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ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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Agradecimentos
Agradeço ao Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural do Instituto Superior de
Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa e em especial ao Professor Doutor Fernando Oliveira
Baptista pelo apoio e disponibilidade manifestada em todo o momento.
Pelas mesmas razões agradeço ao Departamento de Economia, Sociologia e Políticas
Agrárias da Universidade de Córdoba.
Os todos os membros dos dois departamentos, apresento a minha gratidão pela simpatia e
apoio que sempre prestaram em relação à minha pessoa e ao trabalho que realizava.
Ao Eng.º Fernando Lourenço do Instituto Superior de Agronomia de Lisboa que me dispensou
carinho, afecto e amizade durante a estadia em Lisboa e durante a realização do trabalho.
A todos os responsáveis e técnicos das diferentes instituições que de forma directa e indirecta
facilitaram ou participaram na recolha das informações e dos dados estatísticos, apresento os meus
agradecimentos.
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RESUMO
Um conjunto de factores e de medidas a nível nacional e internacional e a evolução recente
das economias, indicam que está em curso um profundo processo de reestruturação, reespecialização e
adaptação dessas economias à escala nacional e transnacional. As medidas de aplicação integram-se
no âmbito da compatibilização das políticas macroeconómicas que têm como uma das finalidades
principais facilitar a circulação dos recursos e do capital, e a sua operação em igualdade de condições
nos diferentes países.
O equilíbrio entre a competitividade e a manutenção do estado de bem estar na Europa
constitui um dos principais dilemas da política económica comunitária e a nível dos estados-membros,
sobretudo quando os novos cenários económicos enfrentam economias com políticas sociais muito
diferenciadas de outros continentes.
Estes e outros aspectos estão a imprimir transformações qualitativas nas economias
europeias. Existem um conjunto de novos elementos que têm cada vez uma maior importância nas
políticas económicas, seja devido aos efeitos e externalidades, positivas e negativas que lhes estão
associados, como por consequência de importantes transformações que se verificam nas sociedades.
Este trabalho tem como objectivo contribuir, através do caso do Alentejo, para o debate sobre
os processos de desenvolvimento territorial e analisar se as actuais estratégias, públicas e privadas,
conduzem os territórios e as respectivas economias a situações de maior ou menor equidade e/ou de
coesão territorial. Como elemento integrante da análise, estudam-se os actuais processos de
especialização das economias e os fenómenos de localização sectorial no contexto da globalização
económica e da internacionalização dos sectores produtivos e dos mercados. As transformações que se
estão a operar no meio rural e no sector agrário e que se enquadrem no âmbito destes objectivos
constituem o centro da investigação.
O argumento principal do trabalho defende que existe e existirá, no espaço do Mercado Único,
um processo de concentração da acumulação nos sectores económicos com tecnologias mais
avançadas que se localizam cada vez mais em redor dos grandes eixos de desenvolvimento económico
europeu e que consolidarão um padrão dominante de acumulação à escala transnacional. Como
corolário, assistir-se-á a uma redefinição da divisão internacional do trabalho que poderá localizar
determinadas actividades e/ou de funções produtivas nas periferias para o aproveitamento de
determinadas vantagens comparativas, geralmente relacionadas com os recursos naturais e/ou com
posições estratégicas.
Este cenário poderá redefinir o tecido económico e social das periferias concretizado, por um
lado, pela especialização em actividades de alguma forma associadas com os padrões de acumulação
internacionalizados e, por outro lado, por meio do aprofundamento das relações externas. Para o efeito,
as periferias deverão estar funcionalmente articuladas com os centros e com as actividades económicas
aí localizadas, e deverão operar segundo lógicas que permitam a consolidação do referido padrão de
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acumulação. Paralelamente, configurar-se-ão nas periferias padrões de acumulação secundários que
desenvolverão actividades económicas e sociais para criar emprego e para garantir níveis de rendimento
que legitimem política e socialmente o modelo económico global. Neste contexto, pretende-se apresentar
os possíveis sistemas agrários com possibilidades competitivas no quadro dos novos espaços
económicos e estudar as alternativas que estão em curso no sentido de aproveitar os recursos locais e
as especificidades regionais, sejam na produção de bens como de serviços.
Para alcançar estes segundos objectivos, os poderes públicos possuem um conjunto de
programas e de acções que estimulam a participação directa das administrações locais e procuram
incentivar a iniciativa através de estímulos económicos positivamente discriminatórias. Estes processos
possuirão importantes diferenças segundo as regiões, assim como as estratégias púbicas e privadas
serão diferentes em função da heterogeneidade do espaço económico europeu.
Para o efeito, o trabalho apresenta-se estruturado em quatro capítulos. Cada capítulo divide-se
em secções. O primeiro capítulo, QUADRO TEÓRICO, apresenta e defende as hipóteses da
investigação no contexto das diferentes teorias relacionadas com o objecto do estudo. O capítulo dois,
EVOLUÇÃO RECENTE DA ECONOMIA ALENTEJANA, faz uma análise das tendências actuais dos
principais sectores económicos da região no âmbito do quadro teórico. O terceiro capítulo,
ESTRATÉGIAS E PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O ALENTEJO, apresenta algumas
das actuais estratégias seguidas pelos sectores público e privado e que possíveis tendências se podem
prever no âmbito do desenvolvimento intra-regional, principalmente no que respeita aos processos de
concentração e especialização territorial e sectorial da economia alentejana. O objectivo central deste
capítulo é o de apresentar um conjunto de reflexões que possam contribuir para o debate e eventual
definição das estratégias de desenvolvimento regional. Finalmente, faz-se uma CONCLUSÃO, na qual se
procura responder às hipóteses da investigação.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO — JUSTIFICAÇÃO E OBJECTIVOS ................................................................................ 7
1. JUSTIFICAÇÃO E OBJECTIVOS ..................................................................................................... 9
2. METODOLOGIA .............................................................................................................................. 11
3. FONTES .......................................................................................................................................... 12
CAPÍTULO I — QUADRO TEÓRICO ....................................................................................................... 15
1. OS PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE .............................................................................................. 17
2. QUADRO GERAL DE REFERÊNCIA ............................................................................................ 19
3. AS POLÍTICAS REGIONAIS NA CEE E NA UE ............................................................................. 24
4. A NOVA PAC .................................................................................................................................. 26
5. RESUMO ......................................................................................................................................... 32
CAPÍTULO II — EVOLUÇÃO RECENTE DA ECONOMIA ALENTEJANA ............................................. 35
1. O ALENTEJO NO CONTEXTO PORTUGUÊS E COMUNITÁRIO .................................................. 37
2. BREVE CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO RECENTE DA ECONOMIA ALENTEJANA .............. 41
2.1 - Pontos de partida .................................................................................................................. 41
2.2 - Recursos naturais e indústria extractiva ............................................................................... 43
2.3 - Indústria transformadora ....................................................................................................... 46
2.4 - Turismo ................................................................................................................................. 51
2.5 - O sector agrário alentejano ................................................................................................... 53
a) A agricultura alentejana .................................................................................................... 53
b) A indústria agro-alimentar (IAA) ........................................................................................ 60
3. POPULAÇÃO E EMPREGO ........................................................................................................... 63
4. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ACTIVIDADES ECONÓMICAS .................................................. 70
CAPÍTULO III -ESTRATÉGIAS E PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O ALENTEJO ... 79
1. PERSPECTIVAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO ALENTEJO ............................................. 81
1.1 - Considerações gerais .............................................................................................................. 81
1.2 - Algumas reflexões sobre o desenvolvimento do Alentejo ........................................................ 83
1.3 - Possíveis cenários da agricultura alentejana — aspectos gerais ............................................ 86
2. NECESSIDADE DE ESTRATÉGIAS E DE POLÍTICAS COMBINADAS ......................................... 88
Conclusão ............................................................................................................................................... 93
Bibliografia .............................................................................................................................................. 99
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INTRODUÇÃO
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1. JUSTIFICAÇÃO E OBJECTIVOS
Um conjunto de factores e de medidas a nível nacional e internacional e a evolução recente
das economias, indicam que está em curso um profundo processo de reestruturação, reespecialização e
adaptação dessas economias à escala nacional e transnacional. No que respeita à Europa e em
particular às suas agriculturas e ao meio rural, destacam-se as seguintes:
- A entrada em vigor do Mercado Único Europeu no âmbito da formação da União
Económica e Monetária.
- A aplicação das directivas da Nova PAC.
- A implementação gradual das recomendações da Ronda de Uruguay.
- Os múltiplos acordos de comércio preferencial, particularmente com os países do
Magreb, com o Cornosul e com as economias do Leste da Europa.
Este conjunto de medidas integra-se no âmbito da compatibilização das políticas
macroeconómicas à escala transnacional, que têm como finalidade facilitar a circulação dos recursos e
do capital, e a sua operação em igualdade de condições nos diferentes países. Este aspecto é
considerado como um dos elementos centrais das actuais políticas económicas e têm como objectivos
os seguintes:
- Ampliar os mercados e a reprodução ampliada do capital para permitir um processo de
crescimento económico estável e de longo prazo.
- Dar maior capacidade competitiva às economias.
- Criar condições para a geração de emprego.
- Manter o estado de bem estar.
O equilíbrio entre a competitividade e a manutenção do estado de bem estar na Europa
constitui um dos principais dilemas da política económica comunitária e a nível dos estados-membros,
sobretudo quando os novos cenários económicos enfrentam economias com políticas sociais muito
diferenciadas. Estes e outros aspectos estão a imprimir transformações qualitativas nas economias
europeias. Em consequência, muitos pressupostos e modelos, teóricos e práticos, a nível macro e micro,
estão sendo reestudados. Existem um conjunto de novos elementos que têm cada vez uma maior
importância nas políticas económicas, seja devido aos efeitos e externalidades, positivas e negativas que
lhes estão associados, como por consequência de importantes transformações que se verificam nas
sociedades.
Este trabalho tem como objectivo principal contribuir, através do caso do Alentejo, para o
debate sobre os processos de desenvolvimento territorial e analisar se as actuais estratégias, públicas e
privadas, conduzem os territórios e as respectivas economias a situações de maior ou menor equidade
e/ou de coesão territorial. Como elemento integrante da análise, estudam-se os actuais processos de
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especialização das economias e os fenómenos de localização sectorial no contexto da globalização
económica e da internacionalização dos sectores produtivos e dos mercados. As transformações que se
estão a operar no meio rural e no sector agrário e que se enquadrem no âmbito destes objectivos
constituem o centro da investigação. Concretamente, pretende-se responder às seguintes perguntas:
- Aspectos gerais:
* O Alentejo experimentou durante os últimos anos um desenvolvimento convergente
ou divergente em relação a Portugal e comparativamente com outras regiões da
União Europeia?
* O crescimento interno conduz o Alentejo a um maior ou menor equilíbrio, seja
territorial, como sectorial e social?.
* Como se caracterizam os actuais processos de especialização da economia regio-
nal?. Como se enquadra esta especialização no quadro das novas divisões do
trabalho à escala europeia?.
- A partir deste quadro geral estudam-se os seguintes aspectos referentes ao sector
agrário e ao meio rural:
* Como evoluiu a agricultura durante os últimos anos?.
* Qual a capacidade competitiva da agricultura alentejana?.
* Em função das actuais políticas e estratégias, públicas e privadas, quais são os
cenários previsíveis para a agricultura e para o meio rural da região?.
* As acções em curso permitem ao meio rural cumprir com as suas novas funções?.
A hipótese principal da investigação defende que existe e existirá, no espaço do Mercado
Único, um processo de concentração da acumulação nos sectores económicos com tecnologias mais
avançadas que se localizam cada vez mais em redor dos grandes eixos de desenvolvimento económico
europeu e que consolidarão um padrão dominante de acumulação à escala transnacional. Como
corolário, se assistirá a uma redefinição da divisão internacional do trabalho que poderá localizar
determinadas actividades e/ou de funções produtivas nas periferias para o aproveitamento de
determinadas vantagens comparativas, geralmente relacionadas com os recursos naturais e/ou com
posições estratégicas.
Este cenário poderá redefinir o tecido económico e social das periferias concretizado, por um
lado, pela especialização em actividades de alguma forma associadas com os padrões de acumulação
internacionalizados e, por outro lado, por meio do aprofundamento das relações externas. Para o efeito,
as periferias deverão estar funcionalmente articuladas com os centros e com as actividades económicas
aí localizadas, e deverão operar segundo lógicas que permitam a consolidação do referido padrão de
acumulação. Paralelamente, configurar-se-ão nas periferias padrões de acumulação secundários que
desenvolverão actividades económicas e sociais para criar emprego e para garantir níveis de rendimento
que legitimem política e socialmente o modelo económico global. Neste contexto, pretende-se apresentar
os possíveis sistemas agrários com possibilidades competitivas no quadro dos novos espaços
económicos e estudar as alternativas que estão em curso no sentido de aproveitar os recursos locais e
as especificidades regionais, sejam na produção de bens como de serviços.
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Para alcançar estes segundos objectivos, os poderes públicos possuem um conjunto de
programas e de acções que estimulam a participação directa das administrações locais e procuram
incentivar a iniciativa através de estímulos económicos positivamente discriminatórios. Estes processos
possuirão importantes diferenças segundo as regiões, assim como as estratégias púbicas e privadas
serão diferentes em função da heterogeneidade do espaço económico europeu.
Para o efeito, o trabalho apresenta-se estruturado em quatro capítulos. Cada capítulo divide-se
em secções. O primeiro capítulo, QUADRO TEÓRICO, apresenta e defende as hipóteses da investigação
no contexto das diferentes teorias relacionadas com o objecto do estudo. O capítulo dois, EVOLUÇÃO
RECENTE DA ECONOMIA ALENTEJANA, faz uma análise das tendências actuais dos principais
sectores económicos da região no âmbito do quadro teórico. O terceiro capítulo, ESTRATÉGIAS E
PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA O ALENTEJO, apresenta algumas das actuais
estratégias seguidas pelos sectores público e privado e que possíveis tendências se podem prever no
âmbito do desenvolvimento intra-regional, principalmente no que respeita aos processos de
concentração e especialização territorial e sectorial da economia alentejana. O objectivo central deste
capítulo é o de apresentar um conjunto de reflexões que possam contribuir para o debate e eventual
definição das estratégias de desenvolvimento regional. Finalmente, faz-se uma CONCLUSÃO, na qual se
procura responder às hipóteses da investigação.
2. METODOLOGIA
Existem várias metodologias e formas de cálculo para medir os níveis de especialização e de
concentração das economias, para avaliar as desigualdades entre regiões (García Greciano, 1993), para
quantificar o grau de “periferização” regional (Comisión, 1987), para a obtenção de índices sintéticos de
várias regiões (Comisión 1987), entre outras. Neste trabalho, devido às dificuldades encontradas nas
fontes de informação, optou-se por analisar apenas os níveis de especialização e de concentração
produtiva, um dos objectos centrais da investigação. Considera-se que uma região i está especializada
num sector S, comparativamente com um determinado outro território t, quando a relação entre Si/Ei e St/Et
for superior a 1. S é o PIB do sector considerado e E o PIB do conjunto da economia do território com o qual
se pretende comparar. Para o estudo da concentração foram adoptados os seguintes critérios: número de
concelhos/zonas/sectores que aglutinam 25%, 50% e em alguns casos 75% do valor da produção e/ou do
volume de vendas, e/ou do valor acrescentado, e/ou do emprego, e/ou do rendimento, etc., de um
determinado sector ou produto.
O estudo da evolução recente da economia alentejana (Capítulo 2) foi realizado com base nas
seguintes variáveis e aspectos mais importantes:
- Evolução de algumas macro-magnitudes e comparação com os mesmos indicadores a
nível nacional e para o conjunto da União Europeia, especialmente as seguintes: PIB,
rendimento per capita, emprego, e alguns indicadores sócio-económicos, de infra-
estruturas e de equipamentos sociais.
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- Evolução dos principais sectores na economia regional e comparação com os mesmos
indicadores relativos a Portugal e à União Europeia, com o objectivo de analisar os níveis
e a natureza da especialização produtiva regional.
- O estudo dos sectores económicos mais importantes de cada região centrou-se na
análise dos processos de concentração territorial e sectorial assim como na evolução de
alguns indicadores produtivos e de emprego. Referem-se de forma sintética algumas das
razões, especialmente os de política económica, que justificam as evoluções
apresentadas.
Na secção 5 do Capítulo 2, foram utilizados os conceitos de “concelhos com economias
dinâmicas”, “pouco dinâmicas”, e “com crise profunda” para comparar o dinamismo das economias dos
concelhos alentejanos durante os últimos anos, considerando as seguintes variáveis: evolução
demográfica; densidade populacional; evolução e peso dos concelhos na produção dos sectores mais
importantes da região; importância dos concelhos no conjunto dos serviços regionais, públicos e
privados; e, integração dos territórios nas vias de comunicação com saldos de tráfego positivos. Os
critérios de classificação são referidos no texto.
O capítulo III apresenta algumas reflexões de carácter geral sobre as possíveis estratégias e
políticas de desenvolvimento do Alentejo.
O presente estudo tem como unidade territorial de base o concelho. Considerando a
metodologia e os objectivos pretendidos, pode-se considerar que a análise efectuada, em muitos dos
seus elementos, necessitaria de um aprofundamento para tornar os resultados mais rigorosos,
sobretudo nos aspectos relacionados com os processos de concentração/desconcentração do
desenvolvimento.
3. FONTES
O volume, as séries e a acessibilidade às fontes condicionaram as metodologias utilizadas. As
principais fontes consultadas foram as seguintes:
- Trabalhos publicados sobre o Alentejo.
- Documentos das instituições, púbicas e privadas, da região e da União Europeia.
- Estatísticas oficiais, tanto das instituições especializadas (por exemplo do INE e INIA),
como das instituições regionais (principalmente da CCRA).
As principais dificuldades encontradas foram as seguintes:
- Ausência de estatísticas regionais referentes às contas nacionais, cujos indicadores são
de grande importância para a metodologia e para os objectivos da investigação.
- Diferenças importantes dos dados estatísticos segundo as instituições fornecedoras das
mesmas (em alguns casos são referidos no texto).
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- As mudanças verificadas na divisão administrativa, especialmente a inclusão de antigos
concelhos de Setúbal na NUT Alentejo Litoral.
- Em consequência da baixa densidade do tecido económico alentejano, existem muitos
casos em que o segredo estatístico não permite uma análise mais desagregada de
alguns sectores produtivos afectando, deste modo, os totais sectoriais.
Existiram alterações de nomenclatura, como por exemplo, nas estatísticas agrícolas, a
utilização dos conceitos de Valor Bruto da Produção, Produto Final e o Valor da Produção Final.
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CAPITULO I
QUADRO TEÓRICO
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1. OS PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE
Este trabalho foi realizado partindo dos pressupostos seguintes:
- Que o recente contexto internacional e europeu estão introduzindo novas lógicas e critérios
supra-nacionais na planificação, nos modelos de desenvolvimento comunitário e na
afectação de recursos, tanto ao nível da administração como nas empresas.
- Consideram-se como realidade de fundo, os processos de aplicação de programas de
ajustamento estrutural com o objectivo de cumprir com os indicadores de convergência de
Maastricht.
- Que os actuais modelos de crescimento consideram o sector externo como uma das
principais estratégias para a dinamização e reactivação económica.
- O mercado, a inovação tecnológica e a competitividade das empresas e dos territórios
constituem os eixos centrais das políticas económicas, crescentemente compatibilizadas à
escala europeia. Esta é a hipótese principal dos actuais modelos de crescimento.
Apresentam-se a seguir de forma sintética cada um destes pontos. Primeiro, o debate entre a UE
como União de Estados ou como uma organização supra-nacional que concentrará cada vez maiores
segmentos de decisão política e, portanto, reduzirá de forma crescente a soberania dos estados-membros,
é frequentemente ultrapassado pelos factos1: a futura moeda única, o Banco Europeu, a formação do euro-
exército, a política externa e de segurança comuns, a cidadania europeia, entre muitos outros aspectos,
indicam uma tendência a largo prazo em favor da segunda opção. Deste modo, muitas das políticas,
actuações e racionalidades na afectação de recursos públicos a nível da UE e das grandes empresas
europeias, encontram coerência quando são analisadas dentro do espaço territorial comunitário e no
contexto das políticas económicas cada vez mais compatibilizadas entre os estados-membros. A Comissão
Europeia funciona, deste modo, na maioria das ocasiões, como uma administração à escala supra-nacional
e procura, em principio, a eficácia das suas actuações neste nível territorial.
Segundo, o processo de convergência europeia obriga os países do Sul da Europa à aplicação
de políticas restritivas mais severas com o objectivo de reduzir os desequilíbrios macroeconómicos e
cumprir os requisitos para a entrada na terceira fase da UEM. Existe consenso entre as diferentes correntes
de pensamento, que a uniformidade e o equilíbrio das macro-magnitudes de cada um dos estados-
membros, são condições necessárias para a compatibilização eficiente das políticas económicas, para o
funcionamento pleno do MU, para a entrada em vigor da moeda única, entre outros aspectos do programa
da terceira fase de construção da UE.
Os pontos de vista não convergentes, criticam o facto de que os indicadores da economia real
(o crescimento económico, o PIB per capita, as reformas estruturais, a inovação tecnológica, o nível de
1 O debate entre os europeístas optimistas com as forças que pretendem reformas nos objectivos e nas actuais regras defuncionamento da Comissão e com as forças contrárias à UE, é amplo e com muitas variantes. Neste trabalho considera-se que a UE seguirá o seu rumo com reforço para a burocracia de Bruxelas. Naturalmente que este percurso não serálinear e que poderão existir entradas e saídas temporárias e definitiva de países, assim como se poderão rever alguns dosobjectivos e prazos actualmente existentes. Considera-se também que dentro da burocracia da UE existem interessesmuito distintos e que estes estão desigualmente representados (no caso da agricultura este aspecto é evidente), o que sereflecte nas políticas.
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vida e de bem estar, as desigualdades regionais e sociais, etc.), são pouco consideradas pela burocracia
comunitária. Acrescentam que para alguns países, entre os quais España e Portugal, os ajustamentos
obrigam a custos sociais muito elevados.
Por outro lado, considera-se que os critérios de convergência nominal facilitam a poupança e o
investimento e, seguindo a sequência da lógica neoclássica, o investimento aumentará assim como o
crescimento económico e o emprego e, portanto, haverá uma melhoria no nível de vida dos cidadãos.
Deste modo, pode-se deduzir que o bom comportamento macroeconómico facilita a convergência real,
principalmente através da modernização e do aumento da competitividade empresarial que, por sua vez,
voltará a facilitar a convergência nominal. A questão importante é conhecer os ritmos de ambos os
ajustes, considerando que as economias possuem períodos de recuperação mais ou menos longos
assim como existem momentos de rigidez económica introduzidas por distorções de mercado, por
alguma legislação económica e por intervenções não acertadas do poder público.
Para outros autores, estas políticas restritivas, através dos cortes nos orçamentos públicos, do
controle da oferta monetária e das taxas de juro que lhes estão associadas, dificultam a aplicação de
medidas tendentes a imprimir maiores ritmos de crescimento para gerar emprego e reduzir as
desigualdades regionais. Segundo Delgado Cabeza (1995:97), “a convergência entendida nos termos
referidos pelo Bundesbank, isto é, em termos estritamente monetários, equivale para as periferias
europeias a políticas restritivas contrárias às actuações necessárias para resolver os problemas reais e
que as situam de novo em posições de partida desvantajosas para enfrentar o desafio do mercado
único”.
Terceiro, o mercado exterior surge como uma das estratégias para a ampliação do capital a partir
do incremento da procura que possibilita o aproveitamento das economias de escala e de aglomeração.
Este princípio considera que a procura interna aumentará muito pouco, sobretudo devido à necessidade da
contenção salarial e dos cortes nos gastos públicos, dois dos elementos considerados como importantes
nestes processos de ajustamento. Além disso, a solução da crise está concebida considerando,
principalmente outras duas estratégias: a partir da produção, através da diversificação e diferenciação da
oferta e, a segunda, muito debatida, a partir da procura, por meio de políticas de redistribuição dos
rendimentos no âmbito da consolidação do estado de bem estar.
No contexto da crescente liberalização dos mercado internacionais, a globalização é já o quadro
estratégico das grandes empresas. Um conjunto de factos verificados na década dos 80 e princípios dos
anos 90, permitiram e facilitaram a expansão do capital, o incremento do comércio e a relocalização de
determinadas actividades produtivas. Destacam-se as seguintes (ESECA, 1992): a redução dos custos de
transportes e das comunicações; a uniformização internacional dos processos produtivos e das
características dos produtos; as novas tecnologias que permitem a desintegração vertical; a sub-contratação
e a descentralização de diversas fases produtivas, flexibilizando a produção e permitindo uma maior
adaptação dos mercados crescentemente diferenciados.
Quarto, para Zuñiga e Cañada (1994), os principais factores de competitividade analisada
segundo uma perspectiva sistémica são as relações do mercado, a inovação tecnológica e o meio
ambiente. A competitividade é o objectivo central das políticas públicas e das estratégias privadas, cuja
política económica reforça-se no quadro geral dos pressupostos liberais (plasmados na actual síntese
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neoclássica2). Finalmente e relacionado com este aspecto, o trabalho parte da hipótese principal que na
Europa configura-se um padrão dominante de acumulação crescentemente concentrado nos eixos mais
desenvolvidos da Comunidade, com ramificações para as periferias e que as restantes actividades formam
padrões de acumulação secundários, territorialmente localizados, mas de alguma forma articulados com o
dominante. A maioria dos sectores e territórios não competitivos serão gradualmente marginalizados e serão
necessárias medidas públicas para evitar e/ou reduzir os efeitos e as externalidades negativas, sociais e
ambientais3.
2. QUADRO GERAL DE REFERÊNCIA
Os avanços na construção da União Europeia, particularmente o Mercado Único, a Nova Política
Agrária Comum, as recomendações do GATT, o processo de liberalização das economias da Europa de
Leste e dos países em desenvolvimento, e as conquistas tecnológicas e organizativas da economia,
obrigam a reformulações teóricas e à redefinição das políticas e das estratégias, públicas e privadas.
No que respeita ao sistema agro-alimentar, Green (1992), afirma que a reestruturação do sector
assentará em três eixos teóricos fundamentais: (1) Na teoria da inovação tecnológica; (2) Na teoria da
organização industrial; e, (3) Nas teorias espaciais da economia. Nesta mesma linha, Rodríguez-Zuñiga e
Cañada (1994) definem como os principais factores de competitividade no novo contexto europeu, os
seguintes4: (1) As novas relações com o mercado; (2) Os programas I&D e a organização; e (3) O meio
ambiente.
