moacir gadotti - perspectivas atuais da educação

download moacir gadotti - perspectivas atuais da educação

of 9

Transcript of moacir gadotti - perspectivas atuais da educação

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    1/9

    3

    PERSPECTIVAS ATUAISDA EDUCAO

    N

    PERSPECTIVAS ATUAIS DA EDUCAO

    rida entre a educao e a catstrofe. A julgar pelas duasgrandes guerras que marcaram a Histria da Humanida-de, na primeira metade do sculo XX, a catstrofe ven-ceu. No incio dos anos 50, dizia-se que s havia uma al-ternativa: socialismo ou barbrie (Cornelius Castoriadis),mas chegou-se ao final do sculo com a derrocada do so-cialismo burocrtico de tipo sovitico e enfraquecimentoda tica socialista. E mais: pela primeira vez na histriada humanidade, no por efeito de armas nucleares, maspelo descontrole da produo industrial, pode-se destruirtoda a vida do planeta. Mais do que a solidariedade, esta-mos vendo crescer a competitividade. Venceu a barbrie,de novo? Qual o papel da educao neste novo contextopoltico? Qual o papel da educao na era da informa-o? Queperspectivas podemos apontar para a educaonesse incio do Terceiro Milnio? Para onde vamos?

    Para iniciar, verifica-se o significado da palavra pers-pectiva. A palavra perspectiva vem do latim tardio

    perspectivus, que deriva de dois verbos:perspecto, quesignifica olhar at o fim, examinar atentamente; eperspicio, que significa olhar atravs, ver bem, olhar aten-tamente, examinar com cuidado, reconhecer claramente(Dicionrio Escolar Latino-Portugus, de Ernesto Faria).A palavra perspectiva rica de significaes. Segundoo Dicionrio de filosofia , do filsofo italiano NicolaAbbagnano, perspectiva seria uma antecipao qualquerdo futuro: projeto, esperana, ideal, iluso, utopia. O ter-

    MOACIR GADOTTIProfessor da Universidade de So Paulo e Diretor do Instituto Paulo Freire.

    Autor, dentre outras obras, de Perspectivas atuais da educao.

    as ltimas duas dcadas do sculo XX assistiu-se a grandes mudanas tanto no campo socio-econmico e poltico quanto no da cultura, da

    cincia e da tecnologia. Ocorreram grandes movimentossociais, como aqueles no leste europeu, no final dos anos80, culminando com a queda do Muro de Berlim. Aindano se tem idia clara do que dever representar, para todosns, a globalizao capitalista da economia, das comuni-caese dacultura. As transformaes tecnolgicas tor-naram possvel o surgimento da era da informao.

    um tempo de expectativas, deperplexidade e da cri-se de concepes e paradigmas no apenas porque inicia-se um novo milnio poca de balano e de reflexo, pocaem que o imaginrio parece ter um peso maior. O ano 2000exerceu um fascnio muito grande em muitas pessoas. PauloFreire dizia que queria chegar ao ano 2000 (acabou fale-cendo trs anos antes). um momento novo e rico de pos-sibilidades. Por isso, no se pode falar do futuro da edu-

    cao sem certa dose de cautela. com essa cautela quesero examinadas, neste artigo, algumas dasperspectivasatuais da teoria e da prtica da educao, apoiando-senaqueles educadores e filsofos que tentaram, em meio aessa perplexidade, apesar de tudo, apontar algum cami-nho para o futuro. A perplexidade e a crise de paradigmasno podem se constituir num libi para o imobilismo.

    No incio deste sculo, H. G. Wells dizia que a Hist-ria da Humanidade cada vez mais a disputa de uma cor-

    Resumo: O conhecimento tem presena garantida em qualquer projeo que se faa do futuro. Por isso h um

    consenso de que o desenvolvimento de um pas est condicionado qualidade da sua educao. Nesse contex-

    to, as perspectivas para a educao so otimistas. A pergunta que se faz : qual educao, qual escola, qual

    aluno, qual professor? Este artigo busca compreender a educao no contexto da globalizao e da era da

    informao, tira conseqncias desse processo e aponta o que poder permanecer da "velha" educao, indi-

    cando algumas categorias fundantes da educao do futuro.

    Palavras-chave: poltica educacional; globalizao e ensino; educao e sociedade.

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    2/9

    SO PAULOEM PERSPECTIVA, 14(2) 2000

    4

    mo exprime o mesmo conceito de possibilidade mas deum ponto de vista mais genrico e que menos compro-mete, dado que podem aparecer como perspectivas coi-sas que no tm suficiente consistncia para serem possi-

    bilidades autnticas. Para oDicionrio Aurlio, muitoconhecido entre ns, brasileiros, perspectiva a arte derepresentar os objetos sobre um plano tais como se apre-sentam vista; pintura que representa paisagens e edif-cios a distncia; aspecto dos objetos vistos de uma certadistncia; panorama; aparncia, aspecto; aspecto sob oqual uma coisa se apresenta, ponto de vista; expectativa,esperana. Perspectiva significa ao mesmo tempoenfoque, quando se fala, por exemplo, em perspectivapoltica, epossibilidade, crena em acontecimentos con-siderados provveis e bons. Falar em perspectivas falarde esperana no futuro.

