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    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE FLORESTAS

    CURSO DE GRADUAO EM ENGENHARIA FLORESTAL

    MICKAEL VIANA MACHADO

    EMBARCAES MARTIMAS ARTESANAIS: ASPECTOSCONSTRUTIVOS E ANATOMIA DESCRITIVA DE MADEIRA

    DE DUAS ESPCIES FLORESTAIS UTILIZADAS PORCOMUNIDADE DO LITORAL SUL FLUMINENSE

    Prof. Dr. Joo Vicente Figueiredo Latorraca

    Orientador

    SeropdicaRJ

    Junho, 2010

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    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE FLORESTAS

    CURSO DE GRADUAO EM ENGENHARIA FLORESTAL

    MICKAEL VIANA MACHADO

    Embarcaes martimas artesanais: aspectos construtivos eanatomia descritiva de madeira de duas espcies florestais

    utilizadas por comunidade do litoral sul fluminense

    Monografia apresentada ao Curso deEngenharia Florestal, como requisito parcial

    para a obteno do Ttulo de EngenheiroFlorestal, Instituto de Florestas daUniversidade Federal Rural do Rio deJaneiro.

    Prof. Dr. Joo Vicente Figueiredo Latorraca

    Orientador

    Seropdica - RJ

    Junho de 2010

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    EMBARCAES MARTIMAS ARTESANAIS: ASPECTOS CONSTRUTIVOS EANATOMIA DESCRITIVA DE MADEIRA DE DUAS ESPCIES FLORESTAIS

    UTILIZADAS POR COMUNIDADE DO LITORAL SUL FLUMINENSE

    COMISSO EXAMINADORA:

    APROVADA EM 12/07/2010

    Prof. Dr. Joo Vicente de Figueiredo LatorracaUFRRJ/IF/DPF

    (Orientador)

    Prof. Dr. Roberto Carlos Costa LelisUFRRJ/IF/DPF

    Dra. Gilmara Pires de Moura PalermoEngenheira Florestal

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    DEDICATRIA

    Dedicado ao Seu Maneco e sua famlia, guardies da praia de Martim de S, Paraty, RJ.

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    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente gostaria de agradecer aos moradores da Reserva Ecolgica da Juatinga porquesem eles este trabalho no seria possvel, em especial, Seu Maneco, Dona Lourena, Paulo

    Henrique (Bilico) e famlia, Dona Capitulina, Carmuzinho e famlia, Marquinho e famlia,Ronaldo, Ezequiel, Seu Pedro e Seu Cludio (participaram diretamente da pesquisa) e suasfamlias.

    Minha me e minha av, pelo incentivo, amor e confiana.

    Meu pai, pelos conselhos e por sempre acreditar no meu trabalho.

    Meus irmos, Isadora, Leo, Lulu, Lvia e Pedro.

    A toda minha famlia inclusive os parentes de So Paulo, saudades!

    Aos meus entes queridos que no esto mais entre ns, em especial meu av Apollo e TiaCidinha que onde quer que estejam devem estar vibrando com essa minha conquista.

    A Gabriela pela dedicao, incentivo, apoio, confiana e companheirismo.

    Aos meus amigos da graduao em especial Paracas, Marlus, Gabriel, Dani, St, Mel, Mateus,Felipe Paraba,Pedro Shrek, Thiago Cabea, Iuri, Tch, Tadeu Guerreiro, Frito, LoGustavo Tasso, Green, Guga, Leon, Vanesso, Raoni Jabiraca, Anabal, Silfu,

    Marquinhos, Kelinho, dentre muitos outros, vocs esto no meu corao!

    As pessoas que me ajudaram diretamente neste trabalho, Gacho, Milene, Vinicius e adoutora Gilmara.

    Ao meu orientador Joo Vicente por acreditar no potencial desta pesquisa.

    Ao Marco pela colaborao com a estadia no Saco das Anchovas.

    Ao Caio Marcio por me inserir no mundo da engenharia florestal.

    Aos amigos da Essati, em especial, Antnio Srgio, Rafael Lanes e Renato Esperanzo

    A todas as pessoas que conheci em Martim de S em especial Pepeu, Michel e Joo, neto doSeu Maneco.

    A todos os meus amigos e pessoas que de algum modo acrescentaram algo de positivo naminha vida dentre eles, Pablo, Puxo, Ricarte, Raoni, rik, Pug, Figueiredo, Eduardo Walsh,Ilvinha, Manu, Mark e famlia.

    A todos os professores da floresta em especial Tokitika Morokawa

    Agradecimento especial ao mestre Roselito pelos ensinamentos sobre as artimanhas da

    floresta, da pesca e da vida.

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    RESUMO

    Este estudo teve como objetivo descrever os aspectos construtivos de embarcaes martimas

    artesanais e descrever microscopicamente, as espcies florestais Balizia pedicellaris (DC.)Barneby & J. W. Grimes e Tachigali denudata (Vogel) Oliveira-Filho utilizadas naconstruo de embarcaes no litoral sul fluminense. O estudo foi desenvolvido em uma

    pequena comunidade de pescadores artesanais localizada na Reserva Ecolgica da Juatinga,municpio de Paraty, RJ. Alguns dos moradores preservam a arte da construo dessasembarcaes chamadas de canoas de um tronco s ou canoas caiaras. Os artesos

    participaram diretamente fornecendo as amostras e como colaboradores, que englobou oprocesso construtivo, o histrico e a forma de utilizao dessas embarcaes. A escolha dasespcies foi feita ao acaso dependendo diretamente da disponibilidade de material lenhoso nomomento da visita de campo. Foram coletadas amostras do lenho e dos ramos de B.

    pedicellaris e T. denudatae destas foram confeccionadas lminas histolgicas e de material

    dissociado utilizadas na descrio microscpica. Os caracteres foram descritos e mensuradosevidenciando caractersticas qualitativas semelhantes entre a descrio anatmica dessasespcies na literatura e nesta pesquisa. Em relao aos valores mensurados, ocorreram

    pequenas variaes demonstrando certa heterogeneidade dessas variveis possivelmentedecorrentes das caractersticas ecologias do local, da localizao da amostra no tronco, ouainda de outros fatores. As duas espcies possuem caractersticas microscpicas comunsevidenciando a qualidade necessria para a confeco dessas embarcaes.

    Palavras-Chave: Embarcaes artesanais, Balizia pedicellaris, Tachigali denudata, anatomiada madeira

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    ABSTRACT

    This study aimed to describe the constructive aspects of handmade maritime vessels and

    describe microscopically, forestry speciesBalizia pedicellaris (DC.) Barneby & J. W. Grimesand Tachigali denudata(Vogel) Oliveira-Filho used in boat building on the southern coast ofRio de Janeiro. The study was conducted in a small community of fishermen located in theJuatinga Ecological Reserve, municipality of Paraty, RJ. Some of the residents preserve theart of building these boats called "canoes of only one trunk" or "caiaras canoes." Thecraftsmen participated directly by providing samples and as collaborators, which included theconstruction process, the history and how to use these boats. The choice of species was madeat random depending directly on the availability of timber at the time of field visit. It wascollected samples of wood and branches of B. pedicellaris and T. denudata and thesehistological slides were prepared and separated material used in the microscopic description.The characters were described and measured showing qualitative features similar to the

    anatomical description of these species in the literature and this research. In relation to thevalues measured, there were slight variations of these variables showed some heterogeneity

    possibly due to the characteristics of local ecologies, the location of the sample in the trunk,or other factors. Both species have characteristics common microscopic evidence of thequality required for the manufacture of these vessels.

