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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS Roger Delavi Araújo Modelagem das Mudanças no Uso do Solo em Áreas de Cultivo de Cana-de-açúcar São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS

Roger Delavi Araújo

Modelagem das Mudanças no Uso do Solo em Áreas de

Cultivo de Cana-de-açúcar

São Paulo

2010

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Roger Delavi Araújo

Modelagem das Mudanças no Uso do Solo em Áreas de

Cultivo de Cana-de-açúcar

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Meteorologia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, como condição parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências.

Área de concentração: Meteorologia Orientador: Prof. Dr. Edmilson Dias de Freitas

SÃO PAULO

2010

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AGRADECIMENTOS

________________________________________________________________

Primeiramente ao Prof. Dr. Edmilson Dias de Freitas, pela orientação, sugestões e

apoio na realização deste trabalho.

Aos meus pais, Filinto e Eliane, pelo imenso carinho, confiança e incentivo em todas

as etapas de minha vida. Agradeço também aos meus irmãos Régis e Roberto, pelo

companheirismo e momentos de descontração.

Agradecimento especial à minha namorada e companheira Camila Carpenedo, pelo

imensurável apoio, paciência e carinho em todos os momentos e em todos os sentidos.

Aos meus tios, Dênis, Luizinho e Jairo, pelo incentivo aos estudos, conselhos e ajuda.

Aos colegas e amigos do laboratório MASTER: Bruno, Enzo, Fabrício, América,

Pedro, “tia” Inês, Melissa, Marcos, Daniel e Jean, pelos momentos de trabalho, ajuda e

descontração. Agradeço também ao Demerval Soares Moreira, pelos esclarecimentos e dicas

sobre o funcionamento do GEMTM.

Aos colegas do Laboratório de Clima e Biosfera, principalmente ao meu amigo

Jonathan Mota, pelas sugestões, fornecimento de dados e troca de informações.

Aos meus colegas de departamento: Luiz, Angélica, Ana Carolina, Fabio, Vanessa,

Mário, João, Diego, Ivan e Rodrigo, pela ajuda e amizade.

Ao projeto Canasat/INPE (http://www.dsr.inpe.br/canasat/) e ao Dr. Bernardo F.

Theodor Rudorff, pelo fornecimento dos dados com as informações dos locais de cultivo de

cana-de-açúcar.

Ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, pela oportunidade de

realização do mestrado.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) pelo

auxílio financeiro, tornando possível a realização deste trabalho (Processos: 133003/2008-6 e

136108/2008-3).

A todos os meus amigos que, de uma forma ou outra, contribuíram na minha formação

acadêmica e moral.

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RESUMO

________________________________________________________________

ARAÚJO, R. D. Modelagem das mudanças no uso do solo em áreas de cultivo de cana-de-açúcar. 114 p. Dissertação de Mestrado – Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. Através da modelagem numérica, foram estudados neste trabalho os efeitos causados pela

mudança no uso do solo em áreas de cultivo de cana-de-açúcar na região norte do Estado de

São Paulo. Utilizou-se o modelo de mesoescala BRAMS acoplado ao modelo GEMTM para

simular a interação dinâmica entre o dossel e a atmosfera em diferentes fases de

desenvolvimento da cana-de-açúcar. Dois cenários foram criados: (1) vegetação nativa do

Estado de São Paulo (CTL); (2) vegetação nativa com adição da cultura de cana-de-açúcar

(CANA). As simulações realizadas compreenderam o período entre 10 de janeiro a 25 de

dezembro de 2007, com saídas a cada hora. Para realizar as simulações foram consideradas

duas grades aninhadas. A grade externa foi alimentada pela condição inicial e de contorno

proveniente dos campos de análise do GFS. Os resultados obtidos revelaram significativas

diferenças entre as simulações. Primeiramente, constatou-se que a condição da umidade nas

camadas do solo teve grande importância nos resultados. No cenário em que a cana-de-açúcar

foi inserida o solo apresentou um maior secamento, contribuindo para que essa menor

quantidade de água nas camadas e a maior exposição do solo, devido ao menor índice de área

foliar desta vegetação, facilitassem a elevação da temperatura do ar próximo à superfície. O

secamento mais pronunciado se deu, em geral, na região central da área de estudo, um dos

locais em que a presença da cana-de-açúcar é dominante. O albedo manteve-se maior na

simulação CANA em todo o período. Entretanto, houve um maior saldo de radiação sobre a

cana-de-açúcar, provavelmente devido à menor cobertura de nuvens gerada pelo modelo,

contribuindo para uma maior oferta de radiação incidente na superfície. Em geral, os valores

médios de temperatura foram maiores com a adição da cana-de-açúcar, principalmente nas

regiões central e noroeste da área de estudo. Os fluxos de calor sensível e latente tiveram um

comportamento concordante com a situação esperada para as vegetações estudadas. Em geral,

foram observados maiores valores de LE na simulação CTL e maiores valores de H na

simulação CANA. A precipitação durante o ano de 2007 mostrou-se, em geral,

significativamente maior quando a cana-de-açúcar é inserida no arquivo de uso do solo do

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modelo. O escoamento horizontal do ar sobre o cenário CTL apresentou-se, em geral, menos

intenso devido à maior rugosidade da vegetação correspondente à Mata Atlântica em relação à

cana-de-açúcar, principalmente na região central da área de estudo. A utilização do módulo

vegetativo dinâmico para simular a cana-de-açúcar demonstrou que, quando este módulo está

desativado, a umidade nas camadas do solo tende a diminuir ainda mais, pois o índice de área

foliar não varia com o tempo e o solo continua mais exposto à radiação, gerando um

conseqüente secamento, que é mais significativo na superfície. Em consequência disso, foi

observado que a temperatura média foi maior em todo o domínio de estudo, chegando a

superar em até 1,1 °C os resultados da simulação em que o módulo GEMTM foi ativado.

Palavras-chave: Modelagem Atmosférica, Mudanças no Uso do Solo, Balanço de Energia,

BRAMS, GEMTM.

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ABSTRACT

___________________________________________________________________________ ARAÚJO, R. D. Modeling of land use change over sugarcane crop areas. 114 pp. Master Dissertation – Institute of Astronomy, Geophysics and Atmospheric Sciences, University of São Paulo, São Paulo, 2010. The effects caused by land use change over sugarcane crop areas in the northern region of São

Paulo state were studied throughout numerical modeling. The BRAMS mesoscale model was

used coupled with the GEMTM (General Energy and Mass Transport Model) model to

simulate the dynamic interaction between the canopy and the atmosphere in different phases

of the sugarcane development. Two scenarios were created: (1) native vegetation of Sao Paulo

state (CTL); (2) native vegetation with addition of sugarcane (CANA). The simulations were

carried out from January, 10th to December, 12th, 2007, with hourly outputs. To perform the

simulations two nested grids were considered. The initial and boundary conditions for the

coarse grid were provided by GFS analysis. The results revealed significant differences

between the simulations. First, it was found that moisture conditions in soil layers were very

important to the results. In the scenario where sugarcane was inserted into the land use

database there was a faster loss of moisture, contributing to a lower amount of water in the

first soil layers. This feature and the increased soil exposure due to lower leaf area index

facilitated the air temperature rise near to the surface. The more pronounced soil drying was

observed, in general, in the central study area, one of the places where the presence of

sugarcane is dominant. The albedo was higher in the CANA simulation during the entire

period. However, net radiation was higher over the sugarcane, probably due to cloud cover

generated by the model, contributing to a greater supply of radiation on the surface. In

general, the mean values of temperature were higher with the sugarcane addition, mainly over

the central and northwestern study area. The sensible (H) and latent (LE) heat fluxes had a

behavior that was consistent with the situation that is expected for the types of vegetation

studied. In general, higher values of LE were observed in the CTL simulation and higher

values of H in the CANA simulation. The precipitation during 2007 was generally higher

when the sugarcane was inserted into the model’s land use database. The horizontal air flow

in the CTL scenario was less intense due to the higher vegetation roughness correspondent to

the Mata Atlantica in relation with sugarcane, especially in the central area of study. The use

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of the dynamic vegetation module to simulate the sugarcane evolution has shown that when

the module is turned off, the moisture in the soil layers tends to decrease faster, as the leaf

area index does not vary with time and the soil remains more exposed to radiation, causing a

consequent drying up, which is more significant near to the surface. Consequently, a higher

average temperature was observed over the entire grid domain, overcoming up to 1.1 °C the

results of the simulations where the GEMTM module was activated.

Keywords: Atmospheric Modeling, Land Use Changes, Energy Budget, BRAMS, GEMTM.

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SUMÁRIO

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RESUMO IV 

ABSTRACT VI 

SUMÁRIO VIII 

LISTA DE FIGURAS X 

LISTA DE TABELAS XIII 

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS XIV 

LISTA DE SÍMBOLOS XVI 

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 17 

1.1 Aspectos sobre a cultura de cana-de-açúcar 18 

1.2 Estudos anteriores sobre mudanças no uso do solo 25 

1.3 Objetivos 27 

CAPÍTULO 2: DESCRIÇÃO DO MODELO BRAMS E DO MÓDULO GEMTM 28 

2.1 O modelo BRAMS 28 

2.1.1 Inicialização homogênea ou heterogênea 29 

2.1.2 Estrutura da grade 30 

2.1.3 Condições de contorno 31 

2.1.4 Parametrização de turbulência 32 

2.1.5 Parametrização de convecção 34 

2.1.6 Parametrização de microfísica 35 

2.1.7 Parametrização de radiação 36 

2.1.8 Parametrização de superfície (vegetação) 37 

2.2 O modelo GEMTM 39 

2.3 O sistema de modelagem acoplado 41 

CAPÍTULO 3: CENÁRIOS E SIMULAÇÕES 43 

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3.1 Cenários 43 

3.2 Simulações 46 

3.3 Teste de significância estatística t-Student 48 

CAPÍTULO 4: RESULTADOS 51 

4.1. Análise da variabilidade espacial 52 

4.2. Análise do impacto da utilização do modelo GEMTM 72 

CAPÍTULO 5: CONCLUSÕES 86 

5.1. Sugestões para trabalhos futuros 88 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 89 

APÊNDICE A 99 

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LISTA DE FIGURAS

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Figura 1.1 Área total de cana-de-açúcar cultivada (hectares) no Estado de São Paulo (Fonte: Canasat, 2010) ..................................................................................... 21

Figura 1.2. Mapa do Estado de SP da área ocupada pela cana-de-açúcar nas safras de (a) 2003/2004 e (b) 2009/2010 (Fonte: Canasat, 2010) ......................................... 21

Figura 1.3 Representação esquemática das fases fenológicas da cana-de-açúcar (Adaptado de Doorembos & Kassan, 1979; Gasho & Shih, 1983) ................................... 23

Figura 1.4 Acúmulo de matéria seca nas folhas e índice de área foliar em dois cultivares de cana-de-açúcar, Piracicaba (SP), 1978-79 (Fonte: Machado, 1987) .......... 24

Figura 2.1 Esquema geral das trocas de energia em uma única célula no LEAF-3. Os fluxos entre os principais componentes são indicados com H (fluxo de calor sensível), LE (fluxo de calor latente), M (fluxo de momentum) e W (fluxo de vapor d’água) (Adaptado de Campo et al., 2009) ........................................... 38

Figura 2.2 Diagrama conceitual do acoplamento LEAF-GEMTM. (Adaptado de Beltrán, 2005) ................................................................................................................ 42

