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106 MIGRAÇÃO DE JOVENS RURAIS: O SENTIDO DO LUGAR Migration of rural young people: the meaning of the place Jaqueline da Silva Teixeira Mestranda no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Social PPGDS/Unimontes. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected] Andréa Maria Narciso Rocha De Paula Professora Permanente no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social Líder do grupo de pesquisa OPARA-Estudos e pesquisas sobre comunidades tradicionais no Rio São Francisco/Unimontes- CNPq. Integrante do Núcleo de Investigação Interdisciplinar Socioambiental - NIISA/Unimontes E-mail: [email protected] Viviane Bernadeth Gandra Brandão Doutoranda em Educação pela Puc Minas, Assistente Social e professora da Universidade Es- tadual de Montes Claros-Unimontes e FASI. E-mail: [email protected] Alâna Gândara de Jesus Ferreira Graduanda em Psicologia pela Faculdade de Saúde Ibituruna-FASI E-mail: [email protected] RESUMO A migração rural é uma questão que perpassa o tempo, tendo entre seus atores diferentes gera- ções. Distintas motivações são apresentadas nas obras pesquisadas, sendo elencadas também diversas consequências para tal fenômeno. A intensidade de migrações é corroborada com diminuição de práticas como a da agricultura familiar e com pouco investimento público em políticas para os povos rurais. Objetiva-se com tal estudo apresentar informações a respeito da migração de jovens rurais, pesquisando-se as motivações e consequências pontuadas por dis- tintos autores, como Camarano e Abramovay (1999); Spanevello et al. (2011) e outros. Trata-se então de uma pesquisa bibliográfica fundamentada em distintas discussões teóricas. Dentre os resultados parciais, pode-se pontuar que apesar das motivações relacionadas com as condições de trabalho, renda e com a ausência de estímulos por parte do sistema educacional, há estudos recentes que mostram um desejo em permanecer no rural, sendo um lugar carregado de senti- dos. A migração muitas vezes ocorre em decorrência de necessidades impostas a esses jovens devido a uma série de fatores. O que aponta inclusive para a necessidade de novas pesquisas sobre a temática e de políticas públicas relacionadas a fatores econômicos e sociais como fon- tes de alternativas para esses jovens que desejam permanecer no rural.

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MIGRAÇÃO DE JOVENS RURAIS: O SENTIDO DO LUGAR

Migration of rural young people: the meaning of the place

Jaqueline da Silva TeixeiraMestranda no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Social PPGDS/Unimontes.

Bolsista CAPES.E-mail: [email protected]

Andréa Maria Narciso Rocha De PaulaProfessora Permanente no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Social

Líder do grupo de pesquisa OPARA-Estudos e pesquisas sobre comunidades tradicionais no Rio São Francisco/Unimontes- CNPq.

Integrante do Núcleo de Investigação Interdisciplinar Socioambiental - NIISA/UnimontesE-mail: [email protected]

Viviane Bernadeth Gandra BrandãoDoutoranda em Educação pela Puc Minas, Assistente Social e professora da Universidade Es-

tadual de Montes Claros-Unimontes e FASI. E-mail: [email protected]

Alâna Gândara de Jesus FerreiraGraduanda em Psicologia pela Faculdade de Saúde Ibituruna-FASI

E-mail: [email protected]

RESUMOA migração rural é uma questão que perpassa o tempo, tendo entre seus atores diferentes gera-ções. Distintas motivações são apresentadas nas obras pesquisadas, sendo elencadas também diversas consequências para tal fenômeno. A intensidade de migrações é corroborada com diminuição de práticas como a da agricultura familiar e com pouco investimento público em políticas para os povos rurais. Objetiva-se com tal estudo apresentar informações a respeito da migração de jovens rurais, pesquisando-se as motivações e consequências pontuadas por dis-tintos autores, como Camarano e Abramovay (1999); Spanevello et al. (2011) e outros. Trata-se então de uma pesquisa bibliográfi ca fundamentada em distintas discussões teóricas. Dentre os resultados parciais, pode-se pontuar que apesar das motivações relacionadas com as condições de trabalho, renda e com a ausência de estímulos por parte do sistema educacional, há estudos recentes que mostram um desejo em permanecer no rural, sendo um lugar carregado de senti-dos. A migração muitas vezes ocorre em decorrência de necessidades impostas a esses jovens devido a uma série de fatores. O que aponta inclusive para a necessidade de novas pesquisas sobre a temática e de políticas públicas relacionadas a fatores econômicos e sociais como fon-tes de alternativas para esses jovens que desejam permanecer no rural.