Com a ampliação dos espaços depois da eliminação (à escala europeia) e redução (à escala
internacional) dos mecanismos proteccionistas, as regiões, os sectores e as empresas relacionadas com o
modelo dominante de acumulação, procurarão a conquista de novos mercados para o aproveitamento das
suas economias de escala e para garantir uma reprodução mais ampliada do capital5. Este processo conduz
2 Esta corrente de pensamento combina os princípios neoclássicos e pós-keynesianos e possui como pressupostofundamental que "o rendimento é determinado no sector despesa, mas depende das taxas de juro que, por sua vez,fixa o sector monetário em função do rendimento; os preços dependem do nível da procura efectiva" (Rodero yBarroso, 1991). As políticas e os instrumentos actualmente mais aplicados demonstram claramente o predomíniodesta corrente de pensamento dentro dos poderes políticos e das burocracias, destacando-se ainda, a importanteinfluência das correntes monetaristas definidas pelos bancos centrais.3 Existirão sectores e territórios que durante estes processos e por diferentes razões, adquirirão novas capacidadescompetitivas. As transformações da procura e as acções do lado da oferta podem alterar as relações de competitividade.Admite-se assim o principio da dinamicidade dos conceitos e das respectivas realidades representadas.4 Para um maior aprofundamento sobre o conceito e os factores de competitividade a vários níveis (macroeconómico,sectorial e/ou estrutural, empresarial e territorial), veja-se por exemplo, ESECA (1992), Molina Sanchez (1993), JorgeJordana (1993 e 1994) e Fernando Ramos (1995). Sobre os factores de competitividade na agricultura veja porexemplo Barceló, Compés e Avellá (1991), Ceña Delgado (1992) e Vázquez Duarte (1995). Sobre os factores decompetitividade no novo contexto do sistema agro-alimentar europeu, veja San Juan Mesonada (1991), Barceló,Compés y Avellá (1991), Langreo (1992), Green (1992), Jordana (1993 y 1994), Zuñiga y Canada (1994) e FernandoRamos (1995).5 É conhecido que existe uma grande solvência financeira nas grandes empresas transnacionais do sistema agro-alimentar. Este facto acrescido aos grandes excedentes de produtos agrários e alimentares, à ampliação dos mercados àescala europeia e à existência de mercados imperfeitos e oliglopolistas do lado da oferta, facilitará uma concorrênciaselvagem nos mercados de produtos agro-alimentares, com efeitos que poderão ser dramáticos para as economiasmais débeis (Ministério da Agricultura, 1993).
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à globalização das economias e ao incremento da concentração da acumulação, marginalizando as
unidades produtivas que não estejam em condições de ser integradas na expansão desses capitais.
Neste processo configurar-se-á uma nova divisão internacional do trabalho à escala comunitária
e mundial, com a tendência dominante para a concentração produtiva e a especialização das actividades,
gerando novos processos de divergência e/ou de convergência intra e entre os territórios. As empresas
concentram as funções estratégicas de desenvolvimento (comando, investigação, desenho, etc.) nos eixos
centrais do desenvolvimento europeu e localizam as funções produtivas nos espaços onde, por razões
diversas, podem obter maiores vantagens competitivas, no centro e/ou nas periferias 6.
A este propósito, existe um vasto e divergente debate sobre as políticas e as estratégias de
desenvolvimento regional. Os neo-keynesianos indicam a necessidade da intervenção do Estado para
corrigir as distorções do mercado. Myrdal (1957), “argumentava que o livre jogo das forças do mercado
alimentava processos de causação circular acumulativa, que estimulava o desenvolvimento nos centros e,
em menor grau, nas periferias” em De Mattos (1993). Myrdal assinalava “como tais disparidades eram
maiores e tinham a tendência a aumentar nos países com um menor nível de desenvolvimento ...” em Martín
Reyes, García Lizana e Fernández Morales (1995:30). A conhecida teoria acumulativa de Myrdal referia que
as regiões mais avançadas beneficiavam-se de um duplo processo acumulativo: por um lado, o crescimento
inicial atrai a imigração aumentando a procura de consumo que exigia novos investimentos, o que originava
um novo aumento da procura; as economias de escala e de aglomeração assim como as inovações que
acompanham os investimentos aumentam a competitividade e a produtividade o que atrai a procura externa,
aumentando as exportações, repetindo-se o processo (ESECA, 1992).
Regra geral, as diferenças regionais internas estão presentes em todos os países, mas com
maior importância nos menos desenvolvidos. François Perroux (1955), faz uma análise semelhante
referindo-se sobre as consequências da expansão da grande indústria ologlopólica moderna -e, dos
complexos industriais que se formavam em volta dela - que mostravam como os impactos sobre uma
economia culminavam com a formação de pólos de crescimento, cuja gravitação também rectro-
alimentava processo de crescimento territorialmente desiguais” em De Mattos (1993).
Os autores neoclássicos consideram, por uma parte, que a primazia urbana é um fenómeno
inerente às fases iniciais de desenvolvimento e, por outra parte, que é vantajoso na medida que
maximiza as economias de aglomeração. Com o tempo, ao aumentar os rendimentos per capita, as
desigualdades inter-regionais tendiam a diminuir, seguindo uma evolução do tipo U invertido de
Williamson, J.G.(1965), ou no mesmo sentido, a que afirma que com um maior desenvolvimento se
alcançaria uma distribuição mais equitativa das cidades conforme o seu tamanho”. Argumenta-se assim
que serão as políticas globais, as que na sua função reguladora do mercado permitirão assegurar a
melhor distribuição territorial da produção, do emprego, e da população ... Só excepcionalmente se
justifica uma abordagem territorial para a gestão pública e, se necessário, os instrumentos a utilizar
deveriam ser compatíveis com o mercado, De Mattos (1993:97, 98 y 99)7. A concentração e
6 É interessante observar se a redução dos mecanismos proteccionistas reconduzem as economias para as suas"especializações tradicionais" que foram distorcidas por políticas internas intervencionistas.7 Para uma leitura resumida das diferentes teorias de desenvolvimento regional, veja em Curbelo (1990), ESECA(1992), Martín Reyes, García Lizana y Fernández Morales (1995), além dos autores mais representativos nesta áreade conhecimento (Myrdal, Perroux, Kuznets, etc). O trabalho de ESECA faz referência a alguns critérios quantitativos equalitativos para medir as diferenças de desenvolvimento regional.
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especialização produtiva criam, além dos processos de crescimento económico diferenciados,
comportamentos diversos das variáveis económicas em cada região e estabelecem novas relações de
troca, novos fluxos de recursos e aceleram os ritmos destas trocas e fluxos8.
Em cada uma destas regiões, geram-se e/ou aceleram-se actividades e fluxos internos
relacionados directa e indirectamente com os fluxos supra-regionais e com o modelo de acumulação
crescentemente centrado nos países do centro. De Mattos (1993:91), ao analisar a experiência da
intervenção pública nos investimentos que tinham como objectivo reequilibrar o desenvolvimento regional
observa que “as políticas de integração territorial mediante a construção de infra-estruturas de
transportes e comunicações - em principio destinadas a favorecer uma maior dispersão territorial das
actividades produtivas e da população - ao não ser acompanhadas por um maior crescimento da
produção e do emprego nas regiões periféricas, terminaram por estimular fluxos migratórios para os
subsistemas do centro”.
Nestes processos, vastas regiões, muitos sectores económicos e crescentes percentagens de
população ficam marginalizados em diferentes graus do modelo dominante de acumulação. O crescimento
desigual cria novas periferias, hierarquizadas entre elas, que neste caso, por razões económicas e não
económicas, deverão estar funcionalmente articuladas com os centros de desenvolvimento de modo a
permitir níveis de coesão social e territorial que legitimem o modelo dominante e as políticas económicas.
Deste modo, as periferias serão cada vez mais os mercados que estimulam o crescimento a partir da
procura e deverão produzir a baixos custos no quadro da especialização produtiva. Para o efeito, é
necessário aumentar os rendimentos familiares da periferia e, do lado da oferta, considera-se importante
que a especialização produtiva seja resultante da afectação dos recursos pelo mercado.
As actividades destas zonas, ou estão de alguma forma articuladas com o modelo de
acumulação dominante, ou subsistem e são fomentadas através de políticas e programas públicos e com
diferentes graus de participação privada de pequena e média dimensão. Os casos mais graves indicam que
em vastas zonas europeias existe um processo de marginalização e de desconexão importantes; nestas
condições, poucas alternativas existem aos programas assistencialistas e aos subsídios de determinadas
actividades, como forma de evitar o seu total despovoamento e desertificação.
Neste contexto, as acções em curso nas zonas periféricas da Europa demarcam-se segundo as
estratégias seguintes:
- O incremento da modernização e da produtividade nos sectores que, por circunstâncias
diversas, possam ter vantagens competitivas. Regra geral, estas actividades pertencem
maioritariamente aos sectores primários (agricultura e actividades extractivas - minas e
pescas), alguns sectores industriais e sectores de serviços (portos, transportes, turismo,
etc.). A permanência a longo prazo destas características estruturais podem induzir estas
regiões ao aprofundamento da especialização nos sectores primários para exportação e à
aceleração dos processos de terciarização vinculadas a procuras exógenas.
8 Na realidade, os fluxos de recursos, a especialização produtiva, a concentração territorial e sectorial das actividades,a concentração social dos rendimentos, a desarticulação do tecido económico nas suas relações inter-sectoriais, aseparação entre a produção e o consumo e outros fenómenos económicos são acelerados com o MU, mantendo, emgrande parte dos casos, as características "tradicionais" das estruturas económicas. O MU ao permitir a livrecirculação de recursos e ao reduzir o papel regulador das administrações, aceita a concretização mais rápida dosefeitos do mercado, positivos e negativos.
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- As acções financiadas pelos fundos de coesão territorial possuem como objectivo central a
construção de infra-estruturas (considerando o sentido amplo do termo), para facilitar a
circulação dos recursos e para a criação de condições competitivas regionais.
- As actividades relacionadas com o desenvolvimento rural e local9, que pretendem gerar
economias de pequena escala que contribuam para a solução (ou pelo menos para a
redução) dos principais problemas de meio rural e das zonas industriais e mineiras em
declive. O desemprego, a manutenção dos rendimentos familiares e do nível de vida,
principalmente por meio da prestação de serviços públicos, as actividades relacionadas com
o meio ambiente e a conservação dos recursos naturais, são aspectos importantes que
justificam, desde o ponto de vista não estritamente económico, as iniciativas da UE e dos
estados-membros dirigidos às zonas de objectivo 1, 2, ... 5b y 6.
Isto é, o desenvolvimento desigual e a crescente concentração das actividades relacionadas com
a hipótese principal do modelo (a modernização, o mercado e a competitividade), cria efeitos e
externalidades negativas, sociais e ambientais, que necessitam de hipóteses auxiliares com o objectivo de
internalizá-las no modelo ou de reduzir ditos efeitos e externalidades (a que correspondem os programas de
coesão e as iniciativas e fundos relacionados com as zonas desfavorecidas). Por outras palavras, a
concentração da acumulação, para ser coerente e legitimada, deverá estar acompanhada do
desenvolvimento de periferias funcional e fisicamente articuladas com o centro e com níveis de
desenvolvimento global que lhes permita desempenhar eficientemente a suas funções no quadro da nova
divisão de trabalho.
O papel do Estado continua sendo, nos fins do século XX, um dos temas com menos consenso
no âmbito das ciências sociais. Neste trabalho somente se faz referência a algumas reflexões directamente
relacionadas com o tema em estudo. As funções do Estado concentram-se, primeiro, na criação de
condições para que o capital, as empresas e os fluxos de recursos operem e circulem sem obstáculos num
ambiente macroeconómico favorável, isto é, em economias com baixa inflação, sem desequilíbrios nos
principais balanços económicos, com políticas semelhantes (principalmente as políticas monetária e fiscal),
com quadros jurídicos compatíveis e onde as administrações possuam cada vez menos influência nos
mercados. Estes são os objectivos da construção das grandes redes de infra-estruturas de transportes, de
comunicações e de energia no contexto do mercado único e dos critérios de convergência.
Por outro lado, as administrações procuram, neste contexto liberalizador, manter o estado de
bem estar, o que implica a necessidade de conciliar os critérios de eficiência e de equidade. Conforme foi
anteriormente referido, o equilíbrio entre eficiência e equidade deve ser analisada no contexto da
configuração de espaços articulados dentro de uma determinada divisão de trabalho.
Existiu um amplo debate desde a década dos 50 sobre os dilemas e/ou as complementaridades
entre crescimento e equidade (ou não equidade) social e regional, nas diferentes fases do desenvolvimento
e em diversas realidades. Dentro da teoria neoclássica, existem correntes dominantes, mas cada uma delas
com importantes diferenças no que respeita aos factores de crescimento. Uma delas defende que o
crescimento exige uma certa desigualdade inicial para poder existir um processo de igualação (desigualdade
9 Existe uma ampla y recente bibliografia sobre estes temas. Como exemplo, destacam-se os trabalhos seguintes:Baptista (1993a), Etxezarreta (1988 y 1995), Grupo Seilac (1993), Hervieu (1993), Mosca y Ramos (1995), Pisani(1994), Pérez Yruela y Giménez Guerrero (1994), Reis (1994), Ramos y Romero (1993 y 1995).
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→ crescimento → igualdade); outra argumenta que o “crescimento realiza-se acompanhado de um
incremento substancial da desigualdade, a qual se reduzirá ou pela própria dinâmica do processo ou pela
actuação dos poderes públicos, só em etapas relativamente avançadas” (Martín Reyes, García Lizana y
Fernández Morales, 1995:29).
Na primeira situam-se as contribuições de Lewis, Rostow, Hirshmann entre outros. A teoria do
U de Kuznetes (crescimento → desigualdade → mecanismos exógenos ou endógenos de correcção →
igualdade), é talvez a obra mais emblemática da segunda corrente. Os estudos empíricos demonstram
as mais variadas realidades: refutam ou confirmam a totalidade ou parte da hipótese do U, por exemplo,
somente existe a contrastação do braço esquerdo do U, isto é, que existiu crescimento a partir da
desigualdade mas que ainda não se tinha iniciado o processo da igualação, ou ao contrário, nos casos
em que existiu crescimento simultaneamente que se verificaram processos de igualação (o trabalho
anteriormente referido de Martín Reyes, García Lizana y de Fernández Morales faz um resumo de
numerosos casos empíricos).
Como em muitos temas, é importante introduzir a análise diferenciada entre o curto e o longo
prazo e, neste sentido, as divergências entre as diferentes teorias reduzem-se, considerando que a longo
prazo ambos os objectivos seriam complementares e estão presentes nos modelos de crescimento. A curto
prazo podem ser independentes na medida em que o crescimento não garante necessariamente a redução
da pobreza (a menos que se as políticas sejam estabelecidas especificamente com tal fim ou que se
articulem medidas expressas para isso). Chenery (1980), por outro lado, entende que o crescimento pode
ser uma condição necessária para melhorar a situação desde o ponto de vista da equidade, mas não
suficiente” (Martín Reyes, García Lizana y Fernández Morales, 1995:38).
As correntes inspiradas em Keynes refutam um conjunto de princípios das teorias
neoclássicas, sobretudo no que respeita ao princípio de que o crescimento depende da poupança,
defendendo que a “equidade estimula o crescimento, o que não significa que a não equidade iniba
necessariamente o crescimento”. Na realidade podemo-nos deparar com diferentes posições, que vão
desde a complementaridade em termos absolutos (donde existe uma correspondência directa entre não
equidade → não crescimento e equidade → crescimento), até a situações diversas que poderíamos
classificar de semi-complementaridade, na qual actua como elemento dominante o crescimento ou a
equidade, teoricamente com todas as posições intermédias imagináveis " (Martín Reyes, García Lizana y
Fernández Morales, 1995:40).
Deve-se salientar que os documentos da UE e dos estados-membros utilizam principalmente o
conceito de coesão e não o de equidade. No quadro do presente enquadramento teórico e no contexto
das hipóteses deste trabalho, interpreta-se o objectivo da coesão económica e social, como a existência
de uma situação de estabilidade e/ou a utilização de mecanismos que preservem ou que pretendam
alcançar essa estabilidade política e social (ou, nos casos mais graves, que mantenham as crises a baixa
intensidade), e que garantam uma funcionalidade económica e uma conexão física entre os territórios de
modo a legitimar política e socialmente as políticas vigentes dentro de um estado de bem estar e de
forma que as periferias cumpram as suas funções no contexto das novas especializações produtivas
entre os territórios. Deste modo, o conceito de coesão afasta-se da equidade que pretende significar uma
situação de igualdade (ou pelo menos uma tendência à igualação), seja dos rendimentos familiares,
como do nível de vida e de bem estar ou, em termos territoriais, do nível de riqueza, de rendimentos per
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capita ou de outras variáveis, económicas e não económicas, que sejam utilizadas para medir o nível de
desenvolvimento económico e o nível de vida e de bem estar da respectiva população. Segundo a
hipótese deste trabalho, a UE pretende fundamentalmente garantir a coesão nos termos anteriormente
referidos. Deste modo, o objectivo da equidade será dificilmente alcançável, pelo menos a curto e médio
prazo. Os processos de concentração dos rendimentos, seja social, sectorial e/ou territorial, conduz
quase necessariamente a maiores desigualdades sociais e territoriais a curto e médio prazo. Segundo
Francisco Villalobos (1994: 8-9) e depois de analisar a evolução das taxas de crescimento de Andaluzia e
de Espanha conclui: “Definitivamente, é bastante estéril estabelecer como objectivo prioritário a obtenção
de diferenciais de crescimento já que a longo prazo é difícil mantê-los e, além disso, as diferenças inter-
anuais tendem a compensar-se”.
Considerando que este trabalho pretende fazer algumas reflexões sobre as actuais políticas e
situação da União Europeia, a secção seguinte faz um pequeno resumo das políticas regionais
comunitárias.
3. AS POLÍTICAS REGIONAIS NA CEE E NA UE
As políticas regionais da CEE e da UE foram e são secundariazadas em relação às políticas
globais e sectoriais, mesmo considerando que a necessidade de um desenvolvimento mais equilibrado
entre as regiões e países esteja formulado no Preâmbulo do Tratado de Roma. Apresentam-se algumas das
razões que podem justificar esta secundarização:
- Durante os períodos da Europa dos 6 e dos 9 as desigualdades regionais, embora
existentes, não constituíam um problema importante10.
- As políticas europeias sempre estiveram influenciadas pelas correntes neoclássicas e
monetaristas, sobretudo devido ao predomínio de governos conservadores nos países mais
influentes da CEE, cuja concepção sobre o desenvolvimento regional foram anteriormente
expostos de forma reduzida11. Esta é possivelmente a principal razão.
A partir de 1987-88, por meio das pressões dos países menos desenvolvidos do Sul da Europa, a
problemática das zonas desfavorecidas começa a ter maior importância, mesmo que a afectação de
recursos fosse ainda muito limitada12. Em 1993, o Tratado da UE inclui a coesão territorial e social entre os
objectivos essenciais da União e foi assumido o compromisso para o aumento dos recursos destinados a
diferentes fundos relacionados com as zonas desfavorecidas. Não obstante, nem a UE nem os estados-
membros possuem até ao momento planos e estratégias globais de desenvolvimento regional.
10 As maiores desigualdades regionais surgem com a adesão dos últimos três países (Grécia, Espanha e Portugal) e coma reunificação da Alemanha. É a partir de 1989 que os fundos estruturais e sociais e posteriormente os fundos de coesãosurgem com programas e recursos de maior importância.11 O Relatório Cecchini é um dos últimos documentos da UE sobre estes temas donde se prevê, de forma mais oumenos explicita, que as regiões mais desfavorecidas poderiam ser beneficiadas com o Mercado Único (ESECA, 1992).Parece claro qual é o enquadramento teórico deste relatório.12 Segundo Gilles Bazin (1992), os fundos destinados às zonas desfavorecidas representaram em 1989, cerca de1,5% dos gastos agrícolas da União Europeia.
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A intervenção por parte das regiões e dos países desde a elaboração das propostas de projectos
relacionados com as zonas desfavorecidas e as suas participações no financiamento dos mesmos, é
entendida por alguns autores como a ampliação dos espaços de manobra dos estados-membros, o que
pode permitir, afirmam, o estabelecimento de políticas que facilitem a redução das desigualdades espaciais
e sociais. Pelo contrário, Perraud (1995) defende que os fundos estruturais e de coesão são aplicados a
realidades tão diferentes que terminam por contrariar os objectivos pretendidos, aprofundando as
desigualdades regionais. A maioria dos estudos indicam que as diferenças entre as regiões mais
desenvolvidas e as mais desfavorecidas aumentou desde os princípios dos anos oitenta. Delgado Cabeza
(1995) afirma que os dados da Eurostat (Statistiques Rapides Régions 1994-91), revelam como “as
regiões mais prósperas (Hamburgo, Bremen, L'Hile, Londres), se afastam da média” no outro pólo da
divergência no que é denominado “o deslizamento do desenvolvimento para a grande dorsal centro-
europeia”. Fanfani et al (1992), confirmam esta apreciação ao apreciar que ao longo da década dos 80,
as dez regiões menos desenvolvidas mantiveram as diferenças em relação às zonas mais desenvolvidas
da Europa.
Considerando que o autor assuma que estas conclusões (as de Fanfani et al e Delgado, entre
outros), sejam na maioria dos casos e a médio prazo verdadeiras, elas devem ser comentadas. O
comportamento entre as zonas desfavorecidas não é igual, assim como as variáveis económicas e sociais
podem evoluir de forma diferenciada dentro e entre as regiões (veja por exemplo, ESECA, 1992). Cada
região reage de forma distinta nos períodos de crescimento e de crise económica (ESECA, 1992, Comissão,
1994a, entre muitos). Esta evolução verifica-se na Europa (ESECA, 1992).
Não menos importante que as análises estatísticas é o estudo da distribuição dos fundos e a
natureza dos projectos. A distribuição dos fundos não favorece a redução das desigualdades a longo prazo.
Bazin (1992), concluiu que são os países e as regiões menos desenvolvidas que recebem menores
quantidades de recursos para projectos. Argumenta-se também que o tipo de projectos implementados nas
zonas desfavorecidas dificilmente poderão contribuir para a redução das desigualdades. Existem
basicamente dois tipos de projectos:
- Os relacionados com grandes objectivos a nível da UE e dos estados-membros (geralmente
infra-estruturas e equipamentos), que pretendem fundamentalmente ligar centros regionais
(capitais regionais e de alguns distritos e pólos industriais), com os eixos de
desenvolvimento nacional e europeu, secundarizando as ligações intra-regionais.
- Projectos de pequena dimensão, com tecnologias “leves” e intensivas em mão de obra,
ligadas a mercados regionais, que se concentram em actividades relacionadas com os
recursos locais e que correspondem com a especialização tradicional de cada local13.
Nas zonas desfavorecidas existem muito poucas iniciativas de investimento (privadas e/ou com
apoios públicos), em indústrias com tecnologias de ponta, intensivas em capital e com dimensões que
permitam explorar as economias de escala e de aglomeração. Consequentemente, as produtividades
relativas terão uma tendência negativa e, como consequência e para a maioria dos casos, idênticos
13 O turismo rural, o artesanato, a plantação florestal, as estruturas agrárias, as ajudas aos rendimentos, os subsídiosao desemprego, a melhora das infra-estruturas das aldeias, são os destinos principais dos recursos afectados aosprojectos locais.
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comportamentos terão os rendimentos familiares e do conjunto da região. A especialização produtiva será
desfavorável para as zonas menos desenvolvidas o que se reflecte nos termos de troca entre as regiões
com desvantagem para as zonas mais desfavorecidas. A teoria da troca desigual de Arghiri Emmanuel
baseia-se nas estruturas produtivas, nas tecnologias, nas produtividades e nos rendimentos entre as
economias desenvolvidas e “subdesenvolvidas”, para justificar a queda tendencial dos termos de troca entre
os dois tipos de países. Posteriormente, em 1981, o mesmo autor refuta os autores e as estratégias que
propunham “tecnologias adaptadas”, básicas” ... para os países em desenvolvimento, argumentando, na
mesma linha de pensamento, que elas perspectuariam a dependência e o sub desenvolvimento. Propunha
como alternativa, que a saída do subdesenvolvimento dependia, entre outras estratégias, da adopção de
tecnologias modernas e de ponta como uma das formas de inverter as relações desfavoráveis nas trocas
internacionais. Na mesma linha de pensamento, outros autores (por exemplo Maurice Dobb e Oskar Lange),
propunham a estratégia da instalação de indústrias pesadas para alcançar os mesmos objectivos, como
alternativa às políticas agraristas e de industrialização ligeira (principalmente a estratégia de substituição de
importações) muito em voga durante as décadas dos 60 e 70 nos países em desenvolvimento.
Isto é, por um lado, os investimentos pretendem o funcionamento da economia à escala europeia
e a conexão das regiões periféricas aos grandes eixos de desenvolvimento para tornar funcional as relações
centro-periferia (AEDENAT, 1995) e, por outro lado, pretende-se solucionar e/ou reduzir os principais
problemas de cada zona, principalmente o desemprego e os rendimentos das populações.
Deste modo, as periferias podem assumir as funções no marco da divisão de trabalho que se
sintetiza da seguinte forma: desempenhar algumas funções económicas, sociais e relacionadas com o meio
ambiente, estreitamente articuladas com o modelo dominante de acumulação e manter e elevar os
rendimentos disponíveis da população através de actividades secundárias (mas localmente importantes),
criando-se padrões de acumulação paralelos para que as zonas periféricas estimulem a produção do centro
a partir do incremento da procura.
Na próxima secção e dentro de mesmo quadro teórico, fazem-se algumas reflexões sobre as
agriculturas europeias no contexto das reformas da Política Agrária Comum (PAC).
4. A NOVA PAC
Em resumo, a Nova PAC (1992) introduz mudanças qualitativas importantes em relação à
anterior PAC. As reformas foram realizadas em resposta a pressões externas no âmbito das negociações da
Ronda de Uruguay e por importantes distorções estruturais derivadas da aplicação da PAC. Internamente,
os elevados e crescentes custos orçamentais para suportar as ajudas, as subvenções e os excedentes
agrários constituíam um dos aspectos que mais forçaram as reformas.
De uma política anterior fundamentalmente produtivista, a Nova PAC introduz critérios
ambientais, territoriais e sociais, e amplia os seus objectivos: de uma visão sectorial agrarista passa a uma
concepção territorial e articulada do desenvolvimento, onde o mundo rural é considerado como uma unidade
funcional nas suas relações económicas internas e com o conjunto da economia e da sociedade.
Com estes objectivos, a Nova PAC altera a filosofia das ajudas: passa-se das ajudas directas em
função dos volumes de produção para uma estratégia na qual os agentes económicos e sociais são
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apoiados pela realização de novas funções no contexto da conservação da natureza e da oferta de novos
bens e serviços crescentemente procurados pela sociedade. Por outro lado, a Nova PAC pretende que as
agriculturas europeias sejam competitivas no contexto dos processos de liberalização dos mercados
internacionais.
