MIOLO A beleza esta nos olhos de quem ve - Editora Sextante · ·9 · Prefácio As mulheres são...

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Dedicatória Dedico este livro a todas as mulheres que, ao longo da história, se angustiaram, se deprimiram, choraram, foram tolhidas, pres- sionadas, mas não desistiram dos seus sonhos, não calaram sua voz. Com lágrimas e coragem, levantaram a bandeira da liberdade e lutaram para conquistar seu espaço social, e vitoriosamente o vêm conquistando a cada dia. E agora, mais uma vez, precisam estar unidas para combater a tirania da beleza que asfixia a nossa autoimagem e a nossa autoestima. Somos 100% mulheres e não abrimos mão de 100% dos nossos direitos.

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D e d i c a t ó r i a

Dedico este livro a todas as mulheres que, ao longo da história, se angustiaram, se deprimiram, choraram, foram tolhidas, pres-sionadas, mas não desistiram dos seus sonhos, não calaram sua voz. Com lágrimas e coragem, levantaram a bandeira da liberdade e lutaram para conquistar seu espaço social, e vitoriosamente o vêm conquistando a cada dia. E agora, mais uma vez, precisam estar unidas para combater a tirania da beleza que asfi xia a nossa autoimagem e a nossa autoestima. Somos 100% mulheres e não abrimos mão de 100% dos nossos direitos.

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A beleza

está nos olhos

de quem vê

Camila Cury

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“Lutamos pelo nosso espaço social todos os dias. Mas, sem percebermos, deixamos de lutar por nós mesmas, pelo nosso direito de nos sentirmos belas e atraentes em uma sociedade que padroniza e limita toda a beleza emocional, intelectual e física de nós, mulheres. Vamos continuar passivas?

Aprender que a beleza está nos olhos de quem vê não ad-vém de uma vontade eufórica da emoção, mas de uma atitu-de consciente de um Eu determinado a se tornar autor da sua própria história.”

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Prefácio

As mulheres são bombardeadas diariamente pelo sistema so-cial com imagens de modelos magérrimas – e, por vezes, des-nutridas – como padrão de beleza. Uma simples revista de moda, um “ingênuo” fi lme de Hollywood, um programa de TV, todos contêm mulheres fora dos padrões comuns de beleza. Uma, duas, três, dez, cem, milhares de imagens são arquivadas no córtex cerebral todos os dias.

Quem conhece o funcionamento da mente sabe que cada ser humano é de inigualável complexidade. Nos computa-dores você tem liberdade de registrar as informações que bem entende e apagá-las quando desejar. Você e eu somos deuses da memória dessas máquinas, mas somos meninos diante da nossa memória. Digo isso porque no nosso córtex, que é a camada mais evoluída do cérebro, o registro das in-formações e experiências não depende da vontade humana. No mundo exterior, escolhemos que carro comprar, que profissão seguir, que parceiro(a) dividirá a vida conosco; mas, no mundo psíquico, cada experiência é registrada in-voluntariamente pelo fenômeno RAM (registro automáti-co da memória).

O seu Eu não pode impedir o registro. E, pior ainda, uma vez registrado, o seu Eu não pode apagar o banco de dados, só ree-ditá-lo ou reescrevê-lo. Tente apagar suas fobias (medos), seus desafetos, seus dias mais tristes. Quanto mais tentar, mais se fi -xará neles, e então mais eles o dominarão.

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Por isso, torna-se impossível apagar da mente as imagens de mulheres tão diferentes do biotipo normal. Você pode dizer que elas não a afetam, talvez até se convença conscientemente, mas elas já penetraram nos porões inconscientes da sua perso-nalidade, ditando diretrizes doentias, gerando uma interpreta-ção distorcida de sua autoimagem, produzindo baixa autoestima, elevada autorrejeição e, consequentemente, autopunição. Esse é um dos maiores crimes contra as mulheres de todas as eras.