    Keywords: Handmade maritime vessels,Balizia pedicellaris, Tachigali denudata,woodanatomy

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    SUMRIO

    Lista de Figuras .......................................................................................................................viii

    Lista de Tabelas.........................................................................................................................ix

    1. INTRODUO ..................................................................................................................1

    1.1Objetivos.........................................................................................................................3

    1.1.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 3

    1.1.2 Objetivos Especficos ............................................................................................ 3

    2. REVISO DE LITERATURA ...........................................................................................4

    2.1 Embarcaes artesanais ............................................................................................................. 4

    2.2 Anatomia da madeira ................................................................................................................ 5

    2.3 Espcies florestais: Balizia pedicellaris e Tachigali denudata .................................................. 5

    3. MATERIAL E MTODOS ................................................................................................7

    3.1 Caracterizao do local de estudo ............................................................................................. 7

    3.2 Coleta das amostras e levantamento do processo construtivo das Embarcaes ...................... 9

    3.3 Metodologia laboratorial ......................................................................................................... 10

    4. RESULTADOS E DISCUSSO ......................................................................................12

    4.1 Histrico, usos e processo construtivo das embarcaes artesanais ........................................ 124.2 Descrio anatmica ............................................................................................................... 16

    4.2.1 Balizia pedicellaris ............................................................................................. 16

    4.2.2 Tachigali denudata .............................................................................................. 18

    4.2.3 Anlise das estruturas anatmicas ...................................................................... 20

    5. CONCLUSES .................................................................................................................23

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..............................................................................24

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Canoa caiara no pequeno cais do Saco das anchovas...........................................1

    Figura 2. Balizia pedicellaris....................................................................................................6

    Figura 3 Tachigali denudata......................................................................................................7

    Figura 4. Crculo amarelo: Comunidade caiara do Saco das Anchovas..................................8

    Figura 5. Vista panormica da praia de Martim de S com a comunidade do Saco dasAnchovas em destaque.............................................................................................9

    Figura 6. Canoa de um tronco s, da espcie Timbuba no prprio local em que a rvore foiabatida.......................................................................................................................13

    Figura 7. Canoa de Ing-amarelo recebendo acabamento junto costa, por um dosartesos...................................................................................................................14

    Figura 8. Principais partes estruturais das embarcaes: A. Cabea;B. Cabea acoplada popa; C. Cabea acoplada proa; D. Canoa com motor de centro evidenciando oacabamento da popa e do leme.................................................................................15

    Figura 9. Reparos feitos na proa de embarcao vistos por dentro (esquerda) e porfora.........................................................................................................................15

    Figura 10. Planos de corte Balizia pedicellaris; A. Plano transversal no aumento de 4x; B.Plano tangencial com aumento de 10x; C. Plano Radial, aumento 10x; D. Planotransversal natural aumento 10x.............................................................................16

    Figura 11.Vasos de Timbuba: com um apndice em aumento de 20x; com apndices emambas as partes (setas), aumento de 10x.............................................................17

    Figura 12. Fibras de Timbuba: aumento de 40x; aumento de 4x...........................................17

    Figura 13. Planos de corte Tachigali denudata; A. Plano transversal no aumento de 4x;B. Plano tangencial com aumento de 10x; C. Plano Radial, aumento 10x; D. Planotransversal natural aumento 10x.............................................................................18

    Figura 14.Vasos de Ing-amarelo: aumento de 20x; aumento de 10x....................................19

    Figura 15. Fibras de Ing-amarelo: aumento de 40x; aumento de 4x.....................................19

    Figura 16. Comparao entre as mdias mensuradas (escala logartmica) para caracteresanatmicos da madeira deB. pedicellaris e T. denudata.....................................20

    Figura 17. Comparao entre o coeficiente de variao das mensuraes..............................21

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Indicao dos parmetros celulares, material utilizado para confeco das lminas e

    nmero de repetio.................................................................................................11

    Tabela 2.Dados da mensurao anatmica daBalizia pedicellaris........................................16

    Tabela 3. Dados da mensurao anatmica da Tachigali denudata........................................18

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    1. INTRODUO

    Entre as diversas formas de uso dos recursos vegetais, desde os tempos mais remotos,a madeira teve papel importante no desenvolvimento do homem atravs das suas diversasformas de utilizao. Ela foi uma das primeiras matrias-primas naturais usadas pelo homeme sua abundncia e mltiplas utilidades, somadas ao conhecimento emprico de suas

    propriedades fsicas e mecnicas, contriburam para a popularizao de seu emprego, pelaspopulaes primitivas (FONSECA et al., 2005). Uma de suas utilidades que merece destaqueao longo do tempo foi seu uso para a construo naval, atravs dos diversos tipos deembarcaes, de acordo com a necessidade de cada cultura e sua disponibilidade no ambientelocal.

    Por meio de embarcaes, o homem pde incrementar suas tcnicas de pesca e seexpandir atravs dos oceanos, rios e lagos. O Brasil, por exemplo, foi um importante ponto de

    apoio para o reparo e o abastecimento de embarcaes no perodo colonial devido presenade regies ricas em madeiras (HUTTER, 1985). Nos dias atuais ainda so feitas diversasembarcaes de madeira, desde as pequenas e simples, de fabricao manual, a grandesluxuosos veleiros, possuidores de refinada tecnologia, em todo o globo terrestre. Nestetrabalho pretende-se tratar das embarcaes artesanais feitas a partir de um nico tronco,conhecidas na regio estudada como canoacaiaraou canoa de um tronco s (Figura 1).

    Figura 1. Canoa caiara no pequeno cais do Saco das Anchovas

    Os indgenas j utilizavam canoas antes da chegada dos portugueses e foram estas quederam origem s canoas dos dias atuais. No perodo colonial, com a introduo de novas

    ferramentas, o processo construtivo sofreu algumas transformaes, possibilitando a

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    confeco de canoas maiores e mais elaboradas. Estas embarcaes so utilizadas empraticamente todo o litoral e tambm nas bacias hidrogrficas do Brasil contendocaractersticas peculiares a cada regio. .

    A formao de vrias das comunidades martimas e litorneas no Brasil se deu entre o

    vasto perodo que vai do sculo XVIII ao incio do sculo XX, cujos membros viviam,sobretudo, de atividade pesqueira. Em tais comunidades, dispersas por todo o litoral, modosde vida e culturas locais especficas puderam emergir, diferenciando seus membros de outrosgrupos (RAMIRES et al., 2007). Trata-se de comunidades de pescadores artesanais que, noestado de So Paulo, Paran e parte do Rio de Janeiro, so nomeadas de populaes caiaras(CLAUZET et al., 2005).Pescadores artesanais podem ser definidos como aqueles que, nacaptura e desembarque de toda classe de espcies aquticas, trabalham sozinhos e/ou utilizammo-de-obra familiar ou no assalariada, explorando ambientes ecolgicos localizados

    prximos costa, pois a embarcao e aparelhagem utilizadas para tal possuem poucaautonomia (DIEGUES, 1973).

