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Missão da Revista do Serviço Público Disseminar conhecimento sobre a gestão de políticas públicas, estimular a reflexão e o debate e promover o desenvolvimento de servidores e sua interação com a cidadania. ENAP Escola Nacional de Administração Pública Presidente: Helena Kerr do Amaral Diretor de Formação Profissional: Paulo Carvalho Diretora de Desenv. Gerencial: Margaret Baroni Diretora de Comunicação e Pesquisa: Elisabete Ferrarezi (interina) Diretora de Gestão Interna: Mary Cheng Conselho Editorial Barbara Freitag-Rouanet, Fernando Luiz Abrucio, Helena Kerr do Amaral, Hélio Zylberstajn, Lúcia Melo, Luiz Henrique Proença Soares, Marcel Bursztyn, Marco Aurelio Garcia, Marcus André Melo, Maria Paula Dallari Bucci, Maria Rita G. Loureiro Durand, Nelson Machado, Paulo Motta, Reynaldo Fernandes, Silvio Lemos Meira, Sônia Miriam Draibe, Tarso Fernando Herz Genro, Vicente Carlos Y Plá Trevas, Zairo B. Cheibub. Periodicidade A Revista do Serviço Público é uma publicação trimestral da Escola Nacional de Administração Pública. Comissão Editorial Helena Kerr do Amaral, Paula Montagner, Paulo Sergio de Carvalho, Elisabete Ferrarezi, Livino Silva Neto. Expediente Edição : Elisabete Ferrarezi. Subedição: Heloisa Cristaldo; Projeto gráfico: Livino Silva Neto. Revisão: Daniella Álvares de Melo; Heloisa Cristaldo e Roberto Carlos R. Araújo. Revisão gráfica: Livino Silva Neto. Fotos: Ana Carla Gualberto Cardoso, Alice Prina e Vinícius A. Loureiro. Editoração eletrônica: Maria Marta da R. Vasconcelos. © ENAP, 2011 Tiragem: 1.000 exemplares Assinatura anual: R$ 40,00 (quatro números) Exemplar avulso: R$ 12,00 Os números da RSP Revista do Serviço Público anteriores estão disponíveis na íntegra no sítio da ENAP: www.enap.gov.br As opiniões expressas nos artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, as da RSP. A reprodução total ou parcial é permitida desde que citada a fonte. Revista do Serviço Público. 1937 - . Brasília: ENAP, 1937 - . v. : il. ISSN:0034/9240 Editada pelo DASP em nov. de 1937 e publicada no Rio de Janeiro até 1959. A periodicidade varia desde o primeiro ano de circulação, sendo que a partir dos últimos anos teve predominância trimestral (1998/2007). Interrompida no período de 1975/1980 e 1990/1993. 1. Administração Pública – Periódicos. I. Escola Nacional de Administração Pública. CDD: 350.005 Fundação Escola Nacional de Administração Pública SAIS – Área 2-A 70610-900 – Brasília, DF Telefone: (61) 2020 3096/3092 – Fax: (61) 2020 3178 www.enap.gov.br [email protected] ENAP

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Missão da Revista do Serviço PúblicoDisseminar conhecimento sobre a gestãode políticas públicas, estimular a reflexão eo debate e promover o desenvolvimento deservidores e sua interação com a cidadania.

ENAP Escola Nacional de Administração PúblicaPresidente: Helena Kerr do AmaralDiretor de Formação Profissional: Paulo CarvalhoDiretora de Desenv. Gerencial: Margaret BaroniDiretora de Comunicação e Pesquisa: ElisabeteFerrarezi (interina)Diretora de Gestão Interna: Mary Cheng

Conselho EditorialBarbara Freitag-Rouanet, Fernando Luiz Abrucio,Helena Kerr do Amaral, Hélio Zylberstajn, LúciaMelo, Luiz Henrique Proença Soares, MarcelBursztyn, Marco Aurelio Garcia, Marcus AndréMelo, Maria Paula Dallari Bucci, Maria Rita G.Loureiro Durand, Nelson Machado, Paulo Motta,

Reynaldo Fernandes, Silvio Lemos Meira, SôniaMiriam Draibe, Tarso Fernando Herz Genro,Vicente Carlos Y Plá Trevas, Zairo B. Cheibub.PeriodicidadeA Revista do Serviço Público é uma publicaçãotrimestral da Escola Nacional de AdministraçãoPública.

Comissão EditorialHelena Kerr do Amaral, Paula Montagner, PauloSergio de Carvalho, Elisabete Ferrarezi, Livino SilvaNeto.

ExpedienteEdição: Elisabete Ferrarezi. Subedição: HeloisaCristaldo; Projeto gráfico: Livino Silva Neto. Revisão:Daniella Álvares de Melo; Heloisa Cristaldo eRoberto Carlos R. Araújo. Revisão gráfica: Livino SilvaNeto. Fotos: Ana Carla Gualberto Cardoso, AlicePrina e Vinícius A. Loureiro. Editoração eletrônica:Maria Marta da R. Vasconcelos.

© ENAP, 2011Tiragem: 1.000 exemplaresAssinatura anual: R$ 40,00 (quatro números)Exemplar avulso: R$ 12,00Os números da RSP Revista do Serviço Público anterioresestão disponíveis na íntegra no sítio da ENAP:www.enap.gov.br

As opiniões expressas nos artigos aqui publicados sãode inteira responsabilidade de seus autores e nãoexpressam, necessariamente, as da RSP.

A reprodução total ou parcial é permitida desde quecitada a fonte.

Revista do Serviço Público. 1937 - . Brasília: ENAP, 1937 - .

v. : il.

ISSN:0034/9240

Editada pelo DASP em nov. de 1937 e publicada no Rio de Janeiro até 1959. A periodicidade varia desde o primeiro ano de circulação, sendo que a partir dos últimosanos teve predominância trimestral (1998/2007). Interrompida no período de 1975/1980 e 1990/1993.