Figura 3.1 Cenários (a) CTL e (b) CANA, nos quais: 0 - Água; 1 – Mata Atlântica do Interior; 2 – Mata Atlântica; 3 – Cerrado; 4 – Área urbana; e 5 – Cana-de-açúcar ................................................................................................................ 44

Figura 3.2 Área de domínio das grades utilizadas nas simulações e topografia (m). O ponto preto indica local onde as duas grades foram centradas nas simulações 47

Figura 4.1 Precipitação acumulada mensal (mm) para o ano de 2007 (Fonte: Climanálise, 2007) ................................................................................................................ 52

Figura 4.2 Precipitação acumulada (mm) nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ................................................. 53

Figura 4.3 Umidade do solo média (m3 m-3) a 1 m abaixo da superfície nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ............... 54

Figura 4.4 Albedo médio nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ................................................................................. 55

Figura 4.5 Irradiância solar incidente média (W m-2) nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ........................................... 56

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Figura 4.6 Saldo de radiação (Rn) médio (W m-2) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ........................................... 57

Figura 4.7 Fluxo de calor sensível (H) médio (W m-2) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student .................................. 58

Figura 4.8 Fluxo de calor latente (LE) médio (W m-2) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student .................................. 59

Figura 4.9 Temperatura média para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ................................................................ 60

Figura 4.10 Campos médios da magnitude (sombreado) e direção (vetores) do vento horizontal (m s-1) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ................................................................ 61

Figura 4.11 Campos médios de razão de mistura de vapor d’água (g kg-1) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student .............................................................................................................. 62

Figura 4.12 Área de análise do comportamento temporal das variáveis, onde x e y indicam os intervalos dos pontos da grade utilizados para o cálculo dos valores médios, totalizando 81 pontos de grade (~1024 km2) ................................................... 63

Figura 4.13 Índice de área foliar (a) e albedo (b) para os experimentos CANA e CTL. A linha vermelha tracejada representa o dia do corte da cana-de-açúcar (24/10/07) ............. 65

Figura 4.14 Umidade do solo a 1 m de profundidade e precipitação para as simulações (a) CANA e (b) CTL .............................................................................................. 66

Figura 4.15 Temperatura média mensal das simulações CANA e CTL .............................. 66

Figura 4.16 Médias mensais do fluxo de calor sensível (a) e do fluxo de calor latente (b) para os experimentos CANA e CTL ................................................................. 67

Figura 4.17 Fluxo de calor latente (W m-²) e umidade do solo (m3 m-3) nas nove camadas das simulações CANA (a) e CTL (b). A parte superior das Figuras corresponde ao fluxo de calor latente e a inferior à umidade do solo em relação à profundidade (m) ............................................................................................. 68

Figura 4.18 Ciclo diurno médio da temperatura para as simulações CANA e CTL nos meses de fevereiro e agosto .............................................................................. 69

Figura 4.19 Ciclo diurno médio do saldo de radiação (Rn), fluxo de calor sensível (H), fluxo de calor latente (LE) e fluxo de calor no solo (G), W m-2. Para as simulações CANA e CTL nos meses de fevereiro e agosto ............................. 71

Figura 4.20 Ciclo diurno médio da irradiância solar incidente (W m-2) para as simulações CANA e CTL, nos meses de (a) fevereiro e (b) agosto .................................... 72

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Figura 4.21 Precipitação acumulada (mm) para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student ................................................. 73

Figura 4.22 Umidade do solo média a 1 metro abaixo da superfície do solo para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student .............................................................................................................. 74

Figura 4.23 Albedo médio para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student .............................................................................. 75

Figura 4.24 Irradiância solar incidente (Ki) média para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student ........................................... 76

Figura 4.25 Rn médio para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student .............................................................................. 77

Figura 4.26 Fluxo de calor sensível (H) médio para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student ................................................. 78

Figura 4.27 Fluxo de calor latente (LE) médio para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student ................................................. 79

Figura 4.28 Temperatura média para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student ................................................................ 80

Figura 4.29 Vento horizontal médio para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student ................................................................ 81

Figura 4.30 Campos médios de razão de mistura de vapor d’água para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student ............... 82

Figura 4.31 Índice de área foliar (a) e albedo (b) para os experimentos GON e GOFF. A linha preta tracejada indica o dia do corte da cana na simulação GON. .......... 83

Figura 4.32 Temperatura média mensal das simulações GON e GOFF .............................. 83

Figura 4.33 Médias mensais de H (a) e LE (b) para os experimentos GON e GOFF ......... 84

Figura 4.34 Umidade do solo a 1 metro de profundidade e precipitação para as simulações (a) GON e (b) GOFF ........................................................................................ 85

Figura 4.35 Ciclo diurno médio da temperatura para as simulações GON e GOFF nos meses de fevereiro e agosto .............................................................................. 85

Figura A.1. Rede de resistências do balanço de energia da superfície e do dossel.............................................................................................................. 102

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LISTA DE TABELAS

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Tabela 3.1 Tipos de vegetações utilizadas nos cenários e correspondência nas simulações com a vegetação primitiva do Estado de SP ..................................................... 44

Tabela 3.2 Parâmetros biofísicos adotados no modelo de vegetação do BRAMS ............. 45

Tabela 3.3 Principais opções utilizadas para as duas simulações no modelo BRAMS ..... 48

Tabela 4.1 Médias mensais dos acumulados de precipitação (mm) na Região Norte do estado de SP, referente aos dados do TRMM e das simulações CTL, CANA e GOFF, entre 25/01/07 e 25/12/07 ..................................................................... 64

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

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BATS Biosphere-Atmosphere Transfer Scheme

BRAMS Brazilian Regional Atmospheric Modeling System

CANA Cenário com vegetação nativa e com locais onde há informação do cultivo de cana-de-açúcar para a safra de 2007

CAPE Convective Available Potential Energy

CSU Colorado State University

CTDA Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Agroindustrial

CTL Cenário com vegetação nativa

FPAR Fração fotossinteticamente ativa da radiação

GEF The Global Ecosystems Framework

GEMBRAMS Modelos GEMTM e BRAMS acoplados

GEMTM General Energy and Mass Transport Model

GFS Global Forecast System

GLAI Índice de área de folhas verdes

GOFF Simulação com o módulo GEMTM desativado

GON Simulação com o módulo GEMTM ativado

ha Hectare

IAF Índice de área foliar

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

LDAS Land Data Assimilation Systems

LEAF-3 Land Ecosystem-Atmosphere Feedback Model, version 3

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LES Large Eddy Simulation

NASA National Aeronautics and Space Administration

NCL Nível de condensação por levantamento

NDVI Normalized Difference Vegetation Index

RAMS Regional Atmospheric Modeling System

RFA Radiação fotossinteticamente ativa

Ri número de Richardson

SiB2 Simple Biosphere Model, version 2

SP São Paulo

TAI Índice de área total

TRMM Tropical Rainfall Measuring Mission

Unaerp Universidade de Ribeirão Preto

USGS U.S. Geological Survey

USP Universidade de São Paulo

ZCAS Zona de Convergência do Atlântico Sul

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LISTA DE SÍMBOLOS

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CO2 Dióxido de Carbono

*c Velocidade de fase

G Fluxo de calor no solo

H Fluxo de calor sensível

H2O Água

Ki Irradiância solar incidente

LE Fluxo de Calor Latente

n Tamanho das amostras

in Número de amostras de cada grupo

Rn Saldo de radiação

S Variância

t t-Student

X Valor médio do grupo X

Y Valor médio do grupo Y

sz Altura da superfície em relação ao nível médio do mar

θ Umidade volumétrica do solo

sθ Umidade volumétrica de saturação do solo

zσ Coordenada sigma-z

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Capítulo 1: Introdução

A atmosfera e a superfície terrestre encontram-se em constante interação. A vegetação

é fortemente influenciada pelo tempo e pelo clima, adaptando-se ao ambiente e limitando as

suas funcionalidades através da disponibilidade de energia, água e variações de temperatura.

O microclima local é reflexo dos distintos ecossistemas terrestres devido às respostas da

vegetação aos padrões do balanço de energia em superfície, que podem controlar o clima

regional e os processos hidrológicos (ROCHA, 2004).

O impacto da atividade humana sobre o clima é um dos grandes assuntos da

atualidade. A comunidade científica mundial vem tentando definir quais seriam essas

mudanças, estudando, por exemplo, os efeitos do desmatamento e da modificação no uso da

terra em diversas regiões do globo. Nesse contexto, o panorama internacional da cultura

canavieira e seus produtos industrializados são extremamente interessantes, principalmente

para o Brasil, maior produtor mundial de açúcar e de etanol proveniente da cana. O Estado de

São Paulo (SP), maior produtor do país, demonstra disposição empresarial e política para a

expansão agrícola e industrial da cana-de-açúcar (MARQUES et al., 2007).

Como consequência da expansão das áreas de plantio desta cultura, modificações

significativas no sistema solo-vegetação-atmosfera podem ser esperadas. Embora exista na

literatura informação acerca dos impactos causados pela mudança do uso do solo em grande

escala, estudos regionais ainda são necessários para elucidar aspectos considerados

divergentes nos diversos assuntos realizados até o momento.

Desta forma, a utilização de modelos regionais que representem os diferentes tipos de

uso do solo e possuam parametrizações adequadas para a representação dos processos

envolvidos, apresenta-se como uma importante ferramenta para a avaliação dos possíveis

impactos causados pelas mudanças no uso do solo. Nesse contexto, o presente estudo utiliza o

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modelo de mesoescala BRAMS (Brazilian Regional Atmospheric Modeling System). Este

modelo possui uma série de parametrizações adequadas para o estudo, com destaque para o

módulo de interação solo-vegetação-atmosfera, o LEAF (Land Ecosystem Atmosphere

Feedback model), em sua terceira geração, e o modelo GEMTM (General Energy and Mass

Transport Model) adaptado a partir do LEAF para simular a interação dinâmica (em

diferentes fases de desenvolvimento de culturas) entre a superfície (dossel) e a atmosfera. O

acoplamento entre os modelos GEMTM e BRAMS será referido neste trabalho como

GEMBRAMS.

A busca para melhorar a compreensão das interações entre a superfície terrestre e a

atmosfera cresceu consideravelmente pelos recentes problemas de mudanças climáticas

globais. Atualmente, grande parte dos modelos atmosféricos (modelos de circulação geral e

mesoescala), em suas parametrizações de superfície, considera a vegetação estática, ou seja,

assume-se que a distribuição espacial da cobertura vegetal, área foliar e rugosidade são

invariantes com o tempo (SELLERS et al., 1990; HENDERSON-SELLERS & PITMAN,

1992). Na natureza, as variações sazonais e anuais na vegetação são típicas de muitos

ecossistemas terrestres. A natureza estática da superfície terrestre nos atuais modelos

atmosféricos é obviamente irrealista, podendo resultar em simulações de tempo e de clima

seriamente erradas (HENDERSON-SELLERS & PITMAN, 1992). Modelos realistas de

superfície, interativos e dinâmicos, são necessários para resolver as interações bidirecionais

entre a superfície terrestre e a atmosfera.

1.1 Aspectos sobre a cultura de cana-de-açúcar

A cana-de-açúcar (Saccharum spp., Poaceae) é uma planta monocotiledônea, alógama,

de ciclo semi-perene e própria de climas tropicais e subtropicais. Possui diferentes espécies,

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sendo diferenciadas através da cor e da altura do caule, que atinge em torno de 4 m de altura e

2 a 5 cm de diâmetro (DANIELS & ROACH, 1987).

