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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIA DOS MATERIAIS ANTHONY GAROTINHO BARROS ASSED MATHEUS DE OLIVEIRA DESENVOLVIMENTO DE MEMBRANAS DE ÓXIDO DE GRAFENO REDUZIDO PARA APLICAÇÃO EM NANOFILTRAÇÃO Rio de Janeiro 2020

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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIA DOS MATERIAIS

ANTHONY GAROTINHO BARROS ASSED MATHEUS DE OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO DE MEMBRANAS DE ÓXIDO DE GRAFENO REDUZIDO PARA APLICAÇÃO EM

NANOFILTRAÇÃO

Rio de Janeiro 2020

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ANTHONY GAROTINHO BARROS ASSED MATHEUS DE OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO DE MEMBRANAS DE ÓXIDO DE GRAFENO REDUZIDO PARA APLICAÇÃO EM NANOFILTRAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Ciência dos Materiais do Instituto Militar de Engenharia como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciência dos Materiais. Orientador: TC Wagner Anacleto Pinheiro - D.C. Coorientador: Prof. Roberto Bentes de Carvalho – D.C.

Rio de Janeiro 2020

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©2020

INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha

Rio de Janeiro – RJ CEP: 22290-270

Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento.

É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.

Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e do(s) orientador(es).

Oliveira, Anthony Garotinho Barros Assed Matheus de

Desenvolvimento de membranas de óxido de grafeno reduzido para aplicação em nanofiltração / Anthony Garotinho Barros Assed Matheus de Oliveira. Rio de Janeiro, 2020.

131 f.:

Orientadores: Wagner Anacleto Pinheiro; Roberto Bentes de Carvalho.

Dissertação (Mestrado) – Instituto Militar de Engenharia, Ciência dos Materiais, 2019.

1. Ciência dos Materiais. 2. Grafeno. 3. Membranas. 4.

Nanofiltração. I. Pinheiro, Wagner Anacleto, orient. II.

Carvalho, Roberto Bentes de.

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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA

ANTHONY GAROTINHO BARROS ASSED MATHEUS DE OLIVEIRA

DESENVOLVIMENTO DE MEMBRANAS DE ÓXIDO DE GRAFENO REDUZIDO PARA APLICAÇÃO EM NANOFILTRAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Ciência dos Materiais do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciência dos Materiais. Orientador: TC Wagner Anacleto Pinheiro - D.C. Coorientador: Prof. Roberto Bentes de Carvalho – D.C. Aprovada em 23 de dezembro de 2020 pela seguinte Banca Examinadora:

______________________________________________________________ TC Wagner Anacleto Pinheiro – D.C. do IME

______________________________________________________________ Prof. Roberto Bentes de Carvalho – D.C. da PUC-Rio

______________________________________________________________ Prof. Leila Rosa de Oliveira Cruz – D.C. do IME

______________________________________________________________ Prof. Helen Conceição Ferraz – D.C. da PEQ/COPPE/UFRJ

______________________________________________________________ Pesq. Andreza Menezes Lima ̶ D.C. do IME

Rio de Janeiro 2020

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... 7

LISTA DE TABELAS ................................................................................................ 12

LISTA DE SIGLAS .................................................................................................... 13

LISTA DE SÍMBOLOS .............................................................................................. 15

LISTA DE UNIDADES .............................................................................................. 16

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11

1.1 POSICIONAMENTO/ MOTIVAÇÃO ................................................................. 11

1.1.1 GRAFENO E DERIVADOS .............................................................................. 11

1.1.2 DESAFIOS GLOBAIS DO SÉCULO 21............................................................ 11

1.1.3 MEMBRANAS A BASE DE GRAFENO ............................................................ 13

1.2 OBJETIVOS ..................................................................................................... 13

1.2.1 OBJETIVO PRINCIPAL .................................................................................... 13

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................ 13

1.3 METODOLOGIA ............................................................................................... 14

1.4 RESULTADOS ................................................................................................. 14

1.5 INEDITISMO DO PRESENTE TRABALHO ...................................................... 15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 16

2.1 MEMBRANAS .................................................................................................. 16

2.2 GRAFENO ........................................................................................................ 26

2.2.1 SÍNTESE DO GRAFENO ................................................................................. 32

2.2.2 SÍNTESE DE ÓXIDO DE GRAFENO ............................................................... 35

2.2.3 SÍNTESE DE ÓXIDO DE GRAFENO REDUZIDO ........................................... 40

2.3 MEMBRANAS A BASE DE GRAFENO ............................................................ 45

2.3.1 MEMBRANAS POROSAS ................................................................................ 47

2.3.2 MEMBRANAS LAMELARES ............................................................................ 50

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2.3.3 MEMBRANAS COMPÓSITAS ......................................................................... 61

2.4 CONSIDERAÇÕES .......................................................................................... 64

3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................... 65

3.1 MATERIAIS ...................................................................................................... 65

3.1.1 PRODUÇÃO DAS DISPERSÕES DE GO E narGO ........................................ 65

3.1.2 MEMBRANAS A BASE DE GRAFENO ............................................................ 65

3.1.3 TESTE DE PERMEAÇÃO ................................................................................ 66

3.2 PRODUÇÃO DE GO ........................................................................................ 66

3.3 PRODUÇÃO DE narGO ................................................................................... 67

3.4 PRODUÇÃO DE arGO .................................................................................... 69

3.5 PRODUÇÃO DAS MEMBRANAS ................................................................... 70

3.6 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE GO/narGO A PARTIR DAS

DISPERSÕES AQUOSAS. ....................................................................................... 75

3.7 CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS ........................................................ 76

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 81

4.1 PRODUÇÃO DAS MEMBRANAS .................................................................... 81

4.1.1 ESTUDO PRÉVIO DA DEGRADAÇÃO TÉRMICA DAS MEMBRANAS .......... 81

4.2 CARACTERIZAÇÃO DAS DISPERSÕES ........................................................ 84

4.2.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X ................................................................................. 84

4.2.2 ESPECTROSCOPIA RAMAN .......................................................................... 85

4.2.3 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA ........................................... 86

4.3 CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS ........................................................ 87

4.3.1 TESTE DE COMPACTAÇÃO ........................................................................... 87

4.3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS X ................................................................................. 89

4.3.3 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA ........................................... 91

4.3.4 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA (TGA) ...................................................... 99

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4.3.5 ESPECTROSCOPIA DO INFRAVERMELHO POR TRANSFORMADA DE

FOURIER (FTIR) ..................................................................................................... 102

4.3.6 REJEIÇÃO DE AMIDO DE MILHO ................................................................ 105

4.3.7 REJEIÇÃO PARA ANILINA ............................................................................ 105

4.3.8 REJEIÇÃO AO CLORETO DE SÓDIO E AO SULFATO DE SÓDIO ............. 106

4 CONCLUSÕES .............................................................................................. 110

5 PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS .................................................... 111

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 112

ANEXO I – Características de Produção das Membranas de GO e narGO ...... 119

ANEXO II – Certificado de Análise do Substrato ................................................ 121

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Objetivos de desenvolvimento sustentável propostos pela ONU. ........... 12

Figura 2.1 Ilustração esquemática das classes de membranas. .............................. 17

Figura 2.2 Modelos de transporte em uma membrana (a) exclusão de tamanho e

(b) difusão. (BAKER, 2012) ....................................................................................... 19

Figura 2.3 Espectro de filtração e solutos retidos nos principais processos com

membranas que possuem a diferença de pressão como força motriz.

(Adaptada de LEE et al., 2016) ................................................................................. 20

Figura 2.4 Modelos de separação por (a) tela de filtro e (b) filtro de profundidade..

(BAKER, 2012) .......................................................................................................... 21

Figura 2.5 Processos osmóticos das membranas. ................................................... 22

Figura 2.6 Ilustração esquemática de um sistema OI contínuo. ............................... 23

Figura 2.7 Ilustração da seção transversal de uma membrana composta de OI, tendo

PA na sua camada seletiva. (Adaptada de WANG, Y-N. e WANG, R., 2019) .......... 24

Figura 2.8 Efeito das condições de operação no desempenho de uma membrana de

OI típica. (Adaptada de WANG, Y-N. e WANG, R., 2019) ........................................ 25

Figura 2.9 Grafeno como mãe das formas grafíticas. ............................................... 27

Figura 2.10 Modelo de Lerf-Klinowski de uma camada de óxido de grafite. ............ 28

Figura 2.11 Diagrama de nomenclatura segundo número de camadas, oxidação e

tamanho lateral. (Adaptada de WICK et al., 2014) .................................................... 29

Figura 2.12 Ilustração dos empilhamentos Bernal e romboédrico. ........................... 30

Figura 2.13 Configuração das nanofitas de grafeno. ................................................ 31

Figura 2.14 Grafeno dopado com nitrogênio. (Adaptada de YADAV et al., 2017) .... 32

Figura 2.15 Ilustração das técnicas top-down e bottom-up. ..................................... 33

Figura 2.16 Métodos de produção em massa de grafeno e suas aplicações em função

da qualidade versus preço (custo). (Adaptada de NOVOSELOV et al., 2012) .......... 34

Figura 2.17 Área ultra-larga de grafeno transparente e uma tela sensível ao toque

baseada em grafeno. (BAE et al., 2015) ................................................................... 35

Figura 2.18 Mecanismo de formação do GO. ........................................................... 36

Figura 2.19 Formação de a) MnO3+; b) heptóxido de dimanganês; c) íon sulfato; d)

hidrogenossulfato após a reação de KMnO4 com H2SO4; e) óxido de grafite e íon Mn

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(VII); f) MnO4 reversível; g) reação dos íons permanganato de manganês (VII) com

óxido de grafite. (Adaptada de BRISEBOIS e SIAJ, 2020) ....................................... 37

Figura 2.20 Comparação entre o método de Hummers, seu método modificado e

melhorado. (Adaptada de MARCANO et al., 2010) ................................................... 38

Figura 2.21 Comparação entre a síntese de Hummers melhorada e sua abordagem

otimizada. (Adaptada de LOPEZ et al., 2016) ........................................................... 39

Figura 2.22 a) Folhas grandes de GO; b) folhas médias de GO; c) folhas pequenas

de GO; d) diferença de coloração nas dispersões de GO com folhas de diferentes

tamanhos. (Adaptada de GOGOI et al., 2018) .......................................................... 40

Figura 2.23 Redução de GO por fotocatálise. .......................................................... 42

Figura 2.24 Representação esquemática dos principais métodos de oxidação do

grafite em óxido de grafeno e a redução química do óxido de grafeno por alguns

redutores. (Adaptada de DE SILVA et al., 2017). ...................................................... 43

Figura 2.25 Molécula esquematizada de vitamina C. ............................................... 44

Figura 2.26 Esquema de uma estruturaestrutura de rGO funcionalizada com PSS. 44

Figura 2.27 Ilustração da estrutura do GO após diferentes tempos de redução

hidrotérmica a 200°C e suas potenciais aplicações

(Adaptada de H, Huang et al., 2018). ........................................................................ 45

Figura 2.28 Representação esquemática da morfologia das membranas a base de

grafeno. (LIU et al., 2015) ........................................................................................ 46

Figura 2.29 Ilustração do poro geométrico do grafeno ............................................. 47

Figura 2.30 Poro de grafeno hidrogenado e hidroxilado. .......................................... 48

Figura 2.31 Comparação entre membranas nanoporosas de grafeno e diversas outras

tecnologias de membranas. (Adaptado de COHEN-TAUGHI e GROSSMAN, 2012) 48

Figura 2.32 Ilustração da criação de poros em uma monocamada de grafeno. ....... 49

Figura 2.33 Design e construção do reator CVD de rolagem acoplado a geração de

defeitos por plasma. (Adaptado de KIDAMBI et al., 2018) ....................................... 50

Figura 2.34 Repulsão eletrostática por grupamentos funcionais em membranas.

lamelares (Adaptada de HONG et al., 2016) ............................................................. 51

Figura 2.35 Representação da fabricação de membranas lamelares. ..................... 52

Figura 2.36 Relação de espessura x volume utilizado em membranas de rGO. ...... 52

Figura 2.37 Influência do tamanho das folhas de GO em a) permeabilidade e

b) rejeição. (Adaptada de GOGOI et al., 2018) ......................................................... 53

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Figura 2.38 a) Ilustração de ligações cruzadas em folhas de GO; e b) síntese de uma

membrana com ligações cruzadas. (Adaptada de PARK et al., 2008) ...................... 54

Figura 2.39 Efeito da liberação de substâncias do AAO em função do pH. ............. 55

Figura 2.40 Comparação da estabilidade de membranas de GO produzidas pelo

método filtração assistida a vácuo em substrato de teflon e de AAO. ....................... 55

Figura 2.41 Teste de estabilidade das membranas após imersão em solução com

cátions monovalentes. (Adaptada de YEH et al., 2015) ............................................ 56

Figura 2.42 Distância interplanar de uma membrana de GO versus tempo de imersão

da membrana em água. (Adaptada de ZHENG et al., 2017) .................................... 57

Figura 2.43 Efeito da imersão da membrana de GO em diversas soluções com

concentrações variadas na distância interplanar. (Adaptada de ZHENG et al. 2017)

.................................................................................................................................. 57

Figura 2.44 Efeitos da mudança estrutural na formação da membrana: a) mudanças

no difratograma para diferentes tempos de redução; b) imagem de microscopia

eletrônica de transmissão (MET) mostrando a coexistência de GO e rGO; c) ilustração

da coexistência de GO e rGO. (Adaptada de H. HUANG et al., 2018) ..................... 59

Figura 2.45 Comparação da redução parcial em diversos tempos: (a) condutividade

(b) permeabilidade. (Adaptada de H.HUANG et al., 2018) ........................................ 59

Figura 2.46 Ilustração da redução do GO quando, na presença de TO, recebe

incidência de radiação UV. (Adaptada de SUN et al., 2015) ..................................... 60

Figura 2.47 Comparação da rejeição de sal (cátions e ânions) por membranas de:

GO; rGO/TO; rGO/TO/CTS. (Adaptada de DENG et al., 2016)................................. 61

Figura 2.48 Ilustração da polimerização interfacial de um GOQD-N junto a poliamida.

(Adaptada de FATHIZADEH et al., 2017) ................................................................. 62

Figura 2.49 Variação da permeabilidade e rejeição de sal de acordo com a quantidade

de GOQD-N inserida na poliamida. ........................................................................... 62

Figura 2.50 Representação esquemática do hidrogel aprisionando o GO. .............. 63

Figura 2.51 Efeito da exposição das membranas de GO aprisionadas em hidrogel ao

cloro: a) fluxo de água; b) rejeição de sal e c) efeito do número de lavagens no fluxo

de água e rejeição de sal. (KIM et al., 2018) ............................................................. 63

Figura 3.1 Sequência das etapas da síntese do GO. ............................................... 67

Figura 3.2 Sequência das etapas da síntese do narGO. .......................................... 69

Figura 3.3 Passos da síntese do arGO. ................................................................... 70

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Figura 3.4 Fotografia da membrana de CA utilizada como substrato poroso para

deposição da camada seletiva de grafeno. ............................................................... 70

Figura 3.5 Ilustração da montagem do sistema de produção das membranas

(Adaptada de BERETTA et al., 2016). ...................................................................... 71

Figura 3.6 Diferença de morfologia das membranas a) método inicial; b) método final;

c) non-woven; e d) imagem de topo da peça de teflon usinada. ............................... 72

Figura 3.7 Sistema final de produção de membranas. ............................................. 73

Figura 3.8 Curvas térmicas durante o aquecimento da produção das dispersões de

arGO nas diferentes condições investigadas. ........................................................... 75

Figura 3.9: a) célula de permeação e b) cilindro de nitrogênio. ................................ 77

Figura 3.10 Fotos das soluções de azul de anilina preparada em diferentes

concentrações visando obter uma curva de calibração. ............................................ 78

Figura 3.11 Espectro UV-visível das soluções de azul de anilina. ............................ 79

Figura 3.12 Curva de calibração da azul de anilina. ................................................. 80

Figura 4.1 membranas de: a) GO seca; b) GO molhada; c) rGO não agregante seca;

d) rGO não agregante molhada; e) rGO agregante seca; f) rGO agregante molhada.

.................................................................................................................................. 81

Figura 4.2 Membranas de GO, narGO e substrato a) sem tratamento térmico; b) com

tratamento a 80°C; c) com tratamento a 100°C; d) com tratamento a 150°C e) posição

relativa das amostras na FIG. 4.2 (a)-(d) e as respectivas condições de preparo

(volume e concentração da dispersão) para cada amostra. ...................................... 82

Figura 4.3 Dano químico no substrato de CA após tratamento térmico das membranas

de arGO..................................................................................................................... 83

Figura 4.4 Foto que demonstra aderência comprometida entre a camada arGO e o

substrato de CA utilizado. Membrana produzida pela condição 4. ............................ 84

Figura 4.5 Difratogramas comparativas das amostras de GO e narGO. .................. 85

Figura 4.6 Espectros Raman comparativos das amostras de GO e narGO. ............ 86

Figura 4.7 Deconvolução das bandas de absorção D e G para cálculo e relação de

suas áreas. ................................................................................................................ 86

Figura 4.8 Imagem de microscopia eletrônica: (a) GO e (b) narGO. ........................ 87

Figura 4.9 Curva de fluxo versus tempo para o substrato de CA, demonstrando o

efeito da compactação. ............................................................................................. 88

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Figura 4.10 Curva de fluxo versus tempo para os substratos de CA aquecidos e à

temperatura ambiente. .............................................................................................. 89

Figura 4.11 Difratogramas das membranas de arGO nas diferentes condições de

produção, conforme Tab. 3.1, e substrato de CA. ..................................................... 90

Figura 4.12 Difratogramas do AA e da membrana de arGO produzida na condição 6

(Tab. 3.1). .................................................................................................................. 91

Figura 4.13 Fotomicrografias do substrato de CA em diferentes regiões: a) lado

inferior; b) medida de poros no lado inferior; c) lado superior; d) medida de poros no

lado superior; e) medida da seção transversal; f) seção transversal. ........................ 92

Figura 4.14 Seção transversal das membranas de arGO com aumento de 30.000×

a) condição 1; b) condição 2; c) condição 3; d) condição 4; e) condição 5; f) condição 6;

g) condição 7; h) condição 8, conforme Tab. 3.1. ..................................................... 93

Figura 4.15 Diagrama de caixa das espessuras das membranas de arGO por

condição de fabricação. ............................................................................................ 94

Figura 4.16 Superfície das membranas com aumento de 20.000X a) condição 1;

b) condição 2; c) condição 3; d) condição 4; e) condição 5; f) condição 6;

g) condição 7; h) condição 8, conforme Tab. 3.1. ..................................................... 98

Figura 4.17 Termograma e termograma diferencial do substrato de CA. ................. 99

Figura 4.18 Análise térmica das membranas de arGO produzidas em diferentes

condições de síntese: a) Termograma e b) Termograma Diferencial. ..................... 100

Figura 4.19 Perda de massa versus temperatura do pico. ..................................... 102

Figura 4.20 FTIR das membranas de arGO e substrato de CA.............................. 103

Figura 4.21 Comparação da perda de massa observada na análise térmica das

condições com espectro de FTIR discrepantes (destacadas com círculo). ............. 104

Figura 4.22 Fotografias dos permeados obtidos por meio dos testes de rejeição para

azul de anilina das membranas: (a) substrato; (b) arGO; (c) narGO. ...................... 105

Figura 4.23: Fotografias antes e depois da permeação de azul de anilina no: (a)

substrato; (b) membrana de arGO; (c) membrana de narGO.................................. 106

Figura 4.24 Fotografias das membranas de arGO por condição (1 a 8). ............... 107

Figura 4.25 Região de rompimento em uma membrana de arGO. ......................... 108

Figura 4.26 Fotografias das membranas de arGO por condição após permeação.