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Palavras chaves: Migração. Juventude. Rural. Lugar.

INTRODUÇÃO

O rural nem sempre aparece em pautas de estudo, principalmente no que diz respeito a juventude que o povoa. O êxodo de jovens acaba sendo naturalizado empiricamente, por se “justifi car” por exemplo pela continuidade dos estudos, o que muitos não indagam é o porquê desses estudos não se vincularem ao rural, mesmo quando se percebe um desejo de continuar em tal lugar. A educação básica muitas vezes é desgarrada do contexto rural, não contribuindo com uma apropriação da condição de jovem rural, é o que apontam autores como Souza (2009), Santos (2015). Se em nenhum momento tal aspecto é problematizado junto aqueles que viven-ciam a migração, o fenômeno tende a continuar ocorrendo, deixando uma lacuna no rural, uma ausência para aqueles que fi cam, e uma ausência de apropriação do espaço para aqueles que partem, sem que seja uma decisão autêntica.

Estar longe do ambiente com o qual se almeja construir um projeto de vida, e distante das práticas com as quais se deseja atuar não pode ser um fenômeno naturalizado. Por isso há a necessidade de saber os fatores que levam ao êxodo rural de jovens, se realmente são decisões autênticas, feitas mesmo com apropriações da identidade rural e conhecimento de distintas pos-sibilidades que tal espaço oferece, ou se são decisões tomadas devido a necessidades impostas por fatores econômicos, sociais, dentre outros.

A intensidade das migrações, com consequente diminuição de práticas como a da agri-cultura familiar, se constitui como um fenômeno social, que alcança dimensões maiores do que aquelas envolvidas nas escolhas individuas; diversos âmbitos estão envolvidos e enlaçados nesse processo, entender a participação de cada fator, permite que futuramente possa-se vis-lumbrar possibilidades de atuação que contenham esse fenômeno, fazendo com que aqueles que desejam continuar junto ao rural possam ter essa alternativa no seu horizonte de escolhas.

A migração rural é uma questão que perpassa o tempo, tendo entre seus atores diferentes gerações. A percepção de que uma dada localidade tem no passar dos dias um número cada vez maior de jovens que deixam suas casas e migram para o urbano em busca de oportunidades de estudo e emprego, ou de alguns, que apesar de não migrarem, colocam essa possibilidade ao adentrarem cursos desvinculados do rural, levanta indagações a respeito dos fatores que levam os jovens a migrarem do rural, não dando sequência na atividade que permeou sua história de vida até então. Seria esse fenômeno uma decorrência de um afeto não cultivado, principalmente no espaço escolar? Ou seria devido à questões climáticas que assolam o sertão? Visando obter informações a respeito dessa temática, o presente estudo, de caráter exploratório, busca apre-sentar informações a respeito da migração de jovens rurais, abrindo espaço para a refl exão, atra-vés da visão de distintos autores, sobre algumas motivações e consequências de tal fenômeno, trazendo também contribuições a respeito do sentido do lugar.

Para tal, tem como metodologia a pesquisa bibliográfi ca (GIL, 2002), que se baseia nas ideias apresentadas em obras já escritas sobre a temática em questão. Para tanto, foram selecio-

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nados livros, artigos, dissertações e teses, referentes ao tema, sendo em sua maioria acessados em meios eletrônicos. A seleção do material se restringiu a obras em português.

JUVENTUDE RURAL

Antes de iniciarmos a discussão sobre juventude rural, se faz necessário algumas con-ceituações e refl exões em relação a juventude, observando que é uma faseimportante em que as experiências vivenciadas e a facilidade para a apreensão de conhecimentos são características indispensáveis para a sua construção subjetiva.

