METÁFORA E METONÍMIA
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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras
METÁFORA E METONÍMIA NAS CONSTRUÇÕES COM ‘PÉ’: UMA ABORDAGEM COGNITIVISTA
Neide Higino da Silva
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Orientador: Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves Coorientadora: Prof. Doutora Maria Lúcia Leitão de Almeida.
Rio de Janeiro
Agosto de 2011
1
Silva, Neide Higino da
Metáfora e Metonímia nas Construções com ‘Pé’: Uma abordagem cognitivista. /
Neide Higino da Silva. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2011.
x, f.: 101. il.: 31cm
Orientador: Carlos Alexandre Victorio Gonçalves.
Dissertação (Mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas, 2011.
Referências Bibliográficas: f. 97-99.
1. Metáfora e Metonímia. 2. MCI, frame e esquema imagético – O processo de
construção do significado. 3. Forma e Conteúdo. I. Gonçalves, Carlos Alexandre
Victorio II Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa
de Pós-graduação de Letras Vernáculas. III. Título.
2
RESUMO METÁFORA E METONÍMIA NAS CONSTRUÇÕES COM ‘PÉ’: UMA ABORDAGEM
COGNITIVISTA
Neide Higino da Silva
Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Prof. Doutora Maria Lúcia Leitão de Almeida.
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.
Esta dissertação analisa as diversas formações a partir do item lexical ‘pé’ no português do Brasil. Com base no arcabouço teórico da Linguística Cognitiva, principalmente, nas propostas de Lakoff (1987), Lakoff & Johnson (1980), Fillmore (1982) e Croft & Cruse (2004), examinamos os limites e intercessões entre metáfora e metonímia e a relevância dos construtos teóricos MCI, frame e esquemas imagéticos para a construção do significado. A partir dessa fundamentação teórica e das discussões propostas por Basílio (1987, 2000 e [2004] 2006), Mattoso Câmara ([1970] 1996 e [1977] 1981), Monteiro (1986), Rocha ([1998] 2008) e Sandmann ( [1988] 1989 e 1991),verificamos como a mobilidade entre as fronteiras categoriais atinge compostos (‘pé-de-chumbo’), grupos sintáticos (‘pé de meia’) e expressões idiomáticas (‘estar de pé’) e propomos um continuun entre essas formações.
Palavras-chave: Metáfora, Metonímia, Princípio da Invariância, MCI, Frame, Compostos, Grupo sintático, Expressões Idiomáticas.
Rio de Janeiro Agosto de 2011
3
ABSTRACT
METAPHOR AND METONYMY IN CONSTRUCTIONS WITH WORD ‘PÉ’: A
COGNITIVE ANALYSIS.
Neide Higino da Silva
Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves
Prof. Doutora Maria Lúcia Leitão de Almeida.
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em
Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.
This dissertation examines the various formations from the lexical item ‘pé’ in Brazilian Portuguese. Based on the theoretical framework of Cognitive Linguistics, particularly in the proposals of Lakoff (1987), Lakoff & Jonhson (1980), Filmore (1982) and Croft & Cruse (2004), we examined the boundaries and intersections between metaphor and metonymy and the relevance of theoretical constructs such as ICM, frame and image schemas for the construction of meaning. From this theoretical discussions and proposals by Basílio (1987, 2000 e [2004] 2006), Mattoso Câmara ( [1970] 1996 e [1977] 1981), Monteiro (1986), Rocha ([1998] 2008) e Sandmann ( [1988] 1989 e 1991), looked at how the mobility between categorial boundaries reaches compounds (‘pé-de-chumbo’), syntactic groups (‘pé de meia’) and idioms (‘estar de pé) and we propose a continuum among these formations. Keywords: Metaphor, Metonymy, Invariance Principle, ICM, Frame, Composite, Syntactic Group, Idioms.
Rio de Janeiro Agosto de 2011
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SINOPSE Estudo de construções metafóricas
e metonímicas com a palavra ‘pé’.
Verificação de limites entre
categorias, segundo os princípios
da Linguística Cognitiva
5
À Alexandre Borges, um incentivador sem igual.
6
AGRADECIMENTOS A Deus por tudo. Ao meu marido Alexandre Borges por fazer-me acreditar que era hora de trilhar este novo caminho acadêmico e incentivar-me a todo momento. Aos meus pais pelo imenso amor e pelo suporte dado sempre que preciso. Aos meus familiares, de forma particular, aos meus irmãos, Antônio Carlos e Gilcimar, e também aos meus amigos por terem compreendido a minha ausência, em função da minha dedicação quase que religiosa a esta pesquisa. Ao meu orientador, professor Carlos Alexandre, pela gentileza, pelo acolhimento, pela paciência, pelas palavras animadoras e pela orientação impecável. À minha co-orientadora, professora Maria Lúcia, pela credibilidade depositada em mim quando eu ainda era apenas uma aluna especial do mestrado, pela paciência com que me apresentou a Linguística Cognitiva. Aos meus amigos integrantes do NEMP, sem exceção, os meus agradecimentos. À amiga Katia Emmerick Andrade pela afeição, pela generosidade em doar várias horas do seu tempo para escutar, para ler os meus textos, pela troca de ideias, pela solidariedade e pelas palavras de entusiasmo. Obrigada!
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“O ser das significações verbais é seu
dizer e sua existência é seu dito.
Havemos, portanto, de interrogar as
formas para chegar ao sentido.”
(IRÈNE TAMBA-MECZ)
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 9
2. METÁFORA E METONÍMIA 12
2.1 Metonímia-Metáfora: Continuum 19
2.2 Mapeamento Central e Princípio da Invariância 29
2.3 Conclusão 31
3. MCI, FRAME E ESQUEMA IMAGÉTICO – O PROCESSO
DE CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO
33
4. FORMA E SIGNIFICADO 45
4.1 Palavra 45
4.2 Composição 48
4.3 Composição x Grupo Sintático 52
4.4 Estrutura dos Compostos 57
4.5 Modelo V + S 61
4.6 Modelo S + S 62
4.7 Os modelos S +de+S e S+A 63
4.8 Modelos Prototípicos e Periféricos 64
4.9 Grupos sintáticos x Expressões idiomáticas 65
4.10 Expressões idiomáticas 68
4.10.1 “Encoding idiom” x “decoding idiom” 68
4.10.2 “Grammatical” x “Extragrammatical” 70
4.10.3 “Substantive” x “Formal” 71
4.11 Composicionalidade 85
5. CONCLUSÃO 94
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 97
7. ANEXOS 100
9
1. INTRODUÇÃO
Com base no quadro teórico da Linguística Cognitiva (LAKOFF & JOHNSON,
1980; LAKOFF, 1987; FILMORE, 1982; CROFT & CRUSE, 2004), o presente trabalho
analisa as diversas formações a partir do item lexical ‘pé’ em português, a exemplo de ‘pé
de cabra’ (“tipo de ferramenta”), ‘meter o pé’ (“ir embora”) e ‘com os pés nas costas’
(“facilmente”), por meio desse corpus, observamos os limites entre construções
metafóricas e metonímicas, uma vez que o caráter difuso entre as categorias é defendido
por esse aporte teórico. Através desta investigação, pretende-se discutir se essa ausência de
limites precisos atinge as metáforas e as metonímias, a ponto de haver uma imbricação
entre ambas.
Considerando que a categorização é “um mecanismo de organização da informação
obtida a partir da apreensão da realidade, que é em si mesmo variada e multifacetada”
(CUENCA & HILFERT, 1999: 32-33) e que, segundo essa perspetiva, as categorias não
estão encerradas em compartimentos estanques1, diferenciadas precisamente, analisar-se-á
como a mobilidade entre as fronteiras categoriais atinge compostos (‘pé-de-chumbo’),
grupos sintáticos (‘pé de meia’) e expressões idiomáticas (‘estar de pé’). Especificamente,
serão examinadas formações com o item lexical ‘pé’, levando em consideração que
metáfora e metonímia são processos de construção e reconstrução do conhecimento. Nessa
perspectiva, a significação provém da relação entre falante e ouvinte, tornando a interação
possível porque ambos estão situados em um contexto social e cultural, relacionando-se
com o mundo através de sua experiência corpórea. Sob esse enfoque, define-se linguagem
como uma atividade comunicativa produzida e produtora da cultura e da sociedade.
1 Esta posição da Linguística Cognitiva é um questionamento ao modelo clássico, aristotélico, de categorização que julga elementos da mesma categoria somente aqueles que possuem propriedades comuns. (cf. LAKOFF, 1990: 6)
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A pesquisa evidencia a dimensão onomasiológica dos estudos semânticos na
medida que, ao observar a categorização, busca-se a nomeação de entidades, neste caso por
meio de expressões formadas a partir do vocábulo ‘pé’, via processos onomasiológicos de
formação de palavras e expressões da língua.
O trabalho se estrutura da seguinte forma: no capítulo 2, são discutidos os conceitos
de metáfora e metonímia e as interações entre esses processos, que podem levar à
formação de um continuum metáfora – metonímia, aqui ratificado por meio da análise das
diversas construções com ‘pé’ examinadas. Em seguida, no capítulo 3, são apresentados e
discutidos três construtos teóricos da Linguística Cognitiva – MCI (modelos cognitivos
idealizados), frame e esquema imagético – diretamente relevantes para a construção do
significado das formações com base no item lexical ‘pé’. No capítulo 4, por fim, abordam-
se as questões que envolvem a relação forma e significado, no que tange à definição de
compostos, grupos sintáticos e expressões idiomáticas. Também nesse capítulo, discutem-
se as relações fronteiriças entre essas categorias e a proposição de um continuum para o
exame das construções a partir de ‘pé’.
O corpus analisado é constituído (a) de verbetes do Dicionário Eletrônico Houaiss e
do Novo Dicionário Eletrônico Aurélio da Língua Portuguesa, (b) informações recolhidas
através da internet, sobretudo o Google, e (c) palavras e expressões por nós ouvidas em
situações comunicativas variadas.
Inicialmente, todas as ocorrências registradas nos dicionários tomados como
referência foram examinadas, observando-se, a seguir, os seus usos reais no atual estágio
da língua. Além do conhecimento do analista sobre o português, uma das formas para
verificar o uso dos compostos e expressões consideradas incomuns, como ‘fazer pé de
alferes’, ‘petipé’, ‘bolapé’, ‘cangapé’, ‘chapa de pé’, ‘guarda-pé’, ‘pé-de-ouro’ e ‘a pé
quedo’, entre tantos outros, foi a pesquisa pela internet, apenas em páginas do Brasil, por
11
meio do Google. Desse modo, integram o corpus apenas expressões que possuem até 10
ocorrências diferentes, excluindo-se, para tanto, os registros de páginas de dicionários.
O Google também foi a ferramenta utilizada para recolher dados não encontrados
nos dicionários, a exemplo de ‘pé de página’, ‘nota de rodapé’, ‘meter o pé’ e ‘pé da meia’.
Após essa primeira filtragem, os dados foram divididos, numa perspectiva semântica, entre
os de construção metafórica, metonímica, metonímicas com origem metafórica e
metáforicas com origem metonímica. Na segunda organização, considerando a forma,
dividiram-se os dados, compostos e expressões idiomáticas, de acordo com suas estruturas
de formação. Com isso, pretendemos, a partir da descrição das construções com ‘pé’,
fornecer uma análise sobre as motivações semânticas para a criação de compostos (’pé
frio’, ‘pé direito’) e expressões fixas (‘lamber os pés’, ‘fazer pé firme’) e semiabertas
(‘com o pé direito’ e ‘ficar no pé de’), esperando, desse modo, contribuir para os estudos
desenvolvidos no âmbito do NEMP – Núcleo de Estudos Morfossemânticos do Português.
12
2. METÁFORA E METONÍMIA
A abordagem tradicional trata a metáfora e a metonímia como figuras de linguagem
ou como artifícios retóricos de embelezamento da linguagem. No entanto, a partir de
Lakoff & Jonhson (1980), ambas têm sido evidenciadas como processos cognitivos
geradores de conhecimento, por meio de experiências humanas: físicas, culturais e sociais.
O ser humano percebe e classifica a realidade e essa classificação é feita tendo as
semelhanças e as diferenças como referências. Consideram-se semelhantes os elementos
que possuem entre si algum atributo comum e, por isso mesmo, são arrolados na mesma
categoria; elementos diferentes, ou seja, os que perderam qualquer grau de interseção entre
si, são dispostos em categorias distintas. Elementos que possuem familiaridade,
semelhança pertencem ao mesmo domínio do conhecimento e aqueles que não possuem
nenhuma familiaridade, semelhança, a domínios de conhecimento diferentes. Como aponta
Lakoff,
“Categorização não é uma questão a ser tratada superficialmente. Não há nada mais básico do que a categorização de nosso pensamento, percepção, ação e discurso. Toda vez que vemos algo como um tipo de coisa, por exemplo, uma árvore, estamos categorizando. Sempre que raciocinamos sobre os tipos de coisas - as cadeiras, as nações, as doenças, as emoções, qualquer tipo de coisa - estamos empregando categorias”2 (LAKOFF, [1987] 1990: 5)
A metáfora e a metonímia vão funcionar de acordo com as relações estabelecidas
entre e dentro das categorias. Através da metáfora, busca-se correspondência, similitude,
2 “Categorization is not a matter to be taken lightly. There is nothing more basic than categorization to our thought, perception, action, and speech. Every time we see something as a kind of thing, for example, a tree, we are categorizing. Whenever we reason about kinds of things – chairs, nations, illnesses, emotions, any kind of thing at all – we are employing categories” (LAKOFF, 1990: 5)
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entre elementos de domínios diferentes e pela metonímia, uma relação contígua entre
elementos do mesmo domínio.
Na organização do saber, o ser humano procura ancorar os novos conhecimentos
naqueles já adquiridos. Na metáfora, usa-se um pano de fundo diferente do original para
tornarem-se translúcidos os conceitos que não são familiares. Um domínio (domínio
origem, nos termos de LAKOFF, [1987] 1990: 288) empresta seus conceitos a outro domínio
(domínio destino, ainda nos termos de LAKOFF, [1987] 1990: 288), e sobre este se projetam
os conceitos do primeiro. Por exemplo, em um enunciado como “A eleição é um jogo”, os
conceitos de ‘jogo’ (domínio origem) são projetados sobre os de ‘eleição’ (domínio
destino). Isso se faz possível, graças às correspondências parciais (parcial, já que a total
trataria do mesmo elemento, constituindo uma tautologia) entre eles; por isso, é possível
tomar ‘eleição’ por ‘jogo’, uma vez que “a essência da metáfora é entender e experimentar
um tipo de coisa em termos de outra” (LAKOFF e JONHSON, [1980] 2007: 41).
A partir de exemplos retirados de páginas da internet, tendo como ferramenta de
referência o Google, analisar-se-á a conexão entre os domínios – acionados na construção
de sentido – de expressões como as que se seguem:
a. “Me disseram que comer pé de galinha bem cozidinho, repõe o
colágeno da pele, será que isso é verdade?”
(br.answers.yahoo.com/question/index?qid)
b. “Refogar o pé de porco, na panela de pressão, com metade da cebola e
o alho. Cubra com água e deixe cozinhar até soltar do osso.”
(http://receitas.maisvoce.globo.com)
Em “pé de galinha” e “pé de porco”, o domínio destino opera com o conceito de
“pata” que, de acordo com o Dicionário Eletrônico Houaiss, “é cada um dos apêndices
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pares de um animal, especialmente vertebrado ou artrópode, usado para locomoção ou
apoio do corpo”. O ser humano, partindo de sua experiência corpórea, reconhece a
semelhança entre as extremidades dos membros inferiores dos animais e as suas, já que
aquelas estão na parte inferior do corpo, sendo responsáveis pela sustentação, locomoção,
equilíbrio e manutenção da verticalidade do corpo, assim como no seu. A projeção dessas
características do domínio origem sobre o domínio destino é que permite o conceito
metafórico. Observa-se que são projetadas as familiaridades entre os domínios e não o
conceito de pé de acordo com a anatomia: “Cada uma das duas extremidades inferiores,
uma em cada membro inferior, constituídas de tarso, metatarso, e falanges dos
pododáctilos, respectivas articulações, e partes moles que recobrem as ósseas” (Novo
Dicionário Aurélio eletrônico). Do contrário, tratar-se-ia de incoerência. Passemos à
descrição do exemplo em (c), a seguir:
c. “3 jul. 2010 ... Pra completar a minha mesa de vidro da sala veio com o
pé da mesa quebrado” (www.reclameaqui.com.br/.../nao-querem-
trocar-o-pe-da-mesa-de-vidro-que-veio-quebrado)
Em ‘pé da mesa’, suporte do objeto, o domínio origem projeta sobre o domínio
destino as ideias de parte inferior, equilíbrio, força e sustentação. No entanto, não cabem
aqui os conceitos de verticalidade e locomoção. Em ‘rodapé’, barra que se coloca ao longo
das paredes, é projetada a imagem de parte inferior, como se vê em (d), a seguir,.
d. “Qual é a altura ideal para o rodapé? Ele deve combinar com o piso, a
parede ... A vantagem, neste caso, é que o rodapé pode disfarçar os
pontos elétricos ...” (revistacasaejardim.globo.com/.../0,,emi72758-
16792,00-rodape+qual+e+a+altura+recomendada.html)
15
Em “pé de vento”, em (e) abaixo, o domínio origem projeta aspectos da locomoção,
da força e da rapidez, disponíveis em ‘pé’, sobre o domínio destino.
e. “14 set. 2010 ... Um pé de vento que mais parecia um furacão pegou a
gente no meio do caminho.”
(rodrigojacutinga.com.br/index.php?option=com)
O quadro a seguir ilustra o processo acima descrito.
Figura 1: Projeção entre domínios
O conceito de ‘pé’ possui diversos aspectos – suporte, verticalidade, força, locomoção,
parte inferior, rapidez e equilíbrio – que podem ser aferidos nas múltiplas experiências
Pé Cada uma das duas extremidades inferiores, uma em cada membro inferior (humano)
Domínio Origem
Apoios sobre os quais se sustenta o
tampo da mesa
Domínios Destinos
Suporte Verticalidade Força Locomoção Parte inferior Rapidez Equilíbrio
Pontos de contato
Vento repentino e veloz
Pata da galinha Pata do porco
Barra colocada na parte inferior das
paredes
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corporais com o membro inferior. No gráfico acima, todas essas perspectivas estão
relacionadas em pontos de contato, que também podem ser compreendidos como
semelhanças, familiaridades entre os diferentes domínios destinos e o domínio origem. A
projeção dá-se da origem para o destino; contudo, o destino seleciona os pontos que são
pertinentes ao conceito que se deseja construir. Como assinalam Lakoff & Jonhson,
“A mesma sistematização que nos permite compreender um aspecto de um conceito em termos de outro (....) necessariamente há de ocultar outros aspectos do conceito em questão. (....) um conceito metafórico pode impedir que nos concentremos em outros aspectos do conceito que são inconsistentes com essa metáfora”. ( LAKOFF & JONHSON, [1980] 2007: 46)
Retornemos ao exemplo (e), apresentado mais acima. Em ‘pé de vento’, aspectos
como parte inferior, sustentação, equilíbrio e manutenção da verticalidade, presentes no
domínio origem, são ocultados, já que são incoerentes com o fenômeno natural e com a
característica que se deseja focar no domínio destino.
Essa correspondência entre os domínios origem e destino é assegurada pelo
Princípio da Invariância, que estabelece a conexão entre esses “conjuntos de
conhecimentos estruturados” (MARTELOTTA & PALOMANES, 2008: 184), através do
mapeamento direcionado, necessariamente, do domínio origem para o domínio destino,
conservando a estrutura cognitiva do domínio origem de forma consistente com a estrutura
inerente do domínio destino. A preservação da estrutura do domínio destino restringe
formações incoerentes.
Barcelona (2000) acredita que esse princípio vem elucidar duas fundamentais
características do mapeamento metafórico:
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1. “O fato de que tem de haver um grau de correlação estrutural, em alguma dimensão semântica, entre a estrutura semântica da origem e a do destino, que permite que a primeira seja projetada sobre a segunda; esta correlação é descoberta ou criada com base na experiência.
2. O fato de que a estrutura semântica do domínio destino restringe o mapeamento.” 3 ( BARCELONA, [2000] 2003: 45).
Diferentes das construções metafóricas, as metonímicas surgem dentro do mesmo
domínio cognitivo, operando com elementos que pertencem à mesma categoria. Entre eles,
existe uma hierarquia, pois há elementos que possuem informações gerais, básicas e
específicas. As básicas são aquelas que facilitam a apreensão, já que respeitam o princípio
da economia linguística, pois são relevantes, informativas e ativam dados da mesma
categoria. Um conhecimento estende-se a outro que está no mesmo domínio do saber.
Parte-se de um ponto de referência para algum elemento a ele relacionado. No exemplo ‘O
Palácio do Planalto divulgou nota’, o ponto de referência é o local, Palácio do Planalto, e o
elemento relacionado, neste caso o agente, a quem, metonimicamente, é comum referir-se
como o porta-voz da presidência. O ponto de referência é a entidade explícita, básica, que é
focalizada, isto é, para a qual se dirige a atenção, por meio da qual se acessa, por uma
relação de contiguidade, a entidade implícita, a ele relacionada. De forma mais clara,
Lakoff e Jonhson ([1980] 2007:73) afirmam que “(...) utilizamos uma entidade para
referirmo-nos a outra que está relacionada a ela. Isto é o que denominamos metonímia”.
Os exemplos a seguir ilustram a relação de contiguidade entre o ponto de referência
“pé” – extremidade dos membros inferiores do corpo humano – e várias entidades
relacionadas a ele, de acordo com o elemento implícito acessado em cada composto. Em
‘arrasta-pé’, um tipo de dança, ativa-se o corpo, assim como em ‘pé de valsa’, atributo para
um exímio dançarino. Já em ‘pé da meia’, peça do vestuário, a entidade implícita é um dos
3 “ (1) The fact that there has to be a deg5ree of structural correlation, on some semantic dimension, between the semantic structure of the source and that of the target, which allows the former to be projected onto the latter; this correlation is either discovered or created on the basis of experience. (2) The fact that the semantic structure of the target domain constrains the mapping”.
18
pares dessa vestimenta. Em ‘pés’, é a medida. Esses e outros exemplos são arrolados no
quadro abaixo, que ratifica o processo metonímico. Nesse quadro são utilizadas as
abreviações EE, para entidade explícita, e EI, para entidade implícita.
A parte pelo todo
Pé pelo corpo
EE EI
Ø Pé inchado (ébrio)
Ø Pé frio
Ø Pé na lama
A parte do corpo pelo movimento
Pé pela característica do movimento
EE EI
Ø Pé na tábua
Ø Arrasta-pé
Ø Pé de valsa
O produtor pelo produto
Pé como referência para medida
EE EI
Ø Pés
O conteúdo pelo objeto
Pé e os objetos utilizados nele.
EE EI
Ø Pé da meia
Ø Pé de sapato
Quadro 1: Relações entre entidades explícitas e entidades implícitas
19
Essas características da metáfora e da metonímia são fundamentais para a
compreensão da proposta de continuum entre esses dois processos cognitivos, o que é
demonstrado na seção seguinte.
