Mobilização
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Mobilização e participação:
Que peças estão em falta
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Mobilização e
participação das
famílias nos
programas de
parentalidade
positiva: uma
experiência contada
Índice
Enquadramento 4
Introdução 7
Conceitos 11
Mobilização de famílias para programas de Parentalidade Positiva 12
Quem Mobiliza 17
Porque as famílias se vão envolver? 18
Condições que devem estar na base de uma proposta de mobilização 20
Formas de mobilização 21
Quando a mobilização não tem os resultados esperados 23
Bibliografia 25
Enquadramento
A mobilização é uma estratégia que pretende criar condições para o
envolvimento e a participação de pessoas num processo de
desenvolvimento comunitário. Este processo prevê um compromisso
para o fortalecimento pessoal, institucional e comunitário.
Entendemos que este processo permite e motiva o engajamento entre
parceiros e aliados a nível nacional ou local, no sentido de se alcançar os
objetivos de desenvolvimento através da relação direta.
A intervenção familiar ao procurar o compromisso das famílias para a
partilha dos problemas comuns, criação de condições para que a
sociedade se transforme em espaços de confiança e protetor da vida em
família, tem no seu âmago a necessidade de criar estruturas que
permitam a mobilização e a gestão de esforços para criação de bens
comuns.
A mobilização e a participação das famílias em projetos de parentalidade tem sido uma das áreas mais difíceis
de concretizar dentro das intervenções levadas à cabo a nível comunitário. Contudo a experiência tem
mostrado que as famílias uma vez mobilizadas permanecem até ao fim nos programas com entusiamo e
retirando as mais-valias decorrentes do processo formativo onde estão inseridas.
Na triangulação entre mobilizar, participar e recolher mais valia, é que
entendemos a necessidade de reflexão. Daí retirar as questões
pertinentes para as aprendizagens destes processos.
Na experiência do programa K´CIDADE a mobilização social é o primeiro
passo na intervenção do desenvolvimento comunitário porque permite às
pessoas pensarem, consciencializarem-se sobre a sua situação,
organizarem-se e protagonizarem iniciativas. Permite-lhes ter a
oportunidade e tomar decisões informadas, criar soluções sustentáveis,
alcançar melhores e mais rápidos resultados aliando valores de
solidariedade e capacidade pessoal de levar a cabo iniciativas de
desenvolvimento local.
Entendemos que a mobilização social poderá ser feita de diferentes formas.
Nesse sentido, temos como objetivo entender e identificar algumas
estratégias de como os cuidadores se envolvem na conceção, participação e
desenvolvimento de programas deste tipo; sistematizar os benefícios do
envolvimento das pessoas desde o inicio do projeto; e mostrar exemplos do
envolvimento e participação dos cuidadores.
“Participar é o 1º passo para as pessoas serem os atores principais da sua vida” Elizabete Borges
Introdução
Porque todos nós vivemos de experiências. As famílias enquanto coletivo são fonte de inspiração, perseverança e
aprendizagens.
Tornar essas experienciais acessíveis a todos é entender que somos parceiros em encontrar atalhos que nos permitam tirar melhor partido do que a
vida nos pode oferecer.
Pesquisas têm vindo a demonstrar os benefícios do envolvimento das
famílias na evolução das suas crianças.
A comunicação e a participação em programas têm vindo a ajudar as
famílias a entender as necessidades das crianças e as competências
necessárias para potenciar os talentos e suprir as dificuldades. Desta
forma, crianças e cuidadores tornam-se parceiras na construção da
qualidade de vida familiar.
A mobilização para a participação, por outro lado, tem colocado à
intervenção familiar e parental sérias dificuldades em afirmar-se
enquanto intervenção não assistencialista.
Uma vez que podemos entender a nível teórico quais são os benefícios,
porém na prática não significa que as condicionantes estejam todas
reunidas para que as pessoas que mobilizam e as que estão a ser
mobilizadas comunguem e se sintam da mesma forma comprometidas
com o processo.
A nossa experiência indica-nos que precisamos de entender a
realidade da parte dos envolvidos, os objetivos, o tempo e a motivação.