................................................................................................................................ 109

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Estratégias de redução (Adaptada de PEI e CHENG, 2012). ................. 40

Tabela 2.2 Distância interplanar ideal em membranas lamelares para aplicações

diversas. (Adaptada de HOMAEIGOHAR et al., 2017) ............................................. 51

Tabela 2.3 Comparação de diversas membranas a base de grafeno ....................... 64

Tabela 3.1 Condições de produção das membranas de arGO. ................................ 74

Tabela 4.1 Dados estatísticos da espessura (nm) por condição de fabricação. ....... 95

Tabela 4.2 Valores e estatística da constante de proporcionalidade K (nm.mm²/mg)

.................................................................................................................................. 96

Tabela 4.3 Principais dados do TGA das membranas. ........................................... 101

Tabela 4.4 Rejeição para azul de anilina. ............................................................... 105

Tabela 4.5 Resultados de permeação das membranas. ......................................... 109

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LISTA DE SIGLAS

AA Ácido ascórbico

AAO Disco de Aluminio Anodizado (Anodisc aluminum oxide)

arGO Óxido de grafeno reduzido agregante (Aggregating reduced

graphene oxide)

CA Acetato de celulose (Celulose acetate)

CVD Deposição química por vapor (Chemical vapor deposition)

DI Deionizado

DRX Difração de Raios X

EQ Equação

FEG Canhão de emissão de campo (Field emission gun)

FLG Grafeno de poucas camadas (Few-layers graphene)

GIC Composto de intercalação de grafite (Graphite intercalation

compound)

GO Óxido de grafeno (Graphene oxide)

MEV Microscopia eletrônica de varredura

MF Microfiltração

MIT Instituto de Tecnologia de Massachusetts (Massachusetts

Institute of Technology)

MLG Grafeno em multicamadas (Multilayers Graphene)

narGO Óxido de grafeno reduzido não agregante (Non-aggregating

reduced graphene oxide)

NF Nanofiltração

N-GOQD Pontos quânticos de óxido de grafeno dopados com nitrogênio

(nitrogen-doped graphene oxide quantum dots)

NUMPEX-BIO Núcleo Multidisciplinar de Pesquisa UFRJ – Xerém em

Biologia

OAP Osmose assistida por pressão

OD Osmose direta

ODS Objetivos de desenvolvimento sustentável

OI Osmose inversa

ORP Osmose retardada por pressão

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PA Poliamida

pH Potencial hidrogeniônico

PSS Poliestireno sulfonado

rGO Óxido de grafeno reduzido (Reduced graphene oxide)

TFC Compósitos de filmes finos (Thin film composites)

TFN Nanocompósitos de filmes finos (Thin film nanocomposite)

UF Ultrafiltração

UV Ultravioleta

XPS Espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios X (X-ray

photoelectron spectroscopy)

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LISTA DE SÍMBOLOS

µ Micro

0D Zero dimensional

1D Unidimensional

2D Bidimensional

2H Empilhamento Bernal

3D Tridimensi+onal

3R Empilhamento romboédrico

B Energia de ligação

C Concentração molar do soluto

Cf Concentração de soluto

Cp Concentração de permeado

d Distância interplanar

E Energia cinética

h Constante de Planck

ID Intensidade da banda D

IG Intensidade da banda G

n Ordem de difração

Qf Fluxo de alimentação

Qp Fluxo de permeado

R Constante universal dos gases

r Porcentagem de água recuperada

SR Rejeição de soluto (solute rejection)

T Temperatura

Δ Variação

θ Ângulo de incidência

λ Comprimento de onda

π Pressão osmótica

φ Fator de correção

𝑣 Frequência

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LISTA DE UNIDADES

°C Grau Celsius

Å

h

L

min

nm

ppm

µm

Angstron

Hora

Litro

Minuto

Nanômetro

Partes por milhão

Micrômetro

Å2 Angstron quadrado

eV Elétron-volt

g Grama

m2 Metro quadrado

meV Mili-elétron-volt

mg Miligrama

ml Mililitro

nm2 Nanômetro quadrado

rpm Rotações por minuto

s Segundo

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RESUMO

Nesse trabalho foram sintetizadas e caracterizadas membranas de óxido de grafeno e óxido de grafeno reduzido por vitamina C. Em um grupo de membranas foi utilizado poliestireno sulfonado (PSS) no processo de redução do GO, sendo avaliado o efeito da estabilidade com o uso deste polímero. Foram avaliadas também variações no tempo, temperatura e tratamento térmico no processo de redução, bem como na concentração de rGO utilizado nas membranas. As membranas foram caracterizadas por técnicas como Análise Térmica, MEV, DRX e FTIR. Nestas análises pôde-se observar uma efetiva deposição de material com morfologia adequada para síntese de membranas, sendo levantadas hipóteses sobre a espessura da membrana em virtude da quantidade de material vertido e sobre a degradação do suporte de acetato de celulose. Por fim, as membranas foram avaliadas no que diz respeito às suas permeabilidades e as suas retenções de anilina e dos sais NaCl e Na2SO4. A partir dos resultados obtidos foi possível observar alta retenção da anilina, na rejeição aos sais, pôde-se observar condições de síntese em que nenhum soluto foi retido e condições em que nem a água nem o sal puderam permear, sugerindo assim que existe um caminho ótimo de síntese a ser encontrado. Problemas de estabilidade foram encontrados, assim, o uso dessas membranas em larga escala necessita de adaptações, algumas das quais são apresentadas no presente trabalho.

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ABSTRACT

In this work, graphene oxide and reduced graphene oxide membranes reduced by vitamin C were synthesized and characterized. In a group of membranes, sulfonated polystyrene (PSS) was used in the GO reduction process, being evaluated the effect of stability with the use of this polymer. Variations in time, temperature and heat treatment in the reduction process were also evaluated, as well as in the concentration of rGO used in the membranes. The membranes were characterized by techniques such as Thermal Analysis, SEM, DRX and FTIR. In these analyzes it was possible to observe an effective deposition of material with adequate morphology for membrane synthesis, with hypotheses about the thickness of the membrane due to the amount of material poured and about the degradation of the cellulose acetate support. Finally, the membranes were evaluated with respect to their permeability and their retention of aniline and the NaCl and Na2SO4 salts. From the results obtained it was possible to observe high aniline retention, in the rejection of salts, it was possible to observe synthetic conditions in which no solute was retained and conditions in which neither water nor salt could permeate, thus suggesting that there is a path optimal synthesis to be found. Stability problems were found, therefore, the use of these membranes on a large scale requires adaptations, some of which are presented in the present work.

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1 INTRODUÇÃO

1.1 POSICIONAMENTO/ MOTIVAÇÃO

Desde sua descoberta, em 2004, o grafeno deixou de ser visto como um material

puramente acadêmico e passou a ser considerado um material que pode permear as

mais diversas áreas da ciência e tecnologia (GEIM e NOVOSELOV, 2007).

1.1.1 GRAFENO E DERIVADOS

O grafeno puro consiste em uma folha de átomos de carbono arranjados de forma

hexagonal, tendo sido publicada pela primeira vez uma pesquisa envolvendo esse

material em 2004 por meio de clivagem mecânica com fita adesiva (scotch tape

method) (GEIM e NOVOSELOV, 2007; THE NOBEL PRIZE, 2010).

O grafeno é um material que apresenta propriedades relevantes e únicas, tais

como: alta mobilidade de elétrons (200000 cm²/V.s); efeito Hall quântico em

temperatura ambiente; elevada condutividade elétrica (2104 S/cm); alta transmitância

óptica (~97,7%); elevado módulo de Young (1 TPa); alta resistência à tração

(130 GPa); alta condutividade térmica (~5000 Wm-1K-1); flexibilidade; estabilidade

química e física e biocompatibilidade (DIMIEV et al., 2012; ZHU et al., 2010; PARK

et al., 2015).

1.1.2 DESAFIOS GLOBAIS DO SÉCULO 21

Em 2015 a Organização das Nações Unidas (ONU) estipulou a Agenda 2030, em

que foram estabelecidos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) a

serem atingidos idealmente até o ano de 2030. Esses são os principais desafios do

século 21 e estão resumidos e apresentados na Figura 1.1.

O grafeno e seus derivados possuem características únicas, e diversas pesquisas

têm sugerido que tais materiais podem ter um papel significativo para o cumprimento

das metas propostas pela ONU. De fato, já existem pesquisas promissoras que

mostram o potencial do grafeno e seus derivados em cinco dos dezessete ODS.

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A Agenda 2030 classifica o ODS 3 como: “assegurar uma vida saudável e

promover o bem-estar para todos, em todas as idades”. Nesse contexto, destaca-se

a aplicação do grafeno em biosensores, regeneração óssea e medicina regenerativa

(PEÑA-BAHAMONDE et al., 2018; KOVALSKA et al., 2018; HERMENEAN et al.,

2016; BRAMINI et al., 2018; KENRY et al., 2017; PALMIERI e PAPI, 2020).

Figura 1.1 Objetivos de desenvolvimento sustentável propostos pela ONU. (BRASIL, 2016)

O ODS 6 é definido como: “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da

água e saneamento para todos”. Nesse contexto, destaca-se a aplicação do grafeno

ou óxido de grafeno em membranas como meio de separação em tratamento de água

e esgoto, utilizando os processos de osmose inversa e nanofiltração

(HOMAEIGOHAR et al., 2017; BERRY et al., 2013).

O ODS 7 é definido como: “assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e

a preço acessível à energia para todos”. Assim, destaca-se a aplicação do grafeno em

células solares transparentes, flexíveis e de baixo custo (SONG et al., 2016).

O ODS 9 é definido como: “construir infraestruturas resilientes, promover a

industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação”. Nesse contexto,

destaca-se a adição do grafeno em concreto, tornando-os mais duráveis, resistentes,

leves e ecológicos (SHAMSAEI et al., 2018; MEDINA et al., 2019).

O ODS 13 é definido como: “tomar medidas urgentes para combater a mudança

do clima e seus impactos”. Nesse contexto, pode-se destacar o uso do grafeno na

captura de CO2, um dos gases responsáveis pelo efeito estufa (NAJAFABADI 2013).

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1.1.3 MEMBRANAS A BASE DE GRAFENO

As dessalinizações de água salobra ou de água salgada se mostram soluções

promissoras para a atual crise hídrica (ANAND et al., 2018; WILSON et al., 2018).

As membranas de osmose inversa são utilizadas para dessalinização de água do mar,

já as membranas de nanofiltração possuem a capacidade de remoção de sais

bivalentes em água salobra. Ambos os processos utilizam, em geral, membranas

poliméricas. Estudos focados na descoberta de novos materiais, que possam ser

utilizados na substituição ou melhoria das membranas comerciais atuais, estão em

andamento. Dentre tais materiais, o grafeno e seus derivados se mostram

especialmente promissores (LEE et al., 2016).

As membranas à base de grafeno podem ser divididas em três classes principais:

membranas nanoporosas, membranas lamelares; e membranas compósitas (LIU et

al., 2015). Maiores detalhes sobre o estado da arte das membranas a base de grafeno

são apresentados no tópico 2.3 do presente trabalho.

Para o presente trabalho optou-se por produzir membranas lamelares através do

método de filtração assistida a vácuo, uma vez que essa alternativa é a que demanda

menos equipamentos custosos e complexidade. Maiores detalhes sobre os métodos

de produção são fornecidos no capítulo 2 do presente trabalho.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO PRINCIPAL

O presente trabalho tem como objetivo principal desenvolver membranas de óxido

de grafeno reduzido para aplicação em nanofiltração.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

— Produzir dispersões de óxido de grafeno (graphene oxide – GO), óxido de

grafeno reduzido não agregante (narGO – non-aggregating reduced graphene oxide)

e óxido de grafeno reduzido agregante (arGO – aggregating reduced graphene oxide).

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— Produzir membranas de GO, narGO e arGO pelo método de filtração assistida

a vácuo.

— Caracterizar as dispersões e membranas por meio de microscopia analítica

(microscopia eletrônica de varredura ̶ MEV), difração de raios X (DRX),

espectroscopia Raman, espectroscopia no infravermelho e análise termogravimétrica

(TGA).

— Verificar a influência dos parâmetros de processo (volume de dispersão,

concentração, temperatura de tratamento térmico pós-filtração) nas características

macro e microestruturais das membranas produzidas.

— Avaliar a permeabilidade e rejeição das membranas a solutos típicos dos

processos de nanofiltração e osmose inversa, tais como: anilina, sulfato de sódio e

cloreto de sódio.

1.3 METODOLOGIA

Inicialmente, para a produção do rGO foi obtido GO por meio de uma modificação

do método de Hummers (ROURKE et al., 2011). Posteriormente, o GO foi reduzido

por vitamina C, com e sem a presença de PSS (poliestireno sulfonado). Também

foram avaliadas variáveis no processo de redução, tais como o tempo e a temperatura

usados no tratamento térmico.

A produção das membranas foi realizada pelo método de filtração assistida a

vácuo sobre o substrato de acetato de celulose. Por meio das diferenças de

concentração, volume e tipo de dispersão utilizada buscou-se avaliar qual seria mais

eficiente para a síntese de membranas.

As dispersões e membranas foram caracterizadas por diversas técnicas como

MEV, DRX, Raman e FTIR. Também foram determinadas as suas permeabilidades e

rejeições a anilina e sais, como Na2SO4 e NaCl.

1.4 RESULTADOS

Por meio de análises como MEV, DRX, Raman e FTIR pode-se observar a efetiva

deposição do material sobre os substratos de acetato de celulose. As membranas

sintetizadas com PSS obtiveram estabilidade em meio aquoso significativamente

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menor que as sintetizadas sem PSS; entretanto a estabilidade mecânica foi

significativamente maior.

Amostras de membranas de rGO com PSS resultaram em elevada rejeição à

anilina, enquanto amostras das membranas de rGO sem PSS falharam

mecanicamente nesse processo. No teste de rejeição ao Na2SO4 as membranas de

rGO com PSS não obtiveram rejeição, enquanto uma das amostras de membranas

de rGO sem PSS resultou em rejeição baixa. Na análise de rejeição ao NaCl nenhuma

amostra resultou em rejeição.

1.5 INEDITISMO DO PRESENTE TRABALHO

Este é o primeiro trabalho em membranas para nanofiltração no Programa de Pós-

graduação em Ciência dos Materiais do IME. No âmbito do ineditismo do presente

trabalho na Instituição, podem-se destacar:

• o projeto e construção de um sistema de deposição de membranas de óxido

de grafeno (reduzido) pelo método de filtração assistida a vácuo;

• o projeto e construção de célula de permeação conectada a um cilindro de

nitrogênio para controle de pressão;

• a deposição de uma camada de arGO como camada seletiva, sendo essa

etapa original conforme comparação com as publicações apresentadas no

presente texto.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 MEMBRANAS

A dessalinização pode ser realizada por diferentes tecnologias, como por

exemplo: a nanofiltração; a osmose inversa; a eletrodiálise; a exclusão iônica; a

destilação; a cristalização, dentre outras. O uso dos processos de separação por

membranas tende a ser preferível, uma vez que possui rejeições de sal superior a

99,9 % e é feita de maneira isotérmica, ou seja, dispende pouca energia em relação

a outras técnicas, como a destilação. O uso de membranas é também uma solução

mais ecológica, visto que sua utilização não libera gases poluentes (SU, 2018).

Os processos com membranas possuem três principais tipos de força motriz para

sua realização: (i) os que atuam por diferença de concentração; (ii) os que atuam por

diferença de potencial elétrico e (iii) os que atuam por diferença de pressão. Embora

existam estudos das membranas à base de grafeno de todos os tipos, o foco do

presente trabalho são os processos de nanofiltração e osmose inversa, que possuem

a diferença de pressão como força motriz.

Lee et al. (2016) realizaram uma extensa revisão da literatura sobre as

membranas utilizadas nos processos de nanofiltração e osmose inversa, constatando

predominância de uso de materiais poliméricos. Segundo os autores, as membranas

utilizadas podem ser divididas em duas classes principais, conforme as características

morfológicas da sua seção transversal: (i) membranas isotrópicas e (ii) membranas

anisotrópicas. As primeiras são caracterizadas por possuírem homogeneidade de

porosidade, enquanto as demais possuem variação no tamanho dos poros ao longo

da seção transversal, com aumento de diâmetro a partir da sua camada seletiva.

A Figura 2.1 ilustra as diferentes morfologias das classes de membranas.

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Figura 2.2 Ilustração esquemática das classes de membranas.(Adaptada de LEE et al., 2016)

Lee et al. (2016) também especificam subdivisões nessas classes principais, a

saber:

i. Membranas isotrópicas:

Microporosas: funcionam de forma semelhante a um filtro tradicional, realizando

separação por exclusão de tamanho; geralmente possuem poros de 0,1 a 5 µm,

com necessidade de pouca pressão comparativamente às membranas densas;

Densas: Membranas com poros muito pequenos são consideradas densas, tendo-

se como exemplo as membranas de osmose inversa. Segundo Lee et al. (2016),

membranas com porosidade inferior a 1 nm são consideradas densas; já segundo

Wang, Y-N. e Wang, R (2019), os poros poderiam ter diâmetro de até 2 nm e ainda

assim serem consideradas densas. Nesse tipo de membrana a separação de

solvente e soluto é modelada pelo processo de difusão, que se dá do meio menos

concentrado para o mais concentrado; uma força externa é aplicada para inverter

esse sentido. A separação se dá pela diferença de velocidade de difusão dos

elementos, que devido a pressão aplicada se dará no sentido do mais concentrado

para o menos concentrado;

Eletricamente carregadas: podem ser densas ou porosas; entretanto suas

paredes são decoradas por íons. A separação de misturas se dá devido à repulsão

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que a parede eletricamente carregada exerce sobre os íons na mistura que

possuem o mesmo sinal de carga.

ii. Membranas anisotrópicas:

Membranas de Loeb-Souriajan: foram produzidas a partir de um mesmo material,

sendo denominadas anisotrópicas integrais. Todavia, a porosidade varia ao longo

da espessura da membrana. Possui uma região com poros menores, denominada

de camada seletiva, que é responsável pela rejeição aos solutos de interesse.

Uma segunda região, com poros maiores, denominado de suporte poroso, oferece

resistência mecânica para a camada seletiva, mas possui baixa resistência ao

transporte de fluido através de si. Esses tipos de membranas foram desenvolvidos

nos anos 60 e representaram, em função do aumento da permeabilidade pelas

características morfológicas do suporte poroso, um dos marcos principais para

chegada dos processos com membranas na escala industrial;

Membranas anisotrópicas compostas: esses tipos de membranas consistem em

uma fina camada espessa depositada em um substrato poroso. Nesse caso, a

camada seletiva e o suporte poroso são feitos a partir de materiais diferentes. Da

mesma forma das membranas anisotrópicas integrais, a fina camada seletiva atua

como retentor de solutos e, devido à sua pequena espessura, resulta em um alto

fluxo, com a camada porosa atuando apenas como suporte mecânico.

Existem dois modelos para explicar o mecanismo de transporte e separação nos

processos de separação por membranas, o modelo de exclusão por tamanho e o

modelo de solução-difusão (BAKER, 2012). A Figura 2.2 exemplifica os dois modelos

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Figura 2.3 Modelos de transporte em uma membrana (a) exclusão de tamanho e (b) difusão. (BAKER, 2012)

O modelo de exclusão por tamanho funciona da mesma maneira que filtros

convencionais, em que geralmente é utilizado para separação de material particulado

do meio líquido. De acordo com sua porosidade, as membranas podem também ser

classificadas pelo diâmetro de seus poros, dos maiores para os menores:

microfiltração (MF); ultrafiltração (UF); nanofiltração (NF) e osmose inversa (OI)

(LEE et al., 2016; WANG, Y-N. e WANG, R., 2019). A Figura 2.3 ilustra as faixas em

que cada tipo de membrana se encontra, considerando o tamanho dos poros, bem

como exemplifica materiais passíveis de separação.

