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Centro Internacional de Semitica e Comunicao CISECO
II COLQUIO SEMITICA DAS MDIAS ISSN 2317-9147
Praia Hotel Albacora Japaratinga Alagoas 25 de setembro de 2013
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Mdias alternativas VS Mdias tradicionais:
as manifestaes de junho de 2013
Marcos Reche vila1
Resumo
Pretende-se neste trabalho descrever algumas diferenas das abordagens miditicas
realizadas em junho de 2013 sobre os acontecimentos relacionados com as
manifestaes em ruas de vrias cidades brasileiras. Foram estudados recortes das
coberturas feitos por veculos de jornalismo televisivos, impressos, de webjornalismo; e
outras mdias que se propem comunicao em redes sociais. Estas ltimas sero
chamadas aqui de mdias sociais2 o conceito de mdia social utilizado aqui vem do
marketing digital, ou seja, converge com o interesse neste artigo em apresentar uma
definio deste conceito no campo da internet. Levam-se em conta duas angulaes, de
um lado a chamada grande mdia e de outro as mdias sociais e veculos
jornalsticos alternativos. A grande mdia, de incio, se fixou na cobertura dos atos de
depredao de patrimnio pblico e privado por parte de manifestantes. As mdias
sociais divulgaram e criaram releituras de materiais contrrios, como fotos dos
manifestos, mostrando o nmero majoritrio de pessoas em passeatas pacficas,
diminuindo a generalizao e categorizando, mesmo que superficialmente, os tipos de
manifestantes. Finalmente enfatizamos que nos apoiamos em um conjunto de peas
jornalsticas matrias e reportagens produzidas pela mdia tradicional e em fotos e
vdeos produzidos pelas mdias sociais, para a realizao desta reflexo.
Palavras-chave:
Midiatizao; Acontecimento; Mdia.
1 Graduando em Comunicao Social: Habilitao Jornalismo na Universidade do Vale do Rio dos Sinos
UNISINOS e bolsista de Iniciao Cientfica CNPq Projeto de Pesquisa Afetaes da midiatizao
sobre o ofcio jornalstico: ambincia, identidades, discursividades e processos interacionais, coordenado
pelo Prof. Dr. Antnio Fausto Neto.
2Cludio Torres v as mdias sociais como as que permitem a criao e compartilhamento de
informaes e contedos pelas pessoas e para as pessoas. So mdias transmissoras de informao de
forma livre e aberta a colaborao e interao de todos (Torres: 2009).
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Introduo
H alguns anos, movimentos formados por centenas de pessoas tem ido s ruas exigir
o passe livre nos transportes coletivos. Movimentos estes que ganharam muita
visibilidade nas redes sociais e nas mdias tradicionais em eventos pontuais, e no ms de
junho receberam o apoio de milhares de pessoas, que saram s ruas para somar aos
movimentos em todo o pas. medida que os protestos se tornavam maiores, eventos
criados em redes sociais incitavam as pessoas adeso a luta, mas agregavam
particularidades: pautas diversas comearam a surgir. Gritos de guerra como o
gigante acordou entoaram as manifestaes virtuais e fsicas. Ativistas reforaram a
onda de indignao generalizada com os servios pblicos do pas e colocaram em
pauta reivindicaes contra leis especficas em processo de votao pelo poder
legislativo. As ruas passaram a abrigar uma massa3 de milhares em marcha, mas com
propsitos prprios, que no necessariamente convergiam uns com os outros.
As manifestaes foram expressas em palavras, pixos, cartazes e depredaes. O
universo de expresses foi grande e no foi homogneo. Os movimentos pelo passe
livre nos transportes pblicos tentaram manter a liderana de alguma forma, mas apenas
parte dos manifestantes esteve nas ruas por esta causa. Muitos agiam seguindo seu
prprio entendimento sobre o que deveria ser pautado como, problemas na rea da
sade, educao, a chamada lei da cura gay, etc. Havia quem clamasse pelo fim da
corrupo, expressando fisicamente com cartazes ou em ciberativismo nas redes sociais
as redes sociais so alguns exemplos desta prtica.
