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MIGRAÇÃO CONSCIENCIOLÓGICA PARA FOZ DO IGUAÇU: BREVE HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E MOTIVAÇÕES FERRARO, Cristiane Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4 122 MIGRAÇÃO CONSCIENCIOLÓGICA PARA FOZ DO IGUAÇU: BREVE HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E MOTIVAÇÕES FERRARO, Cristiane Doutoranda do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Sociedade, Cultura e Fronteiras, da UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu [email protected] RESUMO O texto trata da migração de voluntários da Conscienciologia para Foz do Iguaçu. Os objetivos foram: contextualizar a complexidade do estudo da consciência; apresentar princípios, paradigma e metodologia da Conscienciologia, assim como expor seus marcos cronológicos; relatar a migração desses voluntários para Foz do Iguaçu. Para tanto, utilizou-se bibliografias e documentos produzidos pelos migrantes. A Conscienciologia é o estudo da consciência humana de modo multidimensional. A migração teve início em 1995, porém de 2002 até 2015, o fluxo migratório permaneceu crescente e constante, com destaque para o ano de 2004. A motivação principal para o deslocamento colhida através de uma amostra de pesquisa, indicou o voluntariado na Conscienciologia. Uma característica do grupo é o alto nível de pessoas diplomadas. Esse estudo encontra-se no início, sendo necessário aprofundamento, a fim de compreender o modus operandi dessa migração. Palavras-chave: Conscienciologia. Migração. Foz do Iguaçu. ABSTRACT The text deals with the migration of conscientiology volunteers to Foz do Iguaçu. The objectives of this article were: contextualize the complexity of the study of consciousness; present principles, paradigm and methodology of conscientiology, as well as expose their chronological milestones; report the migration of these volunteers to Foz do Iguaçu. To this end, we used bibliographies and documents produced by migrants. Conscientiology is the study of human consciousness in a multidimensional way. The migration began in 1995, but from 2002 to 2015, the migratory flow remained increasing and constant, especially in the year 2004. According to data collected in a survey, the main motivation for moving indicated volunteering in conscientiology. A feature of the group is the high level of graduated people. This study is in the beginning, requiring deeper researches in order to understand better the modus operandi of this migration. Key-words: Conscientiology. Migration. Foz do Iguaçu. INTRODUÇÃO O presente artigo tem como tema principal a comunidade conscienciológica, situada em Foz do Iguaçu, Paraná, desde 1995. A formação dessa comunidade foi possível a partir da fundação de uma instituição de ensino e pesquisa em Foz, chamada Centro de Altos Estudos da Consciência (CEAEC).

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MIGRAÇÃO CONSCIENCIOLÓGICA PARA FOZ DO IGUAÇU: BREVE HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E MOTIVAÇÕES

FERRARO, Cristiane

Foz do Iguaçu PR: UNIOESTE, 8 a 11 de dezembro de 2015, ISSN 2316-266X, n.4

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MIGRAÇÃO CONSCIENCIOLÓGICA PARA FOZ DO IGUAÇU:

BREVE HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E MOTIVAÇÕES

FERRARO, Cristiane

Doutoranda do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Sociedade, Cultura e Fronteiras, da

UNIOESTE – Campus de Foz do Iguaçu [email protected]

RESUMO

O texto trata da migração de voluntários da Conscienciologia para Foz do Iguaçu. Os objetivos foram: contextualizar a complexidade do estudo da consciência; apresentar princípios, paradigma e

metodologia da Conscienciologia, assim como expor seus marcos cronológicos; relatar a migração

desses voluntários para Foz do Iguaçu. Para tanto, utilizou-se bibliografias e documentos produzidos pelos migrantes. A Conscienciologia é o estudo da consciência humana de modo multidimensional. A

migração teve início em 1995, porém de 2002 até 2015, o fluxo migratório permaneceu crescente e

constante, com destaque para o ano de 2004. A motivação principal para o deslocamento colhida através de uma amostra de pesquisa, indicou o voluntariado na Conscienciologia. Uma característica do grupo é

o alto nível de pessoas diplomadas. Esse estudo encontra-se no início, sendo necessário

aprofundamento, a fim de compreender o modus operandi dessa migração.

Palavras-chave: Conscienciologia. Migração. Foz do Iguaçu.

ABSTRACT

The text deals with the migration of conscientiology volunteers to Foz do Iguaçu. The objectives of this

article were: contextualize the complexity of the study of consciousness; present principles, paradigm and methodology of conscientiology, as well as expose their chronological milestones; report the

migration of these volunteers to Foz do Iguaçu. To this end, we used bibliographies and documents

produced by migrants. Conscientiology is the study of human consciousness in a multidimensional way.

The migration began in 1995, but from 2002 to 2015, the migratory flow remained increasing and constant, especially in the year 2004. According to data collected in a survey, the main motivation for

moving indicated volunteering in conscientiology. A feature of the group is the high level of graduated

people. This study is in the beginning, requiring deeper researches in order to understand better the modus operandi of this migration.

Key-words: Conscientiology. Migration. Foz do Iguaçu.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como tema principal a comunidade conscienciológica, situada em

Foz do Iguaçu, Paraná, desde 1995. A formação dessa comunidade foi possível a partir da

fundação de uma instituição de ensino e pesquisa em Foz, chamada Centro de Altos Estudos da

Consciência (CEAEC).

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O CEAEC, por sua vez, surgiu a partir da demanda de voluntários pertencentes a uma

primeira instituição da Conscienciologia, denominada Instituto Internacional de Projeciologia e

Conscienciologia (IIPC), os quais levantavam ideias de como deveria ser um centro de

pesquisas para o IIPC.

A escolha de Foz do Iguaçu para a construção desse campus de pesquisa, parece fruto do

acaso, uma vez que foi a partir da doação de um terreno por uma iguaçuense que os voluntários

do IIPC se direcionaram para Foz. O fato é que quando se pensou o plano diretor do CEAEC já

se previu muitas instâncias, tais como: gráfica, administração, auditório, alojamentos, salas de

aula, biblioteca e outros (BALTHAZAR, 2015, p. 28).

