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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC-SP
Adriana Silveira Cogo
O psiclogo com atuao em emergncias: experincia e significado
MESTRADO EM PSICOLOGIA CLNICA
SO PAULO 2010
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Livros Grtis
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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE SO PAULO PUC-SP
Adriana Silveira Cogo
O psiclogo com atuao em emergncia: experincia e significado
Dissertao apresentada Banca Examinadora, como exigncia parcial para obteno do titulo de Mestre em Psicologia Clnica, sob a orientao da Profa. Dra. Maria Helena Pereira Franco
SO PAULO 2010
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Cogo, Adriana Silveira O psiclogo com atuao em emergncia: experincia e significado. Tese (mestrado). So Paulo. 2010. Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. 132p. The psychologist with expertise in emergency:
experience and meaning. Palavras-chave: Psicologia das emergncias. Psicologia dos desastres. Psiclogos e emergncia.
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Comisso Examinadora
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DEDICATRIA
Aos meus pais, Vera (in memorian) e Cevi,
pelos ensinamentos e trocas, que me possibilitaram crescer,
pelo respeito s minhas escolhas e o apoio para elas darem certo e,
pelo amor incondicional, que guardei aqui dentro e que me d energia pra viver.
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AGRADECIMENTOS
Professora Dra. Maria Helena Pereira Franco, mais que orientadora... Pela
aposta e confiana, sempre muito bem combinadas sutileza com que me
assegurava nos momentos de hesitao. Meu agradecimento e respeito por todos
esses anos de formao.
banca examinadora desta pesquisa, Professora Dra. Rosane Mantilla de
Souza e Professora Dra. Sandra Regina Borges dos Santos, que me conduziram de
forma segura e acolhedora durante o exame de qualificao e me ajudaram a
clarear idias e a seguir em frente.
Ao meu amore!!! Suportando ansiedade, falta de tempo, nervosismo... E
sempre respeitando meu espao. A gente consegue!
Ao meu pai, por ter me ajudado a crescer de uma forma digna e ter me
ensinado que a vida vale a pena, apesar das dificuldades.
minha me, que mesmo no estando fisicamente presente, est em todos
os minutos da minha vida, tendo me deixado a certeza de que os sonhos da gente
so tudo e que ir alm bom demais.
Ao meu irmo Rodrigo, meu irmo gmeo, irmo de luta, de choro, de garra,
de corao. Aquele que est em todos os momentos que preciso. Voc muito!
Ao meu irmo Giuliano e meu sobrinho Pietro, com quem compartilho muitas
alegrias e momentos de afetividade. A longa distncia em km proporcional ao
amor e ao carinho que temos. Vocs tambm esto aqui!
minha vozinha Eronda, o melhor exemplo que uma fortaleza se faz com
muita fragilidade bem administrada... Eu te agradeo!
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Ao Frederico e Francisca, meus filhos mais amados! Indescritvel o que
sinto. Vocs so o meu brilho, a minha energia. Obrigado por existirem!
Ao Marcelo, meu cunhado, que por ter passado pelo mesmo processo de
finalizao de mestrado, me acalmou em alguns momentos que estava inquieta..
Aos colegas do grupo IP, psiclogos com quem aprendi muito (quase tudo)
sobre o tema desta pesquisa e aprendo at hoje sobre solidariedade, carinho e
respeito ao profissional, sempre pautados em uma tica indiscutvel.
s minhas colegas de mestrado, Juliana Leite, Ligiane Castro e Viviane
Torlai, pelas trocas e empurres (muitos deles!!) sempre que necessrios. Nossos
cafs, almoos e afins foram parte desta construo.
minha psicloga, Sueli Martini, que semana a semana est l, pronta me
ouvir repetir, repetir e repetir meus medos e inseguranas e me fortalecendo para
esta caminhada.
s professoras do 4 Estaes Instituto de Psicologia, Gabriela Casellato,
Luciana Mazorra, Maria Helena Pereira Franco e Valria Tinoco, que me apoiaram
desde que comecei a descobrir os caminhos dos estudos em luto e perdas e que,
com carinho e muita competncia, me contaminaram desses saberes to
preciosos. Admiro vocs!
participante dessa pesquisa, com especial carinho, que muito me ajudou a
concretizar este trabalho e to prontamente compartilhou suas idias, sentimentos e
prticas.
CAPES, pela bolsa de estudos que me proporcionou chegar at aqui.
A todos que no citei aqui, mas que colaboraram para este percurso e para
que este trabalho pudesse se concretizar, com questionamentos, ideias e muita boa
vontade diante da minha ansiedade.
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Um acontecimento no o que se consegue ver ou saber dele,
ele o que fazemos dele
na necessidade que temos dele para virmos a ser algum.
Boris Cyrulnik (O Murmrio dos Fantasmas, 2005)
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RESUMO
A psicologia das emergncias e desastres se apresenta como um novo
campo de atuao para o profissional de psicologia, como uma conseqncia lgica
de vrios estudos e experincias que mostram que eventos desse porte no apenas
causam a perda de vidas, colocando em perigo a integridade fsica das pessoas,
causando danos e perdas econmicas, mas tambm causam um profundo impacto
emocional sobre os indivduos, comunidades, socorristas e demais profissionais
envolvidos, como os psiclogos. Neste estudo, portanto, a partir de um estudo de
caso, verificou-se a experincia e o significado de atuar em emergncia para o
psiclogo com longo trabalho na rea e atuao de atendimento psicolgico em
diferentes situaes. Pode-se entender como , do ponto de vista do profissional, a
atuao nesta rea, destacar sua experincia e, ainda, conhecer o percurso para
atuao e formao do profissional. Demonstrou-se a necessidade de embasamento
e aprofundamento nas questes pertinentes ao desastre e emergncia, como
trauma, luto, transtorno de estresse ps-traumtico para que o profissional possa
atuar com a segurana necessria e fazer um trabalho de qualidade.
Palavras-chave: Psicologia das emergncias. Psicologia dos desastres. Psiclogos e
emergncia.
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ABSTRACT
The psychology of emergencies and disasters is presented as a new playing field for
the psychologist, as a logical consequence of various studies and experiments
showing that events of this magnitude not only cause loss of lives, endanger the
physical integrity of people, causing damage and economic losses, but also cause a
profound emotional impact on individuals, communities, first responders and other
professionals such as psychologists. In this study, therefore, from a case study, it
was the experience and meaning of work in emergency psychologist with extensive
work in the area and performance of psychological care in different situations. One
can understand how, in terms of training, performance in this area, highlight your
experience and also know the route to performance and professional training.
Demonstrated the need for grounding and depth on issues relevant to disaster and
emergencies, such as trauma, grief, posttraumatic stress disorder for which the
trader can act with the necessary security and do a quality job.
Keywords: Psychology of emergencies. Psychology of disasters. Psychologists and
emergencies.
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SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................13
PARTE 1
Conhecendo o campo da emergncia, desastre
e acidente e seus desdobramentos e
a psicologia das emergncias e desastres ................................................20
CAPTULO 1 Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente ............21
1.1 Contextualizando emergncia, desastre e acidente .......................................22
1.2 Emergncia/Desastre/Acidente Crise ..........................................................25
CAPTULO 2 Sobre trauma e estresse ................................................................28
2.1 Situao traumtica Trauma Psicolgico ....................................................29
2.2 Estresse traumtico ........................................................................................32
2.3 Transtorno de Estresse Ps-Traumtico TEPT ...........................................33
CAPTULO 3 Consideraes sobre o processo de luto.....................................36
3.1 Luto .................................................................................................................37
3.2 Luto e trauma ..................................................................................................41
3.3 O luto traumtico .............................................................................................42
3.4 Luto e Resilincia ............................................................................................43
CAPTULO 4 - Consideraes sobre a formao
profissional do psiclogo ............................................................................45
CAPTULO 5 A psicologia das emergncias ou desastres ..............................50
5.1 Contexto histrico ...........................................................................................51
5.2 Conceitualizao da psicologia das emergncias e desastres ......................56
5.3 Particularidades da atuao .......................................................................... 57
5.4 Habilidades profissionais ................................................................................61
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5.5 Pensando sobre a ps-graduao ara atuao em
emergncias e desastres.................................................................................62
PARTE 2
A Pesquisa .....................................................................................................65
CAPTULO 6 A pesquisa
6.1 Objetivos .........................................................................................................67
6.2 Mtodo ............................................................................................................68
6.2.1 Tipo de Estudo .....................................................................................68
6.2.2 Participante ..........................................................................................69
6.2.3 Procedimentos .....................................................................................70
6.2.4 Instrumento ..........................................................................................70
6.2.5 Anlise dos dados ................................................................................71
6.2.6 Cuidados ticos ................................................................................... 72
CAPTULO 7 Apresentao dos dados coletados..............................................74
CONSIDERAES FINAIS ...........................................................................93
REFERNCIAS ..............................................................................................96
ANEXOS
ANEXO 1 PROTOCOLO DE APROVAO DO COMIT DE TICA......103
ANEXO 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ...104
ANEXO 3 CONSENTIMENTO PARA ATUAR COMO
PARTICIPANTE NA PESQUISA .............................................105
ANEXO 4 FORMULRIO PARA ENTREVISTA:
DADOS DE IDENTIFICAO .................................................106
ANEXO 5 - ENTREVISTA ..........................................................................107
ANEXO 6 - TRANSCRIO INTEGRAL DA ENTREVISTA ......................109
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INTRODUO
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Introduo
14
INTRODUO
Quando estava no ltimo ano de formao no curso de psicologia, ainda
no Rio Grande do Sul, tive contato, atravs de um mini-curso oferecido em um
congresso, com o tema perdas e luto. Desde ento o meu interesse pelo tema e
seus desdobramentos s cresceram e precisei ir em busca desse novo
conhecimento para contribuir com minha formao. Foi quando tomei
conhecimento do trabalho e formao oferecidos pelo 4 Estaes Instituto de
Psicologia e fui fazer um curso de frias, que muito colaborou para uma mudana
na maneira de entender a psicologia e onde me apoiei para concluir meu trabalho
final de graduao.