    Hoje muitos educadores, perplexos diante das rpidasmudanas na sociedade, na tecnologia e na economia,perguntam-se sobre o futuro de sua profisso, alguns commedo de perd-la sem saber o que devem fazer. Ento,aparecem, no pensamento educacional, todas as palavrascitadas por Abbagnano e Aurlio: projeto poltico-pe-daggico, pedagogia da esperana, ideal pedaggi-co, iluso e utopia pedaggica, o futuro como pos-sibilidade. Fala-se muito hoje em cenrios possveispara a educao, portanto, em panoramas, representa-o de paisagens. Para se desenhar uma perspectiva preciso distanciamento. sempre um ponto de vista.Todas essas palavras entre aspas indicam uma certa dire-o ou, pelo menos, um horizonte em direo ao qual secaminha ou se pode caminhar. Elas designam expectati-vas e anseios que podem ser captados, capturados, siste-matizados e colocados em evidncia.

    UM PASSADO SEMPRE PRESENTE

    A virada do milnio razo oportuna para um balanosobre prticas e teorias que atravessaram os tempos. Fa-lar de perspectivas atuais da educao tambm falar,

    discutir, identificar o esprito presente no campo das idias,dos valores e das prticas educacionais que as perpassa,marcando o passado, caracterizando o presente e abrindopossibilidades para o futuro. Algumas perspectivas teri-cas que orientaram muitas prticas podero desaparecer,e outras permanecero em sua essncia. Quais teorias eprticas fixaram-se no ethos educacional, criaram razes,atravessaram o milnio e esto presentes hoje? Para en-tender o futuro preciso revisitar o passado. No cenrio

    da educao atual, podem ser destacados alguns marcos,algumas pegadas, que persistem e podero persistir naeducao do futuro.

    Educao Tradicional

    Enraizada na sociedade de classes escravista da IdadeAntiga, destinada a uma pequena minoria, a educao tra-dicional iniciou seu declnio j no movimento renascentista,mas ela sobrevive at hoje, apesar da extenso mdia daescolaridade trazida pela educao burguesa. A educaonova, que surge de forma mais clara a partir da obra deRousseau, desenvolveu-se nesses ltimos dois sculos etrouxe consigo numerosas conquistas, sobretudo no cam-po das cincias da educao e das metodologias de ensi-no. O conceito de aprender fazendo de John Dewey e as

    tcnicas Freinet, por exemplo, so aquisies definitivasna histria da pedagogia. Tanto a concepo tradicionalde educao quanto a nova, amplamente consolidadas,tero um lugar garantido na educao do futuro.

    A educao tradicional e a nova tm em comum a con-cepo da educao como processo de desenvolvimentoindividual. Todavia, o trao mais original da educaodesse sculo o deslocamento de enfoque do individualpara o social, para o poltico e para o ideolgico. Apeda-gogia institucional um exemplo disso. A experinciade mais de meio sculo de educao nos pases socialis-tas tambm o testemunha. A educao, no sculo XX,tornou-sepermanente e social. verdade, existem aindamuitos desnveis entre regies e pases, entre o Norte e oSul, entre pases perifricos e hegemnicos, entre pasesglobalizadores e globalizados. Entretanto, h idias uni-versalmente difundidas, entre elas a de que no h idadepara se educar, de que a educao se estende pela vida eque ela no neutra.

    Educao Internacionalizada

    No incio da segunda metade deste sculo, educadores

    e polticos imaginaram uma educao internacionaliza-da, confiada a uma grande organizao, a Unesco. Os pa-ses altamente desenvolvidos j haviam universalizado o en-sino fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemasnacionais de educao trouxeram um grande impulso,desde o sculo passado, possibilitando numerosos planosde educao, que diminuram custos e elevaram os bene-fcios. A tese de uma educao internacional j existiadeste 1899, quando foi fundado, em Bruxelas, o Bureau In-

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    3/9

    5

    PERSPECTIVAS ATUAISDA EDUCAO

    ternacional de Novas Escolas, por iniciativa do educadorAdolphe Ferrire. Como resultado, tem-se hoje uma gran-de uniformidade nos sistemas de ensino. Pode-se dizer quehoje todos os sistemas educacionais contam com uma estru-

    tura bsica muito parecida. No final do sculo XX, o fen-meno da globalizao deu novo impulso idia de uma edu-cao igual para todos, agora no como princpio de justiasocial, mas apenas como parmetro curricular comum.

    Novas Tecnologias

    As conseqncias da evoluo das novas tecnologias,centradas na comunicao de massa, na difuso do co-nhecimento, ainda no se fizeram sentir plenamente noensino como previra McLuhan j em 1969 , pelo me-nos na maioria das naes, mas a aprendizagem a distn-cia, sobretudo a baseada na Internet, parece ser a grandenovidade educacional neste incio de novo milnio. A edu-cao opera com a linguagem escrita e a nossa culturaatual dominante vive impregnada por uma nova lingua-gem, a da televiso e a da informtica, particularmente alinguagem da Internet. A cultura do papel representa tal-vez o maior obstculo ao uso intensivo da Internet, emparticular da educao a distncia com base na Internet.Por isso, os jovens que ainda no internalizaram inteira-mente essa cultura adaptam-se com mais facilidade do queos adultos ao uso do computador. Eles j esto nascendocom essa nova cultura, a cultura digital.