Ao que parece, essa comunidade contava na fase inicial com 16 pessoas e hoje há 841

pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a Conscienciologia, em Foz (CONCEIÇÃO,

2015, p. 60; FERRARO, 2015, p. 251).

Este estudo pretende investigar esse movimento migratório de pessoas provenientes de

diversas cidades do Brasil e do Exterior para Foz do Iguaçu a fim de se envolver com a

Conscienciologia. Os objetivos específicos são: contextualizar a complexidade do estudo da

consciência; apresentar princípios, paradigma e metodologia da Conscienciologia, assim como

expor os marcos cronológicos através de eventos, livros e instituições; relatar a migração de

voluntários da Conscienciologia para Foz do Iguaçu, vindo a formar a comunidade

conscienciológica, suas características e motivações.

Algumas questões surgem à mente no momento inicial desse estudo, tais como: O que é a

Conscienciologia? Por que Foz do Iguaçu? Quem é esse migrante? Quais as motivações e

características dessa migração? Como é a interação desses migrantes com a cidade?

Tais problemas de pesquisa irão ser discutidos neste texto, tentando se responder dentro

do escopo do artigo, a essas perguntas. Para tanto, irá se recorrer a bibliografias tais como

livros, artigos, notícia de revista; documentos produzidos pelos migrantes, tal como relatórios.

Além da importância deste estudo para se compreender melhor um dos tantos agrupamentos

culturais presentes na Tríplice Fronteira, é necessário esclarecer que a presente pesquisadora é

uma migrante e faz parte da comunidade da Conscienciologia, tendo interesse pessoal em

investigar esse fenômeno sócio-histórico e podendo contribuir, com o olhar de dentro, a uma

aproximação pontual entre os moradores de Foz e os conscienciólogos.

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1. COMPLEXIDADE DA CONSCIÊNCIA: É POSSÍVEL FAZER CIÊNCIA DA

CONSCIÊNCIA?

O tema da consciência, objeto de estudo da Conscienciologia, é complexo e tem sido

estudado, ao longo da história, pela filosofia, religião e sobretudo pela Psicologia. Paralelo a

isso, as abordagens da ciência sobre a consciência também têm sido diversas, de acordo com as

visões de mundo e paradigmas vigentes em cada período histórico.

No artigo Concepção científica da consciência: do individual ao transpessoal, publicado

nos anais do Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades, em 2014, a

psicóloga Flávia M. O. Nova realiza uma trajetória histórica sobre a evolução do conceito da

consciência e sua estreita relação com as transformações paradigmáticas. A autora destaca o

século XVII, ocasião do surgimento da ciência moderna e do paradigma mecanicista-fisicalista,

e as primeiras décadas do século XX, período das descobertas relacionadas a física relativística

e a física quântica, como momentos de mudança paradigmática e consequente modificação na

concepção científica do universo.

Segundo o biólogo Rupert Sheldrake (2014, p. 28-29), os fundadores da ciência

mecanicista no século XVII, tais como Johannes Kepler, Galileu Galilei, René Descartes,

Francis Bacon, Robert Boyle e Isaac Newton eram todos cristãos praticantes. A ciência

propagada por eles instituiu a noção de que “o universo era uma máquina inteligente projetada e

criada por Deus. [...] Essa filosofia mecanicista era revolucionária [...] porque rejeitava a visão

animista da natureza aceita na Europa medieval”.

Além disso, depois de alguns conflitos entre cientistas e a Igreja, em especial, o

julgamento de Galileu pela Inquisição, em 1633, “a ciência e o cristianismo ficaram, de comum

acordo, cada vez mais confinados a domínios distintos” (SHELDRAKE, 2014, p. 29). O

domínio da ciência era o universo material e o domínio da religião era o espiritual. Essa

perspectiva cindida da realidade teve consequências imediatas: a separação entre mente e

matéria, defendida por Descartes, e assim, a desunião entre sujeito e objeto de estudo.

No século XX, após 400 anos aproximadamente de hegemonia desse paradigma

cartesiano-mecanicista-dualista, seus alicerces foram abalados pela Teoria Geral da

Relatividade de Albert Einstein (1879–1955), que demonstrou a inseparabilidade entre espaço e

tempo e a intercambialidade entre energia e matéria. Os experimentos da Física Quântica

revelaram que “no mundo subatômico, os elementos são ao mesmo tempo materiais e

imateriais, podendo apresentar-se tanto como onda (imaterial) quanto como partícula

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(material), a depender da interferência do observador” (GOSWAMI, REED, GOSWAMI, 2012

apud NOVA, 2014, p. 404). Esses experimentos desmentiram a imparcialidade científica, a

separação entre concreto e abstrato e o determinismo materialista (NOVA, 2014, p. 404). Sob

essa nova perspectiva, pesquisadores como Fritjov Capra, Stanislav Grof e Roberto Crema,

passaram a entender a consciência humana sob um paradigma emergente denominado holístico

ou ecológico, no qual torna-se possível conceber a mente não confinada no cérebro, por eles

denominada mente transpessoal (NOVA, 2014, p. 404-405, grifo nosso). De acordo com Grof

(1994, p. 110 apud NOVA, 2014, p. 406), a consciência estende-se além dos limites do espaço e

do tempo, pois estes limites “que percebemos estão em nossa mente, não lá, no imenso e

ilimitado universo. E, o que é verdadeiro sobre o espaço exterior para os astrônomos, é

igualmente aplicável ao espaço interior da psique humana”.

Os fenômenos popularmente chamados de parapsíquicos, ou seja, além do psiquismo

humano, tais como telepatia, psicometria, telecinesia, experiência fora do corpo e outros

aparentados, sempre existiram na história da humanidade, conforme melhor compreendido, por

exemplo, pelos estudos de Waldo Vieira, em seu livro Projeciologia, citado mais adiante,

porém a maioria dos cientistas possuem a crença de que “fenômenos inexplicados como

telepatia são ilusórios” (SHELDRAKE, 2014, p. 16). Segundo Nova (2014, p. 404), “é natural

que seja difícil transpor a barreira de um paradigma tão-bem sucedido”, conforme se observa

nos estudos mencionados da História da Ciência.

