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MINISTÉRIO DA ECONOMIA E FINANÇAS SECRETARIA DE ESTADO DO PLANO E INTEGRAÇÃO REGIONAL
DIRECÇÃO GERAL DO PLANO
RELATÓRIO
sobre realização dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM)
BISSAU, JULHO DE 2015.
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MINISTÉRIO DA ECONOMIA E FINANÇAS SECRETARIA DE ESTADO DO PLANO E INTEGRAÇÃO REGIONAL
DIRECÇÃO GERAL DO PLANO
RELATÓRIO
sobre realização dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM)
Consultores:
João Ribeiro Butiam Có
Mouhammed Djico Ould Ahmed
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Lista de acrónimos e de abreviações
ASC Agentes de Saúde Comunitária ARV Anti Retrovirais BAD Banco Africano de Desenvolvimento BK+ Baciloscopia positiva BM Banco Mundial CAIA Célula de Avaliação de Impactos Ambientais CDV Centro de Despistagem Voluntaria CMC Comunicação para Mudança de Comportamento CEDEAO Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental
CEDAW Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres
CIPA Centro de Investigação de Pesca Aplicada CNMT Comissão Nacional das Mulheres Trabalhadoras da UNTG CNPT) Comité Nacional de Luta contra Práticas Nefastas CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CPN Consultas Pré-natais DEH Direção de Higiene e Epidemiologia DENARP Documento de Estratégia Nacional de Redução da Pobreza DGRH Direção Geral dos Recursos Hídricos DOTS Tratamento sob Observação Direta DST Doenças Sexualmente Transmissíveis FAS Fundo de Ação Social FCA Facilidade de Crédito Alargado FM Fundo Mundial FMI Fundo Monetário Internacional GAS Gestão e Aprovisionamento de Stock HNSM Hospital Nacional Simão Mendes IADM Iniciativa de Alívio Dívida Multilateral IBAP Instituto de Biodiversidade e Áreas Protegidas ICOF Inquérito sobre Consumo e Orçamento Familiar IDA Associação Internacional para o Desenvolvimento IDH Índices de Desenvolvimento Humano IEC Informação, Educação e Comunicação ILAP Inquérito Ligeiro de Avaliação da Pobreza INASA Instituto Nacional de Saúde Pública JICA Agência Japonesa de Cooperação Internacional INE Instituto Nacional de Estatística INEC Instituto Nacional de Estatística e Censo INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa MEF Ministério de Economia e Finanças MEPIR Ministério de Economia Plano e Integração Regional MICS Multiple Indicator Cluster Survey MILDA Mosquiteiro Impregnado de Longa Duração de Ação
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NAPA Plano de Ação para a Adaptação às Alterações Climáticas OBC Organizações de Base Comunitárias ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milénio OGE Orçamento Geral do Estado OMS Organização Mundial da Saúde ONG Organização Não-governamental PAP Plano de Acão Plurianual PASA Projeto de Apoio à Segurança Alimentar PEASA Projeto de Emergência de Apoio à Segurança Alimentar PEN Plano Estratégico Nacional PESA Programa Especial de Segurança Alimentar PEO Plano Estratégico e Operacional PIB Produto Interno Bruto PIP Programa de Investimento Público PNDS Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário PNIA Programa Nacional de Investimento Agrícola PNIEG Política Nacional para a Igualdade e Equidade do Género PNLP Programa Nacional de Luta contra o Paludismo PNLT Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento POPEN Plano Operacional de Passagem à Escala Nacional PPAE Países Pobres Altamente Endividados PRESAR Projeto de Reabilitação do Setor Agrário e Rural PRRDC Projeto de Reabilitação Rural e Desenvolvimento Comunitário PTMF Proteção da Transmissão de Mãe a Filho PvVIH Pessoas Vivendo com VIH QPS Quimio-Prevenção do Paludismo Sazonal RDH Relatório de Desenvolvimento Humano RESEN Rapports d’Etat des Systèmes Educatifs Nationaux RENLUV Rede Nacional de Luta Contra Violência SER Responsabilidade Social das Empresas SEPIR Secretaria de Estado do Plano e Integração Regional (mudar de lugar) SAB Setor Autónomo de Bissau SIDA Síndrome de Imunodeficiência Adquirida SNAP Sistema Nacional das Áreas Protegidas SMART Standardized Monitoring Emergency Nutrition Assessment TB Tuberculose EU União Europeia UNFPA Fundo das Nações Unidas para a População UNICEF Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento da Pequena Infância UNTG União Nacional dos Trabalhadores da Guiné-Bissau VIH Vírus de Imunodeficiência Humana
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Índice Geral
Lista de acrónimos e de abreviações ..................................................................................... 3
1.Introdução ........................................................................................................................... 9
1.1. Contexto socioeconómico e político ....................................................................... 9
1.2. Compromisso assumidos sobre Objetivos de Desenvolvimento do Milénio ........ 11
2. Situação dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio na Guiné-Bissau ................. 12
OBJETIVO 1: Erradicar a pobreza absoluta e a fome ......................................................... 12
1.1-Evolução e situação atual .......................................................................................... 13
1.1.1 Proporção da população que vive de menos de 1 e 2 $ por dia ........................... 13
1.1.2 Percentagem de crianças com menos de cinco anos de idade que apresentam uma insuficiência ponderável ............................................................................................... 15
1.1.3 Proporção da população que não atinge um nível mínimo da quota calórica. .... 16
1.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 16
OBJETIVO 2: Assegurar a educação primária para todos até 2015 ................................... 18
2.1-Evolução e situação atual .......................................................................................... 18
2.1.1 Taxa líquida de escolarização primária ............................................................... 18
2.1.2 Taxa de alfabetização dos 15 aos 24 anos ........................................................... 19
2.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 20
OBJETIVO 3: Promover a igualdade entre os sexos e a autonomização da mulher ........... 20
3.1-Evolução e situação atual .......................................................................................... 20
3.1.1 Relação raparigas e rapazes no ensino primário e secundário ............................ 20
3.1.2 Taxa de alfabetização das mulheres dos 15 aos 25 anos ..................................... 22
3.1.3 Percentagem de mulheres no mundo de emprego, na governação e na ANP ..... 22
3.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 24
OBJETIVO 4: Reduzir a mortalidade infantil ..................................................................... 25
4.1 Evolução e situação atual ........................................................................................... 25
4.1.1 Taxa de mortalidade infanto-juvenil ................................................................... 25
4.1.2 Proporção de crianças com um ano de idade vacinadas contra o sarampo ......... 26
6
4.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 27
OBJETIVO 5: Melhorar a saúde materna ........................................................................... 28
5. 1 Evolução e situação atual .......................................................................................... 28
5.1.1 Taxa de mortalidade materna .............................................................................. 28
5.1.2 Proporção de partos assistidos por um profissional qualificado de saúde .......... 30
5.1.3 Taxa de natalidade entre adolescentes ................................................................ 31
5.1.4 Cobertura de consultas pré-natais (pelo menos uma e/ou quatro visitas) ........... 31
5.1.5 Necessidades não satisfeitas em matéria de planificação familiar ...................... 32
5.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 32
OBJETIVO 6: Combater o VIH/SIDA, o paludismo e outras doenças ............................... 33
6.1 Evolução e situação atual ........................................................................................... 34
6.1.1 Taxa de prevalência das grávidas com idades compreendidas entre 15 a 24 anos ...................................................................................................................................... 34
6.1.2 Taxa de utilização de contraceção ....................................................................... 35
6.1.3 Conhecimentos, atitudes e comportamento de VIH/SIDA ................................. 36
6.1.4 Taxa de prevalência do paludismo e da mortalidade associada à doença ........... 36
6.1.5 Proporção da população que vive em zonas de risco, utilizando os meios de proteção e tratamento eficaz contra o paludismo ......................................................... 37
6.1.6 Taxa de prevalência da tuberculose e taxa de mortalidade associada a doença .. 37
6.1.7 Proporção de casos de tuberculose detetados e seguidos dentro do plano de tratamento de curta duração e supervisionamento direto ............................................. 38
6.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 39
OBJETIVO 7: Assegurar um ambiente durável .................................................................. 40
7. 1 Evolução e situação atual .......................................................................................... 40
7.1.1 Proporção das zonas florestais e das áreas protegidas ........................................ 40
7.1.2 Proporção da população com acesso a água potável e saneamento básico ......... 41
7.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 42
OBJETIVO 8: Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento ....................... 44
8.1 Evolução e situação atual ........................................................................................... 44
8.1.1 Ajuda pública ao desenvolvimento ..................................................................... 44
8.1.2 Acesso aos mercados ........................................................................................... 46
7
8.1.3 Viabilidade da dívida .......................................................................................... 47
8.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas ........................................................ 49
3. Desafios nacionais e recomendações pós 2015 ............................................................... 49
3.1 Na erradicação da pobreza ......................................................................................... 49
3.2 Assegurar a educação primária para todos ................................................................. 50
3.3 Na promoção de igualdade entre os sexos ................................................................. 51
3.4 Na redução da mortalidade infantil ............................................................................ 52
3.5 Melhorar a saúde materna .......................................................................................... 52
3.6 No combate ao VIH/SIDA, paludismo e tuberculose ................................................ 53
3.7 Garantir ambiente sustentável .................................................................................... 55
3.8 Uma parceria mundial para o desenvolvimento ......................................................... 56
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Índice de Gráficos e Quadros
Quadro n.º 1 - Indicadores dos compromissos assumidos na cimeira do Milénio .............. 12
Gráfico n.º1.1 - Variação de níveis de pobreza entre 1991, 2002, 2010 ............................. 13
Quadro n.º 1.2 - Tipos de pobreza por região (2010) .......................................................... 14
Gráfico n.º 1.3 - Evolução da taxa de insuficiência ponderal de 1991 a 2014 .................... 16
Gráfico n.º 2.1 - Evolução da taxa de escolarização líquida e de retenção no ensino primário ............................................................................................................................... 18
Gráfico n.º 3.1 - Evolução de paridade nos níveis de ensino primário e secundário ........... 21
Gráfico n.º 3.2 - Evolução de taxa de alfabetização de mulheres de 15 a 24 anos .............. 22
Gráfico n.º 3.3 - Representação por sexo nas diferentes legislaturas da ANP .................... 23
Gráfico n.º 4.1 - Evolução da taxa de mortalidade infantil e infanto-juvenil (2000 a 2014) ............................................................................................................................................. 26
Gráfico n.º 5.1 - Evolução da mortalidade materna de 1990 a 2014 ................................... 29
Gráfico n.º 5.2 - Evolução de percentagem de partos assistidos por um profissional qualificado ........................................................................................................................... 30
Quadro n.º 6.1 - Taxa de prevalência de VIH nas grávidas de 15 a 24 anos de idade, por Ano e Região ....................................................................................................................... 34
Gráfico n.º 6.1 - Evolução de infeção do VIH em diferentes categorias da população ....... 35
Gráficos n.º 7.1 - Agregados familiares e situação de saneamento básico .......................... 42
Gráfico n.º 8.1- Desembolso de Ajuda ao Desenvolvimento por Agência em 2010 ........... 45
Gráfico n.º 8.2- Ajuda ao Desenvolvimento por Setor de Intervenção em 2010 ................ 45
Gráfico n.º 8.3 - Evolução da Dívida Pública Externa (2009-2014) em USD .................... 48
Gráfico n.º 8.4 - Repartição da Dívida Pública em 2014 ..................................................... 48
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1.Introdução
1.1. Contexto socioeconómico e político
A Guiné-Bissau é um país da África ocidental de 36.125 km2, com 1.449.230 habitantes,
sendo considerado um dos países mais pobre do mundo. Entre 2000 e 2010, o país registou
uma taxa de crescimento médio anual do IDH de 0,9%, contra 1,68% dos chamados países
de índice muito baixo. Em 2014, testemunha um índice de desenvolvimento humano (IDH)
muito baixo, de 0,396, ou seja, lugar 177 entre 186 países considerados. Longe de 2,1%, a
média dos países da África subsaariana. Dois fatores terão contribuído para o baixo nível
deste indicador, primeiro, a pobreza generalizada que terá aumentado ao longo dos últimos
anos, segundo, o baixo nível de esperança de vida, estimado em 48,6 anos de idade (INE,
2009; RDH, 2014).
Por outro lado, a instabilidade política que tem prevalecido nas últimas décadas não tem
permitido a criação de condições objetivas para implementação de políticas públicas, que
pudessem possibilitar um crescimento económico sustentável e o bem-estar social da
população em geral. Na verdade, várias tentativas de relançar o país, em termos de
desenvolvimento social e económico, foram conhecidas através de documentos e
estratégias elaborados. Dai, o exemplo do Documento de Estratégia Nacional de Redução
da Pobreza (DENARP) que, dentre outras preocupações, referenciou os objetivos do
desenvolvimento do milénio (ODM) numa necessidade de reorientação de medidas e
políticas que pudessem conduzir o país a um cumprimento de indicadores mais próximos
dos compromissos assumidos na Cimeira do Milénio, em 2000. Neste sentido o DENARP
(2006/08) recomenda:
• Desenvolver infraestruturas de apoio à produção;
• Realizar a taxa média anual de crescimento de pelo menos 5%;
• Limitar a taxa de inflação média anual à 3%;
• Reduzir a incidência de pobreza de 68,5%, em 2005, para 65,9%, em 2008, e
64,1% em 2010;
• Assegurar a expansão e a melhoria de acesso à educação para a universalização
do ensino de base;
• Reduzir a taxa de mortalidade infantil de 122 por mil em 2004 para 104,5 em
2008;
10
• Reduzir a mortalidade infanto-juvenil;
• Reduzir a mortalidade materna de 818/100.000 em 2004, para 800/100.000 em
2006 e 752/100.000 em 2008, etc.