De acordo com Lineu (1753, apud MONTEIRO 2009), a cana-de-açúcar é procedente

das Índias, onde já era utilizada desde 1500 a.C. e a partir dos anos 300 a.C. tornou-se uma

cultura de grande importância econômica (ARANHA & YAHN, 1987). Nesta mesma época,

há indícios de que a cana-de-açúcar também era utilizada na China (JAMES, 2004), mas sua

verdadeira origem possivelmente tenha sido na Nova Guiné, onde foram encontrados registros

com mais de 8000 anos. No Brasil, a cana-de-açúcar chegou logo após o descobrimento, mas

somente a partir da segunda metade do século XVI a cultura ganhou importância econômica,

quando os engenhos do Nordeste Brasileiro passaram a operar em Pernambuco, Bahia,

Alagoas, Sergipe e Paraíba. No século XVII, o cultivo de cana-de-açúcar expandiu-se para o

Amazonas e o Pará, onde os engenhos destinavam-se à produção de cachaça, além de atender

aos interesses de Portugal, pois era um item altamente lucrativo na Europa (CANABRAVA,

2005).

No século XIX, a importância do Brasil no mercado mundial de produção de açúcar

foi comprometida pela expansão mundial dos pólos produtores. Neste mesmo período, os

Estados do Rio de Janeiro e São Paulo firmaram-se como pólos fornecedores para as Regiões

Sul e Sudeste. Com o intuito de regular a produção interna e desenvolver pesquisas sobre a

cultura, em 1933 foi criado o Instituto de Açúcar e Álcool. Em 1975 (DECRETO Nº 76.593,

DE 14 DE NOVEMBRO DE 1975), com a crise do petróleo, o Brasil criou o Programa

Nacional do Álcool (Pró-Álcool) com o objetivo de inserir o etanol na matriz energética

brasileira.

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, seguido pela Índia, Tailândia

e Austrália. As regiões de cultivo são Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, abastecendo os

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mercados interno e externo com a produção de açúcar e etanol (UNICA, 2010). Entre os anos

de 2005 e 2008, a área de cana-de-açúcar no Brasil aumentou de 6,1 para 8,7 milhões de

hectares, ou seja, uma expansão de 44,2 %. No país destaca-se o Estado de São Paulo como o

maior produtor desta cultura, onde originalmente tinha-se uma região predominantemente

constituída por Cerrado e Mata Atlântica, mas que atualmente é dominada por cana-de-

açúcar, pastagens, milho e soja. Na safra 2008/2009, cultivou-se um total de 4,9 milhões de

hectares de cana-de-açúcar no Estado, onde foram processadas 346,3 milhões de toneladas

pelas usinas, produzindo 16,7 bilhões de litros de etanol e 19,7 milhões de toneladas de açúcar

(UNICA, 2010). A Figura 1.2 mostra os locais de expansão das áreas de cultivo de cana no

Estado de SP entre as safras 2003/2004 e 2009/2010.

O Estado de SP possui condições climáticas adequadas para o cultivo da cana-de-

açúcar, pois apresenta um período seco e de baixas temperaturas, que são ideais para a cultura

atingir a maturidade e o maior acúmulo de sacarose. A temperatura é um dos fatores

climáticos mais importantes na produção de cana-de-açúcar. Com temperaturas do ar abaixo

de 20 °C, a cana geralmente apresenta queda significativa na taxa de crescimento, sendo que

sob temperaturas inferiores a valores entre 16 °C e 18 °C o crescimento da cultura torna-se

praticamente nulo. Ao contrário, quando submetidas a temperaturas entre 30 e 34 °C, as taxas

de crescimento são máximas. Com temperaturas acima de 35 °C pode ocorrer estresse térmico

e acima de 38 °C o crescimento é praticamente nulo (BARBIERI & VILLA NOVA, 1977;

DOORENBOS & KASSAN, 1979; MAGALHÃES, 1987).

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Figura 1.1. Área total de cana-de-açúcar cultivada (hectares) no Estado de SP (Fonte: Canasat, 2010).

Figura 1.2. Mapa do Estado de SP da área ocupada pela cana-de-açúcar nas safras de (a) 2003/2004 e (b) 2009/2010 (Fonte: Canasat, 2010).

Fauconier & Bassereau (1970) descrevem que sob condições térmicas variando entre

23 °C e 32 °C, a atividade fotossintética da cana aumenta, caindo a partir deste ponto. Já a

respiração é máxima entre 36 °C e 38 °C. Segundo os autores, a determinação exata da

temperatura base, i.e., a temperatura abaixo da qual não há crescimento vegetativo, é

complexa, embora alguns pesquisadores relatem que não há desenvolvimento vegetativo da

cana-de-açúcar sob temperaturas menores que 16 °C.

(a) (b)

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A cana-de-açúcar desenvolve-se sob a forma de touceiras, cuja parte aérea é formada

por folhas, colmos, inflorescências e sementes, enquanto a parte subterrânea é composta por

raízes e rizomas (MOZAMBANI et al., 2006). A cana possui sistema radicular ramificado, do

tipo fasciculado, com maior quantidade de raízes nas camadas mais superficiais do solo. Em

torno de 85 % da massa radicular total situa-se nos primeiros 50 cm de profundidade e cerca

de 60 % nos primeiros 30 cm de profundidade (MONTEIRO, 2009). Os principais tipos de

raízes da cana podem ser agrupados em: raízes que dão sustentação à planta, alcançando

profundidade de aproximadamente 1,5 m; raízes superficiais, mais finas e com alta

capacidade de absorção de água e nutrientes; e raízes muito profundas, que podem chegar a 6

m de profundidade (EVANS, 1936) e têm como função principal abastecer a planta com a

água das camadas mais profundas do solo em períodos de estiagem prolongada (SMITH,

2005).

A cana-de-açúcar tem como principais características um rápido crescimento,

reprodução abundante e o aproveitamento econômico de grande parte da planta. O suco da

cana é utilizado para produção de sacarose e fermentação de produtos como, por exemplo, o

etanol e o ácido acético. O bagaço da cana também pode ser usado como aditivo de ração

animal e produção de bebidas. Das fibras remanescentes do bagaço, pós-extração do suco, é

possível gerar a energia utilizada nas usinas de moagem da cana (PARANHOS, 1987;

LINGLE, 1998).

É uma planta de metabolismo fotossintético C4, tendo como principal característica a

elevada taxa fotossintética, ou seja, possui eficiência na conversão de energia radiante em

energia química (OLIVEIRA et al., 2004). Classicamente a cana-de-açúcar possui quatro

fases distintas de crescimento: brotação e emergência, estabelecimento e perfilhamento,

crescimento intenso e maturação (Figura 1.3) (CÂMARA & OLIVEIRA, 1993), tendo como

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suas principais características o perfilhamento abundante na fase inicial de crescimento e o

acúmulo de sacarose no interior dos colmos na fase de maturação.

Eventos Germinação e emergência

Perfilhamento e estabelecimento

Elongação do colmo; Crescimento intenso; Início do acúmulo de sacarose

Intenso acúmulo de sacarose

Fase Emergência Estabelecimento Desenvolvimento Maturação

Duração 30 a 60 dias 60 a 90 dias 180 a 210 dias 60 a 90 dias

Figura 1.3. Representação esquemática das fases fenológicas da cana-de-açúcar (Adaptado de Doorembos & Kassan, 1979; Gasho & Shih, 1983).

A evolução do crescimento da cana é do tipo sigmóide: inicialmente lento, depois

rápido e lento novamente (MACHADO, 1987) (Figura 1.4). As variações de crescimento

aparecem em função da variedade, clima, oferta d’água, manejo do solo, adubação, etc.

(ROCHA, 1998). As folhas são diretamente responsáveis pela transformação de energia solar

em energia química através da fotossíntese. O índice de área foliar (IAF) foi definido por

Watson (1947) como sendo a área foliar integrada do dossel por unidade de superfície

projetada no solo (m2 de folha por m2 de solo). O desenvolvimento foliar durante o ciclo da

cultura pode ser relacionado com o acúmulo de graus-dia e ao déficit hídrico (TERUEL et al.,

1997). Para cada estágio da cultura existem valores distintos do IAF, como verificado por

Leme et al. (1984), além da variação espacial presente nos ambientes de produção.

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Figura 1.4. Acúmulo de matéria seca nas folhas e índice de área foliar em dois cultivares de cana-de-açúcar, Piracicaba (SP), 1978-79 (Fonte: Machado, 1987).

Fisiologicamente, a maturação da cana-de-açúcar se inicia pelos internódios inferiores

do colmo e pode ser influenciada por fatores como o tempo, solo, tratos culturais e cultivar. É

necessário que haja uma deficiência térmica ou hídrica para que a cana-de-açúcar entre em

maturação, caso contrário ela permanece se desenvolvendo sem acumular sacarose. Solos

argilosos, com maior capacidade de retenção hídrica, podem retardar a maturação. Por outro

lado, em solos arenosos, mais permeáveis, a maturação pode ser antecipada e acelerada

(MARQUES et al., 2007).

Além de ser uma fonte alternativa para substituição de combustíveis fósseis,

estimativas feitas pelo Centro de Tecnologia e Desenvolvimento Agroindustrial (CTDA) da

Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) sugerem que cada tonelada de cana-de-açúcar

cultivada para a produção de álcool hidratado e de álcool anidro combustível, evita a emissão

de 0,17 a 0,25 toneladas de dióxido de carbono (CO2), respectivamente. Essas já incluem as

emissões pelo processo industrial de transformação e da queima do álcool no funcionamento

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dos motores dos veículos, o que torna a produção ainda mais atrativa, uma vez que esta pode

diminuir as emissões de carbono para a atmosfera. Além da cana-de-açúcar, o álcool etílico

ou etanol pode ser obtido a partir de outros vegetais ricos em açúcar, como as frutas que

contêm amido, extrato de mandioca e celulose extraída principalmente dos eucaliptos. A

maior parte do álcool produzido no Brasil é obtida através da cana-de-açúcar, mas existe uma

tendência de crescimento da produção a partir do eucalipto. Um comparativo do rendimento

da produção de álcool de cana e eucalipto mostra que 1 ha de cana-de-açúcar produz 3.350

litros de álcool e 1 ha de eucalipto, que possui em média 20 toneladas, produz 2.100 litros.

Com uma muda de cana é possível alcançar de 4 a 5 safras subseqüentes, porém, com

perda progressiva de produtividade. A variação nos resultados da colheita depende, além das

condições naturais, do equipamento técnico dos produtores. Na safra 2009, o Estado de São

Paulo teve uma produtividade de 86,9 toneladas por ha, seguido pelos estados do Paraná e

Mato Grosso do Sul, com 86,2 e 83,9 toneladas por ha, respectivamente. A média brasileira

ficou em 81,3 t/ha (CONAB, 2009).