Por outro ângulo, a Sociologia da Ciência, partindo da teoria de Thomas Kuhn sobre a

“Estrutura das Revoluções Científicas”, livro publicado em 1962, foi mais além ao estudar a

ciência da maneira que ela é praticada, “analisando as maneiras pelas quais os cientistas criam

redes de apoio, usam recursos e resultados para aumentar seu poder e sua influência e também

para competir por verbas, prestígio e reconhecimento” (SHELDRAKE, 2014, p. 34).

Segundo Sheldrake (2014, p. 34), um dos livros mais importantes a esse respeito

chama-se Science in Action: How to Follow Scientists and Engineers Through Society (1987),

de Bruno Latour. Este autor observou que “os cientistas que pertencem a determinado grupo

profissional conhecem os fenômenos abarcados pelo seu campo da ciência, enquanto os

cientistas que estão fora dessa rede têm apenas crenças distorcidas”.

Rupert Sheldrake, biólogo, autor de mais de 80 artigos científicos e 10 livros, ex-membro

da Royal Society, estudou ciências naturais na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, onde

concluiu o doutorado em bioquímica, além de ter estudado filosofia e história da ciência em

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Harvard, em seu livro Ciência sem Dogmas: a nova revolução científica e o fim do paradigma

materialista (2014), desafia os cientistas seguindo o princípio: “não é anticientífico questionar

as crenças estabelecidas, mas sim essencial à própria ciência.” Na sua visão (2014, p. 33), “o

ideal é que a ciência seja um processo, e não uma posição ou um sistema de crenças. A ciência

é inovadora quando os cientistas sentem-se livres para fazer novas perguntas e elaborar novas

teorias”.

Não faz parte do escopo desse texto realizar o percurso histórico nem do conceito de

consciência nem das mudanças de paradigmas, mas somente contextualizar, a partir da

discussão feita até o momento, a complexidade do tema sobre a consciência humana.

2. CONSCIENCIOLOGIA: PRINCÍPIOS, PARADIGMA E METODOLOGIA

A Conscienciologia é uma proposta de ciência sobre a consciência, fundamentada pelas

novas descobertas relacionadas a física relativística e a física quântica, da primeira metade do

século XX. Sugere o estudo da consciência não confinada no cérebro, em uma abordagem

integral, estudando eu, você (leitor), e todas as pessoas, além do corpo físico, englobando as

bioenergias; além da atual vida humana, ampliando o escopo para as vidas passadas; e além

desta dimensão material, quadridimensional, envolvendo a noção de espaço-tempo mais sutis,

acessíveis através de canais de percepção além dos cinco sentidos básicos (parapsiquismo). Foi

sistematizada pelo médico, odontólogo, lexicógrafo brasileiro Waldo Vieira (1932–2015) na

década de 80 do século passado.

A proposta da neociência Conscienciologia tem como fundamento a

auto-experimentação, através do chamado Princípio da Descrença, que aplicado a este texto,

poderia ser escrito da seguinte forma: “não acredite em nada que está escrito neste artigo.

Experimente. Tenha suas experiências pessoais.” Em todas as salas de aula da Conscienciologia

e em todos os seus livros, o princípio da descrença é mencionado, pois o objetivo é que as

pessoas possam com base nas suas vivências, pensarem por si mesmas, tirarem suas próprias

conclusões, evitando dogmatismos e heterossugestões.

Segundo Vieira (1994, p. 73), a Conscienciologia aproveita o que tem de melhor em 5

linhas essenciais do conhecimento humano: o senso comum ou popular, a religião, a filosofia, a

ideologia política e a ciência convencional, no entanto assenta-se na autovivência

interdimensional, ou seja, “o predomínio da experiência pessoal sobre todas as crenças,

doutrinas e sacralizações; [...]. Daí nasce a plataforma de princípios pessoais para se viver,

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acima da opinião pública ou dos conceitos consensuais da Sociedade Intrafísica, ou Socin”. A

Conscienciologia “não é religião; não dogmatiza; não exige juramentos; não faz segredos; não

tem ‘Mestres’; [...]” (VIEIRA, 1994, p. 73).

Um dos primeiros princípios na metodologia de pesquisa da Conscienciologia é: “a

própria consciência é a sua instrumentalidade, o seu paradigma (teoria-líder), (...)”, podendo se

exemplificar do seguinte modo: “você autopesquisa a sua consciência. Eu heteropesquiso

também a sua consciência. Ambos pesquisamos as nossas consciências em conjunto.” Esse

processo irá compor uma cadeia ininterrupta de pesquisas convergentes, interligadas. Através

da apresentação dos achados e a socialização das experiências, buscando o “consenso quanto

aos fatos conscienciais dará aquilo que podemos denominar de verdade relativa de ponta na

Conscienciologia” (VIEIRA, 1994, p. 100).

O método da autopesquisa é incompatível com os princípios da ciência convencional,

pois “o pesquisador se envolve diretamente com os fatos com os quais trabalha e experimenta.

Mas é preferível ter um instrumento não ideal de pesquisa do que continuar a não ter nenhum,

como tem sido através dos séculos até aqui” (VIEIRA, 1994, p. 100).

Nesse sentido, a proposta de Vieira aproxima-se à discussão do paradigma indiciário feita

por Carlo Ginzburg no capítulo Sinais: raízes de uma paradigma indiciário, no livro Mito,

Emblemas e Sinais (2002). Ginzburg apresenta um modelo epistemológico ou um paradigma

que emergiu no âmbito das ciências humanas, no final do século XIX, e que até o momento não

foi teorizado explicitamente, apesar de amplamente operante.

Desde o surgimento da Física, tal qual entendida por Galileu Galilei (1564–1642),

lançando as bases da ciência moderna, a perspectiva individualizante foi excluída das

discussões científicas. A ênfase no emprego da matemática e do método experimental

implicavam a quantificação e a repetibilidade dos fenômenos (GINZBURG, 2002, p. 156).

O grupo de disciplinas que Ginzburg (2002, p. 156) está chamando de indiciárias, entre

elas, a Medicina, “não entra absolutamente nos critérios de cientificidade deduzíveis do

paradigma galileano. Trata-se, de fato, de disciplinas eminentemente qualitativas, que têm por

objeto casos, situações e documentos individuais, enquanto individuais, [...]”. E por isso

alcançam resultados que têm uma margem ineliminável de casualidade.