O livro A beleza está nos olhos de quem vê, escrito pela Camila, mostra-nos com contundência que esse crime não dilacera a pele, não sangra veias e artérias, mas fere a mente humana em seu sentido mais profundo e sangra a emoção em sua mais no-tável intensidade; em especial, sangra o prazer de viver, a liber-dade de ser, a espontaneidade e o amor-próprio. Mostra-nos que esse crime, apesar de bárbaro, é socialmente aceito.

É fácil o ser humano se adaptar às suas misérias e perder sua sensibilidade. Diversos fi lósofos gregos presenciavam escravos por toda a Grécia antiga sem se indignar. Cristãos que disseram seguir o homem que suplicou aos seus discípulos que amassem seus inimigos e fossem generosos com os que pensam diferente apoiaram cruéis cruzadas e a escravidão de seres da sua própria espécie. Empresas juram ética na confecção de seus produtos, tentando nos convencer de que sua maior preocupação é o ser humano. Todavia não abrem mão de promover-se usando mo-delos esquálidas e magérrimas, sem se importar com o desastre no inconsciente coletivo, em especial das adolescentes.

A ditadura da beleza exposta neste livro mostra que ela tem furtado a mais vibrante das paixões, a paixão pela vida. Muitas mulheres e não poucos homens, em vez de se aventurarem, construírem seus sonhos, arriscarem novas amizades e ocuparem espaços sociais, gravitam na órbita da anatomia do seu corpo. Passam 5%,10% ou mais do seu tempo diante do espelho, não

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valorizando seu patrimônio genético, mas exaltando seus defei-tos – pelo menos aqueles construídos doentiamente em sua psi-que. Entretanto, o massacre não acaba quando a imagem não se refl ete mais no espelho; ele se perpetua ao longo do seu dia, da sua história, infl uenciando os relacionamentos, a autoestima e até o desempenho profi ssional.

Camila é minha fi lha. É difícil prefaciar o livro de quem se ama tanto. Eu a admiro como fi lha, pois ela é muito amável e generosa; admiro-a como psicóloga, pois, apesar de ainda ter uma longa carreira pela frente, tem mostrado consistência e consciência profi ssional. E a admiro como mulher, pois tem co-ragem de usar as palavras para falar o que pensa, para ser poética e crítica, seja de si mesma, seja da sociedade moderna.

A beleza está nos olhos de quem vê tem um título instigante e um tema que todos nós precisamos discutir sem medo, sem reservas e sem preconceitos. A beleza, da estética ao conteú-do, está nos olhos de quem interpreta, sente, vive. Desde quando ela era criança tecemos longos diálogos sobre a fi lo-sofi a e a psicologia da beleza. Desde cedo comentamos que a beleza não pode ser comercializada, vendida ou padronizada. Ela entendeu que, para ser emocionalmente saudável numa sociedade doente, cada mulher deveria – assim como pratica andar, dirigir, usar computadores – treinar seu Eu para deixar de ser passiva, liberar suas habilidades para escrever sua pró-pria história e sentir-se única, bela, inteligente, apesar de suas falhas e limitações.

Sinceramente espero que este livro estimule a arte de pensar, promova discussões e gere um novo olhar das mulheres sobre o seu romance particular consigo mesma.

Augusto CuryPsiquiatra, pesquisador, escritor

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� �Introdução

Ao longo da história, as mulheres, com raras exceções, foram submissas e, não poucas vezes, desvalorizadas. Submissas à famí-lia, ao marido, à sociedade; algumas foram queimadas, outras, silenciadas e até apedrejadas. Quem deu importância aos gemi-dos inexprimíveis dessas mulheres? Elas não tinham voz para protestar nem espaço social para reivindicar seus direitos.

Hoje ainda somos submetidas a angústias não menores que essas. E o que é mais impressionante é que, apesar de termos voz e espaço para protestar, nos calamos!