2.1 Metonímia-Metáfora: Continuum
Segundo Croft & Cruse ([2004] 2009:218), embora as abordagens lakoffianas
tenham feito a distinção entre metáfora e metonímia, elas evidenciam que a metonímia
pode ter uma função vital na origem das expressões metafóricas. Os autores (op.cit)
demonstram como ocorre a interação entre os dois processos através da análise da metáfora
RAIVA É CALOR. No centro dessa metáfora, está a relação metonímica entre o
sentimento da raiva e o aumento da temperatura corporal gerada pelo sentimento. Dessa
forma, pode-se referir à raiva por meio do calor. Surge, então, o conceito metafórico,
elaborando a raiva como um líquido, em um recipiente fechado, sob o efeito do fogo.
Outro exemplo é a metáfora MAIS É ACIMA, que tem como origem a metonímia
nascida do conhecimento factual de que o acúmulo de objetos na vertical os faz atingir
maior altura. A partir dessa imagem, a metáfora pode ser aplicada em casos como ‘preços
altos’ e ‘temperatura alta’. Assim, metáfora e metonímia contribuem na construção da
interpretação.
Nos casos apresentados, facilmente, distingue-se a colaboração dos dois processos;
porém, há outros em que ocorre indeterminação entre metáfora e metonímia. O exemplo
sugerido pelos autores, “O carro parou em frente à padaria”, apresenta três possibilidades
de interpretação. A primeira, mais básica, seria a seguinte: “o carro estando em uma
ladeira, em função de uma falha no freio, desloca-se indo parar em frente a uma padaria”.
Na segunda, de base metonímica, o carro é tomado para referir-se ao motorista. Na
terceira, metafórica, confere-se vida ao carro e esse locomove-se.
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O mesmo pode ser observado em expressões idiomáticas envolvendo o item lexical
’pé’, como, por exemplo, ‘ficar no pé de (alguém)’, ‘pegar pelo pé’, ‘estar com o pé na
cova’ e ‘não arredar o pé’, que podem ter uma interpretação básica, metonímica e
metafórica.
A interpretação básica para “ficar no pé de (alguém)” seria a seguinte: algo está
posicionado sobre o pé de uma pessoa, incomodando-a; já a metonímica corresponderia à
seguinte leitura: algo/alguém permanece muito próximo do corpo de uma pessoa,
acionando a metonímia PARTE PELO TODO, em que ‘pé’ é a entidade explícita e o
corpo, a entidade implícita. Por fim, a interpretação metafórica, fundamentada na
experiência corpórea da locomoção, que requer liberdade dos pés para o movimento,
estaria relacionada a uma cena na qual algo/alguém se posiciona irregularmente nos pés de
uma pessoa, dificultando a locomoção; surge, então, a metáfora “molestar com pedidos
insistentes”.
Em ‘pegar pelo pé’, pode ser dada a seguinte interpretação básica: “segurar, agarrar
alguém pela extremidade dos seus membros inferiores”. Já a metonímica seria “atingir ou
alcançar uma pessoa”; e a metafórica, “surpreender, conter e criticar o adversário”. A
experiência corpórea indica que segurar alguém pelo pé é impedir sua locomoção e ainda
desequilibrar a base de sustentação – uma crítica pode tanto apanhar despreparado o
adversário, como desequilibrá-lo emocionalmente.
Em ‘estar com o pé na cova’ e ‘não arredar pé’, as interpretações básicas seriam,
para primeira, “estar ereto com os pés dentro ou acima de uma sepultura”; para segunda,
“não remover o pé do lugar”. As metonímicas corresponderiam, nessa ordem, a “estar com
todo o corpo debilitado” e “não deslocar o corpo”. Por fim, as metafóricas remeteriam,
respectivamente, a “estar à beira da morte” e “não mudar de opinião”.
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Diante de tais exemplos, fica a questão: é possível, de fato, separar os processos
metafóricos e metonímicos?
Fundamentada em Goosens (2002) e Barcelona (2000), Zhuo Jing-Schimidt (2008:
242) afirma que, na conceptualização linguística, metáfora e metonímia são dificilmente
separadas e, em função, cada vez mais, da íntima relação entre os dois processos, são
considerados constituintes de um continuum, ao invés de uma distinção binária.
Barcelona (2000), remetendo-se à Kövecses (2000), mostra por que esses processos
podem ser entendidos como polos de um continuum. Kövecses ([2000] 2003:50) concebe a
metáfora como um “conhecimento central” advindo do domínio origem, isto é, um
conjunto de subdomínios, que participa principalmente na metáfora através de imposição
de um ou vários focos de significados sobre o domínio destino.
Entende-se por “conhecimento central” aquele que é convencional, genérico,
intrínseco e característico, tendo em conta a classe de entidades ou eventos designados por
uma expressão linguística particular (KÖVECSES, [2000] 2003: 82). Esse “conhecimento”
é acessado por meio da decomposição da metáfora genérica em metáforas específicas
(subdomínios). Esse procedimento é denominado de “mapeamento central”, uma vez que
mapeia o “conhecimento central” do domínio origem para o domínio destino. Pode-se,
então, comparar esse processo com a relação intradominial da metonímia, como afirma o
próprio autor em nota: “se o conhecimento formador da metáfora é central, isto é, um
conhecimento parcial, então tal conhecimento é um tipo de base metonímica para
metáfora”4.
Kövecses (op.cit) apresenta a metáfora genérica (metáfora conceptual, segundo
Lakoff & Johnson , 1980) SISTEMAS COMPLEXOS SÃO EDIFÍCIOS, que pode ser
decomposta em outras metáforas específicas: CRIAÇÃO É CONSTRUÇÃO, 4 “Incidentally, if the knowledge that primarily participates in metaphor is central, i.e., partial, knowledge, then we can see in this one kind of metonymic basis for metaphor.” (cf. KÖVECSES, [2000] 2003:91)
22
ESTRUTURA ABSTRATA É ESTRUTURA FÍSICA e ESTABILIDADE ABSTRATA É
FORÇA FÍSICA. Os conceitos do domínio origem, da metáfora SISTEMAS
COMPLEXOS SÃO EDIFÍCIOS, que foram projetados no domínio destino, seguem
abaixo:
Domínio Origem Domínio Destino a) edifícios sistema complexo b) construindo o edifício criando ou desenvolvendo o sistema c) a fundação do edíficio a base do sistema d) a construção do edifício a criação do sistema e) força da construção estabilidade do sistema f) estrutura física estrutura abstrata.
(cf. KÖVECSES, [2000] 2003: 83)
Das noções relacionadas, segundo o autor, o principal significado convencional do
conceito de edifício, do domínio origem, que será mapeado no domínio destino, é
construção de edifício forte. Os constituintes básicos desse mapeamento são os
apresentados acima. No entanto, há uma gradação entre eles, sendo uns mais importantes
que outros e, por isso, considerados “conhecimentos centrais”, devendo ser projetados no
domínio destino para a composição da metáfora genérica. São eles os representados pelas
letras (b), (e) e (f).
Kövecses (op.cit) salienta que a relação apresentada entre domínio origem e
domínio destino, que ele chama de “mapeamento central”, não deve ser confundida com o
Princípio da Invariância, pois este estabelece que a “estrutura imagem-esquemática5” da
origem, que é consistente com a “estrutura imagem-esquemática” do destino, seja
projetada no destino. Já o “mapeamento central” é a identificação do “conhecimento
5 A estrutura imagem - esquemática são “esquemas genéricos, configurações de natureza mais ampla, global, abstrata, e, portanto, mais flexíveis em suas aplicações” (MARTELOTTA E PALOMANES 2008: 186).
23
central”, isto é, do principal significado-foco do domínio origem a ser projetado sobre o
domínio destino.
Barcelona ([2000] 2003:51), citando Joseph Grady (1997), observa que a projeção
dá-se diante de uma motivação experiencial baseada em uma correlação experiencial, isto
é, as partes relevantes do domínio origem são escolhidas de acordo com a motivação
experiencial e a correlação entre os domínios baseia-se em algum elemento saliente na
estrutura abstrata: sua funcionalidade, ou seja, sua relevância em algum contexto. Segundo
Barcelona ([2000] 2003: 51), as correlações são uma espécie de operação metonímica, já
que elas implicam uma abstração da “estrutura imagem-esquemática” de ambos, domínios
origem e destino, para selecionar suas similaridades.
A partir dessa perspectiva de investigação, analisamos algumas estruturas lexicais e
expressões idiomáticas com a palavra ‘pé’, retiradas do quadro 3. Por exemplo, a expressão
metafórica ‘cair de pé’ origina-se da metonímia PARTE PELO TODO, nesse caso, o ‘pé’
pelo ‘corpo’. A metonímia surge da experiência corporal indicada pelo verbo ‘cair’. O
corpo, em virtude de um desequilíbrio, vai ao chão, o que, socialmente, pode ser
considerado uma situação vexatória; no entanto, sofrer um desequilíbrio e manter-se ereto
demonstra habilidade, podendo ser chamado de uma quase-queda. A expressão reúne,
portanto, duas ideias paradoxais: a de queda, expressa pelo verbo ‘cair’ e, por meio da
locução, ‘de pé’, a de verticalidade, informando que o corpo ainda está ereto, apesar de
quase derrubado.
Portanto, ‘cair de pé’ envolve a queda, mas exclui o vexame. Essa imagem evoca
duas metáforas conceptuais: MAL É PARA BAIXO, em função do verbo, e BEM É PARA
CIMA, relacionada à locução ‘de pé’. A locução tem um forte caráter modificador,
amenizando o sentido do verbo e centrando a informação da expressão no fato de ficar
ereto, o que leva à noção de dignidade.
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‘Lamber os pés’ é uma expressão metafórica que também advém de uma metonímia
oriunda da associação física entre partes do corpo, a língua e o pé. O verbo ‘lamber’ indica
ação de passar a língua sobre algo. A língua é um órgão que contribui com a deglutição e
degustação, situado na boca, parte superior do corpo, com a qual se tem mais asseio e
higiene. Já o pé, parte mais inferior do corpo, no que tange às orientações espaciais, está
em contato direto com o solo e suas impurezas, sendo, consequentemente, menos limpo.
Portanto, tal gesto representa uma postura de completa submissão. A partir dessa
experiência corporal, é possível construir a imagem que remete à metáfora MENOS É
PARA BAIXO.
A expressão ‘um pé lá e outro cá’, assim como a expressão ‘cair de pé’, surge da
metonímia PARTE PELO TODO, isto é, o ‘pé’ pelo ‘corpo’, oriunda da experiência física
da impossibilidade de um corpo estar em dois lugares ao mesmo tempo. Essa incapacidade
humana pode ser minimizada através de um deslocamento muito rápido, em um tempo
muito curto, causando a impressão de se estar em dois locais ao mesmo tempo.
É possível realizar a mesma análise com os compostos ‘pé sujo’, ‘pé frio’ e ‘pé de
meia’ (economias). Nesses casos, remete-se ao sentido nuclear de ‘pé’, “extremidade do
membro inferior abaixo da articulação do tornozelo e terminada pelos artelhos, assentada
por completo no chão, e que permite a postura vertical e o andar” (Dicionário Houaiss
Eletrônico), e o segundo elemento, de cada expressão, modifica o seu sentido nuclear:
‘sujo’ indica impureza e, por extensão metafórica, sordidez e indignidade. Dessa forma,
‘pé sujo’ pode referir-se à pessoa muito pobre e a um botequim de baixa categoria. ‘Frio’
informa uma condição térmica corporal desconfortável, já que nessas circunstâncias a
temperatura corporal interna e a temperatura externa ao corpo não estão equilibradas.
Portanto o estado de frio está associado a falta de sorte, ao azar,. Logo a pessoa que possui
tal característica, ‘pé frio’, é azarado. Em ‘pé de meia’, inicialmente, tem-se a metonímia O
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CONTINENTE PELO CONTEÚDO, em que a peça de roupa é tomada pela parte que
cobre; consequentemente, em função do hábito de guardar dinheiro nessa peça, essa prática
levou a designar economias como ‘pé de meia’, ainda que tal prática não se realize mais
essa é a motivação para o uso da expressão.
A sistematização do continuum parte do polo metonímico para o metafórico. Lakoff
& Jonhson ([1980] 2007:77-78) afirmam que metáfora e metonímia são, ambos, processos
cognitivos fundamentados na experiência humana. Contudo, ressaltam que os conceitos
metonímicos são mais translúcidos que os metafóricos, já que costumam conduzir a
associações físicas ou causais diretas, enquanto os sistemas conceptuais das culturas e das
religiões são de natureza metafórica. Portanto, o continuum parte de experiências físicas
até as culturais. Entre um polo e outro, surgem dois tipos de interações, segundo Barcelona
([2000] 2003:10):
(1) Metonímias motivadas conceptualmente por metáforas;
(2) Metáforas motivadas conceptualmente por metonímias.
No entanto, o autor afasta o primeiro caso, argumentando que é bastante
problemático e constitui um real desafio para a teoria da metáfora. A posição é ratificada
por Günter Radden ([2000] 2003:93), para quem metáforas elaboradas a partir de
processos metonímicos são mais básicas e naturais que metonímias com bases metafóricas.
Os quadros a seguir apresentam exemplos de construções lexicais e/ou expressões
idiomáticas genuinamente metonímicas, genuinamente metafóricas e metafóricas
motivadas conceptualmente por metonímias.
Metonímias Significados A pé Caminhando
Arrasta-pé Baile popular onde predominam músicas e ritmos como forró, o samba etc.; bate-
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chinela; arrasta; arrastado.
Pé Unidade de comprimento do sistema anglo-saxão, correspondente a 12 polegadas e equivalente, no sistema métrico decimal, a 30, 48cm.
Pé da cama Parte do leito oposta à cabeceira.
Pé da Meia Um dos pares da peça de malha, ou algodão, ou lã feita para cobrir o pé.
Pé de chumbo
Pessoa que não progride na vida, apesar de tudo lhe ser favorável; zé-ninguém.
Pé de valsa Exímio dançarino.
Pé na tábua Expressa estímulo a que se dirija um veículo com maior velocidade.
Quadro 2: Construções genuinamente metonímicas
Metáfora Significados Encher o pé Chutar a bola com muita força
Pé Pata
Pé Parte inferior de um objeto por meio da qual ele se sustenta
Pé Segmento da folha que a prende ao ramo ou tronco.
Pé Altura da água (do mar, de rio, etc) em relação à altura de uma pessoa, de modo que o pé toque no chão e a cabeça fique de fora.
Pé Parte inferoposterior da cabeleira
Pé Parte inferior de página, livro, lombada, fôrma, tabela ou chapa tipográfica
Pé-d’água Chuva forte, repentina e de pouca duração; aguaceiro.
Pé da cama Base que sustentam a cama
Pé de cabra Alavanca de ferro cuja extremidade é fendida à semelhança de um pé de cabra.
Pé de galinha Conjunto de rugas no canto externo dos olhos.
Pé de ouvido Tapa num lado da cabeça.
Pé de página
Nota que se coloca abaixo da página e que é extensão (observação, informação bibliográfica, explicação etc.) de algo dito, geralmente, nessa mesma página
Pé de pato Calçado de borracha, em forma de pé de
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Quadro 2: Construções genuinamente metafóricas
Metáforas motivadas por Metonímias
Expressões linguísticas
Significado
A pé Locomover-se em transporte coletivo
Apertar o pé Apressar o passo
Bater o pé Opor-se insistentemente
Botar o pé na forma. Treinar exaustivamente para adquirir precisão nos chutes e passes.
Botar o pé no mundo Fugir
Busca pé Peça de fogo de artifício composta de um canudinho cheio de pólvora lenta e vedado de um dos lados o qual, aceso, serpeia pelo chão, preso a uma delgada flecha de bambu ou madeira fina, como que atrás dos pés das pessoas, e que frequentemente contém um explosivo leve.
Cair de pé Manter-se combativo
Com (o) pé atrás = Dé pé atrás Desconfiadamente
Com o pé direito Com sorte
pato, que os nadadores e mergulhadores adaptam aos pés para se deslocarem com rapidez maior dentro da água.
Pé de vento Vento forte ou rajada de vento.
Pé direito Pilar ou muro sobre o qual assenta um arco, uma abóboda. Altura livre de um andar de edifício, medida do piso ao teto
Monopé Suporte portátil, com três escorra, para câmara fotográfica.
Rodapé Artigo inserido na margem inferior da página de jornal, revista ou livro, de um cartaz, anúncio, geralmente, com medidas e/ou corpo menores e separado por um fio horizontal
Sopé Parte inferior de encosta, muro, etc.
Tripé Suporte portátil, com três escorra, para câmara fotográfica.
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Com o pé esquerdo Com azar
Com os pés nas costas- Com um pé nas costas
Com grande facilidade
Em pé de guerra Com os ânimos exaltados
Em pé de igualdade No mesmo nível
Estar com o pé na cova Estar à beira da morte
Está de pé Firme, irredutível
Fazer pé firme Insistir
Ficar no pé de (alguém) Molestar com pedidos insistentes
Finca-pé Estabelecer-se em algum lugar
Ir num pé Dirigir-se a algum lugar com toda rapidez
Ir num pé e vir no outro Ir num pé e voltar no outro Um pé lá, outro cá
Executar determinada tarefa ou missão com muita rapidez
Jurar de pés juntos Afirmar convincentemente
Lamber os pés Adular servilmente
Largar do pé Deixar de importunar
Meter os pés pelas mãos Atrapalhar-se, atordoar-se, confundir-se, na execução de uma tarefa, de uma atividade qualquer. Praticar inconveniências; cometer disparate ou gafe.
Não arredar pé Não mudar de opinião
Negar de pés juntos Insistir com firmeza na negativa
Pé de cana Ébrio
Pé de chinelo
Marginal pouco perigoso. Pobre, sem expressão
Pé de meia Economias
Pé frio Pessoa sem sorte, azarada
Pegar pelo pé Surpreender, conter e criticar o adversário
Pé no chão Caipira
Pé quente Pessoa que tem ou traz sorte
Pé rapado Pobre, pobretão
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Pé sujo Indivíduo muito pobre. Botequim de baixa categoria
Pontapé Ato de ingratidão
Rapapé Ato de enaltecer ou lisonjear com exagero, visando à obtenção de favores, privilégios etc.; bajulação, adulação
Ter os pés no chão
Ter objetividade, ser realista
Tirar os pés da lama Sair de uma situação inferior
Tomar pé da situação Conhecer os fatos
Vai dar pé Ser exequível Quadro 3: Metáforas motivadas por metonímias
2.2. Mapeamento Central e Princípio da Invariância
Apesar de Kövecses (2000) fazer uma distinção entre “mapeamento central” e
“Princípio da Invariância” para argumentar em favor do mapeamento metonímico no
domínio origem, Barcelona ([2000] 2003: 45-46) utiliza o “Princípio da Invariância” para
mostrar como se dão as relações metonímicas dentro dos domínios origem e destino.
Por meio de uma releitura do Princípio da Invariância, o autor interpreta-o como
uma restrição metonímica sobre a metáfora. O princípio indica que há um pré-requisito
para o mapeamento metafórico: um mapeamento metonímico interno no domínio destino,
segundo o qual (parte de) a estrutura imagem-esquemática abstrata do destino é projetada
sobre si mesma. Desse modo, o destino é entendido como (parte de) sua estrutura imagem-
esquemática. Da mesma forma, o mapeamento metonímico também ocorre dentro do
domínio origem, em que parte de sua estrutura é projetada sobre si. No domínio origem,
isso acontece para checar seu grau de similaridade estrutural com o domínio destino. Só
após as projeções internas, há projeção do domínio origem para o domínio destino.
Barcelona apresenta o exemplo ‘cor berrante’ e, por meio dele, explica como se dá
esse mapeamento. O domínio destino (cor “desviante”) é metonimicamente entendido a
30
partir de sua estrutura imagem–esquemática. Há uma dada percepção com certas
características que violam a norma social e um apreensor6 sobre quem recaem certos
efeitos dessas características. Mas, nesse caso especial, a estrutura imagem-esquemática de
“cores desviantes” é compreendida metonimicamente, em si mesma, como um dos seus
subdomínios específicos: o efeito específico de atrair irresistivelmente a atenção do
apreensor. Em outras palavras, no exemplo ‘cor berrrante’ (exatamente como acontece em
‘música doce’), a motivação metonímica é dupla: além da abstração da sua estrutura
imagem-esquemática inerente, essa estrutura é, em si mesma, construída
metonimicamente.
O domínio origem (som “desviante”) é também metonimicamente entendido a
partir de sua estrutura imagem–esquemática. Novamente, temos uma percepção com certas
características, há um apreensor e efeitos dessas características sobre o apreensor, com
atenção sendo, dessa forma, metonimicamente destacada. Nem tudo que sabemos sobre o
desvio do som é considerado para o mapeamento. Por exemplo, o instrumento utilizado
para produzir o som não é considerado: *Era um pífano colorido (para significar uma cor
espalhafatosa). Somente aqueles subesquemas correlacionados com a imagem esquemática
inerente de cores berrantes são mapeados (BARCELONA, [2000] 2003:46).
O exemplo apresentado pelo autor para ilustrar o funcionamento do mapeamento
metonímico dentro dos domínios origem e destino é altamente contrastante e sinestésico.
No entanto, é possível perceber o processo em exemplos mais simples, como ‘pé de barro’
e ‘pé de chinelo’, como pode ser observado nos fragmentos (f) e (g) a seguir.
Em (f), tem-se o composto ‘pé de barro’:
f. “Marina diz que Brasil tem pé de barro na questão da gestão pública”
(http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2010/09/) 6 O autor utiliza “perceiver”, no entanto, não foi possível fazer tradução literal para o português.
31
Do domínio destino, ‘barro’, subfocaliza-se a estrutura imagem–esquemática de
substância mineral, sem valor e usada para fazer escultura. No mapeamento interno do
domínio destino, considera-se o caráter de fragilidade da substância, isto é, aquilo que é
feito ou construído com esse material está sujeito a pouca duração. Já no domínio origem,
‘pé’, definido acima, subfocaliza-se a estrutura imagem–esquemática de verticalidade,
força, locomoção, parte inferior e rapidez. Nesse caso, o subdomínio de ‘pé’ utilizado é de
equilíbrio ou suporte. Portanto, a metáfora construída a partir desses mapeamentos
considera que ter os ‘pés de barro’ é exibir um suporte ou equilíbrio frágil.
Em (g), observa-se uma ocorrência de ‘pé de chinelo’:
g. “ Ladrões pé de chinelo implacavelmente caçados”
(http://protogenescontraacorrupcao.ning.com/profiles/blogs).
Do domínio destino, ‘chinelo’, “calçado macio e confortável, com ou sem salto,
destinado a ser usado em casa” (Dicionário Houaiss Eletrônico) ou em situações informais,
geralmente feito de borracha, mapeia-se a informalidade. Entre os calçados, poder-se-ia
considerá-lo o menos nobre, em função do material de que é feito e pelo seu caráter
doméstico. No domínio origem, ‘pé’, mapeia-se a posição, parte inferior do corpo, o que
reforça a informação já contida em ‘chinelo’. Logo, a expressão metafórica ‘pé de chinelo’
significa “marginal pouco perigoso ou pobre, sem expressão” (Dicionário Houaiss
Eletrônico).
