Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

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" GEORGE ANDRADE SODRÉ

I . . -- -- ._ ..

, ~: DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

I

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COMISSÃO EXOClfllV AI)() PLANO I)A t.A VOURA CACAUBIRA - CEPLAC Órgão Vinculado ao Afinistério da AgricoJtum

Pn::siJeute: Íris Rezende Machado, Ministn) da Agricultura; Vicc-Presidenlc: Nmnir Salek, Diretor da CACE X ; Sccretário-Genl: JoaquiIn Cardoso Filho; Secrethio-(JcraJ-Adjw,w: José Carlos Silnões Peixoto, llíreio Isnlar Santana Ferreira, Carlos Augusto Farias I\lves: (~oorcJe­Dadores Regionais: Carlos Viannn Dias da Silva, Hennínio ~laja R(~cha.

SÉRIE I)IDÁ1'1ICA

Publicação editada pelo Dcpartll111t!Bto de Educação da CEPLAC- DEPED cor)) ohjetivo di­dático- pedagógico de divnlguf trab,tlhos t&~nicos de assuntos relacionados às disdpHnas de ,,:ursos profissionalizantes de Agropecuária, Agrinlcnsura, Tecnologia de Alinlentos e Econo­nlia Donléstica, para nprimoraIuento do processo ensjno-aprcndizagcJn dos estuJnntes da.~ Ef\1ARC's - Escolas tv1édias de Agropecuária Regional da CEP,lAAC.

Oiefe do DeptU1amCnto: AItenidcs CaJdeir.:l f\..1oreau; Ctk-:fe-Adjunto: Raitnundo Bonfhn dos Santos; Administradores das liMARC's: Márcio Luiz dos Santos, Uruçuca; Honaldo Costa Ar­golo, Itapetinga; Jonildo G. L. Moraes, Valença; Joaquhll Ranlalho Souza, Teixeira de Freitas.

Endereço: Departatnento de Educação da CEPLAC; Caixa Postal, 7; CEP: 45600, Itahuna­Bahia.

Sodré, George Andrade Minhocas: biologia, comportatnento e sistemas

de criação. llhéus, BA, Brasil, CEPLAC/DE-

PED, 1988. 24 p. (CEPLAC/DEPED, Série Didática, 6) Inclui bibliografta.

1. ~1inhoca. I. Título

o CDD 639.7546

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( / CEPLAC -, -',,--- -----: o C()~1ISSÃ() EXE(:UTIVA I)() PLAN() I)A LA V()UI{A (~A(:AUEIRA

Vinculada ao Ministério da Agricultura

l)EPARTAMEN'I'C) 1)1: EI)U(~A~'Ã() EMAR(: - Jtapetinga

MINHOCAS: BIOLOGIA, COMPORTAMENTO E SISTEMAS DE CRIAÇÃO

George Andrade Sodré

ILJ-IÉUS - BAI~JA - BRASIL 1988

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íNDICE

Apresentação ........................................ 03 Introdução .•.........................•.............. 05 Biologia e comportamento das minhocas . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . 06 Reprodução das minhocas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08 Espécies ..................................•........ 10 Importância agronômica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . • . . . . . . . . 12 Criação em valas . . . . . . . .. . . . . . . . . . • . . . . . • . . • . . . . . . • . . . . 16 Criação em Canteiros . . . . . . . . . • . . . • . . . . . . • . . . . • • • . . . . . . . 18 Criação em tonéis de cimento . . . • . . • • . • . . . . . . . . . . . . . . • • • . . • 19 Vermicompostagem .•..•.....•••.........••••••••••.•.• 20

Inimigos naturais das minhocas . . . . . . . . . . . . . . . . • . . • . • • • • • • • • 21 Determinação prática de umidades e temperatura usadas nos diferentes

sistemas de criação de minhocas . . . . • . • • . . . . . . • . • • • • • • . • . . . . 21 Considerações finais ....••....••..•.••... '. • . . . . . . • • . . . . . . 22

Referências bibliográficas . . . . . . • • . • . . • . . • • • . • • • • . . • . . . . . . . 22

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APRESENTAÇÃO

Bovinos, equlnos, aves, coelhos etc. são espécies conhecidas de anirnais cria­

dos em cativeiros por todo o planeta. Entretanto, existe um tipo de pecuária especial chamada de vennicultura ou minhocultura que pode ser considerada a rnenor de todas as criações conhecidas. Trata ~se da criação de minhocas. Mas qual seria o objetivo de tal criação e por que se fazer um estudo sobre criaçãü de minhocas? Este trabalho pretende informar e abrir carninho pôra urna aúvi­dade agropecuária executada já há muitos anos ern pa íses da EuropéL l~sía, Amé­rica do Norte e também em algunlas regiões brasileiras; justificando-< se devido a falta de material bibliográfico no que se refere à Biologia, comportamento e técnica de criação de minhocas.

Não seda impossível imaginar que a Região Cacaueira, tradicionalmente con­

sumidora de fertil izantes qu{m icos, passasse também a produzir biofertilizantes

ou hÚnllJS de minhoca, que seria utilizado na fertilização das áreas onde se culti­va o cacau e outras culturas ou ainda para criação de aves, coelhos e peixes. Este inforrnativo, presta-se a alunos, agricultores, técnicos e outros que tenham in­teresse por esta extraordinária espécie animal r pois apesar do pouco reconheci­mento que lhe é dado, tem a capacidade de preservar e fertilizar . o solo, suporte indispensável ao crescimento e desenvolvimento dos vegetais e animais da terra.

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Altenides Caldeira Moreau Chefe de Departamento

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Minhocas: Biologia, Comportamento e Sistemas de Criação

.. George Andrade Sodré

INTRODUÇÃO

A inlportância da minhoca como aninlal que leva vida no solo foi recor1hecida desde os tempos mais remotos da história do homenl. Para se ter uma idéia veja ~

rT10S então: No Antigo Egito os Faraós puniam corn a nl0rte quern se atrevesse a matar

minhocas; A Rainha Cleópatra, fanl0sa por sua beleza, mandou gravar em pe­dra na parede de uma pirâmide, um agradecirnento especial do povo egípcio às minhocas, pois sabiam da suprema capacíddde do animal para transformar em húmus toneladas de matéria orgânica, depositadas às fllargens do Rio Nilo, em conseqüência dos seus transbordamentos periódicos. Os gregos também soube­ram reconhecer o valor da minhoca e Aristóteles, eminente cientista da antigui­dade, cognominou as minhocas de "INTESTINO DO MUNDO" por sua ação transformadora e melhoradora de materiais orgânicos através do húmus liberado em suas excreções.

