidencia a necessidade de selecionar cepas resistentes para

    tais situações, uma vez que BRS crescendo em condições teoricamente adversas como

    baixos valores de pH e temperatura já foram identificadas (TSUKAMOTO et al., 2004).

    Outra possibilidade para o uso das BRS em biorreatores, visando a imobilização de

    metais, foi proposta no trabalho de Luptakova e Kusmierova (2005) que compararam um

    sistema comum utilizando apenas um biorreator com um sistema de biorreatores duplos

    para redução de sulfato pelas BRS e concomitante precipitação de cobre. No sistema

    comum as bactérias se encontravam junto ao rejeito e no sistema duplo a redução de

    sulfato acontecia no primeiro reator e o gás sulfídrico era lançado dentro do segundo

    reator. O sistema duplo mostrou uma precipitação mais rápida do cobre presente na

    amostra além de uma maior facilidade de recuperá-lo do meio. Assim, como as bactérias

    não precisariam entrar em contato com o rejeito, este sistema poderia ser uma alternativa

    para a utilização das BRS em rejeitos onde as mesmas não apresentam um bom

    crescimento devido a condições adversas do ambiente.

    Outra questão que deve ser considerada em se tratando do uso de BRS em

    biorreatores é a necessidade de se complementar os despejos com uma fonte de carbono

    para as mesmas, já que muitos rejeitos industriais, embora ricos em sulfato, são deficientes

    em possíveis doadores de elétrons que as BRS possam utilizar para suas biossínteses

    (LIAMLEAM e ANNACHHATRE, 2007).

    Segundo van Houten et al. apud Liamleam e Annachhatre (2007 - pag. 461), a

    seleção de um doador de elétrons deve ser baseada em duas considerações:

    1. A eficiência do tratamento ou habilidade do doador de elétrons para completamente

    reduzir e remover sulfato enquanto minimiza a ocorrência de outros poluentes no

    efluente e;

    2. O custo do doador de elétrons por unidade de sulfato convertida.

    Como evidenciado anteriormente são muitos os doadores de elétrons que podem ser

    utilizados pelas BRS, o que providencia uma enorme gama de possíveis compostos que

    podem ser utilizados para biorremediação, devendo apenas ser observados os critérios

    citados.

    Assim, levando-se em consideração a importância em se determinar as fontes de

    carbono apropriadas para um melhor desempenho ao se utilizar biorreatores, é proposta a

  • 29

    TABELA 2-1 que apresenta além das reações estequiométricas de utilização de alguns dos

    principais doadores de elétrons já identificados como de uso comum pelas BRS, como

    também a relação entre a quantidade de cada substrato necessária para a utilização de certa

    quantidade de sulfato. Tal tabela foi baseada em dados compilados por Liamleam e

    Annachhatre (2007) em seu excelente trabalho de revisão.

    TABELA 2-1: Equações estequiométricas dos principais doadores de elétrons utilizados pelas BRS. Baseada

    no trabalho de Liamleam e Annachhatre (2007).

    Substrato Equação Estequiométrica Relação

    Substrato/Sulfato Reduzido (Mol)

    Formiato SO42- + 4HCOO- + H+ → HS- + 4HCO3- 4/1

    Metanol 4CH3OH + 3SO42- → 4HCO3- + 3HS- + 4H2O + H+ 4/3

    Etanol 2C2H5OH + 5SO42- + 8H2 + 1H+ → 4HCO3- +

    5HS- + 10H2O 2/5

    Lactato 2CH3CHOHCOOH + H2SO4 → 2CH3COOH + 2CO2 + H2S + 2H2O 2/1

    Acetato CH3COO- + SO42- → HS- + 2HCO3- 1/1

    Propionato CH3CH2COO- + 2SO42- + H2 → 2HS- + 3HCO3- +

    H2O 1/2

    Butirato CH3CH2CH2COO- + 3SO42- + 2H2 → 3HS- +

    4HCO3- + 2H2O 1/3

    Além da possibilidade de se utilizar qualquer um dos compostos citados é válido

    ressaltar que muitos trabalhos têm obtido bons resultados empregando soluções mistas de

    doadores de elétrons em estudos de redução de sulfato, o que não só pode ser usado como

    forma de diminuir custos como abrange uma maior diversidade bacteriana já que diferentes

    espécies de BRS podem não ser capazes de utilizar o mesmo tipo de substrato

    (WAYBRANT et al., 1998 e CHRISTENSEN et al., 1996).