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Figura 2.4 Espectro de filtração e solutos retidos nos principais processos com membranas que possuem a diferença de pressão como força motriz. (Adaptada de LEE et al., 2016)

Apesar dessa classificação incluir as membranas de OI, estas normalmente não

são analisadas pelo modelo de exclusão de tamanho. Em geral, o modelo de

separação difusional é mais adequado para o processo de OI, com a interação entre

o material da membrana e o soluto influenciando diretamente a sua rejeição. As

membranas de NF se encontram em uma situação intermediaria entre os dois

modelos. Já as membranas UF e MF são geralmente enquadradas no modelo de

exclusão por tamanho, no qual solutos que possuem diâmetros maiores do que os

poros da membrana são retidos. Por outro lado, nesse modelo de exclusão, solutos

que possuem diâmetros menores do que os poros da membrana são passantes, com

rejeição baixa ou nula (WANG, Y-N. e WANG, R., 2019).

As membranas de UF geralmente têm a morfologia de Loeb-Souriajan, com o

menor poro estando presente em sua superfície, impedindo a passagem de partículas

a partir de certo tamanho, sendo conhecido como filtração superficial. As membranas

MF costumam ter a morfologia porosa, em que as partículas são filtradas devido a

contrições ao longo da seção transversal da membrana; por isso esse modelo de

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separação é chamado de filtro de profundidade (BAKER, 2012). A Figura 2.4 ilustra

os dois modelos.

Figura 2.5 Modelos de separação por (a) tela de filtro e (b) filtro de profundidade. (BAKER, 2012)

A retirada de sal da água é feita por membranas OI a partir de água do mar, mas

pode ser feita por NF partindo-se de águas com menores concentrações de sal, as

chamadas águas salobras. As membranas de OI são consideradas densas devido ao

pequeno tamanho dos poros, ao tratar a separação como uma diferença na velocidade

de difusão dos elementos e não apenas exclusão de tamanho.

O modelo de sorção-difusão considera a camada seletiva das membranas como

densas, nas quais as substâncias são separadas por diferenças na velocidade de

difusão. Segundo Wang, Y-N. e Wang, R. (2019), a osmose, denominada usualmente

de osmose direta (OD), é um fenômeno natural registrado desde 1748, em que um

fluido, geralmente água, atravessa por difusão uma membrana, passando de uma

região de baixa concentração de soluto para alta concentração. A força motriz que

gera tal movimento é a pressão osmótica da solução de alimentação ().

O uso de pressão pode ser utilizado para acelerar o processo osmótico, sendo

que o fenômeno é então chamado de osmose assistida por pressão (OAP); se a

função for retardar tal movimento, o fenômeno é chamado de osmose retardada por

pressão (ORP); ou ainda para inverter o sentido do movimento, fazendo com que o

fluido vá da região com mais soluto para a região com menos, nesse caso o fenômeno

é conhecido como osmose inversa (OI), sendo este último fenômeno o utilizado na

dessalinização. Os diversos fenômenos osmóticos estão representados na Figura 2.5.

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Figura 2.6 Processos osmóticos das membranas. (Adaptada de WANG, Y-N. e WANG, R., 2019)

Se considerarmos um processo idealizado, a pressão osmótica pode ser

calculada pela equação de van`t Hoff, apresentada na Equação 2.1.

𝜋 = 𝑖𝐶𝑅𝑇 EQ 2.1

em que:

𝜋 = Pressão osmótica (atm);

i = Constante de dissociação;

𝐶 = Concentração molar do soluto (mol/L);

𝑅 = Constante universal dos gases (L.atm/mol.K);

𝑇 = Temperatura (K).

A extensa revisão sobre OI de Qasim et al. (2019), além de apresentar a equação

de van`t Hoff para pressão osmótica, destaca ainda quatro outros parâmetros reais

para acompanhamento do desempenho do processo de OI, a saber: grau de

recuperação de água; rejeição de soluto; permeabilidade hidráulica; e polarização de

concentração.

Na operação da membrana em fluxo contínuo é comum separar a corrente de

alimentação em duas outras diferentes correntes: uma de baixa concentração de

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soluto, que atravessa a membrana, chamada de permeado, e outra com alta

concentração de soluto, chamada de concentrado, que é retida pela membrana,

conforme esquematizado na Figura 2.6.

Figura 2.7 Ilustração esquemática de um sistema OI contínuo. (Adaptada de QASIM et al., 2019)

Na realidade operacional uma maior quantidade de água recuperada pode

significar uma menor pureza. Os sistemas de OI geralmente possuem recuperação

entre 50 a 85%. A equação 2.2 fornece o cálculo de recuperação.

𝑟 =𝑄𝑝

𝑄𝑓∗ 100% EQ 2.2

em que:

𝑟 = Grau de recuperação ou porcentagem de água recuperada;

𝑄𝑝 = Vazão de permeado;

𝑄𝑓= Vazão de alimentação.

A rejeição do soluto, que é o quanto do soluto fica retido, pode ser definida como

a eficiência da membrana, uma vez que o objetivo é exatamente retirar o soluto da

solução. A rejeição é dada pela equação 2.3.

𝑆𝑅 = (1 −𝐶𝑝

𝐶𝑓) ∗ 100% EQ 2.3

em que:

𝑆𝑅 = rejeição do soluto;

𝐶𝑝 = concentração do permeado;

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𝐶𝑓 = concentração da alimentação.

A permeabilidade hidráulica é uma característica intrínseca da membrana, sendo

determinada em teste com permeação de água. É obtida experimentalmente através

do levantamento do fluxo permeado em diferentes pressões. A permeabilidade

hidráulica, é o coeficiente angular da curva de fluxo permeado versus pressão. O fluxo

de soluto, obtido com operação da solução real, com sais no caso da dessalinização,

costuma ser proporcional à diferença de concentração do soluto. Qasim et al. (2019)

apresentam diversas modelagens matemáticas desses parâmetros.

Durante a dessalinização, tende-se a criar uma região de alta concentração de

soluto na superfície da membrana. Essa concentração superior tende a: aumentar a

passagem de soluto; diminuir a permeabilidade e causar problemas de incrustação.

As membranas utilizadas no processo de OI são geralmente membranas com

camada seletiva a base de poliamida (PA). A membrana é composta por uma fina

camada densa de PA, tendo, em geral, uma espessura de 100 a 200 nm. Um substrato

poroso (muitas vezes uma membrada de UF), serve de ligação para uma camada de

suporte mecânico. A Figura 2.7 ilustra a seção transversal das membranas compostas

de OI, tendo PA na sua camada seletiva.

Figura 2.8 Ilustração da seção transversal de uma membrana composta de OI, tendo PA na sua

camada seletiva. (Adaptada de WANG, Y-N. e WANG, R., 2019)

Em se tratando de medir a produtividade das membranas, Wang, Y-N. e Wang,

R. (2019) trazem diversos parâmetros como: hidrofilicidade; rugosidade superficial;

carga superficial e estabilidade. Apesar destes diversos fatores, a produtividade é

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vista diretamente, e de maneira bastante simples, pela permeabilidade e rejeição de

sal (no caso de uma membrana de dessalinização). Parâmetros operacionais tendem

a afetar a desempenho da membrana, por exemplo:

o aumento da pressão aplicada acarreta maior fluxo de água e melhor rejeição

de soluto, inicialmente de maneira linear, entretanto a linearidade dessa

relação têm um limite relativamente baixo para o soluto, mostrando um limite

de rejeição;

o uso de fluxo tangencial tende a gerar maior fluxo de água e maior rejeição

ao soluto indesejado;

maiores porcentagens de água recuperada tendem a gerar fluxos de água

menores e de menor pureza;

temperaturas elevadas tendem a aumentar o fluxo de água, mas diminuir a

rejeição ao soluto.

A Figura 2.8 ilustra como desempenho da membrana, em termos de

permeabilidade (fluxo de água) e de rejeição de soluto, é afetado em função dos

parâmetros operacionais em uma membrana de OI típica.

Figura 2.9 Efeito das condições de operação no desempenho de uma membrana de OI típica.

(Adaptada de WANG, Y-N. e WANG, R., 2019)

Membranas de PA são hidrofóbicas e esta não é uma característica desejada.

A hidrofilicidade tende a melhorar a permeabilidade e dificultar a incrustação, por isso

tem-se pesquisado o uso de nanomateriais, como o óxido de grafeno, para que estes

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sejam dispersos na camada seletiva das membranas e melhorem sua hidrofilicidade.

Tais membranas são chamadas nanocompósitos de filme fino (WANG, Y-N. e WANG,

R., 2019; VERBEKE et al., 2017).

Um fator importante a se considerar nas membranas poliméricas é a

compactação. A compactação é a deformação mecânica que ocorre em uma

membrana ao se aplicar pressão. Durante este processo a estrutura porosa se

densifica e, consequentemente, o fluxo diminui. Em geral, após o relaxamento o fluxo

não retornará ao seu valor original, por isso, o processo é tido como irreversível

(MULDER, 1996).

Segundo Verbeke et al. (2017), a maior preocupação das indústrias com

membranas PA em um processo de dessalinização é sua alta reatividade com agentes

oxidantes, especialmente os que contêm cloro. Soluções com cloro são utilizadas no

tratamento prévio da água, geralmente como desinfetantes. Apesar de existirem

métodos alternativos de tratamento, o uso de tais soluções é a técnica mais utilizada,

devido à sua simplicidade e baixo custo. Embora exista a decloração, com o objetivo

de proteger a membrana, uma remoção completa do cloro tende a ser inviável devido

aos aspectos práticos da planta de tratamento de água (VERBEKE et al., 2017).

2.2 GRAFENO

O grafite é uma forma alotrópica do carbono, e consiste em diversas folhas de

carbono com hibridização sp2 empilhadas e interagindo umas com as outras por meio

de ligações π-π. Uma dessas folhas isoladas recebe o nome de grafeno, sendo que

sua existência foi tida como impossível em condições ambientais há mais de 80 anos,

pois entendia-se que a vibração natural do material o destruiria. Assim, o grafeno era

visto apenas como um material “acadêmico”. Entretanto, foi comprovado em 2004 que

de fato este pode existir em condições ambientais, cuja síntese foi realizada por um

método bastante simples, a partir da esfoliação com uma fita adesiva (scotch tape

method) (GEIM e NOVOSELOV, 2007; NOVOSELOV et al., 2004).

O grafeno pode ser visto não apenas como uma forma alotrópica do carbono, mas

como a “mãe” de todas as formas grafíticas, isto é, “mãe” de todas as formas do

carbono com hibridização sp², independente de quantas “dimensões” tais derivados

possuam. Enquadram-se como formas alotrópicas do carbono com hibridização sp²:

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o fulereno, que é zero dimensional (0D); os nanotubos de carbono, que são

unidimensionais (1D); bem como o próprio grafite, que é tridimensional (3D)

(GEIM e NOVOSELOV, 2007), conforme ilustrado na Figura 2.9. O grafeno é, assim,

a forma bidimensional (2D), com ligações tipo σ e π (deslocalizada) entre os átomos

de carbono sp2.

Figura 2.10 Grafeno como mãe das formas grafíticas. (Adaptada de GEIM e NOVOSELOV, 2007)

Apesar de o grafeno originalmente ser constituído de uma única camada isolada

de carbono com hibridização sp², o termo passou a ser utilizado para outras formas

ultrafinas de carbono, de modo que muitos autores passaram a usar o termo

monocamada de grafeno para designar essa única camada, bem como outros

equivocadamente utilizam o termo grafeno para dezenas dessas camadas

empilhadas. Essa imprecisão de nomes não é algo desejado. Assim, em 2013, o

editorial da revista Carbon publicou um artigo com nomenclaturas sugeridas, visando

evitar as confusões decorrentes do termo grafeno. Para o desenvolvimento das regras

de nomenclatura a Carbon utilizou questões como: nível de oxidação; número de

camadas; e tamanho lateral das folhas (BIANCO et al., 2013; WICK et al., 2014).

Segundo o editorial, em relação ao número de camadas empilhadas, o termo

grafeno pode ser usado quando este varia de uma a dez; essa definição se dá devido

às propriedades eletrônicas, visto que estas se tornam indistinguíveis do grafite acima

de dez camadas. Uma única camada de grafeno é então chamada de monocamada

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de grafeno, para 2 a 5 camadas e 6 a 10 camadas os termos empregados são grafeno

de poucas camadas (FLG – few-layer graphene) e de multicamada (MLG – multilayer

graphene), respectivamente. Nos casos de duas e três camadas, as denominações

são grafeno em bicamada (bilayer) e em tricamada (trilayer) (BIANCO et al., 2013).

Um importante membro da família de materiais do grafeno é o óxido de grafeno

(GO – graphene oxide), em que a razão de átomos de carbono por átomos de oxigênio

é inferior a 3. Nesse caso as folhas de carbono estão decoradas com grupos

funcionais, especialmente grupos de carboxila, carbonila, epóxido e hidroxila. Os

átomos de carbono ligados aos grupos funcionais possuem hibridização sp³

(STOBINSKI, et al., 2014).

Os grupos mais comuns no GO são os epóxidos e as hidroxilas, que se localizam

distribuídas no plano basal, ao passo que os grupos carboxila, carbonila e possíveis

outros tendem a ficar nas bordas (ROURKE, et al., 2011; STOBINSKI, et al., 2014).

Caso o número de camadas seja superior a 10, o material é denominado óxido de

grafite ou, dependendo da razão de átomos de carbono por átomos de oxigênio, grafite

(BIANCO, et al., 2013).

A exata estrutura do óxido de grafeno ainda não é conhecida e é bastante variável,

tendo sido proposta por diferentes modelos. Uma versão altamente utilizada de

estrutura é a baseada no modelo de Lerf-Klinowski (LERF, et al., 1998), conforme

mostrado na Figura 2.10.

Figura 2.11 Modelo de Lerf-Klinowski de uma camada de óxido de grafite. (Adaptada de LERF et al., 1998)

Ao se buscar aplicações químicas para essa família de materiais, como seu uso

em sensores, armazenamento de energia, catálise e sistemas eletroquímicos, o GO

tende a ser preferível ao grafeno, pois este último é extremamente inerte, enquanto

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os grupos funcionais do GO fazem com que o mesmo possua maior reatividade

química. Assim, dependendo da aplicação desejada, a hibridização sp³, que é

chamada de defeito, pode ser algo fundamental (EFTEKHARI, et al., 2017).

É muito comum que seja sintetizado o GO e posteriormente se busque retirar os

grupos funcionais para se obter o grafeno. Esse processo de retirada dos grupos

funcionais com o objetivo de se conseguir uma forma grafítica chama-se redução,

sendo o nanomaterial resultante denominado de óxido de grafeno reduzido (rGO –

reduced graphene oxide) (BIANCO, et al., 2013).

Bianco et al. (2013) e Wick et al. (2014) trazem uma nomenclatura especial que é

utilizada quanto às dimensões laterais. Caso estas sejam inferiores a 100 nm, o

material é chamado de nanofolha de grafeno (ou de óxido de grafeno, ou ainda de

óxido de grafeno reduzido). Na Figura 2.11 é apresentado um diagrama relativo às

possibilidades de designações, considerando como variáveis a dimensão lateral, a

relação carbono/oxigênio e o número de camadas.

Figura 2.12 Diagrama de nomenclatura segundo número de camadas, oxidação e tamanho lateral. (Adaptada de WICK et al., 2014)

Um nome alternativo às nanofolhas de grafeno é pontos quânticos de grafeno (ou

de óxido de grafeno, ou ainda de óxido de grafeno reduzido). Tal nomenclatura se dá,

em geral, quando efeitos de luminescência estão sendo estudados. Normalmente, os

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pontos quânticos possuirão dimensões laterais inferiores a 10 nanômetros (BIANCO

et al., 2013). A patente US 2015/0298977 A1 demostra a síntese de pontos quânticos

de grafeno utilizando a redução do GO e quebra das folhas por meio de micro-ondas

(YOON, 2015).

O grafeno e seus derivados, como já mencionado, podem possuir até dez

camadas. Entretanto, essas camadas podem ter diferentes formas de empilhamento.

O empilhamento mais típico é o chamado de Bernal (2H — 2 camadas, com estrutura

hexagonal), em que as folhas têm uma ordenação ABAB, enquanto que em outra

forma de empilhamento, denominada romboédrica (3R), as folhas apresentam uma

ordenação ABCABC (SEEHRA, et al., 2015).

Dependendo da propriedade estudada pode haver importantes diferenças devido

à forma de empilhamento ou sua proporção. Em dez camadas, algumas podem estar

com empilhamento Bernal e outras com arrumação romboédrica. Em questões

eletrônicas por exemplo, o empilhamento Bernal do grafeno não possui energia de

banda proibida, sendo assim considerado um material condutor; já o empilhamento

romboédrico possui 6 meV de energia de banda proibida e, portanto, é considerado

um material semicondutor (SEEHRA, et al., 2015). Na Figura 2.12 são apresentadas

as estruturas 2H e 3R.

Figura 2.13 Ilustração dos empilhamentos Bernal e romboédrico. (SEEHRA et al., 2015)

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Além das duas formas de empilhamento supracitadas, existe uma terceira forma

denominada turbostrática. Nesse empilhamento não há ordenação das camadas

(BIANCO et al., 2013).

Uma nomenclatura especial é utilizada quando temos uma dimensão muito maior

que a outra, sendo assim chamadas nanofitas de grafeno. Para que tal nomenclatura

seja utilizada, a dimensão maior deve ser ao menos uma ordem de grandeza acima

da dimensão menor e a dimensão longa, não deve exceder 100 nm. As nanofitas ainda

podem ter dois tipos de configuração, a poltrona ou zigzag (SHEN et al., 2015;

BIANCO et al., 2013). A Figura 2.13 ilustra as duas configurações possíveis de

nanofitas de grafeno.

Figura 2.14 Configuração das nanofitas de grafeno. (Adaptada de SHEN et al., 2015)

Existe ainda o grafeno dopado, um tipo de nomenclatura não explicitada no artigo

de normatização do editorial da Carbon, constituído por folhas de grafeno que

possuem uma impureza substitucional. É comum o uso de nitrogênio como impureza

substitucional visando o estudo de aplicações em eletrônica; assim, é chamado de

grafeno dopado com nitrogênio, conforme ilustrado na Figura 2.14, em que a impureza

pode ocupar diferentes posições na estrutura (YADAV et al., 2017). A dopagem pode

ser realizada por recozimento, bombardeamento iônico, descarga de arco ou diversos

outros meios; as impurezas mantêm a estrutura 2D do grafeno mas alteram as

propriedades superficiais para obter novas propriedades do material (YU et al., 2020).

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Figura 2.15 Grafeno dopado com nitrogênio. (Adaptada de YADAV et al., 2017)

2.2.1 SÍNTESE DO GRAFENO

Em 2004 a produção de grafeno foi feita de uma maneira extremamente simples,

por meio da esfoliação mecânica repetida de um pedaço de grafite usando uma fita

adesiva (GEIM e NOVOSELOV, 2007).

Desde então, diversos métodos de produção de grafeno e seus derivados têm

sido desenvolvidos. Apesar dessa grande gama de formas de síntese, Shams et al.

(2015) as separam em duas categorias principais: a categoria top-down; e a categoria

bottom-up.

Os métodos top-down consistem em técnicas para retirar o grafeno diretamente

do grafite; a esfoliação mecânica é um exemplo desse método. Já o bottom-up

consiste em ter uma fonte precursora de carbono, em geral constituída de moléculas

orgânicas, para assim “montar” o grafeno. A Figura 2.15 ilustra os métodos top-down

e bottom-up.

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Figura 2.16 Ilustração das técnicas top-down e bottom-up. (SHAMS et al., 2015)

Apesar de haver apenas duas categorias principais de produção, vários métodos

diferentes foram desenvolvidos. Novoselov et al. (2012) correlacionam alguns

métodos existentes com o custo de produção em massa, conforme mostra a Figura

2.16. A escolha do método deve levar em consideração a aplicação desejada. Por

exemplo, uma membrana nanoporosa pode requerer uma monocamada de grafeno

de grande área e inicialmente sem defeitos, mas uma pesquisa sobre pontos

quânticos por si só exige pequenas folhas e não necessariamente sem defeitos.