Mas foi, sem dúvida alguma, o consagrado naturalista inglês, Char ~es Darwin,

que, dedicando nlU ;tos anos, de seus estudos a estes vermes, enfeixou nurn livro

em 1881, conhecimentos curiosos e inlportantes sobre a Biologia e a Relação en­

tre Minhoca e a Agricultura. Dizia Oarwin: "É de extraordinária beleza e impor­tância a tarefa vital real izada por estes seres ao seio da terra, comendo e humifi­

cando continuamente toda sorte de materiais orgânicos. Admirava~se também

com a capacidade que eles têrn de poder apanhar pequenos resíduos encontrados

na superf ície do solo e os transportar para a abertura de suas tocas sem contudo introduzir ern suas galerias objetos corn maior dimensão que o diâmetro do canal aberto no solo. Não seria portanto nenhum absurdo afirmar·se que a nlinhoca é o precursor do arado, visto que muito antes da invenção deste implemento agr ícola elas já realizavam o trabalho de revolvimento do solo resultando em melhorias

na sua estrutura física.

Sabe-se que a grande maioria dos solos agricultáveis do mundo podem ser

recuperados por meio das minhocas e que para tanto a quantidade desses animais

seria gigantesca. Conscientes dessa realidade países como Estados Unidos, Japão

e Itália estão produzindo milhões de minhocas com esta finalidade. Para se ter uma idéia a I tál ia, urn país com dimensões territoriais menores do que o Estado

de São Paulo, possui hoje, pelo menos uns 150 mil criadores de minhoca. No Brasil, segundo o professor F. Fernandes "corre-se o risco de ser taxado de louco

,. Eng lJ Agr6nomo, CEPLACIOEPED - EMARC - Itapetinga/BA

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ou de cair no ridículo e ser tratado com ironia por alguns, quando se procura fa­lar e exaltar a inlportância das minhocas para a agricultura". MesrllO diante da afirmativa do professor Fernandes já existenl no Brasil grandes criadores como é o caso do agricultol paulista Lino Morganli que resolveu abandonar os 3.500 bovinos que criava na sua fazenda ern Itu- São Paulo e passou a criar minho­cas sendo hoje uln dos rTlais bern sucedidos criadores do Brasil, a ponto da Revis­ta Globo Rural Ano I n <? 1 de outubro de 1985 dedicar uma reportagem especial sobre o trabalho desse criador. Outra experiência bem sucedida vern acontecen­do ern Divinópolis, cidade mineira perto de 8elo Horizonte, onde a Prefeitura está criando fllinhocas brasileiras e aproveitando o hú,nus na horta cornunitária

da cidade.

BIOLOGIA E COMPORTAMENTO DAS MINHOCAS

A minhoca pertence ao Phylum al1nelida ou .anelídios; é considerada um ver­me anelado, tendo o seu corpo dividido ern anéis ou segnlentos; cada anelou seg­rnento do corpo é charnado de METÁMERO: o termo originou-se do tipo de segmentação observado nos anelídlos que se chama METAMERIA. O número de anéis varia de acordo com a espécie e idade do anirnal. Cientificamente as minho­cas são denominadas oligoquetas (olygochaetas), do Grego Oligos ~ poucos e chaeta = cerda. Cada cerda é Ulll fino bastão situado na superfície do corpo e que serve como ponto de apoio do anínlal durante a sua 10COlllOção. O deslocarnento das minhocas é pro'l1ovido pela contração dos segmentos do seu corpo, apoian­do-se nas cerdas que servern conlO ganas de fixação e apoio; é por isso que ao tentarmos reti rar à força \ rn inhocas parcialrnente expostas na sa í da de suas galerias é muito freqüente parti -Ias pois que se valem das cerdas para resistir à tração exercida. Os nlúsculos da rninhoca são poderosos; acionando-os, ela con­segue cavar ga ler i as rnesrno enl aryi la e erl1 ter, as bern compactadas, podendo adrninistrar o seu cor po tornando-se rnais fín~ ou mais grossa conforme a necessi-dade do mornento. '

Embora de aspecto aparentemente sirllples, a rninhoca é anatomicamente muito nlais complexa do Que aparenta; te"l unla organização f ísica perfeita e adequada ao meio ambiente interior do solo onde se desloca COfTl surpreendente desembaraço. São animais palCül"nente dotados de órgãos dos sentidos. Não ou­vern, não têm dentes, possuern olfato muito fraco e não apresentam olhos, que não lhe fazeol falta nos locais escuros e úmidos por onde tran~ita. Na pele do dorso existem cavidades ou poros denominados C'ELOMAS que são revestidos por um Ifquido que funciona como esqueleto hidrostático permitindo con­trações musculares, auxiliando a movimentação do animal e garantindo a estabi­lidade das parede$ dos canais que são abertos no solo agindo como agente címen­tante. De acordo com MEINICHE. C, liA pele é úmida em parte pelo muco se­cretado por células glandulares e epiteliais e pelo líquido celomático eliminado

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através dos poros e em parte pela própria um idade da te" a" . I sto talvez expli­

que o porquê das minhocas não se desenvolverem bern em clirna árido, onde a

precipitação pluviométrica é inferior a 370 mil ímeHos por ano. Quando chove

rnuito e o chão fica encharcado, as minhocas saern para a superfície; não devido

à presença excessiva de áçJua mas sirn pela falta de oxigênio e pelo normal aumen­

to de gás carbônico el irninado pelos fnilhões de rnicroorganisrnos que o solo

abriga. , O sisterlld digestivo de uma minhoca é do tipo cornpleto. Trata -se de um tubo

retilíneo, localizado na parte central do COlpO e constituído por:

a) BOCA. A cavidade bucal é bordeada por urna ~Jrande quantidade de cílios e

apresenta lábios bem visíveis. Próxirno à boca a rninhoca possui glândulas calcífe­

ras, cuja secre<;ão neutraliza a acidez dos .natel iais orgânicos hurnificados dando

caracterís1icas neutras (pH.7) ao matf'tídl f!Xlletado.

b) FARINGE. Funcionando corno urna bOfnba de sucção dos alirnentos.

c) ES6FAGO. Pennite a passayenl do nlaterial ingerido.

d) PAPO. Sua função é armazenar os alirnentos.

e) MOE LA. Tritura os alirllentos coro poderosas contrações funcionando co-

rno se fosse urn rnoinho.

f) INTESTINO. Onde acontece a absorção dos alimentos.

g) ÂNUS. Or if ício por onde são liber ados os restos da digestão.

