Miguel Aparicio Entrevista João Batista Ferreira ASPROJU / RESEX Jutai 23.02.2006-Libre

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Miguel Aparicio entrevista João Batista Ferreira, líder da Associação Extrativista do Rio Jutaí (ASPROJU), Amazonas. Realizada no dia 23 de fevereiro de 2006.

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    ENTREVI STA: JOO BATI STA FERREI RACoordenador da Reserva Extrativista do Rio Juta

    Miguel AparicioJuta, AM, 23 de fevereiro de 2006.

    Atualmente, no municpio de Juta se observa um avano relevante no que respeita aoreconhecimento dos direitos territoriais das populaes tradicionais indgenas e ribeirinhas.Frente a um passado recente marcado principalmente pela grilagem de terras, o monopliofundirio das famlias seringalistas e a ao descontrolada de garimpeiros, hoje a maior parte dasterras indgenas esto demarcadas (a TI Katukina do Bi a mais extensa, no municpio). Almdisso, foram criadas a Reserva Extrativista do Rio Juta e a Reserva de DesenvolvimentoSustentvel do Cujubim. A pesca predatria e a ao madeireira constituem as principais ameaasambientais destes ltimos anos. Contudo, h uma perspectiva de maior protagonismo dos

    autnticos donos da terra. A seguinte entrevista oferece um testemunho do itinerrio percorridopelas comunidades ribeirinhas do rio Juta na conquista de seus direitos fundirios e da suacidadania como povos da floresta. Joo Batista relata o percurso desta luta comunitria, queconstitui a sua paixo militante ao longo de uma biografia cheia de sobressaltos.

    Nascido no norte do estado do Piau, Joo Batista Ferreira, ainda adolescente, deixou o lar familiare se transladou capital do estado. Sem emprego, busco alternativas melhores em So Paulo eem Belm. Animado pelo sonho americano, na sua juventude resolveu subir as guas doAmazonas, atravessar a Colmbia e Amrica Central e estabelecer- se nos Estados Unidos. Noconcluiu esta longa viagem e acabou fixando-se em Bogot, onde trabalhou como mecnicodurante dois anos. Retornou ao Brasil e encontrou trabalho em Manaus, onde passou mais algunsanos da sua vida. Conheceu a sua esposa, com quem convive at hoje, e mudaram para a terranatal dela: Juta. Aqui formaram famlia. Joo Batista se integrou desde o primeiro momento no

    Sindicato dos Trabalhadores Rurais nele exerceu a sua militncia. Posteriormente, eleprotagonizou a criao da ASPROJU (Associao dos Produtores Rurais de Juta) e da ReservaExtrativista do Rio Juta, numa histria conflituosa que ele sabe contar como ningum...

    M. APARICIO Fale-me da histriada comunidade, como ela nasceu, como

    cresceu, qual o histrico dela...

    JOAO BATISTA FERREIRA Companheiro,em primeiro lugar quero me apresentar paravoc, apesar de que nos conhecemos, somos

    amigos, mas como trata-se de uma fita eu querodar o meu nome. Me chamo Joo Batista Ferreira.Para comear com nosso papo, eu querolhe dizer que o comeo da historia da ASPROJU,que e a Associao dos Produtores de Juta,e a historia da criao da Reserva, isso e uma

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    longa historia. Porque tudo comeou a partir deum sindicato que os seringueiros criaram l noalto rio Juta, quando veio a decadncia do projetoda borracha. Tinha um padre que trabalhavaaqui fazendo romarias com os seringueiros, eele teve a idia de criar um sindicato. O padre

    foi avante na assessoria com esse pessoal e criaramesse sindicato to bom; esse sindicato foibaixando, e resulta que em 1986 eu, vindo deManaus, eu vim para c para o interior e chegandoaqui eu me ingressei no sindicato. Mefiliei, porque eu sempre fui sindicalizado, sempreparticipei do movimento sindical. Eu parano ficar fora me filiei ao sindicato e comecei aacompanhar o trabalho do sindicato. Com apouca experincia que eu tinha como sindicalista,o pessoal comearam a me aproveitar, mecolocar para ser linha de frente de algumasecretaria;

    fui secretario de agricultura, fui membrodo conselho fiscal e fui assessor administrativodo sindicato. E ai numa grande assemblia noselegemos um novo presidente. Depois daassemblianos fizemos uma reunio, para fazerum planejamento de t rabalho. Nesse planejamentohouve uma pergunta: o que o sindicatopretende fazer agora para favorecer osseringueiros?Eu lancei uma idia, para nos criar umacooperativa, porque na minha cabea o sindicato

    devia trabalhar na organizao das comunidades,tal e tal, mas e ai? Ento tinha que teruma cooperativa para viabilizar a produtividadedos seringueiros, para que a gente pudessetrabalharna agricultura, ou ate mesmo na borracha,enfim, na cooperativa seria possvel a gentealavancar a produtividade econmica dosextrativistas.Ai a minha idia foi aprovada, foi aprovadapara posteriormente a gente discutir realmentecomo amos criar essa cooperativa. Moralda historia: depois, no caminhar da coisa, fizemos