No passado não tínhamos o direito de votar, de expressar ideias, muito menos de construir nossos projetos. Não há dúvida de que demos um salto muito grande. Nós nos atribuímos e vamos aos poucos conquistando os mesmos direitos que os ho-mens, tornando-nos ativas na construção da nossa sociedade.

Mas, sem perceber, estamos sendo dominadas por um ditador sem rosto, um carrasco que nos aprisiona no único lugar em que deveríamos ser livres: dentro de nós mesmas. Refi ro-me ao sistema social que insiste em criar um padrão de beleza rígido, reduzindo nossa beleza emocional e intelectual a determinados traços do rosto e a algumas curvas do corpo que não corres-pondem ao biotipo da maioria de nós, mulheres.

E o grande problema é que nos submetemos a esse pa-drão e pagamos caro por isso. Se pensarmos bem, não só

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somos dominadas por esse padrão, como nos tornamos suas principais aliadas. Você? Sim! Você e eu! Todas nós! Como? Pare um pouco e pergunte-se: quem é seu pior vilão? O mundo de fora? A opinião dos outros? Os padrões tirânicos de beleza? Concordo que eles tenham peso, e até cheguem a agredir a plenitude da nossa beleza. Mas, pensado bem… Não somos nós mesmas que nos diminuímos diariamente? Não somos nós mesmas que, em frente ao espelho, nos au-topunimos? Não são os nossos pensamentos que nos depri-mem? O mundo de fora constrói suas verdades e seus padrões e, infelizmente, nós os adotamos como se fossem nossos. Pagamos um preço alto!

É verdade que conquistamos muitos direitos sociais e nos tornamos atuantes dentro da sociedade. Mas continuamos pas-sivas dentro de nós mesmas, caladas e submissas no lugar em que deveríamos gritar. Damos importância ao nosso trabalho, às pessoas à nossa volta, mas nos esquecemos de proclamar em voz alta que, ainda que sejamos substituíveis profi ssionalmente, so-mos insubstituíveis como seres humanos. Somos únicas! Você é úni-ca, e precisa aprender isso!

Infelizmente, não sabemos fi ltrar as mensagens subliminares escondidas atrás das propagandas, dos fi lmes, das revistas, de to-das as formas de mídia que nos bombardeiam diariamente.

E aqui, amiga leitora, acho necessário fazer uma pausa para lhe explicar uma coisa da maior importância. Algo que acontece no mundo das nossas ideias, mas que é pou-co comentado numa sociedade que desbrava muito mais o mundo exterior do que nosso mundo interior. Se você não tomar consciência do que se passa em sua mente, será eternamente vítima do que a sociedade lhe impõe. Vou falar do fenômeno RAM, das JANELAS DA MEMÓRIA e do AUTOFLUXO.

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Esses assuntos são complexos, mas tentarei explicar da for-ma mais simples. Se achar necessário, releia os três tópicos, fundamentais para que você possa entender os fenômenos que ocorrem em sua psique.

Fenômeno RAM é a sigla para “registro automático da me-mória”. Ao longo da nossa história, todas as imagens, expe- riências e situações a que somos submetidas são arquivadas involuntariamente – sem a nossa autorização – por esse fenô-meno, sem que tenhamos oportunidade de escolha. Uma vez que algo é registrado pelo fenômeno RAM, jamais poderá ser apagado, apenas reeditado.

Cada estímulo, cada sentimento de inferioridade, cada situa-ção existencial a que somos submetidas, tudo isso é arquivado pelo fenômeno RAM, formando o que chamamos de “janelas da memória”. É através delas que enxergamos o mundo e nos relacionamos com ele, com os outros e com nós mesmas. Ou seja, a maneira como encaramos a vida está inteiramente rela-cionada às experiências e aos estímulos a que somos submetidas ao longo da nossa história.