    Os sistemas educacionais ainda no conseguiram ava-liar suficientemente o impacto da comunicao audio-visual e da informtica, seja para informar, seja para bi-tolar ou controlar as mentes. Ainda trabalha-se muito comrecursos tradicionais que no tm apelo para as crianase jovens. Os que defendem a informatizao da educaosustentam que preciso mudar profundamente os mto-dos de ensino para reservar ao crebro humano o que lhe peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvol-ver a memria. Para ele, a funo da escola ser, cadavez mais, a de ensinar a pensarcriticamente. Para isso

    preciso dominar mais metodologias e linguagens, inclu-sive a linguagem eletrnica.

    Paradigmas Holonmicos

    Entre as novas teorias surgidas nesses ltimos anos,despertaram interesse dos educadores os chamados

    paradigmas holonmicos, ainda pouco consistentes. Com-plexidade e holismo so palavras cada vez mais ouvidas

    nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se in-cluir as reflexes de Edgar Morin, que critica a razoprodutivista e a racionalizao modernas, propondo umalgica do vivente. Esses paradigmas sustentam um prin-

    cpio unificador do saber, do conhecimento, em torno doser humano, valorizando o seu cotidiano, o seu vivido, opessoal, a singularidade, o entorno, o acaso e outras cate-gorias como: deciso, projeto, rudo, ambigidade,finitude, escolha, sntese, vnculo e totalidade.

    Essas seriam algumas das categorias dos paradigmaschamados holonmicos. Etimologicamente, holos, em gre-go, significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na totalidade. Mais do que a ideologia, seria a utopiaque teria essa fora para resgatar a totalidade do real, tota-lidade perdida. Para os defensores desses novos para-digmas, os paradigmas clssicos identificados no

    positivismo e no marxismo seriam marcados pela ideo-logia e lidariam com categorias redutoras da totalidade.Ao contrrio, os paradigmas holonmicos pretendem res-taurar a totalidade do sujeito, valorizando a sua iniciativae a sua criatividade, valorizando o micro, a complementa-ridade, a convergncia e a complexidade. Para eles, osparadigmas clssicos sustentam o sonho milenarista de umasociedade plena, sem arestas, em que nada perturbaria umconsenso sem frices. Ao aceitar como fundamento daeducao uma antropologia que concebe o homem comoum ser essencialmente contraditorial, os paradigmasholonmicos pretendem manter, sem pretender superar,todos os elementos da complexidade da vida.

    Os holistas sustentam que o imaginrio e a utopia soos grandes fatores instituintes da sociedade e recusam umaordem que aniquila o desejo, a paixo, o olhar e a escuta.Os enfoques clssicos, segundo eles, banalizam essas di-menses da vida porque sobrevalorizam o macro-estru-tural, o sistema, em que tudo funo ou efeito das supe-restruturas socioeconmicas ou epistmicas, lingsticase psquicas. Para os novos paradigmas, a histria essencialmente possibilidade, em que o que vale o ima-ginrio (Gilbert Durand, Cornelius Castoriadis), o proje-

    to. Existem tantos mundos quanto nossa capacidade deimaginar. Para eles, a imaginao est no poder, comoqueriam os estudantes em maio de 1968.

    Na verdade, essas categorias no so novas na teoria daeducao, mas hoje so lidas e analisadas com mais simpa-tia do que no passado. Sob diversas formas e com diferentessignificados, essas categorias so encontradas em muitos in-telectuais, filsofos e educadores, de ontem e de hoje: o sen-tido do outro, a curiosidade (Paulo Freire), a tolern-

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    4/9

    SO PAULOEM PERSPECTIVA, 14(2) 2000

    6

    cia (Karl Jaspers), a estrutura de acolhida (Paul Ricoeur),o dilogo (Martin Buber), a autogesto (Celestin Freinet,Michel Lobrot), a desordem (Edgar Morin), a ao co-municativa, o mundo vivido (Jrgen Habermas), a

    radicalidade (Agnes Heller), a empatia (Carl Rogers), aquesto de gnero (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), ocuidado (Leonardo Boff), a esperana (Ernest Bloch), aalegria (Georges Snyders), a unidadedohomem contra asunidimensionalizaes (Herbert Marcuse), etc.

    Evidentemente, nem todos esses autores aceitariamenquadrar-se nos paradigmas holonmicos. Todas as clas-sificaes e tipologias, no campo das idias, so necessa-riamente reducionistas. No se pode negar as divergn-cias existentes entre eles. Contudo, as categorias apontadasanteriormente indicam uma certa tendncia, ou melhor,uma perspectiva da educao. Os que sustentam os pa-

    radigmas holonmicos procuram buscar na unidade doscontrrios e na cultura contempornea um sinal dos tem-pos, uma direo do futuro, que eles chamam depedago-gia da unidade.

