MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO … · Aos colegas do laboratório de...

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS MANOEL ANDRÉ DE SOUZA NETO Ziziphus joazeiro MARTIUS: ESTUDO FITOQUÍMICO DO EXTRATO HIDROETANÓLICO DAS FOLHAS, FRACIONAMENTO BIOGUIADO ANTI- Candida E AVALIAÇÃO DO EFEITO PROTETOR EM MODELO DE DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL NATAL-RN 2016

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  • MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

    MANOEL ANDRÉ DE SOUZA NETO

    Ziziphus joazeiro MARTIUS: ESTUDO FITOQUÍMICO DO EXTRATO

    HIDROETANÓLICO DAS FOLHAS, FRACIONAMENTO BIOGUIADO ANTI-

    Candida E AVALIAÇÃO DO EFEITO PROTETOR EM MODELO DE

    DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL

    NATAL-RN

    2016

    http://www.sigaa.ufrn.br/sigaa/public/programa/portal.jsf?lc=pt_BR&id=4847

  • MANOEL ANDRÉ DE SOUZA NETO

    Ziziphus joazeiro MARTIUS: ESTUDO FITOQUÍMICO DO EXTRATO

    HIDROETANÓLICO DAS FOLHAS, FRACIONAMENTO BIOGUIADO ANTI-

    Candida E AVALIAÇÃO DO EFEITO PROTETOR EM MODELO DE

    DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte para a obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas

    Orientador: Silvana Maria Zucolotto Langassner

    Co-orientadores: Guilherme Maranhão Chaves

    Gerlane Coelho Bernardo Guerra

    NATAL-RN

    2016

  • Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

    Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

    Souza Neto, Manoel André de.

    Ziziphus joazeiro Martius: estudo fitoquímico do extrato

    hidroetanólico das folhas, fracionamento bioguiado anti-Candida

    e avaliação do efeito protetor em modelo de doença inflamatória

    intestinal / Manoel André de Souza Neto. - Natal, 2016.

    262f.: il.

    Orientador: Silvana Maria Zucolotto Langassner.

    Coorientadores: Guilherme Maranhão Chaves, Gerlane Coelho Bernardo Guerra.

    Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências

    Farmacêuticas. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    1. Ziziphus joazeiro - Dissertação. 2. Fitoquímica -

    Dissertação. 3. Flavonoides - Dissertação. 4. Candida -

    Dissertação. I. Langassner, Silvana Maria Zucolotto. II. Chaves,

    Guilherme Maranhão. III. Guerra, Gerlane Coelho Bernardo. IV.

    Título.

    RN/UF/BS-CCS CDU 634.662

    Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

    Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde - CCS

    Souza Neto, Manoel André de.

    Ziziphus joazeiro Martius: estudo fitoquímico do extrato

    hidroetanólico das folhas, fracionamento bioguiado anti-Candida

    e avaliação do efeito protetor em modelo de doença inflamatória

    intestinal / Manoel André de Souza Neto. - Natal, 2016. 262f.: il.

    Orientador: Silvana Maria Zucolotto Langassner.

    Coorientadores: Guilherme Maranhão Chaves, Gerlane Coelho Bernardo Guerra.

    Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências

    Farmacêuticas. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

    1. Ziziphus joazeiro - Dissertação. 2. Fitoquímica -

    Dissertação. 3. Flavonoides - Dissertação. 4. Candida -

    Dissertação. I. Langassner, Silvana Maria Zucolotto. II. Chaves,

    Guilherme Maranhão. III. Guerra, Gerlane Coelho Bernardo. IV.

    Título.

    RN/UF/BS-CCS CDU 634.662

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, à minha família, especialmente aos meus pais, Margarida e Francisco,

    e ao meu irmão, Francisco Júnior, por todo carinho, suporte e incentivo durante essa jornada

    inicial na área acadêmica.

    À Profa. Silvana Maria Zucolotto Langassner, pela orientação, paciência, confiança e

    principalmente por apoiar as minhas ideias, por vezes mirabolantes, que surgiram durante a

    realização deste trabalho. Muito obrigado pela oportunidade.

    Ao meu co-orientador micologista, Prof. Guilherme Maranhão Chaves, por todo

    auxílio, orientação e ensinamentos, fundamentais para a realização da etapa de atividade

    antifúngica deste trabalho.

    A todos do laboratório de Microbiologia Clínica e Micologia Médica e Molecular

    (LMMM), principalmente ao doutorando Plínio Rocha, pelo auxílio na realização dos

    experimentos de atividade antifúngica.

    A minha co-orientadora, Profa. Gerlane Coelho Bernardo Guerra, pela orientação,

    apoio e, por assim dizer, otimismo na realização dos experimentos in vivo de doença

    inflamatório intestinal.

    A todos do laboratório de Farmacologia do CB pela enorme ajuda prestada na

    realização dos experimentos de doença inflamatório intestinal, incluindo os técnicos Flávio,

    Carla, César e Dona Neida, além dos alunos de IC Valéria, Iuri e Cássio. Agradeço

    especialmente a doutoranda Daline por todo o auxílio e aprendizado proporcionados.

    Ao Prof. Freddy Alejandro Ramos e ao Geison Modesti Costa pela orientação,

    essencial suporte e ensinamentos fornecidos durante a realização dos experimentos na

    Universidade Nacional de Colombia (UNAL), Laboratório de Productos Naturales Marinos y

    Frutas de Colombia.

    A operadora do equipamento de RMN da UNAL, Katherine Jaramillo, por todo

    cuidado e atenção na obtenção dos espectros. A todas as pessoas da UNAL e Bogotá que me

    ajudaram e contribuíram, de alguma forma, para a realização deste trabalho.

    Aos colegas do laboratório de Farmacognosia da UFRN/PNBio pela ajuda e amizade.

    Em especial, ao meu “ex” IC Jordan, pelo auxílio na realização dos experimentos, e a Samara,

    por ter me ensinado boa parte do que sei sobre fitoquímica, pelas dicas, trocas de ideias e

    ajuda nos experimentos de isolamento.

    Aos professores Josean Fechine Tavares e Norberto Peporine Lopes, assim como aos

    técnicos Evandro Ferreira e José Carlos Tomaz, pela colaboração nas análises de RMN e

    espectrometria de massas, respectivamente.

    À UFRN, Faculdade de Farmácia e Programa de Pós-Graduação em Ciências

    Farmacêuticas pela oportunidade de formação.

    À CAPES e ao CNPq pelo auxílio financeiro a essa pesquisa.

  • RESUMO

    A espécie Ziziphus joazeiro é uma planta da Caatinga do Nordeste brasileiro, utilizada como antiséptico, dentifrício, anticaspa, anti-inflamatório e antimicrobiano. A maioria dos estudos químicos relatou a presença de triterpenos nas cascas da espécie. Quanto às folhas, os estudos fitoquímicos são escassos, envolvendo apenas a triagem fitoquímica. Até o momento não foram caracterizadas as substâncias responsáveis pela atividade antifúngica das folhas e não foi encontrado nenhum estudo que tenha avaliado o seu efeito anti-inflamatório em modelo de doença inflamatória intestinal. Portanto, o trabalho tem como objetivo isolar e caracterizar os marcadores químicos do extrato hidroetanólico das folhas (EHF) e desenvolver um método analítico por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) para quantifica-los. Em paralelo a isso, objetiva-se avaliar a atividade anti-Candida do extrato, frações e substâncias isoladas de Z. joazeiro, por meio de um fracionamento bioguiado, além de avaliar o efeito protetor do EHF em modelo de doença inflamatória intestinal (colite) induzida por DNBS. O EHF foi preparado por meio de maceração, o qual foi posteriormente particionado com solventes de polaridade crescente. O extrato e as frações foram analisados por reações químicas clássicas, Cromatografia em Camada Delgada, CLAE e CLAE acoplada a espectrômetro de massas (CLAE-EM), sendo observada a presença de saponinas, ácidos fenólicos, cumarinas, e flavonoides glicosilados derivados de quercetina, canferol e isormanetina ou o seu isômero, tamarixetina. Por meio das análises por CLAE-EM foi possível identificar glicosídeos de quercetina (quercetina-3-O-rutinosídeo, quercetina-3-O-galatosídeo, quercetina-3-O-glicosídeo), canferol (canferol-3-O-rutinosídeo) e isoramnetina ou tamarixetina (isoramnetina ou tamarixetina-3-O-rutinosídeo, isoramnetina ou tamarixetina-3-O-galactosídeo, isoramnetina ou tamarixetina-3-O-glicosídeo). Para o isolamento dos flavonoides majoritários, a fração acetato de etila foi submetida à técnica de Cromatografia em Contra-Corrente de Alta Velocidade aliada ao refinamento por zona de pH, seguido de cromatografia em coluna de fase reversa e CLAE semipreparativa. Desse processo, foram isolados 3 flavonóis (ZJF1, ZJF2 e ZJF3), os quais foram identificados, pela análise conjunta de dados cromatográficos e RMN de 1H, como quercetina-3-O-rutinosídeo, canferol-3-O-rutinosídeo e isoramnetina ou tamarixetina-3-O-rutinosídeo, respectivamente. A partir da determinação da concentração inibitória mínima (CIM) por microdiluição em caldo, aliada a bioautografia, observou-se que a fração butanólica apresentou maior atividade antifúngica frente à Candida glabrata ATCC2001 (CIM = 0,625 mg/mL), e que o processo de concentração das substâncias hipoteticamente bioativas permitiu obter frações com maior atividade anti-Candida in vitro frente a cepas de referência e clínicas. Foi observado que as principais substâncias responsáveis são as saponinas, e a partir de uma dessas frações isolou-se a saponina bacopasídeo X, presuntivamente identificada por análises mono e bidimensionais de RMN. A atividade anti-inflamatória do EHF foi avaliada em modelo de doença inflamatória intestinal nas doses de 50, 100 e 200 mg/kg, não sendo observado efeito protetor do EHF em relação ao grupo controle positivo. Os resultados obtidos são inéditos para a espécie e o estudo abre perspectivas para a realização de novas investigações envolvendo o uso de flavonoides e saponinas no controle de qualidade e avaliação da sazonalidade, além do estudo do mecanismo de ação das saponinas das folhas sobre as leveduras do gênero Candida. Palavras-chave: Ziziphus joazeiro, flavonoides, saponinas Candida, colite