Existem dois grandes tipos de janelas da memória: as janelas light e as janelas killer. Nas light se encontram nossa segurança, nossa ousadia, nosso amor pela vida e por nossa história, nossa criatividade, entre outros registros positivos que nos fazem am-pliar nossa visão de mundo e de nós mesmas. Nas janelas killer estão nossos traumas, nossos complexos de inferioridade, nossas angústias e autopunição – essa janela bloqueia a nossa inteli-gência e aprisiona o nosso Eu.

Você só pensa o que quer? Quando quer? Infelizmente, não! Esse é o fenômeno do autofl uxo, que entra em ação em nossa memória produzindo milhares de vezes ao dia pensamentos, sentimentos e imagens mentais sem a nossa autorização. É a nossa maior fonte de entretenimento, é onde passamos a maior

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parte do nosso tempo. Como? Isso acontece quando viajamos em nossos pensamentos, aqueles que nos fazem reviver alguns confl itos, nos alegrar com algumas conquistas e esperar novos projetos. São, enfi m, os milhares de ideias, sonhos e desejos que nascem no território da memória. Qual é então o grande pro-blema? É que, se por uma via o autofl uxo nos entretém diaria-mente, por outra ele se fi xa nas janelas que contêm o maior grau de emoção. Por isso as vivências que produzem maior impacto emocional são muito mais facilmente lembradas do que os fatos corriqueiros do dia a dia.

Para ilustrar a atuação desses três fenômenos, podemos lem-brar o sentimento angustiante que muitas vezes experimenta-mos quando nos deparamos com uma mulher considerada bonita, daquelas que se encaixam nos padrões de beleza consa-grados pela mídia e pela sociedade. Ao nos fi xarmos nela, temos a tendência de nos menosprezar e nos diminuir por não possuir-mos o mesmo corpo, o mesmo cabelo, os mesmos olhos. Às vezes não temos consciência de que essa imagem nos agride, e, quando nos olhamos no espelho e nos achamos desinteressantes, não conseguimos entender o porquê. O que acontece é que o fenômeno RAM já registrou milhares de imagens de mulheres magérrimas ao longo do seu dia, da sua semana, da sua história, ditando o que é belo. E o pior é que ele não apenas registra na nossa memória a imagem da “mulher-padrão”, como também to-dos os sentimentos de inferioridade provocados de maneira acen-tuada por aquela imagem. Assim, forma-se uma janela killer, na qual o fenômeno do AUTOFLUXO começa a atuar, produzindo milhões de ideias e pensamentos negativos que menosprezam a nossa autoimagem e esmagam a nossa autoestima.

Cada vez que essa janela é lida, ela é arquivada novamente pelo fenomeno RAM, desertifi cando áreas nobres da nossa per-sonalidade. Nós nos preocupamos tanto com a poluição do

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planeta, ignorando que a nossa mente está cada dia mais poluída. E agora? Será que fomos condenadas a nos tornar eternamente escravas desse sistema perverso e dos nossos pensamentos nega-tivos? Não! Existe uma esperança!

Querida leitora, o imenso mundo da mente humana possui muitos segredos. E o mais poderoso de todos é a capacidade do nosso Eu de atuar como gestor da psique, admistrando todos os fenômenos inconscientes da nossa mente. O nosso Eu não é res-ponsável por tudo o que pensamos ou sentimos. Mas é seu dever decidir qual atitude tomar.

Quando o nosso Eu, a nossa capacidade de livre escolha, é desenvolvido, ele não se deixa mais dominar pelo mundo de fora, nem pelos milhares de ideias negativas produzidas pelos fenômenos inconscientes. Foi por isso que escrevi este livro: para descobrirmos juntas como esse Eu que está dentro de você pode se tornar o autor principal do teatro da sua mente, para que você se liberte dos pensamentos que a controlam e do sis-tema ditatorial em que vivemos. E seja livre para se sentir bonita e atraente, mesmo quando o sistema não a julga assim. Livre para aprender que a beleza está nos olhos de quem vê.