    Assim, ao se observar estas questões, um trabalho indicando características de

    interesse para o uso de BRS em biorreatores pode ser altamente vantajoso para tratamentos

    de resíduos dos mais diversos tipos.

  • 30

    2.6 BRS Associadas à Biocorrosão

    A capacidade das BRS de ampliar a corrosão de vários tipos de ligas metálicas tem

    levado a muitos estudos visando o melhor entendimento deste processo e possíveis ações

    para o seu controle, uma vez que a corrosão causa grandes danos à estruturas metálicas em

    ambientes marinhos a exemplo de pontes, cais, plataformas e tubulações (DUAN et al.,

    2008).

    Devido à produção do gás sulfídrico, a maioria dos metais é susceptível à ação das

    BRS (FIGURA 2-6). Javaherdashti et al. (2006) demonstraram em seu trabalho como as

    BRS participam da transformação de metais em ambientes aquáticos, relatando a grande

    perda de ductibilidade e quebra de amostras de aço muito mais elevadas em condições

    bióticas quando comparado as abióticas, resultado também relatado por Liu et al. (2008),

    que evidenciaram como as BRS aumentaram visivelmente a corrosão de ligas de magnésio,

    sendo observada a formação ativa de biofilmes sobre as mesmas, o que é um aspecto muito

    interessante visto que biofilmes já foram relatados como causadores de cavidades em ligas

    metálicas devido à biocorrosão (DUAN et al., 2008).

    FIGURA 2-6: Modelo da corrosão do aço por BRS segundo Barton e Fauque (2009).

    È importante ressaltar que, além de sua grande afinidade por metais, o gás

    sulfídrico já foi identificado causando corrosões em outros tipos de materiais como, por

    exemplo, o concreto (ABDELMSEEH et al., 2008), sendo reportado por Postgate (1979)

    que estátuas de pedra do Camboja tem sido sujeitas à corrosão envolvendo atividades de

    BRS.

  • 31

    A indústria petrolífera é uma das mais preocupadas com esta questão já que BRS

    termofílicas já foram reconhecidas como uma importante fonte de gás sulfídrico em

    reservatórios de petróleo (LEU et al. 1998), sendo encontradas participando da corrosão de

    equipamentos nas próprias indústrias como, por exemplo, os tanques para separação de

    óleo (MIRANDA et al., 2006) além da corrosão de diferentes tipos de peças metálicas em

    ambientes marinhos (PINEAU et al., 2008).

    Em observação à corrosão de metais por BRS em ambientes aquáticos, Dinh et al.

    (2004), propuseram dois mecanismos que podem vir a ocorrer em relação ao ferro (Fe),

    sendo um indireto pelo ataque químico do sulfito de hidrogênio (H2S) produzido pelas

    BRS e representado pela Equação 2-2, e outro direto por meio da formação de um “filme

    de hidrogênio” sobre o ferro exposto à água representado pela Equação 2-3. A formação

    deste filme despolariza o ferro e estimula a sua corrosão. Além disso, cita a capacidade de

    algumas BRS em corroer o ferro por utilizá-lo como suplemento energético através de uma

    rota bioquímica envolvendo um citocromo associado à membrana celular e um sistema de

    transferência de elétrons mediado por uma hidrogenase intracelular (Esquema 2-1).

