MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL · 2017. 2. 22. · social, através do incentivo à reflexão do...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Marina Moscovici Mendes
SERVIÇO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE: uma nova
demanda para a profissão
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
São Paulo 2011
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Marina Moscovici Mendes
SERVIÇO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE: uma nova
demanda para a profissão
São Paulo 2011
Dissertação apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a
orientação da Profª. Dra. Maria Carmelita Yazbek.
BANCA EXAMINADORA
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À minha filha querida e amada Caroline Vitória,
que com sua delicadeza, meiguice e carinho é a
luz da minha caminhada.
AGRADECIMENTOS
Um agradecimento especial à minha querida orientadora Profª. Drª. MARIA
CARMELITA YAZBEK, por sua compreensão, carinho e dedicação nessa
importante caminhada intelectual.
Aos membros da Comissão Julgadora da banca de Qualificação, Profª. Drª.
MARIA LÚCIA CARVALHO DA SILVA e Profª. Drª MARIA LÚCIA MARTINELLI
por suas valiosas contribuições e observações na direção de um trabalho mais
completo e objetivo.
Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social
da Puc-SP e aos colegas de Mestrado por suas contribuições em sala de aula
e em diversos momentos extra-classe, fomentando diversas reflexões e
conhecimentos.
Às assistentes sociais do Banco Santander por fazerem parte desta pesquisa.
À disponibilidade e abertura com que me acolheram ao concederem as
entrevistas utilizadas para a contribuição desta. E à Instituição por servir de
campo empírico e permitir a publicação dos dados.
À minha filha Caroline Vitória, meu anjinho, por existir em minha vida.
À minha amiga e “irmã”, Dafne Carolina Roncon, um agradecimento especial
por sua amizade, companheirismo e dedicação, pois seu apoio foi fundamental
para a conclusão deste trabalho.
Aos meus pais Magdalena e Rubens, pelo incentivo e apoio que sempre deram
aos meus estudos, pela torcida, não só pela minha realização profissional, mas
por mim enquanto pessoa. Muito obrigada por tudo.
Aos meus irmãos Renan e Leandro, sempre presentes em minha vida,
apoiando as minhas decisões, mesmo que por vezes não concordem com elas.
À minha prima Flávia Manara Hernandes que, numa conversa informal, acabou
me trazendo a inspiração para a escolha do tema.
Ao meu querido e estimado amigo Luiz Flavio C. da Silva, por seu apoio,
compreensão e amizade inesgotáveis.
Aos meus familiares, amigos e conhecidos que de forma direta ou indireta me
apoiaram na concretização deste trabalho.
A todos os assistentes sociais que em sua prática profissional, caminham rumo
à transformação social.
Sustentabilidade: um trabalho pantagruélico
“Era uma vez um gigante sábio, chamado Gargântua, que
tinha um filho, Pantagruel.
Há quase 500 anos, quando os livros ainda eram objetos raros,
e o Brasil tinha sido recém-descoberto pelos portugueses, o
escritor francês Rabelais publicava as aventuras do gigante
Gargântua e de seu filho Pantagruel.
No capítulo 8 de Pantagruel, Gargântua, que está em um país
chamado Utopia, escreve uma carta a seu filho, que viajou para
estudar. Nessa carta, ele aconselha Pantagruel a se dedicar ao
estudo de várias coisas, para entender o mundo e seu tempo.
Para que nada lhe seja desconhecido.
São tantas as coisas que ele deve aprender que, até hoje, chama-
se de trabalho pantagruélico uma tarefa complicada e vasta.
E mais: o gigante Gargântua dizia a Pantagruel que não
bastava saber, não bastava receber e guardar as informações:
era preciso agir com consciência.
“Ciência sem consciência é a ruína da alma”, escreveu o gigante
a seu filho”.*
Esta dissertação tem um pouco esse espírito de um trabalho patagruélico, porque entender SUSTENTABILIDADE e torná-la possível requer conhecimentos muito variados.
Para tanto: requer sensibilidades múltiplas; abrir-se para a realidade em movimento e aceitar pensamentos diferentes, porque isso é diversidade, e diversidade tem um potencial criador.
* Autor desconhecido; extraído da obra: A vida que a gente quer depende do que a gente faz: propostas de sustentabilidade para o planeta. INSTITUTO ECOFUTURO. Ed.Pingo é Letra. 2007, p. xv.
RESUMO
MENDES, Marina M. Serviço Social e Sustentabilidade: uma nova demanda para a profissão. São Paulo, 2011. (Dissertação de Mestrado em Serviço Social. Área de Concentração: Serviço Social, Fundamentos e Prática Profissional) Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.
O desenvolvimento sustentável vem ganhando um destaque cada vez maior no cenário mundial. Esse conceito surge como expressão da tentativa de estabelecer mecanismos de controle frente aos problemas globais engendrados, principalmente pelo modo de produção capitalista. Um dos grandes méritos da sustentabilidade tem sido provocar análises e possibilidades apresentadas às diversas áreas do conhecimento. Assim, este trabalho procura mostrar como o serviço social vem se posicionando em relação ao tema, que nos parece uma demanda que vem emergindo desde meados do século XX - mais especificamente - devido à aceleração dos impactos gerados pelo desenvolvimento industrial e econômico. Como uma realidade posta a todas as profissões, nos parece no mínimo inadequado que o assistente social, como um profissional comprometido com a transformação e a justiça social, dotado de uma capacitação teórico-metodológica e ético-política para intervir na realidade em que atua através de mediações construídas junto aos sujeitos que atende em seu cotidiano profissional; não ocupe seu lugar aliando-se àqueles que procuram estabelecer parcerias, visando à construção de conhecimentos e práticas concretas para uma sociedade sustentável. Nesse sentido, o objeto de estudo dessa dissertação foi investigar a aproximação que o Serviço Social tem com a temática da sustentabilidade, com o objetivo geral de verificar quais as contribuições a profissão tem trazido frente a essa questão, especialmente no que tange ao pilar social da sustentabilidade. Os objetivos específicos foram analisar o entendimento que os profissionais têm acerca da profissão, bem como seu papel profissional e através desse olhar de mundo; como estão construindo mediações frente a esta nova demanda em seu cotidiano de trabalho. Por tratar-se de um pioneiro no tema na sustentabilidade no cenário brasileiro, foi escolhido o Banco Santander como campo empírico da pesquisa. Foram analisados seu discurso, suas práticas e a coerência deles sob a ótica dos sujeitos entrevistados. Os sujeitos desta pesquisa foram as três assistentes sociais do Banco, que responderam a uma entrevista semi-estruturada, no próprio local de trabalho, com o uso de gravador para garantir a confidencialidade das informações prestadas; onde foi constatado que a Instituição demanda a expertise desse profissional no que tange às ações ligadas ao pilar social, porém, evidenciou-se que sob a visão dos sujeitos da pesquisa, essa questão não aparece de maneira tão clara, o que sinaliza lacunas na apropriação teórica e prática no exercício profissional sobre a nova demanda em questão.
Palavras-chave: Serviço Social; Desenvolvimento Sustentável;
Responsabilidade Social Empresarial; Sustentabilidade.
ABSTRACT
Sustainable development has become more important in today’s world stages. This concept arises as an expression of the attempt to establish a mechanism of control in the face of global problems caused mainly by the capitalist mode of production. One of the great merits of sustainability has been, creating analysis and possibilities for different areas of knowledge. This study seeks to demonstrate how social work is positioning itself in relation to the subject, which seems a demand that has emerged since the middle of twentieth century - more specifically - due to the acceleration of the impacts generated by industrial and economic development. How to put into reality all the professions, at least it seems inappropriate for the social worker, as a professional committed to transformation of social justice, gifted with the theory and methodological training and political ethics, to intervene in the reality in which it operates through mediations built next to the subject that meets in his daily work, not taking his place allying himself with those who seek to establish involvement, in order to build practical knowledge and practices for a sustainable society. In this sense, the target of this study was to investigate the approach that Social Service has with the theme of sustainability, with the broad objective to examine which contributions the profession has brought forward to this question, especially in regards to the social support of sustainability. The specific objectives were to analyze the understanding that professionals have about the subject, and their specialized role and view of the world, how they are building methods to confront this new demand in their daily work. For being a pioneer on the topic of sustainability in the Brazilian scenario, we choose Banco Santander as the experimental field of research. We analyzed their discourse, their practices, their consistency and the view of people interviewed. The subjects were the Bank's three social workers who responded to a semi-structured interview, with a tape recorder to ensure the confidentiality of information that was provided, responding to questions in the workplace. It was found that the institution requires the expertise of these professionals in regards to the actions related to the social support, but it was evident that from the perspective of the researched subjects, this question does not appear so clearly, which indicates a gap in the handling between theory and practice, in the professional exercise of the new demand in question.
Keywords: Social Service; Sustainable Development; Corporate Social
Responsibility; Sustainability.
LISTA DE SIGLAS
ASA - Articulação para o Semi-Árido
BRICs - Bloco de países em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia,
Índia e China.
BPC - Benefício de Prestação Continuada
CDB - Convenção sobre Diversidade Biológica
CDP - Carbon Disclosure Project
CEERT- Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades
CERs – Certified Emission Reductions (Reduções Certificadas de Emissão)
CMMAD – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
CNUMAD - Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento
CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente
ECA - Estatuto da Criança e Adolescente
GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
GRI – Global Reporting Initiative
IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática
IR – Imposto de Renda
ISO – International Organizatiom for Standardization
LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MPE’s - Micro e Pequenas Empresas
MOMA - Museu de Arte Moderna
ONG – Organizações não governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
PAES – Plano de Apoio à Educação Superior
PAPE - Programa de Pessoal Especializado
PAVS - Projeto Ambientes Verdes Saudáveis
PEB – Projeto Escola Brasil
PIB – Produto Interno Bruto
RSE – Responsabilidade Social Empresarial
SLTI – Secretaria de Logística e Tecnologia de Informação
UNCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima
UNCHE - United Nations Conference on the Human Environment (Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano)
UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization (Organização das Nações Unidas para a educação, ciência e
cultura)
UNISOL - Universidade Solidária
WBCSD - World Business Council for Sustainable Development
WRI - World Resources Institute
SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................14
1. Sustentabilidade........................................................................................20
1.1 Histórico e Conceituação............................................................................20
1.2 Documentos e Conferências.......................................................................28
1.3 A Governança na Conjuntura Nacional......................................................42
1.4 Responsabilidade Social Empresarial........................................................48
2. Descrição do campo empírico..................................................................61
2.1 O Grupo Santander Brasil e a sustentabilidade como norte......................61
2.3 Os projetos e a concretização...................................................................64
3. A pesquisa..................................................................................................79
3.1 Caracterização da pesquisa e procedimento metodológico.....................79
3.2 Apresentação dos sujeitos da pesquisa....................................................81
3.3 Apresentação dos dados e análise dos resultados...................................83
3.3.1 Concepção dos sujeitos acerca do conceito de sustentabilidade...........84
3.3.2 A concepção de profissão dos sujeitos e seu entendimento sobre o papel profissional do assistente social frente à temática da sustentabilidade............88
3.3.3 As ações e estrutura da empresa no que tange à sustentabilidade, sob a ótica dos sujeitos entrevistados.......................................................................96
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................109
REFERÊNCIAS...............................................................................................113
APÊNDICE......................................................................................................119
ANEXOS.........................................................................................................139
14
INTRODUÇÃO
O conceito de desenvolvimento sustentável que atualmente é também
entendido como sustentabilidade surgiu nos anos 80, a partir da busca de
soluções internacionais para a exaustão deflagrada pelos efeitos da
globalização mundial. A degradação provocada pelos efeitos nocivos do
capitalismo atingiu diversas dimensões de esgotamento nos âmbitos
econômicos, ambientais e sociais de maneira integrada.
Diante desse contexto, esta dissertação tem como principal objetivo
estudar a temática da Sustentabilidade, verificando a aproximação existente do
Serviço Social para com ela. Visto ser um tema que tem gerado uma demanda
global e interdisciplinar de trabalho, procura-se entender as formas com que a
profissão vem respondendo a esta nova demanda urgente e emergente. Há
uma busca também em contribuir com a formação profissional do assistente
social, através do incentivo à reflexão do profissional de Serviço Social e da
academia sobre esta nova demanda de trabalho, com base na concepção de
que o maior objetivo do exercício profissional é a transformação social através
do comprometimento em fomentar a autonomia de seus usuários e a efetivação
dos direitos, conforme expresso na Constituição Federal de 1988.
A escolha do tema Serviço Social e Sustentabilidade: uma nova
demanda para a profissão surge da percepção de que o processo de
globalização acelerou de forma significativa e alarmante os problemas
ambientais, sociais e econômicos previamente existentes. Porém o advento da
globalização maximizou e amplificou este processo em escala mundial,
15
causando profundas transformações nas relações entre Estado, sociedade e
mercado. Decorrentes do crescimento econômico acelerado, os problemas
sociais - no que tange às expressões da questão social - foram acirrados,
rogando por soluções e ações imediatas por parte de toda a sociedade.
Valorizar o protagonismo do assistente social no processo de
enfrentamento às questões postas junto aos profissionais de outras áreas,
numa relação interdisciplinar é fundamental; uma vez, que este profissional
possui uma formação generalista e ampla; e em uma relação dialética com a
realidade, busca apreendê-la em sua totalidade.
Por tratar-se de uma profissão de caráter histórico e de significado social
no processo de reprodução das relações sociais na sociedade capitalista,
conforme afirmam IAMAMOTO e CARVALHO (1995), esta profissão está
presente no âmbito das respostas que a sociedade e o Estado constroem frente
às expressões da questão social1 e nas dimensões que constituem a
sociabilidade humana. Assim, toda a reprodução de valores, práticas culturais e
políticas, modo de vida e cotidiano perfazem as idéias de uma sociedade.
O trabalho do assistente social possui dimensões objetivas e subjetivas,
e se desenvolve no contexto de relações entre classes sociais, o que confere à
prática desta profissão operar em meio a interesses diversos. Para tanto, este
profissional constrói sua intervenção, atribui-lhe significado, confere-lhe
1 “A Questão Social é expressão das desigualdades sociais constitutivas do capitalismo. Suas diversas manifestações são indissociáveis das relações entre as classes que estruturam esse sistema e nesse sentido a Questão Social se expressa também na resistência e na disputa política”, conf. YAZBEK, 1995.
16
finalidades e uma direção social, baseado na visão e análise críticas das
dimensões históricas, econômicas, sociais, políticas, culturais, dentre outras no
seu ―fazer profissional‖.
Entretanto, não é possível desprezar o fato de que as origens da
profissão são oriundas do sistema capitalista, que por sua vez demanda a
criação desta profissão objetivando que ela sirva aos ideários capitalistas
promovendo através de sua intervenção uma regulação social com base nestes
ideais. A gênese da profissão possui cunho conservador e católico, muito
ligados ao pensamento social da Igreja Católica.
Desde seu início a profissão atendia às classes menos favorecidas,
buscando suprir suas necessidades básicas e por isso suas ações eram muito
vistas como de caráter assistencialista e filantrópico, baseadas na caridade e na
benesse. Essas ações conferiram à identidade profissional uma imagem do
profissional bonzinho, que ajuda aos pobres e justamente por ter suas ações
essenciais voltadas à população mais excluída e vulnerável, é vista como uma
profissão subalterna, ainda nos dias de hoje. Pois nesse ínterim, houve um
esforço muito grande por parte dos assistentes sociais de romper com esse
paradigma e instrumentalizar suas ações a partir da construção de um projeto
ético-político profissional, tendo como âncora a teoria do pensamento crítico à
luz dos documentos produzidos por Marx e Engels, posteriormente debatidos e
aprofundados pelas ciências sociais e especialmente pelos intelectuais da
profissão.
17
Podemos citar que o grande marco desse processo de tentativa de
rompimento com o antigo paradigma da profissão foi o chamado Movimento de
Reconceituação do Serviço Social, iniciado aproximadamente na década de
1960, como nos relembra ATAURI (2009) em sua obra.
Debatido em sua obra por IAMAMOTO (1992), este movimento ocorreu
de forma heterogênea dentro de um determinado nível de consciência de classe
na profissão, em diferentes países da America Latina, em especial no Brasil,
Argentina, Uruguai e Chile, o que propiciou posteriormente a construção do
projeto profissional, elaborado coletivamente pela categoria profissional.
Há, portanto, um grande esforço cientifico dos assistentes sociais na
produção de sua própria bibliografia, buscando sempre romper com o
tradicionalismo oriundo à gênese da profissão, no sentido de construir
referências que fundamentem as ações da profissão baseadas em referenciais
teórico-metodológicos. Pode-se, dentre as diversas obras produzidas, elencar o
Código de Ética Profissional como principal instrumento utilizado pelos
assistentes sociais para consolidar o projeto ético-político profissional.
Avançando nesta direção, houve também a criação da Lei Orgânica de
Assistência Social2 (LOAS) em 1993, que tem o Benefício de Prestação
Continuada (BPC) como principal forma de consolidação de direitos sociais,
pois garante o repasse do valor de um salário mínimo mensal às pessoas que
não têm condições de prover a própria subsistência, ou possuam renda per
2 LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social . Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993.
18
capta abaixo de um quarto de salário, conforme o salário mínimo vigente. É
portanto, no contexto do sistema capitalista, amplificado pela globalização que o
Serviço Social está inserido.
Especialmente após os anos 80, surge o conceito de desenvolvimento
sustentável; tema que está cada vez mais presente, devido ao momento
histórico que estamos vivendo. Desde os anos 60 alguns movimentos
ambientalistas vêm apontando que o modelo de produção mundial adotado é
insustentável, pois extrai da natureza recursos em uma velocidade maior do
que ela pode suportar não tendo tempo hábil para se regenerar.
O que se tem percebido é que há muito para ser pesquisado e realizado
na busca da criação de soluções para esta problemática, em todas as áreas.
Entretanto, em nossa área há ainda uma considerável escassez de pesquisa
sobre o referido tema. É de extrema importância o Serviço Social estudar,
pesquisar, discutir e refletir sobre o tema em questão. Acredita-se que este
trabalho seja de grande utilidade para incitar reflexões acerca da complexidade
do conceito de desenvolvimento sustentável e de como se pode intervir
criticamente na realidade frente a esta nova demanda; verificar as
possibilidades de contribuir intelectualmente através de pesquisas, estudos e
ações para a transformação de valores e costumes, com a finalidade de criar
uma nova consciência de mundo, de consumo e um novo paradigma cultural,
no qual a grande dificuldade colocada são as reais condições de sobrevivência
da vida no planeta.
19
Para entender melhor a aproximação do Serviço Social e a
sustentabilidade se dá, a dissertação foi estruturada em três capítulos,
resgatando inicialmente o movimento histórico da realidade; apreendendo os
marcos e conferências internacionais que permeiam a construção sobre os
conceitos de desenvolvimento sustentável, bem como seus desafios e
possibilidades atuais. Ainda neste capítulo, aborda-se brevemente a
governança na conjuntura nacional acerca do desenvolvimento sustentável.
No segundo capítulo, descreve-se o campo empírico, local onde a
pesquisa foi realizada: o Banco Santander, por seu pioneirismo no trato da
temática no cenário brasileiro, iniciado pelo Banco Real antes da incorporação
pelo Grupo Santander.
A metodologia utilizada para a realização deste trabalho está descrita no
terceiro capítulo, seguida da pesquisa realizada e análise dos dados, bem como
a apresentação e discussão dos resultados. A finalização do trabalho é
apresentada nas considerações finais.
20
1.Sustentabilidade
1.1 Histórico e Conceituação
Os conceitos de sustentabilidade3, bem como pensar soluções para
conter a exaustão total do planeta e de seus habitantes se fizeram necessários
após séculos de exploração inconseqüente dos recursos naturais,
acompanhando a crescente e acelerada ação do sistema capitalista.
Sustentabilidade talvez possa ser compreendida como a capacidade de
manter uma característica ou condição de um processo ou de um sistema,
permitindo a sua permanência, em certo nível, por um determinado prazo. Em
anos recentes, o conceito tornou-se um princípio, segundo o qual o uso dos
recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes não pode
comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras, o que tornou
necessária a vinculação da sustentabilidade no longo prazo.
Retomada a produção industrial, no pós Segunda Guerra Mundial e
intensificada ao término da Guerra Fria, com a vitória do capitalismo sobre o
comunismo, a globalização, junto à tecnologia da informatização e ao uso de
campanhas publicitárias - criadoras de necessidades e desejos baseada no
status - expande ainda mais suas possibilidades de ampliar o mercado e o
consumismo indiscriminado em escala mundial. Surgiu a crença de
possibilidade de progresso ilimitado. Assim, como comenta JOSÉ ELI DA
VEIGA (2005, p.17) desenvolvimento era sinônimo de crescimento econômico e
3 De acordo com o dicionário Aurélio, o termo "sustentável", provém do latim sustentare (sustentar;
defender; favorecer, apoiar; conservar, cuidar).
21
o principal indicador para medi-lo era o PIB – Produto Interno Bruto - porém o
PIB apenas consegue medir o desenvolvimento econômico.
Segundo MARX (1983, p. 149), o trabalho é um processo entre homem e
natureza e essa relação é sempre dialética, independente do tipo de sociedade
em que acontece. “(...) põe em movimento as forças naturais pertencentes a
sua corporeidade, braços e pernas, cabeça e mãos, para apropriar-se da
substância natural em uma forma utilizável para sua própria vida. Na medida
em que o homem, mediante este movimento, atua sobre a natureza exterior a
ele e transforma, modifica ao mesmo tempo a sua própria natureza.‖
Apesar dessa dialética se dar em qualquer tipo de sociedade, é sob a
ótica capitalista que as apropriações dos recursos naturais e da força do
trabalho (através da mais-valia)4 se faz em função da produção de excedentes,
geração de lucro e acúmulo de riqueza.
Liderados pelos Estados Unidos, com o apoio de países da Europa, os
chamados ―países de Terceiro Mundo‖ entram na corrida pelo desenvolvimento.
―Esse modelo de desenvolvimento, é criticado pelos efeitos perversos que
promoveu‖, como afirmam SCOTTO, CARVALHO E GUIMARÃES (2009, p.18),
pois como se sabe, este é um modelo de acumulação e concentração de renda
que privilegia apenas uma minoria da população, intensificando a desigualdade
social, sem dizer da degradação do meio ambiente e todos os seus
desdobramentos, como a comunidade planetária vivencia no momento, ao
4 Na sociedade capitalista a mais-valia é produzida pelos trabalhadores assalariados e apropriada pelos
capitalistas. (MANDEL, 1982, p.413)
22
exemplo de: efeito estufa, aquecimento global, derretimento das geleiras,
tsunamis, enchentes, furacões, erosão de solos, elevado nível de estresse e
doenças crônicas e psíquicas.
Nessa ―sociedade do desperdício‖, como assim refere DOWBOR (2008),
a desigualdade que impede, exclui e marginaliza as pessoas, mantém seus
possíveis talentos, capacidades, habilidades e conhecimentos inexpressivos, ou
seja, a atitude excludente da sociedade capitalista gera desperdício em
diversos níveis e âmbitos para todos, não só para o excluído.
A constatação da falência do modo de produção capitalista e a crescente
percepção da crise ambiental levam a propostas que buscam a superação
desse modelo e a reformulação da lógica que o gerou, como já eram apontadas
por movimentos ambientalistas antes dos anos 80. Estes já vinham discutindo
esta questão, porém somente quando o mundo se viu frente a sérios problemas
deflagrados pelas mudanças climáticas e o esgotamento dos recursos naturais,
é que realmente as discussões acerca do desenvolvimento sustentável vieram
à tona e parecem estar adentrando as agendas políticas.
A apropriação dos recursos naturais, na lógica capitalista, apenas
considera a sua produção ilimitada, desconsiderando a capacidade da
renovação da natureza dentro de um determinado período. Como
consequência, tem-se um cenário ambiental de destruição em escala, ameaça
à biodiversidade e catástrofes naturais que correspondem à falta de equilíbrio
do planeta.
23
Os danos vão além do ambiental, permeando o campo social por meio
da desigualdade, promovendo ao assalariado condições insalubres de vida; e
no campo econômico, com as diversas crises financeiras. Contudo, é para a
crise ambiental que a atenção mundial se voltou; e alerta para que medidas
alternativas sejam pensadas e executadas com o intuito de retroceder a
destruição do planeta, com a redução, reutilização, reciclagem, reposição,
regeneração ou reconstrução dele.
Segundo Helena Ribeiro Sobral5, o fato de os problemas ambientais não
respeitarem fronteiras políticas e estarem presentes em todo o globo terrestre
fez com que os cientistas que trabalham com o meio ambiente tivessem um
certo pioneirismo na abordagem do global. A autora diz ainda que “...a poluição
dos oceanos, a chuva ácida, as alterações climáticas, os resíduos perigosos, a
perda da biodiversidade, etc. são problemas desencadeados por ações
localizadas em pontos determinados do globo terrestre, cujas conseqüências
nefastas espalham-se domesticamente e no ultramar.‖
A temática da sustentabilidade surge como tentativa de salvação do
planeta, de seus habitantes e do próprio sistema econômico estabelecido, o que
deixa explícito que não busca romper com a lógica capitalista, embora por
vezes o conceito pareça ser inovador, ele propõe um novo paradigma para a
sobrevivência do modelo atual.