1. Administração Pública – Periódicos. I. Escola Nacional de Administração Pública.CDD: 350.005

Fundação Escola Nacional de Administração PúblicaSAIS – Área 2-A70610-900 – Brasília, DFTelefone: (61) 2020 3096/3092 – Fax: (61) 2020 [email protected]

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SumárioContents

Ética na pesquisa agropecuária: percepção dos pesquisadores da Embrapa 05Ethics in agricultural research: perceptions of Embrapa’s researchersRegina Lucia Ramos Lourenço e Marcel Bursztyn

Estudo socioterritorial e investimentos públicos: o processo de alocaçãode recursos do orçamento participativo em Serra/Es 25Study and territorial social and public investments: the process ofallocation of resources budgeting in Sierra/EsCristiano das Neves Bodart

Balanced Scorecard: adequação para a gestão estratégica nasorganizações públicas 51Balanced Scorecard: adequacy to the strategic management onpublic organizations.Rozelito Felix, Patrícia do Prado Felix e Rafael Timóteo

Auditoria interna como instrumento de controle social naadministração pública 75Internal audit as an instrument of social control in public administrationCélia Marçola

RSP Revisitada: Em prol de um Código de Ética para o serviço público 89Harvey Walker

Para saber mais 93

Acontece na ENAP 95

Regina Lucia Ramos Lourenço e Marcel Bursztyn

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Ética na pesquisaagropecuária: percepção dos

pesquisadores da Embrapa

Regina Lucia Ramos Lourenço e Marcel Bursztyn

Introdução

No mundo moderno, avança a percepção de que os cientistas são

responsáveis pelos conhecimentos que produzem, como assinala Hans Jonas

(1991, p.133), ao evocar o Princípio da Responsabilidade, “O homem é o único

ser conhecido que pode ter responsabilidade. Na medida em que ele a pode ter,

ele a tem. A capacidade de responsabilidade significa já a colocação sob seu

imperativo: o próprio poder leva consigo o dever”.

Têm surgido questionamentos sobre a ciência e sua atuação: são necessárias

as discussões sobre ética na ciência? A ciência pode estar dissociada de seus

resultados? Os cientistas devem considerar os impactos político e social de

suas pesquisas? Os cientistas estão isentos da responsabilidade sobre o uso dos

conhecimentos que ajudaram a produzir? Esses questionamentos surgem no

momento em que se expressa na sociedade, por um lado, o distanciamento do

homem em relação aos princípios éticos elementares e, por outro, a exigência, a

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expectativa e a busca determinada por essesprincípios fundamentais para a manutençãoda vida e a melhoria da qualidade de vidadas pessoas.

A necessidade de estar e se mostrarem conformidade com princípios éticosse torna cada vez mais evidente para asorganizações, pois a sociedade exige cadavez mais segurança no desenvolvimentoe na aplicação da ciência. Com a acele-ração do ritmo de avanço da ciência edas suas aplicações a processos diversos,aumentam as dúvidas quanto a seus efeitosdiretos e indiretos. Problemas associadosao meio ambiente, à saúde e ao compor-tamento humano, à geopolítica, ao direitoe à justiça social, entre outros campos, sãoevocados como alerta para o imperativode se dispor de mecanismos de regulaçãoda ciência. Atualmente há forte tendênciaa se estabelecer, nas instituições depesquisa, práticas que permitem asseguraro cumprimento de códigos de conduta(deontologias) e a observância deprincípios éticos consagrados.

Em uma sociedade democrática econsciente, os indivíduos, que são aomesmo tempo financiadores e usuários doavanço em ciência e tecnologia (C&T),passam a se interessar e exigir transparênciae ética nos processos de geração e uso deconhecimentos. Isso significa amploespectro de iniciativas, que vão dar garantiasde qualidade aos produtos, passando pelasimplicações de seu uso, até mesmo aosprocedimentos (técnicos, sociais, legais)empregados na sua produção.

Além de exigências pela sociedade, quetende a constituir base legal, a conduta éticaé um diferencial importante, na medida emque a sociedade começa a cobrar açõesem sintonia com o paradigma de umdesenvolvimento que obedeça a critériosde sustentabilidade. Dessa forma, a

sociedade tem valorizado empresas eorganismos que, além de cumprirem comcompetência sua missão, têm tambémrealizado isso de forma ética, preservandoo meio ambiente e a vida, e contribuindode alguma forma para a justiça social.

Uma evidência dessa tendência é opapel de destaque que o tema “ética napesquisa” vem ocupando no Brasil e noexterior, se materializando em exigênciasda inserção de tais aspectos nos projetosde pesquisa. No Brasil já é fato a exigênciade avaliação ética em diversos segmentosde pesquisa – seres humanos, bioética,experimentação animal. Na Europa, essadimensão ética começa a ser uma exigênciadas agências de financiamento e instituiçõesde pesquisa para aprovação de projetos.Como exemplo dessa tendência inter-nacional, cita-se um manual publicado em2007, contendo instruções para pesqui-sadores (PAUWELS, 2007). O documentoserve de referência à elaboração e imple-mentação de projetos de pesquisa finan-ciados pela União Europeia, que passarama exigir a consideração dos aspectos éticosna condução dos trabalhos de pesquisa porconsultores independentes, visando garantirque as pesquisas e atividades sejamrealizadas conforme princípios éticosfundamentais.

A Embrapa, empresa pública, ligadaao segmento agropecuário brasileiro,organização na qual foi realizado esteestudo, tem a missão de “viabilizar soluçõesde pesquisa, desenvolvimento e inovaçãopara a sustentabilidade da agricultura, embenefício da sociedade brasileira” (BRASIL,2008, p.18). Procedimentos associados àética na pesquisa podem ser observadosjá na definição da missão da Empresa, masse entende que esses devem ser acompa-nhados de práticas de gestão que favo-reçam a sua implementação por parte de

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todos os atores, –os quais devem estarenvolvidos e comprometidos com taisquestões. Entretanto, dois elementos sãoessenciais: consciência e regulações. Ou, emuma palavra, responsabilidade (institucionale individual). Isso exige mudanças decomportamento e de práticas, indo alémda mera adoção de códigos de conduta.

Essa pesquisa visa responder àsseguintes questões: em que princípios oscientistas da Embrapa se pautam pararealizar a pesquisa agropecuária? Quais osprincípios éticos que a Empresa perseguena execução da sua missão de pesquisa? Oque os pesquisadores pensam sobre éticana pesquisa agropecuária? Buscou-se, ainda,entender e analisar como os pesquisadorespercebem a questão da ética na pesquisaem geral, e verificar se os princípios éticosestão de fato contidos nas normas e demaisdocumentos da Empresa.

C&T e ética

Ciência, tecnologia e inovação (CT&I)“são elementos essenciais ao crescimento,à competitividade e ao desenvolvimentode empresas, regiões e países... Tambémtêm importância fundamental na determi-nação do estilo de desenvolvimento deregiões ou nações e na forma como esseafeta no presente e afetará no futuro aqualidade de vida da população em gerale de seus diversos segmentos” (VIOTTI eMACEDO, 2003, p.21).