    Equação 2-2 2[CH2O] + 11/3Fe + 11/3SO42- + 2/3H+ → 2HCO3- + 11/3FeS + 11/3H2O

    Equação 2-3 4Fe + SO42- + 4H2O → FeS + 3Fe2+ + 8HO-

    Esquema 2-1 Fe → Citocromo → Hidrogenase (1) → H2 → Hidrogenase (2) → → Sistema de transporte de elétrons → Enzimas de redução de sulfato

    Além de mostrar possíveis caminhos para a corrosão de um metal amplamente

    utilizado, estes mecanismos nos fornecem dados que podem ser utilizados na elucidação de

    certas vias bioquímicas pelas quais estes organismos utilizam seu substrato, uma vez que,

    como discutido anteriormente, as capacidades metabólicas destas bactérias se mostram

    altamente variáveis.

    Em relação às alternativas para o controle da ação das BRS, Haveman et al. (2005)

    demonstraram em seu trabalho que o nitrito produzido por bactérias redutoras de nitrato

    (BRN) age como um inibidor para as enzimas que atuam na redução do sulfato, sendo que

    Barton e Fauque (2009) propuseram que a simples adição de nitrato à reservatórios de

    petróleo pode controlar a ação das BRS já que o mesmo seria posteriormente convertido a

    nitrito pelas BRN que são amplamente difundidas nestes locais. Além disso, Greene et al.

  • 32

    (2006) mostra em seu trabalho que uma melhor atividade inibitória do nitrito em relação à

    redução de sulfato pode ser obtida se o mesmo for combinado com diversos tipos de

    biocidas como, por exemplo, glutaraldeído, formaldeído, bronopol, etc.

  • 33

    3 MATERIAIS E MÉTODOS

    3.1 Área de Estudo e de Amostragem

    As amostras foram coletadas no mês de Abril do ano de 2004 em trabalho

    associativo com pesquisadores do Departamento de Geologia/DEGEO/UFOP em pontos

    escolhidos aleatoriamente na extensão do Rio Conceição situado na região do Reserva

    Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Santuário do Caraça, MG (FIGURA 3-1).

    FIGURA 3-1: Região do Rio Conceição, MG. Locais de coleta e principais atividades humanas próximas.

    A coleta foi feita por meio de metodologia padrão (CLESCERI et al., 1999), na

    qual frascos de vidro estéreis foram levados até o local onde as amostras foram recolhidas.

    Após este procedimento o material levado ao Laboratório de Microbiologia do Instituto de

    Ciências Exatas e Biológicas/ICEB/UFOP. Os pontos de coleta foram um total de dois

  • 34

    identificados como: R1A e R3A (FIGURA 3-1). De cada um deles foi retirada uma

    amostra de sedimento.

    3.2 Cultivo Inicial das Amostras

    As amostras foram enriquecidas com o objetivo de aumentar o número de bactérias,

    além de selecionar o tipo de bactéria de interesse (BRS) aumentando assim a efetividade

    dos passos posteriores do experimento. Para este fim foi escolhido um meio de cultura

    específico: Meio de cultura modificado de Postgate C segundo Cheung e Gu (2003) que se

    mostrou muito eficiente em trabalhos anteriores realizados no Laboratório de

    Microbiologia do DECBI-ICEB/UFOP (RAMPINELLI, 2004).

    O enriquecimento das amostras, utilizando-se do meio de cultura citado, foi feito da

    seguinte forma: uma alíquota de 10g de cada amostra de sedimento foi transferida para um

    Erlenmeyer diferente contendo o meio de cultura citado em uma proporção de 1:25

    (amostra: meio). Os frascos foram incubados a 32ºC, durante uma semana, após a qual foi

    verificada a redução do sulfato por meio da formação de sulfeto de ferro (FeS), resultando

    em um precipitado negro característico. Como estas bactérias são anaeróbias, um ambiente

    próprio foi necessário para seu enriquecimento, assim as mesmas foram incubadas em

    cubas de anaerobiose que eram na verdade confeccionadas a partir de dessecadores de

    vidro hermeticamente fechados. Segundo o procedimento adotado, o oxigênio presente no

    interior do dessecador era esgotado utilizando-se uma chama de vela e, após a mesma se

    apagar, era retirada uma parte da atmosfera do dessecador com a ajuda de uma bomba de

    vácuo previamente acoplada á sua tampa. O vácuo formado ajudava a selar o ambiente

    interno do dessecador garantindo a anaerobiose, sendo adicionada também sílica para

    remover a umidade, por fim, o dessecador era fechado e incubado em estufa segundo as

    necessidades do experimento.