    Educao Popular

    O paradigma da educao popular, inspirado original-mente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60, encontra-va na conscientizao sua categoria fundamental. A pr-tica e a reflexo sobre a prtica levaram a incorporar outracategoria no menos importante: a da organizao. Afi-nal, no basta estar consciente, preciso organizar-se parapoder transformar. Nos ltimos anos, os educadores quepermaneceram fiis aos princpios da educao popularatuaram principalmente em duas direes: na educao

    pblica popular no espao conquistado no interior doEstado ; e na educao popular comunitria e na edu-cao ambiental ou sustentvel, predominantemente no-governamentais. Durante os regimes autoritrios da Am-rica Latina, a educao popular manteve sua unidade,combatendo as ditaduras e apresentando projetos alter-nativos. Com as conquistas democrticas, ocorreu com

    a educao popular uma grande fragmentao em dois sen-tidos: de um lado ela ganhou uma nova vitalidade no in-terior do Estado, diluindo-se em suas polticas pblicas;e, de outro, continuou como educao no-formal, dis-persando-se em milhares de pequenas experincias. Per-deu em unidade, ganhou em diversidade e conseguiu atra-vessar numerosas fronteiras. Hoje ela incorporou-se aopensamento pedaggico universal e orienta a atuao demuitos educadores espalhados pelo mundo, como o tes-

    temunha o Frum Paulo Freire, que se realiza de dois emdois anos, reunindo educadores de muitos pases.

    As prticas de educao popular tambm constituem-se em mecanismos de democratizao, em que se refletem

    os valores de solidariedade e de reciprocidade e novasformas alternativas de produo e de consumo, sobretu-do as prticas de educao popular comunitria, muitasdelas voluntrias. O Terceiro Setor est crescendo noapenas como alternativa entre o Estado burocrtico e omercado insolidrio, mas tambm como espao de novasvivncias sociais e polticas hoje consolidadas com asorganizaes no-governamentais (ONGs) e as organiza-es de base comunitria (OBCs). Este est sendo hoje ocampo mais frtil da educao popular.

    Diante desse quadro, a educao popular, como mo-delo terico reconceituado, tem oferecido grandes alter-

    nativas. Dentre elas, est a reforma dos sistemas deescolarizao pblica. A vinculao da educao popu-lar com o poder local e a economia popularabre, tam-bm, novas e inditas possibilidades para a prtica da edu-cao. O modelo terico da educao popular, elaboradona reflexo sobre a prtica da educao durante vrias d-cadas, tornou-se, sem dvida, uma das grandes contri-buies da Amrica Latina teoria e prtica educativaem mbito internacional. A noo de aprender a partir doconhecimento do sujeito, a noo de ensinar a partir depalavras e temas geradores, a educao como ato deconhecimento e de transformao social e a politicidadeda educao so apenas alguns dos legados da educaopopular pedagogia crtica universal.

    Universalizao da Educao Bsica eNovas Matrizes Tericas

    Neste comeo de um novo milnio, a educao apresen-ta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenhodo sistema escolar no tem dado conta da universalizaoda educao bsica de qualidade; de outro, as novas matri-

    zes tericas no apresentam ainda a consistncia global ne-

    cessria para indicar caminhos realmente seguros numa pocade profundas e rpidas transformaes. Essa uma das preo-cupaes do Instituto Paulo Freire, buscando, a partir do le-gado de Paulo Freire, consolidar o seu Projeto da EscolaCidad, como resposta crise de paradigmas. A concep-o terica e as prticas desenvolvidas a partir do conceitodeEscola Cidadpodem constituir-se numa alternativa vi-vel, de um lado, ao projeto neoliberal de educao, ampla-mente hegemnico, baseado na tica do mercado, e, de ou-

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    5/9

    7

    PERSPECTIVAS ATUAISDA EDUCAO

    tro lado, teoria e prtica de uma educao burocrtica,sustentada na estadolatria (Antonio Gramsci). uma es-cola que busca fortalecer autonomamente o seuprojeto po-ltico-pedaggico, relacionando-se dialeticamente no

    mecnica e subordinadamente com o mercado, o Estado ea sociedade. Ela visa formar o cidado para controlar o mer-cado e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pblica quanto aoseu destino isto , para todos estatal quanto ao financia-mento e democrtica e comunitria quanto sua gesto.

    Seja qual for a perspectiva que a educao contempo-rnea tomar, uma educao voltada para o futuro sersempre uma educao contestadora, superadora dos limi-tes impostos pelo Estado e pelo mercado, portanto, umaeducao muito mais voltada para a transformao so-cial do que para a transmisso cultural. Por isso, acredi-ta-se que a pedagogia da prxis , como uma pedagogia

    transformadora, em suas vrias manifestaes, pode ofe-recer um referencial geral mais seguro do que as pedago-gias centradas na transmisso cultural, neste momento deperplexidade.