Para entender a lógica e a coerência da Nova PAC é fundamental enquadrar as análises no
contexto geral deste trabalho que, de forma esquemática e em resumo, são as seguintes:
- A UE, como bloco económico, possui como grandes desafios o reforço da sua capacidade
competitiva no âmbito da crescente liberalização dos mercados, o aprofundamento do
estado de bem estar e a incorporação das variáveis meio ambientais nas políticas
económicas e nas decisões empresariais.
- A lógica das actuações públicas (as da Comissão) e das grandes empresas, consideram os
países da UE como o principal espaço económico, onde os mercados e as estratégias nem
sempre correspondem com os espaços de cada um dos estados, o que significa que é difícil
encontrar coerência nos objectivos e nas decisões da Nova PAC a partir de uma análise
com horizontes territoriais nacionais e de curto prazo.
Isto é, a Nova PAC pretende preparar as agriculturas europeias para o desafio da abertura
económica. Por estas razões, a Nova PAC não deve ser analisada tendo como âmbito apenas o sector
agro-alimentar. Os efeitos a nível macro e micro devem ser considerados. Por exemplo, que efeitos existirão
sobre o consumo e o investimento, sobre o comércio exterior, sobre os gastos públicos e sobre a eficiência
na utilização dos recursos das sociedades?. A nível das famílias, que efeitos a Nova PAC produzirá sobre o
consumo devido à baixa dos preços e sobre as contribuições fiscais dos cidadãos?.
Em termos concretos, a Nova PAC possui como hipótese principal a continuidade da
modernização e do incremento da competitividade do sector agrário, o que implica as opções principais
seguintes14:
- A diminuição do peso da agricultura no conjunto da economia europeia, como forma de
reduzir a intervenção administrativa e a carga do sector nos orçamentos da UE. Pretende-se
que os recursos da sociedade sejam utilizados nos sectores de maior produtividade e
eficiência.
- Concentrar a produção nas regiões e nos produtores que possuam vantagens competitivas
à escala europeia e internacional e, consequentemente, reduzir e/ou eliminar as produções
onde seja mais económico importar de terceiros países.
Para alcançar estes objectivos no contexto das actuais políticas económicas, continuar-se-á a
produzir um conjunto de efeitos e externalidades negativas, sociais e meio ambientais, que obrigam à
introdução de hipóteses auxiliares no sentido de reduzir e/ou eliminar estes efeitos e externalidades.
Destacam-se alguns dos efeitos e das externalidades negativas mais importantes: (1) A redução das áreas
de produção e do emprego agrário, independentemente da capacidade de absorção de mão de obra dos
14 Estes processos existem há muito tempo em todos os países da UE mas, a Nova PAC, o MU e a aplicação dasdecisões da Ronda de Uruguay, estão a acelerar os efeitos e as externalidades, positivas e negativas do modeloprodutivista da agricultura. Para uma ideia mais clara, veja os dados estatísticos publicados ordinariamente pela UE.
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restantes sectores económicos; (2) Consequentemente, o desemprego agrário e rural terão a tendência
para aumentar e, possivelmente, deteriorar-se-ão vastas superfícies agricultáveis mas marginais nas actuais
condições de competitividade; (3) Crescentes zonas continuarão o processo de despovoamento, o que
dificultará a sucessão geracional das propriedades e das actividades, e aumentará o risco da desertificação.
No âmbito das hipóteses auxiliares e no que respeita ao mundo rural, destacam-se as chamadas
medidas compensatórias e de acompanhamento, os programas de desenvolvimento rural e local, os
incentivos para a extensificação da produção (sobretudo nas produções em que a UE é excedentária), a
florestação, o apoio às iniciativas da produção ecológica, as reformas antecipadas dos agricultores, a
promoção da diversificação das actividades económicas, entre outras. Estas medidas e programas
pretendem aumentar e diversificar os rendimentos, criar emprego, reduzir a emigração e o risco do
despovoamento, conservar a natureza e os recursos naturais, adaptar as actividades rurais às novas
procuras da sociedade entre outros objectivos.
Em resumo, as acções relacionadas com as hipóteses auxiliares pretendem reduzir a
marginalização de zonas e de sectores económicos que vão ficando secundarizadas no padrão dominante
de acumulação e que se afastam dos principais eixos de desenvolvimento.
Desta forma, às anteriores políticas fundamentalmente produtivistas e sectoriais, a Nova PAC
tenta acrescentar políticas dirigidas para o mundo rural, com uma visão espacial, incorporando objectivos
sociais, territoriais, demográficos e meio ambientais15. Noutros termos, de uma função de produção sectorial
de maximização da produção, passa-se a uma função territorial, multi-objectivo, considerando as diferentes
variáveis anteriormente referidas (ou de parte delas).
A Nova PAC possui deste modo critérios ou objectivos aparentemente conflitivos: a
modernização e o aumento da competitividade são simultâneos com a extensificação e o meio ambiente; os
processos de globalização e especialização vertical (Fanfani et al, 1992) dos sectores produtivos são
acompanhados com iniciativas locais baseadas nas filosofias do desenvolvimento endógeno e local (Pérez
Yruela y Gimenez Guerrero, 1994) e por incentivos para a diversificação de actividades (Fanfani et al, 1992);
por um lado pensa-se que o aumento da produtividade necessita de um ajustamento e modernização das
estruturas agrárias e por outro lado procura-se manter a população no meio rural, dificultando deste modo o
mesmo ajustamento16.
Estas aparentes dualidades representam dois modelos diferentes de reprodução do capital: Uma
competitiva e rentável e outra subvencionada, pelo menos parcialmente. Estes princípios estão a
15 Segundo um trabalho de Mosca (1996, mimeografado), onde se analisar os modelos de desenvolvimento rural eagrário da Nova PAC, conclui-se que não existem novas contribuições teóricas e práticas nas actuais propostas dapolítica agrária. Existe sim, a recuperação e a adaptação de elementos de teorias desenvolvidas e aplicadas emdiversos contextos e com diferentes êxitos particularmente durante os anos 60 e 70.16 Sobre o ajustamento das estruturas agrárias, veja Vicente Barceló, Compés y Avellá (1991), Barceló (1991 e 1994).Estes autores defendem a necessidade de um ajustamento clássico para que a agricultura alcance maiores níveis decompetitividade, refutando as virtualidades das agriculturas em tempo parcial (Arnalte, 1980; Fanfani, 1992 e outros).Fanfani et al, referem-se também às limitações destas agriculturas. O debate sobre as lógicas da pequena exploraçãoe sobre o seu papel no desenvolvimento económico remonta a finais do século XIX e ainda não se encontrou umconsenso sobre o tema. São conhecidos os argumentos de Chayanov e o debate entre Preobashensky e Bukarine quesomente foi “eliminada” pela ditadura estalinista. O tema foi retomado nos anos 60 e continuou até aos anos 80, (porexemplo, a escola de Servolin e pelos sociólogos do desenvolvimento de vários países - Hamza Alavi, Norman Long,Henry Bernstein, Mintz, Harriet Friedmann, Lisovskij, Chevalier, entre muitos). Na década dos 90 este debatereaparece no quadro das novas correntes sobre a agro ecologia e o desenvolvimento sustentado. Este tema é esempre foi um dos mais debatidos nos países em desenvolvimento.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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instrumentalizar-se de forma selectiva relativamente ao território, isto é, existirão (e na realidade já existem),
territórios competitivos e dinâmicos e zonas marginais e/ou desfavorecidas. As primeiras integram-se na
hipótese principal do modelo (e portanto no padrão dominante de acumulação) e dependem
fundamentalmente do mercado, e as segundas estão principalmente relacionadas com as hipóteses
auxiliares e dependentes das políticas e dos apoios públicos17. Estes modelos possuem lógicas e dinâmicas
diferenciadas e o seu desenvolvimento espacial e sectorial compartimentado conduz a processos de
concentração da produção e do rendimento agrário. Os territórios especializam-se em determinadas
produções segundo as suas condições naturais e vantagens competitivas. Estes aspectos relativos ao
sector agrário estão sincronizados com as actuais grandes tendências económicas globais que, em resumo
e segundo o presente quadro de análise, ressaltam-se as seguintes:
- Globalização das economias e a configuração de uma nova divisão do trabalho com a
consequente especialização territorial e sectorial da produção.
- Adaptação das estratégias empresariais e públicas para a obtenção de novas racionalidades
e eficiências espaciais com o consequente reforço das zonas mais desenvolvidas.
Muitas das iniciativas nas zonas desfavorecidas podem conquistar segmentos de mercado
tornando-se economicamente viáveis18. Igualmente existirão nas zonas mais dinâmicas, sectores e
produtores em declive, externalidades negativas, sociais e ambientais e, possivelmente, segundo o
processo de concentração produtiva, dos rendimentos e da população, mais zonas serão incorporadas à
categoria de desfavorecidas. Isto é, continuará a existir uma dinâmica entre os territórios cujas medidas não
podem ser compartimentadas. Deste modo, as políticas públicas deveriam ser flexíveis para contemplar as
diversidades das realidades.
Conforme foi referido anteriormente, a PAC e a sua reforma são exemplos de que em muitos
casos as lógicas na afectação racional dos recursos que devem presidir a Comissão são distorcidos, entre
outras razões, pelo jogo de influências e de interesses na burocracia de Bruxelas. Existem muitos estudos
que referem o tratamento parcial e assimétrico que a Nova PAC dá às agriculturas mediterrânicas e
continentais (por exemplo, veja Carlos Tío, 1991 e Bardají 1995). As principais críticas relativas ao carácter
diferenciador da Nova PAC são as seguintes:
- Que ela é discriminatória relativamente aos níveis de protecção, beneficiando a agricultura
continental e, sobretudo, permitindo maiores tempos para a adaptação às condições da
competitividade internacional (por exemplo, Barceló, Compés y Avella, 1991; Bazin, 1992).
Esta descriminação é igualmente real a nível de cada país, dentro de cada região e entre os
diferentes tipos de produtores (Ministério da Agricultura, 1993).
17 Por estas razões, o êxito da Nova PAC dependerá em grande medida do volume de fundos destinados aosprogramas de acompanhamento e aos prazos da sua aplicação, razão pela qual existem grandes dúvidas em relaçãoàs expectativas de êxito. Para reduzir o peso destes programas no orçamento comunitário, a UE tenta que estesprocessos potenciem os recursos endógenos regionais e que sejam implementados através das pequenas e médiasiniciativas privadas. A maioria dos autores estão bastante duvidosos em relação à disponibilidade de fundos (veja porexemplo, Carlos Tío, 1991; Burrel, 1992; Bazin, 1992). Bardají afirma: "a ampliação das ajudas por hectare e porcabeça a outras produções talvez se torne insuportável para os orçamentos da UE".18 Para o efeito necessitam de aproveitar recursos e/ou condições específicas da região para a produção deespecialidades de alta qualidade. Existem muitos exemplos, que são referidos nos capítulos posteriores.
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- Os critérios das ajudas beneficiam os produtores dos países do Centro e Norte da Europa
(Carlos Tío, 1991; Ceña, 1992; Bazin, 1992, entre outros) e as explorações de maior
dimensão, neste caso, tanto no Norte como no Sul.
- As restrições ao aumento da produção e as quotas de produção limitam os incentivos à
modernização e ao ajustamento da agricultura, com particular importância na agricultura
mediterrânica (Tío, 1991; Burrel, 1992 y Afan de Ribera, 1993). A modernização das
estruturas (onde existe uma clara desvantagem dos países do Sul) é considerada por
muitos autores como uma condição necessária para que as agriculturas consigam potenciar
algumas das vantagens naturais (por exemplo, Barceló, Compés e Avellá, 1991).
- A renacionalização de alguns elementos da política agrária pode prejudicar os países do Sul
da Europa devido às suas maiores restrições orçamentais para promover e apoiar ditas
políticas19. Por outro lado, a renacionalização é também considerada como uma possível
abertura de novos espaços de manobra para que os estados-membros possam
salvaguardar alguns elementos das suas políticas económicas e preservar as
especificidades regionais.
Estas diferenças preparam de forma desigual as agriculturas mediterrânica e continental para
afrontar os processos de liberalização preconizados pela Ronda de Uruguay e introduzem capacidades
distintas para aplicar as medidas de acompanhamento, o que pode tornar as mudanças prevista mais ou
menos traumáticas para as populações rurais. Além disso, estas diferenças introduzem diversas
capacidades de transformação do mundo rural o que pode aumentar as desigualdades de desenvolvimento
entre as regiões e dentro de cada uma delas, assim como pode incrementar a não equidade na distribuição
dos rendimentos.
As críticas referidas estão formuladas a partir de uma perspectiva nacional e segundo lógicas que
não se integram na concepção da Europa como um único espaço económico, o que significa, além de um
Mercado Único, uma política económica comum (ou pelo menos estreitamente articulada) e lógicas de
reprodução e de acumulação de capital que ultrapassam os limites dos estados-membros. Serão estas
críticas igualmente válidas quando realizadas integradas no contexto de uma União Económica e Monetária,
considerada como um espaço supra-nacional e não como uma união de estados?.
A ampliação da análise do sector agrário ao sistema agro-alimentar poderia contribuir para a
compreensão e defesa da hipótese deste trabalho. Ressaltam-se de forma breve e esquemática alguns
aspectos que podem contribuir para reforçar a argumentação apresentada. Devido às estreitas relações
dentro do sector agro-alimentar, destacam-se as mudanças mais importantes que se estão a experimentar
nas indústrias e na distribuição alimentar. As estratégias mais importantes são as seguintes (veja por
exemplo, Rodríguez-Zuñiga, Sanz Cañada y Pérez y Pérez, 199; Green, 1992; Dos Santos, 1992):
19 Outras criticas são apontadas, sobretudo os efeitos sobre o emprego e sobre os trabalhadores sem terras (López,1991), sobre a equidade (San Juan Mesonada, 1991), sobre a ausência de uma política alimentar para incrementar aqualidade do consumo (Malassis, 1991), sobre a marginalização do sector florestal em relação à política agrária (López,1991) e sobre os efeitos da Nova PAC e do GATT sobre os países em desenvolvimento (López, 1991 y Briz, 1991). Ceña(1992) refere a possibilidade de futuras situações de dependência alimentar entre os países menos e mais desenvolvidosda Europa.
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- A compra por parte das empresas transnacionais de acções financeiras de empresas
nacionais com o objectivo principal de adquirir quotas de mercado, mantendo ou fechando
as fábricas. Este processo reforça a globalização das economias.
- A desintegração horizontal por meio da sub-contratação para a realização de funções não
principais das respectivas actividades no quadro da especialização produtiva para o
aproveitamento de economias de escala;
- A centralização e o controlo da planificação estratégica e da investigação nas empresas
matrizes e, por outro lado, a internalização de avanços científicos realizados noutros
sectores;
- As políticas de diferenciação da oferta.
No sector da distribuição é clara a penetração nos países do Sul da Europa de empresas
multinacionais concentrando, a ritmos elevados, o comércio alimentar. Além da concentração, a evolução da
grande distribuição está caracterizada pelos seguintes aspectos (Fernando Ramos, 1993):
- A crescente integração da distribuição em grandes centrais (as euro-centrais).
- Investimentos elevados, particularmente na investigação e inovação nas áreas da infor-
matização e robotização, na telemática e na organização e gestão da logística.
Estas mudanças estão introduzindo transformações em todo o sistema agro-alimentar,
incluindo na produção agrária, Destacam-se as seguintes:
- A separação na base territorial entre a produção e o consumo. As grandes superfícies
aprovisionam-se a partir dos preços mais baratos, desde as fontes que ofereçam as
quantidades e qualidades procuradas e que garantam uma maior estabilidade da oferta.
Cada vez mais o factor distância possui um peso menos importante. Os custos de
transporte e de comunicações reduzem-se rapidamente através dos modernos sistemas
informáticos e das economias de rede. As centrais de venda e a estratégia de “just in time”
reduzem os custos dos stocks anteriormente repartidos pelas diferentes fases da cadeia
alimentar.
- Nos hábitos de consumo20.
- Nos critérios de competitividade, nas técnicas de gestão e de marketing (Fernando Ramos,
1995).
- A redução do pequeno comércio, cujas consequências estão pouco estudadas. Existem
muitos trabalhos sobre as estratégias das grandes empresas de distribuição, sobre as
inovações tecnológicas e de gestão, mas são poucos os estudos que aprofundam aspectos
fundamentais derivados desta realidade, como por exemplo: Quais são os efeitos que a
concentração produz sobre as macro-magnitudes, sobre o consumo e o investimento, sobre
as receitas públicas, sobre o emprego e sobre os rendimentos das famílias?. Que efeitos se
estão a verificar sobre as produções locais e sobre a estrutura e as balanças externas?.
Como os hiper-mercados influem sobre os hábitos de consumo?.
- Qual a qualidade dos serviços (atenção ao cliente, atendimento personalizado, serviços de
pós-venda, etc.) e dos produtos oferecidos?. 20 Sobre este importante aspecto, veja por exemplo, Malasis (1992), Titos (1992) y Siguan Boehmer (1994).
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Só com as respostas a estas perguntas para cada caso concreto é possível concluir sobre as
vantagens e inconvenientes globais destas transformações ao nível da distribuição e de toda a cadeia
alimentar.
5. RESUMO
As novas estratégias públicas e empresariais tendem, por um lado, a reforçar a concentração dos
padrões de acumulação e das funções estratégicas de gestão e, por outro lado, a descentralizar funções
produtivas (o de parte delas através da segmentação das cadeias produtivas) para espaços onde existam
vantagens competitivas. Esta realidade pode fazer transparecer uma recuperação económica e aparentar
um processo de convergência por parte das regiões menos desenvolvidas da Europa. Os ritmos de
crescimento de algumas regiões podem ser superiores à média comunitária durante um determinado
período (mais ou menos longo), e as possíveis aproximações de alguns indicadores da economia não são
“per si” suficientes para se concluir sobre a natureza convergente ou divergente do desenvolvimento.
Existem suficientes argumentos teóricos e contrastações empíricas recentes que confirmam qual
as actuais tendências da economia agro-alimentar e o sector agrário europeus, seja através das políticas
públicas como por meio do mercado, tendem a concentrar-se territorial e sectorialmente, acelerando uma
divisão internacional do trabalho desfavorável para as regiões do Sul da Europa. Este processo integra-se
no contexto da globalização da economia e dos blocos económicos internacionais, onde existem, na maioria
dos casos, evidências de um agravamento das diferenças de desenvolvimento regional e um
aprofundamento das desigualdades na distribuição social dos rendimentos.
Embora existam teorias igualmente sólidas e coerentes que defendam as diferentes combinações
entre crescimento e equidade, tudo indica que na actual conjuntura europeia e internacional, e considerando
as estratégias empresariais dominantes e as políticas públicas vigentes, atravessa-se um período de
aprofundamento das diferenças dos níveis de desenvolvimento intra e inter-regional e do bem estar. O
sistema agro-alimentar e o sector agrário, seja como consequência da política agrária, como devido aos
efeitos dos mercados e das estratégias empresariais, experimentam um claro processo de reestruturação do
capital, de relocalização das funções produtivas e de transformações estruturais que beneficiam as
economias mais desenvolvidas, as empresas e os produtores de maior dimensão. Por outro lado, existem
dúvidas que os volumes de recursos destinados aos programas relacionados com as hipóteses auxiliares
sejam suficientes para que estes programas possam alcançar os objectivos que se pretendem,
especialmente os de garantir determinados níveis de rendimentos e de bem estar e a articulação funcional
das periferias com as zonas mais desenvolvidas da Europa.
Expõem-se a seguir algumas reflexões em forma de perguntas. Com base nos actuais modelos
económicos, existem para a maioria das regiões periféricas outra alternativa que não seja a aceitação da
sua condição subalterna, mesmo que lutando por um desenvolvimento que permita o aumento absoluto
(mas dificilmente o relativo, comparativamente com as regiões mais desenvolvidas) dos rendimentos e do
nível de vida das suas populações?. É possível no quadro da actuais políticas inverter esta tendência?. São
possíveis mudanças fundamentais nos actuais modelos económicos?
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Para terminar, apenas uma conclusão. A elaboração dos planos regionais e sectoriais, muito de
moda nos últimos tempos, deve considerar com realismo, por um lado, os sectores económicos que
possuem possibilidades competitivas no mercado aberto à escala internacional e, por outro lado, devem
definir as estratégias que têm como objectivo integrar as economias locais nesse mercado, garantindo a
redução das externalidades negativas, sociais e ambientais. Por outro lado, as estratégias regionais e
nacionais estão cada vez mais inter-relaciondas o que exige que as políticas sejam de longo prazo e
crescentemente menos variáveis com os ciclos políticos. Os pactos políticos e sociais em redor de
estratégias económicas são cada vez mais uma exigência para a estabilidade das sociedades.
Os capítulos seguintes procuram contrastar a hipótese de trabalho, considerando a região do
Alentejo como caso empírico.
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CAPITULO II
EVOLUÇÃO RECENTE DA ECONOMIA ALENTEJANA
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1. O ALENTEJO NO CONTEXTO PORTUGUÊS E COMUNITÁRIO21
O Alentejo é uma das regiões europeias incluídas no objectivo 5b e é considerada como uma
das mais pobres da Comunidade22. O PIB per capita em Unidades de Poder Aquisitivo (UPA´s) é de
cerca de 33,9% da média comunitária (média dos anos 1989-90-91), situando-se no lugar 176 das 179
regiões da UE. A região com o PIB mais elevado é Hamburgo e situa-se a 194,4% da média comunitária,
cerca de cinco vezes mais que o Alentejo. No período de 1986 a 1991 este indicador não experimentou
alterações importantes: entre 1986 e 1989 manteve-se em 34%, em 1990 baixou para 33% e em 1991
recuperou cerca de dois pontos percentuais. Com este ritmo (recuperação de um ponto em cada cinco
anos), o Alentejo tardaria aproximadamente 320 anos para colocar-se ao nível da média comunitária. Ao
considerar-se que a região perde anualmente cerca de 0,5% da sua população (média aproximada da
década dos 80), pode-se estimar que, em termos absolutos, o PIB regional diminuiu durante o mesmo
período em cerca de 1,5 pontos, considerando a população de 1986 constante.
Em termos de PIB per capita, Portugal situava-se em 1991 a 59% da média europeia. Em
1986 este indicador era de 52%. A região de Lisboa e Vale do Tejo recuperou, no mesmo período, dez
pontos em relação à média comunitária. Estes indicadores são por si reveladores de importantes
diferenças existentes no crescimento inter-regional durante os últimos anos. Deve-se ressaltar que estes
números, tratando-se de médias estatísticas, encobrem o surgimento e desenvolvimento de importantes
bolsas de pobreza dentro e em redor das zonas metropolitanas, assim como desenvolvimentos
assimétricos dentro das regiões com maiores taxas de crescimentos durante os últimos anos.
O desemprego no Alentejo passou de 14,9% em 1986 para 8,1% em 1991, sendo as médias
da UE e de Portugal em 1990 de 10,4% e de 4,9% respectivamente (CEE, 1994). A emigração contribuiu
para esta descida na medida em que representou, no mesmo período, uma perda aproximada de 2,5%
da população. Se considerarmos que a emigração incide fundamentalmente sobre a população activa,
pode-se estimar, grosso modo, que o êxodo da população activa foi, no período considerado,
sensivelmente igual à baixa da taxa de desemprego. Esta taxa volta a subir a partir de 1991. Segundo as
estatísticas da CCRA (vários anos), o desemprego evoluiu da seguinte forma durante os últimos anos:
21 O Alentejo possui 26.926 km2 o que representa cerca de 33% do território de Portugal Continental e uma populaçãode aproximadamente 533 mil habitantes (em 31-12-1993). Está administrativamente dividido em quatro NUTS II (AltoAlentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral) e possui 46 concelhos. Além da capital, Évora, com cercade 38.900 habitantes em 1991, as principais cidades são Portalegre, Beja, Elvas e Sines. A região do Alentejodiferencia-se do restante território de Portugal Continental, principalmente pela sua paisagem e vegetação, pelaarquitectura dos núcleos populacionais, pela ocupação e ordenamento espacial do território e pela sua estruturaeconómica, marcadamente agrária.22 Salvo referência específica, os dados estatísticos referidos nesta secção foram extraídos do documento CEE(1994).
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Quadro 2.1
Evolução das taxas de desemprego entre 1992 e 1994
1992 1993 1994
Alentejo 8,4 9,6 11,4
Portugal 4,4 6,1 7,1
Fonte: CCRA, Anuário Estatístico da Região Alentejo-92, 93 e 94.
A taxa de actividade alentejana era em 1990 das mais baixas da UE, cerca de 44%, sendo a
média comunitária de 45,3% (CEE, 1994)23. Segundo a CCRA (vários anos), as taxas de emprego
evoluíram entre 1992 e 1994 da seguinte forma: 40,3% em 1992, 39,2% em 1993 e 38,5% em 1994, o
que reflecte a perda de emprego da ordem dos 0,7% a 1,0% por ano24. A agricultura ocupava 39,8% dos
empregados em 1990. A média deste indicador, no mesmo ano, para Portugal e para a Europa dos 12,
era de 30,5% e de 6,6% respectivamente. Nas regiões mais industrializadas este indicador variava em
1990 entre 1% e 2% (por exemplo, Hamburgo, Breman, Rheinhessen-Plfalze, Cleveland).
O número de telefones por mil habitantes era, em 1992, de 19 para o Alentejo, 27 para
Portugal e por exemplo, 58 para a Dinamarca e 51 para a França (CEE, 1994). Apesar deste indicador ter
aumentado em Portugal mais de 75% entre 1987 e 1992, o país continua sendo o menos favorecido da
Comunidade. Portugal é o país que possui o índice mais elevado de população sem educação de nível
secundário (77% da população compreendida entre os 25 e os 64 anos), sendo esta percentagem
praticamente nula nos países mais desenvolvidos.
Apresentam-se no quadro seguinte alguns indicadores de qualidade de vida,
comparativamente com Portugal continental, referentes ao ano de 1988:
Quadro 2.2
Indicadores de qualidade de vida - 1988
Analfabetismo Mortalidade
Infantil
Médicos
p/1.000 h
Alentejo 28.9 10,7 1,5
Portugal Continental 19,0 12,8 2,7
Fonte: CCRA, 199325.
23 Este indicador varia em função da estrutura etária da população e da actividade económica. A percentagem dapopulação alentejana entre os 15 e os 65 anos (63,3%) é das mais baixas da Europa (65,3% de média), alcançandoquase os 70% nas regiões mais desenvolvidas da Comunidade. Conforme descrito neste parágrafo, estes dadosvariam bastante segundo as fontes de informação.24 Chama-se à atenção que os dados variam segundo as fontes. Veja a secção 4 deste capítulo.25 Estes dados estatísticos variam segundo as fontes. Por exemplo, para o Alentejo e para 1987, os relatórios dosG.T.Prodesredi (CCRA, 1993:2-6), indica uma taxa de mortalidade infantil de 15,1%, e que 63% e 65% da populaçãoestá servida por redes de esgotos e com água. O documento da CCRA (1994), indica uma taxa de mortalidade infantilde 8,5%.