Surgiu, em meio a esta onda de protestos, um grupo no liderado e autointitulado
Black Bloc, cujas mdias tradicionais optaram por no dar-lhe muita visibilidade e os
integrantes passaram a ser chamados de vndalos ou mascarados. Este ltimo no era
um grupo institucionalizado como um movimento social convencional e no pretendia
ser visto como tal. Atuaram como um bloco. Vestiam roupas pretas para impactar e
vendavam o rosto com lenos ou camisetas para no serem identificados. Os
manifestantes que formaram o Black Bloc foram os que se expressaram atravs de
depredaes, como a quebra de portas de vidro das agncias bancrias, e pixos
3 Aqui expresso o termo segundo a ideia de Elias Canetti sobre massa aberta: no se sabe o quanto pode
crescer; no tem uma medida; deseja crescer at o infinito e precisa de mais e mais pessoas para isto
(Canetti: 1995).
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pichaes. No decorrer do texto, dentro do recorte trazido aqui sobre a cobertura da
mdia Ninja, o reprter traz um dos atos como simbolismo. Isto destoa das demais
coberturas que os trataram como vndalos.
Dado o fenmeno, as mdias4 comearam a noticiar os acontecimentos que o
envolviam e todos os indivduos da sociedade se informam de alguma forma. Significa
dizer que as mdias auxiliam na construo das realidades sociais. Sabendo disto,
necessrio o entendimento da relao dos atores sociais neste caso so todos os
cidados da nao - com as mdias. Alsina desenvolve uma importante reflexo a
respeito, onde toda a atividade discursiva pressupe a produo de interpretaes na
construo do que se enuncia. Todas as pessoas constroem a realidade do que as cerca,
porm o jornalista constri a realidade pblica do dia-a-dia. Cada sistema cultural
define que fato ou fenmeno merece ser considerado um acontecimento. As empresas
jornalsticas transformam os acontecimentos em notcias, quando adquirem valor para
isto (Alsina: 2009).
preciso entender que vivemos em uma sociedade midiatizada, ou seja, os difusores
de informao no so apenas transportadores das informaes dos atores sociais
envolvidos em um acontecimento. Antnio Fausto Neto define o trabalho da
midiatizao como gerador de fluxos de interaes de natureza tcnico-discursiva e
sempre afetam os campos sociais e os atores sociais envolvidos nestes campos. O
foco da promoo destes fluxos de interao est na cultura, nas lgicas e operaes
enunciativas inseridas na sociedade. Os mediadores constroem as formas de
organizao e funcionamento. Definem, ainda, as condies de acesso e consumo dos
indivduos. A midiatizao , tambm, o processo de auto-operaes que transforma o
enunciado no prprio acontecimento e utilizado em diversos setores da prtica social,
produzindo diferentes consequncias em cada um deles (Fausto Neto: 2009).
de conhecimento tambm que a imprensa - ou a mdia - se baseia em agendamentos
para produzir notcias. A seleo de objetos e enquadramentos nos dizem o que pensar e
como pensar sobre o acontecimento (McCombs e Shaw: 1993, apud Traquina:
2001). Estes conceitos foram fundamentais para mostrar a importncia desta anlise.
4 Somos habituados a ver o dispositivo miditico aparelho de tv, rdio, pc (personal computer), etc.
como o disseminador do acontecimento. Mcluhan recupera este conceito de diferentes formas e aponta
qualquer meio como a mensagem em si. Isto porque a forma como o meio utilizado define a produo
das mensagens (Mcluhan: 2007).
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Isto porque alm das questes j muito discutidas sobre este tipo de anlise e inerentes
ao ofcio do jornalismo, surgiram novas modalidades de recursos tcnico-discursivos
jornalsticos. As redes sociais so algumas destas proponentes.
Neste artigo ser analisado o trabalho jornalstico e construtor de realidades sociais de
trs mdias. Uma destas mdias jornalsticas novas ganhou muita fora durante as
manifestaes de rua: a mdia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ao),
cujas narrativas utilizadas por cada profissional so independentes. As outras duas
mdias so tradicionais e legitimadas pelo seu trabalho h muito tempo, a Folha de So
Paulo (FSP) e o Jornal Nacional (JN). Isto a fim de enxergamos pelo menos uma
pequena frao do panorama da midiatizao jornalstica no Brasil.
Todo o material utilizado para a anlise foi coletado a partir de vdeos gravados e
textos impressos ou digitais recuperados ps-data de publicao. Devido ao espao e o
flego possveis para este trabalho, o universo de materiais analisado