No entanto, a semelhança de outras experiências, segundo DENARP (2011/15), essas
medidas não foram implementadas por razões diversas, nomeadamente:
• Contínua fragilidade do país no plano político, institucional e de segurança, como
resultado de sucessivos conflitos, tráfico internacional de drogas e crime
organizado;
• A constante interferência da sociedade castrense na vida política e governativa do
país;
• Capacidade institucional e de recursos humanos limitados na planificação e
execução eficazes das políticas e programas de desenvolvimento;
• Competências limitadas em matéria de género na planificação conduziram a uma
consideração incompleta do problema das mulheres no DENARP I;
• Forte dependência do caju enquanto maior produto nacional de exportação e, por
outro lado, a consequente influência da crise petrolífera, alimentar e económica a
nível internacional;
• Peso excessivo dos serviços da dívida em relação aos parceiros multi e bilaterais
entre outros.
No início da primeira década do século, a partir de 2008, após longo período de fraco
crescimento, a economia da Guiné-Bissau conheceu uma nova dinâmica. Apesar de
alguma ondulação devido a instabilidade política-governativa e graves deficiências na
infraestrutura económica básica (incluindo energia e transportes), a taxa de crescimento
real entre 2005 e 2011 foi em média 4,3%. Abaixo da meta de 5%, estipulada no DENARP
II, para dinamizar os indicadores e garantir o bem-estar da população. No final de 2010, o
país beneficiou da iniciativa a favor dos países pobres altamente endividados (PPAE),
mecanismo de redução da dívida no âmbito da pobreza. Em 2012, devido a boa campanha
de exportação da castanha de caju, investimentos no sector da energia e construção de
estradas permitiram uma taxa de crescimento do produto interno bruto (PIB) em 9,7%,
também, graças à reformas no âmbito do programa económico a curto prazo (2010-2012),
acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o apoiado através de mecanismos
de facilidade de crédito alargado (FCA). No entanto, o golpe de Estado de 12 de abril de
2012 causou a suspensão da cooperação com vários parceiros técnicos e financeiros de
11
desenvolvimento, incluindo os do sector bancário devido ao incumprimento do pagamento
de crédito à economia que, por consequência, abrandaram as atividades da campanha de
comercialização e exportação da castanha de caju. Consequentemente, a taxa de
crescimento económico para o ano 2012 registou um crescimento negativo de -1,7%, longe
do previsto (Relatório ODM, 2013; INE 2012).
Porém, a recente retoma da normalidade constitucional, através das eleições gerais de
2014, está a suscitar uma nova esperança a nível nacional e internacional, tendo como
expoente máximo a apresentação, por parte do governo, aos parceiros internacionais, do
Plano Estratégico e Operacional (PEO 2015-2020), na mesa redonda de 25 de Março de
2015, em Bruxelas, mobilizando cerca de 1,5 mil milhões de dólares americanos. Segundo
a previsão do governo a performance dos doze meses de governação projetam o país para
um crescimento económico perto dos 5% em 2015. O próprio governo iniciou a
implementação do seu Plano Operacional e Estratégico (2015-2020), focalizado num
programa de investimento público que orienta principais fontes de crescimento em
políticas de apoios específicos, com o objetivo de passar de uma taxa de crescimento de
2,9%, em 2014, para 9,3% em 2020.
1.2. Compromisso assumidos sobre Objetivos de Desenvolvimento do Milénio
Em Setembro de 2000, a Guiné-Bissau participou na Cimeira Mundial do Milénio e
subscreveu as resoluções finais cujos objetivos se encontram plasmados no Quadro n.º1.
Assim, as condições necessárias para garantir um salto qualitativo dos sectores-chaves
visados pelos ODM são:
• Políticas e programas sectoriais coerentes e suficientemente coordenados;
• Sistema de alocação de recursos orçamentais baseado nos ODM;
• As coletividades e comunidades de base melhor responsabilizadas na previsão,
fornecimento e gestão de determinadas infraestruturas básicas;
• Capacidades institucionais e humanas melhor preparadas para a implementação e
seguimento das políticas sectoriais;
• Sociedade civil mais envolvida em todas as etapas dos ODM.
12
Quadro n.º 1 - Indicadores dos compromissos assumidos na cimeira do Milénio
Indicadores Situação de partida Esperado (em 2015)
Pobreza absoluta de extrema 26% (ICOF, 1991) 13%
Taxa líquida de escolarização no ensino primário
43,2% (MICS, 2000) 100%
Rácio raparigas/rapazes no ensino primário
0,67% MEN (2000) 1
Taxa de mortalidade materna
300/100.000 NV (MICS); 900/100.000 (SOWC, 2000);
700/100.000 (PSB, 1990-1996)
-75%
Taxa de mortalidade infantil 124/1000 (MICS, 2000) 83/1000
Taxa de mortalidade infanto-juvenil (crianças de menos 5 anos)
203/1000 (MICS, 2000) 135/1000
VIH nas mulheres gravidas (* apenas de HSM)
7,8%* (PSB, 1999) 5,9%
Acesso a água potável 44% da população geral (ILAP, 2002) 80%
Fonte: (ICOF, 1991; MICS, 2000; MEN, 2000)
2. Situação dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio na Guiné-Bissau
OBJETIVO 1: Erradicar a pobreza absoluta e a fome
META - Reduzir para metade, entre 1990 e 2015, o número de pessoas cujo rendimento é inferior a 1 $ por dia e a proporção da população que sofre de fome Indicadores: - Proporção da população que vive de menos de 1 e 2 $ por dia; - Percentagem de crianças com menos de cinco anos de idade que apresentam uma
insuficiência ponderável; - Proporção da população que não atinge um nível mínimo da quota calórica.
13
1.1 Evolução e situação atual
1.1.1 Proporção da população que vive de menos de 1 e 2 $ por dia
O Inquérito Ligeiro da Avaliação da Pobreza (ILAP), realizado em 2010, estima a pobreza
extrema em 33% e a pobreza absoluta em 69%. Em termos comparativos, apesar das
diferenças metodológicas entre os inquéritos aplicados ao longo dos últimos anos, a
evolução de contrastes nas duas linhas de pobreza é notável. Para a linha dos que dispõem
de menos de 2 $ por dia, a pobreza variou entre 49%, 64,7% e 69%, enquanto a proporção
dos que vivem de menos de $ 1 por dia sofreu uma ondulação entre 26%, 20,8% e 33% nos
três períodos comparativos (1991, 2002, 2010) (ICOF, 1991; ILAP, 2002, 2010). Estes
dados independentemente das causas que os justificam, na verdade, testemunham que
estamos longe do cumprimento das metas traçadas em 2000, ou seja, reduzir a pobreza em
ambos os níveis para 13% e 24,5% respetivamente em 2015 (Gráfico n.º1.1).
Gráfico n.º1.1 - Variação de níveis de pobreza entre 1991, 2002, 2010
Fonte: ICOF, 1991; ILAP, 2002 e 2010.
Apesar de a pobreza ser generalizada a nível nacional, a semelhança dos indicadores de
2004, há uma variação em termos de espaços geográficos. Os dois níveis de pobreza (tanto
absoluta como extrema) são mais acentuados no interior (diferentes regiões) do que em
Bissau (capital). Em Bissau, em 2002, a percentagem dos indivíduos em situação de
14
pobreza extrema foi de 9,3%, contra 25% no resto do país. Já em 2010 houve aumentos
nos dois espaços geográficos, sendo 13,2% para Bissau e 39,8% no interior, sendo que
regiões como Gabu, Oio, Cacheu e Quinara apresentavam números acima dos 40%
(Quadro n.º 1.2). De referir que a nível das pessoas que vivem com menos de 2 $ por dia,
apenas Bissau, Bolama e Biombo apresentam dados favoráveis abaixo da média nacional
(69,3%), do lado contrário com maior percentagem temos a região de Cacheu e Gabu
acima de 80% (ILAP, 2010).
Quadro n.º 1.2 - Tipos de pobreza por região (2010)
Menos de 2$ (pobreza
absoluta) Menos de 1$ (pobreza
extrema)
Região % Pobres
Número Pobres
% Pobres
Número Pobres
Bafatá 75,5 157 272 33,4 69 625 Biombo 65,5 57 279 24,7 21 619
Bolama/Bijagós 47,2 15 663 23 7 636 Cacheu 80,5 154 160 42,8 82 044 Gabu 83,5 161 037 47,2 90 956 Oio 73 147 863 45,6 92 332
Quinara 70,7 59 836 41,1 34 780 S.A.B 51 189 570 13,2 48 991
Tombali 78,5 71 598 38,9 35 490 TOTAL 69,3 1 014 277 33 483 474
Fonte: ILAP (2010).
A distribuição por sexo mostra que a pobreza absoluta a nível nacional é mais concentrada
nos homens (70,3%) que nas mulheres (65,5%). Só que essa tendência se inverte quando se
trata apenas da capital (Bissau), para ambos os sexos, a pobreza segue outra proporção
sendo mais concentrada nas mulheres (56,3%) contra 48,8% nos homens. Em relação aos
grupos de idades, a faixa etária de 55e+ anos concentra a maior percentagem da pobreza a
todos os níveis, seja em Bissau (59%), seja nas regiões (78%), seja a nível nacional (75%).
Em comparação, a faixa etária de menos de 35 anos é ligeiramente menos afetada,
testemunhando 47,1% em Bissau, 71,1% a nível das regiões e 64% a nível nacional.
Em termos de pobreza extrema, a distribuição por sexo mostra que a nível nacional, a
semelhança da pobreza absoluta, ela é mais concentrada nos homens (33,8%) que nas
mulheres (29,8%). Essa tendência também se inverte quando isolamos a capital Bissau, a
pobreza segue outra proporção sendo mais concentrada nas mulheres (15,5%) que nos
homens (12,2%). Em relação aos grupos de idades, a faixa etária de 55e+ anos concentra
15
maior percentagem da pobreza extrema a todos os níveis, seja em Bissau (16%), seja nas
regiões (46%), seja a nível nacional (41%). Em comparação a faixa etária de menos de 35
anos é ligeiramente menos afetada, testemunhando 10,7%, em Bissau, 34,1% a nível das
regiões e 27,2% a nível nacional.
Normalmente a pobreza nos jovens de 15 a 35 anos é sempre algo de preocupante por
representarem a maior força produtiva. No entanto, os dados ILAP (2010) testemunham
que 75% dos que vivem de menos de $2 são da faixa etária de 55e+ anos, sendo que esta
percentagem sobe para 78% a nível das outras regiões e 59% quando isolamos a capital
Bissau. Para a pobreza extrema a mesma faixa etária (55e+ anos) concentra 41%, sendo
46% a nível das regiões e 16% a nível de Bissau. O que testemunha uma tendência de
envelhecimento da pobreza, afetando mais os velhos, em detrimento dos mais novos. A
evidência da pobreza no seio dos agregados e tal que a estrutura das despesas familiares é
confinada ao consumo alimentar. Assim, o peso da despesa média em alimentação a nível
nacional é de 84%, sendo 73% para Bissau e 89% a nível das regiões.
1.1.2 Percentagem de crianças com menos de cinco anos de idade que apresentam
uma insuficiência ponderável
A prevalência de crianças com baixo peso de idade inferior a cinco anos - cujo peso é
menor em relação à sua idade - testemunhou um declínio no país entre 2000 a 2010. O
inquérito nutricional feito a nível nacional em 1991 (Projeto População, Saúde, Nutrição)
testemunhava que 32,9% de crianças com menos de cinco anos apresentavam um risco
nutricional. Segundo MICS, a taxa de insuficiência ponderal passou de 32,9% em 1991
para 25% em 2000, 19% em 2006, 18% em 2010 e 17% em 2014 (MICS, 2000, 2010,
2014). O que testemunha que é um indicador praticamente atingido segundo os
compromissos do ODM.
Em comparação, os dados de MICS (2010) testemunham que as zonas rurais são mais
afetadas (20,7%) que urbanas (13,7%). Por outro lado, constatou-se uma disparidade entre
as diferentes regiões do país, enquanto a capital Bissau testemunhava o indicador mais
baixo (12,4%), a região de Oio apresentava indicador mais elevado (26%), seguida de
Gabu (25%), Bafatá (19%), Biombo (14%) e Bijagós/Bubaque (13%).