A nlinhoca alilllenta-se de detritos veyetais, éJnirnais e microorganisnlos; possui

digestão extracelular que é feita pur enlirnas fabricadas nas células glandulares

da parede intestinal. O rnater ial digerido é absorvido por vasos sangu íneos si­

tuados no intestino e os restos são eliminados pelo ânus. As minhocas são mui­

to vorazes engolindo grande quantidade de alimentos por dia (quantidade

igual a seu peso) e degetando eOl rnédia de cada vez u 01 terço da capacidade

de seu intestino. ()s excrenl~ntos são depositados na superf ície do solo, for­

mándo rnon1 ículos de formas caracter ísticas os quais receben1 o nome de copró­

litos (efll inylês "CASTING"). Os coprólitos contém nutrientes de plantas em

maior concentração que o material que lhe originou; isto acontece devido ao fato

do coprólito estar agora rnisturado com a matéria orgânica e mais as secreções

intestinais e urinárias; o coprólito é o próprio húnlus da minhoca. É importante

ressaltar que este húmus é um tipo de material e o esterco de animais outro

tipo; variam então no que se refere à textura, pH, teor de umidade e quantidade

de nutrientes.

O sistema circulató, io das minhocas é do tipo fechado, ou seja, o sangue só

circula no inter íor dos vasos sangüíneos. Na região dorsal do corpo pode ser

visto externarnente por transparência, um vaso longitudinal dorsal localizado so­

bre o intestino; na regíão ventral há dois vasos longitudinais ventrais. Entre os

dorsais e ventrais, há vasos circulares, que dado ao seu grande poder de contra­

ção, são denominados corações laterais (são ao todo cinco pares). O sangue é

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constituído por um plaSl11a I íquido contendo amebócitos incolores anucleados. A hemoglobina, pigmento respiratório, encontra-se dissolvido no plasrna e dá cor vernlelha ao sangue; este pigmento é responsável pela condução do oxigênio absorvido ou do gás carbônico eliminado pela epiderme. As minhocas são ani­rnais pecilotérmlcos (de sangue " frio) e a respiração é feita pela pele (cutânea);' a troca de gases dá-se pela superfície do corpo, para isso é, contudo, importan ­te que a superfície do corpo esteja umedecida, u que faci lita a difusão dos gases.

As minhocas desempenham atitudes que levanl a crer nurna atividade cere­bral conl vestígios de inteligência; o sistenla nervoso é lormado por gânglios ce­rebrais e por uma cadeia nervosa central. A sensibilidade está a cargo das célu­las sensoriais da epiderme que respondenl a estírnulos de ordeln luminosa, mecânica,ténnica e qu írnica.

As excreções são feitas por estruturas denominadas nefrídios, dispostos em un) par por segrnento; cada nefr ídio é envolvido por uma estrutura denominada novelo de capilares, o que lhe pernlite retirar excreções diretamente do sangue.

Uma interessantíssima faculdade muito desenvolvida que possuem todas as minhocas é a de poder regenerar boa parte do corpo quando perdem-na por aci ­dente. Essa faculdade é apresentada em grau mais acentaudo no extremo poste­rior do corpo do animal, onde grande núrnero de segmentos pode ' facilmente regenerar-se. Segundo F. Fernandes "se cortadas em du~s partes)a anterior sobre­vive porém não procria".

O geotropismo positivo - tendência de se aprofundar verticalmente - é carac­terístico entre as minhocas. Outra tendência natural é a tigmotaxia positiva, ou seja, entrarem em contato com objetos juntos às paredes de suas galerias subterrâ­neas. A aversão à luz, principalmente às radiações ultra-violeta é chamada fototaxia negativa; diz-se então que as minhocas sofrem de fotofobia e que por­tanto são lucífugas temem ~ presença de luz, sendo que para observá-Ias é preciso usar luz infra-vernlelha, que não as perturba. Quanto rnenos pigmentadas mais avessas serão à intensidade luminosa.

REPRODUÇÃO DAS MINHOCAS

São vermes hermafroditas ou monoícos, pois possuem os dois aparelhos reprodutores, feminino e masculino em um mesmo indivíduo; todavia, as minho­cas não se autofecundam; para haver fecundação é necessário que duas minhocas se justaponham, realizando numa cópula recíproca a perfJ1uta de espermatozói­des. O aparelho reprodutor masculino apresenta dois pares de testículos, localiza­dos ventralmente na região anterior do corpo. O aparelho reprodutor feminino apresenta dois ovários, localizados no metâmero anterior ao clitelo. O cl ítelo é uma área localizada na parte dianteira do animal apresentando coloração esbran ­quiçada e muito parecida com um gomo entumecido. A reprodução dá-se pois

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BOCA ----___ cíLIOS

CEFlDAS -:. ---"

,

____ ()fiIFíCIO FEMININ()

-- CUTELO

... -fts ... e

Figura 1 - Biologia, Comportamento e Sistemas de Criação.

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pOl fecundação cruzada entre dois indiv íduos que se unern pela região do clitelo,

tI ocando espernlatolóides; após a troca os aninlais se separarn.

