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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL SUL-RIO-GRANDENSE CAMPUS SAPUCAIA DO SUL Curso Superior de Tecnologia em Fabricação mecânica DOS SANTOS, Voldoir FORGARINI, Rafael Análise da influência da oxidação nas propriedades mecânicas e na estampabilidade dos aços Dual Phase DP800 Sapucaia do Sul 2015

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL SUL-RIO-GRANDENSE

CAMPUS SAPUCAIA DO SUL

Curso Superior de Tecnologia em Fabricação mecânica

DOS SANTOS, Voldoir

FORGARINI, Rafael

Análise da influência da oxidação nas propriedades

mecânicas e na estampabilidade dos aços Dual Phase DP800

Sapucaia do Sul

2015

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO INSTITUTO FEDERAL SUL-RIO-GRANDENSE

CAMPUS SAPUCAIA DO SUL

Curso Superior de Tecnologia em Fabricação mecânica

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA OXIDAÇÃO NAS PROPRIEDADES

MECÂNICAS E NA ESTAMPABILIDADE DOS AÇOS DUAL PHASE DP800

CAMPUS SAPUCAIA DO SUL

Autores: Voldoir dos Santos de Paula e Rafael Forgarini

Orientador: Prof. Me. Vinícius Martins

Sapucaia do Sul

2015

III

ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA OXIDAÇÃO NAS PROPRIEDADES

MECÂNICAS E NA ESTAMPABILIDADE DOS AÇOS DUAL PHASE DP800

CAMPUS SAPUCAIA DO SUL

Aprovado (a) em__________________.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Orientador: Me. Vinicius Martins

_________________________________________

Co-orientador: Me. Eng. Uilian Boff - UFRGS

_________________________________________

Avaliador: Prof. Eng. Paulo Ricardo Böesch Júnior

_________________________________________

Prof. da Disciplina Projeto de Graduação:

M.Sc. David Garcia Neto

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso Superior em Tecnologia de Fabricação Mecânica

do Instituto Federal Sul-Rio-Grandesense, como requisito

parcial para a obtenção do título de Tecnólogo em

Fabricação Mecânica.

IV

Voldoir de Paula

Dedico este trabalho

À Deus, por me iluminar, me dar forças e me guiar em mais esta jornada,

À minha esposa Janete, pelo amor e compreensão em todos os momentos,

À minha amada filha, Maria Eduarda,

In memoriam, a meu pai Worlin de Paula.

V

Rafael Forgarini

Dedico este trabalho

À Deus primeiramente, por me dar forças para concluir este curso,

À toda a minha família, que entendeu os momentos ausentes,

À minha esposa Edilaine e meu filho Luriel.

VI

AGRADECIMENTOS

À deus que nos permitiu concluir este trabalho;

À UFRGS, pela Utilização do laboratório de transformação mecânica, e

de todos os equipamentos necessários à realização do trabalho, na pessoa de

Me. Eng. Uilian Boff.

Em especial aos amigos do Laboratório de Transformação Mecânica –

LdTM da UFRGS nos apoiaram e auxiliaram neste trabalho;

À Usiminas Usinas Siderúrgicas S.A, pela doação do material estudado.

À todos os professores do IfSul de Sapucaia do Sul, que de alguma

forma contribuíram para a conclusão deste trabalho;

Ao professor Lírio Schaeffer pela utilização dos equipamentos do LDTM

UFRGS.

VII

“Quando fizeres algo nobre e belo e ninguém notar, não fique triste. Pois o sol

toda manhã faz um lindo espetáculo e, no entanto, a maioria da plateia ainda

dorme..”

John Lennon

VIII

RESUMO

A contínua evolução tecnológica é uma exigência do mercado globalizado às

indústrias de bens de consumo duráveis, no caso da siderurgia, o atendimento

a crescente expectativa dos clientes por maior competitividade e a necessidade

de se adequar as regras cada vez mais rígidas em relação ao consumo de

energia e preservação do meio ambiente levaram ao desenvolvimento dos

aços de alta resistência (A.H.S.S.Advanced high Strength Steels). A indústria

automobilística é a grande força motriz dessas transformações e inovações em

relação ao desenvolvimento de novas ligas metálicas, pois tem a grande

necessidade de reduzir cada vez mais o peso de seus produtos para assim

minimizar o consumo de combustível, diminuindo assim o custo e o prejuízo ao

meio ambiente relacionado ao seu uso. Nesse contexto surgiram os aços

bifásicos, seguidos de outros tipos de aços de alta resistência, tendo como

principal características, a resistência mecânica elevada, baixo peso, aliada a

um alto grau de estampabilidade. Chapas mais finas, com maior resistência

mecânica, permitem a redução significativa de peso nas peças, sem que estas

percam as características originais e muitas vezes melhorando a performance

destas peças. O objetivo deste trabalho foi analisar o comportamento de aços

bifásicos DP 800, relacionando o efeito da oxidação nas propriedades

mecânicas do material. Para alcançar esses resultados foram realizados

ensaios metalográficos, onde as fases presentes na microestrutura foram

analisadas e discutidas, foram realizados também ensaios mecânicos de tração

e estampagem Erichsen, seguido de análises fractográficas, para as análises

de corrosão, utilizando para isto, um microscópio eletrônico de varredura

(MEV).

Palavras-chave: Estampagem, Aços Dual Phase, DP800, Oxidação, AHSS.

IX

ABSTRACT

The continuous technological evolution is a requirement of the global market for

durable consumer goods industries, in the case of steel, the service the growing

customer expectations for greater competitiveness and the need to adjust the

increasingly strict rules regarding consumption energy and environmental

protection led to the development of high-strength steels (AHSS Advanced high

strength steels). The automobile industry is the major driving force of these

changes and innovations in relation to the development of new metal alloys, it

has the great need to reduce more and more the weight of their products so as

to minimize fuel consumption, thus reducing the cost and damage to the

environment associated with its use. In this context emerged the dual phase

steels, followed by other types of high strength steels, whose main

characteristics, high strength, low weight combined with a high degree of

formability. Thinner sheets with greater mechanical strength, permit a significant

reduction in weight parts, without these lose the original features and many

times improving the performance of these parts. The objective of this study was

to analyze the behavior of dual phase steels DP 800, relating the effect of

oxidation on the mechanical properties of the material. To achieve these results

we did metallographic tests, where the phases present in the microstructure

were analyzed and discussed, were also performed mechanical tests of traction

and stamping Erichsen, followed by analyzes for corrosion analysis, using for

this purpose, an electronic microscope (MEV).

Keywords: Printing, Dual Phase Steel, DP800, Rust, AHSS.

X

LISTA DE FIGURAS

Figura 4.1 Principais componentes de uma ferramenta de embutimento...........................24

Figura 4.2 Demonstração das etapas que compõem o processo de estampagem - Fonte:

FERRARINI, 2004 ......................................................................................................................24

Figura 4.3 Diagrama convencional tensão x deformação relativa. Fonte: Schaeffer, 2004

...................................................................................................................................................25

Figura 4.4 Resistência à tração de aços de várias classes (CASTRO, 2010) ......................28

Figura 4.5 Microestrutura dos aços bifásicos, consistindo de ferrita encapsulando

martensita. Fonte: GUTZ, 2007. ...............................................................................................30

Figura 4.6 Representação esquemática da microestrutura bifásica (Hornbogen, 1980) ...32

Figura 4.7 Comparação entre as curvas tensão deformação, aços ao C, microligado e

bifásico. .....................................................................................................................................33

Figura 4.8 Diagrama Fe_c. Fonte Callister, 2006 ...................................................................35

Figura 4.9 Ciclo de recozimento contínuo para aço Bifásico. Girina, 2003.........................36

Figura 4.10 Relação do teor de Mn com tensão máxima de resistência e volume de

martensita Fonte: Girina 2003 ................................................................................................38

Figura 4.11 Estrutura veicular ULSAB Fonte: (MARRA, 2008) .............................................39

Figura 4.13 Corrosão por pite em tubo aço inoxidável AISI 304 (MAINIER,2011). ..............42

Figura 4.14 Corrosão em frestas Fonte: CASTRO, 2011. .....................................................43

Figura 4.15 Corrosão Intergranular. Fonte: Mainier, 2011. ..................................................44

Figura 4.16 Corrosão intragranular aço Inoxidável Fonte: Tridapalli, 2011 .......................44

Figura 4.17 Corrosão sob tensão, zona de ligação junta soldada com metal de adição ...45

Figura 4.18 Ensaio de tração Fonte: www.pesquisa.una.br. Acessado em agosto 2014. .46

Figura 4.19 Representação esquemática dos equipamentos utilizados no ensaio Erichsen

(a) e do índice de embutimento, h (b). ....................................................................................47

Figura 4.20 Esquema do ensaio Swift para estampagem de uma peça em formato

cilíndrico. Fonte: Folle, 2012 ...................................................................................................48

Figura 4.21 Esquema ensaio Bulge test .................................................................................48

Figura 4.22 Seção esquemática de um revestimento galvanizado típico, mostrando as

camadas de intermetálicos [Pannoni, 2010] ..........................................................................53

Figura 4.23 Microestrutura típica de revestimento galvanizado a fogo [Galvanizers

association, 2002] ....................................................................................................................54

Figura 5.1 Microscópio Óptico Olympus GX51 do LdTm/Ufrgs ...........................................57

Figura 5.2 Microscópio eletrônico de varredura MEV JSM 5800, instalado no CME-

UFRGS .......................................................................................................................................58

Figura 5.3 Corpo de prova durante ensaio de tração. Fonte: O autor ................................59

XI

Figura 5.4 Máquina universal de ensaios Emic DL60000, instalada no Ldtm da Ufrgs.

Fonte: O autor ...........................................................................................................................60

Figura 5.5 Corpos de prova obtidos no Ensaio Erichsen. ....................................................61

Figura 5.6 Corpos de prova utilizados no ensaio de imersão. Fonte: O autor ...................62

Figura 5.7 Amostras imersas na solução de Sulfato de Zinco, à esquerda amostras sem

revestimento e a direita amostras revestidas. Fonte: O autor .............................................62

Figura 6.1 Curva tensão x deformação para o aço DP 800, comparativo médio entre os

aços revestido e não revestidos a 0º ......................................................................................63

Figura 6.2 Micrografias do aço DP800. (a) Não revestida (b) Revestida. Ataque químico

com Nital 2% e aumento de 200X ............................................................................................66

Figura 6.3 Micrografia da amostra submetida ao ataque com Nital 2%, aumento de 500 x,

mostrando: (a) Microestrutura da ferrita nas áreas claras e (b) resultado da identificação

das áreas ocupadas pela martensita através do software Imagej. ......................................67

Figura 6.4 Amostras imersas na solução de NaCl, revestidas à direita e não revestidas à

esquerda. Fonte: O autor ........................................................................................................68

Figura 6.5 Micrografia da amostra de aço revestido, aumento de 100 x. ............................69

Figura 6.6 Micrografia da amostra de aço revestido, aumento de 200x ..............................69

Figura 6.7 Micrografia da amostra aço não revestido, aumento de 500x ............................70

Figura 6.8 Corrosão por pite localizado, observada na amostra sem revestimento ..........70

Figura 6.9 Espectro de EDS para região da amostra com revestimento, imersão em

sulfato de zinco, deixada ao relento. Fonte: O autor ............................................................71

Figura 6.10 Espectro de EDS para região de amostra sem revestimento, imersão em

sulfato de zinco. Fonte: O autor. .............................................................................................71

Figura 6.11 Detalhe da calota esférica formada após o ensaio, em uma amostra de aço

não revestido. Fonte: O autor .................................................................................................72

Figura 6.12 Gráfico curva força x deformação para os corpos de prova do aço DP800 não

revestido ...................................................................................................................................74

Figura 6.13 Gráfico curva força x deformação para os corpos de prova do aço DP800

com revestimento .....................................................................................................................75

XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 – Aços AHSS mais utilizados. .............................................................................28

Tabela 4.2 Composição química dos aços Bifásicos ............................................................31

Tabela 4.3 Classes mais usadas de aços Dual Phase ..........................................................34

