MICROTOMOGRAFIA USANDO RECUPERAÇÃO DE FASE...

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MICROTOMOGRAFIA USANDO RECUPERAÇÃO DE FASE COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO E DETERMINAÇÃO DAS ESTRUTURAS INTERNAS DO RHODNIUS PROLIXUS André Pereira de Almeida Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- graduação em Engenharia Nuclear, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Engenharia Nuclear. Orientador(es): Delson Braz Regina Cély Rodrigues Barroso Rio de Janeiro Dezembro de 2013

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  • MICROTOMOGRAFIA USANDO RECUPERAO DE FASE COMO

    FERRAMENTA DE AVALIAO E DETERMINAO DAS ESTRUTURAS

    INTERNAS DO RHODNIUS PROLIXUS

    Andr Pereira de Almeida

    Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Ps-

    graduao em Engenharia Nuclear, COPPE, da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

    requisitos necessrios obteno do ttulo de Doutor em

    Engenharia Nuclear.

    Orientador(es): Delson Braz

    Regina Cly Rodrigues Barroso

    Rio de Janeiro

    Dezembro de 2013

  • ii

    MICROTOMOGRAFIA USANDO RECUPERAO DE FASE COMO

    FERRAMENTA DE AVALIAO E DETERMINAO DAS ESTRUTURAS

    INTERNAS DO RHODNIUS PROLIXUS

    Andr Pereira de Almeida

    TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ

    COIMBRA DE PS-GRADUAO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

    REQUISITOS NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE DOUTOR EM

    CINCIAS EM ENGENHARIA NUCLEAR.

    Examinada por:

    ________________________________________________

    Prof. Delson Braz, D.Sc.

    ________________________________________________

    Profa. Regina Cly Rodrigues Barroso, D.Sc.

    ________________________________________________

    Profa. Patrcia Azambuja Penna, D.Sc.

    ________________________________________________

    Prof. Marcelo Salabert Gonzalez,D.Sc.

    ________________________________________________

    Profa. Simone Coutinho Cardoso, D.Sc.

    ________________________________________________

    Prof. Liebert Parreiras Nogueira, D.Sc.

    ________________________________________________

    Prof. Ademir Xavier da Silva, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

    DEZEMBRO DE 2013

  • iii

    Almeida, Andr Pereira de

    Microtomografia usando recuperao de fase como ferramenta

    de avaliao e determinao das estruturas internas do rhodnius

    prolixus/ Andr Pereira de Almeida. Rio de Janeiro:

    UFRJ/COPPE, 2013.

    XI, 97 p.: il.; 29,7 cm.

    Orientador(es): Delson Braz

    Regina Cly Rodrigues Barroso

    Tese (doutorado) UFRJ / COPPE / Programa de Engenharia

    Nuclear, 2013.

    Referncias Bibliogrficas: p. 70-76

    1.Tomografia computadorizada. 2.Recuperao de fase. 3.Luz

    Sncrotron. 4.Rhodnius Prolixus. I Braz, Delson et al.

    II.Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de

    Engenharia Nuclear. III.Ttulo

  • iv

    Aos meus filhos Miguel e Maria Clara

    minha esposa Lilian

    Aos meus pais Jaime (in memoriam) e Maria.

    Aos meus irmos Julio e Fabiana

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente a Deus por me capacitar e por colocar pessoas ao meu lado para

    me ajudarem.

    minha famlia por todo apoio e confiana.

    professora Regina, pela orientao, confiana e apoio na minha trajetria

    acadmica.

    Ao professor Delson, pela orientao e apoio.

    Ao professor Jos Soares, pela ajuda na aquisio dos dados.

    Ao professor Liebert, pela ajuda na reconstruo das imagens tomogrficas.

    Ao professor Marcelo e a professora Patrcia por nos fornecerem as amostras e

    pelo apoio nas anlises dos dados.

    Aos componentes do laboratrio de fsica aplicada para cincias biomdicas e

    ambientais, da UERJ.

    Ao Programa de Usurios ICTP/ELETTRA pelo apoio financeiro recebido para

    realizao das medidas no ELETTRA Synchrotron Radiation Facility, na Itlia. Dra.

    Giuliana Tromba, coordenadora da linha SYRMEP.

    E, ao CNPq pelo suporte financeiro.

  • vi

    Resumo da Tese apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessrios para

    a obteno do grau de Doutor em Cincias (D.Sc.)

    MICROTOMOGRAFIA USANDO RECUPERAO DE FASE COMO

    FERRAMENTA DE AVALIAO E DETERMINAO DAS ESTRUTURAS

    INTERNAS DO RHODNIUS PROLIXUS

    Andr Pereira de Almeida

    Dezembro/2013

    Orientadores: Delson Braz

    Regina Cly Rodrigues Barroso

    Programa: Engenharia Nuclear

    A absoro foi por um longo tempo o nico mecanismo de contraste que poderia

    ser usado para imagem e reconstruo de estruturas 3D. O advento das tcnicas de raios

    X usando contraste de fase mudaram este panorama. Amostras com baixa absoro

    podem ser claramente visualizadas, permitindo recentes avanos em imagens

    radiogrficas para pequenas amostras biolgicas. Neste trabalho, imagens obtidas usando

    microtomografia por contraste de fase usando radiao sncrotron (SR-PhC-CT) foram

    usadas para estudar estruturas internas do Rhodnius prolixus, um dos mais importantes

    insetos vetores do Trypanosoma cruzi, agente etiolgico da doena de Chagas na Amrica

    Latina. Imagens 3D reconstrudas a partir de projees submetidas abordagem de

    recuperao de fase foram comparadas quelas obtidas atravs da reconstruo direta de

    radiografias por contraste de fase. O uso da SR-PhC-CT torna possvel o acesso a

    informao sobre a sintopia de rgos e estruturas internas do R. prolixus sem destru-

    los, fornecendo dados precisos e preservados referentes sua funo e desenvolvimento.

    A comparao das imagens sugere a natureza complementar das duas abordagens,

    enfatizando detalhes (sem recuperao de fase) ou da estrutura global (com recuperao

    de fase) da amostra.

  • vii

    Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements

    for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

    MICROTOMOGRAPHY USING PHASE RETRIEVAL AS A TOOL FOR

    EVALUATION AND DETERMINATION OF INTERNAL STRUCTURES OF

    RHODNIUS PROLIXUS

    Andr Pereira de Almeida

    December/2013

    Advisors: Delson Braz

    Regina Cly Rodrigues Barroso

    Department: Nuclear Engineering

    Absorption was for a long time, the only contrast mechanism that could be used for

    the imaging and reconstruction of 3D structures. The advent of X-ray phase-contrast

    (PhC) techniques greatly changed this. Samples with low absorption differences can be

    clearly visualized, allowing the recent advances in X-ray imaging for small biological

    samples. In this work, the phase-amplitude retrieval approach from images obtained using

    phase contrast synchrotron X-ray microtomography (SR-PhC-CT) was used to study

    internal structures of the Rhodnius prolixus, which is one of the most important insect

    vector of Trypanosoma cruzi, ethiologic agent of Chagas disease in Latin America. 3D

    images reconstructed from phase-retrieved projections were compared to those obtained

    through direct tomographic reconstruction of the phase contrast radiographs. The use of

    SR-PhC-CT has made it possible to access information on organs syntopy and structure

    of R. prolixus without invading or disrupting them, so supplying precise and conserved

    data concerning their function and development. The comparison of images suggests the

    complementary nature of the two approaches, which emphasize details (without phase

    retrieval) or the overall structure (with phase retrieval) of the sample.

    .

  • viii

    SUMRIO

    1. INTRODUO ........................................................................................................ 1

    2. ASPECTOS GERAIS ............................................................................................... 3

    2.1. Objetivo ............................................................................................................. 3

    2.2. Objetivos especficos ......................................................................................... 3

    2.3. Justificativas ....................................................................................................... 3

    3. FUNDAMENTOS TERICOS ................................................................................ 5

    3.1. Tomografia Computadorizada ........................................................................... 5

    3.1.1. Teorema da projeo de Fourier ............................................................... 10

    3.1.2. Reconstruo de imagens ......................................................................... 12

    3.2. Radiao Sncrotron ......................................................................................... 18

    3.2.1. Caractersticas Gerais ............................................................................... 18

    3.2.2. Produo da Luz Sncrotron ..................................................................... 19

    3.3. Contraste de fase .............................................................................................. 25

    3.4. Intensidade e distribuio de fase .................................................................... 29

    3.5. Imagem baseada na propagao (Propagation-based imaging, PBI) .............. 31

    3.6. Coerncia espacial e temporal ......................................................................... 33

    3.7. O problema da recuperao de fase (The phase retrieval problem) ................ 34

    3.7.1. Algoritmo de transporte de intensidade (transport of intensity, TIE) .......... 36

    3.7.2. Algoritmo no-interativo de recuperao de fase baseado na aproximao de

    Born 37

    3.8. Rhodnius prolixus ............................................................................................ 42

    4. MATERIAIS E MTODOS ................................................................................... 44

    4.1. Microtomografias ............................................................................................. 44

    4.1.1. SYRMEP .................................................................................................. 44

  • ix

    Preparao das Amostras ............................................................................................ 55

    Tratamento das projees para a recuperao de fase ................................................ 56

    5. RESULTADOS E DISCUSSES .......................................................................... 58

    5.1. Anlise das estruturas internas e externas ........................................................ 58

    5.2. Anlise das estruturas internas e externas usando recuperao de fase ........... 61

    5.3. Comparao das imagens obtidas com e sem recuperao de fase ................. 65

    6. CONCLUSO ........................................................................................................ 68

    REFERNCIAS ............................................................................................................. 70

    ANEXO .......................................................................................................................... 77

  • x

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 3-1 - Duas projees de uma amostra constituda de um par de cilindros. (KAK,

    et al.,1987) ........................................................................................................................ 5

    Figura 3-2 - Representao dos coeficientes de atenuao de uma seo transversal ..... 6

    Figura 3-3 - Representao esquemtica dos raio- soma. BARROSO (1997) ................. 7

    Figura 3-4 - Objeto atravessado por um feixe de raios X e projeo. .............................. 8

    Figura 3-5 - Caso geral: projeo P(t) ............................................................................ 9

    Figura 3-6 - Teorema da Projeo de Fourier................................................................. 11

    Figura 3-7 - Pontos da transformada bidimensional, obtidos a partir da transformada de

    vrias projees. ............................................................................................................. 12

    Figura 3-8 - Filtros utilizados na reconstruo (OLIVEIRA, 2002). ............................. 16

    Figura 3-9 - Retroprojeo para reconstruo de uma imagem. ..................................... 17

    Figura 3-10 - Partes real e imaginria, delta e beta, do ndice de refraco complexo da

    gua. (http://henke.lbl.gov/cgi-bin/getdb.pl) .................................................................. 28