5 A referência à autora está na obra: organizada por DOWBOR, IANNI e RESENDE (1997, p.140).
24
Entre as diversas crises ocasionadas, a falta de acesso a água é um
fator que atinge diretamente o desenvolvimento socioambiental. ―a sua
ausência ou contaminação, leva à redução dos espaços de vida e ocasiona,
além de imensos custos humanos, uma perda global de produtividade social‖
como afirma DOWBOR (2003, p.44).
As populações mais pobres são as que sofrem mais com os impactos da
falta de água, em sua saúde e vulnerabilidades a crises de todos os tipos, além
de afetar o estado do meio ambiente e a probabilidade de desastres ambientais.
Kofi Annan, secretário-geral da ONU, à época, afirmou no Relatório do
Milênio (2002) que ―nenhuma medida poderia contribuir mais para reduzir a
incidência de doenças e salvar vidas no mundo em desenvolvimento do que
fornecer água potável e saneamento adequado a todos.‖
A gestão da água deve ser trabalhada em conjunto nos âmbitos políticos,
sociais e econômicos, já que as possibilidades de mudança tanto na qualidade,
quanto na quantidade atingem diretamente a todos os pilares da
sustentabilidade. “(...) não se alcançarão mudanças no domínio da gestão das
águas tratando a questão como sendo de âmbito técnico, apenas da
engenharia de águas.” É o que afirma Stela Goldenstein e Zulmara Salvador6
6 Artigo: Sustentabilidade da Gestão da Água e Desenvolvimento Sustentável, p.89 do livro organizado por Ladislau Dowbor e Renato Arnaldo Tagnin. Administrando a água como se fosse importante. Senac, 2005.
25
A escassez da água gera conflitos geopolíticos em sua disputa; e no
abastecimento de diversos setores como a geração de energia, agricultura,
indústria e população.
Em seu livro, Plano B 4.0: Mobilização para Salvar a Civilização, Lester
Brown aponta as dificuldades para alimentar toda a população, enquanto
fazendeiros enfrentam muitas tendências difíceis. As demandas dificultosas,
colocadas pelo autor, que intensificaram o consumo de grãos são: o
crescimento da população, o aumento do consumo de proteína animal baseada
em grãos e, mais recentemente, o forte uso de grãos para abastecer
automóveis. Por outro lado, a erosão dos solos, o esvaziamento de aqüíferos, a
insuficiência dos recursos naturais, as temperaturas instáveis, a transferência
de água de irrigação para as cidades também dificultam a produção agrícola.
De acordo com o PROJETO VISÃO 20507, em 2050, estaremos com um
contingente populacional mundial de cerca de 9 bilhões de pessoas. O que está
chamando a atenção de muitos especialistas e pesquisadores em função da
projeção de um cenário que pode ser catastrófico se baseado nos dados
estatísticos já existentes, como menciona BROWN, ―a maneira tradicional de
agir, o „business as usual‟, começa a soar como o fim do mundo‖. Mencionando
um trecho trazido num artigo publicado na Newsweek sobre clima e energia.
Para ele, a ―bolha da vez‖, ou ―elo fraco‖, como o diz, talvez seja a garantia de
alimentos para a população mundial, assim como foi em diversas civilizações
7 O Projeto Visão 2050 resulta de um esforço de colaboração. Foi gerido por quatro empresas co-
promotoras e o seu conteúdo foi desenvolvido por 29 empresas através de um trabalho em parceria, com
centenas de representantes empresariais, governamentais e da sociedade civil, com parceiros regionais e
especialistas. O documento constitui uma base para a interação com outras empresas, com a sociedade
civil e com os governos sobre como concretizar um futuro sustentável, divulgado em fevereiro de 2010.
26
anteriores. Ele afirma que ―... estamos entrando em uma nova era alimentar,
caracterizada por preços mais altos dos alimentos, número rapidamente
crescente de pessoas famintas e uma intensa competição por recursos de terra
e água...”. Como resultado da persistente alta dos preços dos alimentos, a fome
no mundo está aumentando.
Outro fator extremamente agravante é a emissão de gases poluentes e
sua acumulação na atmosfera. Como uma das conseqüências, temos o ―efeito
estufa‖, que por sua vez contribui para o aumento da temperatura da Terra.
Com o aquecimento global, as geleiras derretem e consequentemente aumenta
o nível do mar e suas características são alteradas, ocorrendo, dessa forma,
diversos efeitos em cadeia. Entre os gases de efeito estufa, o CO2 corresponde
a 63% da tendência recente de aquecimento; o metano, 18%, e óxido nítrico,
6%, com diversos gases incluídos nos 13% restantes. O dióxido de carbono
deriva, na maior parte, da geração de eletricidade, aquecimento, transporte e
indústria. As emissões de metano e óxido nítrico advêm, em grande parte, da
agricultura – o metano, dos arrozais e do gado, e o óxido nítrico, de fertilizantes
de hidrogênio, segundo levantamentos apresentados por Lester Brown, na obra
já referida.
A baixa oferta e o aumento dos preços dos combustíveis fósseis, além da
preocupação com o futuro do carvão, devido à mudanças no clima, faz emergir
uma nova economia energética, através da energia eólica, solar e geotérmica.
27
Algumas outras medidas para a implantação de um programa
minimamente adequado de desenvolvimento sustentável são: o uso de novos
materiais em construções, a reestruturação da distribuição de zonas
residenciais e industriais, a reciclagem de materiais reaproveitáveis, consumo
racional de água e de alimentos, a redução do uso de produtos químicos
prejudiciais à saúde na produção de alimentos e a participação da sociedade
individual e coletivamente organizada.
As medidas e estratégias a serem adotadas mundialmente para tornar as
relações em todos os âmbitos mais sustentáveis são diversas, indo desde
pequenas mudanças nos hábitos individuais e coletivos até ações que
demandam maior esforço, organização e competências específicas. O
desenvolvimento sustentável busca conciliar o desenvolvimento econômico com
a preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo.
Em âmbito internacional, as metas propostas são: a adoção da estratégia
de desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento
(órgãos e instituições internacionais de financiamento), proteção dos
ecossistemas supra-nacionais como a Antarctica, oceanos, etc., pela
comunidade internacional, o banimento das guerras e a implantação de um
programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações
Unidas (ONU).
O conceito de desenvolvimento sustentável ou sustentabilidade ganha
força a partir de uma nova forma de olhar e reformular a noção de
28
desenvolvimento, buscando incorporar à ideia de desenvolvimento as
dimensões ambientais e sociais, que é mais comumente chamada de triple
botton line8.
Para SACHS (2005) desenvolvimento sustentável é aquele socialmente
includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado.
Contudo é possível observar que o princípio da sustentabilidade pode ser
aplicado as mais diversas relações, em todos os níveis, âmbitos e locais.
Alguns estudiosos, como SACHS já falam em um quarto tripé, que inclui
também o âmbito cultural, dentre outros. Como se pode notar, ainda é um
conceito em construção.
1.2 Documentos e Conferências
Em 1971, a ONU organizou em Founex, na Suíça, um seminário
internacional sobre o desenvolvimento e o meio ambiente, preparando a
Conferência de Estocolmo que se realizou em 1972. Foi nesse ano também que
pela primeira vez um documento acerca de questões ambientais e crescimento
foram publicados. Organizado por Dana Meadows, o intitulado ―Os limites do
crescimento‖ foi publicado pelo Clube de Roma9 e tornou-se o livro sobre meio
8 Criado por John Elkington, o conceito Triple Botton Line define o tripé que sustenta os conceitos básicos da sustentabilidade: Econômico, Social e Ecológico ou ambiental. Ele é o autor de "Canibais com Garfo e Faca" (Cannibals with forks), publicado originalmente na Inglaterra em 2000, e no Brasil em 2001, pela Makron Books Ltda. O livro é dedicado ao estudo conceitual e prático da sustentabilidade e de suas relações com o mundo corporativo.
9 O Clube de Roma é um grupo de pessoas ilustres que se reunem para debater um vasto conjunto de assuntos relacionados a política, economia internacional e, sobretudo, ao meio ambiente e o
29
ambiente mais vendido da história, com trinta milhões de exemplares vendidos
em trinta idiomas. Esse documento deu início à discussão da degradação
ambiental e suas catastróficas conseqüências em nível planetário, originando
os primeiros estudos com a preocupação de diminuir os danos gerados ao meio
ambiente.
Na Conferência de Estocolmo, o conceito começou a ser delineado na
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (United Nations
Conference on the Human Environment - UNCHE), realizada de 5 a 16 de
junho de 1972, e foi a primeira grande reunião internacional para discutir as
atividades humanas em relação ao meio ambiente. A Conferência de Estocolmo
lançou as bases das ações ambientais em nível internacional, chamando a
atenção especialmente para questões relacionadas com a degradação
ambiental e a poluição que não se limita às fronteiras políticas, mas afeta
países, regiões e povos, localizados muito além do seu ponto de origem. A
Declaração de Estocolmo define princípios de preservação e melhoria do
ambiente natural, destacando a necessidade de apoio financeiro e assistência
técnica a comunidades e países mais pobres. Embora a expressão
"desenvolvimento sustentável" ainda não fosse usada, a declaração, no seu
item 6, já abordava a necessidade imperativa de "defender e melhorar o
ambiente humano para as atuais e futuras gerações" - um objetivo a ser
alcançado juntamente com a paz e o desenvolvimento econômico e social.
desenvolvimento sustentável. Foi fundado em 1968 por Aurelio Peccei, industrial e académico italiano e Alexander King, cientista escocês.
30
Em 1.977, a UNESCO definiu educação ambiental, de acordo com a
Conferência Mundial do Meio Ambiente:
“Educação Ambiental é um processo permanente, no qual os
indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio
ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades,
experiências e determinação que os tornam aptos a seguir –
individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais
presentes e futuros”.
De acordo com (ATAURI, 2009 p.79) em 1.981 o governo brasileiro
estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente, na Lei 6.938, na qual definiu
meio ambiente como sendo um conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas e ―tem por objetivo a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no
País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”10.
Em 1983 o conceito de sustentabilidade entrou em cena, em um relatório
construído pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento,
criada pela ONU. Esse documento ficou conhecido como Relatório Brundtland,
nome da então primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. A
10 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm
31
comissão reuniu-se pela primeira vez em outubro de 1984 e publicou o relatório
900 dias depois, em abril de 1987.
O Relatório Brundthland definiu a sustentabilidade como um
“desenvolvimento capaz de garantir as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também às suas‖
(CMMAD, 1988:9). São apontadas diversas preocupações e medidas que
devem ser tomadas por todos os países para promover o desenvolvimento
sustentável, uma vez que o modelo econômico atual de exploração da natureza
e consumo está tornando-se insustentável. Demonstra ainda, a preocupação
com a escassez dos recursos naturais, que ao contrário do que se acreditava
antigamente, são finitos.
Apesar de não ser unânime, pode-se considerar que o conceito mais
aceito e difundido no mundo atualmente, ainda é o apresentado no relatório
Brundtland11, também intitulado “Our common future”, ou ―Nosso Futuro
Comum‖.
Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável, é
preciso que seja: ecologicamente correto; economicamente viável; socialmente
justo; culturalmente aceito.
O relatório Bruntland chama a atenção basicamente para a garantia de
recursos básicos como água, alimentos e energia em longo prazo, a
11 Relatório construído em 1.987, mais conhecido como “Nosso Futuro Comum”, durante a reunião da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1.983 pela Assembléia Geral da O.N.U, o documento encontra-se na íntegra nos anexos deste trabalho.
32
preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, além do desenvolvimento
de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis. Fala também do
aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em
tecnologias ecologicamente adaptadas, controle da urbanização desordenada e
integração entre campo e cidades menores e atendimento das necessidades
básicas como saúde, escola e moradia.
A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD), informalmente conhecida como a Cúpula da
Terra, realizou no Rio de Janeiro em 1.992, a Rio-92 ou Eco-92. Este evento
reuniu 175 países e mostrou as possibilidades de compreensão e entendimento
entre países. Se discutiu também nesse encontro a questão das mudanças
climáticas, a perda da biodiversidade e o desmatamento. Um dos principais
resultados da Conferência foi a Agenda 21.
Entre os vinte anos que separam a Conferência de Estocolmo e a Rio-92,
houve um considerável avanço intelectual, científicos e tecnológico nas
pesquisas, como relatado por Ignacy Sachs (DOWBOR, TAGNIN,orgs., 2005),
além de avanços institucionais e legislativos nas negociações internacionais
sobre o meio ambiente planetário. O Relatório Bruntland preparou a Cúpula da
Terra para desenvolver práticas a partir de todo o conhecimento adquirido ao
longo dessas duas décadas. Foi com esse objetivo que se criou a Agenda 21,
com diversas medidas de combate, fiscalização, regulamentações, incentivo a
pesquisas, campanhas e educação técnica e unversitária diretamente
envolvidas com a questão do meio ambiente. No entanto, a expectativa inicial
33
criada, de se passar da teoria para a prática, não foi alcançada, de acordo com
Ignacy Sachs, ―...mais uma vez subestimamos o dinamismo conservador dos
interesses estabelecidos e os efeitos danosos do pensamento neoliberal.‖ E
conclui que para que efetivamente seja atingida a expectativa sobre a Agenda
21 seria necessário um plano de ação concreto que estabelecesse metas,
recursos e prazos.
A Agenda 21 estabeleceu a importância de cada país a se comprometer
a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual todos os setores da
sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas sócio-
ambientais. Cada país desenvolve a sua Agenda 21. No Brasil as discussões
são coordenadas pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável
(CPDS) e da Agenda 21 Nacional. Ela constitui um poderoso instrumento de
reconversão da sociedade industrial rumo a um novo paradigma, que exige a
reinterpretação do conceito de progresso, entre o todo e as partes,
promovendo a qualidade, não apenas a quantidade do crescimento. Durante a
Rio-92, foi assinada a Convenção Sobre Diversidade Biológica (CDB). Ela
estabelece normas e princípios que devem reger o uso e a proteção da
diversidade biológica em cada país signatário. Regras são popostas para
assegurar a conservação da biodiversidade, o seu uso sustentável e a justa
repartição dos benefícios provenientes do uso econômico dos recursos
genéticos. Já foi assinada por 175 países durante a Eco-92, dos quais 168 a
ratificaram, incluindo o Brasil (Decreto Nº 2.519 de 16 de março de 1998).
34
―As ações prioritárias da Agenda 21 brasileira são os programas de inclusão
social (com o acesso de toda a população à educação, saúde e distribuição de
renda), a sustentabilidade urbana e rural, a preservação dos recursos naturais
e minerais e a ética política para o planejamento rumo ao desenvolvimento
sustentável‖.12
As propostas sobre a implementação dos princípios da CDB entre os
países mega-biodiversos e aqueles detentores de tecnologia não avançam em
função de que alguns países, como é o caso dos EUA, não ratificaram essa
tratado multilateral, ou seja, que envolve mais do que dois países. Portanto, não
são obrigados a respeitar (e não respeitam) os princípios da Convenção.
―Uma das Metas do Milênio, da Organização das Nações Unidas é
reduzir a fome e a má nutrição. Na metade da década de 90, o número de
famintos havia caído para 825 milhões, porém, voltou a subir atingindo 915
milhões no final de 2008. E, então, saltou para mais de um bilhão em
2009.‖(BROWN, 2009).
Em 1.997, surge um importante instrumento na luta contra as alterações
climáticas, o Protocolo de Quioto. Trata-se de um compromisso assumido pela
maior parte dos países para que, até 2012, as emissões de gases que
provocam o efeito estufa sejam reduzidas em até 5,2%. Os países
desenvolvidos devem ter um compromisso maior com a redução.
12 Fonte: Agenda 21.
35
Discutido e negociado em Quioto, no Japão em 1997, foi aberto para
assinaturas em 11 de Dezembro do mesmo ano e ratificado em 15 de
março de 1999. Sendo que para entrar em vigor, o Protocolo precisou que 55%
dos países - que juntos produzissem em 55% das emissões - o ratificassem,
assim entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, depois que a Rússia o
ratificou em Novembro de 2004.
Baseado no Protocolo de Quioto, os créditos de carbono são uma
espécie de moeda internacional que possibilita nações desenvolvidas a
financiarem projetos de redução ou na captura de gases de efeito estufa em
países em desenvolvimento, ou seja, os países desenvolvidos podem comprar
créditos de carbono dos países em desenvolvimento como forma de
compensação para a quota ou meta de redução que não conseguiram atingir.
Os CERs (Reduções Certificadas de Emissão) são comercializados de duas
maneiras: no mercado primário, em que a negociação de CERs ocorre antes de
serem emitidos e no mercado secundário que são negociados créditos já
emitidos. Esses projetos precisam ser aprovados pela Comissão Interministerial
de Mudanças Climáticas do Ministério de Ciência e Tecnologia, no Brasil, e pelo
United Nations Framework Convention on Climate Change, órgão da ONU.
O mercado de créditos de carbono está crescendo rapidamente. Em
2008, o volume negociado foi o dobro do ano anterior, alcançando 86 bilhões de
Euros, segundo o Banco Mundial.
36
O cálculo dos créditos de carbono gerados pelo projeto é feito de acordo
com parâmetros determinados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças
Climáticas – IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change).
Com a proposta de um calendário, os países-membros (principalmente
os desenvolvidos) têm a obrigação de reduzir a emissão de gases do efeito
estufa, em no mínimo 5,2% em relação aos níveis do ano de 1990, no período
entre 2008 e 2012. As metas de redução não são homogêneas a todos os
países, colocando níveis diferenciados para os 38 países com maior emissão.
Países em franco desenvolvimento (como Brasil, México, Argentina e Índia) não
receberam metas de redução até o momento.
Se o Protocolo de Quioto for implementado com sucesso, estima-se que
a temperatura global reduza entre 1,4°C e 5,8 °C até 2.100, entretanto, isto
dependerá muito das negociações pós período 2008/2012. Algumas
comunidades científicas afirmam que a meta de redução de 5,2% em relação
aos níveis de 1990 será insuficiente para a mitigação do aquecimento global.
Os Estados Unidos negaram-se a ratificar o Protocolo de Quioto,
segundo o então presidente George W. Bush, porque assumir “os
compromissos acarretados por tal protocolo interfeririam negativamente na
economia norte-americana.”, segundo a fala dele. A Casa Branca também
questiona a teoria de que os poluentes emitidos pelo homem causem a
elevação da temperatura da Terra. No entanto, mesmo com a postura do
governo dos Estados Unidos diante do Protocolo de Quioto, alguns municípios,
37
o estado da Califórnia e donos de indústrias do nordeste dos Estados Unidos já
começaram a pesquisar maneiras para reduzir a emissão de gases promotores
do efeito estufa, sem que isso comprometa sua margem de lucro.
No ano de 2000, foi divulgada a Carta da Terra13 ou a Carta dos Povos.
Consiste em uma declaração de princípios éticos fundamentais para a
construção, no século XXI, de uma sociedade global justa, sustentável e
pacífica. O documento busca inspirar todos a um novo sentido de
interdependência global e responsabilidade compartilhada, voltado para o bem-
estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras
gerações. Oferece um novo marco, inclusivo e integralmente ético para guiar a
transição para um futuro sustentável. Reconhece que os objetivos de proteção
ecológica, erradicação da pobreza, desenvolvimento econômico equitativo,
respeito aos direitos humanos, democracia e paz são interdependentes e
indivisíveis.
O documento é resultado de uma década de diálogo intercultural, em
torno de objetivos comuns e valores compartilhados. O projeto que começou
como uma iniciativa das Nações Unidas, se desenvolveu e finalizou como uma
iniciativa global da sociedade civil.
A redação deste envolveu o mais inclusivo e participativo processo
associado à criação de uma declaração internacional. Esse processo é a fonte
básica de sua legitimidade como um marco de guia ético. A legitimidade do
13 O documento encontra-se na íntegra nos anexos deste trabalho.
38
documento foi fortalecida pela adesão de mais de 4.500 organizações, incluindo
vários organismos governamentais e organizações internacionais.
A carta está estruturada em quatro grandes princípios. Estes princípios são
interdependentes e visam um modo de vida sustentável como padrão comum:
Respeitar e cuidar da comunidade de vida;
Integridade ecológica;
Justiça social e econômica;
Democracia, não-violência e paz.
Espera-se que através deles a conduta de todos os indivíduos,
organizações, empresas, governos e instituições transnacionais seja dirigida e
avaliada adequadamente.
Este documento é já extremamente reconhecimento por grandes empresas,
Ong’s, Institutos e no meio acadêmico, sendo visto também como um grande
marco na história do conceito da sustentabilidade, servindo de inspiração para
muitas ações e inovações que estão acontecendo no mundo atualmente. A
proposta da Carta da Terra vai além de medidas imediatistas, provocando uma
vontade de se criar novos paradigmas civilizatórios, já que os paradigmas
clássicos estão esgotando o planeta. Procura envolver todas as áreas
planetárias, de todos os âmbitos possíveis. E ainda convoca a criação de uma
cultura de sustentabilidade, através da Educação, mostrando uma preocupação
não somente com sugestões de combate imediato, mas algo que exige mais
39
tempo para ser integrado, e que, no entanto garantirá a continuidade e a
manutenção das medidas adotadas pelos governos, empresas, organizações e
pela população mundial.
Em dezembro de 2007, aconteceu na Ilha de Bali, na Indonésia,
a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática. Trata-se de uma
cúpula internacional, formada por representantes de 190 países, que discutiram
as bases das negociações a serem desenvolvidas entre 2008 e 2009 para o
estabelecimento de um novo acordo que substitua o Protocolo de Quioto,
quando chega ao fim a primeira fase do tratado em 2012. Ocorreu então a
COP-15 ou Conferência de Copenhague, capital da Dinamarca, país que
sonhava em entrar para a história como o anfitrião de um acordo abrangente
que substituísse o Protocolo de Quioto, acordado na COP-3.
Oficialmente intitulada United Nations Climate Change Conference que foi
realizada entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009, Organizada pelas Nações
Unidas, reuniu os líderes mundiais para discutir como reagir às mudanças
climáticas (aquecimento global) atuais. Foi a 15ª conferência realizada
pela UNCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima). A conferência foi precedida por um congresso científico organizado
pela Universidade de Copenhague, intitulado ―Climate Change: Global Risks,
Challenges and Decisions‖, realizado em Março de 2009. Cento e noventa e
duas nações foram representadas na conferência, tornando-a a maior
conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
40
A reunião foi presidida por Connie Hedegaard até o dia 16 de Dezembro,
quando resignou ao cargo, sendo substituída pelo primeiro ministro
dinamarquês Lars Loekke Rasmussen. Foi considerada pela imprensa mundial
como uma conferência um tanto polêmica e que não atingiu os planos de
discussão almejados.
Esperava-se que os países se comprometessem a cortar gases-estufa
segundo as recomendações científicas do IPCC, o Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática, explicadas em detalhes ao mundo em 2007 – no
entanto, nenhuma novidade. Todavia, o que resultou desta Conferência foi uma
declaração de intenções que não tem efeito vinculante.
O então presidente Lula foi um dos destaques da conferência, sendo
aplaudido quatro vezes durante seu longo discurso. Além disso, ele assumiu
uma posição crítica na reunião e confessou sua irritação perante os temas
debatidos, dizendo ―Estou rindo para não chorar‖.
A senadora Marina Silva afirmou que ―os líderes que participaram da reunião
saíram ―à francesa‖. Nunca vi uma situação tão desamparadora. Os homens
mais importantes do planeta saindo dali e nos deixando com a sensação de
total desamparo e impotência. A sensação que dava era de que estavam ali
como convidados para uma reunião da qual eram anfitriões e infelizmente não
se portaram assim.‖
41
Apesar de criticar a atuação brasileira, ela contemporizou, afirmando que o
Brasil fez a diferença na reunião. “As negociações estavam tão travadas que é
como diz aquele ditado, em terra de cego quem tem um olho é rei”.
Para a senadora, o Brasil deveria ter se comprometido com o aporte de
recursos independente do valor. Segundo ela, tratava-se de um gesto
simbólico. “O certo era o Brasil, além de se comprometer com as metas de
reduções, ter dito que se comprometeria com o aporte de recursos para o
fundo, criando um constrangimento ético para os países desenvolvidos. Porque
se um país em desenvolvimento pode contribuir, é claro que eles - países
desenvolvidos - podem contribuir muito mais”.
Se, por um lado, o uso do termo "sustentabilidade" difundiu-se rapidamente,
incorporando-se ao vocabulário das grandes empresas, dos meios de
comunicação de massa e das organizações sociais e civis, por outro, a
abordagem do combate às causas parece não avançar no mesmo ritmo.
Exemplo disso é a própria Conferência de Copenhague, que foi a última mais
importante realizada até a presente data, onde não se alcançou os resultados e
adesões esperados, especialmente por parte dos países desenvolvidos, como
os Estados Unidos; ou em franca expansão de desenvolvimento, como é o caso
da China.