Desde essa poca passei a estudar e tomar conscincia da necessidade
de aprofundar meus conhecimentos e incorporar novas habilidades para trabalhar
com luto. Entrei ento para a Especializao em Teoria, Tcnica e Interveno
em Luto do 4 Estaes. Nesse perodo trabalhava em clnica com pacientes
enlutados e em posto de sade com agentes comunitrios de sade que faziam
atendimentos domiciliares, o que confirmava a cada dia a necessidade de
aprofundamento na rea para prestar um servio de qualidade.
Em busca de qualificao do conhecimento, ingressei no Mestrado em
Psicologia Clnica, da qual esse trabalho parte importante. Com a mudana de
residncia para realizar o curso de ps-graduao, passei tambm a trabalhar na
rea de perdas e luto em So Paulo, com atendimento clnico e como membro do
Grupo IP1 Intervenes Psicolgicas em Emergncia, onde tive experincia de
1 Grupo de psiclogos com formao para atuar em emergncia, iniciado em 2001 atravs do LEL Laboratrio de Estudos em Luto da PUC-SP, sendo hoje parte do 4 Estaes Instituto de Psicologia, com profissionais de diversas regies.
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Introduo
15
atuar nessas situaes e, desde quando senti necessidade de estudar e
examinar qual o significado de trabalhar em emergncia e quais os cuidados
pessoais e formao profissional necessrios para que o psiclogo possa atuar
nesses momentos de crise.
Vivemos uma poca com alta violncia urbana, acidentes tecnolgicos
areos, rodovirios ataques terroristas, desastres naturais terremotos,
alagamentos e podemos perceber que a morte natural, esperada, tende a
diminuir, dando lugar s mortes violentas e inesperadas e, em grande parte,
traumticas.
De acordo com o Ministrio da Sade DATASUS, no ano de 2007, as
mortes causadas por violncia, acidentes em geral no envolvendo nenhum tipo
de doena, sendo mortes classificadas como de causas externas, chegaram a
131.032 casos (12,5%) em todo o Brasil, de um total geral de ocorrncias de
1.047.824, somente na Regio Sudeste, foram 54.801 casos (11%), de um total
geral de 496.513 ocorrncias.
No Brasil, o Centro de Investigao e Preveno de Acidentes
Aeronuticos - CENIPA, registrou em 2007 e 2008 os maiores ndices de
acidentes areos dos ltimos 10 anos.
Diante desses nmeros v-se a grande necessidade de explorarmos
maneiras de intervir psicologicamente, como forma de ajudar a populao
atingida, tanto preventivamente quanto no ps-desastre, pois esses so nmeros
que envolvem morte, de maneira repentina e inesperada, que modificam uma
srie de crenas do indivduo, estabelecidas no decorrer da vida, afetando o seu
mundo presumido, definido por Parkes (1998) como concepo pessoal de
realidade, aquilo que se acredita que a vida e o modo como se cr que as
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Introduo
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coisas so. O mundo presumido um conjunto de crenas psicolgicas que nos
d segurana para agirmos e vivermos no mundo.
Eventos de natureza grave ou catastrfica, envolvendo morte ou ameaa
integridade fsica pessoal e dos demais, caracterizados por serem inesperados,
incontrolveis e que tiram, de maneira intensa, a sensao de segurana e
autoconfiana, provocando medo, sensao de vulnerabilidade, desesperana e
horror intenso, so classificados como eventos traumticos (GRGIO, 2005).
Eles marcam a vida das pessoas, atingindo-as de modo irreversvel, e exigindo
uma adaptao nova realidade. As pessoas afetadas no se resumem quelas
envolvidas diretamente com o fato ocorrido, mas tambm aquelas que o
testemunharam, que tiveram pessoas prximas envolvidas ou que souberam do
ocorrido, segundo o Diagnostic and statistical manual of mental disorders DSM-
IV (1994).
Para Franco (2005), ningum fica imune ao impacto de uma crise, mas
cada pessoa a enfrentar com seus recursos, mesmo que em circunstncias
semelhantes. Franco (2005) define trauma como uma ruptura no tecido vivo,
causado por um agente externo, como resultado de uma cirurgia, um ato violento,
um desastre. Geralmente leva a um estado de crise, um perodo de desequilbrio
psicolgico, resultante de um evento ou situao danosa, assim constituindo um
problema significativo que no pode ser resolvido com estratgias de
enfrentamento conhecidas. Qualquer pessoa pode viver um trauma, dependendo
do momento de vida que esteja passando, da intensidade e rapidez da situao e
do quanto se sentiu vulnervel diante dela.
Bromberg (1994) ressalta que o desastre provoca uma ruptura na vida das
pessoas envolvidas, um intenso estresse, constituindo-se num marco por ser uma
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Introduo
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situao extraordinria que atinge no s o individuo, mas a sociedade como um
todo.
Dentre aqueles que podem sofrer com uma situao traumtica, temos os
profissionais envolvidos na emergncia ou os que participaram da equipe de
voluntrios, ou os profissionais chamados para atender a emergncia que, ainda
que preparados, podem ficar traumatizados. Profissionais que trabalham nessas
situaes de crise, como bombeiros, policiais, mdicos, enfermeiros, psiclogos,
assistentes sociais, apresentam um grande risco de desenvolver um traumatismo
psicolgico (CALAIS, 2002)
Como vemos, trata-se de um tipo de transtorno diferente do habitualmente
enfrentado pela psicologia e, por isso mesmo, as intervenes para esses casos
devem ser objeto de estudo e debate especficos. No Brasil, percebe-se um
crescimento no interesse dos profissionais para trabalhar e se aprofundar na rea
de emergncia, seja pelos diferentes congressos, encontros e cursos sobre o
tema, seja pelos questionamentos levantados sobre o trabalho que pode ser
desenvolvido pelos psiclogos, apoiados em uma equipe multidisciplinar. Esses
questionamentos se fazem necessrios diante de situaes de emergncia e
desastres, pois para atender pessoas que enfrentam essas situaes
indispensvel entender como elas podem atingir os indivduos, encontrando
meios eficazes de trabalhar com essa populao.
Uma situao de desastre pode significar a perda de muitas vidas, alm de
outros tipos de perdas, fazendo com que os envolvidos sofram, influenciando no
seu processo de luto. Perdas nesta situao merecem grande ateno, tendo em
vista que suas caractersticas podem trazer vrios impactos na sade mental dos
envolvidos (PARKES, 1998). Um ambiente insalubre pode levar uma pessoa ao
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Introduo
18
adoecimento e a realidade mostra casos em que essa relao acontece em
propores maiores, afetando populaes inteiras e gerando um adoecimento
coletivo.
Portanto, levando-se em considerao que a populao de risco no se
resume somente queles que viveram a situao diretamente, a vivncia de
trabalho em uma situao de emergncia merece uma ateno aprofundada. A
relevncia desta pesquisa tambm se d em funo de poder colaborar para se
pensar na formao e preparo dos profissionais que atuam em emergncia,
minimizando riscos para a sade mental, tanto da populao assistida quanto do
prprio profissional.
Durante as pesquisas para levantamento de bibliografia a ser utilizada
neste trabalho, percebeu-se que no Brasil so poucas as publicaes sobre o
tema, sendo mais pesquisado e com maior nmero de publicaes nos Estados
Unidos, Chile, Colmbia e tambm Europa. Utilizando sites de pesquisa na
internet como da Biblioteca Virtual em Sade - Psicologia2 (BVS Psi), que utiliza
diferentes buscadores, ao inserir como palavra-chave: psicologia das
emergncias, encontrou-se 11 resultados, entre eles somente 3 mais prximos
ao tema de interesse, que tratavam de emergncia em hospital. Com o descritor
psicologia dos desastres, encontrou-se 17 resultados, entre eles 3 relacionados
ao tema porm nenhum falando sobre o profissional que atua nessa rea. Com o
descritor psiclogo e emergncia, encontrou-se 109 resultados, sendo muitos
descartados por no terem a ver com o tema, alguns sobre atendimento de
emergncia em hospitais, os mesmo encontrados com o primeiro descritor, os
que mais se aproximavam eram manuais e guias com passos para trabalhar com
2 http://www.bvs-psi.org.br/
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Introduo
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vtimas de desastres e um artigo relacionado ao tema, que fala sobre
atendimento em acidente de aviao.
Nas pginas que se seguem apresenta-se: na parte 1 do trabalho, o
captulo 1 fazendo-se uma contextualizao sobre desastre, emergncia e
acidente, relacionando-os com situao de crise, para podermos pensar nas
situaes que a psicologia pode intervir; o captulo 2 apresenta-se uma breve
reviso terica sobre situaes traumticas e trauma psicolgico, estresse
traumtico e transtorno de estresse ps-traumtico; no captulo 3 consideraes
breves sobre o processo de luto, incluindo luto e trauma, luto traumtico e por fim
luto e resilincia; o captulo 4 com consideraes sobre a formao do psiclogo,
passando por questionamentos sobre as reas de atuao; o captulo 5
apresentando a psicologia das emergncias ou psicologia dos desastres, com o
contexto histrico, particularidades da atuao e habilidades profissionais
necessrias para este trabalho; na parte 2 do trabalho, o captulo 6 com a
pesquisa, apresentando os objetivos, o mtodo, onde descrevo o tipo de estudo,
questes sobre a participante, procedimentos, instrumento utilizado para coleta
dos dados, mtodo para anlise dos dados e consideraes ticas; o captulo 7
com a apresentao dos dados coletados e, por fim, as consideraes finais.
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PARTE 1:
CONHECENDO O CAMPO DA EMERGNCIA,
DESASTRE E ACIDENTE E SEUS
DESDOBRAMENTOS E A
PSICOLOGIA DA EMERGNCIA OU DESASTRES
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CAPTULO 1
Consideraes sobre emergncia,
desastre e acidente
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Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente
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CAPTULO 1 Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente
1.1 Contextualizando emergncia, desastre e acidente
Para apresentar esta pesquisa se faz necessrio contextualizarmos o que
entendemos por emergncia, desastre e acidente, para ento podermos
aprofundar nas questes especficas de psicologia das emergncias e dos
desastres.