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Em 1990, Portugal era o país que menos gastava em I&D, cerca de 0,5% do PIB, sendo a
média comunitária de 2,0%. Dinamarca era o país que maiores gastos realizava nesta área: 2,8% do PIB.
Aproximadamente 0,98% dos gastos públicos portugueses eram destinados às actividades I&D, sendo a
média comunitária de 3,24%. França e Inglaterra eram respectivamente os países com os maiores e
menores gastos nesta área, com 6,91% e 0,6% dos respectivos orçamentos. O total de cientistas e
engenheiros ocupados em actividades de I&D por 1.000 habitantes é de 1,1 em Portugal (o mais baixo
da UE), 5,9 na Dinamarca (o mais elevado) e a média comunitária é de 4,2 (CEE, 1994).
Portugal, juntamente com a Grécia, é dos países menos procurados para a realização de
novos investimentos de origem externa. As principais razões desta realidade, segundo um estudo da UE,
são as seguintes: a situação regional periférica, as dificuldades de transporte e os altos custos
associados a estas razões, infra-estruturas inadequadas, mão de obra pouco qualificada e falta de
especialização (CEE, 1994:85). Se a estes factores se acrescentarem os da competitividade
relacionados com os indicadores nominais (taxas de juro, inflação, etc.) e com os aspectos estruturais
(por exemplo, tecnologia, estrutura produtiva, dimensão das empresas e dos mercados e os custos das
comunicações, da energia e dos transportes, etc.), é fácil antever os esforços que serão necessários
realizar para que o país constitua um espaço atractivo para o investimento estrangeiro. Apenas 0,6% do
investimento externo realizado em Portugal em 1991 foi dirigido para o Alentejo (Exame, nº25, 1991). Em
1993, segundo a publicação TestMarket (1995), esta percentagem reduziu para 0,37%. Do total do
investimento estrangeiro realizado na agricultura, apenas 2% foi dirigido para o Alentejo (TestMarket,
1995).
A região possuía em 1991 cerca de 5,8% da população residente no continente e ocupa
aproximadamente 33% do seu território. A densidade é das mais baixas da Comunidade:
aproximadamente 20 habitantes por km2. A média comunitária e de Portugal são de cerca de 153 e de
107 habitantes por km2. As regiões mais densamente povoadas da UE ultrapassam os 5000 habitantes,
sendo Lisboa e o Vale do Tejo a região mais densamente povoada de Portugal com 275 habitantes por
km2.
A região contribui com menos de 3% do PIB nacional (IAPMEI, Núcleo de Évora, 1993). O
produto industrial regional é de aproximadamente 2% da produção nacional (INE, Estatísticas Indústrias,
1981 e 1989) e o Produto Agrário Bruto (PAB) alentejano representa entre 17% e 18% do PAB nacional,
destacando-se a sua especialização na produção vegetal: em 1990, cerca de 44% do PAB regional
provinha da produção agrícola, 26% das florestas e 30% da produção animal. O peso destes ramos no
conjunto da economia agrária portuguesa era, no mesmo ano, de 9%, 24,8% e 18,8% respectivamente.
Deste modo e com os dados dos quadros 2.3, 2.4 e 2.11, é fácil concluir que a economia
alentejana possui uma especialização na produção primária, tanto agrária como na extracção de alguns
recursos minerais. Além das indústrias relacionadas com a primeira transformação da produção primária
local, a indústria química e a de material de transporte têm um peso relevante na economia alentejana.
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Quadro 2.3
Importância de alguns sectores da economia alentejana no conjunto dos respectivos
sectores a nível nacional, considerando o valor da produção em %
1980 1989
Agricultura (1) 33,4 39,9
Indústria extractiva (2) 18,9 17,2
Indústria transformadora 1,7 1,9
Turismo (1) e (3) 4,5 4,8
Notas: (1) Os segundos dados referem-se a 1990.
(2) Apenas considera os “minerais não metálicos e as rochas ornamentais”.
(3) Medido em número de turistas.
Fontes: INE, várias publicações. Elaboração própria.
Quadro 2.4
Peso das indústrias alentejanas nos respectivos sectores a nível nacional
Em % do volume da produção
CAE-Sector 1981 1989
31 - Ind. Alimentar, de Bebidas e Tabaco 4,0 3,8
32 - Ind. Têxteis, Vestuário e de Couro 6,5 0,8
33 - Ind. da Madeira e da Cortiça 2,0 2,6
34 - Ind. do Papel, Artes, G.E. e Publicações 1,0 1,1
35 - Ind. Químicas, Derivados Petróleo, Borracha e Plástico 1,1 1,8
36 - Ind. Produtos Minerais não Metálicos 1,0 1,3
37 - Ind. Metalúrgica de Base 0,1 0,2
38 - O. de P.Metálicos, Máq.,Equip. e Mat. de Transporte 1,7 2,1
39 - Outras Indústrias Transformadoras 0,0 0,0
TOTAL 1,7 1,9
Nota: Não existem dados mais recentes.
Fonte: INE, Estatísticas Indústria de 1981 e 1989
A partir dos dois quadros anteriores pode-se afirmar que a indústria alentejana é muito débil.
Em 1989, nenhum sector, possuía um peso superior à percentagem da população alentejana no conjunto
do país. Considerando a contribuição do sector agrário alentejano no PAB nacional, é fácil verificar a
escassa industrialização do sistema agro-alimentar regional.
A superfície total de estradas por km2 e por habitante em Portugal em 1990 era de
aproximadamente 42,4% e de 50% da média comunitária. O Alentejo está entre as regiões que regista
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este indicador como dos mais baixos da UE (CEE, 1994:69). O Alentejo está ligado a Lisboa e a Espanha
principalmente através da auto-estrada do eixo central transversal Lisboa - Vendas Novas - Estremoz -
Elvas - Badajoz - e, Madrid ou Sevilha e pelo eixo central vertical Faro - Castro Verde - Beja -Évora -
Estremoz -Portalegre - Nisa - Vilar Formoso - Ciudad Rodrigo - Madrid, podendo ligar com o sul da
península através do eixo Faro - Huelva - Sevilha (eixo europeu do Mediterrâneo). Destacam-se ainda a
auto-estrada Lisboa-Algarve em construção e os eixos que ligam Sines a Setúbal e de Sines a Beja,
Serpa e Sevilha.
Ressalta-se o predomínio quantitativo e qualitativo das redes viárias que estabelecem as
comunicações com o conjunto do país e com a Espanha. Segundo a CCRA (1993), as estradas que nos
últimos anos possuíram uma evolução positiva do fluxo viário foram as que ligam o Alentejo com o Sul e
com o Centro e Norte de Portugal, com a Espanha e as ramificações destas com algumas capitais de
concelho. Todas as restantes ligações possuíram uma evolução negativa no fluxo de transportes
rodoviário, aspecto que pode representar um sintoma das limitadas e decrescentes relações inter-
sectoriais e intra-regionais da economia alentejana.
Pode-se resumir que o Alentejo, a nível global, não tem conseguido uma aproximação aos
níveis de desenvolvimento de Portugal e da Europa: o crescimento económico é igual ou inferior à média
portuguesa e europeia e os níveis de ocupação e de desemprego não tendem para a convergência. Os
investimentos públicos e privados realizados em I&D, em infra-estruturas e equipamentos, em educação
e nos sectores produtivos não indicam que estejam a ser criadas condições para se iniciar um processo
de desenvolvimento convergente. Não há sinais evidentes que indiquem a existência de transformações
qualitativas importantes na tradicional estrutura económica regional. A especialização produtiva primária
mantém-se, embora com comportamentos diferenciados entre os sectores económicos, aspecto que será
analisado nas próximas secções deste capítulo.
2. BREVE CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO RECENTE DA ECONOMIA ALENTEJANA
2.1 - Pontos de partida
Para compreender a evolução recente da economia e da sociedade alentejanas, importa
enquadrar a região no contexto das políticas económicas do país e dos fenómenos que mais
influenciaram a configuração da sua actual estrutura económica e social. Além dos referidos
anteriormente, ressaltam-se de forma esquemática os aspectos seguintes:
- O latifundismo como modelo político, económico e social e a sua função no desenvol-
vimento regional;
- A funcionalidade entre o latifúndio e a industrialização tardia;
- As políticas públicas que mais influenciaram a região, principalmente a campanha do
trigo, o desenvolvimento do pólo industrial de Sines, a modernização da agricultura a
partir de meados deste século, a construção de regadios e, mais recentemente, os
investimentos públicos em infra-estruturas, em equipamentos sociais e em serviços.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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- Considerando o peso da agricultura na economia regional, os aspectos naturais, espe-
cialmente o clima, a topografia e a qualidade dos solos assumem particular importância
(veja por exemplo, Feio, 1988).
O desenvolvimento industrial e económico português foi realizado, no quadro de políticas de
contenção da procura privada concretizadas por políticas orçamentais restritivas e pelo controle salarial e
dos rendimentos. O processo de industrialização teve como pressupostos principais, a prática de baixos
salários de oportunidade (principalmente os praticados na agricultura), o controle dos preços dos
produtos básicos, o apoio financeiro e fiscal e um alto grau de proteccionismo. O Alentejo, cuja maioria
da população era (e são) trabalhadores agrícolas sem terra, constituía uma reserva de mão de obra para
este processo de industrialização.
O latifundismo como forma de propriedade e de organização social dominante até
recentemente era, no seu conjunto, contrário à industrialização regional. A existência de alternativas de
emprego produziria movimentos emigratórios que aumentariam os salários locais. A partir de meados do
século, o latifundismo começou a desmoronar-se como forma de organização social devido à perda do
controle dos proprietários das terras sobre os trabalhadores e sobre as populações que dependiam do
trabalho assalariado como a quase única fonte de rendimento. Ressaltam-se ainda as diversas formas de
clientelismo que vinculavam, de forma dependente, grande parte da população às classes dominantes
agrárias. A estrutura social e a influência das grandes famílias proprietárias começou a ser gradualmente
substituída por outros grupos sociais cujas actividades económicas aumentavam de importância no país
e, mais tardiamente no Alentejo, principalmente os relacionados com a administração pública e com os
serviços.
Embora de forma temporária, a reforma agrária realizada depois do 25 de Abril, introduziu
importantes transformações no sistema social da região26. As ocupações e as nacionalizações, e a
formação das Unidades Colectivas de Produção e das Cooperativas introduziram, durante algum tempo,
alterações significativas na economia agrária e na estrutura social regional. Os efeitos de curto prazo
sobre o emprego, sobre a produção, sobre o mercado da terra e sobre a rentabilidade das unidades
produtivas são elementos que merecem estudos para uma avaliação da influência deste processo na
actual economia regional. O sistema de organização social baseado nas relações de trabalho do
latifúndio foi abalado durante este período.
Dos ensinamentos da reforma agrária cabe destacar, no âmbito do quadro desta investigação,
o facto da grande maioria dos trabalhadores agrários não aspirarem à condição de empresários e de
proprietários de terras, o que constituiu uma das razões para a limitada distribuição fundiária realizada
durante este período. Os operários agrícolas pretendiam sobretudo e maioritariamente trabalho e salários
estáveis. Este elemento revela as dificuldades que existem e que existirão para criação de uma classe
empresarial com raízes regionais, sobretudo nos actuais momentos em que as pequenas iniciativas
empresariais e de criação de emprego a nível local poderão assumir um papel relevante no
desenvolvimento das regiões atrasadas da Europa.
26 Muitos autores consideram o impacto da reforma agrária como limitado, mesmo a nível regional. Não obstante, se aanálise considerar os efeitos políticos e as mudanças na hierarquização da sociedade alentejana, assim como astransformações produzidas sobre o emprego e sobre a produção, pode-se considerar que os efeitos foramimportantes, mesmo que temporárias.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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Estas constituem algumas das causas que justificam a escassa industrialização do Alentejo,
mesmo comparando com o já débil desenvolvimento industrial do país. Estas razões justificam
parcialmente que a transformação das produções agrícola e mineira regionais sejam realizadas
fundamentalmente no Norte e no Centro do país. Ressalvando a explicação baseada na economia da
localização industrial (o principal mercado do produto final era o Norte do país), o caso da cortiça é
possivelmente o exemplo mais paradigmático, pois 98% da sua industrialização localiza-se fora da
região.
A base agrária da economia e da sociedade alentejana e o passado histórico-cultural da
região, juntamente com a topografia e com a densidade populacional, configuraram a ordenação física do
território e a sua paisagem, onde predomina a pequena e a média urbanização e os grandes espaços
agrícolas, cuja ocupação varia ao longo do território. Dos aproximadamente 540 mil habitantes existentes
em 1991 (Censo 1991 -INE) apenas cerca de 152 mil (28,1%) habitavam nos concelhos com cidades
com alguma dimensão: Évora, Beja, Portalegre, Sines e Elvas. Este ordenamento e a base rural da
maioria da população e da economia alentejana influenciaram os níveis de escolarização, os
investimentos em equipamentos e em serviços sociais, entre muitos outros aspectos que contribuem
para justificar o actual nível de vida de população.
A zona de Sines tem uma grande importância na economia regional. Este pólo industrial surge
principalmente a partir da década dos anos 60 e integra-se no contexto das experiências de
industrialização da época27. O aproveitamento das condições naturais do porto e a economia da
localização industrial, principalmente a consumidora de grandes volumes de matérias primas importadas,
determinaram o desenvolvimento de Sines. Acrescenta-se que as indústrias aqui instaladas são
geralmente bastante poluentes, podendo-se deduzir que este projecto também pretendeu dispersar os
efeitos ambientais negativos que já se sentiam nas periferias de Lisboa.
Apresenta-se a seguir a evolução dos principais sectores da economia alentejana,
fundamentalmente durante a última década. Os sectores analisados são os que possuem um maior peso
na actualidade e, possivelmente, no futuro da economia alentejana. São os seguintes: a indústria
extractiva particularmente os “minerais não metálicos e rochas ornamentais”; a indústria transformadora
com destaque para a indústria agro-alimentar; o turismo; e, a agricultura. Faz-se também uma
apresentação sobre a evolução da população e do emprego assim como uma breve reflexão sobre as
tendências da distribuição espacial do desenvolvimento regional.
2.2 - Recursos naturais e indústria extractiva
O Alentejo possui importantes recursos de subsolo28 e a sua exploração económica tem uma
destacada relevância, nas zonas onde estas actividades estão concentradas. Destacam-se os casos do
mármore e do granito com produções de aproximadamente 606 mil e 105 mil toneladas em 1991, o que
27 A experiência de Sines aproxima-se mais aos modelos de exportação de determinadas indústrias para os paísesmenos desenvolvidos, no contexto da redefinição da divisão do trabalho que teve lugar durante as décadas dos 50 e60. Sines parece possuir poucos elementos comuns com a experiência do desenvolvimento dos distritos industriaisitalianos, onde a característica dominante foi o aproveitamento dos recursos, do conhecimento e das capacidadeslocais.28 Para um breve conhecimento sobre estes recursos, veja por exemplo, IAPMEI -Núcleo de Évora (1993).
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representava cerca de 85% e 75% das respectivas produções nacionais (IAPMEI, Núcleo de Évora,
1993:10). Os xistos de Mourão e de Barrancos possuem igualmente uma grande importância: com um
volume de produção de aproximadamente 60.000 toneladas anuais, o Alentejo representa cerca de 80%
da produção portuguesa. Outros minerais como o ferro e o manganés, o cobre e o estanho, o quartzo e
os feldspatos, possuem alguma importância na economia regional e as suas produções representam
percentagens elevadas no conjunto das respectivas produções nacionais.
A tendência dos últimos anos indica para a redução da importância das explorações mineiras.
Segundo CCRA (1995), a evolução do número de minas entre 1980 e 1993 foi a seguinte (considerando
apenas alguns anos): 17 minas em 1980, 13 em 1986, 11 em 1990 e 4 em 1993. Castro Verde e
Santiago do Cacém são os concelhos donde sempre se concentraram o maior número de explorações
mineiras.
Actualmente possuem importância os seguintes minerais (CCRA, 1995):
- O ferro e o estanho, com cerca de 14 a 16 mil toneladas de produção anuais. Toda a
produção nacional realiza-se em Santiago do Cacém (Serra das Tulhas, Serra do
Rosalgar e Serra das Minas).
- O cobre com cerca de 600.00 toneladas anuais. Mais de 99% da produção nacional
concentra-se em Neves-Corvo e a sua industrialização realiza-se em Aljustrel.
- A produção de estanho e de quartzo realiza-se também em Neves-Corvo cuja produção
representa cerca de 99% da produção nacional.
Devido ao seu grande peso na indústria extractiva regional, este trabalho concentra-se nos
“minerais não metálicos e rochas industriais29”. Em 1994 existiam 210 empresas extractivas na NUT
Alentejo, das quais 185 (92%) dedicavam-se aos “minerais não metálicos e rochas industriais”. Deste
grupo, 122 empresas (65,9%) localizavam-se nos concelhos de Vila Viçosa (64 empresas), Borba (34),
Crato (16) e Estremoz (8). Em termos de valor e também respeitante a 1994, os concelhos de Vila
Viçosa, Borba e Estremoz concentravam 76% da produção. Crato, apesar de possuir bastantes
empresas, somente representava 1,5% da produção regional. Durante os últimos anos verificou-se uma
tendência para a desconcentração territorial destas actividades. Os três concelhos têm reduzido o seu
peso na produção regional: em 1992 representavam 87,3%, em 1993 cerca de 80% e em 1994
aproximadamente 76%, o que pode ser justificado pelo dinamismo do sector e o surgimento de novas
explorações.
O mármore alentejano representava em 1980 cerca de 93,3% da produção nacional e o
granito cerca de 31,6%. Em 1989 estas percentagens eram de 87,% e 69,6% respectivamente (INE,
Estatísticas Industriais, Volume I). Em 1991, estas produções representavam 85% e 78% da produção
nacional (IAPMEI, Núcleo de Évora, 1993). Conforme se pode observar no quadro seguinte, o sector
criou emprego entre 1980 e 1989 embora o número de estabelecimentos se tenha reduzido
significativamente. Entre 1989 e 1992 o emprego baixou, estabilizando-se em 1993 e 1994.
29 Neste CAE estão incluídos a areia, o gabro-diorito, o grauvaque, o calcário, o granito ornamental e o mármore.
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Quadro 2.5
Sector “minerais não metálicos e rochas industriais”
Evolução do número de empresas e do emprego
Ano Estabelecim./Empresas(1) Pessoal
1980 381 3.042
1989 308 3.505
1992 107 1.994
1993 171 1.936
1994 185 1.938
Nota (1): Para 1980 e 1989, número de estabelecimentos e para 1992, 1993 e 1994,número de empresas.
Fontes: Para 1980 e 1989, INE Estatísticas Industriais, Volume I, 1980 e 1989.Para 1992 e 1994, CCRA, Anuário Estatístico da Região Alentejo-92 e 94.
A evolução recente da produção de mármore e de granito foi a seguinte:
Quadro 2. 6
Variação percentual anual da produção, em quantidade e valor
Mármores
Quantidade
Mármores
Valor
Granitos
Quantidade
Granitos
Valor
1987 7,5 21,0 21,2 33,3
1988 11,5 24,7 14,2 27,7
1989 9,3 23,0 34,2 51,2
Fonte: IAPMEI, Núcleo de Évora, 1993.
Entre 1992 e 1993 a produção (medida pelo volume de vendas) dos minerais não metálicos e
rochas industriais aumentou 14,2% e entre 1993 e 1994 cresceu cerca de 6% em termos nominais,
ambos os valores superiores à inflação. Destaca-se que existem comportamentos diferenciados nos
concelhos mais importantes: em 1993 e 1994, a produção de Estremoz decaiu em termos nominais em
cerca de 9% (o que pode significar cerca de 14-15% em termos reais); a produção de Borba cresce, em
termos nominais, cerca de 5,4% entre 1992 e 1993 e 6,2% no ano seguinte, o que representa que esta
actividade mantém-se, em termos reais, sensivelmente nos mesmos níveis durante os últimos anos; a
produção de Vila Viçosa decresce em termos reais em cerca de 5% entre 1992 e 1993 e cresce cerca de
1-2% no ano seguinte. Desta breve análise pode-se concluir o seguinte:
- Que esta actividade possui uma tendência recente para a estabilização da produção.
- Que é principalmente a partir dos fins da década dos 80 quando se inicia o processo de
modernização do sector, o que se reflecte nos aspectos seguintes: (1) na redução do
número de trabalhadores; (2) no incremento do valor unitário, o que está estreitamente
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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relacionado com os investimentos realizados no sentido de incorporar maiores valores
acrescentados na região (IAPMEI, Núcleo de Évora, 1993).
Estes factores permitiram um importante incremento das exportações, não só em quantidade
como em valor. “A exportação de blocos em bruto tem vindo a dar lugar ao bloco semi-transformado, à
chapa serrada, e ao produto acabado” (IAPMEI, Núcleo de Évora, 1993:6). Cerca de 75% da produção é
exportada, sendo Portugal o segundo exportador mundial de mármore. Os países da UE são os
principais compradores, tanto dos mármores como dos granitos (IAPMEI, Núcleo de Évora, 1993).
O peso da indústria extractiva na economia regional e no conjunto do sector a nível nacional
também aumentou, o que permite afirmar que o Alentejo experimenta um processo de especialização
nestas actividades. Em 1980 a produção alentejana de “minerais não metálicos e rochas ornamentais”
representava 33,4% da produção nacional e em 1989 esta percentagem era de 39,9%. Entre os minerais
não metálicos existiram comportamentos diferenciados conforme se pode apreciar no quadro seguinte:
Quadro 2.7
Percentagem da produção regional no total nacional de alguns
“minerais não metálicos e rochas ornamentais”
1980 1989
Areia 0,3 19,7
Calcário 1,2 11,1
Granito ornamental 92,7 74,0
Mármore 93,3 88,2
Total minerais não metálicos 33,4 39,9
Outros minerais não metálicos 5,9 0,3
Fonte: INE, Estatísticas Industriais, Volume I, 1980 e 1989.
2.3 - Indústria transformadora
Segundo o momento e a lógica da instalação, é possível tipificar três tipos de indústrias: (1) As
que transformam produções primárias locais, como são os casos da maioria das “alimentares e de
bebidas”, da “indústria da madeira e da cortiça” e das “indústrias dos minerais não metálicos”; (2) A
indústria instalada na década dos 60 e 70, particularmente as “químicas dos derivados do petróleo e do
carvão e produtos de borracha e plástico” centrada em Sines; (3) A indústria de material de transporte
instalada nos fins da década dos 70 e princípios dos anos 80, principalmente localizada em Vendas
Novas e em Ponte de Sôr.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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A pequena dimensão das empresas, os reduzidos valores de produção por unidade produtiva,
a baixa produtividade, as limitadas integrações verticais e a pouca internacionalização dos sectores,
constituem alguns dos factores que dificultam a competitividade da grande maioria das indústrias
alentejanas. O conjunto da economia regional, possuía 52.783 empresas em actividade em 1994, das
quais apenas 138 empregavam mais de 50 trabalhadores e somente 4 possuíam mais de 500
empregados (CCRA, 1994). Cerca de 93% das empresas empregavam menos de 5 trabalhadores, das
quais 64,7% estavam registadas sem nenhum trabalhador. Em termos de volume de vendas, somente
201 empresas facturaram em 1994 mais de 500 mil contos. Cerca de 93,3% facturaram no mesmo ano
menos de 25 mil contos. Das 138 empresas que possuíam mais de 50 trabalhadores, aproximadamente
a metade (68), localizavam-se nos Concelhos de Évora (17), Portalegre (13), Sines, Alcácer do Sal e
Castro Verde com dez empresas cada um dos concelhos e Montemor-o-Novo com 9 empresas. Das que
facturaram mais de 500 mil contos, mais de metade (104), estavam situadas nos Concelhos de Évora
(35), Beja (25), Sines (19), Elvas (13) e Montemor-o-Novo com 12 empresas (CCRA, 1994).
Através do quadro seguinte pode-se constatar que a redução do número de estabelecimentos
e de empregados industriais já existia entre 1980 e 1989, tendo-se registado neste período uma
diminuição em cerca de 37% das empresas existentes em 1980. O declive do número de trabalhadores
foi mais lento, cerca de 14%, o que corresponde a 1891 postos de trabalho.
Quadro 2.8
Evolução do número de estabelecimentos e do emprego na indústria transformadora
entre 1980 e 1989. Distritos de Beja, Évora e Portalegre
Nº estabelecimentos Nº pessoal
1980 826 13856
1989 521 11965
Fonte: INE, Estatísticas Industriais. Elaboração própria.
Durante o período considerado, o emprego evoluiu positivamente apenas em 7 concelhos
(Moura, Reguengos, Viana do Alentejo, Vila Viçosa, Alter do Chão, Castelo do Vide e Ponte de Sôr). O
número de empresas diminuiu em todos os concelhos. Os 4 concelhos (veja o quadro 2.9) mais
industrializados concentravam 63,3% e 68% do valor bruto da produção industrial em 1980 e 1989. Nos
concelhos menos industrializados, a produção baixa a ritmos mais rápidos que a média da região. Os dez
concelhos menos industrializados possuíam em 1981 e 1991, cerca de 12,7% e de 10,4% da produção
respectivamente.
O processo de concentração territorial existente entre os anos 1980, 1989, 1992 e 1994, pode
ser confirmado no quadro seguinte:
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Quadro 2.9
Concentração territorial da indústria transformadora em 1980, 1989, 1992 e 1994.Distritos de Beja, Évora e Portalegre
Em %
1980 1989 1992 1994
Primeiros 4 concelhos (1)
Nº de estabelecimentos 20,8 25,7 21,3 20,7
Nº de pessoas 51,6 54,4 44,4 59,1
Valor Bruto da Produção 63,3 68,0 30,4 35,0
Nota: (1) Os 4 concelhos com maiores produções industriais em 1980 foram os seguintes: Portalegre, Évora, CampoMaior e Vendas Novas. Em 1989, Ponte de Sôr substituiu Vendas Novas no quarto lugar.
Fonte: Para 1980 e 1989, INE, dados não publicados. Para os restantes anos, CCRA, Anuário Estatístico da RegiãoAlentejo-92 e 94. Elaboração própria.
Os três primeiros concelhos representavam, tanto em 1980 como em 1989 mais de 50% da
produção, respectivamente 54,2% e 58,8%. Só o concelho de Portalegre contribuía com 28% e 29,8% da
produção industrial dos distritos de Beja, Évora e Portalegre. Em 1980, oito concelhos (os três primeiros
mais Vendas Novas, Avis, Mourão, Elvas e Ponte de Sôr) somavam 75,2% do total da produção
industrial. Em 1989, apenas cinco concelhos (os três primeiros mais Ponte de Sôr e Vendas Novas)
representavam 74,7% da produção industrial alentejana. Deste modo entre 1980 e 1989 a produção
concentrou-se territorialmente. De 1989 e 1992 experimentou-se um processo de desconcentração. A
partir deste último ano, inicia-se uma nova tendência para a concentração.