Após d tecundaçá'o dos óvulos, forméHn ·se os ovos que são protegidos por urna

calnada .nucosa ger ada pela secreção de certas glându las; essa canlada vai se

enrijecendo, dando corpo a uma espécie de estrutura denominada ooteca ou

casulo, no interior da qual os ovos to,a"l depositados . A etapa seguinte ca.acte

fiza -se pelo desprendimento I do casulo que sendo liberado pela minhoca é

depositado nu solo; de cada ovo feclJ ndado, desenvolve·se um animal, não haven ­

do fases larvárias. Os ovos receUefll o florne especial de CONCON e eclodem den

tro de vinte a tr inta dias I iberando até vinte vernles por casulo. Ouarenta dias

após il eclosão dos ovos as nlinhucas já entrarn na fase de rnaturidade, podendo

se reprodulir apesar de que o estado adulto só será alcançado aos cento e oitenta

dias. O tempo rnédio de vida dd Illinhoca é de dois a quatro anos,' algumas espé

cies, cOlno a Eisenia foetida, che~ja,n a viver dezesseis anos . As m inhacas geral ·

mente uti lizan1 do tato que é rnuit·o desenvolvido na procura de sernelhan1es

reprodutivos, O acasalamento das n1 illhocas OCOI re quase sernpre à noite quando

elas vêm à superfície do solo; aliás, estinlar proliferação de rninhocas é muito

difícil pois depende da ocorréncia sinlultânea de vários fatores destacando-se

principalrnentc: a espécie, o clinla, pH do rneio, terTlperatura e disponibilidade de

alimentos. Observou·se que P-In ternperaturas n1u;to frias próximas a zero grau a

população tende a diminuir sellsivelnlcnte devido à quase paréjlisação do seu nle­

tabolismo e que na falta de urnidade podenl vir a rnorrer devido ao agravarnento

das condições respi, atórias.

ESPÉCIES

At.uahnente existern classificadas UfTl número ern torno de 8.000 espécies de

Illinhocas, que habitarn quase todas as regiões do Globo Terrestre, desde os arTl

bientes rnarinhos, salobros, até as rarefeitas altitudes de 9.000 f H do Evereste. Enl

certos arnbientes poluítJos e normalmente proibitivos para a sobrevivência da

maioria dos seres, encontr am-se espécies singulares que se adapl anl à saturação

de OOT de até 100 mg/kg, ou à elevada presença de vinhoto das usinas de açú­

car, até meSfl10 aos teor~s de ácido su If ídrico despejado CUfll os resíduos indus

triais de certas indústrias têx teis. Algumas espécies, segundo parece, eram pecu ­

liares e específicas de determinadas regiões do Globo; entretan10 foram sendo

disseminadas por todos os continentes, misturadas às plantas tran~portadas. Ou t,.as selecionadas para programas dirigidos de aclimatação, hoje pr oliferaln enl

quase todo o planeta; é o caso da Pherethima, oriunda da Ásia e do Havaí e que a

esta altura é encontrada em todo Continente Americano, do Norte éiO Su t.

Certas espécies mal alcançam uns poucos milímetros de corflp";fn~nto corno a

Marionina pituca, brasileira; porém há minhocas consideradas gigantes e que po-

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de", cllflqar a dois rnetr os de cornpt ílnento, como a Rhinoari/os fafner e Rhinó­

lIri/l/::> a/ata conhecidas conlO MinhoclJ<;us. No rnunicípio de Ibirá - São Paulo,

é enconll tida a (;rossosco!e .\ ihirae, corTl cel ca de 50 cent í.lleHos ern média.

SU9lJIHfu () plofessol E . Klehl "a~ IJ,ínhocas fJodern S(H agrupadas de acordo

corn ~)lId color açfio, vel fllellla e cinzenta. Do grupo píglnentado de vermelho

desttJciJfJl se a ;llinhoca vellnelha LUfnhricus rube/lus e a nlinhoca de esterco

ou rnintl<)ca fétída Eisenia {oetida; du ~J'lJpO cínzento,a minhoca do carl\p~ Alio·· lophora caliginosa. "Destas cítadas J a Eisenia fóetida} apelidada corno verrnelha

da Cdlífór niéJ é d rllais estudilda, pesquísada e CI iada ern todo o rnundo; são

assirn CUlltH~cidilS pois foi na Califórnia, E U. A., que, por volta de 1930,desen­

volveu se urn projeto pai a Cf iação elTl ('Jl iv(~i,.o objetivando Iungevidilde, bons

índic(~s de H~pr odução belll COllhJ a pt OdlH;:â'O de húrnus. Urna olinhoca verrnelha da Califórnia adulta nlede 12 centlrnetlus, pOlélll, chega a 22 cent{rnettos quan­

do esticddo dO nláxinlO; possui dlarnt:lf() ,nédio de 3,5 mil írnetros, variando sua

espessura, Inilis fina parte poste, iUI do cur po, engrossando na parte anterior. Sua ternperilluféJ corpórea é de 19,2 graus centígrados; noutros países, chcfJa a pesar no n.áxirno 1 gran'éJ, entretanto nu B, dsil, chegou SH a pesar urlla corn 1 granla

e quatrocentos. A rninhoca vernlf~ltla da Califórnia nansfornr(1)díétt iarllen1e, 60%

do seu peso cru ,natéria orqanica (húrnus) e apenas 40% reserva pala sua sobre­

vivência _

() g,and(~ interesse dos criauores pelas calrfo.nianas, deve-se ao fato de que

esta espécie é a rnaís produtivéi entre as flllnhucíJs trabalhadas (tTan~tOtrna rnais

,apidarnente a ntatér ia orgânica), o seu te,"po de Vida é fllais longo (erll fl)édia

16 anus), alérn disso, reproduz-se rapida,nente pl incipaltflcnle na presença de

bastante Il1alérla orgânica e boas condições de terJlperalura e urnidade. 1.000

destas rJlirattucü!> aduhüs, p,.odulefll outras 200000 rninhocilS adultas e 800.000

casulos e ovus por ano. Elll dois anos este núnHHO se eleva à espantosa cifra de

urn bilhão de rninhocas, cdsulos e ovos. Ao rneSIHO tefflpo cru que se .nu I tipli · calll rapitJé.u nen te

As rninhocas b. asilei r as rendern rnenos ern terrnos de produt ividade quando compariJdas às californianas, possuern pele rnenos resistente e vivenl enl rné­

dia 3 anos, o l.Ju~ não dírn inu í a inlportância agr o"ôlllica das espécies flae io

nais. Para se ter urna idéia o Departarnento de Zooloyia da lJniversidade de

São Paulo, através dos trabalhos do professor Gilberto Richi, estudou até o

momento 835 espécies de rninhocas brasileiras; o p' otessor acredita que, rnes­

mo sendo mais lentas a preferência do ct iadol deve r ecair sobre as espécies

nativas urna vez que espécies exóticas podenl causar algunl tlJJO de desequil; ­

brio ecolóyico, porque será sernpre um elernento esll éU lho ao arnbiente flat ivo.