    Figura 3-11- Coeficiente de absoro de massa.Lewis (2004). ...................................... 28

    Figura 3-12 ngulo de refrao devido ao deslocamento de fase induzido pelo objeto 30

    Figura 3-13-Padro registrado por um detector situado a uma distncia determinada .. 31

    Figura 3-14 Setup PBI ................................................................................................. 32

    Figura 3-15 - O processo de recuperao fase seguido de reconstruo tomogrfica .... 39

    Figura 3-16 - Rhodnius prolixus (5 estdio). ................................................................ 42

    Figura 3-17 - Esquema do ciclo biolgico do parasita Trypanosoma cruzi com o inseto

    vetor Rhodnius prolixus. O inseto alimentado com sangue infectado com a forma

    tripomastigota os quais se transformam em (B) populao de parasitas crescendo. No reto,

    epimastigotas se transformam em tripomastigotas metacclicas (C) os quais so

    eliminados com as fezes e a urina (GARCIA et al, 2007).epimastigotas e alguns

    spheromastigotes no estmago (A). No intestino, epimastigotas multiplicadas. ........... 42

    Figura 4-1 Esquema funcional da linha SYRMEP. ..................................................... 45

    Figura 4-2 Cmara de ionizao. ................................................................................. 45

    Figura 4-3 Suporte rotacional. ..................................................................................... 46

    Figura 4-4 Cmera CCD 16-bits utilizada na aquisio das imagens. ........................ 46

    Figura 4-5 Setup experimental usado para obteno de imagens por transmisso e

    contraste de fase na linha do SYRMEP. ......................................................................... 47

    Figura 4-6 (a) Interface do sistema de controla da linha mini-BCS; (b) Submenu para

    clculo automtico da energia do feixe .......................................................................... 48

    Figura 4-7 Monitor indicando o fluxo do feixe de raios X lido pela cmara de ionizao

    ........................................................................................................................................ 48

    Figura 4-8 Cmera CCD posicionada no trilho para seleo da distncia amostra-

    detector ........................................................................................................................... 49

    Figura 4-9Interface do programa Newport para o alinhamento do centro da amostra e do

    detector ........................................................................................................................... 49

  • xi

    Figura 4-10 Interface do programa Image Pro Plus: (a) Submenu para seleo da rea

    de captura da imagem. (b) Submenu para seleo do tempo de aquisio e binning da

    imagem. .......................................................................................................................... 50

    Figura 4-11 (a) Submenu para seleo do nmero de imagens a serem adquiridas. (b)

    Submenu para seleo do passo angular e destinao dos arquivos gerados. ................ 51

    Figura 4-12 (a) Imagem da amostra. (b) Imagem flat. (c) Imagem dark. (d) Imagem

    normalizada .................................................................................................................... 53

    Figura 4-13 (a) Janela do programa de reconstruo mostrando um exemplo de projeo

    e a escolha do slice na imagem. (b) Sinograma da fatia escolhida definindo os limites

    esquerdo e direito e o filtro usado. ................................................................................. 55

    Figura 4-14- Alimentao do Rhodnius prolixus ........................................................... 55

    Figura 4-15 Interface grfica do plugin de recuperao de fase, ANKAphase ........... 57

    Figura 5-1-Visualizao externa do R.prolixus.(Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al.,

    2012a) ............................................................................................................................. 58

    Figura 5-2 Volume reconstrudo do R.prolixus. (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al.,

    2012a) ............................................................................................................................. 59

    Figura 5-3 - Seo horizontal, virtual da cabea do R. prolixus (a). Seo sagital virtual

    da cabea do R. prolixus (b). (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al., 2012a) ............... 61

    Figura 5-4 - - Seo horizontal, virtual da cabea do R.prolixus, usando recuperao de

    fase. (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al., 2012b) ..................................................... 62

    Figura 5-5-Seo sagital virtual da cabea do R.prolixus, usando recuperao de fase.

    (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al., 2012b) .............................................................. 63

    Figura 5-6 - Seo dorsal, virtual da cabea do R.prolixus, usando recuperao de fase.

    (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al., 2012b) .............................................................. 64

    Figura 5-7 - Seo horizontal, virtual do protrax do R.prolixus, com recuperao de

    fase. (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al., 2012b) ..................................................... 65

    Figura 5-8 Seo horizontal, virtual da cabea do R.prolixus.(a) Sem recuperao de fase

    e (b)com recuperao de fase. (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al., 2014) ............... 66

    Figura 5-9 Seo sagital virtual da cabea do R.prolixus.(a) Sem recuperao de fase e

    (b)com recuperao de fase. (Fonte: Adaptado de ALMEIDA et al., 2014) .................. 66

    Figura 5-10 Volume reconstrudo do R.prolixus, visualizao anteposterior.(a) Sem

    recuperao de fase e (b)com recuperao de fase. ........................................................ 67

  • 1

    1. INTRODUO

    Tomografia Computadorizada (TC) uma tcnica de imagem baseada na absoro

    de raios X com inmeras aplicaes cientficas e tecnolgicas (HOUNSFIELD, 1973).

    No entanto, h um problema bem conhecido em tcnicas baseadas na absoro de raios

    X, a baixa sensibilidade que torna difcil a aplicao destas tcnicas para a obteno de

    imagem de tecidos moles, tais como amostras biolgicas. Por outro lado, as amostras

    biolgicas que apresentam um baixo contraste, por absorver pouca radiao, produzem

    deslocamentos de fase significativos no feixe de raios X. Se um feixe de raios X

    suficientemente coerente tal como o obtido de uma fonte sncrotron de terceira gerao

    for usado, o contraste de fase pode ser obtido simplesmente afastando o detector da

    amostra (FITZGERALD, 2000; XIAO et al, 2004; LANGERA, 2008; BURVALL,

    2011).

    Em fsica, o problema de fase (phase problem) o nome dado para o problema da

    perda da informao relativa fase que pode ocorrer ao efetuar uma medio fsica. O

    prprio nome vem do campo de cristalografia de raios X, em que o problema de fase tem

    de ser resolvido para a determinao de uma estrutura de dados de difrao. O problema

    de fase tambm conhecido nas reas de gerao de imagens e de processamento de sinal.

    Vrias abordagens tm sido desenvolvidas ao longo dos anos (GLUSKER, et al., 1994).

    Recuperao de fase (phase retrieval) o processo de encontrar solues usando

    algoritmos para o problema de fase, e a chave para a quantificao de imagens obtidas

    pela tcnica de contraste de fase que utiliza raios X como fonte de radiao. Para recuperar

    a imagem de fase de um campo de onda de raios X, em geral, preciso vrias imagens de

    contraste de fase. WU et al. (2005) fizeram uma nova observao da dualidade fase-

    atenuao para tecidos moles, e mostraram que necessria apenas uma imagem de

    contraste de fase para a recuperao fase com base nessa dualidade (WU et al., 2005).

    Existe uma relao quantitativa entre a mudana de fase induzida por um objeto e

    a intensidade registrada. A inverso desta relao chamada de recuperao de fase. Uma

    vez que a mudana de fase proporcional s projees atravs da distribuio

    tridimensional no ndice de refrao do objeto, recuperando a fase, o ndice de refrao

    pode ser reconstrudo, utilizando a fase como entrada para um algoritmo de reconstruo

    tomogrfica (LANGERA, 2008). Um mtodo de recuperao de fase proposto por

  • 2

    Gureyev (GUREYEV, 2004a, 2004b), que se baseia na aproximao de Born, pode ser

    combinado com a dualidade fase-atenuao de tecidos moles. De acordo com a anlise

    de uma simulao, Gureyev verificou que possvel a recuperao de fase a partir de

    radiografias de contraste de fase, que uma funo apenas da distncia amostra-detector

    (Sample to Detector Distance - SDD).

    A reconstruo qualitativa, ou seja, quando no feita a recuperao de fase est

    relacionada com o Laplaciano tridimensional da distribuio do ndice de refrao o qual,

    geralmente, pode ser visto como uma forma de realce nas bordas (efeito halo) e que pode

    ser usado para anlise qualitativa (WU et al, 2008).

    O desenvolvimento de fontes de radiao sncrotron e tcnicas de imagem de

    contraste de fase resultaram em grandes avanos tanto em imagem microscpica, como

    para imagens de raios X em tempo real de organismos vivos (CLOETENS et al, 1996).

    Recentemente, uma anlise do contraste de fase em imagens radiogrficas foi feita

    por SOCHA et al. (2007). Depois, WESTNEAT et al. (2008) publicou uma excelente

    reviso sobre imagens obtidas usando fontes sncrotron de raios X e delineou os muitos

    usos para imagem que auxiliam o estudo da anatomia dos organismos vivos.

    Aplicao da tcnica de microtomografia computadorizada de raios X (CT) em

    insetos bastante recente (HRNSCHEMEYER et al. 2002, 2006;.BEUTEL et al, 2008;.

    EBERHARD et al, 2010; ZHANG et al, 2010) e a sua variante microtomografia com

    fonte sncrotron que usa as informaes do contraste de fase (SR-PhC-CT) ainda mais

    recente (BETZ et al, 2007; JAKUBEKA et al, 2007;. WESTNEAT et al, 2008;

    HEETHOFF & NORTON, 2009; WEIDE & BETZ , 2009; HNNICKE et al, 2010; KIM

    et al, 2011).

  • 3

    2. ASPECTOS GERAIS

    2.1. Objetivo

    Este trabalho tem como objetivo principal a aplicao da tcnica de

    microtomografia computadorizada de raios X usando recuperao de fase com radiao

    sncrotron, para a identificao de estruturas anatmicas do Rhodnius prolixus, que um

    dos insetos vetor mais importante do Trypanosoma cruzi, agente etiolgico da doena de

    Chagas na Amrica Latina (GARCIA et al., 2007).

    2.2. Objetivos especficos

    Analisar as estruturas internas do Rhodnius prolixus, usando microtomografia por

    contraste de fase usando radiao sncrotron (SR-PhC-CT).

    Aplicar a tcnica de recuperao de fase, nas projees adquiridas nas medidas de

    SR-PhC-CT, para analisar as estruturas internas do Rhodnius prolixus.

    Comparar as duas anlises citadas nos itens anteriores.

    2.3. Justificativas

    Um conhecimento detalhado das estruturas anatmicas de insetos fundamental

    para uma melhor compreenso de sua funo e evoluo. Podem-se destacar algumas

    estruturas importantes do inseto Rhodnius prolixus, como o protocrebro, regio

    reguladora dos processos fisiolgicos de muda e metamorfose atravs dos produtos de

    suas clulas neurossecretoras. Outra estrutura relevante o corpus allatum, uma glndula

    endcrina responsvel pela produo do hormnio juvenil que modula o processo de

    muda para os estgios ninfais. Ambas as estruturas so atualmente alvo de estudos com

    drogas capazes de atuar sobre sua fisiologia alterando o ciclo de vida e reproduo de

    insetos assim como o inibir o desenvolvimento do T. cruzi nestes vetores.