    outra reunio outra vez, para discutir acriao da cooperativa. Nas discusses nsestivemosvendo que no era possvel ns criar acooperativa, porque ns no estvamos preparadospara esta situao. J pensou naqueletempo ns criar uma cooperativa! E porquecooperativa precisa ser trabalhadores que tenhamcerta economia pessoal, e preciso que

    sejam trabalhadores que tenham uma certaconscincia de organicidade do seu grupo, epreciso que seja trabalhadores que tenham algumconhecimento de unidade, de parceria, ecompromisso mesmo, para poder criar umacoisa dessa. A gente viu que no tinha preparo

    para isso, seria melhor ns criar uma associao,e ai foi aprovada a criao da associao.Mas para isso precisvamos criar um capital,para montar a estrutura da associao, eesse capital ns no tinha. Mas ns tivemos aidia: por que ns no fazer uma roca grande,uma terra devoluta, e com isso pegar a produoe transforma-la em dinheiro para fazer asede, comprar um barco pra trabalhar com nossoscompanheiros nas comunidades, l paradentro no rio Juta? A gente fez esse plano e aifomos por em pratica. Porque aqui, do outrolado do Solimes, tudo ns trabalhava com as

    comunidades: Acapuri, Sria, Santa Luzia, Pinheiro,Porto Alegre, So Miguel, Bugari, emfim, tudo a gente trabalhava com o sindicato.Ns tentamos envolver todo esse mundo degente para a criao da associao. E ai nscomeamos a trabalhar. Uma vez nos reunimos,criamos uma equipe para ir l no mato para veronde que tinha terra devoluta. Ai nos encontramos.O que fazer? No, embora na prefeituraembora reivindicar um terreno para ns fazernossa roca num terreno legal, legalizado. Nsfomos ao prefeito, na poca o prefeito era seu

    Alirio. Quando ns chegamos la colocamos aproposta que foi criada uma associao e precisavade uma terra para ns trabalhar, e tinha idocom a prefeitura para adquirir um terreno quens encontramos ai na estrada do Breu, umaterra devoluta, uma terra grande que dava parans trabalhar. Ai o prefeito se abalanou a cabeae, bom, entendendo nosso pedido ele nofez objeo, ele doou para ns essa terra comtitulo, com tudo. Doou essa terra titulada e ains comeamos a trabalhar l e fazer a roca.Fizemos uma roca grande, eram mais ou menos4 hectares de cho. Botamos tudo embaixo e

    enchemos de mandioca.Quando a mandioca estava grande queja estava prximo da gente comear a desmancharessa roca, ai ns tinha aqui nossos parceirosda igreja, que era dom Mario, naqueles tempos,dom Joaquim Delange, que era bispo deTef, que ele trabalhava ja aqui, tinha a irmPilar Simongrau, que era uma freira muito dedicada,muito amiga nossa, que apoiava nosso

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    movimento. Ela tinha uma amiga na Franca.Essa amiga era a presidenta de uma entidadefrancesa que se chamava Apel de Trais (sic). Eela veio aqui visitar a irm Pilar, porque nsestava fazendo um centro cultural, que e umgrande centro que tem ai. Ns construmos,

    nossa comunidade e a parquia de Juta, parafazer nossos eventos, nossas reunies, nossasassemblias. E a madame tinha ajudado a irmna construo desse centro. Foi ai que a irmPilar colocou para ela que ns criamos essaassociao,que ns precisava de um barco e ai,nesse tempo ns era assessorados pelo MEB(Movimento de Educao de Base) na pessoado Assis Moreira e o companheiro AntonioCandido Gomes, que por sinal o Antonio Candidoate hoje e nosso assessor, hoje ele e poltico,e vereador pelo PT, o nosso representante

    poltico, grande companheiro e a madamevendo nosso projeto f icou muito empolgada, ediz que ia nos ajudar, a madame doou ummontantede 2 mil dlares para ns, doado, para nsescriturar nossa associao. Ai ela queria quens comprssemos um barco feito, e aqui tinhaum barco de um cidado. Ela perguntou comons trabalhava, ns disse que trabalhava emmutiro, ento ela mandou botar o nome dobarco Mutiro, que e o nosso barco hoje, oMutiro. Certo e que esse dinheiro rendeu ate

    hoje, hoje tudo que ns temos e graas a Apelde Trais, que nos apoiou muito com esse recurso.E ai, companheiro, j com dinheiro, nscomeamos a trabalhar a produtividade da farinha,ns abastecemos este municpio com farinha,vendemos farinha para Tef, e ai ns fomostrabalhar no rio Juta, que era onde estavampessoas isoladas la, que ns trabalhava comeles tentando adquirir a terra para eles fazermorar em comunidade, que naquele tempo todomundo vivia isolado, eram as colocaes chamadasda poca, cada volta do rio tinha umacolocao, cada praia. Ento ns passamos a

    trabalhar no rio Juta, chegamos ate o Piranhas,que hoje e a comunidade So Raimundo doPiranhas, organizando o pessoal, trazendo elesda colocao. Primeiro foi feita a comunidadeMarau, depois fizemos a comunidade Capivara,depois ns apoiamos a comunidade Porto Alegre,que j existia, apoiamos o Cariru, que jexistia, e ai o Purure, que tinha l s um cidado.A tendncia era fazer uma comunidade,