A rninhoca brasileira rllais conhecida é provavelflH~flte a chafnada IIMI NH()­

CA LOUCA", IIMINHOCA BRAVA", "BAILAHINA" ou "MINIHJCA DE

PESCADOR"; os nornes caracteristicos deve'Tlse ao falo de que ao se. ar ran -

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cada do solo, fica pulando e retorcendo-se toda; pertence ao gênero das phere­

tl1imas,"é UIJléJ minhoca unl pouco mais gross\:.t e de coloração 1l1ais escura do que a vernlelha da Califórnia, sendo que a espécie de maior destaque é a Pherethi­

fna hawavalJa. Ouando o objetivo da criação é alirnentação de rãs, as espécies Pherefhi,na

diffigens e PherethÍlna huperensis são as mais procuradas pelos lônicultores, devido a sua robustez, grande adaptabilidade e coloração tendente ao Vern"lC

lho, caracte. ísticas que as tornarn alvo id(!al para o glutonismo das lãs. SeHundo F. Fernandes "seja qual tor a espécie de minhoca, todas elas po

denl ser utilizadas para diversas finalidades, além de recondicionar e enriquecer os solos a9" ícolas~ corno isca · para peixe, na alinlentação direta de rãs e aves,

no fabrico de rações para aflilnais, na produção de húmus ou corno fonte de

pl olel'na e rnuilas outras final idades",

IMPORTÂNCIA AGRONOMICA

A rninhoca trabalha cavando yaler ias no solo ou no composto organlco e

afastando e consolidando as paredes do canal, ou então, engolindo partículas e moendo-as no tubo digestivo pelo efei to de contrações; havendo terra junto

com a matéria orgânica os gr ãozinhos de areia terão função abrasiva, ajudando

a triturar o alimento; as m-inhocas são oníveras, alimentando-se tanto de res­tos vegetais como de animais; comern tolhas, sépalas, ~r'amos, bichinhos, con-

( . chinhas de moluscos terrestres, pedacinhos de ossos e até mesmo outras m inho-cas menores; são pois animais canibais. O material que realmente predomina

na dieta das rn inhacas é a nlatéria orgânica tanto na forma de estercos como na forma de cornpostos previamente fer mentados, desde que não sejam muito áci­dos ou corn cheiro pronunciado.,

Perfurando o solo e fornlando galerias as minhocas melhoram considera­velmente as própriedades físicas dos solos. Os desmoronamentos das velhas galerias provocam movimentos constantes na terra vegetal, se bem que lentos, atritando ao mesnlO tempo uma parede contra a outra; por conseguinte, novas superf ícies são continuarnente expostas à ação do ácido carbônico e do ácido

húmico existente no solo, contribuindo para a decomposição das rochas. As galerias que geralmente penetram no solo perpendicularmente, ~tingen1 a pro­fundidade de 1,5 a 1,8 metros e contribuem por sua vez, eficazmente, para a drenagem da água das chuvas : Ievando-a~ para as camadas profundas; as galerias permitem ao ar atmosférico atingir o solo mais profundamente; elas facilitam muito a descida das raízes de tamanho moderado; estas rarzes, insinuando· se pe­

los canais, vão absorvendo o material humoso que as reveste e facilnlente atin­gem as profundidades do solo; as galerias permitem a absorção e retenção das

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águas de chuvas, favorecendo o desenvolvilnento da flora bacteriana pela aera­ção, aUIlH~l1tando o poder nitr iticante dos solos.

Hesultados dt! pesquisas fllostfilrn que a pUI usidade do solo aumenta graças

às rninllocas, de 57,1 a 59,8%; a per rneabilidade para a água aunlenta de 2,9 li· tros pUI 10 hOI üs, para 74 litros; aurnenlo da pellllHalJilidade ao ar de unla vez e 'lleia e duas veles e alJrnento do conteúdo de bactér ias nitrificanles ern cinco

vezes nlais1se cornparado cOln o solo original. . _ • Ao InCSlno terllpo que se rnultiplicam rapidanlente as minhocas vão produ·

zindo uln pl ecioso hÚlfllJS pela contínua ingestão e excreção de rnateríal olgâni

co (unido , Este hÚnllJS produzido pelas minhocas revelou -se rico ern bactét ias aeróbicas, nitrobactérías, clost. idiurn e rnuitos outros ,nicroo,.yan;slTlos e enzi ·

rllas que facilitarn ~ assírnilaçãu d~ nutrientes pelas laíles das plantas. Unla análise desse húnlus ,cvelou 30 a 50% a ,na is de .llalé, ia orgânica, cinco veles f'llais nitrogênio, duas vezes rnais cálcio, duas vezes rnais nlagnésio, sete vezes mais fósforo e onze vezes nlais rico e,n potássio quando comparado conl a Cél

.nada nalul ai do solo; possui urnidade em torno de 50% e pH 7, ou seja, não tern acidel, resultado da açfio de glândulas calcíferas existentes pr 6xirno à boca da nlinhoca que neutraliza a ação dos ácidos orgânicos hUrTlificados. O húrnus da fTl ~nhoca apresenta alta capacidade de tr oca catiônica (eTC).

A conlposição do húmus, enl geral, varia de acordo com o material utílilado para alimentar as minhocas. DanlOS a seguir e con10 orientação, o reSlJ itado de

Uflla análise do hú,nus.

ELEMENTOS:

Unidade pH Cinzas Matéria orgânica Húmus total Nitrogênio An idrido fosfórico

Óxido de potássio

Car bono tOlal

Cálcio

Magnésio Ferro em pp fTl

Manganês ell} PP m Cobre ero pp m Boro enl pp rn

% DO PRODUTO NATURAL

54,76 7,9

27,79 17,45 6,80 0,76 1,24 1,80 3,22 1,18 0,40

210,40 77,30 12,40 3,10

Extra(do do livro: Criação de Minhocas -- Autor - Márcio Infante Vieira.