Será que você conhece a mulher que está por trás da imagem refl etida no espelho? Quem é você? Quais são suas metas? Quais são os seus potenciais? Qual é a força que você possui e não utiliza? Como desenvolver em seu Eu uma consciência crítica capaz de fi ltrar as mensagens subliminares e libertá-la do seu complexo de inferioridade? Como proteger a emoção? Como esculpir sua autoimagem? Como colocar combustível na sua autoestima? Como aprender a ter um caso de amor com você mesma e com sua história?

Essas perguntas fazem parte da viagem deste livro. Não há res-postas prontas ou soluções mágicas, mas é possível encontrar al-gumas ferramentas que lhe permitam buscar uma mente livre e

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serena. É angustiante ver uma pessoa em crise asmática, procu-rando desesperadamente respirar. É igualmente angustiante ver tantas adolescentes e mulheres adultas em crise, sem conseguir aspirar o oxigênio da liberdade.

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� �Capítulo 1

Calaram a voz das mulheres

Autoimagem e autoestima

Há duas defi nições básicas que nós, mulheres, precisamos aprender para mudar o modo como encaramos a vida e a relação que temos com nosso corpo, nossa mente e o mundo que nos circunda. São elas a autoimagem e a autoestima.

Autoimagem, do ponto de vista físico, é o modo como você enxerga e valoriza seu corpo. Se você se vê baixa ou alta, magra ou gorda, com nariz pequeno ou grande, seios volu-mosos ou fl ácidos, e assim por diante. Sob o ponto de vista psicológico, a autoimagem envolve outras características. Se você se sente capaz ou incapaz, livre ou aprisionada, criativa ou engessada, segura ou vulnerável. Resumindo, a autoima-gem física e a psíquica representam as características que nos fazem perceber quem somos.

E a autoestima? É o sentimento que você tem em relação à sua autoimagem, é como você interpreta a forma como se vê. Uma autoestima elevada é saturada de prazer, bom hu-mor, otimismo, autoconfi ança, determinação, fl exibilidade. A baixa autoestima é envolvida em angústia, pessimismo, hu-mor fl utuante, autopunição, insegurança, rigidez. A sua auto-imagem abre as comportas da autoestima, do amor-próprio.

A autoimagem é fruto do Eu que lidera nossa mente e de-termina nossa capacidade de escolha. A autoestima é fruto da

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emoção. Para controlar o sentimento em relação ao seu corpo, primeiro você tem que mudar a maneira como se vê. Se você menospreza o seu corpo, só reparando nos defeitos, não espere ter uma relação de amor com ele. Para construir um romance com a sua história, é preciso primeiro aprender a se elogiar, a se ver bonita, a ter uma atitude madura e inteligente. Só assim você cria uma emoção feliz e saudável.

Um Eu livre constrói os parâmetros do próprio corpo e o avalia sem depender de opiniões externas. Mas um Eu doente e aprisionado será escravo dos padrões tirânicos de beleza impos-tos pela sociedade. Como construir uma autoestima sólida ou um amor-próprio saudável se o nosso Eu, infl uenciado pelo meio social, impõe altíssimas exigências para nos sentirmos belas e realizadas? Impossível!

Dezenas de milhões de mulheres de todas as nações moder-nas levam uma vida emocional miserável porque não possuem amor-próprio. Não se dão conta de que, antes de investir em aumentar a autoestima, devem transformar a autoimagem, a maneira como se veem e se percebem.

Nós, mulheres (adolescentes, jovens e adultas), não precisa-mos ser heroínas, mas inteligentes. As mudanças não ocorrem rapidamente. Aliás, mudanças rápidas, provocadas apenas por mensagens positivas, vêm e vão como os raios solares. Não re-sistem ao anoitecer. É por isso que neste livro proponho uma nova posição diante dos seus pensamentos, das suas verdades e da sua relação com o mundo. São essas as descobertas que de-sejo fazer junto com você. Você não controla diretamente a forma como se sente, mas pode e deve controlar a forma como se vê. Eis o grande segredo!