    ns apoiamos, hoje tudo e comunidade. Fomosno Piranhas, o pessoal vivia tudo isolado, ajeitamostodo mundo l, na ressaca do Tapira fizemosa comunidade. Companheiro, ai nsbotamos esse pessoal para produzir. Farinha,banana, tudo, veio uma idia de ns fazer um

    projeto com plantio de cupuau e caf. Ai euescrevi para uma entidade da Espanha, a entidadese chama Manos Unidas, mandei a carta,fazendo o pedido que eles apoiassem esse projeto.Eles mandaram dizer que podamos fazer oprojeto, que eles iam nos apoiar. Ns fizemos oprojeto, mandamos para eles, eles pagaram oprojeto no valor de 29 mil pesetas (pesetas e odinheiro da Espanha, no e?), 28 ou 29 mil pesetas.Eles doaram para ns esse projeto, ai nsfomos plantar caf. Aqui no tinha ningumque tivesse caf, eu fui em Amatur, l no sindicatode Amatur, fui l com os companheiros,

    pedi mudas de caf que eles tinham muito. Eutrouxe 16 mil mudas de caf. Eu trouxe o Mutiroate o pau de muda de caf, chegou aqui jestava todo murcho, mas eu cheguei, botei tudoem lei, agei tudo, caf no perdeu um. Eu distribuisemente em todas as comunidades quens trabalhava por aqui: Copatana, Porto Antunes,Marau, todo o rio Juta ate o Piranhas.Fizemos um plantio de 10 mil ps de caf, fizemosum plantio de 8 mil ps de cupuau. E onegocio rendeu, companheiro. Esse caf e cupuaufoi uma produo medonha, mas ai, vender

    para quem? Esse caf foi estragando, o cupuaua produo se estragava, ns perdeu aquide 3 toneladas de polpa do cupuau. Teve umpadre aqui, o padre Michel, francs tambm: eulevei ele l, ele viu nosso plantio, e ele seempolgou.Foi na Franca, conseguiu dinheiro parans, comprou uma mini-fabrica de despolpaldeirapara despolpar cupuau, para fazer gelia.Chegou aqui, treinou o pessoal. Fizemos gelia,botamos no mercado, tudo se estragava. Fizemosum plantio de cana, botamos 3 mil ps decana, fizemos um bocado de rapadura, mel,

    acar, gramix, isso tudo era desperdcio, porquenao tinha consumo. A populao era pequena,ns trabalhamos muito, naquele tempotudo era jovem, aqueles homens jovens quequeria fazer alguma coisa mesmo. Fizemos,tivemos prejuzo, mas fizemos.Mas valeu a pena, porque devido a dificuldadeda criao das comunidades, da legalizaoda terra comunitria, a gente vinha com o

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    prefeito, o prefeito no nos dava bola, porque oprefeito viu que ns estava avanando muito,ate porque quando chegou a campanha do Lula,a primeira campanha do Lula ns fundamos oPT aqui. Ai pronto, os polticos armaram contrans. Ai tudinho s mostrava os dentes e as unhas,

    ningum queria saber de ns, viu? Querdizer que o sindicato no prestava, difamava osindicato, jogava o povo contra ns, era aquelaagonia. E ai ningum dava chance para nslegalizaras terras das comunidades. Ai foi quesurgiu a idia de ns criar uma reserva extrativista.Porque na poca os companheiros doMEB, junto com a equipe do sindicato, foram lano Acre na assemblia da reserva do ChicoMendes. Naquele tempo tinham matado o ChicoMendes, tava aquela revoluo, o pessoalforam l, nessa poca no fui porque estava no

    interior, mas a companheirada foram, e ai oAntonio chegou com essa idia, uma vez reunidome convidou para fazer uma reserva. Eufiquei tudo confuso, que eu no sabia nem quediacho era isso, mas rapaz, ser que e possvel?No, e possvel sim, porque ns temos ai estarea onde e cheia de seringueiros, podemosreivindicar essa rea para o CNPT e transformarisso ai numa reserva. Ai acaba esse fuxico, negociode terra, ningum quer ajudar ns a adquirira terra para os comunitrios, ns criamosreserva, ento embora! O que e preciso fazer? E

    so fazer uma carta, mandar pro CNPT. Na pocaeu era presidente da associao, quem foipresidente da associao sempre fui eu. Primeirofui por trs mandatos, depois j foi outrospresidentes, mas sempre eu continuo na linhade frente da associao. E ai ns fizemos essacarta, eu a mandei pro CNPT, o CNPT passouquase um ano para responder esta carta. Mas ai,quando eles responderam, foi pedir desculpaspela demora, que eles tinham muito trabalho,no sei o que, mas eles tinham lido nossa carta etinham lido com muita ateno. E eles estavamprontos para vir aqui com ns, para nos ouvir.