16
Gráfico n.º 1.3 - Evolução da taxa de insuficiência ponderal de 1991 a 2014
Fonte: MICS (2000, 2006, 2010, 2014)
1.1.3 Proporção da população que não atinge um nível mínimo da quota calórica.
A disponibilidade alimentar exprimida por habitante e por dia foi incrementada ao longo
do período de 1980-1993, passando de 2.016 a 2.570 calorias. Segundo o inquérito ILAP
(2002), pelo menos 50% das populações pobres deparam-se com muitas dificuldades em
termos de alimentação. Os dados recentes, sobre o consumo alimentar mostram que 5%
das famílias têm um consumo de alimentos considerado de pobre, enquanto 15% têm um
consumo moderado, e 80% um consumo aceitável (Relatório ODM, 2013).
A repartição por região mostra que Quinara é a mais afetada pela pobreza de consumo de
alimentos, onde apenas 54% das famílias têm consumo aceitável de alimentos e 19%, (1
em cada 5 famílias) têm um consumo pobre, e 27% (quase 1 em cada 3) estão no limite do
nível de consumo de alimentos. Além de Quinara, a pobreza alimentar também afeta às
regiões de Oio e Bolama, pois, em ambas as regiões, 25% das famílias são afetadas pelas
dificuldades da segurança alimentar, enquanto para os pobres de consumo de alimentos
(13% dos agregados familiares em Bolama e 7% Oio), e, no limite de consumo (12% dos
lares e 18 Bolama % de Oio) (Relatório ODM, 2013).
1.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
Para atingir o objetivo de reduzir a pobreza extrema para metade entre 1990 e 2015 (ou
seja, de 26% para 13%), era preciso um ritmo de redução de cerca de 3,6% por ano. Porém,
17
os dados mostram que esse objetivo foi inatingível. Em matéria de segurança alimentar
houve Carta Política de Desenvolvimento Agraria, atualizado em 2002, Programa Nacional
de Segurança Alimentar (2007) o Programa Especial de Segurança Alimentar (PESA),
Projeto de Reabilitação do Setor Agrário e Rural (PRESAR), Projeto de Emergência de
Apoio à Segurança Alimentar (PEASA), Projeto de Apoio à Segurança Alimentar (PASA),
Projeto de Reabilitação Rural e Desenvolvimento Comunitário (PRRDC), entre outros, que
integram os objetivos globais da luta contra a pobreza e segurança alimentar - via aumento
de produção, de oferta e de acessibilidade aos géneros alimentícios - é um dos principais
esforços do governo. O governo também desenvolveu o Programa Nacional de
Investimento Agrícola (PNIA), com o objetivo de eliminar a fome, a redução da pobreza
extrema e insegurança alimentar e simultaneamente gerar excedentes comercializáveis que
permitissem aumentar as exportações e rendimento das famílias.
Apesar da melhoria do crescimento económico nos últimos anos, os índices de pobreza
continuam a aumentar tanto na dimensão monetária como na não-monetária, com maior
prevalência em zonas rurais e em idades mais avançadas. Em esforços, o governo através
do documento estratégico de luta contra a pobreza reorientou novas mestas intercalares de
modo a minimizar os incumprimentos, adiando-as para 2020 (DENARP, 2011).
O Plano Guiné-Bissau 2025 prevê colocar o país de forma sustentável no caminho da
prosperidade partilhada. Esta passará não somente pelo desenvolvimento estruturador dos
sectores motores do crescimento, mas também por um atendimento específico às
necessidades das populações na base da pirâmide económica. Assim, no plano estratégico
operacional (PEO, 2015) serão implementados programas condicionais de ajuda do tipo
Bolsa-Família, a semelhança da experiência do Brasil e da Visão 2020 do Ruanda. O plano
estratégico operacional trouxe em grande escala uma estratégia nacional de
desenvolvimento social, estruturada no Plano Nacional de Proteção Social e na estratégia
nacional de empoderamento das populações mais desfavorecidas. Esta batalha social
deverá ser uma prioridade partilhada com o sector privado, especialmente no âmbito dos
Programas de Responsabilidade Social das Empresas (RSE).
18
OBJETIVO 2: Assegurar a educação primária para todos até 2015
META: garantir o acesso à educação para todas as crianças, independentemente do sexo, raça e religião
Indicadores: - Taxa líquida de escolarização primária; - Proporção de estudantes que começam o primeiro ano de estudos no ensino primário
e acabam o sexto ano; - Taxa de alfabetização dos 15 aos 24 anos.
2.1 Evolução e situação atual
2.1.1 Taxa líquida de escolarização primária
Segundo os dados MICS, houve uma evolução aceitável da taxa líquida de escolarização
no ensino primário testemunhada em 43,2% em 2000, 53,5% em 2006, 67,4% em 2010,
62,4% em 2014. A par disso a taxa de retenção - dos que se matricular do primeiro ano
tendo chegado ao sexto – variou de 41,1% em 2000, para 79,7% em 2006, 79% em 2010, e
73,4% em 2014 (MICS, 2000, 2006, 2010, 2014). O que testemunham dados ainda distante
dos compromissos assumidos pelos ODM em matéria de acesso à educação para todas as
crianças no ensino primário.
Gráfico n.º 2.1 - Evolução da taxa de escolarização líquida e de retenção no ensino primário
Fonte: MICS (2000, 2006, 2010, 2014)
19
A escolarização líquida do ensino primário continua a ser um fenómeno que privilegia a
capital (Bissau) com 83% contra apenas 55,4% para o resto das regiões. Também na
capital há maior equilíbrio de género, ou seja, a frequência liquida entre rapazes e raparigas
é de 83.5% e 82.5% respetivamente, contra 56.1% e 54.8% a nível das regiões (MICS,
2010, 2014). A título comparativo, segundo RESEN (2013), podemos constatar que entre o
período 2009-2012 houve uma ligeira melhoria na cobertura educacional entre os 7 e 10
anos, porém, os níveis de escolaridade para esses ciclos são modestos. Por exemplo, neste
nível de ensino básico (EB3), a taxa de acesso foi de 56% porém a taxa de conclusão foi
apenas de 44%.
Em análise, a diferença na taxa líquida de escolarização entre rapazes e raparigas no ensino
primário é maior e a favor dos rapazes quando o chefe do agregado familiar é uma mulher
(quer em Bissau, quer nas outras regiões). Nota-se que a pobreza é maior nos agregados
dirigidos pelas mulheres. Outrossim, para além da pobreza, por razões culturais e
identitários, há uma feminização da maior parte dos trabalhos domésticos, sendo as
raparigas obrigadas a empenharem-se em trabalhos domésticos e nas estratégias de
sobrevivência familiar em detrimento das oportunidades escolares (ILAP, 2010, MICS
2010).
2.1.2 Taxa de alfabetização dos 15 aos 24 anos
De acordo com o MICS a taxa de alfabetismo de adultos entre 15 e 24 anos variou de 36%
em 2000 para 60,4% em 2014. Em termos de oportunidade de acesso a alfabetização os
homens estão melhor cotados. Em 2014, a percentagem desta faixa adulta escolarizada é de
70,4% para os homens e 50,5% para as mulheres. Os desequilíbrios rurais/urbanos são
testemunhados a partir dos dados referenciados. Em 2006, entre as pessoas de 15-24 anos
alfabetizadas, 10.1% são das zonas rurais, contra 50,9% das zonas urbanas. Mesma
tendência de desequilíbrios foi testemunhada em 2010, onde 63% eram das zonas urbanas
e 16% zonas rurais. A capital Bissau representava a maior percentagem (68%) dos
alfabetizados, enquanto Oio, 13%, Tombali 19%, Gabu 21% e Bafatá 24% (MICS, 2006,
2010, 2014).
20
2.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
Com o objetivo de melhorar a qualidade do sistema de ensino o governo adotou a Carta
Política do Sector da Educação para o período 2009-2020, Plano Setorial da Educação em
2009. A devida implementação poderia permitir, ao nível do ensino básico, um
cumprimento de 100% de crianças de neste nível de escolarização em 2015. Porém, devido
a golpe de Estado em 2012 o processo foi interrompido.
A melhoria do acesso a uma educação secundária de qualidade e em maior número
dependerá da extensão das capacidades de acolhimento dos alunos através da construção
de 500 salas de aula. Disso o exemplo da cooperação com Agência Japonesa de
Cooperação Internacional (JICA). Segundo o Plano Estratégico e Operacional (2015-
2020), novos centros de formação profissionais serão construídos em alguns sectores, em
conformidade com o esquema diretor e em coordenação com o sector privado.
OBJETIVO 3: Promover a igualdade entre os sexos e a autonomização da mulher
META: eliminar as desigualdades de género no ensino primário e secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis de ensino o mais tardar até 2015
Indicadores: - Relação raparigas/rapazes no ensino primário e secundário - Taxa de alfabetização das mulheres dos 15 aos 24 anos - Mulheres no mundo de emprego, na governação e na Assembleia Nacional Popular
3.1 Evolução e situação atual
3.1.1 Relação raparigas e rapazes no ensino primário e secundário
21
A relação raparigas e rapazes no ensino primário evoluiu de forma satisfatória, passando de
0,56em 1991 para 1,00 em 2014, ou seja, nesse nível de ensino, em termos de paridade de
género, a meta dos objetivos do milénio foi atingida. Assim, o rácio raparigas/rapazes
passou de 0,56% em 1991 para 0,67 em 2001, seguido de 0,97em 2006, 0,94% em 2010 e
finalmente 1,00 em 2014 (MICS, 2000, 2006, 2010, 2014).
Gráfico n.º 3.1 - Evolução de paridade nos níveis de ensino primário e secundário
Fonte: MICS (2000, 2006, 2010, 2014).
Apesar do cumprimento dos compromissos para ensino primário, o nível do secundário
continua a representar um desafio na relação de paridade entre os sexos, situado em 0,81.
Todavia, há que aceitar a tendência evolutiva no ensino secundário que de 2010 para 2014
evoluiu de 0,73 para 0,81, demonstrando a nível de indicadores, que é uma meta a atingir
se considerarmos estratégias de relançamento para 2020.
Em análise, segundo RESEN (2013), a distribuição de raparigas e rapazes na população de
3-25 anos é quase igual (50,6% das raparigas e 49,5% dos rapazes), a sua representação
por status académico é desfavorável. As raparigas parecem ser mais propensas a não
escolarização (53,7% para as raparigas contra 46,30% para os rapazes). Enquanto as
raparigas representam metade da população de 3-25 anos, elas são cerca de 40% dos
indivíduos inscritos nos níveis pós-primário (40,8% no EB3, 39% para o ensino secundário
e 39,9% para o profissional e o superior). Estes dados implicam menos oportunidades para
a escolarização das raparigas em níveis pós-primários. As análises dos resultados dos
relatórios são mais significativas a este respeito: exceto na pré-escola onde as raparigas
têm 3% de maior probabilidade de frequentar a escola, enquanto os rapazes são mais
propensos a estar dentro do sistema educativo em níveis pós-primário do que as raparigas.
22
3.1.2 Taxa de alfabetização das mulheres dos 15 aos 25 anos
A nível de alfabetização a disparidade entre homens e mulheres é mais acentuada. A taxa
de alfabetização das mulheres dos 15 aos 24 anos passou de 12,9% em 1990, para 23,3%
em 2000, variando também para os homens, no mesmo período, de 42,5% para 54,4%
(Relatório ODM, 2004). Nos anos seguintes, houve uma evolução positiva de 5,3% no seio
das mulheres, uma deslocação de 23,3% em 2000 para 28,6% em 2010. Isto, graças a
programas e projetos ligados a alfabetização de adultos, particularmente de mulheres,
desenvolvidos pelo Ministério da Educação em parceria com o UNICEF e organizações
não-governamentais. Apesar de alguma evolução, as disparidades em termos geográficos
continuam a pesar nas oportunidades de acesso a alfabetização. O analfabetismo das
mulheres em meio urbano, nesta faixa etária, é de 20,4% e contra 61,5% em espaço rural.
A mesma tendência de desequilíbrio na realidade dos homens, tendo 35,4% em espaço
rural contra apenas 9,9% em espaço urbano (MICS, 2010).
Gráfico n.º 3.2 - Evolução de taxa de alfabetização de mulheres de 15 a 24 anos
Fonte: MICS (2000, 2006, 2010, 2014).
3.1.3 Percentagem de mulheres no mundo de emprego, na governação e na ANP
Segundo dados do Ministério da Reforma Administrativa, Função Pública e Trabalho
(2008), as mulheres são tradicionalmente menos representadas no sector formal do que os
23
homens, dos cerca de 12 mil funcionários públicos civis recenseados, apenas 30% são
mulheres. O estudo sobre as condições de vida da mulher guineense demonstra que a
administração pública guineense continua a relegar as mulheres para um lugar subalterno
(PNIEG, 2012). Segundo o DENARP, em 2009, a taxa de emprego das mulheres foi de
apenas de 4,6%, sendo que, 77,1% das mulheres ativas estavam ocupadas no sector
primário e cerca de 23% no sector terciário (serviços), dos quais 12% para o subsector
comércio.