Considerando a região NUT Alentejo (e não apenas os três distritos), a concentração industrial
altera-se substancialmente. Sines ocupava a primeira posição em 1994 com quase um quarto da
produção, cerca de 22%. Na NUT Alentejo sem Sines, a concentração territorial da produção industrial
seria a seguinte:
Quadro 2.10
Concentração territorial da indústria transformadora em 1992 e em 1994 na
NUT Alentejo, excepto o concelho de Sines.
Em %
1992 1994
Primeiros 4 concelhos (1)
Nº de estabelecimentos 17,8 15,9
Nº de pessoas 44,3 37,5
Valor Bruto da Produção 30,4 35,0
Nota: (1) Os quatro primeiros concelhos em termos de valor bruto da produção em 1992 foramos seguintes: Évora, Portalegre, Ponte de Sôr e Alcácer do Sal. Em 1994 a sequência era aseguinte: Campo Maior, Évora, Portalegre e Ponte de Sôr
Fonte: CCRA, Anuário Estatístico da Região Alentejo-92 e 94.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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Em 1992, sem incluir Sines, cerca de 25,2% da produção industrial era realizada em 3
concelhos (Évora, Portalegre e Ponte de Sôr). Dez concelhos (os três primeiros mais Alcácer do Sal,
Santiago do Cacém, Vila Viçosa, Estremoz, Vendas Novas, Elvas e Mora), representavam em 1991 cerca
de 50% da produção. Em 1994, também sem considerar Sines, a concentração era bastante superior: os
três primeiros concelhos (Campo Maior, Évora e Portalegre) contribuíam com cerca de 28,4% da
produção. Apenas sete concelhos (os três primeiros mais Ponte de Sôr, Alcácer do Sal, Vendas Novas e
Santiago do Cacém) somavam 50,8% da produção da NUT Alentejo.
Nos períodos analisados verificam-se algumas transformações na indústria regional.
Destacam-se os aspectos seguintes:
- A perda da importância relativa do concelho de Portalegre. Este concelho representava
em 1980 e 1989 mais da quarta parte da produção dos três distritos, e em 1992 e 1994
apenas contribuía com cerca de 8% da produção.
- O incremento da concentração territorial da produção.
O peso sectorial por CAE no conjunto da indústrias transformadora regional em 1981, 1989,
1992 e 1994, segundo o volume de vendas era a seguinte:
Quadro 2.11
Peso por CAE no conjunto da indústria transformadora do Alentejo e de Portugal
em % do volume de vendas
Alentejo Portugal
1981 1989 1992 1994 1981 1989
31 - Ind. Alimentar, Bebidas e Tabaco 44,4 38,5 40,4 39,9 18,5 20,0
32 - Ind. Têxteis, Vestuário e de Couro 6,7 7,7 5,9 4,7 16,9 18,7
33 - Ind. da Madeira e da Cortiça 5,6 6,4 10,4 7,6 4,7 4,7
34 - Ind. do Papel, Artes G.E. e Publicações 3,8 4,9 1,2 1,9 6,3 8,8
35 - Ind. Quim., Der. Petróleo, Borracha e Plástico 17,5 19,8 18,8 24,5 26,3 21,7
36 - Ind. Produtos Minerais não Metálicos 3,7 3,9 8,0 6,1 6,1 5,9
37 - Ind. Metalúrgica de Base 0,3 0,3 0,8 1,5 4,0 2,9
38 - Ind. de P. Met., Máq., Equip. e Mat. Transp. 17,1 18,3 14,8 13,6 16,9 17,2
39 - Outras Indústrias Transformadoras 0,0 0,0 0,3 0,3 1,7 1,9
Nota: Para 1981 e 1989, distritos de Beja, Évora e Portalegre. Para 1992 e 1994, NUT Alentejo. Para Portugal, não
existem dados mais actualizados.
Fontes: Para 1981 e 1989, INE, Estatísticas Industriais de 1981 e 1989. Para 1992 e 1994, CCRA, Anuário Estatístico
da Região Alentejo-92 e 94.
Pode-se observar o maior peso CAE´s 31, 33 e 38 na indústria transformadora regional,
destacando-se as agro-alimentares. As indústrias mais relacionadas com a produção primária local (as
dos CAE´s 31, 33 e 36) possuem comportamentos diferenciados ao longo dos períodos referidos no
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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quadro anterior: enquanto que a agro-alimentar parece possuir uma ligeira tendência decrescente, os
outros dois sectores aumentaram a sua importância ao longo da década experimentando um retrocesso
nos primeiros anos dos 90, fundamentalmente devido ao maior incremento relativo das indústrias
químicas. Deste quadro, ressalta-se a grande especialização regional na indústria de alimentos e de
bebidas e uma ligeira especialização no sector indústria da madeira e da cortiça. Ressalta-se no entanto,
que cerca de 90% da transformação da cortiça é realizada em Aveiro e em Setúbal.
Além da referida importância da indústria alimentar e de bebidas no conjunto da economia
regional, ela está presente, com diferentes graus de importância, em quase todos os concelhos. Não
obstante, existia em 1994 uma grande concentração territorial da agro-indústria: cerca de 50% localizava-
se nos concelhos de Campo Maior (21,2%), Alcácer do Sal (10,2%), Évora (7,8%), Portalegre (5,6%) e
Santiago do Cacém (5,2%).
A evolução recente da produção sectorial é de grande importância para o estudo do
dinamismo industrial da região, aspecto que pode ser analisado de forma breve através do quadro
seguinte:
Quadro 2.12
Evolução percentual do volume de vendas por CAE entre 1992 e 1994,
considerando os valores nominais
CAE 31 32 33 34 35 36 37 38 39
1994/1992 35,6 8,5 3,3 120,7 79,0 5,4 11,4 26,8 122,4
Fonte: CCRA, Anuário Estatístico da Região Alentejo 92 e 94. Elaboração própria.
As indústrias dos CAMAS 32, 33 e 36 tiveram crescimentos nos valores de produção inferiores
à inflação acumulada, o que é um sintoma de que atravessaram um período com redução da produção.
Destaca-se o crescimento das vendas das indústrias dos CAMAS 34 e 39, respectivamente as “químicas,
derivados do petróleo e do carvão e produtos de borracha e plástico” e as “outras indústrias
transformadoras”.
A produção de cada sector está muito concentrada territorialmente, destacando-se os
seguintes casos:
- As indústrias do CAE 32 concentram-se em Portalegre (50%) e em Évora (28,4%).
- Sines possui 79,7% da produção do CAE 35.
- Três concelhos concentram 74,9% da produção dos “produtos minerais não metálicos”:
Vila Viçosa, (43,3%), Estremoz (16,9%) e Évora (14,7%).
- Cerca de 60% da fabricação de “produtos metálicos, máquinas, equipamentos e material
de transporte” (CAE 38), localiza-se em Ponte de Sôr (30%), Vendas Novas (16,8%) e
Sines (13,4%). Évora e Estremoz possuem um menor peso, respectivamente 7,6% e
4,5% da produção regional.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
51
Além da concentração sectorial e territorial, existe em cada concelho o predomínio de um ou
dois sectores. Considerando os 5 concelhos mais industrializados em termos de valor da produção de
1994, a concentração sectorial era a seguinte:
- Em Sines, 89,7% do Valor Bruto da Produção (VBP) do concelho pertence às indústrias
do CAE 35.
- Em Campo Maior produz-se 99,4% do VBP das indústrias alimentares e das bebidas.
- Em Évora, 70,2% do VBP da indústria local é realizada pelos sectores dos CAE´s 32, 33 e
34.
- Em Portalegre, 96,6% do mesmo indicador pertence aos mesmos sectores de Évora.
- Em Ponte de Sôr, 79,2% do VBP pertence à indústria “fabricação de produtos metálicos,
máquinas, equipamentos e material de transporte”.
Em resumo, pode-se afirmar que o processo de concentração territorial da indústria
transformadora varia ao longo do tempo e que foi influenciada por políticas de industrialização
específicas, particularmente as relacionadas com o pólo industrial de Sines e com a instalação das
indústrias do ramo automóvel. O Alentejo possui uma destacada especialização nas indústrias do CAE
31. Durante os últimos anos, as indústrias que demonstraram maior dinamismo são as incluídas nos
CAE´s 34 e 39. Existem importantes aspectos do CAE 31 que serão analisados na secção dedicada à
indústria agro-alimentar (secção 2.5.b).
2.4 - Turismo
As potencialidades turísticas do Alentejo são de grande importância. A paisagem diferenciada
e ainda relativamente pouco poluída e degradada, a riqueza histórica e monumental, a beleza do
artesanato e do folclore, a qualidade e a diversidade da gastronomia e a existência de uma fauna
relativamente abundante e variada, entre outros aspectos, constituem potencialidades para o
desenvolvimento regional.
A capacidade de alojamento, cresceu rapidamente em termos percentuais durante a última
década. Em termos absolutos, o incremento desta capacidade foi reduzida. Por exemplo, no Baixo
Alentejo, no Alentejo Central e no Alto Alentejo, a capacidade de alojamento apenas se incrementou,
durante 9 anos, em 100, 186 e 68 lugares respectivamente. Houve períodos de recessão em termos de
evolução do número de camas na hotelaria regional como o verificado no período 1986-1988. Nas quatro
NUT´s, o número de camas disponíveis nas unidades hoteleiras durante estes anos evoluiu da seguinte
forma: 5848 camas em 1986, 5335 em 1987 e 5335 em 1988 (Nuno Rosado, 1991).
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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Quadro 2.13
Evolução da capacidade de alojamento entre 1980, 1990, 1992 e 1994
1980 1990 1992 1994
Total Alentejo 2.240 5.825 5.533 6.552
Alentejo Litoral 3.231 3.212 3.176
Baixo Alentejo 557 667 630 634
Alentejo Central 866 1.052 1.020 1.761
Alto Alentejo 817 875 671 981
Total Continente e Ilhas 107.500 179.337 173.183 202.442
Alentejo/Cont. e Ilhas (%) 2,1 3,4 3,2 3,2
Nota: Para 1980 e 1990, distritos de Beja, Évora e Portalegre. Para os anos posteriores a 1992, NUT Alentejo.
Fonte: INE, Estatísticas do Turismo, 1980 e1990. Para os restantes anos, CCRA, Anuário Estatístico da Região do
Alentejo-92, 93 e 94.
A concentração da capacidade de alojamento (medido em número de camas), era já patente
em 1980. Cerca de 52,3% localizava-se nas capitais distritais, principalmente em Évora, onde existiam
567 lugares, aproximadamente 26% da capacidade dos três distritos. Se a zona litoral for incluída (o que
corresponderia à actual NUT Alentejo), a concentração desloca-se para a costa onde, em 1990, existiam
cerca de 57,8% da capacidade de alojamento. A partir dos princípios desta década experimentou-se uma
nova deslocação desta capacidade para o Alentejo Central, cujo peso relativo subiu de 18,0% em 1990
para 26,9% em 1994.
Mais importante que os valores quantitativos são as mudanças qualitativas que representam
as novas instalações hoteleiras, conforme se pode observar no quadro seguinte.
Quadro 2.14
Tipo de alojamento - Número de lugares
1992 1993 1994
Hotéis 653 1.176 1.484
Pensões 2.135 2.588 2.269
Outros 2.745 2.867 2.799
Total 5.533 6.631 6.552
Fonte: CCRA, Anuário Estatístico da Região Alentejo,-92, 93 e 94
Ressalta-se que estes novos investimentos realizaram-se principalmente em Évora que
possuía em 1993 cerca de 52% da capacidade de alojamentos em hotéis e somente 14,6% em pensões
e 4,6% em “outros”. Os concelhos de Elvas e Portalegre possuem também importância no que respeita à
oferta, com 15,8% e 10,2% da capacidade dos hotéis alentejanos. Évora, Santiago do Cacém, Odemira,
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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Beja, Sines, Ferreira do Alentejo e Estremoz concentravam em 1993, aproximadamente 52% da
capacidade das pensões.
A evolução do número de hóspedes e do emprego do sector pode ser apreciado no quadro
seguinte:
Quadro 2.15
Turistas e emprego
Em %
1980 1990 1993
Turistas no Alentejo: portugueses/total 57,0 61,5 66,5
Turistas em Portugal: portug./total 52,2 42,6 46,4
Total turistas Alentejo/total Portugal 4,5 4,8 4,6
Emprego: Alentejo/Portugal 3,1 3,3 Nd
Nota: Os dados referentes a Portugal incluem as Ilhas.
Fontes: Para 1980 e 1990, INE, Estatísticas do Turismo, 1980 e 1990. Para 1993 CCRA,
Anuário Estatístico da Região Alentejo, 1994.
Em resumo, é possível confirmar que a evolução do turismo no Alentejo durante a década dos
80 foi muito lenta. Embora as percentagens da capacidade de alojamento e do número de turistas em
relação aos mesmo valores nacionais seja ligeiramente superior ao peso da economia alentejana no
conjunto da economia portuguesa, não se pode afirmar que o Alentejo possua uma especialização
turística. A ponderação das estatísticas com a existência de uma maior percentagem de turistas
portugueses no Alentejo (o que significa menos dias de estadia e menores gastos por turista/dia) e com a
reduzida capacidade de alojamento em hotéis de qualidade, permite afirmar que os recursos turísticos
regionais estiveram subaproveitados. A partir de fins da década dos 80 começaram a surgir iniciativas
que procuram potenciar as capacidades turísticas alentejanas. A zona costeira com o turismo de Verão,
o turismo histórico-cultural concentrado em redor de Évora, o turismo cinegético e de caça localizado
fundamentalmente em Avis, Évora, Mértola, Portel e Sousel e a oferta de condições para a realização de
congresso e conferências, surgem como as actuais estratégias do investimento.
2.5 - O sector agrário alentejano
a) A agricultura alentejana
A evolução da estrutura da agricultura alentejana foi influenciada ao longo dos tempos
principalmente pelas características naturais da região, pelo tipo de ocupação fundiária dominante e a
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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consequente estrutura social do meio rural e por políticas públicas. Em consequência, os sistemas
tradicionais de produção foram sendo substituídos por produções que assumiram uma crescente
importância na economia regional. Os casos da redução da cultura do vinho nos séculos XVIII e XIX, do
abandono progressivo do sistema do montado, o incremento da importância do trigo, das florestas e da
produção pecuária associada aos cereais, são exemplos claros da influência destes diferentes factores
na configuração da actual estrutura produtiva regional.
A economia alentejana possui uma clara especialização no sector agrário. Esta especialização
mantém-se relativamente estável ao longo das últimas décadas, conforme se pode observar no quadro
seguinte:
Quadro 2.16
Evolução do peso da agricultura alentejana na economia agrária portuguesa
Em % do total continental
VP-1970 VP-1980 VP-1990 VAB-1980 VAB-1990
Total agrário 18,8 18,9 17,2 18,9 19,0
Produção vegetal 15,0 18,2 17,6 16,8 16,9
Produção animal 18,9 17,8 12,2 19,6 15,5
Produção florestal 14,3 32,2 30,5 33,2 30,6
Notas: VP (valor da produção medido respectivamente para 1970, 1980 e 1990 pelo “produto final agrícola”, “valor
bruto da produção” e pelo “produto final”). VAB (valor acrescentado bruto).
Fontes: Para 1970, Carmona et al (1973) e para 1980 e 1990, Rolo (1996).
Entre 1980 e 1990, experimentou-se uma ligeira redução do peso do valor da produção
regional sobre o total nacional, aspecto que foi acompanhado pela permanência da mesma percentagem
do VAB. Sectorialmente, destaca-se o incremento da importância da produção florestal entre 1970 e
1980 e um pequeno decrescimento relativo na década seguinte. A produção pecuária possui uma
tendência negativa em termos relativos, tanto no valor da produção como no VAB. Estes dados
demonstram que a especialização agrária da economia alentejana mantem-se elevada e que não
existem progressos significativos em termos de incremento do valor acrescentado. Pelo contrário, a
produção pecuária que introduz em média mais valor acrescentado no conjunto das actividades agrárias,
perde peso na estrutura agrária regional.
O Alentejo possui uma grande especialização em alguns produtos conforme se pode apreciar
no próximo quadro.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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Quadro 2.17
Peso de algumas produções regionais no conjunto da produção de PortugalContinental - em % do valor da produção
1970 1980 1990
Trigo 62,2 71,8 73,4
Tomate para indústria 25,4 42,0 23,7
Azeite e azeitona 49,3 40,0 28,8
Ovinos 45,0 31,0
Bovinos 21,6 18,0
Suínos 16,6 13,6
Cortiça 72,0 66,7 74,7
Material lenhoso 13,2 20,7 9,1
Fonte: Rolo, (1996).
Deste quadro pode-se observar que das oito principais produções, o Alentejo possui uma
especialização superior ao do conjunto da agricultura em seis (produções com uma percentagem
superior a 18% que corresponde ao peso da agricultura alentejana na economia agrária do Continente).
Durante as duas últimas décadas a especialização aumenta apenas no trigo e na cortiça.
De acordo com os dados do quadro 2.18, a estrutura produtiva regional experimentou durante
a última década algumas alterações sectoriais, ressaltando-se as seguintes:
- O aumento do peso da produção florestal na formação do valor da produção e do VAB
agrário regional.
- A redução do peso da produção pecuária e o crescimento do respectivo VAB. A
comparação destes dados com os do quadro 2.16 permite concluir que embora o VAB da
pecuária tenha aumentado, este crescimento foi inferior ao verificado pelo conjunto da
produção animal do país.
- A diminuição da importância relativa da produção vegetal, tanto no valor da produção
como no VAB agrário regional;
Quadro 2.18
Peso sectorial no valor da produção e no VAB agrário regional
Em %
VP-1980 VP-1990 VAB-1980 VAB-1990
Total agrário 100,0 100,0 100,0 100,0
Produção vegetal 50,2 44,0 62,4 42,7
Produção animal 39,5 30,0 20,3 25,1
Produção florestal 10,3 26,0 17,3 37,2
Notas: VP (valor da produção medido respectivamente para 1980 e 1990 pelo “valor bruto da produção”e pelo “produto final”).Fonte: Rolo (1996). Elaboração própria.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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A percentagem do VAB na formação do valor da produção aumentou de forma significativa
entre 1980 e 1990. O comportamento sectorial é diferenciado, conforme se pode constatar no quadro
seguinte:
Quadro 2.19
Participação do VAB no valor da produção
VAB/valor da produção - em %
1980 1990
Total agrário 58,7 64,6
Produção vegetal 72,9 63,6
Produção animal 30,2 54,8
Produção florestal 98,9 95,2
Fonte: Rolo (1996). Elaboração própria.
Em termos do valor da produção, os principais produtos agrários alentejanos são os
representados no quadro seguinte:
Quadro 2.20
Peso dos principais produtos agrários no valor da produção regional
Em %
1970 1980 1990
Trigo 12,3 10,8 11,9
Azeite e azeitona 10,7 4,9 3,7
Ovinos (1) 9,6 9,9 5,9
Suínos 8,8 8,4 7,3
Bovinos 8,3 14,4 8,6
Cortiça 7,5 6,1 16,8
Produtos lenhosos 7,1 3,7 3,4
Sub-total 64,3 62,8 57,6
Nota: Inclui carne, leite e lã.
Fontes: Para 1970, Carmona et al (1973). Para 1980 e 1990, Rolo (1996).
Deste quadro pode-se extrair as seguintes observações:
- Embora se experimente uma tendência para a redução, existe uma grande concentração
produtiva num número reduzido de produções.
- Confirma-se que durante a última década houve uma redução da importância relativa das
principais produções pecuárias.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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- Ao contrário do que acontece no país e no mundo, a produção de azeite e de azeitona
decresceu. A grande percentagem de plantações não ordenadas, a perda de população,
o abandono de lugares e a baixa taxa de renovação das plantações, constituem algumas
das razões desta tendência negativa.
- Salienta-se o incremento da produção de cortiça motivada pela modernização do sector
transformador e pelo aumento e diversificação da produção industrial.
Quadro 2.21
Evolução das áreas trabalhadas e dos efectivos das principais produções agrárias
(Hectares e número de cabeças)
1979 1989 % de variação
Trigo 219.392 231.485 +5,5
Olival 158.622 144.957 -8,8
Tomate para indústria 7.099 4.595 -35,3
Ovinos 1.006.262 1.505.314 +49,6
Bovinos 233.763 258.984 +10,8
Suínos 377.419 345.464 -8,5
Fonte: Rolo (1996). Elaboração própria.
Dos dados representados neste quadro, apenas as áreas do olival, do tomate para indústria e
os efectivos de suínos baixaram entre os dois anos considerados. É possível observar que à excepção
do tomate e dos ovinos, a estrutura produtiva mais importante da região alterou-se de forma pouco
significativa.
Embora a ocupação dos campos alentejanos seja muito variável, é possível tipificar algumas
zonas com determinadas paisagens dominantes, destacando-se as seguintes:
- No litoral, predomina a floresta mediterrânica basicamente com o sobreiro e a azinheira e
as plantações de florestas para fins industriais.
- Nos distritos de Beja, Serpa, Moura, Ferreira do Alentejo, Aljustrel, e uma faixa que liga
Beja a Évora e Montemor, existem vastos campos cerealíferos combinados com a
pecuária extensiva e a plantação de olival, ordenada ou não. Este sistema de produção
extende-se de forma mais ou menos intensa por quase todo o território alentejano.
- Nos vales dos rios (Sado, Mira, Guadiana), onde existem regadios, predomina a média e
pequena exploração (considerando a escala das explorações alentejanas), produzindo
fundamentalmente o arroz, as hortícolas e as frutas para consumo em fresco ou para a
indústria. Outras produções possuem também importância económica, sobretudo nas
zonas onde se concentram: é o caso do vinho nos concelhos de Borba, Vidigueira,
Reguengos, Redondo, Portalegre e Évora.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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As principais produções estão territorialmente bastante concentradas. Considerando o valor da
produção de 1970, cinco concelhos (A. do Sal, Évora, Beja, Odemira e Moura) produziam 26,8% do PBA
(“produto bruto agrícola”) e 12 concelhos representavam perto de 52% do PBA (os cinco primeiros mais
Serpa, Montemor, S. do Cacém, Ferreira do Alentejo e Elvas). Em 1980, seis concelhos (Alcácer do Sal,
Odemira, Montemor, S. do Cacém, Serpa e Beja) aglutinavam 26,5% do valor bruto da produção regional
e cerca de 51% concentrava-se em 14 concelhos (os seis primeiros mais Évora, Moura, Ponte de Sôr,
Elvas, Ferreira do Alentejo, Reguengos, Portalegre e Estremoz). Em 1990 a concentração aumenta:
quatro concelhos (Montemor, A. do Sal, Odemira e S. do Cacém) produziam 26,7% do produto final
agrário e 10 concelhos representavam aproximadamente 50,5% da produção regional (os quatro
primeiros mais Ponte de Sôr, Évora, Grândola, Beja Ferreira do Alentejo e Avis).
Por outro lado, os dez concelhos que menos contribuíam para o valor da produção agrária
representavam em 1980 cerca de 8,3% do PAB regional (Barrancos, Alvito, V. Viçosa, Sines, C. de Vide,
Cuba, Fronteira, Mourão, Alandroal e Arronches). Em 1990, os dez concelhos menos representativos em
termos de produção agrária (Barrancos, Alvito, V. Viçosa, Cuba, C. de Vide, Marvão, Sines Mourão
Fronteira e Monforte), produziam aproximadamente 6,3% do produto final alentejano. Durante o período
observado, oito concelhos mantêm-se no grupo dos dez com menos peso na formação do produto final,
baixando a respectiva contribuição na produção regional em dois pontos percentuais.
A mesma análise considerando o VAB introduz algumas diferenças, sobretudo quanto à
participação de alguns concelhos. Este aspecto varia em função dos solos e do clima, da existência de
regadios, da maior ou menor proximidade dos centros consumidores e da indústria transformadora, do
nível de capitalização dos sistemas produtivos, da orientação produtiva dominante, entre outros
elementos que influenciam a produção a produtividade e os rendimentos. Considerando o VAB em 1980,
cinco concelhos (A. do Sal, Odemira, S. do Cacém, Grândola, Serpa e P. de Sôr), contribuíam com cerca
de 28% do valor acrescentado bruto agrário regional e 13 concelhos (os seis primeiros mais Moura, Beja,
Elvas, Évora, Ferreira do Alentejo e Reguengos) representavam 50,6% do VAB agrário alentejano. Em
1990 existia uma maior concentração na formação do valor acrescentado bruto: três concelhos (A. do
Sal, Odemira e Montemor) somavam 28,4% do VAB do Alentejo e 9 concelhos (os três primeiros mais
Santiago do Cacém, P. de Sôr, Grândola, Évora, Avis e Beja), contribuíam com 50,4% deste indicador
agrário regional.
É possível detectar uma ligeira “litoralização” da produção agrária. Os cinco concelhos do
litoral alentejano contribuíam respectivamente em 1970, 1980 e 1990 com cerca de 18,6%, 22,5% e
24,7% do valor da produção agrária. Também o eixo Setúbal Vendas Novas-Montemor-Évora-Arraiolos-
Estremoz-Borba-V.Viçosa e Elvas, aumentou a sua contribuição na formação da produção agrária ao
longo das duas últimas décadas: em 1970, 1980 e 1990 os concelhos integrados neste eixo
representavam respectivamente cerca de 20,9%, 21,2% e 22,6% da produção regional. Em termos de
VAB, a situação é semelhante: em 1980 estes concelhos contribuíam com 18,4% e em 1990 com 20,8%
do valor acrescentado bruto agrário da região. Os dois eixos representavam em termos de produção
agrária e de VAB em 1980 e 1990, entre 40 e 48% dos respectivos totais regionais.
O emprego no sector agrário evoluiu da seguinte forma entre 1968 e 1989:
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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Quadro 2.22
Evolução do emprego agrícola
1968 1979 1989
UTA´s Total Continente 1.065.458 1.053.252 806.800
UTA´s Total Alentejo 99.826 94.459 61.400
Variação Continente (%) - +1,7 -23,4
Variação Alentejo (%) - -5,4 -35,0
UTA´s Alentejo/Continente 9,6 9,0 7,6
Fonte: Rolo (1996). Elaboração própria.
Deste quadro é possível destacar os aspectos seguintes:
- A agricultura alentejana possui uma maior produtividade que a do conjunto do país. Em
1979 e 1989 representava cerca de 18% da produção e de 19% do VAB agrário do
Continente, utilizando apenas entre 9,6% e 7,6% das UTA´s. Destaca-se ainda que o
diferencial desta produtividade é crescente em favor do Alentejo.