    O uso da tcnica de microtomografia usando radiao sincrotron por contraste de fase

    (SR-PhC-CT) em Rhodnius prolixus como modelo de estudos de diferentes tecidos

    poder esclarecer alteraes estruturais durante o desenvolvimento e reproduo desta

  • 4

    espcie. As estruturas internas que foram identificadas neste trabalho usaram o trabalho

    pioneiro de RAMRES-PREZ (1969) sobre estudos anatmicos do sistema nervoso do

    Rhodnius prolixus. O estudo de RAMRES-PREZ foi totalmente baseado no processo

    tradicional de disseces. Neste trabalho, so apresentados os primeiros resultados da

    investigao no-invasiva das estruturas externas e da anatomia do Rhodnius prolixus. A

    microtomografia permite a aquisio de dados volumtricos reais que podem ser usados

    para visualizao 3D e para manipulao virtual deste tipo de inseto, em qualquer direo,

    com resoluo micromtrica sem demoradas e elaboradas dissecaes.

  • 5

    3. FUNDAMENTOS TERICOS

    3.1. Tomografia Computadorizada

    A semntica da palavra tomografia remete-se a duas palavras do grego:

    tomo(seo) +graphein(grafia). Portanto, tomografia uma imagem da seo

    transversal de um objeto, a partir de dados coletados deste objeto iluminado em diversas

    direes. O impacto desta tcnica na medicina foi revolucionrio, uma vez que permitiu

    aos mdicos visualizar rgos internos (ensaio no-destrutivo) com preciso e segurana

    nunca vista para o paciente. Existem numerosas aplicaes de imagens por tomografia

    computadorizada, como por exemplo, nas indstrias e nas diversas reas de pesquisa

    cientifica.

    Fundamentalmente, a tomografia reconstri imagens a partir de suas projees.

    No sentido estrito da palavra, uma projeo em um determinado ngulo a integral da

    imagem no sentido indicado por esse ngulo (KAK, et al.,1987), como indicado pela

    Figura 3-1.

    Figura 3-1 - Duas projees de uma amostra constituda de um par de cilindros. (KAK, et al.,1987)

  • 6

    A Figura 3-2 apresenta a seo transversal de um objeto a uma altura qualquer. A

    funo f(x,y) representa o coeficiente de atenuao de raios X no ponto (x,y). Esta

    representao ser utilizada no desenvolvimento a seguir.

    Figura 3-2 - Representao dos coeficientes de atenuao de uma seo transversal

    Para realizar a reconstruo de uma seo transversal, a tomografia de raios X

    utiliza, como informao externa, a atenuao que um feixe de raios X sofre ao atravessar

    um objeto. Ao atravessar um objeto ao longo de um determinado caminho reto, um feixe

    monocromtico obedece Lei de Beer-Lambert:

    Equao 3-1

    onde (x,y) ou f(x,y) o coeficiente de atenuao no ponto (x,y), I0 o nmero de ftons

    que entram no objeto e I o nmero de ftons que saem do objeto.

    O problema consiste em determinar os coeficientes de atenuao (x,y) em cada

    ponto do corpo de prova. Como j foi exposto, a determinao do coeficiente de

    atenuao pode ser calculado a partir da Equao 3-1, onde a integral corresponde ao raio-

    soma, sendo este a soma de todos os coeficientes de atenuao numa determinada direo.

    BARROSO (1997).

    raio raio

    I

    Idsyxfdsyx 0ln),(),(

  • 7

    Figura 3-3 - Representao esquemtica dos raio- soma. BARROSO (1997)

    Como em um objeto real o coeficiente de atenuao varia de um ponto para outro,

    a atenuao sofrida por um fton de raio X ao longo de um caminho A no ser

    necessariamente igual atenuao sofrida ao longo de um caminho B. Em outras palavras,

    o nmero de ftons I que emergem de uma trajetria A no ser necessariamente igual ao

    nmero de ftons provenientes de uma trajetria B.

    A Figura 3-4 mostra a seo transversal de um objeto sendo atravessada por um

    feixe de raios X paralelo (todos os raios do feixe so paralelos). A parte superior da figura

    apresenta a curva da atenuao sofrida pelo feixe em funo da coordenada t.

  • 8

    Figura 3-4 - Objeto atravessado por um feixe de raios X e projeo.

    A amplitude da curva para um determinado valor t=t1 funo dos coeficientes

    de atenuao ao longo do caminho AB. A curva P(t) denominada projeo e constitui a

    informao necessria para a reconstruo de uma seo transversal.

    Na figura acima, o eixo t representa uma linha de detectores. Cada ponto da curva

    P(t) dado pela intensidade medida por cada detector.

    Existem trs tipos de projees: projees paralelas (ou projees de feixe

    paralelo), projees de feixe em leque e projees de feixe em cone. A Figura 3-4 mostra

    um exemplo de projeo paralela (parallel projection).

    O eixo t, entretanto, pode ter uma orientao qualquer, no necessitando estar

    paralelo ao eixo x como na Figura 3-4. A Figura 3-5 apresenta uma projeo P(t), onde

    o ngulo formado pelos eixos t e x.

  • 9

    Figura 3-5 - Caso geral: projeo P(t)

    Assim, para o caso geral, uma projeo P(t) dada pela integral de linha abaixo,

    onde (,t) representa as coordenadas da trajetria percorrida por um raio X.

    Equao 3-2

    O sistema de coordenadas (t,u) corresponde rotao do par de eixos (x,y) de um

    ngulo :

    Equao 3-3

    Utilizando a Equao 3-2 e a expresso acima relativa a t (t = xcos + ysen),

    pode-se escrever a projeo P(t) da seguinte forma:

    ),( ),()( t dsyxftP

    y

    x

    sen

    sen

    u

    t

    cos

    cos

  • 10

    Equao 3-4

    A Equao 3-4 conhecida como a Transformada de Radon da funo f(x,y).

    3.1.1. Teorema da projeo de Fourier

    O Teorema da Projeo, tambm conhecido como o Teorema da Faixa Central,

    relaciona as projees paralelas de um objeto com sua transformada de Fourier

    bidimensional. Este teorema de grande importncia e constitui uma ferramenta

    fundamental para o mtodo de reconstruo por retroprojeo filtrada.

    O Teorema da Projeo de Fourier baseia-se nas transformadas de Fourier

    unidimensional e bidimensional. As Equao 3-5 e Equao 3-6 apresentam as definies

    das transformadas de Fourier unidimensional e bidimensional, respectivamente:

    Equao 3-5

    Equao 3-6

    dxdyeyxfvuF vyuxj )(2),(),(

    Como definido na seo anterior, f(x,y) representa a distribuio dos coeficientes

    de atenuao da seo transversal de um objeto. Tomando esta transformada para o caso

    particular em que v=0, obtm-se a seguinte expresso:

    Equao 3-7

    A Equao 3-7 pode ser reescrita da seguinte maneira:

    dxdytysenxyxftP )cos(),()(

    dtetfF tj 2)()(

    dxdyeyxfuF uxj )(2),()0,(

  • 11

    Equao 3-8

    Forma geral do Teorema da Projeo de Fourier

    A Figura 3-6 ilustra o Teorema da Projeo: a transformada de Fourier

    unidimensional de uma projeo formando um ngulo com o eixo x igual aos valores

    da transformada bidimensional do objeto ao longo de uma linha radial subtendendo o

    mesmo ngulo com o eixo u.

    Figura 3-6 - Teorema da Projeo de Fourier.

    dxedyyxfuF uxj

    )(2),()0,(

    dyyxftP ),()(0

    dxexPxSuF uxj

    )(200 )()()0,(

    ),()()( 2 FdtetPStj

  • 12

    3.1.2. Reconstruo de imagens

    Segundo o Teorema da Projeo de Fourier, a transformada de Fourier de uma

    projeo que forma um ngulo com o eixo x fornece os valores da transformada

    bidimensional do objeto ao longo de uma linha radial formando o mesmo ngulo com o

    eixo u. Desta forma, calculando a transformada de Fourier de um nmero grande de

    projees formando vrios ngulos com o eixo x, obtm-se os valores da transformada

    bidimensional do objeto ao longo de vrias linhas radiais (Figura 3-7).

    Figura 3-7 - Pontos da transformada bidimensional, obtidos a partir da transformada de vrias projees.

    possvel obter a imagem da seo reta original a partir desta distribuio de

    pontos. Para isso, so necessrias duas etapas: (a) uma interpolao de forma a obter

    pontos distribudos em coordenadas cartesianas e (b) a transformada bidimensional de

    Fourier inversa, fornecendo os valores da imagem no domnio do espao. Este mtodo

    conhecido como reconstruo direta de Fourier (direct Fourier reconstruction).

    Devido dificuldade de interpolao de coordenadas polares para coordenadas

    cartesianas, esta tcnica de reconstruo pouco empregada.

    A tcnica mais conhecida e utilizada de reconstruo de imagens a retroprojeo

    filtrada (filtered backprojection). Como ser visto a seguir, este mtodo, que tem como

  • 13

    fundamento o Teorema da Projeo, faz proveito de uma mudana de coordenadas dos

    argumentos da transformada bidimensional inversa de Fourier.

    A transformada de Fourier inversa de duas dimenses na coordenada cartesiana

    dada pela Equao 3-9 e na coordenada polar pela Equao 3-10.

    Equao 3-9

    Equao 3-10

    Separando os limites da integral anteriormente citada de 0 at e de at 2 , obtm-se:

    Equao 3-11

    A transformada de Fourier em coordenadas polares obedece seguinte propriedade:

    A substituio desta propriedade na Equao 3-11 resulta na equao a seguir:

    Equao 3-12

    Aplicando o Teorema da Projeo (Equao 3-8) na Equao 3-12, obtm-se:

    dudvevuFyxf vyuxj )(2),(),(

    2

    0 0

    )cos(2),(),( ddeFyxf ysenxj

    2

    0

    )cos(2

    0 0

    )cos(2 ),(),(),( ddeFddeFyxf ysenxjysenxj

    0 0

    ))()cos((2

    0 0

    )cos(2 ),(),(),( ddeFddeFyxf ysenxjysenxj

    ),(),( FF

    0

    )cos(2),(),( ddeFyxf ysenxj

  • 14

    Equao 3-13

    Esta expresso a equao principal do mtodo da retroprojeo filtrada. Este

    nome surge da interpretao da Equao 3-13 ao ser dividida em duas integrais:

    Equao 3-14

    Equao 3-15

    A Equao 3-14 a transformada inversa de Fourier do produto S(w)|w|. Esta

    multiplicao representa a filtragem da projeo P(t) (cuja transformada S(w)) pela

    funo |w|. Q(t) denominada projeo filtrada.