    Ai mandamos dizer para eles que eles viessem omais breve possvel, que ns tinha pressa.Quando eu recebi a carta, disseram que tal pocaque eles vinham. E ai no demorou muito,chegou uma equipe de Manaus, que era doCNPT de Manaus: o companheiro Mario Lucio,com outros l. Quando ele chegou, marcou umareunio para reunir com o prefeito, com opresidente

    da cmara, com o delegado, com o padre,com todo mundo. Ns convocamos todomundo e fomos fazer a reunio; mas no apareceuningum da parte do governo. Nem delegadonem ningum, no apareceu ningum dogoverno municipal para ouvir a nossa discusso.

    Ai ns tinha ido l mesmo, s apareceu a freirae o padre. Ai nos reunimos, discutimos a idia,ta bom, eu vou vir com a equipe para ns percorrera reserva, reunir l com as comunidades.Ai ele voltou para Manaus; trs meses depoiseles vieram. Ai ns fomos para a reserva, fomosreunir no Marau, chegamos l e nos reunimos.Eles reconheceram a nossa reivindicao e aieles: olha, pode ter certeza que daqui mais trsmeses, ns vamos mandar a equipe para fazer olaudo socioeconmico e biolgico da rea parans criar a reserva, porque estamos vendo que ademanda e grande e vocs precisa ter essa terra.

    S que essa terra aqui era terra da empresaJuta, era terra da empresa Plubi, era terra dumcoronel aqui, do Sr. Mario Ferreira, era terra deoutro madeireiro, Pedro Gonalves, era terra deoutro madeireiro, Fernando e Tel, era terra dumseringalista aqui chamado Ccero Tuxaua, emfim era terra de muita gente, propriedade demuita gente. Mas os seringueiros viviam espalhadospor ai, ningum tinha nada, ningumtinha nada, vivia a revelia nas encostas do rio.Ai ns fomos enfrente. Quando no demoroumuito, chegou a equipe, ns fomos para reserva,

    passamos duas semanas fazendo o laudotodo da reserva. Quando ns chegamos, eledisse: olha, pode ter certeza, que a reserva estacriada. Ns vamos passar esse laudo para oCNPT e ai eles vo criar o decreto imediatamente.Com dois ms depois chegou o laudo eo decreto, j a reserva estava criada. Ai nscomeamosa trabalhar, a associao trabalhar jcomo reserva extrativista. Se eu no me lembromal foi nos anos de 93, de 93 a 94, isso ai.Comeamosa trabalhar como reserva extrativista,

    que j estava criada no decreto. Ai foi um rebu:todo mundo contra ns, mas ns no ligavapara ningum. Trabalhando do mesmo jeito,organizando as comunidades cada vez mais, istoaqui agora e nosso, e ns solicitando ao CNPTa criao de um grupo de agentes ambientaispara poder cuidar dos lagos e das praias e poderfazer barulho mesmo com autoridade. Ai napoca o superintendente do IBAMA era o Dr.

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    Cassara, Hamilton Nbrega Cassara. Ai elesvieram, fomos fazer cursinho em Tef, tava oamigo Cassara, tava o Dr. Claudemir, tava outrostcnicos do IBAMA, tava os professores,tava o professor Eduardo, Jose Gerlandio, quefoi um grande companheiro, enfim fizemos o

    primeiro curso, depois fizemos mais outro curso,enfim, s eu mesmo participei de quatrocursos de leis ambientais. Ai depois me elegeramcoordenador ambiental da reserva, paramim coordenar a equipe de agentes e cuidar dareserva. Ai ns ficamos trabalhando.Meu amigo, surgiu um problema maior.E que um ex-prefeito daqui do municpio deJuta, Sr. Francisco Chagas de Moura, ele noera mais prefeito, no era nada, ele se uniu comos garimpeiros. Ai meteu um garimpo dentrodo rio Juta. Esses garimpeiros vieram deenxurrada,

    era dragas e dragas e balsas, era uma coisahorrvel, parecia um inferno. Essa gente saiugarimpando desde ai acima, do Porto Antunespara cima era deles, metia draga, desmanchavaaquelas praias todas tirando ouro, esse Jutavirou um inferno, uma verdadeira pornografia,cheio de gente, gente de toda parte do Brasilaqueles garimpeiros. Aqui houve 5 mortes dentrode poucos tempos. Matavam a bala na frenteda luz do dia. Isso aqui ficou horrvel. Ai ns sepreocupamos porque ns tinha nossa reserva eeles garimpando dentro da reserva. Ai ns escreveu

    uma carta para o CNPT, dizendo paraeles retirar imediatamente esses garimpos queestavam fazendo o maior dano dentro da reserva.Eles mandaram me avisar para mim constatardireitinho, porque eles estavam preocupadoscom isso, porque garimpo alem de ser proibidoaqui na Amaznia estava estragando o rio dentroda reserva. Meu amigo, ento o Mario Lucioveio aqui, ns mostramos o fato para eles, ai foil, entrou em contato com o Dr. Gerlandio, quee o chefe de operaes de fiscalizao do IBAMA.Ai agarrou a policia federal e veio, veio,meu amigo, e ai invasores, predadores, tinha