Dentre todas as técnicas, a que se mostra mais econômica para produção em

massa, sem observar a aplicação final, é a esfoliação em fase líquida (LPE – liquid-

phase exfoliation), que é uma técnica top-down. Tal técnica pode ser realizada por

meio de: (i) ultrassom; (ii) agitação com alta taxa de cisalhamento e a (iii) rota química.

Os métodos (i) e (ii) são baseados na exposição do grafite a um solvente que promove

uma tensão interfacial adequada, favorecendo o aumento da área total, e com a ajuda

de ultrassom, ou agitação cisalhante, o grafite se divide em plaquetas.

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Figura 2.17 Métodos de produção em massa de grafeno e suas aplicações em função da qualidade versus preço (custo). (Adaptada de NOVOSELOV et al., 2012)

Para a síntese de monocamadas livre de defeitos e com tamanho relativamente

grande, a técnica de deposição química por vapor (CVD ̶ chemical vapor deposition)

é geralmente utilizada. A partir da técnica CVD foi sintetizada uma monocamada de

grafeno, praticamente sem defeitos, com 30 polegadas de diagonal. Tal camada foi

dopada e utilizada como tela sensível ao toque, conforme mostra a Figura 2.17.

Membranas nanoporosas são feitas a partir de grafeno criado por CVD. Tal técnica

consiste na decomposição de fontes de carbono para assim “montar” o grafeno,

sendo, assim, uma técnica bottom-up (BAE et al., 2010; LEE et al., 2017).

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Figura 2.18 Área ultra-larga de grafeno transparente e uma tela sensível ao toque baseada em grafeno. (BAE et al., 2015)

2.2.2 SÍNTESE DE ÓXIDO DE GRAFENO

A síntese de GO é a mais comumente realizada de toda a família de materiais a

base de grafeno (incluindo o próprio grafeno). Esse fato se deve a sua relativamente

fácil produção em larga escala, ao baixo custo e a seu caráter anfifílico. Assim pode-

se utilizar água como dispersante e evitam-se produtos orgânicos tóxicos. A síntese

de GO consiste em oxidar o grafite, que pode ser facilmente esfoliado posteriormente.

A oxidação do grafite foi proposta inicialmente por Brodie (1859), por meio do uso

de ácido nítrico e cloreto de potássio. Posteriormente, Staudenmaier (1898)

acrescentou o uso de ácido sulfúrico para oxidação do grafite. No ano de 1958 foi

desenvolvido o método de Hummers e Hoffman, usualmente chamado apenas de

método de Hummers. Atualmente a produção de GO é feita, em sua maior parte, pelo

método de Hummers ou uma variação deste (MUZYKA et al., 2017).

O método de Hummers consiste no uso de uma solução concentrada de ácido

sulfúrico (originalmente com concentração de 63%; todavia hoje são utilizadas

concentrações superiores), nitrato de sódio, permanganato de potássio, uma pequena

quantidade de peróxido de hidrogênio e água como meios dispersante

(HUMMERS e OFFEMAN, 1957).

Embora o mecanismo de formação do GO não seja totalmente esclarecido, Dimiev

e Tour (2014) propõem que o processo de obtenção do GO formado a partir do grafite

consiste em três etapas: intercalação; oxidação e esfoliação, conforme Figura 2.18.

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Figura 2.19 Mecanismo de formação do GO. (Adaptada de DIMIEV e TOUR, 2014)

No método de Hummers, o ácido sulfúrico atua como agente intercalante,

transformando o grafite em um composto de intercalação de grafite (GIC — graphite

intercalation compound). Essa etapa ocorre alguns minutos após a imersão do grafite

no ácido. O permanganato de potássio atua como agente oxidante, formando o óxido

de grafite primitivo (PGO – pristine graphite oxide). A Figura 2.19 detalha as reações

químicas que ocorrem no processo de oxidação.

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Figura 2.20 Formação de a) MnO3+; b) heptóxido de dimanganês; c) íon sulfato; d) hidrogenossulfato após a reação de KMnO4 com H2SO4; e) óxido de grafite e íon Mn (VII); f) MnO4 reversível;

g) reação dos íons permanganato de manganês (VII) com óxido de grafite. (Adaptada de BRISEBOIS e SIAJ, 2020)

Ao inserir água na mistura, o óxido de grafite tende a esfoliar naturalmente.

O peróxido de hidrogênio tem como função consumir o que restou de permanganato

de potássio e nitrato de sódio, ou seja, parar a reação, (DIMIEV e TOUR, 2014).

A Equação 2.1 demonstra a reação do peróxido hidrogênio com o restante do

permanganato de potássio e ácido sulfúrico.

5H2O2+2KMnO4+3H2SO4 → K2SO4 + 2MnSO4 + 8H2O + 5O2 EQ 2.1

Nas últimas décadas muitos métodos de produção de GO foram feitos baseados

no método de Hummers. Esses métodos são genericamente chamados de métodos

de Hummers modificados. A título de exemplificação pode-se citar Kovtyukhova et al.

(1999), os quais utilizaram uma etapa pré-oxidativa do grafite usando uma solução de

ácido sulfúrico, persulfato de potássio (K2SO8) e pentóxido de fósforo (P2O5). Com

essa etapa evita-se que haja partículas não oxidadas de grafite ao final da mistura.

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Outra variação foi proposta por Hirata et al. (2004), os quais utilizaram o método

de Hummers combinado a um procedimento de purificação e um alto tempo de

oxidação; enquanto no primeiro método é realizada a oxidação por horas, este a

mantém por uma semana. A patente US 2016/0272499 A1 descreve como obter GO

com alta proporção de monocamadas, cerca de 99,8%, misturando as etapas de

oxidação e esfoliação em um misturador de alto cisalhamento (ELORZA et al. 2020).

Marcano et al. (2010) propuseram o chamado método de Hummers melhorado,

cuja metodologia consistiu em: eliminar o NaNO3; aumentar a quantidade de KMnO4;

misturar H3PO4 (ácido fosfórico) ao ácido sulfúrico; comparar seu método com o

método de Hummers tradicional; e comparar seu método com uma variação do

método de Hummers com maior proporção de KMnO4. Como resultado foi observado

maior nível de oxidação, bem como menor quantidade de partículas hidrofóbicas pelo

método de Hummers melhorado. Marcano et al. (2010) destacaram que seu método

não libera NOx, que é um gás tóxico. A Figura 2.20 ilustra as comparações realizadas

por Marcano et al. (2010).

Figura 2.21 Comparação entre o método de Hummers, seu método modificado e melhorado. (Adaptada de MARCANO et al., 2010)

Lopez et al. (2016) buscaram otimizar o método de Hummers melhorado.

Segundo esse trabalho, pode-se reduzir o tempo de oxidação de 12 para 3 h,

mantendo propriedades muito semelhantes. Optou-se por não utilizar H3PO4.

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A Figura 2.21 mostra uma comparação simplificada dos métodos mostrando um custo

inferior para o método otimizado.

Figura 2.22 Comparação entre a síntese de Hummers melhorada e sua abordagem otimizada. (Adaptada de LOPEZ et al., 2016)

Ao se produzir GO, qualquer que seja o método utilizado, tem-se uma grande

variação nos tamanhos das folhas. Como as dimensões das folhas afetam

significativamente diversas propriedades, foram desenvolvidas técnicas para

separação das mesmas por tamanho, tais como: a centrifugação em altas rotações,

que retira as menores folhas do sobrenadante; técnicas de agitação ultrassônica, que

quebram as folhas para torná-las menores e; técnicas de alto cisalhamento (CAI et al.

2017; LIN et al. 2012; GOGOI et al. 2018). A Figura 2.22 mostra a diferença de

coloração em dispersões com folhas de diferentes tamanhos.

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Figura 2.23 a) Folhas grandes de GO; b) folhas médias de GO; c) folhas pequenas de GO; d) diferença de coloração nas dispersões de GO com folhas de diferentes tamanhos.

(Adaptada de GOGOI et al., 2018)

2.2.3 SÍNTESE DE ÓXIDO DE GRAFENO REDUZIDO

Como já mencionado anteriormente, é comum que se produza GO e

posteriormente tente-se retirar os grupos funcionais, de maneira a buscar a forma

original do grafeno. A forma obtida é chamada óxido de grafeno reduzido (reduced

graphene oxide).

Um dos mais citados trabalhos sobre rGO é o artigo revisão de Pei e Cheng

(2012). Nesse trabalho as estratégias de redução são divididas em rotas: (i) térmicas

e (ii) químicas, havendo subdivisões conforme a Tabela 2.1.

Tabela 2.1 Estratégias de redução. (Adaptada de PEI e CHENG, 2012)

Rotas de Redução

Térmica Química

Recozimento térmico Reagentes químicos

Fotocatálise

Micro-ondas e fotorredução Eletroquímica

Solvotérmica

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i. Rotas térmicas:

Recozimento térmico

Tal técnica remonta ao início das pesquisas em grafeno. Consiste em aquecer

rapidamente o GO, geralmente seco, com taxas superiores a 2000°C/min. Esse

aquecimento é feito ao selar o GO seco em um tubo de quartzo, cuja atmosfera foi

tornada inerte com argônio, selá-lo e levá-lo a um forno pré-aquecido a 1050°C

(SCHNIEPP et al. 2006). O objetivo é retirar os grupos funcionais com energia térmica

e simultaneamente esfoliar o grafite, transformando o GO em rGO. A esfoliação

ocorre por meio da rápida expansão dos gases gerados pela retirada dos grupos

funcionais. Tal método tem como vantagem realizar de modo simultâneo a redução e

esfoliação. Outra maneira de se realizar o tratamento térmico é utilizar o GO na forma

de pó ou filme e aquecê-lo a altas temperaturas em uma atmosfera inerte, como de

hidrogênio ou nitrogênio. Nesse processo, tanto a temperatura quanto a atmosfera

utilizada afetam significativamente as propriedades do rGO gerado.

Micro-ondas e fotorredução

Pei e Cheng (2012) tratam as rotas de redução por micro-ondas e a

fotorredução como rotas alternativas, mas extremamente rápidas. A redução por

micro-ondas pode ser feita em fornos convencionas, tendo o tempo de redução na

ordem de minutos. Essa técnica gera um aquecimento bastante homogêneo da

amostra, que pode estar em dispersão ou pó. A fotorredução pode ser feita por meio

do flash de uma lâmpada de xenônio próxima à amostra de GO, geralmente seca.

ii. Rotas químicas:

Fotocatálise

Na fotocatálise uma mistura de GO e óxido de titânio são expostos à radiação

UV. O óxido de titânio terá um efeito catalítico na reação devido à sua separação de

carga, na presença de etanol; os buracos são removidos para produzir radicais epóxi,

deixando os elétrons se acumularem dentro das partículas de TiO2. Os elétrons

acumulados servem para interagir com as folhas de GO a fim de reduzir os grupos

funcionais (WILLIAMS et al. 2008). A Figura 2.23 mostra dispersões aquosas de óxido

de titânio, TiO2 com GO e TiO2 com rGO.

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Figura 2.24 Redução de GO por fotocatálise. (Adaptada de WILLIAMS et al., 2008)

Redução eletroquímica

A redução geralmente não precisa de agente químico especial. É principalmente

causada pela troca de elétrons entre o GO e eletrodos (Pei et al., 2012). Um extenso

trabalho de revisão foi feito por Toh et al. (2014), no qual a redução eletroquímica é

dividida em dois tipos: na de passo único, em que a redução é feita diretamente a

partir da solução aquosa de GO, e a redução em dois passos, no qual uma fina

camada de GO é depositada sobre um eletrodo e posteriormente seca, formando

assim um eletrodo revestido de GO. A partir deste ponto a redução é feita usando um

sistema eletroquímico padrão, não se reduz GO que se encontra em dispersão, mas

sim o que se encontra depositado no eletrodo.

Reagentes químicos

A redução por reagentes químicos é, em geral, feita à temperatura ambiente ou

com aquecimento moderado; sendo assim, costuma ser mais barata em relação a

rotas térmicas. Desde o início da pesquisa em grafeno utiliza-se hidrazina como

agente redutor; esta é, em geral, aceita como um excelente agente redutor, tendo-se

obtido uma razão C/O de 12,5 (PEI e CHENG, 2012).

Apesar da alta eficiência da hidrazina como agente redutor, esta possui diversas

limitações práticas, como por exemplo: é altamente tóxica para o meio ambiente;

prejudicial à saúde humana; se usada em nível industrial os custos de se tratar os

rejeitos tóxicos da produção encareceriam significativamente o produto final e

possíveis resíduos de hidrazina no rGO a inviabilizam para diversos fins, como suas

aplicações biomédicas. Por tais motivos, têm-se buscado alternativas “verdes” para a

redução química do GO (DE SILVA, et al. 2017). A patente US 2017/0106342 A1, de

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propriedade da universidade de Manchester, demonstra a redução do GO através de

reagentes alternativos como o iodeto de hidrogênio (HI), brometo de hidrogênio (BrI)

e ácido ascórbico (RAVEENDRAN-NAR et al. 2017).

A Figura 2.24 exemplifica alguns agentes redutores e indica se são ecológicos

através das cores, sendo: vermelho para não ecológicos; amarelo para parcialmente

ecológico; e verde para ecológico.

Figura 2.25 Representação esquemática dos principais métodos de oxidação do grafite em óxido de grafeno e a redução química do óxido de grafeno por alguns redutores.

(Adaptada de DE SILVA et al., 2017)

De Silva et al. (2017) consideram o ácido ascórbico (AA), vitamina C, o substituto

ideal para a hidrazina. O AA é visto como um agente redutor promissor pois este: não

acarreta problemas ambientais; não representa perigo a saúde humana; é barato;

possui alta eficiência de redução; sua estrutura é apenas de carbono, oxigênio e

hidrogênio, e, assim, não acarreta risco de heteroátomos serem adicionados ao rGO.

Os primeiros trabalhos de redução de GO com AA datam de 2010 e foram escritos de

maneira aparentemente independente por Gao et al. (2010); Zhang et al. (2010) e

Fernandez-Merino et al. (2010). A fórmula estrutural da molécula de AA é apresentada

na Figura 2.25.

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Figura 2.26 Molécula esquematizada de vitamina C. (DE SILVA, et al., 2017)

Visando evitar agregação do rGO em água, o pH da solução é ajustado entre 9 e

10, normalmente utilizando uma solução de hidróxido de amônio. Além do ajuste de

pH pode ser necessário o uso de dispersantes. O poliácido sulfônico de estireno (PSS-

poly(styrene sulfonic acid)), por ser um polímero anfifílico se mostra eficiente para a

dispersabilidade de rGO em água (FERNANDEZ-MERINO et al. 2010; PARK et al.

2014; DE SILVA et al. 2017). A Figura 2.26 ilustra o arranjo esquemático da estrutura

de rGO funcionalizada com PSS.

Figura 2.27 Esquema de uma estruturaestrutura de rGO funcionalizada com PSS. (PARK et al., 2014)

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45

Solvotérmica

A redução solvotérmica consiste em armazenar a dispersão de GO em um

ambiente selado para aquecê-la. Devido à pressão gerada, o solvente pode

ultrapassar a temperatura de evaporação em condições ambientais e manter-se na

fase líquida. Sendo assim, a desoxigenação do GO ocorre na presença de

temperatura e pressão. Quando a água é utilizada como solvente, essa técnica pode

ser chamada de hidrotérmica. Os trabalhos de H. Huang et al. (2018) e H-H. Huang

et al. (2018) mostram que, por meio do controle da temperatura e tempo em uma

redução hidrotérmica, pode-se criar uma coexistência de GO e rGO em uma mesma

dispersão. As aplicações variam dependendo do tempo e temperatura do tratamento.

Coexistindo GO e rGO pode-se afirmar que houve redução parcial; devido ao caráter

anfifílico do GO, este atua como dispersante do rGO em água. A Figura 2.27 ilustra a

estrutura do GO após diferentes tempos de redução hidrotérmica e exemplifica

possíveis aplicações.

Figura 2.28 Ilustração da estrutura do GO após diferentes tempos de redução hidrotérmica a 200°C e suas potenciais aplicações (Adaptada de H, Huang et al., 2018).

2.3 MEMBRANAS A BASE DE GRAFENO

Liu et al. (2015), utilizando-se da morfologia das membranas a base de grafeno,

realizam uma divisão destas em três classes: membranas porosas, membranas

lamelares; e membranas compósitas. A Figura 2.28 apresenta a representação

esquemática da morfologia de cada uma das três classes.

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Figura 2.29 Representação esquemática da morfologia das membranas a base de grafeno. (LIU et al., 2015)

A aplicação das membranas a base de grafeno, em suas diferentes morfologias,

não se limita ao seu uso direto nos processos de nanofiltração e de osmose inversa

visando a remoção de sais. Existe a possibilidade do uso dessas membranas para

remoção de outros poluentes; visando inclusive a remoção prévia de materiais

suspensos presentes na água a ser dessalinizada, protegendo assim a membrana de

dessalinização.

A título de exemplos da aplicação de membranas a base de grafeno para

aplicações distintas, pode-se citar Ibrahim et al. (2020), que sintetizam membranas a

base de GO visando o bloqueio de bactérias, para assim proteger a membrana

comercial de incrustações. Já Kumar et al (2020) realizaram uma extensa revisão

sobre a aplicação de membranas a base de grafeno na remoção de compostos

orgânicos voláteis. Nie et al (2020) exploraram a influência do tamanho das folhas de

GO no bloqueio de solventes orgânicos.

Wen et al (2020) utilizaram destilação por membranas de rGO na separação de

isótopos de hidrogênio em água. A patente US 2019/0039026 A1, de propriedade do

exército americano, mostra a produção de uma membrana a partir de GO e quitosana

protonada, em proporção mássica 1:5, que pode ser utilizada na remoção de diversas

impurezas químicas e biológicas (MEDINA et al. 2019). A patente US 2019/0039027

A1, de propriedade da universidade do Arkansas, também trata de membranas de GO

e quitosana, tendo como foco a remoção de pesticidas; herbicidas; tintas; produtos

químicos orgânicos e farmacêuticos (GRIGGS et al. 2019).

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2.3.1 MEMBRANAS POROSAS

As membranas porosas são produzidas a partir de monocamadas de grafeno,

inicialmente sem defeitos. O fato das monocamadas possuírem espessura atômica

garante uma mínima resistência a permeabilidade, resultando assim a existência de

um alto fluxo (WANG et al., 2020). Essas monocamadas são impermeáveis a

moléculas tão pequenas quanto o hélio, o que se deve à densa nuvem eletrônica dos

orbitais π deslocalizados. De acordo com Berry et al. (2013), o poro geométrico do

grafeno é de apenas 0,064 nm, conforme ilustrado pela Figura 2.29. Sendo assim,

defeitos devem ser inseridos com dimensões que permitam a passagem da água, mas

não dos sais (BERRY et al., 2013).

Figura 2.30 Ilustração do poro geométrico do grafeno (Adaptado de BERRY et al., 2013)

Em 2012, Cohen-Taughi e Grossman realizaram simulações computacionais,

utilizando dinâmica molecular clássica, visando estimar a rejeição de sal e a

permeabilidade de uma membrana nanoporosa de grafeno. Na simulação, os poros

variaram em área de 1,5 a 62 Ų (0,138 a 0,888 nm em diâmetro); outro parâmetro

variado foram os grupos funcionais dos poros, hidrogênios ou hidroxilas, conforme

ilustrado na Figura 2.30. A salinidade simulada foi de 72 g/L (a do mar é cerca de

35 g/L) e a pressão variou de 100 a 200 MPa.

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Figura 2.31 Poro de grafeno hidrogenado e hidroxilado. (COHEN-TAUGHI e GROSSMAN, 2012)

Segundo o modelamento de Cohen-Taughi e Grossman (2012), os poros com alta

eficiência em rejeição de sal deveriam ser inferiores a 5,5 Ų (0,265 nm em diâmetro).