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Não existem mulheres perfeitas

São simples e sutis as diferenças entre autoimagem e au-toestima. Você pode não ser a mulher mais linda ou mais capaz, e até perceber a necessidade de perder alguns ou muitos quilos, melhorar seu visual, ou ser mais corajosa e determinada. Mas achar que precisa de ajustes em sua vida física ou psíquica não deve impedi-la de valorizar sua autoi-magem, de resgatar seus valores, de se alegrar com suas qua-lidades e habilidades. Assim, você estará irrigando sua emoção e sua autoestima.

Uma autoestima elevada não requer uma mulher perfeita – mesmo porque essa mulher não existe. Mas exige criar uma autoimagem fl exível, complacente e generosa.

Muitas mulheres querem atingir uma elevada autoestima, mas não equipam seu Eu para aprender a estabelecer uma relação inteligente e agradável com seu corpo, seu intelecto e sua emoção. Estão engessadas, mas querem correr nas Olimpía-das. Muitas desejam sentir-se bem, mas não sabem fazer marke-ting pessoal, primeiro para elas mesmas e depois para os outros. Pelo contrário, se diminuem, se inferiorizam, são especialistas em apontar os próprios defeitos, em superdimensioná-los. Se adolescentes e mulheres adultas não prestarem muita atenção nesses sentimentos, seu amor-próprio naufragará como um barco com um rombo no casco.

Não é à toa que existem no Brasil quase 2 milhões de pessoas com anorexia nervosa – da qual vamos falar mais à frente – e nos Estados Unidos, quase 3 milhões. É incrível que criaturas magérrimas, pele e osso puros, recusem-se a comer porque se sentem obesas! Não há tragédia maior.

Pesquisas também demonstram que apenas 3% das mulheres em alguns países industrializados se sentem belas. E as outras

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97%? Estão naufragadas em diversos estágios. O que fi zeram com nós, mulheres? O que permitimos que fi zessem? O que estamos fazendo com nós mesmas?

Vamos ver alguns exemplos da relação com nosso corpo. Se nos concentrarmos no que consideramos defeitos, como aquela ruga, as estrias na barriga, uma cicatriz ou o quadril não torneado, nossa autoimagem será doentia. O que temos de belo ficará em segundo plano, debilitando consequente-mente nossa autoestima. Nada destrói tanto a autoimagem quanto viver concentrada nos próprios “defeitos”, frequen-temente exagerados e que acabam se transformando em fal-sas crenças em nossa cabeça.

Se você detesta algumas partes do seu corpo, não espere que outras partes da sua anatomia compensem seu sentimento de autopunição. A autoestima não é um fruto mágico da emoção, mas do seu olhar. Os olhos da razão são os trilhos da emoção.

Se cobrarmos excessivamente de nós mesmas, nunca es-taremos satisfeitas com o que possuímos. O grande proble-ma é que, para vender seus produtos e serviços, o sistema capitalista em que vivemos bombardeia diariamente a au-toimagem das mulheres, exaltando modelos magérrimas, desnutridas e doentes pelos padrões da medicina, e apresen-tando-as como o exemplo mais nobre de beleza – modelos que sempre escapam ao biotipo comum.

Essas imagens transmitidas pela mídia não são inocentes. Elas entram no inconsciente coletivo das mulheres e se tor-nam um padrão de beleza superexigente que as escraviza, ge-rando uma autoimagem que afeta a relação que o nosso Eu constrói com nós mesmas e deprimindo a nossa autoestima. A autoimagem e, consequentemente, a beleza são um patrimô-nio pessoal e intransferível. Eis uma grande lição psicológica, fi losófi ca e sociológica!