Conforme a Secretaria Nacional de Defesa Civil (2007):
Emergncia definida por uma situao crtica, acontecimento perigoso ou fortuito;
caso de urgncia. Reconhecimento legal pelo poder pblico de situao anormal,
provocada por desastre, causando danos suportveis comunidade afetada.
Desastre o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem,
sobre um ecossistema vulnervel, causando danos humanos, materiais e
ambientais e conseqentes prejuzos econmicos e sociais. A intensidade de um
desastre depende da interao entre a magnitude do evento adverso e a
vulnerabilidade do sistema e quantificada em funo de danos e prejuzos.
O termo desastre considera que so eventos de grande magnitude, com alto
nmero de vtimas fatais. De acordo com a definio de desastre utilizada pela
Organizao Mundial de Sade, trata-se de um evento traumtico, em virtude do
carter disruptivo e agressivo que este evento exerce sobre os indivduos afetados,
que pode lev-los ou no a uma situao de trauma (OMS, 2009).
Acidente um evento definido ou uma seqncia de eventos fortuitos e no
planejados que gera uma conseqncia especfica quanto aos danos.
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Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente
23
A Secretaria Nacional da Defesa Civil (2007) define o desastre pelos 3
seguintes critrios: 1. intensidade, 2. evoluo e 3. origem.
1. Intensidade, que abrange quatro nveis:
Nvel I: desastres de pequeno porte ou intensidade, tambm chamados de
acidentais. So aqueles nos quais os danos e prejuzos causados so pouco
importantes; nessa condio a situao de normalidade facilmente restabelecida.
Nvel II: desastres de mdio porte ou intensidade so caracterizados quando os
danos causados so de alguma importncia e os prejuzos conseqentes, embora
no sejam vultuosos, so significativos. Nessas condies, a situao de
normalidade pode ser restabelecida.
Nvel III: desastres de grande porte ou intensidade, com danos importantes e os
prejuzos conseqentemente vultuosos. Apesar disso, esses desastres podem ser
suportveis e superveis. Nessas condies, a situao de normalidade pode ser
restabelecida.
Nvel IV: desastres de muito grande porte ou intensidade, so caracterizados por
importantes danos causados, assim como por vultuosos prejuzos e, por isso, no
suportveis e superveis pela comunidade afetada, mesmo quando bem
informadas, preparadas, participativas e facilmente mobilizadas. Nestes casos o
restabelecimento a normalidade depende da mobilizao e ao de instncias
maiores.
2. Evoluo:
Desastres sbitos ou de evoluo aguda: caracterizam-se pela subtaneidade, pela
velocidade de evoluo do processo e, normalmente, pela violncia dos eventos
adversos causadores dos mesmos.
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Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente
24
Desastres graduais ou de evoluo crnica: caracterizam-se por serem insidiosos e
evolurem por etapas de agravamento progressivo.
Desastres de somao de efeitos parciais: caracterizam-se pela repetio
freqente de acidentes, casos ou ocorrncias, com caractersticas semelhantes,
cujos danos, quando somados, ao trmino de um perodo determinado definem um
desastre importante.
3. Origem:
Naturais: so aqueles produzidos por fenmenos e desequilbrios da natureza,
causados por fatores de origem externa que atuam independentemente da ao
humana.
Humanos ou Antropognicos: so aqueles resultantes de aes ou omisses
humanas e esto intimamente relacionados com as atividades do homem,
enquanto agente ou autor.
Mistos: so aqueles resultantes da somao interativa de fenmenos naturais com
atividades humanas.
A Organizao Mundial de Sade OMS (2010) define desastre como: 1
uma ruptura grave do funcionamento de uma comunidade ou uma sociedade,
situao generalizada, perdas econmicas ou ambientais, que excedem a
capacidade da comunidade afetada ou a sociedade a lidar com seus prprios
recursos; 2. situao ou evento, que supera a capacidade local, exigindo um
pedido de nvel nacional ou internacional de ajuda externa; 3. um termo que
descreve um evento que pode ser definido espacialmente e geograficamente, mas
que h demandas que produzem evidncias. Implica a interao de um estressor
externo com uma comunidade humana e leva o conceito implcito de no-
gerenciamento.
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Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente
25
As pessoas envolvidas em uma situao de desastre podem ser atingidas
de diferentes modos, podendo ser vtimas fatais; feridos fisicamente em grau leve
ou grave; enfermos; mutilados; desassentados; desalojados; desabrigados;
deslocados; desaparecidos e vtimas psicolgicas. E tambm so considerados
vtimas os socorristas de diversos servios; pblico com diferente grau de
envolvimento e a mdia.
A postura atual recomenda (FIGLEY, BRIDE E MAZZA, 1997;
HODGKINSON e STEWART, 1998; LEWIS, 1994; STEIN, 2002a; YOUNG, 1998
apud FRANCO, 2005) que a resposta ao desastre, com cuidados em situaes
traumticas, se destine a sobreviventes machucados ou no machucados;
parentes e amigos enlutados e traumatizados; equipe de assistncia emergencial;
membros da equipe de resgate e outros servios de apoio; membros da mdia que
cobriram o fato; vtimas secundrias. Como se observa, amplo o espectro de
pessoas atingidas por um desastre.
1.2 Emergncia/Desastre/Acidente Crise
importante observar que uma situao de emergncia, desastre ou
acidente gera uma crise, que se d a partir da percepo ou experincia de um
evento ou situao to crtica que as habilidades e mecanismos de superao da
pessoa passam a no ser suficientes (JAMES E GILLILAND, 2001), ou seja, a
percepo de um evento ou situao como tendo uma dificuldade intolervel, que
excede os recursos e mecanismos de enfrentamento da pessoa.
Parkes (1998), citando Caplan (1961 e 1964) traz que os pesquisadores, ao
desenvolverem um trabalho no Laboratrio de Psiquiatria Comunitria, na Escola
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Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente
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de Medicina de Harvard, usam o termo crise para abranger situaes importantes
de estresse na vida, de durao limitada, que colocam em risco a sade mental.
Dizendo ainda que essas crises alteram os modos habituais de comportamentos
das pessoas envolvidas, alteram circunstncias e planos, e levam necessidade
de um trabalho psicolgico que requer tempo e energia. Oferecem ao indivduo a
oportunidade e a obrigao de abandonar velhas concepes sobre o mundo e,
assim, descobrir novas, constituindo por si s um desafio.
Crises normalmente imobilizam as pessoas e as impedem de,
conscientemente, controlar suas vidas. A palavra crise geralmente est associada
aos sentimentos de medo, choque, sofrimento sobre uma interrupo na vida
normal. Ningum fica imune a uma crise, porm a maneira de enfrentamento que
varia conforme os recursos de cada um. Isso influenciar para que a situao seja
mais ou menos traumtica. Nessas circunstncias, o equilbrio emocional de todos
os indivduos submetidos situao-limite desestabilizadora tende a ficar
fragilizado, portanto, desestabilizado. E, para uma parcela significativa da
populao, a desorganizao psquica poder permanecer comprometida durante
um perodo determinado, subseqente ao trauma, ou de forma permanente
(THOM, 2009).
A Organizao Mundial de Sade (2010), citando a Inter-Agency
Contingency Planning Guidelines para Assistncia Humanitria de 2001, traz que
necessrio um plano de emergncia para atuao em situaes de crise
ocasionadas por desastres e emergncias, plano este definido como o processo de
estabelecimento de objetivos, abordagens e procedimentos para responder a
situaes ou eventos que possam ocorrer, incluindo a identificao desses eventos
e o desenvolvimento de cenrios provveis e planos adequados para se preparar e
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Consideraes sobre emergncia, desastre e acidente
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responder a elas de forma eficaz. Nesse momento importante a atuao
interdisciplinar, numa unio de saberes e fazeres para que se estabelea uma
maneira de intervir positivamente.
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CAPTULO 2
Sobre trauma e estresse
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Sobre trauma e estresse
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CAPTULO 2 Sobre trauma e estresse
2.1 Situao traumtica Trauma psicolgico
Todas as situaes que envolvem emergncia podem ser vistas como
situaes traumticas, tanto na esfera pessoal ou familiar, quanto na esfera da
comunidade, com alcance varivel. Salienta-se, porm, que pessoas diferentes
reagem de maneiras diferentes em eventos similares. Uma pessoa pode sentir como
traumtico um evento que outra pessoa pode no sentir, e nem todas as pessoas
que passam por experincias traumticas podem se tornar psicologicamente
traumatizadas. Desastres diferem de outros tipos de trauma, com relao sua
escala e efeitos, o que vai implicar um apoio diferenciado daquele oferecido em
situaes de perda e stress (FRANCO, 2005).
Coletivamente, so considerados traumticos, os desastres que
sobrecarregam os recursos disponveis da comunidade e quando colocam em risco
a capacidade de enfrentamento das pessoas e da prpria comunidade. A
diversidade de reaes das pessoas situao de desastre pode ser dividida entre
aquelas que aparecem no perodo imediato da emergncia, as que aparecem aps
72 horas ou poucas semanas depois do evento traumtico e as seqelas a longo
prazo (GABORIT, 2006).
So esperadas reaes emocionais intensas diante da vivncia do desastre e
na maioria das vezes estas manifestaes podem ser consideradas normais diante
do momento traumtico vivenciado. No entanto, a abordagem precoce e a ateno
sade mental a maneira mais efetiva de prevenir srios transtornos que costumam
aparecer a mdio e longo prazo aps um evento traumtico (WERLANG et al, 2008).
-
Sobre trauma e estresse
30
Trauma psicolgico um tipo de dano emocional, que ocorre quando os
eventos traumticos superam as capacidades adaptativas s condies da vida do
indivduo, podendo vir acompanhado de trauma fsico ou existir de forma
independente. O trauma a condio em que o indivduo sente que o sistema de
crenas e a estrutura de significados que fundamenta sua vida foram abalados. H a
perda da capacidade de confiar e de sentir-se seguro e sua possibilidade de
encontrar solues fica impedida. Pode promover reaes estranhas e anormais,
mas, na realidade, a condio desencadeadora que anormal e deixa a pessoa
sem respostas para ela.