Os poros hidrogenados obtiveram menor permeabilidade e maior rejeição de sal que

os hidroxilados. Essa diferença é atribuída as características hidrofóbicas e hidrofílicas

dos poros. Diferente do que acontece com membranas poliméricas, o aumento de

pressão diminuiu a rejeição de sal.

As simulações estimam que esse tipo de membrana pode produzir de 10 a

100 L/cm²/dia, 2 a 3 ordens de magnitude maior que as membranas de OI industriais

na época do estudo, mas mantendo a mesma eficiência em rejeição de sal (COHEN-

TAUGHI e GROSSMAN, 2012). A Figura 2.31 compara os valores estimados de

permeabilidade e rejeição das membranas nanoporosas de grafeno com membranas

convencionais do mercado.

Figura 2.32 Comparação entre membranas nanoporosas de grafeno e diversas outras tecnologias de membranas. (Adaptado de COHEN-TAUGHI e GROSSMAN, 2012)

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Um trabalho experimental sobre membranas nanoporosas bastante citado foi feito

por O’Hern et al. (2014). A partir de uma monocamada de grafeno, considerada sem

defeitos e produzida por CVD, nanoporos foram inseridos utilizando bombardeamento

de íons de gálio. Os poros foram então expandidos por meio de corrosão oxidativa na

presença de permanganato de potássio e ácido sulfúrico. O tamanho dos poros foi

controlado por meio do tempo de oxidação. Segundo O’Hern et al. (2014), as

membranas resultantes foram eficazes na remoção de moléculas orgânicas e a

técnica possui potencial para aplicação em dessalinização. A Figura 2.32 ilustra o

processo supracitado.

Figura 2.33 Ilustração da criação de poros em uma monocamada de grafeno. (Adaptado de O’Hern et al., 2014)

Em 2015, foram obtidas membranas nanoporosas a partir de uma monocamada

de grafeno em que os nanoporos foram gerados de maneira controlada com plasma

de oxigênio; obteve-se com isso membranas com quase 100% de eficiência em

dessalinização e significativa permeabilidade sem necessidade de pressão externa

(SURWADE et al. 2015). A patente US 10,233,098B2 trata desse método de produção

de membranas (MAUHURIN et al. 2019).

Apesar dos resultados promissores das membranas nanoporosas, o desafio

tecnológico de reproduzir monocamadas de grafeno com grandes dimensões e de

maneira escalável é um obstáculo a ser vencido. Outro grande problema é a pouca

duração das membranas deste tipo, pois, devido ao alargamento dos poros a

eficiência é diminuída.

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Pesquisadores do MIT (Massachusetts Institute of Technology) podem ter dado

um grande passo quanto ao problema da escalabilidade ao final do ano de 2018,

unindo a tecnologia CVD de crescimento de grafeno com a tecnologia de rolagem (roll-

to-roll) e a geração de defeitos por plasma (KIDAMBI et al., 2018), conforme

Figura 2.33.

Figura 2.34 Design e construção do reator CVD de rolagem acoplado a geração de defeitos por plasma. (Adaptado de KIDAMBI et al., 2018)

2.3.2 MEMBRANAS LAMELARES

As membranas lamelares consistem em alinhar paralelamente folhas de grafeno,

ou seus derivados, de modo que fiquem transversais ao fluxo. Desse modo, a

distância entre as camadas é que atuará como um filtro de exclusão por tamanho. A

aplicação da membrana dependerá fortemente da distância interplanar, uma vez que

a mesma funcionará como uma barreira para reter solutos com diâmetro maior que o

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espaço entre as camadas. A Tabela 2.2 correlaciona a distância entre as camadas

com potenciais aplicações.

Tabela 2.2 Distância interplanar ideal em membranas lamelares para aplicações diversas. (Adaptada de HOMAEIGOHAR et al., 2017)

Aplicação Distância

interplanar (nm)

Dessalinização 0,3-0,7

Purificação de combustíveis ou produtos químicos

0,7-2

Filtragem biomédica >2

Para a síntese dessas membranas é comum utilizar GO como matéria-prima.

Comparativamente ao grafeno, o GO pode ser produzido em maior escala com custo

e tempo relativamente pequenos. Assim, o GO é visto como um nanomaterial

promissor para a próxima geração de membranas (SHI et al. 2017). Entretanto, esses

tipos de membrana, em geral, possuem baixo fluxo (WEN et al. 2020).

Vale ressaltar que, além da exclusão de tamanho, existe a repulsão eletrostática,

que atua devido à carga superficial das folhas de GO, resultante dos grupos

funcionais, conforme ilustrado na Figura 2.34. Assim, pesquisas em engenharia de

superfície podem oferecer melhorias muito significativas na rejeição de sal das

membranas a base de grafeno (HONG et al. 2016).

Figura 2.35 Repulsão eletrostática por grupamentos funcionais em membranas lamelares. (Adaptada de HONG et al., 2016)

Tsou et al. (2015) abordam três métodos para a produção de membranas

lamelares a partir de dispersões de GO: filtração assistida por pressão; filtração

assistida a vácuo e evaporação. Ao comparar o ordenamento das folhas de GO, Tsou

et al. (2015) constataram melhores resultados com a técnica de filtração assistida por

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pressão, conforme Figura 2.35. Apesar de tais resultados, a filtração assistida a vácuo

é a técnica mais utilizada por sua simplicidade e baixo custo de equipamentos (TSOU

et al. 2015; YEH et al. 2015).

Figura 2.36 Representação da fabricação de membranas lamelares. (Adaptada de TSOU et al., 2015)

H. Huang et al. (2018) utilizaram a filtração assistida a vácuo para síntese de

membranas de rGO. Foi observada uma relação aproximadamente linear entre a

espessura da membrana e o volume de dispersão utilizada. Assim, essa técnica pode

permitir significativa precisão na espessura da membrana, conforme Figura 2.36.

Figura 2.37 Relação de espessura x volume utilizado em membranas de rGO. (Adaptada de H. HUANG et al., 2018)

Gogoi et al. (2018) realizaram estudos experimentais e simulações

computacionais para verificar como o tamanho das folhas de GO influenciam na

eficiência da membrana. Em ambos os casos foi observado que, com folhas menores

a rejeição de sal diminui e a permeabilidade aumenta. A Figura 2.37 mostra os

resultados experimentais de Gogoi et al. (2018).

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Figura 2.38 Influência do tamanho das folhas de GO em a) permeabilidade e b) rejeição. (Adaptada de GOGOI et al., 2018)

Saraswat et al. (2018) também realizaram um estudo da influência de tamanho de

folhas, neste caso analisando apenas a permeabilidade de água ultrapura. Seus

resultados divergem fortemente dos de Gogoi et al. (2018), uma vez que não houve

significativa diferença de permeabilidade.

As membranas lamelares de GO, apesar de promissoras, possuem um sério

problema de estabilidade em solução aquosa. Essa instabilidade ocorre devido a seus

grupos funcionais, que são atraídos pelas moléculas de água. Para contornar o

problema da instabilidade os métodos mais comuns são: realização de redução

parcial; ligações cruzadas com cátions multivalentes e ligações cruzadas com

polímeros (LIU et al., 2017).

As ligações cruzadas de cátions multivalentes foram inicialmente utilizadas

visando melhorar as propriedades mecânicas de uma membrana de GO. Os cátions

formam ligações primárias com os grupos funcionais conectando assim diferentes

folhas de GO. A fabricação do GO com ligação cruzada pode ser feita por meio da

filtragem de uma solução com cátions em uma membrana de GO (PARK et al., 2008).

A Figura 2.38 ilustra uma membrana de ligações cruzadas e sua síntese.

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Figura 2.39 a) Ilustração de ligações cruzadas em folhas de GO; e b) síntese de uma membrana com ligações cruzadas. (Adaptada de PARK et al., 2008)

Diversos autores relatam a estabilidade inesperada de membranas lamelares de

GO em água. Yeh et al. (2015) levantaram e testaram a hipótese de que tal efeito

depende do substrato utilizado na síntese da membrana.

É comum que se utilize um disco nanoporoso de alumínio anodizado (AAO –

anodisc aluminum oxide) para síntese de membranas baseadas em materiais 2D; o

caráter ácido da solução de GO e o caráter anfótero do alumínio fazem com que o

disco libere cátions trivalentes de alumínio (YEH et al., 2015). A Figura 2.39 demonstra

a liberação de substâncias do AAO em função do pH.

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Figura 2.40 Efeito da liberação de substâncias do AAO em função do pH. (Adaptada de YEH et al., 2015)

Os íons Al3+ contaminam a solução e atuam na formação de ligações cruzadas,

dando assim estabilidade à membrana no meio aquoso. As membranas sintetizadas

em substratos de teflon não demostram essa estabilidade, conforme pode-se observar

na Figura 2.40 (YEH et al. 2015).

Figura 2.41 Comparação da estabilidade de membranas de GO produzidas pelo método filtração assistida a vácuo em substrato de teflon e de AAO. (Adaptada de YEH et al., 2015)

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Os cátions multivalentes se mostram promissores para a obtenção de membranas

mais estáveis e para a remoção de certos poluentes; como matéria orgânica e até

mesmo alguns tipos íons (CHEN et al. 2017), mas na presença de cátions

monovalentes, como o Na+, as membranas perdem sua estabilidade, conforme

Figura 2.41. Assim, a ligação cruzada com cátions multivalentes se mostra limitada

em dessalinização (YEH et al. 2015; LIU et al. 2017).

Figura 2.42 Teste de estabilidade das membranas após imersão em solução com cátions

monovalentes. (Adaptada de YEH et al., 2015)

A técnica de ligação cruzada realizada com polímeros, apesar de não ter o

problema de perda de estabilidade supracitada, possui problemas de inchaço da

membrana em meio aquoso e aumento da distância interplanar. Tal situação ocorre

tanto em membranas com polímeros quanto nestas com cátions multivalentes.

Autores mais recentes, como Zhao e Zhu (2020), discordam da conclusão de que

a estabilidade das membranas de GO seja devido à ligações químicas diretas entre

os cátions multivalentes e grupos funcionais. Estes autores argumentam que a

estabilidade se deve a interação cátion-π. Este tipo de interação é estudada desde

1981 e é caracterizada pela forte atração de cátions pela nuvem orbital π de sistema

aromático; uma vez que próximo aos grupos funcionais o GO possui maior carga

negativa, a interação cátion-π tenderia ocorrer nesta região. Assim, a origem da

estabilidade seria devido a forças de Vander der Walls e não a ligações químicas

diretas.

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O inchaço de membranas lamelares é algo típico do GO, enquanto camadas de

grafeno puro não apresentam tal fenômeno. Zheng et al. (2017), inspirados no

trabalho de Hu et al. (2013), produziram membranas de GO com ligações cruzadas a

partir de tricloreto de 1,3,5-benzenotricarbonila. Ao imergir a membrana em água

ultrapura e monitorar o aumento da distância interplanar, constatou-se uma variação

de 0,8 nm para cerca de 7 nm. A Figura 2.42 mostra o aumento da distância interplanar

com o tempo.

Figura 2.43 Distância interplanar de uma membrana de GO versus tempo de imersão da membrana em água. (Adaptada de ZHENG et al., 2017)

Zheng et al. (2017) também monitoraram o inchaço (aumento da espessura) e o

aumento da distância interplanar de membranas imersas em diversas soluções.

Interessante observar que numa solução de NaCl quanto maior a concentração deste

menor a distância final entre as camadas, conforme mostra a Figura 2.43.

Figura 2.44 Efeito da imersão da membrana de GO em diversas soluções com concentrações

variadas na distância interplanar. (Adaptada de ZHENG et al. 2017)

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É valido ressaltar que os estudos de Zheng et al. (2017) não incluíram a aplicação

de pressão nas membranas em seus testes.

O inchaço das membranas é algo particular do GO; mesmo outros materiais 2D

não o apresentam. Esse fenômeno pode ser útil na tecnologia de membranas como

um todo, ao se ajustar um espaçamento específico para a substância que se deseja

separar; entretanto tem-se mostrado um desafio na área de dessalinização, uma vez

que diminui a rejeição de cátions monovalentes (ZHENG et al. 2017; KIM et al. 2018).

Para se obter membranas lamelares com menores distâncias interplanares e

maior estabilidade, uma alternativa é a utilização de rGO. Todavia, essencialmente

dois problemas aparecem quando o material é reduzido: a alta impermeabilidade do

rGO e sua tendência de agregação quando disperso em água.

Visando contornar os problemas da redução, H. Huang et al. (2018) propuseram

uma redução parcial do GO. H. Huang et al. (2018) utilizaram diferentes tempos de

redução hidrotérmica, mantendo a temperatura em 160°C e conseguiram observar a

coexistência de GO e rGO. O objetivo foi que o GO, que possui características

anfifílicas, atuasse como dispersante do rGO, que possui uma natureza mais

hidrofóbica, evitando assim a agregação. Dependendo do tempo de redução utilizado,

o rGO pode manter uma distância interplanar adequada para o processo de

dessalinização. A Figura 2.44 fornece os difratogramas de amostras com diferentes

tempos de redução, bem como a coexistência de GO e rGO e um ilustração didática

desta.

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Figura 2.45 Efeitos da mudança estrutural na formação da membrana: a) mudanças no difratograma para diferentes tempos de redução; b) imagem de microscopia eletrônica de transmissão (MET)

mostrando a coexistência de GO e rGO; c) ilustração da coexistência de GO e rGO. (Adaptada de H. HUANG et al., 2018)

Após o uso da membrana na filtragem, a condutividade normalizada do permeante

se mostrou muito baixa, especialmente da membrana sintetizada com rGO reduzido

por duas horas, o que indicou eficiência na remoção dos sais. A permeabilidade da

membrana também foi relativamente alta. Assim, essa técnica se mostra promissora

em relação à dessalinização. A condutividade normalizada e permeabilidade das

dispersões se encontram na Figura 2.45. Nas dispersões de rGO parcialmente

reduzido foram acrescidas pequenas quantidades não especificadas de GO para

sintetizar as membranas (H. HUANG et al., 2018).

Figura 2.46 Comparação da redução parcial em diversos tempos: (a) condutividade (b) permeabilidade. (Adaptada de H.HUANG et al., 2018)

Sun et al. (2015) propuseram a produção de membranas lamelares de GO e titânia

(TO – titanium oxide), a qual também pode ser apresentar como material 2D.

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Utilizando dispersões de GO com 0,1 mg/ml e TO com diferentes concentrações foi

realizada a mistura com igual proporção volumétrica. Parte da mistura sofreu redução

por fotocatálise. Membranas de GO/TO e rGO/TO foram produzidas por filtração a

vácuo e seus resultados comparados.

Sun et al. (2015) observaram que a distância interplanar aumentou após a

redução, todavia a rejeição de sal também aumentou. Tal resultado foi inesperado,

uma vez que com aumento da distância interplanar esperava-se menor rejeição. A

hipótese levantada pelos autores é que o rGO estaria com uma tendência a agregação

nesta mistura, o que originou reduções locais que dificultaram a passagem do sal. A

Figura 2.46 ilustra tal fenômeno.

Figura 2.47 Ilustração da redução do GO quando, na presença de TO, recebe incidência de radiação UV. (Adaptada de SUN et al., 2015)

Deng et al. (2016) deram continuidade ao trabalho de Sun et al. (2015). Os autores

buscaram realizar ligações cruzadas com quitosana (CTS – chitosan), visando manter

o paralelismo das folhas de rGO e TO e obter uma maior rejeição de sal. Apesar de

obterem resultados positivos, a retenção de sal foi pequena para aplicação em

dessalinização de água do mar. A Figura 2.47 mostra seus resultados.

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61

Figura 2.48 Comparação da rejeição de sal (cátions e ânions) por membranas de: GO; rGO/TO; rGO/TO/CTS. (Adaptada de DENG et al., 2016)

2.3.3 MEMBRANAS COMPÓSITAS

As membranas compósitas de grafeno consistem em misturar o grafeno, ou seus

derivados, em membranas já existentes, visando melhorar suas propriedades.

Fathizadeh et al. (2017) utilizou diferentes quantidades de pontos quânticos de

GO dopados com nitrogênio (GOQD-N) em uma membrana de poliamida, produzindo

assim uma membrana de nanocompósito com fina camada seletiva. O objetivo desse

trabalho era que, por meio dos pontos quânticos, a membrana apresentasse maior

permeabilidade sem perda na eficiência de retenção de sais. Maior permeabilidade é

esperada devido ao caráter mais hidrofílico dos pontos quânticos em relação a

poliamida. A dopagem com nitrogênio visava garantir a ocorrência de ligações

químicas entre os pontos quânticos e a poliamida, conforme ilustra a Figura 2.48.

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62

Figura 2.49 Ilustração da polimerização interfacial de um GOQD-N junto a poliamida. (Adaptada de FATHIZADEH et al., 2017)

Trabalhos semelhantes já foram realizados anteriormente, mas segundo

Fathizadeh et al. (2017) esses trabalhos utilizaram derivados de grafeno com

dimensões laterais excessivamente grandes, que superavam a espessura da camada

de poliamida, prejudicando a integridade da estrutura e consequentemente seu

desempenho.

Fathizadeh et al. (2017) variaram a quantidade de pontos quânticos de 0% em

peso até 0,12%. A maior permeabilidade, sem comprometer a rejeição, foi obtida com

0,04%, conforme a Figura 2.49.

Figura 2.50 Variação da permeabilidade e rejeição de sal de acordo com a quantidade de GOQD-N inserida na poliamida. (Adaptada de FATHIZADEH et al., 2017)

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63

Um modelo alternativo de membrana compósita foi desenvolvido por Kim et al.

(2018). Os pesquisadores propuseram o aprisionamento mecânico de óxido de

grafeno num polímero altamente reticulado. O polímero, que assume a forma de

hidrogel, não atua como membrana, tampouco realiza ligações cruzadas, mas, ao

aprisionar as folhas de GO, este impede o inchamento da membrana. A Figura 2.50

ilustra o aprisionamento das folhas GO.

Figura 2.51 Representação esquemática do hidrogel aprisionando o GO. (KIM et al., 2018)

Outro ponto abordado por Kim et al. (2018) é que as membranas de poliamida

com GO tendem a continuar sensíveis ao cloro, devido aos grupamentos aminas nas

mesmas. A Figura 2.51 compara o efeito da exposição ao cloro da membrana

desenvolvida por Kim et al. (2018) e das membranas de PA comerciais. Ao testarem

suas membranas em soluções de NaOCl variando de 200 ppm até 1000 ppm,

observou-se alta estabilidade das membranas, que permaneceram estáveis mesmo

após seis ciclos de imersão na solução de 1000 ppm.

Figura 2.52 Efeito da exposição das membranas de GO aprisionadas em hidrogel ao cloro: a) fluxo de água; b) rejeição de sal e c) efeito do número de lavagens no fluxo de água e rejeição de sal.

(KIM et al., 2018)

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64

2.4 CONSIDERAÇÕES

A revisão bibliográfica mostra que a pesquisa em membranas de grafeno é um

campo em desenvolvimento. Do ponto de vista de aplicações industriais existem

muitos resultados promissores, mas também diversos desafios a serem superados.

Tendo em vista que o presente trabalho é o primeiro a ser realizado no IME, optou-

se por produzir membranas lamelares de GO e rGO por meio do método de filtração

assistida a vácuo. Essa opção foi realizada por ser a que apresenta menor

complexidade em termos de equipamentos (TSOU et al., 2015). O capítulo

MATERIAIS E MÉTODOS descreve mais detalhadamente os procedimentos e

materiais utilizados, bem como a função de cada etapa empregada.

Visando melhor comparação entre as diversas referencias da literatura, a

Tabela 2.3 foi montada com alguns dos principais trabalhos pesquisados,

padronizando-se a unidade de permeabilidade.