    A Equao 3-15 representa a operao de retroprojeo das projees filtradas

    Q(t). O valor de um determinado ponto de coordenadas (x, y) da imagem original dado

    pelo somatrio (ou integral) dos diversos valores Q(xcos + ysen), para variando

    de 0 a .

    O termo || surgiu devido mudana do sistema de coordenadas (de retangulares

    para polares). Matematicamente conhecido como Jacobiano. No mbito de reconstruo

    de imagens, || popularmente chamado de filtro. Este filtro possui um

    comportamento que enfatiza as altas frequncias presentes nas projees adquiridas no

    sistema tomogrfico. Sendo () uma funo janela de limitao de banda que escolhida

    para dar uma resposta em alta frequncia, mais moderada, para alcanar o melhor

    compromisso entre a largura de banda do filtro e a supresso de rudo, podem ser

    acoplados outros filtros dentro das equaes de retroprojeo onde se encontrava somente

    o filtro rampa ||, de forma a minimizar o efeito de enfatizao das altas frequncias.

    Existem quatro filtros comumente utilizados para esta suavizao (

    Tabela 3-1).

    0

    )cos(2)(),( ddeSyxf ysenxj

    deStQysenxj )cos(2)()(

    0

    )cos)((),( dysenxQyxf

  • 15

    Tabela 3-1 - Filtros de reconstruo

    Filtro Resposta em frequncia

    Ram-Lak d rect

    Shepp-Logan ddc rectsin

    Co-seno Passa Baixa dd rectcos

    Generalizado de Hamming 10 ,rect.2cos1 dd

    Os grficos de resposta em frequncia e resposta impulsiva dos filtros descritos

    acima so mostrados na Figura 3-8. Neste trabalho, o filtro Shepp-Logan foi utilizado.

  • 16

    Figura 3-8 - Filtros utilizados na reconstruo (OLIVEIRA, 2002).

    A Figura 3-9 mostra o significado da contribuio de uma projeo filtrada 1()

    qualquer.

  • 17

    Figura 3-9 - Retroprojeo para reconstruo de uma imagem.

    Para o ngulo 1, o valor da projeo filtrada () que contribuir para o valor

    final no ponto (, ) dado pela coordenada 1 = 1 + 1. Para o mesmo

    ngulo 1 e o ponto (, ), o valor da coordenada t ser o mesmo: 1 = 1 +

    1 = t1.

    Portanto, o valor da projeo filtrada Q1(t1) retroprojetado na regio da imagem

    original, contribuindo para todos os pontos ao longo da reta t = t1. Todos os valores de

    1() so desta maneira retroprojetados na regio da imagem original. Este processo

    realizado para todos os ngulos em que foram adquiridas as projees .

  • 18

    3.2. Radiao Sncrotron

    3.2.1. Caractersticas Gerais

    Sempre que uma carga eltrica acelerada, da mesma forma que eltrons

    oscilando numa antena, ela emite radiao eletromagntica. Uma partcula que

    acelerada de forma harmnica gera um campo eltrico senoidal em funo do tempo, e

    este oscila de acordo com a frequncia do seu movimento. Se a velocidade da partcula

    for bem inferior da luz, essa emisso tem o seu valor mximo para ngulos

    perpendiculares direo de acelerao. Por outro lado, nas proximidades da velocidade

    da luz ocorrem mudanas interessantes na emisso de radiao, relacionadas com as

    frequncias emitidas e a forma (direo) de como a partcula emite. Alteraes mais

    profundas ocorrem a velocidades relativsticas no movimento circularem que o espectro

    de emisso de radiao torna-se quase-contnuo, apresentando uma infinidade de

    harmnicos da frequncia fundamental de oscilao. Esta radiao conhecida como luz

    sncrotron (CASTILHO, 2006).

    A radiao ou luz sncrotron gerada por aceleradores anulares nos quais circula

    uma corrente pulsada de eltrons de alta energia (E>>moc2) com velocidade praticamente

    igual velocidade da luz. A radiao sncrotron gerada pelo movimento circular destes

    eltrons em velocidades relativsticas nas tangentes s curvaturas de sua trajetria.

    O processo de produo iniciado por um canho de eltrons de um acelerador

    linear. Os aceleradores lineares so aceleradores de partculas carregadas, como eltrons,

    prtons ou ons pesados. As partculas carregadas entram em um tubo onde existem

    campos eltricos alternados. Estas partculas so aceleradas primeiramente por um campo

    eltrico e entram em um tubo de corrente ou drift tube onde so protegidas do campo

    eltrico e o atravessam com velocidade constante at a prxima abertura. Neste ponto as

    partculas so novamente aceleradas e a cada abertura entre os tubos aceleradores as

    partculas recebem mais e mais energia. Esse processo capaz de acelerar as partculas

    carregadas com energias muito grandes.

    O feixe de eltrons gerado pelo acelerador linear injetado em um anel de

    armazenamento, onde h trs dispositivos bsicos: os dipolos magnticos, formados por

    ims dipolares que produzem um campo magntico homogneo no sentido vertical que

    so responsveis pela deflexo do feixe e consequente produo de luz sncrotron; os

    quadripolos ou sextupolos que esto situados nos trechos retos do anel e servem para

  • 19

    focalizar os eltrons e reduzir as aberraes cromticas; e a cavidade de rdio frequncia

    que est situada em um ou mais dos trechos retos e responsvel por acelerar os eltrons

    injetados a baixa energia at a energia final e por fornecer aos eltrons, em cada passagem

    pelo interior da mesma, a energia perdida em cada volta devido radiao produzida nas

    partes curvas de suas trajetrias para aumentar o tempo de vida do feixe

    (MARGARITONDO, 1995).

    A utilizao de luz sncrotron pressupe o uso de monocromadores de modo a

    selecionar a regio desejada do espectro eletromagntico.

    Os feixes de raios X que se podem obter em uma mquina de luz sincrotron so

    extremamente intensos, colimados e dotados de um elevado grau de coerncia

    longitudinal (espacial). Alm disso, com a utilizao de cristais monocromadores,

    possvel obter feixes praticamente monocromticos com energia selecionvel dentro de

    um amplo espectro de energia. O feixe , por sua natureza, laminar com altura de alguns

    milmetros e com largura de algumas dezenas de centmetros no plano do objeto, o que o

    torna ideal para sistemas de imagem. As caractersticas geomtricas do feixe podem

    tambm ser modificadas mediante o uso de cristais assimtricos ou de outras ticas, de

    modo a adaptar-se a exigncias especficas (ARFELLI et al., 2000).

    3.2.2. Produo da Luz Sncrotron

    Uma onda eletromagntica uma perturbao que se propaga espacialmente (no

    vcuo), associada aos campos eltrico e magntico oscilantes no tempo. A energia

    transportada pela onda a energia armazenada nesses campos. A densidade de energia

    (energia por unidade de volume) da onda eletromagntica pode ser determinada da

    seguinte forma (JACKSON, 1999):

    Equao 3-16

    22

    2

    1

    2

    1BE

    o

    o

    onde E e B representam os mdulos dos campos eltrico e magntico, respectivamente.

    Para uma melhor simplificao na notao, ser utilizado o sistema c.g.s (gaussiano) em

    que faz-se a substituioo

    o

    1

    4

    1 . Substituindo

    oo

    c

    1 (velocidade da luz no

  • 20

    vcuo) na Equao 3-16, pode-se escrever a energia em funo do campo eltrico, j que

    c

    EB :

    Equao 3-17

    2Eo

    A intensidade da onda eletromagntica (I), isto , a potncia dissipada por unidade

    de rea (J/m2) calculada multiplicando-se a densidade energtica pela sua velocidade c:

    Equao 3-18

    2EccI o

    Considerando uma partcula carregada (um eltron, por exemplo) que se move

    aceleradamente, pode-se mostrar que o campo eltrico tem uma dependncia angular em

    relao direo da acelerao a, sendo diretamente proporcional ao mdulo deste vetor:

    Equao 3-19

    rc

    aeE

    .

    sen 2

    onde e a carga do eltron e r o raio da esfera. Substituindo o mdulo do campo

    eltrico na

    Equao 3-18, pode-se calcular a energia dissipada por unidade de tempo (ou

    potncia) multiplicando a intensidade pela rea superficial de uma esfera1

    Equao 3-20

    3

    222 sen

    c

    aeP

    A

    1 Considera-se um campo eltrico esfericamente simtrico gerado por um eltron no centro do sistema de

    coordenadas, isto , no centro da esfera. Como o campo no interior de um condutor esfrico nulo,

    considera-se somente o campo [componente tangencial] gerado na casca esfrica de espessura infinitesimal.

  • 21

    Equao 3-20 revela um padro de emisso dipolar ou globular pela dependncia

    com o quadrado do seno. Essa dependncia angular pode ser eliminada por simples

    consideraes geomtricas. O sistema de coordenadas esfricas admite a seguinte relao

    fundamental: x2 + y2 + z2 = r2, que relaciona o raio da esfera com suas coordenadas

    cartesianas. O fato de o eltron estar no centro do sistema de coordenadas implica na

    igualdade dos valores quadrticos mdios em cada direo, isto : 222 zyx ;

    da decorre que 33

    1

    3

    1 222222 rrzyxx . Fazendo-se uso da identidade

    trigonomtrica fundamental, pode-se substituir a mdia do quadrado dos senos conforme

    apresentado abaixo:

    Equao 3-21

    3

    2sen

    1cos1sen

    2

    2

    2

    22

    r

    x

    Substituindo este resultado na

    Equao 3-20 chega-se finalmente frmula de Larmor, que nos fornece a

    potncia dissipada por uma carga acelerada a velocidades bem inferiores velocidade da

    luz:

    Equao 3-22

    2

    3

    2

    3

    2a

    c

    eP

    A frmula de Larmor mostra que a energia liberada por uma carga acelerada

    depende unicamente de agentes externos (fora), sendo muito pequena em relao

    energia que pode ser concedida pelos aceleradores lineares. Isso pode ser constatado

    substituindomd

    E

    m

    Fa c na

    Equao 3-22 para obter a potncia em funo da energia cintica da partcula (Ec)

    e do comprimento do acelerador (d):

  • 22

    Equao 3-23

    2

    22

    2

    3

    2

    mc

    E

    d

    ceP c

    Pela

    Equao 3-23 fica claro que a potncia dissipada s ser considervel quando a

    partcula for acelerada a uma energia prxima sua energia de repouso (mc2), o que no

    to simples de se conseguir devido aos efeitos relativsticos2.