A exposio ao evento traumtico tambm vai diferenciar a experincia
traumtica de cada indivduo e do coletivo, pois quanto mais alta a exposio,
maiores os riscos. O que nos claramente remetido a pensar nos efeitos tambm da
mdia para risco de um trauma coletivo, ao exporem os fatos para a comunidade,
que estabelece experincias e vivncias emocionais geradas como base em fatos
retratados, provocando, na maioria das vezes, percepes ameaadoras da
realidade. A exposio prolongada das populaes a acontecimentos
desorganizadores, sejam naturais ou provocados, representa condio com evidente
potencial de adoecimento fsico e principalmente de desequilbrio emocional e/ou
psquico (THOM, 2009).
Intensa angstia diante de situaes que lembrem o momento traumtico, ou
mesmo algum aspecto referente a ele; reao fisiolgica diante desta exposio -
como ansiedade, sensaes fsicas, sensao de pnico - ; diminuio do interesse
e participao nas atividades rotineiras; sensao de estranhamento diante das
outras pessoas, retraimento e isolamento; inabilidade para fazer projetos e medo de
morrer so reaes tpicas ao trauma (HODGKINSON e STEWART, 1998).
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Sobre trauma e estresse
31
Franco (2005) relata que as reaes a um desastre podem ser diferentes em
cada indivduo, no sendo, portanto, possvel prever o tempo que as pessoas
traumatizadas necessitam para se recuperar. Existem alguns fatores que podem
contribuir ou dificultar a recuperao de cada um, sejam os fatores externos como o
tipo, a durao e a severidade do desastre, sendo com ou sem vtimas: o tempo de
durao dos efeitos sociais produzidos pelo desastre; o grau de perdas ocorrido
como ter sofrido ou no ferimentos e sua gravidade, ou perdas e ferimentos de
pessoas prximas ou ainda perda significativa de patrimnio; o grau de ameaa
vida tendo provocado medo e/ou terror; e a exposio a cenas de horror. Igualmente
devem ser levados em conta a existncia de sistemas de apoio de dentro e de fora
da comunidade envolvida e os processos judiciais subseqentes, pois importante
que o indivduo sinta que a justia est sendo feita. E, tambm, os fatores internos
como o papel do sobrevivente e sua capacidade de enfrentamento; ter enfrentado
eventos traumticos anteriormente; apresentar doenas recentes ou alguma
condio crnica de sade; dispor de sistemas de apoio sociais e psicolgicos,
percepo e interpretao do desastre pelo sobrevivente, entre outros. Idosos,
crianas, pessoas com histria anterior de doena mental ou pessoas que
enfrentavam crises no perodo anterior ao desastre podem precisar de maior
ateno e cuidado.
Segundo Thom (2009), estudos realizados pela Comisso de Sade Mental
das Naes Unidas revelam que 40% a 60% das populaes expostas a situaes-
limite desenvolvem ou desenvolvero algum tipo de patologia relacionada sade
mental nos anos posteriores aos acontecimentos. Caso essas populaes estejam
expostas a repeties dessas vivncias, a porcentagem provavelmente atingir
patamares maiores, ou seja, so pessoas saudveis que precisam de
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Sobre trauma e estresse
32
acompanhamento ou assistncia psicolgica para prevenir ou minimizar sua
propenso ao adoecimento mental.
Estudos (GREEN, 1994; GIEL, 1990; FREEDY, SALADIN, KILPATRICK,
RESNICK e SAUNDERS, 1994 apud FRANCO, 2005) apontam que 75% das
pessoas expostas a uma situao traumtica necessitam ser adequadamente
avaliadas quanto possibilidade de apresentarem distrbios psquicos, com as
complicaes associadas: depresso, ansiedade e fobia, abuso de drogas e lcool.
Com todos esses dados, ressalta-se a importncia de um apoio psicolgico
especializado, pois o papel do psiclogo na interveno de emergncia permite
identificar as pessoas em risco para o desenvolvimento de quadros psiquitricos,
oferecer suporte e, se necessrio, realizar o encaminhamento para outros
profissionais especializados.
2.2 Estresse traumtico
Estresse Traumtico, pela American Academy of Experts in Traumatic Stress
(2009), a experincia emocional, cognitiva e comportamental de indivduos que
vivenciaram ou testemunharam eventos extremos ou ameaadores da vida.
Segundo Grgio (2005), a avaliao de uma situao e a interpretao dos
estmulos quanto ao seu nvel de estresse esto baseadas na idia subjetiva de
mundo, nas crenas pessoais relativas a como o mundo e a como os fatos da vida
se desenrolam. A ao adaptativa ser baseada nessa idia de mundo, a qual
tambm inclui a viso que o indivduo tem de si mesmo. Assim, as pessoas que
possuem um conceito de mundo positivo, ou que confiam em sua auto eficincia,
geralmente desenvolvem mais aes adaptativas, e tendem a ser menos vulnerveis
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Sobre trauma e estresse
33
ao estresse do que aquelas que se concebem como frgeis e incapazes de enfrentar
as ameaas da vida, ou que vem o mundo como devastador.
Como nossa sobrevivncia depende de aprendermos sobre o perigo, no
surpresa perceber que situaes de perigo, mesmo que superadas, possam
persistir. Da mesma maneira, pessoas que conseguiram evitar uma situao de risco
ou estiveram prximas de outra, e ficaram traumatizadas, podem ter uma imagem
mental do trauma, mesmo sem t-lo vivido diretamente. Essa pode ser a explicao
para a persistncia de lembranas e imagens traumticas, o que caracterstica de
Transtorno de Estresse Ps-Traumtico (PARKES, 1998).
2.3 Transtorno de Estresse Ps-Traumtico TEPT
O trauma atinge a vida do indivduo de maneira total, como vimos
anteriormente, nos mbitos fsico, social, psicolgico, familiar, ocupacional, fazendo
com que depois de tal experincia poucas coisas e conceitos permaneam como
eram anterior situao traumtica, ocasionando mudanas internas e externas na
vida deste indivduo. Assim, a experincia traumtica traz muito ao que se adaptar e
isso gera um alto nvel de estresse que pode comprometer os mecanismos de
adaptao do indivduo. Isso ocasiona em algumas das situaes o desenvolvimento
do Transtorno de Estresse Ps-Traumtico TEPT (GRGIO, 2005).
Vieira (2003) refere estudos epidemiolgicos indicando que o Transtorno de
Estresse Ps-Traumtico afeta aproximadamente 15% a 24% das pessoas expostas
a eventos traumticos. Percebe-se, portanto, que a maioria das pessoas expostas
vivncias traumticas no desenvolve TEPT, o que nos demonstra existirem outros
fatores e outras variveis influindo nas respostas emocionais aos traumas, como por
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Sobre trauma e estresse
34
exemplo, caractersticas da personalidade, sensibilidade pessoal afetiva e
emocional, estrutura de apoio familiar e social e, obviamente, a prpria natureza do
trauma.
As marcas caractersticas do Estresse Ps-Traumtico ou, em ingls, Post-
Traumatic Stress Disorder, so as lembranas aterrorizadoras do acontecimento
traumtico, lembranas essas to vvidas que a pessoa tem a impresso de estar
passando pelo trauma repetidamente. Podem ocorrer de dia e noite e se parecem
com pesadelos, sendo to dolorosas que a pessoa faz de tudo para evitar qualquer
coisa que possa provoc-las, porm sente como se estivesse esperando pela
prxima tragdia, sobressalta-se por qualquer motivo e est sempre em estado de
alerta (PARKES, 1998).
Para o diagnstico do Transtorno de Estresse Ps-Traumtico TEPT,
usamos um conjunto de critrios estabelecidos pelo DSM-IV (1994), sendo
necessrio que hajam todos para ser considerado como tal:
Critrio A: Exposio a um estressor traumtico que leva a um conseqente
distress emocional.
Critrio B: Sintomas de reexperimentao do trauma (presena de um
sintoma ou mais);
Critrio C: Sintomas de evitao e embotamemto (presena de trs sintomas
ou mais).
Critrio D: Sintomas de hiperativao autnoma/excitao (presena de dois
sintomas ou mais);
Critrio E: Presena do quadro de sintomas por um ms ou mais
Critrio F: Presena de sofrimento ou prejuzo clinicamente significativo no
funcionamento social, ocupacional e outros.
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Sobre trauma e estresse
35
Importante salientar que a vivncia de uma situao traumtica necessria,
porm no suficiente para o desenvolvimento do TEPT, que se soma aos diversos
fatores que vimos acima, podendo ou no influenciar no estabelecimento do quadro.
Conforme Parkes (1998), o Transtorno de Estresse Ps-Traumtico muito comum
em conseqncia de lutos causados por mortes inesperadas e violentas, como no
caso de desastres e acidentes. Porm o Transtorno de Estresse Ps-traumtico
seria uma das mltiplas formas de resposta possvel vivncia traumtica, existindo
outras formas igualmente importantes de ansiedade, de depresso e conflitos no
resolvidos, outras mltiplas formas de apresentao emocional atravs de sintomas
somticos, de transtornos na relao interpessoal, de disfunes familiares, entre
outras (BALLONE, 2005).
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CAPTULO 3
Consideraes sobre o processo de luto
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Consideraes sobre o processo de luto
37
CAPTULO 3 Consideraes sobre o processo de luto
3.1 Luto
O luto pela perda de uma pessoa amada a experincia
mais universal e, ao mesmo tempo, mais desorganizadora e
assustadora que vive o ser humano. O sentido dado vida
repensado, as relaes so refeitas a partir de uma avaliao de
seu significado, a identidade pessoal se transforma. Nada mais
como costumava ser. E ainda assim h vida no luto, h esperana
de transformao, de recomeo. Porque h um tempo de chegar e
um tempo de partir, a vida e feita de pequenos e grandes lutos e o
ser humano se d conta de sua condio de ser mortal, porque
humano.