Isto remete-nos para a importância dos mobilizadores incorporarem
um conjunto de atitudes e posturas que os tornaram mais eficazes nas
suas demandas.
À luz da nossa experiência de intervenção com famílias através de
projetos de promoção da parentalidade positiva, queremos contar
como vivenciamos os diversos contextos e como nos comprometemos
na missão de transformar as comunidades em locais ideais para o
crescimento familiar.
ENQUANTO PESSOAS PODEM ESPERAR DESTE DOCUMENTO ENTENDER O QUE NOS LIGA, COMO SE CRESCE E SE MELHORA OS
SABERES PARENTAIS E O DAS CRIANÇAS, COMO SE PODE INOVAR NA FORMA DE ESTAR NA VIDA.
ENQUANTO INSTITUIÇÕES PODEM DESCOBRIR QUE POSTURAS DEVEM INCORPORAR NA VOSSA PRÁTICA DE FORMA A SEREM
MAIS EFICAZES E FELIZES NA AÇÃO QUE PRETENDEM LEVAR A CABO.
Conceitos Mobilização
Este conceito foi utilizado pela primeira vez em contexto militar para descrever a preparação do exército. Incorporando ao longo do tempo
teorias e técnicas, que outras ciências têm vindo a beneficiar da sua utilidade, como o caso das ciências sociais.
Segundo Deutsch (1961) “social mobilization is a name given to an overall process of change, which happens to substantial parts of the
population in countries which are moving from traditional to modern ways of life.” Entende-se que a mobilização deve ser ato de preparar,
organizar e trazer recursos para um determinado processo (Oxford Dictionary).
Associado ao desenvolvimento comunitário procura-se processos de mudança que traga significado à vida de pessoas e comunidades
permitindo-lhes usufruir de uma melhor qualidade de vida.
Intervenção parental
Procura promover ações que desenvolvam competências pessoais e sociais dos elementos do agregado familiar partindo de temáticas
importantes ao desenvolvimento da família tais como gestão do orçamento, informações sobre apoios e recursos sociais, igualdade de género,
respostas de conciliação de vida familiar e laboral, questões relacionadas com a saúde, imigração, entre outras, identificadas pelas famílias
enquanto núcleo.
Intervenção familiar
Foca a estimulação das competências parentais como uma área de aprendizagem ao longo da vida e de veículo na promoção das
competências de vida das crianças.
Parentalidade positiva
Assenta no pressuposto de que os pais ou cuidadores são detentores de saberes e de experiências e que o desenvolvimento de competências
deve ser promovido através de atividades e metodologias que promovam uma visão positiva das estratégias de educação utilizadas pelos
cuidadores junto dos seus educandos.
Mobilização de famílias para programas de Parentalidade Positiva
O que é a participação das famílias? Todos os interventores sociais debatem-se com a capacidade de
unir às pessoas em torno de uma atividade, formação ou interesse que estejam a propor. Se
encararmos a mobilização como ato de inspirar e devolver a confiança na participação ativa…
teríamos nós que reinventar enquanto interventores sociais?
Entendemos que a participação das famílias é uma escolha pessoal. Sendo necessário ter em conta
que esta é uma decisão que cabe a cada um.
A participação fica assim dependente das pessoas sentirem: relevância, satisfaz as condições, mais
valia, melhora a vida e constitui uma oportunidade. Por outro lado também há razões menos
positivas que garante a participação: obrigatoriedade, benefícios decorrentes e relação de gratidão.
Nesse sentido encaramos a mobilização como um ato de comunicação (Bernardo Toro) “(exigir)
ações de comunicação no seu sentido amplo, enquanto processo de compartilhamento de discurso,
visões e informações” em que é necessário ter:
Objetivos claros
Crença na ideia e nas pessoas
Falar com verdade e entusiasmo
Exemplificar o especial da participação
Pontes de confiança
“A mobilização é criar espaços onde as pessoas se relacionam. Sintam a confiança suficiente. Encontrem pessoas que lhes são familiares mesmo não sendo
da sua família.” Marlene Vaz
A participação deverá constituir um fator de oportunidade para quem providencia, quem participa e para todos que
vivem à volta. Significa:
Criar valor na iniciativa
Sentir que o meu contributo é válido
Sentir-me encorajado para participar
Os programas de parentalidade devem ser concebidos de forma a que as famílias sintam que a sua participação é válida,
têm o controlo sobre o seu destino e será uma participação transformadora, tanto da sua vida como da vida dos que os
rodeiam. Este posicionamento cria oportunidades e facilita o processo de mobilização.