Tabela 2.3 Comparação de diversas membranas a base de grafeno Tipo de

membrana Material

Permeabilidade (L/m2h.bar)

Poluente Rejeição

(%) Referência

Composta N-GOQD/ poliamida

1,84 NaCl 95 Fathizadeh et al., 2017

Lamelar rGO/TO/CTS 7 NaCl 25 Deng et al.,

2016

Composta GO/hidrogel 3,56 NaCl 98,5 Kim et al.,

2018

Nanoporosa Grafeno 252 KCl 100 Surwade

et al., 2015

Lamelar GO/

polidopamina 8,12 NaCl 25

Hu e Mi, 2013

Lamelar GO/CTS 0,73 Azul de metileno

95 Griggs

et al., 2019

Lamelar GO (folhas

pequenas)/La3+ 30

Laranja de

metileno 93

Nie et al., 2020

Lamelar GO (folhas

grandes)/La3+ 25

Fucsina ácida

97 Nie et al.,

2020

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65

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 MATERIAIS

3.1.1 PRODUÇÃO DAS DISPERSÕES DE GO E narGO

Para a produção das dispersões de GO, narGO e arGO os seguintes materiais

foram utilizados:

grafite, fornecido pela Graflake 99550 +50 mesh, da Nacional de Grafite;

ácido sulfúrico P.A. 98% (H2SO4), fornecido pelo B Herzog;

nitrato de sódio P.A. (NaNO3), fornecido pela Vetec;

permanganato de potássio 99,3% (KMnO4), fornecido pela Vetec;

peróxido de hidrogênio P.A. 32% (H2O2), fornecido pela Vetec;

água deionizada (H2O);

hidróxido de amônio P.A. 29% (NH4OH), fornecido pela Vetec;

ácido ascórbico P.A. 99% (C6H8O6), fornecido pela Synth;

poli (4-estirenosulfonato de sódio) 30% (PSS), massa molecular

200.000 g/mol, fornecido pela Sigma-Aldrich.

3.1.2 MEMBRANAS A BASE DE GRAFENO

Para a produção das membranas a base de grafeno os seguintes materiais foram

utilizados:

dispersão de GO, produzida conforme procedimento descrito no item 3.2;

dispersão de narGO, produzida conforme procedimento descrito no item 3.3;

ácido ascórbico P.A. 99% (C6H8O6), fornecido pela Synth;

água deionizada (H2O);

membrana de acetato de celulose, utilizada como substrato poroso para

deposição da camada seletiva de grafeno, com diâmetro de 25 mm e poros

de 0,22 µm. Fornecida pela empresa Unifil, Certificado de Qualidade

apresentado no Anexo II.

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3.1.3 TESTE DE PERMEAÇÃO

Para a realização dos testes de permeação e condutividade, os seguintes

materiais foram utilizados:

sulfato de sódio anidro P.A. (NaSO4), da ISOFAR;

cloreto de sódio P.A. (NaCl), da ISOFAR;

célula de permeação;

cilindro de nitrogênio de alta pureza (99,9%);

amido de milho P.A. (C6H10O5), da VETEC;

água destilada;

azul de anilina comercial;

condutivímetro da marca Biocrystal, modelo 7A04;

turbidímetro da marca Digimed, modelo DM-TU.

3.2 PRODUÇÃO DE GO

Dispersões de óxido de grafeno (GO) foram produzidas baseando-se na

modificação do método de Hummers descrito por Rourke et al. (2011). Brevemente,

5 g de grafite em flocos Graflake 99550, fornecidos pela empresa Nacional de Grafite,

e 4,5 g de nitrato de potássio foram imersos em 338 ml de ácido sulfúrico com

concentração de 98%.

A dispersão foi realizada em um béquer imerso em uma bacia com gelo. Um

agitador magnético homogeneizou a mistura durante 10 min. Posteriormente, foram

adicionadas 22,5 g de permanganato de potássio, divididos em 12 partes com

intervalos de 10 min; assim deu-se início a etapa de oxidação, que perduroupor 7 dias

sob agitação magnética.

Com o objetivo de se iniciar a esfoliação, que ocorre quando o óxido de grafite

está na presença de água, foram adicionados 550 ml de ácido sulfúrico diluído a 5%.

A adição desse volume de ácido foi feita lentamente, tendo levado aproximadamente

uma hora de gotejamento com auxílio de um funil de separação. A mistura foi então

agitada por três horas.

Visando parar qualquer reação residual foram adicionadas 15 g de peróxido de

hidrogênio a 30%, permanecendo 2 h em agitação magnética.

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Por fim, foi necessária uma etapa de centrifugação para retirada do excesso de

reagentes (purificação). Tal etapa foi realizada por centrifugações a 9500 rpm em uma

centrífuga Hettich Centrifugen rotina 420R, pertencente ao Instituto Nacional de

Tecnologia (INT). Foram 12 lavagens do material em uma solução de ácido sulfúrico

diluído a 5% e peróxido de hidrogênio (30%) e mais 4 lavagens com água deionizada

(DI). A Figura 3.1 apresenta um esquema da síntese do GO.

Figura 3.53 Sequência das etapas da síntese do GO.

3.3 PRODUÇÃO DE NARGO

Para redução do GO, a dispersão foi diluída em água DI para a concentração

aproximada de 1,8 mg/ml, uma vez que concentrações superiores a 2 mg/ml têm maior

tendência a resultar em agregação das folhas de rGO após a redução, em virtude de

o rGO ser hidrofóbico. Para quantificar a quantidade de água DI a ser utilizada foi

usada a equação 3.1.

𝐶1𝑉1 = 𝐶2𝑉2 EQ 3.1

em que:

C1 = Concentração inicial;

V1 = Volume inicial;

C2 = Concentração final;

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V2 = Volume final.

O GO foi misturado ao PSS numa proporção de massa de PSS:GO=10:1, de

modo a garantir um excesso do polímero PSS, que atua como um dispersante do rGO

em água, evitando sua agregação. O PSS utilizado possui massa específica de

1147,1 mg/ml, sendo que o material utilizado foi uma solução com fração de massa

de PSS propriamente dito e os outros 70% de água, conforme rótulo do produto. Para

calcular o volume de solução de PSS necessário foi utilizada a equação 3.2.

𝑉𝑃𝑆𝑆 = 10 ∗ 𝑉𝐺𝑂 ∗ 𝐶𝐺𝑂/(𝑊𝑃𝑆𝑆/100) EQ 3.2

em que:

VPSS = Volume de solução de PSS;

VGO = Volume de GO;

CGO = Concentração de GO;

WPSS = fração em massa de PSS em água (30 g PSS em 100 g = 100 mL de água).

A mistura foi mantida por 15 minutos sob agitação magnética. Ácido ascórbico

(AA) em forma de pó foi acrescido à mistura em proporção mássica AA:GO= 7:1,

seguido de mais 15 minutos de agitação magnética.

Para auxiliar na redução, no sentido de evitar agregação, o valor do pH foi

aumentado para aproximadamente 10; para isso foi gotejado hidróxido de amônio na

mistura enquanto o valor do pH era monitorado. A solução foi então selada, em um

frasco de vidro, e levada ao forno a 80°C por 72 h. A etapa de aquecimento na estufa

tem como objetivo acelerar a cinética da reação de redução.

Por fim, foram realizadas 9 lavagens a 20.000 rpm para retirar o excesso dos

reagentes e do polímero. A centrífuga utilizada foi da marca HITACHI, modelo CR22N,

e pertencente ao NUMPEX-BIO (Núcleo Multidisciplinar de Pesquisa UFRJ – Xerém

em Biologia). A Figura 3.2 apresenta um esquema do processo de redução do narGO.

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Figura 3.54 Sequência das etapas da síntese do narGO.

3.4 PRODUÇÃO DE ARGO

Visando evitar os problemas de estabilidade das membranas de GO e de rGO não

agregante, que poderia ser causado pela presença de PSS, que é solúvel em água,

foi produzido o rGO agregante. O objetivo foi o de depositar o rGO no substrato

quando aquele estivesse na iminência de agregação, com isso procurando-se obter

uma membrana mais estável.

Dispersões de GO foram diluídas de 3,6 mg/ml para 1 e 0,5 mg/ml, seguindo a

equação 3.1. Para homogeneização da dispersão, esta foi mantida sob agitação

magnética por cerca de 15 minutos. Após a homogeneização AA foi acrescido à

dispersão em proporção mássica AA:GO= 7:1, seguido de mais 15 minutos de

agitação magnética.

Após a homogeneização da mistura GO/AA, esta foi aquecida por meio de uma

placa quente, mantendo-se a agitação magnética, para, após um tempo

preestabelecido de aquecimento em temperatura também preestabelecida, ser

utilizada para a produção de membranas. Maiores detalhes sobre o tempo e a

temperatura de aquecimento estão disponíveis na Tabela 3.1, presente na próxima

seção.

O objetivo do aquecimento é o de aumentar a cinética da reação de redução

causada pelo AA. A temperatura da mistura foi monitorada por meio de um

termômetro imerso na nesta, as mesmas tenderam a 60°C, sendo que a placa foi

mantida a 100°C. A redução foi observada visualmente por meio da mudança de

coloração. A Figura 3.3 apresenta um esquema do processo de redução do arGO.

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Figura 3.55 Passos da síntese do arGO.

Uma vez que a perda de calor foi alterada de acordo com o volume da mistura e

tipo de béquer, foi estabelecido o uso de 40 mL da mistura de GO/AA e um béquer de

50 ml foi reservado para este procedimento.

3.5 PRODUÇÃO DAS MEMBRANAS

O foco do presente trabalho foi a produção de membranas lamelares de GO, rGO

não agregante e rGO agregante. O método escolhido para tal finalidade foi o de

filtração assistida a vácuo.

O substrato para deposição dos materiais consiste em uma membrana MF feita

de acetato de celulose (CA – cellulose acetate), conforme Figura 3.4, com poro

superficial efetivo de 0,2 µm e diâmetro de 25 mm, produzida pela empresa Unifil.

Figura 3.56 Fotografia da membrana de CA utilizada como substrato poroso para deposição da camada seletiva de grafeno.

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71

Inicialmente foi montado um sistema com kitassato e funil de Buncher, conforme

esquematizado na Figura 3.5.

Figura 3.57 Ilustração da montagem do sistema de produção das membranas (Adaptada de BERETTA et al., 2016).

Esse sistema acarretou problemas na morfologia das membranas, uma vez que

marcas causadas pelos orifícios do funil de Buncher se faziam presentes. Esse defeito

de morfologia causa fluxo preferencial e consequente perda da área efetiva da

membrana.

Diversas tentativas foram realizadas até a solução do problema de morfologia das

membranas. Em um primeiro momento houve a tentativa de controlar o fluxo de ar

durante o bombeamento, pois se supunha que diminuindo a velocidade de

bombeamento a membrana não se deformaria; assim, uma válvula agulha foi

instalada e o vácuo realizado de maneira controlada. Tal caminho não mostrou

nenhuma mudança perceptível na morfologia das membranas.

Uma segunda tentativa foi recortar um pedaço de uma malha (silk screen) e utilizá-

la como suporte para evitar a deformação do substrato. Apesar de ter ocorrido uma

amenização da deformação do substrato, este fenômeno ainda ocorria, sendo que a

não completa eliminação do fenômeno foi atribuída tanto ao diâmetro dos furos do

funil de buncher (2 mm) quanto à baixa resistência mecânica do silk screen.

Por fim, uma peça em teflon foi projetada e usinada, com definição de furos

menores na parte do suporte (1 mm), sendo adaptada dentro de um funil maior. Essa

peça desenvolvida no presente trabalho, em conjunto com um pedaço de suporte de

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non-woven, retirado de um módulo de osmose inversa industrial, permitiram a síntese

de membranas com distribuição uniforme da camada de grafeno formada pelo método

de filtração assistida a vácuo. O non-woven foi utilizado em lugar do silk devido a sua

maior resistência mecânica, sem deformar o substrato de CA na parte dos furos e sem

oferecer aumento na resistência a permeação da dispersão de grafeno. A Figura 3.6

mostra a diferença na homogeneidade da camada de grafeno das membranas obtidas

antes e depois da confecção da peça de teflon, avanço importante no presente

trabalho. A mesma figura também mostra o non-woven e uma imagem de topo da

peça de teflon usinada.

Figura 3.58 Diferença de morfologia das membranas a) método inicial; b) método final; c) non-woven;

e d) imagem de topo da peça de teflon usinada.

Uma outra motivação para a produção da peça de teflon foi o de obter uma maior

velocidade de produção das membranas, uma vez que com o funil de Buncher apenas

uma membrana poderia ser sintetizada por vez, enquanto com a peça de teflon até

quatro membranas poderiam ser produzidas, sendo que foram usinadas quatro casas

para colocação dos substratos de CA. Uma das casas se mostrou defeituosa, a qual

apresentou um diâmetro um pouco maior que as demais, e assim sua vedação ficou

comprometida, sendo, portanto, selada. Assim foi possível produzir até três

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membranas por vez no sistema adaptado. A Figura 3.7 mostra a montagem final do

sistema.

Figura 3.59 Sistema final de produção de membranas.

Uma vez que a bomba foi conectada ao kitassato e a peça de teflon foi fixada, os

seguintes passos foram seguidos para a deposição eficiente do material:

alocação de um suporte mecânico para não deformação do substrato; no

presente trabalho tal suporte consistiu em um non-woven (separador de uma

célula de OI);

alocação do substrato;

alocação de anel de vedação (o-ring);

aprisionamento mecânico, que no presente trabalho consistiu no uso de partes

seccionadas de um cano de PVC pressionados sobre o o-ring e fixados por

atrito na peça de teflon.

acionamento da bomba;

colocação da dispersão sobre os substratos de CA, acondicionados nas casas

de teflon sobre o funil de Buncher.

Foram produzidos 90 tipos de membranas, considerando as de GO, rGO

agregante e rGO não agregante. As membranas de GO e rGO não agregante variaram

em concentração, volume de dispersão e temperatura de tratamento térmico,

totalizando 40 tipos de membrana de GO e 40 tipos de membranas de rGO não

agregante, conforme Anexo I do presente trabalho. As membranas de rGO agregante

totalizaram dez tipos, sendo que a Tabela 3.1 esquematiza estas últimas. Todas as

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membranas de rGO não agregante foram produzidas utilizando 2 ml de dispersão,

com exceção da membrana 9 que utilizou 5 ml.

Tabela 3.4 Condições de produção das membranas de arGO.

Condição Concentração

de GO

(mg/ml)

Tempo de

aquecimento

(min)

Temperatura

de

aquecimento

(°C)

1 0,5 29 100

2 0,5 35 ̶

3 0,5 29 120

4 0,5 29 ̶

5 1,0 17 100

6 1,0 17 ̶

7 1,0 17 120

8 1,0 23 ̶

9 0,1 55 ̶

10 1,8 12 ̶

Durante a etapa de aquecimento na placa quente, a temperatura foi monitorada e

seus valores plotados com auxílio do software Origin 8, conforme Figura 3.8. Pode-se

observar que não há grandes diferenças entre as curvas das misturas com GO a 0,5

ou 1 mg/ml; as temperaturas se mantiveram estáveis ao atingir valores aproximados

de 58°C.

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Figura 3.60 Curvas térmicas durante o aquecimento da produção das dispersões de arGO nas diferentes condições investigadas.

3.6 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS DE GO/NARGO A PARTIR DAS

DISPERSÕES AQUOSAS.

.

A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) foi realizada por meio do

equipamento do Laboratório de Microscopia Eletrônica do IME, modelo QUANTA FEG

250 da marca FEI.

A Difração de Raios X (DRX) foi realizada no Laboratório de Raios X da

Companhia Brasileira de Recursos Minerais (CPRM). O equipamento utilizado foi do

modelo X’Pert Pro MPD da PANalytical com radiação CuKα (λ=0,154 nm), sendo que

a tensão utilizada foi de 40 KV e a corrente 40 mA. A varredura 2θ variou de 4 a 40°,

com passo de 0,001° e tempo por passo de 100 s. Os gráficos foram plotados

utilizando-se o software Origin 8.

A Espectroscopia Raman foi realizada junto à Pontifícia Universidade Católica do

Rio de Janeiro (PUC-Rio), em um espectrômetro de micro-Raman (NT-MDT, NTEGRA

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SPECTRA), equipado com um detector CCD e um laser de estado sólido que produz

uma excitação de 473 nm, com tempo de irradiação utilizado de 100 s. Os gráficos

foram plotados utilizando-se o software Origin 8.

Para análise de DRX e MEV, tanto GO quanto rGO foram depositados sobre silício

monocristalino e para a espectroscopia Raman foram depositados sobre vidro.

Antes da deposição, os substratos foram limpos e hidrofilizados. Para a limpeza

os substratos foram imersos respectivamente nas seguintes soluções: água DI;

mistura de água DI e sabão neutro; acetona P.A.; álcool isopropílico P.A.; água DI.

Em cada caso os substratos estavam sob efeito de ultrassonicação, com temperatura

de 55°C.

Para a etapa de hidrofilização, a água ultrapura foi aquecida até cerca de 80°C

em placa quente. Após o aquecimento foram adicionados peróxido de hidrogênio e

hidróxido de amônio. A proporção volumétrica de H2O:H2O2:NH4OH foi de 5:1:1 (LIMA

et al., 2018). Os substratos foram imersos na mistura e deixados por 10 min.

Nas amostras destinadas ao DRX e à espectroscopia Raman, o GO ou rGO é

gotejado no substrato e seco a vácuo. No caso do DRX é importante que haja uma

maior espessura de material; portanto tal procedimento foi repetido três vezes. No

caso das amostras para MEV as dispersões foram diluídas em água DI para

concentrações inferiores a 1 mg/ml e, em seguida, foi realizado um spin-coating no

CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), na sala limpa do LabNano,

equipamento do tipo KW-4A, 12170 – AB, SPI Supplies.

3.7 CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS

O foco das análises foram as condições 1 a 8 das membranas de arGO e do

substrato. Foram utilizadas as técnicas de MEV, DRX, FT-IR e TGA. Foram também

avaliadas as características de permeabilidade, compactação e rejeição, sendo a

rejeição avaliada para amido de milho no caso do substrato; no caso das membranas

as rejeições avaliadas foram para cloreto de sódio, sulfato de sódio e azul de anilina.

A microscopia eletrônica de varredura foi realizada por meio do equipamento do

Laboratório de Microscopia Eletrônica do IME, com o MEV modelo QUANTA FEG 250

da marca FEI.

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As análises de DRX foram realizadas no Laboratório de Difração de Raios X do

IME, com o equipamento X’Pert pro MPD PANalytical, fonte Cu Kα, tensão 40 kV e

corrente de 40mA. A varredura em θ-2θ acoplado foi realizada no intervalo angular

entre 5 e 40°. As análises dos difratogramas foram realizadas por meio dos softwares

X’Pert HighScore Plus e Origin 8.

A análise termogravimétrica (TGA) foi realizada com apoio do Centro Tecnológico

do Exército (CTEx), utilizando um analisador TG 209 F1 Libra, sendo utilizada

atmosfera de nitrogênio, aquecimento até 800°C, tendo uma rampa de 10°C/min.

A análise de FTIR foi realizada com apoio do Centro Tecnológico do Exército

(CTEx), foi utilizado o equipamento Nicolet iS50 FT-IR da Thermo Scientific, num

espectro de 4000 a 400 cm-1, modo ATR.

Para a realização dos testes de permeabilidade e dessalinização, foi projetada e

construída uma célula de permeação em aço inoxidável, a qual foi conectada a um

cilindro de nitrogênio para controle de pressão. Sendo a pressão utilizada para o teste

de dessalinização de 15 bar; para a retenção de amido de milho e anilina a pressão

utilizada foi de 2 bar. A Figura 3.9 mostra a célula e o cilindro.

Figura 3.61: a) célula de permeação e b) cilindro de nitrogênio.

Para os testes de rejeição foram preparadas soluções de amido de milho, sulfato

de sódio e cloreto de sódio em concentrações de 2 g/L, além de soluções de azul de

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anilina a 20 ppm. Uma vez que as concentrações de sulfato e cloreto de sódio

possuem uma relação linear com a condutividade, enquanto a concentração do amido

de milho e de azul de anilina possuem relação linear com a turbidez e transmitância,

a rejeição pode ser calculada pela EQ 2.3.