    Atualmente com as novas tecnologias, o mundo informatizado vem se esquecendo dos

    conhecimentos tradicionais inseridos pelos lugares mais remotos do Brasil e de todo o mundo.Alis, no muito distantes das metrpoles existem lugares em que o desenvolvimento nochegou diretamente e ainda preservam conhecimentos passados de pai para filho ao longo dasgeraes. o caso de uma comunidade de pescadores artesanais inserida na ReservaEcolgica da Juatinga (REJ) no municpio de Paraty, no litoral extremo sul fluminense(BORGES, 2008).

    O municpio, que est inserido no bioma Mata Atlntica, est localizado numa regioonde predomina a cultura caiara, surgida da miscigenao de europeus, indgenas e negros

    que habitam desde a bacia da Ilha Grande at o litoral paranaense nos costes rochosos,restingas, mangues e encostas da Mata Atlntica. Essa cultura se baseia na pesca, agriculturade subsistncia, artesanato e extrativismo vegetal, tendo desenvolvido ao longo do tempo umconhecimento aprofundado sobre o ambiente em que vivem (DIEGUES, 1988), alm de

    possurem tecnologias prprias, entre as quais est presente a construo de canoas artesanais.A habilidade no trabalho com madeira um trao marcante na cultura caiara, sendo

    verificado nas casas, canoas, barcos entre outros utenslios. A confeco de canoas emespecial uma arte muito particular desse povo, que retira as rvores da mata para produzirsuas embarcaes, e passam dias trabalhando no seu fabrico, devido ao emprego de tcnicasartesanais, adquiridas dos antepassados (VASCONCELOS, 2008).

    Dentro do municpio de Paraty, existem ainda comunidades afastadas em que o acesso feito por longas trilhas ou por meio martimo, que o caso da comunidade do Saco dasAnchovas. Esta comunidade vive sem o acesso aos servios das grandes cidades. Os

    moradores mais antigos desse recanto, que formado basicamente por membros de uma sfamlia, relatam que durante a poca, em que no possuam motores a combusto, as viagensat o centro comercial do municpio de Paraty levavam cerca de um dia e meio e eram feitasatravs de canoas a remo.

    Atualmente, o acesso ainda feito por longas trilhas ou pelo mar, o que coloca osmoradores ainda em condies semelhantes s de outrora. A atividade bsica dessesmoradores a pesca, que foi incrementada com a introduo do motor a combusto,

    possibilitando maior facilidade de transporte.Nesta comunidade, alguns pescadores constroem canoas de maneira artesanal

    (MONGE, 2008) utilizando os recursos florestais da regio atravs do conhecimento dasespcies locais e dos mtodos de construo aprendidos com os mais velhos e com a vivncia

    numa rea onde predomina a floresta ombrfila densa (VELOSO et al., 1991) e ainda se

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    encontram exemplares de grandes rvores nativas da Mata Atlntica como a Sapopema, oCedro e o Jequitib. Com isso, existe uma srie de variveis presentes no processo produtivo,envolvendo o saber em diversas reas do conhecimento como, por exemplo, a marcenaria e aidentificao de espcies florestais, ainda que de maneira informal.

    Para a realizao deste trabalho foi escolhida uma caracterstica comum destasespcies: o aspecto anatmico. As propriedades anatmicas da madeira possivelmentepossuem influncia no processo construtivo, na qualidade dessas canoas e nas suas partesestruturais j que so utilizadas empiricamente pelos pescadores.

    Uma espcie florestal necessita de certas caractersticas favorveis para construodas embarcaes, pois as mesmas precisam de madeiras com tamanho e densidade adequada,de fcil trabalhabilidade, de boa resistncia s intempries, resistncia ao ataque deorganismos xilfagos inclusive marinhos e de resistncia aos esforos fsicos-mecnicos.

    A partir da, pensou-se no potencial cientfico que poderia haver por trs da culturalocal, no que se refere qualidade e caractersticas anatmicas das madeiras utilizadas poreles para a confeco das ditas embarcaes. Observou-se tambm que a mesma comunidade

    havia sido objeto de outras pesquisas realizadas anteriormente, atravs de literaturaconsultada. Somado a isso, levou-se em considerao o fato de que um estudo desse tipo, s

    poderia ser concretizado com a ajuda de atores locais, o que no representou nenhumadificuldade, dada a condio do pesquisador possuir um bom relacionamento e ser bemconhecido dessas pessoas.

    Por fim, demonstrar resultados que reforassem a importncia da cultura local, poderiaapontar caminhos para a preservao desse patrimnio, presente em comunidades que aindano foram diretamente afetadas pelo desenvolvimento tecnolgico e pela urbanizao.

    1.1Objetivos1.1.1 Objetivo geral

    Descrever os aspectos construtivos de embarcaes artesanais e caracterizaranatomicamente as espcies Balizia pedicellaris e Tachigali denudata utilizadas naconstruo dessas embarcaes.

    1.1.2 Objetivos Especficos

    Descrever microscopicamente as espcies Balizia pedicellaris e Tachigalidenudata, mensurar os elementos anatmicos e comparar com as descriespresentes na literatura;

    Observar relaes anatmicas existentes entre as espcies utilizadas naconfeco dessas embarcaes.

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    2. REVISO DE LITERATURA

    2.1 Embarcaes artesanais

    O Brasil, desde os tempos da colonizao, despertou interesses pelo rico patrimniorepresentado por suas madeiras, que sempre desempenhou um papel de destaque. O nomeBrasil originou-se do pau-brasil (Caesalpinia echinataL., Leguminosae Caesalpinioideae),uma espcie abundante e muito explorada na Mata Atlntica durante a fase colonial(FONSECA et al., 2005).

    Outro autor, HUTTER (1985) estudou a importncia das madeiras brasileiras para oreparo, o abastecimento e a construo de embarcaes no perodo colonial. Relata aabundncia de madeira citada na histria e faz uma lista de diversas espcies utilizadas naconstruo naval neste perodo, inclusive de canoas. Na listagem de espcies uteis para a

    fabricao de canoas consta uma chamada de Timboba a qual no foi atribuda ao nomecientfico.

    Em outro trabalho CHAVES & ROBERT (2003), buscaram caracterizar os tipos deembarcaes, as artes e os procedimentos de pesca artesanal no litoral sul do Paran econstataram o uso de canoas com comprimentos de 6 a 10 m, algumas com motor de centroutilizadas principalmente a partir da dcada de setenta e construdas a partir de uma nica toraescavada.

    CLAUZET (2005) estudou a pesca artesanal em uma regio do municpio de Ubatubavizinho a Paraty, constatando que a populao local tambm utiliza canoas a remo e canoascom motor de centro, evidenciando o uso destas embarcaes nas atividades pesqueiras.Outros estudos apontam para os mesmos resultados como VIANNA & VALENTINI (2004) eBLANK et al.,(2009).