Assim, as disciplinas indiciárias tinham duas opções: ou sacrificar o conhecimento sobre

o indivíduo à generalização ou “procurar elaborar, talvez às apalpadelas, um paradigma

diferente, fundado no conhecimento científico (mas de toda uma cientificidade por se definir)

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do individual” (GINZBURG, 2002, p. 163). A generalização foi o caminho percorrido pelas

ciências naturais, e só muito tempo depois pelas ciências humanas. Inicialmente a própria

Psicologia e Sociologia seguiram o modelo da Física a fim de ganhar o status de ciência, mas

foram aos poucos distanciando-se, e em alguns casos, formando escolas com propostas

diferenciadas, a fim de ter metodologia mais adequada a partir do ângulo antropocêntrico.

Paralelamente, a Conscienciologia vem desenvolvendo-se como um estudo do individual,

com abordagem qualitativa, e consequentemente, convive com as incertezas próprias das

ciências humanas, na qual o investigador é o objeto e o instrumento de pesquisa (autopesquisa),

tendo ainda toda uma cientificidade em processo de construção.

Devido aos temas das bioenergias, vidas passadas e vários corpos de manifestação

fazerem parte historicamente do estudo de muitas religiões, sejam ocidentais ou orientais, há

uma dificuldade natural de entendimento da possibilidade desse mesmo estudo ser feito do

ponto de vista científico, contudo não convencional. A própria Acupuntura, utilizada há muito

tempo, na medicina oriental, só recentemente, tem ganhado reconhecimento da eficácia de suas

técnicas e procedimentos aqui no Ocidente. A Acupuntura está fundamentada na hipótese do

indivíduo possuir além do soma, um corpo energético, dotado de chacras1.

Parece que a Medicina está destinada a questionar o paradigma vigente: o fenômeno da

experiência da quase-morte (EQM) vem desafiando a ciência. A EQM é entendida por Vieira

(1994, p. 49) como ocorrência projetiva [experiência fora do corpo], involuntária ou forçada

por circunstâncias humanas críticas, comum a doentes terminais e pacientes morituros.

O tema tornou-se mais conhecido pelo público em geral através da publicação do livro

Vida depois da Vida, do médico e filósofo Raymond Moody Jr., em 1975, traduzido para o

idioma português em 1979. O prefácio, redigido pela psiquiatra Elizabeth Kubler-Ross, que já

naquela época, tinha 20 anos de experiência com pacientes vítimas de doenças incuráveis,

evidenciam essa crise paradigmática da ciência: “A pesquisa, como a que o Dr. Moody nos

apresenta no seu livro, é que nos esclarecerá muitas questões e confirmará o que nos tem sido

ensinado há dois mil anos: que há vida depois da morte”. A psiquiatra continua:

fica evidente, pelas suas descobertas [do Dr. Moody Jr.], que o paciente

moribundo continua a ter informação consciente do seu ambiente depois de ter

sido declarado clinicamente morto. Isso coincide em muito com a minha

1 Chacras: “núcleos ou campos limitadores de energia que constituem basicamenteo duplo etérico, veículo de

energia, dentro do corpo humano, fazendo a junção deste com o psicossoma, atuando como pontos de conexão

pelos quais flui de um veículo consciencial para outro” (VIEIRA, 1986, p. 175).

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própria pesquisa, que utilizou relatos de pacientes que morreram e vieram de

volta, totalmente contra nossas expectativas e muitas vezes para surpresa de

alguns médicos bem conhecidos, altamente especializados e certamente competentes.

Kubler-Ross (1979, p. 10) pensa que a sociedade chegou em uma etapa de transição: “é

preciso ter a coragem de abrir novas portas e admitir que nossos instrumentos científicos atuais

são inadequados para muitas dessas novas investigações”.

Ainda no prefácio, Kubler-Ross alerta ao Dr. Moody das críticas que virão de dois lados:

pelos religiosos, que pensam que a questão da vida após a morte deve permanecer uma questão

de fé cega, não posta em dúvida por ninguém; e pelos cientistas e médicos que encaram estudos

deste tipo como algo “não-científico”.

Exatamente esse tipo de crítica citada pela médica é que a Conscienciologia recebe, de

que seu estudo não é científico, por tratar de temas transcendentes, tais como a vida após a

morte. A seguir, alguns marcos cronológicos da Conscienciologia.

3. MARCOS CRONOLÓGICOS DA CONSCIENCIOLOGIA: LIVROS,

INSTITUIÇÕES E EVENTOS

A Conscienciologia foi proposta por Waldo Vieira pela primeira vez no livro Projeções

da consciência, cuja primeira edição foi publicada em 1981. Ela seria uma neociência principal,

composta por especialidades, tal como acontece com a Medicina e suas especialidades,

Radiologia, Ginecologia, Dermatologia e outras. No referenciado livro, Vieira (2013, p. 38)

define uma das especialidades, Projeciologia, e sugere a Conscienciologia como ciência-mãe:

“Proponho o neologismo inevitável, Projeciologia para nomear o ramo da Conscienciologia,

que estuda o conjunto de fenômenos e eventos que compõem as experiências fora do corpo

biológico ou as projeções da consciência...”.

A partir da publicação deste diário de experiências, foi fundado, a 6 de setembro de 1981,

o Centro de Consciência Contínua (CCC), instituição sem fins de lucro dedicada à pesquisa do

fenômeno da experiência fora do corpo e da consciência (VIEIRA, 1986, p. 669).

Em 1986, Vieira publica o tratado Projeciologia, sistematizando o que seria a ciência

para estudar o fenômeno da projeção da consciência ou experiência fora do corpo (EFC). O

livro está dividido em 17 seções, 475 capítulos e 338 definições e sinonímias. Algumas das 17

seções são as seguintes: Fenômenos da Projeciologia; Estados Alterados da Consciência;

Veículos de Manifestação da Consciência; Abordagens Filosóficas; Técnicas da Projeção

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Consciente; Abordagens Científicas; e Bibliografia Geral da Projeciologia, com 1.907

referências, que foram redigidas originalmente em 18 idiomas diferentes, sendo editadas em 28

países. Apresenta ainda artigos de 80 periódicos diferentes publicados em diversos países.

