Mineração de urânio em Caetité

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Mineração de urânio em Caetité e Lagoa Real: os custos socioambientais da energia nuclear Resumo O presente artigo pretende abordar os impactos socioambientais da mineração de urânio nas cidades de Caetité e Lagoa Real localizadas no Estado da Bahia. Primeiro elemento em que se descobriu a propriedade radioativa, o urânio é a principal fonte de energia para usinas nucleares. Porém, a manipulação e utilização deste mineral podem ocasionar contaminação radioativa, a depender do nível de exposição, em seres vivos ao alterar as funções específicas de suas células, danificando tecidos e órgãos, causando graves doenças como o câncer. O Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do planeta, sendo os municípios de Caetité e Lagoa Real grandes produtores, possuindo juntas uma reserva estimada em 100 mil toneladas do minério, provocando um impacto ambiental nestas cidades que vão da alteração da qualidade do ar, devido a movimentação do solo na mineração, passando pela contaminação radioativa dos mananciais de água, até a depósito de partículas radioativas na vegetação local, além de ocasionar problemas socioeconômico como o refluxo de turistas devido à qualidade da água e a diminuição das atividades agrícolas em função da desconfiança dos produtos originários de solos contaminados. Abstract

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Mineração de urânio em Caetité e Lagoa Real: os custos socioambientais da energia nuclear 

Resumo

O presente artigo pretende abordar os impactos socioambientais da mineração de urânio

nas cidades de Caetité e Lagoa Real localizadas no Estado da Bahia. Primeiro elemento

em que se descobriu a propriedade radioativa, o urânio é a principal fonte de energia

para usinas nucleares. Porém, a manipulação e utilização deste mineral podem ocasionar

contaminação radioativa, a depender do nível de exposição, em seres vivos ao alterar as

funções específicas de suas células, danificando tecidos e órgãos, causando graves

doenças como o câncer. O Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do planeta,

sendo os municípios de Caetité e Lagoa Real grandes produtores, possuindo juntas uma

reserva estimada em 100 mil toneladas do minério, provocando um impacto ambiental

nestas cidades que vão da alteração da qualidade do ar, devido a movimentação do solo

na mineração, passando pela contaminação radioativa dos mananciais de água, até a

depósito de partículas radioativas na vegetação local, além de ocasionar problemas

socioeconômico como o refluxo de turistas devido à qualidade da água e a diminuição

das atividades agrícolas em função da desconfiança dos produtos originários de solos

contaminados.

Abstract

This article seeks to address the environmental impacts of uranium mining in the towns

of Lagoa Real Caetité and located in the State of Bahia. First element in which the

property was discovered radioactive, uranium is the main source of energy for nuclear

power plants. However, handling and use of this mineral can cause radioactive

contamination, depending on the level of exposure in living organisms altering their

specific functions of cells, damaging tissues and organs, causing serious illnesses like

cancer. Brazil has one of the largest uranium reserves in the world, and the towns of

Lagoa Real and Caetité are majors producers of it, owning a combined reserves

estimated at 100 000 tonnes of ore, causing an environmental impact that in these cities

ranging the air quality, due to soil movement during the mining process, , through the

radioactive contamination of water sources until the deposit of radioactive particles in

the local vegetation, besides causing socioeconomic problems such as reflux of tourists

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due to water quality and reduction of agricultural activities on the basis of distrust of

products from contaminated soils.

O urânio e seus efeitos

Descoberto em 1789 pelo alemão em 1789 pelo alemão Martin Klaproth, o urânio foi o

primeiro elemento onde se descobriu a propriedade da  radioatividade. O Urânio é

utilizado em indústria bélica (bombas atômicas e espoleta para bombas de hidrogênio) e

como combustível em usinas nucleares para geração de energia elétrica.