- A redução do número de UTA´s verificou-se principalmente na década dos 80, sendo a
perda do volume de trabalho bastante superior no Alentejo. Esta é uma das
consequências da estrutura fundiária, dos sistemas produtivos dominantes e do processo
de modernização.
Uma análise dos dados da mesma fonte permite ainda extrair as seguintes conclusões:
- Que a redução de UTA´s é muito variável ao longo do território. Existem concelhos que
perderam na década dos 80 mais de metade do emprego, como são os casos de Cuba
(56,2%), Alandroal (-55%) e Sines (-51,3%). No outro extremo, há concelhos que
aumentaram o emprego, como por exemplo, a totalidade dos concelhos do Alentejo
Central, Serpa no Baixo Alentejo e Avis, Campo Maior, Castelo de Vide e Elvas no Alto
Alentejo. Todos os restantes concelhos perderam emprego durante o período
considerado.
- Com excepção de Sines, os concelhos do litoral reduziram relativamente pouco o volume
de trabalho, entre cerca de 9% (Odemira) e 3,4% (Grândola).
- O Baixo Alentejo reduziu cerca de 35% das UTA´s utilizadas durante o mesmo período,
aspecto que pode ser um indicativo do nível da crise que atravessa a agricultura da zona.
Em termos de concentração territorial do emprego, pode-se afirmar, tal como para a produção
e para a realização do VAB, que não existiram alterações significativas durante as últimas duas
décadas. Em 1968, os cinco concelhos mais empregadores representavam 26,4% das UTA´s utilizadas;
esta percentagem era de 27,4% e 24,8% em 1979 e 1989 respectivamente. Cerca de metade do
emprego (entre 50,2% e 51,6%), concentrava-se em 11 concelhos em 1968, em 12 concelhos em 1979 e
em 13 concelhos em 1989. Dos onze concelhos mais empregadores em 1968, nove mantiveram-se com
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
60
este “estatuto” nos anos seguintes da presente análise. Os 13 concelhos de 1989 eram os seguintes, por
ordem decrescente do número de UTA´s utilizadas: Odemira, Montemor, Ponte de Sôr, Serpa,
Portalegre, Évora, S. do Cacém, Grândola, Moura, Elvas, Alcácer do Sal, Reguengos e Estremoz.
b) A indústria agro-alimentar (IAA)
A indústria agro-alimentar alentejana possui características semelhantes às da indústria
transformadora portuguesa, particularmente nos elementos que dificultam a competitividade das
mesmas. Para o caso da IAA alentejana, estas características são mais acentuadas: as empresas
alimentares regionais são mais pequenas (seja em termos de número de empregados, do valor bruto da
produção ou do valor acrescentado), possuem produtividades inferiores e estão menos integradas
verticalmente do que as suas congéneres a nível nacional.
A IAA regional representa menos de 4% do valor bruto da produção do sector a nível do país,
menos que as percentagens da população e do Produto Agrícola Bruto nas respectivas magnitudes
nacionais. O peso da IAA regional na indústria alimentar nacional possui uma tendência decrescente: em
1981 a percentagem era de 4% e em 1989 baixou para 3,8%. O conjunto da indústria alentejana
representava, em 1981 e 1989, respectivamente 1,7% e 1,9% da indústria transformadora nacional.
Não obstante, a indústria agro-alimentar possui um peso significativo na produção industrial
regional. Esta importância é também decrescente: o indicador CAE 31 / total da indústria transformadora
(em termos de valor da produção), era de 44,4% em 1981, cerca de 38,5% e aproximadamente 40,4% e
39,9% em 1992 e em 1994 respectivamente. A IAA nacional representava em 1981 e 1989
aproximadamente 18,5% e 20,0% da indústria transformadora do país (INE, Estatísticas Industriais para
1981 e 1989 e CCRA, Anuário Estatístico da Região Alentejo-92 e 94). Deste modo, pode-se afirmar que
a indústria regional possui uma acentuada especialização no sector alimentar. Conforme se pode
apreciar no quadro seguinte, as diferenças intra-sectoriais são significativas:
Quadro 2.23
Participação dos principais subsectores no conjunto das indústrias do CAE 31 do Alentejo e igual
indicador para PortugalEm % do valor bruto da produção
CAE - Subsector 1981 1989 1981 1989
Alentejo Alentejo Portugal Portugal
3113.0.0 - Conser. de frutos e de p/ hortícolas 6,5 6,6 3,8 4,0
3116.2.0 - Moagem de farinhas espoadas 11,8 14,8 5,6 6,5
3117.1.0 - Panificação 14,5 10,4 6,6 5,1
3121.4.0 - Torrefacção 14,3 34,6 2,4 2,8
3122.0.0 - Prod. de alim. compostos p/ animais 9,2 8,4 22,4 17,4
SUB-TOTAL 56,3 74,8 40,8 35,8
Fonte: INE, Estatísticas Industriais. Elaboração própria.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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A partir deste quadro é possível observar a crescente concentração sectorial da produção
alimentar regional. De todas as indústrias do CAE 31, somente 5 subsectores concentravam em 1981
cerca de 56,3% da produção. Em 1989 esta percentagem aumentou para 74,8% e dois subsectores
(torrefacção e moagens), aglutinavam aproximadamente 50% do valor da produção alimentar regional.
No quadro seguinte pode-se observar o peso que algumas indústrias regionais possuem nos respectivos
subsectores a nível nacional.
Quadro 2. 24
Peso das principais indústrias regionais nos respectivos subsectores a nível nacional
Em % do valor da produção
CAE - Subsector 1981 1989
3111.2.0 - Fab. e fabrico de cons. de carne 1,8 (a)
3113.0.0 - Cons. de frutos e p./ hortícolas 6,8 6,3
3116.2.0 - Moagem de farinhas espoadas 8,5 8,5
3117.1.0 - Panificação 8,8 8,1
3121.1.0 - Torrefacção 23,9 46,5
3122.0.0 - Produção de alim. compostos p/ animais 1,7 1,9
Nota: (a) sem significado: inferior a 0,5%.
Fonte: INE, Estatísticas Industriais. Elaboração própria.
Constata-se que o Alentejo possui indústrias com um peso significativo no conjunto dos
respectivos CAE´s a nível nacional. Para os casos das conservas de frutos e de produtos hortícolas,
moagem de farinhas, panificação e torrefacção, o peso é superior ao do conjunto da IAA regional no total
do CAE 31 nacional. Com excepção da torrefacção e da produção de alimentos compostos para animais,
o peso das principais indústrias regionais no conjunto do país reduziu-se ao longo da última década.
Além das indústrias alimentares, as relacionadas com as florestas e com a cortiça deveriam
ter uma particular importância devido aos respectivos pesos da produção primária regional no conjunto
do país. Esta correspondência não existe. A cortiça transformada no Alentejo em 1981 e 1989
representava cerca de 0,4% e 2,8% respectivamente do valor da produção destes produtos. Dois
concelhos (Aveiro e Setúbal), mantiveram ao longo da década um peso predominante na produção de
cortiça, cerca de 88%. A carpintaria regional reduziu, no mesmo período, o seu peso no respectivo
subsector: passou de 12,8% para 2,8% da produção nacional. O fabrico de mobiliário de madeira da
região representava cerca de 1,9% e de 1,7% da produção nacional nos dois anos estudados.
Ao longo da década, o conjunto da indústria alimentar regional perdeu posições no conjunto
da indústria transformadora nacional, não só pela redução dos pesos específicos de cada subsector
(com poucas excepções - a torrefacção de forma significativa e as indústrias de alimentos compostos
para animais e de artigos de cortiça de forma ligeira), mas principalmente devido à evolução desfavorável
na maioria dos indicadores produtivos e de competitividade. Não obstante, deve-se salientar o grande
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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incremento das produtividades em todos os subsectores da indústria alimentar alentejana, o que reflecte
os esforços realizados nos investimentos e na modernização, principalmente depois da segunda metade
da última década.
O quadro seguinte apresenta um resumo de alguns destes indicadores.
Quadro 2.25
Evolução de alguns indicadores de determinados subsectores da indústria alimentar
% de empresas % trabalhadores Nºtrab./empresa
VBP/trabalhador
1981 1989 1981 1989 1981 1989 1981 1989
Cons. de carne Al 25,6 13,1 9,0 8,7 9,9 3,0 4775 1495,3
Pt 100,0 100,0 100,0 100,0 25,9 45,3 2419,4 13166,1
C. de f. e p.hortic. Al 23,5 18,2 8,6 12,5 31,6 45,5 1044,3 4719,3
Pt 100,0 100,0 100,0 100,0 6,8 66,3 1325,2 13166,1
Moagem espoados Al 19,2 16,7 13,2 12,8 24,1 28,6 2852,7 21065,3
Pt 100,0 100,0 100,0 100,0 35,1 37,3 4432,6 29800,0
Panificação Al 19,2 15,0 7,8 8,0 5,3 6,4 652,4 2176,2
Pt 100,0 100,0 100,0 100,0 11,2 12,0 575,7 2144,2
Torrefação Al 18,5 25,0 24,4 43,1 17,1 48,5 4553,0 21145,3
Pt 100,0 100,0 100,0 100,0 12,9 28,1 4648,5 19411,0
Nota: INE, Estatísticas Industriais, 1981 e 1989. Elaboração própria.
Deste quadro é possível constatar os seguintes aspectos:
- Com excepção da torrefacção, a percentagem do número de empresas dos subsectores
mais importantes da indústria alimentar alentejana baixou, comparativamente com as
empresas existentes a nível nacional.
- A percentagem do número de trabalhadores aumentou mais no conjunto do país.
Exceptuam-se as indústrias de conservas de carne e das moagens.
- O indicador número de trabalhadores por empresa aumentou mais rapidamente na
maioria dos subsectores do país. Também neste caso se exceptua a indústria de
torrefacção.
- A produtividade aumentou mais rapidamente nos subsectores de todo o país.
Estes dados permitem concluir que os sectores mais importantes da indústria alimentar
regional, com excepção da torrefacção, tiveram evoluções menos favoráveis que os respectivos
subsectores do conjunto do país. As empresas são relativamente cada vez mais pequenas e a
produtividade é também cada vez menor.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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A evolução da concentração territorial em 19881, 1989, 1992 e 1994, possui um
comportamento semelhante ao do conjunto da indústria transformadora, isto é, entre os dois primeiros
anos existe um processo de concentração, seguido de desconcentração para depois, entre 1992 e 1994,
se experimentar uma nova tendência para a concentração da produção. Em 1980 três concelhos
contribuíam com 51,9% do VBP do CAE 31 alentejano, sendo Campo Maior o mais importante com
26,9%, Évora com 15,5% e Avis com cerca de 9,5%. Em 1989, apenas dois concelhos, Campo Maior
(39,8%) e Évora (13,8%) totalizavam 53,6% da produção alimentar da região. Em 1992, de novo três
concelhos (Alcácer do Sal, 11,6%; Évora, 10,8%; e Portalegre, 6,8%), contribuíam com cerca de 29,2%
da produção da indústria alimentar regional. Nove concelhos produziam 51% do VBP alentejano (aos
três já referidos se acrescentavam os concelhos de Santiago do Cacém, Redondo, Estremoz, Campo
Maior e Vendas Novas). Em 1994 a concentração acentuou-se: cerca de 31,2% da produção era
realizada em Campo Maior (21,2%) e em Alcácer do Sal (10,2%). Cinco concelhos eram responsáveis
por aproximadamente 50% da produção da indústria alimentar da região (Évora, Portalegre e Santiago
do Cacém, além dos dois concelhos anteriores).
Como conclusões mais destacadas desta breve análise podem-se ressaltar os seguintes
aspectos:
- Que o Alentejo possui uma acentuada especialização em algumas indústrias alimentares,
como são os casos das conservas de frutos e de produtos hortícolas, das moagens de
farinhas, da panificação e da torrefacção. Com excepção da torrefacção, todas elas
transformam principalmente produtos primários locais. A indústria regional realiza
basicamente a primeira transformação. É fácil constatar que as segundas e terceiras
transformações dos produtos primários locais realiza-se fora da região.
- Para os casos das indústrias ligadas às florestas e à cortiça, embora exista um maior
peso destes sectores no conjunto da indústria regional do que no total da indústria
transformadora nacional, é relevante que a quase totalidade da matéria prima é
transformada no centro e norte do país, onde se localizam a maioria das indústrias da
pasta de papel, as carpintarias e a indústria corticeira.
- A concentração territorial e sectorial da IAA é grande, embora inferior à que existe para o
conjunto da indústria transformadora regional.
Verifica-se uma tendência para a perda de importância da IAA regional e alguns indicadores
de produtividade e de competitividade evoluíram menos que para o conjunto da agro-indústria nacional.
3. POPULAÇÃO30 E EMPREGO
A baixa densidade populacional e a sua distribuição espacial pouco concentrada, as formas de
povoamento, o envelhecimento, os fenómenos migratórios e o nível de educação são alguns dos
30 Os dados estatísticos referidos nesta secção, salvo indicação específica, foram retirados de CCRA (1992). Para osrestantes aspectos relacionados com a população, pode-se ver por exemplo, em Arminda Cavaco (1986).
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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elementos que mais caracterizam a população alentejana31. Na década dos 50, segundo Oliveira
Baptista (1984), o decrescimento foi de cerca de 10%. Nas décadas dos 60 e 70, o Alentejo perdeu
respectivamente 22,6% e 1,7% da sua população. Este prolongado êxodo reflecte a evolução da
economia alentejana cujos elementos que mais a determinaram foram os seguintes: primeiro, foi a crise
dos sistemas de produção praticados no latifúndio32; a partir da década dos 60, emergiu a emigração e o
desemprego provocados pelos processos de industrialização e de modernização da agricultura33; depois
da segunda metade da década dos 80, os efeitos da PAC sobre a agricultura não beneficiaram o
emprego. Mais recentemente, assiste-se à incapacidade de reter a população no meio rural através de
diversos programas34.
Entre 1981 e 1991, a população decresceu cerca de 6,4%, o que significa uma perda média
aproximada de 0,5% por ano. Este ritmo tende a incrementar-se: a população residente decresceu em
1992 cerca de 1,2% e no 2º semestre de 1993, a perda estimada foi de 0,43% (elaboração própria a
partir de CCRA, 1994). Apenas os concelhos de Évora, Santiago do Cacém , Sines e Castro Verde
tiveram, entre 1981 e 1991, um crescimento positivo da população. Os decrescimentos menos rápidos
(até -5%) apenas se verificaram nos concelhos de Cuba, Vila Viçosa, Vendas Novas, Reguengos de
Monsaraz, Portalegre, Ponte de Sôr, Elvas, Castelo de Vide, Campo Maior e Avis. Os concelhos com
decrescimentos mais acentuados foram os seguintes: Ourique (-23%), Marvão (-18,6%), Almodôvar e
Mértola (-17,1%), Vidigueira (-15,9%), Sousel (-15,5%) e Estremoz (-15,2%).
As zonas onde existem actualmente actividades com maior dinamismo coincidem, em termos
gerais, com uma evolução menos negativa da população. Destacam-se os exemplos seguintes:
- Évora, com o estatuto de capital regional e com a sua indicação como património cultural
da humanidade, beneficiou de investimentos nos sectores dos serviços públicos e do
turismo. A indústria alimentar possui também um peso importante. A cidade de Évora
aumentou a sua população em 11,7% entre 1981 e 1991 (CCDR, 1995).
- Sines e Santiago do Cacém, onde a indústria e os serviços (portos e transportes)
possuem uma importância significativa na economia regional.
- Castro Verde, fundamentalmente devido à exploração mineira realizada por capitais
externos.
Os concelhos que experimentaram um decrescimento populacional inferior a 5% localizam-se
maioritariamente no eixo transversal central Setúbal - Montemor o Novo - Elvas e nas imediações de
Évora, como são os casos de Vila Viçosa, Vendas Novas e Reguengos de Monsaraz. Nesta zona situam-
se as actividades mais dinâmicas dos últimos anos, principalmente as seguintes: a agricultura de regiões
demarcadas e de produtos com denominações de origem, a extracção e a transformação dos mármores
e dos granitos, a indústria de material de transporte, o turismo, o comércio transfronteiriço e os serviços
31 Esta secção apenas refere aspectos que se enquadrem no contexto do quadro teórico e dos objectivos da presenteinvestigação.32 Para este período, veja por exemplo, Baptista (1984 e 1993b).33 Veja por exemplo, Oliveira Baptista (1993b) e Sevinate et al (1984).34 Este aspecto será fundamentado ao longo do presente trabalho.
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de hotelaria associados aos eixos rodoviários. Os restantes concelhos são: Portalegre, capital de distrito,
Cuba e Ponte de Sôr, onde existe uma importante indústria automobilística.
O contrário também se verifica, isto é, as zonas mais deprimidas e com menores densidades
de população coincidem na maioria dos casos com as evoluções demográficas mais negativas,
destacando-se a região limítrofe com o Algarve - concelhos de Ourique (-23%) 35, Almodôvar (-17,1%),
Mértola (-17,1%), e uma parte de Serpa (-14,0%), toda a região do Baixo Alentejo, excepto Barrancos
(apenas -5,9%), Cuba (apenas -4,5%) e Castro Verde (+2,8%) e um eixo intermédio no Alto Alentejo
onde se incluem os concelhos de Crato (-10,3%), Alter do Chão (-10,5%), Fronteira (-7,5%), Monforte
(-12,2%) e Arronches (-14,7%).
Esta redução de população é acompanhada pelo desaparecimento de lugares. Por exemplo,
numa amostra aleatória de 11 concelhos, a perda de lugares entre 1960 e 1991 foi a seguinte:
Quadro 2.26
Perda de lugares, entre 1960 e 1991
Nº de lugares Nº de lugares Perda em %
Alter do Chão 12 6 50,0
Campo Maior 6 8 133,3
Marvão 109 28 74,3
Portalegre 180 23 87,2
Borba 44 18 59,1
Montemor-o-Novo 200 36 82,0
Portel 23 8 65,2
Alvito 6 3 50,0
Castro Verde 41 22 46,3
Moura 38 10 73,7
Alcácer do Sal 190 53 72,1
Fonte: CCRA, 1995, elaboração própria.
Deste quadro pode-se concluir que o abandono de lugares foi (e possivelmente ainda é) muito
rápida. Este abandono não é uniforme no tempo e no espaço. Uma breve análise dos dados do
documento CCRA (1995) permite constatar o seguinte: (a) O ritmo de abandono é diferente por concelho;
(b) A maioria dos abandonos aconteceram na década dos anos 60; e, (c) Surgem novos lugares, alguns
dos quais bastante dinâmicos (por exemplo no Concelho de Campo Maior).
Sobre a evolução da população no período 1981-1991, pode-se ainda concluir os aspectos
seguintes:
- A emigração generalizou-se em todo o meritório. Por exemplo, nos anos 1987-1988,
apenas os concelhos de Elvas, Portalegre, Évora e Sines tiveram um saldo fisiológico
35 As percentagens que se encontram depois dos nomes dos concelhos representam a perda de população entre 1981e 1991.
ALENTEJO: Os recentes processos de concentração e especialização produtiva. Perspectivas____________________________________________________________________________________
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positivo. Mesmo nestes concelhos, os saldos anuais são crescentemente mais baixos.
Nos princípios da década existiam 22 concelhos com saldos positivos da população
(média 1981-1982).
- O ritmo da diminuição da população aumentou na década dos 80 em relação aos anos 70
e acelera-se a partir de meados da década passada.
- Em geral, a velocidade da desertificação humana é maior nas zonas com menor
densidade populacional e com processos mais prolongados de perda de população.
Destaca-se ainda que os números estatísticos poderiam ser mais negativos se fossem
considerados os muitos alentejanos que trabalham na península de Setúbal, em Lisboa e no Algarve e
mantêm a residência no Alentejo.
A evolução da população regional segundo a dimensão dos lugares apresenta, em geral,
tendências semelhantes às existentes noutros territórios. Pode-se resumir no seguinte36.
- Redução em todo o Alentejo da percentagem da população que vive nos povoados com
menos de 200 habitantes.
- Aumento da percentagem da população que vive nos centros urbanos com mais de
10.000 habitantes. Com excepção do Baixo Alentejo, o mesmo acontece nos lugares
maiores de 5.000 habitantes.
- Crescimento da percentagem da população que vive na maioria dos lugares com
dimensões entre os 200 e os 2.000 habitantes e redução da percentagem da população
que vive na maioria dos lugares com dimensões entre os 2.000 e os 5.000 habitantes.
O fenómeno da concentração populacional durante a última década não foi muito perceptível.
Os 10 concelhos mais populosos em 1981 (Évora, Beja, Odemira, Santiago do Cacém, Portalegre, Elvas,
Serpa, Montemor-o-Novo, Moura e Ponte de Sôr), representavam cerca de 49,9% da população regional
e em 1991, os mesmo concelhos continuavam sendo os mais populosos, representando cerca de 48,4%
da população alentejana. Em termos de território, estes concelhos representam cerca de 38,8% da
região. Os concelhos de Évora, Beja, Santiago do Cacém e Odemira somavam em 1991 cerca de 28%
da população e 19,4% do território. Por outro lado, os dez concelhos menos populosos em 1981 (Alter do
Chão, Arronches, Castelo de Vide, Fronteira, Marvão, Monforte e Mourão no Alto Alentejo e Alvito,
Barrancos e Cuba no Baixo Alentejo), aglutinavam aproximadamente 7,3% da população e em 1991, os
mesmos concelhos continuavam sendo os menos populosos com cerca de 7,0% da população regional e
somam cerca de 9,8% do território.
Conforme se pode ver no quadro seguinte, apenas entre 1970 e 1981 existiu um processo
acentuado de concentração da população nas capitais de distrito. Pode-se observar que os crescimentos
36 Os dados desta análise estão agregados segundo as NUT´s Alto Alentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo eAlentejo Litoral. Esta desagregação possibilita matizar as afirmações sobre a tendência para a concentração daspopulações nos lugares de maior dimensão e para a redução dos residentes nas localidades de menor tamanho.Como se pode verificar pelo que se expõe nos parágrafos seguintes, esta afirmação é apenas parcialmentecontrastável para o caso do Alentejo.
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percentuais da população residente entre 1960 e 1970 e entre 1981 e 1991 foram muito reduzidos. Évora
foi a única capital distrital cuja população cresceu de forma relevante entre 1981 e 1991, cerca de 11,7%.
A cidade de Portalegre manteve a população e Beja apenas aumentou em 1,5%. Estes factos indicam
que o incremento das percentagens apresentadas no quadro seguinte é motivado pela maior perda de
população nos respectivos distritos e no conjunto da região.
Quadro 2.27
Percentagem da população residente nas capitais distritais
em relação aos distritos e ao total do Alentejo
Distritos 1960 1970 1981 1991
Portalegre 6,2 7,9 11,2 11,9
Évora 11,0 9,0 19,3 22,6
Beja 2,2 2,9 12,5 14,3
Total Alentejo 6,6 8,7 12,1 13,8
Fonte: CCRA. Elaboração própria.
A densidade populacional alentejana é de cerca de 20 habitantes por km2 (CCRA, 1995).
Existem grandes diferenças intra-regionais. Apenas 10 concelhos possuem uma densidade superior aos
30 hab/km2, que são os seguintes: Sines (62,3 hab/km2), Portalegre (57,8), Borba (56,1), Vendas Novas
(46,4), Vila Viçosa (46,4), Évora (41,2), Elvas (38,5), Campo Maior (34,5), Cuba (31,5) e Beja (30,8). Sete
destes concelhos experimentaram, entre 1981 e 1991, crescimentos positivos de população (Évora e
Sines) ou decrescimentos inferiores a 5% (os restantes concelhos). Existem 6 concelhos com
densidades inferiores a 10 hab/km2, que são os seguintes: Alvito (9,7), Alcácer do Sal e Ourique (9,6),
Avis (9,2), Mora (8,7) e Mértola (7,4). Excepto Avis, todos estes concelhos tiveram grandes perdas de
população durante a última década.
Emprego:
A evolução do emprego entre 1970 e 1991 fundamenta o êxodo da população alentejana e
reflecte a crise da maioria dos sectores produtivos.
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Quadro 2.28
Evolução do emprego dos distritos de Beja, Évora e Portalegre
Número de empregos
1970 1981 1991
TOTAL ALENTEJO 209.200 182.307 174.224
Sector Primário 119.990 72.108 40.791
Sector Secundário 32.540 42.404 44.026
Sector Terciário 56.670 67.735 89.407
Distrito de Beja 78.885 62.423 57.199
Sector Primário 50.200 27.157 15.650
Sector Secundário 9.515 13.336 12.849
Sector Terciário 19.170 21.930 28.700
Distrito de Évora 71965 69.894 69.116
Sector Primário 35.995 26.846 14.880
Sector Secundário 14.205 16.861 19.427
Sector Terciário 21.765 26.187 34.809
Distrito de Portalegre 58.350 49.990 47.909
Sector Primário 33.795 18.105 10.261
Sector Secundário 8.820 12.267 11750
Sector Terciário 15.735 19.618 25.898
Nota: Para 1981, o sector secundário inclui a indústria extractiva.
Fonte: INE. Recenseamento Geral da População, 1970, 1981 e 1991. Dados não publicados. Elaboração própria.
Deste quadro é fácil destacar os seguintes aspectos:
- O sector primário perde, entre 1971 e 1991, 66% do emprego, sendo o ritmo da década
dos 80 ligeiramente superior ao da década anterior. Os distritos de Beja e de Portalegre
perderam uma percentagem maior, cerca de 69% e de 70% respectivamente.
Considerando que as actividades relacionadas com a extracção de recursos naturais não
reduziram o número de postos de trabalho durante a década anterior, a perda de
emprego reflectida no quadro é fundamentalmente da responsabilidade do sector agrário.
- O sector secundário, aparenta uma tendência à criação de emprego, embora com menor
importância da reflectida nas estatísticas, devido à inclusão das industrias extractivas no
recenseamento de 1981 e 1991
- A criação rápida e constante de emprego no sector terciário nos três distritos é um
indicador claro da dinamicidade deste sector, particularmente dos serviços públicos.
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Por sector de actividade a evolução do emprego entre 1993 e 1994 foi a seguinte:
Quadro 2.29
Evolução recente do emprego por sector de actividade da NUT Alentejo
Em milhares de empregos
Sector 1993 1994
TOTAL 208,7 204,4
Agricultura e Pesca 31,4 32,9
CAE 31 4,2 3,3
CAE 32 7,1 6,4
CAE 33 6,3 6,0
CAE 34 2,9 3,4
CAE 35 2,3 2,2
CAE 36 3,8 3,8
CAE 37 2,4 2,9
CAE 38 1,3 1,4
CAE 39 0,7 0,7
Elect. Gás, Água e Vapor 1,5 1,5
Construção 18,1 18,5
Comércio (1) 35,6 33,0
Hotelaria 14,9 13,5
Transportes 3,4 3,6
Outros serviços privados (2) 8,4 7,8
Administração 50,0 51,3
Outros (3) 14,3 12,4
Notas: (1), Comércio de automóveis, comércio por grosso e intermediários, comércio a retalho.