Desde os meados de 2002 até a esta parte a presença das mulheres no governo é no rácio
de 1 mulher por 4 homens. Em 2004 num elenco constituído por 24 membros apenas 5
eram mulheres, em 2009 num total de 29 também apenas 5 eram ministras, atualmente
(2014) no governo de Domingos Simões Pereira num universo de 32 membros 6 são
mulheres. A disparidade entre homens e mulheres em matéria de representatividade é
enorme. Desde a independência a data atual, a percentagem em média de mulheres
deputadas na Assembleia Nacional Popular nunca ultrapassou os 20% (Gráfico n.º 3.3),
mostrando que o reconhecimento que mulher tinha durante e após a luta armada está a
perder-se cada vez mais, a nível de reconhecimento político e de acesso as estruturas do
poder.
Gráfico n.º 3.3 - Representação por sexo nas diferentes legislaturas da ANP
Fonte: ANP (2015).
A percentagem de mulheres que participaram nas primeiras três legislaturas democráticas e
ínfima, passou de 20% na legislatura de 1989-1994, período de partido único, a 10% para a
de 1994-1999, período do multipartidarismo, de seguida caiu para 8% entre 1999 e 2003
(Relatório ODM, 2004).
24
3.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
A promoção da igualdade e da equidade de género constituiu uma prioridade da agenda de
governação, facto de a Guiné-Bissau ter participado e assinado várias convenções
internacionais da defesa da mulher e promoção da equidade. Assim, para fazer face aos
desafios, o governo procedeu ao nível regional e internacional a diferentes ratificações de
textos:
• Convenção para a eliminação de todas as formas de descriminação contra as
mulheres (CEDAW - 1979);
• As resoluções 1325 (em 2000) e 1820 referentes à participação das mulheres e sua
proteção em situações de conflito e pós-conflito;
• Protocolo Adicional à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos sobre os
Direitos da Mulher (Maputo, 2003);
• Pacto internacional sobre os direitos económicos, sociais e culturais;
• Criação de Comité Nacional de Luta contra Práticas Nefastas (CNPT);
• Rede Nacional de Luta Contra Violência (RENLUV);
• Lei Contra a Violência Doméstica;
• Convenção sobre o Direitos das Crianças;
• Lei sobre Mutilação Genital Feminina;
• A implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança (Maio 2000);
• A apresentação, pelo governo, do 1° Relatório sobre os Direitos Humanos, ao
Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas;
• Plataforma Política de Mulheres (PPM);
• Fundo para Ação Social (FAS).
A nível nacional vários instrumentos, políticas e estruturas foram criados, disso a
Comissão Nacional das Mulheres Trabalhadoras da UNTG (CNMT/UNTG), tendo como
missão promover e defender o emprego feminino; o Instituto da Mulher e da Criança, em
2000, tendo a missão de coordenar políticas e programas que sustentam a promoção e
proteção dos direitos da mulher e da criança bem como a implementação dos princípios de
igualdade dos sexos; a elaboração da política nacional para igualdade, e equidade de
género (PNIEG); recentemente o governo defende a autonomização do Género através do
25
Plano Nacional Diretor de Apoio às Populações Diminuídas, a partir de projetos que visam
liberar o potencial económico das populações vulneráveis, especialmente das mulheres
(PEO, 2015).
OBJETIVO 4: Reduzir a mortalidade infantil
META - Reduzir para dois terços, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade infantil e infanto-juvenil Indicadores: - Taxa de mortalidade infantil; - Taxa de mortalidade infanto-juvenil (crianças com menos de cinco anos); - Proporção de crianças com um ano de idade vacinadas contra o sarampo.
4.1 Evolução e situação atual
4.1.1 Taxa de mortalidade infanto-juvenil
Segundo os dados MICS, a meta traçada para o objetivo n.º 4 do desenvolvimento do
milénio, ou seja a redução da mortalidade infantil e de crianças com menos de 5 anos de
idade foi comprida. Como testemunha o Gráfico n.º4.1, onde os dados mostram que em
2000 a taxa de mortalidade infantil foi de 124/1000, sendo a taxa de mortalidade infanto-
juvenil de 203/1000. De lembrar que a meta estipulada nos compromissos do Milénio foi
de 83/1000 para mortalidade infantil e 135/1000 para a mortalidade infanto-juvenil.
Segundo as conclusões de Plano Nacional de Saúde (PNDS 1998-2002) as principais
causas da morbidez e mortalidade infantil são o paludismo (50% - 60%), as doenças
diarreicas (15%) e as infeções respiratórias agudas.
Todavia, ambas as taxas baixaram graças diferentes intervenções em domínios da saúde
infantil e materna, ultrapassando a meta de redução em dois terços traçada pelo
compromisso dos ODM. Estudos de demografias sanitárias realizados pelo Projeto Saúde
Bandim (PSB), a nível nacional, têm testemunhado uma correlação positiva entre as
26
vacinas e a mortalidade das crianças. Assim, graças a vacinas a mortalidade das crianças
com menos de cinco anos (TMM5) entre 1994 e 2010, diminuiu de 239 para 116/1000
nascimentos, atingindo números marcantes em 2014 (de apenas 88,8/1000), enquanto a
mortalidade infantil testemunhou apenas 55,4/1000 no mesmo período. Os progressos
realizados resultaram de melhorias na oferta de serviços de saúde, nomeadamente da saúde
reprodutiva, do acesso aos serviços, de assistência nos partos (69%), do tratamento contra
o paludismo e das vacinas contra o sarampo (54,3%) (MICS 2000; 2010; 2014; Relatório
ODM, 2004).
Gráfico n.º 4.1 - Evolução da taxa de mortalidade infantil e infanto-juvenil (2000 a 2014)
Fonte: MICS (2000, 2006, 2010, 2014)
4.1.2 Proporção de crianças com um ano de idade vacinadas contra o sarampo
Entre 1990 e 2002 a cobertura de vacinação em crianças dos 0-11 meses contra a rubéola
variou entre a mais baixa, 45% em 1995, e a mais alta, 70% em 1999. A grande cobertura
de vacinação ao longo desse período pós conflito militar (1998-1999), pode ser explicada
devido a mobilização de organizações não-governamentais e da comunidade internacional
em termos de campanhas e financiamento (Relatório ODM, 2004). Os dados MICS
mostram que a proporção de crianças com menos de um ano de idade vacinas contra
sarampo variou de 75,5% em 2006, para 61% em 2010, tendo novo pico de 81,3% em
2014 (MICS, 2006, 2010, 2014).
27
Entretanto, no seminário realizado em Novembro de 2014 pelo INASA para avaliar o
estado de avanço no cumprimento dos ODM, dados testemunhados por essa instituição
mostravam que as vacinas da BCG e do Sarampo têm tido impacto na redução da
mortalidade das crianças menores de 5 anos, tendo contribuído em 47% na redução da
mortalidade e 46% na redução do Sarampo. De referir que em 2007 a cobertura de vacina
contra Sarampo foi estimada em 71%, tendo diminuído para 66% em 2009.
4.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
A Guiné-Bissau está no seu segundo Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário
(PNDS, 2013-2017), cujo objetivo principal é melhorar a situação da população para o
fortalecimento do sistema nacional de saúde sustentada em oito (8) eixos estratégicos.
Assim, foi desenvolvido um conjunto de orientações estratégicas para os quatro temas
principais (nutrição, saúde, água e saneamento, VIH/SIDA):
• O plano estratégico de prevenção de resposta contra a cólera (2009-2013);
• O Plano de água e saneamento (atualizado 2010-2020);
• O Plano Nacional Estratégico 2007-2012 para a segurança de produtos de saúde
reprodutiva;
• O Plano Plurianual abrangente para o programa alargado de vacinação 2010-2014
(atualizado para 2013-2017) com a introdução de novas vacinas (pneumocócica e
contra o rotavírus);
• Elaboração do plano estratégico para a eliminação do Sarampo e Rubéola em 2020;
• O plano operacional de passagem a escala nacional de intervenções de grande
impacto sobre a mortalidade materna e infantil na Guiné-Bissau (POPEN) de 2010,
revisto em 2012.
Em reforço, a estratégia 2015-2020 pretende ser uma continuação dos planos em
andamento e apoiar-se-á na implementação de um dispositivo de controlo eficaz do sistema
sanitário por meio de uma avaliação e de um plano de melhoria de resultados. No quadro
do esquema diretor, serão realizados estudos para a construção de diferentes infraestruturas
sanitárias com base nas necessidades já identificadas no PNDS II e nas perspetivas de
desenvolvimento do sistema sanitário (PEO, 2015).
28
OBJETIVO 5: Melhorar a saúde materna
META - Reduzir em 75 %, entre 1990 e 2015, a mortalidade materna
Indicadores: - Taxa de mortalidade materna; - Proporção de partos assistidos por um profissional qualificado de saúde; - Taxa de natalidade entre adolescentes; - Cobertura de consulta pré-natal (pelo menos uma e/ou quatro visitas); - Necessidades não satisfeitas em matéria de planificação familiar.
5. 1 Evolução e situação atual
5.1.1 Taxa de mortalidade materna
A meta assumida na cimeira no Milénio em 2000 foi de reduzir em 75% a taxa em 2015. A
mortalidade materna (morrer dando vida) constitui um problema grave da saúde pública na
Guiné Bissau, mas também dificuldades em tornos de dados fiáveis e coerentes. Segundo o
Relatório de ODM (2004) em 1990 a taxa de mortalidade materna foi de 914/100.000
Nados Vivos (NV), tendo evoluído em 1996 para 822/100.000 NV. Porém, são dados
contraditórios se olharmos por diferentes fontes, disso o exemplo do Projeto Saúde de
Bandim que estimava em 700/100.000 NV em 1996. Os próprios dados MICS
testemunham que terá sido 300/100.000 NV em 2000. Não obstante o conflito dos dados,
se considerarmos que 914/100.000 é a taxa de partida, em 1990, a sua redução em 75%
testemunha 229/100.000 NV como objetivo a atingir em 2015 (Quadro n.º 5.1).
29
Gráfico n.º 5.1 - Evolução da mortalidade materna de 1990 a 2014
Fonte: MICS (2000, 2006, 2010, 2014).
O Gráfico sobre evolução da mortalidade materna mostra uma preocupação em relação a
fiabilidade dos dados disponíveis. Se nos anos noventa ela situava-se em 914/100.000 NV,
no início do ano 2000 ela baixa drasticamente para 300/100.000 NV, tendo registado
algumas subidas de 349/100.000 NV em 2006, para 405/100.000 NV em 2010. Um pouco
menos aceitáveis são os dados de 2014 testemunhados em 900/100.000 NV, ou seja em
pouco mais de quatro anos o país perde todos os ganhos realizados até a data, numa altura
em que outros indicadores acompanhantes, caso de proporção de partos assistidos por um
profissional evoluíram positivamente.
Mais recente o Plano Estratégico Operacional (2015) testemunha que, segundo a
Organização Mundial de Saúde, em 2014, a taxa de mortalidade materna foi de
560/100.000 contra 500/1000.000 a nível da região subsariana. Estes factos levam-nos a
concluir que apesar de não conseguirmos cumprir com esta meta, ela não estará assim
muito longe de ser atingida, tendo em conta os ganhos de 2000 a 2010. Por outro lado, é
importante a definição de metodologia de medição desse indicador.
Não obstante o conflito dos dados, segundo o INASA (2014), a incidência da mortalidade
materna é alta a nível das regiões, com a maior concentração na província de Leste (Bafatá
e Gabu), onde as principais causas são hipertensão (33%), hemorragia (23%), casos
obstétricas não classificadas 21%, seguidos de comportamento do parto 9%, infeção
puerperal 8% e aborto 6%.
30
5.1.2 Proporção de partos assistidos por um profissional qualificado de saúde
A proporção de partos assistidos por pessoal qualificado tem aumentado gradualmente,
especialmente ao longo dos últimos dez anos, sendo 34,7% em 2000, 39% em 2006, 43%
em 2010, 45% em 2014 (MICS, 2000, 2006, 2010, 2014). Todavia, o acesso a salas de
partos assistidos por pessoal qualificado é desigual ao nível do país, sendo a capital Bissau
com 72,7%, seguido de Cacheu (48,8%), Biombo (52,8%), ambos acima da média
nacional, enquanto Gabu (24,4%), Quinara (26,8%), Bafatá (29,8) e Tombali (31,1%).
Porém, o acesso a salas não só está condicionado a ofertas de estruturas sanitárias mas
também a disposição e nível de escolaridade das mulheres (MICS, 2010).
Gráfico n.º 5.2 - Evolução de percentagem de partos assistidos por um profissional qualificado
Fonte: MICS (2000, 2006, 2010, 2014).
A evolução positiva dos últimos anos sobre a mortalidade materna está ligada a certas
dinâmicas e políticas implementadas. Por exemplo, a percentagem de mulheres de 15-49
anos que ficaram numa estrutura de saúde, durante 12 horas ou mais, após o parto do seu
nado-vivo mais recente, nos últimos dois anos, ronda aos 80,5%; a percentagem de últimos
nados-vivos nos últimos 2 anos, que tiveram um exame de saúde, enquanto se encontravam
na estrutura de saúde, ou em casa, depois do parto, ou uma consulta pós-natal dentro de 2
dias, após o parto, é estimada em 54,5%; a percentagem de mulheres de 15-49 anos que
tiveram um exame de saúde, enquanto se encontravam numa estrutura de saúde, ou em
casa, depois do parto, ou uma consulta pós-natal dentro de 2 dias, após o parto do seu
nado-vivo mais recente, nos últimos 2 anos, é estimada em 47,5% (MICS; 2014).