Ao final do livro, Vieira (1986, p. 701) argumenta que: “o acúmulo de indícios

convergentes das projeções conscientes apresenta-se grande demais para não ser levado a sério,

e muito menos para se ignorar”. De acordo com o pesquisador, a extensão desta bibliografia

constitui-se por si mesma inarredável conjunto de documentos que estabelece solidamente a

existência do fenômeno da projeção consciente humana.

Vieira levou 19 anos escrevendo esse tratado, de 1966 até 1985, realizando viagens e

compras extensas de bibliografias em vários idiomas a fim de compreender o fenômeno da

experiência fora do corpo, a qual vivenciava desde os 9 anos de idade. O ano de 1966 é um

marco nos estudos da experiência fora do corpo, pois foi neste ano que o pesquisador Charles

Theodore Tart (1937–) iniciou, nos Estados Unidos da América (EUA), experimentos sobre

esse fenômeno em laboratório, na Universidade da Califórnia, em Davis (VIEIRA, 1986).

Em 16 de janeiro de 1988, Vieira e um grupo de voluntários, fundaram no Rio de Janeiro,

o Instituto Internacional de Projeciologia (IIP), que futuramente, em 1994, passaria a se chamar

Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia (IIPC), instituição sem fins de

lucro, apartidária, universalista, cosmoética e internacional. Essa instituição dedicada aos

estudos do fenômeno da projeção consciente desenvolveu atividades pedagógicas e passou a

ministrar cursos e palestra públicas gratuitas em todo o Brasil.

Em 1990, entre os dias 4 e 7 de junho, foi feito o I Congresso Internacional de

Projeciologia (CIPRO), no Rio de Janeiro, com a participação de pesquisadores nacionais e

internacionais, tais como Scott Rogo e Janet Lee Mitchel. E em 1991, nos dias 30 de maio a 2 de

junho, realizou-se o I Congresso Brasileiro de Projeciologia (CONBPRO), em Brasília.

Em 1994, Vieira lança o tratado 700 Experimentos da Conscienciologia, quando

sistematiza a proposta dessa neociência para consciência humana. Num total de 1.058 páginas,

esta obra apresenta 40 seções, 100 sub-seções, 700 capítulos-sínteses e uma bibliografia com

5.116 referências. O tema da consciência humana é tratado de modo exaustivo, de 40 ângulos

ou seções diferentes, tais como: Cientificidade, Escolaridade; Sociabilidade; Assistencialidade;

Evolutividade; Personalidade; Grupalidade e outros.

E em 1995, foi fundada a Cooperativa de Colaboradores do IIPC (COOIIPC),

administradora do CEAEC, 1o. campus da Conscienciologia, localizado em Foz do Iguaçu.

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4. MIGRAÇÃO DE VOLUNTÁRIOS DA CONSCIENCIOLOGIA PARA FOZ DO

IGUAÇU

Foz do Iguaçu é reconhecida como cidade multi ou intercultural, devido a diversidade de

culturas, línguas, costumes e comportamentos, fruto da convivência pacífica de 74

nacionalidades (OLIVEIRA, 2012, p. 52).

Segundo Oliveira (2012, p. 51), os brasileiros de outras naturalidades ocupam o primeiro

lugar no ranking populacional, seguidos pelos iguaçuenses, e em terceira posição, estão os

estrangeiros. Registra-se 20 mil estrangeiros legalizados, dentre os 302 mil habitantes de Foz,

de um total de 800 mil da Tríplice Fronteira (TF) (FERNANDES, 2007, p. 46).

A complexidade da fronteira Brasil-Paraguai-Argentina reflete-se no trabalho informal,

no contrabando e furtos, no tráfico de drogas e muambas, no turismo, nos extremos modos de

viver sob o aspecto econômico-social, na exuberância da natureza e grandeza da obra da

engenharia, enfim “é essencialmente o lugar da alteridade”, “da descoberta do outro e de

desencontro” (MARTINS, 1997, p. 150). Sob certo prisma, o desencontro se dá no sentido das

diferentes concepções de vida e visões de mundo de cada um dos agrupamentos sociais que

vivem na Tríplice Fronteira. Dentre eles, situa-se o grupo da Conscienciologia. Qual a

motivação ou motivações de 841 pessoas em torno de uma proposta de neociência,

deslocando-se para Foz do Iguaçu, a matriz de divulgação da Conscienciologia?

Thompson (2002, p. 342) enxerga “a passagem física da migração de um lugar para outro

como apenas um evento em uma experiência migratória que abarca velhos e novos mundos e

que continua por toda a vida do migrante e pelas gerações subsequentes”. Essa definição ampla

abrange tanto a história da migração de um grupo, ou seja, como os migrantes se estabelecem

em uma nova região, quanto as questões atuais dessa comunidade e no que se refere ao seu

relacionamento com a cultura dominante.

Desde 1995, a Conscienciologia está em Foz do Iguaçu através de um movimento

migratório de voluntários do IIPC. A comunidade conscienciológica é o conjunto de habitantes,

reunião ou agrupamento e a vida em comum de pessoas conectadas pelos vínculos da

Conscienciologia, nesta dimensão humana ou material (VIEIRA, 2013, p. 3.027).

Em 1996, Waldo Vieira transferiu sua biblioteca para o CEAEC em Foz do Iguaçu. E em

1998, passou a se dedicar tempo integral a um projeto intelectual, inicialmente pensado como

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um Dicionário Enciclopédico da Conscienciologia, contudo, alguns anos depois, o título

passaria a ser Enciclopédia da Conscienciologia (FERRARO, 2015, p. 119).

No ano 2000, houve a inauguração do prédio da Holoteca2, e em julho, Waldo Vieira que

residia no Rio de Janeiro, transferiu residência para Foz do Iguaçu. Iniciou os trabalhos da

referida Enciclopédia dentro do Holociclo3. Esse fato foi desencadeador de mais voluntários

seguirem seu exemplo.