    gente de Amatur, t inha gente de Alvares, t inhagente de Coari, t inha gente de Tabatinga,tinha gente de todo mundo dentro daqui do rioJuta, matando e caando e pescando animalsilvestre e extraindo madeira e fazendo todotipo de danao. Ento quando o Gerlandioveio, o garimpo j estava ate o Bia, meu amigo.Ai o Gerlandio foi ate l, arrastou as balsas que

    tinha dentro do Bia, e vinha arrastando,arrastando.Quando chegou aqui chegou com 86dragas e cinqenta e poucas balsas, essa frentedo rio Juta encheu. Nesse ento chegou umavio da Critica, um avio da Critica chegou

    foi filmando tudo, isso foi um rebu das grandes.O Gerlandio trouxe o barco cheio de carga deanimal silvestre. Tinha apreendido de doismalandros, dois regato cheio de coisa,pirarucu, t racaj, animal silvestre, foi uma coisahorrvel. Esta beirada aqui encheu de genterecebendo tudo isso. Ai os garimpeiros queriamme matar, os garimpeiros passaram aqui unsdois meses querendo me matar. Ai eu falei como Dr. Gerlandio, o Dr. Gerlandio deixou doishomens da policia federal para me darcobertura. Eu sei que ai foram, foram, passou ofuzu, os homens foram embora e eu fiquei.

    Mas eu fiquei sempre na mira dos garimpeiros.Mas eu entreguei minha alma para Deus, eu nosou ningum mesmo, mas graas a Deus eu fuiescapando ate hoje. Bom, amigo, e a reservacontinua. i o problema, na poca o FernandoHenrique era o presidente. Ns pedia para eleassinar o nosso documento e nada. Ns ia aBraslia, ns ia para Belm, ns ia pro Acre fazendomovimento, fazendo presso. Eu trouxeate o Greenpeace aqui em Juta! Porque eu tenhouns amigos no Greenpeace, ai eu fui l, noescritrio do Greenpeace. Ai eles falaram: Rapaz,

    pode deixar que eu vou mobilizar o Greenpeacepara ns ir l. E ai foi, daqui eu ficavaligando para eles, com Assis, com Candido, ta

    jia, pode esperar que ns vamos j l com onaviozo. Ai eles vieram, atracaram o naviozoai na frente, vieram aqui pro escritrio, nosreunimos,fizemos um plano, eles andaram aqui,fuaram essas serrarias todas, tiraram fotografia,fizeram presso doida com esses madeireiros,que tudo era invasor dentro dessa reserva, elesfizeram bem danado com essa gente. Forampara os colgios, deram entrevista nos colgios,

    colocaram o que era a reserva extrativista, fizeramum trabalho medonho. Ai fomos l para areserva, fomos l para o Marau, chegamos l,reunimos com o pessoal. Veio uma equipe dateleviso alem, eu dei uma entrevista l proscaras, tudo, tudo, deu uma denuncia doida.Denuncieio presidente, que estava fazendo a gentede moleque. Foi um barulho doido. Eu sei, meu

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    amigo, que, moral da historia, a briga foi, e antesdo Fernando Henrique sair, ele assinou odecreto, em 2002, no dia 18 de julho. 18 de

    julho ele assinou o decreto criando de fato, deuma vez por todas, a reserva extrativista doJuta. Olha, meu amigo, nessas alturas as

    comunidadesda reserva j tava tudo estruturado, nssempre trabalhando com a ajuda das entidades,olha: a CERES da Holanda nos ajudou, a Misereorda Alemanha nos ajudou, e com essa ajuda,de Manos Unidas, ns no esquecemos mesmo.E ai a coisa foi, a associao na linha de frente,eu sei que a coisa foi andando cada vez melhor,e a partir de que foi criada, assinado de uma vezpor todas pelo presidente, nessas alturas j tinhaconversando com o INCRA. O INCRA estavaimplantando planos de assentamento l emCarauari.

    Ai disseram que vinham para c, era s opresidente legalizar, eles vinham para c. E ai,quando o presidente legalizou, liguei pro INCRA.Imediatamente veio a equipe, veio fazer oprojeto de assentamento dentro da reserva. Ahrapaz, de l para c as coisas comearam se abrir.Hoje a associao esta administrando 1milho e meio de real do projeto de assentamentodo INCRA, e o Ministrio do Meio Ambientesempre esta nos apoiando, com recursopara isso, para aquilo. J implantamos uma vezo projeto da borracha FDL, mas no vingou,

    porque a FDL e muito cheia de qumica, muitoconfusa. Ai os caboclos no entenderam aquelahistoria, isso no foi pra frente, ns desistimos,mas valeu a pena: aquele projeto nos ajudou,porque tudo que veio ficou para a reserva. Agorans estamos com outro projeto do ministriopara comear a trabalhar a borracha comum, jfechei acordo comercial la em Manaus com osindustririos da borracha. Eles esto precisandode muita borracha. Eu sei que as coisas estoficando muito promissrias, o nosso projeto dereforma agrria esta indo direitinho, estamosadministrando direitinho. E um projeto lento,

    mas e verdadeiro, p no cho, e um projeto queatinge o homem l na base onde ele esta. Hojens temos escola em todas as comunidades, jno temos mais ningum analfabeto, de primeirotodo mundo era analfabeto. Hoje ns temosos enfermeiros comunitrios, temos assistnciaa sade. Hoje todo mundo e mais sadio, vivemais saudvel, tem alimentao com fartura,nao e mais aquele povo doente e amarelo como