(2), Correios e telecomunicações, banca e seguros, informática e I&D.;
(3) Administração pública, defesa, segurança social obrigatória, ensino, saúde e serviços sociais.
Fonte: CCRA, Anuário Estatístico da Região Alentejo-93 e 94.
Porque os dados são apenas referentes a dois anos, os comentários a seguir referidos devem
ser considerados com algumas reservas. Do quadro anterior podem-se extrair as seguintes observações:
- A redução do emprego é bastante acentuada, cerca de 2% por ano.
- Das 18 agregações consideradas no quadro, apenas sete (agricultura, CAE´s 34, 37 e 38,
Construção, Transportes e Administração) incrementaram o número de postos de
trabalho. Outros três sectores, CAE´s 36 e 39, Electricidade, Gás, Água e Vapor
conservam o número de postos de trabalho.
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- A administração é o maior empregador, com mais de um quarto dos empregos,
verificando-se ainda um incremento de cerca de 2,6% entre 1993 e 1994.
- O sector terciário é responsável por cera de 60% do volume do emprego regional.
Este trabalho não apresenta, por força dos seus objectivos, aspectos importantes como seja a
análise dos grupos sociais e dos sectores da população mais atingidos pelo desemprego, como por
exemplo as mulheres.
4. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ACTIVIDADE ECONÓMICAS
Segundo uma análise baseada numa metodologia que procura estudar a evolução e o
dinamismo da população e da produção dos principais sectores económicos, conclui-se que as actividades
produtivas possuem uma ligeira tendência para se concentrarem em dois eixos: no transversal central e no
eixo litoral. Alguns dados representados no quadro seguinte demonstram esta afirmação.
Quadro 2.30
Peso de algumas actividades económicas dos eixos transversal central e litoral
no conjunto dos respectivos sectores a nível regional
Em % do total regional
% do território % da população % do PAB VBP-IAA VBP I Trans
Central Litoral Central Litoral Central Litoral Central Litoral
1981 19,3 13,2 27,8 17,8 21,2 22,5 55,2 44,7
1991 19,3 13,2 28,9 18,2 22,6 24,7 66,1 44,4
Alentejo 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Nota: O eixo transversal central inclui os concelhos de Vendas Novas, Montemor, Évora, Arraiolos, Estremoz, Borba, VilaViçosa, Elvas e Campo Maior. O eixo litoral é formado pelos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém eSines.Fonte: INE, várias publicações. Elaboração própria.
Deste quadro é possível observar que existe um ligeiro aumento relativo da concentração
populacional. A concentração do PAB nos dois eixos e do valor da produção da indústria agro-alimentar no
eixo central aparecem como evidentes. O eixo litoral mantém o mesmo peso para o total da indústria
transformadora.
Uma análise mais detalhada indica que existe uma especialização diferenciada, o que está
demonstrado no próximo quadro. No primeiro eixo predomina a pecuária extensiva, a agro-indústria e a
indústria extractiva dos mármores e dos granitos. No segundo, as produções mais importantes são a cortiça,
os produtos lenhosos, o arroz, a indústria localizada em Sines e a extracção de cobre, estanho e de quartzo.
O concelho de Alcácer do Sal possui um peso destacado na indústria alimentar alentejana, cerca de 10,3%
do valor bruto da produção regional em 1994. As principais zonas produtoras agrárias encontram-se fora
destes eixos e localizam-se principalmente no Baixo Alentejo. Mais de 75% da capacidade de alojamento do
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turismo localiza-se nestes dois eixos. As vias de comunicação com maiores fluxos de transportes
atravessam estes dois eixos. Os serviços públicos estão também aqui concentrados.
Quadro 2.31
Principais produções dos dois eixos
Em % do total do valor da produção regional
Central - 1990 Litoral - 2-1990 Total 2 eixos
Trigo 19,3 4,2 23,5
Arroz (1) 16,6 64,6 81,5
Azeite e azeitona 19,2 3,3 22,5
Bovinos 30,0 16,2 46,2
Ovinos 25,3 18,1 43,4
Cortiça 22,1 34,8 56,9
P. lenhosos 14,0 28,1 42,1
Mármore >90 >90
Granito >90 >90
Ind. do CAE 31 (2) 45,2 15,8 61,0
Ind. do CAE 33 (2) 35,6 32,2 67,8
Ind. do CAE 35 (2) >79 >80
Ind. do CAE 36 (2) 81,8 3,2 84,0
Ind. do CAE 39 (2) 39,2 17,5 56,7
Turismo (3) >75
Notas (1): Dados referentes a 1980. (2) Informações estatísticas de 1994. (3) Em percentagem dacapacidade de alojamento
Fontes: INE, várias publicações. Elaboração própria.
Analisando a evolução recente dos sectores económicos apresentados neste trabalho e segundo
a mesma metodologia, elaborou-se uma tipologia para classificação dos concelhos37. O Grupo I é
37 Chama-se à atenção para o carácter aproximativo desta classificação, principalmente pelas razoes seguintes: (1)Não foram estudados de forma individualizada todos os sectores da economia regional, destacando-se a construção ea maioria dos serviços; (2) Poderão existir outras variáveis diferenciadoras mais importantes; as variáveisconsideradas foram condicionadas pelo conjunto do estudo que não possuía como objectivo central realizar estaclassificação; (3) A tipologia e as classificações dos concelhos foram elaboradas considerando como elemento dereferencia a região; a consideração de um outro elemento de referência produziria, certamente, outra classificação.Destaca-se ainda que alguns concelhos não cumprem todos os critérios para a integração no grupo em que seencontram classificados, aspecto que está justificado em cada caso.
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composto pelos concelhos que reúnem as seguintes características38:
1 - Saldo positivo no crescimento da população entre 1981 e 1991.
2 - Densidade populacional acima da média da região.
3 - Possui actividades com um dinamismo maior que a média regional.
4 - Relativa concentração de serviços, públicos ou privados.
5 - Concelhos que estejam integrados dentro das vias de comunicação com saldos de tráfego
positivos durante os últimos anos.
Reúnem estas características os concelhos de Évora, Sines e Santiago do Cacém. As cidades de
Portalegre e Beja, também se podem qualificar neste grupo. Embora Castro Verde não reúna as condições
2 e 5, este concelho foi considerado neste grupo devido ao saldo positivo da população e ao dinamismo da
indústria extractiva aí existente.
No grupo II são integrados os concelhos que reúnem as características seguintes:
1 - Perda de população entre 1981 e 1991 não superior a 5%.
2 - Densidade populacional acima da média da região.
4 - Existência de pelo menos uma actividade dinâmica com peso significativo na região
durante os últimos anos.
5 - Concelhos que estejam integrados dentro das vias rodoviárias com saldos de tráfego
positivos durante os últimos anos.
Integram-se neste grupo os seguintes concelhos: Campo Maior, Castro Verde, Elvas, Ponte de
Sôr, Portalegre, Vendas Novas e Vila Viçosa. A produção industrial, transformadora e/ou extractiva, constitui
a base principal da economia destes concelhos e são, juntamente com as actividades existentes no Grupo I,
as mais dinâmicas da região. Estes dois grupos de concelhos concentram grande parte das capacidades
produtivas não agrícolas. São considerados neste trabalho como os concelhos onde poderá existir uma
perspectiva positiva de crescimento económico durante os próximos anos.
No Grupo III integram-se os concelhos com características semelhantes aos do Grupo II.
Diferencia os dois grupos o facto das actividades do terceiro serem menos dinâmicas e possuírem um
peso inferior na economia regional e, como consequência, a perda de população é superior, entre 5% e
10% durante o mesmo período. Enquanto que os concelhos dos Grupos I e II possuem a indústria como
o sector mais importante, neste grupo a actividade agrícola assume um maior protagonismo. Os
concelhos são os seguintes: Aljustrel, Avis, Beja, Borba, Castelo de Vide, Cuba, Montemor, Redondo e
Reguengos. Classificam-se também neste grupo os concelhos de Fronteira e Nisa que possuem
densidades populacionais mais baixas que os restantes do grupo mas a perda de população entre 1981
e 1991 foi muito reduzida, menos de 5%.
38 Para melhor compreensão dos critérios seleccionados, veja no Anexo II a definição de alguns dos conceitosutilizados, como por exemplo, “actividade dinâmica”, “economia equilibrada”, “actividade com peso significativo”, etc.
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Os concelhos do Grupo IV caracterizam-se por possuir pelo menos uma actividade dinâmica e
uma elevada perda de população. Este facto deve-se fundamentalmente às actividades absorverem pouca
mão-de-obra, como é o caso da exploração florestal, uma das actividades dominantes dos concelhos de
Alcácer do Sal, Odemira e Grândola. Nestes concelhos o turismo tem também importância económica assim
como a indústria agro-alimentar em Alcácer do Sal. Inclui-se neste grupo o concelho de Estremoz devido à
indústria extractiva e às possibilidades relacionadas com a sua localização no eixo rodoviário mais dinâmico
do Alentejo.
Estes dois grupos reúnem os concelhos que podem ser considerados como os que demonstram
sinais de crise demográfica e cujas actividades económicas, embora localmente importantes, não são
capazes de inverter a tendência negativa do povoamento e do emprego. As actividades destes concelhos
encontram-se muito concentrada, seja territorial como sectorialmente.
O Grupo V é formado pelos concelhos com uma perda de população compreendida entre os 5%
e os 10%, com uma densidade superior a 15 habitantes por km2 e onde as actividades económicas são
pouco dinâmicas. Estes concelhos são os seguintes: Barrancos, Alandroal, Arraiolos, Mora, Portel e Viana
do Alentejo.
O Grupo VI possui as mesmas características do grupo anterior mas a taxa de perda de
população é superior a 10%. São os casos de Ferreira do Alentejo, Marvão, Moura, Serpa, Sousel e
Vidigueira.
O Grupo VII é composto pelos concelhos com densidades populacionais inferiores a 15
habitantes por km2 e com taxas de perda de população superiores a 10%. Os concelhos integrados neste
grupo são os seguintes: Almodôvar, Alter do Chão, Alvito Arronches, Crato, Mértola, Monforte e Ourique.
Deste grupo ainda se poderia destacar um oitavo, formado pelos concelhos com densidades inferiores a 10
habitantes por km2, que seriam os seguintes: Alvito, Mértola, Monforte e Ourique.
Os concelhos pertencentes nos Grupos V, VI, VII e VIII, possuem como característica comum a
não existência actual de actividades económicas relevantes ao nível da região e, as existentes, não revelam
um dinamismo comparável com as referidas anteriormente. Os concelhos deste grupo localizam-se
geralmente distante das redes rodoviárias mais dinâmicas. As diferenças entre os concelhos destes grupos
baseia-se no ritmo de perda de população e na densidade demográfica.
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FIGURA 1
Concelhos dos Grupos I e II
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FIGURA 2
Concelhos dos Grupos III e IV
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FIGURA 3
Concelhos dos Grupo V, VI, VII e VIII
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No quadro seguinte apresentam-se alguns dados sobre a evolução da concentração da produção
e da população nos concelhos incluídos nos dois primeiros grupos.
Quadro 2.32
Peso dos concelhos dos Grupos I e II na economia regional
Grupo I Grupo II Grupos I+II
População 1981 17,3 17,0 34,3
População 1991 19,5 17,7 37,2
Var. da população 1981-91 5,3 -2,6 (2)
% do território 11,6 9,6 21,2
% do PAB regional 1980 10,8 12,4 23,2
% do PAB regional 1990 12,9 12,5 25,4
% do VBP ind. regional 1980 (1) 16,6 52,1 68,7
% do VBP ind. regional 1989 (1) 15,7 65,3 81,0
Notas: (1) A comparação inclui apenas os distritos de Beja, Évora e Portalegre. Os dados do Grupo I são referentes ao
VBP industrial de 1989 e de 1989 e incluem apenas o concelho de Évora.
(2) A variação total regional da população entre 1981 e 1991 foi de -6,4% e o total destes concelhos foi de cerca de +2,5%.
Fonte: INE, várias publicações. Elaboração própria.
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CAPITULO III
ESTRATÉGIAS E PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO
PARA O ALENTEJO
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1. PERSPECTIVAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO ALENTEJO
1.1 - Considerações gerais
Este capítulo apresenta algumas reflexões de carácter geral sobre as possíveis estratégias e
políticas para o desenvolvimento do Alentejo. Mais do que apresentar soluções, ressalta-se a importância
do planeamento e da existência de estudos de base que fundamentem económica e tecnicamente as
decisões políticas. Fazem-se também algumas considerações sobre as dificuldades de elaboração e
aplicação de estratégias e de políticas regionais.
As reflexões expressas partem de alguns pressupostos que se expõem previamente à
apresentação das possíveis estratégias de desenvolvimento para o Alentejo. Primeiro, considera-se que
o desenvolvimento regional integra-se e está em grande medida subordinado e influenciado pelas
políticas e estratégias globais e que os objectivos sociais, ambientais e espaciais constituem hipóteses
auxiliares dos modelos de crescimento vigentes. A hipótese principal procura maximizar funções à escala
supra-regional podendo existir, deste modo, objectivos e lógicas de reprodução não coincidentes nos
diferentes níveis territoriais.
A região é um nível intermédio onde eventualmente se podem compatibilizar os objectivos, os
mecanismos e as lógicas reprodutivas do desenvolvimento à escala supra-regional e local. Por um lado,
estão os objectivos associados à hipótese principal, isto é, o crescimento económico e a estabilidade dos
indicadores nominais da economia, a competitividade, a modernização do tecido produtivo e a coesão de
forma a integrar as economias nos processos de desenvolvimento mundial e, por outro lado, procura-se
melhorar as condições e a qualidade de vida das populações, criar emprego, internalizar os efeitos e as
externalidades negativas e, nos casos mais graves, manter as crises sociais e espaciais em situação de
“baixa intensidade” de forma a preservar a legitimidade do modelo global de crescimento.
Teoricamente estes objectivos são compatíveis e reforçam-se mutuamente. A globalização é
acompanhada por processos dialécticos de resistência e de integração entre o global e o local através de
diferentes níveis de articulação e de funcionalidade dos territórios, entre sectores económicos e sobre
aspectos sócio-culturais.
Não obstante, existem alguns sinais que indicam a possibilidade para o crescimento dos
espaços de manobra das regiões, sobretudo nas políticas relacionadas com a aplicação das hipóteses
secundárias o que depende de muitos factores, destacando-se, como exemplo, os seguintes de carácter
geral:
- O peso e a importância das actividades e das funções regionais no conjunto das
economias nacionais e supra-regionais, no contexto do desempenho das hipóteses
principal e auxiliares do modelo de crescimento e dos respectivos padrões de
acumulação.
- A influência política regional no quadro das lógicas de poder e das aritméticas
parlamentares. Neste aspecto, as formas de organização dos Estados e os graus de
descentralização e de autonomia política e administrativa das regiões podem assumir
relevâncias particulares.
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- A capacidade institucional e da sociedade civil para defender os interesses regionais e
dos seus diferentes colectivos, sejam de carácter económico como não económico e de
carácter reivindicativo.
- A natureza das instituições e as tendências políticas e ideológicas dos eleitorados
regionais.
Segundo, as estratégias regionais ao considerarem a irreversibilidade dos processos de
globalização, internacionalização e especialização das economias, a liberalização dos mercados, a
redução dos diferentes mecanismos proteccionistas e a diminuição ou a alteração qualitativa do papel do
Estado nas economias e nas sociedades, podem entrar em conflito, pelo menos parcialmente, com
interesses regionais e em alguns casos nacionais. Como exemplo referem-se os dilemas e conflitos entre
a modernização e a inflação com o emprego, entre a penetração das grandes superfícies com o pequeno
comércio e a consequente desconexão gradual à escala local da produção e do consumo, entre a
penetração de capitais externos e a internacionalização de grupos económicos com eventuais
encerramentos de empresas locais em fases de acumulação mais atrasados, entre a necessidade de
redução dos orçamentos públicos e os movimentos reivindicativos para a obtenção de mais subsídios e
ajudas para os sectores não competitivos, entre outros aspectos.
Terceiro, e em termos concretos, é importante avaliar os papéis de cada região no contexto
dos processos de especialização produtiva e da periferização de algumas funções económicas, sociais e
ambientais, com o objectivo de capacitar as regiões para o desempenho eficiente dessas funções. Estes
aspectos facilitam a definição das estratégias para o melhoramento dos factores de competitividade do
território e dos sectores económicos e contribuem para que as reivindicações regionais possuam
fundamentações coerentes e estejam de acordo com as lógicas do modelo global de crescimento.
Quarto, é importante que as estratégias e as políticas regionais relacionadas com os
objectivos da competitividade considerem os novos processos de especialização à escala supra-nacional
e o principio da funcionalidade entre os espaços e deveriam ter como objectivo o de realizar e reter o
máximo de valor acrescentado no território. Para o efeito é importante conhecer e potenciar as vantagens
regionais, reduzir os efeitos-travão e definir as ofertas e as condições para a captação de investimentos.
O conhecimento dos mercados e dos seus comportamentos temporais e espaciais, as necessidades de
modernização e de inovação tecnológica considerando os factores de competitividade ao longo das
fileiras, são alguns dos elementos para a definição de políticas e estratégias sectoriais e de incentivo.
Quinto, as estratégias e políticas relacionadas com as funções de natureza social e ambiental
possuem geralmente um âmbito localizado e integram-se no quadro das lógicas reprodutivas das
economias familiares. Este principio implica a existência de uma maior articulação entre as actividades
dos projectos de desenvolvimento local e rural com as necessidades e ambições dos beneficiários e que
os projectos sejam concebidos, elaborados e executados com uma ampla participação das comunidades.
Estes aspectos pressupõem um importante conhecimento sociológico dos colectivos envolvidos e novas
formas e metodologias de relacionamento entre as burocracias e a sociedade. Seria desejável que as
actividades, as técnicas a utilizar, a escalas de produção, os mercados a atingir, etc., sejam decididas de
forma articulada entre os financiadores, as agências públicas e da sociedade civil com os beneficiários
para garantir a integração destas actividades no quadro dos conhecimentos locais e para que os
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projectos introduzam elementos que contribuam para a viabilização das lógicas reprodutivas locais e
familiares.
Sexto, as evidências empíricas demonstram que os recursos destinados às regiões deprimidas
não são muitas vezes maioritariamente afectados às zonas com situações económicas e sociais mais
críticas, nem alcançam em algumas ocasiões os grupos sociais mais desprotegidos. Estas regiões têm
geralmente menor capacidade institucional, possuem menos influências juntos dos organismos de
decisão e os seus orçamentos são regra geral muito limitados. Neste sentido, a distribuição espacial dos
recursos deveria evitar que os diferentes pontos de partida aprofundem as desigualdades existentes. Os
efeitos destes projectos sobre os rendimentos das famílias, sobre o emprego e a ocupação do espaço, o
balanço dos efeitos e das externalidades ambientais, entre outras variáveis, constituem elementos que
poderiam contribuir para a objectivação dos critérios de afectação de recursos e aprovação de projectos.
1.2 - Algumas reflexões sobre o desenvolvimento do Alentejo
As reflexões da secção seguinte consideram alguns aspectos da realidade regional como
pontos de partida para a apresentação de umas poucas ideias para debate. Destacam-se os seguintes
pontos de partida:
- O Alentejo possui, por diferentes razões, uma densidade demográfica muito baixa em
grande parte do seu território, a população tem um nível de escolarização e de formação
inferior à da maioria das regiões portuguesas e europeias e existe uma tradição
empresarial limitada.
- O território e o clima não facilitaram o desenvolvimento e a intensificação da agricultura o
que, juntamente com a estrutura fundiária e outros factores, influenciaram negativamente
o desenvolvimento do conjunto da economia. Os padrões dominantes de acumulação
regional estavam baseados na produção primária e em tecnologias não intensivas em
capital, cujos recursos foram maioritariamente transferidos para outras regiões e sectores
económicos.
- Como consequência, grande parte da estrutura económica possui características que
prejudicam os factores sectoriais de competitividade. São principalmente os seguintes:
(1) O predomínio das micro e pequenas empresas nos sectores secundário e terciário;
(2) O atraso relativo nos processos de modernização; (3) A baixa produtividade; (4) A
pouca incorporação de valores acrescentados na região; e, (5) A limitada articulação do
tecido empresarial com a economia trans-regional, isto é, escassa integração da
economia regional nos processos de internacionalização e globalização.
- O tecido empresarial está geralmente pouco articulado dentro do território e as
organizações profissionais possuem uma baixa capacidade de intervenção e de
influência económica e política.
- A economia e a sociedade alentejanas estão muito dependentes do Estado e das
políticas redistributivas, o que influi negativamente na capacidade do tecido produtivo
para gerar riqueza e criar emprego.
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- Como consequência do peso regional nas aritméticas parlamentares, da importância da
economia regional no conjunto do país, da baixa organização da sociedade civil e das
organizações profissionais, da pequena capacidade das instituições públicas e de outros
factores, o poder reivindicativo e de influência política da região é inferior ao de outras
regiões do país e à escala europeia. Acrescenta-se que os actuais níveis de
descentralização política e administrativa não permitem aos órgãos do poder local o
estabelecimento de políticas regionais especificas e diferenciadas.
Estes são alguns dos factores de competitividade estrutural que dificultam o desenvolvimento
regional. Existem outros que representam algumas vantagens, como por exemplo os seguintes:
- A proximidade de Lisboa e a existência de infra-estruturas de comunicações, prin-
cipalmente nos eixos transversal central e litoral, o que coincide com a localização dos
sectores mais dinâmicos e competitivos da economia regional.
- O incremento das relações económicas e comerciais trans-fronteiriças poderão dinamizar
as economias locais.
- O Alentejo possui recursos naturais capazes de atrair importantes investimentos.
- Os recentes investimentos na área da educação (institutos politécnicos e universidades),
poderão impulsionar a formação do “capital humano”.
- A região oferece possibilidades de adopção de parâmetros de qualidade de vida pouco
comuns nas economias e sociedades desenvolvidas.
É importante conhecer o peso e a influência de cada um destes factores sobre o
desenvolvimento, isto é, na capacidade de captação de investimento, de atracção de actividades
produtivas e de população, e sobre as possibilidades dos investimentos gerarem rendimentos, criarem
emprego e dinamizarem outros sectores através das relações inter-sectoriais.
A evolução recente de alguns mercados, dos volumes das produções de uns poucos sectores,
do VAB realizado na região, entre outras variáveis, indicam que existem actividades nas quais a
economia regional está especializada e pode possuir vantagens comparativas. Destacam-se as
seguintes:
- A extracção e transformação das rochas ornamentais.
- A produção de vinhos de qualidade, do azeite e da azeitona, do arroz e de algumas
hortaliças.
- A produção da cortiça e de madeiras.
- Algumas indústrias agro-alimentares, como por exemplo a torrefacção.
- Uns poucos sectores industriais.
- A produção de produtos típicos principalmente os alimentares e o artesanato.
- Os turismos de praia, rural, desportivo, monumental e de congressos.
- Os serviços relacionados com os transportes e comunicações.
O crescimento de muitas destas actividades depende, por um lado, da conquista de novos
mercados “externos” considerando a escassa dimensão da procura regional e mesmo nacional e, por
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outro lado, da capacidade do sector produtivo em adoptar inovações tecnológicas, da modernização das
empresas e das respectivas fileiras localizadas ou não na região, da introdução de novas formas de
organização empresarial, da organização inter-profissional, da oferta de produtos de qualidade com
marcas registadas e a preços competitivos, da realização de acções de publicidade e de marketing sobre
os produtos e a região, do conhecimento da situação e evolução dos concorrentes entre outros aspectos.
Mas, que inovações tecnológicas são necessárias para cada caso?. Quais as acções de mercado que
produzem maiores efeitos sobre a procura?. Que mercados conquistar?. Quais são os sectores que mais
dinamizam a economia através das relações inter-sectoriais?. Que sectores geram mais emprego por
unidade de valor investido?. A resposta a estas e a muitas outras perguntas são fundamentais para as
tomadas de decisão política.
As estratégias empresariais parecem ser fundamentais, sobretudo no contexto dos processos
de globalização e internacionalização. A captação de investimentos “externos” e a integração das
empresas locais em grupos de maior capacidade podem eventualmente facilitar o desenvolvimento
destes sectores. Ressaltam-se alguns possíveis exemplos:
- Uma maior integração entre os produtores com sistemas extensivos de suínos do
Alentejo com as empresas espanholas produtoras e exportadoras do presunto de pata
negra poderia ser vantajoso para as empresas locais?.
- Que relações existem entre os olivicultores alentejanos com os respectivos sectores
espanhóis onde existe uma base de conhecimento científico, um tecido produtivo mais
modernizado e uma organização empresarial integrada nos circuitos mundiais?.
- Existiriam vantagens e benefícios em integrar o turismo de Verão algarvio com ofertas de
turismo, rural, monumental e cinegético alentejano?.
- Que desvantagens existem na construção e exploração de centros de turismo na costa?.
Estas desvantagens são insuperáveis?. Existem condições naturais competitivas com o
Algarve e outras zonas mediterrânicas?.
- Qual o futuro do mercado das rochas ornamentais?. É possível reter maiores valores
acrescentados?.
- Quais são os factores que impedem a relocalização no Alentejo de algumas indústrias
transformadoras de produtos primários da região, como por exemplo a indústria da
cortiça e da madeira?.
A continuidade da limitada internacionalização e globalização dos sectores produtivos
alentejanos pode implicar a permanência das actuais estruturas e sistemas produtivos que já
demonstraram, na maioria dos casos, serem incapazes de gerarem processos de desenvolvimento
convergente e de criar emprego e riqueza para inverter a crise. A longo prazo, os sectores primários
parecem não garantir o estabelecimento de relações de troca favoráveis, o que se pode traduzir na
continuação do empobrecimento relativo da região.
Com o objectivo de inverter estas tendências, parece ser importante que se ofereçam
condições e incentivos para estimular a localização de novas actividades na região, preferentemente de
sectores com tecnologias de ponta, intensivos em capital e que produzam bens e serviços com um
elevado valor unitário. Esta estratégia tem como objectivo o de contribuir para a alteração qualitativa da
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estrutura económica regional e das suas relações de troca com o “exterior”. Mas, estão estudadas as
vantagens e desvantagens destas opções?. As instituições regionais possuem capacidade e autonomia
para definir políticas de incentivos?. O empresariado está disponível para a eventualidade de perder
níveis de “autonomia”, e aceitar a desnacionalização (ou desregionalização) de pelo menos parte do
capital e dos poderes de decisão empresarial?. Que efeitos existiriam sobre o emprego?.