Desse modo, o desenvolvimento dos países continua a ter como principal
indicador, o crescimento econômico, traduzido como crescimento da produção,
ou se olhado pelo avesso, como crescimento preponderantemente não
42
sustentável da exploração de recursos naturais. As políticas públicas, bem
como a ação efetiva dos governos, ainda se norteiam basicamente pela crença
na possibilidade do crescimento econômico perpétuo. Segundo Amartya
Sen, Prêmio Nobel de Economia, 1998: "Não houve mudança significativa no
entendimento dos determinantes do progresso, da prosperidade ou do
desenvolvimento. Continuam a ser vistos como resultado direto do desempenho
econômico." Nesse sentido, ações governamentais ainda estão muito pautadas
no aspecto ambiental da sustentabilidade, como será abordado a seguir.
1.3 A Governança na Conjuntura Nacional
Falar sobre o conceito de Governança e a complexidade que o envolve,
seria com certeza material para outra Dissertação de Mestrado ou Tese de
Doutorado; especialmente no que se refere à Governança da sustentabilidade
no cenário brasileiro, que obviamente não é o foco desta pesquisa. Porém faz-
se necessário, ainda de maneira breve, situar aqui a gênese deste conceito;
apenas a título de compreensão para o entendimento deste na conjuntura
nacional. Neste trabalho apresentamos apenas um breve levantamento sobre
as ações existentes, buscando compreendê-las dentro do âmbito mais
conceitual da sustentabilidade.
De acordo com o Banco Mundial, em seu documento intitulado
Governance and Development, de 1992; a definição geral de governança é “o
exercício da autoridade, controle, administração, poder de governo. É a maneira
pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e
43
econômicos de um país visando o desenvolvimento”, implicando ainda a
capacidade dos governos de planejar, formular e implementar políticas e
cumprir funções”.
SANTOS (1997), afirma que a ideia de uma ―boa‖ governança é requisito
fundamental para um desenvolvimento sustentado, que incorpora ao
crescimento econômico equidade social e também direitos humanos.
Lançando um olhar para o cenário brasileiro, a década de 1980 foi um
período de redemocratização do Brasil em que se estabeleceram novos
paradigmas para a dinâmica social brasileira; o que compreende também a
sustentabilidade. Com grande foco no meio ambiente, o Congresso Nacional
promulgou uma série de leis. É possível destacar algumas importantes normas
que em maior ou menor grau traziam menções à sustentabilidade:
Princípio da informação e da notificação ambiental (art. 6o, 3,
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente);
Princípio da prevenção e da precaução (art. 225, 1o. III,
Constituição Federal);
Princípio da responsabilidade da pessoa física e jurídica ( Lei
n. 9.605/ 98);
Resolução no. 01/ 86 - dispõe sobre a Avaliação de Impacto
Ambiental);
Princípio da educação ambiental (art. 225, 1, VI, Constituição
Federal);
44
Princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal (art. 225,
1, Constituição Federal);
Princípio da participação popular e atuação dos órgãos
colegiados (Resolução 1/86 do CONAMA para Avaliação de
Impacto Ambiental na fase de comentários e audiência
pública);
Princípio do desenvolvimento sustentado (art. 225, caput,
Constituição Federal);
Princípio da supremacia do interesse público na proteção do
meio ambiente em relação ao direito privado (art. 5, XXIII, 170,
III, VI, 186, II, da Constituição Federal);
Princípio da indisponibilidade do interesse público na proteção
do meio ambiente (art. 225, Constituição Federal).
Entretanto, até hoje não houve evolução significativa. Sabe-se que os
três âmbitos da sustentabilidade devem caminhar juntos, mas
institucionalmente o espaço de destaque nos governos municipais, estaduais e
federal; é do aspecto ambiental do conceito.
É inegável, por exemplo, que o desafio institucional brasileiro de
demarcar áreas ambientais, áreas indígenas, quilombolas e extrativistas, amplia
a discussão para a sustentabilidade econômica e cultural dessas comunidades;
mas o que se percebe é que não há a formalização desses processos como
política pública.
45
Em artigo, publicado pela Revista Internacional Interdisciplina Interthesis,
em 2006; os autores Agripa Faria Alexandre e Paulo José Krischke defendem
que não há evolução democrática sem o desenvolvimento sustentável:
“democracia está imbricada com a busca da sustentabilidade porque esta
impõe obstáculos aos seus valores, notadamente à economia de mercado, ao
individualismo, às regras jurídicas de direitos de propriedade (como as leis
ambientais), enfim, a todas as regras do jogo democrático, tornando
eventualmente a governança nacional e internacional condicionadas aos
critérios de sustentabilidade‖.
Mesmo em profunda pesquisa pelas atividades e organograma dos
Ministérios Brasileiros, fica clara a deficiência de iniciativas que promovam os
três pilares da sustentabilidade. Os poucos movimentos que validam a
importância dessa discussão, ainda estão ancorados na visão ambiental;
exatamente como ocorre desde a década de 80.
Não apenas a excelência do ideal democrático fica comprometida, mas a
vanguarda na criação de uma sociedade sustentável pode ser um grande
diferencial para o Brasil destacar-se entre os países integrantes do BRICs –
Bloco de países em desenvolvimento composto por Brasil, Rússia, India e
China. Uma tímida tentativa de desenvolvimento dos aspectos social e
econômico da sustentabilidade ocorreu da última gestão, comandada pelo ex
presidente Luiz Inácio Lula da Silva; iniciando com o Bolsa Família, baseado no
projeto Renda de Cidadania. Porém a vantagem competitiva referida, dentro do
BRICs e junto à comunidade internacional, dar-se-á apenas quando as políticas
46
governamentais simultaneamente, considerarem os três aspectos da
sustentabilidade.
As conquistas ambientais - berço da sustentabilidade no Brasil - de três
décadas, são vistas hoje como retrógadas. Há uma nova realidade em curso,
que requer uma revisão de legislação, de princípios norteadores, de valores.
Mesmo as iniciativas mais recentes, despertam preocupação; ao exemplo do
Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que não deixou claro até o
presente, a inclusão da veia ambiental em sua essência de trabalho.
Está manisfesto que o único caminho factível e eficaz para uma sociedade
sustentável e próspera está na interlocução entre todas as esferas do governo.
Continuar agindo isoladamente e mais além, fragmentando um conceito que
intrinsecamente é complexo, continuará resultando em grandes esforços, para
poucos resultados.
A iniciativa encontrada no âmbito governamental mais integrada foi o
Projeto Ambientes Verdes e Saudáveis (PAVS), que foi criado para fortalecer a
gestão intersetorial de saúde e ambiente. O projeto vai de encontro à filosofia
que fundamentou o Sistema Único de Saúde. Foi proposto em 2005 pela
Secretaria Municipal de Verde e Meio Ambiente (SVMA) e também contou com
a adesão da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMADS).
Capacitou 5 mil agentes comunitários através da parceria de mais de 20
instituições parceiras, visando a integração das ações ambientais, de saúde e
sociais.
47
O Ministério do Planejamento, em 2010 lançou o portal de Contratações
Públicas Sustentáveis, com a seguinte definição sobre o trabalho desenvolvido:
“Contratações públicas sustentáveis são as que consideram critérios
ambientais, econômicos e sociais, em todos os estágios do processo de
contratação, transformando o poder de compra do Estado em um instrumento
de proteção ao meio ambiente e de desenvolvimento econômico e social.
A Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação – SLTI, do
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão tem priorizado a
sustentabilidade nas contratações públicas. Primeiramente, desenvolveu um
sistema de compras que comporta o cadastro de todos os atores envolvidos
bem como um catálogo de bens e serviços, informatizou todo o processo e
desenvolveu modalidades executadas na forma eletrônica. Ou seja, organizou
um sistema de compras transparente e funcional, diminuindo não só os custos
operacionais das compras públicas, como o dos bens e serviços adquiridos.
Posteriormente, foi desenvolvida uma política voltada para as micro e
pequenas empresas (MPE´s) usando o poder de compra do Estado para
incentivar a sua participação nas licitações, fortalecendo o setor, gerando
emprego, distribuindo renda e consolidando o mercado.
No momento, a SLTI está potencializando o Programa de Contratações
Públicas Sustentáveis para que possa incluir critérios ambientais nas compras
públicas. O Estado não pode ser só mais um ator nos esforços da sociedade,
para criar um modelo justo de desenvolvimento sustentável, mas deve
promover uma cultura institucional que sirva de exemplo para a sociedade.”
48
Diante de todo o exposto sobre as bases constitutivas de uma nação
sustentável, fica claro que não é tarefa simples. Inegavelmente é preciso uma
―revolução na mentalidade‖ dos agentes envolvidos. Se o universo empresarial,
ao que nos parece, está evoluindo mais rapidamente nesse aspecto, é porque
―está ouvindo‖ as novas necessidades de seus consumidores que a cada dia
valorizam ética, justiça e transparência em conjunto com as qualidades técnicas
de produtos e serviços.
É possível, que ao estender esse olhar para os governos municipais,
estaduais e federais; um esforço para a convergência de ações entre as
diferentes esferas possa ser sentido.
1.4 Responsabilidade Social Empresarial
A ideia de Responsabilidade Social Empresarial (RSE) nasceu após o
surgimento das organizações, através de iniciativas filantrópicas14 individuais de
seus empreendedores na busca da melhor definição sobre o papel que os
negócios têm em relação ao desenvolvimento da sociedade.
Com o objetivo de sistematizar historicamente esse movimento,
STEINER e STEINER (2000), destacam a importância para o cenário norte-
americano desde o século XVIII de grandes fundadores como Stephen Girard e
14
O termo filantropia foi utilizado na perspectiva do idioma inglês, diferenciando-se , por exemplo, da mesma expressão na língua latina onde guarda entendimento relacionado a uma ação desprovida de objetivos mais coletivos, em que a base forte é a caridade e a benevolência, evidenciando um certo conteúdo religioso vinculado a esta ação; enquanto no idioma inglês, e no contexto norte-americano a ação está mais relacionada às contrapartidas e obrigações que um cidadão que detém riqueza econômica, tem para com a sociedade.
49
John Rockefeller, que enquanto estavam à frente de seus negócios, suas ações
individuais eram vistas pela população como ações das empresas.
Stephen Girard (1750-1831), um francês, naturalizado americano, foi um
banqueiro muito bem sucedido, que chegou a se tornar um dos homens mais
ricos dos EUA, dedicou grande parte de sua fortuna à filantropia, em especial à
educação e ao bem-estar dos órfãos. Após sua morte, a maior parte de sua
fortuna foi deixada para a cidade de Filadélfia para construir e gerir uma escola
residencial destinada ao atendimento de crianças carentes.
O americano John Rockefeller (1839-1937), por sua vez, foi talvez o
empresário mais rico e mais influente de seu tempo. Fundou a primeira
companhia petrolífera norte-americana, a Standard Oil Company, possuindo o
monopólio do petróleo por algumas décadas. Porém também foi um importante
filantropo de seu tempo. Ele foi um dos fundadores da Universidade de
Chicago, no fim do século XIX, e seu investimento em pesquisas médicas
ajudou a desenvolver a vacina contra a febre amarela. As gerações seguintes
levaram à frente a filantropia com grande dedicação, financiando a criação de
escolas, museus como o MOMA (Museu de Arte Moderna) em Manhattan/Nova
York, bibliotecas e Instituto Rockefeller para pesquisas médicas. “...alguns,
inclusive, atribuem a ele o nascimento da filantropia como a conhecemos
hoje.”15
15 Afirmação retirada do artigo publicado na revista Exame em 29/12/2010. Disponível em: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0983/noticias/o-petroleo-virou-arte?page=1&slug_name=o-petroleo-virou-arte
50
No presente cenário, a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é um
tema cada vez mais presente e relevante no mundo inteiro e a tendência é que
seja cada vez mais. Dos anos 90 em diante percebemos que a natureza e a
complexidade dos desafios se apresentam de forma globalizada, fazendo
eclodir debates, discussões e movimentos que tomam o cenário mundial.
De acordo com AMARAL (2007) temas como a globalização, o modelo
econômico, o fim do emprego, a concentração da riqueza e o aumento da
pobreza, potencializaram os desafios nos quais todos os atores da sociedade
estão envolvidos. No caso brasileiro, os rumos definidos pela política
econômica adotada pelo país nesta década inseriram o Brasil no modelo de
integração ao capital internacional sob a perspectiva de uma política neoliberal.
De acordo com RICCO (2004), isso fez com que o Estado brasileiro
assumisse uma postura voltada, em grande parte, para a estabilidade
econômica deixando de investir cada vez mais em programas sociais, o que
obviamente acirrou as desigualdades. Nesta concepção do Estado Mínimo
houve a privatização de alguns serviços básicos. Neste sentido criou-se um
espaço para as organizações, instituições da sociedade civil, ONG’s e as
fundações empresariais atuarem junto à problemática social. Nota-se que nas
empresas temas como filantropia empresarial, responsabilidade social
corporativa, participação da empresa na comunidade e papel das empresas no
desenvolvimento sustentável, estão em expansão.
51
AMARAL (2007) afirma que crescem no Brasil e no mundo o número de
eventos de mobilização e articulação de líderes empresariais, bem como
iniciativas que buscam compreender as práticas empresariais e identificar e
disseminar uma nova forma de gerir negócios. Nesse sentido, há um número
expressivo de iniciativas empresariais, como cursos de diferentes níveis,
mobilização de organizações e premiações de líderes.
Esses fatos convidam o leigo, o especialista, acadêmicos, líderes
empresariais e governos a conhecerem, compreenderem e avaliarem o debate
sobre a implantação de responsabilidade social na empresa. O fato é que a
RSE ganhou espaço na mídia16 e que seu conceito, no que tange às relações
com a comunidade e investimentos sociais é, de forma geral, conhecido, como
refere ALEXANDRE (2008).
Conforme a autora não há uma definição única para o termo
responsabilidade social empresarial. Afirma que esse conceito está ainda em
construção por dividir espaço com outras terminologias utilizadas como
sinônimos, por exemplo: cidadania corporativa, filantropia empresarial,
investimento social privado, ética empresarial.
O Instituto Ethos17 conceitua responsabilidade social empresarial como
“a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa
16
Especificamente no Brasil a RSE se destacou na mídia no final dos anos 90, acompanhando a criação do GIFE em 1995 e do Intituto Ethos em 1998 e de outros nessa década, girando em torno da necessidade de discussão do tema entre empresários e profissionais. 17 O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma associação de empresas de todo tamanho e setor interessadas em desenvolver suas atividades de forma socialmente responsável num permanente processo de avaliação e aperfeiçoamento. Este foi criado em 1998, com a missão de
52
com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de
metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras,
respeitando a diversidade e a redução das desigualdades sociais” (INSTITUTO
ETHOS, 2004). Nesse sentido, “ser ético nos negócios supõe que as decisões
de interesse de determinada empresa respeitem os direitos, os valores e os
interesses de todos os indivíduos que de uma forma ou de outra são por ela
afetados”.
O conceito de ética da responsabilidade para SROUR (2003) se define
pela análise de situações de riscos, custos e benefícios, em que a decisão de
escolha deve trazer um bem maior ou evitar um mal maior.
Outro aspecto do conceito central trazido pelo INSTITUTO ETHOS é a
transparência que caminha ao lado da atitude ética, e consiste em expor ao
público suas ações de impacto na sociedade e meio ambiente, mostrando a
situação real e completa da organização para que o público possa julgar se seu
discurso é coerente ou não com suas ações, não sonegando informações
importantes sobre seus produtos e serviços.
Para tanto existem instrumentos que incentivam a atitude de
comunicação transparente entre a empresa e os públicos com as quais ela se
relaciona. O Balanço Social é um deles, embora não obrigatório no Brasil,
permite às empresas divulgarem anualmente suas ações, investimentos, e
promover e disseminar práticas empresariais socialmente responsáveis contribuindo para que empresas e sociedade alcancem um desenvolvimento sustentável em seus aspectos econômico, social e ambiental.
53
resultados bem como ações ambientais, sociais e econômicas, o que permite a
empresa apresentar seus compromissos públicos, metas, os problemas que
imagina enfrentar e os possíveis parceiros para equacionar os desafios
previstos.
A divulgação do balanço social pode contribuir para o aumento da
reputação18 da empresa, mediante seu posicionamento competitivo em relação
aos seus concorrentes, pois assim a empresa tem maior visibilidade frente a
todos os seus públicos de interesse, o que promove maior transparência e
consequentemente aumenta sua credibilidade.
Reconhecer publicamente os esforços da responsabilidade social
desenvolvidos por empresas é uma forma de aumentar sua reputação no
mercado. O Selo Empresa Cidadã foi criado para incentivar que as empresas
contribuam para o desenvolvimento das comunidades, comportamento ético e
consolidação da cidadania. Este prêmio é concedido às empresas que se
destacam nas áreas do balanço social como: meio ambiente, qualidade de vida,
ambiente de trabalho, qualidade dos produtos e serviços, desenvolvimento dos
direitos humanos e difusão da conduta de responsabilidade social. As empresas
que recebem o selo podem utilizá-lo em produtos, embalagens, propagandas e
correspondências. Conseqüentemente, passam a ser reconhecidas pelo
compromisso com a qualidade de vida, eqüidade e desenvolvimento dos
funcionários e sua família, pela comunidade e preservação do meio ambiente
18
Reputação está sendo usado no sentido de opinião ou avaliação social do público em relação à organização, constitui-se como status social.
54
(CIEE, 1999). Esse selo foi criado a partir da Resolução Legislativa n. 05/98, de
autoria da então vereadora Aldaíza Sposati.
Como afirma AMARAL (2007) o Marketing Social traz no seu bojo a
busca de complementaridade entre resultados sociais para a sociedade com
resultados econômicos para as empresas. A estratégia utilizada pelas
empresas está na associação da marca a uma causa relevante, como por
exemplo a educação para o Banco Santander, que será abordado em maiores
detalhes no próximo capítulo.
As empresas estão percebendo que a responsabilidade social
corporativa é uma estratégia de desenvolvimento dos negócios dentro da lógica
de que não há como existir uma empresa forte em uma sociedade carente e
sem condições de consumir. De acordo com QUILICI (2006, p.7) ―quanto mais
a prática da responsabilidade social corporativa estiver vinculada a políticas
públicas, para garantir a abrangência em larga escala da ação, maior será o
seu potencial de contribuição ao desenvolvimento sustentável e de retorno do
investimento social privado‖.
A autora defende ainda que os resultados serão mais significativos à
medida que existirem iniciativas conjuntas entre governos, empresas e
sociedade civil, para isso se faz necessária a consolidação de parcerias e
responsabilidade compartilhada promovendo integração nas ações. Na mesma
obra, salienta que a parceria social é uma alternativa privilegiada de gestão do
investimento social das empresas numa articulação de visões, competências e
55
recursos objetivando iniciativas sobre questões de interesse público e obtenção
de resultados proporcionais ao problema a ser enfrentado, e obviamente o
retorno do investimento empregado.
Há na atualidade uma preocupação em de avaliar até que ponto as
práticas de responsabilidade social de uma empresa são percebidas pelo
consumidor e reforçam a sua marca e como desenvolver um planejamento
integrado no qual as ações sociais sejam incorporadas à valorização dessa
marca. Conforme RICCO (2004) mostra em seu artigo, ―pesquisas feitas nos
Estados Unidos apontaram números interessantes: 68%dos jovens optariam
por trabalhar em alguma empresa que tivesse algum projeto social e que 76%
dos consumidores preferem marcas e produtos envolvidos com algum tipo de
ação social. Os dirigentes empresariais perceberam que é necessário fazer com
que as pessoas gostem da empresa, se identifiquem com a sua marca e
tenham prazer em trabalhar no seu negócio. Os profissionais mais qualificados
e talentosos preferem trabalhar em empresas que respeitem os direitos, a
segurança e a qualidade de vida de seus funcionários.‖
O interesse das empresas em aderir à responsabilidade social como
estratégia em seus negócios tem como objetivo aumentar seu lucro e
potencializar seu desenvolvimento. Porém essa tendência decorre da maior
conscientização do consumidor e conseqüente procura por produtos e práticas
que gerem menor impacto negativo para o meio ambiente ou comunidade. Para
isso, é preciso haver um desenvolvimento de estratégias empresariais por meio
56
de soluções sociais mais justas, que promova a equidade social, com menos
impacto ambiental e economicamente viáveis.
Em sua obra, VASSALO (1999) aponta que várias pesquisas estão
mostrando que os consumidores, ao escolherem um produto ou serviço, estão
dando cada vez mais importância à postura da empresa em relação ao meio
ambiente, ao respeito que ela demonstra às leis e aos direitos humanos e aos
investimentos que ela faz para melhorar a vida da comunidade.
Independentemente do porte da empresa, nota-se que a
responsabilidade social é considerada cada vez mais como uma das principais
estratégias para alavancar seu crescimento. Nesse sentido, o INSTITUTO
ETHOS afirma que empresas socialmente responsáveis são:
agentes de nova cultura empresarial e de mudança social;
produtoras de valor para todos — colaboradores, acionistas e
comunidade;
diferenciadas e de maior potencial de sucesso e longevidade.
Ao serem socialmente responsáveis, as empresas tendem a conseguir
mecanismos de competitividade, pois valorizam sua imagem; o que pode
aumentar a motivação dos funcionários para melhorar sua produtividade no
trabalho e atrair um número maior de parceiros para colaborar com a causa
social que esta apóia. Os custos dessas atividades, incluindo os investimentos
em ações sociais, são repassados ao consumidor no preço final do produto ou
57
serviço. Portanto, são mecanismos comerciais com objetivos econômicos que
não oneram a empresa.
Entretanto, existem argumentos contra a responsabilidade social das
empresas, fortemente articulados por Milton Friedman19. Para ele a única
responsabilidade que a empresa tem é conseguir lucro, aumentar sua
produtividade, gerar novos empregos, pagar salários justos e aumentar o
retorno do capital para os acionistas, além de aumentar o bem-estar público ao
recolher seus impostos, já que não reconhece as questões de responsabilidade
social como especialidade das empresas e sim dos governos. Ele ainda afirma
que empresas que desviam seus recursos para ações sociais podem prejudicar
sua competitividade frente a seus concorrentes.
Contrário à tese defendida por Friedman de que a única responsabilidade da
empresa é buscar o lucro, a visão predominante no mundo hoje, é de que a
empresa acarreta para a sociedade alguns custos decorrentes de suas
atividades e por isso mesmo, tem responsabilidade direta e condições de
amenizar muitos dos problemas que atingem a sociedade. Portanto, vemos que
representantes do empresariado compreendem que a agenda política deve ser
pautada pela parceria entre o Estado, a sociedade civil e as empresas.
Nas décadas anteriores a 80, a agenda política dos Estados Nacionais
pautava-se, na contraposição empresas e mercado versus Estado. Hoje essa
contraposição perdeu o sentido. O investimento social privado se faz necessário
19 Conteúdo extraído do artigo que data de 1970, publicado no “The New York Times Magazine”.
58
devido aos inúmeros problemas sociais e as organizações têm condições de
abordar muitos problemas que afetam a sociedade. A empresa que tem
consciência e visão sabe que a cada dia que passa, é maior a expectativa dos
indivíduos e sua demanda quanto ao papel social a ser desempenhado por
executivos e empresários.
A empresa socialmente responsável é aquela que assume uma postura
proativa, independentemente de seu porte ou ramo de atividade, ou seja, cultiva
e pratica um conjunto de valores tornando-se referência para todos os seus
stakeholders, ou seja, todos os públicos com os quais se relaciona.
A sustentabilidade traz um novo conceito de gestão organizacional, o que
leva à mudança de sua cultura interna. O conceito de desenvolvimento
sustentável deve ser assimilado pelas lideranças de uma empresa como uma
nova forma de produzir sem degradar o meio ambiente, estendendo essa
cultura a todos os níveis da organização, para que seja formalizado um
processo de identificação do impacto da produção da empresa no meio
ambiente e resulte na execução de um projeto que alie produção e preservação
ambiental, com uso de tecnologia adaptada a esse preceito.
No modelo de gestão sustentável, o relacionamento com os stakeholders
pressupõe uma horizontalidade de relações, onde tudo é compartilhado com
todos e a necessidade de um é tão importante quanto a do outro. Stakeholder
é um termo usado em diversas áreas e se refere a todas as partes interessadas
59
ou intervenientes, que devem estar de acordo com as práticas de governança
corporativa executadas pela empresa.
O termo foi usado pela primeira vez pelo filósofo Robert Edward
Freeman. Segundo ele, os stakeholders são elementos essenciais
ao planejamento estratégico de negócios. De maneira mais ampla, compreende
todos os envolvidos em um processo, que podem ser de caráter temporário ou
duradouro.
Nesta visão, o sucesso de qualquer empreendimento depende da
participação de suas partes interessadas e por isso é necessário assegurar que
suas expectativas e necessidades sejam conhecidas e consideradas pelos
gestores. De modo geral, essas expectativas envolvem satisfação de
necessidades, compensação financeira e comportamento ético. Cada
interveniente ou grupo de intervenientes representa um determinado tipo de
interesse no processo. O envolvimento de todos não maximiza obrigatoriamente
o processo, mas permite achar um equilíbrio de forças e minimizar riscos e
impactos negativos.
Uma organização que pretende ter uma existência estável e duradoura
deve atender simultaneamente as necessidades de todas as suas partes
interessadas. Para fazer isso ela precisa "gerar valor", isto é, a aplicação dos
recursos usados deve gerar um benefício maior do que seu custo total.