    SOCIEDADE DA INFORMAO E EDUCAO

    Costuma-se definir nossa era como a era do conheci-mento. Se for pela importncia dada hoje ao conhecimento,em todos os setores, pode-se dizer que se vive mesmo naera do conhecimento, na sociedade do conhecimento, so-bretudo em conseqncia da informatizao e do proces-so de globalizao das telecomunicaes a ela associa-do. Pode ser que, de fato, j se tenha ingressado na era doconhecimento, mesmo admitindo que grandes massas dapopulao estejam excludas dele. Todavia, o que se cons-tata a predominncia da difuso de dados e informa-es e no de conhecimentos. Isso est sendo possvelgraas s novas tecnologias que estocam o conhecimen-to, de forma prtica e acessvel, em gigantescos volumesde informaes, que so armazenadas inteligentemente,permitindo a pesquisa e o acesso de maneira muito sim-ples, amigvel e flexvel. o que j acontece com a

    Internet: para ser usurio, basta dispor de uma linhatelefnica e um computador. Usurio no significa aquiapenas receptor de informaes, mas tambm emissor deinformaes. Pela Internet, a partir de qualquer sala deaula do planeta, pode-se acessar inmeras bibliotecas emmuitas partes do mundo. As novas tecnologias permitemacessar conhecimentos transmitidos no apenas por pala-vras, mas tambm por imagens, sons, fotos, vdeos (hiper-mdia), etc. Nos ltimos anos, a informao deixou de ser

    uma rea ou especialidade para se tornar uma dimensode tudo, transformando profundamente a forma como asociedade se organiza. Pode-se dizer que est em anda-mento umaRevoluo da Informao, como ocorreram no

    passado aRevoluo Agrcola e aRevoluo Industrial.Ladislau Dowbor (1998), aps descrever as facilidades

    que as novas tecnologias oferecem ao professor, se pergun-ta: o que eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escolano tem nem biblioteca e com o meu salrio eu no possocomprar um computador? Ele mesmo responde que ser pre-ciso trabalhar em dois tempos: o tempo do passado e o tem-po do futuro. Fazer tudo hoje para superar as condies doatraso e, ao mesmo tempo, criar as condies para aprovei-tar amanh as possibilidades das novas tecnologias.

    As novas tecnologias criaram novos espaos do conhe-cimento. Agora, alm da escola, tambm a empresa, o es-

    pao domiciliar e o espao social tornaram-se educativos.Cada dia mais pessoas estudam em casa, pois podem, decasa, acessar o ciberespao da formao e da aprendiza-gem a distncia, buscar fora a informao disponvelnas redes de computadores interligados servios que res-pondem s suas demandas de conhecimento. Por outro lado,a sociedade civil (ONGs, associaes, sindicatos, igrejas,etc.) est se fortalecendo no apenas como espao de tra-balho, em muitos casos, voluntrio, mas tambm comoespao de difuso de conhecimentos e de formao conti-nuada. um espao potencializado pelas novas tecnolo-gias, inovando constantemente nas metodologias. Novasoportunidades parecem abrir-se para os educadores. Es-ses espaos de formao tm tudo para permitir maiordemocratizao da informao e do conhecimento, por-tanto, menos distoro e menos manipulao, menos con-trole e mais liberdade. uma questo de tempo, de polti-cas pblicas adequadas e de iniciativa da sociedade. Atecnologia no basta. preciso a participao mais inten-sa e organizada da sociedade. O acesso informao no apenas um direito. um direito fundamental, um direitoprimrio, o primeiro de todos os direitos, pois sem ele nose tem acesso aos outros direitos.

    Na formao continuada necessita-se de maior inte-grao entre os espaos sociais (domiciliar, escolar, em-presarial, etc.), visando equipar o aluno para viver me-lhor na sociedade do conhecimento. Como previa HerbertMcLuhan, o planeta tornou-se a nossa sala de aula e onosso endereo. O ciberespao no est em lugar nenhum,pois est em todo o lugar o tempo todo. Estar num lugarsignificaria estar determinado pelo tempo (hoje, ontem,amanh). No ciberespao, a informao est sempre e per-

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    6/9

    SO PAULOEM PERSPECTIVA, 14(2) 2000

    8

    manentemente presente e em renovao constante. Ociberespao rompeu com a idia de tempo prprio para aaprendizagem. No h tempo e espao prprios para aaprendizagem. Como ele est todo o tempo em todo lu-

    gar, o espao da aprendizagem aqui em qualquer lugar e o tempo de aprender hoje e sempre. A sociedade do co-nhecimento se traduz por redes, teias (Ivan Illich), rvo-res do conhecimento (Humberto Maturana), sem hierarqui-as, em unidades dinmicas e criativas, favorecendo aconectividade, o intercmbio, consultas entre instituies epessoas, articulao, contatos e vnculos, interatividade. Aconectividade a principal caracterstica da Internet.

    O conhecimento o grande capital da humanidade. No apenas o capital da transnacional que precisa dele paraa inovao tecnolgica. Ele bsico para a sobrevivn-cia de todos e, por isso, no deve ser vendido ou compra-

    do, mas sim disponibilizado a todos. Esta a funo deinstituies que se dedicam ao conhecimento apoiado nosavanos tecnolgicos. Espera-se que a educao do futu-ro seja mais democrtica, menos excludente. Essa aomesmo tempo nossa causa e nosso desafio. Infelizmente,diante da falta de polticas pblicas no setor, acabaramsurgindo indstrias do conhecimento, prejudicando umapossvel viso humanista, tornando-o instrumento de lu-cro e de poder econmico.