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Não permita que o sistema social dite a imagem que você deve ter de si mesma. Se isso acontecer, sua autoestima será fl utuante e vulnerável. Você estará correndo um grande ris-co! Essa é uma tarefa que compete exclusivamente a você! Mas, infelizmente, muitas mulheres delegam essa função a outros, o que contribui para que desenvolvam transtornos alimentares (anorexia, bulimia, vigorexia), depressão, obses-sões, ansiedade.

Além desses transtornos, essa dependência da opinião externa gera insatisfação, autorrejeição, angústia, irritabilidade, insegu-rança. Inúmeras mulheres estão encerradas nessa masmorra. Será que você também está atolada nesse pântano, sem perceber?

As neuroses: o céu e o inferno emocional

Quem nunca se examinou na frente do espelho, desejando ar-dentemente uma barriguinha mais sarada, um quadril menos largo, olhos sem as marcas do tempo, pernas malhadas sem estrias ou celulite? Esses desejos são saudáveis, mas se transformam em pro-blemas quando viram obsessão. Detestamos a insistente fl acidez debaixo do braço que se evidencia quando acenamos para alguém. E sonhamos acordadas imaginando como TUDO seria diferente se tivéssemos um corpo perfeito, uns quilinhos a menos, seios um pouco maiores, coxas sem qualquer fl acidez.

E subir na balança? Para muitas mulheres esse movimento inunda o corpo da mesma adrenalina que o invade em uma queda livre. A antiga calça jeans que emperra nas coxas pode ser motivo de luto por alguns dias.

E quando alguém que não nos vê há algum tempo, depois de nos observar, diz, com aquele sorriso maroto, “Nossa, você está assim… mais saudável…”? Respiramos fundo, contendo a

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vontade de “pular no pescoço” dessa pessoa que, delicadamen-te, tentou nos dizer: “Como você engordou!”. Uma observa-ção dessas é sufi ciente para nos punir. Já parou para pensar em como você se angustiou quando uma pessoa apontou um de-feitinho seu? Como não aprendemos a esculpir a nossa auto-imagem a partir de quem somos, facilmente as pessoas furtam nossa autoestima.

Nossa emoção parece o pêndulo de um relógio. Sobe quando alguém nos elogia, desce se somos criticadas. Um quilo a menos e vamos para o céu; um a mais nos empurra para o inferno emo-cional. Alegria e tristeza, tranquilidade e irritação alternam-se em minutos. A rapidez desse sobe e desce manifesta uma fl utu-ação emocional insana.

Talvez você já tenha se perguntado por que o sistema so-cial tem um padrão tão severo de beleza, que exclui a maio-ria de nós, “normais” e “mortais”! É muito simples! Quando está infeliz, você consome mais ou menos? A maioria conso-me mais. Quando estamos tristes e deprimidas, precisamos de muitas coisas para excitar nossa emoção e aliviar nossa ansiedade. Buscamos alívio nas compras, que nos fazem mo-mentaneamente felizes.

É claro que existe a propaganda honesta que exalta criativa-mente as qualidades do produto. Mas a propaganda que exalta a “modelo perfeita” que promove o produto tem segundas in-tenções, pois mexe com fenômenos inconscientes da mente da mulher. Como já vimos, trata-se de fenômenos sobre os quais ela quase não possui controle algum, a não ser que tenha um Eu lúcido e equipado, o que geralmente não acontece.

Essa propaganda que exalta a perfeição da modelo é arquivada na memória, tece pouco a pouco um estereótipo e acaba produ-zindo a insatisfação da mulher com ela mesma, gerando nela o desejo inconsciente de ser o que não é. Para realizar esse desejo,

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ela compra o produto anunciado pelas modelos, na ânsia de se tornar igual a elas. Isso estimula o consumismo. Não necessita-mos de boa parte do que compramos.