Maria Helena Pereira Franco, texto de introduo no site do 4
Estaes Instituto de Psicologia3
Parkes (1998) relata que o luto uma reao normal e esperada para o
rompimento de vnculo e Bromberg (1994) acrescenta dizendo que o luto definido
como uma crise, por ocorrer um desequilbrio entre a quantidade de ajustamento e
os recursos disponveis, encarando como um processo, como uma necessidade
psicolgica para que possamos elaborar nossas perdas.
Segundo Parkes (1998), luto uma importante transio psicossocial, com
impacto em todas as reas de influncia humana. uma experincia subjetiva,
particular na sua forma de vivenciar e que provoca uma srie de reaes. O autor
afirma ainda que a dor do luto o custo do compromisso, pois s se perde aquilo
que se tem, aquilo com o qual estabeleceu um vnculo.
Quando falamos em luto fala-se de um processo, que tanto individual
como social, conforme aborda Bromberg (1994). A autora denomina o luto como
um tempo de elaborao e transformao que atinge os indivduos e os grupos,
3 http://www.4estacoes.com/textos.asp
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Consideraes sobre o processo de luto
38
desestruturando-os pela falta e desestabilizando seu funcionamento, ou seja, o luto
no um estado esttico. um conjunto de reaes a uma perda significativa. Ela
ressalta ainda, que o processo de elaborao e cura composto basicamente por
duas mudanas, as quais levam tempo para serem realizadas durante o perodo de
luto: reconhecer e aceitar a realidade; e experimentar e lidar com todas as
emoes e problemas que advm da perda.
Bowlby (1984) afirma que os vnculos so construdos ao longo de toda vida
e que o sofrimento acaba sendo a reao universal perda de algo com o qual se
tinha um vnculo estabelecido. O vnculo um investimento afetivo e quanto maior
este investimento, maior energia necessria para seu desligamento. As
dependncias fsicas ou psquicas so fatores que podem agravar o desligamento
com o objeto amado (KOVCS, 2002).
Como o luto envolve o rompimento de um vnculo, ou seja, havia um
investimento afetivo, esperado que a nova situao suscite diversos sentimentos
e traga dor. Kovcs (1992) menciona alguns desses sentimentos: angstia, medo,
tristeza, desespero, solido, abandono, raiva, culpa e esperana. necessrio um
tempo para a elaborao e todos esses sentimentos se fazem necessrios para
ajudar nesse processo.
Robbins (1993) destaca a importncia do enlutado ter um apoio social, e
ressalta que isso vlido inclusive no caso do profissional e no s dos familiares.
Afirma que quando h uma rede de apoio segura h maior possibilidade de
passarem pelo processo de uma forma mais saudvel. No caso dos profissionais
coloca ainda que ter um espao para compartilhar e trocar experincias ajuda no
enfrentamento das situaes, ou seja, torna-se um elemento facilitador.
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Consideraes sobre o processo de luto
39
De acordo com Pitta (1994), lidar no trabalho com situaes de perda
transforma a prpria existncia humana e, muitas vezes, o impacto da situao e o
estresse de todos os envolvidos podem contribuir para gerar maior ansiedade. Por
entender que os profissionais que atuam esto tambm em contato com o
sofrimento, possvel afirmar que surgem suas ansiedades, angstias e a
dificuldade de lidar com elas.
Bowlby (1997) destaca que s vezes somos educados para sufocar os
sentimentos. Carvalho (1996) tambm relata que um valor observado na nossa
cultura a no aceitao de que profissionais expressem seus sentimentos e
emoes, principalmente no ambiente de trabalho, o que faz com que se reprimam
as emoes quando no h um espao para abord-las.
A compreenso do luto como um processo permite entend-lo ao longo de
fases, das quais a primeira a que mais toca de perto a realidade do atendimento
em desastres areos: a fase de entorpecimento, na qual a reao encontrada de
choque e descrena. O enlutado tem dificuldade em entrar em contato com a nova
realidade e esta dificuldade acentuada em situaes de perda repentina ou
inesperada. As fases seguintes, anseio e protesto, desespero e recuperao e
restituio, podem se intercalar e tm durao variada (FRANCO, 2005).
Parkes (1998) coloca que h uma variao na durao e no grau de
evitao da realidade da perda, uns expressam mais os sentimentos, outros
inibem, outros ainda se mantm mais ocupados para evitar entrar em contanto com
seus sentimentos. Enfim, cada um reagir de um modo. Isso faz pensar
naturalmente que cada profissional tambm ter sua maneira de lidar com a morte
e com o luto derivado de situaes de emergncias e desastres, devido suas
questes e o que vem tona diante da situao; e ainda sofrer influncias do
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Consideraes sobre o processo de luto
40
local, a forma como encaram isso no ambiente em que se encontram, podendo ter
possibilidade de apoio por reconhecerem seu luto, ou no.
Freud (1974), no artigo Luto e Melancolia, traz a primeira explicao para o
processo de luto, caracterizando o luto como um estado depressivo que no deve
ser tratado como uma patologia, mas como uma fase de inibio do Ego, que de
modo geral, uma reao perda de um ente querido, objeto libidinoso, ou
alguma abstrao associada a este ente, o que de carter particularmente
doloroso at que, em um dado perodo, o Ego fique outra vez livre e desinibido.
Esta fase marcada pela ausncia e a doravante inexistncia do objeto amado, da
retirada de toda libido de suas ligaes com o mesmo e o deslocamento para outro
objeto.
Quando as reaes perante as perdas no so as esperadas, isto , fogem
da sintomatologia e do processo natural, encontrado um processo de luto
complicado. H fatores de risco para a instalao do luto complicado, entre os
quais se encontram aqueles relativos s circunstncias da perda: mortes
repentinas, violentas, consideradas prematuras pelo enlutado; a causa da morte e
seu significado; o tipo da morte, destacando-se exposio mdia, mortes
estigmatizadas ou causadoras de vergonha ao ambiente social; existncia de
segredos relativos morte ou sua causa; falta de rituais; falta de suporte; outras
perdas concomitantes a morte (FRANCO, 2005).
A reao ao luto inclui elementos que podemos chamar de no especficos,
ou seja, o luto evoca o alarme (proveniente do estresse) e suas respostas
caractersticas; pode tambm trazer lembranas ou fantasias intrusivas e causar
comportamento de aproximao ou afastamento. A forma que essas respostas
tomaro que ser em parte especfica do estressor, isto , da natureza da
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Consideraes sobre o processo de luto
41
situao ocorrida, e em parte especfica do indivduo, derivando de suas
predisposies pessoais (PARKES, 1998).
3.2 Luto e trauma
Em situaes de desastres encontramos o trauma e luto
concomitantemente, pois nesse caso ficamos impactados principalmente pelo
grande nmero de vtimas fatais. O luto por desastre nos chama a ateno por ser
um luto por morte repentina o que pode ser risco de luto complicado.
Conforme Parkes (2009), todos os lutos so traumticos, mas alguns so
mais traumticos do que outros e para algumas pessoas que enfrentam perdas, o
luto se desenvolve num processo considerado normal, como um processo de
reajustamento e readaptao saudvel, sem que sejam necessrias intervenes,
podendo desenvolver sintomas afetivos como ansiedade, culpa, raiva, hostilidade,
depresso, falta de prazer, solido, ou sintomas comportamentais como agitao,
fadiga e choro e, ainda, baixa auto-estima, desamparo. J para outras pessoas
uma interveno se faz necessria quando essa sintomatologia excede em
intensidade e durao, o que se caracteriza atualmente como luto complicado,
como no caso do luto traumtico por morte repentina. Muitos so os fatores que
podem desencadear um luto complicado, Bolwby (2004) cita aspectos que podem
influenciar nesse processo como a identidade e o papel que a pessoa que morreu
tinha; a idade e o sexo do enlutado; as causas e circunstncias da perda; as
circunstncias sociais e psicolgicas que afetam o enlutado na poca e aps a
morte; a personalidade do enlutado.
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Consideraes sobre o processo de luto
42
As experincias traumticas contribuem para causar problemas
psiquitricos, portanto podemos esperar mais sofrimento emocional em pessoas
enlutadas que experienciaram luto traumtico do que naquelas cujo luto foi menos
traumtico. E, tambm esperamos uma maior incidncia de perdas traumticas em
pessoas que procuraram ajuda psiquitrica aps o enlutamento do que as que no
procuraram (PARKES, 2009).
O trauma segundo Parkes (2009) aumenta a intensidade e durao do luto e
contribui com um diagnstico clnico de luto crnico.
3.3 O luto traumtico
Uma das caractersticas dos desastres o fato de acarretar perdas
inesperadas, repentinas e em sua maior parte violentas gerando muitas vezes uma
reao de choque aos indivduos que perdem familiares e entes queridos.
Hodgkinson e Stewart (1998) confirmam relatando que a sensao de choque piora
em mortes por desastres por serem repentinas e acompanharem uma sensao de
descrena, j que em grande parte ocorrem quando as pessoas esto em
situaes vistas como seguras e rotineiras. Franco (2005) afirma que a fase que
mais toca de perto a realidade no atendimento em emergncia esse primeiro
perodo de entorpecimento e descrena.
Percebe-se na literatura que o trauma destri significados construdos ao
longo da vida e que as pessoas afetadas no se percebem mais como
invulnerveis aos danos causados por um desastre. Confirmando essas
informaes, Hodgkinson e Stewart (1998), nos trazem que as perdas repentinas,
inesperadas ou fora de hora, que trazem muito sofrimento ou que se do de forma
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Consideraes sobre o processo de luto
43
aterrorizante so as que representam maiores riscos para uma m resoluo do
luto, podendo tornar-se um luto complicado. Notam-se trs tipos de perdas
consideradas fora de hora: as perdas prematuras como de crianas e jovens e que
so tidas como contrrias natureza humana; as mortes inesperadas como as que
ocorrem repentinamente; e as mortes calamitosas que alm de imprevisveis so
violentas, destrutivas e sem sentido. E diante dessas definies percebe-se que o
luto por desastre, pode reunir, ao mesmo tempo, esses trs tipos de perdas, sendo
um maior risco para tornar-se luto complicado, neste caso traumtico.