31
5.1.3 Taxa de natalidade entre adolescentes
De acordo com o MICS (2010), referente a taxa de natalidade entre adolescentes, 6% das
mulheres são mães antes dos 15 anos, 33% antes dos 18 anos. Estes indicadores, não
apresentam diferenças significativas entre espaços rurais e urbanos. Para as mulheres que
tiveram filhos antes dos 15 anos, a maior taxa de fecundidade foi observada na região de
Oio e Bafatá (5%) e as menores taxas foram registradas nas regiões de Bolama/Bijagós
(1,7%) e SAB (1,2%).
Os dados mais recentes de MICS (2014) testemunham que a gravidez precoce, ou seja, a
percentagem de mulheres de 20-24 anos que tiveram pelo menos um nado-vivo antes dos
18 anos foi estimada em 28,3%. Estes dados podem ter muito a ver com aspetos
socioculturais dos grupos étnicos animistas e muçulmanos que constituem o mosaico
cultural do país. Por consequência, 7,1% de raparigas e 0,6 % de rapazes entre 15-49 anos
casaram-se ou tiveram união de facto antes dos 15 anos; se elevarmos a faixa etária para
antes dos 18 anos, esta percentagem sobe para 37,1% para os rapazes e 3,7% para
raparigas.
5.1.4 Cobertura de consultas pré-natais (pelo menos uma e/ou quatro visitas)
O Ministério da Saúde recomenda, de acordo com as orientações da OMS, pelo menos
quatro consultas pré-natais a partir do primeiro trimestre de gravidez. Em resposta, a
frequência dos serviços de consulta pré-natal por parte das grávidas aumentou de forma
significativa passando de 62,6% em 2000 para 78% em 2006 (MICS, 2000, 2006).
Segundo os dados mais recentes, a percentagem de mulheres de 15-49 anos (com um nado-
vivo nos últimos 2 anos) atendidas por profissional de saúde qualificado, pelo menos uma
vez, durante a última gravidez que resultou em nado-vivo manteve estável em 93% em
2010 e 92,4% em 2014; para aquelas que tiveram pelo menos quatro visitas, a variação foi
ligeira em 68% em 2010, 64,9% em 2014 (MICS, 2010, 2014).
Em relação aos conteúdos dos cuidados pré-natais, segundo MICS (2014) a percentagem
de mulheres de 15-49 anos com um nado-vivo nos últimos 2 anos a quem mediram a
tensão arterial e tiraram amostras de urina e sangue para análise durante a última gravidez
que teve como resultado um nado-vivo foi estimada em 75,5%; enquanto 45% de mulheres
32
da mesma faixa etária (com um nado-vivo nos últimos 2 anos) foram atendidas por
profissional de saúde qualificado.
5.1.5 Necessidades não satisfeitas em matéria de planificação familiar
Planeamento familiar contribui enormemente para a melhoria da saúde materna, pois
permite a redução de gravidez indesejada, o espaçamento dos nascimentos ou nascimentos
limitantes. Na Guiné-Bissau, o uso de contraceção permanece bem abaixo do que é
recomendado pela OMS. Os dados sobre necessidades de contracetivos não satisfeitos a
nível nacional variam de 25% em 2006 para 6% em 2010, e 22,3% em 2014 (MICS, 2006,
2010, 2014). Em termos de distribuição segundo MICS (2010) dos 6% a nível nacional,
9% representa o meio urbano e 5% para o meio rural. Entre as necessidades não satisfeitas,
temos 5% para espaçamento, sendo 6% no meio urbano e 4% no meio rural, enquanto para
a limitação, a nível nacional temos 1%, com maior percentagem no meio urbano (2%) e no
meio rural apenas 1%. Assim, a procura de contracetivos satisfeitos foi estimado em 92% e
com maior ênfase para o meio rural 95%, contra 88% para o meio urbano.
A nível de distribuição por regiões, em relação ao total das necessidades não satisfeitas, a
maior percentagem é na região de Quinará 10%, seguida das regiões de Biombo e SAB
ambas com 9%. A região com menor percentagem das necessidades não satisfeitas é a
região de Oio com apenas 3%. Em relação a distribuição regional dos dois tipos de
necessidades, a região de Biombo é onde se testemunha maior percentagem de
necessidades não satisfeitas para o espaçamento (7%), enquanto a região de Quinará (3%)
de necessidades não satisfeitas para limitação (MICS, 2010).
5.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
O governo está a desenvolver ações no domínio da saúde em concertação com a política
global para diminuir a alta taxa mortalidade materna e associar várias iniciativas para
implementar estratégias nacionais, a curto e médio prazo, como roteiro para a redução da
mortalidade materna e neonatal.
Em 2010, houve campanha para acelerar a redução da mortalidade materna em África,
lançado pela União Africana. Como parte dessas iniciativas e a consideração do plano de
33
Maputo para a integração da saúde reprodutiva nos cuidados primários de saúde a favor do
acesso universal aos cuidados de saúde, foram implementadas diversas iniciativas, tais
como a expansão da infraestrutura física para formação de recursos humanos
(principalmente enfermeiros e parteiras) médicos e da disponibilidade de kits de parto e
cesariana, materiais e equipamentos adequados para procedimentos médicos em estruturas
especialmente na prestação de cuidados de saúde em zonas rurais e serviços de referência.
Apesar da baixa frequência e uso, o país tem uma vasta gama de métodos contracetivos
modernos, incluindo a contraceção de emergência e implante, distribuídos tanto em áreas
urbanas como em rurais (Relatório ODM, 2013).
O Programa de Reprodução Integrado nos cuidados primários de saúde procura garantir o
acesso e melhorar a cobertura e a qualidade do acompanhamento das mulheres, através do
estabelecimento de uma ligação entre pré-natal e parto, planeamento familiar e prevenção
do VIH/SIDA. Outro programa é a Saúde Reprodutiva dos adolescentes realizado pelos
ministérios da Saúde, da Educação e da Juventude que visa promover a educação sexual e
saúde reprodutiva de adolescentes e jovens, reduzir a infeção pelo VIH e gravidez
indesejada entre adolescentes e jovens entre 10 e 24 anos (Relatório ODM, 2013).
OBJETIVO 6: Combater o VIH/SIDA, o paludismo e outras doenças META-Parar e inverter a propagação do VIH/SIDA, do paludismo e outras doenças graves até 2015 Indicadores: - Taxa de prevalência nas grávidas com idades compreendidas entre 15 a 24 anos; - Taxa de utilização de contraceção; - Conhecimentos, atitudes e comportamentos; - Taxa de prevalência do paludismo e de mortalidade associada à doença; - Proporção da população que vive em zonas de risco, utilizando os meios de proteção
e tratamento eficaz contra o paludismo; - Taxa de prevalência da tuberculose e taxa da mortalidade associada a doença; - Proporção de casos de tuberculose detetados e seguidos dentro do plano de
tratamento de curta duração e supervisionamento direto.
34
6.1 Evolução e situação atual
6.1.1 Taxa de prevalência das grávidas com idades compreendidas entre 15 a 24 anos
A taxa de prevalência do VIH na Guiné-Bissau, estimada ao nível nacional, melhorou em
2011, segundo o INASA, quer em relação à 2001, quer relativamente aos resultados de
2010. Com efeito, a prevalência do vírus VIH1 que rondava os 4% em 2001, inclusive nas
infeções duplas, entre as pessoas sexualmente ativas com mais de 15 anos de idade, passou
para 3,3% em 2010. A partir de 2010, a epidemia generaliza-se com uma prevalência de
5.3% para o grupo de idade dos 15-49 anos (mulheres: 6.9% / homens: 2.4%), e 6% na
população de 15 e+ mais anos (INASA, 2011).
Quadro n.º 6.1 - Taxa de prevalência de VIH nas grávidas de 15 a 24 anos de idade, por Ano e Região Região 2011 2012 2013 2014 SAB 4,0% 4,2% 3,4% 4,5% Bafatá 3,1% 5,1% 4,0% 2,3% Bijagós 3,6% 1,4% 1,8% 0,5% Biombo 5,2% 5,6% 4,3% 3,0% Bolama 2,2% 3,6% 0,0% 0,0% Cacheu 2,8% 2,2% 2,2% 1,7% Gabu 2,1% 2,3% 2,0% 1,7% Oio 2,1% 2,7% 2,8% 1,7% Quinara 5,0% 6,1% 2,7% 2,2% Tombali 3,5% 4,6% 4,6% 2,3% Total 3,7% 4,3% 3,2% 2,5% Fonte: Dados SNLS (2015).
Segundo os dados do Secretariado Nacional de Luta contra SIDA (SNLS) a taxa de
prevalência nas mulheres gravidas de 15 a 24 anos de idade variou de 3,7% em 2011 para
2,5% em 2014, tendo um pico de 4,3% em 2012. Estes dados confirmam que a infeção está
controlada e que este indicador no Milénio foi conseguido. Lembramos que, nos
indicadores dos ODM, a meta foi em baixar de 7,8% para 5,9% a taxa de prevalência em
mulheres grávidas. De referir que a capital Bissau com 4,5% e Biombo (3%) são os que
estão à cima da média nacional (Quadro n.º6.1).
A epidemia de VIH na Guiné-Bissau é do tipo generalizado, caracterizado por movimento
simultâneo de dois tipos de VIH (1 e 2) com a predominância do VIH-1. A prevalência de
VIH-1 na população de 15-49 anos é estimada em 3,7% em 2014. Em mulheres grávidas
35
que frequentam serviços de CPN a prevalência foi estimada em 6,4% em 2009 tendo
baixado para 5% em 20141. Em 2009, a repartição por sexo mostra uma predominância
feminina e dos jovens de idade entre os 15-24 anos mais atingida através de novos casos de
infeção (75% e 36% respetivamente); as meninas da faixa etária dos 15-24 anos a serem 3
vezes mais infetadas pelo VIH, ou seja, 4.2% contra 1.4% para os rapazes (INASA, 2010).
As infeções do VIH têm atacado mais as categorias vulneráveis, sendo considerado de
população chaves na análise das infeções. A despistagem realizada pela ENDA, em 2014, a
população chave, em Bissau, mostra uma prevalência de 8,9% (27/305) em profissionais
de sexo (PS) e, 4,8% (4/83) em homens que fazem sexo com homens (HSH). Porém, pode-
se considerar grande evolução em termos de redução de infeção no seio da população
chave, porque em 2009, em Bissau2, esta prevalência no seio de PS foi de 54,6%, pese
embora a diferença metodológica de medição (PEN III, 2015).
Gráfico n.º 6.1 - Evolução de infeção do VIH em diferentes categorias da população
Fonte: (INASA, 2009, 2014; PEN III, 2015).
6.1.2 Taxa de utilização de contraceção
Segundo MICS (2014) há muito pouca utilização de métodos contracetivos no país. Por
exemplo, 86% das mulheres da faixa etária dos 15-49 não utilizam nenhum método
contracetivo. Esses métodos são menos utilizados em zonas rurais do que nos centros 1Inquérito sentinela (INASA, 2009; 2014). 2 Inquérito Sentinela VIH/IST juntos de PS, PSB (INASA 2009).
36
urbanos (90.4% contra 77.6%). Nas zonas mais islamizadas caso de Gabu, Oio e Bafatá a
não utilização testemunha proporções significantes (95%, 96% e 89% respetivamente). Os
dados evoluíram muito pouco, apenas 16% de mulheres de 15-49 anos atualmente casadas
ou em união estão a usar (ou cujo parceiro está a usar) um método contracetivo (moderno
ou tradicional). Entre os métodos usados, os modernos são mais recorridos com 14,4%,
contra 1,6% de métodos tradicionais. Quanto a utilização do preservativo na relação sexual
com um parceiro ocasional passou de 38,8% em 2006 para 50% em 2010 (MICS, 2006,
2010).
6.1.3 Conhecimentos, atitudes e comportamento de VIH/SIDA
Quanto ao conhecimento, a percentagem de pessoas entre 15-49 anos que terão ouvido
falar de SIDA é estimado em 95% a nível nacional, sendo 97,9% para os homens e 92,1%
para as mulheres. No entanto, segundo MICS, a variável prevenção do VIH entre os jovens
ainda constitui uma preocupação, a percentagem de jovens raparigas, entre 15-24 anos, que
identificaram corretamente formas de evitar a transmissão (tendo rejeitado as principais
ideias erradas de transmissão), variou de 12% em 2000 para 32,1% em 2006, 15% em
2010, 22,5% em 2014. Se associarmos ao risco onde jovens raparigas da mesma faixa
etária terão usado preservativo na última relação extraconjugal a percentagem varia de
38% em 2006, 47% em 2010, e 52,5% em 2014, o que de facto testemunha algum risco de
contaminação por referir parceiros de ralações ocasionais.