1.2 Estudos anteriores sobre mudanças no uso do solo

Na região amazônica, vários estudos com modelos de circulação geral têm avaliado o

impacto da substituição total da floresta por pastagem (por exemplo, NOBRE et al. 1991,

MANZI & PLANTON, 1996). De uma forma geral, os resultados apontam para o aumento da

temperatura do ar próximo à superfície e diminuição da precipitação e evapotranspiração

sobre a região. Entretanto, estudos numéricos regionais sobre os efeitos do desmatamento na

Amazônia, com enfoque principal sobre a região de Rondônia (SILVA DIAS et al., 2002) e

no leste da Amazônia (GANDU et al., 2004), apresentam resultados diferentes. No leste da

Amazônia foram observados importantes aspectos do processo de desmatamento, ressaltando

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efeitos que não foram anteriormente simulados em modelos de Circulação Geral. Ao contrário

de estudos com modelos de grande escala, o desmatamento na região leste da Amazônia

parece não provocar uma diminuição generalizada na precipitação. De forma geral, os

resultados mostram que, em simulações de mais alta resolução, a topografia, o litoral e

sistemas de grandes rios têm um papel importante nos padrões anômalos de precipitação,

ventos e energia.

O efeito do desmatamento da floresta Amazônica na atividade convectiva é ainda

polêmico. De uma forma geral, simulações climáticas consideram um vasto cenário de

desflorestamento da Amazônia, com substituição integral por pastagem ou cerrado e indicam

que a precipitação é consideravelmente reduzida. Por outro lado, alguns trabalhos sugerem

um aumento da convecção profunda no período chuvoso em regiões desmatadas, como por

exemplo, o estudo observacional de Durieux et al. (2003). Entretanto, Negri et al. (2004)

observam esta característica somente no período seco. Chagnon et al. (2004) mostram um

aumento da cobertura de nuvens baixas em regiões desflorestadas. Machado et al. (2004)

comparam a atividade convectiva entre regiões de floresta, savana e desflorestadas e

encontram as maiores diferenças na época seca. A grande dificuldade em obter resultados

precisos sobre o efeito do desflorestamento na precipitação é devida ao reduzido número de

medidas na região e aos efeitos orográficos que mascaram o efeito da mudança na cobertura

vegetal. Cabral (2008) realizou uma série de experimentos sobre a substituição da floresta por

pastagem e cultivo de soja e, de maneira geral, verificou que após o desmatamento há uma

modificação substancial do padrão das chuvas na região, com um aumento da precipitação

média na área que foi desmatada.

Cabral et al. (2003) e Negrón-Juarez (2004) mostraram que nas áreas de cultivo de

cana-de-açúcar, um dos substitutos do Cerrado em SP, houve uma pequena redução do saldo

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de radiação e da evapotranspiração na estação chuvosa. Regionalmente, uma análise mais

recente e detalhada de Tatsch (2006) mostra que em Ribeirão Preto e Campinas, na escala

decadal, ocorreu uma significativa redução da amplitude térmica diária nos últimos 58 anos,

devido, principalmente, a maior taxa de aumento da temperatura mínima do ar. O autor

também destaca as diferenças de produtividade líquida do ecossistema, comparando a cana-

de-açúcar e o Cerrado e indicando a superioridade nas taxas de evapotranspiração neste

último. Experimentos realizados por Negrón-Juarez (2004) mostram que a troca da vegetação

primitiva da região Sudeste pela cana-de-açúcar pode controlar variações regionais na

temperatura do ar e no regime de precipitação.

Devido à expansão das áreas de cultivo de cana-de-açúcar, são esperadas modificações

nos padrões de precipitação nas regiões envolvidas e, consequentemente, surge a necessidade

de estudos que possam fornecer subsídios para o melhor entendimento dos efeitos locais

associados às mudanças no uso do solo mencionadas.

1.3 Objetivos

O objetivo principal deste trabalho é examinar como as alterações no uso da terra

podem influenciar o regime de precipitação em áreas de cultivo de cana-de-açúcar ao longo

das diferentes fases de desenvolvimento dessa cultura e após a colheita da mesma, através do

GEMBRAMS. Nesse sentido, serão abordados os impactos do uso da terra sobre o

comportamento das variáveis meteorológicas, em especial os efeitos nos fluxos de superfície e

da precipitação na região norte do Estado de SP, com modelagem em alta resolução espacial.

Como objetivos específicos:

a) Criação de arquivos de ocupação do solo (cenários de vegetação nativa e inclusão de

áreas de plantio de cana-de-açúcar) para a representação da região de estudo;

b) Avaliação do impacto da vegetação dinâmica (aplicação do modelo GEMTM).

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Capítulo 2: Descrição do modelo BRAMS e do módulo GEMTM

2.1 O modelo BRAMS

O BRAMS, desenvolvido por algumas instituições brasileiras, como o Instituto

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Universidade de São Paulo (USP), é baseado no

modelo atmosférico RAMS (Regional Atmospheric Modeling System, PIELKE et al., 1992;

COTTON et al., 2003), desenvolvido pela Universidade do Estado do Colorado (CSU –

Colorado State University). É um modelo numérico abrangente, desenvolvido nas linguagens

computacionais C e FORTRAN, com o qual é possível simular circulações atmosféricas que

vão desde a micro até a grande escala. A partir deste, é possível obter informações

prognósticas, aplicadas à previsão de tempo, e diagnósticas, como, por exemplo, em estudos

de casos voltados para a pesquisa.

O modelo foi construído com o conjunto de equações primitivas que governam a

evolução do estado da atmosfera, com base nas leis de movimento de Newton e na

termodinâmica de um fluido, incluindo parametrizações dos diversos processos físicos

presentes nestas equações. É equipado com um esquema de aninhamento múltiplo de grades,

permitindo que as equações do modelo sejam resolvidas simultaneamente sob qualquer

número de grades computacionais com diferentes resoluções espaciais. Grades de maior

resolução são utilizadas para modelar detalhes dos sistemas atmosféricos de menor escala, tais

como escoamento sobre terrenos complexos e circulações termicamente induzidas pela

superfície. As grades maiores, de menor resolução, são utilizadas para modelar o ambiente

destes sistemas menores, fornecendo assim as condições de fronteira para as grades mais

finas. As grades de menor resolução também são utilizadas para modelar os sistemas

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atmosféricos de larga escala, os quais interagem com os sistemas de mesoescala resolvidos

nas grades mais finas. As opções físicas e parametrizações de cada simulação são feitas a

partir de um arquivo do tipo lista de variáveis (namelist), chamado de RAMSIN, que é

dividido em cinco partes. Na primeira parte são definidos: o tamanho de cada grade e suas

localizações; a quantidade de grades utilizadas; o número de pontos de grade e o espaçamento

horizontal; o número de níveis verticais e de camadas de solo; o espaçamento vertical e o

tempo de simulação. Na segunda parte são definidos: o tipo de condição inicial, homogênea

(através do uso de uma sondagem) ou heterogênea (utilizando dados de análises); parâmetros

relacionados com o nudging horizontal e vertical; freqüência de geração de arquivos de saída;

arquivos de topografia, ocupação e uso do solo e temperatura da superfície do mar. Na

terceira parte são definidas: as opções físicas e numéricas do modelo, como por exemplo, o

tipo de condição de fronteira lateral; as parametrizações de convecção, radiação, difusão

turbulenta e; o modelo de solo e microfísica, entre outras. A quarta parte é destinada à

inclusão de sondagens no caso de inicialização homogênea, e a quinta parte está relacionada

com a impressão de resultados para verificação das simulações. A versão do BRAMS

utilizada neste trabalho foi a 4.0, que tem como base a versão 5.0 do RAMS.

2.1.1 Inicialização homogênea ou heterogênea

Os principais dados de entrada do modelo BRAMS, a partir dos quais é possível

realizar uma simulação, são: a temperatura do ar; a umidade do ar; o geopotencial e o vento

horizontal (dividido em componentes zonal e meridional). Esses dados de entrada podem ser

originados a partir de observações em superfície e altitude, modelos numéricos, derivados de

produtos de satélites, entre outros. Para os dados serem corretamente lidos pelo modelo é

preciso que os mesmos possuam um formato específico, conhecido como “dprep”. O dprep

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pode ser definido como um arquivo no formato texto, escrito a cada intervalo de tempo em

que existam dados disponíveis, com uma ordem específica das variáveis de entrada e seus

respectivos níveis verticais.

A inicialização pode ser homogênea, quando só há um valor do dado de entrada para

cada nível, e este valor é atribuído à grade do modelo igualmente na horizontal, obedecendo

apenas critérios de conservação de massa (considerando efeitos topográficos, por exemplo). A

inicialização pode também ser heterogênea, quando os dados de entrada são interpolados para

a grade do modelo, apresentando não só variação na vertical, mas também na horizontal. A

técnica utilizada para a interpolação é uma análise objetiva proposta por Barnes (1964) que

consiste em obter um valor interpolado para cada ponto de grade, através de uma média

ponderada da informação do dado original.

2.1.2 Estrutura da grade

A grade utilizada pelo BRAMS é alternada, do tipo C de Arakawa (MESINGER &

ARAKAWA, 1976), onde as variáveis termodinâmicas e de umidade são definidas nos

mesmos pontos de grade, enquanto que as componentes u, v e w do vento são intercalados em

Δx/2, Δy/2 e Δz/2, respectivamente.

A projeção horizontal utilizada é a estereográfica, cujo pólo de projeção fica próximo

ao centro da área de domínio. Na vertical existem duas opções de projeção. A primeira utiliza

um sistema de coordenadas que segue as oscilações do terreno, chamada zσ , de acordo com a

Equação 2.1.

( )(

sz

s

z zHH z

σ⎡ ⎤−

= ⎢ ⎥−⎣ ⎦ (2.1)

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na qual, zσ é a coordenada transformada, sz é a altura da superfície em relação ao nível

médio do mar e H é a altura do topo do modelo (TRIPOLI & COTTON, 1982). A segunda

coordenada vertical, chamada de shaved-ETA (TREMBACK & WALKO, 2004) é uma grade

cartesiana, em que as células de grade interceptam a topografia.

2.1.3 Condições de contorno

As condições de contorno lateral são aplicadas para permitir a passagem de ondas de

gravidade e outros fenômenos que chegam à fronteira da grade do modelo, com o intuito de

eliminar (ou minimizar) a reflexão para o interior da área de domínio. A propagação da onda

em uma dimensão é dada pela Equação 2.2:

*u uct x

∂ ∂⎛ ⎞= − ⎜ ⎟∂ ∂⎝ ⎠ (2.2)

em que ut

∂∂ é a taxa de variação temporal da velocidade, normal à fronteira, u

x∂

∂ é a

variação espacial da velocidade normal à fronteira e *c u c= + é a velocidade de fase. No

BRAMS existem algumas condições de fronteira disponíveis e estas têm como principal

fundamento a obtenção de *c . Uma delas foi proposta por Orlanski (1976), calculada no passo

de tempo anterior e no primeiro ponto inferior à fronteira (Equação 2.3).

( )( )

*u

tcu

x

∂∂=

∂∂

(2.3)

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Outro modo de calcular *c é aplicando o valor da média vertical segundo Orlanski,

para toda a coluna do domínio (KLEMP & LILLY, 1978). Klemp & Wilhelmson (1978 a, b)

sugerem o uso de um valor típico para a velocidade de fase da onda de gravidade.

A condição de contorno no topo do modelo difere da condição lateral pelo fato de que

a propagação da onda de gravidade na vertical ter velocidade de fase oposta à velocidade de

grupo, podendo ocorrer efeito de propagação em direção à superfície. Apesar de algumas

opções fornecidas pelo modelo, o nudging no topo elimina a necessidade de utilizar essas

opções, passando esta a ser a condição de contorno aplicada.