2.3 Conclusão
Ao longo do capítulo, metáfora e metonímia foram destacadas como processos
cognitivos importantíssimos na geração do conhecimento. Inicialmente, a partir de Lakoff
& Jonhson (1980), foram definidas como processos binários, funcionando separadamente.
32
Essas noções clássicas, como afirma Radden (2000), são fundamentais para definir as
categorias prototípicas do continuum metonímia-metáfora. Contudo, Croft & Cruse (2004)
apresentam uma nova perspectiva sobre esses processos, considerando-os como
constituintes de um continuum, em que há manifestações genuinamente metafóricas e
outras, genuinamente metonímicas; há momentos em que os processos interagem e ainda
outros em que não é possível identificar o processo.
Com abordagens distintas, Kövecses (2000) e Barcelona (2000) demonstram que as
inter-relações entre metáfora e metonímia são mais complexas do que o fato de uma
originar a outra. O primeiro indica um mapeamento dentro do domínio origem. Kövecses
define esse domínio como uma composição de subdomínios entre os quais são escolhidos
aqueles considerados mais relevantes. Esse processo pode ser comparado ao
comportamento intradominal da metonímia. No entanto, o mapeamento interno ocorre
apenas no domínio origem e essa filtragem impõe-se sobre o domínio destino.
Barcelona, por sua vez, propõe um processo mais interativo e de grande
complexidade. Ele aponta que o processo de construção da metáfora passa, antes de uma
correlação entre domínios cognitivos distintos, por um mapeamento metonímico dentro de
cada domínio – origem e destino – particularmente, o que equivale a dizer que o processo
mental é, antes de tudo, metonímico, corroborando o posicionamento de que metáfora e
metonímia são processos de significação indissociáveis.
33
3. MCI, FRAME E ESQUEMA IMAGÉTICO – O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO SIGNIFICADO
Os exemplos, analisados no capítulo anterior, são interpretados a partir de uma
experiência comum entre os falantes de uma determinada comunidade linguística, nesse
caso os falantes de língua portuguesa do Brasil. A comunidade vale-se de uma moldura
comunicativa, ou seja, um enquadramento social e linguístico (frame) que permite a
compreensão de determinado significado. Esse enquadre parte da experiência cultural do
falante a respeito de determinadas condições de uso (MARCUSCHI, 2002: 52) de um
vocábulo.
Fillmore ([1982] 2006: 378) afirma que frame é a forma estruturada em que a cena
é apresentada ou lembrada.7 Para ilustrar o conceito, o autor apresenta alguns exemplos,
dos quais dois serão mencionados aqui. Fillmore utiliza os verbos blame, accuse, criticize
(respectivamente, ‘culpar’, ‘acusar’ e ‘criticar’), aos quais chama de Verbs of Judging
(“Verbos de Julgar”) e cria para eles uma “cena esquematizada” da qual participam um
juiz, um arguido e uma situação a ser julgada. Diante desse quadro, escolhe accuse como
verbo utilizado para afirmar que o juiz, pressupondo a maldade da situação, responsabiliza
o arguido. Emprega criticize para afirmar que o juiz apresenta argumentos que levam a crer
que a situação é de alguma forma condenável (blameworth). O autor destaca que as
palavras selecionadas não são verbetes desconexos, pois fazem parte de um domínio cujos
elementos de algum modo pressupõem uma esquematização do julgamento humano e
comportamentos que envolvem noções de valor, responsabilidade, juízo.
Outro exemplo fornecido pelo autor retrata uma cena comercial. Os elementos
dessa cena esquemática são um comprador, um vendedor, um bem e o dinheiro. O
comprador deseja trocar dinheiro por um bem e essa troca é intermediada pelo vendedor, 7 “Using the Word ‘frame’ for the structured way in which the scene is presented or remembered (...)” (FILLMORE, 2006: 378).
34
que o fará após receber o dinheiro. De acordo com Fillmore, os verbos que evocam essa
cena, entre outros, são ‘comprar’, ‘vender’ e ‘pagar’. Portanto, o entendimento do
significado dessas palavras, nesses domínios, passa pela compreensão das instituições
sociais ou das estruturas de experiência que elas pressupõem. A falta dessa informação
basilar não impossibilita a compreensão do interlocutor, mas a limita.
Segundo o autor ([1982] 2006: 378), pode-se dizer que o frame estrutura o
significado das palavras, assim como as palavras evocam o frame. Os significados são
construídos dentro de uma moldura e, depois, passam a evocá-la. Contudo, é importante
salientar que, por constituir-se através de uma atividade sociocognitiva, a estrutura é
dinâmica e está sempre em construção.
Fillmore ([1982] 2006: 378) aponta dois tipos de frame: a) aquele que independe de
uma situação real de fala e b) aquele ativado em situação real de fala. O primeiro enfoca
os domínios cognitivos motivadores que estão envolvidos na construção de um significado,
independente de uma situação real de comunicação. Já o segundo salienta as capacidades
do ser humano de atribuir esquematização aos elementos do mundo e de esquematizar a
situação em que a comunicação é produzida. O autor afirma que o ser humano é capaz de
realizar os dois processos: a) enquadramento independente de uma situação real de fala,
cognitive frames e b) enquadramento interacional, em situação real de comunicação,
interactional frames. Este último está relacionado com a forma de conceituar o que está
acontecendo entre o falante e o ouvinte, ou entre o autor e o leitor. Portanto, para
compreender a moldura comunicativa, é necessário conhecer os domínios cognitivos que a
motivam e haver um compartilhamento de frame entre os interlocutores.
Nos termos de Croft & Cruse ([2004] 2009: 14), um conceito é representado por
uma palavra pressuposta por um conhecimento ou uma estrutura conceptual (base). Assim,
35
‘pé’ é um profile (perfil) e o corpo humano, uma base8 . De acordo com Cuenca & Hilferty
(1999: 76-77), base é a matriz subjacente de domínios cognitivos relevantes evocados para
compreender uma expressão determinada e perfil, a subestrutura destacada sobre a base,
que a expressão em questão designa, conceptualmente.
No caso de ‘pé’, o conceito pertence ao domínio do corpo humano. ‘Pé’ é
classificado a partir de um Modelo Cognitivo Idealizado9 (doravante MCI), como
representação cognitiva de base cultural, uma versão idealizada do mundo que
simplesmente não inclui toda possibilidade de situações do mundo real. Contudo, quando o
MCI e as situações de uso não se coadunam, surge, segundo Lakoff ([1987], 1990: 71),
uma escala de gradiência conceitual, em que o membro mais saliente, prototípico10, carrega
a noção idealizada do conceito. Nessa escala, os membros mais periféricos, mesmo não
apresentando todas as características do prototípico, compartilham uma familiaridade com
este e, por isso mesmo, pertencem à mesma categoria. Desse modo, a motivação para a
construção das expressões linguísticas constituídas com ‘pé´ seria o conceito anatômico:
“Cada uma das duas extremidades inferiores, uma em cada membro inferior, constituídas
de tarso, metatarso, e falanges dos pododáctilos, respectivas articulações, e partes moles
que recobrem as ósseas” (Novo Dicionário Aurélio eletrônico). Todavia, se, em função de
uma deformidade, o ‘pé’ venha a não ter um dos dedos ou até mesmo todos eles, a
extremidade não deixará de ser um ‘pé’; apenas não será um membro prototípico dentro da
categoria.
8 “The terms frame (Fillmore), base (Langacker) and domain (Fillmore, Lakoff, Langacker) all appear to identify the same theoretical framework (…). Filmore describes this framework as frame semantics, and this term has entered into more general usage among cognitive semantics linguistics. However, the terms frame and domain continue to compete for usage, and base is also used among cognitive grammarians.” (CROFT & CRUSE, [2004] 2009: 17) 9 Para Fillmore ([1982] 2006:373), frame é um termo geral que abrange um conjunto de conceitos conhecidos: ‘schema’, ‘script’, ‘scenario’, ideational scaffolding’, ‘cognitive model’, or ‘folk theory’. Croft e Cruse ([2004] 2009:28) afirmam que Lakoff denomina frame de MCI. Nas palavras de Almeida et alii (2009: 21), o ponto- chave entre Frame e MCI parece ser a palavra “idealizado”. 10 Prototípico – “The idea that some members of a category may be ‘better examples’ of that category than others.” (LAKOFF, ([1987] 1990:12).
36
No entanto, em ‘pé de barro’ e em ‘pé de chinelo’ não são evocadas as
extremidades inferiores do ser humano, mas a imagem-esquemática deles e um dos seus
múltiplos aspectos. Isso é possível graças aos interactional frames, os enquadramentos
interacionais.
Para a construção desses significados metonímicos e metafóricos, parte-se de
categorias de nível básico e estrutura imagem esquemática cenestésica (Esquema
Imagético). Segundo Lakoff ([1987] 1990: 267), as categorias de nível básico são definidas
pela convergência (a) da percepção gestáltica11, (b) do movimento corporal e (c) da
capacidade de formar imagens mentais ricas/ complexas. Em contrapartida, os esquemas
imagéticos são estruturas relativamente simples decorrentes da experiência corpórea
cotidiana, reflexos de padrões espaciais e relações de força que identificamos em nossa
interação com o ambiente ao redor (ALMEIDA et alii, 2009: 21): contêiner, trajetória, elo,
força e equilíbrio; cima/baixo, frente/trás, parte/todo, centro/periferia.
Os conceitos teóricos até aqui apresentados iluminam a análise das metáforas
supracitadas, como será demonstrado a seguir. O falante parte do MCI de ‘pé’ e abstrai a
imagem esquemática (suporte, verticalidade, força, locomoção, parte inferior, rapidez e
equilíbrio), que pode ou não coincidir com os esquemas imagéticos propostos por Lakoff
([1987] 1990: 267). Amparados em Barcelona (2000), podemos afirmar que o domínio
origem ‘pé’ experimenta um mapeamento metonímico interno para então projetar-se sobre
o domínio destino ‘chinelo’, que, igualmente, passa por todos os processos pelos quais ‘pé’
passou.
11 Gestalt – “These construal operations represent the most basic level of constituting experience and giving it structure or a Gestalt. (…) For example, many of the principles of Gestalt psychology such as proximity, bounding and good continuation are analyses of how human minds construe a single complex object from seemingly fragmented perceptual sensations.” (CROFT & CRUSE, [2004] 2009: 63)
37
A complexidade configura-se ainda maior ao se constatar que outros domínios,
também diretamente relacionados com experiências humanas corporificadas, interagem na
formação da imagem esquemática de ‘pé’. Croft & Cruse ([2004] 2009: 24) enumeram
alguns desses domínios: ESPAÇO, MATERIAL, TEMPO, FORÇA e outros relacionados a
percepções e sensações corporais – COR, RIGIDEZ, SONORIDADE, FOME, DOR. A
análise seguinte, presente em Almeida et alii (2009: 193), apresenta os domínios
envolvidos na construção do domínio ’pé’.
“Para entendermos a importância de ‘pé’, visualizemos a estrutura física humana: ser ereto, que possui membros superiores, cujas extremidades finais são as mãos, e membros inferiores, cujas extremidades finais são os pés. O homem movimenta-se no espaço físico tendo como apoio os próprios pés e, eventualmente, utiliza-os como meio para determinados usos. Então, os pés são a sustentação do corpo, são os responsáveis pela locomoção e, como encontrado na primeira entrada do dicionário, é a extremidade do membro inferior humano. Mas, também, nos serve para deslocarmos coisas do lugar, e, nesse sentido, é elemento capaz de instituir força sobre objetos.
O diagrama em (01), a seguir, extraído de Almeida et alii (2009: 193), explicita a
construção dos domínios de ‘pé’:
(01) Pé – EI alto/baixo
Corpo deslocamento
Estrutura física
“lugar” de apoio, sustentação
ESPAÇO FORÇA TEMPO
38
Como já citado, Fillmore ([1982] 2006) afirma que frame é um termo abrangente
que inclui um conjunto de conceitos e, entre eles, o de modelo cognitivo. Croft & Cruise
(2004) observam que MCI e frame seriam nomenclaturas distintas para o mesmo fenômeno
e, nas palavras de Almeida et alii (2009: 21), “o ponto-chave entre Frame e MCI parece
ser a palavra ‘idealizado’” (cf. nota 8). Contudo, propõem-se aqui as definições
encontradas em Martelotta & Palomanes (2008: 185):
“Os modelos cognitivos idealizados são estruturas das quais nosso conhecimento se organiza. (....) Já as molduras comunicativas constituem estruturas de conhecimento relacionadas a formas organizadas de interação. Caracteriza-se por um conjunto de procedimentos que identifica um tipo de atividade social (....), atividades que implicam comportamentos estabelecidos em que cada participante possui um papel previamente determinado.” (MARTELOTTA &PALOMANES, 2008: 185)
Tanto MCI quanto frame são modelos cognitivos organizadores da estrutura
conceptual, fundamentados culturalmente. O primeiro é um conjunto de conhecimentos
sobre um determinado campo do saber, uma herança cultural, o conhecimento
enciclopédico, enquanto o segundo diz respeito aos conhecimentos compartilhados por
pessoas ou um subgrupo social. Retomemos o exemplo ’pé-de-barro’ a partir do seguinte
enunciado:
(02) “Robert terá que exonerar 208 delegados ‘pé de barro’ no Piauí
(....) A decisão vai obrigar o secretário a exonerar, no prazo de 15 dias, os 208 policiais
militares que estão desempenhando ilegalmente o cargo de delegado em 92% dos
municípios do Piauí.”
(http://ai5piaui.com/index.php/7600/robert-tera-que-exonerar-208-delegados-pe-de-barro-
no-piaui/.)
39
O MCI de ‘pé de barro’, em (02), é de fragilidade. O frame é o de ilegalidade, uma
vez que os enunciados referem-se à gestão pública no Brasil, país que, durante o século
XX, foi classificado como de terceiro mundo por diversos fatores, entre os quais a
corrupção nos órgãos governamentais. Hoje, o país está na categoria dos países em
desenvolvimento; no entanto, a corrupção é contínua entre seus órgãos. A candidata à
presidência da república do Brasil em 2010, Marina Silva, afirma que o país tem ‘pé de
barro’, em função de vazamento de dados sigilosos da Receita Federal, fato considerado
pela legislação brasileira como ilegal. Da mesma forma, a função de delegado exercida por
militares sem o preparo adequado (e sem ingresso por concurso público) também é
considerada uma situação ilícita. Vejamos, a seguir, em (03), o caso de ‘pé-de-chinelo’:
(03) “Rubinho Barrichelo ou Rubinho BORRIchelo Pé de Chinelo”
(desciclo.pedia.ws/wiki/Rubens_Barrichello)
O nome Rubinho Barrichelo aciona o MCI Fórmula 1 – esporte multimilionário
destinado às camadas mais abastadas da sociedade, em que os desportistas competem,
dentro de um carro de modelo único, em alta velocidade, pelo primeiro lugar, após um
número determinado de voltas, em um circuito fechado. Para a sociedade brasileira, o
nome Barrichelo ativa alguns frames: corredor da Fórmula 1; 1º brasileiro a destacar-se
nesse esporte depois da morte de Airton Senna; esportista que nunca conquistou um
campeonato; segundo piloto por muito tempo da equipe Ferrari, sendo por algumas vezes
segundo colocado no campeonato; integrante mais velho desse esporte no momento;
participante atualmente com uma participação pífia na Fórmula 1.
O MCI da expressão metafórica ‘pé de chinelo’ evoca inferioridade. O frame
ativado, nesse caso, é a imagem de um desportista sobre o qual se criou uma grande
40
expectativa após a morte prematura de Airton Senna, corredor brasileiro da Fórmula 1
considerado ídolo nacional. Barrichelo iniciou sua carreira como uma grande promessa,
mas nunca correspondeu às expectativas, sendo vice em dois campeonatos e o segundo
piloto a fazer maior número de pontos em um único campeonato da Fórmula 1; logo, ‘pé
de chinelo’ significa perdedor, tanto que, ao mencionar-se o esporte e citar-se ‘pé de
chinelo’, focaliza-se o automobilista.
Como se vê, para descrever como os significados são produzidos, além de se
observar os tipos de relação (processos metafóricos e metonímicos) entre as estruturas de
conhecimento relativamente estáveis (domínios conceptuais), torna-se indispensável pôr
em destaque as habilidades cognitivas relacionadas à ativação de frames e de MCIs. Os
exemplos (04) a (08) ratificam a importância do MCI e do frame na construção do
significado. Comecemos com a expressão ‘estar de pé’, utilizada no enunciado em (04),
logo abaixo:
(04) “E o encontrinho glorioso tá de pé!”
(http://oficinadeestilo.com.br/blog/2009/04/03/)
O MCI da expressão idiomática ‘estar de pé’, no enunciado com aférese do verbo
‘estar’, é de firmeza, estabilidade, segurança. Já o frame acionado é de certeza. Significa
dizer que o evento marcado não será alterado, havendo garantias de que irá, de fato,
ocorrer. Esse enquadramento distingue a expressão do grupo sintático ‘está de pé’. A
expressão é metafórica, já o grupo sintático possui significado básico e as condições de uso
são distintas, pois o grupo sintático remete à orientação espacial do corpo em oposição a
outros possíveis posicionamentos, como sentado ou deitado.
No exemplo em (05), a seguir, aparece a expressão ‘em pé de igualdade’:
41
(05) "(...) Tempo é custo. Temos equipamentos que muitos aeroportos grandes não têm.
Competimos em pé de igualdade com Campinas ou Galeão", orgulha-se o
administrador.
(http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110313/not_imp691196,0.php)
No exemplo em (05), o MCI ativado pela expressão ‘em pé de igualdade’ diz
respeito às condições em que algo pode ser realizado. O frame, por sua vez, remete ao
nível de funcionamento, à capacidade escalar que torna possível estarem no mesmo grau
um pequeno aeroporto e grandes aeroportos, destacando-se, nessa construção, a viabilidade
de ascensão do menor. Nos exemplos em (06) e (07), aparece uma mesma expressão: ‘pé
de dinheiro’. Observem-se os usos:
(06) “Um pé de dinheiro
Grupos rurais de geração de renda descobrem alternativas à roça e investem na produção de artesanato. Vendas ajudam a melhorar as condições de vida dos participantes”.
(http://www.gazetadopovo.com.br/economia/conteudo.phtml?id=828465)
(07) “Pé de dinheiro A candidata a deputada estadual, Telma Chaves (PT), não é uma mulher de posses. Mas, ainda assim, de forma misteriosa, pelas centenas de carros com perfurados, centenas e centenas de placas nos bairros, faz uma das campanhas mais milionárias desta eleição. O mínimo que se pode imaginar é que no fundo do quintal de sua casa deve ter um pé de árvore que, em vez de frutos dá dinheiro. Ou quiçá essa árvore esteja no quintal do secretário de Planejamento do Governo, Gilberto Siqueira, padrinho e principal apoiador da sua candidatura”. (http://www.ac24horas.com/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=12813:pe-de-dinheiro&catid=21:blog-do-crica&Itemid=124)
42
Os enunciados (06) e (07) são diferentes, já que a construção ‘pé de’, presente em
tantas outras expressões, ativa um significado independente de qualquer outra palavra que
venha com ela constituir uma composição. Essa questão será melhor analisada no capítulo
4, destinado à construção formal, em que destacaremos a alta produtividade da construção
‘pé-de-X’ designando “árvore/arbusto que produz X”, sendo X o nome da fruta ou da flor.
O MCI em ‘pé de’ é, portanto, de plantação, cultivo, árvore. Em (06), noticia-se que os
agricultores e sua família, que antes passavam períodos sem uma renda para os seus gastos,
encontram na produção de artesanato uma nova forma de geração de renda para financiar
suas necessidades básicas. Portanto, o frame evocado por ‘pé de dinheiro’, nesse
enunciado, é cultivo de fruto incessante. Já em (07), o que fica ressaltado é a discrepância
entre as posses da candidata ao cargo de deputada estadual e os gastos exorbitantes feitos
em sua campanha. O frame, em (07), além de suscitar o significado de quantidade infinda,
provoca a ideia de excesso.
Vejamos, por fim, a expressão ‘pé na tábua’, em (08):
(08) “Foi minha estreia na modalidade Corridas de Montanha, agora sei que devo levar minha própria água e frutas, assim que terminar a prova, pegar a medalha e pé na tábua, sem prestigiar o evento.”
(http://corridasdemontanha.com.br/site/?p=771)
O MCI em ‘pé na tábua’ é de velocidade automobilística. O condutor, ao imprimir
maior pressão sobre o acelerador, denominado metonimicamente de ‘tábua’, por meio do
pé, aumenta a velocidade do carro. No comentário da participante do evento ‘Corridas de
Montanha’, o frame ativado é retirar-se de forma rápida, uma vez que, insatisfeita com a
organização do evento, ela não pretende comemorá-lo.
43
Os enunciados acima analisados, de acordo com os interactional frames
(enquadramentos interacionais), contribuem para asseverar que a construção do significado
se dá através da atividade comunicativa. Pressupõe-se que os envolvidos em dada
interação, uma vez inseridos em uma mesma sociedade, possuam conhecimentos comuns e
sejam capazes de compartilhar com seus membros os valores socioculturais, acessados por
meio das experiências corporais.
Nos aspectos culturais, sociais e corpóreos, os interlocutores buscam elementos
motivadores para categorizar o mundo ao seu redor e esquematizar as situações de
comunicação. No entanto, isso não assegura o sucesso da interlocução, uma vez que, para
tanto, fazem-se necessários MCI e frame comuns entre os falantes. Esses construtos
teóricos auxiliam a compreender como o ser humano acessa e organiza o conhecimento,
pois não se trata apenas de armazenamento de dados, mas de um processo cognitivo
complexo em que interagem outras faculdades mentais além da linguagem. Isso torna cada
domínio uma múltipla rede significativa, como apresentado no diagrama (01), extraído de
Almeida et al. (2009: 193). Os significados estão enredados e, consequentemente, as
expressões não constituem um único significado, mas estão inter-relacionadas, formando
uma rede polissêmica na qual há um significado central, prototípico, e, no entorno,
significados mais ou menos representativos. A esse respeito, assim se pronuncia Fillmore
(2006: 380-381):
“O que queremos dizer, quando observamos fenômenos de uso como esse, não é que tenhamos falhado na captura do núcleo verdadeiro do significado das palavras, mas ao contrário que as palavras dão-nos uma categoria que pode ser usada em muitos contextos diferentes, esta gama de contextos determinada por múltiplos aspectos de seu uso prototípico – o uso que a
44
palavra tem quando as condições da situação de fundo correspondem mais ou menos exatamente a definição prototípica.“12
As palavras são “composições moleculares que reunem informações fonéticas,
semânticas, sintáticas e pragmáticas” (FERREIRO, 2010: 112), construídas,
dinamicamente, pela interação das capacidades cognitivas do ser humano com o mundo
que o cerca e pela projeção conceptual entre as estruturas de conhecimento. Portanto, o
domínio cognitivo, por si só, não constrói o significado, mas este somente pode ser
compreendido por sua relação com aquele. Em suma, é por meio desse processo de mão
dupla, com base na dinâmica ativação de conceitos disponíveis, manifestados pela
linguagem, que as palavras adquirem significado.