    BORGES (2007) fez um estudo etnobotnico na comunidade de Martim de S com aparticipao dos moradores incluindo os artesos, tendo como objetivo estudar oconhecimento etnobotnico dos moradores locais visando obter dados sobre como estdistribudo este conhecimento por gnero e idade, se realmente ele existe e quais plantas soutilizadas pela comunidade. Constatou diversas espcies e seus modos de utilizao pelosmoradores, desde uso medicinal at a construo de canoas. As trs espcies mais citadasnesta pesquisa foram: Sloanea obtusifolia (Moric.) K. Schum. (Sapopema), Scherolobiumdenudatum Vogel (Inga-amarelo) eBalizia pedicelaris (DC.) Barneby & Grimes (Timbuba).Tambm foi indicado o uso dessas trs espcies para a confeco de canoas, na qual duas

    destas espcies foram coletadas para o estudo anatmico.Martim de S tambm foi objeto de estudo de CAVALIERI (2003) que trabalhou oprocesso de reclassificao da Reserva Ecolgica da Juatinga (REJ) prevista pela lei queinstituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) em 2000. Segundo aautora, as comunidades da REJ sofreram forte especulao imobiliria com a chegada degrileiros a partir da dcada de cinqenta. Com o incio dos anos noventa, somados aos

    problemas fundirios surgiram conflitos ambientais devido criao da Unidade deConservao, restringindo atividades antes comuns para os moradores como, por exemplo, aretirada de madeira.

    SINAY (2002) fez uma rvore genealgica da famlia dos artesos comeando pelosseus avs, quando estudou o impacto do ecoturismo na praia de Martim de S, comunidade

    vizinha ao Saco das Anchovas. Observou que as canoas esto sendo substitudas por lanchas a

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    motor e a regio foi objeto de estudo por estar comeando o desenvolvimento do turismo,tendo assim iniciado um processo de impactos culturais em todas as comunidades presentesna regio.

    MONGE (2008) estudou trs comunidades na REJ, incluindo o Saco das Anchovas,

    tendo a participao dos mesmos artesos desta pesquisa. Essas trs comunidades ficamprximas umas das outras e os moradores pertencem basicamente mesma famlia. Oobjetivo do trabalho foi estudar a pesca com o uso de cerco flutuante em cada uma dessascomunidades contando com a participao destes trs pescadores. Tambm constatou o uso deembarcaes artesanais e sua importante funo na atividade da pesca.

    2.2 Anatomia da madeira

    De acordo com a grande utilidade que a madeira possui para o homem e com a intensacomercializao sofrida por ela para abastecer o mercado europeu durante o perodo colonial,

    buscou-se na identificao microscpica, o meio de fiscalizar esse tipo de comrcio, pelaverificao cientfica de sua autenticidade. Surgiu assim, o estudo em laboratrio dasmadeiras. A identificao da espcie tornou-se necessria, tambm para o reconhecimento darvore capaz de fornecer material lenhoso com as propriedades desejadas (FONSECA et al.,2005).

    Uma das grandes limitaes prticas da madeira a sua heterogeneidade, anisotropia evariabilidade. Estas diferenas podem ser atribudas s condies ecolgicas do local onde ovegetal cresce, localizao da amostra no tronco (altura, distncia da medula, posio doanel de crescimento), aos defeitos da madeira etc. (BURGER & RICHTER, 1991). Acomposio do lenho, a estrutura e a organizao dos seus elementos constituintes so osfatores que determinam as propriedades fsicas da madeira e a sua aptido para o uso

    comercial (ESAU1, 1959 apud BURGER & RICHTER, 1991).FONSECA et al., (2005) citam ainda alguns detalhes sobre a contribuio que a

    anatomia da madeira pode dar Cincia, por exemplo, na tecnologia, estabelecendocorrelaes entre as estruturas anatmicas e as propriedades fsicas da madeira. Suas

    possibilidades no se esgotam a, o que faz com que os autores sigam ilustrando de diversasmaneiras essas contribuies nos inventrios florsticos, na identificao botnica; naPaleontologia, onde fsseis de madeira podem ser identificados; em estudos filogenticos, nosmodernos sistemas de classificao que empregam caracteres anatmicos da madeira e, porfim, falam do uso adequado que as madeiras de lei ou madeiras nobres, utilizadas para aconfeco de peas que requerem fino acabamento ou para estruturas que resistem ao dotempo e do meio ambiente, como o caso da construo naval, objeto do presente estudo,representado aqui pelas canoas de um tronco s.

    2.3 Espcies Utilizadas na Construo das Embarcaes: Bali zia pedicell arise Tachigalidenudata

    A primeira espcie obtida com um dos artesos chamada pelos pescadores de Timbubae foi identificada como Balizia pedicellaris (DC.) Barneby & J. W. Grimes (Figura 2), dafamlia Fabaceae-Mimosoideae. Ela muito utilizada na regio devido ao seu grande porte e avasta ocorrncia, sendo fcil a localizao de exemplares em condies de uso. LORENZI

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    ESAU, E. 1959. Anatomia Vegetal. Barcelona: Omega. 729 p

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    (2002) relata que esta espcie ocorre preferencialmente no interior de matas primrias e decapoeires situados em terrenos de meia encosta, porm midos e de boa fertilidade. Suamadeira moderadamente pesada, de baixa resistncia mecnica, pouco durvel. Ela ainda

    pode ser utilizada para confeco de cabos de ferramentas, caixotaria, miolos de

    compensados, cepas de tamanco e brinquedos. Apesar de ser considerada de poucadurabilidade, ela muito usada na regio para a construo das canoas, confirmado por estapesquisa e tambm por MONGE (2008) e BORGES (2007).

    A espcie obtida com o segundo arteso conhecida entre os pescadores comoIng-Amarelo. Foi identificada como Tachigali denudata (Vogel) Oliveira-Filho (Figura 3) dafamlia Fabaceae-Caesalpinioideaeem contradio ao estudo de BORGES (2007), quando foichamada de Ing-ferro no mesmo local e pelos mesmos artesos. Esta espcie foi identificadacomo Sclerolobium denudatum. Porm estudos recentes sobre sistemtica de leguminosasdemonstraram que Sclerolobium deve ser tratado como sinnimo de Tachigali (SILVA &LIMA, 2007), porque se tratam da mesma espcie. Segundo LORENZI (2008), Tachigalidenudata uma espcie caracterstica da floresta pluvial da encosta atlntica, podendo ocorrer

    at o alto da Serra do Mar a altitudes de 800 metros. Ocorre preferencialmente no interior dafloresta primria densa e menos freqentemente em formaes secundrias. Sua madeira considerada moderadamente pesada com densidade de 0,63 g/cm3e suas principais utilidadesso a fabricao de mveis, o uso interno em construo civil, principalmente paraacabamentos (rodaps, molduras), moures, esteios, confeco de pequenas canoas, dentreoutros. Este trabalho confirma a utilidade para a fabricao de canoas, embora a embarcaoaqui estudada seja de mdio porte possuindo sete metros de comprimento indo ao encontrodos resultados encontrados por MONGE (2008) quando de sua pesquisa sobre o a pesca comrede de cerco flutuante realizada na mesma comunidade.

    Figura 2.Balizia pedicellaris

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    Figura 3. Tachigali denudata

    3. MATERIAL E MTODOS

    3.1 Caracterizao do local de estudo

    O trecho do litoral chamado de Saco das Anchovas, local escolhido para a realizaodo presente trabalho, foi palco de muitas vivncias realizadas pelo autor da pesquisa, que fezvrias viagens tursticas ao lugar. L se pde observar que a populao fazia suas prpriasembarcaes, de maneira artesanal, utilizando os recursos naturais da regio.