  • ABSTRACT

    The species Ziziphus joazeiro is a Caatinga plant from Northeast Brazil, used as an antiseptic, dentifrice, anti-dandruff, anti-inflammatory, and antimicrobial. Most chemical studies reported the presence of triterpenes in the bark of the species. Regarding the leaves, the phytochemical studies are scarce, only involving phytochemical screening. The substances responsible for the antifungal activity of leaves have not yet been characterized and no study has evaluated its anti-inflammatory effect in inflammatory bowel disease model. Therefore, this study aims to isolate and characterize the chemical markers of hydroethanolic extract of the leaves (HEL), and develop an analytical method by high-performance liquid chromatography (HPLC) to quantify them. Parallel to this, the study aims to evaluate the anti-Candida activity of the extract, fractions and isolated substances from Z. joazeiro through a bioguided fractionation, and to evaluate the HEL protective effect in a DNBS induced model of inflammatory bowel disease (colitis). The HEL was prepared by maceration, which was further partitioned with increasingly polar solvents. The extract and the fractions were analyzed by classical chemical reactions, Thin Layer Chromatography, HPLC and HPLC coupled to mass spectrometry (HPLC-MS), being observed the presence of saponins, phenolic acids, coumarins and flavonoid glycosides derived from quercetin, kaempferol and isorhamnetin or its isomer, tamarixetin. Through HPLC-MS analysis it was identified quercetin glycosides (quercetin-3-O-rutinoside, quercetin-3-O-galatosídeo, quercetin-3-O-glycoside), kaempferol (kaempferol-3-O-rutinoside) and isorhamnetin or tamarixetin (tamarixetina-3-O-rutinoside, isorhamnetin or tamarixetin-3-O-galactoside, isorhamnetin or tamarixetin-3-O-glucoside). For the isolation of the major flavonoids, the ethyl acetate fraction was subjected to a pH-zone-refining high speed countercurrent chromatography, followed by reversed phase column chromatography and semi-preparative HPLC. In this process, 3 flavonols were isolated (ZJF1, and ZJF2 ZJF3), which were identified by the joint analysis of chromatographic data and 1H NMR as quercetin-3-O-rutinoside, kaempferol-3-O-rutinoside and isorhamnetin or tamarixetin-3-O-rutinoside, respectively. From the determination of the minimum inhibitory concentration (MIC) by broth microdilution, coupled with bioautography, it was observed that the butanol fraction had higher antifungal activity against Candida glabrata ATCC2001 (MIC = 0.625 mg / mL), and the process of concentration of the hypothetically bioactive substances afforded fractions which had more anti-Candida activity in vitro against clinical and reference strains. It was observed that the main substances involved are saponins, and through a saponin rich fraction it was isolated bacopaside X, presumptively identified by one and two-dimensional NMR analyzes. The anti-inflammatory activity of EHF was evaluated in a model of inflammatory bowel disease in doses of 50, 100 and 200 mg / kg and it was not observed protective effect of the HEL compared to the positive control group. The results are novel for the species and the study opens perspectives for new investigations involving the use of flavonoids and saponins in quality control and evaluation of seasonality, besides the study of the mechanism of action of leaves saponins on the Candida genus. Key-words: Ziziphus joazeiro, flavonoids, saponins Candida, colitis

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Indivíduo de Ziziphus joazeiro Martius. ........................................... 31

    Figura 2 - Folhas e flores de Ziziphus joazeiro Martius. ................................... 32

    Figura 3 - Representação do teste de microdiluição em caldo. ....................... 72

    Figura 4 - Análise por CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. com o eluente para

    glicosídeos ...................................................................................... 83

    Figura 5 - Análise por CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. com o eluente para

    agliconas. ........................................................................................ 85

    Figura 6 - Análise por co-CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. com os padrões

    de quercetina e canferol .................................................................. 86

    Figura 7 - Análise por co-CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. com os padrões

    de rutina e isoquercetina. ................................................................ 88

    Figura 8 - Análise por CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. e das frações

    obtidas da partição líquido-líquido. .................................................. 90

    Figura 9 - Análise por CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. e das frações

    obtidas da partição líquido-líquido ................................................... 90

    Figura 10 - Espectros de UV (210-450 nm) dos 25 picos observados na

    análise por CLAE-UV-DAD do EHF de Z. joazeiro Mart. ................. 94

    Figura 11 - Cromatograma obtido por CLAE-UV-DAD para o EHF de Ziziphus

    joazeiro Mart. e frações. .................................................................. 97

    Figura 12 - Comparação entre os cromatogramas obtidos para a fração

    AcOEt-PLL01 nos equipamentos de CLAE-UV-DAD e CLAE-EM-

    TOF, sob o comprimento de onda de 340 nm. ................................ 105

    Figura 13 - Análise por CCD das fases dos testes em tubos para os sistemas

    contendo acetato de etila-butanol-água........................................... 108

    Figura 14 - Análise por CCD das frações da separação CCCAV1..................... 110

    Figura 15 - Análise por CCD das frações da separação CCCAV4..................... 110

    Figura 16 - Análise por CCD das frações da separação CCCAV5..................... 110

    Figura 17 - Análise por CCD das frações da separação CCCAV6..................... 111

    Figura 18 - Análise por CCD das frações da separação CCCAV11. .................. 111

    Figura 19 - Análise por CCD dos flavonoides ZJF1, ZJF2, ZJF3 e das

    misturas ZJFM1 e ZJFM2................................................................ 112

    Figura 20 – Cromatograma e espectro no UV do flavonoide ZJF1. .................... 114

  • Figura 21 - Representação estrutural do flavonol quercetina. ............................ 115

    Figura 22 - Espectro ampliado de RMN 1H do flavonoide ZJF1 (400 MHz,

    metanol-d4). .................................................................................... 118

    Figura 23 - Cromatograma e espectro no UV do flavonoide ZJF2. .................... 120

    Figura 24 - Espectro ampliado de RMN 1H do flavonoide ZJF2 (400 MHz,

    metanol-d4). .................................................................................... 123

    Figura 25 - Possibilidades estruturais para o flavonoide ZJF3. .......................... 126

    Figura 26 - Cromatograma e espectro no UV do flavonoide ZJF3. .................... 128

    Figura 27 - Espectro ampliado de RMN 1H do flavonoide ZJF3 (400 MHz,

    metanol-d4) ..................................................................................... 129

    Figura 28 - Ensaio de microdiluição em caldo para as frações da fração

    BuOH-PLL01. .................................................................................. 135

    Figura 29 - Bioautografia e análise por CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. e da

    fração BuOH-PLL01. ....................................................................... 137

    Figura 30 - Bioautografia e análise por CCD das subfrações da fração BuOH-

    PLL01. ............................................................................................ 138

    Figura 31 - Ensaio de microdiluição em caldo para a fração 07-CCFR07. ......... 141

    Figura 32 - Ensaio de concentração fungicida mínima realizado para a fração

    07-CCFR07. .................................................................................... 142

    Figura 33 - Microscopia de amostras dos poços contendo Candida albicans

    ATCC90028. ................................................................................... 144

    Figura 34 - Valores de CIM observados para a fração 07-CCFR07 frente a

    cepas de referência e cepas clínicas. .............................................. 147

    Figura 35 - Análise por CCD das frações da CFG03. ........................................ 151

    Figura 36 - Análise por CCD das frações da CGF04. ........................................ 152

    Figura 37 - Análise por CCD das frações da cromatografia em coluna de fase

    reversa 12. ...................................................................................... 153

    Figura 38 - Representação estrutural do núcleo damarano (A) e da saponina

    bacopasídeo X (B). ......................................................................... 155

    Figura 39 - Espectro ampliado de RMN 1H da saponina ZJS1(DMSO-d6; 500

    MHz). .............................................................................................. 156

    Figura 40 - Espectro ampliado de RMN 1H da saponina ZJS1(DMSO-d6; 500

    MHz). .............................................................................................. 157

  • Figura 41 - Espectro ampliado de RMN 1H da saponina ZJS1(DMSO-d6; 500

    MHz). .............................................................................................. 157

    Figura 42 - Espectro ampliado de RMN 13C da saponina ZJS1(DMSO-d6;

    125 MHz). ....................................................................................... 159

    Figura 43 - Representação estrutural da aglicona jujubogenina. ....................... 160

    Figura 44 - Espectro ampliado de HMBC da saponina ZJS1 (DMSO-d6; 500

    MHz). .............................................................................................. 161

    Figura 45 - Espectro ampliado de HMBC da saponina ZJS1 (DMSO-d6; 500

    MHz). .............................................................................................. 162

    Figura 46 - Espectro ampliado de HMQC da saponina ZJS1 (DMSO-d6; 500

    MHz). .............................................................................................. 163

    Figura 47 - Espectro ampliado de COSY da saponina ZJS1 (DMSO-d6; 500

    MHz). .............................................................................................. 164

    Figura 48 - Principais correlações de HMBC e COSY observadas para ZJS1... 168

    Figura 49 - Monitorização do peso corporal das ratas durante o período

    experimental.................................................................................... 171

    Figura 50 - Índice de atividade da doença (IAD) relativo aos grupos tratatos e

    controle durante o período de pós-indução da doença. ................... 172

    Figura 51 - Efeito do EHF de Ziziphus joazeiro Mart., em comparação com os

    grupos controle, sobre o escore de dano macroscópico do cólon. .. 173

    Figura 52 - Cólons representativos dos tratamentos e grupos controle. ........... 173

    Figura 53 - Efeito do EHF de Ziziphus joazeiro Mart., em comparação com os

    grupos controle, sobre a relação peso/longitude (mg/cm) do cólon. 174

  • LISTA DE FLUXOGRAMAS

    Fluxograma 1 - Fracionamento do EHF por partição líquido:líquido com

    solventes de polaridade crescente. ........................................... 56

    Fluxograma 2 - Isolamento dos flavonoides ZJF1, ZJF2 e ZJF3. ....................... 63

    Fluxograma 3 - Esquema do fracionamento para a obtenção da fração 09-

    CCFR05, utilizada no teste de atividade antifúngica. ................ 64

    Fluxograma 4 - Esquema do fracionamento para a obtenção da fração 07-

    CCFR07, utilizada no teste de atividade antifúngica. ................ 65

    Fluxograma 5 - Esquema do processo de fracionamento por partição líquido-

    líquido das frações BuOH-PLL01 e 02-PLL02. .......................... 67

    Fluxograma 6 - Esquema de isolamento da saponina ZJS1, a partir da fração

    02-PLL03. ................................................................................. 69

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Redimento das frações obtidas após a partição líquido-líquido do