Conforme a perspectiva legal, em 2013 com a promulgação do Estatuto da Juventude, o jovem no Brasil, são as pessoas com idade entre 15 e 29 anos, tendo uma ressalva com os adolescentes de 15 a 18 anos, em que aplica-se o Estatuto da Criança e da Adolescência-ECA e, exclusivamente, o Estatuto da Juventude - EJ, quando ele não confl itar com as normas do ECA.

Todavia, é necessário compreender a existência da juventude, como Abramo (2008) enfatiza “de juventudes, no plural, e não de juventude, no singular, para não esquecer as dife-renças e desigualdades que atravessam esta condição” (p. 43-44). Se faz necessário observar que difi culdades parecidas implicam-se em consequências divergentes na vida dos jovens, pois este segmento social é por si só heterogêneo e dinâmico.

Embora os ciclos da vida sejam amparados a priori pelo desenvolvimento biopsíquico dos indivíduos, o processo da juventude está relacionada à construção social, econômica e cul-tural, e para tanto é preciso correlacionar a juventude com outras categorias, como classe social, costumes, nacionalidade, região, etnia, gênero, religião, localidade (urbana ou rural), momento histórico e dentre outros (PERALVA, 1997).

Segundo Groppo (2004) a juventude se apresenta como uma categoria social, um meio para agrupar pessoas considerando características como os comportamentos e para atender a uma necessidade organizativa, como estabelecer direitos, deveres e políticas para esse grupo. São sujeitos sociais, constroem em modo singular o ser jovem de acordo com seu cotidiano.

Como categoria social, a juventude, propicia uma análise especial, pois nela se refl ete de maneira particular as características gerais de outras idades, tornando-se possível ao jovem sua acumulação e internalização. Esta fase que, mais do que transição, apresenta diferentes abordagens e tratamentos, tendo em vista que a juventude dá margem para múltiplas análises e interpretações.

Dayrell, Carrano e Maia (2014) trazem a juventude numa perspectiva ampla, para além de suas características de faixa etária ou idade cronológica, mas um indivíduo em processo de construção social e histórica. No que se refere o viés social pode se considerar a representação social da juventude, a percepção da sociedade e o reconhecimento social de si.

Diante disso, a conceituação sobre os jovens rurais segue a mesma referência de de-fi nição da juventude urbana, com uma resalva no lugar e no espaço que é o ambiente rural, característica marcante na vida deles. No entanto, também os jovens rurais experimentam uma “mobilidade espacial e simbólica, entre os universos rurais e urbanos, que expressa tanto na dinâmica cotidiana, como nas identidades e formulações de projetos de vida” (MARTINS 2008,

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p. 17).Cabe ressaltar, que conforme Wanderely (2007) diversas causas fazem com que os jo-

vens rurais permaneçam no lugar de origem, como o processo familiar afetivo e as experiên-cias vividas no campo, que é algo característico no dia a dia da juventude rural. As relações familiares e a vida em comunidade marcam fortemente a vivência cotidiana dos jovens rurais. A responsabilidade com a família torna-se, dessa forma, “indispensável ao funcionamento e à reprodução da unidade produtiva e se expressa, especialmente, na sua participação no sistema de atividades familiar” (WANDERLEY, 2007, p. 24).

Sendo a juventude um segmento tão heterogêneo, a juventude rural segue a mesma lógica, não seguindo um padrão específi co (KUMMER; COLOGNESE, 2013). Ainda de acor-do com os autores, a juventude vai além de uma delimitação estária, sendo que a juventude rural vai muito além da ideia de uma pessoa com limitações de idade especifi cas e que reside no espaço rural, a juventude rural diz respeito a uma determinada vivência, tem-se então uma noção de determinado modo de vida, ainda que este envolva variações entre as “juventudes” anteriormente faladas.

O LUGAR E SEU SENTIDO

O lugar no qual se mora não é simplesmente um abrigo que protege do sol, da chuva, dos ventos, há diversos sentidos que permeiam a morada, quando se fala no rural e na agricul-tura isso fi ca ainda mais evidente. Segundo Tuan (1980) há uma relação de intimidade entre o agricultor e a terra, uma integração e mistura de sentimentos, embora hajam diferenças entre agricultores de diferentes condições econômicas, sabe-se que ambos tem suas vidas em sintonia com o ritmo da natureza, por dependerem desta.