A condição de contorno na base está relacionada às trocas de calor, momentum e

massa entre a superfície e a atmosfera logo acima desta. Essas trocas são consideradas em

diferentes tipos de superfícies, que podem ser água, solo sem cobertura vegetal ou solo

vegetado, conforme será visto posteriormente na seção 2.1.8.

2.1.4 Parametrização de turbulência

Estão disponíveis no BRAMS quatro opções de parametrização dos coeficientes de

difusão turbulenta na vertical e na horizontal. A primeira dessas opções é baseada na

formulação de Smagorinsky (1963) para os coeficientes de difusão horizontal. De acordo com

essa formulação, os coeficientes de difusão são calculados como produto da taxa de

deformação horizontal (gradientes horizontais da velocidade do vento) e do quadrado da

escala de comprimento. A escala de comprimento é o produto do espaçamento de grade

horizontal por um fator de multiplicação que depende das dimensões da grade utilizada. Nessa

opção, a difusão vertical é parametrizada seguindo o esquema de Mellor & Yamada (1982)

através da energia cinética turbulenta prognosticada pelo modelo. A diferença da segunda

opção para a primeira está apenas na parametrização vertical, sendo usado o análogo

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unidimensional do esquema de Smagorinsky. A deformação vertical é obtida dos gradientes

verticais do vento horizontal (cisalhamento vertical) e a escala de comprimento é o

espaçamento vertical local multiplicado por um fator que depende das dimensões da grade

utilizada. A primeira e a segunda opção são apropriadas para o caso onde o espaçamento

horizontal da grade é muito maior que na vertical, tal que os movimentos convectivos

dominantes não sejam resolvidos.

São utilizadas algumas modificações nos coeficientes de difusão verticais devido à

estabilidade atmosférica, baseados nas formulações de Lilly (1962) e Hill (1974). A

modificação de Lilly é na forma de um fator de multiplicação que depende do número de

Richardson (Ri) e da razão entre os coeficientes de difusão de temperatura e momento na

vertical. Este fator multiplicativo é maior do que um em casos instáveis e menor do que um

em casos estáveis. A modificação de Hill aplica-se somente a regiões de lapse-rate instáveis e

consiste na adição do valor absoluto do quadrado da freqüência de Brunt-Vaisala à taxa de

deformação, com o intuito de obter uma escala de tempo modificada para o cálculo dos

coeficientes de difusão. Na terceira opção, os coeficientes de difusão na vertical e na

horizontal são calculados como um produto entre o tensor tensão de cisalhamento em três

dimensões e o quadrado da escala de comprimento. A quarta opção utiliza o esquema de

Deardorff (1980) e faz uso da energia cinética turbulenta para o cálculo dos coeficientes de

difusão vertical e horizontal. Este esquema é destinado somente para simulações de grandes

turbilhões (LES – Large Eddy Simulation), os quais consideram que os movimentos

resolvidos pelo modelo realizam a maior parte do transporte turbulento.

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2.1.5 Parametrização de convecção

A parametrização de convecção é utilizada para redistribuir verticalmente calor e

umidade em uma coluna de ar atmosférica quando o modelo cria uma região convectivamente

instável e a resolução horizontal da grade é muito baixa para o modelo gerar sua própria

circulação convectiva.

Para que o modelo resolva uma circulação de convecção profunda, é necessário que

alguns pontos de grade na horizontal incluam a circulação convectiva em questão, para que as

correntes ascendentes possam ser criadas na escala da grade. Essas correntes convectivas são

da ordem de poucos quilômetros a dezenas de quilômetros. Assim, a resolução da grade na

horizontal precisaria ser da ordem de centenas de metros a poucos quilômetros para poder

simular explicitamente a convecção. Ao utilizar uma grade mais grosseira esse tipo de

circulação não será explicitamente resolvida, impossibilitando as trocas verticais diretas de

calor e umidade, assim como a conversão de energia potencial disponível para convecção

(CAPE - Convective Available Potential Energy) em outras formas de energia. Torna-se

necessária a utilização de uma parametrização convectiva na mesma filosofia da

parametrização de turbulência, como um fenômeno de escala subgrade. Os esquemas

disponíveis atuais foram elaborados para grades com resolução em torno de 20 km ou

maiores, fazendo com que exista um intervalo de resolução (entre 2 e 20 km) em que nenhum

esquema convectivo funciona adequadamente. Para resoluções menores do que 2 km a

parametrização de microfísica tende a resolver explicitamente os processos convectivos.

Cada esquema de parametrização de convecção adota hipóteses de fechamento

diferenciadas para resolver a questão da interação entre as escalas, o que leva a uma vasta

possibilidade de soluções. A primeira parametrização introduzida no RAMS, utilizada neste

trabalho, foi a do tipo Kuo (KUO, 1974), em que a convecção atua para eliminar a

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instabilidade gerada por efeitos de grande escala e evaporação local. As equações da

tendência termodinâmica e da tendência de umidade para a convecção úmida são dependentes

da instabilidade atmosférica, da velocidade vertical no nível de condensação por levantamento

(NCL) e da convergência de umidade na camada abaixo da nuvem.

2.1.6 Parametrização de microfísica

A parametrização de microfísica de nuvens presente no modelo especifica a

complexidade dos processos de mudança de fase que serão utilizados para os cálculos

explícitos em cada ponto de grade, simulando todas as mudanças de fase que ocorrem com a

água em seus três estados (sólido, liquido e gasoso), incluindo as trocas de calor envolvidas

nas mudanças. As seguintes categorias são consideradas:

fase gasosa: vapor d’água;

fase líquida: gotículas de nuvem e gotas de chuva;

fase sólida: gelo primário, neve e agregados;

fase mista entre líquido e sólido: granizos e pequenos granizos.

A inclusão ou não de cada uma das categorias acima em uma simulação é de escolha

do usuário, que define o nível de complexidade da microfísica que será utilizada:

nível 0: o modelo é integrado “seco”, sem qualquer consideração de umidade;

nível 1: é ativada a advecção, difusão e fluxo de água na superfície, mas toda a

substância água contida na atmosfera é considerada vapor d’água, mesmo que ocorra

supersaturação;

nível 2: ocorre condensação do vapor d’água em gotículas de nuvem quando a

supersaturação é alcançada. A quantidade de vapor d’água que é convertido em água

líquida é puramente diagnóstica neste caso. Os efeitos positivos de flutuação do

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vapor e da água líquida são incluídos na equação do movimento vertical. Nenhum

outro tipo de hidrometeoro é considerado;

nível 3: ativa toda a microfísica. Todos os tipos de hidrometeoros são

considerados e o processo de precipitação é incluído.

Na parametrização de microfísica do BRAMS (MEYERS et al., 1997) são levados em

consideração os diferentes processos microfísicos, como a colisão e coalescência, nucleação,

sedimentação e conversão de uma categoria para outra. As gotículas são consideradas

pequenas o suficiente para não precipitarem através da nuvem, enquanto que as outras

categorias precipitam. A nucleação direta a partir do vapor d’água só é permitida para

gotículas e gelo primário (este último só cresce por deposição). Os agregados são definidos

como partículas de gelo que se formam por colisão e coalescência de gelo primário e neve.

Gelo primário, neve e agregados possuem baixa densidade e pequena velocidade de queda,

enquanto que pequenos granizos possuem densidade intermediária e forma aproximadamente

esférica.

2.1.7 Parametrização de radiação

No BRAMS existem três métodos de parametrização de radiação utilizados que se

diferem basicamente pela consideração ou não dos efeitos das interações com as nuvens.

Mahrer & Pielke (1977) avaliam empiricamente o espalhamento da radiação de onda curta

pelo oxigênio, ozônio e dióxido de carbono e a absorção pelo vapor d’água; também é

avaliada a quantidade de emissão no infravermelho e absorção pelo vapor d’água e dióxido de

carbono em onda longa, mas nenhuma interação com nuvens ou material condensado é

considerada. Este esquema é o mais simples e com menor custo computacional. O segundo

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esquema (CHEN & COTTON, 1988) para a radiação de onda curta é uma solução completa

da equação de transferência radiativa, permitindo que o conteúdo de água líquida e o vapor

presentes na atmosfera influenciem os fluxos de radiação solar e terrestre. Nesse esquema é

possível avaliar a emissão de onda longa em atmosfera limpa, com nuvens ou mista. Os

processos de espalhamento, absorção, transmissão e reflexão de onda curta por nuvens

também são considerados.

O terceiro esquema é o de Harrington (1997), sendo mais completo que os demais.

Neste esquema são consideradas as diferentes fases da nuvem (diferenciando o efeito se

houver somente água ou se houver gelo), também considera um perfil de ozônio que terá

efeito na absorção da radiação solar. Teoricamente o esquema de Harrington é mais eficiente,

contudo, tem um custo computacional maior.

2.1.8 Parametrização de superfície (vegetação)

O BRAMS utiliza o LEAF-3 (Land Ecosystem-Atmosphere Feedback Model,version

3,WALKO & TREMBACK, 2005) para a condição de fronteira inferior. Alguns aspectos

sobre o LEAF-3 serão apresentados neste item. Maiores informações podem ser encontradas

em Walko et al. (2000) e Freitas (2003).

No LEAF-3 a condutância estomática é calculada utilizando fatores de estresse

ambiental, que dependem da temperatura, do déficit de vapor de água, radiação de ondas

curtas e do potencial hídrico do solo. A Figura 2.1 apresenta um esquema geral dos

componentes considerados no LEAF-3 para uma única célula e destaca os fluxos de energia

trocados entre os diferentes componentes, onde, para os três tipos de patch (água, solo nu e

solo vegetado) diferentes temperaturas e balanço de massa de água são computados.

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A principal diferença do LEAF-3 e as versões anteriores é a inclusão do índice de

vegetação normalizado (NDVI – Normalized Difference Vegetation Index) para a definição

dos parâmetros da vegetação, permitindo uma variação sazonal das propriedades da

vegetação, aspecto não considerado anteriormente.

Figura 2.1. Esquema geral das trocas de energia em uma única célula no LEAF-3. Os fluxos entre os principais componentes são indicados com H (fluxo de calor sensível), LE (fluxo de calor latente), M (fluxo de momentum) e W (fluxo de vapor d’água) (Adaptado de Campo et al., 2009).

Para a definição dos parâmetros da vegetação, o LEAF-2 utilizava uma associação

entre o BATS (Biosphere-Atmosphere Transfer Scheme, DICKINSON et al., 1986) e os

parâmetros fornecidos pela National Aeronautics and Space Administration/Land Data

Assimilation Systems (NASA/LDAS). Na versão LEAF-3, assim como no modelo SiB2

(Simple Biosphere Model, SELLERS et al., 1996), o NDVI é utilizado para o cálculo de

alguns parâmetros relacionados à vegetação, tais como, a fração da radiação

fotossinteticamente ativa (FPAR), o índice de área de folhas verdes (GLAI), o índice de área

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total (TAI) e o comprimento de rugosidade ( 0z ). Além disso, a dependência do albedo e da

transmissividade da vegetação ao GLAI e TAI, como descrito no SiB2, é combinada com a

formulação anteriormente utilizada no LEAF-2 para a obtenção de expressões para o albedo e

a fração de cobertura da vegetação como uma função de GLAI, TAI e as classes do LEAF-3.