    EHF de Ziziphus joazeiro Martius. ................................................... 55

    Tabela 2 - Sistemas de solventes testados e proporção (v/v) dos seus

    respectivos componentes. ............................................................... 58

    Tabela 3 - Condições cromatográficas das separações realizadas por

    Cromatografia em Contra-Corrente de Alta Velocidade. .................. 60

    Tabela 4 - Gradiente utilizado na separação da fração 12-CCCAV11 por

    coluna de C18 (CCFR02). ............................................................... 62

    Tabela 5 - Rendimento das principais frações obtidas após o fracionamento

    por partição líquido-líquido da fração BuOH-PLL01. ....................... 66

    Tabela 6 - Gradiente utilizado na separação da fração por cromatografia em

    coluna de fase reversa (CCFR12). .................................................. 68

    Tabela 7 - Amostras testadas pelo método de microdiluição em caldo e suas

    respectivas concentrações iniciais e faixa de concentração após a

    diluição seriada. .............................................................................. 71

    Tabela 8 - Valores de Rf e cor das manchas observadas após a revelação

    das cromatoplacas que foram submetidas ao eluente para

    glicosídeos. ..................................................................................... 82

    Tabela 9 - Valores de Rf e cor das manchas observadas após a revelação

    das cromatoplacas que foram submetidas ao eluente para

    agliconas. ........................................................................................ 84

    Tabela 10 - Valores de Rf e cor das manchas observadas após a análise por

    co-CCD do EHF de Z. joazeiro Mart.utilizando os padrões de

    quercetina e canferol. ...................................................................... 86

    Tabela 11 - Valores de Rf e cor das manchas observadas após a análise por

    co-CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. utilizando os padrões de

    rutina e isoquercetina. ..................................................................... 87

    Tabela 12 - Tempo de retenção (tR) e máximos de absorção (λmax) dos

    espectros no UV observados para os picos obtidos após a análise

    do EHF de Ziziphus joazeiro Mart.por CLAE-UV-DAD. ................... 93

  • Tabela 13 - Tempo de retenção (tR) e máximos de absorção (λmax) dos

    espectros no UV observados para os picos obtidos após a análise

    da fração CH2Cl2-PLL01 por CLAE-UV-DAD. .................................. 98

    Tabela 14 - Tempo de retenção (tR) e máximos de absorção (λmax) dos

    espectros no UV observados para os picos obtidos após a análise

    da fração AcOEt-PLL01 por CLAE-UV-DAD. .................................. 100

    Tabela 15 - Tempo de retenção (tR) e máximos de absorção (λmax) dos

    espectros no UV observados para os picos obtidos após a análise

    da fração BuOH-PLL01 por CLAE-UV-DAD. ................................... 101

    Tabela 16 - Dados cromatográficos, espectroscópicos (UV) e de

    espectrometria de massas dos principais flavonoides encontrados

    na fração AcOEt-PLL01. ................................................................. 104

    Tabela 17 - Dados espectrais de RMN 1H (400 MHz, metanol-d4) do flavonoide

    ZJF1. ............................................................................................... 117

    Tabela 18 - Dados espectrais de RMN 1H (400 MHz, metanol-d4) do

    flavonoide ZJF2. .............................................................................. 122

    Tabela 19 - Dados espectrais de RMN 1H (400 MHz, metanol-d4) do

    flavonoide ZJF3 e literatura. ............................................................ 127

    Tabela 20 - Concentração inibitória mínima (CIM) do extrato das folhas de Z.

    joazeiro Mart. frente a cepas de referência de leveduras de

    importância clínica. ......................................................................... 130

    Tabela 21 - CIM das frações EP-PLL01, CH2Cl2-PLL01, AcOEt-PLL01, BuOH-

    PLL01 e RA-PLL01 frente a cepas de Candida. .............................. 132

    Tabela 22 - CIM de frações da fração BuOH-PLL01 frente à levedura Candida

    glabrata ATCC 2001........................................................................ 135

    Tabela 23 - Estatística descritiva das áreas relativas aos halos de inibição

    observados após o teste de bioautografia. ...................................... 138

    Tabela 24 - CIM e CFM da fração 07-CCFR07 testada frente a cepas de

    Candida. .......................................................................................... 140

    Tabela 25 - Concentração inibitória mínima (CIM) da fração 07-CCFR07

    testada frente a cepas clínicas. ....................................................... 146

    Tabela 26 - Dados espectrais de RMN 1H (500 MHz) e RMN 13C (125 MHz) da

    saponina ZJS1 (DMSO-d6) observados para a aglicona, em

    comparação com a literatura. .......................................................... 165

  • Tabela 27 - Dados espectrais de RMN 1H (500 MHz) e RMN 13C (125 MHz) da

    saponina ZJS1 (DMSO-d6) observados para a glicona, em

    comparação com a literatura. .......................................................... 166

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Estudos etnobotânicos de Ziziphus joazeiro Mart. ........................... 34

    Quadro 2 - Metabólitos isolados de diferentes espécies já estudadas no

    gênero Ziziphus. .............................................................................. 36

    Quadro 3 - Códigos dos processos de separação utilizados ............................. 55

    Quadro 4 - Cepas clínicas utilizadas no teste de suscetibilidade....................... 73

    Quadro 5 - Distribuição dos grupos de colite aguda para a avaliação da

    atividade do EHF de Z. joazeiro Mart. ............................................. 77

    Quadro 6 - Critérios utilizados para a monitorização clínica da doença

    inflamatória intestinal. ...................................................................... 78

    Quadro 7 - Critério para a avaliação da gravidade do dano macroscópico da

    colite experimental de acordo com Bell, Gall e Wallace (1995). ...... 79

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AcOEt acetato de etila

    ASD Ágar Sabourand Dextrose

    ATCC American Type Culture Collection

    BuOH n-butanol

    CC Cromatografia em coluna de vidro

    CCCAV Cromatografia em contra-corrente de alta velocidade

    CCD Cromatografia em Camada delgada analítica

    CCFR Cromatografia em coluna de fase reversa

    CFM Concentração Fungicida Mínima

    CGF Cromatografia em coluna de gel de filtração

    CIM Concentração Inibitória Mínima

    CLAE Cromatografia líquida de alta eficiência

    CLAESP Cromatografia líquida de alta eficiência semipreparativa

    CNCA Candida não-Candida albicans

    COSY Correlation Spectroscopy

    CVC Cateter venoso central

    DAD Detector de arranjo de diodos

    DMSO dimetilsulfóxido

    DNBS ácido 2,4-dinitrobenzóico

    EHF Extrato hidroetanólico das folhas

    HMBC Heteronuclear Multiple-Bond Correlation

    HMQC Heteronuclear Multiple-Quantum Correlation

    IAD Índice de Atividade da Doença

    IDM Indice de Dano Macroscópico

    MeOH metanol

    MHC Caldo Mueller-Hinton

    MMA Ministério do Meio Ambiente

    RMN 13C Ressonância magnética nuclear de carbono 13

    RMN 1H Ressonância magnética nuclear de hidrogênio

    SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

    SISBIO Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade

    UFC Unidades Formadoras de Colônia

  • UTI Unidade de Terapia Intensiva

    UV Ultravioleta

    YPD Yeast peptone dextrose

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 22

    2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................... 24

    2.1 O gênero Candida e as espécies vegetais como fonte de agentes

    antifúngicos ......................................................................................... 24

    2.2 As plantas medicinais como alternativa no tratamento de

    doenças inflamatórias intestinais ...................................................... 28

    2.3 Ziziphus joazeiro Martius: informações gerais ................................... 30

    2.4 Estudos etnobotânicos de Ziziphus joazeiro Martius ....................... 32

    2.5 Constituintes químicos de Ziziphus joazeiro Martius ....................... 35

    2.6 Atividades biológicas descritas para a espécie Ziziphus joazeiro

    Martius ................................................................................................. 39

    2.6.1 Atividade antifúngica ............................................................................. 39

    2.6.2. Atividade antibacteriana ........................................................................ 39

    2.6.3 Atividade larvicida ................................................................................. 41

    2.6.4 Atividade antioxidante ........................................................................... 41

    2.6.5 Avaliação toxicológica ........................................................................... 41

    2.6.6 Avaliação do potencial genotóxico ......................................................... 42

    2.6.7 Atividade anti-inflamatória do gênero Ziziphus e da espécie Ziziphus

    joazeiro Mart. ......................................................................................... 42

    2.7 Marcadores químicos e controle de qualidade de plantas

    medicinais ............................................................................................ 43

    3 OBJETIVOS .......................................................................................... 45

    3.1 Objetivo geral ....................................................................................... 45

    3.2 Objetivos específicos .......................................................................... 45

    4 JUSTIFICATIVA .................................................................................... 46

    5 MATERIAL E MÉTODOS...................................................................... 48

    5.1 Solventes e reagentes ......................................................................... 48

    5.2 Equipamentos e sistemas cromatográficos utilizados no estudo

    fitoquímico ........................................................................................... 48

    5.3 Material vegetal: coleta, secagem e moagem .................................... 50

    5.4 Preparação dos extratos ..................................................................... 50

    5.5 Estudo fitoquímico .............................................................................. 51

  • 5.5.1 Análise fitoquímica preliminar ................................................................ 51

    5.5.1.1 Identificação das classes de metabólitos secundários por reações

    químicas clássicas................................................................................. 51

    5.5.1.1.1 Compostos fenólicos ............................................................................. 51

    5.5.1.1.2 Taninos ................................................................................................. 51

    5.5.1.1.3 Flavonoides ........................................................................................... 51

    5.5.1.1.4 Alcaloides .............................................................................................. 52

    5.5.1.1.5 Saponinas ............................................................................................. 52

    5.5.1.2 Análise do EHF de Z. joazeiro Mart. por Cromatografia em Camada

    Delgada (CCD) ...................................................................................... 52

    5.5.2 Análise do EHF de Z. joazeiro Mart. e frações da partição líquido-

    líquido por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) ................. 53