    A situao bem diferente quando se considera o movimento circular uniforme

    de uma partcula carregada, pois a perda em energia por revoluo comea a no ser

    desprezvel em relao ao ganho energtico que pode ser conseguido pela acelerao por

    campos de radiofrequncia. Substituindo na

    Equao 3-22 a expresso da acelerao centrpetarm

    p

    rac

    .

    v2

    22

    , obtm-se a

    potncia dissipada a baixas velocidades (< 0,1c):

    Equao 3-24

    2

    22

    2

    3

    8

    mc

    E

    r

    ceP c

    Novamente as perdas energticas no so considerveis em relao ao ganho que

    pode ser obtido por re-acelerao na faixa de microondas, e podem ser minimizadas

    aumentando-se o raio orbital. Por outro lado, se a partcula carregada for acelerada de

    modo que sua energia seja bem superior sua energia de repouso, a energia cintica ser

    dada por Ec=cp e a potncia dissipada ser considervel, crescendo com a quarta potncia

    da energia:

    2 Quanto mais prximo da velocidade da luz quisermos acelerar uma partcula, maior ser o trabalho

    necessrio. Pela expresso relativstica da energia de uma partcula: 2

    22 1/.

    c

    vcmE

    , percebe-se que seria

    necessria uma diferena de potencial infinita (trabalho infinito) para aceler-la velocidade da luz (Lemos,

    2001).

  • 23

    Equao 3-25

    4

    22

    2

    3

    8

    mc

    E

    r

    ceP c

    Este resultado foi obtido em 1898 por Linard (um ano depois da deduo da

    frmula de Lamor) e constitui um marco na histria da luz sncrotron por representar a

    primeira previso terica de sua emisso.

    A radiao dissipada a cada volta completada por um feixe de partculas

    carregadas a velocidades prximas da velocidade da luz pode ser determinada

    considerando, agora, o momento linear relativstico (.m.v) da seguinte forma:

    Equao 3-26

    44

    2

    2

    3

    2

    r

    ceP

    ondec

    v . A energia perdida a cada volta pode ser calculada multiplicando-se a

    potncia pelo perodo

    .

    .2

    c

    r:

    Equao 3-27

    432

    3

    4

    eE

    Caso a energia dos eltrons circulantes seja bem elevada (1), a perda

    energtica pode ser calculada em funo da energia do feixe circulante, j que 2.cm

    E

    Substituindo o valor do raio clssico do eltron mcm

    e 152

    2

    10.82,2.

    , chega-se equao

    que relaciona a perda energtica por volta, em funo do raio da trajetria e da energia da

    partcula carregada.

    Equao 3-28

    )(

    )(5,88

    4

    metrosr

    GeVEkeVE

  • 24

    Nos primeiros sncrotrons de eltrons (r = 1m e E = 0,3 GeV) havia uma perda

    mdia de aproximadamente1 keV por volta valor este pequeno mas no desprezvel, se

    comparado ao ganho que podia ser conseguido atravs de reacelerao por

    radiofrequncia. Em energias maiores as perdas tornavam-se considerveis, explicando o

    porqu dos primeiros anis de armazenamento operarem com baixas correntes de feixe

    para experincias de colises de partculas, o que determinava um subaproveitamento da

    luz sncrotron. Com o aumento da demanda pelo uso cientfico da luz sncrotron, foram

    desenvolvidas fontes exclusivas e projetadas para se obter uma maior intensidade.

  • 25

    3.3. Contraste de fase

    Imagens radiogrficas de contraste de fase oferecem uma qualidade de imagem

    muito maior sobre as de mtodos convencionais, muitas vezes em dose menor do que o

    exigido por tcnicas de absoro convencionais. Apesar destas vantagens significativas a

    tcnica permanece quase totalmente restrita a laboratrios com fontes de radiao

    sncrotron. Imagens radiogrficas de contraste de fase tm sido estudadas h mais de 10

    anos. A explorao do contraste de fase tecnicamente muito exigente, mas os ganhos

    potenciais so tais que esta continua a ser uma rea de crescimento (LEWIS, 2004).

    O contraste de fase surge porque tanto a amplitude e a fase dos raios X so

    modificadas quando um feixe de raios X se propaga atravs de um objeto. Uma

    compreenso detalhada exige que a radiao deve ser tratada como um campo de ondas,

    em vez de uma simples ptica geomtrica. Tal pensamento representa uma mudana

    significativa no campo das imagens radiogrficas mdicas e talvez uma das razes pelas

    quais os efeitos da imagem de contraste de fase no foram muito considerados at

    recentemente (LEWIS, 2004).

    Existem muitas tcnicas para a obteno do contraste de fase (BONSE, et al.,

    1965; CHANPMAN, et al., 1997; DAVID et al., 2002). Desde as primeiras publicaes

    sobre imagens de raios X por contraste de fase (BONSE e HART,1965; DAVIS et al.,

    1995; INGAL e BELIAEVSKAYA, 1995; SNIGIREV et al., 1995; WILKINS et al.,

    1996; NUGENT et al., 1996, CLOETENS et al., 1996; CHAPMAN et al., 1997),

    diferentes mtodos para esta aplicao foram desenvolvidos, como apresentado por

    Nugent (NUGENT, 2010). Atualmente quatro mtodos esto em uso: interferometria,

    imagem reforada por difrao, contraste de fase em linha (in-line) e interferometria

    usando grades (FITZGERALD, 2000; PFEIFFER, et al., 2007; MOMOSE, 2005). Entre

    estes mtodos, os dois ltimos apresentam vantagens distintas, j que podem ser usados

    com fontes policromticas. A verso de interferometria usando grades pode ser realizada

    com fontes extensas, pois as exigncias para a coerncia espacial so reduzidos, custa

    da diminuio do fluxo de radiao. O contraste de fase in-line (ou holografia, isto ,

    contraste de fase baseada na propagao) o arranjo mais simples e, portanto, o menos

    sensvel a desvios dos componentes pticos, por exemplo. Esta vertente exige uma

    pequena fonte de alta coerncia espacial e, portanto foi limitado a sncrotron ou fontes

    microfocus de baixa energia, mas recentemente tem sido demonstrado com fontes table-

  • 26

    top liquid-jet-anode (TUOHIMAA,et al. 2007). Nenhum dos mtodos de contraste de

    fase de raios X produz medies diretas da fase, para isto necessrio um processamento

    de dados. Quanto a este aspecto a tcnica para obteno de contraste de fase mais simples

    a interferometria, que requer apenas a considerao do deslocamento de fase em 2rad.

    A mais exigente o contraste de fase baseada na propagao que requer recuperao fase,

    a simplicidade experimental pago pelo processamento de dados mais complexo

    (BURVALL, 2011).

    O arranjo experimental do contraste de fase baseada na propagao semelhante

    ao de absoro de raios X. A principal diferena a distncia de propagao: na absoro

    a projeo de um objeto capturada num plano perto da amostra, no contraste de fase

    baseada na propagao, o feixe de raios X propaga-se por uma distncia atravs do espao

    livre entre a amostra e o detector (BURVALL, 2011).

    Neste momento uma simples particularidade tcnica considerada: se a coerncia

    espacial do feixe de raios X suficiente, o efeito de contraste de fase pode ser obtido

    fazendo com que o feixe se propague em espao livre aps interao com o objeto

    (SNIGIREV, et al., 1995; CLOETENS, et al., 1996; WILKINS, et al.,1996; NUGENT,

    et al., 1996).

    O efeito sobre ondas de raios X que se propagam atravs de um objeto pode ser

    descrito pelo ndice de refrao complexo (ALS-NIELSEN &MCMORROW 2001):

    Equao 3-29

    = 1

    onde e so os parmetros de decrscimo do ndice de refrao e o ndice de absoro,

    respectivamente. est relacionado com o coeficiente de atenuao de massa , que

    dado por:

    Equao 3-30

    4

    =

  • 27

    Na tomografia por contraste de fase, a parte real, , do ndice de refrao

    reconstruda. Para as condies experimentais geralmente usadas, diretamente

    relacionado com a densidade eletrnica, e, (JENSEN et al., 2011)

    Equao 3-31

    =202

    onde r0=2,821015 m o comprimento de espalhamento de Thomson. A densidade

    eletrnica, e frequentemente usada quando os resultados da tomografia por contraste

    de fase so apresentados.

    A vantagem para a imagem por contraste de fase que a parte real do ndice de

    refrao algumas ordens de magnitude maior que a parte imaginria (HENKE et al.,

    1993). Esta diferena na magnitude oferece a possibilidade de uma aumento substancial

    no contraste da imagem na tomografia por contraste de fase em comparao com a tcnica

    convencional de tomografia por absoro.

    As mudanas de fase e de atenuao associadas a uma distncia x de propagao so

    dadas por

    Equao 3-32

    =2

    () log (

    0) =

    4

    ()

    onde I0 a intensidade incidente, I a intensidade final e o comprimento de onda.

    Assim, o deslocamento de fase e a absoro de um feixe de raios X que se propaga atravs

    de uma amostra dependem tanto da e das componentes particulares a serem

    No contexto da imagem de contraste de fase um aspecto importante que em

    tecidos moles o em geral, trs vezes maior na ordem de grandeza que na faixa de

    energia dos raios X. Alm disso, decresce mais suave que quando a energia

    aumentada, como ilustrado na Figura 3-10. este fato que cria o potencial para gerao

    de imagens com baixa dose j que as diferenas dos tecidos moles so apenas aparentes

    a baixas energias quando se utiliza a absoro, ver Figura 3-11.

  • 28

    Figura 3-10 - Partes real e imaginria, delta e beta, do ndice de refraco complexo da gua.

    (http://henke.lbl.gov/cgi-bin/getdb.pl)

    Figura 3-11- Coeficiente de absoro de massa.Lewis (2004).

    Ab

    sor

    o (

    cm2/g

    )

    Energia (keV)

    http://henke.lbl.gov/cgi-bin/getdb.pl

  • 29

    A magnitude muito maior de sobre significa que o deslocamento de fase de

    um feixe de raios X que se propaga atravs de um tecido mole pode ser muito maior que

    a variao da intensidade. Um estudo bem sucedido com imagens de contraste de fase

    requer um suficiente grau de coerncia lateral na radiao iluminante. A coerncia lateral

    dada por:

    Equao 3-33

    =1

    onde o comprimento de onda, r1 a distncia da fonte-objeto e o tamanho da fonte.

    evidente, portanto, que a otimizao do contraste de fase mais fcil com ftons de

    baixa energia, com um pequeno tamanho focal e uma distncia fonte-objeto grande

    (KOTRE & BIRCH, 1999).

    Curiosamente, a exigncia de coerncia temporal ou monocromaticidade no to

    rigorosa, com isso imagens de contraste de fase podem ser facilmente realizadas com

    fontes de radiao policromticas (WILKINS et al. 1996). Do ponto de vista prtico este

    fato importante uma vez que fontes de raios X monocromticas com intensidade

    suficiente para o de diagnstico usando imagens radiogrficas so atualmente limitadas a

    fontes sincrotron.