    Após o período citado, objetivando um maior enriquecimento e seleção do referido

    grupo, uma alíquota de 10mL cada cultura enriquecida que apresentou formação de

    precipitado negro foi transferida para um novo Erlenmeyer contendo o mesmo meio de

    cultura, seguido do mesmo tratamento descrito acima, resultando assim o segundo

    enriquecimento. Passados os dias de incubação, o terceiro enriquecimento foi realizado de

  • 35

    maneira similar. As amostras que não apresentaram precipitação foram submetidas a novo

    enriquecimento com nova alíquota buscando uma melhor varredura das BRS.

    3.3 Isolamento das Culturas Puras de Bactérias Redutoras de Sulfato

    Após as etapas descritas de enriquecimento, realizou-se o isolamento das bactérias

    pelo método espalhamento em placa, que consiste na diluição seriada (10-1 a 10-5) do

    material enriquecido das amostras de água e sedimento. De cada diluição foram colhidos

    0,1mL e aplicados sobre placa de Petri contendo o meio sólido modificado de Postgate C

    (CHEUNG e GU, 2003), totalizando cinco placas por amostra (uma para cada diluição). A

    solução foi espalhada com o uso de uma alça de vidro estéril (alça de Drigalski) para

    contagem das colônias isoladas. As placas foram então incubadas a uma temperatura de

    32ºC, durante 24 horas, em ambiente anaeróbio segundo metodologia utilizada por

    Rampinelli (2004). A metodologia de espalhamento foi aplicada visando uma maior

    facilidade em se coletar as colônias isoladas, visto que as mesmas crescem em sua

    totalidade na superfície do meio o que não ocorre no método de pour plate onde colônias

    crescem no interior do meio sólido, dificultando assim a sua obtenção.

    Destes procedimentos resultaram colônias isoladas em algumas diluições. As placas

    que apresentavam colônias mais diversas e bem definidas foram separadas para que as

    mesmas fossem obtidas com agulha bacteriológica e inoculadas, separadamente em frascos

    de 2mL contendo o mesmo meio de cultura em sua forma líquida. Como estas bactérias são

    anaeróbias, o uso dos tubos foi de grande ajuda já que são herméticos e propiciam bem esta

    condição.

    Para a confirmação de BRS, as culturas puras inoculadas foram incubadas a

    temperatura de 32ºC, durante uma semana. Os inóculos que apresentaram a formação de

    precipitado negro de sulfeto de ferro foram separados e identificados com números

    começando por 01.

    De cada isolado que apresentou teste positivo para BRS foi feita uma cultura de

    estoque em frascos herméticos, tipo penicilina, contendo o meio sólido descrito

    anteriormente picado com agulha de repicagem, incubado nas condições descritas para

    crescimento e, após verificação de redução de sulfato, conservado em geladeira no

    Laboratório de Microbiologia do DECBI-ICEB/UFOP.

  • 36

    3.4 Caracterização dos Isolados Obtidos

    Após obtenção das culturas puras de BRS, prosseguiram-se os trabalhos com os

    testes para a identificação do gênero e/ou espécies das mesmas. A identificação foi

    realizada observando-se as características morfológicas tanto das células (forma, arranjo,

    entre outras) quanto das colônias (tamanho, cor, entre outras); além das bioquímicas,

    relacionadas com a capacidade das bactérias de sintetizar enzimas, assimilarem diferentes

    substratos e gerar produtos metabólicos específicos.

    Por fim, procurando resultados mais seguros para a identificação dos isolados e

    assim inferir mais características sobre os mesmos, foi realizada a sua caracterização

    molecular.