    O trabalho foi desenvolvido em uma comunidade caiara localizada na Reserva

    Ecolgica da Juatinga, no municpio de Paraty, RJ, criada pelo Decreto Estadual n. 17.981,de 30 de outubro de 1992, com o objetivo de preservar o ecossistema local, composto porremanescentes florestais da Mata Atlntica, restingas, manguezais e costes rochosos(BORGES, 2007). Esta denominada de Saco das Anchovas e situa-se a 2318' S e 44 33' W(Figuras 4 e 5).

    Paraty consta com 78% de sua formao vegetal original, sendo o segundo municpiodo estado que apresenta maior cobertura originria remanescente (SOS Mata Atlntica/INPE2009). A Floresta Atlntica brasileira um dos ambientes naturais mais ameaados domundo. Esta floresta cobre as terras altas e baixas ao longo da costa brasileira tornando a o

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    quarto hotspot mais importante em termos de biodiversidade do mundo (Myers2et al., 2000apud BORGES, 2007). A comunidade se encontra em uma unidade de conservaodenominada Reserva Ecolgica da Juatinga, conta com aproximadamente 8.000 hectares eest inserida na APA do Cairuu.

    O clima da regio tem caractersticas tropicais midos (supermido), Af naClassificao de Kppen, com pouco ou nenhum dficit de gua, mesotrmico, comtemperaturas mdias anuais por volta de 26C e 27C. No h perodo seco definido e aumidade relativa do ar permanece em torno de 80% durante o ano todo (FIDERJ, 1978). Avegetao predominante a de Floresta Ombrfila Densa (VELOSO et al., 1991), acomunidade voltada para mar aberto e tem ao fundo a serra do mar.

    Figura 4. Comunidade caiara do Saco das Anchovas (crculo amarelo).

    2

    MYERS, N.; MITTERMEIER, R. A.; MITTERMEIER, C.G.; FONSECA, G.A.B; KENT, J. Biodiversityhotspots for conservation priorities. Nature,v. 403, p. 853-858, 2000.

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    Figura 5. Vista panormica da praia de Martim de S com a comunidade do Saco dasAnchovas em destaque.

    3.2 Coleta das amostras e levantamento do processo construtivo das Embarcaes

    Um pr-requisito para a realizao de uma abordagem bem sucedida que opesquisador conhea a comunidade e a populao que esto sendo estudadas (JORGE &MORAIS, 2002). Como dito anteriormente o autor deste trabalho tem feito viagens tursticasregularmente na regio desde 2004, observando o potencial para o desenvolvimento de

    pesquisas cientficas, voltadas neste caso para a anatomia da madeira. Atravs dessa vivnciafoi criada a amizade entre o autor e os pescadores locais que sero tratados como artesos

    para a finalidade da pesquisa. Esse fato facilitou a realizao da pesquisa alm de ser iniciadoum pr-campo j observando os tipos de embarcaes utilizadas, seu processo construtivo etambm quem domina essa arte naquela localidade.

    A coleta de informaes se deu atravs de conversas informais com os moradores at

    se chegar aos artesos que poderiam fornecer o substrato principal desta pesquisa: a madeirautilizada por eles, objeto do presente estudo.O trabalho de campo propriamente dito foi feito atravs de uma visita comunidade

    no ms de agosto do ano de 2009, com durao de sete dias, onde os moradores conhecidospor construir canoas artesanalmente foram procurados. Foram encontrados dois irmos,conhecidos mestres nesta arte de carpintaria, que aprenderam essa prtica com seu pai quetambm conhecido em toda a regio. Com o consentimento deles, visitou-se o local ondecada um construa sua canoa. Dessa maneira, foi possvel coletar amostras das madeirasutilizadas para o estudo anatmico e observar o processo construtivo das mesmas.

    Com o primeiro arteso, foi feita uma caminhada pela mata at o local em que estavaconstruindo duas canoas consideradas por ele mesmo como pequenas. As duas provinham de

    uma nica rvore, recm cada naturalmente, da espcie chamada por eles de Timbuba. As

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    duas embarcaes ainda se encontravam na mata, no local onde a rvore tinha cado,esperando um maior acabamento para serem levadas para a costa. No local foi coletado um

    pedao da madeira, retirada da prpria rvore, para a realizao do estudo anatmico, queconsistia numa amostra bruta de 100 cm3 aproximadamente. Aps essa etapa, o arteso

    indicou uma planta jovem da mesma espcie, chamada tambm por Timbuba, que ficavaprximo a sua casa, da qual foi coletado um ramo para posterior identificao botnica.Com o segundo arteso, foi feita uma visita ao local onde estava finalizando a

    construo de outra canoa, de uma madeira conhecida na regio como Ing Amarelo. Esta seencontrava na costa esperando o conserto de algumas rachaduras que ocorreram durante o

    processo construtivo. Havia pedaos da madeira espalhados pelo local, de onde foi coletadauma amostra de tamanho similar ao da Timbuba. Para a coleta de um ramo que possibilitassea identificao botnica, foi feita uma caminhada, por uma trilha mata adentro, que duroumeia hora, orientada pelo pai desses artesos.

    Durante todo o trabalho, foram realizadas conversas informais, no sentido de seobter informaes acerca do processo construtivo das canoas, dos nomes das partes estruturais

    destas, as espcies por eles utilizadas e suas funes quando esto em uso.O trabalho de campo teve um total de 40 horas, antes de se passar para a etapa de

    preparao das lminas.

    3.3 Preparo das Lminas

    O material foi processado no Laboratrio de Anatomia da Madeira do Departamentode Produtos Florestais da UFRRJ, onde foram secas ao ar livre durante 60 dias. Aps este

    perodo, de acordo com orientao de BURGER & RICHTER (1991), foram retiradas daspeas de madeira pequenos blocos de 1,5 cm de face transversal por 2 cm de face longitudinal

    radial e tangencial perfeitamente orientada.Aps o corte dos blocos estes foram cozidos em uma soluo de gua e glicerina

    (4:1) para atingir o amolecimento desejado. A amostra de Timbuba foi cozida durante 20minutos enquanto que a do Ing Amarelo demorou 30 minutos para atingir o amolecimentonecessrio.

    Os cortes foram feitos por um equipamento de secionar preciso, o micrtomo dedeslize, onde foram fixados para obteno das sees histolgicas finas (espessura 14-16m)dos trs planos. As sees obtidas foram separadas das lminas do micrtomocom auxlio deum pincel molhado e foram colocadas em placas de Petri contendo soluo conservante decorpos-de-prova. Os cortes histolgicos foram separados por plano de corte e espcie sendoarmazenados sob refrigerao at a colorao.

    As sees foram ento clarificadas atravs da imerso em gua sanitria de 2 a 3minutos, em seguida lavadas com gua destilada (trs vezes). Aps a lavagem foramadicionadas cinco gotas de cido actico para neutralizar a gua sanitria e ento os cortesforam lavados novamente com gua destilada (trs vezes).

    Depois da etapa de descolorao, foram imersas no corante safrablau (70% de azulde Astra e 30% de safranina) por cerca de 20 minutos e lavadas em gua destilada no final.Foram deixadas tambm sees naturais (sem descolorir e sem corante) para montagem dealgumas lminas.

    Todos os cortes passaram pela desidratao alcolica que a ltima etapa antes damontagem das lminas que consiste na passagem das sees por uma srie alcolica crescente

    (50%, 60%, 75%, 100%). Posteriormente as sees foram selecionadas e com auxlio de um

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    bisturi, as possveis imperfeies das bordas dos cortes foram corrigidas. Foi usada uma pinapara montar as sees em lminas de vidro, usando a resina Entelan, de maneira a conter ostrs planos de corte em cada lmina. Aps trs dias foi feito o procedimento de limpeza daslminas deixando-as prontas para a anlise da estrutura microscpica do lenho.