    5.5.3 Análise da fração AcOEt-PLL01 por espectrometria de massas ............ 54

    5.5.3.1 Partição líquido-líquido .......................................................................... 55

    5.5.3.2 Análise por cromatografia em contracorrente de alta velocidade ........... 56

    5.5.3.2.1 Fracionamento das frações BuOH-PLL01 e AcOEt-PLL01 por

    cromatografia em contra-corrente de alta velocidade ............................ 57

    5.5.3.3 Isolamento dos flavonoides por cromatografia em coluna e CLAE

    semipreparativa ..................................................................................... 62

    5.5.3.4 Obtenção das frações para o teste de atividade antifúngica .................. 64

    5.7 Avaliação da atividade antifúngica do EHF e frações ...................... 70

    5.7.1 Determinação da CIM do EHF de Z. joazeiro Mart. e frações ................ 70

    5.7.1.1 Reativação das leveduras e triagem fenotípica ..................................... 70

    5.7.1.2 Preparo do inóculo ............................................................................... 70

    5.7.1.3 Triagem com micro-organismos de referência ....................................... 71

    5.7.1.4 Determinação da CIM conforme o método do CLSI (CLSI, 2008).......... 73

    5.7.1.5 Determinação da concentração fungicida mínima (CFM) ...................... 74

    5.7.1.6 Ensaio de bioautografia ......................................................................... 74

    5.8 Avaliação do efeito protetor do EHF de Z. joazeiro Mart. em

    modelo de doença inflamatória intestinal ......................................... 76

    5.8.1 Animais ................................................................................................. 76

    5.8.2 Modelo de colite aguda ......................................................................... 76

    5.8.3 Avaliação macroscópica do processo inflamatório intestinal .................. 78

    5.8.3.1 Monitorização clínica da doença inflamatória intestinal ......................... 78

  • 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................ 80

    6.1 Análise fitoquímica preliminar............................................................ 80

    6.1.1 Análise por CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. utilizando a fase móvel

    para glicosídeos .................................................................................... 80

    6.1.2 Análise por CCD do EHF de Z. joazeiro Mart. utilizando a fase móvel

    para agliconas ....................................................................................... 84

    6.1.3 Análise por co-cromatografia ................................................................. 85

    6.2 Análise por CCD das frações da partição líquido-líquido do EHF

    de Z. joazeiro Mart. ............................................................................... 89

    6.3 Análise do EHF de Z. joazeiro Mart. e frações da partição líquido-

    líquido por CLAE-UV-DAD .................................................................. 91

    6.3.1 Análise do EHF de Z. joazeiro Mart. e frações da partição líquido-

    líquido.................................................................................................... 91

    6.4 Análise da fração AcOEt-PLL01 por CLAE-IES-EM (TOF) ................ 102

    6.5 Fracionamento das frações BuOH-PLL01 e AcOEt-PLL01 por

    cromatografia em contra-corrente de alta velocidade e

    isolamento de flavonoides .................................................................. 108

    6.5.1 Análise estrutural do flavonoide ZJF1 .................................................... 113

    6.5.2 Análise estrutural do flavonoide ZJF2 .................................................... 119

    6.5.3 Análise estrutural do flavonoide ZJF3 .................................................... 124

    6.6 Avaliação da atividade anti-Candida do EHF de Ziziphus joazeiro

    Mart. e frações ..................................................................................... 130

    6.6.2 Atividade das frações EP-PLL01, CH2Cl2-PLL01, AcOEt-PLL01,

    BuOH-PLL01 e RA-PLL01 frente a cepas de referência ........................ 132

    6.6.3 Prosseguimento do fracionamento bioguiado para a fração BuOH-

    PLL01 .................................................................................................... 133

    6.6.4 Ensaio de bioautografia para o EHF, fração BuOH-PLL01 e

    respectivas subfrações ativas .......................................................... 136

    6.6.5 Avaliação da atividade antifúngica das frações 07-CCFR07 e 10-

    CCFR12 frente a cepas de referência segundo o método do CLSI ....... 139

    6.6.6 Avaliação da atividade antifúngica da fração 07-CCFR07 frente a

    isolados clínicos segundo o método do CLSI ........................................ 145

    6.7 Isolamento da saponina ZJS1 ............................................................ 151

    6.8 Análise estrutural por RMN da saponina ZJS1 ................................. 154

  • 6.9 Avaliação do efeito protetor do extrato hidroetanólico das folhas

    de Z. joazeiro Mart. em modelo de doença inflamatória intestinal ... 170

    7 CONCLUSÕES ..................................................................................... 176

    REFERÊNCIAS ..................................................................................... 177

    APÊNCIDE A – MANUSCRITO PARA PUBLICAÇÃO ......................... 192

    APÊNDICE B - ESTRUTURA QUÍMICA DAS SUBSTÂNCIAS

    MENCIONADAS NA DISSERTAÇÃO................................................... 216

    ANEXO A .............................................................................................. 262

  • 22

    1 INTRODUÇÃO

    O uso de plantas medicinais acompanha a humanidade desde a pré-história,

    as quais, ao longo dos anos, formaram a base de sistemas terapêuticos de várias

    civilizações antigas, como os astecas, incas, chineses, egípcios e gregos.

    Substâncias obtidas de plantas, como nicotina, muscarina e reserpina, além de

    terem contribuído significativamente para o avanço da farmacologia e patofisiologia,

    compõem parte do arsenal terapêutico atualmente utilizado na clínica (PASQUALE,

    1984; GILANI; RAHMAN, 2005; FABRICANT; FARNSWORTH, 2001).

    Apesar da atual predominância, na indústria farmacêutica, de técnicas de

    química combinatória como estratégia para a descoberta de fármacos, o número de

    fármacos produzidos e aprovados para uso clínico não aumentou proporcionalmente

    ao número de compostos sintéticos gerados com base nessas técnicas. Assim,

    observa-se ainda que as plantas e outros produtos naturais continuam a participar,

    direta ou indiretamente, desse processo (NEWMAN, 2008; NEWMAN; CRAGG,

    2012).

    Um exemplo da atual utilidade dos vegetais e de outros produtos naturais na

    obtenção de fármacos é que, em 2010, de todas as moléculas pequenas e

    inovadoras reportadas (que contem grupos farmacofóricos inéditos), cerca da

    metade consistia em produtos naturais ou compostos derivados desses (NEWMAN;

    CRAGG, 2012). De acordo com trabalhos envolvendo compilação de dados, entre

    2000 e 2013 foram aprovados 38 medicamentos cujos fármacos derivam de

    substâncias de espécies vegetais (BUTLER; ROBERTSON; COOPER, 2014;

    SAKLANI; KUTTY, 2008). Além disso, até dezembro de 2013, vinte e um fármacos

    antineoplásicos derivados de plantas estavam sendo submetidos a ensaios clínicos

    (BUTLER; ROBERTSON; COOPER, 2014).

    O país que possui a maior variedade dessas fontes de compostos bioativos é

    o Brasil, as quais estão distribuídas em 6 biomas continentais e um marinho,

    encerrando cerca de 20% da biodiversidade mundial. Igualmente extensa é a flora

    brasileira, estimada em cerca de 55.000 espécies vegetais (IBGE, 2004; DIAS,

    1995). Diante disso, percebe-se o importante potencial do Brasil como terreno para a

    bioprospecção sustentável e a consequente geração de emprego, renda e produtos

    para a saúde, como os medicamentos fitoterápicos (VILLAS BÔAS; GADELHA,

    2007).

  • 23

    Apesar da imensa biodiversidade do Brasil, esta foi pouco explorada, pois

    estima-se que a busca por compostos bioatlivos foi realizada em apenas cerca de

    8% da flora do país (GUERRA; NODARI, 2001). Portanto, considerando a relevância

    das plantas na descobertcoa de fármacos e a grande diversidade vegetal no país, é

    de suma importância que as suas espécies vegetais sejam caracterizadas quanto ao

    seu perfil fitoquímico e atividade biológica.

    Ziziphus joazeiro Mart. destaca-se como uma das plantas da região

    semiárida, nativa e endêmica do Brasil e de grande importância para a população do

    Nordeste (LIMA, 2013a; LORENZI; MATOS, 2008). A árvore, cuja folhagem mantem-

    se verde durante a seca, é usada tanto como forragem quanto como planta

    medicinal, sendo a casca e as folhas tradicionalmente empregadas na higiene bucal

    e capilar, no alívio de problemas estomacais (LORENZI; MATOS, 2008), no

    tratamento de infecções fúngicas (CRUZ et al., 2007) e como anti-inflamatório

    (OLIVEIRA, 2005).

    De acordo com a literatura, um extrato concentrado em saponinas extraídas

    da casca de Z. joazeiro Mart. inibiu o crescimento fúngico de Candida albicans

    (RIBEIRO et al., 2013), um importante patógeno oportunista de infecções fúngicas

    invasivas (SARDI et al., 2013). Logo, o uso popular da casca e da folha em

    infecções fúngicas possivelmente tem relação com a presença de saponinas nesses

    farmacógenos.

    A partir de análises iniciais realizadas no presente trabalho, observou-se que

    as folhas possuem, além de saponinas, uma grande variedade de flavonoides

    glicosilados. Os flavonoides tem apresentado atividade anti-inflamatória em

    diferentes modelos de inflamação (CHIBLI et al., 2015) e os glicosídeos destacam-

    se por sua atividade anti-inflamatória em modelos de doença inflamatória intestinal

    (COMALADA et al., 2005; MASCARAQUE et al., 2014).

    Portanto, baseando-se no contexto explicitado e considerando a sua

    importância etnofamacológica, neste trabalho foi realizado um estudo fitoquímico de

    Z. joazeiro Mart. com o objetivo de isolar e caracterizar marcadores químicos, bem

    como a avaliação da atividade antifúngica in vitro e protetora em modelo in vivo de

    colite experimental do extrato hidroetanólico das folhas e suas respectivas frações

  • 24

    2 REFERENCIAL TEÓRICO

    2.1 O gênero Candida e as espécies vegetais como fonte de agentes

    antifúngicos

    As infecções fúngicas, apesar de serem frequentemente subestimadas e

    negligenciadas por pesquisadores e entidades governamentais, têm acometido e

    causado a morte de milhares de pessoas ao redor do mundo (BROWN et al., 2012).