    3.4.1 Caracterização Morfológica

    As características de cada colônia foram descritas observando-se

    macroscopicamente as mesmas após o crescimento dos isolados em meio sólido. Em

    seguida utilizou-se o Método de Coloração de Gram para a identificação da forma, arranjo

    celular bacteriano como também sua definição de Gram positivo ou Gram negativo como

    parâmetros usuais para etapa inicial de classificação taxonômica (RABUS et al., 2006). As

    observações de morfologia foram reforçadas com a sua visualização por meio de exame à

    fresco utilizando microscopia de contraste de fase. Todos os testes citados foram realizados

    com a utilização de Microscópio ótico marca Olympus (Modelo BX41).

    Para melhor avaliação morfológica das referidas células dos isolados utilizou-se o

    Microscópio Eletrônico de Varredura, Marca Jeol, Modelo JSM-5510 (MEV),

    equipamento do Laboratório de Microscopia e Microanálise (Microlab) do Departamento

    de Geologia (DEGEO)-UFOP. Para esta análise seguiu-se o protocolo padronizado do

    Microlab/DEGEO-UFOP (GOLDSTEIN et al., 2003).

  • 37

    3.4.2 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação Taxonômica

    Para esta caracterização metabólica realizou-se uma série de testes bioquímicos a

    fim de avaliar a fermentação de glicose e de lactose pela produção de ácido e/ou gás.

    Também foi utilizado citrato como única fonte de carbono e uréia como única fonte de

    nitrogênio além da produção de indol e ácido sulfídrico a partir de triptofano e

    aminoácidos sulfurados, respectivamente. A motilidade foi também avaliada pela

    visualização do padrão de crescimento em meio semi-sólido, sendo posteriormente

    confirmada por meio do método da gota pendente em lâmina escavada (MILOSTAN,

    2006).

    Após a incubação dos tubos a 32ºC, durante 48 horas em condições anóxicas, foi

    feita a leitura das reações bioquímicas dos testes supracitados. Para certificação foram

    feitos controles positivos e negativos para os meios.

    A verificação da capacidade das culturas puras para a utilização de diversos

    compostos orgânicos como fontes de carbono e energia foi também realizada utilizando o

    meio de cultura modificado de Postgate C contendo cada um dos compostos, citados à

    seguir, como única fonte de carbono, estando todos à uma concentração de 5g/L no meio

    de cultivo. Como dito anteriormente, este parâmetro é muito importante para uma melhor

    identificação dos isolados, além de fornecer importantes informações sobre as capacidades

    metabólicas dos mesmos. Assim, verificou-se o grau de oxidação dos seguintes compostos:

    acetato, lactose, glicose, lactato, etanol, acetona, benzeno, propionato e butirato,

    observando-se a formação de precipitado negro de FeS e produção de gás em tubo de

    Durhan, esta última evidencia uma oxidação completa do composto à CO2. Para realização

    deste teste foram utilizados tubos de ensaio herméticos com rosca, contendo o meio dotado

    de apenas um dos compostos citados como fonte de carbono disponível, para cada

    composto testado foi feita uma bateria de tubos em duplicatas para maior certeza dos

    testes. Foram utilizados controles negativos, ou seja, um tubo contendo o meio sem as

    bactérias e com a fonte de carbono, e outro contendo as bactérias, mas sem a fonte de

    carbono.

    O último teste realizado visando à identificação taxonômica dos isolados, o teste

    que indica a presença da enzima desulfoviridina, é muito importante uma vez que esta

    enzima (um tipo de sulfato redutase) está presente em apenas alguns grupos de BRS

    (RABUS et al., 2006).

  • 38

    Este teste seguiu uma metodologia citada por Silva (1999) pela qual o isolado, após

    seu crescimento em meio de cultura apropriado, é colocado em uma lâmina e tem sua

    células lisadas com a utilização de algumas gotas de NaOH 2N, em seguida a lâmina é

    observada ao microscópio óptico sob luz fluorescente de comprimento de onda de 365nm

    onde se nota a formação de manchas avermelhadas caso haja a presença da enzima em

    questão, uma vez que, o cromóforo sirohidroclorina presente na mesma reage desta

    maneira à este tipo de luz (POSTGATE, 1979). Este teste teve o seu resultado confirmado

    posteriormente pela metodologia citada por Postgate (1979) onde os isolados tem suas

    células lisadas ao se adicionar o NaOH 2N em tubos de ensaios fechados hermeticamente

    contendo os mesmos após incubação, neste caso a formação das manchas avermelhadas é

    confirmada ao se observar os tubos junto a uma lâmpada teste com luz de comprimento de

    onda de 365nm. Para as duas metodologias utilizaram-se controles negativos.