    3.4. Intensidade e distribuio de fase

    Considerando o ndice de refrao, se a variao deste pequena, os raios-X so

    transmitidos atravs do material quase em linha reta. Nesta hiptese, a intensidade dos

    raios X transmitidos atravs do objeto afetada principalmente pelo coeficiente de

    absoro do objeto. A intensidade dos raios X, (, ), no plano de contato dada por:

    Equao 3-34

    (, ) = 0(,,)

    onde(, ) so as coordenadas no plano de projeo, perpendicular a direo de projeo

    e 0 a intensidade incidente, que considerada constante.

    Se o material homogneo, a Equao 3-34 denominada Lei de Beer-Lambert,

    que j foi descrita na Equao 3-1.

  • 30

    Equao 3-35

    (, ) = 0 (,)

    onde (, ) a espessura projetada do material.

    A mudana de fase do feixe de raios X se propagando por uma distncia z dado

    por:

    Equao 3-36

    (, ) = 2

    (, , )

    Para objetos homogneos pode ser reescrita:

    Equao 3-37

    (, ) = 2

    (, )

    Um efeito importante que ocorre por causa das distores da frente de onda,

    devido ao deslocamento de fase induzido pelo objeto, a refrao do feixe de raios X que

    passam atravs da amostra, que pode ser expresso por um ngulo , Figura 3-12 (Born

    e Wolf, 1999):

    Equao 3-38

    (, ; )

    2 ,(, ; )

    Esta relao valida se | ,(, ; )| 2

    , que chamada de aproximao

    paraxial.

    Figura 3-12 ngulo de refrao devido ao deslocamento de fase induzido pelo objeto

  • 31

    3.5. Imagem baseada na propagao (Propagation-based imaging, PBI)

    Na imagem baseado em propagao, o objeto exposto por um feixe de radiao

    altamente coerente e esta iluminao pode resultar em um desvio de fase. medida que

    a radiao se propaga aps atravessar a amostra, as partes da frente de onda que sofreram

    diferentes deflexes do origem a um padro caracterstico. Este padro ento registrado

    por um detector situado a uma distncia conveniente (SNIGIREV et al., 1995,

    CLOETENS et al.,1996). Os desvios de fase, portanto so transformados em variaes

    de intensidade detectveis, em funo da superposio destas frentes de ondas e

    consequentes interferncias construtivas e destrutivas como mostrado na Figura 3-13.

    Figura 3-13-Padro registrado por um detector situado a uma distncia determinada

    Em comparao com as outras tcnicas de contraste de fase, PBI tem uma

    configurao simples (Figura 3-14). Ela no necessita de elementos pticos entre a amostra

    e o detector. Isto implica na ausncia de possveis aberraes decorrentes dos elementos

    pticos e possvel atingir uma alta resoluo (Pogany et al.,1997;Arhatari et al.; 2004,

    Gureyev et al., 2008). O mtodo baseado na propagao uma modalidade de imagem

    de contraste de fase que tem um diferencial: a imagem no depende diretamente do desvio

    de fase induzida pelo objeto, mas da variao espacial. Em particular, neste caso, como

    ser descrito a seguir, o contraste registrado na imagem , numa primeira aproximao,

  • 32

    proporcional ao Laplaciano da mudana de fase em um plano perpendicular ao eixo

    ptico.

    Figura 3-14 Setup PBI

    A formao do contraste de fase depende da distncia , chamada propagao

    efetiva ("desfocagem"), que definida como:

    Equao 3-39

    =.

    +

    onde a distncia fonte-amostra e a distncia fonte-detector.

    A condio , adotada para o arranjo experimental baseada em radiao

    sincrotron, a distncia simplesmente determinada pela distncia de propagao, ou

    seja, . Variando a distncia e considerando a escala de comprimento

    caracterstica transversal do objeto e uma onda plana monocromtica, quatro regimes

    podem ser distinguidos (MAYO et al, 2002, GUREYEV, 2003):

    O regime de absoro, para o qual a amostra a uma distncia do detector

    prximo de zero.

    A deteco de bordas ou regime de difrao de campo prximo, caracterizada pela

    pequena distncia tal que 2 = 2.

    A quantidade introduzida o raio no plano do objeto, chamada de primeira

    zona de Fresnel, que representa a regio finita no objeto que contribui

    significativamente para um ponto da imagem. Neste caso, o contraste formado

    localmente em torno de caractersticas especficas da amostra. Os limites do

    objeto so fortemente reforados (efeito halo) e um padro de interferncia

    distinto corresponde a cada margem, dando informaes geomtricas valiosas

  • 33

    sobre o objeto. Se introduzirmos o nmero de Fresnel, a condio acima para o

    regime de campo prximo pode ser expresso como 1.

    O regime de Fresnel ou intermedirios, caracterizada pelas distncias de

    desfocagem tais que: 2 = 2. Esta condio tambm equivalente

    para 1

    O regime de difrao Fraunhofer ou de campo longquo (far-field), caracterizado

    por grandes distncias desfocagem de tal forma que 2 = 2, e tambm

    1

    Neste ltimo caso, as franjas de interferncia so bem resolvidas, mas j no

    podem ser atribudas a uma borda especfica da amostra. As imagens no representam de

    forma confivel o objeto.

    Assim, dependendo das condies experimentais, o padro de difrao de Fresnel

    melhora propriedades diferentes da amostra. Em particular, possvel demonstrar que a

    imagem mais sensvel a uma dada gama de frequncias de uma caracterstica de fase

    em particular, a uma distncia determinada por 1 (22) . Para esta distncia o

    termo do contraste de fase maximizado. Por exemplo, para = 0.5, para ser possvel

    detectar detalhes na que tenham dimenses de 10, a distncia tima deve ser de 1.

    Uma vez que a distncia de propagao limitada ao comprimento da cabana

    experimental, para a seleo da energia (frequncia) a ser utilizada, deve-se levar em

    considerao a limitao das distncias a serem usadas, ficando intrinsecamente as baixas

    frequncias em detrimento. Portanto, essa tcnica mais adaptada a objetos que causam

    variaes rpidas do que os que produzem variaes suaves na fase.

    3.6. Coerncia espacial e temporal

    A coerncia espacial e temporal um aspecto muito importante de qualquer

    sistema de imagem de contraste de fase, uma vez que quantifica a capacidade de um

    campo de onda em ser portadora de informaes de fase e as franjas de interferncia.

    As propriedades de coerncia de um campo de onda podem ser descritas por

    funes de correlao dependentes do tempo e do espao (BORN e WOLF, 1999), ligados

    monocromaticidade dos raios X e ao tamanho angular da fonte, respectivamente:

  • 34

    Coerncia temporal (longitudinal) implica em uma relao de fase entre

    a onda() e a onda ( + ),separadas por um intervalo de tempo

    curto. A distncia percorrida pela onda durante um perodo de tempo no

    qual a correlao permanece elevada chamado o comprimento de

    coerncia longitudinal = , onde o comprimento de onda, que

    associado monocromaticidade do feixe.

    Coerncia espacial (transversal) indica a correlao entre a amplitude de

    onda em diferentes pontos transversais direo de propagao (entre a

    onda () e onda ( + ), em dois pontos separados por uma distncia

    ). Esta propriedade normalmente expressa em termos da coerncia

    lateral (ou transversal) comprimento = 2 , onde = /, L e S so

    a distncia fonte-detector e a dimenso transversa da fonte,

    respectivamente (BORN & WOLF, 1999).

    O mtodo PBI muito sensvel falta de coerncia espacial da radiao que esta

    iluminando o objeto. Se o tamanho angular de uma fonte incoerente, comparado ao da

    amostra demasiado for muito grande, o contraste de fase baseada na propagao

    invivel, pois no ocorre a formao das franjas de interferncia.

    A resoluo da tcnica PBI est tambm relacionada com o processamento de

    imagem e com a espessura da amostra. Este ltimo contribui com uma amenizao igual

    a , por exemplo, este valor de 0,2 para uma espessura de amostra igual a1

    e uma energia de 25 : portanto, este efeito pode ser negligenciado, dado que

    geralmente ele menor do que o tamanho do pixel.

    3.7. O problema da recuperao de fase (The phase retrieval problem)

    O problema da recuperao de fase um passo alm do contraste de fase, no

    sentido de que agora se pretende medir ou recuperar uma dada distribuio de fases a

    partir de uma ou mais imagens, que so obtidas por um determinado sistema de imagens

    de contraste de fase.

    Por conta disso, essas imagens de contraste de fase so vistas como imagens

    criptografadas ou cdigo da distribuio de fase desejada (, ). O problema da

  • 35

    recuperao de fase pode, em seguida, ser formulado como o problema de decodificao

    de tais imagens para obter a fase (, ).

    Nas subsees seguintes, duas abordagens diferentes para o problema inverso de

    recuperao fase so delineadas. O primeiro baseado no algoritmo de transporte de

    intensidade (transport of intensity, TIE) (PAGANIN et al., 2002), para dados de CT

    usando single-distance e objetos de material nico, e o segundo um algoritmo no-

    interativo de recuperao de fase baseado na aproximao de Born proposto por Gureyev,

    projetado para materiais de baixo Z e homogneo (GUREYEV et al., 2004b).

  • 36

    3.7.1. Algoritmo de transporte de intensidade (transport of intensity, TIE)

    Este algoritmo permite a recuperao da fase de uma onda eletromagntica de uma

    nica imagem de contraste de fase baseada na propagao de campo prximo (near-field).

    Equao 3-40

    ((r, )(r, )) = (2

    )(r, )

    Equao 3-41

    (r, = 0) = (r)

    Equao 3-42

    (r, = 0) = (2

    ) (r)

    onde (r, ) a intensidade e (r, ) fase do feixe, o vetor posio rsitua-se

    perpendicular ao eixo z. o operador gradiente no plano que contm r.

    (r, = 0)e (r, = 0) so a intensidade e a fase da radiao acima do plano na

    superfcie de sada, z = 0 do objeto, respectivamente. Substituindo as

    Equao 3-41 e Equao 3-42 na

    Equao 3-40, temos a espessura projetada:

    Equao 3-43

    (r) = (1

    ) [

    1 {{2(r, = 2}/

    (2|k|2)/( + )}]

    onde R1 a distncias fonte-amostra e R2 a distncia amostra-detector, =1+2

    2 a

    magnificao da imagem resultante da iluminao da fonte pontual, 1 a transformada

    inversa de Fourier e a transformada de Fourier em relao a r sendo que k a

    coordenada de Fourier correspondente a r.

    A Equao 3-43, apresenta a soluo para a

    Equao 3-40, de transporte de intensidade, para espessura projetada, (r), de

    uma amostra homognea, usando uma nica imagem formada fora do foco. Esta

  • 37

    espessura projetada fortemente relacionada com a intensidade e a fase da radiao na

    superfcie de sada da amostra.