60
Dessa forma a necessidade de um fornecedor é tão relevante quanto a
necessidade de seu cliente, de seu funcionário e assim por diante. Pressupõe
um olhar mais sistêmico, onde todas as relações são importantes e vistas de
forma mais horizontal.
As grandes corporações estão cada vez mais adequando seu modelo de
negócios e tentando alinhar seu discurso e suas práticas ao tema da
sustentabilidade e a esse novo modelo de gestão organizacional, a exemplo do
que será observado no caso do Banco Santander, selecionado como campo
empírico desta pesquisa.
61
2. Descrição do campo empírico
2.1 O Grupo Santander Brasil e a sustentabilidade como norte
Para respaldar a importância e a complexidade do tema
Sustentabilidade, o cuidado na seleção de uma Instituição a ser estudada como
campo empírico da pesquisa foi fundamental. Uma corporação que possui
projetos com foco em desenvolvimento sustentável nos âmbitos econômico,
social e ambiental em seu modelo de negócios foi pressuposto incontestável.
Para ilustrar o presente trabalho foi escolhido como campo empírico o
Banco Santander. Pioneiro em projetos sustentáveis de grande abrangência
ocupa um lugar de destaque na economia mundial. De origem espanhola,
chegou ao Brasil no ano de 1957 e permanece em constante processo de
expansão, que englobam aquisições e incorporações de negócios bem
sucedidos no mesmo ramo de atuação, como por exemplo, fez com o Banco
Real em abril de 2009; e que elevou o Grupo Santander à terceira colocação
entre os bancos privados por ativos do país.
As informações institucionais apresentadas neste capítulo foram
extraídas do site20 do banco, de folhetos fornecidos pelos próprios funcionários
e também das entrevistas descritas no próximo capítulo.
De acordo com o conteúdo publicado na página de internet oficial, a
Sustentabilidade foi incorporada ao modelo de negócios do Banco, por uma
20 www.santander.com.br
62
crença interna em relações duradouras e que gerem valor para todos públicos
envolvidos, grupo conhecido como stakeholders. É possível também extrair do
website, que para a Organização, do ponto de vista empresarial, a
sustentabilidade consiste em “...assegurar o sucesso do negócio no longo prazo
e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico, social e
ambiental da comunidade”; o que deixa claro, que a raiz do conceito de
Sustentabilidade adotado pela empresa é o mesmo definido pelo Relatório
Brundtland ou Nosso Futuro Comum – documento previamente citado neste
trabalho.
Uma tradução objetiva deste conceito para a realidade do Grupo pode
ser feita, dizendo que uma empresa possui responsabilidades que vão além de
sua atividade regular, com ações que contribuam para o desenvolvimento da
sociedade; mas certamente sem deixar de perseguir o lucro; ou seja; que bons
resultados financeiros aliados ao engajamento social, são sinal de que a
empresa está fazendo um bom trabalho. Para essa defesa, partem da
premissa de que o bem-estar de cada um depende do bem-estar de todos, ou
seja, uma relação em que todos ganham, baseada na transparência com todos
os públicos de interesse. Nas palavras do Banco:
“Temos consciência de que nosso negócio é um agente fundamental de
desenvolvimento econômico. Sabemos que temos um importante papel a
desempenhar na construção de um mundo mais sustentável.
63
Para atingir esse objetivo, temos lançado um novo olhar para as nossas
atividades. Em todas as nossas decisões, buscamos o lucro como resultado de
uma construção coletiva e que respeite a sociedade e o meio ambiente”.
O grupo Santander Brasil apóia ações nas áreas de educação, cultura,
inclusão social, empreendedorismo, geração de renda, meio ambiente e
diversidade cultural. Porém, o investimento social da Instituição tem como
prioridade a melhoria da qualidade da Educação.
A atuação do Grupo é pautada por três diretrizes alinhadas à estratégia
de desenvolvimento sustentável: engajamento e cooperação, onde mobilizam
sua rede de relações para a execução dos projetos; comunicação, com a
função de difundir e sensibilizar a sociedade para as causas que apóiam e
abrangência, que se preocupa em atingir as comunidades atendidas e locais
além de suas unidades e agências.
O site da empresa é uma ferramenta estratégica altamente qualificada
para informar conceitos da Corporação. Publiciza com eficácia o que a
Instituição quer comunicar aos seus públicos de interesse. Os conteúdos são
bastante completos e apresentam de forma clara os objetivos do Grupo.
Possibilita ainda através da criação de um login e senha o acesso a dicas,
informações, sugestões, práticas, bem como a vivência dos conceitos através
de jogos, cursos e vídeos on-line. Há também a possibilidade de cadastrar-se
para recebimento de convites para palestras, workshops sobre temas
64
relacionados aos produtos e projetos, além de visitas presenciais à primeira
edificação sustentável da América do Sul, localizada em Cotia-SP.
É notória a preocupação da instituição em propagar e difundir o ideal de
sustentabilidade para toda a sociedade, não só através dos meios tradicionais
de comunicação, especialmente comerciais de TV e rádio, mídias e redes
sociais como Twitter, Youtube, Formspring e Facebook; mas também de
projetos e programas, usando a Sustentabilidade em estratégias de marketing
que tenham como meta o estabelecimento de um vínculo de identificação do
público à marca.
Esta instituição concentra não apenas o ―know-how‖ teórico concernente
à Sustentabilidade, mas também muitas ações práticas que chamam de um
―jeito de fazer negócios que leva em conta a geração de valor econômico, social
e ambiental ao mesmo tempo‖.
Suas ações objetivam contribuir para a transformação social através do
fortalecimento da cultura de participação e co-responsabilidade, para uma
melhor distribuição de oportunidades na sociedade. Essas ações, projetos e
programas abrangem os três pilares da Sustentabilidade, e fomentam a
participação de todos os stakeholders.
2.2 Os projetos e a concretização
65
Uma das iniciativas existentes que o Grupo apresenta através da
internet, visa a educação e engajamento de crianças no que se refere à
sustentabilidade, ética, diversidade, direitos humanos e meio-ambiente. Este
projeto é denominado Brincando na Rede, e tem como característica ser um
espaço de entretenimento, baseado no conceito de comunidade onde o
conteúdo é construído coletivamente de forma colaborativa. Essa ferramenta
busca despertar o interesse pela pesquisa, estimular a criatividade, imaginação,
raciocínio lógico e o hábito de escrita e leitura, através da criação de pinturas e
desenhos, perguntas e respostas, o acesso a coleções de contos, piadas e
álbuns de figurinha, nos quais é possível a criança inserir suas criações, além
de permitir o compartilhamento do conteúdo entre os amigos, tornando-se,
assim uma rede social de crianças de 5 a 12 anos de idade. Permite também a
participação de crianças com deficiência visual. Já foram escritos 40 livros com
a participação das crianças e a venda destes é revertida para o Projeto Escola
Brasil (PEB). O programa teve início em 2001 e já conta com o cadastro de
370 mil crianças. Trata-se do programa de voluntariado corporativo realizado
por meio da dedicação de funcionários e seus familiares, clientes, fornecedores,
parceiros e demais públicos de relacionamento do banco, e visa contribuir para
a melhoria da educação na escola pública com o fortalecimento da relação da
escola e comunidade na qual está inserida. Foi criado em 1998 e em 2009, já
havia mobilizado aproximadamente 2 mil voluntários organizados em 200
grupos que atuam em 173 escolas parceiras.
Os voluntários desenvolvem em parceria com as escolas, iniciativas nos
temas Esporte e Recreação, Arte e Cultura, Diversidade, Meio ambiente,
66
Empreendedorismo e Geração de Renda; e também articulam parcerias que
visam contribuir para a autonomia da escola no entorno do local em que ela
está inserida. O PEB desenvolveu ferramentas para auxiliar a ação dos
voluntários em incentivar atitudes responsáveis no uso de recursos naturais.
Complementarmente, há a preocupação com o uso e a reutilização dos
recursos naturais, assim, existe também um programa de ecoeficiência em
todas as unidades da rede Santander que envolve a coleta seletiva, o descarte
consciente e o papa-pilhas.
Outra ferramenta contida no PEB é o Programa de Educação
Financeira, que objetiva a orientação do maior número de pessoas para uma
vida financeira saudável e equilibrada. A capacitação de educadores é vista
como fundamental para o sucesso do projeto, portanto desenvolveram métodos
de preparo desses agentes, denominados como: Educadores Produtores de
Conhecimento, Rede PEB de Educação Física Escolar e Pedagogia da
Igualdade Racial.
Outra ferramenta de engajamento, divulgação e conscientização são
cursos e jogos on-line sobre negócios sustentáveis e sustentabilidade na
prática. Esses mecanismos provocam a reflexão, e de forma interativa ensinam
a respeito de decisões estratégicas de como gerir seu negócio considerando os
aspectos social, econômico e ambiental; além de sugerir como investir recursos
financeiros de forma a promover a transformação da realidade social.
67
O Amigo de Valor é outro programa muito difundido pela Instituição.
Considerado de grande importância, para materializar a missão da
Organização, foi baseado no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA21
facilita o envolvimento de clientes, funcionários e fornecedores no
direcionamento de recursos financeiros aos Fundos Municipais dos Direitos da
Criança e do Adolescente; apoiando dessa forma, iniciativas e prioridades
definidas pelos próprios Conselhos para a promoção, defesa e garantia dos
direitos de crianças e adolescentes em municípios onde as condições de vida e
proteção desta população são mais vulneráveis.
Nesse apoio aos Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do
Adolescente, o Amigo de Valor constatou a dificuldade destes órgãos em
formular uma Política de Atendimento22 alinhada com o ECA, por não haver
diagnósticos locais consistentes, que descreva a real situação da população
infanto-juvenil nos municípios. Mesmo diante dessas dificuldades, nos últimos
anos, o programa apoiou diversos projetos de atendimento. Embora todos eles
tenham alcançado bons resultados, raramente se fundamentaram em
indicadores sociais relativos a temas críticos como saúde e educação, e em sua
real dimensão das ameaças e violações de direitos, sofridas pelas crianças e
adolescentes.
Através da mobilização de funcionários, clientes e fornecedores, como
saldo do programa, chegou-se a 84 mil crianças e adolescentes beneficiados
21
Estatuto da Criança e Adolescente, Lei Federal Nº 8.069, de 13 de Julho de 1.990, que dispõe sobre a proteção
integral e os direitos da criança e do adolescente. 22
Entende-se aqui, política de atendimento por uma maneira ou forma de atendimento definida institucionalmente, com base no ECA e de acordo com a demanda real mapeada.
68
direta e indiretamente. Foram arrecadados R$ 37 milhões até o presente; e
destinados ao apoio de 335 iniciativas sociais em 21 estados brasileiros. Em
2009, 23.643 funcionários e 1.740 clientes e fornecedores participaram da
campanha do Amigo de Valor, conforme publicado pela empresa.
O Santander Universidades é uma iniciativa da linha prioritária de
atuação do Banco, que visa o fomento à educação. Projeto de grande porte,
acontece em todos os países em que o banco está presente. Voltado para a
educação em nível superior, o programa é visto como um caminho para o
progresso econômico e social. Foi criado em 1996 e até então foram investidos
mais de R$1,8 bilhões e mais de 70 mil bolsas de estudos foram concedidas em
todo o mundo, o que resultou no Plano de Apoio à Educação Superior
(PAES).
O PAES está estruturado em quatro grandes eixos: o primeiro é a
mobilidade, formatado em dois programas de intercâmbio cultural, sendo um
nacional e outro internacional; o segundo abrange a inovação e
empreendedorismo que oferece prêmios aos melhores trabalhos acadêmicos
para universitários e professores; como terceiro eixo tem-se o cartão
universidade que promove a transferência tecnológica integrando instituições
de ensino superior parceiras e por fim, o quarto eixo com foco nos apoios
acadêmicos que congregam investimentos à pesquisa cientifica através do
programa de Cátedras, a digitalização de acervos e a ―Universia” que é uma
rede que integra conteúdos e serviços gratuitos de 18 países, com 1.126
universidades conveniadas.
69
Dentro das iniciativas em fomento à educação, o banco também criou o
Prêmio Educar para a Igualdade Racial, em junto ao Centro de Estudos das
Relações do Trabalho e Desigualdades - CEERT23 para estimular os
educadores a incluir no aprendizado a transformação das relações raciais
justamente por a igualdade racial ser um dos maiores desafios da sociedade
brasileira.
No âmbito cultural, as iniciativas do banco se preocupam com o universo
de valores e crenças que permeiam a vida pessoal e social. Os projetos são
desenvolvidos com vistas à promoção da formação crítica e a emancipação
cultural dos indivíduos, enfatizando a inovação, educação, integração e
desenvolvimento. Dentro desse cenário, o Grupo realiza centenas de ações
institucionais, apoios e patrocínios, e mantêm dois institutos culturais, um em
Porto Alegre (RS) e outro em Recife (PE).
As dimensões que orientam os investimentos na área cultural são: a
educativa que estimula o processo de conhecimento e sua transferência; a
interativa que preocupa-se em gerar participação, colaboração, criatividade,
interação e inovação; a cidadã, que foca-se em contemplar os diversos
setores da sociedade e atuar de forma associativa e inclusiva e por fim, a
empreendedora que articula e envolve processos de desenvolvimento da
indústria criativa que atendem a diversos interessados e geram emprego e
renda.
23 O CEERT é uma organização não governamental que produz conhecimento, desenvolve e executa projetos voltados à promoção da igualdade de raça e de gênero. Mais informações em: www.ceert.org.br
70
Um exemplo de projeto que, segundo a Organização, contemplou a
questão cultural é o Alameda das Flores. “O calçadão da Alameda Rio Claro,
ao lado de sede do Banco Real, em São Paulo, era um exemplo de
deterioração urbana. A má iluminação e o abandono afastavam os pedestres.”
Em 2002, durante discussões sobre sustentabilidade, o presidente do
Grupo Santander Brasil, Fábio Barbosa, olhou pela janela e lançou o debate:
“Falamos em mudar o mundo e aqui ao lado tem uma rua onde ninguém tem
coragem de passar!”. A alternativa foi valorizar o espaço público. Com a
mobilização de funcionários e da comunidade do entorno, foi estruturado um
plano de revitalização do local. ―Hoje, a Alameda das Flores oferece atividades
culturais aos sábados e domingos, das 10h às 16h‖.
Um movimento que surgiu dos próprios funcionários foi o Carona Amiga,
que acontece entre os funcionários do prédio sede, localizado à Avenida
Juscelino Kubitschek. Esta iniciativa surgiu, pois os colaboradores possuem um
número limitado de vagas, que não atende a todos. Conciliando uma
preocupação com o bem estar dos trabalhadores e a preservação do meio
ambiente, além de estimular relações mais próximas e saudáveis entre os
colaboradores, esses, criaram um site com um pequeno banco de dados com o
nome, setor e endereço de cada funcionário para que eles próprios
identificassem quem mora perto de quem e pudessem em seguida, organizar as
caronas, resultando em economia e a responsabilidade ambiental. Segundo
informações da Gerente de RH entrevistada, essa iniciativa já conta com a
participação de 600 pessoas e 296 carros.
71
Segundo os nossas entrevistadas, o prédio sede, foi planejado com base
no conceito de ecoeficiência. Os banheiros utilizam vasos sanitários à vácuo
para economia de água, que para as funções onde é inevitável, ela é coletada
das chuvas. Há grande preocupação com a manutenção de um baixo consumo
de energia elétrica, com pequenas soluções, como alertas a todos os
colaboradores que utilizam computadores para que os equipamentos sejam
desligados antes deles irem embora.
O mesmo cuidado, há com possíveis desperdícios no consumo de papel.
As impressões só são liberadas mediante senha pessoal e quando cada
funcionário retira sua impressão na máquina, deve ainda passar seu crachá
para a liberação; mesmo assim, as impressoras são configuradas para reduzir
as letras na hora da impressão e imprimir na frente e verso de cada folha.
Ainda no aspecto ambiental, uma atividade externa de destaque ocorreu
em conjunto com o movimento Águas Claras do Rio Pinheiros, onde um
mutirão de limpeza do Rio foi organizado entre os colaboradores.
Com foco interno, vale ressaltar a existência do Programa de Pessoal
Especializado (PAPE), que atende através de uma central de atendimento
administra por uma empresa terceirizada, disponível 24 horas para funcionários
e seus dependentes, apoio telefônico ou presencial dependendo da
necessidade, nas modalidades jurídica, social, psicológica, nutricional,
enfermagem, fitness, dentre outros; além do apoio às gestantes através de
cursos, palestras, orientação pré-natal, orientação sobre o aleitamento, escolha
72
e encaminhamento à maternidade e suporte durante todo o processo antes e
após o nascimento do bebê. Os funcionários contam ainda com uma ajuda
social extraordinária em casos de funeral, calamidade pública e medicamentos.
Em 1999 foi criado o concurso Talentos da Maturidade, que tem como
principal objetivo incentivar o protagonismo da pessoa idosa, valorizando seu
talento e estimulando a sua participação social, através da criação de redes de
relacionamento que integrem e estimulem as pessoas com mais de 60 anos a
serem agentes transformadores na sociedade. Com três categorias: Artes
Plásticas, Música Vocal, Literatura e Fotografia, o concurso possui a
modalidade Programas Exemplares, exclusiva para pessoas jurídicas sem fins
lucrativos que tenham projetos em prol do idoso empreendedor ou vulnerável.
Mais de 100 mil pessoas já participaram do concurso ao longo dos seus 12
anos de história.
Em uma atuação mais coadjuvante, o Banco ainda investe na cultura, por
meio de apoio e patrocínios a peças de teatro, cinema, exposições, e
restaurações de patrimônio histórico-cultural, como a Catedral da Sé.
O olhar sustentável do banco, também considera questões relativas à
diversidade; onde procura congregar a inclusão social, educação e respeito à
diversidade em todos os sentidos; justificando a escolha de tal atuação devido a
sociedade brasileira ser significativamente heterogênia em etnias, religiões,
culturas e condições especiais tanto físicas, quanto mentais.
73
Um bom exemplo foi a criação do Virtual Vision. Um software que
permite o acesso ao computador por pessoas com deficiência visual e é doado
a instituições, clientes e não clientes do Banco. A ação teve inicio em 2004 no
Banco Real e até 2009, mais de 3500 licenças do software foram concedidas.
Para o mesmo público, há o extrato em braile que é outro diferencial disponível
para todo o Grupo Santander Brasil. Esse cuidado torna possível o acesso aos
produtos bancários a todos os deficientes visuais de forma independente,
promovendo sua inclusão, fidelização e percepção da marca pelo cliente. É
dentro do âmbito da diversidade que estão correlacionados os programas
Talentos da Maturidade e Prêmio Educar para a Igualdade Racial, citados
anteriormente.
Ações para a geração de renda e meio ambiente são vistas como
alternativas para o desenvolvimento pela Organização. Ancorado no fato de que
medidas para a criação de formas alternativas de geração de renda se fazem
necessárias devido a grandes mudanças no mundo do trabalho e a redução do
emprego formal, o Banco apóia iniciativas que fortaleçam o empreendedorismo
e também fomentem o respeito ao meio ambiente. Isso ocorre por meio de
programas como o Parceiros em Ação, que fomenta microempreendimentos
geridos por mulheres, em regiões de baixa renda. As entidades selecionadas
recebem um aporte financeiro de até R$40 mil por ano, com possibilidade de
renovação por mais um ano, treinamento e acompanhamento em metodologia
desenvolvida parceria com a Aliança Empreendedora24. Essas mulheres
empreendedoras, também têm acesso às oficinas de gestão, produção e
24 A Aliança Empreendedora é uma organização não governamental que tem como foco a busca da melhoria da qualidade de vida de comunidades vulneráveis. Mais informações podem ser encontradas em www.aliancaempreendedora.org.br
74
design, além de suporte para desenvolver uma rede de distribuição e
comercialização.
Na área do fomento ao empreendedorismo, geração de renda e apoio
à economia local, existe a linha de microcrédito que concede empréstimos a
pequenos empreendedores de baixa renda. Esse produto foi criado em 2002
em pareceria com a ONG Acción Internacional. A concessão do primeiro
empréstimo foi em Heliópolis a um morador que queria aumentar e diversificar o
estoque de sua mercearia. O microcrédito foi inspirado na experiência do
economista Mohammad Yunus25 que criou em Bangladesh o Grameen Bank
para emprestar pequenas quantias a pessoas de comunidades de baixa renda.
Os microcréditos concedidos são orientados, com enfoque no crédito
produtivo, ou seja, agentes especialmente treinados visitam pessoalmente os
interessados e procuram entender como o recurso será aplicado; fazem então
uma avaliação socioeconômica e assessoram o empreendedor em questões
básicas.
O Investimento Reciclável é uma iniciativa que busca contribuir para o
aprimoramento da gestão de cooperativas de catadores. O programa teve início
em 2005 através do Banco Real com cinco cooperativas da região
metropolitana de São Paulo, hoje, por meio da aliança entre o Grupo Santander
Brasil, Companhia Suzano, Fundação AVINA e Instituto Ecofuturo, o programa
25
Muhammad Yunus foi laureado como Prêmio Nobel da Paz em 2006. É conhecido como o banqueiro dos pobres, devido à sua iniciativa na criação do Grameen Bank que tinha como propósito acabar com a pobreza existente em Bangladesh, através da concessão de microcrédito às pessoas carentes. Sua iniciativa é reconhecida mundialmente.
75
apóia cooperativas e associações de materiais recicláveis. O objetivo é
promover a inserção dessas organizações no sistema produtivo e financeiro
formal, contribuindo para o fortalecimento da autogestão das entidades e
melhoria da qualidade de vida e de trabalho dos catadores. Além do aporte
financeiro, há participação nos processos de seleção das cooperativas,
acompanhamento dos resultados e sugestões de melhorias.
Ainda na perspectiva de geração de renda e desenvolvimento, foi criado
em 1996 pela parceria do Banco Real e a Unisol (Universidade Solidária), o
concurso Universidade Solidária que seleciona a cada dois anos os dez
melhores projetos apresentados por universidades com ênfase no
desenvolvimento sustentável e geração de renda, com o objetivo de contribuir
para a formação cidadã proporcionando ao estudante, a chance de rever e
trabalhar os conhecimentos adquiridos de forma sistêmica pela prática na
comunidade. Até 2009 havia mobilizado 94 instituições de ensino superior,
1.340 estudantes e 178 professores; beneficiando mais de 4.000 pessoas direta
e indiretamente.
Dentro da geração de renda e meio ambiente existe o Programa de
Cisternas através de uma parceria entre o Grupo Santander Brasil e Febraban
(Federação Brasileira dos Bancos) para a construção das cisternas rurais do
Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência no Semi-
Árido, desenvolvido pela ASA (Articulação para o Semi-Árido). O semi-árido
brasileiro se estende por uma área de mais de 970 mil quilômetros quadrados,
onde vivem cerca de 25 milhões de pessoas. Boa parte dos habitantes da
76
região enfrenta dificuldades no acesso à água de boa qualidade, um direito
humano básico. Por meio da Febraban, os bancos apóiam a iniciativa desde
2003, o que possibilitou a construção de mais de 29 mil cisternas rurais, que
beneficiam aproximadamente 140 mil pessoas. O projeto também capacita as
famílias no uso e conservação da água e forma multiplicadores em gestão de
recursos hídricos.
Para o fomento da geração de renda, cultura, educação e inclusão
social, o banco fez uma parceria com o Grupo Cultural AfroReggae para
apoiar as ações desta ONG em comunidades carentes do Rio de Janeiro. A
ONG tem como missão promover a inclusão e a justiça social através de
ferramentas como a arte, a cultura afro-brasileira e a educação. Um dos
exemplos de ações exercidas por essa parceria foi a contratação e o
treinamento de um morador do Complexo do Alemão para ser um agente de
microcrédito representando o Grupo Santander Brasil dentro da comunidade,
apoiando o desenvolvimento do empreendedorismo local.
Outra aliança formada pelo Santander em conjunto com o WRI (World
Resources Institute), resultou na criação do New Ventures na versão brasileira,
que tem por objetivo potencializar o desenvolvimento de empreendimentos
sustentáveis aproximando-os de potenciais investidores. Através de uma
seleção de dez empreendimentos por ano, o New Ventures oferece como
prêmio assessoria para aperfeiçoamento do plano de negócios e participação
no Fórum de Investidores, para que os responsáveis pelos projetos apresentem
suas propostas.
77
Na linha de empréstimos e financiamentos o banco também busca
incentivar a aplicação dos recursos em aquisições de máquinas e
equipamentos ecoeficientes, reformas para a acessibilidade, adequações para
produção ou processos mais limpos, projetos em energias renováveis e
eficiência energética, saúde, educação e obtenção de certificações.
O Santander também dá suporte para a comercialização de créditos de
carbono no mercado mundial oferecendo assessoria integralmente em todas
as etapas de desenvolvimento dos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo - MDL, regulamentados pelo Protocolo de Quioto. Visto como uma
oportunidade adicional para as empresas que investem em negócios
sustentáveis, este foi um produto pioneiro no Banco Real, que por sua vez, foi a
primeira instituição financeira a realizar operações de créditos de carbono no
Brasil.