Entretanto, conforme assinalam váriosautores, tem havido mudança na interaçãoentre a ciência e a sociedade, que questiona aciência como atividade própria e restrita aoscientistas, para que se torne um campotambém de interesse do público leigo. Nesseprocesso haveria certa perda do status daciência como “torre de marfim” ou, pelomenos, o seu deslocamento em alguma

medida na escala de prestígio social (MERTON,1970; RAVETZ, 1982; SCHWARTZMAN, 2002).

Visando ilustrar essa questão, foi realiza-da, em 2002 e 2003, uma pesquisa de per-cepção pública da ciência (VOGT e POLINO,2003) em quatro países (Argentina, Brasil,Espanha e Uruguai). Apesar de ser um estu-do de proporções relativamente pequenas, éinteressante observar alguns resultados. Noquesito “utilidade da ciência”, a maioria dosentrevistados dos quatro países (72%) con-

cordou que “o desenvolvimento da ciênciae da tecnologia é o principal motivo demelhoria da qualidade de vida da sociedade”.Entretanto, a grande maioria (85,9%) negaque a ciência e a tecnologia possam solucionartodos os problemas.

A literatura chama a atenção paraproblemas de pequenas e de grandesproporções decorrentes da C&T ou do

“A necessidade deestar e se mostrarem conformidadecom princípioséticos se torna cadavez mais evidentepara asorganizações,pois a sociedadeexige cada vezmais segurançano desenvolvimentoe na aplicação daciência”

Ética na pesquisa agropecuária: percepção dos pesquisadores da Embrapa

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seu mau uso. Ravetz (1982) lembra asbombas atômicas que caíram sobre os civisde Hiroshima e Nagasaki. Webster (1991)cita os casos de acidentes nucleares na usinaatômica de Chernobyl (Ucrânia) e doreator nuclear “Three Mile Island”, no estadoda Pensilvânia, nos EUA. Valls (2001)lembra também o dramático acidentequímico na fábrica da Union Carbide, emBophal, na Índia.

Pesquisa realizada nos EUA, comcientistas da área médica dos InstitutosNacionais de Saúde (NIH), aponta que umterço dos 3.247 que responderam aosquestionários afirmou ter cometido“alguma improbidade em seus estudosnos últimos três anos”. O questionárioincluía16 perguntas a respeito de má-conduta científica, com diferentes níveis degravidade, desde “você manteve registrosinadequados de suas pesquisas?” até “vocêfalsificou ou ‘fabricou’ dados de pesquisa?”.Questionava ainda sobre a mudança doprojeto, da metodologia ou dos resultadosde estudos, por pressões de fontes definanciamento. Nessa questão, 15,5%responderam afirmativamente, o queremete à questão do ambiente atuando naintegridade da pesquisa. Apesar de oestudo se restringir à área médica nos EUA,os dados são preocupantes. Como oestudo evidencia, as “pequenas” infraçõesno mundo científico podem fazer mais malà integridade da comunidade científica doque os grandes escândalos que de vez emquando são noticiados pela imprensa(NOGUEIRA, 2005), visto que grandesescândalos têm destaque garantido na mídia,abrindo oportunidade aos atores parainterferirem na redução dos danos ou nainibição de incidentes futuros. Entretanto,casos de fraude e adulteração de resultadospodem causar danos não calculados, comimpactos negativos à imagem da ciência.

Sobre integridade científica no Brasil,Azevedo (2005) relata que o Office of ResearchIntegrity (ORI) dos EUA informou que, noperíodo de 1994 a 2003, houve 133 casosde “má condução científica, 53% por falsi-ficação de dados, 29% por fabricação deresultados, 36% por ações conjuntasde fabricação/falsificação, entre outrasdesonestidades ocorridas com menoresfrequências”.

Observa-se que não existe consenso naliteratura sobre o estabelecimento de limitespara a ciência. Há autores que defendem atotal liberdade da ciência. Diniz (2004) con-sidera que “cientistas são pessoas quequestionam constantemente a maneiracomo vemos o mundo. Sem a liberdadepara esse questionamento, a ciência perdeseu sentido”. Advoga que a ciência precisaser livre “para ser um dos motores dodesenvolvimento de um país”. Bronowski(1979), que participou do Projeto Manhatan,que produziu as bombas de Hiroshima eNagasaki, adverte sobre a importância deuma “ciência ética”, a partir daquelemomento em que o “homem-deus” substi-tuíra Deus como mestre da natureza, comcapacidade para dominá-la e destruí-la.Assim, sugere que sejam criados mecanismospara que a ciência regule a ciência.

Na reflexão sobre esse assunto, não sepode deixar de analisar o ethos da ciência,segundo a visão de Merton (1979, p.41),descrevendo quatro passos que chamou de“imperativos institucionais (mores)”:universalismo, comunismo ou socialização,desinteresse e ceticismo organizado.Segundo esse autor, os mores da ciênciase referem a prescrições morais e técnicase “têm uma explicação racional metodo-lógica, mas são moralmente obrigatórios,não somente porque são eficazes do pontode vista do procedimento, mas tambémporque são considerados justos e bons”.

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Ética é uma palavra rica em signi-ficados. Entretanto, para efeito destetrabalho, considerou-se uma definição maisrestrita ao mundo do trabalho: conjuntode princípios morais de uma classe de pro-fissionais ou de integrantes de uma organi-zação, refletido na ação de cada indivíduo.

Cañas-Quirós (1998) propõe umaforma didática que permite compreendermelhor o conceito e uso do termo “ética”.Argumenta que ao se falar em ética comociência normativa, referente à retidão dosatos humanos, com base em princípios ra-cionais, trata-se de “ética geral”, que re-mete à metafísica e à antropologia filosó-fica e busca explicar questões comoliberdade, natureza do bem e do mal, feli-cidade e outros. Chama de “ética aplica-da” aquela que busca levar para a práticaos fundamentos gerais da ética. Os princí-pios básicos seriam sedimentados no pla-no individual, familiar e social. O nível so-cial se subdivide em outros ramos, comoética internacional, econômica, profissio-nal, institucional, entre outros.

Ética na pesquisa agropecuária

Ainda que a bioética seja um tema emexpansão no meio acadêmico, sobre a éticana pesquisa agropecuária brasileira, doponto de vista da comunidade científica,encontram-se questões éticas na literatura,apesar de alguns estudos não trazerem nosseus títulos a palavra ética. Esse tema étratado como um dos dilemas da pesquisacientífica no Brasil. Também há muito, porparte de estudiosos e da sociedade emgeral, a discussão e expressão de preo-cupações com a ética em assuntos afetos àpesquisa agropecuária na literatura e namídia eletrônica, digital e impressa. Citam-se, entre outras, pesquisas biotecnológicase utilização de animais em pesquisas.