    Para o processo de macerao, segmentos do lenho foram transferidos para tubos deensaios com soluo macerante (cido actico glacial e gua oxigenada 120 vol.), levados emestufa a 60 C por 48 horas sendo em seguida lavados em gua corrente. As clulasdissociadas foram coradas com safranina e montadas em lminas temporrias com glicerina. Foram feitas dez lminas histolgicas, sendo oito coradas e duas naturais e cincolminas provisrias de macerados para cada espcie. Essas lminas foram utilizadas paradescrio anatmica das espcies e mensurao do comprimento, espessura da parede,dimetros externo e interno das fibras, comprimento, freqncia e dimetros das pontuaesdos vasos. Na Tabela 1encontram-se listados o nmero total desses elementos anatmicos.

    Todas as lminas, inclusive a do macerado, foram estudadas morfologicamente atravs deum microscpio OLYMPUS CX-40acoplado a uma cmera. O SoftwareAnalysis Get itfoi o

    sistema de analise de imagens utilizado para captar as imagens digitais microscpicas nos trsplanos de corte e tambm no macerado. Para a avaliao das dimenses foi utilizado oSoftware Cellfe a descrio da estrutura microscpica do lenho das espcies foi conduzida deacordo com as normas do IBAMA (1991).

    Tabela 1. Indicao dos parmetros celulares, material utilizado para confeco das lminas enmero de repetio.

    Parmetros UnidadeLocal demedio

    N Repeties

    Comprimento da fibraDimetro externo da fibraDimetro interno da fibraEspessura de parede da fibraComprimento dos vasosDimetro tangencial dos vasosFreqncia dos vasosDimetro das pontuaes inter-vascularesAltura dos raios

    Freqncia dos raios

    mmmmmm

    Vasos/mm2mm

    Raios/mm

    MaceradoMaceradoMaceradoMaceradoMacerado

    TransversalTransversalTangencialTangencialTangencial

    3030303025

    10025

    10010030

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    4. RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Histrico, usos e processo construtivo das embarcaes artesanais

    As embarcaes estudadas so chamadas de canoas e so feitas a partir de um nico

    tronco sendo conhecidas tambm por canoas de um tronco s (Figura 1). Este tipo deembarcao utilizado desde a poca da pr-colonizao, pelos ndios, e sofreu pequenasmodificaes ao longo do tempo. Nos sculos passados, a canoa tinha papel importante naeconomia pesqueira e era utilizada tambm como meio de transporte, inclusive entre osmoradores da regio que vai da baa da Ilha Grande at o litoral paranaense, locais onde seencontram as canoas utilizadas pela cultura caiara. Naquele tempo, no existia o motor acombusto e quando o mesmo passou a existir, no primeiro momento, era invivel

    economicamente. Durante este perodo, tambm era mais fcil se conseguir rvore de grandedimetro para a confeco de uma canoa de grande porte.Atualmente, esse tipo de embarcao no mais to utilizado e tambm cada vez

    menor o nmero de pescadores que as constroem. Como conseqncia, esta arte est seperdendo, tendo em vista que esta passada atravs das geraes de forma oral. Existemdiversas restries para a prtica da atividade de construo artesanal de embarcaes, dentreelas algumas impostas pela legislao em vigor, por se tratar espcies ocorrentes em MataAtlntica, alm da dificuldade de obteno de grandes rvores, o que faz diminuir o interessedas novas geraes em dar continuidade construo deste tipo de embarcao, segundorelato dos prprios moradores.

    Na comunidade estudada, a canoa tem papel importante nas etapas de pesca j que naregio usada tcnica artesanal para esse tipo de atividade, com cerco flutuante, a qualnecessita de visitas dirias para conferir as capturas. Essa visita ao cerco feita com canoas de

    pequeno a mdio porte com cinco a sete metros de comprimento, de propulso feita comremos. J as canoas utilizadas para transporte, tanto de peixes como de materiais, possuemmotor de centro com comprimento que varia de sete a dez metros (MONGE, 2008). Noestudo aqui proposto, os resultados vo ao encontro dos mesmos apontados por esse autor.

    BORGES (2007) realizou trabalho etnobotnico na mesma comunidade, tambm comos mesmos pescadores artesos entrevistados, e constatou que as espcies que eles utilizam

    para confeco das canoas so a sapopema (Soanea obtusifolia), o cedro (Cedrela fissilis), ojequitib (Cariniana estrellensis), a timbuba (Balizia pedicellaris) e o Ing ferro(Sclerolobium denudatum). Outras espcies podem ser utilizadas para a confeco de tbuasutilizadas nas canoas ou em barcos, como o ip-amarelo (Tabebuia serratifolia) e o ip-roxo(Tabebuia heptaphylla). Neste estudo, atravs da conversa com os artesos, obteve-se omesmo resultado, j que citaram as mesmas espcies, porm uma contradio ocorreu,considerando que os artesos citaram o Ing ferro como uma espcie que eles no utilizam

    para a confeco dessas embarcaes e sim, o Ing-amarelo, que citado aqui.Contraditoriamente, essas duas espcies foram identificadas como a mesma indicando anecessidade de confirmao dos nomes vulgares utilizados pelos artesos.

    Dentre as espcies aqui descritas, a Timbuba (Balizia pedicellaris) foi indicada comoa mais utilizada para a confeco das embarcaes, principalmente devido vasta ocorrnciadessa espcie na mata (Figura 6). Porm, esse no o nico critrio utilizado para a escolha

    das espcies. No caso da Timbuba, ela utilizada preferencialmente para canoas de pequeno

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    e mdio porte, embora partes estruturais como a cabea, feita desta espcie, possam ser

    utilizadas em canoas de grande porte.

    Figura 6. Canoa de um tronco s, da espcie Timbuba no prprio local em que a rvore foiabatida.

    O processo construtivo feito de maneira artesanal e envolve toda a comunidade emcerto momento. Os artesos escolhem as rvores de acordo com algumas variveis, dentre elasa espcie (que deve ser de boa qualidade e tamanho adequado para este fim), o local ondeesto localizadas (levando em conta a dificuldade do acesso) e a vitalidade da rvore, j que

    preferem exemplares que esto mortos ou morrendo devido facilidade de corte e tambmpela prpria forma de manejo sustentado, praticado pelos pescadores.

    Aps a escolha das espcies, as rvores so abatidas com o auxlio de motosserras.Eles contam que nas dcadas passadas o corte era feito com machado e que o abate poderialevar at um ms dependendo do porte da rvore.

    O desdobro inicial do tronco feito no mesmo local. Com isso o peso da madeira

    diminui possibilitando o arraste da canoa at prximo da costa. Esta etapa chamada depuxada e toda a famlia e outros membros da comunidade ou de localidades prximas sochamados para ajudar, fazendo com que este se torne um evento de integrao entre osmoradores (MONGE, 2008). Novamente aqui, constatou-se a mesma prtica entre osmoradores da comunidade estudada.