Tabela 4.4 Metas e resultados do projeto ULSAB – fase 1 ...................................................39

Tabela 5.1 Composição química dos aços DP800................................................................ 54

Tabela 6.1 Ensaio de tração DP800 sem revestimento.........................................................63

Tabela 6.2 Ensaio de tração DP800 com revestimento.........................................................64

Tabela 6.3 Relatório de ensaio Erichsen para CP's não revestidos...................................70

Tabela 6.4 Relatório de ensaio Erichsen para CP's com revestimento...............................71

XIII

LISTA DE SIGLAS

AL – Alongamento total do aço;

B – Fase Bainita;

LE – Limite de escoamento;

LR – Limite de resistência à tração;

CP – Corpo-de-prova;

CR – Aço no estado como-recebido;

DP – Aço Dual Phase;

F – Fase Ferrita;

MO – Microscópio Óptico;

MEV – Microscópio Eletrônico de Varredura;

MO Microscópio óptico

HV – Dureza Vicker;

CCC – Estrutura cristalina cúbica de corpo centrado;

TCC – Estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado;

CSN – Companhia Siderúrgica Nacional;

NGV – Next Generation Vehicle;

TRIP – Transformation Induced Plasticity;

ARBL – Aços de alta resistência e baixa liga;

HSLA – High Strength Low Alloy;

ABNT-NBR – Associação Brasileira de Normas Técnicas

AHSS – Advanced High Strength Steels;

ASTM – American Society for Testing and Materials;

ULSAB – Ultra Light Steel Auto Body;

AVC – Advanced Vehicle Concepts;

XIV

LISTA DE SÍMBOLOS

Al Alongamento máximo Al Alumínio C Carbono Cr Cromo Cu Cobre dp Diâmetro do punção e Deformação convencional K Constante plástica de resistência kgf Quilograma força L Comprimento LE Limite de escoamento LR Limite de resistência à tração mm Milímetro Mn Manganês Mo Molibdênio MPa Mega Pascal N Coeficiente de encruamento Nb Nióbio Ni Níquel P Fósforo r Raio de dobra R Coeficiente de anisotropia S Enxofre Si Silício t Espessura Ti Titânio V Vanádio vs “versus” W Largura R Anisotropia plano

XVII

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ....................................................................................... XII

LISTA DE SIGLAS ......................................................................................... XIII

LISTA DE SÍMBOLOS ................................................................................... XIV

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 19

2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................... 21

3 OBJETIVOS ................................................................................................. 22

3.1 Objetivo Geral ............................................................................. 22

3.2 Objetivos Específicos .................................................................. 22

4 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 23

4.1 Estampagem ............................................................................... 23

4.1.2 Histórico e conceitos ............................................................. 23

4.1.3 Parâmetros importantes das chapas para estampagem ........ 25

4.2 Aços especiais ............................................................................ 26

4.2.1 Aços de alta resistência e baixa liga - ARBL ......................... 29

4.2.2 Aços Bifásicos ....................................................................... 30

4.2.3 Microestrutura dos aços bifásicos ......................................... 31

4.2.4 Produção dos aços bifásicos ................................................. 34

4.2.5 Principais elementos de liga dos aços Bifásicos .................... 36

4.2.6 Projeto ULSAB–AVC ............................................................. 38

4.3 Oxidação em Metais .................................................................... 40

4.3.1 Considerações iniciais ........................................................... 40

4.3.2 Formas de corrosão .............................................................. 41

4.3.3 Influência do atrito na Estampagem profunda ....................... 45

4.4 Ensaios mecânicos de Estampabilidade...................................... 46

4.4.1 Ensaio de Tração para chapas .............................................. 46

4.4.2 Ensaio ERICHSEN ................................................................ 47

4.4.3 Ensaio Swift .......................................................................... 47

XVIII

4.4.4 Ensaio sob Pressão hidráulica (Bulge test) ........................... 48

4.5 Ensaios acelerados para avaliação da corrosão .......................... 49

4.5.1 Ensaio de névoa Salina ......................................................... 50

4.5.2. Ensaios Cíclicos ................................................................... 51

4.5.3. Ensaios por Imersão ............................................................ 52

4.6 Revestimento galvânico .............................................................. 52

5 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 55

5.1 Materiais ...................................................................................... 55

5.2 Considerações sobre o revestimento metálico ............................ 55

5.3 Métodos ...................................................................................... 56

5.3.1 Análise Metalográfica ............................................................ 56

5.3.2 Análise das imagens ............................................................. 57

5.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) .......................... 57

5.3.4 Ensaio Mecânicos ................................................................. 58

5.3.5 Ensaio de tração ................................................................... 59

5.3.6 Ensaio estampagem ERICHSEN .......................................... 60

5.3.7 Ensaio de corrosão por imersão ............................................ 61

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................. 63

6.1 Ensaio de tração ......................................................................... 63

6.2 Análise Metalográfica qualitativa e quantitativa ........................... 65

6.3 Ensaio corrosão por imersão ....................................................... 67

6.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) ................................. 68

6.5 Ensaio estampagem Método Erichsen ........................................ 72

7 CONCLUSÕES ............................................................................................ 76

8 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 78

19

1 INTRODUÇÃO

Ao longo da história, a partir da I revolução industrial, em meados do século

IX, onde as primeiras máquinas a vapor impulsionaram a produção mundial de bens

de consumo, a indústria vem se reinventando e evoluindo.

Neste cenário de transformações e busca por inovações, a indústria

automobilística toma a iniciativa, o ambiente competitivo em escala global que surgiu

a partir dos anos 1990 e os desafios ecológicos do início do milênio impuseram

desafios cada vez mais sérios a esse setor. A resposta da siderurgia mundial foi o

desenvolvimento contínuo de novos tipos de aços com características cada vez mais

adequadas a aplicações específicas, com o propósito principal de produzir carros

mais seguros, mais leves, econômicos e menos poluentes. Finalmente, a pressão da

indústria automobilística pela redução de preço e melhoria do design dos

automóveis forçou as usinas a evoluir tecnologicamente para produzir aços mais

resistentes que permitissem a fabricação de componentes com alta resistência

mecânica, mas com menor quantidade de material. Surgiram então os chamados,

aços de Alta Resistência e Baixa Liga – ARBL (High StrengthLowAlloy – HSLA),

contendo micro adições de Nb (nióbio), Ti (titânio) e V (vanádio), cuja microestrutura

ferrítica-perlítica mais refinada e capacidade de endurecimento por precipitação lhe

proporcionavam maior resistência. Contudo, a contrapartida por essas vantagens foi

uma ligeira perda da estampabilidade nesses novos produtos. A reação a isso foi o

surgimento dos aços bifásicos (dual phase), cuja microestrutura peculiar minimizava

as perdas de estampabilidade decorrentes dos maiores níveis de resistência

mecânica (TIGRINHO, 2011).

A partir da década de 1990 todos esses novos aços foram englobados numa

só família, designada como Aços Avançados de Alta Resistência (Advanced High

StrengthSteels – AHSS). Aliando alta resistência e boa conformabilidade, os aços

bifásicos (Dual-PhaseSteels) são obtidos através de tratamentos térmicos

20

intercríticos, baseado no conceito de reforçamento por fibras, na combinação das

fases ferrita e martensita, consistindo na dispersão, em forma de ilhas, de uma fase

dura, a martensita, em uma macia matriz ferrítica (SPEER, 2005). Nestes aços, a

distância média entre asilhas de martensita é o parâmetro microestrutural que define

o limite de escoamento, ao invés do tamanho de grão.

O desenvolvimento do aço bifásico para aplicações na indústria automotiva é

muito importante, pois suas características e propriedades mecânicas podem levar

ao desenvolvimento de veículos mais econômicos, leves e menos poluentes do que

os produzidos até então. Portanto, dentro desse contexto, esta pesquisa contribui,

analisando de forma científica, através de ensaio mecânicos, os impactos e os

efeitos da corrosão nos aços bifásicos DP 800.

21

2 JUSTIFICATIVA

Este trabalho é justificado quando se considera a importância e relevância do

uso dos aços de alta resistência, no âmbito da indústria automobilística.

Considerando a crescente demanda da indústria pelo uso dos aços de alta

resistência e a as escassas bibliografias publicadas que relacionam o estudo dos

efeitos da corrosão em aços com essas propriedades.

O propósito do estudo surgiu a partir de uma quantidade de chapas DP800 doadas

para fins de estudo ao Ldtm da Ufrgs, estas chapas apresentaram problemas de

oxidação devido a transporte e armazenamento inadequados. Estas chapas

estavam apresentando um processo de corrosão, aparentemente superficial, porém

não era possível garantir sem um estudo científico, surgiu então à demanda de

estudar este processo de oxidação e verificar se esta condição poderia interferir nas

propriedades mecânicas da chapa em relação a sua estampabilidade.

22

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Analisar o comportamento mecânico de um aço bifásico DP800, submetido a

um processo de oxidação não intencional devido à exposição do aço a chuva e

intempéries do tempo em decorrência de um armazenamento inadequado. Definindo

com o auxílio de análises metalográficas e ensaios mecânicos, como o ensaio de

tração e principalmente através de ensaio de estampabilidade Erichsen se existe

relação entre a oxidação e a possível alteração das propriedades mecânicas deste

aço de alta resistência.

3.2 Objetivos Específicos

Realizar um diagnóstico comparativo entre as propriedades mecânicas e de

estampabilidade de um aço bifásico DP800. Tendo como objetivo principal do

estudo, determinar, através dos ensaios mecânicos, a possibilidade de se utilizar as

chapas oxidadas na linha de produção, garantindo através dos testes realizados que

a oxidação não interfere de forma efetivamente negativa nas propriedades de

estampabilidade da chapa.

23

4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1 Estampagem

4.1.2 Histórico e conceitos

O processo de estampagem caracteriza-se pela conformação (corte,

dobramento e embutimento ou repuxo) de materiais de espessura finas como

chapas, perfis e tubos de parede fina, a frio. Segundo Shaeffer, (2004), os primeiros

produtos de chapa foram produzidos na Mesopotâmia e no Egito em 4000 a. C.

Eram copos de ouro e prata que eram produzidos através do processo de

embutimento manual usando martelos de pedra como ferramentas. Martelos de

embutir feitos de ferro e equipados com cabos foram desenvolvidos e usados

somente a partir de 900 a.C. O desenvolvimento do processo de laminação e a

fabricação das primeiras chapas finas de aço no século 18 possibilitaram uma

produção em série de chapas. A construção das primeiras prensas e ferramentas de

corte e embutimento profundo no fim do século 19 deram início à fabricação em

série de produtos estampados. O rápido crescimento da indústria automobilística

nos anos vinte do século 20 impulsionou de forma significativa o desenvolvimento e

aperfeiçoamento das máquinas e ferramentas para os processos de estampagem.

Atualmente a grande maioria de produtos estampados é produzida de chapas

de aço. Exemplos para estes produtos são: autopeças, talheres, embalagens, etc. O

processo de estampagem tem muita importância para a economia do Brasil, pois

nos últimos cinco anos a produção siderúrgica aumentou entre 14% e 15% a

produção de chapas (laminados planos). Todas as chapas são produzidas pelo

processo de laminação e são classificadas conforme a sua espessura: para chapas

de até 3 mm são classificadas como chapas finas, e com espessuras entre 3 mm e

4,76 mm são chamadas de chapas médias e acima desta medida são denominadas

chapas grossas. Através deste processo é produzido desde panelas, até partes da

lataria de carros como capôs e portas. A Figura 4.1 mostra as principais partes de

uma ferramenta utilizada para oprocesso de embutimento de chapas.

24

Segundo a norma DIN 8580 o processo de estampo pertence a dois grupos

principais. O grupo dos processos de conformação que é basicamente o processo

que altera a forma geométrica da peça sem separar ou adicionar material, como por

exemplo: o embutimento profundo, a dobra e o repuxamento; e o grupo de

separação que pertence os processos de corte como, por exemplo: o cisalhamento e

o corte fino. A Figura 4.2 mostra como ocorre o processo de estampagem, indicando

que a estampagem é o resultado de duas operações, estiramento e estampagem

profunda.