    A educao, em particular a educao a distncia, um bem coletivo e, por isso, no deve ser regulada pelojogo do mercado, nem pelos interesses polticos ou pelofuror legiferante de regulamentar, credenciar, autorizar,reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quemdeve decidir sobre a qualidade dos seus certificados no nem o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade eo sujeito aprendente. Na era da informao generalizada,existir ainda necessidade de diplomas?

    O que cabe escola na sociedade informacional? Cabea ela organizar um movimento global de renovao cul-tural, aproveitando-se de toda essa riqueza de informa-es. Hoje a empresa que est assumindo esse papel ino-vador. A escola no pode ficar a reboque das inovaes

    tecnolgicas. Ela precisa ser um centro de inovao. Te-mos uma tradio de dar pouca importncia educaotecnolgica, a qual deveria comear j na educao infantil.

    Na sociedade da informao, a escola deve servir debssola para navegar nesse mar do conhecimento, supe-rando a viso utilitarista de s oferecer informaes teispara a competitividade, para obter resultados. Deve ofe-recer uma formao geral na direo de uma educaointegral. O que significa servir de bssola? Significa ori-

    entar criticamente, sobretudo as crianas e jovens, na buscade uma informao que os faa crescer e no embrutecer.

    Hoje vale tudo para aprender. Isso vai alm da reci-clagem e da atualizao de conhecimentos e muito mais

    alm da assimilao de conhecimentos. A sociedade doconhecimento possui mltiplas oportunidades de apren-dizagem: parcerias entre o pblico e o privado (famlia,empresa, associaes, etc.); avaliaes permanentes; de-bate pblico; autonomia da escola; generalizao da ino-vao. As conseqncias para a escola e para a educaoem geral so enormes: ensinar a pensar; saber comuni-car-se; saber pesquisar; ter raciocnio lgico; fazer snte-ses e elaboraes tericas; saber organizar o seu prpriotrabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independentee autnomo; saber articular o conhecimento com a prti-ca; ser aprendiz autnomo e a distncia.

    Neste contexto de impregnao do conhecimento, cabe escola: amar o conhecimento como espao de realiza-o humana, de alegria e de contentamento cultural; se-lecionar e rever criticamente a informao; formular hi-pteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser provocadorade mensagens e no pura receptora; produzir, construir ereconstruir conhecimento elaborado. E mais: numa pers-pectiva emancipadora da educao, a escola tem que fa-zer tudo isso em favor dos excludos, no discriminandoo pobre. Ela no pode distribuir poder, mas pode cons-truir e reconstruir conhecimentos, saber, que poder.Numa perspectiva emancipadora da educao, a tecnologiacontribui muito pouco para a emancipao dos excludosse no for associada ao exerccio da cidadania.

    Como diz Ladislau Dowbor (1998:259), a escola dei-xar de ser lecionadora para ser gestora do conhecimen-to. Segundo o autor, pela primeira vez a educao tem apossibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimen-to. A educao tornou-se estratgica para o desenvolvi-mento, mas, para isso, no basta moderniz-la, comoquerem alguns. Ser preciso transform-la profundamente.

    A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisafazer sua prpria inovao, planejar-se a mdio e a longo

    prazos, fazer sua prpria reestruturao curricular, ela-borar seus parmetros curriculares, enfim, ser cidad. Asmudanas que vm de dentro das escolas so mais dura-douras. Da sua capacidade de inovar, registrar, sistemati-zar a sua prtica/experincia, depender o seu futuro. Nes-se contexto, o educador um mediador do conhecimento,diante do aluno que o sujeito da sua prpria formao.Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e,para isso, tambm precisa ser curioso, buscar sentido para

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    7/9

    9

    PERSPECTIVAS ATUAISDA EDUCAO

    o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dosseus alunos.

    Em geral, temos a tendncia de desvalorizar o que fa-zemos na escola e de buscar receitas fora dela quando

    ela mesma que deveria governar-se. dever dela ser ci-dad e desenvolver na sociedade a capacidade de gover-nar e controlar o desenvolvimento econmico e o merca-do. A cidadania precisa controlar o Estado e o mercado,verdadeira alternativa ao capitalismo neoliberal e ao so-cialismo burocrtico e autoritrio. A escola precisa dar oexemplo, ousar construir o futuro. Inovar mais impor-tante do que reproduzir com qualidade o que existe. Amatria-prima da escola sua viso do futuro.

    A escola est desafiada a mudar a lgica da constru-o do conhecimento, pois a aprendizagem agora ocupatoda a nossa vida. E porque passamos todo o tempo de

    nossas vidas na escola no s ns, professores deve-mos ser felizes nela. A felicidade na escola no umaquesto de opo metodolgica ou ideolgica, mas simuma obrigao essencial dela. Como diz Georges Snyders(1998) no livroA alegria na escola, precisamos de umanova cultura da satisfao, precisamos da alegria cul-tural. O mundo de hoje favorvel satisfao e aescola tambm pode s-lo.