3.4 Luto e Resilincia
Resilincia definida pela capacidade de responder de forma mais
consistente aos desafios e dificuldades, de reagir com flexibilidade e capacidade de
recuperao diante desses desafios e circunstncias desfavorveis, tendo uma
atitude otimista, positiva e perseverante e mantendo um equilbrio dinmico durante
e aps os embates uma caracterstica de personalidade que, ativada e
desenvolvida, possibilita ao sujeito superar-se e s presses de seu mundo,
desenvolver um autoconceito realista, autoconfiana e um senso de autoproteo
que no desconsidera a abertura ao novo, mudana, ao outro e realidade
subjacente (TAVARES, 2001). Traduz-se, por conseguinte, numa capacidade
pessoal de enfrentar a adversidade, de modo no s a resistir ou ultrapassar com
xito, mas a extrair uma maior resistncia a condies negativas subseqentes,
tornando os sujeitos mais complexos e menos vulnerveis em funo daquilo que
se modificou aps terem sido submetidos a esse tipo de experincia.
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Consideraes sobre o processo de luto
44
Situaes de perdas que acarretam luto so inevitveis em nossa vida e em
situaes de emergncias e desastres ainda trazem a carga de serem um evento
estressor de grande magnitude, o que, dependendo da percepo que o indivduo
tem da situao, da sua interpretao do evento estressor e do sentido a ele
atribudo, teremos ou no a condio de estresse, podendo acionar a nossa
capacidade de resilincia diante do ocorrido. Costuma-se dizer que as pequenas
perdas, como no caso das normativas (nascimento, sada da infncia para a
adolescncia, etc) nos preparam para perdas maiores no decorrer da vida,
colaborando para o desenvolvimento de maior resistncia frente s situaes, o
que podemos entender como resilincia.
O profissional que trabalha em situaes de emergncias e desastres,
dependendo da maneira que interprete a situao, tambm pode desenvolver sua
capacidade de resilincia frente s situaes da atuao, desenvolvendo maior
capacidade para enfrentamento em situaes futuras.
-
CAPTULO 4
Consideraes sobre a formao profissional
do psiclogo
-
Consideraes sobre a formao profissional do psiclogo
46
CAPTULO 4 Consideraes sobre a formao profissional do psiclogo
A formao dos cursos de graduao em psicologia oferecidos no Brasil se
d de forma generalista, ou seja, os cursos privilegiam o conhecimento genrico
em temas psicolgicos, proporcionando uma formao cientfico-metodolgica e o
desenvolvimento de habilidades tcnicas que sero teis nas intervenes do
psiclogo em geral, sem a delimitao de reas de atuao especficas.
No Manual de Orientaes disponibilizado pelo Conselho Regional de
Psicologia da 6 Regio, elaborado a partir das principais informaes contidas nas
diferentes Resolues elaboradas pelo Conselho Federal de Psicologia,
principalmente, o Cdigo de tica, indicando-as como referncias privilegiadas
para que o exerccio profissional possa ser bem conduzido de forma tcnica e
tica, temos no Captulo II que fala sobre os requisitos para o exerccio profissional
em psicologia: II.1 Formao de Psiclogo: para ser um profissional psiclogo
obrigatria a concluso do Curso de Psicologia em uma Faculdade autorizada e/ou
reconhecida pelo MEC e ter a formao de psiclogo obtida aps os cinco anos de
durao do curso. E ainda, conforme define a Lei n. 4.119, de 27/08/1962, em seu
Captulo III Dos direitos conferidos aos diplomados, no Artigo 13:
1 - Constitui funo privativa do psiclogo a utilizao de mtodos e
tcnicas psicolgicas com os seguintes objetivos:
a) diagnstico psicolgico: o processo por meio do qual, por intermdio de
Mtodos e Tcnicas Psicolgicas, se analisa e se estuda o comportamento de
pessoas, de grupos, de instituies e de comunidades, na sua estrutura e no seu
funcionamento, identificando-se as variveis nele envolvidas;
-
Consideraes sobre a formao profissional do psiclogo
47
b) orientao profissional: o processo pelo qual, com o apoio de Mtodos e
Tcnicas Psicolgicas, se investigam os interesses, aptides e caractersticas de
personalidade do consultante, visando proporcionar-lhe condies para a escolha
de uma profisso; seleo profissional: o processo pelo qual, com o apoio de
Mtodos e Tcnicas Psicolgicas, se objetiva diagnosticar e prognosticar as
condies de ajustamento e desempenho da pessoa a um cargo ou atividade
profissional, visando alcanar eficcia organizacional e procurando atender s
necessidades comunitrias e sociais;
c) orientao psicopedaggica: o processo pelo qual, com o apoio de Mtodos e
Tcnicas Psicolgicas, proporcionam-se condies instrumentais e sociais que
facilitem o desenvolvimento da pessoa, do grupo, da organizao e da
comunidade, bem como condies preventivas e de soluo de dificuldades, de
modo a atingir os objetivos escolares, educacionais, organizacionais e sociais;
d) soluo de problemas de ajustamento: o processo que propicia condies de
auto-realizao, de convivncia e de desempenho para o indivduo, o grupo, a
instituio e a comunidade, mediante mtodos psicolgicos preventivos,
psicoterpicos e de reabilitao.
2 - da competncia do psiclogo a colaborao em assuntos
psicolgicos ligados a outras cincias.
A Lei no 4.119 de 27 de agosto de 1962 dispe sobre os cursos de formao
em psicologia e regulamenta a profisso. Ela determina funes privativas do
psiclogo e, entre outras, a trade de ttulos que o profissional graduado pode
obter: o bacharelado, a licenciatura e o ttulo de psiclogo. O esprito da lei volta-se
formao generalista, medida que habilita o profissional psiclogo a atuar em
qualquer rea da Psicologia.
-
Consideraes sobre a formao profissional do psiclogo
48
Corroborando com a regulamentao da profisso, 23 anos aps, o
Conselho Federal de Psicologia elaborou um documento para integrar o Catlogo
Brasileiro de Ocupaes do Ministrio do Trabalho, onde se identificam as
seguintes reas de atuao: Psiclogo Clnico (onde j se vem descries de
atividades tpicas do que se vem denominando Psicologia Hospitalar ou Psicologia
da Sade), Psiclogo do Trabalho, Psiclogo do Trnsito, Psiclogo Educacional,
Psiclogo Jurdico, Psiclogo do Esporte, Psiclogo Social e outros psiclogos,
onde se encaixam os psiclogos no classificados anteriormente. Uma leitura
detida nas atribuies destes muitos profissionais com uma mesma habilitao
leva-nos a concluir que a prtica da Psicologia vem-se consolidando e ampliando
em nossa sociedade com o passar das dcadas. Ao lado das reas de atuao do
psiclogo que podemos chamar de "tradicionais" - quais sejam, a clnica, a escolar,
a do trabalho e a social - comeam a configurar-se "reas emergentes" no mercado
de trabalho.
A atuao do psiclogo em situaes de emergncia uma atuao que
podemos classificar nas chamadas reas emergentes, sendo uma formao que
vem sendo buscada aps a graduao, como uma forma digamos de especialidade
que, porm, ainda no abrangida pelo Conselho Federal de Psicologia, mesmo
que este no desconsidere a importncia quando apia seminrios e discusses
sobre o tema.
Carvalho e Sampaio (1997) afirmam que a emergncia de uma nova rea de
atuao do psiclogo depende em grande parte do trabalho de pioneiros. Ou seja,
na medida em que psiclogos, solicitados a desenvolver determinada atividade,
mostram competncia nesta atividade, e mesmo a sua viabilidade, que se abrem
possibilidades a novos colegas.
-
Consideraes sobre a formao profissional do psiclogo
49
No Cdigo de tica do Profissional de Psicologia, na verso de agosto de
2005 determina que, dentre as suas responsabilidades, um dos deveres
fundamentais do psiclogo assumir responsabilidades profissionais somente por
atividades para as quais esteja capacitado pessoal, terica e tecnicamente.
Portanto, no crescendo da demanda ao trabalho de emergncia e seguindo as
responsabilidades estabelecidas que surgem, em geral, as inquietaes sobre a
formao do profissional que dever atuar nesta rea.
Precisamos , primeiramente, considerar que uma boa formao
universitria e um constante aprimoramento terico e tcnico so fundamentais
para que o psiclogo possa oferecer servios profissionais qualificados nos
diversos contextos e espaos em que esteja atuando, de modo a contribuir para
uma melhor qualidade de vida e sade para a populao em geral.
Diante do exposto, algumas perguntas surgem: a qualificao recebida pelo
psiclogo nos cursos de graduao oferecidos no Brasil realmente lhe confere uma
base slida, lhe capacita pessoal, terica e tecnicamente, para o exerccio de
qualquer uma das reas de atuaes? Uma vez graduado o recm psiclogo pode
aceitar o encargo de psiclogo de emergncias, por exemplo? Ele dispe de um rol
de conhecimentos e tcnicas que lhe permite realizar minimamente seu encargo?
As interrogaes multiplicam-se e so necessrias para que possamos aprimorar
os servios oferecidos e os estudos em torno da rea.
-
CAPTULO 5
A psicologia das emergncias ou desastres
-
A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
51
CAPTULO 5 - A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
5.1 Contexto histrico
A psicologia das emergncias e desastres se sustenta em uma ampla
bagagem de investigaes e construes tericas, que tem revolucionado os
estudos, desde os trabalhos mais descritivos e individuais aos sociolgicos e
estatisticamente significativos (LAMO, 2007).
Os registros iniciais, segundo lamo (2007), de estudos psicolgicos sobre os
desastres, iniciaram no ano de 1909 quando o mdico psiquiatra e pesquisador
Edward Stierlin, de Zurique, desenvolveu os primeiros ensaios sobre atendimento
aos sobreviventes de uma mina em 1906 e para cerca de 135 pessoas aps um
terremoto na Itlia em 1908.