    Recentemente, foram realizados estudos epidemiológicos no Brasil, México,

    Espanha, Bélgica e Rússia, acerca da prevalência de infecções fúngicas graves, e a

    soma de todos os casos estimados nesses países totalizou 18 047 381 milhões

    (CORZO-LEÓN; ARMSTRONG-JAMES; DENNING, 2015; GIACOMAZZI et al.,

    2015; KLIMKO et al., 2015; LAGROU et al.; RODRIGUEZ-TUDELA et al., 2015). É

    importante mencionar que 52% de todos esses casos foram originados por espécies

    do gênero Candida e, no Brasil, para o ano de 2011, de todos os casos de infecções

    fúngicas graves estimados, 74% foram igualmente ocasionados por espécies do

    gênero Candida (GIACOMAZZI et al., 2015)

    O gênero Candida é constituído por leveduras que habitam diferentes sítios

    anatômicos da espécie humana, assim como de outros animais e o meio ambiente

    (água, solo, plantas). Candida albicans é a única espécie que sobrevive unicamente

    no organismo humano e de outros animais de sangue quente, sendo portanto

    comensal, fazendo parte da microbiota humana normal da cavidade oral, trato

    gastrintestinal e vagina de indivíduos saudáveis. Em decorrência deste fator, pode-

    se explicar a sua alta prevalência em infecções dos mais variados sítios anatômicos

    (REISS; SHADOMY; LYON, 2011).

    As espécies do gênero são patógenos oportunistas e atingem principalmente

    indivíduos debilitados por outras doenças ou imunocomprometidos. São

    responsáveis por causar um amplo espectro de efermidades, como candidíase oral,

    vulvovaginal, infecções de pele, mucosa, onicomicose, assim como infecções

    invasivas, incluindo a candidemia, que está associada a uma elevada taxa de

    mortalidade (REISS; SHADOMY; LYON, 2011).

    A patogenicidade das espécies do gênero Candida é resultante dos seus

    fatores de virulência, os quais estão relacionados à adesão a células epiteliais e

    endoteliais do hospedeiro, formação de uma comunidade microbiana envolvida em

  • 25

    matriz exopolimérica, denominada de biofilme, produção de enzimas hidrolíticas,

    fosfolipases e aspartil-proteases secretadas, além da filamentação, ou seja, a

    transição de blastoconídio para hifa verdadeira, fenômeno este comum em Candida

    albicans (O’DONNELL; ROBERTSON; RAMAGE, 2015) A espécie Candida glabrata

    não é capaz de produzir hifas, porém é a segunda ou terceira mais reportada em

    estudos da América do Norte e Norte da Europa, que envolvem o isolamento de

    leveduras nos mais variados sítios. Este achado pode ser justificado devido aos

    mecanismos de resistência aos antifúngicos que essa espécie apresenta

    (LOCKHART, 2014; YAPAR, 2014).

    Candida spp. têm emergido principalmente no ambiente hospitalar na forma

    de candidíase invasiva, resultando sobretudo do aumento no número de pacientes

    debilitados ou imunocomprometidos, como indivíduos com a Síndrome da

    Imunodeficiência Adquirida (SIDA), aqueles submetidos a quimioterapia em

    decorrência de neoplasias malígnas ou transplantes, indivíduos submetidos a

    procedimentos invasivos ou que permanecem longos períodos de tempo em

    unidades de terapia intensiva (UTI) (YAPAR, 2014). A candidíase invasiva

    comumente está associada a um aumento da mortalidade e custos hospitalares e,

    possivelmente, esse fator explica a maior atenção fornecida a essa doença no que

    se refere a estudos epidemiológicos, aspecto que pode ser observado

    principalmente nos Estados Unidos e países da Europa (MORGAN et al., 2005;

    YAPAR, 2014).

    Existem mais de 150 espécies de Candida conhecidas, porém cerca de 95%

    da infecções invasivas são causadas por apenas 5 espécies: C. albicans, C.

    glabrata, C. parapsilosis e C. krusei. A espécie C. albicans é frequentemente

    reportada como a espécie mais prevalente nos estudos epidemiológicos acerca de

    candidíase invasiva, sendo variável a sua proporção em relação às outras espécies

    de acordo com a região (LOCKHART, 2014; YAPAR, 2014).

    No entanto, ao longo dos últimos anos, tem-se observado uma tendência

    caracterizada por uma redução gradativa na prevalência de C. albicans isoladas de

    pacientes com candidíase invasiva. Apesar de C. albicans ainda ser a espécie mais

    prevalente nos mais variados estudos, o número de casos de candidíase invasiva

    por essa espécie tem diminuído, enquanto que a candidíase invasiva ocasionada por

    espécies de Candida não-Candida albicans (CNCA) tem aumentado, a um ponto em

    que, quando consideradas em conjunto, superam a prevalência de C. albicans em

  • 26

    muitos estudos mundiais. Atualmente não se sabe as causas dessa mudança,

    porém supõem-se que os principais fatores que a impulsionaram foram o uso

    excessivo do fluconazol como terapia empírica e a implementação de cateteres

    venosos centrais (CVCs) em pacientes graves (LOCKHART, 2014; YAPAR, 2014).

    Na América do Norte e em muitos países da Europa, o declínio de C. albicans

    foi acompanhado por um aumento na prevalência de C. glabrata. Enquanto isso, na

    América Latina, a segunda espécie mais prevalente pertence ao complexo C.

    parapsilosis, que afetava principalmente neonatos e indivíduos portadores de CVCs

    internados em UTIs, porém atualmente tem sido isolada de todas as faixas etárias.

    A Espanha, assim como os países da América Latina, também possui como

    segunda espécie mais prevalente C. parapsilosis em estudos de infecções fúngicas

    invasivas (YAPAR, 2014).

    No Brasil, C. glabrata tem emergido como a segunda espécie mais prevalente

    em alguns hospitais públicos e principalmente em hospitais privados (COLOMBO et

    al., 2013; MORETTI et al., 2013). Segundo Colombo et al. (2013), alguns hospitais

    privados apresentam um perfil semelhante ao de países desenvolvidos devido ao

    uso do fluconazol como agente profilático.

    Outro importante gênero envolvido em infecções fúngicas é Trichosporon,

    constituído por espécies causadoras principalmente de infecções superficiais de pele

    e fâneros em pacientes imunocompetentes, destacando-se casos de piedra branca

    e, em menor frequência, episódios de onicomicose (CHAGAS-NETO et al., 2009;

    COLOMBO et al., 2011). O gênero Trichosporon é considerado o segundo ou

    terceiro agente mais comumente isolado de infecções fúngicas invasivas por

    leveduras não-Candida spp., em pacientes com câncer. Em um estudo realizado

    durante 8 anos pala rede ARTEMIS, envolvendo 134 grupos de pesquisas de 40

    países, incluindo o Brasil, Trichosporon spp. responderam por 10,7% das 8.821

    cepas de leveduras não pertencentes ao gênero Candida (PFALLER E DIEKEMA,

    2007)

    No Brasil, em cerca de 68% dos casos de infecções sistêmicas, foram isoladas

    cepas de T. asahii, seguida de T. asteroides (CHAGAS-NETO et al., 2009). O

    prognóstico para os pacientes é relativamente pobre. As infecções invasivas tendem

    a ser graves e apresentam elevada taxa de mortalidade, da ordem de 53%, podendo

    chegar até 83% em pacientes com câncer (FLEMING et al., 2002; CHAGAS-NETO

    et al., 2008).

  • 27

    O atual arsenal terapêutico para o tratamento de infecções fúngicas é

    limitado, se restringido a poucas classes. Dentre elas, destacam-se os azólicos,

    poliênicos, equinocandinas e análogos de nucleosídeos. Os azólicos, incluindo

    miconazol, fluconazol, voriconozol e posaconasol, atuam causando danos à

    membrana celular fúngica ao inibir uma enzima envolvida na biossíntese do

    ergosterol (14-α-demetilase). Os poliênicos, como a nistatina e a anfotericina B,

    também atuam no ergosterol, porém ligam-se diretamente a esse componente e

    causam a formação de poros na membrana. As equinocandinas, incluindo a

    caspofungina e a micafungina, impedem a formação da parede celular fúngica por

    meio da inibição de uma enzima envolvida na síntese de glucana (β-1-3-D-glucano-

    sintase). Por último, os análogos de nucleosídeos, como flucistosina e pirimidina,

    impedem a síntese do DNA ao inibir uma enzima envolvida na sua biossíntese, a

    timidilato sintase (SPAMPINATO; LEONARD, 2013).

    O surgimento de cepas resistentes aos antifúngicos sintéticos disponíveis

    comercialmente torna ainda mais limitado o arsenal terapêutico disponível. Embora a

    prevalência de resistência em C. albicans seja baixa e permaneça relativamente

    constante, em espécies de CNCA ela tem emergido, sendo C. glabrata uma espécie

    em destaque por apresentar menor susceptibilidade intrínseca aos azólicos, além ter

    sido reportado um aumento no número de cepas resistentes às equinocandinas

    (ALEXANDER et al., 2013; LOCKHART, 2014). Portanto, considerando a já

    mencionada substituição gradativa de C. albicans por espécies de CNCA, a situação

    passa a ser ainda mais preocupante.

    A resistência aos antifúngicos envolve basicamente os mecanismos de

    bomba de efluxo, perda de afinidade ao receptor e compensação do efeito do

    fármaco (SPAMPINATO; LEONARD, 2013).

    O mecanismo de bomba de efluxo consiste na expulsão do agente antifúngico

    do meio intracelular para o extracelular. Em Candida, existem bombas de efluxo do

    tipo ABC (ATP-binding cassette), responsáveis por expulsar todos os antifúngicos

    azólicos do meio intracelular, assim como bombas específicas para o fluconazol, que

    utilizam um gradiente de prótons como energia propulsora. No primeiro tipo de

    bomba, os genes codificantes são o CDR1 e o CDR2, e no último o gene MDR1 é o

    responsável (SPAMPINATO; LEONARD, 2013).

    A diminuição da afinidade do antifúngico ao alvo resulta de mutações pontuais

    no gene ou genes que o codificam. Para os azólicos, podem ocorrer mutações no

  • 28

    gene ERG11 que codifica a enzima 14-α-demetilase. Por outro lado, para as

    equinocandinas, o mecanismo de resistência envolve mutações nos genes FKS1 e/

    ou FKS2, os quais codificam o complexo enzimático β-1-3-D-glucano-sintase

    (SPAMPINATO; LEONARD, 2013).