O conjunto de classes existentes (BATS, LDAS e SiB2) foi reduzido, formando 21 classes,

combinando as classes similares. Os documentos do GEF (The Global Ecosystems

Framework, OLSON, 1994), com suas referências cruzadas entre as tabelas de Olson, BATS

e SiB2 foram utilizados como um guia para a combinação das classes de uso do solo entre

BATS, LDAS e SiB2. As classes de uso do solo utilizadas no LEAF-3 são apresentadas em

Walko & Tremback (2005). É importante ressaltar que a utilização de atualização do NDVI é

uma opção do modelo e neste trabalho esta ferramenta não foi ativada, cabendo ao GEMTM

fazer com que as variações ao longo do tempo, principalmente do índice de área foliar, fossem

consideradas nas simulações.

2.2 O modelo GEMTM

Considerando a interação dinâmica existente entre o solo, a vegetação e a atmosfera,

foi utilizado neste trabalho, acoplado ao modelo BRAMS, o modelo GEMTM (CHEN &

COUGHENOUR, 1994).

O GEMTM é composto por vários submodelos para a representação de aspectos

como: (a) microclima do dossel; (b) dinâmica térmica do solo; (c) dinâmica da água no solo;

(d) crescimento da planta, incluindo a fotossíntese e a condutância estomática da folha;

(e) produção de biomassa; (f) dinâmica de distribuição espacial da raiz; e (g) respiração do

solo.

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No GEMTM, a fotossíntese do dossel é calculada utilizando as frações de folhas

iluminadas pelo sol e sombreadas. A quantidade de carbono avaliada é distribuída entre as

folhas, caules, raízes e reprodução orgânica, com coeficientes de partição variável, que são

funções das condições de água no solo. À medida que aumenta o estresse hídrico, a fração

alocada ao crescimento da raiz aumenta. A manutenção, a respiração de crescimento e a

mortalidade de cada um destes componentes da biomassa são calculadas através de relações

empíricas baseadas na temperatura do ar e do solo e na umidade do solo. A quantidade de

carbono da folha está relacionada ao índice de área foliar da vegetação.

Diariamente, nestas simulações, às 00Z um novo valor de IAF total é estimado,

através do crescimento diário da biomassa foliar. Além disso, o perfil da raiz é atualizado

diariamente através dos processos de ramificação, extensão e morte (CHEN & LIETH, 1993).

As trocas de água e CO2 entre a planta e a atmosfera são reguladas pela condutância

estomática, sendo esta calculada utilizando a relação linear semi-empírica de Ball-Berry,

baseada na fotossíntese líquida, umidade relativa e CO2 foliar (BALL et al., 1987). De acordo

com Eastman et al. (2001), na versão do GEMTM utilizada para o acoplamento com o

BRAMS destacam-se alguns aspectos importantes:

• As taxas de fotossíntese são calculadas a cada passo de tempo da simulação;

• A taxa de fotossíntese é calculada para a radiação fotossinteticamente ativa (RFA),

considerando assim as áreas que estão recebendo a radiação direta e as áreas sombreadas

que recebem radiação difusa;

• A radiação fotossinteticamente ativa é calculada usando vários níveis do dossel;

• A taxa de fotossíntese também depende do potencial de água da planta, da temperatura da

vegetação e da razão de mistura do vapor d’água;

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• As atualizações da alocação de biomassa, da respiração das plantas e das taxas de

crescimento e de mortalidade são baseadas na umidade do solo e na temperatura do ar e do

solo;

• Existência de um modelo espacial de raízes para efluxo e retenção, incluindo algoritmo de

ramificações e alongamento das raízes;

• Assume-se que a taxa de respiração é igual à de retenção de água pelo solo no cálculo do

potencial de água da planta.

Descrições mais detalhadas das principais componentes do GEMTM podem ser

encontradas no Apêndice A.

2.3 O sistema de modelagem acoplado

O GEMBRAMS foi utilizado nas simulações para estudar os impactos das mudanças

no uso da terra sobre a atmosfera. Vários componentes do GEMTM foram acoplados ao

BRAMS: transferência de radiação no dossel, crescimento de plantas e raízes, dinâmica da

água no solo, produção de biomassa, e respiração do solo. Estes componentes requerem um

conjunto adicional de parâmetros, na maior parte dependente da vegetação, para caracterizar

esses processos biológicos. No GEMBRAMS, a biosfera e a atmosfera próxima à superfície

podem interagir dinamicamente através do balanço de energia da superfície e do dossel.

Eastman (1999) e Eastman et al. (2001) descrevem em detalhes como o acoplamento entre o

GEMTM e o BRAMS é feito. Um esquema do sistema acoplado é mostrado na Figura 2.2.

Nesta, as linhas verdes representam a componente GEMTM-Planta, as linhas azuis

representam o caminho da água e as setas marrons simbolizam as conexões entre o BRAMS,

o LEAF e o GEMTM.

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O GEMTM fornece para o BRAMS: a atualização da condutância estomática, o IAF, a

rugosidade e a fração de cobertura do solo. Precipitação, temperatura do ar do dossel,

temperatura do solo, umidade, ventos, bem como os fluxos de superfície (por exemplo, calor

sensível e latente) são previstos pelo BRAMS. O efeito do estresse hídrico sobre a taxa de

assimilação é também considerada e estimada por meio de funções empíricas dependentes da

vegetação (COUGHENOUR, 1984). O valor de ponderação destas funções para um solo

relativamente úmido é igual a um, com uma diminuição linear até um valor igual a zero para

valores de potencial de água da planta baixos o suficiente para cessar a fotossíntese.

Figura 2.2. Diagrama conceitual do acoplamento LEAF-GEMTM (Adaptado de BELTRÁN, 2005).

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Capítulo 3: Cenários e Simulações

Este capítulo faz uma apresentação sobre os cenários construídos para as análises de interesse

dessa dissertação, bem como uma descrição das configurações utilizadas para a realização das

simulações na região de estudo.

3.1 Cenários

Foram realizadas simulações com o modelo GEMBRAMS para a região norte do

Estado de SP. Desta forma, os efeitos de alterações na vegetação sobre as condições

atmosféricas locais foram considerados. É importante enfatizar que a região de estudo sofreu

grandes mudanças no que se refere à substituição da vegetação nativa por cultivos de interesse

econômico.

Para a avaliação destes efeitos, dois cenários foram propostos. O primeiro, prescrito a

partir de informações contidas em Negrón-Juárez (2004) (Tabela 3.1), refere-se à vegetação

nativa do Estado de SP (referenciado como cenário CTL), o qual utilizou como base o mapa

da vegetação do Brasil apresentado por Joly et al. (1999) e dos biomas da América do Sul

publicado pelo IPCC (2000). O segundo cenário representa a vegetação nativa com a adição

dos locais onde há informação do cultivo de cana-de-açúcar para a safra do ano de 2007

(referenciado como cenário CANA). O arquivo de topografia utilizado, com aproximada-

mente 1 km de espaçamento horizontal, foi obtido do U.S. Geological Survey (USGS).

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Tabela 3.1 – Tipos de uso do solo utilizados nos cenários e correspondência nas simulações com a vegetação primitiva do Estado de SP.

Tipo de vegetação Classificação segundo o BRAMS

0. Corpos de água 0. Water Bodies

1. Mata Atlântica do Interior - Floresta Ombrófila decídua 6. Deciduous Broadleaf Tree

2. Mata Atlântica - Floresta Ombrófila densa 7. Evergreen Broadleaf Tree

3. Cerrado 14. Mixed Woodland

4. Área Urbana 19. Urban and Built up

5. Cana-de-açúcar 11. Sugarcane

Para a criação do cenário com a cana-de-açúcar foram obtidos arquivos do projeto

Canasat/INPE (CANASAT, 2009) contendo informações a respeito dos locais onde houve

cultivo de cana-de-açúcar no Estado de SP e nos estados vizinhos durante a safra de 2007. A

partir destas informações, os arquivos de vegetação foram construídos seguindo o formato

utilizado pelo modelo BRAMS. Desta forma, foram inseridas informações sobre a presença

de plantações de cana-de-açúcar no arquivo topográfico fornecido pelo USGS. A diferença

entre o arquivo utilizado nas simulações do cenário CTL e CANA pode ser verificada através

de uma inspeção na Figura 3.1.

(a)

(b)

Figura 3.1. Cenários (a) CTL e (b) CANA, nos quais: 0 - Água; 1 – Mata Atlântica do Interior; 2 – Mata Atlântica; 3 – Cerrado; 4 – Área urbana; e 5 – Cana-de-açúcar.

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Os tipos de vegetação prescritos seguiram a classificação utilizada pelo BRAMS, com

a tentativa de representar os biomas que existem no Estado de SP. Contudo, é importante

enfatizar que os parâmetros biofísicos para a cana-de-açúcar foram alterados no submodelo

LEAF-3. O submodelo requer a prescrição dos parâmetros biofísicos da superfície, para cada

ponto de grade, admitidos como uma representação média do tipo de vegetação e solo na área

associada à grade.

Para a representação da nova vegetação, foram definidos valores típicos considerando

a cana-de-açúcar no início de seu desenvolvimento, durante a estação chuvosa (mês de

janeiro) e na época em que a cana foi cortada. Também foram apresentados os valores dos

parâmetros da vegetação de Mata Atlântica, pois esta é a vegetação predominante na

simulação CTL na área que será definida mais adiante para comparação da evolução temporal

dos campos analisados. Os valores utilizados são apresentados na Tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Parâmetros biofísicos adotados no modelo de vegetação do BRAMS.

Parâmetro Cana plantio (*) Cana corte (*) Mata Atlântica

Albedo verde (%) 0,20 0,18 0,12

Albedo marrom (%) 0,24 0,22 0,18

Índice de área total máximo (m2 m-2) 5,00 1,00 6,50

Índice de área dos galhos (m2 m-2) 1,00 1,00 1,00

Fração vegetal (%) 0,80 0,00 0,90

Altura do dossel (m) 3,00 0,30 32,00

Profundidade das raízes (m) 1,50 1,50 2,50

Resistência estomática mín. (s m-1) 175,00 175,00 250,00

(*): Valores ajustados numericamente ao longo do estudo através de testes e em relação aos valores de outras classes de vegetação do LEAF. Cana plantio refere-se aos valores dos parâmetros adotados para o início da simulação, assim como Cana corte refere-se aos valores dos parâmetros biofísicos utilizados para simular o corte da cana no modelo (24/10/07).

Os valores dos parâmetros biofísicos adotados para representar a cultura da cana-de-

açúcar foram obtidos através de testes ao longo do período de estudo. O ajuste dos parâmetros

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do tipo de vegetação é importante para a busca da representação adequada do ciclo diurno e

sazonal da temperatura, vento em superfície, umidade e dos fluxos de momemtum, energia e

água.

O albedo, ou coeficiente de reflexão, é definido pela razão entre a radiação solar

refletida e a radiação solar incidente. No modelo são considerados dois valores distintos de

albedo, diferenciando-se a porção verde (folhas) da vegetação (albedo verde) da porção

marrom (ramos, caules) da vegetação (albedo marrom). O índice de área total máximo refere-

se à soma do IAF e o índice de área dos galhos da planta. O IAF foi definido por Watson

(1947) como sendo a área foliar integrada do dossel por unidade de superfície projetada no

solo (m2 de folha por m2 de solo). O IAF é computado ao considerar-se a superfície de apenas

uma das faces das folhas. A fração vegetal representa a fração de terreno coberta por

vegetação, e possui um valor alto tanto para a Mata Atlântica quanto para plantações de cana-

de-açúcar. A altura da vegetação considerada para a cana-de-açúcar foi inicialmente de 3 m e

após o corte passou a ser de 0,30 m, a profundidade das raízes adotada foi de 1,5 m.