A radioatividade é um fenômeno natural ou artificial, pelo qual algumas substâncias

ou elementos químicos, são capazes de emitir radiações, as quais têm a propriedade de

impressionar placas fotográficas, ionizar gases, produzir fluorescência, atravessar

corpos opacos à luz ordinária etc. Origina-se no núcleo de determinados átomos de

elementos químicos instáveis que liberam muita energia. Os radionuclídeos ou átomos

com núcleos instáveis, que emitem radiação, podem ligar-se quimicamente a outras

moléculas responsáveis por determinados processos fisiológicos, órgãos ou tecidos dos

organismos, uma vez em contato com o corpo humano. Uma das principais

preocupações sobre a exposição humana à radiação nuclear é o potencial risco à vida da

célula. Se a radiação penetrar em uma célula viva, pode ionizar os átomos que a

compõem. A diferença química entre um átomo ionizado e um átomo neutro pode

causar problemas dentro da célula viva, alterando suas funções específicas.

Os efeitos da radiação são divididos em duas categorias. A primeira consiste de

exposição a altas doses de radiação em curto espaço de tempo, produzindo efeitos

agudos de curta duração, podendo matar muitas células, danificando tecidos e órgãos e

provocar uma resposta rápida do corpo, conhecida como Síndrome de Radiação Aguda.

A segunda categoria é a exposição à baixas doses de radiação num período de tempo

mais extenso, produzindo efeitos crônicos ou de longa duração. As baixas doses

recebidas num longo período não causam um problema imediato e ocorrem no nível

celular. Os resultados podem ser observados depois de muitos anos. Em resumo: altas

doses de radiação tendem a matar as células, enquanto as baixas doses tendem a

danificar ou modificá-lasi.

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Urânio no Brasil

O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de urânio o que permite o

suprimento das necessidades domésticas em longo prazo e a disponibilização do

excedente para o mercado externo. As Indústrias Nucleares do Brasil (INB), empresa

mista vinculada à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e subordinada ao

Ministério da Ciência e Tecnologia é responsável pela pesquisa e mineração em três

áreas: Caetité, na Bahia; Caldas, em Minas Gerais e Itataia no Ceará. É encarregada,

por lei, de promover, no País, a exploração do urânio, desde a mineração e

beneficiamento primário até sua colocação nos elementos combustíveis que acionam os

reatores das usinas nucleares. O Brasil possui possui a sexta maior reserva geológica de

urânio do mundo. A reserva brasileira é estimada em 309,3 mil toneladas, segundo a

INB, que usa dados referentes a junho de 2001. As principais jazidas do país estão nos

Estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais e Paraná. Em Itatiaia (interior do CE), está a

maior reserva de urânio do país (142,5 mil toneladas).

Distrito Uranífero de Caetité e Lagoa Real

Na Bahia, as reservas - estimadas em 100,7 mil toneladas - ficam nos municípios de

Caetité - distante 757 quilômetros da capital do estado, Salvador e com uma população

em 2006 de 48.000 habitantes - e Lagoa Real, emancipado de Caetité em 1989 com

população, segundo dados do Censo do IBGE em 2007, de 13.795 habitantes. Ambos

Localizados na Região Sudoeste do Estado da Bahia, cravados no sertão baiano, ainda

dentro do Polígono das Secas e integrados às bacias hidrográficas dos rios São

Francisco e de Contas. Suas minas de urânio foram descobertas em 1976, começando a

ser de fato exploradas no início dos anos 2000, sendo a única unidade mínero-industrial

de urânio em atividade no país. Ali começa o primeira fase do longo ciclo da energia

atômica no Brasil que alimenta as usinas nucleares em Angra dos Reis, no Rio de

Janeiro. Inicialmente com uma lavra a céu aberto na jazida, o complexo instalado

produz um pó do mineral, conhecido por yellow cake.

Impactos ambientais

i http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/Bio.html

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O urânio é um metal pesado, composto por moléculas particularmente resistentes à

degradação química e bioquímica e apresentando uma longa vida no solo, nos

sedimentos e na água. Quando o urânio é extraído os detritos dos processos químicos e

mineralógicos contém pequenas quantidades de urânio e outros rejeitos radioativos. Os

impactos ambientais e sociais da energia nuclear começam com a extração do urânio,

continuam à medida que é enriquecido para a fabricação do combustível nuclear,

finalizando com os rejeitos radioativos.