Figura 4.2 Demonstração das etapas que compõem o processo de estampagem - Fonte: FERRARINI,

2004

Figura 4.1 Principais componentes de uma ferramenta de embutimento.

Fonte: ADAMS, 2011.

25

4.1.3 Parâmetros importantes das chapas para estampagem

Os principais parâmetros das chapas para estampagem são obtidos através

do ensaio de tração. Este teste consiste em aplicar uma carga a um corpo de prova

no sentido transversal ao sentido de laminação (conforme a norma ISO 6892-1). A

máquina de tração permite aumentar progressivamente a carga até a ruptura do

material ao mesmo tempo em que um dispositivo eletrônico traça a curva tensão-

deformação (Figura 4.3) e registra os principais dados, a saber:

Figura 4.3 Diagrama convencional tensão x deformação relativa. Fonte: Schaeffer, 2004

4.1.3.1 Tensão de escoamento (YS):

É o ponto no gráfico, tensão deformação, que representa a carga máxima

aplicada a um material quando a deformação sofrida é reversível. Acima deste valor,

o material passa ao regime plástico e deformação passa a ser irreversível. A curva

que une a origem ao ponto da tensão de escoamento é uma reta.

4.1.3.2 Alongamento (e):

É a deformação que o material sofre quando lhe é aplicada uma tensão. O

alongamento máximo é o alongamento que o material experimenta antes de se

romper. É adimensional.

26

4.1.3.3 Coeficiente de encruamento (n):

Esse coeficiente descreve a propensão do material em endurecer durante a

deformação no regime plástico.

4.1.3.4 Coeficiente de anisotropia (r):

Segundo Castro (2012), as chapas de aço em virtude do processo de

fabricação não são materiais isotrópicos. Na conformação, grãos cristalinos são

alongados na direção da maior deformação de tração. Os materiais passam a ser

então anisotrópicos. A distribuição de orientações tem um ou mais máximos, que

são as orientações preferenciais. Essas orientações irão ocasionar variações nas

propriedades mecânicas de acordo com a direção do processo de conformação.

Para um material isotrópico, r = 1. Altos valores de r sugerem alta resistência

ao afinamento de chapas sob tração, já que por definição, a anisotropia é o razão

entre a deformação verdadeira na largura (εw) e na espessura (εt) de um corpo de

prova no ensaio de tração. Para obtenção de coeficientes médios de anisotropia o

ensaio de tração é feito em três direções: sentido de laminação da chapa,

transversal ao sentido de laminação e 45° em relação ao sentido de laminação.

4.2 Aços especiais

Os aços especiais foram e continuam a ser, pois a evolução dos processos

metalúrgicos é constante, uma resposta da siderurgia mundial à necessidade de

evolução nas ligas de aço utilizadas na indústria. Os produtos planos de aço

(chapas) possuem aplicação universal, devido à capacidade que tem de assumir

diferentes perfis de propriedades por meio da escolha dos elementos de liga e da

aplicação de tratamentos termomecânicos e térmicos específicos. Por isso, esses

produtos foram impulsionados por uma necessidade de evolução dos bens de

consumo duráveis, para que pudessem atender às novas demandas do mercado

mundial, ou seja, materiais de custo relativamente baixo, cujo desempenho

atendesse aos requisitos mecânicos, químicos e físico necessário as mais diferentes

aplicações (GORNI, 2008).

27

A indústria automobilística esteve sempre na vanguarda deste processo

evolutivo, que começou logo após o fim da 2º Guerra mundial, nos anos 40, até essa

época os automóveis tinham um feitio quadrado, com design muito simplificado, isso

se devia principalmente, a inadequada estampabilidade das chapas dos aços

ferrítico-perlíticos da época, uma consequência do escasso conhecimento da ciência

metalúrgica e das limitações nos processos de refino e conformação (NETO 2009).

Contudo, a pressão da indústria do automóvel a evoluir e buscar um aço que

fosse barato e de alta estampabilidade. Essa fase foi dos anos 50, tendo seu auge

nos famosos carros “rabo-de-peixe”, que mostravam curvas exuberantes, até

meados dos anos 70, onde a primeira crise do petróleo, fez com o preço dos

combustíveis subissem de forma exorbitante, forçando mais uma vez uma nova

evolução. Fez-se necessário reduzir o consumo dos automóveis, e uma das

maneiras mais eficazes para se atingir esse objetivo seria a redução do peso dos

automóveis, diminuindo o tamanho, e principalmente, utilizando materiais mais

leves, como alumínio e plásticos, Gorni (2008).

Nesse contexto, a siderurgia precisa dar resposta, para não perder espaço

diante de novas possibilidades de matérias, por isso, teve de buscar novos meio

para produzir aços mais resistentes que permitissem a fabricação de componentes

com grande nível de exigência mecânica, porém, com menor quantidade de

material. Surgiram então os aços de alta resistência e baixa liga (ARBL High

StrengthLowAlloy – HSLA),contendo micro adições de Nb, Ti e V, cuja

microestrutura ferrítica-perlítica mais refinada lhe proporcionava melhor resistência

mecânica. Contudo, esse ganho de resistência teve um efeito indesejado, uma

ligeira perda de estampabilidade desses novos aços.

Em resposta a esse problema surgiram os aços Bifásicos (dual phase), cuja

microestrutura diferenciada minimizava as perdas de estampabilidade em

decorrência do ganho de resistência mecânica (GORNI 2009). A Tabela 4.1 mostra

as classes de aços de alta resistência mais utilizados na indústria.

28

Em meados da década de 80, já não existia mais a escassez de petróleo,

mais outras questões relacionadas a impacto ambiental, exigência dos

consumidores por produtos cada vez mais seguros e de qualidade, sendo o

ambiente de extrema competitividade global, surgindo a partir da década de 90, vêm

impulsionado os investimentos da indústria automobilística, fazendo com que os

objetivos tecnológicos do setor sejam cada vez mais desafiadores.

A Figura 4.4 mostra um comparativo entre as resistências à tração de vários aços,

aços ao carbono com ligas à esquerda e os aços especiais à direita da figura.

Figura 4.4 Resistência à tração de aços de várias classes (CASTRO, 2010)

Sendo assim, a siderurgia em nível mundial, vem juntando esforços, inclusive

através de projetos de cooperação internacional, tendo como exemplo o projeto

ULSAB que englobou mais de 30 países, para o desenvolvimento de novos tipos de

Tabela 4.1 – Aços AHSS mais utilizados. Fonte Disponível em: www.worldautosteel.org. Acesso em

21/05/2013

29

chapas de aço, com características cada vez mais específicas e adequadas as mais

diversas aplicações. A partir da década de 1990, todos esses novos aços foram

englobados numa só família, designada como Aços Avançados de Alta Resistência

(Advanced High StrengthSteels – AHSS).

4.2.1 Aços de alta resistência e baixa liga - ARBL

Aços de alta resistência e baixa liga, como diz o nome, são aços com baixos

teores de liga com altos limites de resistência. Eles têm as chamadas micro adições

de elementos de liga como o Nb, Ti e/ou V e associados com os tratamentos termo

mecânicos tem microestrutura com grãos finos, o que garante uma maior

capacidade de endurecimento por precipitação e consequentemente um aumento de

resistência. Em contrapartida, este ganho de resistência mecânica acarretou uma

ligeira perda de sua estampabilidade.

Pesquisas posteriores buscaram o desenvolvimento de aços com

microestruturas constituídas de ferrita e perlita com melhores níveis de tenacidade,

tornando possível obter combinações de alta resistência e boa conformabilidade.

Tudo isso, por meio de balanceamentos rigorosos de microadições de outros

elementos e da maximização do refino de grão obtido com o aperfeiçoamento da

laminação controlada. Entretanto, observou-se que esta perda de estampabilidade,

nos aços que possuíam essa microestrutura, não poderia ser melhorada de forma

significativa, tornando imprescindível o desenvolvimento de novos aços que

pudessem agregar tais características, benéficas a estas aplicações (GUIMARÃES,

1997; FILHO, 2011).Os aços ARBL podem ser produzidos na condição de laminados

com resistência ao escoamento na faixa de 290 a 550 MPa e resistência à tração na

faixa de 415 a 700 MPa. Por causa de seu baixo teor de carbono apresentam

excelente soldabilidade. Seu desenvolvimento foi impulsionado pela demanda por

aços resistentes, tenazes e soldáveis para tubulações de transporte de óleo e gás,

navios e plataformas de perfuração “off-shore”. Também podem ser usados para

reduzir o peso (massa), e assim o consumo de combustível, de (componentes de)

automóveis. Os graus de classificação de aços ARBL são definidos pelos níveis de

resistência ao escoamento e não pela composição química.

30

4.2.2 Aços Bifásicos

Os aços bifásicos constituem um grupo específico dentre os aços avançados

de alta resistência (AHSS). Esses aços tiveram sua concepção na década de 30,

mas somente após a década de 60 começaram a ser pesquisados mais

intensamente, tendo sua produção industrial efetivamente iniciada nos anos 70.

Trata-se de aços de baixo teor de carbono na faixa de 0,06 a 0,15%, com adições de

manganês de 1,2% a 2,0% e silício de 0,25% a 0,5%. Estes aços são processados

de forma a apresentarem uma microestrutura constituída de ferrita (Fase macia) e

quantidades variáveis de martensita (Fase dura), que permitem o controle da

resistência e, simultaneamente, o controle do comportamento da deformação, ou

seja, da forma das curvas de tensão-deformação (MATLOCK, 2011; MURARI,

2009).

A Figura 4.5 apresenta, através de imagem gerada em microscópio eletrônico

de varredura, a microestrutura característica dos aços bifásicos, a matriz ferrítica e

as ilhas de martensita.

Os aços bifásicos ou comumente conhecidos como “Dual Phase” (DP) têm

uma microestrutura composta de uma matriz ferrítica e ilhas de martensita

dispersas como segunda fase. As propriedades mecânicas deste grupo de aços são

controladas pela fração volumétrica de martensita e o tamanho de grão da ferrita. A

fase ferrítica é geralmente contínua, conferindo excelente ductilidade a estes aços.

Figura 4.5 Microestrutura dos aços bifásicos, consistindo de ferrita encapsulando

martensita. Fonte: GUTZ, 2007.

31

Quando estes aços deformam, a deformação é concentrada na fase ferrítica de

menor resistência envolvendo as ilhas de martensita, criando uma taxa de

encruamento excepcional. A taxa de encruamento somada a um excelente

alongamento confere aos aços DP um limite de resistência à tração maior quando

comparado a aços convencionais com limite de elasticidade semelhante.

A Tabela 4.2 apresenta a composição química aproximada doas aços bifásicos ao

cromo e ao silício.

Os aços DP e outros AHSS também têm efeito de endurecimento por

cozimento (bakehardening) que é uma vantagem importante em comparação com

aços convencionais. O efeito de endurecimento por cozimento é o aumento do limite

de elasticidade resultante de envelhecimento na temperatura de cura dos fornos de

cozimento para vitrificação e aumento de resistência da pintura, depois de pré-

tensão ou pré-deformação (gerada por encruamento devido à deformação durante

estampagem ou outro processo de fabricação).

4.2.3 Microestrutura dos aços bifásicos

Nas microestruturas onde estão presentes duas fases, as propriedades

mecânicas do material serão influenciadas não só pelo tamanho de grão da fase

predominante - ou fase matriz - e da segunda fase, como também pela maneira

como esta última está disposta. Hornbogen, (1980), definiu a microestrutura bifásica

como uma fusão das três morfologias básicas das microestruturas com duas fases:

duplex, dispersão e em rede. Por esse motivo, a microestrutura bifásica reúne as

características topológicas peculiares de cada tipo de morfologia, conforme mostra a

figura 4.6. Como ocorrem com a microestrutura duplex, na bifásica as quantidades

de grãos por volume das duas fases são iguais; logo, as razões entre os volumes

Tabela 4.2 Composição química dos aços Bifásicos Fonte: Gutz, 2010

32

dos grãos das duas fases, e entre suas frações em volume, devem ser iguais. Da

microestrutura em dispersão tem se que na bifásica a segunda fase dura deve ser

totalmente isolada pela fase-matriz macia, o que garante a ductilidade e a

conformabilidade do material. Finalmente, da mesma forma como ocorre com a

microestrutura em rede, na bifásica a segunda fase se localiza exclusivamente nos

contornos de grão da fase-matriz, Gorni (1990).