Tuan (1980) apresenta o tema da topofi lia, que diz respeito ao envolvimento afetivo com determinado lugar. Diz então de uma relação que ultrapassa questões econômicas. Ainda falando sobre a relação do agricultor com a terra, o autor diz de uma relação em que a terra é tida não só como recurso material, mas também como fonte de lembranças e expectativas. Po-rém, conforme o autor pontua, as observações de caráter sentimental podem deixar a desejar por serem em grande parte escritas “por pessoas com mão sem calosidade” (p. 113). O que reforça a necessidade de serem considerados os obstáculos que perpassam a construção do sentido do lugar.

Ainda de acordo com Tuan (1983, p. 203), sentir um lugar “é uma misturasingular de vistas, sons e cheiros, uma harmonia ímpar de rítmos naturais e artifi ciais, como a hora do sol nascer e se pôr, de trabalhar e brincar. Sentir um lugar é registrado pelos nossos músculos e ossos.” Trata-se então de um processo envolve tempo. Sendo assim, o lugar de habitação não é desgarrado de sentido, sendo de suma importância que se leve em consideração os signifi cados que este tem na vida do jovem rural.

Tais signifi cados se relacionam também a um passado, que segundo Tuan (1980), é peça importante no que tange á afeição por determinado lugar, que é também espaço de histórias, sendo parte de uma construção familiar, sucessória talvez. A terra natal é então bem mais que uma paisagem com características estéticas, sentimentos são despertados em relação aos senti-dos que esse lugar possui.

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Bachelard (1974), também traz em a poética do espaço, um pouco do sentido das pri-meiras moradias, do lar, e dessa relação tão intima e simbólica que o homem tem com os espa-ços que ocupa. O autor traz essa moradia oriunda como o universo inicial a ser ocupado, como um primeiro lugar na terra, trata-se segundo ele de um espaço que inspira e traz a sensação de proteção e segurança, antes do homem ser lançado no mundo. As antigas moradias guardam segundo ele lembranças que remetem a infância, guardando valores e sonhos inestimáveis.

Trata-se então de um lugar repleto de signifi cados, “pois a casa é nosso canto do mun-do. Ela é, como se diz freqüentemente, nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos. Um cosmos em toda a acepção do termo. Até a mais modesta habitação, vista intimamente, é bela” (BACHELARD, 2005, p. 200). Esses argumentos demonstram a importância de serem investi-gadas as motivações e consequências que a migração provoca.

MIGRAÇÃO DE JOVENS RURAIS

Falar do sentido que o lugar possui para os homens, se fez necessário inicialmente para desdobrar o assunto acerca das migrações, que não são esvaziadas de sentido, e não se tratam de um simples mudar de moradia e/ ou emprego. A migração rural, embora não seja uma das grandes preocupações atuais, como já foi em outros períodos, continua movimento grandes vo-lumes populacionais. Segundo Camarano e Abramovay (1999), assiste-se a um envelhecimento da população rural. Na época de tal publicação já se assistia a uma saída dos jovens de tal meio, saída essa que se diferenciava em proporções com relação ao sexo (mulheres migravam mais), e com relação a região do país.

Ferrari et al. (2004), ainda trazem em suas pesquisas um proporção maior de migração em relação ao sexo feminino, dentre as difi culdades apontadas aparece a carga de trabalho, que é muito pesada e desgastante segundo as entrevistadas; outro fator se refere a capitalização, segundo os autores, jovens de propriedades descapitalizadas apresentam uma maior perspectiva de migração do que aqueles com propriedades capitalizadas; de modo geral, a pesquisa indica a formação educacional e a renda decorrente da atividade rural como dois dos fatores que podem estar relacionadas com a perspectiva profi ssional dos jovens, infl uenciando suas decisões. O autor aponta que o modelo educacional em vigor ainda permanece desvinculado do contexto rural, o que afeta a relação dos jovens com o campo.