    Com a canoa em um local apropriado comea a ser realizado o seu acabamento finalque pode utilizar outras partes estruturais alm do tronco principal, dependendo da finalidadede uso ou do porte da embarcao (Figura 7). Para o acabamento final so utilizadasferramentas comuns de marcenaria como, por exemplo, formes, machado, serrote, nvel,trenas etc.

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    Figura 7.Canoa de Ing-amarelo recebendo acabamento junto costa, por dos um artesos.

    O processo de construo de uma canoa bastante demorado j que um processoartesanal. Uma canoa pode levar mais de um ano para ser construda considerando quegeralmente esse processo no continuo. Segundo relatos dos prprios artesos, aps cadaetapa existe um perodo de descanso que pode durar meses, j que a construo demandamuito desgaste fsico. A pesca tambm interfere no tempo de execuo do trabalho porquetem preferncia em relao s outras atividades, fazendo com que a confeco dessas canoasfique sujeita a sazonalidade.

    A canoa caiara composta basicamente por um nico tronco, porm as de maior

    porte possuem partes adicionais que so colocadas no processo de acabamento. Estas peaspodem ser da mesma rvore do corpo da canoa, ou ainda de outra espcie dependendo dadisponibilidade do material (Figura 8). As principais peas acopladas posteriormente so: acabea, que colocada na proa e na popa da embarcao que pode ser da mesma espcie do

    tronco principal ou de outras dependendo da disponibilidade, j que esta pea sempreretirada da mata; a bordadura ou borda falsa que um aumento das paredes laterais dacanoa e geralmente so feitas a partir de tbuas compradas em serraria, mencionadas pelosartesos como, cedrinho (Erisma uncinatum) e garapa (Apuleia leiocarpa); para o leme, quetambm obtido em serraria, utiliza-se geralmente a madeira de maracatiai e pequi

    (Aspidospermasp.) segundo os prprios. comum durante a confeco das embarcaes a ocorrncia de rachaduras no corpoda canoa. No processo de acabamento, essas falhas so reparadas com pedaos de madeiras da

    prpria espcie do corpo principal ou ainda decorrente de outras dependendo dadisponibilidade de material, da mesma forma que ocorre com as demais peas citadasanteriormente (Figura 9).

    Uma canoa de grande porte (> 7 m) geralmente possui motor, e pode receber umapequena cabine feita com compensado naval para abrigar o condutor da embarcao e umestrado no fundo para melhor acomodao dos materiais carregados. Os moradores maisvelhos relatam que at pelo menos a metade do sculo XX era comum a existncia de canoas vela j que no possuam motor naquele tempo.

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    Figura 8. Principais partes estruturais das embarcaes: A. Cabea;B. Cabea acoplada popa; C. Cabea acoplada proa; D. Canoa com motor de centro mostrando oacabamento da popa e do leme.

    Figura 9. Reparo feito na proa de embarcao em fase de acabamento.

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    4.2 Descrio anatmica

    Atravs da descrio microscpica obtiveram-se os dados quantitativos (Tabelas 2 e 3)e qualitativos das caractersticas anatmicas das espcies Balizia pedicellaris e Tachigali

    denudata , descritos a seguir e ilustrados de acordo com as fotomicrografias. Os dados foramconfrontados com as descries presentes na literatura e tambm entre as espcies estudadas.

    4.2.1 Bali zia pedicell aris

    Camadas de crescimento: Distintas, evidenciadas pelo achatamento radial das fibras e maiorespessamento de suas paredes no lenho tardio.

    Vasos:porosidade difusa; arranjo dos vasos radial, agrupamento solitrio, frequncia mdiade 2 vasos/mm2 , dimetro tangencial mdio do lume de 204 m, com seoarredondada, comprimento mdio de 518 m(Figura 10), com apndice presente emuma parte, ocasionalmente em ambas as partes (Figura 11B), placas de perfurao

    simples; tilos ausentes, pontuaes intervasculares alternas, estendidas,ornamentadas, dimetro tangencial 4 m; pontuao raio-vasculares e parnquimo-vasculares similares s intervasculares.

    Fibras: Comprimento mdio de 1494 m, dimetro mdio de 26 m, lume de 18 m, paredesdelgadas a espessas (Figura 12 A).

    Parnquima-axial: paratraqueal, vasicntrico e confluente ocorrendo em menor proporoaliforme e confluente, seriado, cristais.

    Parnquima Radial: cerca de 7 raios/mm, principalmente unisseriados, bisseriados(ocasionais), homocelulares, procumbentes, altura mdia de 147 m.

    Tabela 2. Dados da mensurao anatmica daBalizia pedicellaris.

    Elementos de Vaso Mnima Mdia Mximo CV %

    Freqncia de vasos (vasos/mm2)Dimetro de vasos (m)Comprimento de vasos (m)Dimetro das pontuaes intervasculares (m)

    182

    3282

    2204518

    4

    32787206

    39231717

    Fibras Mnima Mdia Mximo CV%

    Comprimento das fibras (m)Dimetro externo das fibras (m)Espessura da parede das fibras (m)Lume das fibras (m)

    1064213

    12

    1494264

    18

    212735628

    14141822

    Raios Mnima Mdia Mximo CV%

    Frequncia de raios (raios/mm)Altura dos raios (m)

    568

    7147

    11240

    2729

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    A B

    C D

    Figura 10. Planos de corteBalizia pedicellaris; A. Plano transversal natural no aumento de4x; B. Plano transversal com aumento de 4x; C. Plano tangencial, aumento 10x;D. Plano radial aumento 10x.

    Figura 11.Vasos de Timbuba (10x): A. Com um apndice, B. com apndices em ambas aspartes.

    A B

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    Figura 12. Fibras de Timbuba: A. aumento de 40x; B. aumento de 4x.

    4.2.2 Tachigali denudata

    Camadas de crescimento: Indistintas.Vasos: porosidade difusa; arranjo dos vasos radial, agrupamento geralmente solitrio,

    frequncia mdia de 4 vasos/mm2, dimetro tangencial mdio do lmen de 181 m,com seo arredondada, comprimento mdio de 574 m (Fig.13), com apndice

    presente em uma parte, ocasionalmente ambas as partes (Fig.14), placas de perfuraosimples; tilos ausentes, pontuaes intervasculares alternas, arredondadas, dimetrotangencial 7 m; pontuao raio-vasculares e parnquimo-vasculares similares sintervasculares.

    Fibras: Comprimento mdio de 1228 m, dimetro mdio de 18 m, lume de 7 m, paredesdelgadas a espessas (Fig.15).

    Parnquima-axial: paratraqueal, vasicntrico e confluente, ocorrendo em menor proporoaliforme e confluente, seriado, presena de leo resina abundante.

    Parnquima Radial: cerca de 9 raios/mm, principalmente unisseriados, bisseriados(ocasionais), homocelulares, procumbentes, altura mdia de 161 m.

    A B

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    Tabela 3. Dados da mensurao anatmica da Tachigali denudata.

    Elementos de Vaso Mnima Mdia Mximo CV%

    Freqncia de vasos (vasos/mm2)Dimetro de vasos (m)Comprimento de vasos (m)Dimetro das pontuaes intervasculares (m)

    21032794

    4181574

    7

    825795410

    29162716

    Fibras Mnima Mdia Mximo CV%

    Comprimento das fibras (m)Dimetro externo das fibras (m)Espessura da parede das fibras (m)Lume das fibras (m)

    9411243

    12281857

    1521241015

    13193148

    Raios Mnima Mdia Mximo CV%

    Frequncia de raios (raios/mm)Altura dos raios (m)

    663

    9161

    12363

    1832

    A B

    C D

    Figura 13. Planos de corte Tachigali denudata: A. Plano transversal natural no aumento de4x B; Plano Transversal com aumento de 4x; C. Plano Tangencial, aumento 10x;

    D. Plano Radial, aumento 10x.

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    Figura 14.Vasos de Ing-amarelo: A e B (Aumento de 10x).