As zonas que atravessam maiores crises coincidem com os espaços onde existe o predomínio
do sector agrário baseado em explorações de grande dimensão e na produção cerealífera e da pecuária
que lhe está associada. São zonas com densidades populacionais muito baixas, onde os rendimentos
temporários e a emigração fazem parte das lógicas reprodutivas das famílias, aspectos que influenciam
as opções para o desenvolvimento local. Os actuais volumes de recursos e o tipo de projectos
associados com estes objectivos ainda não conseguiram travar e inverter as tendências negativas das
economias das zonas mais deprimidas e os sintomas negativos, sociais e ambientais, continuam a
aprofundar-se. Os investimentos realizados em infra-estruturas e em equipamentos nestas zonas são
reduzidos e possivelmente serão progressivamente menos favoráveis para a fixação da população que é
atraída pela centralidade de alguns centros, tanto economicamente como nos aspectos demográficos.
Nestes casos e por circunstâncias diversas, é difícil ou talvez utópico pensar-se em crescentes
níveis de equidade territorial, sendo possivelmente mais pragmático definir estratégias cujas funções de
desenvolvimento procurem situações de compromisso entre a minimização da ocupação demográfica
com a maximização dos rendimentos das famílias, da conservação da natureza, e das condições de vida
das famílias aí residentes. O problema destas estimativas é a operacionalização dos conceitos de
população mínima, conservação da natureza, condições de vida, entre outros.
1.3 - Possíveis cenários da agricultura alentejana - aspectos gerais
A característica dominante da actual situação da agricultura alentejana é a de uma profunda
crise nos sistemas de produção cerealíferos de grande propriedade39, motivada pela perda de
rendimentos dos agricultores como consequência das medidas da Política Agrária Comum, devido às
baixas produtividades da maioria das explorações, por outros motivos de competitividade aos diferentes
níveis e por razões climáticas. As bases de sustentação económica destes sistemas (as ajudas directas
e o proteccionismo), foram eliminadas e/ou começaram a reduzir-se. A maioria dos estudos apontam
para uma clara inviabilidade destas produções no contexto do Mercado Único, sobretudo para as
realizadas em solos pobres e em sequeiro. Os estudos indicam ainda a necessidade de importantes
mudanças tecnológicas nas produções realizadas nos melhores solos e em regadio para que estas
produções possam sobreviver economicamente40.
Estas soluções parecem pouco assumíveis e motivadoras, sobretudo se as expectativas sobre
o futuro da agricultura e da Nova PAC são incertas41, se não existe uma estratégia agrária nacional e 39 Sem esquecer outras variáveis, esta crise pode ser avaliada, por exemplo, pela redução das áreas trabalhadas comcereais depois de 1992/93.40 Veja por exemplo Fox (1987), Marques (1993), Carvalho e Pinheiro (1993), Serrão (1993), Marques, Martins e Lucas(1995).41 Destacam-se as seguintes dúvidas e/ou incertezas: (1) Até quando vigorará a Nova PAC, sobretudo o actualsistema de ajudas?; (2) A que ritmo, a que preços e em que volumes entrarão os produtos agrícolas, comunitários e
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regional e se uma importante percentagem do actual empresariado da grande exploração já está
vinculado a actividades não agrárias que constituem na maioria dos casos a principal fonte de
rendimento e da ocupação de tempo. Por outro lado, é duvidoso se a extensificação constituirá uma
alternativa profissional ou se será (ou já é) uma opção com objectivos de captar uma parte fixa e segura
de rendimento derivada do actual sistema de ajudas. Existem um conjunto de incertezas sobre o futuro
da agricultura e do mundo rural que dificultam a realização de investimentos, seja de modernização como
de reconversão produtiva.
A crise destes sistemas de produção possui repercussões importantes a diferentes níveis.
Ressaltam-se os seguintes:
- O trabalho sazonal constituía uma estratégia de vida de grande parte das famílias re-
sidentes no meio rural42, que cada vez mais e a ritmos crescentemente acelerados se
vêm obrigados a emigrar.
- Como consequência, existe um crescente problema de desocupação do espaço com
repercussões importantes sobre o meio ambiente.
Por outro lado, existem um conjunto de iniciativas com êxito: algumas iniciaram-se nas
décadas dos 70 e 80 e outras constituem alternativas recentes. As experiências mais relevantes são as
seguintes: Primeiro, emergem algumas actividades com maior dinamismo, sobretudo as que são
capazes de apresentar produtos diferenciados e de qualidade, como são os casos do vinho, da carne
bovina da raça alentejana e de um grande número de produtos tradicionais, como por exemplo, os
queijos de Nisa e de Serpa, o presunto de Barrancos, o borrego de Montemor, a azeitona e o azeite de
Moura e do Norte alentejano e as ameixas de Elvas. Além da qualidade do produto como condição
necessária, o sucesso destas actividades está assente numa maior organização dos produtores, numa
crescente articulação das fileiras produtivas, de acções de mercado e de marketing e de uma maior
estruturação das organizações profissionais.
Segundo, existe um conjunto de produções em que o Alentejo sempre foi mediana ou
altamente especializada e cuja produção possui algumas vantagens competitivas. Além das já referidas,
acrescentam-se os casos seguintes:
- O azeite de oliveira, com expectativas positivas de mercado internacional mas com obstá-
culos estruturais na produção local ao nível da produção agrícola e, sem ser menos
importante, na industrialização. Ao contrário de outras regiões do país e das principais
zonas produtoras do mundo (Espanha, Itália, Estados Unidos e países do Magrebe), a
produção e as áreas cultivadas no Alentejo são decrescentes. Não obstante, durante os
não comunitários?; (3) Que volume de recursos haverá a longo prazo para os projectos de desenvolvimento rural elocal?; (4) Qual a capacidade competitiva da agricultura alentejana baseada na grande exploração e na produçãocerealífera, mesmo que se realizem investimentos de modernização?; (5) Quais as inovações a introduzir?; (6) Existeconhecimento e ambiente institucional para novos grandes investimentos na agricultura, públicos e privados?42 O sector primário (maioritariamente agrícola), representava em 1970 cerca de 57,4% do emprego regional. Em19891 e em 1991 estas percentagens passaram respectivamente para 39,6% e 23,4% respectivamente (INE,Recenseamento Geral da População, 1970, 1981, e 1991).
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últimos anos e em alguns concelhos, existem sinais de se ter iniciado a plantação de
novas unidades de olival ordenado.
- A produção de arroz, com produtividades muito próximas às médias europeias.
- As horto-indústrias e a produção de hortaliças para o consumo em fresco e para a
transformação industrial.
- A diversificação da produção industrial parece indicar que existem expectativas positivas
para a produção da cortiça, sobretudo para as plantações exploradas com uma eficiente
gestão empresarial.
- A produção florestal e a re-introdução de espécies da floresta mediterrânica.
Terceiro, começam a surgir iniciativas de desenvolvimento rural através de pequenas e médias
iniciativas, geralmente de baixa intensidade de capital e com tecnologias suaves. O turismo rural, a
produção artesanal, a caça e as acções de formação para o desenvolvimento de actividades de auto-
emprego são as actividades onde existem as maiores exemplos com êxito. De forma muito relacionada
com estas iniciativas, multiplicam-se as associações e organizações da sociedade civil que procuram
ocupar um espaço entre a sociedade e as burocracias, com o objectivo de captar recursos para o
desenvolvimento de actividades que demonstram um crescente dinamismo e com alguma capacidade de
influenciar positivamente a vida das freguesias.
A principal dúvida sobre estas alternativas reside nas suas potencialidades e limites para
equilibrar os efeitos e externalidades negativas produzidas pela crise do sistema agrícola dominante,
principalmente no que respeita à geração de riqueza e de rendimentos, de postos de trabalho, de
ocupação do espaço, de preservação do ambiente e da capacidade destas actividades dinamizarem o
conjunto da economia através das suas relações inter-sectoriais.
2. NECESSIDADE DE ESTRATÉGIAS E DE POLÍTICAS COMBINADAS
A estrutura económica e social e as actuais tendências e situação do Alentejo evidenciam a
necessidade da aplicação combinada de diferentes estratégias e políticas. A partir do anteriormente
referido é possível tipificar pelo menos quatro estratégias que se resumem da forma seguinte:
- O aproveitamento e a potenciação dos recursos naturais através de investimentos de
modernização dos sectores competitivos e com vantagens regionais, por meio da
crescente integração das respectivas empresas no contexto da internacionalização e
globalização económica e da organização empresarial e inter-profissional.
- A criação de condições e a aplicação de incentivos para atrair investimentos em novos
sectores económicos no quadro dos actuais processos de relocalização de algumas
actividades produtivas à escala internacional.
- A potenciação das capacidades institucionais para aumentar a captação de recursos para
o desenvolvimento local e rural e reforço das organizações da sociedade civil para um
maior aproveitamento das oportunidades existentes nestes domínios.
- A criação de zonas no âmbito da chamada reserva ecológica.
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Estas estratégias exigem políticas diferenciadas que combinem no território, os processos de
internacionalização e de globalização com os movimentos de localização e diversificação das actividades
económicas e dos rendimentos, que articulem os sectores integrados nos mercados supra-regionais e
condicionados às racionalidades da competitividade com as acções com objectivos fundamentalmente
sociais e meio ambientais, que criem mecanismos de funcionalidade entre as opções tecnológicas
intensivas em capital com as que possuem preocupações sobre o emprego, que compatibilizem as
estratégias das grandes empresas com iniciativas para a criação de micro empresas. Estes aparentes
dualismos terminam na prática por gerar processos de crescimento diferenciados que tendem a agravar
as assimetrias regionais mas que, por outro lado, poderão permitir a coesão e funcionalidade territorial, a
elevação do nível de vida das populações em termos absolutos e reter níveis de ocupação que estejam
de acordo com as funções produtivas definidas para o desenvolvimento das diferentes zonas. Partindo
do pressuposto que a equidade territorial é, por muitas razões, quase uma utopia, a alternativa consiste
em encontrar um conjunto de actividades que garantam os objectivos referidos, evitando-se processos
de exclusão, sociais e ambientais.
Estas opções são entre si compatíveis e importantes para a obtenção simultânea dos
objectivos associados às hipóteses principal e auxiliares do modelo de crescimento económico. A
questão fundamental para a aplicação combinada destas estratégias reside na capacidade das
instituições, públicas, privadas e da sociedade civil, na formação dos agentes económicos e sociais, na
definição das estratégias e políticas para o desenvolvimento regional e na configuração de um tecido
empresarial competitivo e integrado nos mercados trans-regionais. Mas como se medem os equilíbrios
entre as diferentes estratégias?. Como gerar mecanismo de funcionalidade entre territórios com
diferentes níveis de desenvolvimento sem prejudicar ainda mais as zonas deprimidas?.
No âmbito destas quatro estratégias e considerando o anteriormente exposto, é possível
definir algumas políticas globais de actuação, públicas e privadas. De uma forma esquemática ressaltam-
se as seguintes:
- População, recursos humanos e formação
- Povoamento e ordenamento do território
- Tecnologia
- Mercados e marketing
- Apoio às pequenas e médias empresas
- Organizações de produtores e da sociedade civil
- Recursos naturais e meio ambiente
- Património cultural e monumental
- Instituições
Estas políticas globais deveriam estar articuladas a planos sectoriais, como por exemplo, um
plano de desenvolvimento rural e de modernização da agricultura, um plano indústria, etc.
A partir de outras experiências regionais, podem-se prever algumas dificuldades na aplicação de um
plano de desenvolvimento. Destacam-se as mais importantes. Primeiro o conjunto do plano deverá
considerar as possibilidades reais da região para definir as suas estratégias e políticas e/ou a
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capacidade de as integrar nos planos e estratégias nacionais e supra-nacionais. A maioria dos recursos
necessários para a execução dos planos são financiados por instâncias de nível superior (nacional e
União Europeia), o que exige acções de coordenação e compatibilização entre as instituições de
diferentes escalões. A não realização destas acções pode significar a inviabilização dos planos regionais,
implicando a sua transformação em documentos de boas intenções ou, quando muito, em documentos
orientadores da actuação das instituições públicas e privadas. A verificação de apenas esta última
possibilidade pode, só por si, ser de extrema utilidade.
Esta dependência e subordinação regional deriva de alguns pressupostos fundamentais dos
actuais modelos económicos de crescimento, das formas de organização do Estado e das lógicas de
reprodução dos espaços supra-regionais. Por exemplo:
- Os modelos neoclássicos consideram o desenvolvimento regional como uma resultante
do crescimento global das economias e das sociedades que, no processo de
crescimento, alcançam progressivamente novas regiões e mais grupos sociais. Neste
sentido, não é importante que existam planos regionais, sobretudo porque, afirmam, com
alguma razão e muitas contrastações empíricas, exigem a intervenção pública e
distorcionam os mercados.
- As metodologias de elaboração orçamental são elaboradas sectorialmente. Desta forma,
as necessidades regionais apenas estarão contempladas se forem incluídas nos
orçamentos nacionais.
Segundo, a distribuição dos recursos entre os sectores e entre os espaços intra-regionais,
constitui outra dos temas de difícil acordo. Além das dificuldades de encontrar os equilíbrios adequados
entre eficiência e equidade territorial e social, entre os objectivos da competitividade e os relacionados
com aspectos sociais e ambientais, estes dilemas são intermediados por factores institucionais e de
poder que muitas vezes possuem lógicas pouco concordantes com os objectivos de desenvolvimento
regional.
Terceiro, os objectivos de longo prazo e que pretendem capacitar as regiões com os factores
de competitividade e de melhorias das condições de vida das populações, são geralmente
secundarizados em favor dos objectivos de curto prazo com repercussões nos períodos eleitorais
imediatos. Por exemplo, os recursos destinados à formação do conhecimento e do capital humano, à
construção de equipamentos, à estruturação dos serviços às pessoas, à conservação e melhoramento
dos recursos naturais e do ambiente, são geralmente inferiores comparativamente com os recursos
destinados às infra-estruturas e à modernização do tecido económico e possuem muitas vezes menores
efeitos sobre o desenvolvimento. Isto é, o factor humano surge geralmente num segundo nível de
prioridades.
Quarto, a articulação entre as políticas sectoriais é geralmente pouco efectiva, o que contribui
para que, em muitos casos, as intervenções públicas terminam por provocar distorções e ineficiências,
burocratizando ainda mais os aparelhos públicos e o funcionamento da economia. A tutela dos planos é
geralmente objecto de conflitos institucionais entre os organismos especializados (agricultura, indústria,
etc.) e os globais (por exemplo, planeamento, finanças, ...). Em muitos casos e com êxitos e fracassos
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diversos, nomeiam-se comissões ad-hoc, criam-se organismos específicos ou responsabiliza-se a
estrutura com maior peso na aplicação do plano.
Quinto, os planos são geralmente elaborados com limitada participação dos agentes
económicos e sociais, dos partidos da oposição, das autarquias e dos beneficiários directos dos
projectos, o que dificulta os procedimentos para a aprovação parlamentar e obstaculiza a sua posterior
aplicação. Considerando que os planos deverão ser plurianuais, seria desejável que as principais
estratégias e políticas fossem consensuais com o maior número de forças políticas e sociais de forma a
torná-las menos dependentes dos ciclos políticos.
Sexto, a divulgação dos planos é muitas vezes insuficiente o que dificulta a realização das
acções previstas, o acesso dos interessados às instituições, aos recursos e aos incentivos e a sua
aplicação é muitas vezes acompanhada de complicados processos técnicos e administrativos.
Finalmente, sétimo, é desejável que os planos se baseiem em estudos para a necessária
fundamentação económica e técnica das opções, como forma de reduzir as decisões tomadas por
aproximação, por “sensibilidade” ou por outras mecanismos menos objectivos. Ao longo deste artigo
foram referidos estudos e conhecimentos de base que parecem fundamentais e que não existem, pelo
menos de uma forma sistemática.
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CONCLUSÃO
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A evolução da economia alentejana ao longo das últimas décadas está marcada, no
fundamental, pela permanência das suas características históricas, das quais se destacam as seguintes,
todas elas inter-relacionadas: (1) A natureza periférica e subalterna da integração na economia do país e a
consequente especialização produtiva nos sectores primários. A especialização em relação à economia
portuguesa evolui de forma diferenciada segundo os sectores e subsectores económicos, observando-se no
essencial que ela está restringida a um número reduzido de produções; (2) A dificuldade da economia
regional de criar emprego, originando a emigração, o progressivo esvaziamento demográfico do território e
externalidades ambientais negativas; (3) A polarização da sociedade.
Estas permanências são justificadas principalmente pelas seguintes razões: (1) Baixas
elasticidades dos sectores produtivos; (2) Limitada integração da economia e pela consequente baixa
intensidade das relações inter-sectoriais; (3) Pequena dimensão do mercado regional; (4) Reduzida
intensidade das iniciativas e das capacidades empresariais endógenas; (5) Origem e natureza das classes
dominantes e, sem ser menos importante; (6) Pelas políticas públicas praticadas durante as últimas
décadas. Por estas e por outras razões, o Alentejo não experimentou, durante as últimas décadas,
transformações qualitativas importantes na sua estrutura económica.
Não obstante, existem alguns sinais que podem influir a longo prazo na estrutura económica
regional, destacando-se as seguintes: (1) A terciarização da economia que é impulsionada a partir da
administração e dos serviços e investimentos públicos e é incentivada por uma procura fundamentalmente
exógena à região; (2) A modernização de alguns sectores produtivos o que se reflecte na maior
incorporação de valor no produto regional; (3) O aproveitamento das especificidades alentejanas através da
produção de produtos de qualidade com denominações de origem e da melhoria qualitativa e diversificação
da oferta turística; (4) O despertar da organização dos produtores em torno à estruturação das fileiras
produtivas.
Do lado negativo, ressalta-se a crise da agricultura cerealífera e da pecuária extensiva que lhe
está associada, bases fundamentais da economia regional durante as últimas décadas e uma das principais
fontes de emprego e de rendimento para a grande maioria da população. A abertura dos mercados e as
mudanças de filosofia das ajudas da Nova PAC (cuja plenitude dos efeitos ainda não se fizeram sentir),
situam estas produções em posições desvantajosas de competitividade colocando em risco a sobrevivência
dos actuais sistemas de produção. Embora não existam dados e estudos sobre o caso alentejano, o balanço
indica que os efeitos e as externalidades negativas são superiores, sobretudo se analisadas as variáveis da
economia real, com são o emprego, a produção da riqueza regional em termos relativos, as distorções
territoriais e a deterioração do meio ambiente.
Todas as variáveis estudadas apontam que estas transformações se inclinam para o reforço de
uma especialização produtiva primária baseada em alguns dos recursos locais. O desenvolvimento do
sector terciário está fundamentalmente associado aos sectores produtivos e aos recursos primários da
região, aos transportes como consequência do incremento do tráfego nos eixos rodoviários internacionais e
ao crescimento da administração e dos serviços sociais, públicos e privados. A longo prazo, esta
especialização poderá induzir a região para um crescente empobrecimento relativo, sobretudo devido aos
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termos de troca desfavoráveis que lhe estão inerentes, à baixa capitalização da maioria destes sectores e
aos valores acrescentados passíveis de serem retidos na região.
A agricultura é um dos sectores que experimenta importantes processos de reconversão,
adaptação e crise. Destaca-se que é a agricultura praticada em grandes explorações e a que foi incentivada
e protegida pelas políticas comunitárias e nacionais, as que sofrem actualmente os efeitos negativos mais
importantes. Pelo contrário, é a agricultura de pequena e média dimensão praticada com critérios
empresariais segundo lógicas de integração no mercado à escala nacional e comunitária e considerando a
qualidade e a diferenciação como estratégia produtiva a que tem demonstrado maior capacidade de
adaptação às novas condições de competitividade.
No seu conjunto, nada indica que a evolução recente da economia alentejana possua uma
tendência para a aproximação real às médias portuguesas e comunitárias. A riqueza média relativa por
habitante permaneceu a níveis semelhantes durante os primeiros anos da adesão à CEE e as taxas de
desemprego possuem momentos de aproximação e de afastamento em relação ao mesmo indicador das
regiões europeias. Este aspecto não assume maiores proporções devido à emigração, ao trabalho fora do
local de residência (e da região) e ao emprego temporário. Internamente as assimetrias de desenvolvimento
regional aumentam de forma também lenta. A lentidão deste processo encontra justificação, na baixa
elasticidade da oferta dos principais sectores produtivos, na escassa globalização e internacionalização da
economia alentejana cujo baixo volume (em termos absolutos e relativos) do investimento externo é um dos
indicadores demonstrativos desta realidade. Além da concentração territorial, as actividades económicas
experimentam também um processo de concentração sectorial.
A implantação territorial das actividades mais dinâmicas dos últimos anos indicam uma clara
tendência à configuração de dois eixos que, devido a factores diversos, possuem maiores possibilidades de
desenvolvimento. São os casos do eixo transversal central e do eixo vertical litoral, cada um deles com
especializações produtivas definidas. Estes dois eixos integram a maioria dos concelhos com economias
mais dinâmicas, aglutinam grande parte das infra-estruturas produtivas e de serviços e a evolução
demográfica durante a década dos 80 foi menos negativa. Existem cada vez maiores zonas alentejanas
excluídas dos processos de desenvolvimento de integração e de coesão territorial, aspectos que são
confirmados pelos fluxos migratórios, pela geração de emprego, pelas fontes que conformam o rendimento
das famílias, pelos investimentos públicos e privados, entre muitos outros aspectos. O esvaziamento
demográfico e económico atingem crescentes áreas do Alentejo.
A configuração da economia e da sociedade foi ao longo de décadas fortemente influenciada por
acções e pelas políticas públicas. Actualmente, a administração desempenha funções importantes no
desenvolvimento económico regional, sobretudo na prestação de serviços, nos investimentos em infra-
estruturas e em equipamentos sociais e pelo volume de postos de trabalho que emprega. Por outro lado,
parece evidente que grande parte do território e dos sectores económicos alentejanos têm e terão grandes
dificuldades para a sua integração no quadro do Mercado Único e da crescente liberalização à escala supra
europeia.
Partindo do pressuposto não pacífico de que o mercado só por si não resolve estes aspectos,
pelo menos a curto e a médio prazo, argumenta-se que a intervenção pública pode contribuir para um
desenvolvimento simultaneamente competitivo, com uma face mais humana e com menores
desarticulações e marginalizações espaciais. Para o efeito, o papel e as formas de organização das
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instituições e dos poderes deveriam ser menos intervencionista, mais orientativa em termos estratégicos,
com maior influência para estimular a organização da sociedade civil e com capacidade para preservar os
recursos naturais e o meio ambiente. Os planos regionais podem constituir um dos instrumentos
pragmáticos para se alcançarem equilíbrios qualitativamente diferentes entre o mercado e a planificação do
desenvolvimento e entre os sectores público e privado.
É neste contexto que se apresenta algumas contribuições sobre os eventuais processos de
desenvolvimento regional. É possível depreender sobre as limitadas fortalezas e oportunidades regionais e
sobre as grandes dificuldades e obstáculos que reflectem os esforços que serão necessários realizar para
que o Alentejo inicie um desenvolvimento convergente estável que garanta a redução dos processos de
empobrecimento relativo (e em muitos casos em termos absolutos), que os rendimentos das famílias seja
cada vez menos dependente das transferências públicas e que não exista um aprofundamento das
assimetrias sociais e espaciais. Será esta uma missão (im)possível? Os processos de regionalização
política e administrativa permitirão um maior equilíbrio entre os mecanismos de reprodução das economias
e dos respectivos padrões de acumulação à escala global e local? As regiões mais desenvolvidas possuem
planos que são utilizados como instrumentos de orientação política e económica e servem para fundamentar
as respectivas reivindicações nos níveis de decisão supra-regional: e o Alentejo, porque não possui esse
plano?.
As reflexões apresentadas possuem como limites de análise os pressupostos dos actuais
modelos de crescimento e dos mecanismos principais de reprodução da economia alentejana. Isto é, o
estudo possuiu um quadro teórico dentro da “ordem” das teorias e das políticas dominantes. Não foram
questionados aspectos importantes de grande actualidade e sem os quais, possivelmente, existiriam
maiores dificuldades para que a região iniciasse um período de crescimento estável e de longo prazo.
Ressaltam-se os seguintes:
- É possível repensar o desenvolvimento alentejano sem abordar a questão da ocupação da
terra e os seus efeitos sobre a população e sobre o ambiente?
- Como se enquadra a construção de novas infra-estruturas produtivas quando muitas das
existentes são parcialmente utilizadas ou cujas eficiências podem ser melhoradas? Quais
as produções a realizar e a incentivar no quadro das possibilidades competitivas da região e
dos produtores?
- Que receptividade têm os poderes locais e o empresariado regional para a entrada de
capitais externos?
- De que forma as estruturas sociais e de poder não institucionalizadas constituem travões ao
desenvolvimento regional?
O presente trabalho faz algumas reflexões sobre as actuais tendências do desenvolvimento
regional no contexto das políticas comunitárias e nacionais e considerando o Mercado Único como uma
realidade irreversível. Parte-se do principio que são desejados processos de desenvolvimento mais
equilibrados e com menores consequências negativas, sociais e ambientais. Não obstante a análise
empírica do caso do Alentejo confirma a tese defendida que em síntese, defende que as actuais políticas
económicas e os programas de coesão pretendem, fundamentalmente, criar as condições para a
reprodução ampliada do capital através da criação de mecanismos que garantam a funcionalidade do tecido
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económico à escala europeia, preservando os limites de exclusão social e de desconexão territorial de forma
a viabilizar economicamente o modelo, legitimá-lo politicamente e que seja socialmente aceitável. No quadro
desta lógica, o caso do Alentejo confirma que estão em curso novos processos de especialização produtiva
(ou do aprofundamento das existentes), que configurarão uma nova divisão do trabalho internacional onde
se prevê o reforço dos padrões dominantes de acumulação crescentemente concentrados nos eixos
principais de desenvolvimento da Europa, com prejuízos para a grande maioria dos sectores produtivos e
das populações das zonas menos desenvolvidas. Destaca-se que a afectação do recursos públicos e os
fluxos de capitais se localizam de forma crescente nas zonas mais desenvolvidas, nos sectores competitivos
e nas infra-estruturas que lhes estão associadas e que os sintomas das crises das zonas mais pobres
continuam a aprofundar-se.
Uma vez mais trata-se de questionar sobre os limites deste modelo e das suas capacidades
para internalizar as externalidades negativas através da introdução de novas hipóteses auxiliares.
Chegará o momento em que os custos relacionados com a solução das externalidades negativas serão
superiores aos custos do funcionamento da economia competitiva?. Por outras palavras, por exemplo,
quais são os equilíbrios funcionais entre a modernização, a inovação tecnológica e a competitividade
com a exclusão social, as assimetrias territoriais e a degradação ambiental e quais são os níveis a partir
dos quais existem riscos de rupturas e de convulsões políticas. Esta parece ser uma reflexão final um
pouco fria e talvez algo maquiavélica, mas que esta lógica faz parte dos grandes equilíbrios estratégicos
dos centros do poder ... lá isso faz!.
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