Para a rejeição de azul de anilina, as membranas de narGO (Condição 47 do

Anexo I) e arGO (condição 6 da Tabela 3.1), bem como o substrato de CA, foram

caracterizados em testes de rejeição de azul de anilina. Antes dos testes propriamente

ditos, as membranas eram compactadas previamente em testes de permeação com

água destilada.

Em primeiro lugar, objetivou-se criar uma curva de calibração, que mostrasse a

transmitância pela concentração de azul de anilina. Assim, foram preparadas soluções

com diferentes concentrações: 5; 10; 15; 20 e 25 ppm, conforme analise visual

apresentada na foto da Figura 3.10.

Figura 3.62 Fotos das soluções de azul de anilina preparada em diferentes concentrações visando obter uma curva de calibração.

As amostras foram então analisadas no espectrofotômetro do IME. Uma cubeta

de quartzo com água DI foi utilizada como branco. A Figura 3.11 mostra o espectro de

transmitância das diversas concentrações tendo o valor do branco já descontado.

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79

Figura 3.63 Espectro UV-visível das soluções de azul de anilina.

Uma maior absorbância foi observada em torno de 578 nm. Assim, a partir dos

valores de transmitância observados nesse comprimento de onda foi montada a curva

de calibração, conforme Figura 3.12.

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80

Figura 3.64 Curva de calibração da azul de anilina.

Utilizou-se a solução de azul de anilina com concentração igual a 20 ppm como

alimentação no teste de rejeição das membranas. No caso das membranas de narGO,

foi caracterizada a condição 47, apresentada na tabela presente no Anexo I. Já para

as membranas de arGO, foi escolhida a condição 6 de síntese, descrita na Tabela 3.1.

Adicionalmente, um substrato de acetato de celulose também teve sua rejeição ao

soluto azul de anilina determinada.

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81

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PRODUÇÃO DAS MEMBRANAS

Além do problema da morfologia apresentado na Seção 3.4, as membranas de

GO e rGO não agregante apresentaram problemas de estabilidade em água, razão

pela qual foram produzidas as membranas de rGO agregante. Para testar a

estabilidade das membranas, estas foram molhadas e tocadas com um papel toalha,

sendo que a Figura 4.1 mostra o resultando do teste, evidenciando assim que a

membrana de rGO agregante é significativamente mais estável.

Figura 4.65 membranas de: a) GO seca; b) GO molhada; c) rGO não agregante seca; d) rGO não

agregante molhada; e) rGO agregante seca; f) rGO agregante molhada.

4.1.1 ESTUDO PRÉVIO DA DEGRADAÇÃO TÉRMICA DAS MEMBRANAS

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82

Amostras de membranas produzidas a partir de GO, narGO e substratos

passaram por um tratamento térmico de: 80, 100 e 150°C. A Figura 4.2 apresenta

fotos das amostras investigadas, bem como o volume e concentração das dispersões

a partir dos quais foram produzidas.

Figura 4.66 Membranas de GO, narGO e substrato a) sem tratamento térmico; b) com tratamento a 80°C; c) com tratamento a 100°C; d) com tratamento a 150°C e) posição relativa das amostras na FIG. 4.2 (a)-(d) e as respectivas condições de preparo (volume e concentração da dispersão) para

cada amostra.

No tratamento térmico de 150°C foi observado que as membranas de GO

escureceram significativamente, o que indica redução do material. Adicionalmente as

membranas também se tornaram quebradiças e se curvaram. O efeito da fragilização

foi sensivelmente maior nas membranas de GO em relação ao narGO, bem como

foram maiores em concentrações superiores. Já no substrato de CA virgem não foi

observado nenhuma fragilização. De fato, o certificado de análise de qualidade do

substrato informa que este pode suportar temperaturas de até 180°C, conforme

Anexo II do presente trabalho. Aparentemente, a fragilização ocorre prioritariamente

pela redução do GO.

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83

A partir dos resultados supracitados foi determinado que as membranas de rGO

agregante seriam divididas em três grupos, em relação ao tratamento térmico: as que

não passariam por nenhum tratamento; as que seriam tratadas a 100°C; e as que

seriam tratadas a 120°C. A Tabela 3.1 presente na seção 3 do presente trabalho

elucida mais detalhadamente as condições e o tratamento térmico das membranas.

Foi observado que após o aquecimento, seja a 100 ou 120°C os substratos

exibiram manchas que se assemelhavam a um dano térmico localizado; conforme

Figura 4.3. Tais danos foram inicialmente atribuídos a alguma questão essencialmente

térmica; entretanto, após alguns dias, as membranas de rGO não agregante que não

passaram por tratamento térmico também mostraram sinais semelhantes de uma

aparente degradação.

Figura 4.67 Dano químico no substrato de CA após tratamento térmico das membranas de arGO.

A hipótese levantada é de que a degradação está associada ao processo de

redução do GO quando em contato com o substrato. Nas membranas de GO que

passaram por tratamento térmico acontece redução térmica do GO; na membrana de

arGO este é depositado no substrato imediatamente após o preparo da dispersão,

visando que a agregação ocorra sobre o substrato; assim o processo de redução

química ainda está ocorrendo e uma reação residual parece permanecer. Na

membrana de narGO a dispersão foi mantida por 72 horas no forno, conforme descrito

na seção 3.2 do presente trabalho; assim pouco ou nenhum GO permaneceria em sua

forma não reduzida quando depositado no substrato, explicando porque

aparentemente a degradação é menor neste tipo de membrana do que nas outras.

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84

Outro ponto observado nas membranas de arGO foi que este não tinha uma

aderência tão boa ao substrato de CA, conforme Figura 4.4, o que pode estar

relacionado às tensões térmicas resultantes da diferença de coeficiente de expansão

térmica entre o arGO e o CA e ao fato de a dispersão de arGO ser aplicada aquecida,

diferentemente da de narGO, resultando em uma maior oscilação térmica.

Figura 4.68 Foto que demonstra aderência comprometida entre a camada arGO e o substrato de CA

utilizado. Membrana produzida pela condição 4.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DAS DISPERSÕES

4.2.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X

Por meio do difratograma da amostra de GO foi observado, conforme Figura 4.5,

que o pico de difração de raios X referente aos planos (002), característico do material,

surge com altura máxima na posição 2θ igual a 7,37°, que pela lei de Bragg irá

corresponder a uma distância interplanar de 1,199 nm, considerando a radiação

emitida por um tubo de cobre (CuK= 0,154 nm).

O grafeno com mais de uma camada e o grafite possuem distâncias interplanares

de aproximadamente 0,34 nm, enquanto o GO ou grafite oxidado possuem uma

distância interplanar de 0,7 nm ou superior, aumentando com o nível de oxidação

(SEEHRA et al., 2015). Assim, o difratograma do GO mostra que a oxidação, que é

devido principalmente ao permanganato de potássio utilizado na variação do método

de Hummers, foi realizada com sucesso.

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A análise do narGO, conforme Figura 4.5, possui dificuldades observacionais,

pois a redução, em geral, traz um excesso de monocamadas, as quais não causam

difração; assim, a intensidade dos picos diminui e tende a se confundir com o ruído.

Apesar das dificuldades, é perceptível o pico referente ao plano (002) no difratograma

da Figura 4.5. O pico desse plano se encontra na posição 2θ igual a 7,37°, quando

referente ao GO. Quando referente ao narGO o pico encontra-se na posição 2θ igual

a 17,813°. Tal mudança demonstra uma redução da distância entre camadas, sendo

a nova distância de 0,498 nm, conforme a lei de Bragg, e é atribuída à retirada dos

grupos funcionais, o que indica que efetivamente houve redução.

Figura 4.69 Difratogramas comparativas das amostras de GO e narGO.

O fato de o narGO ter uma distância interplanar de aproximadamente 0,5 nm é

um sinal promissor. Como já dito anteriormente, Homaeigohar et al. (2017) sugerem

que para aplicações em dessalinização a distância interplanar deve estar entre 0,3 e

0,7 nm. Assim, a distância do narGO obtido se mostra ideal.

4.2.2 ESPECTROSCOPIA RAMAN

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O espectro Raman tanto do GO quanto do narGO expoêm claramente as bandas

D e G, as quais são características dos materiais grafíticos, conforme pode ser

observado na Figura 4.6. Os gráficos foram plotados e normalizados através do

software Origin 8.

Figura 4.70 Espectros Raman comparativos das amostras de GO e narGO.

Os espectros foram individualmente analisados de modo a ser realizada a

deconvolução das bandas e o cálculo de suas áreas, para, então, obter-se a relação

ID/IG, sendo de 1,76 para o GO e 1,62 para o narGO. A redução da relação das bandas

indica diminuição relativa no número de átomos de carbono com hibridização sp³, o

que indica efetiva redução do GO. A Figura 4.7 demostra a deconvolução.

Figura 4.71 Deconvolução das bandas de absorção D e G para cálculo e relação de suas áreas.

4.2.3 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

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87

Na Figura 4.8 são apresentadas as imagens por MEV, geradas por elétrons

secundários, das amostras de GO e narGO. A imagem do GO mostra folhas de alta

transparência, sendo que diversas destas possuem dobras, o que indica a presença

de folhas com alta flexibilidade (com poucas camadas ou monocamadas). Tais

imagens demostram que efetivamente houve esfoliação do material.

Figura 4.72 Imagem de microscopia eletrônica: (a) GO e (b) narGO.

Uma vez que o PSS foi utilizado como dispersante na etapa de redução, existe a

preocupação de excesso desse polímero junto ao rGO. Não é possível ver o contraste

que o PSS geraria nas imagens do rGO. Assim, a imagem por MEV do rGO não

agregante corrobora um nível adequado de não excesso de PSS.

4.3 CARACTERIZAÇÃO DAS MEMBRANAS

4.3.1 TESTE DE COMPACTAÇÃO

A compactação é a deformação mecânica que ocorre em uma membrana ao se

aplicar pressão. Durante esse processo a estrutura porosa se densifica e

consequentemente o fluxo diminui; após o relaxamento, com a retirada da pressão, o

fluxo, em geral, não retornará ao seu valor original, por isso o processo é tido como

irreversível (MULDER, 1996). Assim, antes da passagem da solução que se deseja

filtrar, é necessário realizar a etapa de compactação com água DI, principalmente para

determinação das rejeições das membranas em condições de fluxo mais estáveis.

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88

Antes dos testes com as membranas contendo grafeno, para conhecimento das

características de transporte do substrato de CA, foi realizada a sua caracterização

utilizando uma pressão de operação 2 bar. A Figura 4.9 apresenta os resultados

obtidos da compactação do substrato. Pela análise do gráfico, é possível observar que

a compactação de uma hora é suficiente para a acomodação das tensões, obtendo

fluxo relativamente constante. Assim, antes de se testar as rejeições das membranas,

foi estabelecido o procedimento de compactação pela permeação de água destilada

por uma hora.

Figura 4.73 Curva de fluxo versus tempo para o substrato de CA, demonstrando o efeito da compactação.

Visando verificar se o tratamento térmico poderia danificar o fluxo do substrato de

CA, duas amostras foram aquecidas a 100°C e compactadas, bem como um segundo

substrato virgem foi submetido também a compactação. A Figura 4.10 exibe as três

curvas obtidas, com representação também da curva de compactação do substrato

de CA (Figura 4.9). Como pode ser observado, os fluxos começam altos e

rapidamente diminuem, como esperado durante a compactação. Um dos substratos

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de CA. aquecidos apresentou um fluxo inicial sensivelmente maior que os demais

substratos, entretanto as curvas logo convergiram, assim é razoável supor que o

tratamento de 100°C não afetou as características de permeação do CA. A análise

termogravimétrica, que será posteriormente explicitada no presente trabalho,

corrobora com esse resultado observado.

Figura 4.74 Curva de fluxo versus tempo para os substratos de CA aquecidos e à temperatura ambiente.

.

4.3.2 DIFRAÇÃO DE RAIOS X

A Figura 4.11 mostra o difratograma das membranas de arGO e do substrato de

CA. Observa-se em todos os difratogramas um largo pico na região 2θ° de 6 a 13°,

bem como diversos picos de baixa intensidade ao longo dos difratogramas,

especialmente no de condição 6.

A região 2θ° de 6 a 13° compreende o local onde se espera ver o pico referente

ao plano (002) do GO. Apesar de haver uma sobreposição com o sinal do substrato,

a intensidade do sinal das membranas, bem como a visível sobreposição de picos em

algumas condições (4, 6 e 8), demonstram que existe GO residual. Esse resultado é

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esperado pois o tempo de redução utilizado relativamente curto em comparação com

o procedimento utilizado para o narGO (72 h versus inferior a 1 h) visava evitar a

agregação do material em dispersão. Caso houvesse um alto grau de redução, isso

dificultaria sua utilização para formar a camada seletiva da membrana, em virtude de

sua agregação.

Esperava-se encontrar um segundo pico entre 15 e 23°. Esse pico corresponderia

ao plano (002) do arGO. Uma vez que não existe pico pronunciando na região do

arGO, mas efetivamente houve redução do material, o que é comprovado pela

agregação e coloração, entende-se que o material reduzido obteve alto grau de

esfoliação, resultando, provavelmente, em folhas com poucas camadas ou

monocamadas.

No processo de redução, os grupos funcionais se desprendem do plano basal na

forma de gás, e a expansão deste tende a esfoliar o material, gerando maior número

de monocamadas. A redução por AA, com a cinética acelerada pelo aquecimento da

dispersão, parece fornecer energia suficiente para uma esfoliação até o nível de

monocamadas.

Figura 4.75 Difratogramas das membranas de arGO nas diferentes condições de produção, conforme Tab. 3.1, e substrato de CA.

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91

Os picos de baixa intensidade parecem estar associados a presença de AA

residual, conforme o difratograma apresentado na Figura 4.12.

Figura 4.76 Difratogramas do AA e da membrana de arGO produzida na condição 6 (Tab. 3.1).

4.3.3 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

Os substratos de CA foram observados por MEV para análise da morfologia,

medição de poros e medição de espessura. Os resultados obtidos são apresentados

na Figura 4.13.

O certificado de análise do substrato informa que o poro possui diâmetro igual a

0,2 µm. Entretanto, foram encontrados poros superiores 2 µm em ambos os lados da

amostra. O tamanho do poro e a morfologia apresentada indicam que o substrato é

uma membrana porosa isotrópica (LEE et al., 2016), com a retenção de partículas

entre 0,2 e 3 µm acontecendo ao longo da seção transversal do material, no que é

conhecido como filtração por profundidade (BAKER, 2012).

Tal característica morfológica observada não é desejável para uso na produção

de membranas lamelares assistidas a vácuo. A apresentação de poros maiores na

superfície das membranas pode promover a penetração de partículas de grafeno ao

longo da seção do substrato, o que afeta negativamente no fluxo das membranas de

grafeno produzidas, oferecendo resistência ao transporte. Adicionalmente, pode

Inte

nsid

ad

e (

U.A

.)

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92

ocorrer ainda perda de grafeno durante o processo de deposição da sua camada

seletiva.

Figura 4.77 Fotomicrografias do substrato de CA em diferentes regiões: a) lado inferior; b) medida de

poros no lado inferior; c) lado superior; d) medida de poros no lado superior; e) medida da seção transversal; f) seção transversal.

Para visualização da seção transversal, o substrato de CA e as membranas

contendo grafeno eram imersas em nitrogênio líquido, para realização de fratura frágil,

mantendo a morfologia original da amostra e sua posterior visualização e medição no

MEV. Na Figura 4.13 (e) pode ser observado, pela fotomicrografia da seção

transversal, que a espessura total do substrato de CA é igual a 123,3 m, valor típico

a) b)

c) d)

)

e) f)

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93

de membranas planas microporosas. Na Figura 4.14 podem ser observadas as

fotomicrografias das membranas de arGO produzidas.

Figura 4.78 Seção transversal das membranas de arGO com aumento de 30.000× a) condição 1; b) condição 2; c) condição 3; d) condição 4; e) condição 5; f) condição 6; g) condição 7;

h) condição 8, conforme Tab. 3.1.

a) b)

c) d)

f)

)

e)

g) h)

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94

Pode-se observar maior espessura nas membranas de condições 5 a 8 em

relação as membranas de 1 a 4. Para melhor visualização desses dados foi

inicialmente feito um diagrama de caixa, conforme Figura 4.15.

Figura 4.79 Diagrama de caixa das espessuras das membranas de arGO por condição de fabricação.

Por meio do diagrama de caixa pode-se ver que as membranas com o dobro de

concentração de rGO possuem uma espessura cerca de duas vezes maior, o que

mostra uma relação linear entre concentração da dispersão na produção da

membrana e sua espessura, mantido o tempo constante de filtração assistida a vácuo.

A Tabela 4.1 mostra a média e outros valores estatísticos dos dados; entretanto,

conforme mostra a Figura 4.15, a condição 3 forneceu um ponto fora da curva, o qual

foi descartado na análise estatística dos dados.

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Tabela 4.5 Dados estatísticos da espessura (nm) por condição de fabricação.

Cond1 Cond2 Cond3 Cond4 Cond5 Cond6 Cond7 Cond8

Média 440,4 461,0 458,5 470,0 928,1 929,8 871,3 947,7

Desvio Padrão

24,8 40,1 30,0 24,9 62,5 33,1 69,3 68,4

Mínimo 388,5 398,3 408,0 427,4 825,7 883,9 748,0 815,9

1°Quartil 427,5 437,1 449,2 446,9 903,4 903,4 825,7 908,1

2°Quartil 446,8 456,5 466,3 478,4 932,5 918,0 864,6 947,0

3°Quartil 456,5 490,8 476,0 487,4 981,1 944,7 922,8 981,1

Máximo 476,1 524,5 495,5 501,3 1030,0 998,8 981,1 1069,0

A Tabela 4.1 confirma que as membranas preparadas nas condições 5 a 8

possuem uma espessura aproximadamente duas vezes maior que as membranas

preparadas nas condições 1 a 4. H. Huang et al. (2018) abordam que a espessura da

membrana tende a variar linearmente com a quantidade de material vertido de rGO

utilizado; entretanto, essa abordagem se dá apenas como demonstração matemática

dos dados observados, não foram encontradas referências de uma modelagem física,

discutindo questões de causalidade. Assim, este trabalho se propõe a fazê-la nos

parágrafos seguintes.

A espessura da membrana pode ser modelada como sendo diretamente

proporcional a quantidade e concentração de material utilizado e inversamente

proporcional a área depositada, conforme Equação 4.1.

𝐸 =𝐾𝐶𝑉

𝐴 EQ 4.1

em que:

E= espessura da membrana;

K= constante de proporcionalidade;

C= concentração;

V= volume de material;

A= área de deposição.

Uma vez que a multiplicação da concentração pelo volume incorre na massa de

material utilizado, a Equação pode ser reescrita na forma da Equação 4.2.

𝐸 =𝐾𝑄

𝐴 EQ 4.2

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em que Q= massa do material.

Realizando-se uma análise dimensional, pode-se observar que as dimensões

primitivas da constate de proporcionalidade correspondem ao cubo do comprimento e

ao inverso da massa, conforme indicado na Equação 4.3. Para este trabalho as

unidades utilizadas na constante de proporcionalidade serão nm.mm²/mg.

[𝐸] = 𝐿3𝑀−1 EQ 4.3

Para definir o valor da constante de proporcionalidade a Equação 4.1 foi

rearranjada isolando-se a constate. Assim, esta foi calculada para cada uma das

espessuras médias das membranas; posteriormente foi calculada uma constante

geral com base na média das constantes individuais das amostras. A Tabela 4.2

mostra os valores das constantes bem como dados estatísticos da constante média.

Pode-se observar que o desvio padrão é relativamente pequeno, o que indica

confiabilidade no valor calculado.