Os benefícios do envolvimento poderão ser de várias ordens:
Moral: solidariedade, apoio à causas e a movimentos
Material: apoios materiais (material didático, entradas em museus ou espetáculos)
Cultura: experiência, ativismo
Humano: desenvolvimento pessoal e social
Social – organizacional: ganho de status e os benefícios pessoais
Comunitários: alargamento de redes de entre ajuda, aumento de recursos
Politico: criação de oportunidades
“As comunidades só se tornam mais fortes se as pessoas forem capazes de se importarem e criarem condições para que as crianças vivam em espaços
protetores ” Ivone Borges
Quem mobiliza
Poderá ser qualquer pessoa desde que imbuída de um espírito de diálogo com as pessoas. Isto significa que as
pessoas que mobilizam deveram ser detentoras de competências pessoais e sociais que permita demonstrar que a
sua proposta é verdadeira, respeita a dignidade e direitos humanos, é proactiva no encontro de soluções conjuntas
e é realista e coerente tendo em conta a condição dos beneficiários
Porque as famílias se vão envolver?
O envolvimento é o processo que nos faz relacionar de forma benéfica com os processos.
Permitindo-nos aprender, contribuir e beneficiar de todas as sinergias provenientes desse
processo.
As dinâmicas precisam de atores chave que se sintam comprometidos na aquisição do
conhecimento e comprometidos na realização, fazendo com que o processo de mobilização esteja
ligado por dois polos numa fase inicial, o beneficio que retiramos da ação e por outro lado as
pessoas que estão na ação.
As primeiras sessões devem servir para despertar o sentido de utilidade e de relação próxima
com as pessoas. São necessárias razões para que as pessoas permaneçam na plenitude.
Quando os cuidadores participam em todo o processo beneficiam:
Desenvolvem competências individuais, pessoais e sociais
Criam uma nova relação com os seus pares e outros atores institucionais
Aumenta o seu entendimento das dificuldades e oportunidades da sua comunidade
Adquirem maior e positiva visão sobre a sua parentalidade enquanto processo consciente
de busca e melhoria
Condições que devem estar na base de uma proposta de mobilização
Ambiente propício
O ambiente onde se desenrola a proposta influencia a participação das famílias. Tudo o que está a nossa volta influencia o nosso comportamento, formas de
ver o mundo e objetivos que se quer alcançar. É importante haver condições que despertem o sentido de participação, isto é, as famílias não estarem
rodeadas de coisas que as distraiam (como problemas familiares graves, falta de condições para uma vida digna e problemas graves de natureza diversa) e
que de alguma forma não as desperta fazer a leitura da situação.
Por outro lado, devemos mostrar as pessoas o esprito de que a oportunidade está imbuída é de focagem em objetivos e transformativa. Deve ser um sentir
genuíno e realista, para que a pessoa a envolver descodifique as oportunidades que estão a ser apresentadas.
Visão
Que existe uma visão na forma de fazer as coisas e que é aí que reside a razão para a participação. Está visão deverá ter associado um plano próprio que
demostre as implicações na vida das pessoas (calendarização, exigências, envolvidos e etc).
Positivismo
Todos nós procuramos coisas boas que completem a nossa vida. A proposta também deve ser acompanhado de sentimentos positivos que permitam
perspetivar condições melhores do que tinha à partida.
Transformativa
As metodologias implementadas devem ser possibilitadoras das pessoas reconhecerem as aprendizagens, incorporarem e reformularem-se à luz do seu ser
e da sua vontade. Este deve ser um processo de auto descoberta constante do que sou e poderei vir a ser.