    Figura 15. Fibras de Ing-amarelo: A. aumento de 40x; B. aumento de 4x.

    4.2.3 Anlise das estruturas anatmicas

    O estudo anatmico evidenciou algumas caractersticas qualitativas semelhantes entrea descrio anatmica dessas espcies na literatura e nesta pesquisa. A descrio da

    B.pedicellarisfoi confrontada com BARROS et al.2001 e a T. denudata foi comparada com adescrio para o gnero Sclerolobium (sinnimo botnico do gnero Tachigali) segundoMAINUERI & CHIMELO (1989). Em relao ao quesito quantitativo, ocorreram pequenasvariaes evidenciando certa heterogeneidade dessas variveis possivelmente decorrentes dascaractersticas ecologias do local ou da localizao da amostra no tronco, considerando quenem mesmo dois pedaos de madeira da mesma espcie so absolutamente iguais (BURGER& RICHTER, 1991).

    Os caracteres anatmicos mais importantes das madeiras de B. pedicellaris eT.denudata tm ocorrncia generalizada na famlia leguminosa e atestam um alto grau deespecializao filogentica. Dentre estes, se incluem placas de perfurao simples, as

    pontuaes intervasculares alternas e ornamentadas, o parnquima paratraqueal e o tipo fibra

    A B

    A B

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    libriforme. Estes caracteres so fartamente referidos pela literatura anatmica comoconstantes no lenho desta famlia botnica (CARNIELETTO & MARCHIORI, 1993).

    Em ambas as espcies aqui descritas, os resultados qualitativos contemplam asmesmas estruturas citadas anteriormente. MARCHIORI (1993) ressalta ainda a ocorrncia de

    elementos vasculares e raios homogneos na famlia botnica em pauta, o que tambm ficouevidenciado no presente estudo.Ocorreram pequenas diferenas nos dados quantitativos entre as espcies (Figuras 16 e

    17). Em relao mdia T. denudata possui maior comprimento, dimetro das pontuaesintervasculares e freqncia de vasos/mm2, bem como, maior altura dos raios, freqncia dosraios/mm e espessura da parede das fibras quando comparada a B. pedicellaris. J para oscaracteres dimetro tangencial dos vasos, comprimento, dimetro externo e do lmen dasfibras estes foram maiores em B. pedicellaris.

    Em relao ao coeficiente de variao observa-se que tanto T. denudata quanto B.pedicellaris possuem coeficiente de variao maior que 20% para os caracteres anatmicosfreqncia, comprimento dos vasos, espessura da parede das fibras, lume das fibras e altura

    dos raios, indicando que existe uma alta variao nos valores mensurados dentro de cadacaractere. Comportamento inverso foi detectado para dimetro dos vasos e das pontuaesinter-vasculares, comprimento e dimetro externo das fibras e freqncia dos raios (apenas

    para T. denudata) o coeficiente de variao foi abaixo de 20%, indicando maiorhomogeneidade dos valores mensurados dentro de cada caractere (Figura 17).

    Com base no grfico da Figura 17 observa-se que T. denudata apresentou maiorcoeficiente de variao para comprimento dos vasos; espessura da parede, dimetro externo edo lume das fibras, bem como, altura dos raios, indicando maior variao nesses caracteresquando comparado aB. pedicellaris. J para freqncia, dimetro tangencial dos vasos e das

    pontuaes inter-vasculares, bem como, comprimento das fibras e freqncia dos raios amaior heterogeneidade observada emB. pedicellaris.

    Dentre os caracteres quantitativos, a diferena mais marcante entre as espcies foi apresena abundante de leo resina na T. denudata e as camadas de crescimento indistintas.NaB. pedicellaris no foi observado este tipo de composto alm de se observar as camadas decrescimento e cristais.

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    1

    10

    100

    1000

    10000

    vasos/mm

    vasos(m)

    Comp.vas

    os(m)

    pont

    .intervascular

    es(m)

    Comp.fib

    ras(m)

    externo

    dasfibras(m)

    Esp.paredefibr

    as(m)

    Lumefib

    ras(m)

    raios/m

    m

    Altura

    dosraios(m)

    T. denudata

    B. pedicellaris

    Figura 16. Comparao entre as mdias (escala logartmica) referentes aos caracteresanatmicos da madeira deB. pedicellaris e T. denudata. (dimetro).

    0

    20

    40

    60

    Frequ

    nciadevasos vasos

    Comp

    .vasos

    pont

    .interv

    asculares

    Comp

    .fibras

    externo

    dasfibra

    s

    Esp.paredefibra

    s

    Lumefibra

    s

    Fr.deraio

    s

    Altura

    dosraios

    T. denudata

    B. pedicellaris

    Figura 17. Comparao entre o coeficiente de variao, referentes aos caracteres anatmicosda madeira deB. pedicellaris e T. denudata. (dimetro).

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    5. CONCLUSES

    A partir dos dados obtidos conclui-se que:

    1. As embarcaes artesanais so utilizadas como meio de locomoo, nas atividadesrelacionadas pesca, como frete podendo levar diversos materiais ou objetos, nalocomoo entre comunidades e para o lazer. Alm de possurem o tronco principal

    podem conter outras partes estruturais provenientes de espcies distintas. Estasembarcaes esto cada vez menos presentes na regio que abrange a cultura caiara;

    2. As espcies B. pedicellaris e T. denudata apresentam algumas caractersticasanatmicas semelhantes decorrentes da especializao filogentica da famlia botnicaa que pertencem e seus caracteres quantitativos e qualitativos correspondem com asdescries presentes na literatura;

    3. B. pedicellaris se diferencia anatomicamente de T. denudata, pela ausncia de leo-resina e por possuir cristais e camadas de crescimento distintas;

    4. Atravs do estudo realizado foi possvel observar que ambas as espcies possuem oparnquima paratraqueal vasicntrico o que lhes confere menor peso e provavelmentemaior trabalhabilidade. Outro fato que tambm refora essas caractersticas a

    presena de fibras com dimetro de lume elevado. Agora no que diz respeito durabilidade provvel que a presena de leo-resina na T. denudata e a presena decristais na B. pedicellaris atuem evitando o ataque de organismos xilfagos

    principalmente as brocas marinhas. Dentre a presena de cristais e do leo-resina

    possvel que o segundo possua maior carter de proteo considerando que asembarcaes confeccionadas a partir da T. denudata possuem maior durabilidadequando comparada com B. pedicellaris segundo os artesos. Portanto pode-se dizerque essas caractersticas constituem um critrio anatmico que justifiquetecnologicamente a escolha das espcies para a produo deste tipo de embarcao.Com estudos mais aprofundados sobre estes parmetros, envolvendo maior nmero deespcies possvel a obteno de praticamente todas as variveis que venham aconferir maior qualidade, durabilidade e trabalhabilidade, possibilitando a escolha dasespcies atravs da anatomia da madeira.

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