    3.4.3 Caracterização Bioquímica Visando a Identificação de Processos

    Por fim, foram realizados outros 2 testes: a presença da enzima catalase e a

    capacidade dos isolados em realizar a desnitrificação.

    Os testes de catalase e desnitrificação foram feitos por meio de metodologias

    padrão (CLESCERI et al., 1999) utilizando-se, respectivamente, a reação das células com

    água oxigenada 30V (trinta volumes) e reação dos isolados com soluções de naftiamina e

    ácido sulfanílico após o seu crescimento em meio de cultura peptonado. Nos testes, foram

    utilizados controles positivo e negativo, de bactérias de referência pertencentes ao

    laboratório.

    De posse dos resultados destes testes os mesmos foram utilizados, juntamente com

    os testes bioquímicos de caracterização taxonômica, para a construção de um dendrograma

    indicando a variabilidade bioquímica entre as bactérias. Este teste permite determinar com

    maior nível de confiabilidade quais bactérias possuem maior semelhança bioquímica o que

    facilita a escolha das cepas que devem ser usadas para os experimentos de fisiologia. Os

    dendrogramas foram confeccionados por meio do programa Minitab 15.1.30.0., da Minitab

    Inc..

  • 39

    3.4.4 Caracterização Taxonômica Presuntiva dos Isolados

    Para proceder-se à identificação presuntiva dos isolados após a realização destes

    testes foram utilizadas três fontes como referência: os trabalhos de Castro et al. (2000);

    Rabus et al. (2006), e Thauer et al. (2007). A escolha destas referências em questão se deu

    devido ao fato dos mesmos indicarem características diferentes como forma de

    identificação dos grupos de BRS, o que torna suas chaves úteis, uma vez sendo

    complementares. Além disso, Rabus et al. (2006) e Thauer et al. (2007) foram trabalhos

    publicados em livros conceituados em relação à descrição de características tanto

    morfológicas quanto bioquímicas dos grupos descritos de bactérias, incluindo as redutoras

    de sulfato, além disso, se tratam de edições muito recentes e de ampla revisão

    bibliográfica.

    3.4.5 Caracterização Molecular dos Isolados

    Primeiramente, os isolados foram inoculados em placas de Petri visando à obtenção

    de colônias visíveis. Após este passo as colônias foram colhidas das placas com a ajuda de

    alça bacteriológica e solubilizadas em água própria para a realização da extração de DNA

    (ultra-pura) segundo protocolo de lise térmica citado por Moore et al. (2004).

    Em seguida, os produtos obtidos pela extração de DNA foram amplificados por

    meio de reação de polimerase em cadeia (PCR) que ocorreram na presença dos primers

    EpsilonF(5`-GAGASTTGATCMTGGCTCAG-3`) e 1541R(5`-AGGAGGTGATCAGCC-

    3`) (EMBLEY, 1991), específicos para amplificação do gene DNAr 16S de

    microrganismos do domínio Bacteria. As condições de amplificação por reação foram:

    Tampão de reação (1x), MgCl2 (2,0mM), dNTP (0,8mM), primer 1 (500nM), primer 2

    (500nM), BSA (0,2mg/L), Taq polimerase (1,25u/mL). As reações foram incubadas em um

    termociclador Biocycler modelo MJ96+, e o programa de amplificação consistiu das

    seguintes etapas: 3 minutos a 94ºC (desnaturação inicial); 30 ciclos de 60 segundos a 94ºC

    (desnaturação), 1 minuto a 55ºC (anelamento dos primers) e 1 minuto a 72ºC (extensão); 7

    minutos a 72º C (extensão final). O resultado das amplificações foram analisadas em gel de

  • 40

    agarose 1% em TAE 1x (Tris, Ácido acético glacial, EDTA) corados com SybrSafe DNA

    gel stain (Invitrogen) e visualizados em um transiluminador de luz UV. Várias reações de

    amplificação foram feitas até uma única banda de aproximadamente 1500 pb ser

    visualizada.