    3.7.2. Algoritmo no-interativo de recuperao de fase baseado na

    aproximao de Born

    Esta aproximao utiliza um algoritmo convencional baseado em amostras que

    causam uma variao muito pequena na fase do feixe de radiao (weak phase object

    approximation). Esta aproximao requer uma variao muito menor que um (condio

    de Guigay) e uma absoro desprezvel. Este algoritmo foi proposto por GUREYEV et

    al., (2004b), para materiais homogneos de baixo nmero atmico, depois isto foi

    desenvolvido para objetos quasi-homogneo e aplicado a tomografia (CHEN, et al. 2011).

    As partes real e imaginria do ndice de refrao complexo de objetos quasi-homogneos,

    so proporcionais um em relao ao outro.

    Equao 3-44

    (, , ) = (, , )

    Assume-se uma mudana de fase pequena |( + , + ) (x, y)|

    1(GUIGAY, 1977), onde (, ) so as frequncia espaciais de Fourier, correspondente ao

    ponto (, ) no espao real e a distncia amostra-objeto. De acordo com a

    aproximao de Born para a recuperao de fase para tomografia baseada na propagao,

    a distribuio de intensidade , pode ser aproximada como mostrada na Equao 3-45

    (GUREYEVet al., 2004b):

    Equao 3-45

    [(, , 1 ) 2 ](, ) = +

    Onde e so as transformada de Fourier das funes de fase e da absoro e

    = (2+ 2). Para amostras pouco absorvedora ,0 1. Inserindo a Equao 3-45

    na Equao 3-44, obtm-se a funo de fase para amostra para cada projeo:

    Equao 3-46

    (, ) = 1 {

    [(, 1) 2 ]

    1 + }

  • 38

    Os dois mtodos citados anteriormente seguem o mesmo padro. Os passos deste

    padro so descritos na no fluxograma a seguir (Figura 3-15), assumindo que o objeto

    iluminado por uma onda plana.

  • 39

    Figura 3-15 - O processo de recuperao fase seguido de reconstruo tomogrfica

    Pegar a funo ( ) de uma medida de intensidade

    Calcular a transformada de Fourier de

    Multiplicar por um filtro no domnio da

    frequncia

    Calcular a transformada inversa de Fourier para obter

    a funo filtrada

    Pegar a funo () para obter a fase

    Calcular a transformada de Fourier de

    Multiplicar por um filtro fb no domnio da

    frequncia

    Calcular a transformada inversa de Fourier

    Retroprojeo

    ()

    ()

    ()

    ()

    Recuperao de fase

    (phaseretrieval)

    Retroprojeo filtrada

    1

  • 40

    Como dado de entrada dos algoritmos, a intensidade () no plano de imagem

    registrada como uma funo da posio transversal = ( , ) no detector . Em primeiro

    lugar, uma funo (( )) calculada. Esta funo, que varia entre os diferentes

    mtodos, bastante simples e, por vezes, considerada como uma normalizao. Em

    seguida, a quantidade de () filtrada no domnio da frequncia. Intuitivamente, esta

    filtragem pode ser percebida como uma deconvoluo de uma integral de difrao

    (GUIGAY, 1977), ou como uma soluo da transformada de Fourier de uma equao de

    onda. A filtragem realizada primeiro tomando a transformada de Fourier de (),

    multiplicando por uma funo de filtro de (), onde = (, ) a frequncia

    espacial e tomando a transformada inversa de Fourier para obter a quantidade filtrada

    (). Mais uma vez, a funo de filtro de ( ), depende do mtodo escolhido.

    Finalmente, uma funo ( ) escolhida de modo a obter a distribuio de fases ()

    num plano logo aps o objeto, isto , no plano de contato . A funo () bastante

    simples e muitas vezes uma identidade, () = . O procedimento pode ser escrito

    como apresentado na Equao 3-47

    Equao 3-47

    () = (1{. |()|})

    onde representa a transformada bidimensional de Fourier.

  • 41

    A

    Tabela 3-2, resume as propriedades de sete mtodos para recuperao de fase.

    Tabela 3-2 Mtodos para a recuperao de fase.

    Mtodo () (, ) () Condies

    Bronnikov

    0 1

    [2||2]1 = 0

    Bronnikov

    modificado

    0 1

    [2||2 + ]1 0Solucion

    ar TIE

    Dualidade

    atenuao-fase

    0 [2

    2

    ||2 + 1]

    1

    Material simples

    0 [42

    ||2 + 1]

    1

    1

    Dois materiais 2()

    0 [42

    1 21 2

    ||2 + 1]1

    1

    1 2

    Solucionar

    TIE

    Mtodo de

    Fourier,

    padro Born

    a 1

    2(

    0 1)

    [(||2)]1 ) = 0 )

    b [(||2)+ (||2)]1

    Mtodo de

    Fourier,

    padro Rytov

    a 1

    2

    0

    [(||2)]1 ) = 0 )

    b [(||2)

    + (||2)]1

  • 42

    3.8. Rhodnius prolixus

    Pertencentes subfamlia Triatominae, R. prolixus (Figura 3-16), Triatoma

    infestans e Panstrogylus megistus so os principais insetos vetores do Trypanosoma cruzi

    no Continente Americano (FISTEIN ; CHOWDHURY, 1969).

    Figura 3-16 - Rhodnius prolixus (5 estdio).

    O Trypanosoma cruzi, aps intensa multiplicao no intestino mdio do inseto

    como epimastigotas, sofre transformao para tripomastigota metacclico, o qual pode ser

    transmitido para um novo hospedeiro vertebrado juntamente com as fezes durante o

    repasto sanguneo (Figura 3-17) (GARCIA et al, 2007).

    Figura 3-17 - Esquema do ciclo biolgico do parasita Trypanosoma cruzi com o inseto vetor Rhodnius prolixus.

    O inseto alimentado com sangue infectado com a forma tripomastigota os quais se transformam em (B)

    populao de parasitas crescendo. No reto, epimastigotas se transformam em tripomastigotas metacclicas (C)

    os quais so eliminados com as fezes e a urina (GARCIA et al, 2007).epimastigotas e alguns spheromastigotes

    no estmago (A). No intestino, epimastigotas multiplicadas.

  • 43

    Rhodnius prolixus uma espcie amplamente estudada e vem ganhando destaque

    na cincia ao longo dos anos por ser tambm vetor do Trypanossoma rangeli (BARRETT

    et al., 2003; MAYA et al., 2007; MELLO et al., 1999; GOMES et al., 2003), este no

    considerado patognico ao homem. Esta espcie tem sido usada como modelo de estudo

    por vrios motivos. Primeiramente, pela facilidade de manipulao e criao em larga

    escala. O hbito alimentar descontnuo dos triatomneos, de uma maneira geral, tem

    como vantagem, o fato de que uma nica alimentao sangunea por estdio capaz de

    deflagrar sincronicamente eventos fisiolgicos relacionados ao seu desenvolvimento, o

    que culmina com a muda (ecdise) para o prximo estdio. Outra vantagem do uso do R.

    prolixus, sua disposio alimentao pela utilizao de um aparato artificial, ao qual

    adicionado sangue desfibrinado ou contendo anticoagulante. Este comportamento

    permite, em curto perodo de tempo, o tratamento oral dos insetos com diferentes drogas

    e microorganismos, inclusive tripanossomatdeos, pela simples adio ao sangue

    alimentar. Seu ciclo de vida, no laboratrio, necessita, em mdia, de 6 meses para

    completar de ovo a adulto (GARCIA et al, 2007), sendo que a longevidade desta espcie

    favorece os experimentos em laboratrio (GARCIA et al., 1975; 1984). Outras

    caractersticas que tornam esta espcie interessante, o fato que 5 estdio, aps o repasto,

    aumenta seu peso corporal em at 12 vezes favorecendo a farta produo de urina, bem

    como a obteno da hemolinfa, alm da facilidade de visualizao dos rgos durante a

    disseco.

  • 44

    4. MATERIAIS E MTODOS

    4.1. Microtomografias

    4.1.1. SYRMEP

    As mediadas de microtomografias foram feitas na linha SYRMEP

    (SYnchrotronRadiation for MEdicalPhysics) do laboratrio de luz sncrotron ELETTRA,

    localizado na provncia de Trieste na Itlia.

    A linha de luz SYRMEP uma das 24 linhas do ELETTRA. A divergncia

    horizontal do feixe de 7 mrad. Esta linha prov, a uma distncia de 23 m da fonte, um

    feixe de raios X monocromtico com rea de seo mxima de 140 x 4 mm2 a 20 keV. O

    monocromador baseado em um sistema de duplo cristal de Si(111) funcionando na

    configurao de Bragg. O conjunto de cristais equipado com controladores de

    movimentos de alta preciso para realizar alinhamentos angulares precisos do segundo

    cristal em relao ao primeiro. O feixe de sada paralelo ao incidente com um

    deslocamento vertical de 20 mm. A faixa de energia til de 8,5 35 keV (/ 10-3).

    O fluxo tpico medido na posio da amostra a 17 keV de aproximadamente 1,6x108

    ftons/mm2.s com uma corrente de eltron de 300 mA quando o ELETTRA est operando

    a 2,0 GeV, e 5,9x108 ftons/mm2.s com 140 mA a 2,4 GeV (ABRAMI et al., 2005). Todas

    as medidas foram realizadas com o ELETTRA operando a 2,0 GeV.

    A Figura 4-1 representa o esquema funcional da linha de luz SYRMEP: a radiao

    emitida pelos eltrons que circulam no anel quando sua trajetria curvada por um

    campo magntico. A radiao assim emitida, pela tangente do anel, policromtica e a

    seleo da componente de energia desejada definida pela difrao sobre a superfcie do

    cristal de silcio sobre o plano cristalogrfico (111). Para manter constante a direo de

    propagao dessa luz escolhido um monocromador de dupla reflexo. A linha

    completada por um sistema de fendas que definem as dimenses do feixe e por uma

    cmara de ionizao que serve para medir a intensidade da radiao incidente sobre a

    amostra. O feixe fixo e a aquisio das imagens possvel pelo movimento do objeto

    em frente ao feixe laminar.

  • 45

    Figura 4-1 Esquema funcional da linha SYRMEP.

    A estao experimental est situada a aproximadamente 23 m da fonte. A cmara

    de ionizao (Figura 4-2) colocada antes da mesa posicionadora de amostra usada para

    determinar a exposio e, consequentemente, a dose depositada na amostra. A mesa

    posicionadora possui dois motores para realizar movimentos micromtricos de translao

    vertical e horizontal que permitem o posicionamento da amostra em relao ao feixe

    estacionrio (TZAPHLIDOU, 2005).

    Figura 4-2 Cmara de ionizao.

    Neste sistema de posicionamento da amostra, um suporte rotacional com

    resoluo de 0,001 (Figura 4-3) permite a realizao das tomografias, sendo que o

    detector fica estacionrio em frente ao feixe, enquanto o objeto gira em passos discretos

    em frente a ele. O sistema de deteco usado foi uma cmera CCD Hystar de 16-bits

  • 46

    (Figura 4-4), com 4008 x 2672 pixels2, tamanho de pixel de 4,5 x 4,5 m2. Este sistema

    pode ser posicionado a diferentes distncias da amostra podendo variar de 0,1 a 1,0 m de

    forma a possibilitar a realizao de imagens tanto por transmisso quanto por contraste

    de fase (Figura 4-5) (POLACCI et al., 2006; TESEI et al., 2005).