Para a realização da fotossíntese, as plantas abrem seus estômatos para captar CO2 do

ar. Contudo, durante este processo, ocorrem perdas de água pelas folhas. Esta perda é

controlada pelos estômatos a partir do seu grau de abertura e o controle é atribuído à

condutância estomática foliar, definida como o inverso da resistência estomática. Uma

resistência estomática mais alta indica maior controle dos estômatos sobre a perda de água da

planta e quanto melhor a condição hídrica de uma região, menor será a resistência estomática

das plantas.

3.2 Simulações

As simulações realizadas compreenderam o período entre 10 de janeiro e 25 de

dezembro de 2007, sendo os primeiros 15 dias removidos para prover um período de

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equilíbrio da umidade do solo, resultando assim em um período de análise dos resultados de

25 de janeiro a 25 de dezembro de 2007, com saídas a cada hora. Devido ao tempo de

integração ter sido muito longo, a cada 744 horas (31 dias) a continuação da simulação no

modelo GEMBRAMS foi dada a partir da opção chamada History. Esta é uma opção para a

definição da condição inicial de uma simulação que considera as condições do último instante

simulado pelo modelo, continuando, a partir de um ponto intermediário, até completar todo o

período desejado de simulação.

Para realizar as simulações foram consideradas duas grades aninhadas (Figura 3.2). A

grade externa, com espaçamento horizontal de 16 km, foi alimentada pela condição inicial e

de contorno proveniente dos campos de análise do GFS (Global Forecast System, do National

Centers for Environmental Prediction), com 1° de espaçamento horizontal em intervalos de 6

horas. A grade interna foi configurada com espaçamento horizontal de 4 km e cobriu uma

área equivalente a 61.504 km2. Ambas as grades foram centradas em 21° S e 48° W. Um

resumo das principais configurações utilizadas nas simulações é apresentado na Tabela 3.3.

Figura 3.2. Área de domínio das grades utilizadas nas simulações e topografia (m). O ponto preto indica o local onde as duas grades foram centradas nas simulações.

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Tabela 3.3 – Principais opções utilizadas para as duas simulações no modelo BRAMS.

3.3 Teste de significância estatística t-Student

Foram realizados testes estatísticos do tipo t-Student, com o objetivo de discutir a

significância estatística dos impactos da mudança no uso do solo com a adição das áreas de

plantio de cana-de-açúcar.

Simulações Grade 1 Grade 2

Período de Integração 10/01/2007 a 25/12/2007 (349 dias)

Período de análise dos resultados 25/12/2007 a 25/12/2007 (334 dias)

Tempo descartado para spin-up 15 dias

nº de grades 2

Pontos de grade em x 32 62

Pontos de grade em y 32 62

Níveis Verticais 34 34

Primeiro nível vertical 19.1 metros

Espaçamento dos pontos de grade (km) 16 4

Inicialização da umidade do solo Homogênea

Número de camadas de solo 9

Tipo de solo, em todo o domínio tipo 6 (Sandy Clay Loam)

Profundidade das camadas do solo (cm) 10/25/50/75/100/125/150/175/200

Grau de saturação das camadas do solo 0.48/0.49/0.50/0.51/0.52/0.53/0.55/0.57/0.60

Param. Radiação Chen & Cotton (1983)

Param. Convectiva Desligada

Nível de microfísica 3 (WALKO et al., 1995)

Parametrização de Turbulência Deformação Anisotrópica (SMAGORINSKY, 1963)

Atualização dos dados NDVI Desligada

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1 22 2

1 2

1 2

X XtS Sn n

−=

+

O teste t-Student é um teste que verifica se os valores médios entre dois grupos

diferem estatisticamente, levando-se também em consideração a variabilidade da distribuição

de cada grupo. Além da diferença entre as médias de cada amostra, o teste-t leva em

consideração a variância (S) e o número de graus de liberdade (n-1), que dependem do

tamanho das amostras (n). A fórmula utilizada é:

(3.1)

em que X é o valor médio do grupo X; Y é o valor médio do grupo Y; in é o número de

amostras de cada grupo, para X 1( )n e Y 2( )n , respectivamente; e 2iS é a variância de cada

grupo, respectivamente para X 1( )S e Y 2( )S .

Para a análise dos resultados, o teste-t necessita da escolha de um intervalo de

confiança e o número de graus de liberdade. Os intervalos de confiança iguais ou maiores que

90 %, 95 % e 99 % foram adotados para que as diferenças fossem consideradas significativas

estatisticamente. A partir destes níveis de confiança e do número de graus de liberdade (n-1)

obtém-se um valor de referência rt , o qual pode ser obtido em Anderson & Finn (1996). A

hipótese de que dois grupos são estatisticamente diferentes é corroborada se t for maior que

rt .

Os campos médios de cada variável apresentam variação espacial de acordo com os

pontos de grade no domínio de estudo. O teste-t analisa a diferença entre os grupos, porém

restritos à mesma posição na grade de cada cenário. Portanto, o teste-t utilizado é chamado de

pareado e é empregado especialmente quando cada dado de um grupo apresenta uma relação

única com o seu correspondente do outro grupo analisado, formando um par.

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O teste-t torna-se confiável para grupos com distribuições normais. Para grupos com

número de amostras alto e, principalmente, quando o número de graus de liberdade é superior

a 30, a distribuição é aproximadamente normal. O número de amostras utilizado neste

trabalho foi de 8.017, referente à quantidade de dados horários do período completo de

análise, resultando em 8.016 graus de liberdade.

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Capítulo 4: Resultados

Neste capítulo será inicialmente apresentada uma breve análise do comportamento da

precipitação no ano de 2007 e os resultados obtidos através das simulações realizadas com o

GEMBRAMS. A primeira parte dos resultados refere-se às comparações entre as simulações

CANA e CTL, iniciando-se com campos médios nas áreas experimentais e em seguida

apresentando o comportamento temporal das variáveis em uma área escolhida através da

aplicação do teste estatístico t-Student, indicando onde as diferenças entre as simulações são

significativas. Na segunda parte os resultados são apresentados de forma semelhante à

primeira, contudo, as comparações são feitas entre a simulação com o módulo GEMTM

ativado (GON) e outra com este módulo desativado (GOFF). É importante ressaltar que a

simulação GON corresponde à mesma simulação denominada CANA. No entanto, a

modificação de nomenclatura objetiva explicitar o impacto da utilização do módulo

vegetativo dinâmico nas simulações.

No Sudeste do Brasil predomina uma variação na precipitação de 1.500 a

2.000 mm ano-1, com máximos na região litorânea e mínimos no norte de Minas Gerais. O

trimestre mais seco se dá entre os meses de junho e agosto, e o mais úmido de dezembro a

fevereiro (NEGRÓN-JUÁREZ, 2004). A precipitação no litoral do Sudeste do Brasil varia de

3.500 a 4.000 mm ano-1, principalmente no litoral norte do Estado de SP, sem uma estação

seca bem definida (SILVA DIAS & MARENGO, 1999).

Durante o ano de 2007, a Região Sudeste apresentou índices pluviométricos acima da

média climatológica nos dois primeiros meses do ano (meses de maior atividade convectiva).

A partir de março verificou-se uma redução significativa da precipitação. Essas anomalias

negativas persistiram até o mês de novembro, quando a Zona de Convergência do Atlântico

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Sul (ZCAS) começou a atuar nesta região. Ressalta-se que em julho seis sistemas frontais

penetraram na Região Sudeste, provocando um aumento na precipitação. Em geral, as

temperaturas apresentaram-se acima da média climatológica neste ano (CLIMANÁLISE,

2009). Na Figura 4.1 observam-se os campos mensais de precipitação acumulada em 2007.

Figura 4.1. Precipitação acumulada mensal (mm) para o ano de 2007 (Fonte: CLIMANÁLISE, 2009).

4.1. Análise da variabilidade espacial

Foram realizadas análises referentes aos campos médios para o período total de estudo

(25/01/07 a 25/12/07). Os campos gerados referem-se à segunda grade (resolução horizontal

de 4 km) e ao primeiro nível vertical do modelo (19,1 m acima da superfície). Os níveis de

significância estatística foram obtidos utilizando o teste t-Student para verificar se a diferença

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53

(CANA – CTL) de uma variável apresentou significância estatística. Foram considerados

8016 (8017-1) graus de liberdade, com níveis de significância de 90 %, 95 % e 99 %.

A Figura 4.2 exibe os campos de precipitação acumulada nas simulações CANA e

CTL, o resultado da diferença entre as duas simulações e os campos de significância do teste

estatístico. Os menores índices pluviométricos foram encontrados nas regiões oeste e central,

os quais são os setores menos elevados da área de estudo (Figuras 4.2a, 4.2b). Verificou-se

que, em geral, a simulação CANA apresentou valores acumulados de precipitação superiores

em relação à simulação CTL (Figura 4.2a). As maiores diferenças foram detectadas nas

regiões norte e sul da grade, chegando a 1200 mm (Figura 4.2c). Predominou significância

inferior ao nível de 90 % (Figura 4.2d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.2. Precipitação acumulada (mm) nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

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54

A umidade do solo média a 1 m de profundidade apresentou padrões consistentes com

a precipitação (Figuras 4.3a, 4.3b), ou seja, os locais com maiores valores de umidade do solo

estão relacionados com os locais onde o acumulado de precipitação ao longo do ano também

foi maior. As diferenças mais pronunciadas entre as duas simulações foram observadas no

setor central da grade (Figura 4.3c), com valores de até 0,15 m3 m-3 e -0,12 m3 m-3. Verificou-

se que a simulação CANA apresentou valores médios menores de umidade do solo,

principalmente na região central e oeste da área de estudo, com decréscimo mais acentuado na

umidade do solo ao longo do ano (Figura 4.3a). A significância estatística foi

predominantemente superior ao nível de 99 % (Figura 4.3d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.3. Umidade do solo média (m3 m-3) a 1 m abaixo da superfície nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

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55

Em relação ao albedo médio, verificou-se que os maiores valores foram encontrados

na simulação CANA (Figura 4.4a), principalmente no setor central da área de estudo, com

diferenças que chegaram a 0,06. Os menores valores de albedo localizam-se na divisa entre os

Estados de SP e MG devido à presença do rio Grande, o qual faz fronteira entre estes estados.

As diferenças entre as duas simulações apresentaram significância estatística superior ao nível

de 99 % em praticamente toda a área de estudo (Figura 4.4d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.4. Albedo médio nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

Nos campos de valores médios de irradiância solar incidente (Ki) verifica-se que nas

simulações CANA e CTL os menores valores foram observados principalmente na região

central da grade, sendo os campos de Ki da simulação CTL inferiores (Figura 4.5a, 4.5b). As

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diferenças chegaram a 14 W m-2 na região central (Figura 4.5c), onde a vegetação original foi

substituída por cana-de-açúcar. Na região central da grade a significância estatística

apresentou limiares acima de 90 % (Figura 4.5d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.5. Irradiância solar incidente média (W m-2) nas simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

O saldo de radiação (Rn) médio apresentou valores similares nas duas simulações

(Figuras 4.6a, 4.6b), sendo os maiores valores encontrados na simulação CTL, devido ao

menor albedo da vegetação predominante deste cenário, com Rn de até 165 W m-2 no setor

norte. As diferenças chegaram a 20 W m-2 na região central da grade (Figura 4.6c), local em

que foram identificadas as maiores significâncias estatísticas (Figura 4.6d).