    O mecanismo compensatório envolve o aumento na quantidade do alvo, por

    consequência do aumento na sua expressão gênica ou ausência do alvo devido a

    mutações. Para os antifúngicos azólicos, pode ocorrer uma superexpressão do gene

    ERG11, levando a um aumento na proteína alvo. No caso dos antifúngicos

    poliênicos, ocorre uma diminuição no conteúdo de ergosterol da membrana em

    virtude de mutações nos genes ERG3 ou ERG6 que codificam enzimas envolvidas

    na biossíntese do ergosterol (SPAMPINATO; LEONARD, 2013).

    Portanto, conforme o contexto anteriormente apresentado, são necessárias

    novas alternativas que venham a complementar os agentes antifúngicos disponíveis,

    e as plantas medicinais, por apresentarem a capacidade de produzir metabólitos

    diversos, constituem uma dessas alternativas.

    2.2 As plantas medicinais como alternativa no tratamento de doenças

    inflamatórias intestinais

    A inflamação consiste numa cascata de eventos, envolvendo uma variedade

    de mediadores e tipos celulares, quel é eliciada em resposta a um estímulo nocivo.

    Essa resposta é pré-programada e inespecífica quanto ao tipo tecidual e seu

    objetivo final é a remoção do agente agressor e reparo do local afetado. No entanto,

    o alcance desse objetivo requer uma drástica alteração da homeostase tecidual, que

    envolve a dilatação dos vasos e consequente aumento do fluxo sanguíneo, aumento

    da permeabilidade capilar, formação de exsudato, infiltração leucocitária e lesão

    tecidual (SCHMID-SCHÖNBEIN, 2006; OKIN e MEDZHITOV, 2012).

    Em consequência disso, pode-se inferir que a resposta inflamatória é

    essencial para a sobrevivência da espécie humana, por ser capaz de tratar

    condições severas, causadas por diferentes estímulos, porém, ao mesmo tempo é

    potencialmente danosa. O custo sobrepõe o benefício quando a resposta

    inflamatória não atinge o seu objetivo final e torna-se exacerbada e persistente. Em

    consequência disso, a inflamação atua como elemento-chave na patofisiologia de

    diversas doenças, como artrite reumatóide, diabetes, hipertensão e distúrbios

  • 29

    intestinais (SCHMID-SCHÖNBEIN, 2006; OKIN e MEDZHITOV, 2012). De particular

    interesse para esta pesquisa são as doenças inflamatórias intestinais, que possuem

    etiologia pouco conhecida e cuja patogênese envolve uma complexa interação entre

    fatores relacionados ao ambiente, componentes genéticos, microbiota intestinal e

    sistema imune.

    Neste contexto, as duas principais doenças inflamatórias intestinais são a

    colite ulcerativa e a doença de Crohn (ZHANG e LI, 2014). Especificamente, a colite

    ulcerativa é uma doença inflamatória recidivante e restrita à mucosa do colon. As

    pessoas acometidas por essa doença apresentam dores abdominais, evacuação de

    pus, muco e diarreias sanguinolentas. Essas podem ocorrer em torno de quatro

    vezes ao dia, nos casos clinicamente classificados como leves, até mais de 10

    vezes ao dia, nos casos considerados fulminantes (BAUMGART; SANDBORN,

    2007).

    O tratamento medicamentoso das doenças inflamatórias intestinais objetiva

    amenizar o processo inflamatório e promover a remissão da doença. A terapia

    envolve o uso de aminosalicilatos, corticosteróides, agentes imunossupressivos e

    antimicrobianos. No entanto, o uso crônico desses medicamentos é frequentemente

    limitado devido a eventos adversos a medicamentos, incluindo náusea, vômito,

    cefaleia, dislipidemia, osteoporose, hiperglicemia, hipertensão e nefrotoxicidade

    (HEMSTREET, 2014).

    Diante desse contexto, é de fundamental importância buscar alternativas

    eficazes, seguras e que possam ser usadas cronicamente. Uma dessas alternativas

    são as plantas medicinais.

    Na literatura há muitos trabalhos que têm como objetivo avaliar o potencial de

    extratos vegetais como agente anti-inflamatório e protetor em modelos de colite

    experimental, os quais geralmente apresentam compostos fenólicos, principalmente

    os flavonoides, como os metabólitos secundários majoritários. Por exemplo, foi

    reportado que os extratos de Bryophyllum pinnatum e Jasminum sambac, os quais

    possuem polifenóis como componentes majoritários, apresentaram atividade anti-

    inflamatória em modelos de edema de pata e de orelha, enquanto que o extrato de

    Prunus dulcis apresentou atividade em um modelo de colite induzida por ácido

    trinitrobenzenosulfônico (CHIBLI et al., 2014; SENGAR et al., 2015; ZORILLA et al.,

    2014). Os flavonoides, na forma isolada, também tem apresentado considerável

    potencial na modulação da inflamação, apresentando atividade em modelos in vivo

  • 30

    de edema de pata e de orelha (CHIBLI et al., 2015) e in vitro frente à produção de

    óxido nítrico por macrógagos (CUONG et al., 2015). Com relação à atividade de

    flavonoides em modelos de colite, foi reportado que a miricitrina apresentou

    atividade anti-inflamatoria sobre a colite experimental induzida em ratos por sulfato

    sódico de dextrana (SCHWANKE et al., 2013), enquanto que o flavonoide rutina

    apresentou atividade em modelos de colite induzida por sulfato sódico de dextrana e

    de indução por transferência de células T (COMALADA et al., 2005; MASCARAQUE

    et al., 2014).

    Uma constatação relevante que alguns estudos têm enfatizado é a de que os

    glicosídeos de quercetina, como rutina e quercitrina, apresentam atividade anti-

    inflamatória em modelos de inflamação intestinal, enquanto que a aglicona

    apresenta-se inativa. Essa informação é aparentemente contraditória, pois a forma

    livre possui o maior efeito anti-inflamatório in vitro. A hipótese mais reforçada é a de

    que a aglicona é absorvida no intestino delgado e, em contrapartida, a forma

    glicosilada funciona como um pró-fármaco, carreando a aglicona até intestino

    grosso, onde é liberada na forma livre por glicosidases bacterinanas (COMALADA et

    al., 2005; KIM et al., 2005; KWON et al., 2005, MASCARAQUE et al., 2014). Essa

    informação é de extrema relevância para o presente trabalho, pois, de acordo com

    os resultados observados neste estudo, as folhas de Ziziphus joazeiro possuem uma

    grande variedade de flavonoides glicosilados.

    2.3 Ziziphus joazeiro Martius: informações gerais

    O gênero Ziziphus pertence à família Rhamnacea, encontrada nas regiões

    temperadas, tropicais e subtropicais de todo o mundo e possui aproximadamente

    900 espécies distribuídas em 58 gêneros (BARROSO, 2002).

    Os representantes desta família, no Brasil, podem ser encontrados em todas

    as cinco regiões do país e, consequentemente, em todos os domínios

    fitogeográficos (Amazônico, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal).

    No país, a família compreende 14 gêneros, sendo três endêmicos. Os gêneros

    possuem 47 espécies representativas, das quais 16 são endêmicas. Na região

    Nordeste, 20 das 47 espécies podem ser encontradas (LIMA, 2013b).

    No Nordeste, as espécies da família são utilizadas na ornamentação, na

    medicina popular, na fabricação de cosméticos, cremes dentais antissépticos e

  • 31

    doces, na alimentação de animais e no trabalho artesanal. As espécies do gênero

    Ziziphus estão entre as mais conhecidas pelos habitantes da região, destacando-se,

    como comentado anteriormente, Z. joazeiro, cuja as raspas da casca são

    comercializadas para o uso na higiene capilar (QUEIROZ, 2006).

    Entre as nove espécies do gênero que ocorrem no país, seis são encontradas

    na região Nordeste:

    Ziziphus cinnamomum Triana & Planch; Ziziphus cotinifolia Reissek; Ziziphus

    guaranítica Malme; Ziziphus platyphylla Reissek; Ziziphus undulata Reissek;

    Ziziphus joazeiro Mart (LIMA, 2013c).

    A espécie Z. joazeiro possui vários nomes populares, sendo os mais comuns

    juá e juazeiro. A planta (Figura 1) é típica da Caatinga e ocorre em oito dos nove

    estados do Nordeste e também em Minas Gerais, sendo encontrada no ambiente de

    forma isolada, longe das matas secas (CARVALHO, 2007).

    Figura 1 - Indivíduo de Ziziphus joazeiro Martius.

    É uma espécie que, ao contrário de outras plantas da Caatinga, consegue

    manter-se perenifolia durante o ano todo. Isto porque a planta possui raízes amplas

    e profundas, capazes de captar a pouca umidade presente na terra semi-árida,

    Fonte: autor

  • 32

    podendo perder por completo a sua folhagem apenas quando a água do solo torna-

    se quase inexistente (OLIVEIRA, 1976).

    As árvores do juazeiro podem atingir até 16 metros de altura quando adultas e

    formam uma copa ampla e densa. O tronco pode ser reto ou tortuoso, sendo bem

    ramificado a partir da base e com galhos dotados de espinhos. A casca externa é

    rígida e de cor cinza escuro a levemente castanha; a casca interna é amarelada, a

    qual libera um exsudato transparente e amargo após uma incisão (CARVALHO,

    2007).

    As folhas medem de 2 a 6 cm de largura por 5 a 10 cm de comprimento.

    São lustrosas, de consistência membranácea a coriácea, com disposição alternada

    nos ramos. Possuem formato oval ou elíptico, ápice acuminado e 3 a 5 nervuras que

    emergem da base e se reúnem no ápice. As flores são pequenas, de coloração

    amarelo-esverdeada. Os frutos são uma drupa amarela de formato esférico,

    medindo de 1,5 a 2 cm de diâmetro (CARVALHO, 2007).

    Figura 2 - Folhas e flores de Ziziphus joazeiro Martius.

    2.4 Estudos etnobotânicos de Ziziphus joazeiro Martius

    Ao longo dos anos, as civilizações e tribos humanas construíram um extenso

    conhecimento acerca de plantas medicinais, as quais foram selecionadas de forma

    Fonte: autor

  • 33

    empírica com base nos seus efeitos. Como exemplo do acúmulo dessa sabedoria,

    tem-se a medicina tradicional Chinesa e a Ayurveda. É este tipo de conhecimento

    que constitui o alvo da pesquisa etnofarmacológica, que visa validá-lo

    cientificamente através de estudos fitoquímicos e farmacológicos não-clínicos e

    clínicos (FABRICANT; FARNSWORTH, 2001; ELISABETSKY, 2001).