De acordo com Santos (2015) a educação não pode ser desgarrada da vivência cotidia-na dos indivíduos, a construção de laços e o sentimento de pertencimento são contribuições a serem dadas pelo espaço escolar, a autor afi rma a necessidade de superar visões distorcidas e estereótipos vindas do próprio processo educativo. Souza (2009) aponta que a educação no campo é ameaçada por alguns problemas, dentre eles a quebra de raízes culturais, a presença de conteúdos desvinculadas do contexto de vida rural e o uso de metodologias que não se arti-culam com a prática e com os saberes locais. A necessidade de políticas públicas voltadas para uma educação do campo é um dos apontamentos da autora, que se cruza inclusive com o de di-versos outros autores, como Santos (2015), Cavalcante (2007), Silva Filho (2014), que apontam inclusive para a pedagogia da alternância como uma possibilidade de articular teoria e prática, valorizando os saberes locais, e permitindo que os jovens deem sequência nos estudos junto às

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suas famílias e ao meio em que vivem, ou seja, o espaço rural. Porém, tal estudo não se enviesa para a educação do campo, sendo essa apenas um dos componentes das hipóteses elencadas a priori, o que pode ser discutido em outros estudos.

A saída do campo aparece no imaginário das gerações atuais antes mesmo da juventude segundo alguns autores, Spanevello et al. (2011) trazem dados em relações a crianças que já tem tal ideação. Ainda de acordo com os autores, o processo sucessório e as relações comunitárias tendem a fi car prejudicados com esse esvaziamento do rural; o fato de um maior número de pes-soas do sexo feminino migrarem (o que também foi revelado em pesquisas no início deste estu-do) também difi culta a formações de novas estruturas familiares no rural, o que diminui ainda mais essa população, difi cultando o processo sucessório. De acordo com o autor, a agricultura já não se faz tão presente no projeto de vida dos jovens assim como acontecia em anos anterio-res. A agricultura, ao contrário de outras profi ssões, não é apresentada como possibilidade nas práticas educacionais de Ensino Fundamental e Médio, se trata apenas de um ofi cio aprendido nas relações familiares e comunitárias.

Há trabalhos no entanto, como o de Costa e Ralisch (2013) que apresentam que a mi-gração do rural não se manifesta como uma vontade de jovem, e sim como uma necessidade, devido as condições de vida (tanto econômicas, quanto as condições de trabalho), a falta de po-líticas públicas para estes, e devido a invisibilidade que sentem diante das decisões comunitá-rias e familiares, o que, apesar do desejo de continuarem com as atividades rurais, deixa-os sem perspectivas, até mesmo devido ao tamanho de algumas propriedades, que não tem proporções para serem divididas entre todos os fi lhos.

Todos esses fatores se fazem presentes no fenômeno do êxodo rural, mas se faz ne-cessário problematizar sobre a realidade de cada cultura, de cada território. Pois como foram pontuados em tópicos anteriores, a juventude rural possui diversos nuances, e o sentido do lugar também tem distintas construções, o que faz com que o fenômeno da migração seja atravessado por vários fatores, motivações e consequências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que na atualidade, há diversos projetos e ações destinados ao jovem urbano, que visam transmitir e fomentar conhecimentos por meio cursos e atividades de ensino como: profi ssionalizante, geração e emprego e renda, culturais, de música, teatro e outros, estimulan-do-os a buscarem alternativas de integração social. No entanto, quando se trata do jovem rural, essa presunção não prospera, assim a motivação predominantemente nos jovens que escolhem em permanecer ou voltar para a origem rural, é um desejo intrínsecos pela conservação dessa prática e de crescimento de um lugar que possui muitos signifi cados.

A migração não pode portanto ser desvinculada dos diversos fatores elencados, que muitas vezes vão além de um desejo de partir. A juventude rural, tão heterogênea que é, com as distintas construções de sentido e identidade em relação ao rural, não pode ser desconsiderada em seus diversos nuances, sendo rica fonte de estudos. Tal trabalho portanto, não se esgota, sendo apenas um dentre os vários trabalhos a serem feitos a respeito do tema, que possui muitas possibilidades de estudo, que podem apontar para distintas intervenções e políticas públicas

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necessárias para lidar adequadamente com o fenômeno da migração de jovens rurais.

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