6.1.4 Taxa de prevalência do paludismo e da mortalidade associada à doença
Os dados de 1995 do SNLS revelam que o paludismo era a causa de 50% de consultas, e
que 90% eram da estirpe do Plasmodium Falciparum. A prevalência do paludismo passou
de 17,1% em 1999 para 15,9% em 2002. A região de Biombo testemunhava maior
prevalência com 39% e Bafatá a menor, com 2% (Relatório ODM, 2004). O paludismo
constitui um fardo na morbidade e mortalidade na população geral, sendo que, segundo o
INASA, em 2012, a prevalência geral do paludismo foi de 7,9%, com a maior prevalência
a ser testemunhada em região de Gabu, e menor prevalência em região de Cacheu. A taxa
de prevalência em menores de 5 anos foi de 9,4%. Referente aos óbitos notificados, por
37
faixa etária, 48% são menores de 5 anos, 52 % para 5e+ anos (INASA, 2013; PEN, 2014).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2014, a predominância do paludismo
era de 28.000/100.000 em oposição a uma taxa regional de 19.000/100.000 (PEO, 2015).
6.1.5 Proporção da população que vive em zonas de risco, utilizando os meios de
proteção e tratamento eficaz contra o paludismo
Quanto aos meios de proteção os mais utilizados são as tendas e mosquiteiros
impregnados. A proporção de famílias que dispõe de pelo menos de um mosquiteiro e/ou
utilizam tendas (impregnadas) melhorou de 79,2%, em 2006, para 83%, em 2010. Devido a
características de espaço, os agregados familiares rurais testemunhavam 84% contra 82%
dos centros urbanos. As regiões de Gabu e Biombo são as que testemunharam menos
mosqueteiros por agregado familiar, situando-se abaixo da média nacional (56% e 76%
respetivamente) (MICS, 2010).
Analisando a proporção de crianças de menos de 5 anos, os dados MICS mostram que a
variação de 2000, 2006 e 2010 foi de 39%, 39% e 74,4%, ou seja, houve um salto
qualitativo em 2010 da proporção de crianças com mosquiteiros impregnados, isso graças a
campanhas levadas à cabo pelo governo com apoio do UNICEF. Assim, o tratamento anti
palúdico baixou de 27,2% em 2006 para 24,42% em 2010 (MICS, 2006, 2010).
6.1.6 Taxa de prevalência da tuberculose e taxa de mortalidade associada a doença
Um estudo exploratório realizado por Manjuba (2007) fez um diagnóstico da situação da
tuberculose no país, entre 2000 e 2005, registando 10.623 casos de tuberculose e uma
variação da taxa de incidência de tuberculose entre 116,4/100.000 habitantes, em 2003, e
para 131,3/100.000 habitantes, em 2005, tendo maior coeficiente de mortalidade registado
em 16,8/100.000 habitantes. Os dados da OMS mostram uma tendência muito mais
acentuada durante esse período, onde a incidência de tuberculose, em 2005, terá sido de
206/100.000, sendo que 19% dos novos casos em adultos eram seropositivos (PNDS II,
2008).
38
A taxa de sucesso terapêutico ainda não cruzou o limiar de 85%, tal como estabelecido na
estratégia global da OMS na parceria Stop-TB. No entanto, o país já transpôs o limiar de
deteção de 70% dos casos entre todas as formas, assim como os novos casos com
baciloscopia positiva. O que é bom indicativo das supostas abordagens de triagem e
ferramentas de diagnósticos menos sensíveis. A taxa de sucesso do tratamento entre o BK+
passou de 48%, em 2003, para 66%, em 2006, graças à extensão da cobertura do DOTS.
Em áreas consideradas de saúde atingiu satisfatoriamente 96,4%. Essa tendência foi
mantida, testemunhando dados acima do limiar de 70% a partir de 2010 a esta parte. Isto,
graças a reforço dos técnicos de saúde em atividades DOTS, o envolvimento da sociedade
civil (caso das ONG’s, ENDA e Ação Ajuda), a melhoria e atualização dos instrumentos
de coleta de dados e apoio nutricional a pacientes com TB (PNLT, 2013).
6.1.7 Proporção de casos de tuberculose detetados e seguidos dentro do plano de
tratamento de curta duração e supervisionamento direto
Em 2002 a direção do Programa Nacional de Luta contra a Tuberculose (PNLT) registou
1.566 casos de tuberculose. No entanto, a limitação dos meios disponíveis para
despistagem fez crer que a situação real desta doença foi subestimada na época (Relatório
ODM, 2004). Em 2013 a taxa de notificação de novos casos foi de 124/100.000 habitantes,
sendo que, a taxa de notificação de casos novos com Baciloscopia positiva (BK+) foi de
90/100.000. Porém, a taxa de sucesso terapêutico foi de 73% (INASA, 2014).
A despistagem da TB entre as PvVIH registou excelentes resultados no Hospital Nacional
Simão Mendes, acima da média recomendada pela OMS (11%), pese embora esses
resultados não serem representativos para toda a extensão do território nacional. Esta taxa
foi registada no momento da despistagem do VIH e fez avançar a hipótese de que se for
implementada em todo o país, o número de casos de tuberculose notificados aumentará
anualmente em cerca de 20% em relação à taxa registada no país através de uma
abordagem de despistagem passiva. Atualmente o país está a implementar um regime de
tratamento padronizado de segunda linha de 20 meses. Os pacientes com TB-MR recebem
um suporte nutricional, bem como testes de laboratório subsidiados pelo PNLT. O
tratamento e a gestão da TB-MR começou em 2012 e um total de 35 pacientes já foram
39
colocados sob tratamento de segunda linha com a distribuição de 60% contra 40% de
homens e mulheres, respetivamente (PEN-TB, 2014).
6.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
Numa abordagem participativa e inclusiva de todas as partes interessadas, populações-alvo
e especialistas de nível regional, central e internacionais, o processo de planeamento
baseado em resultados identificou quatro eixos estratégicos ligados a combate do
VIH/SIDA. Ainda o governo sublinhou no DENARP (2010) os seguintes objetivos:
• Aumentar a proporção da população sexualmente ativa que conheça o seu estado
serológico de 2 a 6% em 2015;
• Garantir o pacote de prevenção integrada de transmissão vertical entre 15 e 32%
entre as mulheres gravidas durante as consultas pré-natais (CPN);
• Garantir a 100% as condições de segurança na transfusão sanguínea, segundo as
normas até 2015;
• Garantir o acesso ao tratamento antirretroviral e de infeções oportunistas entre 8 e
43% das pessoas vivendo com o VIH (PvVIH) até 2015.
Mais recente através de PEN III (2015), estratégias inovadoras serão desenvolvidas para
aumentar a capacidade de acesso aos serviços de VIH em combinação com a redução dos
efeitos relacionados a fatores de risco e situações de vulnerabilidade. O PEN III (2015)
concentra-se na melhoria da qualidade de prestação de serviços, estendendo a sua
cobertura, os reforços multissectoriais, as sinergias intrassectoriais dos programas, bem
como o desenvolvimento de pesquisas e informações estratégicas básicas mas
indispensáveis na implementação de estratégias concernentes.
Para o paludismo, as principais estratégias no combate nos próximos tempos resumem na
utilização dos mosquiteiros impregnados de longa duração de ação (MILDA, Lav e QPS)
(INASA, 2014). Quanto a Tubercolose a estratégia DOTS (tratamento sob observação
direta) estabelecida em 2001 e implementada em certas estruturas sanitárias continua a dar
provas e deve ser mantida.
40
OBJETIVO 7: Assegurar um ambiente durável
METAS: • Integrar os princípios da sustentabilidade ambiental nas políticas e programas
governamentais e inverter a perda dos recursos ambientais; • Reduzir para metade a proporção da população sem acesso sustentado a água
potável e saneamento básico. Indicadores: - Proporção das zonas florestais e das áreas protegidas; - Proporção da população com acesso a água potável; - Uso de fontes melhoradas; - Uso de instalações sanitárias melhoradas.
7. 1 Evolução e situação atual
7.1.1 Proporção das zonas florestais e das áreas protegidas
A zona costeira da Guiné Bissau é reconhecida internacionalmente no que diz respeito à
proteção da biodiversidade, tanto pela variedade de aves existentes como pela grande
extensão de mangais. Distingue-se igualmente como zona principal de reprodução de
várias espécies de peixes, camarões e de mamíferos da costa da África Ocidental. Em 1998
a Guiné-Bissau dispunha de uma proporção de florestas equiparada a 5,5% do território
nacional. Esta floresta que apresenta uma grande diversidade (florestas húmida, seca,
galeria, savanas, palmeiras e mangais) tem tido uma destruição notória através de perdas
de recursos ambientais (Relatório ODM, 2004).
Com exceção da reserva da biosfera Bolama/Bijagós de 10.272 km2 (recebe 1% da
população mundial de aves), o sistema nacional de áreas protegidas (SNAP) representa
15% do território nacional e inclui três parques nacionais costeiros (Parque Nacional de
Lagoa de Cufada, 890 km2, Parque Natural de Tarrafe de Cacheu, 800 km2, Parque
Nacional de Floresta de Cantanhez, 1.067.67 km2), dois parques marinhos nacionais
(Parque Nacional de Orango, 158 km2, Parque Nacional João Vieira e Poilão, 500 km2) e
41
uma área comunitária protegida (Área Marinha Comunitária de Urock, 550 km2)
(Relatório ODM, 2004).
Desde a criação do IBAP, o SNAP expandiu-se de quatro para cinco parques e uma área
marinha protegida comunitária, estando em vias de, a curto prazo, chegar às oito grandes
áreas protegidas. A área coberta pelo sistema nacional de área protegida conheceu assim
numa década um aumento de 26,3% (dos 15% do território nacional). A rede nacional de
áreas protegidas engloba uma diversidade de ecossistemas e recursos naturais estratégicos
que são geridos duma forma participativa com as partes implicadas e os atores nacionais e
locais (SEA/DGDD, 2015).
As ameaças mais evidentes têm a ver com a desflorestação e desmatação. Segundo MICS,
o consumo de combustíveis sólidos por parte das famílias variou de 98,4% em 2006, para
99% em 2010, tendo baixado ligeiramente para 97,3% em 2014. O que testemunha que a
maior parte da população bissau-guineense utiliza carvão e lenha para a cozinha,
constituindo desta forma ameaças a desflorestação.
7.1.2 Proporção da população com acesso a água potável e saneamento básico
A avaliação da pobreza feita em 2002 revela que a nível nacional 54% tinha acesso a água
potável. O aprovisionamento de água atingia 34% em zonas urbanas, 68% em zonas rurais
e, 36% nos centros semirrurais (Relatório ODM, 2004). Segundo MICS (2000, 2014) o
acesso a água potável, de uma maneira geral, subiu no país, de 60% em 2000 para 74,8%
em 2014. Todavia muito perto (com 25,2%) do objetivo de reduzir para metade (estimado
em 20%) da proporção de pessoas sem acesso a água potável, o que poderá testemunhar
que esta meta poderá ser atingida em 2020.
Em detalhes (MICS, 2010) o acesso a água potável, como a de todos os bens e serviços
sociais, revela-se ainda insuficiente para as populações das zonas rurais. No geral, 53% dos
agregados familiares do mundo rural têm acesso à água potável contra 84% das populações
das zonas urbanas. A distribuição é igualmente desigual entre as regiões. As assimetrias
colocam por um lado as regiões melhores abastecidas caso de Bissau 78%; Bafatá 70%;
Bolama/Bijagós e Quinara, Tombali e, por outro, as menos beneficiadas como Oio 32%;
Biombo 47,7%; Gabu e Cacheu em 54% respetivamente.
42
Em termos de saneamento básico o uso das fontes melhoradas tem conhecido algumas
melhorias nos últimos anos, sendo substancial nas últimas décadas. Para os dados MICS
em 2006 a percentagem do uso de fontes melhoradas no seio das famílias foi de 59,9%,
tendo subido para 66% em 2010, situando em 74,8% em 2014. Porém, essa tendência de
evolutiva não é notória quando tratamos do uso de instalações sanitárias melhoradas. Em
2006, a percentagem de famílias em uso de instalações sanitárias melhoradas foi de 11,4%,
sendo a mesma percentagem em 2010 (11%), testemunhando uma ligeira melhoria de
13,1%, em 2014.
A situação de saneamento básico junto dos agregados familiares a nível nacional continua
preocupante, apesar de melhorias assinaláveis nos últimos anos. Assim, a percentagem de
tratamento de água nos seios das famílias é de apenas 5,1% e de eliminação segura das
fezes da criança, testemunhada em 62,6% (Gráfico n.º 7.1).