    Pode-se dizer que a pesquisa etnodirigida apresenta vantagens em relação à

    pesquisa randômica de plantas e às técnicas de química combinatória. Isto porque

    as espécies que foram utilizadas pelo homem por um longo período provavelmente

    passaram por uma triagem inicial e, consequentemente, possuem maior

    probabilidade de conter compostos eficazes tanto farmacologicamente quanto

    biofarmaceuticamente (ELISABETSKY, 2001).

    Baseando-se nessa ideia, foi realizado, na década de 1980, um levantamento

    de todos os fármacos derivados de plantas utilizados na clínica e observou-se que a

    maioria foi descoberta com base em dados etnobotânicos (FARNSWORTH et al.

    1985). Além disso, outros estudos forneceram evidências da maior eficácia da

    abordagem etnofarmacológica em relação à abordagem aleatória na seleção de

    plantas promissoras (SLISH et al., 1999; KHAFAGI; DEWEDAR, 2000). Portanto, a

    tradição popular mostra-se muito útil para nortear pesquisas que envolvam a

    descoberta de fármacos, o desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos ou

    apenas a validação do uso popular.

    Diante deste contexto, é de grande importância que os estudos científicos da

    espécie Z. joazeiro Mart. também sejam direcionados pelo conhecimento popular,

    sobretudo porque, de acordo com a literatura, esta é uma das plantas do Nordeste

    brasileiro mais utilizadas na região da Caatinga (ALBUQUERQUE et al., 2007) e

    uma das 100 plantas com maior diversidade de usos medicinais do Brasil

    (MEDEIROS; LADIO; ALBUQUERQUE, 2013). Desta forma, foi realizado um

    levantamento bibliográfico da etnobotânica da espécie Z. joazeiro Mart. (Quadro 1).

  • 34

    Quadro 1 - Estudos etnobotânicos de Ziziphus joazeiro Mart.

    Partes Usadas Modo de preparo Uso popular/indicação Referências

    Entrecasca do fruto In natura Sabão e dentifrício BRAGA, 1960 apud

    OLIVEIRA, 1978 Entrecasca do fruto Infusão ou maceração Tônico capilar

    Casca

    ND

    Xampu, anticaspa e tônico capilar

    LIMA, 1985 apud CARVALHO, 2007

    Casca e folha Detergente

    Folha e casca Extrato aquoso

    Alívio de problemas gástricos, clareamento da pele do rosto, tônico capilar, dentifrício, doenças de pele.

    BRAGA, 1960; SOUSA et al., 1991; MATOS, 2002 apud LORENZI; MATOS,

    2008 Entrecasca(pó) Pó Dentifrício

    Casca

    Raspas da casca deixadas em água

    Cicatrizante ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002

    Xarope Tosse

    Casca/folhas ND Anti-inflamatório, antitussígeno, higiene bucal

    OLIVEIRA, 2005

    ND ND Gripe PINTO et al., 2006

    Casca Banho Reações alérgicas TEIXEIRA; MELO, 2006

    Casca do caule

    Adição de raspas da casca na água Cicatrização ALBUQUERQUE, 2006

    Xarope

    ND ND Tosse ALBUQUERQUE, OLIVEIRA, 2007

    Casca (pó) ND Dentifrício, anticaspa AGRA et al., 2007

    Folhas Decocção Micoses superficiais

    CRUZ et al., 2007

    Casca Infusão Candidíase

    Madeira In natura Fitocombustível RAMOS, 2007

    Fruto In natura Alimento

    ROQUE, 2009 Folha In natura Forrageira (dieta de bovinos, caprinos e ovinos).

    Casca (raspa) Maceração, banho e xarope

    Queimaduras, verminose, higiene bucal, gripe, caspa, cicatrizante em geral.

    ND ND Dentifrício SANTOS et al., 2009

    ND ND Mau hálito, doenças bucais CAVALCANTE, 2010

  • 35

    Folhas, frutos, casca Decocção, infusão, maceração, suco

    Gripe, febre, azia, problemas estomacais, indigestão, reumatismo, antiséptico, caspa, dentifrício, tônico capilar

    CARTAXO; SOUZA; ALBUQUERQUE, 2010

    Casca Uso tópico Caspa

    OLIVEIRA; BARROS; MOITA NETO, 2010

    Casca Emplastro Queimadura

    Folha Infusão Problemas gástricos

    Casca Maceração Gripe, caspa, dor dentária SILVA; FREIRE, 2010

    Folha Infusão

    Tosse, gripe, indigestão, bronquite

    MARINHO; SILVA; ANDRADE, 2011

    Casca do caule Maceração

    Entrecasca da raíz Decocção

    Folhas Decocção Problemas da dentição, diarréia

    SILVA et al., 2012

    ND ND

    Antisséptico, antisséptico oral, azia, caspa, constipação, dor de estômago, diarreia, expectorante, febre, ferida, fortificante capilar, gripe, inflamação, insônia, dentifrício, indigestão, problemas estomacais, reumatismo, tosse, tuberculose, helmintíase

    MEDEIROS; LADIO; ALBUQUERQUE, 2013

    ND: Não descrito.

    2.5 Constituintes químicos de Ziziphus joazeiro Martius

    O conhecimento dos metabólitos secundários, presentes no gênero

    Ziziphus, é de fundamental importância, pois permite prever os metabolitos

    secundários que podem ser encontrados na espécie Z. joazeiro Mart. Dentre as

    várias espécies pertencentes a este gênero, destacam-se Ziziphus mucronata Willd.,

    Ziziphus mauritiana Lam. e Ziziphus jujuba Mill., por serem as mais estudadas

    quanto a sua fitoquímica (Quadro 2).

  • 36

    Quadro 2 - Metabólitos isolados de diferentes espécies já estudadas no gênero

    Ziziphus.

    Espécie Parte usada

    Extração Isolado(s) Referência

    Z. mucronata

    Raíz (casca)

    Percolação em diclorometano

    Mucronina A, D e J (alcalóides ciclopeptídicos).

    AUVIN et al., 1996

    Z mauritiana

    Raiz

    Extração em metanol

    Àcido ceanotico, ácido ceanotano, ácido zizimauritico, ácido betulínico.

    JI et. al., 2012

    Z. oxyphylla

    Raiz

    Extração em metanol

    Alcalóides ciclopeptídicos: Oxifilina-B 1, Oxifilina C 2, Oxifilina -D 3, Nummularina-C 4, Nummularina-R 5

    KALEEM et al., 2013

    Z. jujuba e Z. jujuba var. Spinosa

    Folhas Extração em metanol 80%

    Três flavonóides: Quercetina-3-O-rutinosídeo; quercetina-3-O-α-L-arabinosil-(1 → 2)-α-L-rhamnosídeo; 3, quercetina-3-O-β-d-xilosil-(1 → 2)-α-L-ramnosídeo; Duas saponinas: Ziziphus saponina I; Ziziphus saponina

    II Nove ácidos triterpênicos: ácido ceanótico; ácido alfitólico; ácido maslínico; ácido 2-α-hidroxiursolico; ácido ziziberanálico; ácido epiceanótico; ácido ceanotênico; ácido betulínico; ácido oleanólico.

    GUO et al., 2011

    Z. jujuba

    Fruto sem semente

    1 - extração em n-hexano clorofórmio; etanol 80%+ agua + acetato de etila. 2 - extração em n-hexano com posterior maceração com metanol.

    Isômeros do ácido palmitoléico e ácidos triterpénicos, tais como: ácido betulínico, ácido ursólico, ácido alfitólico, ácido oleanóico

    PLASTINA et. al., 2012

    Os trabalhos acerca dos constituintes químicos da espécie Z. joazeiro Mart.

    são esporádicos e tem como foco a investigação dos metabólitos secundários da

    casca, principalmente substâncias triterpenóides.

    Um dos primeiros estudos acerca dos fitoconstituintes da espécie foi

    publicado em 1984 por Higuchi et al.. Nesse trabalho, a partir da casca, foram

    isoladas e caracterizadas três saponinas triterpênicas inéditas que diferem quanto à

    porção glicídica e, portanto, possuem a mesma aglicona, a jujubogenina,

    previamente isolada das sementes de Ziziphus jujuba. A primeira saponina

    (bacocasídeo X) é uma jujubogenina ligada a uma molécula de glicose (β-D-

    glicopiranose) e duas moléculas de arabinose (α-L-arabinofuranose e α-L-

  • 37

    arabinopiranose). A segunda e terceira saponinas correspondem a jujubogenina

    ligada à mesma porção glicídica, porém a glicona encontra-se monosulfatada (4’’’-O-

    sulfato) para a segunda saponina, e disulfatada (3’’, 4’’’-di-O-sulfato) para a terceira

    saponina.

    Posteriormente, foi realizado um estudo no qual a casca do caule foi extraída

    com clorofórmio, seguido de extração com metanol, sendo a fração clorofórmica

    submetida à cromatografia líquida em coluna e a fração metanólica submetida a uma

    cromatografia de gel de filtração. Ao final do estudo, foram isolados da casca do

    caule ácido betulínico, ácido oleanóico e uma saponina que forneceu lactona ebilin

    quando submetida à hidrólise ácida (BARBOSA-FILHO; TRIGUEIRO;

    BHATTACHARYYA, 1985). A lactona ebilin, segundo os autores, provavelmente é

    um artefato derivado da hidrólise de um glicosídeo de jujubogenina, sendo o mesmo

    evento detectado anteriormente por Higuchi et al. (1984).

    Kato et al. (1997) isolaram e identificaram da casca do caule de Z. joazeiro

    Mart. lupeol, ácido betúlinico, cafeína e estearato de glicerila. Dois anos após, em

    um estudo feito na Suiça, foram isolados do extrato diclorometano da casca os

    ácidos triterpênicos betulínico, ursólico e alfitólico, também presentes em Z. jujuba

    (GUO ET al., 2011; PLASTINA et. al., 2012) assim como três novos ácidos

    triterpênicos derivados do ácido betulínico: [ácido betulínico 7-β-O-(4-

    hidroxibenzoiloxi); ácido betulínico 7-β-O-(4-hidroxi-3'-metoxibenzoiloxi) e ácido

    betulínico 27-O-(4-hidroxi-3'-metoxibenzoiloxi) (SCHÜHLY et al., 1999). Em seguida,

    os mesmos autores isolaram da casca 4 saponinas triterpênicas, sendo três nunca

    antes reportadas na literatura (SCHÜHLY et al., 2000).