A Figura 4.6 apresenta de forma esquemática a topologia da microestrutura

bifásica, que é definida pela fusão das morfologias básicas das microestruturas

bifásicas.

A Figura 4.7 permite a comparação das curvas típicas, obtidas em ensaios de

tração, para aços ao C, microligados e bifásicos. Como se pode observar, o aço

bifásico representa um caso intermediário entre os outros dois materiais,

apresentando nível de resistência mecânica similar ao do aço microligado, mas

ductilidade mais próxima à do aço ao C(10).

Figura 4.6 Representação esquemática da microestrutura bifásica (Hornbogen, 1980)

33

A microestrutura bifásica, com seu arranjo particular de ilhas duras dispersas

numa matriz macia, apresenta uma série de características mecânicas que lhe

asseguram boa conformabilidade: escoamento contínuo (ou seja, ausência do

patamar de escoamento típico dos aços ferrítico-perlíticos, mesmo microligados);

limite de escoamento (a 0,2% de deformação) entre 300e 380 MPa; alto coeficiente

de encruamento, entre 0,2 e 0,3; limite de resistência entre 620 e 655 MPa; baixa

razão elástica, entre 0,5 e 0,6; e alongamento total superior a 27%. A figura 4.3b

permite a comparação das curvas típicas, obtidas em ensaios de tração, para aços

ao C, microligados e bifásicos. Como se pode observar, o aço bifásico representa

um caso intermediário entre os outros dois materiais, apresentando nível de

resistência mecânica similar ao do aço microligado, mas ductilidade mais próxima à

do aço ao C(10).

A Tabela 4.3 abaixo apresenta as classes de aços bifásicos mais usuais na

indústria, indicando os laminados a quentes e a frio.

Figura 4.7 Comparação entre as curvas tensão deformação, aços ao C, microligado e

bifásico.

34

4.2.4 Produção dos aços bifásicos

Desde as primeiras gerações de aços bifásicos até os dias atuais, tem

ocorrido um avanço contínuo nas técnicas de obtenção desses materiais.

Atualmente os aços bifásicos são produzidos através do tratamento térmico de

têmpera na zona crítica, ou seja, campo onde as fases ferrita e austenita se

encontram em equilíbrio. O processo básico para obtenção das fases martensita e

ferrita consiste em aquecer o aço até temperaturas entre as linhas A1 e A3 e resfriá-

lo rapidamente. O resfriamento acelerado da peça (têmpera) até uma temperatura

próxima à temperatura do ambiente faz com que parte da austenita gerada no

aquecimento se transforme em martensita, dando origem à microestrutura formada

por ferrita (fase macia) e martensita (fase dura). Essa configuração de microestrutura

formada por ilhas de martensita dispersas numa matriz de ferrita poligonal

caracteriza o chamado aço Dual Phase ou aços bifásicos.

A Figura 4.8 mostra uma representação do diagrama de fases ferro carbono,

indicando as temperaturas de transformação e as fases que podem ser obtidas com

o aquecimento das ligas metálicas ao carbono.

Tabela 4.3 Classes mais usadas de aços Dual Phase

35

Para que se obtenha essa microestrutura bifásica em aços de baixo carbono,

pode-se utilizar variados procedimentos de tratamento térmico. Porém, qualquer que

seja o processo, um ponto em comum a todos é que deve acontecer o resfriamento

rápido, a partir da zona crítica, para se obter tal microestrutura. Logo, a morfologia

das fases presentes na microestrutura bifásica depende da rota escolhida para sua

obtenção (Callister, 2008; Baptista et al, 2007).

Além dos processos de têmpera intercrítica, a microestrutura dos aços

bifásicos também pode ser formada diretamente pela laminação a quente de ligas,

que contém cromo e/ou molibdênio. Durante a produção dos aços bifásicos, tanto

através da laminação quanto por recozimento contínuo, a matriz ferrítica se forma

em primeiro lugar, enriquecendo a austenita remanescente com carbono e outros

elementos de liga, aumentando a sua temperabilidade. A transformação da

martensita após a formação da matriz ferrítica induz a formação de tensões

residuais de compressão na matriz ferrítica, que facilitam o processo de escoamento

e, consequentemente, reduzem o valor deste limite, suprimindo a ocorrência de um

patamar bem definido de escoamento. Após a formação da martensita, o processo

de revenimento pode proporcionar a redução da fragilidade desta fase (MURARI,

2009; GORNI, 2009). A Figura 4.9 demonstra através do gráfico tempo x

temperatura o ciclo de recozimento contínuo para os aços bifásicos.

Figura 4.8 Diagrama Fe_c. Fonte Callister, 2006

36

Em meados da década de 1980 foi desenvolvida uma variante de aço

bifásico, onde a martensita presente como segunda fase foi substituída pela bainita.

Essa evolução foi motivada pelo fato de que a microestrutura ferrítica-bainítica

apresenta menor número de locais onde ocorre concentração de tensão e

deformação, uma vez que é mais uniforme do que a ferrítica-martensítica. Isso

proporciona melhores características de ductilidade e tenacidade à chapa, fato de

grande importância em aplicações como a fabricação de rodas automotivas, em

função da maior capacidade de expansão de orifício desse material. Um aço

ferrítico-bainítico ideal para esta aplicação deve apresentar microestrutura ferrítica

com 10 a 15% de bainita, a qual proporciona limite de escoamento entre 450 e 550

MPa, limite de resistência entre 550 e 650 MPa, razão elástica menor ou igual a

85%e alongamento total mínimo de 25%. Um exemplo desse material, obtido através

de laminação a quente, apresenta a seguinte composição química: 0,05% C, 1,60%

Mn, 0,49% Si, 0,033% Al e 0,025%Nb, Sudo (1983) e Gorni (2007).

4.2.5 Principais elementos de liga dos aços Bifásicos

A composição química é de grande importância nas propriedades mecânicas

dos aços bifásicos, portanto relacionar a influência dos elementos de liga na

microestrutura do material e também com suas propriedades mecânicas é de suma

Figura 4.9 Ciclo de recozimento contínuo para aço Bifásico. Girina, 2003.

37

importância. Nos aços bifásicos, os elementos de liga podem formar uma solução

sólida com o ferro (intersticial ou substitucional) e carbonetos ou outros compostos

junto ao carbono, como carbonitretos, inclusões não metálicas e compostos

intermetálicos (FORGAS Jr., 2009). A dureza e a resistência mecânica do aço

bifásico podem ser aumentadas através de precipitados produzidos pelos elementos

microligantes ou pelo encruamento do material. Em contrapartida, há uma

consequente perda em sua ductilidade e tenacidade. O mecanismo de

endurecimento mais importante que confere resistência mecânica ao aço bifásico é

o endurecimento por redução do tamanho do grão. Em um aço estrutural

convencional, produzido por laminação a quente, o tamanho do grão ferrítico é de

aproximadamente 20 ou 30μm, já em um aço bifásico, é possível obter um tamanho

de grão de aproximadamente 5μm. O maior responsável por reduzir o tamanho de

grão ferrítico é a adição de pequenos teores de elementos de liga. O mais

importante dentre eles é o Nb, que produz um efeito significativo nas propriedades

mecânicas do aço bifásico, mesmo em teores abaixo de 0,05% (FORGAS Jr, 2009;

REED-HILL; ABBASCHIAN, 1994). A adição de microligantes nos aços bifásicos é

importante para garantir sua estrutura ferrítica-martensítica e inibir o aparecimento

de outras microestruturas na etapa de resfriamento rápido (têmpera), como austenita

retida, perlita ou bainita, além de controlar melhor a dureza e as propriedades

mecânicas finais (MARRA; TAISS; MIYAMURA, 2008). Os principais elementos

químicos, normalmente adicionados nos aços bifásicos e suas influências nas

propriedades mecânicas são: Carbono (C), manganês (Mn), silício (Si), cromo (Cr),

vanádio (V), titânio (Ti), Boro(B), Nióbio (Nb) – O nióbio é considerado o elemento

mais efetivo na melhoria das propriedades dos aços microligados, oferecendo

endurecimento de 35 a 40 MPa para cada 0,01% de adição((LAURITO, 2010; OLEA,

2002; ASM, 1999).

O Manganês tem sido o elemento de liga mais utilizado nos aços bifásicos

comercias. De acordo com GIRINA [2003] a microestrutura dos aços bifásicos é

extremamente sensível ao teor de Manganês e à temperatura que se inicia o

resfriamento brusco. Variando-se o teor de Manganês de 0,5 a 1,8% da liga,

obtiveram-se maiores valores de tensão de resistência e frações de martensita nas

ligas com teores mais altos (Figura 4.10). Em ligas com teores mais altos Mn, as

38

faixas de temperatura para o início da transformação da martensita foram maiores o

que reduz o rigor no controle de temperatura no processo.

4.2.6 Projeto ULSAB–AVC

Por consequência das crescentes exigências do mercado automotivo,

principalmente em relação à redução do peso dos veículos, e à eficiência no

consumo de combustível, questões estas relacionadas ao ganho de energia e à

questões de meio ambiente, as indústrias metalúrgicas de todo mundo têm se unido

em torno do objetivo de fazer com que as ligas de aço permaneçam competitivas no

mercado, e não sejam substituídas por outras ligas como as ligas de alumínio e

compostos poliméricos, com reforço de fibra de carbono.

Nesse contexto, foi desenvolvido em nível internacional o consórcio chamado

“ULSAB-AVC”, que reuniu nas últimas décadas praticamente todas as indústrias

siderúrgicas importantes do mundo, com o objetivo de propor novos aços para

aplicações automotivas. Um documento publicado a partir das experiências

desenvolvidas por esse consórcio de empresas, dentre as quais, a Usiminas, que

representou o Brasil nesse projeto, mostrou a existência de inúmeros aços capazes

de atender às especificações para a indústria automotiva. A Tabela 4.4 mostra as

metas e resultados do projeto Ulsab, na fase 1.

Figura 4.10 Relação do teor de Mn com tensão máxima de resistência e volume de martensita

Fonte: Girina 2003

39

Nota-se também que, para este setor, o conceito de elevada resistência

mecânica se estende a um limite de escoamento entre 210 MPa e 550 MPa. Todos

os aços propostos pelo consórcio ULSAB-AVC são fabricados através do controle da

taxa de resfriamento a partir da fase austenítica ou austenita e ferrita, seja na mesa

de laminação a quente (para produtos laminados a quente), seja na seção de

resfriamento do forno de recozimento contínuo (para produtos de recozimento

contínuo). A Figura 4.11 mostra o conceito de estrutura veicular desenvolvido a partir

do projeto ULSAB, com os percentuais de cada tipo de aço utilizados na fabricação

dos novos chassis de automóveis.

Figura 4.11 Estrutura veicular ULSAB Fonte: (MARRA, 2008)

Tabela 4.4 Metas e resultados do projeto ULSAB – fase 1

40

4.3 Oxidação em Metais

4.3.1 Considerações iniciais

A oxidação é um dos vários mecanismos de deterioração dos materiais

metálicos e geralmente ocorre quando eles estão submetidos a um ambiente

propício a esse fenômeno (umidade, temperaturas elevadas, gases ou vapores). Ela

é caracterizada pela formação de uma incrustação ou filme não metálico (também

conhecidos como óxidos) sob a superfície do metal. A oxidação ocorre através da

perda de elétrons do metal, os quais são transferidos para outra espécie química e

que acabam se tornando parte dela, realizando a reação de redução que é um

processo que ocorre paralelamente com a oxidação. Um exemplo típico desse

fenômeno é a oxidação do ferro em presença de água. Ela ocorre em duas etapas:

na primeira etapa o elemento Fe é oxidado à Fe2+ (perde dois elétrons) e se

transforma em Fe (OH)2, na segunda ele é oxidado a Fe3+(perde 3elétrons) e se

transforma em Fe(OH)3+, também conhecido como óxido de ferro ou ferrugem

(mostrado nas figuras abaixo).