Não sou contra o uso de modelos em propaganda, mas con-deno o uso excessivo de mulheres que fogem aos padrões “nor-mais”. Há, de fato, uma verdadeira exclusão. Mulheres com um corpo normal só aparecem fazendo propaganda de produtos de limpeza e de comida. Trata-se de uma discriminação deslavada.

Modelos magérrimas, lindíssimas e sorridentes são usadas exaustivamente, nos quatro cantos do mundo, para vender ce-lular, perfume, roupas, joias, refrigerantes, produtos para as “sim-ples mortais” comprarem. Quando assistimos a um comercial, nosso inconsciente não separa os registros, a imagem da modelo funde-se com a imagem do produto, pois ambas são registradas na mesma janela da memória pelo fenômeno RAM, de que falamos no primeiro capítulo.

Ao adquirir o produto, subliminarmente procuramos tam-bém nos identifi car com o corpo da modelo. É um processo sutil e imperceptível que parece inocente, mas que, ao longo do tempo, engessa nossa autoimagem e, consequentemente, apri-siona nossa autoestima. E, com certeza, nos faz consumir muito além do que necessitamos.

No passado, quando o fi lme era rodado por fotografi a, eram necessários 20 fotogramas por segundo para dar a ideia de movi-mento. Inseria-se a foto de um produto nessa sequência e, sem perceber, o espectador, ao sair do cinema, tinha desejo de adqui-ri-lo. Essas mensagens subliminares foram proibidas, porque con-trolavam a vontade do consumidor. Hoje não nos damos conta de que o uso de modelos fotográfi cas está gerando inumeráveis mensagens subliminares.

Compramos o produto conscientemente, mas inconsciente-mente procuramos algo que se encontra na imagem da modelo.

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O consumo não consegue resolver as necessidades de nossa emo-ção, pois é impossível comprar a aceitação social, o amor-próprio e a autorrealização. Já não aconteceu de você comprar alguma coisa e depois olhar para aquilo e pensar “Não sei onde eu vou usar isso”, ou “Eu não estava precisando”?

Nossa liberdade, defendida pelas leis da democracia, se torna uma utopia em um sistema que desprestigia quem está fora dos padrões de beleza. Nem Hollywood escapa dessa discriminação. Por favor, não cite Shrek!

Nesse desenho animado, o candidato a se casar com uma princesa fora dos padrões de beleza é um ogro, também com-pletamente fora dos padrões. Esse delicioso desenho animado não promove a aceitação por parte das crianças de seus pró-prios corpos e o respeito pelo patrimônio genético de cada um. Afi nal de contas, o protagonista é um ogro. Na realidade, o fi lme passa a mensagem de que, para ser aceita e considerada interessante, uma pessoa que não corresponde ao padrão de beleza tem que ser extremamente engraçada. Se não for “bo-nita”, tem que ser pelo menos hilária.

Você já viu estampado nas telinhas dos cinemas um par ro-mântico de gordinhos? Quando aparece, o intuito é fazer co-média. Como se a paixão ardente e o amor intenso fossem propriedade exclusiva dos “bonitos e elegantes”. Mas todas nós, mulheres, de qualquer biotipo, cor, raça, religião e ideologia, estamos abertas e sujeitas a viver uma grande história de amor. A começar, com nós mesmas!

A vida nem sempre é uma comédia. Enquanto nos diverti-mos com as comédias dos casais “gordinhos”, quantas jovens choram sem que ninguém veja suas lágrimas? Quantas estão desistindo de viver por não se aceitarem? Quantas se menos-prezam e se punem por não possuírem o corpo que tanto desejam?

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Não há problema algum com a exibição de casais “gordinhos” em comédias. Mas não podemos ser inocentes e acreditar que não existam mensagens subliminares atrás das propagandas, dos fi lmes, revistas e produtos que, de uma maneira ou de outra, agri-dem a nossa beleza diretamente. E agora? Estamos diante de um desastre emocional jamais visto na história. Vamos fi car caladas?

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