13

Page 15: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

Segundo F. Fernandes "a presença de fninhocas nos solos agrícolas é unla in dlcacão de sua fertilidade. Nos solos agrícolas 1l1al Inanejados, que perderarn a vida e 1icanl estéreis flunCd se encontranl rninhoca5~ as plantas que crescenl erll solos fertilizados C0l11 húrnus dH minhocas, são fllíHS fortes, mais sadias, 1l1aís ,esístentes ao ataque de pragas e doenças e têln sabor mais acentuado. O solo fica

talnbénl corno as plantas, rnenos suscel ívelà invasão pOI insetos daníllhos e elltetlllidades. TutJo isso senl 1alar na sua principal função que é dar vida ao

solo". O qUiHJro abaixo derllonstla o alHl1en10 de feltilidade de um solo quando tra

billhado corn húnlus de rnillf10Ci:L

1'1 i Ali ti (1l1~)

M.()(!I,J Ca (mg)

My (rnu)

K (pprn)

So lo a" tf~S de culoca r t IlJfnus. 5,7 O, 1 5,5 2,1 0,7 260 2

Solo depois de COIOCéll o tllJ­nlUS.

Ganho atribu ído ao 1lt'JlllUS

enl pel centauern.

6,2 0,0 6,5

18

Fonte: I,dolrnativo da SS Hú.nus --- Rio de Janeiro. NI.()l}~ - Mé.ttéria Orgânica ern percenla~Jern.

3,1 1,0 328 6,5

47,6 42,8 26,1 225

A rninhoca é U'll verdadeiro lIarado vivo" que substi tui eonl vantagens o arado mecânico. Pode-se dizer que lia nlinhoca é o arado mais antigo que existe na face da terra", Na Austfália diz ·se sempre que: Uquantos quilogramas de rninho­cas um !hectare' de solo pastoril contiver, tantos quilogramas de ovinos o pasto suportará". FaZelTI esta relação direta, porque as minhocas rllelhoram substan­cialmente a produtividade do solo. São igualrnente capazes de transportar à superfície a argila lixiviada para horizontes mais baixos rnelhorando assinl a textura superficial do solo.

A quantidade de rnaterial que as minhocas trazenl à superfície é extraordiná­ria. Foi exatamente esse fato que impressionou o naturalista inglês Charles Dar­win, levando-o pacientefTlente a observar as nlinhocas, recolhendo seus dejetos, pesando-os e calculando a quantidade produzida em áreas determinadas. Em nlU itas Regiões da Inglaterra Oarwin concluiu que de 15 a 40 toneladas de terra das ca.nadas profundas, por hectare em um ano, serianl trazidas na superfície

14

Page 16: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

pelas ntinhocas e d(~p()sitadas ao lado da abertura das galerias. Darwin avaliou

tarnbénl que as nlinhoeas podem for 11Iar ern 10 anos de atividade, uma carnada

de solo inteirarnente novo ~~ tértil, na superfície da terra, conl cerca de 2,5 a 3,5 cenl {.netros de espessu r a Convérll ,ecorrJar, neste paI ticu lar, que a nat ureza leva

de 100 a 400 dnos pata 10JJllar Ulnét carnada de 1 centíllletto de solo féttil a

pal1ir do Inatel ial JHifllitivo (Rocha Ma1riz) .

Por causa da sensibilidade da rninhoca e eln deconéncid de fatores arnbieJ,tais,

existe grande variação nas quantidades encon 'tradas nos diferentes solosjcakula­

se essa véHjéJ~:ão en ti e 1 a flOO espécies por rnetro quadr ado o que siqllit íca di7et que ern urn hectare pode se enconlléH de 10_000 a 5 .000.000 de indivíduos.

A qUéHltidilde de hú,nU5 de minhoca d ~er utilizada depende dt~ vár íos fato,es

dentre os quais desldcdrn se : eSfH~cie il St~r ddubada (ciclo cultural), disponibilida

de do fnalerial, época e forrnd de iJplit:a~;U() A tabela abaixo e a seguil suqt?tP

quantidades que podenl se, 'Jldild(hj~ de acnnJo COfll a cultura que se quer

adubar.

ClJLTUJ~A

Cit,us

tiur t illl(,: a~ d(.!

foi "d, l tj~Ju ' 'fies

CapllHJlr d

S () J d, J--e i JíH )

Milho

Plilntds de 111 tel ir)!, Sei/li

bafllt>dl dS, A vencüs, etc.

Pl ANTIO SULCO OBS ----~---. ,- _. _ . _,- -----_.-

300 d !J()(J!J p/c IJ

vdh»)

J 00 il 50(J!J p/ (; () Vd(S)

10Ü<Jfcovd ou 600u/nl2 de can ­teir o.

OIHilrltt: U plepil

ru dil áreé.J ,nistu r ar cf éJ te, r a

500u1l1l2 .

~)U() d 1 (HJOI(!J p/ heLl iJlf.! ,

JOO u 4UO!J p/ COViJ (~)

1 d1, bky p/ pé dIJlIH,'lltan(fo 30'7'0 t ()( tos os anos .

I a l,bku p/ pé alH1H!rl tíHHJO 30% todos os il.H)S.

L{JOq p/ va~() de 4 veles éHJ ano au ' ~H'! J f1len lando ]0°1"

t uuos o:, an ()~

Fazer sulcu elll

torno da Sdld e nüsturélr cf d It.:r ,il .

200~J p/ llle I r C) ti near .

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FOllte: I d/(!IHJa Sdlllu Antonio n. J.

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Page 17: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

SISTEMAS DE CRIAÇÃO

Existenl varlos sisternas ou fonnas de SH criaI minhocas em cativeiro; na

escolha do sisterllil ideal deve ·se observar alguns aspectos tais como: objetivo

da criação, se produção de húrllus, de nlinhocas ou de arnbos, se é voltada para cOlllercialização de matrizes; disponibilidade de recursos do criador etc. Quelll se propuser a criar minhocas deverá tornar providências par a que o rlleio

ambiente apresente condições altalneflte favoráveis no que se refere à rnovi,nen ­tação, à aeração, urnidificação e existência de alimento nas proporções e quanti ­

dades necessárias. Os ambientes nitrogenados são altanlente benéficos para esses oligoquetas; a

acidez pronunciada é urn dos fatores que inlpedem o desenvolvinlento das

nlinhocas,· o pH ideal para o seu desenvolvirTlento vai de 5,0 a 7,5} portanto

regiões ' mu i to ácidas ou inversarnen te básicas não são adequadas.