Na Primeira Guerra Mundial, sculo XX, tem-se os primeiros dados de
intervenes in situ com combatentes, na qual o objetivo era tratar o transtorno por
estresse agudo. J na Segunda Guerra Mundial, foram efetivamente utilizadas as
primeiras intervenes psicolgicas, realizadas por meio do desabafo nos campos
de batalha (GUIMARES et al, 2007).
Um dos estudos que se considera pioneiro do mdico psiquiatra
Lindermann em 1944 que trabalhou com sobreviventes e familiares de vtimas de um
incndio do Clube Noturno Coconut Grove, em Boston, EUA. Este trabalho
averiguou que os sintomas psicolgicos dos sobreviventes se tornaram a base para
as teorizaes subseqentes sobre a psicologia das emergncias e desastres
(LAMO, 2007).
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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As investigaes descritas vo descobrindo posteriormente que as reaes
das vtimas no so as mesmas durante o impacto do evento e o ps-desastre e,
neste sentido, Friedman e Linn, em 1957, trabalhando com sobreviventes do navio
"Andrea Dorian", descrevem que ao lidar com vtimas de eventos traumticos deve
se levar em conta as suas diferentes respostas s fases de choque inicial e
recuperao em uma situao de desastre (LAMO, 2007).
Anos aps, por volta dos anos 60 e 70, a Psicologia direcionou-se para
anlise das reaes individuais no ps-desastre (LAMO, 2007). A partir da dcada
de 70, comea-se a delinear a necessidade de desenvolverem-se tcnicas mais
complexas e programas multicomponentes com a finalidade de tratar
sistematicamente as pessoas expostas a experincias traumticas (GUIMARES et
al, 2007).
Lifton Robert, em 1967, comea a descrever a conduta que se apresenta nas
fases e perodos posteriores ao impacto do desastre, com o estudos dos problemas
psicolgicos a longo prazo apresentados por indivduos depois do bombardeio
atmico em Hiroshima (LAMO, 2007).
Em 1970, a Associao de Psiquiatria Americana publicou um manual de
Primeiros Auxlios Psicolgicos em Casos de Catstrofes, adaptado no Peru pelo
mdico psiquiatra Baltazar Caravedo, onde so descritos diversos tipos de reaes
possveis aos desastres e os princpios bsicos para identificao de riscos das
pessoas afetadas psicologicamente. Os primeiros esforos como modelos de
resposta so feitos para as vtimas do terremoto em Mangua na Nicargua em
1972, quando um psiclogo e um psiquiatra viajam para a Nicargua em 1973 com o
objetivo de desenvolver um projeto de sade mental para as vtimas (LAMO, 2007).
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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Em 1974, atravs do Instituto de Sade Mental do Departamento de Sade
dos Estados Unidos, surgiu a primeira lei de atuao e ajuda em desastres, na qual
consta uma seo sobre orientao psicolgica aos atingidos. Em janeiro de 1982,
uma tempestade inundou a costa da Califrnia, deixando mais de 100 famlias
desabrigadas. Aps vrios dias, lanou-se o projeto COPE - Counseling Ordinary
People in Emergencies, para coordenar os servios de mais de 100 profissionais
particulares de sade mental, com os recursos dos governos federal e local,
trabalhando durante mais de um ano, proporcionando assessoramento individual e
em grupo, sem nenhum custo para os interessados. (LAMO, 2007).
Em 1985, aps o terremoto ocorrido na Cidade do Mxico, a Faculdade de
Psicologia da Universidade Autnoma do Mxico, com ajuda de Israel, do Instituto
Mexicano de Psicanlise e do Instituto Mexicano de Segurana Social, deu incio a
um programa de intervenes em crises, com o intuito de oferecer apoio psicolgico
aos afetados pela tragdia (CARVALHO, 2009). No mesmo ano, na Colmbia, o
vulco Nevado Del Ruiz entrou em erupo e arrasou o povoado de Armero. Ento,
em agosto do ano seguinte, o Ministrio da Sade da Colmbia, com o
assessoramento da Organizao Pan-Americana de Sade - OPAS, e de psiquiatras
pesquisadores na rea, estabeleceu um programa de ateno primaria em sade
mental para vtimas de desastres (LIMA et al, 1989).
Em 1991, a Cruz Vermelha criou o Centro de Copenhague de Apoio
Psicolgico. Em 2001, ocorreu um incndio no mercado popular Mesa Redonda,
localizado no centro de Lima, Peru. Neste episdio, a Sociedade Peruana de
Emergncias e Desastres foi acionada e atuou no sentido de conscientizar a
populao das reaes normais de luto. Para isto foi criada uma linha telefnica
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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chamada de infosade, que funcionou com atendimento de psiclogos durante 72
horas aps o desastre (CARVALHO, 2009).
Em 2002, ocorreu o I Congresso de Psicologia das Emergncias e dos
Desastres em Lima, Peru. Nele foi criada uma entidade denominada Federao
Latino-Americana de Psicologia das Emergncias e dos Desastres FLAPED, com
o objetivo de reunir psiclogos de diferentes nacionalidades no Peru e fazer com que
os psiclogos que retornassem aos seus pases tambm fossem despertados pela
mesma inteno. Em 2004, foi criada a Sociedade Chilena de Psicologia das
Emergncias e Desastres SOCHPED, com os objetivos de descrever e explicar
processos psicolgicos que aparecem nas emergncias; desenvolver, aplicar e
ensinar tcnicas psicolgicas para situaes de emergncia; selecionar pessoas
para integrar grupos de resgate e trabalhos de risco em geral; e capacitar
psicologicamente a comunidade para enfrentar emergncias (CARVALHO, 2009).
No Brasil, o primeiro registro do processo histrico de insero da psicologia
no estudo, pesquisa e interveno nas emergncias e nos desastres datado de
1987, com o acidente do csio-137, em Goinia, o maior acidente radioativo do pas.
Em 1992, a UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UnB Universidade
de Braslia e a UCG Universidade Catlica de Goinia, em conjunto com uma
equipe de psiclogos cubanos, que j havia atuado no Acidente Nuclear de
Chernobyl, realizaram atendimento aos atingidos pelo csio-137, adaptando o
mesmo programa utilizado em 1986 s necessidades da comunidade afetada.
Em So Paulo, em 1996, um desastre areo causou a morte de 99 pessoas,
entre passageiros, tripulantes e um morador das casas atingidas e, neste episdio,
um grupo de psiclogos atendeu familiares dos passageiros, funcionrios da
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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empresa area e moradores das ruas atingidas, a partir da experincia clnica j
obtida com pessoas enlutadas (Franco, 2005).
O atendimento se deu de maneira pontual, nos dias imediatos ao desastre, e
tambm com contornos clnicos tradicionais, ao longo de meses aps o mesmo para
as pessoas que apresentaram condies de risco para luto complicado (DOKA, 1996
apud FRANCO, 2005). A experincia diante desta atuao levou o grupo a
importantes reflexes sobre o atendimento a emergncias e gerou reformulaes e
desenvolvimentos tericos importantes para situaes futuras (FRANCO, 2003).
Segundo Franco (2005), a partir de 1998 no Brasil, formou-se um outro grupo
de psiclogos, especificamente com o objetivo de preparar-se para atuar em
situaes de emergncia, relacionadas a desastres, traumas e luto traumtico, que
fazia parte do LEL Laboratrio de Estudos em Luto da PUC-SP. A proposta deste
grupo era oferecer atendimento psicolgico visando a uma ao preventiva para
situaes de stress ps-traumtico e luto traumtico; desenvolver habilidades nos
profissionais envolvidos com essa atividade, de maneira a terem uma atuao
eficiente, com risco controlado para sua sade mental.
Em 2001, foi estabelecido em So Paulo, pelo 4 Estaes Instituto de
Psicologia, partindo do grupo formado pelo LEL em 1998, o Grupo IP
Intervenes Psicolgicas em Emergncias, com o propsito de oferecer cuidados
psicolgicos especializados a pessoas e comunidades vtimas de desastres,
acidentes e incidentes crticos geradores de stress, trauma e/ou luto. Esse grupo
tem como propsito apoiar as organizaes e comunidades atingidas por
emergncias e desastres, na sua capacidade de responder com prontido e
eficincia a essas situaes (site do 4 Estaes Instituto de Psicologia4).
4 http://www.4estacoes.com/nucleo_intervencoes.asp
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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No ano de 2006, realizou-se o I Seminrio Nacional de Psicologia das
Emergncias e dos Desastres, em Braslia, em uma parceria entre a Secretaria
Nacional de Defesa Civil e o Conselho Federal de Psicologia, discutindo-se vrias
questes sobre o desenvolvimento desta rea no Brasil. Neste mesmo momento,
aconteceu a 1 Reunio Internacional por uma Formao Especializada em
Psicologia das Emergncias e Desastres, procurando sistematizar elementos
curriculares para comporem a formao dos futuros profissionais que podero
colaborar com a Defesa Civil.
Entre os dias 18 e 20 de novembro de 2009, realizou-se, em So Paulo, o V
Seminrio Internacional de Defesa Civil DEFENSIL, onde houve na sesso de
psteres a apresentao sobre o Grupo IP, falando sobre atuao psicolgica em
emergncias e desastres.
5.2 Conceitualizao da psicologia das emergncias e desastres
Entendemos a psicologia das emergncias e desastres como um ramo da
psicologia que tem como objetivo estudar as reaes de indivduos e grupos
humanos no antes, durante e depois de uma situao de emergncia ou desastre,
assim como implementar estratgias de interveno psicossocial que visem
atenuao e preparao da populao, estudando como os seres humanos
respondem aos alarmes e como otimizar o aviso, preveno e reduo de respostas
inadequadas durante o impacto do evento e facilitando a posterior reabilitao e
reconstruo (LAMO, 2007).