No primeiro projeto realizado na área, o banco atuou como garantidor da
captação e queima do biogás gerado no aterro sanitário da Battre em Salvador -
Bahia, no ano de 2005. A partir de então, o Real tornou-se uma referência no
tema, desempenhando um papel de liderança nesse segmento. São elegíveis
para a venda de Reduções Certificadas de Emissão de Carbono (CERs),
projetos como: tratamento de dejetos de suínos por meio de biodigestor com o
reaproveitamento do biogás; substituição de combustível fóssil por fontes
renováveis; captação de metano gerado pela decomposição de matéria
orgânica em aterros sanitários; compostagem de resíduos sólidos urbanos;
geração de energia a partir de fontes renováveis, como pequenas centrais
78
hidroelétricas, biomassa, energia solar e eólica; florestamento e reflorestamento
em áreas degradadas.
O Grupo Santander Brasil e a Abrapp são patronos, no Brasil, do Carbon
Disclosure Project, que estimula investidores e empresas a gerenciar suas
emissões de gases de efeito estufa, considerando as mudanças climáticas em
suas decisões de negócios. O Carbon Disclosure Project (CDP) é
uma organização independente, sem fins lucrativos cujo objetivo é criar uma
relação entre acionistas e empresas, focada em oportunidades de negócio
decorrentes do aquecimento global. Trata-se de um requerimento coletivo, no
formato de um questionário, formulado por investidores institucionais e
endereçado às empresas listadas nas principais bolsas de valores do mundo,
visando obter a divulgação de informações sobre as políticas de mudanças
climáticas. O CDP é o único sistema de reporte climático do mundo que
representa 535 investidores globais com mais de U$ 64 trilhões em ativos sob
sua gestão. São 55 signatários nacionais, representando 11% do total mundial,
tendo o Banco Bradesco como principal patrocinador.
Nota-se que praticamente todas as ações do banco perpassam os
âmbitos social, econômico e ambiental, integrando assim os três pilares da
sustentabilidade.
79
3. A PESQUISA
Uma vez discorrida e apresentadas questões que abrangem as
discussões sobre a temática da sustentabilidade na contemporaneidade, a
grande motivação para a realização desta pesquisa foi compreender as
contribuições que os assistentes sociais vêm dando frente a esta nova
demanda. A realidade nos apontou o protagonismo das grandes empresas
neste tipo de gestão. Para tanto, como já sinalizado no capitulo anterior, nossa
pesquisa empírica ocorreu junto às assistentes sociais atuantes no Banco
Santander Brasil, que foi pioneiro - inicialmente pelo Banco Real - em tratar
deste tema no cenário nacional, fomentando a participação de toda a
sociedade; fato que nos despertou ainda mais o interesse, devido se tratar de
uma Instituição bancária – de cunho estritamente capitalista - cujo objetivo
principal é perseguir o lucro e maximizar seus ativos.
Portanto, discorremos também neste capítulo, sobre a produção de
conhecimentos do Serviço Social para compreender a aproximação desta
profissão com o tema do desenvolvimento sustentável, procurando entender
como estes profissionais vêm construindo respostas para esta nova demanda.
3.1 Caracterização da pesquisa e procedimento metodológico
Para alcançar o objetivo dessa dissertação iniciamos pelo recolhimento
da bibliografia já existente sobre o tema, a fim de constatar o que existe
produzido a respeito. Partindo da análise documental e de um referencial
80
teórico baseado em pesquisa acadêmica, análise crítica e estudo comparativo
entre diferentes autores, o presente trabalho traz dois lados inter-relacionados
entre si: o referencial teórico e a pesquisa prática, realizada no campo empírico,
buscando construir um diálogo entre ambos.
Por meio da leitura sobre as referências bibliográficas acerca do Serviço
Social, sustentabilidade e/ou desenvolvimento sustentável, gestão ambiental,
responsabilidade social empresarial; estudo documental sobre materiais
divulgados internamente pelo Grupo Santander Brasil aos seus funcionários e
material divulgado no site do Banco, constatou-se que a temática em estudo é
complexa e precisa ser discutida por diversas áreas do conhecimento, uma vez
que se trata de um tema que demanda cada vez mais a necessidade da
apropriação de conhecimento por todos os atores a sociedade, pois em suma
trata-se da sobrevivência da espécie humana no planeta Terra.
Do ponto de vista dos procedimentos metodológicos, optou-se pela
técnica de pesquisa qualitativa, através de entrevista semi-estruturada. Esta
escolha se deu justamente por não ser passível de enquadre em paradigmas
quantificáveis ou mensuráveis, pois o objetivo principal era entender as
posições dos sujeitos pesquisados na sua subjetividade. Foi utilizado gravador
com o objetivo de garantir a fidelidade das informações coletadas.
Para CHIZZOTTI (2001), a pesquisa qualitativa foca a descrição do
homem (sujeito pesquisado) em um dado momento e numa determinada
cultura; capta os aspectos dos dados e acontecimentos no contexto em que
81
acontecem. O autor afirma que o pesquisador é personagem primordial da
pesquisa qualitativa, uma vez que ele está inserido nela. Este por sua vez, deve
despojar-se de preconceitos e assumir uma postura aberta a todas as
manifestações que observa, dados que coleta, e não se apegar às aparências
imediatas, com o intuito de atingir uma compreensão ampla acerca dos
fenômenos pesquisados.
Notou-se que o objeto em questão não é neutro e nem estático, o que
demanda dos sujeitos concretos, movimento na busca de soluções criativas,
intervenção na realidade na construção de um novo paradigma de sociedade.
3.2 Apresentação dos sujeitos da pesquisa
Os critérios de seleção dos sujeitos da pesquisa são óbvios, já que o
objetivo da pesquisa é investigar a aproximação que o Serviço Social tem com
a temática da sustentabilidade e quais as contribuições a profissão vem
construindo frente a essa questão. Todos os entrevistados deveriam ser
assistentes sociais de formação e trabalhar direta ou indiretamente com a
temática da sustentabilidade.
Como é sabido, a maior parte dos profissionais de Serviço Social é do
sexo feminino, o que não surpreende o fato de que as três assistentes sociais
encontradas no banco são mulheres e a faixa etária predominante entre elas foi
entre 40 e 60 anos.
82
Das profissionais entrevistadas, duas trabalham na área de RH, com
funções e atribuições do Serviço Social mais ―tradicional‖ e uma na área de RH,
mas num setor chamado de Ação Social - que mesmo estando dentro de RH,
possui atribuições específicas e diferenciadas. As profissionais preferiram ser
identificadas como sujeitos A, B e C; a saber:
Assistente Social A – está na empresa há cinco anos e desde sua
admissão trabalha como Gerente de Responsabilidade Social, na área
de Ação Social (área de investimento social privado do banco). Ela nos
explicou que esta área nasceu na Diretoria de Desenvolvimento
Sustentável – que foi criada aproximadamente em 2001 e tem como
objetivo encubar experiências piloto no que tange à sustentabilidade e
depois repassar para as áreas de processos - e que há pouco menos de
um ano a área de ação social passou a integrar a vice-presidência de
Recursos Humanos, em conformidade com essa estratégia da empresa.
Ela tem como principais funções no cargo que ocupa atualmente a
coordenação técnica do Projeto Escola Brasil e do Programa de
Educação Infantil.
Assistente Social B - está na empresa há 28 anos e desde sua
admissão passou por várias incorporações do banco, desde o Banco
América do Sul, depois Sudameris, Banco Real e atualmente Santander.
Porém sempre atuou na área de RH com foco em Benefícios e Serviço
Social. Ela tem como principais funções no cargo que ocupa atualmente,
83
o atendimento a funcionários e dependentes em diversas situações. Seu
cargo atual é Analista de RH.
Assistente Social C - está na empresa há 28 anos e iniciou seu trabalho
com foco em benefícios. Hoje atua na área de RH com Serviço Social,
Fundações e Programas Especiais com foco em programas preventivos -
especialmente em saúde - dentre suas principais funções. Nos informou
participa de um grupo que estuda a sinistralidade dos planos médicos.
Ela já era funcionária do Grupo Santander antes da incorporação do
Banco Real. Também presta atendimento aos funcionários do banco e
seus dependentes e seu cargo atual é Gerente de RH.
3.3 Apresentação dos dados e análise dos resultados
Com a intenção de alcançar o objetivo deste trabalho, discutir o
cruzamento dos dados teóricos encontrados com o material coletado no campo
empírico é fundamental.
As falas dos sujeitos entrevistados e as perguntas formuladas no roteiro
de entrevista nos permitiram identificar três grandes eixos ou categorias de
análise, são eles:
Concepção dos sujeitos acerca do conceito de sustentabilidade;
A concepção de profissão dos sujeitos e seu entendimento sobre o papel
profissional do assistente social frente à temática da sustentabilidade;
84
As ações e estrutura da empresa no que tange à sustentabilidade, sob a
ótica dos sujeitos entrevistados.
Com base nos eixos identificados, procedemos às análises que seguem. 3.3.1 A concepção dos sujeitos acerca do conceito de sustentabilidade
As perguntas que nortearam basicamente esta categoria de análise
foram sobre o entendimento que as entrevistadas têm sobre o conceito de
sustentabilidade e o conceito adotado pela empresa. Nesse sentido as
respostas foram diversas, porém de forma indireta levam a uma compreensão
aproximada do conceito trazido pelo relatório Brundtland, conforme apontado no
primeiro capítulo de que desenvolvimento sustentável é um “desenvolvimento
capaz de garantir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade
das gerações futuras atenderem também às suas”. Como aparece nas falas a
seguir:
Então, são muitos...são alguns os conceitos de sustentabilidade. Eu, particularmente, como aqui na organização gostamos ou, enfim, nos identificamos mais de perto com o relatório Brundtland, que diz que a sustentabilidade é garantir para a gerações futuras as condições que temos na situação presente. (Assistente Social A)
O meu conceito de sustentabilidade é o que o ser humano faz e ele vai produzir pro futuro dele. A atitude que o ser humano tem hoje, com essas atitudes é o que ele vai colher no futuro. Pra mim é isso. Então, se você não cuidar do meio ambiente, de todo esse processo que a gente vem vivendo, automaticamente seus filhos, seus netos e seus bisnetos vão colher os frutos do que nós estamos fazendo. Eu entendo isso como sustentabilidade, em todos os sentidos. E é um trabalho contínuo. Tem que ser contínuo, não dá para você parar, sempre tem que estar ali. E quando você acha que está tudo bem, de repente não está tudo bem. O que acontece assim, que eu vejo, a gente vê num trabalho contínuo, por isso que eu falo que tem que
85
ser contínuo, o processo da sustentabilidade, a gente vê no processo: olha, o lixo tem que separar assim, assim e assim. Mas o que você aprendeu, de repente vem algum item, que de repente você não conhece, mas e esse aqui, vai aonde? Vou descartar onde? Então eu penso assim, por isso que tem que ser contínuo, sempre aparece alguma coisa nova, ou você acaba esquecendo alguma coisa, vai passando e acho que o ser humano quando você pára um pouquinho, de repente você também relaxa. Então, olha você tem que separar o lixo....aí hoje, você de repente mistura o lixo, amanhã você mistura de novo e depois de amanhã você já esqueceu. Por isso que eu falo que tem que ser contínuo. (Assistente Social B)
O que eu entendo por sustentabilidade é a necessidade que hoje a gente tem de se preocupar com o planeta com o que a gente tá fazendo e com o que vai acontecer. Eu vejo a nossa responsabilidade em cuidar, o que que nós estamos fazendo e em função do que nós estamos fazendo o que que vai acontecer. Como vai ser a geração de amanhã se hoje a gente já tá vivendo algumas conseqüências do que a gente fez. (Assistente Social C)
Percebe-se nas citações, que está predominantemente presente uma questão
de cunho ambiental. Nesse sentido, apenas a Assistente Social A mencionou o
relatório Brundtland e apresentou mais clareza quanto ao embasamento
conceitual e teórico embora, as outras falas não tenham sido incoerentes
preservando em sua essência o conceito presente no Relatório Brundtland e
institucional, demonstraram uma visão mais prática e pessoal do que é
desenvolvimento sustentável; que pode facilmente identificar o senso comum.
Em geral, esse é o conceito que ―paira no ar‖.
Quando questiona-se sobre o conceito de sustentabilidade adotado pela
empresa, ilustram esse conteúdo as seguintes falas:
Qual o conceito? Vamos praticar a sustentabilidade. Eu acho que isso eu aprendi aqui, que é bom pra nós, que é bom pra sociedade e é bom pra todos. Se é bom pra gente tem que ser bom pra sociedade e agente tem também que ensinar aos nossos clientes. Não sei se
86
cabe a resposta ou não. Eu acho que é isso... acho que pra uma sociedade melhor, né? Pra a gente ter um mundo melhor e uma sociedade melhor. Se a gente não fizer isso de agora, daqui a alguns anos a gente não vai mais conseguir viver. Visto todas essas tragédias que vêm ocorrendo. Vezes que se vê a natureza também, né? Às vezes ela acaba ficando triste com o próprio ser humano. Porque a gente vem destruindo tanto. Construindo às vezes onde não deve, desmatando realmente onde não deve. É a própria natureza, ela dá o seu recado. É muito triste. (Assistente
Social B)
Eu acho que por conta da empresa de ter uma visão, por estar extremamente “antenada” com esse mundo, e de ter essa visão, quer dizer, uma visão de que as coisas não podem continuar sendo do jeito que sempre foram, porque não existe uma empresa sadia em uma sociedade doente. Essa é uma visão pragmática do empresário/banqueiro que pensou isso. (Assistente Social A)
Eu acho que é muito em cima disso que eu to te falando que é o que a gente escuta aqui dentro, é o cuidado com o planeta, o que a gente pode fazer, o que cada um de nós podemos fazer com relação à melhoria e...agora conceito do banco eu não sei...acho que o banco não adotou esse conceito não por modismo, até porque foi um dos primeiros a adotar, mas é porque ou a gente cuida desse planeta ou daqui a pra frente as empresas não conseguem nem se manter, então acho que em função disso que o banco...mas eu não participei, como eu já disse pra você, do início programa de sustentabilidade do Banco Real. No Santander isso era falado muito pouco, depois da incorporação que a coisa ficou muito forte, tanto que no Santander não existia a área de sustentabilidade. (Assistente Social C)
Ressalta-se aqui foi o fato de que em nenhum momento quando
questionadas sobre o conceito, elas mencionaram que sustentabilidade ou
desenvolvimento sustentável traz em si os três pilares: o social, o ambiental e o
econômico. Como visto no primeiro e no segundo capítulo, o conceito de
desenvolvimento sustentável vai muito além da preservação ambiental e
conservação de recursos para gerações futuras, mas abrange os três pilares
que dão suporte ao que se entende por desenvolvimento sustentável ou
87
sustentabilidade. No decorrer da entrevista, essa questão aparecerá apenas na
fala da Assistente Social A quando questionada sobre as ações do banco.
Nas falas da Assistente Social C e da Assistente Social A citadas acima,
aparece a afirmação de que as empresas não sobreviverão no planeta daqui
para frente se não fizerem algo a respeito. No website esta afirmação de que
“não existe uma empresa sadia em uma sociedade doente” também aparece. O
que denota a percepção das entrevistadas de que adotar esse conceito em sua
missão, valores e visão é uma decisão estratégica do Banco. Analisando os
materiais institucionais a empresa afirma que a sociedade está mudando e por
isso está exigindo cada vez mais atitudes coerentes das empresas quanto às
suas práticas em relação ao consumidor, às comunidades que estão em seu
entorno e ao meio ambiente. “Porque o bem-estar de cada um depende do
bem-estar de todos. Se cada um fizer a sua parte, todos ganham: as pessoas,
as empresas, o mercado, a sociedade e o planeta”.26
Uma afirmação pragmática do INSTITUTO ETHOS e utilizada pelo banco
explica que do ponto de vista da estratégia empresarial, adotar a
sustentabilidade consiste em “assegurar o sucesso do negócio no longo prazo e
ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento econômico e social da
comunidade, um meio ambiente saudável e uma sociedade estável”.27 E que
isso na prática significa um “jeito de fazer negócios que leva em conta a
geração de valor econômico, social e ambiental ao mesmo tempo.”
26
Extraído dos folhetos veiculados internamente aos funcionários do banco. 27 Conceito do INSTITUTO ETHOS. Disponível em: www.ethos.org.br
88
Com essas afirmações, fica clara a opção da Instituição em adotar esse
conceito como estratégia de negócios e seria ingenuidade deixar de perceber a
essa estratégia, que embora traz em seu bojo e em muitas falas; a ideia de um
novo paradigma de mundo – parece ser uma visão um tanto quanto romântica e
floreada – da sociedade. É preciso cautela quanto ao entendimento desse
conceito, que muito embora trata sim de uma situação real e urgente de
demanda para toda a espécie humana, no que tange à sobrevivência do
planeta e da humanidade, consequentemente; ele não rompe com a lógica do
sistema capitalista, muito pelo contrário; reafirma este modelo sustentando o
―status quo‖ das práticas exploratórias já existentes e conhecidas, isto é,
continuará explorando os recursos naturais; a lógica de produção e
(re)produção da sociedade se manterá a mesma e embora se queira atingir
uma sociedade sustentável.
3.3.2 A concepção de profissão dos sujeitos e seu entendimento sobre o papel profissional do assistente social frente à temática da sustentabilidade
Procurar entender o movimento de aproximação do Serviço Social com a
temática da sustentabilidade é o objetivo central deste trabalho, portanto
perguntas para subsidiar esta categoria de análise se fizeram imprescindíveis.
Na busca de mapear o entendimento que os sujeitos têm sobre a profissão,
bem como seu papel profissional e fomentar reflexões sobre as contribuições
que o assistente social pode oferecer frente a essa temática, perguntas foram
formuladas. Quando questionadas se o Serviço Social está envolvido com a
temática na empresa, as entrevistadas responderam:
89
Então, a gente volta a problematizar sobre Serviço Social na empresa. Quem vai poder responder a esta pergunta eu acho que é a Elza, que é do setor de Recursos Humanos, que, digamos assim, atende funcionários naquela atuação mais tradicional de Serviço Social de empresa. Eu tenho formação em Serviço Social, mas atuo na área de Ação Social, ou melhor dizendo, de investimento social privado da organização, ou seja, nós atuamos com projetos voltados à comunidade e não só nas comunidades, nas quais o Banco está presente, mas nas comunidades que são alvos dos projetos que a gente desenvolve. No meu caso, eu trabalho fundamentalmente com o projeto Escola Brasil, que é o programa de voluntariado corporativo do Banco, que tem por objetivo contribuir para a melhoria da qualidade da educação oferecida pela escola pública. Os voluntários são funcionários do Banco, são mais ou menos, quase 2 mil pessoas dedicadas a esse trabalho, que estabelecem relações com escolas públicas do nível de Ensino Básico, normalmente Ensino Fundamental, alguns casos de Ensino Médio, e por meio desse relacionamento se busca contribuir para uma democratização da gestão escolar. Esse projeto existe desde 1998 e além projeto Escola Brasil eu tenho sobre a minha responsabilidade um programa chamado de Educação Infantil, que numa parceria que estamos firmando com o Ministério da Educação vamos qualificar a atuação técnica dos profissionais das secretarias de educação do estado da Bahia, que aderiram ao Pró-Infância, que é o programa de construção e reformas de creche. Então, eles entram com a ampliação do atendimento, por meio de equipamentos públicos de educação infantil, creches e pré-escolas e nós estamos entrando com a qualificação dos técnicos das secretarias de educação para a oferta de uma educação infantil de qualidade. (Assistente Social A)
Eu vejo que o Serviço Social não está envolvido com essa temática na empresa, sinceramente. Está distante, um pouco distante. Eu pretendo realmente me empenhar pra ver o que a gente pode fazer pra melhorar, pra a gente chegar...e poder praticar.(Assistente
Social B)
A única coisa que tem é o programa que eu não falei pra você, que eu deixei pra falar agora porque eu vejo que é um programa sustentável é o Programa Carona Amiga. Você sabe que aqui é uma região de fácil acesso, mas difícil chegar em função do número de carros que tem no entorno e um outro problema que a gente tem, sério, a gente não tem estacionamento na região. Têm vários, mas todos lotados. Então, o banco tem um número de vagas, nós temos 350 vagas que o banco oferece pros funcionários, ao custo de R$140,00 reais que é menos de 50% do que se paga na região pra quem vier com o carro com mais de uma pessoa. Então por
90
exemplo, se eu dou carona, mas tem que ser ida e volta todos os dias eu tenho direito a uma vaga aqui dentro. Somente os cargos de média gerência pra cima têm direito à vaga sem ter que participar desse programa. Com esse programa a gente procura olhar dois pilares, o pilar da sustentabilidade , porque de alguma maneira a gente tá tirando carros, tá melhorando o meio ambiente e pelo pilar de engajamento, porque a gente também tá fazendo com que as pessoas procurem umas às outras aqui dentro: “onde você mora? como é que você faz? como é que você vem pra cá? Então são as duas vertentes que a gente olha dentro do programa carona amiga. Então pra isso tem um site que tem um banco de dados onde as pessoas entram e ficam sabendo onde os outros moram, como pode fazer pra vir juntos...A pessoa coloca a informação se ela quer oferecer ou pegar carona, por exemplo eu tenho carro, então eu ofereço, tem gente que quer pegar carona, então ela vai procurar como caronista e lá as pessoas se encontram e vão de alguma maneira se conhecendo. Essa iniciativa tem um ano e meio e surgiu quando da mudança pra cá, porque como nós trabalhávamos, o Banco Real ficava na Paulista, num tem problema de transporte lá, lá é metrô. E quando nós viemos pra cá, nós começamos a ver que se todos os funcionários vierem de carro pra cá a gente não chega. Como é que nos vamos incentivar? Tem algumas vans que pegam de alguns pontos pra trazer pra cá pra que a gente consiga dar uma melhorada no entorno em termos de número de carros, porque aqui as seis horas da tarde não é fácil. Quando nos mudamos pra esse prédio se criou um grupo pra tratar da mudança pra cá, restaurantes, transportes e aí em cima disso o grupo falou vamos pensar em alguma coisa de carona e daí surgiu. Hoje nós temos 296 carros nesse programa com 600 pessoas, então a gente consegue ver algumas coisas eu não consigo medir, quantificar o quanto isso representa em termos de melhoria até porque eu acho que é muito pequeno perto de tudo que acontece, mas o banco procura sim. (Assistente Social C)
O que percebeu-se sobre o envolvimento do Serviço Social em relação à
sustentabilidade no Banco Santander é que de alguma maneira estas
profissionais estão sim, envolvidas com o tema. O Banco possui várias ações
que congregam os três âmbitos da sustentabilidade, como foi referido no
segundo capítulo. Nas falas das entrevistadas, aparecem diversas ações nas
quais elas estão envolvidas direta e indiretamente, contudo não apresentam
muita clareza entre o vínculo das ações que desenvolvem e/ou executam com a
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temática da sustentabilidade, especialmente as profissionais que estão em RH
no âmbito do Serviço Social ―mais tradicional‖, - de acordo com as falas delas –.
Em entrevista com a Assistente Social C, essa mencionou vários programas
com que trabalha, porém só identificou o Carona Amiga como relacionado à
sustentabilidade.
Ao recuperar a fala da Assistente Social A, identificou-se que apesar de
ela ser formada em Serviço Social, responde a esta pergunta inicialmente
sinalizando que esta deve ser formulada à Assistente Social B, que trabalha
com o Serviço Social mais ―tradicional‖. Aqui, uma contradição fica evidente em
um primeiro momento; pois embora ela tenha formação em Serviço Social,
parece que não se identifica como tal, mas sim com o cargo que lhe foi
instituído pela organização. Refletindo sobre essa questão, remete-se à
MARTINELLI (1989), quando trata em sua brilhante obra Serviço Social:
Identidade e Alienação – fonte de consulta absolutamente indispensável ao
Serviço Social, como assim afirma José Paulo Netto – a autora traz para o
âmago da profissão a discussão sobre a identidade profissional. À luz do
pensamento crítico e dialético fomentado por Karl Marx no conjunto de sua
obra, discute a identidade profissional.
Porém, numa fala seguinte ela explicita que trabalha no pilar social,
demonstrando com clareza o seu papel profissional, e a demanda institucional
frente às questões que compreendem o pilar social da sustentabilidade; que
serão apontadas ao longo da análise.