A telllperéitura ideal para criação está na faixa compreendida entre 180 C e 270 C; a umidade variando de 30 a 50% e pro1P,ção contra radiação solar; no que

se refere à alimentação, podenlos dizer que as rninhocas preferem conlO alimento básico qualquer tipo de esterco o qual deve ser curtido para evitar ferrnentação que elevaria a temperatura do nleio e retirada a urina que sendo ácida prejudica­ria a minhoca. T~rn-se observado que as nlelhol es produções acontecern quando

são uti lizados estercos de bovi nos ou de eqüinos; o esterco de gali nha deve ser

usado corn cautela urna vez que se aquece corn faci I idade e rapidez causando

desequil íbrio de temper atura. Outros restos orgân icos desde que tenham sido

fermentados, tanlbénl poderão ser utilizados na alirnentação; a exemplo citam~se: restos orgânicos de cozi nha, como: verduras, cascas de ovos, borra de café,

cascas de frutas e derTlais Rrodutos biodegradáveis, até mesmo papel de jornal picado ou ,not'do enl liquidificador pode ser usado na dieta das minhocas. Entre ­tanto, devem se. evitados materiais excessivarnente ácidos ou então usá-los mis­turados conl calcário com o intuito de reduzir a acidez.

Existem verdadeiras rações que podem ser preparadas para alimentar minho­

cas em cativeiro; lUlla das utilizadas é composta percentualrnente dos seguintes materiais: 30% de serrapílheira (restos vegetais decompostos das árvores de matas junto com um pouco de terra), 10% de serragem (pó de serra), 40% de

esterco bovino curtido, 5% de farinha de peixe, 2 a 5% de açúcar mascavo

(açúcar preto) dissolvido em água, completando os 10% restantes com unla

mistura de soro de leite dissolvido em água a 50(~.

CRIAÇÃO EM VALAS

Este tipo de instalação tem sido utilizado por ranicultores paranaenses, que criam minhocas objetivando principalmente a ai imentação de rãs ern regi-

16

Page 18: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

me de confinanlento. As características de construção das valas são as seguin·

tes:

-- Procura-se unl terreno seco, ou nlelhor, enl local onde ao ser cavado não brote água.

-- Abre-se uma vala com 40 centímetros de profundidade a 1,3 metros de lar­gura e 5 ou 10 rnetros de conlprimento.

- Coloca-se pedra britada ou cascalho, numa altura de 10 cent ímetro, e de· pois coloca-se Uma fina carnada de areia para cobrir os espaços vazios entre as

pedras e permitir uma boa drenagenl da vala.

- Construir laterais corn tijolos de barro ou tábuas berTl assentadas, de tal

forma que impeça a fuga das rninhocas.

- Circunda-se a vala conl unl cordão de terra elevada a firn de evitar a invasão pelas águas das enxurradas.

- Ao lado dessa elevação de terra protetora, abre-se urna valeta rasa com 5 a

10 centinletros de profundidade para captar água de chuvas.

- Depois do enchimento cobre-se a vala com folhas de bananeira, coqueiro

ou de outras plantas que tenharn folhas bem largas e avantajadas. Isto nlanterá escuro o ambiente superior da vala, além de conservá ~ la fresca.

A criação em valas apresenta certos inconvenientes no que se ref::lre à rnão··

de-obra para construção e custo do investimento; entretanto, não deve ser

descartada unla vez que os criadores do Paraná já utilizam este método a alguns

anos com bastante sucesso.

l ) I \ « , «, - Pedra

[_l~l=O - Tijolos

Ç-:A.l't!:t:,) - Esterco

1,Oa 1,3m

pedra + areia

x Xx.xXXX - CotJertura com palhas de baflana ou coqueiro .

Figura 2 - Vista em corte de urna vala para críação de minhocas.

17

Page 19: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

CRIAÇÃO EM CANTEIROS

Este é o sisterna de criação mais cornumente ernpregado, tanto por criadores europeus corno pelos brasileiros. A criação em canteiros é utilizada em criató· , ias que visanl a produção de húmus e de minhocas para cOrllercialização, sendo também opção daqueles que criam apenas para fertilizar as suas lavouras. Os canteiros pQssuern as seguintes características:

- Construção cOln tijolos unidos por urna massa de barro que lhe serve de

liga. Com uma pequena declividade para escoarTlento do excesso de água.

- A altura de 30 centínletros, 1 nletro de largura e 5 ou 10 metros de

comprirnento.

- Na base dos canteiros coloca-se uma camada de pedra br itada, recobrindo ­

a com cimento com Ufll leve declive de modo que perrnita a drenagem eficiente

do excesso de água. - Um canteiro de 10 nletros deve ser dividido em q'uatro partes: a primeira é

menor corn apenas 1 metro quadrado. Nessa parte o criador faz a seleção de matrizes. As outras partes devern ter 3 metros de comprinlento cada.

- Cada canteiro de 10 111etros consome 2,5 toneladas de esterco curtido, sendo a mesma quantidade consunlida quando a criação é feita em valas.

- Para povoar os canteiros corn minhocas o criador deve colocar 2 litros em cada divisão de 3 metros. Na divisão menor, a de 1 rnetro, usada para seleção de

matrizes, coloca-se apenas 1 litro de minhocas, totalizando 7 litros. Observe-se

que são consideradas como rnatrizes, as rninhocas rllaiores e mais fortes que são selecionadas para povoar novos canteiros" É a partir da seleção de matrizes que o criador pode ter aunlentada inúmeras vezes a quantidade com que iniciou

a cliação.

O,JO

Figura 3 - Desenho em perspectiva de um canteiro de criação.

18

Page 20: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

- F inalmente os canteiros são cobertos com folhas ou capim seco, para evitar

radiação solar direta, tal corno na criação ern valas.

Apesar de ser a técnica de criação rllais utilizada, alguns criadores tecem co­

mentários negativos sobre este tipo de sislelna, argumentando a ocorrência de

fuga das nlatrizes e que os canteiros perrnitern a entrada de predadores (inimigos

natur ais); observou-se no entanto que essas perdas não chegam a prejudica~ o su­cesso da criação . .

CRIAÇÃO EM TONÉIS DE CIMENTO

É tarnbém un1a opção para se criar rninhor:as enl cativeiro. Esta técnica foi de­

senvolvida por urna ernpresa que conlercíalí/a húrllus de minhoca, localizada no

Estado do Rio de Janeiro. Utilizando-se anéis de cirnento (comumente usados

para poços), com diâmetro de 1 metro e altura de 50 centínletros. Imaginava-se

que o cinlento seria prejudicial à vida das rninhocas; os trabalhos até então dp.­

senvolvidos permiterll concluir que, quanc10 os anéis são bem lavados (antes do povoarnento), não se registram casos de rl)ortes dos aninlais. Para enchimento

dos anéis, observe-se as segu intes etapas:

0,5 rnetro

1 llIet ro .