No caso da biotecnologia, há leis noBrasil que regulam sua utilização (Lei deBiossegurança), inclusive com a criação deórgãos reguladores. No caso de animais,tem-se a Lei no 11.794, de 08/02/2008, queregulamenta o inciso VII do § 1o do art.225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988),estabelecendo procedimentos para o usocientífico de animais. A Resolução 196/961,do Conselho Nacional de Saúde doMinistério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE,1996), estabelece diretrizes e normasregulamentadoras sobre pesquisa envol-vendo seres humanos. Tem-se ainda noBrasil leis sobre a propriedade intelectual eoutras que regulamentam segmentos daatividade agropecuária. Essas leis e normas,apesar de não versar diretamente sobreética, trazem princípios éticos aplicáveis àpesquisa agropecuária.

Tem sido destacada a importância doestabelecimento e da busca por uma éticainstitucional claramente definida que,segundo Humberg, constitui “padrões decomportamento que correspondem avalores reais, aceitos e assumidos pelos com-ponentes da organização, a partir de suacúpula” (HUMBERG, 2002, p. 25). Este autorfaz a seguinte analogia: “a ética é como aágua: corre de cima para baixo”, isto é, aempresa se parece com o seu dono. Osdirigentes devem ter e mostrar uma con-duta ética adequada, pois caso não o façam,darão aos seus colaboradores o direito defazer o mesmo. No caso de empresapública, o “dono”, que é a sociedade brasi-leira, se faz representar pelos seus dirigentes.Dessa forma, as instituições devem investirno padrão ético dos seus dirigentes emtodos os níveis. Singer (1998), discorrendosobre a tomada de decisões, cita duas possi-bilidades, que é o vazio ético absoluto, emque ele considera que há um desconheci-mento total de considerações de natureza

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ética e um estágio pré-ético de pensamento,em que a consciência ética não está aindatotalmente desenvolvida. Essas duas possi-bilidades podem existir em uma organizaçãoe esta pode atuar no sentido do desenvol-vimento da consciência ética, com estratégiassemelhantes às da educação.

A Embrapa sempre procurou deixarclaro para os empregados os princípios evalores da Empresa por meio de docu-mentos e normas. Os Planos Diretoresda Embrapa (PDE), instituídos desde ofinal da década de 1980, explicitam asgrandes linhas de orientação para as ativi-dades desenvolvidas pela Empresa,incluindo a missão, a visão de futuro, osvalores, os objetivos e as diretrizes estra-tégicas. A ética é um dos valores quesempre esteve inserido nesses Planos. OCódigo de Ética da Embrapa, instituídoem dezembro de 2004, traz alguns prin-cípios de ética na pesquisa, em seu CapítuloIV. Normas internas também orientam ospesquisadores sobre condutas éticasreferentes a alguns temas, como porexemplo, publicações.

Procedimentos metodológicos

A pesquisa teve caráter exploratório,qualitativo e quantitativo. A coleta dedados foi realizada no final do ano de2005. Inicialmente, realizou-se a pesquisaqualitativa a partir de entrevistas indivi-duais, com um roteiro semiestruturado,aplicado em 21 formadores de opinião.O resultado da análise de dados subsi-diou a construção de um questionário queabordou o tema da ética na pesquisaagropecuária e que foi aplicado à popu-lação de 1.846 cientistas da Embrapa. Parase chegar a essa população, partiu-se donúmero total de pesquisadores (2.246),subtraídos aqueles que estavam afastados

por licença de longo período, à dispo-sição de outros órgãos, e os que nãodispunham de e-mail. O índice derespostas ao questionário foi de 26,65%(492 pesquisadores). Esses dados foramtratados e analisados estatisticamente pormeio de análises descritivas. Os resultadossão apresentados a partir dos temas abor-dados na pesquisa quantitativa e algunsresultados da qualitativa, para efeito decomparação ou de comprovação.

A média de idade dos respondentes éde 46,34 anos (abaixo da média de idadeda população pesquisada, que é de 48,17anos); a média do tempo de serviço é de16,49 anos (pouco abaixo da média dapopulação pesquisada, que é de 17,39anos); e 69% são do sexo masculino, e 31%do sexo feminino (da população estudada,25,95% são do sexo feminino).

O questionário obteve um percentualde respostas de 26,65%. Pode-se inferirdisso e das declarações dos participantesda pesquisa, que o tema desperta ou traduzo interesse dos pesquisados.

Opinião dos atores sobre éticana pesquisa

Trata-se de uma pesquisa de percepção.Robbins (1999, p. 62 e 63) define per-cepção como “um processo pelo qualindivíduos se organizam e interpretam suasimpressões sensoriais a fim de dar sentidoao seu ambiente”, não correspondendonecessariamente à realidade em si, mas àvisão de cada um. A percepção está condi-cionada a características de quem percebe:atitudes, motivações, interesses, experiênciase expectativas, entre outras; a fatores dasituação: tempo, local de trabalho, situaçãosocial; e a fatores no alvo observado:novidade, movimento, som, tamanho, fun-do e proximidade.

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Apesar da dificuldade de se com-preender totalmente o processo dapercepção e mesmo o fato de ela não cons-tituir a realidade objetiva, é importanteestudá-la, uma vez que “o comportamentodas pessoas é baseado em suas percepçõesdo que a realidade é, e não na realidadeem si. O mundo como ele é percebido éo mundo que é comportamentalmenteimportante” (ROBBINS, 1999, p. 62).

Relação entre ciência, pesquisa eética

Sobre a relação entre ciência, pes-quisa e ética, 63% da amostra (305pessoas) acredita que “a ética, a ciência ea pesquisa devem se complementar”;34% (169 pessoas) acredita que “a éticadeve estar acima da ciência e dapesquisa” (Figura 1).

A maioria dos pesquisadores daamostra e do grupo de formadores deopinião concorda que a ciência e a éticadevem ter uma relação estreita ou a éticadeve estar acima da ciência, representando96,34% da pesquisa quantitativa e 67% (14pessoas) da pesquisa qualitativa. Apenas um

terço dos pesquisadores consultados con-sidera que a ética está acima, antecedendoassim suas atividades.

