missa de 7 dia - tio fabio

2

Click here to load reader

Transcript of missa de 7 dia - tio fabio

Page 1: missa de 7 dia - tio fabio

Boa noite. Pra quem não me conhece, meu nome é Marcela, e eu sou amiga da Rayanna e da Tati. Não sei se eu deveria estar aqui, tem muito mais gente que conheceu o tio Fábio mais do que eu, ou que o conhece há mais tempo, que teria mais histórias para contar, mas eu vim aqui por que eu sinto que este é meu dever.

Eu conheci a Rayanna 5 anos atrás. Nós estudávamos juntas no CEFET e na UESPI. E de tanta convivência surgiu uma grande amizade. Essa amizade nos uniu em muitos ambientes, seja na UESPI, no CEFET, no shopping, nas pizzarias, ou nas nossas casas.

Foi muito cedo que eu comecei a frequentar a casa da tia Raimundinha... Nessa época elas ainda moravam com o vô, do lado da lanchonete. Mas minha convivência com o tio Fábio, até então, era pequena...

Quando eles se mudaram para aquele apartamento, na mesma rua que moram hoje, foi que eu o conheci melhor. Uma das nossas primeiras conversas foi num churrasco. Ele preparou a carne, assou, cortou um pedaço pra mim, e ficou olhando, esperando eu comer, com cara de quem tava fazendo uma pegadinha... Eu comi com medo... E disse “tá parecida com a do meu pai... Só faltou um pouquinho de sal!”.

Pronto! Aí a minha amizade com a Rayanna passou a ser minha amizade com toda a família da Rayanna. Ele sempre me tratou bem, como uma filha. E ele sempre me disse que eu também era filha dele.

Nesses muitos anos, eu conheci o pai mais dedicado e mais apaixonado pelas filhas que podia existir no mundo. Eu nunca tinha visto um pai ligar 5, 6 ou até mais vezes para cada uma das filhas por dia. Isso sem contar as mensagens... Conheci um tio brincalhão, alegre, divertido, que sempre tirava brincadeiras com todo mundo... Só não gostou do dia que foram apresentar um outro Fábio acolá pra ele...

Por causa disso, eu tenho que relembrar e repartir a última conversa que eu tive com ele. Foi no dia do baile de formatura, meu e da Rayanna. Lá pras tantas da manhã, ele olha pra mim, vem na minha direção, me abraça e me diz “Minha filha, muito obrigado!”. Eu perguntei “Oxe, tio, que que eu fiz que o senhor tá agradecendo?” e ele respondeu na mesma hora “Obrigado por você ser amiga da minha filha, por ter dado a ela a oportunidade de ter você como melhor amiga. Você sempre tratou ela bem, sempre disse pra ela estudar, cuidou que ela comesse muito, sempre só trouxe coisa boa pra ela. E quando eu viajo, que num to aqui, eu fico tranquilo porque eu sei que você tá cuidando dela pra mim”.

Hoje minha amizade não é amizade. Eu sou da família. A Rayanna e a Tati são minhas irmãs, as primas delas são minhas primas, as tias, são minhas tias, a vó e o vô são meus também... A tristeza que todos sentem é minha também, mas desde o dia do baile eu sei que Deus me deu uma missão, e que eu vou cumpri-la. Vou cuidar de cada um de vocês, especialmente da Rayanna, por que tem um homenzão bom, forte, alegre, sorridente e brincalhão vigiando o que eu tô fazendo lá de cima.

Infelizmente, um dia nossos entes queridos se vão. Quando menos esperamos e sem nenhum aviso, Deus tira de nós o que mais amamos. Nessas horas, as palavras de conforto parecem apenas agravar ainda mais a dor. Cada “meus pêsames” ouvido parece equivaler a um punhal que cala fundo. Às vezes, em nossos pensamentos, podemos nos punir e nos culpar por termos dito poucas vezes ou nenhuma vez um “te amo”; “preciso de você”, “estou sempre aqui”, “me preocupo com você”... Qual a resposta para essa dor? O tempo e uma certeza: quando amamos, transmitimos esse amor em pequenos atos e gestos. As palavras não importam mais. Quando precisamos de alguém, sentimos sua presença, e as palavras não têm mais sentido; quando nos sentimos sós e abandonados, surge uma palavra ou um gesto e descobrimos que nunca estaremos sós. Nossos sonhos ganham novos visitantes e nossa vida conquista anjos. No fim, fica uma saudade e uma outra certeza: não importa onde estejam, eles estarão sempre conosco.

Ademais, o que eu posso dizer é que não morre quem nos outros vive. E o tio Fábio continua (e continuará) dentro de nossos corações, e em muitas de nossas memórias felizes. Nós podemos estar sem entender os motivos de isso ter acontecido... Mas também temos a certeza de que Deus entende e sabe o que é certo para cada um de nós. Devemos nos apegar ao amor de Deus, à fé que existe em cada um de nós, e esperar, porque Deus nos dará tudo que merecemos, inclusive o conforto de saber que um dia essa tristeza vai diminuir, e no lugar dela só vai sobrar o amor que cada um de nós sente pelo tio Fábio, as lembranças, sempre felizes, de momentos que vivemos juntos, e a saudade de estar perto dele.