A facilidade com que um metal cede seus elétrons (se oxida) é dada através

de uma propriedade dos metais, chamada de potencial padrão de redução.

Geralmente, metais com um potencial de redução menor tenderão a oxidar mais

facilmente, o que explica porque alguns metais se oxidam mais que os outros. A

Redução, por sua vez, é o inverso e ocorre também de três maneiras: quando uma

substância perde oxigênio, quando ganha hidrogênio ou quando ganha elétrons.

Exemplo: quando o óxido de cobre (negro) é colocado em aparelhagem apropriada

(câmara) para que ocorra sua redução, o gás hidrogênio entra em contato com o

óxido de cobre superaquecido e, como resultado, ele perde oxigênio e vai aos

poucos se tornando rosa, pois está sendo reduzido a cobre. Segundo (Gentil, 1987),

o estudo da oxidação dos metais é um tema de grande importância devido ao

enorme número de aplicações que estes encontram na fabricação dos mais variados

produtos.

Os processos de oxidação e de redução são necessariamente concorrentes,

pois os elétrons liberados na oxidação são usados na redução. Considerando-se os

41

diferentes potenciais de redução, é possível observar, experimentalmente, que

metais com potenciais de redução menores têm maior tendência a transferirem seus

elétrons em presença de água e oxigênio, formando, portanto, seus respectivos

óxidos. A oxidação de diferentes metais gera diferentes óxidos, muitos dos quais são

caracterizados por cores particulares. O óxido de ferro, por exemplo, apresenta uma

cor castanha avermelhada, enquanto o hidroxicarbonato de cobre apresenta uma

coloração azul esverdeada. Por outro lado, é possível também que a oxidação leve à

formação de uma camada superficial de óxido, aderente e protetora, que impede a

oxidação do metal subjacente, como é o caso do alumínio.

Muitas empresas utilizam graxas ou óleos protetivos em metais para evitar sua

oxidação (METALS, 1987).

4.3.2 Formas de corrosão

A corrosão pode ocorrer de diferentes formas ou tipos, e podem ser

apresentadas considerando-se a aparência ou forma de ataque e as diferentes

causas da corrosão e seus mecanismos. Assim, pode-se ter corrosão segundo

(Gentil, 2007):

Morfologia: uniforme, por placas, alveolar, puntiforme ou pite, intergranular

(ou intercristalina), intragranular (ou transgranular ou transcristalina), filiforme, por

esfoliação, grafítica, dezincificação, em torno de cordão de solda e emploamento

pelo hidrogênio;

Mecanismos: por aeração diferencial, eletrolítica ou por correntes de fuga,

galvânica, associada a solicitações mecânicas corrosão sob tensãofraturante, em

torno de cordão de solda, seletiva (grafítica e dezincificação), emploamento ou

fragilização pelo hidrogênio;

Fatores mecânicos: sob tensão, sob fadiga, por atrito e associada à erosão;

Meios corrosivos: atmosférica, no solo, em águas naturais (rios, lagos e do

subsolo), na água do mar, microrganismos, produtos químicos, etc.;

Uma lista com os principais tipos de corrosão nunca será completa, contudo,

algumas das principais classes podem ser mencionadas:

Corrosão atmosférica: a corrosão atmosférica dos aços-carbono, como o

próprio nome indica, trata da reação do oxigênio, constituinte da atmosfera, à

42

temperatura ambiente, com o metal, estando à superfície recoberta por uma película

(macroscópica ou microscópica) de água e agentes poluentes dissolvidos, chamado

de eletrólito (PANNONI, 2007).

Segundo PANNONI (2007), a corrosão atmosférica do aço carbono pode ser

descrita esquematicamente pela Equação 3, onde o composto formado FeOOH (2

FeOOH ↔ Fe2O3 + H2O), é a ferrugem.

Equação 3→4 Fe + 3 O2 + 2 H2O → 4 FeOOH

Quando a superfície de aço é exposta à atmosfera, ela é rapidamente

recoberta por uma fina camada de produtos de corrosão. Esta reação acontece tão

mais rapidamente quanto mais contaminada for à superfície pelos poluentes

existentes e também quanto mais elevada for à umidade e a temperatura (GENTIL,

2007).

Corrosão Puntiforme (pite): durante a corrosão puntiforme, ou pite, o ataque

se localiza em um ponto isolado da superfície metálica e se propaga até o interior do

metal, muitas vezes transpassando-o. Essa forma de corrosão localizada consiste

na formação de cavidades de pequeno diâmetro e maior profundidade na peça

metálica. É uma forma de corrosão que não há perda da espessura da peça

(MAINIER, 2011). Entre os motivos que causam a corrosão por pites pode-se citar:

danificação ou destruição da camada passivadora, defeitos superficiais locais no

material, defeitos que permitam a penetração do meio corrosivo, ou a formação de

crostas. A Figura 4.13 mostra um exemplo de corrosão por pite em tubo de aço

inoxidável.

Figura 4.12 Corrosão por pite em tubo aço inoxidável AISI 304 (MAINIER,2011).

43

Corrosão alveolar: A corrosão alveolar se processa na superfície metálica

produzindo sulcos ou escavações semelhantes a alvéolos apresentando fundo

arredondado e profundidade geralmente menor que seu diâmetro e diâmetro maior

que a profundidade do sulco (MAINIER, 2011 e PONTE, 2003). A corrosão alveolar

é uma variante da corrosão por pites onde a cavidades apresentam um maior

diâmetro e uma menor profundidade.

Corrosão em Frestas: a corrosão em frestas é uma forma localizada de

corrosão que ocorre quando pequenas quantidades de um meio corrosivo ficam

retidas ou estagnadas em frestas, cavidades ou quaisquer espaços confinados, de

acordo com o exemplo na Figura 4.14, ou seja, onde o fluxo de fluido corrosível é

muito difícil ou nulo, e o suprimento de oxigênio fica assim diminuído (FARIA, [200-]).

A corrosão em frestas é também chamada de corrosão sob contato, de corrosão

“por célula de concentração” e de corrosão intersticial.

Corrosão Intergranular: este tipo de corrosão localiza-se entre os grãos da

estrutura cristalina (contorno de grãos) do material metálico, o qual perde suas

propriedades mecânicas e pode fraturar, quando submetido a esforços mecânicos

menores que o esperado para a ruptura (PONTE, 2003).

A Figura 4.15 mostra um exemplo de corrosão intergranular próximo a um

cordão de solda.

Figura 4.13 Corrosão em frestas Fonte: CASTRO, 2011.

44

Corrosão Intragranular: de acordo com a Figura 4.16, este tipo de corrosão

se processa no interior dos grãos cristalinos do material metálico o qual, pela perda

de suas propriedades mecânicas, assim como no caso da corrosão intergranular,

poderá fraturar à menor solicitação mecânica, com efeitos muito mais catastróficos

que o caso da intergranular (PONTE,2003).

Corrosão sobtensão: a corrosão sobtensão é uma forma de corrosão grave

que é provocada pela existência de tensões de tração de certo valor em algumas

regiões da peça metálica. Manifesta-se pelo aparecimento de trincas

perpendiculares à direção da tração, podendo essas trincas ser intergranulares,

transgranulares ou ramificadas, como ilustra a Figura 4.17. As trincas vão

aumentando e se propagando até causarem a ruptura da peça (FARIA, [200-]).

Figura 4.14 Corrosão Intergranular. Fonte: Mainier, 2011.

Figura 4.15 Corrosão intragranular aço Inoxidável Fonte: Tridapalli, 2011

45

4.3.3 Influência do atrito na Estampagem profunda

Qualquer ensaio que se proponha avaliar o atrito nos processos de

estampagem dos metais precisa levar em consideração as características das

superfícies da matéria prima, da peça e da ferramenta, as quais mudam nitidamente

durante o processo de conformação. Na maioria dos casos, a solução deste

problema permanece não esclarecida, devido a grande quantidade de fatores

envolvidos, originando erros nos resultados.

O controle dos níveis de atrito tem um papel importante por influenciar a

distribuição das tensões e deformações na chapa. O desgaste excessivo das

matrizes e peças danificadas é geralmente evitado usando-se óleos lubrificantes

adequados. No ponto de vista microscópico, uma superfície ideal está livre de

irregularidades superficiais, contaminantes, tais como gases absorvidos nos

processos metalúrgicos, compostos inorgânicos e orgânicos depositados como

capas de óxidos sulfurosos ou nitrosos e capas de lubrificantes. Uma superfície ideal

pode ser obtida no instante de cortar um monocristal a temperatura do ar liquefeito,

a uma pressão menor que 10 -10 mm Hg (Vidal Martinez, 1953). As superfícies

obtidas por processo mecânico, como a laminação, apresentam irregularidades em

formas de picos, vales e asperezas, quando observadas em microscópio. Claro que

este tipo de perfil apresenta no acabamento superficial do material uma fundamental

importância na determinação da rugosidade superficial que gera o atrito e a força de

atrito, quando há um movimento relativo entre estas superfícies.

Figura 4.16 Corrosão sob tensão, zona de ligação junta soldada com metal de adição

E 309L Fonte: Antunes et al (2010).

46

As condições de contato da chapa metálica no raio de entrada na ferramenta

são de importância fundamental para a resposta de desgaste para muitos processos

de estampagem (Pereira, M. P., 2009). Uma compreensão detalhada da pressão de

contato na interface (peça-ferramenta) é essencial para a aplicação de testes de

desgaste representativos. O uso de revestimento na ferramenta e de materiais

resistentes ao desgaste, no desenvolvimento de

modelos de atrito adequados é fundamental para prever a vida útil da ferramenta.

4.4 Ensaios mecânicos de Estampabilidade

4.4.1 Ensaio de Tração para chapas

Este é um ensaio uniaxial e sem atrito mais utilizado em chapas de aço para

estampo, para determinar as suas propriedades mecânicas. Este permite obter o

limite de resistência, o limite de escoamento, o grau de encruamento e o índice de

anisotropia. A máquina para este teste é composta por uma garra fixa que se

posiciona abaixo de uma garra móvel e se move com velocidade constante

esticando o corpo de prova no sentido vertical. Estas máquinas são equipadas com

sensores para registrar a força e alongamento do corpo de prova. Termina o ensaio

quando o corpo de prova se rompe. Na Figura 4.18 é mostrado um ensaio de tração

em andamento, chapa sendo tracionada.

Figura 4.17 Ensaio de tração Fonte: www.pesquisa.una.br. Acessado em agosto 2014.

47

O resultado do ensaio de tração é o diagrama força vs. Alongamento ou tensão convencional vs. Deformação relativa.

4.4.2 Ensaio ERICHSEN

Este ensaio serve para corrigir os erros de tensões uniaxiais do ensaio por

tração. É um ensaio tecnológico que atua com uma matriz com abertura circula e um

punção de formato esférico, como mostra a figura 4.19. Foi criado por A.M.

ERICHSEN em 1910 e padronizado no método MB-362 da ABNT e nas normas DIN

50101 e DIN 50102. Os resultados do ensaio servem para julgar a aptidão do

material para o uso em processos de estiramento. Para evitar o atrito entre a chapa

e o punção, é utilizada uma graxa misturada com carbono. Neste teste é gerado um

copo com fundo esférico, o qual sua altura (em milímetros) é o resultado do ensaio

juntamente com um diagrama embutimento vs. Espessura nominal da chapa, sendo

específico para diferentes materiais. A Figura 4.19 mostra de forma esquemática os

elementos para realização do ensaio Erichsen.

4.4.3 Ensaio Swift

Ensaio Swift: consiste na deformação de um disco metálico (blank) preso em

uma matriz com um punção na forma cilíndrica. Nesse caso, o resultado é obtido por

meio da relação entre o diâmetro máximo do disco e o diâmetro do punção que

provoca a ruptura da peça. Desse modo, esse método de ensaio exige a utilização

de diversos corpos-de-prova, sendo muito utilizado para análise de casos de

Figura 4.18 Representação esquemática dos equipamentos utilizados no ensaio

Erichsen (a) e do índice de embutimento, h (b).