    Obtendo-se resultado positivo na observação do gel de agarose os produtos de PCR

    foram purificados utilizando-se o DNA Purification Kit da marca MO BIO, segundo

    protocolo presente no mesmo e, em seguida, procedeu-se à determinação da concentração

    de DNA presente nos produtos purificados utilizando-se de análise em gel de agarose e

    comparação com o Low DNA Mass Ladder (Ladder Massa) da Invitrogen, sendo os

    mesmos posteriormente enviados para procedimento de seqüenciamento utilizando ambos

    os primers a fim de se obter uma seqüência de aproximadamente 1.400 pb. A empresa

    GENOMIC – Engenharia molecular foi a responsável pelo seqüenciamento sendo as

    amostras enviadas segundo as suas especificações.

    Após recebimento do resultado, os fragmentos de bases obtidos foram comparados

    aos previamente depositados no GenBank do National Center for Biotechnology

    Information (NCBI), sendo assim determinado o seu nível de similaridade com vários

    isolados bacterianos descritos na literatura o que possibilitaria a construção de uma árvore

    filogenética por meio do programa MEGA versão 4 (TAMURA et al., 2007) indicando a

    posição taxonômica dos mesmos dentre os vários grupos descritos de BRS.

    3.5 Métodos para Escolha de Linhagens para Testes Fisiológicos

    Após a realização de todos os testes citados, já se possuía uma boa idéia das

    características dos isolados o que foi muito útil para a sua identificação. Contudo, o

    número de isolados, mesmo após a sua separação em grupos segundo os testes

    bioquímicos, se mostrou muito grande e percebeu-se que a utilização de todos para os

    testes de cinética de crescimento tornaria o experimento altamente dispendioso com muita

    dificuldade em se organizar e comparar os dados. Assim, decidiu-se pela eliminação de

    algumas culturas por meio de testes que permitiriam observar quais são as que apresentam

    características mais interessantes para o trabalho, incluindo o crescimento em condições

    variáveis de pH e produção de H₂S em curtos períodos de tempo. Deve-se observar que os

  • 41

    resultados dos testes bioquímicos também foram levados em conta, pois se decidiu não

    utilizar isolados que tivessem alta similaridade entre si para os testes de cinética.

    3.5.1 Determinação do Tempo de Redução de Sulfato em Relação ao pH

    Neste experimento foi determinado o tempo em que cada isolado apresentava um

    resultado visível de redução de sulfato, levando-se em conta diferentes valores de pH.

    Segundo Willow e Cohen (2003), as BRS mostram um crescimento mais acentuado no

    meio ambiente na faixa de pH entre 5 e 9, assim a escolha deste intervalo de pH se mostrou

    muito apropriada para o teste. Logo, 5 alíquotas de 0,1mL de cada isolado foram

    inoculadas cada uma em um frasco de 2mL contendo meio modificado de Postgate C.

    Cada frasco possuía o meio com um valor diferente de pH, a saber: pH’s 5, 6, 7, 8 e 9; e

    foram incubados em estufa de cultura regulada à 32°C. Após este procedimento, a cada 12

    horas era feita uma leitura dos isolados para observação da formação de precipitado negro

    de sulfeto de ferro, que caracteriza a redução do sulfato no meio. O tempo de 12 horas foi

    escolhido devido á observações do crescimento dos isolados nos testes anteriores, onde a

    redução de sulfato só se tornava aparente após alguns dias de incubação.

    Ao se observar a primeira formação de precipitado no tubo o tempo era anotado e o

    isolado era mantido em incubação até a precipitação total do ferro na forma de sulfeto

    ferroso. Após esta etapa, este tempo também era anotado e os isolados eram mantidos em

    geladeira para experimento posterior.