    era de primeiro, um povinho fraco. Hoje nstemos as comunidades organizadas com todainfra-estrutura, ns temos eletrificao rural, amaioria das comunidades tem luz eltrica, todomundo tem seus motores de transporte, motoresrabeta, a maioria das casas tem televiso, ns

    temos ate telefone fixo nas comunidades dareserva, no todas, mas temos j em trscomunidadesda reserva telefone fixo. Ento, meuamigo, graas a Deus ns estamos cada vezmelhor. S que nossa historia foi essa e elacontinua,porque a gente lida com o povo da floresta,um povo que sempre foi deserdado, deserdadode tudo, daquela poltica publica, que tantoeles merecem, mas nunca tinha sido alcanado.Agora hoje eu me sinto decepcionado,porque hoje esta aparecendo um problema

    indgena.Porque dentro da reserva tinha aquelescaboclos, todo mundo vivendo como extrativista,todos eram companheiros, todos participaramda criao dessa reserva, e na poca que eucriei a reserva tinha apenas uma comunidadezinhade ndios, que eles eram migrantes. Eleseram l do alto rio, passavam por aqui, passavampelo Juru, voltavam, viviam nessa vida, euma poca eles pararam na praia, l no Batedor,e ai viveram l uns 3 anos. Eu vi esse pessoal l,eu passei l com eles, reuni com eles e pedi que

    fossem pra o outro lado, pra terra firme, porquel do outro lado t inha a capoeira do Seringueiro,l tinha ressaca, tinha lago, tinha igarap e tinhaterra firme para eles fazer roca. E se eles topassema parada, a gente ia ajudar eles, porque elesviviam na reserva e eles iam ser extrativistastambm. E eles ouviram minha idia e foram lpra terra firme, f izeram aquela comunidadezinha.Quando a comunidade esta j feita, eu fuil e falei com a UNI, que e a entidade indgenaque viria a trabalhar com os ndios aqui no rioJuta. Por sinal t inham um projeto grande derecurso, eles trabalhavam educao e sade com

    os ndios, fui l, pedi para eles colocar esse projetola no Batedor. O companheiro Andr foi,colocou o projeto para eles, botou radiofonia,botou baleeira, botou enfermeiro comunitrio,botou professor. Moral da historia, os ndiosestavam comeando a tomar rumo, estavamcomeando a andar. Mas agora, uns anos atrs,foi criada em Juta uma entidade chamada COPIJU,e essa entidade botou para mobilizar esses

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    caboclos para virar ndio, para se transformarem indgenas, e agora esto querendo tomarparte da nossa reserva para fazer rea deFUNAI. I sso eu me sinto muito judiado, porquetodos esses companheiros conhecem ns,conhecem nossa luta, agora fazem essa sujeira

    contra ns! Isso e traio, porque ns no somosmais do que o ndio e o caboclo, tudo quevive misturado na floresta. Ai no tinha umarea indgena, no tinha, foi constatado tudo, eeu s aceito esses ndios ai porque eu consulteio CNPT que tinha essa comunidade indgenaque morava aqui dentro da reserva, e disseramque no t inha problema; comunidade indgenana tinha problema existir dentro das comunidades,s se for rea indgena no se pode criar areserva, mas se for comunidade pode ter a reservacom eles e eles no tem problema. Naquelestempos no tinha problema. E agora ns

    estamos tendo esse problema que nos deixainjuriados. Nos deixa decepcionados, porqueeles vo tomar nossa terra. Ai eu pergunto: quegoverno ns temos no Brasil, o governo que daterra para um pobre trabalhar, depois toma aterra, da para outro pobre? Porque negro, brancoe ndio que vive nos interior so todo igual, avida e o sacrifcio de um e o sacrifcio de todos.Ento se o governo da a terra para um, no,deixa ai, e a terra da reserva, ningum pode criaroutra, ns vamos criar para vocs, onde e quevocs querem outro lugar? Ate ai bem, porque e

    direito, ou pelo menos, se eles querem criar area deles, que esta dentro da reserva, aondeeles acham que so ndios, pois que criem acomunidade deles como ndio, e isso ns nosomos contra, porque cada comunidade da reservatem sua jurisdio de sobrevivncia. Entoporque no transformar aquela rea delesem rea indgena? Ns no estamos contra isso,se o Batedor quer, tudo bem, eles tem rea delesmarcada, a rea comunitria, cada um tem suarea marcada, todas as comunidades tem suarea marcada, e uma rea imaginaria, mas tem,para que um no invada a rea do outro. Ento

    se eles querem transformar essa rea em rea deFUNAI, tudo bem, mas querer tomar grandespartes da reserva para virar FUNAI, isso nsno vamos admitir. Com certeza ns vamos ateas ultimas conseqncias. Eu lamento, porquetambm minha famlia esta misturada com ndio,minha mulher e ndia. Eu tenho aqui osmeus parentes que vivem do outro lado do rio,que l e rea indgena, da rea que eles criaram