48

estampagem profunda (deep.drawing). A Figura 4.20 apresenta o ensaio Swift de

forma esquemática, para estampagem de uma peça em formato cilíndrico.

4.4.4 Ensaio sob Pressão hidráulica (Bulge test)

Neste ensaio a chapa é abaulada sob pressão hidráulica e é utilizado apenas

para pesquisas. A Figura 4.21 ilustra o esquema do ensaio Bulge test, a sua

vantagem é que o valor da curva de escoamento é de 0,7, enquanto no ensaio de

tração é de 0,2 devido à estrição e rompimento do corpo de prova. Geralmente são

usados corpos de prova em forma de discos que são fixados, durante o ensaio, por

um flange em forma de anel de modo que no flange do corpo de prova não possa

ocorrer escoamento, durante o ensaio.

Figura 4.19 Esquema do ensaio Swift para estampagem de uma peça em

formato cilíndrico. Fonte: Folle, 2012

Figura 4.20 Esquema ensaio Bulge test

49

4.5 Ensaios acelerados para avaliação da corrosão

Avaliar antecipadamente o desempenho e o comportamento de materiais

metálicos, com ou sem revestimentos, projetados para uso em exposição

atmosférica, é uma tarefa complicada, devido principalmente à complexidade e aos

diferentes modos de atuação dos fatores atmosféricos. Os ensaios de corrosão são

utilizados para selecionar e avaliar o desempenho de materiais como aço e pintura.

Estes ensaios podem ser classificados como acelerados e não acelerados (Assis,

2000).

Os testes não acelerados são realizados em estações de corrosão

atmosférica, ficando os corpos de prova expostos ao intemperismo natural. Este tipo

de avaliação geralmente demanda tempo excessivo o que pode comprometer

prazos de desenvolvimentos de produtos. No entanto segundo Alvarenga seus

resultados são mais confiáveis, pois representam melhor o mecanismo de corrosão

que ocorre em serviço (Alvarenga, 2001).

Os testes acelerados são realizados em escala laboratorial utilizando

equipamentos específicos para simular condições críticas sob as quais o material

em avaliação ficará exposto. Este tipo de ensaio é o mais utilizado por sua

simplicidade e tempo de teste relativamente curto. Dependendo do tipo de material,

aplicação final e objetivo do teste serão selecionados um ensaio ou conjunto de

ensaios específicos.

Para prover bons resultados os métodos acelerados devem preencher os

seguintes critérios:

● produzir resultados em um tempo relativamente curto;

●produzir resultados que se correlacionem com dados obtidos de exposição ao

intemperismo natural e produzir modos de degradação similares;

●ser válido para uma grande variedade de materiais e condições;

●ser reproduzível em câmaras e em outros ambientes de teste;

●ser de fácil execução, sem a necessidade de operadores especializados e

equipamentos de custos altíssimos.

50

Nenhum dos ensaios comumente utilizados preenche todos estes requisitos.

Por exemplo, o ensaio de névoa salina (ASTM B-117), promove uma rápida

degradação, mas não apresenta boa correlação quando comparado com resultados

de exposições externas, e muitas vezes os mecanismos de degradação também são

distintos. Câmaras de umidade, frequentemente, produzem degradação lenta nos

revestimentos, particularmente em sistemas de revestimentos com alta tecnologia

(Alvarenga, 2001).

4.5.1 Ensaio de névoa Salina

O ensaio de névoa salina é conduzido em uma câmara fechada com controle

sobre as condições de exposição da amostra. Estes ensaios têm como objetivo

permitir o controle dos fatores que contribuem para a corrosão, porém sem provocar

alterações nos mecanismos de corrosão.

O mais antigo e mais utilizado ensaio acelerado de laboratório para simulação

de intempéries é o ensaio de névoa salina ASTM B-117[l], o qual foi originalmente

desenvolvido entre 1910-1920 e padronizado em 1939. Este ensaio procura simular

as condições encontradas em atmosferas marítimas, através da névoa contínua de

solução NaCl a uma concentração de 5% em peso e temperatura de 35°C ± 2°C. O

pH da solução oscila entre 6,5 e 7,2 e a umidade relativa é de 100% (Assis, 2000).

Apesar dos ensaios em câmaras serem projetados para reproduzir resultados

similares aos que ocorrem em condições reais, existe comprovações de que eles

frequentemente não alcançam plenamente estes objetivos. A exposição contínua

dos materiais à solução de NaCl no ensaio de névoa salina é uma condição

extremamente crítica e leva a graus de corrosão muito elevados em pouco tempo.

Na maior parte das aplicações, como o caso da linha branca, o material, durante seu

uso, fica exposto a condições úmidas alternadamente a condições secas, enquanto

no teste de névoa salina a amostras estão continuamente úmidas. Segundo

(Romanchik, 2000), há outras diferenças como a concentração e o tipo de sal

utilizado no teste e os encontrados no ambiente final de exposição e as alterações

de temperatura durante a vida útil do material.

Deve-se ser cauteloso ao utilizar esta metodologia de avaliação, pois o

mecanismo de corrosão pode não ser o mesmo a que o material será exposto em

51

sua aplicação. Este método apresenta melhor resultado utilizando-se sempre um

comparativo ou uma especificação já conhecida para evitar conclusões errôneas.

4.5.2. Ensaios Cíclicos

De acordo com Esforços têm sido realizados para desenvolver novos tipos de

ensaios acelerados, ou combinar os ensaios já existentes, com o intuito de produzir

um método que possa reproduzir a degradação e corrosão dos revestimentos e

substratos, quando expostos às condições de serviço. Alguns destes ensaios

baseiam-se em exposições cíclicas, Assis, (2000).

Segundo Chagas et al. (2010), a característica básica de um Ensaio Cíclico

de Corrosão é a apresentação de falhas ocorridas pelo processo corrosivo, quanto à

morfologia e estrutura, similares a aquelas observadas em exposições naturais. Os

ensaios cíclicos permitem uma melhor representatividade do ambiente em que o

material estará exposto, submetendo o mesmo a diferentes condições ambientais

intercaladamente em um mesmo teste.

Não existe uma metodologia única para este tipo de ensaio, ele deve ser

estruturado de forma a melhor representar as variações ambientais que ocorrerão

durante a aplicação final, além de simular os processos corrosivos mais agressivos

ao material sendo avaliado.

Os ambientes de exposição mais utilizados neste tipo e teste são:

●Névoa Salina

● Umidade elevada

●Umidade baixa

●Condição ambiente

●Imersão

De acordo com Chagas et al. (2010), através de uma análise prévia da

condição à que o material estará exposta durante sua vida útil, define-se um ciclo

envolvendo qualquer uma das etapas listadas. Existem métodos simples de ensaios

cíclicos que envolvem apenas molhamento com soluções específicas, intercalados

de períodos de secagem. Porém existem também testes que requerem ciclos com

52

várias etapas, podendo incorporar condições de imersão, umidade, condensação,

pulverização e condições de secagem.

O ciclo deve ser repetido quantas vezes foram necessárias a fim de se obter

discriminação entre as amostras em teste.

4.5.3. Ensaios por Imersão

O teste por imersão é o mais simples e mais popular dos testes acelerados de

corrosão. Existem normas já desenvolvidas especificando procedimentos para

condução destes testes como ASTM, NACE, ISO e MTI. Os ensaios por imersão são

bastante flexíveis e podem ser adaptados para atender qualquer aplicação

específica. Os equipamentos podem ser configurados para permitir a exposição dos

espécimes a vários tipos de solução (líquidos, vapor, condensado, interface

líquido/vapor, etc.). As amostras podem ser adaptadas a fim de simular diferentes

condições de risco como frestas, tensão, pintura entre outros, Alvarenga, (2003).

O tempo de exposição varia muito com o tipo de material sendo testado e da

solução sendo utilizada para imersão da amostra. Em geral são os ensaios onde se

consegue um maior grau de corrosão em menor tempo, por isso é muito utilizado

quando se necessita respostas rápidas. Como qualquer outro teste acelerado de

corrosão, o ideal é sempre avaliar amostras comparativamente a fim de se obter

melhores interpretações do resultado.

4.6 Revestimento galvânico

Basicamente, o revestimento metálico tem o objetivo de aumentar a

resistência à corrosão e pode ser dividido em duas categorias: nobres e de

sacrifício. Os revestimentos de sacrifício (galvânico) são aqueles que apresentam

velocidade de corrosão maior que o metal de base. Desta forma, o revestimento é

oxidado ao invés do metal base [Pannoni, 2010; Scatolin, 2005].

No revestimento de sacrifício, o metal de base é catodicamente protegido, ou

seja, o metal que sofre corrosão é o de revestimento e não o metal de base. Isso

ocorre porque a direção da corrente galvânica é inversa a dos revestimentos nobres.

Dessa forma, o grau de porosidade deste revestimento não tem grande importância,

53

diminuindo os custos. O revestimento mais espesso ajudará no tempo que vai

acontecer a proteção, pois o metal do revestimento é “preferivelmente” consumido

na corrosão do que o metal base [Pannoni, 2010; MetalsHandbook v.5, 1990]. A

Figura 4.22 ilustra, de forma esquemática, a composição do revestimento.

O

revestimento galvânico pode ser aplicado em diferentes tipos de produtos, variando

desde pequenas peças de fixação até grandes peças estruturais. O método de

galvanização mais utilizado no mundo é a galvanização a quente, que basicamente,

compreende na imersão de um componente metálico (aço) em um banho de zinco

líquido (fundido). Após o mergulho do material metálico no banho, uma camada de

zinco relativamente puro passa a cobrir a superfície do material e as camadas

intermetálicas, produzindo uma coloração acinzentada ou prateada característica. A

camada de intermetálicos (Zn-Fe) é dura e frágil, conferindo ao material uma barreira

de proteção aliada a uma proteção galvânica, ou seja, protegendo o material da

corrosão. A cobertura de zinco mais externa é macia e protege o material de

impactos juntamente com um aumento da resistência a abrasão [Pannoni, 2010;

Garcia e Mallet, 1993;]. O revestimento apresenta reações ocorridas entre o ferro e o

zinco no banho de galvanização, e o material são recobertos por uma camada de

zinco livre. Na realidade, não existe demarcação clara entre o aço e o zinco, mas

uma transição gradual através de uma série de camadas de liga que fornecem uma

forte ligação. Uma micro seção do revestimento galvanizado assemelha-se com o

observado na Figura 4.23 mostrada a seguir, [Pannoni, 2010].

Figura 4.21 Seção esquemática de um revestimento galvanizado típico,

mostrando as camadas de intermetálicos [Pannoni, 2010]

54

Figura 4.22 Microestrutura típica de revestimento galvanizado a fogo [Galvanizers

association, 2002]

55

5 MATERIAIS E MÉTODOS

A seguir serão apresentados os materiais e métodos que foram utilizados no

trabalho. O foco do trabalho concentrou-se em aço bifásico DP800, fabricado pela

empresa USIMINAS, com o objetivo de avaliar o comportamento mecânico desse

aço em relação a sua estabilidade mediante à oxidação por exposição do material a

condições climáticas inadequadas.

5.1 Materiais

A Tabela 5.1 apresenta as propriedades mecânicas nominais do aço

estudado neste trabalho. Foram utilizadas chapas de aço DP800, com 2,1mm de

espessura, produzido e fornecido pela Usiminas-MG, que tem como principais

características, segundo informações do fabricante, tensão de escoamento de 800 a

820MPa, limite mínimo de resistência a tração de 900MPa e alongamento mínimo de

10%.