Figura 4 - Desenho de 11m anel de criação.

19

tela de nylon

Tira dü borracha

inclinação

Page 21: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

Colocação dos anéis na posição vertical (com a boca para cima).

-. Cirnentação do fundo do anel (até 5 centímetros) ern forma de funil,

para que hajam Quedas laterais. _. Colocação pe 2 drenos feitos com canos de PVC nas laterais inferiores,

para facilitar a drenagem do excesso de água. --- Para evita. a fuga de matrizes, as pontas dos drenos e a boca do anel devem

ser cobertas com telas plásticas de cor branca e amarradas com tiras de borracha. ,._. Para enchinlento do anelo criador deverá observar os itens a seguir:

a) Coloca-se a prirlleira camada de esterco curtido COfll aproximadamente 10 ctn.

b) Sobre esta carnada despeja-se 1 litro de matrizes (rninhocas selecionadas).

c) Coloca-se a segunda canlada de esterco curt;do com aproximadamente

30cm.

d) Cobre-se este nlaterial COlll capim seco até a boca do anel. Cada anel con­

some aproximadamente 400 kg de esterco. Ao compararmos o sisteméi de anel

com o de canteiro, conclui-se que são necessários 6 anéis para obter o

mesmo rendimento de um canteiro.

VERMICOMPOSTAGEM

Dá-se o nOfne de vermicornpostagem à tecnologia que utiliza minhocas pa­

ra digerir a matéria orgânica, provocando sua degradação. A vermicompostagem

teve in ício através de observações feitas por agricu Itores que notavam a presen­

ça de minhocas em locais úmidos onde se acumulavam grandes quantidades de

resíduos orgânicos. Segundo a professora Christa Knapper: liA vermícomposta­

gem nada mais é do que o preparo de um composto orgânico auxiliado por mi­nhocas pertencentes aos gêneros Eisenia e Pheretima".

As minhocas do gênero Eisenia devern ser introduzidas no material compos­tado quando a temper atura do composto estiver estável e as do gênero Pheretima

quando o composto estiver pronto em termos de decomposição. Recomenda-se

cerca de mil minhocas para cada 2 m 2 de área pelo composto.

Os mais diversos materiais podem ser usados na compostagem. Citamos como

exemplo:

Casqueiros de cacau (envelhecidos).

Palhas secas (diyersas).

Restos de frutas e verduras.

Folhas e ramas de mandioca.

F olhas de bananeira.

A montagem da pilha e preparo do composto deve obedecer à seguinte se­

qüência:

20

Page 22: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

1 .... Urna carnada do material corn 20 centínletros de espessura, seguida de out, a carnada de esterco anirnal COrll apr ox irnadarnente 5 centínletros.

2 A alt ura total do cOlnposto não deve ultrapassar 2,0 rnetros, e a largura 3,0 rnet, os. () cornprirnento dependerá da disponibilidade do rnaterial.

3 Após a nlontagern da pilha deve·se efetuar uma cobertura com palhas de bananeirét, coqueiro ou de outras plantas que tenham folhas heln largas.

4 () cOfnposto deve ser nlolhado fr eqüentemente a firrl de rTlanter ~ umida-de ern to, no de 40 a 60%.

5--- Deve se virar o cornposto a cada 35 dias para aumentar o nível de aeração da pilha,

6· Dependendo do mate. ial utilizado e do manejo que é dado ao composto, a estabil ilação (final da COrTlpOSlauern) ocorrerá entre 110 e 140 dias após a nlont agerll da pi lha.

INIMIGOS NATURAIS DAS MINHOCAS

A rninhoca é considerada como urna espécie anirnal que não tem nenhum ór­gão de defesa contra inimigos naturais o que aumenta sua vulnerabil idade diante dos seus predadores. Corno principais inimigos destacarnos as sanguessugas, cen topéias, fornligas, pássaros, ratos, sapos e rãs.

Quando criadas nos minhocários, encontranl-se protegidas de fllUitos dos seus inimigos. Consideramos as centopéias e forrrligas, principalmente as lava-pés, como os principais inimigos das minhocas criadas em cativeiro. O controle das centopéias consiste na catação manual, urna vez que inexistem produtos específi­cos para erradicá-Ias. Para formigas aconselha-se a aplicação de produ tos fOrJnici­das para erradicar forrnigueiros próximos aos canteiros.

DETERMINAÇÃO PRÁTICA DE UMIDADE E TEMPERATURA, USADA NOS DIFERENTES SISTEMAS DE CRIAÇÃO DE MINHOCAS

Sendo a umidade e a temperatura dois pontos determinantes no sucesso da criação, deve-se ter sempre o cuidado de verificar se está havendo variações, pois sabe·se que condições adversas podem provocar desequil íbrios que levarn à rnor­te das rninhocas. Par a rTledir a tenlperatura ut iliza-se urn termô,netro apropriado de aproximadarnente 20 centímetros, que é introduzido na massa orgânica, per­mitindo a leitura direta na coluna de mercúrio. Caso a temperatura encontre-se acima da faixa nOJ nlal, deve-se fazer então, regas nlais freqüentes; os aumentos de temperatura devern ·se quase sempre a má curtição do esterco; para medir a umidade espreme-se LJ.n punhado de substrato na palrna da mão, estando boa quando observa-se o escorrimento de um pouco d'água entre os dedos; no caso de faltar umidade, o problema é resolvido conl a adição de água, feita com um simples regador.

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Page 23: Minhocas - Biologia, comportamento e sistemas de criação

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acredita-se que no futuro, as minhocas serão um dos principais insumos da agricultura, já que a elevação dos custos de produção, sobretudo dos fertil izan­tes químicos, far"á com que o agricultor se veja obrigado a produzir adubos em sua propriedade, mesmo;. utilizando o adubo químico apenas para completar a falta no húmus em termos quantitativos.

Na década de 60, o uso demasiado de fertilizantes químicos acabou por influir na qualidade dos vinhos produzidos por países da Europa. Esses vinhos estavam perdendo o que se chama de UBouquet"; há dez anos a Itália reverteu esta situação utilizando o húmus produzido pelas minhocas e hoje voltou a elevar a qualidade dos seus vinhos.

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