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Quando questionadas sobre seu papel profissional, responderam:
O meu papel profissional é oferecer para a organização uma leitura apropriada das demandas sociais que a gente atende, no nível do Serviço Social pra comunidades, com as quais a gente trabalha, e buscar alternativas viáveis, possíveis e eficazes pras questões sociais com as quais a gente lida. Acho que esse é o meu papel profissional. (Assistente Social A)
O papel do assistente social? Hoje eu vejo o papel do assistente social como um educador mesmo, né? E que ele consiga com seus próprios recursos se capacitar, ver e enxergar. Então, é difícil o papel do assistente social, porque ele é muito mal visto....não é mal visto, mas ele é visto assim: o assistente social tem que ser aquele que é bom, muito generoso, tem que ser muito caridoso, e numa organização, numa instituição financeira, e espero que em lugar nenhum , o papel do assistente social seja visto desta forma. Tem tanta coisa que o assistente social faz, que às vezes ele não é tão visto nesta condição, mas hoje ele às vezes ainda é visto como muito bonzinho, que ajuda todo mundo e não é. Acho que ele tem que colocar a pessoa mesmo frente à sociedade, que saiba se virar, que tenha consciência dos seus atos e suas responsabilidades. Esse acho que é nosso papel, né? Não é de passar a mão, nem de proteger, nem nada. Então, que o nosso funcionário aqui tenha consciência e saiba o que fazer, se portar e tudo o mais. (Assistente
Social B)
Hoje o foco muito grande nas empresas é de programas preventivos, que não existia no passado. Antigamente, a gente “apagava mais o fogo”, atendia funcionários na sua maioria com problemas de saúde e hoje a gente tem um foco muito grande com programas preventivos, então essa área de programas especiais é de programas preventivos, visando saúde. Falar da importância de você fazer uma atividade física, fazer seus exames anualmente, a importância de você parar de fumar, então tem um programa anti-tabagismo, a importância de você ser acompanhado durante a gravidez, então tem um programa de gestantes, então são programas crônico, de check-ups e programas mais preventivos. Hoje eu participo de um grupo dentro de RH onde nos estudamos a sinistralidade dos planos médicos.Onde a gente não faz mais nenhum programa em termos de como a gente fazia no passado, sempre no achismo. Ah, eu acho que vai legal fazer um programa disso...ou daquilo...então identificando os números e o sinistro do plano médico, nós identificamos que nosso maior gasto era com gestantes. Identificamos também que os gastos relacionados a
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câncer, a oncologia, por exemplo também era muito grande. Então nós fomos desenhando os programas em cima da demanda real, em cima de números e nada mais. Que nem, no ano passado, atendemos quase mil gestantes. Então, pra tudo isso o Banco tem o com o PAPE, que é um programa de um programa de apoio pessoal, terceirizado e no PAPE a gente tem uma equipe multidisciplinar que atende 24 horas por dia, 365 dias por ano, porque eu não consigo dar conta de atender o Brasil inteiro, com 53 mil colaboradores, aproximadamente, e somos duas assistentes sociais na minha equipe que conta com 5 funcionários, então eu conto também no programa de gestantes com essa equipe de profissionais do PAPE, que atende não só por telefone, mas também presencialmente, dentro dos programas do Banco. (Assistente Social C)
Conforme observado, a fala da Assistente Social A começa a demonstrar
mais clareza no que tange à concepção de profissão. No sentido de
entendimento acerca dos referenciais teóricos e metodológicos que norteiam o
Serviço Social, esta fala demonstra um olhar mais ampliado e de totalidade.
Demonstrando a preocupação com uma leitura apropriada das demandas
sociais com as quais trabalha, que parece mais alinhada com o projeto ético-
político profissional.
Na fala da Assistente Social B observa-se uma referência à questão da
subalternidade da profissão, do profissional bonzinho e caridoso que ajuda a
todos. Infelizmente essa visão do assistente social que remete à gênese da
criação da profissão, ainda está presente nos dias de hoje; não apenas na visão
dos usuários, como muitas vezes, na visão e identidade dos próprios
profissionais. Questões como esta são tratadas com muita excelência por
diversos intelectuais da profissão, a exemplo de Maria Carmelita Yazbek,
quando recupera a discussão sobre a gênese da profissão e Maria Lúcia
Martinelli em sua obra já referida.
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Ainda ao final desta fala faz uma menção muito sutil sobre o papel do
assistente social no sentido de ajudar a promover a autonomia de seus
usuários, que vai à direção de uma afirmação muito utilizada informalmente
pelos profissionais ―...de que nosso papel não é dar o peixe e sim ensinar a
pescar”.
Quando questionadas sobre as contribuições da profissão frente à
temática da sustentabilidade, reponderam:
Então, eu vou falar o papel do Serviço Social. Se um dos pilares da sustentabilidade é o social, o assistente social é um profissional que pode contribuir nessa direção. Porque se o investimento social privado, e agora eu estou falando do mundo das empresas privadas, é uma forma que as empresas têm de serem partícipes do desenvolvimento social, né? Se o investimento social é uma das formas como as empresas apostam no desenvolvimento social do país, das comunidades, enfim... o assistente social, a formação do assistente social tem toda a propriedade para o desenvolvimento dessas iniciativas. Porque com a formação que o assistente social tem, analítica, de proposição, de também de visão de mundo, das questões sociais, etc....eu acho que esse olhar é bastante favorável para contribuir com a temática da sustentabilidade...a gente não precisa rotular sustentabilidade. O Serviço Social de empresa, por exemplo, sempre foi uma ação de sustentabilidade no eixo social, certamente quando bem feito, mas infelizmente nós não estamos preparados para isso. (Assistente Social A)
A sustentabilidade? Dentro da empresa? Como que o profissional de Serviço Social, perante à sustentabilidade? Deixa eu ver....eu vejo que ele tem que ser um orientador, de repente. Orientador? É....Disceminar o conhecimento, de repente. Não basta....eu acho que eu tenho que disceminar o meu conhecimento, de repente, que eu tenho, passar pras pessoas e as pessoas possam processar e se conscientizar. Talvez seja isso. Não sei se atende a sua resposta. (Assistente Social B) Eu acho que o assistente social acaba sendo um educador, né?Agente é um agente de transformação é um educador. Eu acho que o importante não é só do assistente social, eu acho que o papel
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é de todos nós. É da escola, como eu falei pra você, que hoje as pessoas estão aprendendo isso na escola. Os meninos aprendem isso na escola. Eu não vejo o papel do assistente social só como importante, eu vejo o papel de todo mundo, de qualquer profissional, do educador, nada específico pro assistente social, eu não consigo ver isso como alguma coisa que tenha nas nossas ações...dentro da minha área eu vejo é falar da importância de...hoje a minha área é focada muito em saúde, acho que eu não parei pra pensar nisso (pausa), preciso pensar um pouco melhor, nunca pensei. (Assistente Social C)
Observa-se que está presente nessas falas a questão da
interdisciplinaridade e, em especial na primeira – Assistente Social A – o
reconhecimento de que o profissional de Serviço Social tem toda a competência
necessária e um olhar adequado para contribuir com o enfrentamento dessas
questões.
Em dois momentos, durante as entrevistas surgiram falas que
apontaram, especificamente, para o papel da academia e a forma como esta
está atuando:
Uma porque a academia continua “malhando a bigorna no mesmo ferro”. Então, a discussão ainda está lá atrás, a discussão é atrasada. Não sei se a discussão começa na academia. Eu acho que tudo começa sempre na sociedade, mas a academia precisa entender o movimento da sociedade e não criar seu próprio. Nesse sentido...a compatibilidade de determinadas ações, que são próprias do Serviço Social, como, especialmente, por exemplo, vamos falar de algumas coisas que eu acho que a academia ouve melhor, desenvolvimento local, desenvolvimento de comunidades, então, eu acho que essa discussão é legal. (Assistente Social A)
Nós temos uma menor aprendiz, que ela vai iniciar, segunda-feira, com a faculdade de Serviço Social. Falei: “meu deus!”. Ela falou assim:” Ah! Eu tô tão em dúvida se faço Serviço Social ou se eu faço RH.” Falei: “Meu Deus”, eu fico imaginando o que espera ela na faculdade de Serviço Social, como é que está a faculdade? Agora
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vendo você eu vejo que está bem diferente. Do que nós vivemos há vinte anos no mínimo, né? Eu espero que esteja muito mais atuante. Tem alguns termos que a gente nem....você vê? A gente não está atento a isso, não está no radar da gente e deveria. (Assistente Social B)
Essas afirmações nos remetem ao fato de a que academia precisa entrar
no debate do desenvolvimento sustentável, inicialmente no que se refere ao
âmbito conceitual, entender, integrar e avaliar as maneiras possíveis de
contribuir para a consolidação de um conceito amplo, eficaz e eficiente que
referencie posteriormente as ações práticas.
3.3.3 - As ações e a estrutura da empresa no que tange à sustentabilidade, sob a ótica dos sujeitos entrevistados
Esta categoria de análise busca compreender como a sustentabilidade
está estruturada no Banco, como por exemplo, o setor responsável, o perfil dos
profissionais envolvidos, a formação, a dinâmica de trabalho das equipes
multidisciplinares na questão da interdisciplinaridade; como as ações em
desenvolvimento sustentável acontecem na prática e seus impactos.
Com relação ao setor responsável pelas questões relativas à
sustentabilidade no Banco, todas as entrevistadas foram unânimes em dizer
que é a Diretoria de Desenvolvimento Sustentável. Porém, quem nos deu
informações mais detalhadas acerca da formação da equipe e diretoria foi a
Assistente Social A, até por ter feito parte desta diretoria e por suas atribuições
serem mais próximas à prática desta. Esta área está sob a direção de Maria
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Luisa Pinto de Paiva, psicóloga de formação, que a pedido de Fábio Barbosa,
presidente, implantou essa área no banco em aproximadamente 2001. Segue a
fala que ilustra o que foi dito sobre este setor:
A área responsável pela sustentabilidade é a Diretoria de Desenvolvimento Sustentável. Mas é bom que se saiba qual é a concepção do trabalho dessa diretoria desde o seu início, que foi aproximadamente em 2001. Ela, ao longo desses anos, vem buscando fazer experiências piloto dentro do Banco, relativamente à sustentabilidade, dar o start, encubar e depois, uma vez encubado, isto vai para as áreas de processos. Então, por exemplo, essa área que eu trabalho, que é Ação Social, essa área nasceu na Diretoria de Desenvolvimento Sustentável e já em setembro do ano passado começa a fazer parte da vice-presidência de Recursos Humanos, mas com esse olhar para fora, e aí nós temos um Serviço Social com uma atividade de assistentes sociais para o público interno. A formação dentro desta área é a mais variada possível. Você tem desde psicólogos, até o pessoal de Administração de Empresas, Economia, Agronomia, Gestão Ambiental, Engenharia, você tem várias formações, mas assistente social era só eu. Você tem todo um procedimento de eco eficiência dentro do banco, foi também encubado em desenvolvimento sustentável e hoje está na área de facilites e assim por diante. Por exemplo, tudo o que o banco desenvolveu com relação a eco eficiência, nós transferimos esse conhecimento, adaptado, naturalmente, para as escolas do projeto Escola Brasil, pras escolas parceiras do projeto Escola Brasil. Então, nós temos um programa para oferecer, disponibilizar para as escolas que se chama Escola Eco-Eficiente, então uma prática nossa foi transferida para as escolas do projeto Escola Brasil. (Assistente Social A)
Esse setor é o responsável pela importância que o banco dá ao tema, porque temos uma vice-presidência que cuida disso. Quer dizer, isso mostra a importância que o Banco dá a essa área. Senão a gente fala bom, podia ter um setorzinho dentro de RH cuidando disso e não dentro do Banco existe uma vice-presidência que cuida disso. A minha vice-presidência se reporta ao presidente, assim como a vice-presidência de desenvolvimento sustentável também, então a gente corre no paralelo. (Assistente Social C)
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Percebe-se a ausência do assistente social no setor que
estrategicamente pensa e dirige os projetos na linha de sustentabilidade e em
nenhuma das falas das entrevistadas menções a esse respeito são observadas.
Apenas referem ao fato de a Instituição valorizar intensamente o tema e diante
disso, criou uma área específica em sua estrutura organizacional.
Sobre as ações que a empresa tem com relação à sustentabilidade, as
entrevistadas responderam:
A empresa vem tendo um grande número de ações relativamente à sustentabilidade. Eu posso te dizer de alguns, né? Porque, naturalmente, como eu trabalho no pilar do social, se você pensar no triple botton line você tem o ambiental/social/econômico, eu trabalho desde sempre com o pilar do social. Então, a empresa tem ações para as comunidades onde, enfim, os seus projetos sociais são dirigidos. A empresa tem ações internas de promoção da diversidade. Ela fomenta um prêmio de difusão de práticas de diversidade em escolas. São muitas ações. Até sugiro que você depois entre no portal Práticas de sustentabilidade do Banco, que você vai encontrar essas ações. Enfim, muitas ações do social relativamente, enfim, a Universidade Solidária, o Empreendedorismo Social em comunidades de baixo IDH, a promoção dos direitos da criança e do adolescente, com um projeto chamado Amigo de Valor, que já foi chamado de Amigo Real, também apoiando o fortalecimento dos conselhos da criança e do adolescente em municípios de baixo desenvolvimento infantil do Brasil. No Social eu acho que a gente pode falar basicamente das ações de ação social, que são essas, há mais outras, enfim, várias, muitas, ao longo desses anos. Depois, práticas que estão inseridas no cotidiano da organização, que é a coleta seletiva de resíduos, práticas de eco-eficiência, com relação à energia elétrica, emissão de gases de efeito estufa, enfim, isso que temos internamente. E aí tem um rol de ações que estão vinculadas a negócios sustentáveis, que dizem respeito ao gás carbono, quer dizer, às emissões de gás na atmosfera, reconstituição de florestas. Há uma série de negócios sustentáveis nessa obra. Então, há práticas da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona. Então, nós estamos falando de fornecedores. Há uma política que garante condições de sustentabilidade para os nossos fornecedores, de relacionamentos sustentáveis com esses fornecedores. Temos políticas internas com
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relação ao pessoal e que também, com esses fornecedores, por exemplo, a prática de trabalho escravo, de mão-de-obra infantil, etc, tudo isso é fiscalizado, né? E já temos muitos negócios sustentáveis, por exemplo, a área de micro crédito do Banco surgiu dentro da Diretoria de Desenvolvimento Sustentável e hoje é uma área de negócio. (Assistente Social A) Ações? O que eu falo pra você que a gente tem muito, que eu vejo é em termos de limpeza com relação à limpeza do Rio Pinheiros, o plantio de árvore, a gente tem muito descarte de pilha, de materiais de celular, por exemplo. Onde você andar aqui no Banco, você encontra...e a importância que o Banco fala do planeta, de cuidar bem do planeta. Agora quais são as ações específicas como eu tenho meus programas estruturados, eu não sei. (Assistente Social C)
Então, aí fica difícil pra eu falar, porque , então, na minha área assim, eu fico meio preocupada , é um tema que nós não temos e como é?...Será, que eu posso responder? Porque no meu setor especificamente não tem, por isso eu fico meio assim. (Assistente
Social B)
Na fala da Assistente Social A, foi possível identificar grande
correspondência com o que encontramos publicado pela empresa no website, e
em folhetos e folders distribuídos internamente, visando à comunicação
institucional e disseminação de práticas, idéias e conceitos entre os
funcionários, conforme conteúdo amplamente abordado no segundo capítulo.
Ao longo das entrevistas, questões sobre treinamentos oferecidos pelo
Banco aos funcionários surgiram. Porque se observou que os sujeitos
entrevistados que trabalham na área de RH – Serviço Social mais tradicional -
tiveram grande dificuldade de comentar a respeito das ações que a empresa
desenvolve na linha de sustentabilidade; o que invariavelmente chama a
atenção exatamente pela campanha publicitária da empresa ser totalmente
voltada para o slogan “vamos juntos?”, na construção de um mundo
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sustentável, no que se refere ao relacionamento do Banco com todos os
públicos de relacionamento.
Quando questionadas acerca da existência de treinamentos oferecidos
pela empresa sobre sustentabilidade, a Assistente Social A e Assistente Social
B responderam positivamente, porém a Assistente Social C disse que nunca
recebeu nenhum tipo de treinamento a respeito desse assunto. Analisando as
razoes pelas quais de duas funcionárias dizerem que tiveram treinamento e
uma não, identifica-se que as que receberam treinamento, vieram do Banco
Real, enquanto a que não teve, já era funcionário do Banco Santander antes da
incorporação do Banco Real por este. Nota-se uma certa discrepância na
cultura organizacional, pois mesmo após dois anos de incorporação, a
entrevistada relata que nunca recebeu esse treinamento, o que é possível ser
observado na prática devido à fala a seguir:
Não recebi nenhum treinamento, mas veja bem, embora eu trabalho há 28 anos no banco, essa bandeira de sustentabilidade é uma bandeira nova, ela tem dois anos, então é uma bandeira que começou quando comprou o Real, então tudo ainda também tá em (pausa) eu já era do Santander, eu não vim do Real então não sei se as pessoas foram treinadas no Real e eu não, então não sei te dizer. Eu acho que o Banco sempre teve uma posição muito forte e eu senti muito isso quando eu cheguei, quando comprou o Real. A gente não escutava falar no Santander com o peso que se fala no Real, mas hoje, mesmo quem veio do Santander, quando você fala em sustentabilidade, todo mundo pára. As pessoas dão importância mesmo, não é alguma coisa que antigamente você escutava falar, escutava falar. Eu acho que falta pra gente ainda muito mais conceitos. (Assistente Social C)
Sim, há muitos anos. Há muitos anos existem oficinas de sustentabilidade, openhouse de sustentabilidade, vários e vários treinamentos até para....bom, existe um portal, um site do banco
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chamado Práticas de Sustentabilidade, em que o banco abre completamente para a sociedade o que ele faz, as experiências que ele tem. Tem cursos lá também... Nesses cursos internos sempre participa quem quer. Claro, que se um gerente de uma área, o diretor de uma área decide que o pessoal dele vai fazer, porque ele é o mandatório, então vai....mas, normalmente as pessoas aderem de livre e espontânea vontade. (Assistente Social A)
Não sei se todos têm esse pensamento, mas a gente espera que sim, porque todos os setores foram envolvidos, todos nós no banco recebemos treinamento e orientação para isso... Porque o próprio presidente Fábio Barbosa, ele que é o incentivador maior, ele é uma pessoa muito carismática, não só perante os funcionários, mas perante a sociedade toda. Então, como ele prega muito e os funcionários gostam muito dele e acreditam muito no que ele diz, então realmente é praticado desde o nosso presidente. Tenho certeza que essa informação foi para todas as áreas, pro banco todo e espero que todos estejam colaborando. Mas, a gente percebe que muita gente colabora sim, nas atitudes do dia-a-dia. Porque se você ver, cada lounge aqui tem os equipamentos necessários pra reciclar, pra jogar no lugar certo. É difícil a gente ver alguém colocando fora do lugar um item de reciclagem, fica tudo bem colocadinho, não vejo ninguém jogando indevidamente. A gente tem equipamentos que possibilitam aí que o funcionário coloque tudo no lugar devido. (Assistente Social B)
Todavia, relataram práticas e iniciativas concretas, presentes no seu dia-
a-dia dentro da empresa, conforme exibidas nas falas:
Existem outras ações que o Banco faz, não na minha área, mas...que dentro do RH, que chama Semana Santander é você, onde muitas ações são pensando em sustentabilidade. Então por exemplo, a agente já limpou a margem do Rio Pinheiros...é...que mais que foi feito? É...porque como eu não trabalho nesse grupo...Ah! Saiu plantando árvores na margem do Rio Pinheiros também nas margens do Rio Pinheiros, porque como a gente fica por aqui, por aqui no Rio, né? Então fala da importância de planta e da água e...por exemplo esse prédio é totalmente sustentável, a água que usa no banheiro é guardada da chuva, que dizer, tem toda uma estrutura de sustentabilidade. Esse prédio foi feito pensando nisso. As privadas são a vácuo, assim você não precisa ficar com ela cheia de água...Outro exemplo praticado aqui é a economia de papel. Todas as nossas impressoras elas são mapeadas para não gastar papel, todo o papel utilizado aqui é reciclado, os
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nossos talões de cheque são de papel reciclado, então a gente consegue ver, eu não consigo medir...mas por exemplo, hoje pra você tirar uma impressão, aqui caberiam três folhas dessa e frente e verso, você só consegue imprimir se você passar o seu crachá, não é como algumas empresas que você deixa imprimindo e nunca mais nem vai buscar...eu só imprimo se eu passar meu crachá, então isso economiza papel e árvore. Então a gente consegue ver sim, eu não sei o resultado disso pro planeta, o resultado disso pra sociedade, mas a gente consegue ver algumas coisas, mas não consigo medir, não consigo quantificar o quanto isso representa em termos de melhoria. (Assistente Social C)
Então, foi o que eu falei, a questão da reciclagem do lixo, do papel reciclado...é...nós veiculamos sim. Tanto é que, aquela mídia aparece na TV, o que que acontece, a nossa empresa é prestadora de assistência odontológica...então, puxa vida, olha, gostei, a gente também quer implantar. O que acontece também, como nós praticamos a sustentabilidade a gente pede também que os nossos fornecedores tentem praticar na medida do possível. Então, vamos supor: numa assistência médica, os envelopes que vão as carterinhas de assistência médica, nós pedimos que os envelopes sejam reciclados. Tudo que é possível.... Então, a gente pede. E no que é possível, eles colaboram sim, principalmente o papel. Tanto é que você veja, a Visa Vale é uma empresa parceira nossa, ela também usa o papel reciclado. A gente tenta praticar e as nossas prestadoras também, na medida do possível a gente pede para que eles também possam colaborar, e eles, na medida do possível colaboram, então acho que aí existe uma prática de sustentabilidade. Isso não é uma definição que o banco peça, mas a própria área pede. É como as carteirinhas do plano de saúde, quando precisa renovar, pedimos de volta para que essa carteirinha vá para a empresa e essa empresa cuide de reciclar as carteirinhas. (Assistente Social B)
Nota-se nas falas que há uma preocupação real em engajar todos os
stakeholders ou os públicos de interesse em todas as ações possíveis.
Sobre o impacto das ações de sustentabilidade do Banco, os sujeitos
responderam:
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Bom, no que se refere à imagem do Banco Real, agora volto ao Banco Real, porque no Banco Santander isso é alguma coisa ainda muito nova, mas no Real, por ter tido uma atuação pioneira em sustentabilidade e por ter disseminado muito esse conceito, esta idéia de sustentabilidade, ele teve a sua imagem muito vinculada a este ideal, o que foi altamente positivo pro Banco. Do ponto de vista da sociedade o impacto também, ou talvez até mais, foi expressivo, porque o Banco foi um dos primeiros fomentadores da discussão desta temática na sociedade brasileira. Ele foi pioneiro nisso, inclusive de trazer gente de fora, de países que estavam mais na frente, profissionais dos primeiro, segundo e terceiro setores de outros países que estavam mais adiante. Promoveu muitas discussões, muita disseminação de conhecimento no nosso país, relativamente à sustentabilidade, seja qual for o eixo econômico, social ou ambiental. Nós também fomos, acho que um dos primeiros bancos brasileiros, se não o primeiro a aderir ao Protocolo de Quioto e daí surgiram ações que vão nessa direção, tanto nos negócios, fornecendo créditos para empresas que precisavam conter a emissão de gases de efeito estufa, que precisavam cuidar dos seus resíduos, etc, até a própria academia, no sentido de avançar conhecimentos nessa direção...Por exemplo...olha, a Fundação Getúlio Vargas, ela constituiu uma parceria.... a Fundação Getúlio Vargas e a Fundação Dom Cabral construíram parcerias muito fortes com o Banco para desenvolver conhecimento, ampliar conhecimento, e depois oferecerem cursos para a sociedade e formação de verdade para a sociedade, disseminação de conhecimento por uma série de outros meios. Além desta questão, vamos dizer, pra sociedade........falei do Banco, falei dos clientes, porque pros clientes também esta bandeira, este ideal ou esta coisa foi muitíssimo compartilhada. Muitos clientes têm a oportunidade de se vincular a muitas das nossas iniciativas, especialmente as de cunho social, ou seja, o que nós fazemos pode se tornar pro cliente uma oportunidade dele investir no social. E diria agora para a relação Banco cliente e sociedade. (Assistente
Social A)
Olha, o que eu vejo muito o banco é falar, falar, falar! Eu acho que agente vence pelo cansaço ne´? Qualquer área de comunicação diz que se você não falar seis meses a mesma coisa você não grava. Então se você quer falar sobre...se você quer se alimentar bem, a gente tem que falar seis meses. Beber água, nós fizemos uma campanha para as pessoas beberem água para a vida saudável, nós só fomos mediar que a coisa tava melhorando depois de seis meses de dizer beba água, beba água a cada quinze minutos beba água. Então em termos do que eu vejo o banco fala muito da importância dessa questão, mas eu não tenho nada tangível com relação a isso. (Assistente Social C)
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Observou-se o fato de que nada em termos quantitativos apareceu nas
falas nas profissionais, o que chamou a atenção, visto que a pergunta lançada
tratava de impactos das ações praticadas.