    Figura 4-3 Suporte rotacional.

    Figura 4-4 Cmera CCD 16-bits utilizada na aquisio das imagens.

  • 47

    Figura 4-5 Setup experimental usado para obteno de imagens por transmisso e contraste de fase na linha

    do SYRMEP.

    Seleo dos Parmetros da Linha de Luz

    Antes de comear as medidas tomogrficas necessrio escolher os parmetros

    experimentais: tamanho do feixe laminar, energia do feixe e distncia amostra-detector.

    O sistema de controle da linha (Beamline Control System) mini BCS permite total

    aquisio de dados e controle remoto do tamanho do feixe e da energia escolhida (Figura

    4-6a).

    O feixe laminar entra da sala experimental a um distncia de cerca de 23 m da

    fonte com uma seo de choque mxima disponvel de 140 x 4 mm2 e definido por um

    sistema de fendas micromtricas de tungstnio. Os sistemas de fendas so constitudos de

    quatro lminas independentes chamadas Left, Right, Up e Down (Figura 4-6a). O tamanho

    do feixe definido pelas dimenses do sistema de fendas do vcuo e do ar que o delimitam

    antes de atingir a amostra. Para a realizao de todas as tomografias o tamanho do feixe

    foi igual a 40 x 4 mm2.

    A energia do feixe pode ser escolhida dentro da faixa de 8,5 a 35 keV (com

    resoluo em energia de 0,2%) atravs do posicionamento remoto do duplo-cristal

    monocromador. O ngulo de Bragg dos dois cristais de Si(111) e o posicionamento

    relativo do segundo cristal em relao ao primeiro so escolhidos de modo a selecionar a

    energia do feixe. Os motores Berger controlam tanto o movimento dos sistemas de fendas

    de vcuo e de ar quanto o ngulo de Bragg do duplo-cristal monocromador. Os valores

    de energia em keV esto relacionados a valores para os motores Berger e AML. Desta

    forma, definindo-se a energia, os motores so automaticamente acionados para os valores

    correspondentes (Figura 4-6b).

  • 48

    (a) (b)

    Figura 4-6 (a) Interface do sistema de controla da linha mini-BCS; (b) Submenu para clculo automtico da

    energia do feixe

    O fluxo deve ser maximizado atravs da suave rotao do segundo cristal no feixe

    de modo a encontrar o pico de mxima intensidade da rocking curve do cristal. Esse

    movimento feito atravs do motor Berger escolhendo-se valores no campo NANOMVR

    na Figura 4-6a. Os valores de fluxo lidos pela cmara de ionizao montada na sala

    experimental podem ser visualizados no monitor na sala de controle (Figura 4-7), sendo

    que altos valores de corrente correspondem a altos valores de fluxo de raios X. A energia

    escolhida para realizao de todas as tomografias foi de 15 keV (Berger = 5319 e AML

    = 211025). Esse valor foi escolhido de modo a maximizar a relao sinal-rudo da cmera

    CCD observando-se a condio de razovel transmisso do feixe atravs da amostra sem

    desconsiderar que os efeitos de fase so maiores quando a energia do feixe menor.

    Figura 4-7 Monitor indicando o fluxo do feixe de raios X lido pela cmara de ionizao

  • 49

    Para obteno das imagens o detector foi posicionado manualmente a 0,1 m da

    amostra movendo-se o detector no trilho indicado na Figura 4-8.

    Figura 4-8 Cmera CCD posicionada no trilho para seleo da distncia amostra-detector

    As amostras foram centralizadas no suporte de modo a utilizar a totalidade do

    campo de vista da cmera CCD. O posicionamento da amostra e do detector feito pelos

    motores Newport da linha e realizado remotamente atravs da interface Newport(Figura

    4-9). Para fazer esse alinhamento uma amostra padro em forma de agulha usada.

    Figura 4-9Interface do programa Newport para o alinhamento do centro da amostra e do detector

  • 50

    Aquisio das Tomografias

    A amostra rotacionada dentro do feixe monocromtico incidente em um

    intervalo angular entre 0 e 180 graus. Para cada passo angular uma radiografia planar

    gravada pela cmera CCD. Todo o controle dos parmetros da cmera CCD para

    aquisio das imagens e a sincronizao com os motores Newport da linha so realizados

    pelo programa Image Pro Plus v.5.1. Os parmetros da cmera a serem definidos so:

    rea de captura da imagem, tempo de exposio para cada aquisio e binning (Figura

    4-10a e Figura 4-10b).

    (a) (b)

    Figura 4-10 Interface do programa Image Pro Plus: (a) Submenu para seleo da rea de captura da

    imagem. (b) Submenu para seleo do tempo de aquisio e binning da imagem.

    No submenu Image (Figura 4-11a) pode-se selecionar o nmero de imagens que

    se deseja obter: apenas uma imagem para o alinhamento da amostra e do detector ou uma

    srie de imagens para a realizao das medidas tomogrficas. Uma macro permite fazer

    girar a amostra de um dado passo angular depois de cada aquisio (Figura 4-11b). Aps

    cada aquisio, o arquivo salvo na destinao definida.

  • 51

    (a) (b)

    Figura 4-11 (a) Submenu para seleo do nmero de imagens a serem adquiridas. (b) Submenu para seleo

    do passo angular e destinao dos arquivos gerados.

    Para realizao das tomografias foram obtidas 900 imagens ou projees, ou seja,

    com passo angular igual de 0,2o. O tempo de aquisio para cada imagem foi de cerca de

    2 segundos. O tempo de aquisio foi otimizado para cada amostra em funo do

    decaimento do fluxo do feixe, mantendo-se fixa a intensidade medida no centro da

    amostra.

    Todas as imagens obtidas sero normalizadas a partir da relao:

    Equao 4-1

    DarkFlat

    DarkAmostra

    aNormalizad

    II

    III

    Onde: IAmostra a imagem da amostra capturada pela cmera CCD aps definidos todos

    os parmetros experimentais;

    IDark a imagem capturada pela cmera CCD com o shutter fechado (sem feixe);

    IFlat a imagem capturada pela cmera CCD com o shutter aberto e sem a amostra

    na frente do feixe.

    A Figura 4-12 mostra um exemplo de cada uma dessas imagens obtidas para uma

    amostra. IDark e IFlat so imagens mdias calculadas a partir de um conjunto de 5 imagens

    obtidas antes e depois da aquisio de todas as projees.

  • 52

    (a)

    (b)

    (c)

  • 53

    (d)

    Figura 4-12 (a) Imagem da amostra. (b) Imagem flat. (c) Imagem dark. (d) Imagem normalizada

    Reconstruo das Imagens

    O procedimento de reconstruo das imagens foi desenvolvido pelo grupo

    SYRMEP no IDL (Interactive Data Language) que um ambiente computacional

    completo para anlise interativa e visualizao de dados. O IDL integra uma poderosa

    linguagem com numerosas tcnicas de anlise matemtica e visualizao grfica. O

    projeto IDL SYRMEP_TOMO_PROJECT, disponvel na linha de luz, elabora as

    projees atravs do seguinte procedimento de reconstruo usando retroprojeo

    filtrada:

    Mostrar uma nica projeo normalizada. Para cada projeo um mapa de

    intensidades gravado no plano xy do detector.

    Selecionar interativamente uma fatia da qual se deseja construir o sinograma

    (Figura 4-13a).

    Selecionar o filtro ao qual as fatias sero submetidos (ramlak, shepp_logan,

    kernelwidth, rem ring, rem zinger). O filtro Shepp-Logan foi usado para todas as

    imagens.

    Escolher na imagem do sinograma a largura da fatia a ser reconstruda definindo

    os limites esquerdo e direito (CropLeftRight) no sinograma de modo a selecionar a

    regio que realmente contm os dados (Figura 4-13b).

    Otimizar o valor para o centro de rotao de modo a obter um sinograma melhor

    centrado em relao ao eixo de rotao minimizando assim, o aparecimento de artefatos

    nas fatias reconstrudos.

  • 54

    Finalmente, depois de otimizados os parmetros tomogrficos, todos os

    sinogramas podem ser criados e as fatias podem ser reconstrudos. Todos as fatias

    foram convertidos de 16-bits para 8-bits para maior rapidez na reconstruo e

    tratamento das imagens. O tempo total para reconstruo das imagens 2D foi de cerca

    de 2 horas.

    As fatias reconstrudos so ento tratados por um processo de renderizao para

    a reconstruo 3D onde os slices2D so visualizados como uma pilha (Stack) (Figura

    4-13c).

    (a)

    (b)

  • 55

    Figura 4-13 (a) Janela do programa de reconstruo mostrando um exemplo de projeo e a escolha do slice

    na imagem. (b) Sinograma da fatia escolhida definindo os limites esquerdo e direito e o filtro usado.

    Preparao das Amostras

    Os insetos ninfas de 5 estdio de Rhodnius prolixus (Hemiptera: Reduviidae)

    foram criadas e mantidos a uma temperatura de 28 C com umidade relativa entre 60% e

    70%. As ninfas de 5 estdio foram alimentadas, como mostra a Figura 4-14 com sangue

    citratado humano ou sangue desfibrinado de coelho usando um aparelho artficial tal como

    anteriormente descrito por Garcia et al. (1984). Trs dias aps a alimentao, os insetos

    foram imobilizados a uma temperatura de 4 C por 10 min e fixados em uma mesa de

    isopor com alfinetes entomolgicos. Os insetos foram cortados transversalmente na

    juno entre o protrax e o segmento mesotrax do corpo. As amostras foram fixadas e

    mantidas temperatura ambiente em soluo fixadora de glutaraldeodo a 1%, sacarose

    5% em tampo caco-dilato de sdio 0,1M, pH 7,4.

    Figura 4-14- Alimentao do Rhodnius prolixus

  • 56

    Tratamento das projees para a recuperao de fase

    Para o tratamento das projees das tomografias, foi usado o plugin ANKAphase

    (WEITKAMP et al., 2011) do software ImageJ3 (NATIONAL INSTITUTES OF

    HEALTH, 2010), que foi concebido para dar um acesso mais amplo da comunidade

    cientifica para a utilizao da tcnica de recuperao de fase para medidas que usam a

    tcnica de tomografia de raios X por contraste de fase. Este algoritmo foi escolhido por

    simples e robusto e por operar em radiografias simples (WEITKAMP et al., 2011).

    Os dados de entrada para o plugin ANKAphase, so :

    IAmostra- Projees (imagens radiogrficas da amostra capturadas pela

    cmera CCD)

    IDark- Imagem dark

    IFlat- Imagem flat

    Beta ()- n