Gráficos n.º 7.1 - Agregados familiares e situação de saneamento básico
Fonte: MICS (2014)
7.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
O país ratificou em 1995 a Convenção sobre a Diversidade Biológica resultante da
Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em
1992. Uma estratégia nacional e um plano de ação para a conservação da diversidade
biológica foram elaborados em 2002 e implementados. Assim, segundo o relatório sobre a
43
avaliação da governança ambiental os objetivos da conservação da biodiversidade na
Guiné-Bissau recomendam:
• Manter a biodiversidade, através do estabelecimento de uma rede de áreas
protegidas para conservar os ecossistemas, nas suas diversas componentes;
• Restaurar ecossistemas degradados;
• Estabelecer prioridades na utilização e na conservação de espécies em função da
sua importância económica e/ou para a conservação;
• Desenvolver planos e programas integrados de conservação e desenvolvimento
sobretudo em relação aos sectores cujo desenvolvimento tem por base o uso da
diversidade biológica;
• Estabelecer sistemas nacionais de monitoria para seguir a utilização e os estatutos
das espécies e ecossistemas e as tendências dos recursos da biodiversidade;
• Integrar os objetivos da conservação no processo de planificação sectorial, regional
e nacional do desenvolvimento socioeconómico.
E para lidar com a situação alarmante em termos de saneamento, segundo o plano de ação,
o governo bissau-guineense reconhece a indivisibilidade dos subsectores de água e
saneamento, tendo comprometido mobilizar recursos humanos e financeiros para a
extensão da catástrofe humanitária e ambiental que resultariam da inação e da negligência
continuada do passado. Assim prometeu:
• Assegurar o respeito pelo direito humano básico de acesso ao saneamento;
• Colocar os recursos hídricos e a proteção do ambiente no coração de todos os
projetos de desenvolvimento;
• Assegurar a sustentabilidade da operação de sistemas de água potável e
saneamento;
• Reconhecer o valor económico e social da água e, portanto, ao saneamento;
• Dar seu papel para as autoridades descentralizadas e comunidades de base;
44
OBJETIVO 8: Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento Metas:
• Cooperar no sentido de criar condições propícias a nível nacional e mundial, ao desenvolvimento e eliminação da pobreza
• Desenvolver um sistema comercial e financeiro multilateral, aberto, equitativo, baseado em normas, previsível e não discriminatório
• Incentivar os países industrializados a perdoar todas as dívidas públicas contraídas por países em desenvolvimento
Indicadores:
- Ajuda pública ao desenvolvimento; - Acesso aos mercados; - Viabilidade da dívida.
8.1 Evolução e situação atual
8.1.1 Ajuda pública ao desenvolvimento
De acordo com dados da OCDE, a ajuda dos principais doadores de países em
desenvolvimento tem experimentado um crescimento constante nos últimos dez anos (+
63% entre 2000 e 2010). No caso da Guiné-Bissau a ajuda externa tem sido afetada por
acontecimentos políticos. Porém de 2000 a 2010 a ajuda pública ao desenvolvimento terá
evoluído de 81.1 milhões de USD para 139.3 milhões de USD, dentre os quais a ajuda dos
parceiros multilaterais terá evoluído de 39,5 milhões de USD para 84,7% no mesmo
período homólogo (Relatório ODM, 2013).
Segundo os dados do Ministério de Economia e Integração Regional, nos desembolsos
comunicados em 2010, os fluxos de ajuda global oscilaram de 112.7 milões de USD, em
2007, para 115.6 milhões de USD, em 2008, de 162 milhões de USD, em 2009, para 122.2
milhões de USD em 2010. Muito perto do montante do Inquérito de Paris (132 milões de
USD), onde as diferenças podem estar ligadas a critérios de desembolsos. O decréscimo
entre o total de ajudas constatado em 2009 em relação ao total, de 2010, deve-se ao facto
de em 2009 ter havido um apoio substancial as eleições e, por outro lado, a própria redução
ao apoio orçamental em 2010 (MEPIR, 2011). Os principais países de ajuda ao
45
desenvolvimento são a União Europeia com 18%, seguida do Sistemas das Nações Unidas
com 16% e Portugal a completar o pódio com 14% (Gráfico n.º 8.1).
Gráfico n.º 8.1- Desembolso de Ajuda ao Desenvolvimento por Agência em 2010
Fonte: MEPIR (2011)
De forma geral a Guiné-Bissau é dominada por sete maiores parceiros dos quais UE, SNU,
BM, Fundo Global, BAD, Portugal e Espanha. Os parceiros bilaterais representam 27%
dos desembolsos da ajuda em 2010, enquanto o remanescente foi promovido pelos
doadores multilaterais. Os principais setores da ajuda, em 2010, são a governação (28%) a
saúde (20%) e a educação (16%) (Gráfico n.º 8.2).
Gráfico n.º 8.2- Ajuda ao Desenvolvimento por Setor de Intervenção em 2010
Fonte: MEPIR (2011)
A instabilidade política tem tido uma influência marcante sobre o montante da ajuda
recebida pelo país. Devido a retoma da normalidade constitucional o programa de
46
investimento público de 2014 contempla 106 projetos, correspondentes a 30,6 bilhões de
francos CFA. Com efeito dos 65 milhões de USD, volume financeiro do programa, 60%
milhões USD (ou seja, 92,2%) provêm de fonte externa. Estima-se que 61,2% do volume
global programado provinha dos donativos, 31% por empréstimo e, 7,8% do financiamento
interno (SEPIR, 2015 - dados internos).
Em termos de setores, as áreas sociais (sobretudo a saúde e educação, ambiente, agua e
saneamento entre outros) terão sido beneficiadas a 38%, seguidas das áreas das
infraestruturas (rodoviárias, obras públicas, energéticas, comunicação e urbanismo) com
31%. Sobre a origem de financiamento, os parceiros multilaterais foram os que mais terão
contribuído, sendo de destacar o Sistema das Nações Unidas, BOAD, CEDEAO e
UEMOA, com envelope a rondar os 63% do total programa e 76,7% em relação ao
executado (ibidem).
A realização da mesa redonda de Bruxelas em Março de 2015 permitiu aos parceiros
garantir ao país cerca de $1 473 138 696,29, sendo que $743 691 310,51 (50,48%) refere
aos empréstimos e $729 447 385,78 (49,52%) a dívida. De referir que a nível de relações
bilaterais países como Portugal (40 milhões de euros), Brasil (5 milhões de dólares), Japão
(1 mil milhão de FCFA), Timor Leste (1 milhão e novecentos mil dólares) deram provas de
retoma de cooperação e de ajuda ao desenvolvimento da Guiné-Bissau.
8.1.2 Acesso aos mercados
A economia da Guiné-Bissau é altamente dependente do único produto de exportação,
castanha de caju, principalmente direcionado para um único parceiro (Índia), o que o torna
muito vulnerável ao preço e demanda (Relatório ODM, 2013). Todavia, há outras
oportunidades a maximizar:
§ A nível Regional é membro da CEDEAO desde 1975, UEMOA apartir de 1997 e
União Africana apartir de 2000;
§ Organização Mundial de Comércio: desde 1995 o país é membro da OMC e
beneficia de estatuto de país menos avançado (PMA). Mas, é considerado como
membro “inativo”, porque não paga as quotas desde 1997. Por conseguinte, não
beneficia da maior parte da assistência técnica ou de formação;
47
§ Acordo de Cotonou (2000): a Guiné-Bissau faz parte dos países que assinaram o
acordo de Cotonou (sucessor de convenção de Lomé);
§ Com a União Europeia (UE): o acordo preve o acesso especial e preferencial dos
países da ACP aos mercados da UE;
§ Um acordo de parceria económica entre os países da CEDEAO e UE esta em
negociação. Os ganhos para a Guiné-Bissau não são ainda claros, enquanto a
economia continua pouco diversificada e o país beneficia de Tudo Menos as Armas
(TSA) da União Europeia, o que autoriza a entrada dos produtos dos PMA sem
impostos ou taxas exceto as armas e munições.
§ Com os EUA, a Guiné-Bissau desde 2000 beneficiaria da “AGOA” - um sistema
preferencial acordado pelos EUA aos países da África Subsahariana – (o país foi
suspenso em 2012, devido ao golpe de 12 de Abril, tendo sido levantado as sanções
em 2014).
8.1.3 Viabilidade da dívida
Em março de 2000, o país atingiu o ponto de decisão da iniciativa para os Países Pobres
Altamente Endividados (PPAE), mas se desviou do mecanismo para a redução da pobreza
e o crescimento do FMI, por causa da instabilidade política e, portanto, não atingiu o ponto
de conclusão. Em 2005 e 2006, o FMI e o Banco Mundial apoiaram o governo com os
fundos do programa de controlo, enquanto em 2008 e 2009, Guiné-Bissau teve três
desembolsos da assistência de emergência pós-conflito do FMI. Porém, graças aos esforços
feitos pelo país com apoio dos seus parceiros de desenvolvimento, foi possível atingir o
ponto de conclusão da iniciativa PPAE (incluindo a assistência adicional) e Iniciativa de
Alívio Dívida Multilateral (IADM) no final de 2010 e maio de 2011, o Clube de Paris
concordou em fornecer grande alívio da dívida (Relatório ODM, 2013; MEPIR, 2011).
Após o alívio da dívida no ponto de conclusão, a dívida externa da Guiné-Bissau diminuiu
de 121,9% do PIB em 2009 para 19,1% do PIB em 2010 (Relatório ODM, 2013). No fim
de 2010 a Associação Internacional para o Desenvolvimento (IDA) mantinha como
principal credor multilateral da Guiné-Bissau (com 26,4% do total da divida), seguido do
BAD (13,8%). Em termos bilaterais, no período homólogo, a dívida do país era de 572
milhões de USD (correspondente a 52,6% do total da divida) (MEPIR, 2011).
48
Gráfico n.º 8.3 - Evolução da Dívida Pública Externa (2009-2014) em USD
Fonte: MEF (2014).
Em 2014, a dívida pública foi de 249,3 milhões USD, 197,7 milhões USD (78,7%)
correspondem a dívida multilateral, enquanto a dívida bilateral cifrava em 51,1 milhões
USD (20,4%), dos quais são credores não Clube de Paris. Os principais credores
multilaterais do país, em 2014, foram a BOAD, IDA, BAD, BADEA, BID, FMI,
CEDEAO, BEI, FIDA e a OPEP. A BOAD passou a ser o maior credor, com 46,7% do
total da dívida multilateral, seguido da IDA com 16,8%. De referir que a Guiné-Bissau não
tem dívidas em atraso com o IDA, BID, BADEA, Saud Fund, Kuwait Fund, Fundo Arabi e
o FMI (MEF, 2014).
Gráfico n.º 8.4 - Repartição da Dívida Pública em 2014
Fonte: MEF (2014).
49
8.2 Políticas e estratégias nacionais implementadas
No ambito do comércio, está previsto a diversificação das exportações de bens para a
construção de infraestructuras de base (estradas, portos e electricidade) (Relatório ODM,
2013), entre outros:
§ A transformação da castanha de caju, continua a ser necessária com vista a
melhorar o crescimento económico, criar empregos e aumentar a exportação e os
rendimentos para o país;
§ A diversificação das exportações pode igualmente beneficiar dos acordos do TSA
com a UE e de AGOA com os EUA;
§ Concernente a TIC, o principal desafio será de alargar a cobertura dos serviços de
comunicação, particularmente da internet, porque poderá ajudar no alcance do
crescimento económico desejado;
§ O novo Plano Estratégico e Operacional (PEO, 2015-2020), será o novo quadro
para a harmonização da intervenção dos parceiros com as prioridades nacionais.
Porém, permitiu um compromisso de 1,5 mil milões de USD na mesa redonda de
Bruxelas de 2015;
§ No domínio da Gestão da dívida pública, o alcance do ponto de conclusão da
iniciativa PPTE foi seguido do reforço das capacidades de gestão da dívida pública
no seio do Ministério das Finanças. Esta medida devia ser acompanhada de
melhoria de coleta das receitas públicas com vista a reduzir a dependência do país
ao financiamento externo.
3. Desafios nacionais e recomendações pós 2015
3.1 Na erradicação da pobreza
Ao contrário do esperado, a pobreza aumentou ao longo dos anos no seio das famílias
bissau-guineenses. Assim, para além da fulcral necessidade de uma estabilidade política e
governativa é importante relançar alguns desafios, boa parte deles já referenciados no
DENARP II, tais como:
50
• Realização da zonagem agro-ecológica e recenseamento agrícola;
• Aprovação e aplicação do regulamento da lei de terra;
• Aposta na transformação local de produto da castanha de caju e de outros produtos
como a manga etc., e na produção de arroz;
• A aposta na pecuária devido a sua estreita relação com a redução da pobreza e a
segurança alimentar e o envolvimento da população rural;
• Aposta na horticultura devido a sua relação com a redução da pobreza,
autoemprego (sobretudo para as mulheres) e a segurança alimentar;
• Aposta na pesca devido ao seu potencial e categoria da população envolvida;
• Atenção especial ao reforço da capacidade produtiva da população rural, seja a
nível financeiro, seja a nível de aconselhamento, seguimento e avaliação.
• Melhoramento de acesso ao crédito para mulheres e os jovens;
• Dinamização do empreendorismo (sobretudo de mulheres e jovens);
• Implementação programa emprego jovem e de mão-de-obra de alta intensidade
(permitindo que os jovens possam estar em atividades económicas);
• Desenvolvimento de programas de alimentação escolar, políticas de motivação de
produção agrícola, transformação e exportação de produtos, bem como as políticas
de proteção social para as camadas mais vulneráveis;
• Apostas na escolarização das pessoas, sobretudo as mulheres em certos níveis de
ensino, em zonas rurais de modo a que possíveis estratégias de comunicação sobre
comportamento, atitudes e práticas, em matéria da saúde, de saneamento básico, de
iniciativas de empreendorismo etc., possam ser melhor apreendidas.