Em que momento a ética deve serlevada em consideração na pesquisa

Opinaram que a ética deve ser levadaem consideração em todo o processo depesquisa 94,51% (465 pessoas), – asopções eram: na elaboração e na defini-ção de propostas, na análise do projeto,na avaliação dos resultados, na seleção deprojetos, em todo o processo de pesquisa,sendo permitido assinalar mais de umaalternativa. Houve uma distribuição maisou menos semelhante, cuja percentagemvariou de 16,46% (81 pessoas), na seleçãodos projetos, a 19,11% (94 pessoas), naelaboração das propostas (Figura 2).

Esse resultado vem ao encontro doobtido no item anterior “Relação entreciência, pesquisa e ética”, onde, somados,97% reconhecem na ética um componenteimportante para ser aliado à pesquisa. Dessaforma, pela opinião dos atores ouvidos,fica claro que não só a avaliação técnica dapesquisa deve ser considerada, como

Figura 1: Relação entre ciência, pesquisa e ética (%)

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também a avaliação ética, em todo oprocesso da pesquisa.

Relação entre pesquisa agropecuáriae bioética

Quando perguntados sobre “Qual arelação entre a pesquisa agropecuária ebioética?”, com quatro sugestões derespostas, 85% (417 pessoas) responderamque a “pesquisa agropecuária deve serincluída nas discussões sobre bioética”.Outros 13% (64 pessoas) acreditam que“somente uma parte da pesquisaagropecuária deve estar incluída nasdiscussões sobre bioética”. Um por cento(7 pessoas) acredita que “a pesquisaagropecuária não deve estar incluída nasdiscussões sobre bioética” (Figura 3).

Esse resultado guarda relação com asopiniões dos entrevistados na pesquisa qua-litativa, na qual, dos 21 consultados, 20reconhecem que há algum tipo de relaçãoentre a pesquisa agropecuária e bioética.Assim, é opinião da quase totalidade daspessoas ouvidas que a pesquisa agropecuáriadeve estar incluída nas discussões sobre

bioética. Nesse caso, há que se considerar aexistência de um descompasso temporal,uma vez que as discussões sobre bioética jáestão em curso há vários anos.

As definições sobre bioética encon-tradas e a Resolução 196/1996, do CNS/MS, dão abrigo a essa convicção, já quedefine pesquisas envolvendo sereshumanos, como “pesquisa que, individualou coletivamente, envolva o ser humanode forma direta ou indireta, em sua totali-dade ou partes dele, incluindo o manejode informações ou materiais”. A pesquisaagropecuária envolve seres humanos deforma indireta.

Crenças dos pesquisadores quantoà ética na pesquisa na Embrapa

Perguntados sobre “Quanto ao temaética na pesquisa na Embrapa, você acre-dita que” (podendo assinalar mais de umaalternativa), em que as cinco primeirasafirmativas mais escolhidas foram extraídasdo discurso dos entrevistados por ocasiãoda pesquisa qualitativa, 52,03% (256 pessoas)assinalaram que a ética na pesquisa “Deve

Figura 2: Momento em que a ética deve ser levada em consideração na pesquisa

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obedecer a princípios éticos gerais, sem,contudo, limitar avanço do conhecimento”.Essa preocupação com a limitação doavanço do conhecimento é recorrente noquestionário e nas entrevistas. Nota-se nopesquisador uma preocupação com o nãoengessamento da ciência e da pesquisa.

A segunda questão mais assinalada foi“Necessita ser mais bem discutida naEmbrapa pelos pesquisadores e pela direçãoda Empresa”, com 49,19% (242 pessoas),sendo uma reivindicação recorrente em todosos momentos da pesquisa a de que o temadeve ser mais discutido pelos pesquisadorese pela direção da Empresa.

A afirmativa “É preciso criar instânciasinstitucionais que permitam a interaçãoentre a sociedade e a C&T” foi opção de44,72% (220 pessoas), em que fica clara apreocupação dos pesquisadores demelhorar a comunicação entre os que pro-duzem C&T e a sociedade, o que tambémé uma reivindicação atual dessa. A socie-dade cada vez mais quer se inteirar dosresultados da C&T, para poder tambémparticipar de alguma forma da tomada de

decisão sobre alguns assuntos, principal-mente sobre temas polêmicos.

“Não deve ser a única questão a definirse uma pesquisa vai avançar ou não”, foiopção de 22,36% (110 pessoas) e pode serexplicada pela quebra de paradigmas (KUHN,1975). A ideia aqui defendida pode consistirno fato de a sociedade estar em constantemudança. Por exemplo, as vacinas, quandoforam descobertas, provocaram nasociedade da época uma reação contráriamuito forte. Entretanto, hoje são conside-radas fundamentais para se evitar váriasdoenças, como também para a erradicaçãototal delas. No mundo atual, deixar devacinar crianças é que é considerado comouma atitude contrária a princípios éticos.

A ética na pesquisa “Não deve servir aoutros objetivos, como por exemplo,limitar a ação dos países em desenvolvi-mento” foi assinalada por 16,87% (83pessoas) e tem a ver com a limitação dapesquisa pela ética, que parece ser compar-tilhada em todo o mundo. O século 21começou com discussões sobre clonagemhumana, e dessa vez não com base

Figura 3: Relação entre pesquisa agropecuária e bioética (%).

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hipotética, mas real. Observam-se preocu-pações, inclusive dos países desenvolvidos,com relação à proibição ou não da clonagemhumana no seu país, haja vista a possibili-dade de perder o bonde da história ou o“status científico”, caso em outros países sejaliberada a clonagem e no seu, não. Issoremete à competição existente entre ospaíses, que tem relação com a inovação (quepressupõe investimentos em P&D) e cominvestimentos cumulativos em C&T.

Apenas seis pessoas (1,22%) acreditamque o tema “Está devidamente tratado naEmbrapa, não necessitando de outrasações” e outras seis pessoas (1,22%) expres-saram outras opiniões (Figura 4).

Conduta ética dos novos pesquisa-dores em relação aos mais antigos

Sobre a questão “Você considera quehá diferenças entre os novos pesquisadorese os mais antigos, em relação à condutaética na pesquisa?”, feita na entrevistasemiestruturada, apesar de não terem sidoapresentados para os respondentes oslimites entre essas duas categorias, a grande

maioria considera que tais diferençasexistem e que podem ser observadas emvários aspectos, mas não tem certeza sehaveria alguma relação com a ética ou coma ética na pesquisa. Inferências sobre essasdiferenças há muitas, como por exemplo:maior comprometimento dos antigos paracom a Empresa; diferenças na formação(os pesquisadores mais novos forameducados em outra realidade, foramescolarizados em período mais liberal edemocrático); os novos são mais indivi-dualistas estão mais comprometidos comsuas carreiras e teriam mais essa percepçãoda ética porque têm mais acesso à infor-mação devido à tecnologia.