Formas de mobilização
Estas pode ser levadas a cabo em três fases: inicio, meio e no fim. O processo de mobilização deve ser um ato continuo que permita fluxo de pessoas entrar e
sair quando o processo não lhes fizer sentido. Para cada fase das diferentes ações podem ser combinadas e permitir retirar um melhor e maior desempenho da
proposta.
Formas de Mobilizar Benefícios Dificuldades
Parceiros - pode caber-lhes a tarefa de mobilizar -pode identificar e encaminhar beneficiários - identificarem oportunidades e novas estratégias de mobilização -permite uma melhor distribuição e conjugação de esforços; - amplia os benefícios da ação
- a mobilização deve ser pensada para alcançar os parceiros e os beneficiários finais - mostrar o sentido da complementaridade da ação - obriga a criação de networking e TLC (Tender, Love & Care) - garantir todo o processo de parceria estratégica e para a ação
Mobilização de rua - permite conhecer o quadro social das pessoas e criar projetos à medida com um ambiente mais favorável
- é muito exigente em termos de tempo, disponibilidade e exigência física - o resultado é mais demorado uma vez que requer tempo a criação de relação
Atividades demonstrativas -tem a capacidade de mobilizar muita gente ao mesmo tempo -requer um planeamento estratégico e fidelização no seguimento
- requerem imaginação e algum recurso - correm o risco de não contribuir para a mobilização ao esquecer-se o objetivo primário
Pares - cria relações de confiança face a ação mais profunda - compromete mais eficazmente os participantes
- encontrar pessoas que advoguem a nossa causa e influenciem os pares
Flyers / Cartas /anúncios - dirigir a informação com a linguagem apropriada; - quando aliado a alguma originalidade mobiliza várias pessoas -permite difundir em vários espaços de informação
- criar protótipos à medida e de acordo com os beneficiários que se quer atingir
Plataformas informáticas - chega a massas -tem-se uma panóplia de instrumentos: facebook, twitter, mailing list, etc
- dispersão na informação - o compromisso das pessoas não é efetivo
Telefonemas e mensagem - os telefonemas são mais eficazes quando feitos sob as regras da mobilização - os níveis de compromisso das pessoas são bastante elevados - as mensagens constituem um veiculo rápido de transmissão da informação
- requerem um investimento maior de tempo e dinheiro (custo) - as mensagens são menos eficazes a nível da garantia do compromisso
Pontos de informação - a tradição dos pontos de informação potencia a envolvência das pessoas - as pessoas não se perdem na busca de informação - permite criar uma panóplia de dispositivos - os pontos onde estão pessoas são mais eficazes
-requer periodicidade, imaginação e rotina exigentes
Quando a mobilização não tem os resultados esperados
Ficamos com a sensação que não cumprimos com a nossa missão. Sentimos que não teve o
efeito desejado. Ficamos com uma sensação de mau estar.
Essa sensação é nos dada quando sentimos que o número de pessoas não é o esperado (por
vezes nem definimos número de pessoas), as pessoas não se envolveram o quanto
desejaríamos o fim do processo não nos transmite sentimentos positivos e de fim de missão
cumprida. O que fazer?????
Aceitar que o processo de mobilização é um processo de aprendizagens, que exige
perseverança e resiliência;
Retirar aprendizagens que ajudam a melhorar (e não deixar na gaveta);
Aproveitar as pessoas que estavam positivamente envolvidas e criar condições para
que a ação se repita;
Iniciar um novo ciclo de aprendizagens.
Cabe-nos a responsabilidade de encontrar quais são as peças do puzzle que mais se adequam à nossa
realidade. Certos de que muitos dos enigmas já foram encontrados por outros. Resta-nos a busca,
partilha e crença que de fato podemos construir sociedades mais fortes e felizes.
Bibliografia
Deutsch, Karl W. (1961), Social Mobilization and political development, the american political science review, september, Yele University
Sites consultados
http://www.nossasalvador.org.br/site/colunas/135-o-que-e-mobilizacao-social
Documento elaborado por Filomena Djassi
Programa K´CIDADE
Fundação Aga Khan Portugal
Novembro, 2012