Os aspectos observados possuem uma natureza estrutural e simbólica por meio da
qual o conteúdo conceptual é expresso: as palavras. O próximo capítulo abordará,
especificamente, os mecanismos de estruturação morfológica envolvidos nas expressões
lexicais e idiomáticas aqui investigadas.
12 “What we want to say, when we observe usage phenomena like that, is not that we have so far failed to capture the true core of the word’s meaning, but rather that the word gives us a category which can be used in many different contexts, this range of contexts determined by the multiple aspects of its prototypic use- the use it has when the conditions of the background situation more or less exactly match the defining prototype”. (FILLMORE, 2006. p: 380-381)
45
4. FORMA E CONTEÚDO
A análise das expressões lexicais e idiomáticas está cercada por alguns conceitos
complexos e discutíveis no que tange a definições e fronteiras, entre os quais de palavra,
composição e grupo sintático. Nas seções que se seguem, serão elencadas as definições
propostas por Basilio (1987, 2000 e [2004] 2006), Mattoso Câmara ( [1970] 1996 e [1977]
1981), Rocha ([1998] 2008), Monteiro (1986) e Sandmann ( [1988] 1989 e 1991) para os
conceitos acima. Do mesmo modo, serão expostas as abordagens feitas pela Linguística
Cognitiva, por meio dos autores citados nos capítulos anteriores e outros afinados com essa
corrente teórica, a respeito das questões supracitadas. Assim, serão apresentadas
proposições que mais se aproximem da linha teórica norteadora desta pesquisa.
4.1 Palavra
Basilio ([2004] 2006: 13-18), enfatizando a complexidade do assunto, apresenta a
definição de palavra a partir de ângulos distintos. A relação abaixo ilustra a dificuldade em
delimitar um conceito para o termo. Segundo a autora, há várias definições possíveis para
palavra, a saber:
a) Sob o ponto de vista gráfico, “A sequência de caracteres que aparece entre
espaços e/ou pontuação e que corresponde a uma sequência de sons que formam
uma palavra na língua;”
b) “São aquelas que aparecem listadas nos dicionários;”
c) Morfologicamente, “palavra é uma construção que se estrutura de uma
maneira específica: seus elementos componentes, ou formativos, apresentam ordem
46
fixa e são rigidamente ligados uns aos outros, não permitindo qualquer mudança de
posição ou interferência de outros elementos.”;
d) “Unidade estrutural que congrega diversas formas.”;
e) Da perspectiva sintática, “Unidades de que se compõe o enunciado.”;
f) Semanticamente, “Unidade lexical”;
g) “Unidade de significação”;
h) Do ponto de vista sonoro, é uma “Unidade fonológica. Por um lado, (...)
sequência fônica que ocorre entre pausas potenciais. Por outro, na estrutura do
português (...) padrão acentual baseado em tonicidade e duração.”
Basilio ([2004] 2006: 17) lembra ainda que, para Leonard Bloomfield, palavra é
“forma livre mínima. (Ou seja), é aquela que pode por si só constituir um enunciado”. A
autora conclui afirmando que a problemática em torno de palavra é a tentativa de
enquadrar o conceito em uma das categorias (fonológica, gráfica, morfológica, sintática,
pragmática) como elemento preciso, ao passo que deveriam ser considerados os diversos
enfoques. E adota a definição semântica, “unidade lexical”:
“É importante, pois, que possamos conviver com a diversidade e com a complexidade. É o preço que pagamos por um sistema de comunicação mais flexível; as estruturas rígidas são sempre mais fáceis de descrever, mas muito mais limitadas em sua utilização.” (BASILIO, [2004] 2006: 18).
Já Mattoso Câmara ([1977] 1981: 187), em seu dicionário, apresenta, para o verbete
palavra, as seguintes definições:
“Vocábulos providos de significação externa, concentrada no radical; noutros termos vocábulos providos de semantema13. A palavra é sempre uma forma livre, é pois um lexema na terminologia norte-americana.”
13 Semantema é a parte da palavra em que repousa a significação lexical básica. Constitui o que se denomina de raiz. (Monteiro, 1986:12)
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Rocha ( [1998] 2008:69), citando o Diccionario de Términos Filológicos de
Fernando Lazaro Carreter, afirma que palavra “resulta da associação de um sentido dado a
um conjunto dado de sons, suscetível de um emprego gramatical dado”. O autor (op.cit)
acrescenta, ainda, “que uma palavra se caracteriza por possuir uma identidade fonética,
uma identidade semântica e uma identidade funcional.”
Monteiro (1986: 9) reserva o termo palavra apenas aos vocábulos que apresentam
semantema. Em nota (cf. nota 10), o autor amplia o conceito afirmando que “forma, função
e sentido são elementos solidários e interdependentes, de tal modo que só abstratamente
um existe sem os outros”..
É com esse mesmo enfoque, entendendo a palavra como um conjunto solidário
entre forma, função e significado, que a Linguística Cognitiva estuda o signo linguístico:
palavra é a associação entre significante e significado, remetendo-se a concepção
saussuriana, exceto na percepção da arbitrariedade, que é relativizada. Cuenca & Hilferty
(1999: 182), ao citar Sweetser, afirmam:
“é inegável a arbitrariedade ao expressar conceito como “ver” com a forma ver em espanhol, veure em catalão, see em inglês, etc. Porém, a partir deste ponto, a linguagem não se estrutura arbitrariamente, mas é, em grande parte, motivada.”14
A esse respeito, Lakoff ([1987] 1990: 96 e 438) assevera que a motivação está
relacionada com a capacidade humana de categorização, isto é, o processo de classificar e
estruturar o conhecimento, partindo de um membro prototípico para membros periféricos.
A relação entre o significante e o significado de ‘pé’, parte do corpo humano, é arbitrária;
no entanto, o mesmo não acontece nas expressões advindas dele, ‘pé da mesa’ (“suporte
14 “Como apunta, entre otros autores, Sweeter (1990:5), es innegable la arbitrariedad de expressar concepto como “ver” com la forma ver em español, veure em catalán, see em inglês, etc. Pero, a partir de este punto, el lenguaje no se estructura arbitrariamente, sino que es, en gran medida, motivado” ( Cuenca e Hilferty, 1999: 182).
48
desse objeto”), ‘pé de cana’ (“alcoólatra”), pois encontram motivação no significado
primário de 'pé' e com ele estabelecem afinidades garantidas pelo sistema conceptual.
Em relação à constituição morfológica, as expressões com 'pé' aparecem, na
literatura, como produtos de composição ou como grupo sintático. Assim, nas próximas
seções, discutiremos tais conceitos, na tentativa de estabelecer o(s) processo(s) pelos quais
as expressões aqui analisadas são formadas.
4.2 Composição
Os problemas na definição de palavra, de acordo com Basilio (2000: 11), refletem-
se sobre a conceituação de palavra composta. Em vista da complexidade do assunto, a
autora adota, como já mencionado anteriormente, o conceito de palavra como unidade
lexical e, consequentemente, de composto “como conjuntos de palavras que funcionam
lexicalmente como uma palavra só” (BASILIO, op.cit.: 11). No entanto, Basilio, ao
retomar o conceito de composição, na mesma obra, iguala palavra a radical, embora já
houvesse afirmado que radical é uma forma presa e que palavra é uma forma livre. Em
Basilio (1987: 29), observa-se a seguinte definição para composto:
“O processo de composição se caracteriza pela junção de uma base a outra para a formação de uma palavra. Assim, dizemos que uma palavra é composta sempre que esta apresenta duas bases. Por exemplo, palavras como guarda-chuva (guarda + chuva), luso-brasileiro (luso + brasileiro), sociolingüístico (sócio + lingüístico) e agricultura (agri + cultura) são compostas, isto é, formadas pela junção de duas bases, sejam estas formas presas – isto é, formas que dependem de outras para sua ocorrência, como agri- em agricultura — ou livres, como chuva, brasileiro, e assim por diante.”
O conceito parece tornar-se mais claro ao propor a união entre bases, sejam elas
livres ou presas; entretanto, Basilio não esclarece o conceito de base, que ora se apresenta
como raiz, ora como radical.
49
“Temos basicamente dois tipos de morfema: afixo e raiz. Raiz é um morfema que pode, por si só, constituir a base de uma palavra. Por exemplo, em luzir, luz é raiz. (...) Do ponto de vista morfológico, a base de uma construção é tradicionalmente chamada de “radical". Dá-se o nome de "tema" ao radical seguido por uma vogal temática. mas, via de regra, este termo só é utilizado na estruturação de formas flexionadas.” (BASILIO, 1987: 14-15)
Já Mattoso Câmara ([1977] 1981: 76-77) apresenta três definições para a
composição, fundamentado nos critérios morfológico, fonológico e sintático; enquadra o
sintático entre os critérios morfológicos:
“Formação de palavra pela reunião de outras, cuja significação se completa para formar uma significação nova (....). Os vocábulos que entram na composição podem apresentar-se numa forma variante daquela que figura como forma livre, por morfofonêmica (cf. fruti- em vez de fruto, em fruticultura), ou podem só aparecer na língua como formas presas em compostos (-fero em frutífero, agr- e –cola em agrícola). (....) Do ponto de vista fonológico, o composto pode ser – a) por justaposição (ex: guarda-chuva, pré-histórico), ou –b) por aglutinação (ex: planalto, infelicidade). Do ponto de vista morfológico, pode ser um sintagma, em que há subordinação de um elemento, como determinante ao outro como determinado, ou sequência de coordenação.”
A definição de Mattoso Câmara (op. cit.) remete ao conceito palavra, que, como
visto inicialmente, possui diversos critérios de análise. O autor cita a palavra ‘infelicidade’
como exemplo de composição por aglutinação; no entanto, ao nosso ver, trata-se de um
exemplo de derivação sufixal: feliz in + feliz = infeliz infeliz + idade =
infelicidade. Ao final, como já mencionado aqui, Mattoso Câmara considera as relações de
subordinação e coordenação entre as formas, livres e/ou presas, como critério morfológico
de análise.
Monteiro (1986: 165) conceitua composto como “o vocábulo formado pela união
de dois ou mais semantemas. Os componentes graficamente podem estar ligados
(aguardente, passatempo), hifenizados (vira-lata, franco-suíço) ou soltos (Porto Alegre,
Mato Grosso).” O autor apresenta uma série de critérios para identificação dos compostos
que se mostram falíveis. Diante da complexidade do assunto, propõe uma definição, que
50
ele qualifica como restrita, porém, de base morfológica, para a questão: “será composto o
vocábulo que admitir a pluralização apenas do último componente” e possuir as seguintes
características: “sufixação relacionada ao composto como um todo; impossibilidade de
intercalação de novos determinantes; impossibilidade de disjunção ou alteração da ordem
dos constituintes e impossibilidade de supressão de um dos elementos”.
Na definição proposta, inicialmente, o autor opta pelo termo semantema, ao invés
de palavra. Monteiro (1986: 12) define semantema como “parte da palavra em que repousa
a significação lexical básica. Constitui o que se denomina de raiz (...).” e, formalmente,
apresenta o semantema como a parte da palavra desprovida de afixos e vogal temática.
Exemplos citados pelo autor: ‘terra’, ‘terrestre’, ‘terráqueo’, ‘terreno’, ‘terreiro’, ‘aterrar’,
‘enterrar’, ‘desterrar’ raiz ‘terr-’. Contudo, esse conceito não se mostra consistente na
análise de alguns compostos de nosso corpus, como ‘pé quente’, ‘pé de moleque’ e ‘pé de
galinha’, entre outros, já que as palavras não são escolhidas na sua forma mínima. A
definição apresentada, posteriormente, como introduzido pelo próprio autor, é limitada, já
que ele faz recortes para que a definição se ajuste ao critério morfológico, desconsiderando
os outros critérios.
Rocha ( [1998] 2008: 184) não se detém sobre o assunto e propõe uma definição
não muito contundente : “A composição configura-se como um processo autônomo de
formação de palavras em português, diferente da derivação e da onomatopeia”
Sandmann ([1988] 1989: 3,117-119) afirma que compostos são palavras
complexas. A relação entre as palavras que participam dessa formação pode ser
coordenativa ou subordinativa e essa relação sintática reflete o conteúdo semântico da
composição. Na coordenação, nenhum componente determina o outro; em ‘bar-
restaurante’, citado pelo autor, “é apresentada uma coisa nova, produto da soma de ambos
os constituintes”. Já na subordinação, a relação é estabelecida por determinação, pois há
51
um núcleo que é especificado por um determinante, a exemplo de ‘piano-bar’, mencionado
por Sandmann, em que ‘piano’ especifica ‘bar’. O autor acrescenta: “Muitas vezes só se
alcança o reconhecimento da relação real entre os constituintes de uma palavra complexa
mediante o contexto ou situação”.
Na introdução de sua obra, Sandmann informa que não discutirá o conceito de
palavra e também não apresenta uma definição evidente sobre composição; todavia,
preocupa-se em mostrar as relações sintáticas entre os termos da composição e suas
consequências semânticas. O autor também reconhece o papel da situação comunicativa
para a compreensão do significado.
A Linguística Cognitiva, da mesma forma que concebe a linguagem como um dos
mecanismos cognitivos, isto é, em interação com os demais processos cognitivos, entende,
como afirmam Cuenca & Hilfert (1999:181, 184, 187), que a estrutura da linguagem
também não funciona em módulos, mas em um continuum de unidades simbólicas, que são
o resultado da associação entre um polo semântico e um polo formal em diferentes níveis:
morfema, palavra e construção. Como tais componentes estruturam o conteúdo conceptual,
qualquer mudança formal tem efeitos semânticos. É a partir dessa perspectiva que as
expressões lexicais são analisadas neste capítulo.
Sandmann ([1988] 1989: 118) analisa algumas “palavras complexas” como uma
formação composicional, indo de encontro com os fundamentos da Linguística Cognitiva,
visto que os significados são construídos e reconstruídos na interlocução e a “linguagem
não é um simples código nem contém imanente um sistema semântico, mas se caracteriza
como um sistema simbólico de grande plasticidade com o qual podemos dizer
criativamente o mundo.” (MARCUSCHI, 2002: 43-44). Contudo, os estudos feitos por
Sandmann, por privilegiar as imbricações advindas da relação entre forma, conteúdo e
52
pragmática, são de grande valia para a descrição que se pretende desenhar no presente
trabalho.
4.3 Composição x Grupo Sintático
A dificuldade em conceituar composição não repousa apenas sobre a definição de
palavra, mas, entre outras questões, também sobre a imprecisão, no panorama da literatura
tradicional, em distinguir compostos de grupos sintáticos. Basilio (2000), Monteiro (1986)
e Sandmann ([1988] 1989) discutem, em suas obras, a linha difusa ente esses conceitos.
Basilio (2000: 14) afirma que, ao considerar os compostos como um modelo de
palavra, faz-se necessário distingui-los de outras estruturas sintáticas, já que os compostos
assemelham-se, em sua forma, aos grupos sintáticos comuns. Inicialmente, a autora (2000:
15) assevera que o número de palavras que formam o composto não é suficiente para
caracterizá-lo; faz-se necessária uma particularização por meio de “suas propriedades
estruturais” a fim de diferenciá-lo de “outras unidades”.
Basilio (op.cit) propõe, por meio de exemplos, uma análise para depreender a
estrutura composicional. A autora utiliza a formação VERBO + SUBSTANTIVO e
demonstra que a relação sintática presente na composição possui semelhança com o
sintagma verbal do qual advém, VERBO + OBJETO. No entanto, diferente do sintagma
verbal, a composição encerra uma função designativa. Nesse caso, ‘guarda-roupa’,
exemplo citado por Basilio (2000: 15), “corresponde a um ser designado pela ação do
verbo sobre o substantivo”, assim como “mata-mosquito é um profissional designado pela
função do verbo matar sobre o objeto mosquito.” Sob esse enfoque, outro critério de
distinção é a impossibilidade de inserção de elementos entre o verbo e o substantivo,
quando estes formam uma palavra.
53
De acordo com Basilio (2000: 15), do ponto de vista fonológico, os compostos,
com essa formação, distinguem-se dos grupos sintáticos, pois “é clara a diferença de ritmo,
acentuação e autonomia fonológica”. Morfologicamente, a autora constata que a forma
verbal em ‘mata-mosquito’ encontra-se invariavelmente na terceira pessoa do presente do
indicativo, diferente do sintagma verbal em que a concordância com o sujeito é obrigatória.
Os argumentos de Basilio diferenciam precisamente os compostos dos não
compostos nos aspectos sintático, semântico, morfológico e fonológico; contudo, como
observa a própria autora, essa distinção limita-se às formações V+S. Com efeito, Basilio
(2000: 16) propõe o seguinte questionamento: os outros casos de palavras compostas o são
do ponto de vista morfológico ou apenas do ponto de vista lexical? Para responder à
questão, a autora utiliza o exemplo ‘óculos escuros’, que, apesar de apresentar função
designativa, possui, segundo ela, comportamento morfológico controverso, já que há
concordância de número entre os elementos e um dos termos da composição pode ser
substituído, assumindo a forma variante ‘óculos pretos’. Basilio conclui apontando a
necessidade de uma análise mais cuidadosa sobre o assunto.
Já Monteiro (1986: 165-166 e 168) apresenta como um dos problemas
fundamentais para a identificação de um composto a similaridade com as locuções e
propõe alguns critérios para reconhecer o primeiro:
a) Ordem fixa; no entanto, o próprio Monteiro afirma que, em alguns casos, as
locuções também apresentam ordem fixa e, em outros casos, os compostos podem sofrer
inversão, como, por exemplo, ‘franco-italiano’ = ‘ítalo-francês’ e ‘planalto’ = ‘altiplano’;
b) Impossibilidade de intercalação de determinantes; contudo, como observado por
Monteiro, há locuções que também não admitem intercalação de determinantes e
exemplifica com a locução ‘segunda-feira’;
54
c) Impossibilidade de supressão de um dos termos, comportamento próprio das
locuções. Novamente, o autor afirma que alguns compostos permitem a supressão,
enquanto algumas locuções não. Monteiro cita as locuções adverbiais, prepositivas ou
conjuntivas e as expressões ‘pé de moleque’, ‘pé de galinha’ e ‘unha de fome’, as quais
não reconhece como compostos, por não admitirem supressão, e ‘fotografia’, por ser um
composto que admite.
O autor, diante da imprecisão da fronteira entre composição e locução, sugere que o
problema esteja em compreender a composição como um processo morfológico quando
deveria ser tratada como processo sintático-semântico. Em função do exposto, Monteiro
propõe uma definição limitada a critérios morfológicos para o composto, como já
abordado na seção 4.2.
Contrapondo-se aos compostos estão as locuções, definidas pelo autor (2000: 167)
“como dois ou mais vocábulos com autonomia fonética e morfológica que apresentam uma
unidade de significação” e permitem a flexão de número em todos os componentes ou
somente no primeiro. Monteiro cita exemplos de locuções verbais, locuções adjetivas e
locuções adverbiais, como ‘tinha feito = fizera’, ‘(fome) de cão = (fome) canina’ e ‘todos
os dias = diariamente’, respectivamente.
De acordo com o autor (2000:169), a “ruptura dos limites de cada estrato da língua,
associada à mistura de critérios, cria por vezes contradições e equívocos”, e, para que haja
‘coerência’, propõe que não se misturem critérios heterogêneos.
Sandmann ([1988] 1989: 127-130) inicia a discussão acerca da distinção entre
composto e grupo sintático, informando que os compostos formados por A+S, S+A e
S+de+S apresentam uma identidade muito próxima à dos grupos sintáticos e, por isso, há
uma maior dificuldade em distingui-los. Com o objetivo de criticar a abordagem
55
transformacionalista e de destacar a função designativa dos compostos, o autor cita Gaucer
(1971: 159):
“Nem do ponto de vista histórico nem do sistemático a composição se originou da frase. A composição não é uma frase condensada ou que encolheu. A palavra composta diz alguma coisa sobre seu intento. Sua função designativa ou ‘nominativa’ pode ser desdobrada, em parte, numa função declarativa. Mesmo assim sua função designativa continua sendo a mais importante.”
Sandmann demarca a função dos compostos e dos grupos sintáticos por meio dos
exemplos ‘Tomara que caia!’, ‘Maria vai com as outras’, ‘tomara-que-caia’ e ‘maria-vai-
com-as-outras’. Aos sintagmas oracionais, cabe a função de exprimir desejo e fazer uma
afirmação, já aos compostos, designar uma blusa e uma pessoa sem vontade própria.
Segundo o autor, os compostos perderam as funções expressas pelas frases. Outro aspecto
que os difere é a “sensação de novidade” evocada a cada palavra nova, que não ocorre com
as frases, uma vez que os sintagmas oracionais, a cada manifestação, são uma nova
ocorrência da mesma construção; portanto, o caráter de novidade não tem tanta evidência.
Contudo, Sandmann observa que a função designativa não é suficiente para
distinguir os compostos dos grupos sintáticos, já que há grupos sintáticos permanentes que
são designativos. Exemplos do autor: ‘toda vida’, ‘Nossa Senhora’, ‘pintar o sete’, ‘tomar
pé’, ‘tomar conta’, ‘abrir mão de’.
O autor apresenta outras formas de realizar tal distinção, utilizando-se de critérios
fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos. Entretanto, declara que, no português,
os três primeiros critérios não funcionam para todos os tipos de formação existentes na
língua, sendo o critério semântico o melhor para fazer tal distinção: “Muitas vezes a
distinção se pode fazer apenas por um desses critérios” (SANDMANN, [1988] 1989: 129).
Sandmann (op.cit) retoma a discussão sobre o signo linguístico, afirmando que a
relação significante e significado é que diferencia mais claramente a “palavra complexa
56
ideal” do grupo sintático correspondente. O autor [1988] 1989: 129) observa que “nem
todos os compostos se distinguem em igual medida dos grupos sintáticos.”
Nas discussões propostas em torno da diferenciação entre composto e grupo
sintático, destaca-se a instabilidade de padrões que pretendem descrever o comportamento
dos compostos. A análise proposta por Basilio (2000) resume-se a um exemplo de
formação V+S, que contempla todos os aspectos tidos como fundamentais para caracterizar
um composto, mas, das estruturas consideradas marginais, apenas analisa um exemplo de
formação S+A, ‘óculos escuros’, o qual a autora não enquadra como composto, por
apresentar a variante ‘óculos pretos’, que, segundo ela, é empregada na “língua popular”.
Todavia, esse argumento invalidaria o exemplo 'guarda-roupa', utilizado pela autora na
formação V+S, uma vez que este também apresenta uma variante: ‘guarda-vestido’. Na
verdade, isso apenas ratifica a complexidade do assunto e a fragilidade das proposições.
Monteiro (1986), para definir parâmetros que possam identificar os compostos de
forma precisa, restringe-os conceitualmente, ajustando estes ao processo morfológico. Com
isso, cria uma série de locuções que anteriormente pertenciam ao grupo dos compostos e
apresenta locuções verbais, adjetivas e adverbiais que não têm caráter designativo.