A psicologia das emergncias e desastres interage com a psicologia clnica,
psicologia da sade, psicofisiologia e psiconeuroimunologia para compreender
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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melhor a curto, mdio e longo prazo o estresse traumtico. Interage com a
psicologia do desenvolvimento para compreender melhor as caractersticas de
desenvolvimento bio-psico-social de seres humanos e para identificar os grupos
mais vulnerveis ao impacto de crises situacionais. Interage com a psicologia social
para assumir a importncia das redes de apoio social, sua dinmica e sua
configurao e do papel que desempenham como estratgia de sobrevivncia em
situaes de crise. Ela tambm usa os conceitos relacionados distoro da
comunicao social como o rudo e seus efeitos sobre grupos humanos, e conceitos
relacionados com atitudes, motivao e comportamento do grupo. Usa auto-
conceitos ligados psicologia organizacional relacionados ao comportamento
organizacional, comunicao organizacional, motivao no trabalho, liderana,
trabalho em equipe, o clima de trabalho e trabalhar sob presso, esta aplicada
principalmente a todas as equipes de primeira resposta.
5.3 Particularidades da atuao
A interveno psicolgica em emergncia procura reduzir o stress agudo,
causado pelo impacto do trauma, por meio de: restaurar a dominncia do
funcionamento cognitivo sobre reaes emocionais; facilitar a restaurao do
funcionamento das instituies sociais e da comunidade; e facilitar o reconhecimento
cognitivo do que aconteceu. A interveno psicolgica em emergncia procura
tambm restaurar ou aumentar as capacidades adaptativas, por meio de: oferecer
oportunidades para as vtimas avaliarem e utilizarem apoio familiar ou da
comunidade; oferecer educao sobre expectativas futuras; e oferecer oportunidade
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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para os sobreviventes organizarem e interpretarem cognitivamente o evento
traumtico (FRANCO, 2005).
James e Gilliland (2001) fizeram uma importante reviso sobre as abordagens
utilizadas na compreenso e na atuao em situaes de crise e afirmam que
interveno em crise diferente de psicoterapia do luto e de psicoterapia focada no
problema, ressaltando a importncia de fatores sociais, psicolgicos, ambientais,
situacionais e de desenvolvimento que fazem com que um dado evento seja
percebido e vivenciado como uma crise. Recomendam que um trabalho de
interveno em crise, como o atendimento psicolgico em emergncias, deve
utilizar-se de uma abordagem focal, embora problemas concomitantes sejam
reconhecidos como importantes na dinmica da situao-problema, o objetivo
nestas situaes no a modificao de caractersticas peculiares da pessoa em
crise ou de seu padro de personalidade. Portanto, necessrio perceber a
configurao da situao de crise, sempre levando em considerao as condies
individuais, porque a interveno deve contemplar ambos os aspectos, o genrico e
o especfico, fazendo uso de tcnicas que considerem essa demanda
(HODGKINSON e STEWART, 1998). Os profissionais da sade mental precisam
deixar de lado os mtodos tradicionais, evitar o uso de rtulos da sade mental e
usar uma abordagem eficaz para intervir no desastre com sucesso.
Ainda segundo Hodgkinson e Stewart (1998), o trabalho de interveno em
crise deve considerar diferentes necessidades, especficas s fases de atendimento
como impacto, retrao ou recuo e perodo ps-traumtico. Tambm deve seguir as
orientao do grupo NOVA National Organization for Victims Assistance (Young,
1998) sobre a seqncia no atendimento a vtimas de desastres areos, ao
considerar que muitas dessas aes se sobrepem e no sempre possvel
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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estabelecer limites cronolgicos ou seqenciais rgidos diante das especificidades
do desastre. Nossa atuao como psiclogos, se apresenta, ento, no segundo
momento, denominado de interveno psicolgica em emergncia (interveno em
crise), antecedido do resgate fsico e seguido de psicoterapia ou aconselhamento
quando necessrio.
O psiclogo de emergncia e desastres, no desempenho do seu trabalho,
deve interagir com profissionais que se especializaram em emergncias e desastres,
como mdicos de emergncia, enfermeiros, assistentes sociais, professores,
jornalistas, socilogos, engenheiros, gelogos e membros dos socorristas (militares,
policiais, membros da Cruz Vermelha, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, entre
outros), para o qual ele deve ser capaz de se comunicar em uma lngua comum
partilhada por todos esses profissionais que esto ligados de uma forma ou de outra
em emergncias e desastres.
Como um novo campo em desenvolvimento, a psicologia das emergncias e
desastres abre portas de trabalho relacionadas rea de interesse Desta maneira,
os psiclogos que trabalham com emergncia podem desempenhar aes em
equipes de primeira resposta, como um psiclogo que integra a equipe participando
de seus programas de capacitao, elaborar programas de apoio psicolgico para
ajudar as operaes de retorno rotina de trabalho e de ajuda s famlias na ps-
emergncia ou desastre; atuar em emergncias hospitalares e em suas diversas
reas como triagem, recepo, observao, cuidados intensivos, cuidados
intermedirios, internao, com aplicao de tcnicas de interveno em crise e
primeiros auxlios psicolgicos, tanto para os pacientes como para os familiares
destes, assim como orient-los na obteno de ajuda complementar e assistncia
social. Pode ainda trabalhar com equipes de sade na preveno da sndrome de
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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Burnout e atuar como especialista na rea de preveno de acidentes no campo
organizacional e das foras armadas, desenvolvendo programas de sensibilizao e
motivao destinados mudana cognitivo-comportamental, a fim de incorporar os
princpios de segurana no seu trabalho dirio. Tambm possvel atuar como
consultor no setor de educao, em temas relacionadas com a Defesa Civil em
escolas, organizando treinamento para professores e alunos, orientando na
implementao de estratgias psicoeducacionais para o ensino da Defesa Civil, bem
como cuidados a crianas e adolescentes vtimas de emergncias e desastres; alm
de ser professor especialista em escolas de formao de paramdicos, bombeiros,
voluntrios da Cruz Vermelha e Defesa Civil, Bombeiros, bem como vrios
programas de treinamento e de entidades governamentais e no-governamentais.
A OMS (2009) atua junto aos pases membros e todas as organizaes
relacionadas que possam integrar medidas de preveno de desastre aos seus
planos de desenvolvimento, recomendando que tenham a capacidade para
gerenciar com eficincia as emergncias com o mximo de autoconfiana. A
capacidade mencionada neste contexto, resume 4 elementos importantes:
informao sobre o problema a ser resolvido; autoridade para agir; planos, recursos
e protocolos a serem aplicados e parcerias.
Para fortalecer as capacidades regionais, nacionais e internacionais para que
possam atuar em situaes de desastres e emergncias, a OMS (2009) identifica 5
objetivos operacionais importantes: promover legislao e estratgias; promover
planos e procedimentos para ao coordenada; fortalecer recursos humanos e
institucionais; promover programas para educao, conscincia e participao das
populaes e promover a coleta, anlise e disseminao de informao.
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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5.4 Habilidade profissionais
Segundo o Inter-Agency Standing Committee IASC (2007), todos os
trabalhadores desempenham um papel essencial na prestao de servios de sade
mental e de apoio psicossocial em contextos de crise como casos de emergncias e
desastres. Portanto, eles devem estar equipados com conhecimentos e aptides
necessrias. O treinamento deve preparar para fornecer as respostas consideradas
como prioridades para a avaliao das necessidades.
Embora o contedo da formao possa ter alguns componentes
semelhantes em diferentes tipos de emergncias, a maioria dos itens deve ser
alterado dependendo da cultura, do contexto, das necessidades e capacidades da
populao local e da situao e no pode ser transferido automaticamente de uma
situao de emergncia para outra. As decises sobre quem deve ser treinado na
modalidade e o contedo e a metodologia de aprendizagem vo variar de acordo
com condies de emergncia e as capacidades dos prprios trabalhadores. Se os
trabalhadores so mal educados e treinados ou h falta de habilidades e motivao
adequadas, pode haver danos severos para as populaes as quais tentar ajudar
(IASC, 2007).
No Brasil, o Grupo IP, de psiclogos com treinamento para atendimento a
situaes de luto e emergncia, enfatiza sua experincia a partir de diversos
acidentes areos, acidente rodovirio, acidente de construo e outros, ressaltando
sobre as consideraes da inexistncia de dois desastres iguais, o que leva,
necessariamente, flexibilidade na atuao, mesmo que seja pautada em um
protocolo (Franco, 2005).
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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Neste sentido, cabe ressaltar a importncia de se ter conhecimento profundo
das tcnicas abordadas. O profissional deve ter conscincia dos aspectos relevantes
de sua condio pessoal para este tipo de atividade, identificando suas
necessidades de descanso, alvio, at mesmo de afastamento da atividade, pois
um indivduo em risco (Franco, 2005).
O profissional que atua exposto a situaes de stress, como o que atende
vtimas de emergncias e desastres, apresenta tambm reaes que podem ser,
segundo Lewis (1994) e Hodgkinson e Stewart (1998): emocionais, fsicas e
cognitivas.
Dentre as habilidades profissionais necessrias para a atuao psicolgica
em emergncia, pode-se destacar a importncia do contato visual com a pessoa
atendida, o respeito e no julgamento diante da situao, o interesse genuno pelo
que o outro est trazendo, a flexibilidade para o trabalho em um setting diferente do
habitual e com situaes concomitantes tambm diferentes e conhecer os prprios
limites para que consiga julgar com clareza no que, at onde e quando pode intervir
e o que pode ser feito naquele momento.
5.5 Pensando sobre a ps-graduao para a atuao em emergncias e
desastres
A formao sugerida pelo IASC (2007), pode ser organizada atravs de
workshops e seminrios, formao de curta durao, seguido de um trabalho de
apoio e acompanhamento permanente. Os workshops devem ser orientados para a
ao e concentrarem-se nas competncias, conhecimentos bsicos e normas ticas
fundamentais e ainda orientaes necessrias para resposta a crises. Os seminrios
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A Psicologia das emergncias ou Psicologia dos desastres
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devem ser participativos, adaptados cultura local e contexto de aprendizagem e
utilizao de modelos nos quais os prprios profissionais participantes so os
formadores e formandos.
Pessoas que trabalham em situaes de emergncia ficam frequentemente
muitas horas sob presso e, por vezes com ameaas sua segurana. Muitos
profissionais tm um suporte organizacional inadequado, e muitas vezes relatam
acabar com uma situao de estresse importante. Alm disso, o contato com a
misria, o horror e o perigos a que so