    O que ser professor hoje? Ser professor hoje vi-ver intensamente o seu tempo, conviver; ter conscin-cia e sensibilidade. No se pode imaginar um futuropara a humanidade sem educadores, assim como nose pode pensar num futuro sem poetas e filsofos. Oseducadores, numa viso emancipadora, no s trans-formam a informao em conhecimento e em consci-ncia crtica, mas tambm formam pessoas. Diante dosfalsos pregadores da palavra, dos marketeiros, eles soos verdadeiros amantes da sabedoria, os filsofos deque nos falava Scrates. Eles fazem fluir o saber (noo dado, a informao e o puro conhecimento), porqueconstrem sentido para a vida das pessoas e para ahumanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo,mas produtivo e mais saudvel para todos. Por isso eles

    so imprescindveis.

    PARA PENSAR A EDUCAO DO FUTURO

    Jacques Delors (1998), coordenador do Relatrio paraa Unesco da Comisso Internacional Sobre Educao parao Sculo XXI, no livroEducao: um tesouro a desco-brir, aponta como principal conseqncia da sociedadedo conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao

    longo de toda a vida (Lifelong Learning) fundada emquatro pilares que so ao mesmo tempo pilares do co-nhecimento e da formao continuada. Esses pilares po-dem ser tomados tambm como bssola para nos orientar

    rumo ao futuro da educao.

    Aprender a conhecer Prazer de compreender, desco-brir, construir e reconstruir o conhecimento, curiosidade,autonomia, ateno. Intil tentar conhecer tudo. Isso su-pe uma cultura geral, o que no prejudica o domnio decertos assuntos especializados. Aprender a conhecer maisdo que aprender a aprender. Aprender mais linguagens emetodologias do que contedos, pois estes envelhecemrapidamente. No basta aprender a conhecer. precisoaprender a pensar, a pensar a realidade e no apenas pen-sar pensamentos, pensar o j dito, o j feito, reproduzir

    o pensamento. preciso pensar tambm o novo, reinventaro pensar, pensar e reinventar o futuro.

    Aprender a fazer indissocivel do aprender a conhe-cer. A substituio de certas atividades humanas por m-quinas acentuou o carter cognitivo do fazer. O fazer dei-xou de ser puramente instrumental. Nesse sentido, valemais hoje a competncia pessoal que torna a pessoa aptaa enfrentar novas situaes de emprego, mas apta a tra-balhar em equipe, do que a pura qualificao profissio-nal. Hoje, o importante na formao do trabalhador, tam-bm do trabalhador em educao, saber trabalhar

    coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuio,saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabili-dade emocional. Essas so, acima de tudo, qualidadeshumanas que se manifestam nas relaes interpessoaismantidas no trabalho. A flexibilidade essencial. Existemhoje perto de 11 mil funes na sociedade contra aproxima-damente 60 profisses oferecidas pelas universidades. Comoas profisses evoluem muito rapidamente, no basta prepa-rar-se profissionalmente para um trabalho.

    Aprender a viver juntos a viver com os outros. Compre-ender o outro, desenvolver a percepo da interdependncia,da no-violncia, administrar conflitos. Descobrir o outro,participar em projetos comuns. Ter prazer no esforo co-mum. Participar de projetos de cooperao. Essa a tendn-cia. No Brasil, como exemplo desta tendncia, pode-se citara incluso de temas/eixos transversais (tica, ecologia, cida-dania, sade, diversidade cultural) nos Parmetros Curricu-lares Nacionais, que exigem equipes interdisciplinares e tra-balho em projetos comuns.

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    8/9

    SO PAULOEM PERSPECTIVA, 14(2) 2000

    10

    Aprender a ser Desenvolvimento integral da pessoa:inteligncia, sensibilidade, sentido tico e esttico, res-ponsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento aut-nomo e crtico, imaginao, criatividade, iniciativa. Para

    isso no se deve negligenciar nenhuma das potencialidadesde cada indivduo. A aprendizagem no pode ser apenaslgico-matemtica e lingstica. Precisa ser integral.

    Iniciou-se este texto procurando situar o que significaperspectiva. Sem pretender fazer qualquer exerccio defuturologia e muito mais no sentido de estabelecer pontospara o debate, sero apontados aqui algumas categorias emtorno da educao do futuro, que indicam o surgimento detemas com importantes conseqncias para a educao.

    As categorias contradio, determinao, repro-duo, mudana, trabalho, prxis, necessidade,possibilidade aparecem freqentemente na literatura

    pedaggica contempornea, sinalizando j uma perspec-tiva da educao, a perspectiva dapedagogia da prxis.Essas categorias tornaram-se clssicas na explicao dofenmeno da educao, principalmente a partir de Hegele de Marx. A dialtica constitui-se, at hoje, no paradig-ma mais consistente para analisar o fenmeno da educa-o. Pode-se e deve-se estud-la e estudar todas as cate-gorias anteriormente apontadas. Elas no podem sernegadas, pois ajudaro muito na leitura do mundo da edu-cao atual. Elas no podem ser negadas ou desprezadascomo categorias ultrapassadas. Porm, tambm pode-

    mos nos ocupar mais especificamente de outras, ao pen-sar a educao do futuro, categorias nascidas ao mesmotempo da prtica da educao e da reflexo sobre ela. Eisalgumas delas a ttulo de exemplo.