Já Sandmann ([1988] 1989: 128-129) enfatiza a função designativa dos compostos,
observando que esta não é o bastante para caracterizá-lo, já que grupos sintáticos
permanentes também podem nomear. Lançando mão dos critérios gramaticais, ressalta que
apenas um deles pode ser diferenciador, mas deixa claro que “nem todos os compostos se
distinguem em igual medida dos grupos sintáticos.” A flexibilidade dos critérios
disponíveis corrobora com a concepção cognitivista de que a estrutura da linguagem não
funciona em módulos, como já dito anteriormente. Portanto, um dos problemas na
distinção entre compostos e grupos sintáticos é a tentativa de encaixá-los em categorias
precisas. Por tudo isso, propomos um continuum entre grupo sintático e compostos. Na
57
próxima seção, analisar-se-ão as estruturas e a relevância dos critérios fonológicos,
morfológicos, sintáticos e semântico para a elaboração desse continuum.
4.4 Estrutura dos Compostos
Sandmann ([1988] 1989: 117, 123, 139) afirma que, em português, registram-se as
seguintes estruturas, como modelos de composição: Adjetivo + Adjetivo (A+A), Adjetivo
+ Substantivo (A+S), Substantivo + Numeral (S+Num), Substantivo + Adjetivo (S+A),
Substantivo + de + Substantivo (S+de+S), Substantivo + Substantivo (S+S) e Verbo +
Substantivo (V+S). Ressalva, porém, que o modelo S+S pode ser considerado um possível
empréstimo do inglês.
A ligação entre essas categorias, segundo o autor, estrutura-se por subordinação
ou coordenação. A subordinação é representada pela sequência DM-DT (determinado–
determinante), própria dos compostos do português, ou pela sequência DT-DM
(determinante – determinado), “influência de modelos estrangeiros bem como,
possivelmente, do modelo de prefixação”. Já na coordenação, as palavras exercem funções
equivalentes; portanto, não há núcleo e modificador. Segundo Sandmann ([1988] 1989:
118), a relação de subordinação pode ser estabelecida entre elementos da mesma classe ou
não, ao passo que a coordenação exige elementos da mesma classe de palavras.
Para ilustrar essas relações, o autor ([1988] 1989: 118) apresenta alguns exemplos,
entre eles ’piano-bar’ e ‘bar-restaurante’. No primeiro, há junção de dois substantivos, mas
semanticamente seus valores são distintos, uma vez que o primeiro especifica o significado
do segundo; logo, ‘piano’ é determinante e ‘bar’, determinado: “temos aqui um X (bar),
que tem alguma coisa a ver com Y (piano) ” (loc. cit.). Já no segundo, apesar de ser
constituído por dois substantivos, os termos possuem o mesmo valor: “do ponto de vista
58
semântico pode-se dizer que é apresentada uma coisa nova, produto da soma de ambos os
constituintes” ([1988] 1989: 118).
Essas relações parecem mais relevantes na construção do significado dos
compostos subordinativos do tipo S+S e A+A, já que são palavras complexas constituídas
por elementos da mesma classe. Por meio dos exemplos ‘palavra-chave’ (S+S),
‘espaçonave’ (S+S), ‘policial-militar’ (A+A), ‘ritmo afro-brasileiro’ (A+A), apresentados
pelo autor ([1988] 1989: 123, 126, 140, 141), observa-se o papel significativo dessas
sequências. Em ‘palavra-chave’, ‘palavra’ é o determinado, o núcleo especificado por
‘chave’, o determinante; já em 'espaçonave’ a relação é inversa – 'espaço' é o determinante,
o modificador, enquanto ‘nave’ é o determinado. Nos modelos A+A, ‘policial’ é o
determinado e ‘militar’ é o determinante, pois restringe o significado de ‘policial’. Por sua
vez, ‘afro’ é determinante e ‘brasileiro’ é determinado: trata-se de um ritmo que é
brasileiro com peculiaridades africanas. Dessa forma, é possível identificar o significado
central da construção.
Considerando o corpus ora analisado, os compostos formados com o item lexical
‘pé’, em geral, apresentam os modelos S+de+S, S+A, S+S, V+S e os seus componentes
estabelecem uma relação subordinativa predominantemente DM-DT, havendo apenas dois
casos com estruturação DT-DM: ‘pontapé’ e ‘rodapé’. O quadro abaixo demonstra o
comportamento desses compostos concernente à posição do núcleo.
Relação de subordinação
DM-DT DT-DM
Pé de cana Pontapé Pé-frio Rodapé
Pé-quente
59
Pé no chão
Pé-rapado
Pé-sujo
Pé de chinelo Pé-de-meia
Pé da cama
Pé de ouvido Pé na tábua
Pé de valsa
Pé de cabra
Pé de pato
Pé de galinha
Pé-direito
Pé-d’água Pé de vento
Pé de página
Pé de chumbo
Pé de moleque Pé de árvore
Rapapé
Arrasta-pé Busca pé
Finca-pé
Lava-pé Quadro 3: Relação sintática dos compostos com pé
Embora o modelo S+de+S, segundo Sandmann ([1988] 1989: 135), traga incertezas
sobre a sua definição, pois tem propriedades muito semelhantes ao grupo sintático, como a
acentuação e a flexão de número, podemos afirmar que, nas construções ‘pé-de-S’,
listadas no quadro 1, ‘pé’ é o núcleo, uma vez que ‘de+S’ comporta-se como uma locução
adjetiva, isto é, um especificador de ‘pé’.
60
O modelo S+A, presente em ‘pé-frio’, ‘pé-quente’, ‘pé-rapado’, ‘pé-sujo’ e ‘pé-
direito’, reproduz a relação de dependência do adjetivo para com o substantivo, própria dos
sintagmas nominais; portanto, o substantivo é o núcleo e o adjetivo, o especificador.
‘Pontapé’ e ‘rodapé’ são os únicos exemplos do tipo S+S que possuem a sequência
DT-DM. Ainda assim, ‘pé’ continua sendo núcleo. Essa relação sintático-semântica não
deve ser ignorada, pois, como já defendido na seção 4.2, a forma e a estruturação sintática
têm implicações semânticas. Ao assumir a primeira posição, o determinante ganha
destaque, pois, em ‘pontapé’, focaliza-se parte do pé e, em ‘rodapé’ (“barra de madeira que
se coloca ao longo das paredes”), o contorno, que não precisa ser necessariamente circular.
O modelo V+S, semelhante ao sintagma verbal, tem no verbo seu núcleo e, por isso
mesmo, a sequência é do tipo DM-DT. Para ratificar a relevância da forma e da relação
entre os termos na construção do significado, podemos comparar ‘rapapé’ (bajulação) a ‘pé
rapado’ (pobre). No primeiro exemplo, modelo V+S de sequência DM-DT, o verbo,
conforme Sandmann ([1988] 1989: 137), assume a forma temática; já no segundo, modelo
S+A de sequência DM-DT, o verbo ‘rapar’ toma a forma nominal do particípio15 e adquire
valor de adjetivo.
Entre os compostos analisados, foi encontrado apenas o dado ‘pé pé’ (coxo)
estabelecendo uma relação coordenativa.
Considerando os modelos V+S, S+de+S, S+A, S+S, pertinentes ao corpus aqui
analisado, as relações sintático-semânticas DM-DT ou DT-DM e os critérios fonológico,
15 Segundo Mira Mateus et al. (Gramática da LP, Lisboa: Caminho, 2003: 374-375), embora os particípios adjetivais partilhem muitas propriedades sintáticas e morfológicas com os adjetivos, há particípios que são verdadeiras formas verbais. Para as autoras, a diferença entre particípios e adjetivos reside na possibilidade de os particípios serem acompanhados de advérbios temporais/aspectuais e na impossibilidade de serem antepostos aos nomes. Ao contrário, são adjetivos os itens que não admitem esses advérbios e podem vir antepostos aos nomes. Já de acordo com Henriques (Sintaxe Portuguesa, Rio de Janeiro: Oficina do autor, 2003: 135), o adjetivo participial não se confunde com o particípio (forma nominal do verbo) porque o particípio concorda obrigatoriamente com o termo que é seu sujeito; ao passo que o adjetivo, com o termo que pode desempenhar uma função sintática qualquer (inclusive sujeito, mas de outro verbo).
61
morfológico, sintático e semântico, pretende-se identificar as formas prototípicas e
periféricas dos compostos.
4.5 Modelo V+S
A estrutura V+S, como apresentado por Basilio (2000: 15-16) e comentado na
seção 4.3, apresenta características que a diferenciam do grupo sintático nos aspectos
morfológico, fonológico, sintático e semântico.
Morfologicamente, na composição V+S, o verbo está cristalizado na sua forma
temática e não realiza flexão verbal. ‘Rapapé’ (“bajulação”), ‘arrasta-pé’ (“forró”) e ‘busca
pé’ (“espécie de fogos de artifício”) apresentam a combinação radical mais vogal temática.
Além disso, todos os verbos são de primeira conjugação: ‘rap + a = rapa’, ‘arrast + a =
arrasta’ e ‘busc + a = busca’.
Segundo Sandmann ([1988] 1989: 138), nesses compostos, a pauta acentual é
diferente, pois o acento do verbo torna-se mais fraco, passando a secundário. No grupo
sintático, diferentemente, o verbo recebe o acento primário. Os exemplos a seguir ilustram
essa diferença; neles, o acento grave foi utilizado para indicar os acentos secundários e o
agudo, os acentos primários.
(09) “Ò arràsta-pé dòs famósos.”
(http://ibahia.com/detalhe/noticia/elba-ramalho-e-gilberto-gil-em-arrasta-pe-no-centro-
historico/)
(10) Meníno arrásta pé pèlo gramádo.
O autor (op. cit.) afirma que os compostos distinguem-se sintaticamente por não
admitirem intercalação de adjuntos, como no grupo sintático (‘rapa o pé’), e por poderem
ser especificados por determinantes (‘famigerado rapapé’).
62
Sandmann ([1988] 1989: 138) assevera que os aspectos semânticos, sobretudo, são
os responsáveis pela distinção entre compostos do tipo V+S e grupos sintáticos paralelos.
Acrescenta ainda que o conhecimento enciclopédico, associado ao conhecimento
pragmático, garante o significado global da composição. A significação do produto final de
uma composição não resulta da soma do significado dos seus componentes, uma vez que,
na construção de um novo significado, subjazem processos metafóricos e/ou metonímicos.
Logo, o MCI e o frame acessados pelo composto ‘busca pé’, por exemplo, estabelecem que
seu significado não é a soma de suas partes, mas construído a partir de uma relação de
semelhança entre os domínios conceptuais projetados, já que esse artefato pirotécnico
funciona como uma serpente em busca do pé das pessoas. No exemplo (11), abaixo, tal
significado é ampliado, ao comparar a velocidade da divulgação de uma notícia à
velocidade do movimento do artefato.
(11) “O vereador Tarcizo Freire se prepara para ir para o Partido dos Trabalhadores e disputar a prefeitura de Arapiraca. A notícia já corre pela cidade, como busca-pé em época de festas juninas.” (http://cadaminuto.com.br/noticia/2011/04/12/)
Portanto, é possível identificar essa estrutura como uma composição em função do
conjunto de critérios que atuam na sua formação.
4.6 O modelo S+S
Os compostos S+S, como já observado neste capítulo, não são uma formação
sintagmática comum em português, assim como a sequência DT-DM em estruturas de
composição. Sandamnn considera esse padrão um possível estrangeirismo oriundo do
inglês e essa origem já os distingue dos demais modelos. Os encontrados no corpus são
63
escritos juntos, como ‘pontapé’ e ‘rodapé’, e não permitem a intercalação de determinantes
entre as palavras que os compõem.
Semanticamente, a sequência DT-DM, como já exposto na seção 4.4, é relevante
para a construção do significado, uma vez que destaca, assim como o modelo A+S, não
tratado aqui, o caráter explicativo do determinante (SANDMANN, [1988] 1989: 133). No
tocante ao aspecto morfológico, apenas o último elemento recebe flexão. E em relação ao
aspecto fonológico, o autor (1991: 69) afirma que o primeiro elemento é átono. Esse
modelo, semelhante ao V+S, distingue-se do grupo sintático por meio da atuação de todos
os critérios.
4.7 Os modelos S+de+S e S+A
Os modelos analisados nesta seção não se distinguem facilmente dos grupos
sintáticos. De acordo com Sandmann ([1988] 1989: 130-131), morfologicamente os
modelos S+A, S+ de+S não apresentam um único padrão flexional. O plural de ‘pé-frio’ é
‘pés-frios’, já o plural de ‘pé de moleque’ é ‘pés de moleque’. As flexões de gênero e
número encontradas nos grupos paralelos realizam-se da mesma forma que nesses
compostos. Pelo critério fonológico, de acordo com o autor ([1988] 1989: 130), não é
possível diferençá-los:
“Excetuando os compostos do tipo V+S, (...) o acento não é suficiente para diferençar um composto de grupo sintático paralelo, quer se entenda por acento a intensidade, a duração ou a altura: A menina desenhou um pé de moleque não pode ser diferenciado de A menina desenhou um pé-de-moleque, só do ponto de vista fonológico. O grupo de palavras pé de moleque e o composto pé-de-moleque têm na frase a mesma distribuição.”
Em relação ao aspecto sintático, essas estruturas são iguais ao sintagma nominal
correspondente. No entanto, o critério sintático, como afirma Sandmann ([1988] 1989:
131, 1991:8), é útil para distinguir compostos de grupos sintáticos eventuais, pois “um
composto é um sintagma que só pode ser especificado globalmente”. A especificação de
64
composto refere-se ao seu todo e não apenas a um dos elementos. O exemplo abaixo
demonstra como se dá essa relação.
(12) “Pra ninguém achar que eu não gosto de um bom pé sujo, aí vai minha dica”.
(www.jblog.com.br/robertamalta.php?itemid=1470)
Em (12), ‘bom’ especifica todo o significado e não apenas 'sujo' ou 'pé'. ‘Bom’
também não pode coordenar-se isoladamente com um dos termos, como em 'pé sujo e bom'
ou 'pé bom e sujo'. Relação igual pode ser observada em (13):
(13) “Não sinto falta do trabalho, tenho tudo de que preciso, controlo os meus rendimentos
(fiz um ótimo pé-de-meia, porque não sou boba) e adoro ser dona de casa ...”
(claudia.abril.com.br/materias/4575/?sh=28&cnl=21)
Sandmann ([1988] 1989: 132-134; 1991: 8) elege o critério semântico como o
melhor para diferenciar os compostos dos grupos sintáticos eventuais e destaca a
relevância dos processos metonímicos e metafóricos para essa distinção. Conclui indicando
que “ao lado da função designativa o isolamento do significado é fator mais importante
para formar de um grupo sintático uma palavra composta.” Nesses modelos, o critério
sintático, juntamente com o semântico, distingue a composição do grupo sintático paralelo.
4.8 Modelos Prototípicos e Periféricos
Considerando os modelos comentados nas seções precedentes, observa-se que
algumas estruturas distinguem-se mais facilmente dos seus grupos sintáticos paralelos que
outras. Isso ocorre pelo fato de esses modelos comportarem-se diferentemente dos grupos
65
sintáticos em relação aos critérios definidores: morfológico, fonológico, sintático e
semântico. Tais critérios parecem funcionar como filtros, uma vez que a palavra complexa,
diferenciando-se do grupo sintático em cada um desses critérios, mais próxima está do
status de composição. Nesse caso, o modelo V+S pode ser alçado à condição de membro
prototípico da categoria dos compostos.
O modelo S+S (DT-DM), assim como o anterior, pode ser considerado um membro
prototípico, já que as palavras que o compõem sofrem mudanças morfológica, fonológica,
sintática e semântica; contudo, vale ressaltar que “não é comum um substantivo especificar
outro dentro da sentença” (SANDMANN, 1991: 12).
Analisando os compostos como uma categoria radial, isto é, em que há membros
mais salientes que outros, os modelos S+de+S e S+A devem ser avaliados como elementos
periféricos dessa categoria, já que não se diferenciam dos seus grupos sintáticos paralelos
em todos os critérios, distinguem-se desses apenas por sua função designativa e seu
comportamento sintática diferenciado. Observando o corpus investigado, parecem ser a
designação e a sintaxe fatores relevantes para caracterização de um composto, mas não o
suficiente, pois a identificação desses modelos como compostos não se faz facilmente,
justamente por não possuírem todas as características do prototípico.
Um dos polos do continuum é formado pelos compostos prototípicos, considerando
a sua complexidade, e os compostos periféricos como membros intermediários. Na
próxima seção, será analisado o outro polo desse continuum, em que se posicionam os
grupos sintáticos e as expressões idiomáticas.
4.9 Grupos sintáticos x. Expressões idiomáticas
Segundo Sandmann (1990: 04), “grupo sintático é toda sequência, fixa ou eventual,
que, em certo sentido, é homônima da palavra composta”. O autor, analisando os exemplos
66
‘Recolhi a roupa do varal e estou sentindo falta de um pé de meia’ e ‘ O submarino lança
foguetes continuamente’, classifica o sintagma nominal ‘pé de meia’ e o sintagma verbal
‘lança foguetes’ como grupos sintáticos eventuais. Já os sintagmas nominais ‘cheque de
viagem’ e ‘meio ambiente’, advindos dos exemplos ‘Vou pagar com cheque de viagem’ e
‘Aumentam as preocupações com o meio ambiente’, são classificados por ele como
sequências fixas ou permanentes.
Sandmann (1990: 04.) assevera que grupos sintáticos fixos ou permanentes são
aqueles em que, como nos compostos, o “valor sintático se cristalizou num novo valor
morfológico (...) cujas funções são rotular, permanentemente, um recorte do nosso
universo biofisicossocial, e como tais são estocadas no léxico da língua.”
Como mencionado anteriormente, a função designativa, embora não o bastante,
caracteriza os compostos, enquanto a função “enunciativa ou elocucional”, de acordo com
Sandmann (1990: 04), particulariza a sentença. Contudo, para distinguir os compostos dos
grupos sintáticos, o autor (1990: 06) sugere que seja feita alguma forma de isolamento ou
distanciamento em que opere um dos critérios já enumerados: semântico, sintático,
fonológico ou morfológico. Sandmann (1990: 06) conclui afirmando que
“A propósito vale ressaltar que essa distinção ganha em nitidez, exibe contornos mais claros, se mais fatores de diferenciação se somarem, p. ex. os fatores semântico, morfológico, sintático e fonológico observáveis no composto pontapé, ou os fatores morfológico, sintático e fonológico destacáveis em narcotráfico e motosserra.”
A partir das análises e as propostas sugeridas por Sandmann, parece-nos,
inicialmente, que os grupos sintáticos eventuais diferenciam-se mais facilmente dos
compostos, conforme os critérios já arrolados, por seu caráter enunciativo, como em
‘quebrei o pé direito’ e ‘O submarino lança foguetes continuamente’. ‘Pé direito’ não faz
menção à altura entre o piso e o teto ou a um fator de sorte, e ‘lança foguetes’ não tem a
67
função de nomear uma espécie de armamento. Porém, este último exemplo concorre com o
composto de modelo V+S, apresentado, na seção 4.4, como modelo prototípico – aquele
que se distingue facilmente do grupo sintático paralelo. Portanto, faz-se necessário um
maior número de dados a fim de que se verifique se a função enunciativa é satisfatória para
identificar um grupo sintático eventual prototípico.
A complexidade apresenta-se no exemplo ‘pé de meia’. O autor classifica-o entre
os grupos sintáticos eventuais; no entanto, esse sintagma tem função designativa.
Diferentemente de ‘pé de meia’ (significando economias), aquele admite intercalação de
determinantes, como em a) ‘perdi um pé novinho de meia’ ou b) ‘alguém viu um pé da
minha meia?’ ou c) ‘o pé da meia sumiu’. Em (a), interpõe-se entre ‘pé’ e ‘de meia’ o
adjetivo novinho; já em (b), o artigo ‘a’ aparece contraído com a preposição ‘de’ e é
inserido o pronome possessivo entre ‘de’ e ‘meia’; e, em (c), novamente, o artigo ‘a’
aparece contraído com a preposição ‘de’, o que o distancia dos compostos. Portanto,
acreditamos que ‘pé de meia’ está em um ponto intermediário de um possível continuum
grupo sintático – composição, uma vez que apresenta a função designativa, própria dos
compostos, ao mesmo tempo que possui comportamento sintático semelhante ao do grupo
sintático eventual.
Em relação ao grupo sintático permanente, uma análise mais acurada, respaldada
nos critérios norteadores, é bem-vinda, para identificar os fatores que o afastam dos
compostos, pois a posição periférica dentro do grupo sintático parece-nos consequência de
sua função designativa.
Os critérios relacionados para caracterizar o perfil de um grupo sintático prototípico
demonstram-se não satisfatórios e, por isso, lançaremos mão das análises sobre expressões
idiomáticas fundamentadas no arcabouço teórico da linguística cognitiva, o que contribuirá
68
para identificar o grupo sintático prototípico, uma vez que a teoria propõe um continuum
entre grupo sintático e expressões idiomáticas.
4.10 Expressões idiomáticas
Croft & Cruse ([2004] 2009:230) afirmam que é difícil definir precisamente a
categoria expressões idiomáticas. Segundo Cuenca & Hilfert (1999: 116), essa dificuldade
origina-se no seu caráter híbrido – em parte sintagmático, em parte lexical.
Ancorados, principalmente, nas análises de Fillmore et alii (1988), Croft & Cruse
([2004] 2009: 231-234) apresentam as expressões idiomáticas através da descrição de suas
características. Fillmore et alii (1988) agrupam-nas focalizando a constituição semântica,
sintática e lexical dessas formações. Apresentamos, a seguir, as principais características
desse tipo de forma linguística:
4.10.1 “Encoding idiom” x “decoding idiom16”
Encoding idioms são expressões interpretáveis por meio de regras sintáticas padrão,
mas o significado veiculado não é prototípico. O exemplo citado é ‘answer the door’,
(“responder a porta”), “abrir a porta”. Nesse contexto, espera-se que o complemento verbal
selecionado pelo verbo ‘responder’ seja humano; contudo, isso não impossibilita o falante
de construir o significado da expressão. Do mesmo modo acontece com ‘não chegar aos
pés de’, em que se espera que o complemento verbal seja um ponto a ser atingindo após
um deslocamento; porém, a compreensão metafórica de ‘aos pés’ possibilita o
entendimento.
16 Optamos, nesta seção, por manter as classificações em inglês, uma vez que não encontramos termos adequados em português.
69
Decoding idioms são expressões em que as partes que as constituem não são
transparentes, segundo o modelo componencial, pois não há correspondência semântica
entre o significado básico das partes e o manifestado pela expressão. Por isso mesmo, não
é possível compreender o seu significado através das partes constituintes, nem mesmo
metaforicamente. Croft & Cruse ([2004] 2009: 232) citam o exemplo de Fillmore et alii
(1988), ‘kick the bucket’ (“chutar o balde”), que, em inglês, significa ‘die’ (“morrer”). No
corpus analisado, a expressão ‘com os pés nas costas’ apresenta características próximas às
expostas, uma vez que significa “com facilidade”; entretanto, fisicamente, é quase
impossível pôr os pés nas costas, a não ser para aqueles que têm uma flexibilidade
incomum; logo, não há facilidade em pôr os pés nas costas, muito menos em realizar outra
tarefa com eles em tal posição.