O projeto de exploração de urânio em Caetité já previa diversos impactos, entre os

quais:

a) alteração da qualidade do ar, graças às emissões atmosféricas decorrente da

movimentação dos solos e do desmonte de rochas na lavra, originado quantidade

significativa partículas no ar, que podem ser transportados pelos ventos atingindo o

meio ambiente, e, conseqüentemente, o homem;

b) contaminação dos mananciais subterrâneos com alterações das suas propriedades e

potabilidade. O estudo previa que o controle sobre a qualidade da água deveria ser

constante e os dados periodicamente informados aos usuários e à comunidade em geral;

c) deposição de partículas comuns e radioativas sobre a cobertura vegetal.

O histórico de acidentes, vazamentos e eventos ocorridos ao longo dos anos na unidade

da INB em Caetité mostra que a previsão estava correta

Incorporação de urânio por habitantes de Caetité e Lagoa Real

Os elementos radioativos alcançam o interior do corpo humano quando ingeridos

através de alimentos e da água, inalados, absorvidos pela pele ou mucosas, ou quando

administrados em exames que utilizam esses materiais. No caso de liberação de urânio

ao meio ambiente de Caetité e Lagoa Real, esse elemento é ingerido diretamente através

da água contaminada e de toda a cadeia alimentar por meio de vegetais, do leite e da

carne. Em Caetité, metade dos 46 mil habitantes do município vive na zona rural, onde

criam gado, plantam mandioca, cana-de-açúcar, feijão, milho e outros produtos. Há

ainda um grande consumo humano e animal de água de poços artesianos e de um riacho

que atravessa a mina de urânio, o Riacho da Vaca.

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Apesar da previsão no próprio projeto de exploração do urânio prever a disseminação da

radioatividade e o apesar de o senso comum ter a percepção da forte incidência de

neoplasias aumentou, até hoje Caetité não dispõe de um centro de diagnóstico, controle

e tratamento de câncer. Os casos são encaminhados aos municípios de Guanambi,

Vitória da Conquista e até mesmo Salvador para diagnóstico e tratamento e não há

preocupação em notificá-los. Os índices de incorporação de urânio por habitantes de

Caetité foram cerca de cem vezes maiores do que a média mundial. É evidente o fato de

que a maior proximidade com a extração e processamento de urânio, operada pela INB,

resulta em maior contaminação ambiental e humana.

Conseqüências imediatas

Em novembro de 2008 O Instituto de Gestão das Águas e Clima (Inga), da secretaria de

Meio Ambiente da Bahia, divulgou o resultado das análises em amostras de água da

região de Caetité e Lagoa Real. Dos sete poços analisados, um apresentou contaminação

por urânio em limite acima do permitido pela resolução do Conselho Nacional de Meio

Ambiente (Conama). O Inga fez a coleta em pontos usados pela população do município

para consumo e uso na lavoura.

O relatório do Greenpeace também aponta irregularidades como ausência de

treinamento e de equipamentos de proteção para os trabalhadores nas minas, com

inúmeras ocorrências de contaminação, vazamentos de tanques e altas taxas de

incidência de câncer na região. O transporte do urânio também é feito de forma

inadequada, e o tempo de permanecia na área portuária é maior do que o permitido além

de não ser realizado por pessoas capacitadas lidar com material radioativo.

Além da contaminação, os moradores passaram a sofrer com outros problemas. Turistas

têm evitado passar próximo à cidade, com medo de consumir água do local, e os

produtores não estão conseguindo vender suas mercadorias em feiras, um enorme

prejuízo à economia da região,

Conclusão

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Os fatos expostos evidenciam os riscos e o marketing enganoso que é realizada pelos

defensores da energia nuclear em torno da idéia de que o urânio não oferece riscos e a

situação está sob controle. Os casos de Caitité e Lagoa Real demonstram que os

impactos sociais e ambientais do setor nuclear começam na origem, ainda na extração

do urânio, acompanhando todo o ciclo, da extração, passando pelo transporte,

armazenamento, bem como nos resíduos. Desta forma, a aplicação de políticas

ambientais mais efetivas que priorizem a qualidade de vida do cidadão e protejam a

natureza, bem como de uma política energética que priorize as renováveis e limpas são

fundamentais para a que casos como os destas cidades baianas deixem de existir,

colocando assim o interesse público, ou da coletividade, acima do de grupos

econômicos e escuso ao bem estar do meio ambiente e conseqüentemente da sociedade.