3.2 Assegurar a educação primária para todos
Os dados de RESEN (2013) mostram que 23% de uma geração continua fora do sistema
educação (no ensino primário), o que quer dizer que grande parte da população em idade
escolar ainda está fora do sistema. Por exemplo, quase 44% de crianças (de 6-11 anos) com
idade de escolarização obrigatória (ensino básico) estão fora do sistema escolar educativo.
Esta percentagem é de 26% para as crianças de 12 a 14 anos e 51% para as crianças de 15 a
24 anos.
51
No sistema educativo, as despesas com pessoal tem crescido anualmente (41% em 2002,
66% em 2013). Se analisarmos apenas as despesas correntes, percebemos que em 2013 os
custos com pessoal representavam 97%, desta despesa, o que significa que depois de
pagamento de salários (sabendo que havia 6 meses em atraso) as despesas de bens e
serviços e transferências (que também incluem os salários e outros) são quase inexistentes
(1 e 2%, respetivamente) (RESEN, 2013).
No entanto, um dos principais obstáculos para a frequência escolar de lado da oferta é a
falta de infraestrutura escolar (21% das crianças do país, com idades entre 7 e 14, vivem 30
minutos da escola mais próxima) e a proporção relativamente elevada de escolas que não
oferecem o ciclo completo do ensino básico (a maioria oferece quatro ou menos anos). Por
exemplo, em 2009, 31% das escolas primárias públicas não oferecem o funcionamento de
5as e 6as classes (RESEN, 2013; MICS, 2010, 2014).
Assim, para melhor cumprimento das metas, o setor educativo deve representar prioridade
de governação, através de compromissos orçamentais sustentáveis, longe dos 4% do PIB e
14% do total das Despesas do Estado em 2010. É importante que o governo faça uma
aposta na educação com um OGE acima dos 20% de modo a responder as necessidades
deste setor.
3.3 Na promoção de igualdade entre os sexos
As desigualdades estruturais alicerçadas em determinantes socioculturais confinam as
mulheres em espaços domésticos, através de atividades e estratégias de sobrevivência
familiar, limitando-as no acesso e educação e nas outras oportunidades de emprego formal.
No combate e promoção da equidade a educação ainda representa uma prioridade entre as
políticas.
A qualidade de ensino é fraca e a alfabetização não é garantida após 5 anos de educação. O
curriculum escolar e os manuais escolares integrados parecem ainda não serem suficientes
nos desafios dos estereótipos de género e dos papéis tradicionais de género. O Ensino
técnico profissional é caracterizado por muitas fragilidades, sem políticas orientadas e
recursos apropriados.
Assim a continuidade em apostas e estratégias de comunicação que possam persuadir
pessoas a mudança de comportamento face à escolarização de raparigas e à promoção da
52
igualdade e equidade entre os sexos. Estas estratégias devem ter em conta os aspetos
culturais e religiosos, procurando influências junto dos agentes políticos, das entidades
religiosas, das forças intermédias (caso das ONG’s) na promoção do estatuto da mulher e
das políticas de equidade e género.
3.4 Na redução da mortalidade infantil
Os esforços do Governo e dos parceiros têm permitido melhorar o acesso aos cuidados da
saúde por parte das grávidas e reduzir a mortalidade infantil. Assim, em 2010 a cobertura
de vacinas contra tétano, difteria e coqueluche (DTCP3) foi de 63%, enquanto a
percentagem de consultas pré-natais elevou-se para 70%. A taxa de predominância de
anticoncecionais passou de 10% em 2010 para 14% em 2013 (UNICEF).
No entanto, os resultados são ainda insuficientes apesar de alguma satisfação. O país
permanece distante das normas preconizadas pela OMS em termos de infraestruturas
sanitárias e de pessoal médico. A situação é ainda mais precária em zonas rurais. O
problema da disponibilidade de pessoal médico qualificado é particularmente preocupante,
pois, o país conta apenas com 7 médicos por cada 10.000 habitantes, com fortes
disparidades territoriais, muito longe das normas de 23 médicos recomendadas pela OMS.
O sistema de saúde e o controlo do mesmo permanecem frágeis. O sistema nacional de
saúde testemunha diferentes tipos de desafios, sendo que a fatia do orçamento geral do
Estado em 2015 destinado a saúde foi de apenas 8% (PEO, 2015), é importante que seja
elevado para cima dos 14% como recomendado a nível internacional.
3.5 Melhorar a saúde materna
Apesar dos esforços para lidar com alta taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau, há
desafios significativos para a melhoria da saúde materna. Além dos problemas estruturais,
como a elevada taxa de analfabetismo, a pobreza que afeta principalmente as populações
rurais, as desigualdades de gênero, o acesso à cuidados de saúde reprodutiva continua a
enfrentar grandes desafios, tais como:
• Grandes distâncias entre as populações básicas de saúde e os serviços prestados por
um profissional qualificado;
53
• Descontinuidade na prestação de cuidados em áreas rurais devido à não fixação de
profissionais de saúde em seus locais de trabalho, negligenciando áreas rurais por
causa das difíceis condições de vida nesses lugares;
• Desmotivação dos prestadores de cuidados de saúde por causa das precárias
condições de trabalho, dos salários;
• O baixo rácio de profissionais de saúde em relação a população geral;
• Algumas resistências tradicionais e estereótipos em relação ao sexo em certos tipos
de tratamentos (ainda grande parte da população continua a acreditar em medicina
tradicional e seus efeitos na saúde materna);
• Algumas inexperiências e falta de acompanhamento de certos profissionais recém-
formados;
• Falta de incentivos e subsídios em certas zonas isoladas, o que desmotiva certos
profissionais, condicionando alguns a exigirem pagamentos ilícitos como
estratégias de valorização dos riscos assumidos.
A estes, associamos a não gratuitidade de serviços pré-natais, pese embora a Iniciativa
Bamaco ter previsto a cobrança simbólica de taxas (pré-natal e parto) que pode ter
condicionado a desejada frequência de certas categorias de mulheres a estes serviços,
especialmente as famílias mais pobres; e o fraco investimento financeiro a nível doméstico
(nacional) nos programas de saúde reprodutiva. Isto, apesar do compromisso nacional para
priorizar a saúde materna e infantil, tem havido pouco investimento financeiro nacional
nesta área especialmente para a compra de produtos de saúde reprodutiva, tais como
anticoncecionais e medicamentos essenciais (Relatório ODM, 2013).
3.6 No combate ao VIH/SIDA, paludismo e tuberculose
A priorização da resposta ao VIH/SIDA para o período 2015-2020 será investir em
intervenções de grande impacto nas populações-chave e populações vulneráveis, em
centros de regiões de alta prevalência. Tendo em conta os objetivos preconizados há que
implementar programas nesta matéria através de diferentes intervenções tais como (PEN
III, 2015):
§ Assegurar uma boa comunicação para a mudança de comportamento no seio dos
grupos vulneráveis;
54
§ Implementar o plano de extensão de CDV (Centro de Despistagem Voluntaria);
§ Promover atividades de comunicação para a mudança, dirigidas aos doadores de
sangue;
§ Consolidar os serviços de ofertas para os centros de tratamento antirretrovirais;
§ Proteger o direito das pessoas vivendo com o VIH (PvVIH), incluindo a luta contra
a discriminação e os preconceitos associados à pandemia VIH/SIDA e outras
infeções sexualmente transmissíveis (IST);
§ Implementar o programa integrado de PTME.
Quanto ao paludismo, estudos indicam que quanto maior for o nível de instrução do chefe
do agregado familiar maior é a sua manifesta preocupação em se proteger com um
mosqueteiro. Ainda assim, a fim de preconizar o tratamento preventivo intermitente do
paludismo nas grávidas e nos recém-nascidos, é importante incentivar a luta contra os
vetores, a boa gestão do aprovisionamento dos produtos de luta contra o paludismo.
Também é importante a advocacia, a informação, a educação, a comunicação para
mudança de comportamento e a mobilização social, bem como o aumento da vigilância
epidemiológica, o seguimento, a avaliação, a pesquisa operacional e a melhoria da eficácia
da gestão do programa (PEN, 2014).
Quanto a tuberculose a taxa de sucesso terapêutico ainda não cruzou o limiar de 85%, tal
como estabelecido na Estratégia Global da OMS para a parceria Stop-TB, dai a importância
do reforço de políticas e estruturas de despistagem a nível nacional. O papel dos agentes da
saúde comunitária (ASC) deve continuar na estratégia de melhoria dos indicadores dos
ODM e do Plano Global Parceria do Stop-TB, o que exigiria um reforçar de parceria da
Direção dos Serviços de Saúde Comunitária e da Medicina Tradicional.
Para melhor sucesso no combate a TB é importante a aposta no pessoal qualificado e do
sistema de transporte de amostras. Portanto, neste plano, será necessário rever o algoritmo
de diagnóstico de TB (por redução do limite de duração da tosse), introduzir e ampliar o
uso de novas técnicas (microscópios de LED, de diagnóstico molecular) e melhorar o
sistema de transporte das amostras dos CT mais remotas em relação aos CDT (PNLT,
2013).
Com um financiamento ideal (sem défice orçamental) das atividades planeadas, o plano
permitiria as realizações de suas metas para 2019, o que colocaria o país no caminho de
indicadores globais de TB (ODM: reduzir em 25% a taxa de incidência e os da estratégia
55
de parceria global para acabar com TB: redução da mortalidade de 50%) em comparação
com os de 1990 (PEN-TB, 2014).
3.7 Garantir ambiente sustentável
Os mecanismos formais e informais de tomada de decisão provem muitas vezes da
ausência de dados precisos nos planos de gestão dos diferentes recursos naturais e dos
planos diretores sectoriais. Por exemplo, o Plano Diretor Florestal Nacional (2010) não
especifica as quantidades de árvores que poderiam ser exploradas anualmente de forma a
garantir a durabilidade dos recursos florestais nas diferentes concessões ou regiões do país.
Ao contrário, o Plano Nacional de Gestão da Pesca (2014) detalha bem as quantidades
máximas de recursos haliêuticos que deveriam ser exploradas pela pesca industrial a fim de
garantir que anualmente não haja uma sobre-exploração (SEA/DGDD, 2015).
Assim, a governação do sector ambiental na Guiné-Bissau, bem como as instituições do
Estado, como um todo precisa de capacitação em planeamento estratégico. Daí a
necessidade de continuar os programas de reforço da capacidade institucional, humana e
sistêmica.
É necessário capitalizar a Fundação Bio-Guiné, para que sirva de mecanismo de
financiamento sustentável para os esforços de conservação da natureza na Guiné-Bissau,
bem como o apoio e fortalecimento institucional do Instituto de Biodiversidade e Áreas
Protegidas (IBAP) e da Célula de Avaliação de Impacto Ambiental (CAIA), e garantir que
as comunidades locais usufruíam de micro subvenções para seu bem-estar e promoção
sustentável dos recursos biológicos e florestais.
Os fatores de desigualdade no acesso aos serviços de água potável e saneamento são
múltiplos e de diferentes níveis. Disparidades notáveis entre as áreas rurais e urbanas, e
entre as regiões (MERN/DGRH, 2010). A capital Bissau continua a concentrar a maior
taxa de utilização de instalações sanitárias melhoradas, seguida de Gabu e Bolama/Bijagós.
Bafatá e a província leste continuam a acusar atrasos como em serviços sociais (MICS,
2010, 2014).
56
3.8 Uma parceria mundial para o desenvolvimento
O País tem acesso a vários mercados mas apenas só tem um produto (castanha de caju)
para exportação. É importante criar condições de transformação dos produtos e
laboratórios. Assim, os objetivos estratégicos do Plano Estratégico e Operacional (2015)
constituem o quadro padrão, permitindo a definição das hipóteses que orientam as
projeções macroeconómicas a médio prazo, assegurando a coerência global da estratégia
adotada. As suposições da evolução macroeconómica, articulam-se em torno:
• Da obtenção e aplicação de consenso nacional independentemente de agendas
políticas e partidárias que possam permitir o saneamento macroeconómico;
• Do prosseguimento dos esforços de modernização da gestão das finanças públicas,
nomeadamente no maior controlo da administração fiscal através da introdução do
sistema integrado de impostos, na mobilização de receitas através da redução das
subvenções alfandegárias bem como um controlo rígido das mesmas.
Face a crescimento de 3,2% (2009-2014), em paralelo com o crescimento populacional de
2,3%, o PIB per capita cresceu apenas 1,0 % ao ano, as autoridades planeiam implementar
o Plano Estratégico e Operacional 2015-2020 focalizando no programa de investimento
público, orientado em principais fontes de crescimento com políticas de apoios específicos.
O objetivo é passar de uma taxa 2,9% em 2014 para um crescimento de 9,3% em 2020.