    3.5.2 Determinação do Número de Células dos Isolados após Redução de Sulfato em Diferentes Valores de pH

    Para a realização deste experimento foi utilizada uma metodologia de contagem por

    meio da câmara de Neubauer (BAIN, 2006), segundo a qual alíquotas de 0,1mL de uma

    diluição de 1:10 de cada tubo, os quais foram utilizados no experimento anterior, foi

    inoculada na câmara para a contagem das unidades celulares em microscópio óptico.

    Depois de realizada a contagem foi feita a determinação do número total de células por

  • 42

    mililitro de amostra utilizando-se os fatores de conversão próprios da câmara. Os

    resultados puderam ser utilizados como uma forma de comparar o número de células

    presente em cada isolado segundo o pH do mesmo. Além disso, foi possível fazer um

    paralelo entre o número de células de cada amostra e o tempo em que a redução do sulfato

    pelas cepas se tornou visível no meio de cultivo.

    Comparando-se os resultados dos testes de cada isolado foi possível escolher

    aqueles que apresentavam características que poderiam ser de melhor valia para o trabalho,

    como dito anteriormente, e com eles prosseguiu para os experimentos seguintes.

    3.6 Determinação das Curvas de Crescimento e Tempo de Geração dos Isolados

    Os isolados escolhidos foram inoculados em frascos testes de vidro herméticos de

    1L vedados com septos de silicone e tampas vazadas, garantindo assim um meio

    anaeróbico próprio para os mesmos, e incubados a uma temperatura de 32ºC.

    A retirada de alíquotas de 5mL para realização do teste foi feita a cada dois dias

    durante um período de dez dias totalizando seis leituras por amostra (incluindo medição do

    tempo 0), para retirada das alíquotas foi utilizada uma seringa estéril para perfurar os

    septos evitando assim possíveis problemas com contaminações externas. O crescimento

    das amostras ao passar do tempo foi determinado segundo a medida da absorbância do

    meio em fotocolorímetro Metronic (Modelo M2) utilizando-se o meio de cultivo estéril

    como branco e filtro na cor laranja (620nm).

    Buscando os melhores resultados possíveis para o crescimento dos isolados

    também se procurou diminuir a fase de adaptação dos mesmos, isso foi feito por meio da

    inoculação dos isolados nos frascos de teste após os mesmos serem incubados por uma

    semana em tubos Falcon com volume de quinze mililitros. Depois do período de incubação

    o meio foi centrifugado e o sobrenadante descartado, assim, após ressuspender a massa de

    células resultante com salina estéril, a mesma foi adicionada aos frascos testes respeitando

    uma inoculação de 5% do volume total.

    Quanto ao meio utilizado, foi observado que o Postgate C modificado não seria de

    valia para o teste por dois motivos:

  • 43

    • A precipitação do ferro contido no meio na forma de sulfetos não permitiria uma leitura correta da absorbância das células, e;

    • Os sulfetos metálicos podem agir como inibidores para as BRS, pois a sua precipitação nas paredes das células bloqueia o acesso das mesmas aos substratos e a outros

    nutrientes presentes no meio (UTGIKAR et al. apud TANG et al., 2009 – pag. 77).

    Tendo em vista estas questões, foi inicialmente proposta a retirada dos compostos

    de ferro do meio de cultivo visando impedir a sua precipitação e assim poder realizar o

    experimento. Porém foi observado também que muitas BRS dependem de ferro no meio

    para o seu crescimento, já que o mesmo é requerido como micronutriente por muitas delas

    (POSTGATE, 1965), tornando inviável que o mesmo seja totalmente eliminado do

    experimento.

    Para solucionar este problema escolheu-se utilizar outro meio de cultivo para este

    experimento: o meio Postgate C original, que possui uma quantidade bem inferior de ferro

    em sua composição além de uma quantidade maior de citrato de sódio que impede que

    ocorra a precipitação do mesmo na forma de sulfetos (POSTGATE, 1979); porém, como

    este meio possui em sua composição o extrato de levedura, optou-se por modific