Tabela 4.6 Valores e estatística da constante de proporcionalidade K (nm.mm²/mg) Valores de K por condição Estatística do K médio

Condição 1 1,83x105 Média 1,91x105

Condição 2 1,92x105 Desvio Padrão 5,65x103

Condição 3 1,91x105 Mínimo 1,81x105

Condição 4 1,95x105 1°Quartil 1,89x105

Condição 5 1,93x105 2°Quartil 1,92x105

Condição 6 1,93x105 3°Quartil 1,94x105

Condição 7 1,81x105 Máximo 1,97x105

Condição 8 1,97x105

Além da seção transversal, as superfícies das membradas também foram

observadas no MEV, conforme Figura 4.16. Pode-se notar que nas condições com

maior concentração de rGO (condições 5 a 8) foram obtidas maiores densificações e

menores rugosidades do que as membranas com menor concentrações de rGO

(condições 1 a 4). Isto pode ser associado diretamente às maiores espessuras e,

consequentemente, maiores quantidades de folhas que são depositadas nestas

amostras, em comparação com as amostras nas condições 1 a 4. Como o substrato

de CA apresenta uma estrutura porosa e rugosa, as folhas de rGO que vão se

depositando sobre o CA tendem a acompanhar a rugosidade do substrato, em virtude

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do método de produção de filtração a vácuo empregado. À medida que mais folhas

vão sendo depositadas sobre as folhas mais próximas ao substrato, tende-se a

suavizar a superfície observada.

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Figura 4.80 Superfície das membranas com aumento de 20.000X a) condição 1; b) condição 2; c) condição 3; d) condição 4; e) condição 5; f) condição 6; g) condição 7; h) condição 8, conforme

Tab. 3.1.

a) b)

c) d)

e) f)

g) h)

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4.3.4 ANÁLISE TERMOGRAVIMÉTRICA (TGA)

As análises por TGA e DTG (Termogravimetria Derivada), apresentadas na

Figura 4.17, do substrato de CA, demonstram que existe uma perda acentuada de

massa que se inicia em cerca de 288,5°C; têm seu ápice em 365,2°C e tende a se

estabilizar por volta de 439,3°C. Nesse intervalo de temperatura, o suporte perde

cerca de 98,9% de sua massa. Os resultados de degradação são semelhantes a de

outros autores, como KAMAl et al. (2014), que encontraram a faixa de degradação do

acetato de celulose entre 300 e 400°C e ARTHANAREESWARAN et al. (2004) que

observaram uma faixa de 330 a 450°C.

Figura 4.81 Termograma e termograma diferencial do substrato de CA.

Na análise térmica das membranas de arGO, duas regiões de perda de massa

podem ser observadas, conforme apresentado na Figura 4.18. A segunda região de

perda parece corresponder a degradação do substrato, enquanto que para a primeira

região de degradação três hipóteses são inicialmente levantadas, a saber:

1. degradação térmica do rGO depositado;

2. degradação térmica de AA residual;

3. degradação térmica de regiões quimicamente afetadas do substrato.

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100

Figura 4.82 Análise térmica das membranas de arGO produzidas em diferentes condições de síntese: a) Termograma e b) Termograma Diferencial.

Autores como FERNÁNDEZ-MERINO et al. (2008) e PAREDES et al. (2008)

registram perda elevada de massa próxima a 200°C para amostras de GO. Entretanto

a hipótese de degradação do rGO não se sustenta, pois, a quantidade de massa

perdida em algumas amostras ultrapassa 40%. O substrato pesa cerca de 400 mg e

a massa de rGO depositada nas membranas de maior concentração é cerca de 2 mg.

Assim, a perda de massa é muito superior ao que poderia ser perdido por algum GO

residual. A Tabela 4.3 apresenta os picos das curvas DTG e a perda de massa

a)

b)

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101

percentual na região destas, resumindo assim os principais dados do termograma e

do termograma diferencial das membranas.

Tabela 4.7 Principais dados do TGA das membranas.

Temperatura

do

Pico 1

Perda de

massa do

Pico 1

Temperatura

do

Pico 2

Perda de

massa do

Pico 3

Condição1 227,6 17,11 359,8 72,63

Condição2 227,6 20,46 359,4 71,59

Condição3 220,2 42,87 353,9 34,15

Condição4 235,1 14,3 361,5 76,79

Condição5 217,3 38,85 311,8 23,66

Condição6 204,9 47,59 346,9 27,66

Condição7 224,9 36,24 353,6 41,89

Condição8 216,6 41,93 352,8 37,33

A hipótese do AA também não se sustenta: segundo Juhász et al. (2012) o DTG

do AA apresenta três picos referentes a sua degradação, estando os mesmos nas

temperaturas de 221°C; 251°C e 500°C. O primeiro pico das membranas coincide com

o primeiro do AA (251°C), que poderia estar mascarado entre os dois picos das

membranas; entretanto o terceiro pico não aparece, o que sugere que a perda de

massa não é devido ao AA. Ademais, a quantidade de AA utilizada nas dispersões de

GO para sua redução é sete vezes a massa do GO. Ainda que nenhum AA reagisse

na redução, em um suporte de 400 mg seriam vertidos cerca de 14 mg de AA, não

sendo possível a perda de massa detectada corresponder a este material.

A hipótese do primeiro pico na DTG ser decorrente da região térmica

quimicamente afetada do substrato parece ser a mais correta, uma vez que é

esperado que as características deste difiram do substrato virgem. Outro fator que

pode ser observado, e que corrobora esta hipótese, é que existe uma tendência das

amostras com maior perda de massa possuírem seus picos em temperaturas

inferiores; uma degradação mais intensa tenderia afetar uma maior área do substrato

e alterar mais sensivelmente suas propriedades. A Figura 4.19 mostra a tendência

das amostras com maior perda de massa no primeiro pico terem suas ocorrências em

temperaturas inferiores.

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102

Figura 4.83 Perda de massa versus temperatura do pico.

Uma interessante correlação a se observar é que houve tendência das

membranas com maior quantidade de material (condições 5 a 8) sofrerem maior

degradação, o que corrobora a hipótese de que esta ocorre na presença da redução

do GO. A exceção foi a membrana 3, a qual foi a que foi submetida a maior tempo de

tratamento térmico dentre as condições de menor quantidade de material; todavia a

condição 6 não passou por tratamento térmico e ainda assim foi a que sofreu maior

degradação aparente; assim é precipitado tirar conclusões sobre o efeito do

tratamento térmico nessas membranas.

4.3.5 ESPECTROSCOPIA DO INFRAVERMELHO POR TRANSFORMADA DE

FOURIER (FTIR)

As membranas de rGO agregante e o substrato foram analisados pela técnica

espectroscopia do infravermelho médio por transformada de Fourier. Essa técnica é

utilizada para analisar qualitativamente a composição das amostras. Uma vez que

tanto o acetato de celulose como o rGO são essencialmente hidrocarbonetos,

esperam-se espectros de FTIR semelhantes.

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103

A Figura 4.20 traz os espectros de FTIR do substrato e das membranas de arGO.

GHADIM et al. (2014) destacam a banda de absorção em 1407 cm-1 como a faixa de

alongamento de O-H; na presente análise a banda pode ser observada em torno de

1417 cm-1. Para a banda decorrente do grupo C=O PRUNA et al. (2013) e GHADIM

et al. (2014) indicaram respectivamente um pico na região de 1720 cm-1 e 1730 cm-1,

enquanto que na presente análise a banda se encontra próximo de 1740 cm-1. A banda

referente ao grupo C-OH fica próxima de 1290 cm-1, segundo ZHANG et al. (2010); na

presente análise foi observada em 1236 cm-1. Ainda segundo o trabalho de ZHANG

et al. (2010) os grupos C-O-C possuem bandas de absorção em 1155 cm-1, sendo que

na presente análise essa banda se encontra em 1042 cm-1.

Figura 4.84 FTIR das membranas de arGO e substrato de CA.

Pode-se observar que os espectros das condições 1, 2, 4 e 5 foram muito

semelhantes ao espectro do substrato. Suas principais diferenças consistem na

ausência da banda referente ao grupo C=C no substrato e a banda referente ao grupo

O-H aparecer mais estreita no substrato do que nas membranas.

Os espectros das condições 3, 6, 7 e 8 se apresentam sensivelmente diferentes

dos demais, especialmente a condição 6. Nesses espectros há o desaparecimento ou

Sub

1

2

3

4

5

6

7

8

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104

drástica redução de bandas. Uma correlação interessante pode ser feita desses

resultados com a Figura 4.19, que mostra a tendência de maior perda de massa com

menor temperatura de degradação no TGA. Em ambas as análises a condição 6 se

destaca significativamente das demais, no TGA esta foi a que obteve maior perda de

massa (cerca de 48%) e menor temperatura de degradação. A Figura 4.21 compara

as condições que forneceram um espetro peculiar no FTIR com as condições que

tiveram maior perda de massa e menor temperatura de degradação.

Figura 4.85 Comparação da perda de massa observada na análise térmica das condições com

espectro de FTIR discrepantes (destacadas com círculo).

Pode-se observar que as condições que geraram maior discrepância no FTIR

foram aquelas com maior perda percentual de massa com menores temperatura,

sendo que a exceção a essa tendência foi a condição 5. Uma hipótese para a essa

exceção é o fato de que a degradação não é homogênea no substrato, conforme

Figura 4.3. Como as análises foram realizadas em partes cortadas das membranas, e

não em membranas inteiras, é possível que a parte analisada da membrana 5 no FTIR

tenha sofrido menor degradação que a parte analisada no TGA.

Apesar da exceção mostrada na condição 5, pode-se observar forte correlação

entre as condições que indicam degradação pelo TGA e FTIR.

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105

4.3.6 REJEIÇÃO DE AMIDO DE MILHO

Os substratos com e sem tratamento térmico apresentaram rejeições semelhantes

em relação ao amido de milho, 97,7 e 97,2%. Apesar de alta, essa rejeição é menor

do que a esperada para uma membrana de MF. Para esse tipo de impureza, a rejeição

deveria ser de 99%. O provável motivo dessa diferença de valor está no intervalo de

alguns dias entre a coleta de permeado e a medição da turbidez; nesse tempo é

provável que tenha havido proliferação bacteriana e afetado o resultado.

4.3.7 REJEIÇÃO PARA ANILINA

A Figura 4.22 mostra fotos dos permeados de cada uma das amostras testadas,

sendo visivelmente observado um melhor resultado de rejeição para a membrana de

narGO.

Figura 4.86 Fotografias dos permeados obtidos por meio dos testes de rejeição para azul de anilina

das membranas: (a) substrato; (b) arGO; (c) narGO.

A Tabela 4.4 mostra, para cada permeado, a transmitância; concentração

calculada usando a curva de calibração; e a rejeição calculada usando a Equação 2.3.

Tabela 4.8 Rejeição para azul de anilina.

Transmitância Concentração (ppm) Rejeição (%)

Substrato 0,926 8,19 59,0

narGO 0,985 3,29 83,5

arGO 0,925 8,10 59,5

a) c) b)

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106

Pode-se observar um significativo aumento da rejeição ao se depositar a camada

de narGO; entretanto tal valor ainda é menor que o esperado, e a explicação provável

é um rearranjo constante das folhas de narGO no meio aquoso devido a presença de

PSS. Na membrana de arGO parece não haver aumento de rejeição. Porém, ao

analisar a morfologia dessa membrana após a abertura da célula de permeação, foi

possível observar que a camada de arGO não estava aderida ao substrato, permitindo

que o azul de anilina pudesse ter desviado da camada seletiva de arGO. A Figura 4.23

mostra fotografias do substrato e das membranas antes e depois da permeação.

Figura 4.87 Fotografias antes e depois da permeação de azul de anilina no: (a) substrato; (b)

membrana de arGO; (c) membrana de narGO.

4.3.8 REJEIÇÃO AO CLORETO DE SÓDIO E AO SULFATO DE SÓDIO

As membranas de GO e narGO não mostraram nenhum valor de rejeição para os

solutos: cloreto de sódio e sulfato de sódio. Tal resultado se explica devido à alta

instabilidade da camada de grafeno em água, uma vez que o GO tem alta

a)

b)

c)

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107

dispersabilidade em meio aquoso e a presença do PSS no narGO faz com que esse

também adquira tal característica de dispersão. Tal característica foi apresentada e

discutida na seção 4.1 do presente trabalho. A partir desses resultados concluiu-se

que apenas as membranas de GO e narGO não seriam eficientes para a finalidade de

separação sal-água e os demais testes foram focados nas membranas de arGO.

Inicialmente, foram testadas as membranas de arGO produzidas pelas condições

9 e 10. A membrana da condição 10 mostrou-se impermeável, mesmo utilizando uma

pressão de 15 bar no teste de permeabilidade e operação por 16 horas. Com isso,

não foi possível determinar nenhuma rejeição dessa condição. A membrana da

condição 9 obteve uma permeabilidade de 0,101 L/hm²bar e cerca de 15% de rejeição

para o Na2SO4, não sendo observada rejeição para o NaCl.

A partir dos resultados supracitados as condições 1 a 8 foram produzidas com

quantidades de arGO iinferiores às condições 9 e 10; maiores detalhes sobre as

condições de produção estão presentes no capítulo 3 do presente trabalho.

A Figura 4.24 traz imagens das amostras 1 a 8, antes da realização dos testes de

rejeição.

Figura 4.88 Fotografias das membranas de arGO por condição (1 a 8).

Inesperadamente as condições 1 a 8 mostraram tendência de se romper nos

testes. Esse rompimento pode ser atribuído à degradação do substrato de CA. A

Figura 4.25 mostra uma região de ruptura.

1 2 3 4

5 6 7 8

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108

Figura 4.89 Região de rompimento em uma membrana de arGO.

Apenas amostras das condições 1 e 4 não romperam; ainda assim outras

amostras produzidas nas mesmas condições vieram a romper. A condição 1

apresentou fluxo inferior a condição 9, esperando-se assim maior rejeição; entretanto

nenhuma rejeição foi obtida. A condição 6 apresentou fluxo excessivamente alto;

apesar dessa membrana não ter se rompido parte da camada seletiva de arGO foi

delaminada durante o procedimento, mostrando que ainda existe muita fragilidade

mecânica a ser melhorada em outros trabalhos de pesquisa nessa linha de

membranas de arGO. A Tabela 4.5 resume os resultados obtidos e a Figura 4.26 a

aparência das amostras após a permeação.

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109

Tabela 4.9 Resultados de permeação das membranas.

Condição NaCl Na2SO4

Permeabilidade (L/hm²bar)

Rejeição

(%)

Permeabilidade (L/hm²bar)

Rejeição (%)

1 0,144 0 0,147 0

2 Rompeu Rompeu Rompeu Rompeu

3 Rompeu Rompeu Rompeu Rompeu

4 Rompeu Rompeu Rompeu Rompeu

5 Rompeu Rompeu Rompeu Rompeu

6 390,343 0 187,388 0

7 Rompeu Rompeu Rompeu Rompeu

8 Rompeu Rompeu Rompeu Rompeu

9 0,114 0 0,101 15

10 Impermeável Impermeável Impermeável Impermeável

Figura 4.90 Fotografias das membranas de arGO por condição após permeação.

1 2 3 4

5 6 7 8

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110

5 CONCLUSÕES

Membranas lamelares a base de grafeno foram produzidas com sucesso no IME

pela primeira vez. As membranas foram produzidas a partir de dispersões de GO,

arGO e narGO. Para a produção das membranas foi montado com sucesso um

sistema de filtração assistida a vácuo; para o teste das membranas foi montada uma

célula de permeação em aço inoxidável. As membranas produzidas, apesar de

funcionais, possuem desafios a serem vencidos para melhor eficácia e uso em larga

escala.

As principais conclusões do presente trabalho são:

a espessura da camada seletiva pôde ser bem definida com base no volume

e concentração da dispersão;

observaram-se indícios de que o processo de redução do GO danifica

quimicamente o substrato de CA;

a membrana de arGO produzida com 5 ml de dispersão com concentração de

0,1 mg/ml, cuja dispersão foi aquecida por 55 min em placa quente na

temperatura de 100°C, apresentou rejeição de 15% para o Na2SO4.

a membrana de arGO produzida com 2 ml de dispersão e concentração de 1,8

mg/ml, cuja dispersão foi aquecida por 12 min em placa quente na temperatura

de 100°C, apresentou boa estabilidade química em meio aquoso bem como

boa estabilidade mecânica e adesão da camada de grafeno/substrato de CA;

todavia, mostrou-se impermeável em testes de permeabilidade a 15 bar de

operação;

a membrana de narGO sintetizada com 2 ml de dispersão com concentração

1 mg/ml e tratada termicamente à 100°C por 30 min apresentou rejeição de

83,5% para azul de anilina.

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111

6 PROPOSTA DE TRABALHOS FUTUROS

Algumas possibilidades de trabalhos futuros são:

Realizar ligações cruzadas com polímeros para melhor estabilidade e

resistência mecânica das membranas.

Avaliar a rejeição de outros poluentes, como compostos orgânicos ou tintas.

Investigar melhor a aderência e degradação de rGO em CA e outros

substratos, para escolha de um suporte mais adequado.

Sintetizar membranas compósitas, com rGO misturado ao polímero, em vez

de lamelares.

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119

ANEXO I – Características de Produção das Membranas de GO e narGO

Condição Material Concentração

(mg/ml) Volume dispersão (mL)

Tratamento térmico após membrana composta produzida (oC)

1 GO 0,025 5 0

2 GO 0,025 5 80

3 GO 0,025 5 100

4 GO 0,025 5 150

5 GO 0,1 2 0

6 GO 0,1 2 80

7 GO 0,1 2 100

8 GO 0,1 2 150

9 GO 0,1 3,5 0

10 GO 0,1 3,5 80

11 GO 0,1 3,5 100

12 GO 0,1 3,5 150

13 GO 0,1 5 0

14 GO 0,1 5 80

15 GO 0,1 5 100

16 GO 0,1 5 150

17 GO 0,5 2 0

18 GO 0,5 2 80

19 GO 0,5 2 100

20 GO 0,5 2 150

21 GO 0,5 3,5 0

22 GO 0,5 3,5 80

23 GO 0,5 3,5 100

24 GO 0,5 3,5 150

25 GO 0,5 5 0

26 GO 0,5 5 80

27 GO 0,5 5 100

28 GO 0,5 5 150

29 GO 1 2 0

30 GO 1 2 80

31 GO 1 2 100

32 GO 1 2 150

33 GO 1 3,5 0

34 GO 1 3,5 80

35 GO 1 3,5 100

36 GO 1 3,5 150

37 GO 1 5 0

38 GO 1 5 80

39 GO 1 5 100

40 GO 1 5 150

41 rGO 0,025 5 0

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120

42 rGO 0,025 5 80

43 rGO 0,025 5 100

44 rGO 0,025 5 150

45 rGO 0,1 2 0

46 rGO 0,1 2 80

47 rGO 0,1 2 100

48 rGO 0,1 2 150

49 rGO 0,1 3,5 0

50 rGO 0,1 3,5 80

51 rGO 0,1 3,5 100

52 rGO 0,1 3,5 150

53 rGO 0,1 5 0

54 rGO 0,1 5 80

55 rGO 0,1 5 100

56 rGO 0,1 5 150

57 rGO 0,5 2 0

58 rGO 0,5 2 80

59 rGO 0,5 2 100

60 rGO 0,5 2 150

61 rGO 0,5 3,5 0

62 rGO 0,5 3,5 80

63 rGO 0,5 3,5 100

64 rGO 0,5 3,5 150

65 rGO 0,5 5 0

66 rGO 0,5 5 80

67 rGO 0,5 5 100

68 rGO 0,5 5 150

69 rGO 1 2 0

70 rGO 1 2 80

71 rGO 1 2 100

72 rGO 1 2 150

73 rGO 1 3,5 0

74 rGO 1 3,5 80

75 rGO 1 3,5 100

76 rGO 1 3,5 150

77 rGO 1 5 0

78 rGO 1 5 80

79 rGO 1 5 100

80 rGO 1 5 150

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ANEXO II – Certificado de Análise do Substrato