Segundo Croft & Cruse ([2004] 2009: 232), a distinção entre encoding idiom e
decoding idiom está no contraste com as expressões sintáticas regulares, que seguem as
regras de interpretação, ou seja, relacionam o componente sintático ao componente
semântico, e as que não são interpretáveis por meio dessa relação. Na expressão ‘kick the
bucket’ (“morrer”), compreendida como decoding idiom, as regras de interpretação não se
aplicam. Já no exemplo ‘spill the beans’, apontado pelos autores como encoding idiom, por
significar ‘divulge information’ (“divulgar a informação”), há correspondência entre os
componentes sintático e semântico. Mas a interpretação de ‘spill’ como ‘divulge’ e ‘beans’
como ‘information’ só é possível na expressão idiomática; portanto, o significado da
expressão não pode ser determinado a partir de regras gerais de interpretação semântica
para as palavras ou para a estrutura sintática.
Ao empregar uma encoding idiom, os falantes constroem o significado por meio de
formas linguísticas necessárias para expressá-lo, enquanto, ao usar uma decoding idiom, os
falantes constroem o significado de expressões linguísticas que já estão pré-estabelecidas.
70
Na primeira, o significado constrói-se pelo acesso às regras gramaticais padrão da língua,
considerando a relevância dos papéis dos interlocutores, assim como o contexto social, o
contexto cultural e as experiências humanas. Na segunda, o conhecimento enciclopédico
ganha uma relevância maior, pois o significado não pode ser construído apenas utilizando
padrões linguísticos, já que a situação comunicativa torna-se proeminente para se
interpretar o significado construído para a expressão.
Croft & Cruise ([2004] 2009: 232) salientam que expressões transparentes tornam-
se opacas, caso os falantes não compartilhem o mesmo conhecimento de mundo para
entender o significado construído. Um exemplo para ilustrar o que foi exposto é a
expressão ‘esculpido e encarnado’ que significa “extremamente parecido”. Com o tempo, a
expressão sofreu corruptelas, chegando à ‘cuspido e escarrado’ e apenas a situação
comunicativa pode evocar o significado original.
A segunda característica observada por Fillmore et alii (1988) refere-se às regras
sintáticas, como vemos em 4.10.2, a seguir.
4.10.2 “Grammatical” x “Extragrammatical”.
Grammaticals são expressões idiomáticas passíveis de análise de acordo com a
regra sintática geral da língua, mas não são analisáveis semanticamente. ‘Kick the bucket’
segue a regra sintática geral do inglês: o objeto direto pospõe-se ao verbo. Em geral, as
expressões idiomáticas com a palavra ‘pé’ respeitam as regras sintáticas do português, a
exemplo de ‘cair de pé’, verbo e adjunto adverbial; e ‘não arredar o pé’, adjunto adverbial,
verbo e complemento verbal.
Extragrammaticals são expressões que não podem ser analisadas por meio de
regras sintáticas gerais da língua. Entre os vários exemplos apresentados pelos autores,
‘sight unseen’ (“visão do invisível”) ilustra a “extragramaticalidade” da expressão, já que
71
apresenta um adjetivo posposto ao substantivo; em inglês, comumente, é o adjetivo que
antecede o substantivo. No corpus analisado, não foi encontrado nenhum dado com esse
perfil.
Segundo Croft & Cruse ([2004] 2009: 233), a obediência ou não às regras sintáticas
distingue a expressão grammatical da extragrammatical. Na expressão extragrammatical,
é justamente o desvio da regra que confere à sentença o caráter de expressão idiomática.
A terceira característica está relacionada aos elementos lexicais que compõem a
expressão, como vemos na sequência.
4.10.3 “Substantive” x “Formal”
Substantives são expressões lexicalmente preenchidas, isto é, as unidades lexicais
que a compõem, assim como sua estrutura morfológica e sintática, são fixas, como em ‘It
takes one to know one’ (“o sujo falando do mal lavado”), em que não é possível flexionar o
verbo ‘*It took one to know one’. Sob esse viés, em português, a expressão ‘um pé no
saco’ é do tipo substantive, uma vez que a flexão ‘*uns pés no saco’ altera o significado da
sentença e a descaracteriza como expressão idiomática.
Formal, termo utilizado por Fillmore, que corresponde ao que Langacker denomina
de schematic, é a expressão lexicalmente aberta, ou seja, parte da sentença pode ser
preenchida com elementos linguísticos sintática ou semanticamente apropriados para
ocupar a posição disponível. Em ‘(X) blows X’s nose’, X pode ser preenchido por um
sintagma nominal e X’s pelo pronome possessivo correspondente a X, como em ‘I blew
my nose’ (“Eu quebrei o meu nariz”) ou ‘They all blew their noses’ (“Eles quebraram seus
narizes”).
A distinção entre substantive e schematic (denominação escolhida por Croft &
Cruse ([2004] 2009: 234) por indicar uma categoria mais geral) repousa sobre expressões
72
sintáticas regulares e escolhas lexicais. Fillmore et alii (1988) encerram a discussão,
abordando a questão da pragmática, e afirmam que há expressões usadas somente em
situações comunicativas específicas, tais como ‘good morning’ (“bom dia”) ou ‘see you
later’ (“até logo”), e outras que não requerem um contexto de uso particular para serem
proferidas, como ‘all of a sudden’ (“inesperadamente”).
Todas as características acima apresentadas são parâmetros para categorizar as
expressões idiomáticas em três tipos, de acordo com Fillmore et alii: a) unfamiliar pieces
unfamiliarly arranged, b) familiar pieces unfamiliarly arranged e c) familiar pieces
familiarly arranged.
A primeira categoria refere-se a expressões formadas por palavras que só existem
em sua constituição. Essas expressões são irregulares nos níveis lexical, semântico e
sintático. As palavras são compreendidas como irregulares, uma vez que não existem fora
da expressão idiomática e não preenchem nenhuma posição na estrutura sintática canônica.
O autor ilustra esse comportamento com o exemplo ‘kith and kin’ relativo a ‘family and
friends’ (“família e amigos”). ‘Kin’ refere-se a parentes, familiares, e ‘kith’, a amigos;
entretanto, o uso dessas palavras é reservado à expressão idiomática.
Na segunda categoria, o léxico é regular, isto é, não está restrito à expressão, mas a
sintaxe e a semântica são irregulares, a exemplo da já citada ‘all of a sudden’. Segundo a
regra geral da língua inglesa, ‘all of’ deve ser seguido do artigo definido ‘the’.
Semanticamente, o significado não está diretamente relacionado às partes constituintes da
expressão.
Na terceira e última categoria, o léxico e a sintaxe são regulares, mas a semântica é
irregular, a exemplo de ‘tickle the ivories’ (fazer cócegas no marfim), expressão utilizada
metonimicamente para expressar o toque suave nas teclas do piano.
73
Croft & Cruse ([2004] 2009: 236) apresentam um quadro comparativo entre as três
categorias de expressões idiomáticas e as expressões sintáticas regulares.
Léxico Sintaxe Semântica
Unfamiliar pieces unfamiliarly arranged irregular irregular irregular
Familiar pieces unfamiliarly arranged regular irregular irregular
Familiar pieces familiarly arranged regular regular irregular
Regular syntactic expressions regular regular regular
Quadro 4: expressões idiomáticas vs. expressões sintáticas regulares.
Inferimos das descrições das características das expressões idiomáticas que o
pareamento significado e significante, quando constrói um significado básico, ou seja,
quando são acionados os significados prototípicos das partes, implica uma expressão
sintática regular; por outro lado, quando esse pareamento resulta num significado diferente
do prototípico, o resultado é uma expressão idiomática.
Fillmore et alii (1988) argumentam que a forma apropriada para representar o
conhecimento do falante sobre as expressões idiomáticas é entendê-las como construções,
isto é, como expressões idiomáticas esquemáticas. Algumas posições da construção estão
lexicalmente abertas; assim, a descrição apropriada da expressão idiomática não deve
simplesmente compreendê-la como “item lexical frasal”. Diante do exposto, Croft & Cruse
(op. cit.) afirmam que expressões idiomáticas do tipo substantive, ou seja, as lexicalmente
preenchidas, construídas a partir das regras gerais da língua e constituídas de léxico
74
familiar, não rompem drasticamente com o modelo componencial17 de organização da
gramática e podem ser simplesmente listadas como itens lexicais.
Ao contrário, as expressões idiomáticas esquemáticas não podem ser listadas no
léxico, pois são semanticamente irregulares e podem ser também sintática e lexicalmente
irregulares. Como as propriedades sintática, semântica e, em alguns casos, pragmática, das
expressões não podem ser previstas a partir das regras gerais próprias dos componentes
sintático, semântico e pragmático ou das regras gerais de relação desses componentes,
devem estar diretamente associadas à construção; portanto, os componentes sintático e
semântico são partes integradas da construção individual. Da mesma forma que o léxico, as
expressões idiomáticas são estruturas que combinam informações sintáticas, semânticas e
fonológicas.
Segundo Croft & Cruse ([2004] 2009: 247), uma construção é uma configuração
sintática com um ou mais itens preenchidos ou não. Cada expressão ativa uma
interpretação semântica e, algumas vezes, um significado pragmático próprio.
Fillmore et alii (1988) retomam a discussão sobre a oposição entre as expressões
idiomáticas lexicalmente preenchidas e as abertas e afirmam que não há uma distinção
precisa entre elas, pois expressões abertas variam consideravelmente em sua
esquematicidade. Por esse motivo, propõem um continuum substantive – schematic, em
que figuram em um polo as expressões lexicalmente fechadas e, no outro, as lexicalmente
abertas.
As substantive idioms são expressões fixas em relação aos elementos constituintes,
mas admitem flexão das categorias gramaticais. O verbo do exemplo ‘kick the bucket’
pode sofrer flexão de tempo como em ‘Jake kicked the bucket’. 17“In most theories of generative grammar, a speaker’s grammatical knowledge is organized into components. Each component describes one dimension of the properties of a sentence. (…) In other words, each component separates out the specific type of linguistic information that is contained in a sentence: phonological, syntactic and semantic.” (Croft & Cruse ([2004] 2009: 236-7)
75
Embora as expressões idiomáticas arroladas no corpus analisado possuam um
comportamento particular e distinto das expressões analisadas em inglês por Fillmore et
alii (1988), pretendemos traçar um paralelo entre as possíveis semelhanças estruturais
dessas construções.
Em algumas formações com ‘pé’, observadas nos exemplos abaixo, o
comportamento de ‘tomar’, em ‘tomar pé’ assemelha-se ao de ‘kick’, em ‘kick the bucket’,
como se observa nos exemplos a seguir:
(a) ‘De volta, Filippi diz que vai tomar pé da situação.’
(http://ultimosegundo.ig.com.br/eleições)
(b) ‘Estou começando a tomar pé da situação agora, com mais detalhes. Mas o que
está sendo objeto de investigação vai continuar sendo.’
(http://www.portalct.com.br)
(c) ‘O governador eleito Ricardo Coutinho (PSB) ainda nem tomou pé da situação
administrativa do Estado’(http://www.herculanopereira.com)
No primeiro e no segundo exemplos, o verbo é utilizado no infinitivo e aceita
compor uma locução verbal com verbos auxiliares distintos – ‘ir’, ‘estar e começar’,
respectivamente. Esses verbos posicionam-se antes da expressão idiomática; portanto, não
comprometem a classificação da expressão como lexicalmente preenchida. Os verbos
auxiliares têm a função de indicar o modo e o tempo do verbo principal. No entanto, em
(a), o verbo ‘ir’ parece indicar a noção de uma ação eminente. Comportamento semelhante
verifica-se em (b); contudo, o aspecto transmitido é outro, ou seja, de processo em fase
inicial. Já em (c), o verbo ‘tomar’ sofre flexão e manifesta-se no pretérito perfeito do
indicativo.
76
Observou-se, nas expressões analisadas nesta pesquisa, que grande parte das
expressões idiomáticas com a palavra ‘pé’ é formada com verbos no infinitivo e estes
admitem flexão. As expressões apresentadas no quadro 5, abaixo, possuem um léxico
relativamente fixo, porém aceitam algum tipo de flexão.
Expressões idiomáticas e
significados
Flexões
Lamber os pés – Adular.
‘Por que brasileira cospe na própria bandeira e lambe os pés dos gringos?’ (http://br.answers.yahoo.com)
Cair de pé – Manter-se combativo.
‘Uruguai caiu de pé. Os jornais uruguaios respeitaram a supremacia de Neymar, Ganso & Cia. Ninguém contesta o título do Santos.’ (http://www.midiamundo.com) “‘Se for derrotado, cairei de pé’, afirmou. O candidato também criticou a campanha de Paulo Nobre, outro candidato da situação, e fez elogios.” (http://esportes.terra.com.br)
Botar o pé na forma - Treinar exaustivamente para adquirir precisão nos chutes e passes.
‘Quando botou o pé na forma, Bruno brilhou. O Flamengo volta a campo, no Maracanã, sábado, 6 e meia da noite, com o Sport Recife.’ (http://www.tupi.am/programas/esportes/show-da-galera) ‘Será que agora ele botará o pé na forma outra vez? Sinceramente, o pantufas 99 está fazendo escola. E é um péssimo exemplo para os jovens’ (http://www.mondopalmeiras.net/blog)
Fazer pé firme - Insistir
‘E o cara brigou comigo, mas fiz pé firme. Desci, paguei à frentista, peguei a notinha, voltei para o carro e o sujeito continuou reclamando.’ .(www.notaindependente.com.br)
77
Bater o pé - Opor-se insistentemente.
‘O governo bateu o pé na negociação com as centrais sindicais. Centrais reúnem-se com o secretário-geral da Presidência para pedir um aumento.’ (http://cidadaniaresponsavel903.blogspot.com) ‘Minha simpatia maior é com o budismo, mas ainda bato o pé e não acredito que budismo seja uma religião. Como obrigação de historiador, e é lógico’
(http://www.massarani.com.br) Estar de pé - Firme, irredutível
‘PETIÇÃO ESTÁ DE PÉ !!!!!’ (http://under-linux.org/f89/peticao-esta-de-pe-42820) ‘Maia diz que DEM estará de pé antes que o Japão’ (http://aguinaldo-contramare.blogspot.com)
Ir num pé e voltar no outro - Executar determinada tarefa ou missão com muita rapidez.
‘Pedi a conta rapidamente, já entregando o cartão para esperar pouco, o garçom foi num pé e voltou no outro.’ (http://www.vagabundodeluxo.blogspot.com)
Ir num pé só - Dirigir-se a algum lugar com toda rapidez.
‘Falta-me uma berinjela, vou num pé só ao mercadinho e volto já, já!!’ (http://receitasdabarida.blogspot.com/)
Jurar de pés juntos - Afirmar convincentemente.
‘Juro de pés juntinhos que o que eu bebi foi apenas a água com gás o resto é culpa da Amandaaa, da Alinne e do Ciro. Eu ñ tenho nada haver.’
(http://www.fotolog.com.br) Meter os pés pelas mãos - Atrapalhar-se.
‘Obama diz que meteu os pés pelas mãos sobre nomeação para a pasta.’ (http://www.meionorte.com/noticias/politica)
Negar de pés juntos - Insistir com firmeza na negativa.
‘Eles negaram de pés juntos e isto acalmou o Grandão.’ (http://www.cybelemeyer.com.br)
Pegar pelo pé - Surpreender, conter e criticar o adversário.
“Semana passada, a monotonia me pegou pelo pé de novo.” (http://waves.terra.com.br)
78
Ter os pés no chão - Ter objetividade, ser realista.
‘A verdade é que o casal sempre se completou, dizem os amigos e filhos. Ele vivia no mundo da lua e do mar; ela tinha os pés no chão.’ (http://www.almanaquebrasil.com.br)
Estar com o pé na cova - Estar à beira da morte.
‘José Alencar já esteve com o pé na cova várias vezes.’ (http://www.players.com.br) ‘O Benfica está com os pés na cova, se continuar assim, neste caminho, não durará muitos anos.’ (http://serbenfiquista.com)
Botar o pé no mundo – Ir embora
‘Cedo botou o pé no mundo e foi fazer pranchas no Japão, na Austrália, no Hawaii e na Califórnia, quando fundou a sua própria marca, a Xanadu Surf Designs.’
(http://surfabout.blogspot.com) Vai dar pé – Ser exequível
‘Achei q não ia dá pé, mas surpresa!!!!Foi muito bom, foi no carnaval desse ano no Cardosão de "Laranjas", adorei!!!Conte tb a sua experiência !Bjs, Suy-Lan.’ (www.orkut.com/CommMsgs?tid=1026117&cmm)
Ter os pés de barro – Ter base inconsistente
‘Eu acho que esse governo tem os pés de barro, só quero ter a oportunidade de provar’ (http://www.al.ma.gov.br/discursos)
Meter o pé (gíria) – Ir embora ‘O Faraó do Egito meteu o pé!
Depois de 18 dias de protestos, prisões e centenas de mortes, o ditador egípcio Hosni Mubarak cedeu: renunciou a um governo que já durava 30 anos e se afastou da capital Cairo.’ (http://kizombaafestadaraca.blogspot)
Quadro 5: expressões idiomáticas lexicalmente preenchidas.
As flexões apresentadas no quadro 5 estão, quase em sua totalidade, voltadas para
os verbos; porém, em ‘Estar com o pé na cova’, a flexão recai sobre o artigo ‘o’ ‘os’
e sobre o substantivo ‘pé’ ‘pés’. Já em ‘Jurar de pés juntos’ não há flexão, mas uma
79
modificação no grau do adjetivo ‘juntos’ que passa a ‘juntinhos’. Croft & Cruse limitam-se
a abordar a questão flexional; entretanto, o emprego do grau diminutivo, em realizações do
tipo ‘jurar de pés juntinhos’, também demonstra a flexibilidade da estrutura.
O segundo grupo do continuum substantive – schematic engloba as expressões que
admitem flexão e possuem uma ou mais posições de argumento abertas. O exemplo citado
por Croft & Cruse ([2004] 2009:248) é ‘give NP the lowdown’ (“contar os fatos”) que
podem ser instanciadas das seguintes formas: ‘I gave/I’ll give him the lowdown’ ou ‘He
gave/He’ ll give Jannet the lowdown’.
As expressões abaixo não refletem as características das expressões em inglês, mas
possuem semelhanças que possibilitam realizar as análises a partir desses parâmetros.
Expressões idiomáticas
e significados
Flexões
Em pé de igualdade – No mesmo nível.
‘A questão da adoção eu também acho que os casais gays deveriam ser tratados em pés de igualdade aos casais héteros na hora de se na hora de se candidatarem para adoção....’ (http://blogdamarion.blogspot.com) ‘Competimos em pé de igualdade com o Galeão.’ (www.estadao.com.br/estadaodehoje)
A pé – Caminhando ou sem automóvel particular.
‘Eu só não vou a pé porque estirei o músculo da coxa.’ (twitter.com/sophiaIreis/status/72086225850343426) ‘Olá, galera é o seguinte, estou a pé e com pouca grana pra comprar outra moto.’ (www.motonline.com.br/forum)
Com o pé direito - Com sorte.
‘Chico Buarque estreia com o pé direito na web e vende mais de 1,7 mil discos em 24 horas.’
80
(http://oglobo.globo.com/cultura) ‘Volta às aulas com o pé direito.’ (http://www.educacional.com.br)
Com o pé esquerdo - Com azar.
“Então, há certos dias que todos levantamos com o pé esquerdo” (http://www.adirferreira.com.br) ‘Vasco começa o Carioca com o pé esquerdo.’ (http://www.blogcrvg.com)
Com os pés nas costas/ Com grande facilidade.
‘Presidente do Bahia: "O Vitória tinha que ganhar com os pés nas costas.”’ (http://www.atarde.com.br) ‘Ninguém jamais ganhou uma prova de Endurance com o pé nas costas, “tranquilex”.’ (http://www.1000kmdebrasilia.com.br) ‘Já em 2009, aceitou o desafio de treinar o Vasco da Gama na Série B. Conquistou o torneio com o pé nas costas e foi o time do Brasil que menos perdeu.’ (http://www.galodigital.com.br)
Com ( o/um ) pé atrás – Desconfiadamente
‘Muitos ainda o chamam de traidor e ficam com um pé atrás enquanto não sai um desfecho da negociação.’ (http://zerohora.clicrbs.com.br) ‘Empresário está com o pé atrás sobre a transferência de Henrique no Palmeiras’ (http://www.futnet.com.br)
Não arredar (o) pé - Não mudar de opinião.
‘Mesmo sem confirmação, torcida não arreda o pé do Olímpico.’ (http://zerohora.clicrbs.com.br)
81
‘Moradores não arredam pé de área de risco em Morretes’ (http://oestadopr.pron.com.br/cidades/noticias)
Em pé de guerra - Com os ânimos exaltados.
‘Apesar de negarem, os donos da RedeTV! estão em pé de guerra. Marido de Luciana Gimenez, Carvalho detém 30% da emissora, mas colocou sua ...’
http://www.odiario.com/blogs/tvtudo/2011/04/04/donos-da-redetv-estao-em-pe-de-guerra/
‘Codó completa 115 anos em pé de guerra’ (http://www.blogdodecio.com.br)
Ficar no pé de (alguém) - Molestar com pedidos insistentes.
‘Antes de ser vetado, Ávine havia sido relacionado e, segundo informações de bastidores, ficou no pé dos médicos e fisioterapeutas para jogar.’ (http://www.correio24horas.com.br) ‘Eu serei um fiscalizador, ficarei no pé de Agnelo e Filipelli, a partir do primeiro dia de 2011 para cobrá-los”, prometeu Garibel.’
(http://www.blogdogaribel.com.br) Ao pé do ouvido – em segredo, discretamente.
‘Prazer ao pé do ouvido. Sussurre só palavras picantes.’
(http://180graus.com/sexo--prazer) ‘Ronaldinho Gaúcho conversou ao pé do ouvido com morena durante uma festa de música eletrônica no Rio. O lutador Anderson Silva’
(http://gazetaonline.globo.com)
Ao pé da letra – Literalmente.
‘Tenho muitos amigos assim, levam tudo ao pé da letra,kkkkkkkk’ (http://blog.drpepper.uol.com.br)
‘O site ‘Os Vigaristas’ coletou uma série muito divertida de imagens ao pé da letra‘
(http://blog.opovo.com.br/tecnosfera/ao-pe-da-letra)
Quadro 6: expressões idiomáticas parcialmente preenchidas.
82
As expressões do quadro 6 – embora a maior parte não apresente flexão, até porque
isso alteraria o significado da expressão – podem ser precedidas por determinante, verbo
ou locução verbal, ou ainda, como em ‘ficar no pé de’, seguir-se de um substantivo, uma
vez que possuem essas posições abertas.
Ao comparar o quadro 5 com o 6, pode-se concluir que as expressões daquele
também possuem uma posição aberta, a do argumento externo; contudo, entre as
características expostas por Croft & Cruse ([2004] 2009:248), as expressões do quadro 4
manifestam características mais semelhantes às exibidas pelos autores para ‘kick the
bucket’, até mesmo pelo fato de essa, como aquelas, iniciarem-se por verbo.