Tabela 5.1 Composição química (% peso) do aço DP800 Fonte: Lajarin et. al 2012

C Mn Si P Al Ti Nb B Mo N

0,12 1,68 0,026 0,018 0,044 0,002 0,025 0,0002 0,18 0,0053

5.2 Considerações sobre o revestimento metálico

Não foi possível obter informações precisas com o fabricante do aço em

estudo, a Usiminas, sobre o revestimento metálico utilizado no processo de

obtenção do produto, por questões de regras da empresa em relação à divulgação

de composição química dos produtos. Porém, levando em conta a tendência mundial

dos aços utilizados na indústria automotiva, é possível indicar com bom nível de

acerto que se trata de uma liga de zinco. O zinco possui uma excelente capacidade

de proteger o substrato de aço contra a corrosão, mantendo, ainda, boas

características como baixo custo e baixo peso, o qual leva a uma melhora na

performance de consumo de combustível, (uma exigência do governo para a

56

indústria automobilísticas receber incentivos fiscais) e reciclabilidade que, por sua

vez, transformam o revestimento galvanizado em uma das melhores alternativas

para aumentar a resistência contra a corrosão (ALMEIDA; ELIZABETE, 2000).

5.3 Métodos

O trabalho envolveu as seguintes metodologias experimentais:

Caracterização microestrutural por meio de metalografia qualitativa via microscopia

óptica, e quantitativa, com auxílio do programa “Image J” para quantificação das

fases. Ensaios mecânicos de tração, ensaio de corrosão pelo método de Imersão, e

análise via microscópio eletrônico de varredura (MEV), e ensaio de estampagem

Erichsen.

5.3.1 Análise Metalográfica

A preparação metalográfica seguiu os procedimentos normais de

metalografia. A técnica de lixamento manual consiste em se lixar a amostra

sucessivamente com lixas de granulometria cada vez menor, mudando-se de

direção (90°) em cada lixa subsequente até desaparecerem os traços da lixa

anterior. As amostras foram embutidas a quente, em seguida foi executado o

processo de lixamento manual, utilizando uma sequência de lixas com diferentes

granulometrias (lixas 100, 220, 320, 400, 600 e 1200), após foram utilizadas as lixas

de SiC, na lixadeira metalográfica e polidas com solução de alumina, de 0,3 e 0,05

μ. Após a preparação metalográfica, as amostras foram atacadas quimicamente com

solução de nital 2% (98% de alcool e 2% de ácido nítrico). As amostras foram

atacadas por imersão por tempos que variaram de 3 a 6 segundos.

As fases presentes nas amostras foram caracterizadas em um microscópio

ótico Olympus GX51, com analisador de imagens, apresentado na Figura 5.1.

57

5.3.2 Análise das imagens

De cada amostra, após polimento e ataque, foram capturadas imagens ao

longo de toda superfície preparada, evitando-se regiões que, eventualmente,

apresentaram alguma imperfeição de polimento e as regiões muito próximas às

bordas. Mantendo-se a imagem sempre bem-focada, foram capturadas pelo menos

vinte imagens de cada amostra.

Após a captura das vinte imagens, de cada amostra, como estabelece a

norma ASTM E 1382, elas foram analisadas através do software Image J, disponível

para uso livre na Internet. Aplicou-se, em algumas imagens, o threshold, (recurso

pelo qual o software estabelece o limiar entre as fases brancas e pretas de uma

imagem), escolhendo-se o valor de forma a se separar, o melhor possível, as áreas

claras (não atacadas ou tingidas) das áreas escuras (atacadas ou tingidas pelos

reagentes). Dessa forma foi possível definir o percentual de cada fase micro

estrutural presente nas amostras.

5.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

As fractografias foram obtidas no microscópio eletrônico de varredura JSM,

modelo JSM-5800, instalado no Centro de Microscopia Eletrônica da UFRGS,

mostrado na Figura 5.2. A microscopia eletrônica de varredura (MEV) é um método

Figura 5.1 Microscópio Óptico Olympus GX51 do LdTm/Ufrgs

58

de análise de superfície de alta resolução de imagem, que usa elétrons na formação

da imagem, tal como o microscópio óptico usa a luz visível. A vantagem da MEV

sobre a microscopia óptica inclui a alta magnificação (aumento superior a 100.000

vezes) e a profundidade de campo acima de 100 vezes. As informações quanto à

análise química qualitativa e quantitativa são também obtidas usando-se o

espectrofotômetro em energia dispersiva de raios-X (EDS) associada à MEV

(Padilha e Ambrózio, 1985; Skoog e Leary, 1992; Hanke, 2000). Este método foi

utilizado para realizar a análise das amostras do ensaio de corrosão por imersão,

com o propósito de observar mais detalhadamente a superfície dos corpos de prova

expostos à corrosão ao ar e corrosão por imersão, e dessa forma verificar os

mecanismos de corrosão que podem surgir nas chapas e a eficácia do revestimento

como proteção contra a corrosão.

5.3.4 Ensaio Mecânicos

Os corpos de prova foram confeccionados conforme a norma NBR 6152.

Figura 5.2 Microscópio eletrônico de varredura MEV JSM 5800, instalado

no CME- UFRGS

59

5.3.5 Ensaio de tração

Esse ensaio baseia-se em submeter corpos-de-prova, no caso barras de aço,

a forças de tração, monitorando-se as deformações, depois, seguindo o ensaio até a

ruptura para se determinar uma ou mais das propriedades mecânicas, tais como a

força máxima suportada, o alongamento, o limite de resistência à tração, o

alongamento específico e o módulo de elasticidade.

A Figura 5.3 mostra o ensaio sendo realizado no laboratório do Ldtm, sendo

possível observar o posicionamento do extensômetro e a chapa presa entre os

mordentes da máquina.

A máquina de tração é da marca EMIC, com capacidade de 60 toneladas e

está alocada no Laboratório de Transformação Mecânica – LdTm, no Campus do

Vale da UFRGS, conforme mostra a figura 5.3, mostrada acima.

Para realização dos testes, seleciona-se inicialmente o programa para

determinação dos resultados desejados no ensaio. Em seguida toma-se um dos

corpos de prova, no qual se mede os valores da espessura e da largura da região

útil, acopla-se o extensômetro, entra com os dados pedidos pelo programa

(espessura inicial, largura inicial, comprimento útil e direção de laminação). Retirado

o corpo de prova da máquina, mediram-se novamente os valores da espessura e da

largura da região útil, estes agora tomados como valores finais, após a deformação

Figura 5.3 Corpo de prova durante ensaio de tração. Fonte: O autor

60

do corpo de prova. Para os ensaios seguintes apenas repete-se o procedimento

descrito anteriormente. Para plotagem dos gráficos de tensão vs deformação foi

utilizado o programa Tesc com tratamento dos dados obtidos das curvas de carga vs

deslocamento, geradas durante os ensaios.

Foram determinados os valores de tensão de escoamento, além do limite de

resistência, alongamento e módulo de elasticidade. Estes dados auxiliam na

avaliação das características de estampabilidade das chapas, servindo de parâmetro

para análise das condições do material em relação ao grau de conformabilidade ao

qual será submetido durante o processo de fabricação do componente.

A Figura 5.4 mostra a máquina Universal de ensaios do LDTM da UFRGS.

5.3.6 Ensaio estampagem ERICHSEN

O ensaio de estampagem foi realizado na máquina universal de ensaio Emic

DL60000 do Ldtm – Ufrgs, de acordo com o método Erichsen modificado, descrito

na norma ABNT NBR 16.281:2014, segundo Garcia et al.(2000) o ensaio consiste

em deformar - à temperatura ambiente, com um penetrador provido de uma ponta

esférica - um corpo de prova, preso entre uma matriz e um anel de fixação, até

ocorrer a queda na carga impressa pelo punção no CP, quando este começa a

Figura 5.4 Máquina universal de ensaios Emic DL60000, instalada no Ldtm da Ufrgs.

Fonte: O autor

61

romper. Nesse momento, determina-se a profundidade da calota produzida via

medidor automático acoplado à máquina de ensaios universal. Os corpos de prova,

utilizados no ensaio em questão foram produzidos nas medidas de 90x90 mm, a

força utilizada no prensa chapas foi de 1.000 Kgf e a velocidade do punção de 5

mm/min.

Nesse ensaio não foram consideradas, para efeito de análise dos resultados,

o efeito do atrito entre a chapa “blank”, o punção e a matriz, pois os testes foram

realizados sem a utilização de lubrificantes sólidos ou líquidos.

A Figura 5.5 mostra dois corpos de prova obtidos após o ensaio, evidenciando

a calota esférica produzida pelo punção.

5.3.7 Ensaio de corrosão por imersão

A metodologia utilizada para os ensaios por imersão foi baseada na ASTM

G85, que consiste na imersão das amostras e uma solução de Nacl 3% e sulfato de

Zinco. As amostras foram de aço DP800 foram cortadas na serra manual e após foi

realizado operação de rebarba com uma lima no laboratório de Usinagem. Conforme

é mostrado na figura 5.6, as amostras foram cortadas no formato retangular de

aproximadamente 2cm x 1cm.

Figura 5.5 Corpos de prova obtidos no Ensaio Erichsen.

62

Figura 5.6 Corpos de prova utilizados no ensaio de imersão. Fonte: O autor

A ASTM G85 não especifica um tempo padrão de ensaio, portanto para

determinação do tempo de 168 h foram conduzidos ensaios preliminares com

tempos diferentes a fim de identificar o ideal para obter discriminação entre as

amostras. A norma também não cita temperatura de teste, portanto o mesmo foi

conduzido à temperatura ambiente. Após o término das diferentes metodologias

todas as amostras passaram por um processo de limpeza com álcool etílico para

realização de análises via Microscópio eletrônico de varredura. As amostras após

preparadas foram totalmente imersas na solução por 168 horas, conforme ilustrado

na Figura 5.7.

Figura 5.7 Amostras imersas na solução de Sulfato de Zinco, à esquerda

amostras sem revestimento e a direita amostras revestidas. Fonte: O autor

63

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.1 Ensaio de tração

Para o estudo das propriedades mecânicas estatísticas, foi realizado ensaio

de tração de 5 corpos de prova revestidos e 5 não revestidos, corpos de prova

retirados no sentido de laminação 0º para todas as amostras. Estas curvas foram

obtidas utilizando o software Tesc versão 3.04.

A Figura 6.1 mostra um resultado comparativo da curva tensão x deformação,

para os aços revestidos e não revestidos.

Os ensaios de tração, realizados com os corpos de prova retirados formando

ângulos de 0ºem relação à direção de laminação da chapa, forneceram informações

relativas às propriedades mecânicas do material, como o limite de resistência (LR),

tensão de escoamento (LE) e alongamento (Al). Estas propriedades caracterizam o

material quanto aos seus valores limite em termos de resistência, a tensão máxima

atingida ao final da deformação elástica (módulo de elasticidade) e finalmente o

alongamento máximo (Al) do material até o instante da fratura.

Figura 6.1 Curva tensão x deformação para o aço DP 800, comparativo médio entre os

aços revestido e não revestidos a 0º

64

Além das propriedades mecânicas e dos parâmetros de estampabilidade do

material, o ensaio de tração permitiu ainda uma avaliação do material quanto ao

perfil da curva Tensão vs Deformação da chapa metálica.

A Tabela 6.1 mostra os resultados referentes às propriedades mecânicas do

material obtidas através de ensaio de tração, para as amostras de aço DP800 não

revestidas.

Tabela 6.1 Ensaio de tração DP800 sem revestimento

Ficaram demonstrados maiores valores das tensões de escoamento nos aços

não revestidos, por outro lado, observaram-se maiores valores de resistência à

tração nos aços revestidos. É interessante observar a menor relação elástica nos

aços revestidos (0,627) em relação aos não revestidos (0,829) lembrando que esse

valor é o quociente entre tensão de escoamento e tensão máxima. De acordo com

Gorni [2009], baixa razão elástica corresponde a melhor capacidade de deformação

plástica do aço. A Tabela 6.2 mostra os resultados obtidos através de ensaio de

tração, para as amostras de aço DP800 revestidas.

65

Tabela 6.2 Ensaio de tração DP800 revestido

Os resultados de resistência à tração evidenciaram que, os corpos de prova

com revestimento apresentaram valores significativamente mais elevados, sendo

que na média dos valores obtidos foi constatada uma diferença de 62,3 MPa,

mostrando que o revestimento nesse caso, baseando-se nos resultados obtidos,

influência diretamente nessa propriedade mecânica do material.