Além dos trabalhos enciclopédicos, Vieira iniciou, em 2001, com uma atividade

pedagógica a qual chamou de tertúlia conscienciológica, no Holociclo. A tertúlia

conscienciológica “é o agrupamento, reunião informal, espontânea ou assembleia de

pesquisadores afins, [...] para debater temas do momento, fazer análises rápidas e obter

consensos transitórios de neopesquisas, hipóteses e teorias, através do Curso de Longo Curso”,

isto é, um curso gratuito, diário, sem pré-requisitos, durante o período de duas horas, com

abordagens e temas de interesse comum da Conscienciologia (VIEIRA, 2013, p. 10.512).

Essa atividade gratuita, aberta a qualquer pessoa interessada, foi se tornando cada vez

mais constante até culminar nas características citadas acima: tertúlias diárias, sem feriados

nem férias, aulas-debate com duas horas de duração e único professor ao longo de 14 anos.

As tertúlias foram realizadas em vários locais, até ser construído e inaugurado, em 30 de

novembro de 2008, um prédio específico para essa atividade, denominado Tertuliarium

(FERRARO; ARAKAKI, 2012, p. 367).

As perguntas eram livres, cada qual perguntava o que queria independente do tema sendo

debatido no dia. As tertúlias tornaram-se o maior encontro grupal, diário, da comunidade

conscienciológica em Foz, palco da criação de diversas instituições conscienciocêntricas 4

(FERRARO; ARAKAKI, 2012, p. 361).

De 2002 a 2007, Vieira escreveu dois tratados no Holociclo, Homo sapiens reurbanisatus

2 Holoteca: “é o centro dinâmico de pesquisa, educação, produção e difusão científico-cultural. Ambiente

destinado à pesquisa e exposição de artefatos do saber. São livros, filmes, selos, moedas, conchas, fotos, dentre

outros registros sobre a história da humanidade e da sistematização do conhecimento” (OLIVEIRA, 2015,p.136). 3 Holociclo: “é o laboratório técnico de pesquisa especializado na elaboração da Enciclopédia da

Conscienciologia, formado por dicionários, enciclopédias, recorte de jornais, revistas e outros períodicos,

expostos em ordem alfabética de temas, localizado no Campus da Associação Internacional do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia (CEAEC)” (FERRARO, 2013, p. 5.616). 4 Instituições conscienciocêntricas (IC): são organizações de pesquisa e educação cujos objetivos, metodologias de

trabalho e modelos organizacionais estão fundamentados no Paradigma Consciencial. Todas as ICs são

associações independentes, de caráter privado, sem fins de lucro e mantidas predominantemente pelo trabalho

voluntário de professores, pesquisadores, administradores e profissionais de diversas áreas. O conjunto das ICs e

dos voluntários da Conscienciologia no Planeta compõem a Comunidade Conscienciológica Cosmoética

Internacional (CCCI), formada atualmente por 21 instituições (Ano-base: 2015) (VIEIRA, 2014, p. 1.751).

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e Homo sapiens pacificus, envolvendo os voluntários nas diversas etapas de pesquisa e redação,

ensinando sua metodologia e princípios de pesquisa. Desde maio de 2008, as tertúlias

conscienciólogicas passaram a ser transmitidas via internet, assim, além de tertulianos,

passaram a existir os teletertulianos.

Paralelo a isso, um marco histórico do grupo foi a criação do bairro Cognópolis (cidade

do conhecimento) no dia 23 de maio de 2009, concomitante com a aprovação do condomínio

Villa Conscientia, pela Prefeitura. Desse modo, concretizou-se a união dos campi e

condomínios dos voluntários da Conscienciologia com o entorno do bairro (FERRARO;

ARAKAKI, 2012, p. 368).

Em 2 de julho de 2015, Waldo Vieira faleceu devido a um acidente vascular cerebral

(AVC), desencadeando nova fase da comunidade conscienciológica em Foz do Iguaçu.

No período de 1995 até 2015, pode-se observar os números no quadro abaixo sobre a

migração dos voluntários da Conscienciologia para Foz do Iguaçu.

TABELA 1 – DADOS DEMOGRÁFICOS DA MIGRAÇÃO DA COMUNIDADE

CONSCIENCIOLÓGICA EM FOZ DO IGUAÇU – EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA

Ano Número de

Migrantes

Obs.

1995 16

1997 26

2000 - Dado não encontrado

2001 - 37 voluntários só no Holociclo (data: 26.12.2001)

2002 80 77 voluntários só no Holociclo (data: 14.09.2002)

2003 172 Data: 17.09.2003. (107 mulheres e 65 homens).

2004 310 Data: 10.10.2004.

2005 361 Data: 24.04.2005. (131 voluntários só no Holociclo em 28.09.2005)

2006 490 Data: 15.12.2006.

2007 507 Data: 25.05.2007.

2008 555 Data: 01.12.2008.

2009 570 Data: 06.06.2009.

2010 609 Data: 27.12.2010.

2011 644 Data: 27.10.2011.

2012 689 Data: 25.09.2012.

2013 709 Data: 04.06.2013.

2014 762 Data: 09.03.2014.

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2015 841 Data: 28.05.2015.

FONTE: Quadro organizado a partir de relatórios produzidos anualmente pela mesma autora, que vem desde o ano

de 2000 realizando o acompanhamento dos dados demográficos conscienciológicos em Foz do Iguaçu.

Os números do quadro acima são aproximados, uma vez que não foram feitas entrevistas

com as pessoas. Esta autora mudou para Foz do Iguaçu em julho de 2000, e desde então vem

registrando a quantidade de voluntários do Holociclo, departamento do CEAEC a qual

coordena até hoje, e também dos voluntários da Conscienciologia que mudam para Foz para

voluntariar em outras instituições. O fato do professor Waldo Vieira ter trabalhado diariamente

no Holociclo por mais de uma década, facilitava o registro dos migrantes, uma vez que quando

o voluntário mudava para Foz, ia ao encontro de Vieira para comunicar sua chegada. No início,

esses registros eram feitos desse modo, porém conforme foi aumentando a quantidade de

pessoas, esta autora passou a afixar, uma vez por ano, a listagem com nome das pessoas que

compõem a comunidade na porta do Tertuliarium, a fim de que os voluntários pudessem revisar

seus dados e de familiares no momento da tertúlia.