    Cidadania O que implica tambm tratar do tema da au-tonomia da escola, de seu projeto poltico-pedaggico,da questo da participao, da educao para a cidada-nia. Dentro desta categoria, pode-se discutir particular-mente o significado da concepo de escola cidade desuas diferentes prticas. Educar para a cidadania ativatornou-se hoje projeto e programa de muitas escolas e de

    sistemas educacionais.

    Planetaridade A Terra um novo paradigma (Leo-nardo Boff). Que implicaes tem essa viso de mundosobre a educao? O que seria uma ecopedagogia (Fran-cisco Gutirrez) e uma ecoformao (Gaston Pineau)? Otema da cidadania planetria pode ser discutido a partirdesta categoria. Podemos nos perguntar como Milton Nas-cimento: para que passaporte se fazemos parte de uma

    nica nao? Que conseqncias podemos tirar para alu-nos, professores e currculos?

    Sustentabilidade O tema da sustentabilidade originou-se

    na economia (desenvolvimento sustentvel) e na ecolo-gia, para se inserir definitivamente no campo da educao,sintetizada no lema uma educao sustentvel para a so-brevivncia do planeta. O que seria uma cultura da susten-tabilidade? Esse tema dever dominar muitos debates edu-cativos das prximas dcadas. O que estamos estudando nasescolas? No estaremos construindo uma cincia e uma cul-tura que servem para a degradao/deteriorao do planeta?

    Virtualidade Esse tema implica toda a discusso atualsobre a educao a distncia e o uso dos computadoresnas escolas (Internet). A informtica, associada telefo-

    nia, nos inseriu definitivamente na era da informao.Quais as conseqncias para a educao, para a escola,para a formao do professor e para a aprendizagem? Con-seqncias da obsolescncia do conhecimento. Como ficaa escola diante da pluralidade dos meios de comunica-o? Eles abrem os novos espaos da formao ou irosubstituir a escola?

    Globalizao O processo da globalizao est mudando apoltica, a economia, a cultura, a histria e, portanto, tam-bm a educao. um tema que deve ser enfocado sob v-rios prismas. A globalizao remete tambm aopoder local

    e s conseqncias locais da nossa dvida externa global (edvida interna tambm, a ela associada). O global e o localse fundem numa nova realidade: o glocal. O estudo destacategoria remete necessria discusso dopapel dos muni-cpios e do regime de colaborao entre Unio, estados,municpios e comunidade, nas perspectivas atuais da educa-o bsica. Para pensar a educao do futuro, necessriorefletir sobre o processo de globalizao da economia, dacultura e das comunicaes.

    Transdisciplinaridade Embora com significados dis-tintos, certas categorias como transculturalidade,transversalidade, multiculturalidade e outras como com-

    plexidade e holismo tambm indicam uma nova tendn-cia na educao que ser preciso analisar. Como cons-truir interdisciplinarmente o projeto pedaggico da escola?Como relacionar multiculturalidade e currculo? neces-srio realizar o debate dos PCN. Como trabalhar com ostemas transversais? O desafio de uma educao semdiscriminao tnica, cultural, de gnero.

  • 7/28/2019 moacir gadotti - perspectivas atuais da educao

    9/9

    11

    PERSPECTIVAS ATUAISDA EDUCAO

    Dialogicidade, dialeticidade No se pode negar a atu-alidade de certas categorias freireanas e marxistas, a va-lidade de uma pedagogia dialgica ou da prxis. Marx,em O capital, privilegiou as categorias hegelianas de-

    terminao, contradio, necessidade e possibili-dade. A fenomenologia hegeliana continua inspirandonossa educao e dever atravessar o milnio. A educa-o popular e a pedagogia da prxis devero continuarcomo paradigmas vlidos para alm do ano 2000.

    A anlise dessas categorias e a identificao da sua pre-sena na pedagogia contempornea podem constituir-se,sem dvida, num grande programa a ser desenvolvido hojeem torno das perspectivas atuais da educao. No sepretende aqui dar respostas definitivas. Com esse peque-no texto introdutrio, procurou-se apenas iniciar um de-bate sobre as perspetivas atuais da educao, sem a inten-

    o de, com isso, encerr-lo. Existem muitos outrosdesa-fios para a educao. A reflexo crtica no basta, comotambm no basta a prtica sem a reflexo sobre ela. Aqui,so indicadas apenas algumas pistas, dentro de uma viso

    otimista e crtica no pessimista e ingnua para umaanlise em profundidade daqueles que se interessam poruma educao voltada para o futuro, como dizia o gran-de educador polons, o marxista Bogdan Suchodolski.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    DELORS, J.Educao: um tes ouro a descobrir. So Paulo, Cortez, 1998.

    DOWBOR, L.A reproduo social . So Paulo, Vozes, 1998.

    GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educao. Porto Alegre, Ed. Artes Mdi-cas, 2000.

    SNYDERS, G.A alegria na escola . So Paulo, Ed. Manole, 1988.