Opinião sobre as normas de éticana pesquisa

Princípios éticos em que ospesquisadores se baseiam na execuçãoda pesquisa

Questionados sobre “Com relação aosprincípios éticos na execução da pesquisa,você se baseia em:”, a grande maioria,

Figura 4: Afirmativas dos respondentes sobre o tema “ética napesquisa” (no de respostas)

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85,16% (419 pessoas), respondeu que sebaseia em seu código de ética pessoal. Comoessa questão permitia assinalar mais de umaresposta, 55,49% (273 pessoas) responderamse basear no código de ética de sua profis-são, seguido do Código de Ética daEmbrapa, com 46,95% (231 pessoas); noCódigo de Ética do Servidor Público, com16,26% (80 pessoas); e “na ética da suareligião”, com 14,84% (73 pessoas). Trêspessoas (0,6%) acreditam que no trabalho depesquisa não há necessidade de se considerarprincípios éticos. Outras 4,27% (21 pessoas)deram outros tipos de respostas (Figura 5).

Afirmaram que se baseiam no“Código de ética pessoal – princípiospessoais” 85,16% dos participantes. Umcódigo de ética pessoal é constituído poruma série de princípios e valores nosquais se baseia o comportamento. Estáassociado com a educação formal e in-formal, sendo formado ao longo davida. Entende-se que as ações sejamjulgadas por esse código individual, quedetermina o que se considera justo ecorreto e que deixa “a consciênciatranquila”. Assim, em tese, o comporta-

mento individual de cada pessoa mani-festaria seus valores e princípios. Nemsempre, porém, os atos das pessoas sãoresultados de grandes reflexões, pois amaioria dos seus princípios já estáinternalizada e esses são manifestadosnaturalmente em suas ações, além dofato de que as informações necessárias auma decisão envolvendo ciência de pontasejam geralmente pouco conhecidas.Pode, também, haver mudanças emalguns aspectos do sistema de valores daspessoas, a qualquer tempo, decorrentesde novas reflexões.

O alto índice de respostas a essa alter-nativa (85,16%) é compreensível, namedida que até em nossas pequenas açõesrecorre-se ao sistema de valores individuais.É também desejável, para viver bem, estarem paz consigo mesmo. Entretanto, oCódigo de Ética Pessoal, sendo individual,não necessariamente tem firme compro-misso com o bem comum (ética geral),com a missão da instituição (ética institu-cional) ou com qualquer outra dimensãorelacionada ao outro (alteridade). Aindamais, o “livre arbítrio”, que parece um

Figura 5: Princípios éticos em que os pesquisadores se baseiamna execução da pesquisa (no de respostas)

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atributo do ser humano, tende a deixar aspessoas muito à vontade para tomardecisões no plano individual, mesmo comriscos de individualismo.

Na tentativa de explicar esse resultado,pode acontecer de, por falta de conheci-mento do Código de Ética da Embrapa(conforme índices apresentados adiante),que é uma norma institucionalizada, ospesquisadores recorrerem à instânciapessoal, para balizar suas ações nacondução da pesquisa. Nesse caso, torna-se necessária a intervenção da Empresa,para divulgar melhor seu sistema devalores, que certamente visa objetivos geraisque individualmente podem não sercontemplados. Além disso, esse procedi-mento poderia contribuir para a reduçãode conflitos de interesses entre o pessoal eo institucional, entre o público e o privado.

Baseiam-se no “Código de ÉticaProfissional” 55,49% da amostra. Emgeral, as profissões possuem códigos deética que regulam a ação dos profissionais.Segundo Yeganiantz (1987), a tendência é

que os códigos de ética profissional sejamfortalecidos, em detrimento dos códigosde ética das instituições. Se assim o for, hárisco de prevalecer padrões de condutacorporativos, que nem sempre condizemcom o “bem comum”, que deve serobjetivo de organismos públicos depesquisa, como a Embrapa.

Afirmam basear-se no “Código deÉtica da Embrapa” 46,95% (231 pessoas).Em outra questão sobre o conhecimentodo código, objeto da Deliberação no 16, de17/12/2004, publicada em 10/01/2005, amaioria, 41% (201 pessoas), respondeudesconhecê-lo; 38% (188 pessoas) afir-maram que o conhecem superficialmente;8% (37 pessoas) afirmaram que conhecemsomente os itens que se referem a pesquisae 13% (66 pessoas) declararam que conhe-cem todo o seu conteúdo (Figura 6).

Por meio de análises realizadas, nota-seque dos 231 pesquisadores que responderamse basear no Código de Ética da Embrapa,17,71% (41) afirmam não conhecê-lo naquestão posterior. Assim, fica evidente que

Figura 6: Pesquisadores que conhecem o Código deÉtica da Embrapa (%)

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poucos dos que afirmam agir conformeCódigo de Ética da Embrapa, como refe-rência a suas atividades de pesquisa, o conhe-cem efetivamente. Também se pode afirmarque 87% dos respondentes (426 pessoas) nãoconheciam o Código de Ética da Embrapaem sua totalidade.

Como explicação para esse fato, pode-se recorrer à questão da “desejabilidadesocial”, que é um termo utilizado na psico-logia e que explica a tendência que algumaspessoas têm de dar as respostas que elasacreditam ser as mais socialmente aceitas,devido a várias razões, como o fato de apessoa querer repassar uma imagem melhorde si ou da instituição em que trabalha. Hátemas, entretanto, onde a ocorrência dessefenômeno é maior, como, por inferência, otema da ética, visto que está relacionado comvalores considerados nobres pela maioriadas pessoas.

Baseiam-se no “Código de Ética doServidor Público” 16,26% dos respondentes.Esse código foi aprovado pelo Decreto

1.171, de 22/06/94, e, sendo destinado aoServidor Público Civil do Poder Executivofederal, estende-se aos empregados daEmbrapa. Observa-se que o código é consti-tuído de orientações gerais, não se referindodiretamente à atividade de pesquisa.

Afirmaram basear-se na “Ética daReligião” 14,84% (73 pessoas). Esse resul-tado é inferior, em termos percentuais, àsrespostas a questões similares da pesquisaqualitativa, em que, perguntados sobre “Suavinculação religiosa influencia a sua atividadede pesquisa?”, 12 (de um total de 21) respon-deram “Não” e seis responderam “Sim”.