Quando perguntou-se sobre a questão da interdisciplinaridade entre as
equipes multidisciplinares, obtive-se as seguintes respostas:
Sim. Trabalhamos a questão da interdisciplinaridade porque a formação de cada profissional agrega um valor no conjunto de ações ou na visão que a gente tem a respeito da demanda da atuação que temos que ter. Não sei se eu estou respondendo isso, mas...pelo seguinte: porque você tem uma situação, e tem várias possibilidades de leitura da situação, ou seja, da demanda, e várias leituras do que deve ser oferecido para dar resposta aquela demanda. Então, a demanda, ela mesma se estrutura em interdisciplinaridade. Porque nós não temos feito assim: você entra com isso, o outro entra com outro, o outro entra com outro, não. O repertório de ações é construído juntos, juntos na mesma equipe. Então, por exemplo, na equipe em que eu trabalho eu sou assistente social, a Erika é pedagoga, a Ana Cristina é psicóloga e a Mariana é Relações Internacionais. Então, os nossos olhares têm a demanda lá, a gente olha. Claro, cada uma tem o olhar mais aguçado para determinadas coisas, mas quando a gente estrutura a ação, a gente estruturou com tudo isso. Eu acho que a própria demanda que....propicia isso. É. Claro que a forma como a gente responde a ela, não estratificando: você assistente social faz isso, você psicóloga faz isso, você pedagoga faz aquilo..a gente não trabalha assim. Todas as decisões, soluções são construídas conjuntamente. (Assistente Social A)
Olha, a gente hoje trabalha em co-relação com todas as áreas do banco. Hoje acho que não existe mais uma empresa que não se relaciona com todo mundo. Eu acho que Às vezes cartões vai lançar um produto e vem perguntar pra RH o que a gente acha do lançamento daquele produto. Eu acho que todas as áreas trabalham hoje. (Assistente Social C)
Eu vejo que sim. Eu acho que nosso trabalho é interdisciplinar. Tomar decisão sozinho, geralmente não existe, a gente sempre toma colegiado. (Assistente Social B)
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Mesmo não diretamente questionado, notou-se algumas questões que
apareceram durante as entrevistas e que saltam aos olhos; e que são
fundamentais de apresentar e discutir. Abaixo será possível identificar a razão
da relevância mencionada:
Qualquer coisa falam: procure a assistente social. Por isso que eu digo:” Nossa, Deus pai!”. Sabe porque que eu me ausentei agora há pouco? Porque eu não consegui chegar aqui. Eu estava almoçando, né? Daí, me ligaram...“Elza, você está onde?”, “nossa, eu tô aqui no hall do elevador.”, “Ah! Mas nós estamos com um funcionário aqui, foi demitido e ele não está aceitando, está passando mal, dá pra você vir atender correndo?” “tô subindo.”. Daí a Mara falou: “A Marina está aqui!” Você não atendeu o telefone”. Eu estava atendendo...estava buscando informação pra....num minuto se quer você se programa pra fazer alguma coisa, de repente aparece um imprevisto, na nossa área é assim, pelo menos nessa nossa organização, são 55 mil funcionários, né? E atender os dependentes...Ah! O funcionário lá em Leme descobriu nesse minuto que está com câncer, e tá desesperado, do nada, dá pra você ligar para ele agora? Vou ligar pra ele agora....é super, sabe?...É um dia assim que a gente tem que às vezes vou fazer isso, isso, e isso, mas quando você chega não é nada disso....teve um seqüestro, a família toda está presa até agora, os funcionários às vezes estão todos desesperados. Corre atrás...Ah, morreu a família toda do funcionário lá do Rio de Janeiro. Meu Deus! Corre atrás....poxa!!!...Agora eu tenho uma ajudante, mas vamos supor, esta ajuda que a gente dá financeira, a gente tem uma ajuda que chama Ajuda Social Extraordinária, é um benefício da Fundação, ela ajuda em medicamentos, funeral, diversos outros e calamidade pública. Eu tenho uns trezentos processos para analisar por mês. Desde medicamento, quando é tratamento contínuo, então, tudo isso a gente faz a análise, lê, entende, apresenta para um grupo de pessoas aqui dentro do banco, se eles aprovam ou não. (Assistente Social B)
Agente tem que lembrar o seguinte: nós temos hoje aqui no Banco um meio de comunicação enorme, às vezes estas informações estão lá na intranet e eu não consegui acessar, até porque como você mesmo disse, poxa, vocês são em duas para atender a 53 mil funcionários? Então você imagina que o tempo que eu tenho eu vou ler, às vezes, aquilo que está mais direcionado pra minha área. Então isso não quer dizer que não esteja tudo na intranet e eu não
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tenha lido, tá? Porque é...eu fico olhando no relógio, cê tá vendo, quer dizer, meu tempo é contado, então eu tenho duas pessoas pra atender lá me esperando. Então assim, na verdade eu vou, o tempo que eu tenho pra ler, eu vou ler aqueles temas que eu sei que vão me afetar. Hojé é greve de todos os médicos dos convênios médicos, você sabia? Não, então, eu sei...então assim, eu preciso tá lendo o que está acontecendo...atiraram naquela escola e mataram 13 crianças, tem algum filho de funcionário do banco lá? Então eu fico olhando onde eles moram pra saber se tem alguma criança que estuda naquela escola porque nós temos que atender o funcionário. Então, eu na verdade, me foco naqueles temas que são mais pertinentes à minha área. Isto não quer dizer que tudo que você falou não esteja lá. Pode estar na intranet pra gente ler e eu nunca tenha lido. Agente tem muito acesso, o balanço do Banco tá lá, as ações, o PEB tá lá. Agora falar pra você que eu dou uma olhada lá pra ver quantas escolas p PEB tá ajudando, não! Mais eu sei que existe, que eu gosto de dar a minha contribuição, então vamos ajudar, o que que a gente pode fazer? Mais tem um monte de produtos que o Banco tem, que eu não consigo ler os produtos, a gente acaba se informando conforme a nossa necessidade. E acho que essa é uma critica nossa, hoje a gente acaba correndo muito e acaba não conseguindo ler. Então pode ser que esteja tudo lá. Eu inclusive to já desesperada com o horário. (Assistente Social C)
O Banco tem uma bandeira também muito forte não só de sustentabilidade como de diversidade também. Você deve ter visto no site também, né? Até porque a gente aqui no Banco não tem problema nenhum de cor, de raça, nem de sexo, de gênero, quer dizer, não importa se a pessoa escolheu...fez uma opção de vida de homossexualismo, não importa. De deficientes físicos nós temos muitos, um dos pouco bancos que tem a quota cumprida em termos de deficientes físicos...idade, então por exemplo a gente tem um programa de sêniors, quer dizer a pessoa já entra pra trabalhar com mais de 50 anos, então a gente tem uma bandeira muito forte de diversidade também. E isso está no RH também, sempre esteve, mas quem toca são outras pessoas, não é a minha equipe. (Assistente Social C)
Foi observado nas falas que existe uma sobrecarga de trabalho, o que
prejudica a atualização intelectual mesmo através do site do Banco e a criação
de uma identidade de sua formação com as ações praticadas pela Instituição.
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Sobre as questões ambientais, responderam que enxergam que a
proteção ao meio ambiente está presente na missão, objetivos e princípios da
Instituição, citando como exemplos o prédio em que trabalham e a ação
realizada pelo Banco quando do plantio de árvores e mutirão de limpeza das
margens do Rio Pinheiros.
Quanto à questão se a empresa possui em sua estrutura algum cargo
para a atuação na área ambiental, as três são unânimes em dizer que não
sabem exatamente, mas que acreditam que sim. Assistente Social B cita que
ouviu algo sobre a existência uma área de Risco Ambiental e que acha que
possivelmente é esta a área que trata das questões relativas ao pilar ambiental.
Quando questionadas se a empresa apóia algum projeto ambiental, não
souberam responder, mas citaram novamente a iniciativa águas Claras do Rio
Pinheiros, que objetiva a recuperação do Rio.
Quanto às pressões que a empresa sofre para preocupa-se com o meio
ambiente, apenas a Assistente Social A afirmou que sim, porém mencionou não
ter conhecimento de nenhum acontecimento direto ou explícito dessa natureza.
Mas que acredita que hoje todas as empresas sofrem esse tipo de pressão por
parte de toda a sociedade.
Sobre alguma iniciativa inovadora para problemas ambientais, e
campanhas de conscientização ambiental para os funcionários, citaram a
economia de água e energia elétrica; a coleta seletiva em todas as unidades do
108
Banco, e a adoção do uso do papel reciclado pela Instituição. A Assistente
Social C, destacou em sua fala o projeto Carona Amiga como iniciativa
inovadora, conforme justifica:
O Carona Amiga é. Nós já fomos procurados por todos os meios de comunicação que você possa imaginar. Foi inovadora porque se você procurar no Google você não vai achar. Porque eu lembro que quando nós fizemos, eu procurei e achei, acho que foi na Prefeitura de Florianópolis, parece que eles tentaram e não conseguiram. Tentaram fazer um projeto Carona Amiga em Floripa e não conseguiram porque não tiveram adesão das pessoas. Então é inovador. Isso é. E acho que esse prédio né? (Assistente Social C)
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conceito de sustentabilidade continua em processo de construção,
embora o mais aceito e difundido ainda na atualidade é o contido no Relatório
Brundtland ou Nosso Futuro Comum, conforme encontrado na construção do
presente trabalho.
É necessária a apropriação do conhecimento teórico e conceitual através
de formação adequada para um posicionamento crítico frente às questões que
gravitam sobre a sustentabilidade, que apresenta em si, expressões da questão
social.
Muitos profissionais estão sendo demandados a trabalhar com este
tema, pois se trata de um conceito amplo e complexo que essencialmente
demanda conhecimentos diversos, interligados e integrados. Fala-se muito a
respeito da interdisciplinaridade como fundamental no trato do tema para
viabilizar sua aplicação teórica e prática no sentido de abranger todos os pilares
que compõe a sustentabilidade.
Para ilustrar esse pensamento, o professor José Henrique de Faria, da
FAE em Curitiba diz que ―não se trata de cada área trabalhando sobre um
problema, mas de um problema pensado pelas várias áreas ao mesmo tempo.
Já estamos em condições de superar a multidisciplinaridade. A sustentabilidade
deve ser entendida de forma interdisciplinar.” Ele ainda propõe uma teoria
crítica para a sustentabilidade, em que a prerrogativa máxima defendia pelo
110
autor é que uma sociedade sustentável não pode ser excludente, esta deve
garantir as condições básicas a todos os cidadãos como: trabalho, saúde,
educação, dentre outros.
Afirma que inovar de maneira sustentável não pode se basear na
acumulação, na imposição e na submissão de pessoas ou de organizações.
Assim, as relações devem ser horizontais e buscar a preservação das
condições de vida e da sociedade, de maneira equilibrada.
O Serviço Social é uma profissão que possui todo o referencial teórico e
metodológico para posicionar-se frente a esta demanda, contribuindo junto com
profissionais de áreas diversas para uma sociedade sustentável, garantindo
assim equidade, igualdade e justiça social.
O protagonismo dos assistentes sociais em relação a esta temática ainda
é tímido e pouco articulado. Sabe-se que o movimento dialético da realidade
exige frequentemente novos posicionamentos. Sendo o Serviço Social uma
profissão que está atenta a esse movimento, fica evidente que o envolvimento
do profissional é urgente e necessário visto que os problemas deflagrados
atingem diretamente toda a população, especialmente as classes menos
favorecidas.
A academia pode e deve contribuir compilando as pesquisas já
existentes e fomentando novas iniciativas nesse sentido, bem como articular-se
111
com as demais áreas do conhecimento para a inserção do conteúdo na grade
curricular, de forma interdisciplinar.
As empresas parecem ser ―o ator‖ mais engajado no que tange às ações
acerca da sustentabilidade, embora como já discutido; sabe-se que este
pioneirismo está diretamente vinculado a uma estratégia de negócio, que por
sua vez, possibilita a maximização dos lucros, um retorno mais acertivo do
investimento social privado, visando também o marketing institucional. Os
consumidores por sua vez, estão mais informados e consequentemente, mais
exigentes, demandando das empresas maior responsabilidade não apenas
social, mas em todo seu processo produtivo, buscando cada vez mais produtos
e empresas que respeitem o meio ambiente, não utilizem mão de obra escrava
e infantil, cuidem de seus resíduos e das relações que estabelecem frente a
todos ao públicos de interesse.
O governo por sua vez, é uma instância que precisa urgentemente
ampliar e acelerar sua participação frente às leis, projetos e programas no
enfrentamento das questões que cercam o desenvolvimento sustentável, pois
como foi verificado existem ações muito isoladas e pouco integradas ainda,
especialmente no aspecto ambiental.
Nesse sentido, alerta-se para o fato de que há extrema relevância no
tema estudado e que grande cautela é necessária no trato às questões da
sustentabilidade, uma vez que este conceito ainda não rompe com a lógica do
sistema capitalista, e que a depender das atitudes tomadas daqui para frente,
112
poderemos até ―salvar‖ o planeta, mas talvez continuaremos existindo dentro de
uma mesma lógica, onde o que prevalecerá, em menor escala, ainda será é a
acumulação de riqueza, a exploração do homem sobre a natureza e sobre ele
mesmo, perpetuando um cenário de desigualdade social.
113
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119
APÊNDICE
120
ROTEIRO DE ENTREVISTA
1) O que você entende por Sustentabilidade?
2) Qual o conceito de sustentabilidade desta empresa?
3) O Serviço Social está envolvido com a temática da Sustentabilidade na
empresa?
4) Que setor é responsável sobre as questões relacionadas à
Sustentabilidade na empresa?
5) Por que este setor é o responsável pela Sustentabilidade?
6) Quem é o responsável pelo setor? Formação, perfil e por quê?
7) Quais são as ações que a empresa tem com relação à sustentabilidade?
8) Como você avalia o impacto/resultado dessas ações?
9) Porque a empresa adotou o conceito de Sustentabilidade em suas
ações?
10) Como você avalia o papel do assistente social neste contexto? Porque
ele é importante? Quais são as contribuições dele frente a essa
temática?
11) Você assistente social, como vê a Sustentabilidade? Porque esta
temática é tão importante e está na agenda/estratégia das grandes
empresas?
12) Como avalia seu papel profissional dentro desta temática?
13) Porque a empresa demanda este profissional assistente social para
trabalhar com este tema?
14) Os profissionais trabalham com equipes multidisciplinares na questão da
interdisciplinaridade?
121
Sobre Meio Ambiente e Normas
1) A proteção ambiental aparece dentre os princípios, objetivos e missão da empresa? Se sim de que forma? ( ) Sim ( ) Não 2) A empresa possui dentro da estrutura organizacional algum cargo ou
função formalmente definido para atuação na área ambiental?
( ) Sim ( ) Não Qual?_________________________________
3) A empresa possui: ( ) ISO 9000 ( ) ISO 14000 ( ) SA 8000 ( ) Selo Ambiental ( ) Nenhum deles ( ) Outro:___________________________________________________
4) A empresa apóia algum projeto ambiental?
( ) Sim ( )Não Qual(is)?________________________________________________________
5) A empresa sofre pressões para preocupar-se com o meio ambiente? ( ) da comunidade ( ) de ONG’s ou Movimentos Sociais ( ) de órgãos públicos ( ) nenhuma 6) A empresa utilizou alguma solução para problemas ambientais que
pode ser considerada inovadora e tenha representado um marco importante?
( ) Não ( ) Sim Comente:____________________________________________ 7) A empresa possui campanhas e/ou programas de conscientização ambiental que sejam ministrados a seus funcionários e praticados no ambiente de trabalho?
122
FICHA DE DADOS PESSOAIS
Nome:__________________________________________________________ Cargo:__________________________________________________________ Idade:____________anos. Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Tempo de empresa:____________meses ou ________anos Tempo que está trabalhando com Sustentabilidade:______________________ Cargos anteriores trabalhando com Sustentabilidade:_____________________ ________________________________________________________________
________________________________________________________________
_____________________________________________________________
_______________________________________________________________
Funções que exerce no cargo atual: __________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
___________________________________________________________
123
TERMO DE CONSENTIMENTO Você esta sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa que é parte
integrante de uma Dissertação de Mestrado do curso do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Serviço Social, que deverá ser apresentado à PUC–SP -
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como um dos requisitos para a
conclusão do curso.
Sua participação consciente e sincera é fundamental para o desenvolvimento
desta pesquisa.
Ao aceitar participar, você deverá que fornecer informações sobre aspectos da
empresa em que trabalha, através de uma entrevista que será gravada.
A utilização do gravador tem por objetivo garantir a fidelidade das informações
fornecidas por você.
Como você e a empresa concordaram, seus dados e da empresa serão
divulgados.
Ao aceitar participar, você deve assinar esse termo de consentimento,
juntamente com a entrevistadora, termo do qual você terá uma cópia.
Agradeço pela atenção.
124
CONSENTIMENTO
EU_____________________________________________________________
declaro que li e ouvi as considerações feitas no termo de Consentimento e
concordo em fornecer as informações solicitadas através de uma entrevista que
será gravada;
São Paulo,____de_____________de 2011.
__________________________________
Entrevistado(a)
___________________________________
Entrevistadora
125
Entrevista Realizada com a Assistente Social A Marina: O que você entende por sustentabilidade? Assistente Social A: Então, são muitos...são alguns os conceitos de sustentabilidade. Eu, particularmente, como aqui na organização gostamos ou, enfim, nos identificamos mais de perto com o relatório Brundtland, que diz que a sustentabilidade é garantir para a gerações futuras as condições que temos na situação presente. Marina: O seu conceito é o mesmo que o da empresa? Assistente Social A: É. O meu é o mesmo que o da empresa. Marina: Você entende que o Serviço Social está envolvido com esta temática na empresa? Assistente Social A: Então, a gente volta a problematizar sobre Serviço Social
na empresa. Quem vai poder responder a esta pergunta eu acho que é a Elza, que é do setor de Recursos Humanos, que, digamos assim, atende funcionários naquela atuação mais tradicional de Serviço Social de empresa. Eu tenho formação em Serviço Social, mas atuo na área de Ação Social, ou melhor dizendo, de investimento social privado da organização, ou seja, nós atuamos com projetos voltados à comunidade e não só nas comunidades, nas quais o Banco está presente, mas nas comunidades que são alvos dos projetos que a gente desenvolve. No meu caso, eu trabalho fundamentalmente com o projeto Escola Brasil, que é um programa de voluntariado corporativo....que é o programa de voluntariado corporativo do Banco, que tem por objetivo contribuir para a melhoria da qualidade da educação oferecida pela escola pública. Os voluntários são funcionários do Banco, são mais ou menos, quase 2 mil pessoas dedicadas a esse trabalho, que estabelecem relações com escolas públicas do nível de Ensino Básico, normalmente Ensino Fundamental, alguns casos de Ensino Médio, e por meio desse relacionamento se busca contribuir para uma democratização da gestão escolar. Marina: Atualmente, quantos funcionários existem na empresa, mais ou
menos? Assistente Social A: Aproximadamente 50 mil, 53 mil. Marina: E desses 50 mil, 2 mil estão neste projeto? Assistente Social A: Estão nesse projeto. É bom que saiba também o seguinte: hoje nós somos 53 mil mais ou menos, né?, mas esse projeto nasceu no Banco Real e agora, de um ano pra cá mais ou menos, que vem se expandindo para o Santander, especialmente para aqueles que eram Santander, onde está havendo uma boa adesão, mas no Real o número de voluntários chegou próximo a 7% do número total de funcionários.
126
Marina: E como você faz para motivar as pessoas a participarem desse projeto? Assistente Social A: Na verdade, as pessoas precisam ser informadas da
disponibilidade que o Banco.....elas tem que ser informadas da oportunidade que o Banco tem para aqueles que querem exercer voluntariado. Então, nós basicamente mobilizamos uma energia voluntária já existente, quer dizer, existente entre os funcionários e esses, por sua vez, e com a publicização da atividade deles, outras pessoas são motivadas a uma atividade voluntária, mas a nossa base é fundamentalmente as pessoas que já tem essa energia exposta. Nós só fazemos dar oportunidades. Marina: Mas você não tem como mapear isso? Assistente Social A: Como assim? Marina: Tal pessoa tem interesse em fazer isso... Assistente Social A: Sim. Nós temos todos os voluntários cadastrados. Marina: Ah sim, mas aí a pessoa vai e ela mesma toma a iniciativa de se cadastrar? Assistente Social A: Sim.
Marina: Aqui na empresa qual é o setor responsável por estas questões
relacionadas à sustentabilidade? Assistente Social A: É a Diretoria de Desenvolvimento Sustentável. Mas é bom que se saiba qual é a concepção do trabalho dessa diretoria desde o seu início, que foi aproximadamente em 2001. Ela, ao longo desses anos, vem buscando fazer experiências piloto dentro do Banco, relativamente à sustentabilidade, dar o start, encubar e depois, uma vez encubado, isto vai para as áreas de processos. Então, por exemplo, essa área que eu trabalho, que é Ação Social, essa área nasceu na Diretoria de Desenvolvimento Sustentável e já em setembro do ano passado começa a fazer parte da vice-presidência de Recursos Humanos, mas com esse olhar para fora, e aí nós temos um Serviço Social com uma atividade de assistentes sociais para o público interno. Marina: Que é mais o serviço do RH? Do cuidado do funcionário, da qualidade
de vida, benefícios? Assistente Social A: Isso.
Marina: O seu já é outro foco, é a comunidade?
Assistente Social A: Exatamente. É a comunidade. Ainda falando no que eu
faço, além do projeto Escola Brasil... Marina: Este projeto Escola Brasil já existe há quanto tempo?
127
Assistente Social A: Desde 1998. Além do projeto Escola Brasil eu tenho sobre a minha responsabilidade um programa chamado de Educação Infantil, que numa parceria que estamos firmando com o Ministério da Educação vamos qualificar a atuação técnica dos profissionais das secretarias de educação do estado da Bahia, que aderiram ao Pró-Infância, que é o programa de construção e reformas de creche. Então, eles entram com a ampliação do atendimento, por meio de equipamentos públicos de educação infantil, creches e pré-escolas e nós estamos entrando com a qualificação dos técnicos das secretarias de educação para a oferta de uma educação infantil de qualidade. Está muito esquisito? Marina: Não, não. Depois a gente vai entrar mais nessas ações do Banco e aí
você pode explicar mais a fundo. Por quê esse setor que você mencionou , que é essa diretoria, é responsável pela sustentabilidade? Assistente Social A: Porque foi preciso fomentar...na verdade, foi preciso
construir, buscar conhecimentos, formatar experiências, definir prioridades, etc, para a atuação em sustentabilidade. Marina: E você conhece a formação dessa equipe? Assistente Social A: Sim, conheço.
Marina: Essa equipe é formada por quais áreas?
Assistente Social A: A Diretoria de Desenvolvimento Sustentável? Qual é a
formação dos profissionais da área? Marina: Isso. Assistente Social A: A mais variada possível. Você tem desde psicólogos, até o pessoal de Administração de Empresas, Economia, Agronomia, Gestão Ambiental, Engenharia, você tem várias formações. Marina: Mas, assistentes sociais nesta diretoria é só você? Assistente Social A: Só eu. Marina: Quem é o responsável por esse setor? Assistente Social A: É a Maria Luísa Pinto de Paiva (Malu), ela é a diretora e é psicóloga de formação. Marina: Ela está desde o início? Assistente Social A: Foi ela que instituiu, implantou essa área no Banco. Marina: E você já faz parte dessa área desde o início?
128
Assistente Social A: Não. A equipe foi constituída em 2001, 2000 ou 2001, se
eu não me engano, e eu entrei em 2006. Marina: Tá. Mas já para compor esta equipe? Assistente Social A: Esta equipe. Sim. Marina: Agora falando um pouco das ações. Quais as ações que a empresa tem com relação à sustentabilidade? Assistente Social A: A empresa vem tendo um grande número de ações
relativamente à sustentabilidade. Eu posso te dizer de alguns, né? Porque, naturalmente, como eu trabalho no pilar do social, se você pensar no triple botton line você tem o ambiental/social/econômico, eu trabalho desde sempre com o pilar do social. Então, a empresa tem ações para as comunidades onde, enfim, os seus projetos sociais são dirigidos. A empresa tem ações internas de promoção da diversidade. Ela fomente um prêmio de difusão de práticas de diversidade em escolas. São muitas ações. Até sugiro que você depois entre no portal Práticas de sustentabilidade do Banco, que você vai encontrar essas ações. Enfim, muitas ações do social relativamente, enfim, à Universidade Solidária, Empreendedorismo Social em comunidades de baixo IDH, a promoção dos direitos da criança e do adolescente, com um projeto chamado Amigo de Valor, que já foi chamado de Amigo Real, também apoiando o fortalecimento dos conselhos da criança e do adolescente em municípios de baixo desenvolvimento infantil do Brasil. No Social eu acho que a gente pode falar basicamente das ações de ação social , que são essas, há mais outras, enfim, várias,muitas, ao longo desses anos. Depois, práticas que estão inseridas no cotidiano da organização, que é a coleta seletiva de resíduos, práticas de eco-eficiência, com relação a energia elétrica, emissão de gases de efeito estufa, enfim, isso que temos internamente. E aí tem um rol de ações que estão vinculadas a negócios sustentáveis, que dizem respeito ao gás carbono, quer dizer, às emissões de gás na atmosfera, reconstituição de florestas. Há uma série de negócios sustentáveis nessa obra. Então, há práticas da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona. Então, nós estamos falando de fornecedores. Há uma política que garante condições de sustentabilidade para os nossos fornecedores, de relacionamentos sustentáveis com esses fornecedores Temos políticas internas com relação ao pessoal e que também, com esses fornecedores, por exemplo, a prática de trabalho escravo, de mão- de-obra infantil, etc, tudo isso é fiscalizado, né? E já temos muitos negócios sustentáveis, por exemplo, a área de micro crédito do Banco surgiu dentro da Diretoria de Desenvolvimento Sustentável, hoje é uma área de negócio. Marina: Por que os micro-créditos agora, eles estão principalmente voltados
para a questão do verde, né, que se fala? Assistente Social A: E não só do verde, mas....nós não trabalhamos só com a questão do verde. Quando você fala em sustentabilidade o que vem imediatamente na cabeça das pessoas é verde, né? E sustentabilidade tem três pilares, tem o meio ambiente, o econômico e o social. Então nós temos muito
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fomento, por meio de um micro-crédito, de pequenos negócios, especialmente para mulheres e outras, enfim, outras pessoas mais vulneráveis, mas de toda ordem, não necessariamente negócios verdes. Marina: E aí, quem avalia as solicitações das pessoas são vocês, é esta
equipe? Assistente Social A: Não, porque agora já é um negócio. Marina: Ah tá, já saiu de vocês? Assistente Social A: Já saiu. Como nós Ação Social já saímos de lá também, já estamos no processo da empresa, que é a vice- presidência de Recursos Humanos, assim também essa área de microcrédito já há uns quatro anos já é uma área de negócios específica. Marina: Como que você avalia o impacto dessas ações?