    tambm, que eles tinham direito, mas agora, euviver brigando com esses parentes, com essescompanheiros, eu me sinto muito infeliz, mesinto um infeliz nesse jogo. Me sinto tradotanto por eles como, se for criado, me sentireitrado pelo governo. Eu sou um eleitor cidado,

    eu voto, eu j produzi muito neste pais, e colaborocom este pais e vou colaborar, porque essee o meu dever, para que ns trabalhadorespossamossair da escravido com luta licita, digna edemocrtica, democrtica. Mas no vou admitirser desrespeitado, nem pelos ndios, nem pelogoverno. Isso eu me sinto muito traumatizado,ate. Mas eu tenho f em Deus que ns vamosresolver isso numa boa, porque o homem efilho de Deus, o homem e problemtico, mas ohomem e homem. Eu tenho certeza que nsvamos chegara a um denominador comum. Mas

    essa e a nossa historia, foi assim que ns criamosesta reserva e, graas a Deus, ns estamostrabalhando , estamos vendo que o nosso rumoesta certo, ns no vamos arredar, e graas aDeus cada dia nosso e cada dia melhor. E issoque eu tinha para dizer, companheiro, muitoobrigado pelo momento.

    Como que o povo do interior do rio

    Juta, as famlias, como que elas acompanharam

    todo este processo. Vocs fizeram

    uma grande mobilizao, como que elas

    viveram isso?Elas acompanharam participando. Pormeio das reunies nas comunidades, por meiodas reunies na sede do municpio, l no centrocultural, e por meio das reunies que ns faziaem Manaus. A gente colocava as lideranas.Ns temos o conselho administrativo, cadacomunidade tem dois ou trs participantes,conformecomo e a comunidade. Ns temos o conselhoexecutivo que e a presidncia, compostade secretario, tesoureiro, vice-presidente epresidente,

    vice-secretrio, vice-tesoureiro. Ento,eles participaram no dia-a-dia na construo dacoisa, de ombro a ombro, de mos dadas. Ninguml diz: ah, eu no sei, o outro no sabia,eu fao isso ou no. Ns temos um curso devida e trabalho, que todo mundo faz por todomundo, e o povo unido. L no tem ningumconfuso.

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    O que que voc acha que mudou

    mais no dia-a-dia das pessoas? As pessoas

    tinham um dia-a-dia na poca seringueira,

    hoje tm outro dia-a-dia diferente. O que foi

    que mudou mais?

    Mudou tudo para melhor. Porque primeiro,

    nesse sentido, foi ns criar de fato a agriculturade manuteno da vida. Criar fartura namesa. Todo mundo com muita roca, com muitafartura. O segundo foi preservar lagos e praias,para que tendo lago preservado, tendo muitopeixe, a gente faz plano de manejo pelo IBAMAe a comunidade que tem o econmico, porquemuito peixe da dinheiro. Ento tudo isso e riquezaque l tem no meio ambiente. Por outrolado, e explorar por meio dos manejos todo opotencial que tem. Ns temos madeira, nstemos seringa, ns temos leos, ns temos tudo.Ento, na medida em que a reserva vai se

    consolidando, a gente vai comeando a exploraro potencial dentro dos planos de manejo, para omelhor comportamento econmico de todos oscomunitrios da reserva. Ento, como eu lhedigo, hoje ns temos um povo saudvel, umpovo realmente vivel, com suas comunidadesconstitudas, e graas a Deus cada vez melhor.Quais foram os momentos mais difceisna histria da comunidade, as lutasmais pesadas que vocs enfrentaram?O mais difcil foi na poca do garimpo,e agora esta sendo difcil o problema indgena.

    Porque ns no queremos entrar em atrito comos ndios, a gente esta vendo que estamos sendodesrespeitados por essas entidades que estopor trs, isso e um problema que esta se tornandogeneralizado dentro da reserva. Todomundo esta incomodado com isso.

    A comunidade tem uma memria da

    sua histria. O que que voc acha que ela

    lembra mais de todo esse histrico, o que

    ficou mais gravado na memria do povo?

    O mais gravado na memria do povo equando ns fazia aquelas reunies, vai pra a

    comunidade tal, tem reunio na comunidade tal,vamos buscar o pessoal no Mutiro para fazerreunio aqui e acol, vai para Tef fazer reunio,essas coisas, aquelas festas nas reunies, essascoisas tudo marca. O que nos marca hoje emdia e a saudade, de todos aqueles encontros quens fazia nas comunidades, encontrointercomunitario.A gente fazia reunio inclusive nas

    comunidades do rio Solimes. Ns trazia oscompanheiros do rio Juta no Mutiro, o barcoque o MEB tinha, o Joo Paulo enchia decomunitrio.amos pro Solimes, l para PortoAlegre, l para So Miguel, fazia aquelas grandes

    reunies. Fazia festa, era aquela mobilizaodoida. A gente reunia os companheiros da reserva,todo mundo, para vir fazer grande reunio,assemblia aqui no centro cultural, apoiadopela prelazia de Tef, aquelas freiras, era festejo.Ns tnhamos a comemorao do Dia doTrabalhadoraqui na sede do municpio, ns fizemosisso uns oito anos, ns fizemos essa festado trabalhador. I nfelizmente no foi possvelmais, porque a igreja que mudou a data do festejo,e o festejo termina no Dia do Trabalhador,ai ficou difcil para ns ficar comemorando o

    Dia do Trabalhador. Mas todas essas festas,toda essa alegria, toda essa partilha que nsfizemospra mobilizar, conscientizar e organizaresse povo, tudo isso marca na nossa mentalidadehoje em dia. E saudade, e alegria.