O penúltimo estágio caracteriza-se por apresentar apenas uma estrutura lexical fixa,
com todas as demais abertas, como o caso de ‘let alone’ (“muito menos”), analisado por
Fillmore et alii (1988), em que o conectivo é o único elemento preenchido, como se
verifica nos seguintes exemplos: ‘She gave me more candy than I could carry, let alone
eat’ (“Ela me deu mais doce do que eu poderia levar, muito menos comer”) e ‘He didn’t
reach Denver, let alone Chicago’ (“Ele não chegou a Denver, muito menos a Chicago”)
Já o último estágio do continuum particulariza-se por possuir elementos
lexicalmente abertos, isto é, não abarca elementos lexicais específicos, podendo ser
descrito somente pela estrutura sintática com uma única interpretação semântica
especializada, como o caso das construções resultativas. Em ‘I had brushed my hair very
smooth’ (“A escova deixou meu cabelo muito liso”) a estrutura é [NP Verb NP XP], com
uma interpretação semântica única específica: X causa Y tornar-se Z.
Croft & Cruse ([2004] 2009:249), reanalisando de forma mais ampla as regras
sintáticas gerais, observam que as construções mais esquemáticas de uma língua são
apenas o outro lado do continuum substantive – schematic proposto para as expressões
83
idiomáticas. Essas estruturas podem ser distribuídas no continuum conforme ilustrado
abaixo:
“Substantive idioms” “Schematic idioms”
(lexicalmente preenchida) relativamente preenchida uma posição preenchida (lexicalmente aberta)
No nosso corpus, não foram encontrados dados com as características dos dois
últimos estágios, preenchimento de apenas uma posição e lexicalmente abertas. No
entanto, as análises feitas sobre as expressões idiomáticas do inglês contribuem para
sustentar a pesquisa sobre as construções com ‘pé’. Há, contudo, duas expressões do
corpus que, embora não sejam analisáveis por meio das características apontadas acima,
possuem peculiaridades que merecem ser examinadas.
Expressões idiomáticas
e significados
Flexões
Tirar os pés da lama – Sair de uma situação inferior.
‘Tirou os meus pés do charco de lama, Firmou os meus passos sobre uma rocha. E me pôs nos lábios uma nova canção. Um hino de louvor ao Deus da minha vida.’
(http://rafaelvictor.wordpress.com) Largar do pé - Deixar de importunar
‘O deprê q num larga do meu pezinho’ http://www.flogao.com.br/complikda/50487893
Quadro 7: expressões idiomáticas preenchidas com intercalação.
As expressões do quadro 7 possuem elementos fixos que admitem alteração
flexional ou de grau e intercalação de elementos diferentes da sua estrutura original; por
isso mesmo, sofrem alguma alteração de significado, mas não se descaracterizam.
As análises propostas por Fillmore et alii (1988) e Croft & Cruse ( [2004] 2009),
bem como as considerações feitas por esses autores, conduzem a uma avaliação das
84
expressões idiomáticas a partir de ocorrências lexicais, do comportamento morfológico dos
seus constituintes, das relações sintáticas estabelecidas dentro da construção e da
pragmática. Todas essas nuanças caracterizam as expressões como uma construção, com
uma configuração sintática e estruturas semânticas próprias. A esse respeito, assim se
pronuncia Ribeiro (2011: 3872):
“Esta é a principal hipótese desta teoria: as gramáticas das línguas são compostas por pares de esquema conceptuais e padrões gramaticais que se inter-relacionam. Os esquemas associados às formas sintáticas representam a experiência humana mais básica e são como ferramentas com as quais organizamos nossa compreensão, estruturando percepções, imagens e eventos.”
Outro aspecto relevante expresso pelo continuum substantive – schematic é a
gradação entre a especificidade e a generalidade sintáticas das expressões idiomáticas. As
expressões definidas como lexicalmente fechadas possuem um esquema de construção
mais específico e, à medida que vão se dirigindo para as lexicalmente abertas, apresentam
uma construção sintática geral, aproximando-se das expressões sintáticas regulares ou
grupos sintáticos eventuais, nos termos de Sandmann.
No entanto, não fica claro o motivo pelo qual os autores afirmam que expressões do
tipo substantive idioms podem ser listadas no léxico sem alteração substancial dos
princípios básicos do modelo componencial, uma vez que o arcabouço teórico que
fundamenta a análise é o da Gramática das Construções; portanto, o comportamento de
construções com significados básicos é examinado a partir desse aporte teórico. As
afirmações dos autores levam-nos a inferir que construções com significação básica são
analisáveis a partir do modelo componencial e à Gramatica das Construções reservam-se as
construções com significados não prototípicos. Contudo, como afirma Ribeiro (2011:
3871), a construção gramatical é objeto de estudo da gramática das construções:
85
“Voltando a aspectos gerais apresentados pela GC, a unidade preliminar da gramática não é a unidade lexical atômica nem combinações sintagmáticas lineares de unidades lexicais. Na verdade, a unidade preliminar é a construção gramatical. A GC (gramática das construções), portanto, vê a construção como o princípio fundamental da organização gramatical. A construção é qualquer elemento formal que está diretamente associado a algum sentido, a uma função pragmática ou contendo uma estrutura informacional.Essa definição de construção cobre uma variedade de unidades lingüísticas: (i) morfemas simples; (ii) palavras multi-morfêmicas; (iii) expressões idiomáticas; (iv) sintagmas fixos com significado composicional; (v) padrões sintáticos abstratos.”
Ao término da seção 4.5, verificou-se a necessidade de haver outros critérios, além
da função enunciativa, para identificar um grupo sintático eventual e diferenciá-lo do
grupo sintático permanente e dos compostos. O grau de generalidade, que aproxima as
expressões idiomáticas das expressões sintáticas regulares, observado na organização do
continuum substantive – schematic, parece-nos ser mais um critério que facilita a
identificação dos grupos sintáticos eventuais. Na próxima seção, será abordada a discussão
sobre composicionalidade e como é compreendida a partir dos pressupostos da Linguística
Cognitiva.
4.11 Composicionalidade
Segundo Cuenca & Hilfert (1999: 116), as expressões idiomáticas são definidas,
tradicionalmente, como sequências de palavras mais ou menos fixas, cuja estrutura
semântica global é arbitrária em relação às suas partes. Por isso, as expressões são
classificadas como não composicionais.
O princípio da composicionalidade, de acordo com Croft & Cruse ([2004]
2009:105), prediz que o significado das expressões complexas é a soma dos significados
das partes. Os autores propõem uma revisão do conceito. Primeiro, descartam o conceito
subjacente ao princípio, o de palavras como unidades carregadas de significado,
invalidando, dessa forma, o princípio, recriando-o a partir da perspectiva de significado
86
como construção: o significado construído das expressões complexas é a soma dos
significados das partes.
Entretanto, observam que a compreensão de significado como construção exige
uma conceituação mais complexa que envolva a situação comunicativa; então, para
contemplar esse aspecto, Croft & Cruse ([2004] 2009:105) apresentam a seguinte
modificação: o significado das expressões complexas é o resultado do processo de
construção advindo da interpretação das suas partes constituintes. Segundo os autores, essa
releitura permite ao contexto agir em dois níveis: a) o da construção inicial do significado
das palavras e b) o da construção do significado da expressão.
No entanto, os autores ressaltam que há aspectos do significado que obedecem, até
certo ponto, ao princípio clássico da composicionalidade. Ilustram o exposto a partir do
exemplo ‘red hats’ (“chapéu vermelho”), em que o significado é previsível, pois há uma
relação entre o significado da expressão e os significados das partes que a constituem.
Porém, Croft e Cruse ([2004] 2009:105) ponderam que não há garantias de que o resultado
será o “chapéu” prototípico nem que a sua cor vermelha será prototípica.
Fundamentados nos argumentos de Nunberg et alii (1994) sobre idiomatically
combining expressions18, Croft & Cruse ( [2004] 2009: 249-50) sugerem que há algumas
expressões idiomáticas que são composicionais e outras não. Para ilustrar esse
comportamento, citam exemplos de Nunberg et alii (1994) e suas considerações para
comprovar a assertiva:
(a) ‘Pull strings’ (puxar cordas = esforçar-se)
(b) ‘Tom pulled strings to get the job’ (Tom esforçou-se para conseguir um
emprego) 18 Segundo classificação de Nunberg et alii (1994), as idiomatically combining expressions são expressões que se assemelham quanto ao comportamento às encoding idioms.
87
(c) ‘Tom pulled ropes to get the job’ (Tom puxou cordas para conseguir um
emprego)
(d) ‘Tom grasped ropes to get the job’ (Tom agarrou cordas para conseguir um
emprego)
Nunberg et alii (1994) asseveram que o significado da expressão é composicional.
A maioria das palavras das idiomatically combining expressions é fixa e qualquer
substituição de seus constituintes altera o seu significado e descaracteriza a expressão. O
mesmo se observa em ‘meter o pé’: se houver troca do verbo ‘meter’ pelo verbo ‘colocar’,
a significação idiomática é perdida. Outro aspecto percebido é a significação atípica do
verbo ‘meter’, que, na expressão idiomática, assume o significado de ‘ir’.
Croft & Cruse ([2004] 2009: 251) afirmam que, no início, a análise Nunberg et alii
(1994) pode parecer estranha, pois, segundo estes, em ‘pull strings’, ‘pull’ (“puxar”) e
‘strings’ (“cordas”) encerram o significado de esforço somente na idiomatically combining
expression”, o que parece ad hoc. A descrição mais aceita é a tradicional, que estabelece o
significado das idiomatically combining expressions como não composicional e essa é uma
forte evidência que assegura construções como objetos sintáticos independentes.
Entretanto, Croft & Cruse atestam que há alguma evidência de que a análise
Nunberg et alii (1994) é o caminho certo. O seguinte exemplo fornece algumas evidências:
‘“Pay heed” (pagar atenção = dar cuidadosa atenção). Os autores ([2004] 2009: 251)
verificam que algumas palavras no inglês existem apenas nas idiomatically combining
expressions. ‘Heed’ é um exemplo. Embora assuma o significado de ‘attention’, em ‘pay
heed’, não pode substituir ‘attention’ nos contextos em que esta palavra aparece, como se
nota nas construções abaixo:
88
‘You can’t expect to have my attention/*heed all the time’. (Você não pode esperar
para ter minha atenção o tempo todo)
‘He’s child who needs a lot of attention/*heed’. (Ele é uma criança que precisa de
muita atenção)
Nunberg et alii (1994) argumentam que ‘heed’ não significa, de fato, o mesmo que
‘attention’, quando ‘attention’ é objeto de ‘pay’, como se constata nos seguintes exemplos:
‘The children paid rapt attention/?* heed to the circus’. (As crianças prestaram
atenção extasiada ao circo)
‘I pay close attention/?*heed to my close’ ( Eu dou exata atenção as minhas roupas)
‘They paid attention/??*heed to my advice, but didn’t follow it.’ (Eles prestaram
atenção ao meu conselho, mas não o seguem
Croft & Cruse ([2004] 2009: 251) salientam que ‘heed’, embora só ocorra em ‘pay
heed’, possui significado próprio e afirmam que é razoável assumir que outras palavras têm
significado especializado nas idiomatically combining expressions e que o significado
dessas expressões é composicional. Embora o corpus não apresente nenhuma expressão
que possua palavra de uso restrito a seu contexto, são encontradas, em português,
expressões com essa característica, como ‘pomo da discórdia’, em que a palavra ’pomo’
significa ’fruto’; no entanto, não é utilizada em construções diferentes da expressão citada.
Outra evidência do caráter composicional das expressões é a compreensão do
falante. Ainda que a palavra exista apenas na construção, ele reconhece o significado do
vocábulo.
89
A análise de Nunberg et alii (1994) sobre as idiomatically combining expressions
torna-se mais natural, segundo Croft & Cruse ( [2004] 2009: 252), a partir da perspectiva
da Gramática das Construções. A expressão ‘spill beans’ é uma construção e, como tal,
possui uma sintaxe única (o verbo deve ser ‘spill’ e seu objeto, ‘beans’) e também uma
interpretação semântica, ‘divulge information’ (“divulgue a informação”). A construção
possui regras próprias de interpretação: ‘spill’ é projetado sobre ‘divulge’ e ‘the beans’
sobre ‘information’.
As características notadas em ‘spill beans’, uma sintaxe própria associada a uma
interpretação semântica específica, são também observadas em expressões como ‘tirar os
pés da lama’ (“sair de uma situação inferior”) e ‘largar do pé’ (“deixar de importunar”). A
sintaxe da primeira expressão é V + CV + Adj.Adv. No entanto, essa construção, para
configurar-se na expressão idiomática citada, precisa ser preenchida com o verbo ‘tirar’, o
complemento verbal ‘os pés’ e o adjunto adverbial ‘da lama’. Semanticamente, há um
mapeamento entre “tirar” e “sair”, e entre “pés da lama” e situação inferior. No segundo
exemplo, a estrutura sintática é V + CV, preenchida pelo verbo ‘largar’ e pelo
complemento verbal ‘do pé’. A estrutura semântica associada resulta da projeção entre
‘largar’ e ‘deixar’ e entre ‘do pé’ e ‘de importunar’. Assim como o mapeamento sintático -
semântico proposto por Croft & Cruse (op.cit.) para ‘spill beans’
De acordo com Croft & Cruse ( [2004] 2009: 252-3), análises anteriores têm
assumido que as idiomatically combining expressions são não-composicionais, porque o
significado do todo não é previsível a partir do significado das partes. Mais precisamente,
as idiomatically combining expressions foram tratadas como não-composicionais, uma vez
que seus significados não são compatíveis com as regras de interpretação de expressões
sintáticas regulares, tais como [Verb Object]VP, no caso de ‘spill beans’. No entanto, essa
expressão é composicional, já que as partes da expressão sintática podem ser mapeadas
90
sobre os componentes do significado da expressão. ‘Spill beans’ difere de expressões
sintáticas regulares, pois há regras de interpretação semântica associadas apenas à
construção ‘spill beans’ que não são deriváveis da estrutura padrão [Verb Object]VP, da
qual ‘spill beans’ é uma instanciação.
Os autores (op. cit.) afirmam que a percepção comum de que a não-
composicionalidade confere a uma construção particular o caráter de unidade sintática
independente está tecnicamente errada. Com exceção das idiomatic phrases19, as
expressões são composionais, isto é, o significado das partes da construção combinam-se
para formar o significado de toda a construção. A razão pela qual devem ser representadas
como construções independentes é o fato de que as regras de interpretação semântica
associadas à construção são únicas para aquela construção, além de não serem derivadas de
outro padrão sintático mais geral, como nota cuidadosamente a Gramática das
Construções. Croft & Cruise (op. cit.) postulam que regras composicionais de interpretação
semântica são regras semânticas associadas a estruturas sintáticas gerais, da mesma forma
as regras especializadas de interpretação semântica estão associadas a estruturas sintáticas
especializadas, como as expressões classificadas como extragrammaticals.
Croft & Cruse ([2004] 2009: 253) asseveram que as análises de Nunberg et al.
(1994) sobre idiomatically combining expressions podem ser estendidas às regras gerais de
interpretação semântica que ligam as estruturas sintáticas e semânticas. E exemplificam
com a construção predicativa ‘Hannah is smart’.
A construção predicativa em inglês tem a forma [NP be Adj] e difere da construção
verbal comum por exigir o verbo copulativo ‘be’. Pode-se analisar a semântica da
construção da seguinte forma: os membros da categoria adjetivo têm um significado que
19 Segundo classificação de Nunberg et alii (1994), as “idiomatic phrases” são expressões que se assemelham, quanto ao comportamento, às “decoding idioms”.
91
requer a combinação por meio dessa cópula, a fim de ser interpretado como atribuidor de
propriedade ao referente. O adjetivo simboliza uma relação atemporal e o verbo copulativo
‘be’, um processo pelo qual o adjetivo torna-se um predicador.
Os autores (op. cit.) concluem afirmando que todas as expressões sintáticas,
independentemente do seu grau de esquematicidade, têm regras de interpretação semântica
associadas a elas, embora algumas substantive idioms pareçam herdar suas regras de
interpretação semântica de expressões sintáticas mais esquemáticas como as [Verb Object].
Assim, a diferença entre expressões sintáticas regulares e idiomatically combining
expressions não estaria no fato de as primeiras serem composicionais e as últimas não; o
que as distingue é a generalidade e a especificidade das regras de composição semântica,
respectivamente. A exposição acerca da composicionalidade corrobora a assertiva de que,
no panorama da Linguística Cognitiva, as construções são unidades básicas, frutos do
pareamento forma (sintaxe e fonologia) e conteúdo (semântica e pragmática).
Retomando a discussão sobre os grupos sintáticos eventuais, parece-nos que as
considerações a respeito das expressões idiomáticas podem apresentar mais um critério
para distingui-los tanto dos compostos quanto das expressões idiomáticas. Inicialmente,
verificou-se que a distinção entre compostos e grupos sintáticos eventuais pauta-se no
comportamento diferenciado tanto de um quanto do outro em relação aos critérios
fonológico, morfológico, sintático e semântico, além das suas funções particulares –
designativa nos compostos e enunciativa nos grupos sintáticos eventuais. Essas
características contribuem para o reconhecimento dos grupos sintáticos eventuais e dos
compostos prototípicos. Entretanto, pareceu-nos insuficiente para distinguir um grupo
sintático eventual do grupo sintático permanente e, por essa razão, utilizamos o aporte
teórico da Linguística Cognitiva para tentar distingui-los. Assim, grupos sintáticos
eventuais apresentam uma construção sintática geral e mais complexa, associada a uma
92
regra de composição semântica mais geral, enquanto grupos sintáticos permanentes
apresentam uma construção sintática específica e menos complexa, associada a uma regra
de composição semântica mais específica.
Parece-nos que grupo sintático eventual, grupo sintático permanente, compostos e
expressões idiomáticas são construções que apresentam diferentes níveis de complexidade.
No entanto, cada construção tem representantes prototípicos e periféricos. Embora muitas
das vezes as semelhanças possam dificultar compreender um processo distinto do outro, a
análise proposta permite que tais processos sejam reconhecidos individualmente, sendo
possível distribuí-los no continuum abaixo:
Expressões idiomáticas Compostos
Grupo sintático eventual Grupo sintático permanente
Considerando o exposto, as expressões idiomáticas prototípicas são aquelas
lexicalmente preenchidas e com elementos fixos, podendo apresentar ou não flexões
lexicais, tais como ‘tomar pé’, ‘botar o pé na forma’. As expressões periféricas são aquelas
que apresentam, em diferentes graus, posições lexicalmente abertas, como observado nos
exemplos do quadro 6, como ‘em pé de igualdade’ e ‘com o pé esquerdo’. Essas
expressões dirigem-se para uma semelhança com o grupo sintático eventual, em função do
grau de generalidade e especificidade das suas estruturas sintáticas e interpretações
semânticas; portanto, a generalidade sintática e semântica são as características dos grupos
sintáticos eventuais, enquanto a especificidade caracteriza as expressões idiomáticas.
A categoria seguinte no continuum é a do grupo sintático permanente. Retomando
os exemplos de Sandmann (1990), ‘meio ambiente’, ‘custo de vida’ e ‘terceiro mundo’,
93
não fica claro o que diferencia esse grupo dos compostos, mas o que os assemelha – a
função designativa. O autor pontua como elemento diferenciador ser o uso do hífen, que
não nos parece um critério confiável em função das idiossincrasias das normas
ortográficas.
Contudo, vale ressaltar que entre o grupo sintático eventual e grupo sintático
permanente há dados que apresentam características heterogêneas. São construções que
possuem função designativa e estrutura que permite intercalação de determinantes, como o
exemplo ‘pé de meia’, ou possui posição lexicalmente aberta, como ‘pé de laranja’, ‘pé de
abacate’, ‘pé de manga’, entre outros, que poderiam ser descritos genericamente como [Pé
de X]. Dirigindo-se ao outro polo do continuum, estão os compostos, que apresentam uma
gradação medida de acordo com semelhanças e diferenças entre eles e o grupo sintático
eventual e o grupo sintático permanente. As diferenças e semelhanças são pautadas nos
critérios morfológico, fonológico, sintático e semântico e na funções designativa, típica dos
compostos, e enunciativa, típica dos grupos sintáticos.
De acordo com a Linguística Cognitiva, todas essas construções diferem de acordo
com o grau de complexidade e consequentemente da generalidade e especificidade das
estruturas sintáticas e interpretações semânticas de cada uma delas.
94
5. CONCLUSÃO
Esta pesquisa originou-se de algumas questões discutidas pela Linguísticas
Cognitiva que nos pareceram relevantes para compreender formações como ‘pé de
galinha’, ‘pé da mesa’ e ‘largar do pé’, entre outras. Antes mesmo da análise dos
compostos e das expressões idiomáticas, discutiu-se a relação do processo metafórico e do
metonímico na construção dos significados. Verificou-se, através das análises apresentadas
por Lakoff & Jonhson (1980), Radden (2000), Croft & Cruse (2004), Kövecses (2000) e
Barcelona (2000), que a concepção de metáfora e metonímia proposta Lakoff & Jonhson
(1980) é a basilar para formação de um continuum que tem como polos a metáfora e a
metonímia e processos intermediários em que há metáforas advindas de metonímias e
metonímias advindas de metáforas, sendo esta última situação a mais incomum. Contudo,
o dado importante e significativo apontado por Barcelona (2000) foi considerar a
metonímia um processo anterior a qualquer construção metafórica. Essa assertiva foi
fundamental para responder a seguinte questão: metáfora e metonímia são processos
distintos?
Metáfora e metonímia são processos que sorvem das experiências físicas, culturais
e sociais dos falantes; logo, os significados não são imanentes aos compostos e expressões:
são frutos de uma situação comunicativa que requer dos interlocutores conhecimentos de
mundo compartilhados. Sob a forma de MCI e frame, os saberes contribuem de maneira
relevante para a construção do significado (embora não o determinem).
A partir dessa fundamentação teórica e das discussões propostas por Basílio (1987,
2000 e [2004] 2006), Mattoso Câmara ( [1970] 1996 e [1977] 1981), Monteiro (1986),
Rocha ([1998] 2008) e Sandmann ( [1988] 1989 e 1991), partiu-se para uma outra questão:
95
quais são as diferenças formais e semânticas entre compostos, grupos sintáticos e
expressões sintagmáticas com base em ‘pé’? Percebeu-se que, em relação à forma, a
discussão esbarra, inicialmente, na definição de palavra, que na literatura não é consensual,
em função da gama de perspectivas pelas quais o conceito pode ser definido.
Consequentemente, as questões envolvendo a definição de palavra refletem sobre o
conceito de compostos, uma vez que esses são a reunião de duas ou mais palavras.
Outro aspecto abordado na análise dos compostos é o limite entre estes e os grupos
sintáticos eventuais. Observaram-se as semelhanças de comportamento fonológico,
morfológico, sintático e semântico entre os compostos e os grupos sintáticos eventuais, que
permitiram sua organização num continuum grupos sintáticos eventuais – composição. A
semelhança ou a diferença comportamental, de acordo com os critérios citados, aproximam
ou afastam essas categorias, além das funções designativa, própria dos compostos, e
enunciativa, específica dos grupos sintáticos eventuais.