Assistente Social A: Bom, no que se refere à imagem do Banco Real, agora
volto ao Banco Real, porque no Banco Santander isso é alguma coisa ainda muito nova, mas no Real, por ter tido uma atuação pioneira em sustentabilidade e por ter disseminado muito esse conceito, esta idéia de sustentabilidade, ele teve a sua imagem muito vinculada a este ideal, o que foi altamente positivo pro Banco. Do ponto de vista da sociedade o impacto também, ou talvez até mais, foi expressivo, porque o Banco foi um dos primeiros fomentadores da discussão desta temática na sociedade brasileira.Ele foi pioneiro nisso, inclusive de trazer gente de fora, de países que estavam mais na frente, profissionais dos primeiro, segundo e terceiro setores de outros países que estavam mais adiante. Promoveu muitas discussões, muita disseminação de conhecimento no nosso país, relativamente à sustentabilidade, seja qual for o eixo econômico, social ou ambiental. Nós também fomos, acho que um dos primeiros Bancos brasileiros, se não o primeiro a aderir ao Protocolo de Quioto e daí surgirem ações que vão nessa direção, tanto nos negócios, fornecendo créditos para empresas que precisavam conter a emissão de gás de efeito estufa, que precisavam cuidar dos seus resíduos, etc, até a própria academia, no sentido de avançar conhecimentos nessa direção. Marina: Nesse sentido da academia, tem alguma ação específica? Assistente Social A: Olha, a Fundação Getúlio Vargas, ela constituiu uma parceria.... a Fundação Getúlio Vargas e a Fundação Dom Cabral construíram parcerias muito fortes com o Banco para desenvolver conhecimento, ampliar conhecimento, e depois oferecerem cursos para a sociedade e formação de verdade para a sociedade, disseminação de conhecimento por uma série de outros meios. Além desta questão, vamos dizer, pra sociedade........falei do Banco, falei dos clientes, porque pros clientes também esta bandeira, este ideal ou esta coisa foi muitíssimo compartilhada. Muitos clientes têm a oportunidade de se vincular a muitas das nossas iniciativas, especialmente as de cunho social, ou seja, o que nós fazemos pode se tornar pro cliente uma oportunidade dele investir no social. E diria agora para a relação Banco cliente e sociedade...
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Marina: Só um parêntese, ―os clientes‖, você se refere a empresas e às pessoas físicas também? Assistente Social A: Empresas e pessoas físicas também. E para a relação
entre esses três atores, o banco, os clientes e a sociedade num nível mais geral é um sonho que a gente persegue já há algum tempo de construir um novo banco para uma nova sociedade. Marina: E o que seria esse novo banco e essa nova sociedade? Qual é o ideal, a visualização? Assistente Social A: Eu poderia dizer assim muito rapidamente que, uma
sociedade global sustentada, ela opera por meio de paradigmas muito diferentes dos que nós operamos até agora.....acho que é mais rápido do que ficar dissertando aqui. Marina: Porque que a empresa adotou o conceito de sustentabilidade nas ações dela? O que você acha? Assistente Social A: Eu acho que por conta da empresa de ter uma visão, por
estar extremamente ―antenada‖ com esse mundo, e de ter essa visão, quer dizer, uma visão de que as coisas não podem continuar sendo do jeito que sempre foram, porque não existe uma empresa sadia em uma sociedade doente. Essa é uma visão pragmática do empresário ou do banqueiro que pensou isso. Marina: Como você avalia o papel do assistente social neste contexto? Assistente Social A: Então, eu vou falar o papel do Serviço Social. Se um dos pilares da sustentabilidade é o social, o assistente social é um profissional que pode contribuir nessa direção. Porque se o investimento social privado, e agora eu estou falando do mundo das empresas privadas, é uma forma que as empresas têm de serem partícipes do desenvolvimento social, né? Se o investimento social é uma das formas como as empresas apostam no desenvolvimento social do país, das comunidades, enfim... o assistente social, a formação do assistente social tem toda a propriedade para o desenvolvimento dessas iniciativas. Porque com a formação que o assistente social tem, analítica, de proposição, de também divisão de mundo, etc.... mas infelizmente nós não estamos preparados para isso. Marina: Por que você acha que não? Assistente Social A: Porque a academia continua malhando a bigorna no
mesmo ferro. Então, a discussão ainda está lá atrás, a discussão é atrasada. Marina: Mas você acha que isso teria que começar na academia?
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Assistente Social A: Não sei se a discussão começa na academia. Eu acho
que tudo começa sempre na sociedade, mas a academia precisa entender o movimento da sociedade e não criar seu próprio. Marina: E nisso, o que você acha que deveria acontecer? A academia deveria
trazer pra área de Serviço Social essa discussão? Qual seria sua sugestão? Assistente Social A: Sim. Acho que sim. Essa discussão, a compatibilidade de determinadas ações, que são próprias do Serviço Social, como, especialmente, por exemplo, vamos falar de algumas coisas que eu acho que a academia ouve melhor, desenvolvimento local, desenvolvimento de comunidades, então, eu acho que essa discussão é legal. Marina: Quais as contribuições que você acha que o assistente social pode dar frente à temática da sustentabilidade? Assistente Social A: Eu acho que eu já consegui responder, né?
Marina: Alguma ação prática,você tem em mente?
Assistente Social A: Primeiro eu acho que a nossa formação, da forma como
ela é, que é uma formação ampla. A gente tem um olhar para a sociedade, a gente tem um olhar pras questões sociais. Eu acho que esse olhar é bastante favorável para contribuir com a temática da sustentabilidade, que aliás não precisa ter esse rótulo, eu estava conversando com a Elza sobre isso outro dia. A gente não precisa rotular sustentabilidade. O Serviço Social de empresa, por exemplo, sempre foi uma ação de sustentabilidade, sempre foi, no eixo social, no pilar social, sempre foi, certamente quando bem feito. Marina: Sim. Por que você acha que essa temática ela é tão importante, ela está presente em praticamente toda a agenda, em todas as estratégias da sociedade e principalmente nas grandes empresas? Assistente Social A: Porque o mundo está acabando, né? O planeta está exaurido, está completamente exaurido. As relações entre as pessoas estão completamente esgarçadas, a malha social está completamente esgarçada, né? Daqui pra frente ou a gente faz alguma coisa ou a gente faz alguma coisa. Marina: Como você avalia o seu papel, o seu papel, nessa temática, dentro
dessa temática? Assistente Social A: O meu papel profissional é oferecer para a organização uma leitura apropriada das demandas sociais que a gente atende, no nível do Serviço Social pra comunidades, com as quais a gente trabalha, e buscar alternativas viáveis, possíveis e eficazes pras questões sociais com as quais a gente lida. Acho que esse é o meu papel profissional. Marina: Vocês trabalham com equipes multidisciplinares? Você já me
respondeu que sim. E trabalham a questão da interdisciplinaridade?
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Assistente Social A: Sim. Trabalhamos a questão da interdisciplinaridade
porque a formação de cada profissional agrega um valor no conjunto de ações ou na visão que a gente tem a respeito da demanda da atuação que temos que ter. Não sei se eu estou respondendo isso, mas... Marina: Sim, é que eu ainda vejo isso como uma questão um pouco multi e não inter. Assistente Social A: Pode ser também, pode ser não inter. Pode ser, mas
sabe por que eu penso que pode ser inter? Pelo seguinte: porque você tem uma situação, e tem várias possibilidades de leitura da situação, ou seja, da demanda, e várias leituras do que deve ser oferecido para dar resposta aquela demanda. Então, a demanda, ela mesma se estrutura em interdisciplinaridade. Porque nós não temos feito assim: você entra com isso, o outro entra com outro, o outro entra com outro, não. O repertório de ações é construído juntos, juntos na mesma equipe. Então, por exemplo, na equipe em que eu trabalho eu sou assistente social, a profissional B é pedagoga, a profissional C é psicóloga e a profissional D é Relações Internacionais. Então, os nossos olhares têm a demanda lá, a gente olha. Claro, cada uma tem o olhar mais aguçado para determinadas coisas, mas quando a gente estrutura a ação, a gente estruturou com tudo isso. Eu acho que a própria demanda que.... Marina: ela propicia a isso....
Assistente Social A: É. Claro que a forma como a gente responde a ela, não
estratificando: você assistente social faz isso, você psicóloga faz isso, você pedagoga faz aquilo..a gente não trabalha assim. Marina: Não é fragmentado?
Assistente Social A: Não.
Marina: Todas as decisões, soluções são construídas conjuntamente?
Assistente Social A: Sim.
Marina: E a relação de vocês nessa equipe, ela é mais horizontal ou existe
algum tipo de verticalização? Assistente Social A: Existe. Nada mais verticalizado no mundo do que um banco. O que a gente faz, na verdade, é estabelecer relações que sejam as mais horizontais possíveis, pra gente ter um bom rendimento, agora, as empresas são muito verticalizadas, os bancos então nem se fale. Marina: E como que é estruturada a equipe de vocês? Assistente Social A: A equipe hoje está estruturada assim: nós temos uma gerente executiva, para qual respondem três áreas, ou três núcleos, o núcleo de participação social, o núcleo de educação e o núcleo de inclusão social. Então, o núcleo de inclusão social trabalha com todos os projetos sociais do
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banco que se referem à inclusão social, como projetos de empreendedorismo e geração de renda, projetos com público da terceira idade e assim por diante. O núcleo de participação social é aquele que mobiliza os funcionários, os clientes, os fornecedores, etc, para participar dos projetos que a gente leva que implicam esses públicos. Então, Amigo de Valor, o projeto Escola Brasil, etc, que demanda participação e qualquer outra iniciativa que envolve a mobilização desse público. E mobilizar esse público significa inclusive educá-lo para a cidadania, porque o Brasil é uma sociedade... nós temos no Brasil uma sociedade pouco participativa. Então, nosso trabalho aqui nesse núcleo é tornar a sociedade que está representada nesse grupo mais participativa. Marina: E você transita pelos três núcleos? Assistente Social A: Não. E o núcleo de educação, que é o núcleo que eu respondo, que trabalha fundamentalmente com todas as ações voltadas para a educação formal: escola pública, secretarias de educação,etc, porque a educação é o foco prioritário do investimento social do banco. Marina: E você coordena esse núcleo?
Assistente Social A: Sim.
Marina: Você tem quantas pessoas que respondem pra você?
Assistente Social A: Três.
Marina: Então são quatro com você que respondem pra essa gerente.
Assistente Social A: Isso.
Marina: E nos outros núcleos a equipe é mais ou menos a mesma?
Assistente Social A: Exatamente. A participação social tem até mais gente.
Marina: E lá são assistentes sociais que também estão respondendo pelos
núcleos? Assistente Social A: Não. Marina: Você falou que só você tem formação social? Assistente Social A: Só eu. Marina: Mas, em geral você vê que esses profissionais têm essa visão? Eles
compartilham dessa visão mais social também, referente à formação? Assistente Social A: Sim, sim. Todos compartilham muito, até por que eles estão na área de ação social, né? E a nossa ação social é toda reportada por essa visão de sustentabilidade. Sabemos que o que nós fazemos não é bom mocismo, não estamos aqui fazendo caridade, bom mocismo. Nós não
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mobilizamos os funcionários pra eles se sentirem mais legais, mais bonzinhos, mais bacanas. A gente tem aí, até uma frase do nosso ex-presidente muito interessante: ―não se consegue assinar um cheque e passar a borracha na consciência‖, então é preciso que a gente faça alguma coisa legítima, e o que a gente pode fazer de mais legítimo não é dar dinheiro, o dinheiro acaba rápido, né?.. é a gente se envolver e se comprometer com as causas. Marina: E do ponto de vista que você falou dos três pilares. O social está super bem representado pelos três núcleos. O econômico e o ambiental têm outros núcleos que fazem isso? Assistente Social A: Sim. Marina: Mas compõem a mesma equipe ou são equipes diferentes? Assistente Social A: Não, não. São equipes diferentes e estes não foram para a vice-presidência de Recursos Humanos. Esses outros grupos permanecem na Diretoria de Desenvolvimento Sustentável sendo que muitas ações, já encubadas na Diretoria de Desenvolvimento Sustentável já estão em processo nas áreas formuladas. Que nem eu te falei: o micro crédito hoje é uma área do banco, ela foi encubada lá no desenvolvimento sustentável, hoje ela é uma área de negócios. Você tem todo um procedimento de eco eficiência dentro do banco, foi também encubado em desenvolvimento sustentável e hoje está na área de facilites e assim por diante. Marina: Então existem pessoas com conhecimento específico? Assistente Social A: Claro, sim. Marina: Para, por exemplo, a questão do carbono, tal, vocês não tratam disso especificamente na área social? Assistente Social A: Não tratam, mas, por exemplo, tudo o que o banco
desenvolveu com relação a eco eficiência,nós transferimos esse conhecimento, adaptado, naturalmente, para as escolas do projeto Escola Brasil, pras escola parceiras do projeto Escola Brasil. Então, nós temos um programa para oferecer, disponibilizar para as escolas que se chama Escola Eco Eficiente , então uma prática nossa foi transferida para as escolas do projeto Escola Brasil. Marina: E essa troca, como esse exemplo que você deu agora, ela existe nos três âmbitos? Assistente Social A: Sim, sim. Existe nos três âmbitos. Então, por exemplo, uma outra prática desenvolvida aqui no banco de educação financeira, educação financeira primeiramente para o pessoal das agências, pra que possam fazer cada vez melhor uma assessoria financeira para os clientes do banco, né, o uso consciente do crédito, etc, etc, nós também transformamos esse programa de educação financeira o programa de educação financeira na escola , pros alunos, pros professores, pra comunidade escolar. Então, só pra também falar uma coisa rápida, para não criar uma imagem assim diferente do
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que as coisas são. O projeto Escola Brasil, agora falando do projeto Escola Brasil, ele não é um programa que entra em sala de aula, ele é um programa que trabalha com a comunidade escolar fora da sala de aula. Marina: Mas como que acontece isso?
Assistente Social A: Em atividades extraclasses....
Marina: Mas na própria escola?
Assistente Social A: Na própria escola.
Marina: Aí vai alguém da equipe, vocês vão, como que funciona? Assistente Social A: Não, não. São os voluntários. São os voluntários,
digamos assim, instrumentalizados por nós. Marina: E existe algum tipo de treinamento aqui dentro do banco que dissemina isso dentro da cultura organizacional? Assistente Social A: Há muitos anos. Há muitos anos existem oficinas de
sustentabilidade, openhouse de sustentabilidade, vários e vários treinamentos até para...., bom, existe um portal, um site do banco chamado Práticas de Sustentabilidade, em que o banco abre completamente para a sociedade o que ele faz, as experiências que ele tem. Tem cursos lá também... Marina: E esses treinamentos, eles são obrigatórios, ou participa quem quer?
Assistente Social A: Sempre participa quem quer. Claro, que se um gerente
de uma área, o diretor de uma área decide que o pessoal dele vai fazer, porque ele é o mandatório, então vai.... mas, normalmente as pessoas aderem de livre e espontânea vontade. Marina: Agora só um pouquinho sobre o meio ambiente e algumas normas que existem hoje, né? Você acha que a proteção ambiental aparece nos princípios objetivos e missão da empresa? De que forma? Assistente Social A: Sim. (pausa); a Assistente Social B entra na sala. Marina: A empresa possui algum cargo já definido, estruturado na área ambiental? Assistente Social A: Sim. Eu não sei te dizer qual, mas com certeza sim. Assistente Social B: eu vou falar, porque eu conheci sem querer...essa semana eu atendi um gestor de um funcionário, e ele falou:‖ eu sou da área de riscos ambientais. Riscos ambientais, você sabe o que é isso?‖, eu falei :‖não‖. Ele falou assim que é uma área específica do banco que ele tem os clientes e esses clientes têm um processo de capacitação, e ver se esses nossos clientes
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eles contribuem para o meio ambiente, fazem os negócios, práticas de negócios... Assistente Social A: sem devastar o meio ambiente. Assistente Social B: Isso. Eles ficam fiscalizando mesmo. A empresa, nosso correntista, tem um área específica do banco que fica realmente observando, acompanhando durante um período.... Assistente Social A: as práticas ambientais de determinadas empresas, porque elas podem ser um grande passivo, né? Assistente Social B: exato, mas parece muito bacana. Então a área existe
sim, de Risco Ambiental. Assistente Social A: Mas mesmo na nossa área interna, nós temos cargos........de pessoas que de fato, de profissionais que de fato zelam pela saúde ambiental do banco, tanto pro nosso público interno como um negócio também. Marina: A empresa possui a ISO 9000?
Assistente Social A: Sim.
Marina: 14000?
Assistente Social A: Sim.
Marina: SA 8000?
Assistente Social A: Sim.
Marina: Algum selo ambiental?
Assistente Social A: não sei
Marina: Tem alguma outra?Norma? ISO?
Assistente Social A: eu não sei, mas eu posso depois verificar. Ficou claro pra
você que eu não atuo na área ambiental, então, eu sei das questões mais.... Marina: Mas essas três com certeza sim? Assistente Social A: Com certeza, sim. Mas eu vou anotar só pra de repente
eu estou te falando alguma coisa que não corresponde. Quais são mesmo?Nós estamos falando da.... Marina: ISO 9000, 14000 e SA 8000.
Assistente Social A: E aí você falou que outros?
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Marina: É. Se tem algum outro selo ambiental Assistente Social A: outros selos, certificações ambientais, né? Marina: Agora a gente sabe que lançaram a 26000, né? A empresa apóia algum projeto ambiental? Assistente Social A: Deve apoiar, mas eu não sei quais.
Marina: A empresa sofre algum tipo de pressão pra se preocupar com o meio
ambiente? Assistente Social A: Por exemplo, eu já te dou uma resposta já. Deve ter coisa de grande magnitude que eu não sei, mas uma coisa que passa pela ação social que eu sei, nós fazemos parte do movimento e da iniciativa chamada Águas Claras do Rio Pinheiros, o objetivo é recuperar o Rio Pinheiros. Marina: Vou anotar aqui, então. Você sente que a empresa sofre algum tipo de
pressão para se preocupar com o meio ambiente? Assistente Social A: Todas as empresas sofrem. Todas as empresas hoje sofrem. Marina: Pressões de que tipo?
Assistente Social A: Da sociedade, mais que tudo, da sociedade e dos
próprios acionistas. Marina: ONGs e movimentos sociais pressionam? Assistente Social A: Também. Todos os... Marina: Órgãos públicos? Assistente Social A: Todos. Marina: Vocês já receberam algum tipo de pressão explícita? Assistente Social A: É possível que sim. Eu não sei. No meu pequeno lugar eu não sei te dizer, mas é provável que sim,né? Marina: Tá. A empresa utilizou alguma solução para problemas ambientais que pode ser considerada inovadora ou tenha representado algum marco importante? Assistente Social A: Imagino que sim. Porque as nossas práticas internas de eco eficiência são pioneiras. Marina: Você pode citar algum?
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Assistente Social A: Desde a questão da coleta seletiva de resíduos, até a
questão da energia elétrica... Marina: E o que vocês fazem em relação a energia elétrica? Assistente Social A: E o que eu te falei, eu não sei te especificar, mas eu sei que a gente tem tudo com timer, que é tudo super controlado, que a gente é educado para apagar a luz. Assistente Social B: O próprio computador, todos os computadores na hora de ir embora já vem aquela chamada, ―antes de embora não esqueça de desligar o equipamento‖. É constante....isso realmente é educação, constante. Não é que começa hoje e amanhã termina. Marina: Ele dá uma mensagem pra você?
Assistente Social B: dá uma mensagem. Quando teve o lixo, quando teve a
separação do lixo, a coleta seletiva, o banco fez uma orientação primeiro, palestras e teve até premiação das equipes que sabiam selecionar os lixos, diferenciar o lixo. Teve uma premiação, foi muito válido..... Assistente Social A: Nós estamos fazendo isso pro público interno. Imagina o que ele faz com o público externo, como banco. Se você quiser conversar depois, mas aí não é assistente social, se você quiser conversar com o pessoal da área ambiental, beleza. Marina: Mas nessa época, que tiveram estas palestras e tudo, quem promoveu
isso? Foi alguma área interna mesmo? Assistente Social A: Sim, por uma área interna. Marina: Que setor que foi, você sabe? Assistente Social A: É facilites, né? Facilites. Marina: Eles estão ligados com o setor de sustentabilidade diretamente? Assistente Social A: É o tal negócio, a coisa foi criada, ela foi encubada em desenvolvimento sustentável, hoje já é um processo, já está na área de facilites, já é uma área do banco. Marina: E essa área é responsável pelo o que? Assistente Social A: por toda a logística dos prédios, por toda a infra-estrutura,
por toda a nossa vida aqui dentro, em termos de serviços vários de banco.
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ANEXOS
O texto da Carta da Terra
PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações.
TERRA, NOSSO LAR
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, é viva como uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todos os povos. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.
A SITUAÇÃO GLOBAL
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e a diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.
DESAFIOS FUTUROS
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais em nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem supridas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções inclusivas.
RESPONSABILIDADE UNIVERSAL
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdependentes, visando a um modo de vida sustentável como padrão comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições transnacionais será dirigida e avaliada.
PRINCÍPIOS
I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais, vem o dever de prevenir os danos ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.
b. Assumir que, com o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder, vem a maior responsabilidade de promover o bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada pessoa a oportunidade de realizar seu pleno potencial.
b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a obtenção de uma condição de vida significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e às futuras gerações.
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra a longo prazo.
II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial atenção à diversidade biológica e aos processos naturais que sustentam a vida.
a. Adotar, em todos os níveis, planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável que façam com que a conservação e a reabilitação ambiental sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
b. stabelecer e proteger reservas naturais e da biosfera viáveis, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados. d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que
causem dano às espécies nativas e ao meio ambiente e impedir a introdução desses organismos prejudiciais.
e. Administrar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida marinha de forma que não excedam às taxas de regeneração e que protejam a saúde dos ecossistemas.
f. Administrar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e combustíveis fósseis de forma que minimizem o esgotamento e não causem dano ambiental grave.
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.
a. Agir para evitar a possibilidade de danos ambientais sérios ou irreversíveis, mesmo quando o conhecimento científico for incompleto ou não-conclusivo.
b. Impor o ônus da prova naqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que as partes interessadas sejam responsabilizadas pelo dano ambiental.
c. Assegurar que as tomadas de decisão considerem as conseqüências cumulativas, a longo prazo, indiretas, de longo alcance e globais das atividades humanas.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e. Evitar atividades militares que causem dano ao meio ambiente.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b. Atuar com moderação e eficiência no uso de energia e contar cada vez mais com fontes energéticas renováveis, como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais seguras.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam às mais altas normas sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o intercâmbio aberto e aplicação ampla do conhecimento adquirido.
a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.
c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, permaneçam disponíveis ao domínio público.
III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, alocando os recursos nacionais e internacionais demandados.
b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma condição de vida sustentável e proporcionar seguro social e segurança coletiva aos que não são capazes de se manter por conta própria.
c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem e habilitá-los a desenvolverem suas capacidades e alcançarem suas aspirações.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações. b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em
desenvolvimento e liberá-las de dívidas internacionais onerosas. c. Assegurar que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos
sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas. d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais
atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.
11. Afirmar a igualdade e a eqüidade dos gêneros como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e o carinho de todos os membros da família.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas as suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas com condições de vida sustentáveis.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.
IV. DEMOCRACIA, NÃO-VIOLÊNCIA E PAZ
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover transparência e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões e acesso à justiça.
a. Defender o direito de todas as pessoas receberem informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações interessados na tomada de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião pacífica, de associação e de oposição.
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais administrativos e independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas. f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios
ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas mais efetivamente.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a. Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação para sustentabilidade.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no aumento da conscientização sobre os desafios ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição de vida sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de sofrimento.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.
c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas.
16. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.
a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para administrar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até o nível de uma postura defensiva não-provocativa e converter os recursos militares para propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico ajude a proteção ambiental e a paz. f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo,
com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.
O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa destes princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global que gerou a Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta em andamento por verdade e sabedoria.
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacionalmente legalizado e contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida.