Mobiliário Português

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Dom Manuel (1496 D.C - 1521 D.C) O Estilo manuelino, por vezes também chamado de gótico português tardio ou flamejante, é um estilo arquitectónico, escultórico e de arte móvel que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I e prosseguiu após a sua morte, ainda que já existisse desde o reinado de D. João II. É uma variação portuguesa do Gótico final, bem como da arte luso-mourisca ou arte mudéjar, marcada por uma sistematização de motivos iconográficos próprios, de grande porte, simbolizando o poder régio. Incorporou, mais tarde, ornamentações do Renascimento italiano. O termo “Manuelino” foi criado por Francisco Adolfo Varnhagen na sua Notícia Histórica e Descriptiva do Mosteiro de Belém, de 1842. O Estilo desenvolveu-se numa época propícia da economia portuguesa e deixou marcas em todo o território nacional. D. Manuel, teve uma influência considerável da própria personalidade do monarca, das suas aspirações no contexto mundial, em especial o projeto de uma cruzada que unificaria o mundo cristão do ocidente com o mítico reino Cristão oriental, tornando- o o “Rei dos Mares” (elementos e representações de descobrimentos trazidos por Vasco da Gama e Pedro Alvares Cabral). Esse estilo sintetizava aspectos do gótico ao Renascimento). O principal financiador de suas obras foi a troca comercial da Índia e Africa. As características vão desde pernas torneadas em bolachas e espirais podendo ter amarrações em H. O gótico-manuelino se desenvolveu quase sempre, sob a tutela da coroa, o que explica a utilização de elementos decorativos associados ao objetivo da exaltação da monarquia de direito divino, como a esfera armilar, ou ainda o profundo sentido místico que emana das imagens sacras, em particular da Virgem, transformada por D. Manuel I numa espécie de símbolo régio. É na decoração que esta arte mais se supera - a arquitetura é envolta pelo ornato, que alastra numa nova redimensionação do volume, ao serviço de uma simbologia régia e de um discurso cristológico que intensifica o culto à Virgem Maria. A turgidez, a aparente desarmonia, o pitoresco, a proliferação vegetalista não podem ser vistos como decoração avulsa, mas sim como sistemas coerentes de significação. A decoração parece querer ultrapassar-se a si própria, num hiper-realismo fantástico. O estilo manuelino transmite em grande parte estas aspirações messiânicas de um rei cuja ascensão ao poder foi, no mínimo insólita, depois da morte seguida de outros herdeiros directos ao trono (como o príncipe D. Afonso e o seu irmão, D. Diogo, assassinado). No entanto, desde a interpretação dada à expressão “Spera Mundi”, na esfera armilar, que lhe fora concedida como divisa, até à interpretação do seu próprio nome, Emanuel (“Deus connosco”, em hebraico), dado por sua mãe quando este nasceu, após um trabalho de parto longo e doloroso que só terminou quando a procissão do Corpo de Deus passava na rua, vários foram os “sinais” que indicavam que este rei fora o “Escolhido” por Deus para grandes feitos.

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Dom Manuel (1496 D.C - 1521 D.C)

O Estilo manuelino, por vezes também chamado de gótico português tardio ou

flamejante, é um estilo arquitectónico, escultórico e de arte móvel que se

desenvolveu no reinado de D. Manuel I e prosseguiu após a sua morte, ainda que já

existisse desde o reinado de D. João II.

É uma variação portuguesa do Gótico final, bem como da arte luso-mourisca ou arte

mudéjar, marcada por uma sistematização de motivos iconográficos próprios, de grande

porte, simbolizando o poder régio. Incorporou, mais tarde, ornamentações do

Renascimento italiano. O termo “Manuelino” foi criado por Francisco Adolfo Varnhagen

na sua Notícia Histórica e Descriptiva do Mosteiro de Belém, de 1842. O Estilo

desenvolveu-se numa época propícia da economia portuguesa e deixou marcas em todo o

território nacional.

D. Manuel, teve uma influência considerável da própria personalidade do monarca, das

suas aspirações no contexto mundial, em especial o projeto de uma cruzada que

unificaria o mundo cristão do ocidente com o mítico reino Cristão oriental, tornando-

o o “Rei dos Mares” (elementos e representações de descobrimentos trazidos por Vasco

da Gama e Pedro Alvares Cabral).

Esse estilo sintetizava aspectos do gótico ao Renascimento). O principal financiador

de suas obras foi a troca comercial da Índia e Africa.

As características vão desde pernas torneadas em bolachas e espirais podendo ter

amarrações em H. O gótico-manuelino se desenvolveu quase sempre, sob a tutela da

coroa, o que explica a utilização de elementos decorativos associados ao objetivo da

exaltação da monarquia de direito divino, como a esfera armilar, ou ainda o profundo

sentido místico que emana das imagens sacras, em particular da Virgem, transformada

por D. Manuel I numa espécie de símbolo régio. É na decoração que esta arte mais se

supera - a arquitetura é envolta pelo ornato, que alastra numa nova redimensionação

do volume, ao serviço de uma simbologia régia e de um discurso cristológico que

intensifica o culto à Virgem Maria. A turgidez, a aparente desarmonia, o pitoresco, a

proliferação vegetalista não podem ser vistos como decoração avulsa, mas sim como

sistemas coerentes de significação. A decoração parece querer ultrapassar-se a si

própria, num hiper-realismo fantástico.

O estilo manuelino transmite em grande parte estas aspirações messiânicas de um rei

cuja ascensão ao poder foi, no mínimo insólita, depois da morte seguida de outros

herdeiros directos ao trono (como o príncipe D. Afonso e o seu irmão, D. Diogo,

assassinado). No entanto, desde a interpretação dada à expressão “Spera Mundi”, na

esfera armilar, que lhe fora concedida como divisa, até à interpretação do seu

próprio nome, Emanuel (“Deus connosco”, em hebraico), dado por sua mãe quando este

nasceu, após um trabalho de parto longo e doloroso que só terminou quando a procissão

do Corpo de Deus passava na rua, vários foram os “sinais” que indicavam que este rei

fora o “Escolhido” por Deus para grandes feitos.

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Dom João V (1700 D.C – 1750 D.C)

Filho de D. Pedro II e de Maria Sofia de Neubourg, foi aclamado rei em 1707. O

periodo vai de 1700 à 1750.

Quando iniciou o reinado, estava-se em plena Guerra da Sucessão de Espanha, que para

Portugal significava o perigo da ligação daquele país à grande potência continental

que era a França. Com esta guerra a não dar um apreço muito grande às questões

europeias e à sinceridade dos acordos; daí em diante permaneceu inalteravelmente fiel

aos seus interesses atlânticos, comerciais e políticos, reafirmando nesse sentido a

aliança com a Inglaterra.

Culturalmente, o reinado de D. João V tem aspectos de muito interesse. O barroco

manifesta-se na arquitectura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria, com grande

riqueza. O rei convidou expoentes da arte barroca alta e arquitetura da Itália,

Alemanha e França a virem a Lisboa. Proibiu a importação de móveis e do uso do ouro

em móveis. Com a riqueza do reino proveniente da exploração das minas de ouro do

Brasil, D. João V pretendeu à semelhança dos outros monarcas europeus, imitar Luís

XIV; o mobiliário dito D. João V é fortemente influenciado pelo Queen Anne e Jorge I.

Durante o reinado de D. João V, o design de mobiliário Português evolui de forma

muito clara a partir do Estilo Nacional Português através do barroco ao rococó. No

entanto, a execução é de um estilo singular Português, ao contrário da maioria dos

progenitores e francês Inglês.

A presença do Inglês em Portugal levou à rápida adoção da perna cabriole e a

introdução de novas formas, como a mesa lateral, mesas de pé do portão, o meia comoda

(semelhante a um menino baixo) e cômoda. Duas exceções a esta regra eram os Buffet

mesa eo contador cuja produção continuou durante todo reinado de D. João V. eram uma

reimplementação Português típico de clássico estilo europeu. O indicador foi

introduzido de volta da Holanda através de Inglaterra, mas emparelhado com talha

barroca extravagantemente cristas conchas.

O estilo de D. João V é marcado pela riqueza dos materiais, pelo magnificence das

partes e pela vasta gama de ornamento. É bastante evidentes em cada parte de mobília

as linhas curvadas, escudos, bola e de pés da garra. Seja pelo design ou como uma

conseqüência da proibição de utilizar o ouro, o Português continuou com sua tradição

de usar a interação entre a madeira escura que reflete a luz como decoração; conceito

primário aliado à beleza marcante da região tropical madeiras exóticas.

As características destes móveis são praticamente iguais às dos de origem portuguesa.

O estilo D. João foi um estilo inspirado em outros estilos já existentes, como Luís

XV, Queen Anne e Chipandele. Não podemos, entretanto, considerá-lo uma cópia, pois

além de ser a fusão de vários estilos, tem um caráter pessoal de seu país de origem:

Portugal. Teve várias fases, mas o mais importante é que na época do Marquês de

Pombal (1715), quando é introduzido no mobiliário o chamado barroco francês, entra em

uso a talha delicada com motivos de pequenas folhas e pequenas volutas entrelaçadas,

mas sempre com um ar de grande delicadeza. Ebenistas franceses vão notadamente para a

cidade do Porto e lá montam pequenas oficinas onde flores, pequenas margaridas, vão

aparecer depois no estilo Dona Maria I, mas ali não entalhadas e sim realizado

caprichoso trabalho de marqueteria. É este o tipo de mobiliário D. José (nome do

soberano português na época) e que no entender de muitos conhecedores, nada mais é

que o estilo D. João V florido.

Infelizmente, por causa da o terremoto catastrófico e consequente tsunami que

destruiu Lisboa em 1755, há apenas um número limitado de verdade mobiliário D. João V

em coleções de museus.

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Dom José (1750 D.C – 1777 D.C)

Filho de D. João V, sucedeu a seu pai em 1750. Durante o reinado de D. José I o

brasão esculpido evoluiu em penas rococó completo e motivos florais; os pés tem novos

estilos, tais como garra, bola e clube.

Justamente, a terceira fase do estilo joanino indicou a transição do barroco ao

rococó, no que se refere à mobília.

Surgiram as cadeiras com assento de palhinha, encostos vazados com tabela central em

forma de violão e entalhes em forma de um feixe de plumas no alto do espaldar, tanto

das cadeiras como das camas. As cômodas passaram a adotar linhas curvas em seu corpo

mesmo. Imprimiam-se, sobre os móveis de um modo geral, alguns elementos de

chinoiserie. Foi, portanto, das características de transição do terceiro e último

período do estilo joanino que se apresentaram novas formas na mobília, como na talha

em geral e nas grandes composições dos retábulos, o rococó português que se

convencionou chamar de estilo D. José I.

Ao usar jacarandá, fabricantes de móveis Português foram capazes de esculpir muito

elegantes e fortes pernas cabriole de mesas e de cadeiras, evitando ao volume de

implementações similares em madeira de nogueira e outras madeiras nativas. Mais tarde

no século, a comoda papeleira (escrita Recepção inclinação), encostar da Mesa (bloco

da frente do console de mesa) e sofás foram introduzidas. Embora os tipicos

decorativos barroco francês como o Escudo e acanthus eram favorecidos, a aplicação

foi predominantemente de entalhe na madeira sem adorno.

É caracterizado pelo uso de elementos muito comuns no estilo Dom João V; contornado

com suaves conchas, pernas curvas. Tinham o tamanho reduzido devido a redução de

áreas ja que não mais moravam em grandes castelos porem haviam mais cómodos menores

mais confortáveis e aconchegantes. Era predominante o uso de Madeira de Castanha

(Chestnut wood).

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Dona Maria (1780 D.C - 1825 D.C)

Recebendo a denominação de D. Maria I, o mobiliário está mais intimamente ligado à

arquitetura, embora, dado o conservadorismo da rainha, o rococó se manteve em

Portugal até ao final do século. Chegaram a Portugal alguns exemplares de móveis de

Sheraton, que era francês de origem e inglês por adoção. Sheraton foi um

revolucionário no duplo sentido: porque lutou com Maret e Robespierre e também por

modificar a linha dos móveis do seu tempo. Foi Sheraton o criador dos móveis simples

e de linhas retas, que no Brasil e em Portugal formaram o estilo D. Maria I. Seu

período em Portugal e no Brasil é de 1780 a 1825.

Não existiu aqui um centro de fabricação desse mobiliário. Encontramos em todo o país

peças do estilo e podemos tentar classificar tais móveis, em certas regiões

brasileiras, a nosso gosto.

Em Pernambuco, por exemplo, encontrávamos móveis D. Maria I com características

especiais: seus filetes, mais largos do que nas demais regiões, e o sabor regional

sempre presente - cajus, abacaxis embutidos nos espaldares das cadeiras e nas frentes

e tampos de mesas, flores holandesas, tulipas embutidas, em ramos, onde boninas e

margaridas se abraçam num buquê, o que pode ser visto nas cabeceiras das camas. Já na

Bahia vamos encontrar camas com pássaros e flores embutidos, e amarrando seus talos,

fitas que formam laços exagerados, de pontas caídas. Nas cômodas, flores entrelaçadas

são muito complicadas. As talhas só vão aparecer como guarnição das cabeceiras das

camas de encosto sextavado. Nestas, guirlandas de folhas e flores vão aparecer

entrelaçadas, bem ao gosto da época. Essas talhas, em madeira pura ou dourada, só

aparecem nas camas portuguesas e nas de origem baiana. Em Minas Gerais, o mobiliário

D. Maria I aparece bem simples. O jacarandá, tão usado nas outras regiões, é às vezes

substituído pelo vinhático: seus embutidos são mais simples e seus filetes mais

ingênuos. No estado do Rio de Janeiro, notadamente na cidade de Campos é que vamos

encontrar peças deste estilo, esplendorosamente bem feitas: são camas com ricos

embutidos de flores, pássaros e fitas entrelaçados em proporções excelentes e cômodas

com marchetaria; cadeiras perfeitas, onde embutidos excepcionais guarnecem os seus

encostos. Frutos e flores aparecem nas madeiras de tonalidades as mais diversas.

É no estado do Rio que se encontram muitas peças valiosas no estilo Maria I. As

principais características para identificação são: a presença de cavilhas ( pequenos

bastões de madeira usados no lugar dos pregos), inclusive o encaixilhamento conhecido

como “rabo de andorinha” e o brilho, ou alto brilho, obtido através da fricção de

álcool com pedra-pomes em pó e friccionado com pedra-pomes em pedra mesmo. A madeira

ficava lisa e adquirindo um brilho intenso, e amaciava-se. Depois de bem seca, uma

leve mão de verniz, feito com goma-laca e álcool, para fixar o brilho conseguido com

pedra-pomes e obter um brilho mais intenso, semelhante a um espelho.

Depois de 1825, o estilo entra em decadência e aparecem então atributos de gosto

Império: leques, espelhos de marfim para fechaduras, pontos de marfim nos cantos dos

puxadores de madeira, guarnecendo cômodas da linha D. Maria I, cujos pés, outrora

lisos, vão sendo substituídos por bolachas. Este novo estilo, classificado

erroneamente como D. Maria I, nada mais é do que o verdadeiro estilo Império,

brasileiro.

Dona Maria é uma mescla de estilos, inspirada nos móveis ingleses, o rococó de D José

e também Luís XV e Luís XVI. Aparece uma mistura com grinaldas de flores, fios de

pérola, laços de fita, palmas aquáticas e junquilhos. Mobiliário de características

neoclássicas. As formas e as técnicas simplificam-se em relação aos estilos

anteriores. As linhas e curvas cedem passo às rectilíneas ou são muito menos

pronunciadas quando conservadas. Os braços dos assentos só ligeiramente se curvam

enquanto que as pernas são sempre direitas. As madeiras mais usadas são o mogno e a

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nogueira. Empregam-se também madeiras nobres, no seu tom natural, como o pau-santo e

pau-cetim.