    Tm as lembranas, tm as coisasque o povo esquece. O que que voc acha

    que o povo esqueceu de toda esta histria?

    O povo esqueceu do caf (risos...). Docaf e de um plantio de andiroba, que nos

    mobilizamosmuito para plantar caf, andiroba ecupuau. Bom, cupuau porque realmente ocaboclo no come nem cupuau, no ligarammuito. Mas o caf eles plantaram, andaramplantando andiroba, depois eles esqueceram,iludidos pelo potencial do peixe e outros ganhosmais fceis, a prpria agricultura. Eles esqueceramda andiroba e esqueceram do caf. Porqueeles acham que esse caf colhido e torrado notem gosto bom como o caf comprado. Entoisso no vingou, as comunidades todo tem caf,l no Piranhas acho que voc viu, tudo foi caf

    plantado. Mas isso no valeu a pena, no.Esqueceram,esqueceram...

    O que representa a histria da comunidadepara as comunidades jovens?

    Porque eles no conheceram essa histria,

    mas eles esto l agora...

    Essa historia ela continua sendo repassada

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    gradativamente, ns continua fazendo reunionas comunidades, repassando, organizando,porque e uma peleja, no se pode parar. Opovo tem uma memria curta, o povo aindano tem uma sade mental muito boa, mas dequalquer forma ainda tem aqueles velhos que

    participava de tudo, eles continuam participando.Tem essa juventude, filhos que esto crescendo,nesse bem-bom que os pais conquistaram.Ento essa juventude hoje eles se sentefeliz e muito seguro da comunidade deles. Hojeeles tem campo de futebol, eles tem toda a alegria,tem os festejos comunitrios, festejo deSanto Isso e Santo Aquilo. Tudo isso da umasustentao de vida plena para os jovens. Tem aescola que esta aperfeioando os jovens..., etudo isso e bom. Os jovens l so uns jovenssaudveis.

    Qual o futuro da comunidade?Qual o seu sonho para o futuro da comunidade?

    O sonho nosso, o grande sonho da comunidadeda reserva ASPROJU, e que ns sejamos pessoasde futuro, porque j que essa reserva e umarea grande, tem um potencial econmico muitogrande, ns precisamos ser um grande cidado,porque temos um econmico muito grandee esse econmico pode ser investido na cidadaniaplena, onde l possamos ter o professor dacomunidade, filho da comunidade, la ns possamoster o tcnico agrcola filho da comunidade,

    possamos ter engenheiro florestal filho dacomunidade, aonde ns possamos ter a nossafabrica de beneficiamento da nossa madeirapara agregar valor a o nosso produto de l, operrioda comunidade. Aonde possamos ter,quem sabe no futuro, um grande frigorfico debeneficiamento de pescado, porque ns temosmuito l na comunidade, onde possamos teruma escola diferenciada, com grande estruturapara melhorar a capacidade profissional dos

    nossos jovens l na reserva, na comunidade.Quer dizer, onde possamos ter vereadores,quem sabe ns ter ate a prefeitura aqui domunicpioa partir da nossa reserva, das nossascomunidades. Esse e o nosso grande sonho, ns

    sonhamos grande, e tenho f em Deus que vamoschegar l.

    Bom, a entrevista termina por aqui,

    eu fico muito agradecido. Algumas palavras

    para concluir?

    A mensagem final que eu tenho a dizer,primeiro: eu peco aos companheiros que estonas lutas pelas conquistas das suas reservasextrativas, que lutem, porque as conquistas noso de graa, mas vale a pena. Lutem porque asreservas extrativistas que esto surgindo noAmazonas, as RDS, os projetos de assentamento

    dos sem-terra, isso so coisas que s vem aengrandecer ns que no somos nada. Porqueesse exemplo que eu lhe digo, porque antes nsno ramos ningum, hoje ns j somos alguma partir dessas conquistas. E tudo o mundosobrevive da terra. A terra e nossa me, a terra enosso tudo, ento vamos lutar com coragem,com dignidade e com benevolncia, porquevamos chegar l. No desistir e sim insistir, quens conquista o nosso espao. Ate porque agorao nosso presidente Lula, o nosso grandecompanheiro,

    que eu sofri muito pelo companheiroLula, hoje eu me sinto orgulhoso por ele estarno poder prestando um bom servio a nossasociedade. Tenho certeza que o Lula no vaivirar as costas para nenhum companheiro queesta lutando organizado por um pedao decho. Vamos a luta com f em Deus, que nsvamos chegar l. Isso e o que tenho para dizer,e eu agradeo o momento. Muito obrigado.

    Miguel [email protected]

    Juta, AM., 2006