Em outubro de 2005, a recém-fundada União das Instituições Conscienciocêntricas

Internacionais (UNICIN) realizou um censo da Comunidade Conscienciológica Cosmoética

Internacional (CCCI), o qual abrangeu os voluntários de todas as Instituições

Conscienciocêntricas (ICs) e seus escritórios no Brasil. Os resultados foram divulgados em um

relatório publicado em fevereiro de 2006. Foram no total 11 páginas de formulário a serem

respondidas online, envolvendo dados cadastrais, profissionais, perfil do pesquisador na

Conscienciologia, dados de saúde e vida afetiva (REZENDE; SPERRY; BUENO, 2006).

Segundo esse levantamento, havia 1.262 voluntários atuando em 13 instituições. Desse

universo, 597 voluntários responderam os formulários do censo. Um dos itens era referente a

Foz do Iguaçu: 174 voluntários haviam mudado residência para Foz, a maioria no ano de 2004,

provenientes de capitais tais como Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, São Paulo e

Outras cidades (sem especificação), conforme se observa no quadro a seguir:

TABELA 2 – ANO DE MUDANÇA PARA FOZ DO IGUAÇU

QUANTIDADE % RESPOSTA

1 0,17 1990

1 0,17 1994

5 0,84 1995

6 1,01 1996

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1 0,17 2000

8 1,34 2001

11 1,85 2002

36 6,05 2003

65 10,92 2004

40 6,72 2005

174 (TOTAL)

FONTE: (REZENDE; SPERRY; BUENO, 2006, p. 19).

Na pergunta “por que mudou para Foz?”, foi encontrado o seguinte resultado:

TABELA 3 – OBJETIVOS EM FOZ DO IGUAÇU

QUANTIDADE % RESPOSTA

6 1,01 CONSCIENCIOLOGIA

70 11,76 Outros

15 2,52 REALIZAÇÃO DA PROÉXIS

4 0,67 TRABALHO

6 1,01 VOLUNTARIAR NA ASSINVÉXIS

3 0,50 VOLUNTARIAR NA COMUNICONS

16 2,69 VOLUNTARIAR NA CONSCIENCIOLOGIA

7 1,18 VOLUNTARIAR NA OIC

19 3,19 VOLUNTARIAR NO CEAEC

9 1,51 VOLUNTARIAR NO HOLOCICLO

20 3,36 VOLUNTARIAR NO IIPC

175 (TOTAL)

FONTE: (REZENDE; SPERRY; BUENO, 2006, p. 23).

Quanto aos objetivos de ir para Foz, praticamente pode-se agrupar as respostas em 3

grupos: 1) o voluntariado na Conscienciologia (engloba o “voluntariar” nas suas instituições,

conforme citadas, a Assinvéxis, Comunicons, OIC, Ceaec e seu departamento Holociclo mais o

IIPC; + a resposta “conscienciologia” + “realização da proéxis5”), somado corresponde a 101

pessoas; 2) trabalho (4 pessoas); 3) outros (70 pessoas deram essa resposta). Assim, o principal

motivo para 101 pessoas, dentre as 175, era a Conscienciologia. No entanto, o ideal seria saber

quais respostas estão encobertas na categoria “outros”.

5 Proéxis (pro + exis): programação existencial específica para cada pessoa em sua nova vida nesta dimensão

humana, planejada antes do renascimento somático (ressoma) da consciência, ainda extrafísica.

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No período de 2003 até 2015, os anos que tiveram maior fluxo de migrantes em ordem

decrescente foram: 2004 (138 pessoas); 2006 (129 pessoas); 2003 (92 pessoas); 2015 (79

pessoas); 2014 (53 pessoas); 2005 (51 pessoas); 2008 (48 pessoas); 2012 (45 pessoas); 2010

(39 pessoas); 2011 (35 pessoas); 2013 (20 pessoas); 2007 (17 pessoas); 2009 (15 pessoas). A

explicação para a migração de maior fluxo de voluntários no ano de 2004 foi a transferência da

sede do IIPC do Rio de Janeiro para Foz do Iguaçu, o que talvez também possa explicar o ano

de 2006 ter ficado em segundo lugar, uma vez que parte dos voluntários tiveram que planejar a

mudança para Foz. Quanto ao terceiro lugar ter ficado com o ano de 2003, a hipótese levantada

foi o fato do professor Waldo Vieira ter decidido parar de viajar, fixando-se de modo

permanente em Foz, e assim desenvolvendo regularmente as tertúlias conscienciológicas. É

oportuno lembrar que além de terem pessoas chegando em Foz, sempre houve a onda contrária,

gente saindo de Foz após ter mudado para cá, conforme Thompson sugere, a migração continua

por toda a vida do migrante.

A migração pode ser comparada ao movimento do mar, podendo se distinguir três

movimentos superpostos: a curto prazo, as ondas quebrando na praia; a prazo médio, das marés;

e a longo prazo, as modificações que o mar provoca nos contornos dos continentes (FLUSSER,

1983, p. 75). Quais fatores influenciaram esses fluxos maiores ou menores ao longo desses 20

anos de migração conscienciológica? Segundo Thompson (2002, p. 345), para se conhecer a

complexidade do real processo da migração, o testemunho oral e outras formas de história de

vida são o caminho a serem percorridos.

Em relação aos números referentes a 2015, dos 841 migrantes, 500 são mulheres e 341

homens, em diversas idades, sendo que 44 são moradores de Foz que frequentam regularmente

as atividades pedagógicas do CEAEC, entre eles há alguns que também são migrantes e outros

natural de Foz. Essa última informação é relevante pois indica que se porventura existia algum

tipo de fronteira, entendida como “aquilo que cada um representa, criada por aquele que a

transpõe diária, esporadicamente ou nunca” (MYSKIW, 2005, p. 228), ela tem sido transposta

pelos moradores de Foz. Além disso, 101 voluntários são autores de livros, não

necessariamente sobre Conscienciologia. A instituição com maior número de voluntários em

Foz é o CEAEC, totalizando 240 pessoas (FERRARO, 2015, p. 251).