    A primeira saponina, um jujubosídeo, já havia sido isolada por Higuchi et al.

    (1984) e, dentre as isoladas, foi considerada a majoritária. Outra saponina isolada foi

    denominada lotosideo A, a qual compartilha a mesma aglicona presente nas

    saponinas lotosídeo I e II, isoladas da casca da raíz de Z. lotus (RENAULT et al.,

    1997). As últimas saponinas possuem uma aglicona inédita e estruturalmente similar

    a lotogenina, a qual foi intitulada joazeirogenina. Assim, essas novas saponinas

    foram nomeadas joazeirosídeo A e joazeirosídeo B, diferindo apenas quanto ao

    número e natureza dos açúcares ligados ao carbono 3.

    Em 2010, Leal et al. realizaram um fracionamento do extrato etanólico da

    casca do Z. joazeiro Mart. baseado na atividade antibacteriana,. Após a extração

    com etanol, foram realizadas partições com solventes de polaridade crescente

  • 38

    (diclorometano, acetato de etila e butanol) gerando, respectivamente, 3 frações.

    Dentre essas, apenas a fração diclorometano foi escolhida para análises posteriores

    por apresentar a maior atividade antibacteriana. Após ser submetida a sucessivos

    fracionamentos, foram isolados e identificados 5 compostos triterpênicos

    provenientes da casca: metilbetulinato, ácido betulínico, ácido alfitólico, ácido

    epigouanico A e metilceanotato, este último sendo o composto majoritário da fração

    mais ativa (LEAL et al., 2010).

    Os estudos anteriormente citados tinham como foco o isolamento,

    identificação e/ou caracterização dos metabólitos da casca, no entanto, foram

    publicados estudos fitoquímicos, neste caso de caráter preliminar, acerca de outras

    partes da planta, como folhas e frutos. Foram realizadas análises em extratos

    metanólicos obtidos a partir de amostras de caule e folha de plantas jovens e

    adultas. Os extratos foram analisados por Cromatografia em Camada Delgada com

    o emprego de diversas fases móveis e reveladores específicos. Como resultado, foi

    observada a presença de saponinas, mono, sesquiterpenos e esteróides em todas

    as partes vegetais. Apenas nas folhas foram detectados flavonoides, enquanto que

    apenas no caule de plantas adultas foram detectados derivados do ácido cinâmico e

    cumarinas (SILVA, 2008). Outra análise fitoquímica preliminar avaliou a composição

    de extratos etanólicos da casca do caule, folhas e frutos. A casca do caule

    apresentou saponinas, triterpenos, esteróides; as folhas apresentaram alcalóides,

    saponinas, triterpenos, esteróides e taninos (MELO et al., 2012).

    Em 2015, foi publicado um trabalho que envolveu a análise fitoquímica

    preliminar do extrato hidroetanólico, assim como a avaliação da presença de

    compostos fenólicos por CLAE. Na prospecção fitoquímica, foi detectada a presença

    de ácidos fenólicos, flavonoides, taninos e saponinas. Através da análise por CLAE,

    foram identificados 11 compostos fenólicos no extrato hidroalcoólico das folhas,

    constituindo um relato inédito para as folhas da espécie. Desses 11 compostos, 4

    são ácidos fenólicos (ácido gálico, ácido clorogênico, ácido cafeico, ácido elágico) e

    7 são flavonoides (catequina, epicatequina, quercetina, isoquercitrina, quercitrina,

    rutina e canferol). Os polifenóis presentes no extrato foram identificados ao se

    comparar o seu tempo de retenção e espectro no UV com os de padrões comerciais.

    No entanto, não foi realizada uma co-eluição dos padrões com o extrato nem uma

    análise posterior por técnicas espectroscópicas. Logo, a presença desses

  • 39

    compostos fenólicos nas folhas é de caráter sugestivo, não confirmatório (BRITO et

    al., 2015).

    Com base no que foi exposto acerca dos constituintes químicos, pode-se

    concluir, no geral, que a casca possui triterpenoides e heterosídeos triterpênicos, as

    saponinas. As folhas possuem triterpenos, saponinas, alcaloides, taninos e

    compostos fenólicos, principalmente os flavonoides.

    2.6 Atividades biológicas descritas para a espécie Ziziphus joazeiro Martius

    2.6.1 Atividade antifúngica

    Cruz et al. (2007) observaram que o infuso (1mg/mL) da entrecasca de Z.

    joazeiro apresentou atividade antifúngica contra Candida albicans, C. guilliermondii,

    Cryptococcus neoformans, Trichophyton rubrume Fonsecaea pedrosoi. Foram

    observados valores de CIM entre 6,25 µg/mL e 400 µg/mL. Em outro estudo, as

    saponinas extraídas da casca apresentaram atividade contra C. albicans (156

    µg/mL) e Aspergillus niger (312.5 µg/mL) pelo método de microdiluição em caldo

    (RIBEIRO et al., 2013). O extrato etanólico (SILVA et al, 2011) e o extrato

    hidroalcoólico da casca (MELO et al., 2012) também apresentaram atividade frente

    a C. albicans pelo método de difusão em ágar.

    As folhas foram avaliadas num estudo recente acerca da sua atividade

    antifúngica. A CIM do extrato hidroetanólico das folhas foi determinada pelo método

    de microdiluição em caldo, frente a cepas clínicas de Candida krusei, Candida

    tropicalis e Candida albicans, além de cepas multirrestitentes de C. krusei, C.

    tropicalis e C. albicans. Nesse estudo, a CIM foi ≥ 1024 µg/mL, indicando, segundo

    os autores, ausência de atividade antifúngica para as folhas (BRITO et al., 2015).

    2.6.2. Atividade antibacteriana

    Em estudos que realizaram uma triagem da atividade antibacteriana, extratos

    etanólicos, hidroalcoólicos e hexânicos de diferentes partes do joazeiro (folhas,

    casca, frutos) apresentaram variada atividade frente a isolados clínicos e cepas de

    referência de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Em geral, os extratos

  • 40

    etanólicos foram os mais ativos, assim como os da casca. (LIMA, 2008; SILVA et al.,

    2011; MELO et al., 2012).

    Contrariamente aos estudos mencionados, um extrato da casca da planta,

    rico em saponinas, não apresentou efeito inibitório, em concentração igual ou inferior

    a 12,5 mg/mL, frente às seguintes cepas: Pseudomonas aeruginosa ATCC 9027,

    Escherichia coli ATCC 8739, Staphylococcus aureus ATCC 6538 e Bacillus

    subtilis ATCC 6633 (RIBEIRO et al., 2013).

    Por outro lado, em estudos fitoquímicos biomonitorados, compostos

    triterpênicos isolados de extratos metanólicos da casca apresentaram atividade

    frente a bactérias Gram-positivas, com CIM entre 8 e 128 µg/mL (SCHÜHLY et al.,

    1999, LEAL et al., 2009).

    Foi realizado um estudo sobre a atividade antibacteriana de dentifrícios pelo

    método de difusão em ágar. O dentifrício da empresa Unilever (Gessy Cristal®),

    contendo extrato da casca do joazeiro em sua composição, apresentou atividade

    frente a bactérias causadores de cárie (BARRETO et al., 2005).

    Em um estudo etnobotânico sobre plantas utilizadas em doenças bucais, a

    atividade antibacteriana do extrato etanólico (maceração) e do extrato aquoso

    (decocção) da casca do juá foi avalidada frente a bactérias associadas a doenças

    bucais. O extrato etanólico foi ativo contra todas as cepas enquanto que o decocto

    não apresentou efeito inibitório contra a maioria (CAVALCANTE, 2010). Um extrato

    aquoso (infuso) da casca interna de Z. joazeiro Mart. também apresentou atividade

    antimicrobiana contra bactérias relacionadas à doenças bucais, com valores de CIM

    variando de 1mg/mL a 16 mg/mL (ALVIANO et al., 2007).

    Recentemente, o EHF das folhas foi avaliado pelo método de microdiluição

    em caldo para a determinação da CIM. O extrato foi testado frente às cepas de

    Staphylococcus aureus ATCC 25923, Escherichia coli ATCC 25922 e Enterobacter

    aerogenes, assim como frente a cepas multirresistentes de S. aureus, E. coli e E.

    aerogenes. Além da CIM, foi avaliado o sinergismo do extrato quando associado a

    diferentes antimicrobianos, como amoxicilina, penicilina G, gentamicina, amicacina e

    vancomicina. Nesse estudo, a CIM foi ≥ 1024 µg/mL, indicando, segundo os autores,

    ausência de atividade antibacteriana para as folhas. Porém, foi observada uma

    redução da CIM dos antimicrobianos amicacina e gentamicina, quando associados

    ao extrato hidroetanólico das folhas (BRITO et al., 2015).

  • 41

    2.6.3 Atividade larvicida

    Ao analisar as atividades dos extratos aquoso (15%, p/v) hidroalcoólico (50%,

    p/v) e etanólico das folhas de Z. joazeiro Mart. contra a larva do Culex

    quinquefasciatus, verificou-se que os extratos hidroalcoólico e etanólico

    apresentaram resultados significativos contra o estágio larval L3 (26% e 28% de

    mortalidade, respectivamente), ao contrário do extrato aquoso que não apresentou

    resultados satisfatórios (LIMA, 2008).

    2.6.4 Atividade antioxidante

    Em um estudo, avaliou-se a atividade antioxidante da fração butanol, obtida

    do extrato metanólico da casca, e de uma fração enriquecida em saponinas, obtida a

    partir da lavagem da fração butanol com NaOH 1%. A atividade antioxidante foi

    avaliada pela capacidade dos extratos em capturar o radical livre DPPH (2,2-difenil-

    2-picrilhidrazila). A fração enriquecida em saponinas apresentou CE50 (quantidade

    de amostra necessária para diminuir em 50% a absorbância do DPPH) maior que

    10.000 µg/mL. A fração butanol, composta de saponinas e compostos fenólicos,

    apresentou CE50 de 668 µg/mL (RIBEIR