Conflitos entre princípios pessoaise atividade de pesquisa na Embrapa

Sobre essa questão, uma proporçãoconsiderável, 52% (257 pessoas), respondeu“Não”; 38% (185 pessoas) responderam“Sim” e 10% (50 pessoas) responderam“Não me lembro” (Figura 7). Na pesquisaqualitativa, sobre o mesmo tema, a maioria(14 entrevistados) respondeu “Não”.

Figura 7: Conflitos entre princípios pessoais e atividade de pesquisana Embrapa (%)

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Princípios ou questões éticas napesquisa agropecuária

Durante a realização desse trabalhohouve várias instâncias (as entrevistasiniciais, as entrevistas semiestruturadas e oscomentários apostos nos questionários) emque foi possível reunir sugestões deprincípios ou questões éticas que poderiamser analisadas, visando sua utilização napesquisa agropecuária. As questões citadaspelos pesquisadores, como merecedorasde discussão, foram: manipulação dedados, divulgação precipitada de informa-ções, roubo de ideias e materiais, compe-tição, utilização de posição hierárquicaindevidamente, busca de notoriedade,responsabilidade pela função pública,responsabilidade do pesquisador, adoçãode diários de pesquisa, autoria e coautoria,conflitos de interesse, avaliações dequestões ambientais e sociais, biopirataria,entre outras.

Embora alguns desses temas encon-trem correspondência direta ou indireta noCódigo de Ética da Embrapa, a maioriadas preocupações externadas pelospesquisadores não está especificamente

citada no Código. Isso ocorre porque aquestão da ética, para efeito de regulaçãoda conduta, está associada a, no mínimo,duas instâncias: a) os princípios; e b) asmatérias reguladas. Os “princípios”correspondem às intenções maiores, àspremissas básicas. Já a “matéria regulada”compreende o detalhamento das questõeséticas. Para se chegar a um documentocomo esse, é necessário o envolvimentode todos os atores, em amplas discussões.

Cumprimento dos princípios éticosda pesquisa pelos pesquisadores

Perguntados se “Os pesquisadores daEmbrapa, no exercício de suas atividades,estão cumprindo os princípios éticos dapesquisa”, 38% (188 pessoas) responderam“quase sempre”; 34% (166 pessoas)declararam não saber; 17% (84 pessoas)responderam “Sim”; 5% (23 pessoas)responderam “Não” e 6% (31 pessoas)expressaram sua opinião, que consideravamdiferente das opções que foram apresen-tadas (ver Figura 8).

Nota-se que a certeza de que ospesquisadores estão cumprindo os

Figura 8: Percepção dos respondentes sobre cumprimentodos princípios éticos da pesquisa na Embrapa (%)

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princípios éticos da pesquisa é muito baixa(17%). Esse resultado pode ter ocorridopor diversos motivos, como: a) falta deconhecimento maior sobre o que seria éticana pesquisa; b) falta de conhecimento sobreum documento específico de ética napesquisa, na medida em que 41% respon-deram não conhecer o Código de Ética daEmbrapa, que contém um capítulo sobreo assunto; c) dificuldade de se avaliar todosos pesquisadores, devido à falta de dados;d) dificuldade em se situar na posição deavaliador post facto; e) falta inserção na culturada Empresa do conceito de ética e de éticana pesquisa.

Como o grupo de formadores deopinião percebe a ética na pesquisae as normas de ética na pesquisa naEmbrapa

As entrevistas com o grupo formadorde opinião revelaram falta de clareza ousegurança com relação ao que seria éticaou ética na pesquisa. Entretanto, todosconsideram importante a discussão e amaioria aceita um passivo nesse assuntoou acredita que é um tema novo e, comotal, deve estar na pauta de discussões tantodos altos gestores como dos pesquisa-dores em geral.

Com relação à questão das normas deética na pesquisa na Embrapa, obteve-seum resultado que vem ao encontro dosque já foram apresentados. Na entrevistasemiestruturada, perguntados se “Vocêconsidera que a Embrapa tem normasespecíficas quanto à ética na pesquisa?”, dos21 respondentes, nove afirmaram que não.Quatro pessoas ficaram em dúvida e oitopessoas responderam com certeza que sim.Dessas, uma não se lembra; três citam oCódigo de Ética da Embrapa (e umconjunto de normas que regem o

funcionamento da Embrapa); outro acre-dita que “tem instrumentos e conhecimentobastante claros” e que tem procedimentos;outro acha que há várias normas quepodem ser qualificadas como de ética;outro, ainda, afirma que “os documentosreferenciais orientadores da formulação depesquisa, existentes nos macroprogramas,contemplam os princípios gerais quenorteiam a ética na empresa”.

O estudo mostra a falta de consensonessa questão, sendo que pesquisadoresconsideram que as várias normas existentesna empresa podem ser consideradasnormas específicas de ética e outrosentendem que não. Dos 11 chefes ouvidos,apenas seis acreditavam que havia normasespecíficas. É oportuno lembrar que apercepção sobre a existência das normas éigualmente importante à própria existênciadessas, uma vez que na percepção podemestar incluídos o conhecimento e ainternalização.

Conclusões

Com relação à ética em C&T, conclui-se que há necessidade de refletir sobre oslimites éticos da pesquisa, explicitandoprincípios básicos e padrões de condutaque deverão ser praticados pela comu-nidade científica. Isso contribuiria paracoibir práticas indesejáveis ou configuradascomo má-fé, buscando sempre a inte-gridade e a credibilidade da ciência.

Na pesquisa, ficou evidenciado que amaioria dos atores ouvidos (97%) reco-nhece a estreita relação entre a ciência, apesquisa e a ética, e uma maioria (63%)também acredita que a ética, a ciência e apesquisa devem se complementar. Umterço dos atores (34%) considera que a éticadeve estar acima da ciência e da pesquisa.“A ética deve ser levada em consideração

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em todo o processo de pesquisa” é aopinião da quase totalidade dos atores(94,51%), ficando assim muito clara aimportância – do tema na pesquisa, naopinião dos pesquisadores ouvidos.

O estudo revelou, entretanto, que haviacerto desconhecimento por parte de algunsgerentes e pesquisadores da Embrapa sobreo que seria especificamente “ética na pesquisaagropecuária”. Por outro lado, ficou eviden-ciado que o tema despertava ou traduzia ointeresse de todos os atores ouvidos, o quemostra um ambiente favorável à atuação daempresa em políticas, nessa área.