Através dos resultados é possível concluir, comparando os resultados com o

trabalho de pesquisa de Sturmer (2013), que os parâmetros encontrados no ensaio

estão de acordo com o esperado para o aço em estudo.

6.2 Análise Metalográfica qualitativa e quantitativa

A Figura 6.2 mostra as imagens obtidas por microscopia óptica das amostras

de aço DP800. Estas amostras foram atacadas quimicamente com nital 2% e, desta

forma, as regiões claras são referentes à fase ferrita e as regiões escuras referentes

à perlita e martensita. Deve-se destacar que na microestrutura das amostras

temperadas intercriticamente, além das fases ferrita e martensita, provavelmente há

uma fração volumétrica significativa de bainita, entretanto esta não ficou evidenciada

nestas amostras.

66

Ferrita

Martensita

As micrografias da Figura 6.3 também evidenciam as duas fases presentes no

aço DP800. A porção dura do material representada pela fase martensítica na forma

de ilhas (região clara), envolta pela matriz ferrítica macia (região escura), ficando de

acordo com o trabalho de DeArdo (2008). Outra característica apresentada é a fase

matriz de forma contínua, com pequenos glóbulos de martensita distribuídos de

maneira uniforme, dando a esse material excelente ductilidade, aliado a certo nível

de resistência.

Uthaisangsuk et al. (2011) afirmaram que, quanto maiores as ilhas de

martensita dispersas na matriz ferrítica, menor será o alongamento do aço DP800

até a ruptura. Se a martensita estiver na forma de fibras finas ou pequenos glóbulos

ao longo dos contornos da ferrita, a tendência é do material apresentar um maior

alongamento até a fratura.

Através da análise de imagem, foi possível determinar a quantidade de cada

fase presente no material. A ferrita presente em maior proporção representou 64,3%,

enquanto a martensita apareceu na proporção de 35,7%. Quantidades semelhantes

como os trabalhos de KREMPASZKY (2009), com 34% de martensita.

Figura 6.2 Micrografias do aço DP800. (a) Não revestida (b) Revestida. Ataque químico

com Nital 2% e aumento de 200X

67

6.3 Ensaio corrosão por imersão

O ensaio foi realizado conforme o procedimento descrito no item 5.3.7, sendo

que, foram imersos completamente, três corpos-de-prova revestidos e três corpos de

prova não revestidos, nas seguintes soluções: Nacl 3% (água do mar) e Sulfato de

Zinco que ficaram expostas dentro do laboratório; e ainda três amostras que foram

deixadas ao relento, apenas embaixo de uma área coberta. Os resultados foram

fotografados e as amostras limpas com algodão para serem analisadas no

Microscópio Eletrônico de Varredura do Ldtm. A figura 6.4 apresenta as amostras

imersas em água do mar, após o tempo de exposição do ensaio, por meio dessa

figura pode-se observar o resultado visual das amostras após o ensaio, pode-se

constatar nitidamente que o processo de oxidação se apresenta em estágio mais

avançado nas amostras sem revestimento.

Figura 6.3 Micrografia da amostra submetida ao ataque com Nital 2%, aumento de 500 x, mostrando:

(a) Microestrutura da ferrita nas áreas claras e (b) resultado da identificação das áreas ocupadas

pela martensita através do software Imagej.

68

6.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

Com o objetivo de verificar o comportamento do aço DP800 quando exposto

ao ensaio de corrosão acelerado por imersão, foram realizados alguns testes em

microscópio eletrônico de varredura. Nestes testes podemos observar que, de

acordo com o esperado, o revestimento galvânico garante uma proteção efetiva

contra a corrosão. Como podemos ver nas Figuras 6.5 e 6.6, respectivamente, as

amostras de aço revestido, que foram imersas em solução de sulfato de zinco 0,5

mol/l e deixadas ao relento, não apresentaram sinais evidentes de corrosão

localizada e formações de pite. Entretanto, as amostras das Figuras 6.7 e 6.8, de

aço não revestido, que foram expostas as mesmas condições, mostram claramente,

maiores indícios de corrosão localizada, e grande tendência de formação de pites,

principalmente nas áreas de manchas mais escuras.

A Figura 6.5 apresenta micrografia da amostra de aço revestido, aumento de

100x, pode-se observar o ataque do meio corrosivo na superfície da amostra, nas

áreas brancas, porém não é evidenciada na imagem a formação de pontos

localizados de corrosão.

Figura 6.4 Amostras imersas na solução de NaCl, revestidas à direita e não

revestidas à esquerda. Fonte: O autor

69

Figura 6.5 Micrografia da amostra de aço revestido, aumento de 100 x.

A Figura 6.6 apresenta micrografia da amostra de aço revestido, aumento de

200x, é possível observar mais uma vez incorporação do meio corrosivo na amostra,

porém não se observa também nesse caso formação de pontos de corrosão

aparentes na superfície.

Figura 6.6 Micrografia da amostra de aço revestido, aumento de 200x

A Figura 6.7 apresenta a micrografia da amostra de aço não revestido,

mostrando claramente a incorporação do meio corrosivo na superfície da amostra, e

indícios de formação de pites nas áreas mais escuras.

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Figura 6.7 Micrografia da amostra aço não revestido, aumento de 500x

Na Figura 6.8 pode-se observar a formação de pite localizado, imagem

retirada de uma amostra de aço não revestido, após a imersão em solução de

sulfato de zinco e deixada ao relento.

Figura 6.8 Corrosão por pite localizado, observada na amostra sem revestimento

A Figura 6.9 mostra o resultado do EDS realizado na amostra de aço com

revestimento, imersão em sulfato de zinco, deixada ao relento. Este recurso serve

como indicação de elementos possíveis de se encontrar no ponto analisado, porém

o resultado é apenas uma estimativa. Podemos constatar que o ponto analisado

apresenta a composição química característica do aço DP 800.

71

Figura 6.9 Espectro de EDS para região da amostra com revestimento, imersão em sulfato de zinco,

deixada ao relento. Fonte: O autor

A Figura 6.10 mostra o resultado de EDS para uma região de amostra do aço

sem revestimento, imersão em sulfato de zinco, deixada ao relento, podemos

verificar uma inclusão elevada de zinco, que foi originada muito possivelmente pela

ação do meio corrosivo na superfície da peça.

Figura 6.10 Espectro de EDS para região de amostra sem revestimento, imersão em sulfato de zinco.

Fonte: O autor.

É visível que as amostras sem revestimento sofreram corrosão, mostrando,

mais uma vez a importância do revestimento para as chapas de aço, e comprovando

que, no estudo em questão, o revestimento aplicado as chapas oferece proteção

efetiva contra agentes de corrosão.

A prevenção contra a corrosão é um fator importante de desempenho a ser

considerado. Em alguns casos, a resistência à corrosão pode ser o fator dominante

na seleção do material ou do processo. Isto significa que a prevenção ou

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retardamento da corrosão em chapas pode ser um importante ponto de partida para

garantir o correto funcionamento do componente, o tempo de vida, a produção e a

manutenção de sua aparência.

6.5 Ensaio estampagem Método Erichsen

Para se obter os resultados do ensaio Erichsen foram preparados 12 corpos

de prova, sendo 6 com revestimento e 6 sem revestimento. Os resultados do ensaio

estão apresentados na tabela 6.3 e na tabela 6.4, pode-se observar que os

resultados dos testes nas amostras com e sem revestimento apresentaram valores

de índice Erichsen (IE) muito semelhantes, sendo que a variação da altura da calota

esférica provocada pelo deslocamento do punção teve uma variação inferior a um

mm na comparação entre as amostras com e sem revestimento.

A figura 6.11 demonstra o resultado da deformação provocada pelo punção

na chapa, pode-se observar claramente o detalhe do rompimento da calota esférica

no centro da imagem.

Figura 6.11 Detalhe da calota esférica formada após o ensaio, em uma amostra de aço não

revestido. Fonte: O autor

73

A Tabela 6.3 mostra o resultado do ensaio Erichen para os corpos de prova

não revestidos.

Na Tabela 6.4 é apresentado o resultado do ensaio Erichsen para os corpos de

prova revestidos.

Tabela 6.4 Relatório de ensaio Erichsen para corpos de prova revestidos.

Fonte: O autor

Tabela 6.3 Relatório de ensaio Erichsen para corpos de prova não revestidos.

74

Pode-se verificar analisando também os resultados das curvas de força x

deformação mostradas nas Figuras 6.12 para os aços não revestidos e na Figura

6.13 para os aços com revestimento, que as cargas máximas atingidas no final de

cada teste foram praticamente constantes, tanto para as amostras com e sem

revestimento, com exceção do CP1 não revestido, que apresentou um resultado fora

da tendência do ensaio. Apesar desse desvio, os resultados de força em média,

ficaram praticamente iguais, sendo de 30.88 Kn para os CP revestidos e 30.93 kN

para os CP não revestidos.

A figura 6.12 mostra os resultados da curva força x deformação para os

corpos de prova não revestidos.

A figura 6.12 acima mostra as curvas de força x deformação para os aços

DP800 sem revestimento, podemos observar que as amostras obtiveram

comportamento mecânico semelhante, tanto para os resultados de força quanto para

os resultados de deformação, que efetivamente mostra quanto a amostra estirou sob

o efeito da pressão do punção, sendo que a média da altura h de deslocamento da

chapa foi de 8 mm aproximadamente, nos dois casos. A figura 6.13, abaixo, mostra

as curvas de força x deformação para as amostras de DP800 com revestimento.

Figura 6.12 Gráfico curva força x deformação para os corpos de prova do aço

DP800 não revestido

75

Figura 6.13 Gráfico curva força x deformação para os corpos de prova do aço DP800

com revestimento

76

7 CONCLUSÕES

Com os resultados obtidos, podemos avaliar que o aço DP 800 demonstrou

as características esperadas para um material desenvolvido especialmente para os

processos de estampagem (embutimento e estiramento), ou seja, em termos de

caracterização do material, através da análise microestrutural, foi possível observar

que o material demonstrou características compatíveis com as fornecidas pelo

fabricante e por autores que utilizaram o mesmo aço em seus trabalhos, da mesma

forma, foi possível a visualização da matriz ferrítica com as ilhas de martensita. A

presença dessas fases na microestrutura do aço foi demonstrada pela microscopia

óptica, através de análise metalográfica quantitativa.

De acordo com os resultados obtidos através do ensaio de tração, verificou-se

que as amostras com revestimento, sem oxidação, mostraram uma menor razão

elástica, parâmetro normalmente relacionado a uma boa estampabilidade, também

em relação à resistência a tração, as amostras com revestimento, revelaram valores

significativamente maiores que as amostras sem revestimento, indicando que o

revestimento, neste caso, determinou uma melhora de desempenho em relação à

estampabilidade. No geral, pode-se caracterizar o aço DP800, independentemente

do revestimento, como um aço indicado para as operações que exigem um bom

nível de estampabilidade.

Nos testes de corrosão por imersão, ficou evidenciado que as amostras com

revestimento, sem oxidação, resistiram com êxito aos ataques químicos realizados,

indicando que o revestimento utilizado pode ser considerado efetivo na proteção das

chapas contra a corrosão, sendo que as chapas, dentro da cadeia produtiva, não

enfrentam condições extremas de exposição à corrosão.

Finalmente, os testes de estampagem Erichsen indicaram que, independente

do revestimento e do grau de corrosão superficial das chapas, os índices de

estampagem Erichsen (IE), que indicam, no teste em questão, o grau de

estampabilidade das chapas, e que foram determinados para as chapas com

revestimento, sem oxidação, e sem revestimento, com oxidação, não apresentaram

diferenças significativas, indicando que as chapas sem revestimento e com oxidação

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superficial, podem ser utilizadas, sem nenhum decréscimo de qualidade para os

processos de estampagem destinados ao produto chapa de aço laminado DP800.

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8 REFERÊNCIAS

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