A comunidade conscienciológica é formada por muitos profissionais liberais: 132

professores de escola do ensino básico e/ou universitário; 105 psicólogos; 146 empresários; 42

médicos; 49 engenheiros; 54 advogados; 36 administradores; 24 ciberneticistas; 19 pedagogos;

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17 arquitetos; 14 biólogos; 14 fisioterapeutas e outros (FERRARO, 2015, p. 251). Nesse

levantamento estatístico, não foram contempladas as profissões que possuem menos de 10

profissionais. A interação dessas pessoas, tanto no âmbito profissional quanto na esfera do

voluntariado conscienciológico, na cidade, desperta curiosidade.

A título de exemplo, é pertinente citar a realização da I Feira Internacional do Livro de

Foz do Iguaçu, evento organizado pelo CEAEC, em 2005, e que teve continuidade desde então

pela Fundação Cultural (OLIVEIRA, 2015, p. 145). No âmbito cultural, existe um projeto da

comunidade conscienciológica para cidade de Foz do Iguaçu, que é o Megacentro Cultural

Holoteca. “Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o prédio contará com galeria para abrigar

exposições, biblioteca, espaços educativos, centro documental, salas multiuso, loja, restaurante,

auditório e salas de trabalho e de uso cotidiano” (OLIVEIRA, 2015, p. 147).

Hoje, já existe funcionando dentro do CEAEC, o acervo e atividades da Holoteca e do

Holociclo, que apresentam os seguintes números: 873.011 artefatos do saber no total, composto

por 96.911 livros na biblioteca, 6.603 obras de referência, 553.426 recortes de periódicos. Esses

artefatos do saber estão organizados em 304 coleções (FERRARO, 2015, p. 250-251). Até o

momento, a Holoteca já realizou 81 exposições temáticas, sendo 62 realizadas das

dependências do CEAEC e 20 promovidas em parcerias com o Programa Holoteca Itinerante:

16 no Espaço Holoteca no Cataratas JL Shopping, duas no Ecomuseu de Itaipu, uma no Centro

de Recepção dos Visitantes da Itaipu Binacional e uma no Hotel Mabu Interludium Iguassu

Convention (OLIVEIRA, 2015, p. 138-139). Este hotel é outro exemplo de empreendimento

promovido por voluntários da Conscienciologia, liderado pela Associação Internacional para

Expansão da Conscienciologia (AIEC), inaugurado em novembro de 2014.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo tratou da migração de voluntários da Conscienciologia para Foz do Iguaçu.

Apresentou brevemente a complexidade do objeto de estudo que é a consciência humana,

explicou a proposta da Conscienciologia, seus princípios, paradigma e metodologia, assim

como alguns marcos cronológicos, sinalizados na forma de livros, instituições e eventos.

Realizou um breve histórico do processo da migração dos voluntários do IIPC para Foz do

Iguaçu, assim como a caracterização desses migrantes e sua interação com a cidade.

A Conscienciologia, autodefinida como ciência, é um estudo do indivíduo de modo

abrangente, multidimensional, cuja proposta paradigmática aproxima-se do modelo indiciário,

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proposto por Guinzburg. Sugerida pela primeira vez em 1981, pelo médico Waldo Vieira,

porém foi sistematizada por ele, em 1994, no tratado 700 Experimentos da Conscienciologia.

A migração dos voluntários da Conscienciologia para Foz do Iguaçu teve início em 1995,

a partir da fundação da cooperativa dos voluntários do IIPC e da doação de um terreno nesta

cidade. De 2002 até 2015, o fluxo migratório permaneceu crescente e de modo constante,

oscilando entre 15 a 138 pessoas por ano. O ano com maior fluxo migratório foi 2004, devido a

transferência da sede do Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia (IIPC) do

Rio de Janeiro para Foz do Iguaçu.

A motivação principal desse movimento migratório, levantada a partir de uma amostra do

grupo, indicou o voluntariado na Conscienciologia a partir de suas instituições, contradizendo o

que estudiosos sobre migração geralmente alegam como causa para o deslocamento físico, que

seria a necessidade de trabalho. Porém, a dúvida permanece, se a causa tem sido o voluntariado,

como essas pessoas tem se sustentado do ponto de vista econômico? Todas conseguiram

emprego ou “trabalho” em Foz do Iguaçu? Essa é uma questão a ser investigada.

Considera-se que a migração dessa comunidade não-convencional possui singularidades

ainda por serem melhor discutidas, tanto no âmbito social, cultural, econômico e político. Uma

característica do grupo da Conscienciologia é o alto nível de pessoas diplomadas. Somando os

profissionais liberais dessa comunidade, excluindo os professores, empresários e demais

profissões com menos de 10 profissionais, atinge-se o número de 374 pessoas (105 psicólogos,

42 médicos, 49 engenheiros, 54 advogados, 36 administradores, 24 ciberneticistas, 19

pedagogos, 17 arquitetos, 14 biólogos e 14 fisioterapeutas). Este número pode estar levemente

superestimado em função de algum percentual de repetição daquelas pessoas que possuem dois

diplomas, mas mesmo esse fato indica maior nível de escolaridade.

Aqueles estigmas normalmente encontrados no imigrante: “analfabetismo, incultura,

falta de qualificação, inadaptação ou desajustamento relativamente aos mecanismos próprios da

sociedade e da economia a que vieram servir” (...) (SAYAD, 1998, p. 62) não estão presentes na

migração em estudo, o processo é preponderantemente o inverso.

Esse estudo está no início, sendo necessário aprofundamento nas bibliografias,

documentos e sobretudo, nas narrativas dos migrantes, a fim de compreender melhor o modus

operandi da migração conscienciológica para Foz do Iguaçu.

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REFERÊNCIAS

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Conscientia (Edição Comemorativa 20 anos do CEAEC). Foz do Iguaçu: Centro de Altos

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FERNANDES, Marcio. (2007). Terra do Nunca. In: Rolling Stone Brasil, n. 06. São Paulo:

Spring Publicações, mar. 2007, p. 44-51.

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Conscienciologia Digital. 8. ed. Foz do Iguaçu: Centro de Altos Estudos da Conscienciologia

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MIGRAÇÃO CONSCIENCIOLÓGICA PARA FOZ DO IGUAÇU: BREVE HISTÓRICO, CARACTERÍSTICAS E MOTIVAÇÕES

FERRARO, Cristiane

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