É relevante assinalar que pensar em éticanão é uma tarefa fácil. As pessoas em geralnão gostam de se envolver com o assunto,dada a complexidade do tema. Entretanto,o fato de ser complexo não exime profis-sionais com alto grau de instrução eformação, como os pesquisadores, deterem consciência e atitudes consoantes aotema. Destaca-se também que, quando oassunto é ética, alguns pesquisadoresafirmam que é “questão de berço”. Sabe-mos, no entanto, que seria impossível suporque todas as novas e complexas questõesque circunscrevem o avanço do conheci-mento e das técnicas já estivessem equacio-nadas e incutidas na mentalidade de todos,como atributo comportamental a priori.Assim, é lícito considerar que, caso não sedisponha dessa bagagem de princípios econhecimentos, há sempre a possibilidadede se adquirir, pois o crescimento do serhumano em todas as dimensões ocorre, em

tese, durante toda a sua vida. É, nesse sentido,perfeitamente possível aprender e interna-lizar princípios, sejam estes no campopessoal, profissional etc.

O estudo mostrou que há necessidadeda Embrapa investir na discussão edefinição de princípios norteadores da con-duta ética na pesquisa, buscando oenvolvimento maciço do pessoal dacarreira de P&D, o que poderá contribuircomo forma de proteger a empresa deatuações dentro de um “vazio ético” ouem estágio “pré-ético” de pensamento,conforme caracteriza Singer (1998). Aparticipação, além de contribuir para umproduto representativo, favorece a interna-lização e a conscientização, gerando corres-ponsabilidade.

Seria ainda estratégico investir em umprocedimento de institucionalização deanálise da dimensão ética nas pesquisasdesenvolvidas. O objetivo não é a fiscali-zação, mas a interação positiva de consul-tores (que podem ser da própria empresa),externos às equipes de pesquisa. Essesdesempenhariam a função pedagógica delançar questões de natureza ética para alertare conscientizar os pesquisadores sobre suaresponsabilidade.

Entende-se que o presente estudo, quetrata de um desafio inerente a uma insti-tuição de pesquisa, tem caráter exploratório.Ainda há muito que descobrir e compre-ender sobre o tema.

(Artigo recebido em outubro de 2010. Versãofinal em fevereiro de 2011).

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Notas

* Os autores agradecem à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, na pessoa de seuslíderes e de seus pesquisadores, que proveram as condições para realização deste estudo.

1 Essa Resolução instituiu a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e os Comitêsde Ética em Pesquisa (CEP). Site: http://www.ensp.fiocruz.br/etica/resolucoes.cfm#pre, acessoem 14/mar./2010.

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Resumo – Resumen – Abstract

Ética na pesquisa agropecuária: percepção dos pesquisadores da EmbrapaRegina Lucia Ramos Lourenço e Marcel Bursztyn

Esse trabalho apresenta os resultados de um estudo sobre a percepção dos pesquisadores daEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a respeito da ética na pesquisa agropecuária.O estudo foi exploratório e adotou abordagens qualitativa e quantitativa. A pesquisa qualitativautilizou entrevistas individuais semiestruturadas com 21 formadores de opinião (dirigentes, ex-dirigentes e ocupantes ou ex-ocupantes de cargos estratégicos) e serviu de base para a construção doquestionário para a pesquisa quantitativa. Da população estudada, 1.846 pesquisadores, houve umretorno de 26,65% dos questionários. Os resultados da pesquisa revelaram grande interesse entre ospesquisadores ouvidos pelo tema objeto do estudo e ao mesmo tempo uma falta de clareza de partedeles sobre o que seria ética na pesquisa agropecuária. O estudo recomenda uma ampla discussão naEmpresa sobre o tema, culminando na implantação de “gestão da ética” na pesquisa.

Palavras-Chave: Ética na pesquisa, integridade científica, pesquisa agropecuária, gestão da ética

Ética en la investigación agrícola: las percepciones de los investigadores de EmbrapaRegina Lucia Ramos Lourenço y Marcel Bursztyn

El objetivo de este estudio es analizar las percepciones de los investigadores de la EmpresaBrasileña de Investigación Agropecuaria (Embrapa) en relación con la ética en la investigación agríco-la. El estudio fue exploratorio y los enfoques adoptados fueron de carácter cualitativo y cuantitativo.En la investigación cualitativa se utilizó la entrevista semiestructurada con 21 líderes de opinión(gerentes, ejecutivos y antiguos ocupantes o antiguos ocupantes de las posiciones estratégicas) ysirvió como base para la construcción de un cuestionario para la investigación cuantitativa. Deluniverso de población del estudio, 1846 investigadores, se tuvo un retorno de 26,65% de loscuestionarios. Los resultados de las investigaciones nos permiten afirmar la existencia de un graninterés entre los expertos consultados por el sujeto y el objeto del estudio, mientras que hay una faltade claridad en una gran parte de ellos en lo que es la ética en la investigación agrícola. El estudiorecomienda un amplio debate sobre el tema en la empresa, que culmine con la adopción de una“gestión de la ética” en la investigación.

Palabras clave: Ética en la investigación, integridad científica, investigación agrícola, gestión dela ética

Ethics in agricultural research: perceptions of Embrapa’s researchersRegina Lucia Ramos Lourenço and Marcel Bursztyn

This paper presents the results of a study on the perception of researchers from the BrazilianAgricultural Research Corporation (Embrapa) about ethics in agricultural research. The study wasexploratory and used qualitative and quantitative approaches. The qualitative research utilized semi-structured individual interviews with 21 opinion makers (directors, former directors and strategicofficers of the corporation) and served as basis for construction of the quantitative surveyquestionnaire. Of the population studied, 1846 researchers, 26,65 returned the questionnaire. Thesurvey results allow us to affirm the existence of great interest, among the researchers interviewed,in the subject of this study and at the same time a lack of clarity about what is ethics in agriculturalresearch. The study recommends an ample discussion with Embrapa culminating in the “ethicalmanagement” in research.

Keywords: Ethics in research, scientific integrity, agricultural research, ethical management

Ética na pesquisa agropecuária: percepção dos pesquisadores da Embrapa

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Regina Lucia Ramos LourençoEspecialista em Administração de Recursos Humanos pela pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e mestre em Desen-volvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB). É analista da Embrapa. Contato: [email protected]

Marcel BursztynDoutor em Desenvolvimento Econômico e Social pela Université de Paris I (Sorbonne) e em Economia pelaUniversité de Picardie-França. É professor associado no Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB.É membro do Conselho de Ética na Pesquisa Agropecuária na França (INRA e CIRAD). Contato: [email protected]