Contudo, pareceram-nos insuficientes os critérios acima para distinguir os grupos
sintáticos eventuais dos grupos sintáticos permanentes. Por isso, lançou-se mão das
proposições apresentadas por Croft & Cruse ([2004] 2009), fundamentadas nas propostas
de Fillmore et alii (1988) e Nunberg et al. (1994) acerca das expressões idiomáticas, o que
nos permitiu chegar a algumas conclusões sobre essas estruturas: grupos sintáticos
eventuais, além da função enunciativa, apresentam uma construção sintática geral e mais
complexa, associada a uma regra de composição semântica mais geral, enquanto grupos
sintáticos permanentes possuem função designativa e apresentam uma construção sintática
específica e menos complexa, associada a uma regra de composição semântica mais
específica.
96
Embora, algumas expressões idiomáticas do corpus apresentem um caráter
avaliativo, tais como ‘cair de pé’, ‘meter os pés pelas mãos’, ‘ter os pés no chão’, uma
análise mais acurada é necessária para identificar a função destas construções. Contudo a
especificidade das regras de composição semântica, segundo Croft & Cruse ([2004] 2009:
253-254), é o que difere as expressões idiomáticas dos grupos sintáticos eventuais ou, de
acordo com os autores, das expressões sintáticas regulares.
Com isso, não pretendemos esgotar as questões que envolvem assunto tão
complexo, mas propor uma análise das construções envolvendo o item lexical ‘pé’ sob a
perspectiva da Linguística Cognitiva.
97
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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100
7. ANEXOS
ANEXO 1
SIGNIFICADO DOS ITENS LEXICAIS DE ACORDO COM AS DEFINIÇÕES DOS DICIONÁRIOS HOUAISS E AURÉLIO ELETRÔNICOS E O SITE DE
BUSCA GOOGLE
Verbetes Significados Fontes Agarra-pé Arbusto ornamental da família das marcgraviáceas
(Norantea brasiliensis), comuníssimo em todo o litoral, e cujas flores, vivamente sanguíneas, se agrupam em longos cachos.
Aurélio
Aguara-pé Arbusto (Norantea brasiliensis) da família das marcgraviáceas, nativo de áreas litorâneas do Brasil e cultivado como ornamental.
Houaiss
Arrasta-pé Baile popular onde predominam músicas e ritmos como o forró, o samba etc.; bate-chinela; arrasta; arrastado. Reunião informal, geralmente familiar, para dançar.
Houaiss
Baile popular; arrastado, bate-chinela, bate-coxa, bate-pé, bochinche, bochincho ou bachinche, biqueiro, chinfrim, choro, fobó, forrobodó, forró, fuzo, gafieira, rala-bucho, samba, serra-osso, sorongo, surungo, sumpes, sovacada, subacada. Festa familiar, geralmente improvisada, em que há dança; bailarico, baileco, assustado.
Aurélio
Busca-pé Peça de fogo de artifício composta de um canudinho cheio de pólvora lenta e vedado de um dos lados o qual, aceso, serpeia pelo chão, preso a uma delgada flecha de bambu ou madeira fina, como que atrás dos pés das pessoas, e que frequentemente contém um explosivo leve.
Houaiss
Dispositivo pirotécnico, preso a uma pequena haste de madeira, que sai ziguezagueando rente ao chão e termina, geralmente, em um estouro; besouro, cu de breu.
Aurélio
Chispe [Do lat. *suspede < suis, gen. de sus, 'porco', + -pede, 'pé'.] .Pé de porco; pé, pezunho.
Aurélio
Finca-pé Haste de madeira robusta, que se põe no fundo das embarcações miúdas a remo, para os remadores firmarem os pés.
Houaiss
Estrutura em forma de coluna de madeira ou de aço que dá sustentação ao convés.
Houaiss
101
Determinação, firmeza de atitude, opinião etc.; empenho,
porfia, obstinação. Houaiss
Porfia, empenho. Não mudar de parecer, de resolução; teimar, porfiar, obstinar-se.
Aurélio
Estabelecer-se em algum lugar Google Lava-pé Subarbusto (Centaurea sempervirens) da família das
compostas, nativo da Europa, de folhas lanceoladas e flores purpúreas; viperina.
Houaiss
Monopé
Suporte portátil, com uma única escora, no qual se apoia câmara fotográfica ger. com teleobjetiva.
Aurélio
Pé
Extremidade do membro inferior abaixo da articulação do tornozelo e terminada pelos artelhos, assentada por completo no chão, e que permite a postura vertical e o andar.
Houaiss
Cada uma das duas extremidades inferiores, uma em cada membro inferior, constituídas de tarso, metatarso, e falanges dos pododáctilos, respectivas articulações, e partes moles que recobrem as ósseas.
Aurélio
Parte terminal dos membros de um vertebrado terrestre, especificamente a extremidade dos membros posteriores, situada abaixo da articulação do tornozelo e formada pelo tarso, metatarso e dedos; pata.
Houaiss
Pata.
Aurélio
Chispe.
Aurélio
Órgão de locomoção ou de fixação de um invertebrado.
Houaiss
Perna ('apêndice articulado')
Houaiss
Superfície ventral, musculosa, do corpo de um molusco, que nos gastrópodes tem forma de sola e é usada. especificamente para rastejar, e nos bivalves tem forma de lâmina e é usada para cavar.
Houaiss
Parte inferior e sobre a qual se assentam certos objetos.
Houaiss
A parte inferior de um objeto por meio da qual ele se sustenta.
Aurélio
Pedestal; base.
Aurélio
Pedúnculo de flor ou fruto.
Houaiss
Pedúnculo de flor ou fruto.
Aurélio
Pecíolo.
Aurélio
102
Segmento da folha que a prende ao ramo ou tronco; pecíolo.
Houaiss
Cada unidade de uma determinada planta.
Houaiss
Cada exemplar individual de uma planta.
Aurélio
Parte inferior e posterior da cabeleira. Houaiss Parte inferoposterior da cabeleira. Aurélio Unidade de medida linear anglo-saxônica, de 12
polegadas, equivalente a cerca de 30,48 cm do sistema métrico decimal.
Aurélio
Unidade de comprimento do sistema anglo-saxão, correspondente a 12 polegadas e equivalente, no sistema métrico decimal, a 30,48 cm
Houaiss
Unidade rítmica e melódica do verso, constituída de duas ou mais sílabas, sendo uma forte e outra(s), fraca(s), característica da versificação em línguas onde há acento de intensidade, como o português.
Houaiss
Parte em que se divide o verso metrificado. Aurélio Cada uma das unidades de duas ou mais sílabas, que,
articuladas e ordenadas, compõem os versos nas línguas com acento de quantidade, como o latim, o grego antigo e as línguas orientais.
Houaiss
Altura da água (de mar, rio, piscina etc.) em relação à estatura de uma pessoa, estando ela com os pés no chão e a cabeça de fora.
Houaiss
Profundidade de água (do mar, de rio, etc) em relação à altura de uma pessoa, de modo que o pé toque no chão e a cabeça fique de fora.
Aurélio
Pé- d’água Aguaceiro. Aurélio Chuva forte, repentina e de pouca duração; aguaceiro. Houaiss
Pé-da-cama Parte (do leito) oposta à cabeceira (também usado no plural.)
Houaiss
A parte (da cama) oposta à cabeceira Aurélio Base que sustenta a cama Google
Pé-de-árvore Pé de pau
Aurélio
Pé de pau
Houaiss
Pé da Meia Um dos pares da peça de malha, ou algodão, ou lã feita para cobrir o pé
Pé de arvoredo
Pé de pau
Houaiss
Pé de pau
Aurélio
Pé –de–atleta Micose superficial crônica da pele do (s) pé(s), devida a fungos das espécies Tricophyton ou Epudermophyton floccosum.
Aurélio
O mesmo que Tinha do pé. Houaiss
103
Pé-de-bezerro
Erva (Arum maculatum) da família das aráceas, nativa da Europa central e meridional, de folhas triangulares ou sagitadas, verde-escuras, frequentemente com manchas mais escuras, e espatas verde-amareladas ou violáceas, os tubérculos fornecem fécula comestível e suco extremamente cáustico e tóxico, os frutos são bagas vermelhas e venenosas. O mesmo que. jarro-de-itália (Arum italicum) e taioba (Xanthosoma violaceum).
Houaiss
Taioba.
Aurélio
Pé-de-boi Mororó .
Aurélio
Pé-de-boi O mesmo que pata-de-vaca ('designação comum')
Houaiss
Pé de burro Fumo de qualidade inferior
Aurélio
Fumo de má qualidade
Houaiss
Açafrão-bravo.
Aurélio
O mesmo que açafrol (Crocus clusii) e maios-pequenos (Iris sisynrinchum
Houaiss
Pé-de-cabra O mesmo que salsa-da-praia (Ipomoea pes-caprae)
Houaiss
Pé de cabra Alavanca metálica que tem a extremidade fendida como um pé de cabra e que serve para arrancar pregos e abrir juntas de caixotaria; arranca-pregos. O mesmo instrumento é usado para arrombar portas leves.
Houaiss
Alavanca de ferro cuja extremidade é fendida à semelhança de um pé de cabra.
Aurélio
Pé de cana Aquele que tem o hábito de se embriagar; beberrão Houaiss Ébrio Aurélio
Pé de chinelo Marginal pouco perigoso. Aurélio Marginal pouco perigoso. Houaiss Que ou o que é reles, pobre, sem expressão Houaiss
Pé-de-chumbo
O mesmo que cardial do Brasil (Salvia splendens)
Houaiss
Pé de chumbo
Indivíduo grosseiro, pesado. Aurélio
Pessoa que não progride na vida, apesar de tudo lhe ser favorável; zé-ninguém.
Aurélio
Trabalhador rural. Aurélio Caipira Aurélio Sujeito mal-educado; casca-grossa. Aurélio Pequeno fazendeiro analfabeto da zona cacaueira. Aurélio Gado (bovino ou cavalar) que não é de raça. Aurélio Indivíduo que não prospera na vida Houaiss
Pessoa que anda vagarosamente. Houaiss
104
Motorista que dirige em alta velocidade. Houaiss Pé- de- galinha
Capim-de-burro
Aurélio
O mesmo que capim-branco (Chloris polydactyla), ou capim-de-burro (Cynodon dactylon), ou capim-pé-de-galinha (Poa annua), ou embaúba-da-mata (Cecropia sciadophylla), ou tiririca (Cyperus rotundus).
Houaiss
Pé de galinha Conjunto de rugas no canto externo dos olhos. Aurélio Conjunto de rugas formadas em torno dos olhos. Houaiss
Pé-de-galo O mesmo que lúpulo (Humulus lupulus) ou botão-de-ouro (Ranunculus bulbosus)
Houaiss
Lúpulo
Aurélio
Pé-de-gato Erva de até 20 cm (Antennaria dioica) da família das compostas, vivaz e estolonífera, de folhas espatuladas, em rosetas basais, verde-esbranquiçadas na página superior e lanosas e acinzentadas na página inferior, pedicelo floral ereto e folhoso com capítulos de flores masculinas e brancas ou femininas e róseas; antenária, gnafálio [Nativa da Europa, é cultivada como ornamental e seu nome popular é devido aos pequenos capítulos semelhantes a pequenas e macias almofadas; os capítulos femininos desidratados têm uso medicinal diverso, como emoliente, expectorante, febrífugo etc.]. O mesmo que erva-gato (Valeriana scandens).
Houaiss
Erva da família das compostas (Antenaria dioica), proveniente da Europa e Ásia, inteiramente recoberta de pilosidade alvacenta, que tem folhas espatuladas, flores tubulosas, unissexuais e ordenadas em capítulos solitários, e não é espécie vistosa.
Aurélio
Pé de mato Pé de pau
Aurélio
Pé de pau
Houaiss
Pé-de-meia Mealheiro, pecúlio, economias. Aurélio Dinheiro economizado e reservado para uma eventualidade
futura Houaiss
Pé de moleque
Doce de consistência sólida, feito com açúcar ou rapadura e fragmentos de amendoim torrado. Bolo preparado com a massa de mandioca fubá, coco e açúcar.
Aurélio
Doce consistente feito de açúcar ou rapadura com amendoim torrado. Bolo feito de mandioca, fubá, coco e açúcar.
Houaiss
Pé de ouvido Murro no pé do ouvido Aurélio
105
Tapa num lado da cabeça Houaiss
Pé-de- pato Calçado de borracha, em forma de pé de pato, que os nadadores e mergulhadores adaptam aos pés para se deslocarem com rapidez maior dentro da água.
Aurélio
Espécie de calçado de borracha, com a parte anterior espatulada, usado por mergulhadores e nadadores para imprimir maior velocidade ao seu deslocamento; nadadeira
Hoauiss
Pé de pau Qualquer tipo de árvore; pé de árvore, pé de arvoredo, pé de mato
Houaiss
Qualquer árvore; pé de árvore, pé de arvoredo, pé de mato
Aurélio
Pé de valsa Exímio dançarino; pé de oiro, pé de ouro Houaiss
Dançarino consumado; pé de ouro Aurélio
Pé de vento Vento forte ou rajada de vento; lufa, lufada, rabanada, rajada, refega, refrega, ventania
Houaiss
Ventania repentina, de curta duração. Vento forte; tufão, furacão.
Aurélio
Pé-direito Pilar ou muro sobre o qual assenta um arco, uma abóbada, ou uma armação de madeira ou de cantaria.: Partes laterais de uma lapa.
Aurélio
Maciço de pedra que sustenta os empuxos de um arco ou abóbada
Houaiss
Estrutura em forma de coluna de madeira ou de aço que dá sustentação ao convés
Houaiss
Altura entre o piso e o forro de um compartimento ou pavimento.
Houaiss
Altura da coluna ou pilar em que se apoia um arco. Houaiss Altura das ombreiras de uma porta. Houaiss Maciço de pedra que sustenta os empuxos de um arco ou
abóbada. Houaiss
Partes laterais de uma lapa. Houaiss Altura livre de um andar de edifício, medida do piso ao
teto. Aurélio
Pé-frio Pessoa sem sorte, azarada, ou que traz má sorte aos outros. Houaiss Pé na tábua Expressa estímulo a que se dirija um veículo com maior
velocidade, que se conclua um trabalho ou outra atividade mais rapidamente.
Houaiss
Expressão com que se estimula alguém a dirigir veículo com maior velocidade, ou terminar tarefa, etc. mais depressa.
Aurélio
Pé-quente Pessoa que tem ou traz sorte. Houaiss
106
Motorista que anda em velocidade excessiva. Houaiss Pé-rapado Indivíduo de humilde condição social; pobre, pobretão Houaiss Homem de condição humílima; pobretão. Aurélio Pé-sujo Indivíduo muito pobre, miserável; pobre-diabo, joão-
ninguém, pobretão. Houaiss
Botequim de baixa categoria; lata de lixo Houaiss Botequim de ínfima categoria; lata de lixo. Aurélio
Pontapé Ofensa, ultraje. Ato de ingratidão. Dar o fora em alguém; romper relacionamento, geralmente de maneira inesperada.
Aurélio
Rapapé Ato de arrastar os pés para trás, ao cumprimentar. Houaiss
Cumprimento exagerado; mesura Houaiss
Ato de enaltecer ou lisonjear com exagero, visando à obtenção de favores, privilégios etc.
Houaiss
Ato de arrastar o pé ao cumprimentar. Aurélio Cumprimento rasgado, exagerado Aurélio
Rodapé O pé de uma página impressa (BASE).
Houaiss
Artigo inserido na margem inferior da página de jornal, revista ou livro, de um cartaz, anúncio, geralmente com medidas e/ou corpo menores e separado por um fio horizontal.
Houaiss
A parte inferior de uma página impressa.
Aurélio
Artigo, crônica, folhetim, etc., de jornal ou revista, publicado no rodapé da folha e ger. separado do resto do texto por um filete horizontal.
Aurélio
Barra de madeira, mármore etc. que se coloca ao longo das paredes na junção com o piso, para lhes dar proteção e acabamento; guarda-vassouras.
Houaiss
Espécie de cortina ou babado que se coloca em volta da cama para cobri-la do colchão até o piso.
Houaiss
Faixa de madeira que se coloca ao longo da parte inferior das grades de uma janela de sacada.
Houaiss
Espécie de cortina que cai em volta da cama até ao piso. Aurélio
Barra de madeira, mármore, etc., que rodeia a parte inferior das paredes internas, rente ao chão, para evitar que os móveis, a varrição ou a lavagem do piso estraguem o revestimento delas; guarda-vassouras, alizar.
Aurélio
Faixa de madeira, ou de outro material, na parte inferointerior das grades duma janela de sacada.
Aurélio
Sopé Parte inferior, mais próxima do plano, de monte, rocha, encosta, muro etc.; base, falda.
Houaiss
Base (de montanha); falda: A parte inferior de encosta, muro, etc.
Aurélio
Tripé O mesmo que trempe ('aro de ferro') Houaiss
107
Suporte portátil com três escoras, sobre o qual se assenta
máquina fotográfica, telescópio, filmadora ou outro aparelho.
Houaiss
Formação ou conjunto de três coisas, unidas entre si por uma ou mais características afins
Houaiss
Suporte portátil com três escoras, sobre o qual se põe a máquina fotográfica, o telescópio, ou outro aparelho.]
Aurélio
Trempe.
Aurélio
Conjunto de três coisas diversas, ligadas entre si por um ou mais traços comuns: do congresso.
Aurélio
108
ANEXO 2
SIGNIFICADO DAS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS DE ACORDO COM AS DEFINIÇÕES DOS DICIONÁRIOS HOUAISS E AURÉLIO ELETRÔNICOS E O
SITE DE BUSCA GOOGLE
Verbetes Significados Fontes Ao pé de ouvido Em segredo, secretamente. Aurélio
Em segredo, de modo discreto Houaiss A pé Com os próprios pés, caminhando Houaiss
Com os próprios pés. Em posição vertical; ereto. Aurélio Locomover-se por meio de transporte coletivo,
não possuir automóvel particular.
Bater (o) pé Manifestar oposição; agir de maneira insistente.
Houaiss
Bater o pé Bater pé.
Aurélio
Bater pé Mostrar-se insubmisso, recalcitrar; bater o pé.
Aurélio
Botar o pé na fôrma.
Treinar exaustivamente para adquirir precisão nos chutes e passes.
Houaiss
Botar o pé no mundo Fugir. Aurélio Retirar-se, debandar, fugir. Houaiss Cair de pé Manter-se combativo, íntegro, digno, em face da
derrota, ou de má situação na vida. Aurélio
Ser derrotado com dignidade, depois de grande resistência.
Houaiss
Com o pé atrás Com reservas, desconfiadamente.
Houaiss
Com o pé direito De maneira feliz, com boa sorte; bem.
Aurélio
Com pé atrás Com desconfiança ou reserva.
Aurélio
Com o pé esquerdo De maneira infeliz,; com azar; mal.
Aurélio
Com azar, muito mal.
Houaiss
Com os pés nas costas De olhos fechados.
Aurélio
Com um pé nas costas Com grande facilidade; sem o menor esforço; de letra.
Aurélio
109
Com muita facilidade, de olhos fechados; com
uma perna nas costas. Houaiss
Dar no pé Fugir. Aurélio Ir embora, retirar-se.
Fugir, escapar, debandar. Houaiss
Dar pé
Ser raso (mar, rio,etc.) o suficiente para que se toque o fundo com os pés, ficando a cabeça fora da água,; ter pé.
Aurélio
Ter altura (mar, rio, piscina etc.) suficiente para deixar a cabeça de alguém de fora, estando os pés encostados no chão; ter pé
Houaiss
De pé atrás O mesmo que com o pé atrás Houaiss Com prevenção ou desconfiança; de má
vontade Aurélio
Em pé de guerra Com ânimos exaltados
Houaiss
Estado de tensão ou preparo psíquico, material, que precede a declaração do estado de beligerância
Aurélio
Em pé de igualdade No mesmo nível, de igual para igual Houaiss No mesmo plano, grau ou nível; de igual para
igual. Aurélio
Em que pé vai/está Estado de um negócio ou de uma empresa
Encher o pé Chutar a bola com muita violência Houaiss Chutar com muita força Aurélio
Estar com os pés na cova Estar à beira da morte; ter um pé na cova Houaiss Estar perto da morte. Aurélio Está com o pé na cova Estar à beira da morte; Google Está de pé Firme, irredutível
Fazer pé firme Insistir Google
Ficar no pé de (alguém) Insistir aborrecendo; molestar com pedidos insistentes
Houaiss
Ficar no pé de Ficar rente a (alguém) insistindo em algo, aborrecendo, importunando.
Aurélio
Ficar no pé de alguém Importunar insistentemente.
Aurélio
Ir num pé e vir no outro O mesmo que ir num pé e voltar no outro.
Houaiss
Ir e vir num pé só
Aurélio
Ir num pé e voltar no Executar determinada tarefa ou missão com Houaiss
110
outro
muita rapidez; não demorar; ir e vir num pé só, ir num pé e vir no outro.
Ir e vir num pé só
Aurélio
Ir num pé só
Dirigir-se a algum lugar com toda a rapidez
Houaiss
Ir a algum lugar com toda a rapidez
Aurélio
Jurar de pés juntos Afirmar convincentemente
Houaiss
Afirmar peremptoriamente
Aurélio
Lamber os pés de Adular servilmente. Houaiss Adular, lisonjear, bajular. Aurélio Largar do pé de Deixar de importunar.
Houaiss
Deixar de ser importuno.
Aurélio
Meter o pé Retirar-se de um local Google
Meter o pé no mundo Viajar sem prazo ou roteiro definido. Fugir, debandar.
Houaiss
Fugir Aurélio Meter os pés pelas mãos Atrapalhar-se, confundir-se na realização de
alguma coisa Cometer deslizes.
Houaiss
Atrapalhar-se, atordoar-se, confundir-se, na execução de uma tarefa, de uma atividade qualquer. Praticar inconveniências; cometer disparate ou gafe.
Aurélio
Não arredar pé Permanecer num determinado lugar. Não ceder, não mudar de opinião.
Houaiss
Não afastar-se de um lugar. Não ceder em sua opinião; não transigir.
Aurélio
Não chegar aos pés de Ser incomparavelmente inferior a Houaiss Ser muito inferior a Aurélio Negar de pés juntos Insistir com firmeza na negativa
Pegar no pé Mostra-se muito insistente. Importuno Aurélio
Pegar pelo pé
Surpreender, conter e criticar o adversário Houaiss
Apanhar de surpresa; surpreender. Aurélio
111
Ter os pés na terra Ter objetividade, ser realista; ter os pés fincados na terra, ter os pés no chão.
Houaiss
Ter os pés fincados na terra Aurélio Ter os pés no chão O mesmo que ter os pés na terra
Houaiss
Ter os pés fincados na terra Aurélio Tomar pé da situação Tomar ciência da situação Google Ter pés de barro Ter base inconsistente, a despeito da aparência
de solidez Aurélio
Tirar o pé da lama Sair de uma situação de inferioridade material; subir na vida, tirar o pé do lodo.
Houaiss
Sair de uma situação inferior; melhorar de vida; subir de posição; tirar o pé do lodo.
Aurélio
Tirar o pé do lodo O mesmo que tirar o pé da lama Aurélio Um pé lá, outro cá O mais rapidamente possível
Houaiss
Com extrema rapidez; com a maior ligeireza possível.
Aurélio
Vai dar pé Ser possível; ser alcançável, exequível. Google