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57

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.6. Saldo de radiação (Rn) médio (W m-2) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

Os campos médios dos fluxos de calor sensível (H), fluxo de calor latente (LE) e

temperatura são apresentados nas Figuras 4.7, 4.8 e 4.9. Maiores (menores) valores de H (LE)

foram encontrados no setor oeste (Figuras 4.7a, 4.7b, 4.8a, 4.8b). Para essas duas variáveis,

foram observadas maiores diferenças entre as simulações CANA e CTL nas latitudes entre

20,4° e 20,7° S e as longitudes entre 48,3° e 48,6° W (Figuras 4.7c, 4.8c), com significância

ao nível de 99 % (Figuras 4.7d, 4.8d). A simulação CANA apresentou maiores valores de

temperatura em relação à simulação CTL em todo o domínio da área de estudo (Figura 4.9c).

Os setores com maiores (menores) valores de temperatura e H (LE), em geral coincidiram

com os locais de menores valores médios de umidade do solo. Esta condição possivelmente

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contribuiu para um aumento de temperatura da atmosfera adjacente, como observado nas

diferenças de temperatura de até 0,9 °C (significância ao nível de 99 %) justamente no setor

central/noroeste, onde houve maior secamento do solo.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.7. Fluxo de calor sensível (H) médio (W m-2) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

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59

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.8. Fluxo de calor latente (LE) médio (W m-2) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

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(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.9. Temperatura média (ºC) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

A direção predominante do vento horizontal (vetores) e magnitude (sombreado) a 19,1

m acima da superfície são apresentados na Figura 4.10. Verifica-se que o vento foi

predominantemente de leste nas duas simulações (Figuras 4.10a, 4.10b). A simulação CANA

apresentou as maiores magnitudes, atingindo velocidades de até 2,4 m s-1 principalmente no

setor oeste (Figura 4.10a). A simulação CTL possui uma vegetação com dossel mais elevado

(32 m), resultando em maior atrito do escoamento do ar com esta vegetação e possivelmente

contribuindo para uma menor magnitude do vento horizontal médio na simulação CTL

(Figura 4.10b). As diferenças mais expressivas foram de 0,8 m s-1 nas regiões oeste, sul e

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central (Figura 4.10c), com significância estatística superior ao nível de 99 % em

praticamente toda a grade (Figura 4.10d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.10. Campos médios da magnitude (sombreado) e direção (vetores) do vento horizontal (m s-1) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

A razão de mistura de vapor d’água (rv) apresentou maiores valores na fronteira entre

os Estados de SP e MG, estendendo-se deste local em direção ao centro da área de estudo,

com magnitude mais pronunciada na simulação CTL de até 14,7 g kg-1 (Figuras 4.11a, 4.11b).

As maiores diferenças de rv foram encontradas entre as latitudes 20,4° e 20,7º S e entre as

longitudes 48,3° e 48,6º W (Figura 4.11c), indicando que na simulação CANA o ambiente é

mais seco, coincidindo com o local onde a umidade do solo média foi menor e a temperatura

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média foi maior. O resultado do teste t-Student mostrou diferenças significativas, acima do

nível de 99 %, em quase todo o domínio (Figura 4.11d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.11. Campos médios de razão de mistura de vapor d’água (g kg-1) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

Para avaliar a evolução temporal do comportamento das variáveis estudadas, foi

selecionada uma área interior ao domínio da grade. Antes de ser escolhida, esta área passou

por uma verificação, avaliando qual região apresentou a maior quantidade de campos médios

com diferenças entre as simulações CANA e CTL com significância estatística. Desta forma,

a área escolhida compreende as latitudes 20,4° - 20,7° S e as longitudes 48° – 48,3° W

(Figura 4.12).

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Figura 4.12. Área de análise do comportamento temporal das variáveis, onde x e y indicam os intervalos dos pontos da grade utilizados para o cálculo dos valores médios, totalizando 81 pontos de grade (~1024 km2).

As médias mensais dos acumulados de precipitação (Tabela 4.1) das simulações CTL,

CANA e GOFF foram calculadas utilizando o valor médio da área apresentada na

Figura 4.12. Estes resultados foram comparados aos dados do Tropical Rainfall Measuring

Mission (TRMM, versão 3B42-V6, com espaçamento horizontal de 0,25º x 0,25º. detalhes em

http://disc2.nascom.nasa.gov/Giovanni/tovas/TRMM_V6.3B42_daily.shtml1). O satélite

TRMM foi lançado em dezembro de 1997 e tem como objetivo monitorar diversas

características da precipitação em regiões tropicais e subtropicais, preenchendo uma lacuna

existente em relação à aquisição de dados.

O comportamento da precipitação nas três simulações (CTL, CANA e GOFF)

apresentou, em geral, valores superestimados quando comparados aos dados do TRMM. Nos

meses mais chuvosos foram verificadas as maiores superestimativas de precipitação pelo

modelo e, durante a estação seca, verificou-se uma redução significativa da precipitação

simulada. 1 Último acesso em 29/10/2010.

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Tabela 4.1 - Médias mensais dos acumulados de precipitação (mm) na Região Norte do estado de SP, referente aos dados do TRMM e das simulações CTL, CANA e GOFF, entre 25/01/07 e 25/12/07.

Dados JAN* FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ**

TRMM 52 218 93 74 83 03 64 01 07 100 179 185

CTL 87 298 210 171 30 05 23 01 01 174 487 336

CANA 102 373 328 137 27 04 21 00 00 158 518 503

GOFF 158 340 230 257 28 02 19 00 05 236 524 373

* Foram considerados 07 dias do mês (de 25 a 31 de janeiro).

** Foram considerados 25 dias do mês (de 01 a 25 de dezembro).

A Figura 4.13 apresenta a evolução temporal do IAF e do albedo médio. Por se tratar

de uma comparação entre duas simulações com vegetações diferentes, espera-se que o

crescimento destas seja distinto. A cobertura vegetal predominante na simulação CTL é a do

tipo 7 (Evergreen broadleaf tree), que corresponde à vegetação chamada “Mata Atlântica”,

enquanto que na simulação CANA a vegetação predominante na área escolhida é a do tipo 11

(Sugarcane), corresponde à vegetação que representa a “cana-de-açúcar”, inserida no mapa de

vegetação do modelo.

O IAF da simulação CTL manteve-se maior em todo o período simulado, resultando

em uma região onde a radiação solar incide em menor proporção sobre o solo, devido à maior

cobertura foliar (Figura 4.13a). O albedo da simulação CANA apresentou valores superiores

ao CTL em todo o período, com um aumento mais expressivo a partir do mês de agosto

(Figura 4.13b). Em 24/10/07 houve uma queda no valor do albedo devido ao corte da cana-de-

açúcar. Assim, os valores dos parâmetros biofísicos da vegetação cana foram alterados nesta

data. Após ser cortada, a altura da cana-de-açúcar passou para 30 cm e o albedo caiu para

cerca de 0,14. Nota-se que em ambas as simulações os valores de IAF apresentaram uma

queda na mesma época em que o corte da cana foi feito. Isto ocorreu provavelmente devido ao

retorno da ocorrência das chuvas nesta época do ano. O solo estava secando até o mês de

outubro, quando o período chuvoso retornou, reabasteceu as camadas do solo (Figura 4.14) e

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fez o IAF de ambas as vegetações diminuírem. O “corte” da cana-de-açúcar resultou em um

auxílio na queda do IAF, pois, se os parâmetros não estivessem sido alterados no código do

modelo, seria visualizada a queda no IAF da simulação CANA de qualquer maneira. No

entanto, esta queda seria menos brusca, semelhante ao comportamento da vegetação da

simulação CTL.

(a)

(b)

Figura 4.13. Índice de área foliar (a) e albedo (b) para os experimentos CANA e CTL. A linha vermelha tracejada representa o dia do corte da cana-de-açúcar (24/10/07).

A umidade do solo a 1 metro de profundidade apresentou variações diretamente

ligadas aos períodos de maior ocorrência de chuva, contribuindo para o abastecimento de

água nas camadas do solo (Figura 4.14). Observa-se que nas duas simulações os valores da

umidade do solo chegaram ao limiar de 0,42 m3 m-3. Esse valor representa a quantidade

máxima de água que este tipo de solo (Sandy Clay Loam) consegue armazenar.

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66

(a) (b)

Figura 4.14. Umidade do solo a 1 m de profundidade e precipitação para as simulações (a) CANA e (b) CTL.

A Figura 4.15 apresenta os valores de temperatura média mensal para todo o período

de simulação. Os valores médios mensais resultantes da simulação CANA foram superiores

aos da simulação CTL em todos os meses do ano. A maior diferença foi encontrada no mês de

outubro, com valor de 1,8 °C. Apesar do albedo da simulação CANA ter sido

predominantemente maior que o CTL, a temperatura média mensal foi maior na simulação

CANA devido ao solo nesta região ter secado mais do que na simulação CTL. Uma menor

quantidade de água no solo contribui para um maior aquecimento do ar devido à diferença na

capacidade térmica existente entre a água e a terra, sendo a da primeira em torno de quatro

vezes maior que a da segunda.

Figura 4.15. Temperatura média mensal das simulações CANA e CTL.

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67

No que se refere a H e LE médios mensais, foi possível observar que na simulação

CANA, os valores de H foram superiores aos verificados para a simulação CTL praticamente

durante o ano todo, exceto na metade de junho (Figura 4.15a). O comportamento do LE

mostrou que em praticamente todo o período os valores da simulação CTL foram superiores,

sendo a maior diferença, de 95 W m-2, encontrada no mês de setembro (Figura 4.15b).

(a)

(b)

Figura 4.16. Médias mensais do fluxo de calor sensível (a) e do fluxo de calor latente (b) para os experimentos CANA e CTL.

Na Figura 4.17 é apresentado o perfil da umidade do solo nas nove camadas, variando

de 10 cm a 2 m de profundidade, e do fluxo de calor latente. Nas duas simulações verifica-se

que o comportamento de LE segue um padrão com maiores (menores) valores nos períodos

mais úmidos (mais secos) do ano. O perfil da umidade mostra que na simulação CANA o solo

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teve uma maior perda de água, principalmente nas camadas mais rasas, contribuindo para um

maior aumento da temperatura do ar próximo à superfície. Os valores de LE da simulação

CANA foram menores que os da simulação CTL, provavelmente devido ao fato de que a

vegetação do cenário CTL apresentou uma densidade de cobertura foliar maior, resultando em

uma maior quantidade de estômatos, favorecendo a evapotranspiração, causando também um

maior sombreamento do solo, com conseqüente diminuição do aquecimento deste. O

secamento mais significativo ocorreu entre os meses de agosto e outubro, chegando a atingir o

valor mínimo de 0,12 m3 m-3 na simulação CANA. No mês de novembro o regime de chuvas

aumentou e contribuiu para o reabastecimento de água em todas as camadas do solo.

(a) (b)

Figura 4.17. Fluxo de calor latente (W m-²) e umidade do solo (m3 m-3) nas nove camadas das simulações CANA (a) e CTL (b). A parte superior das figuras corresponde ao fluxo de calor latente e a inferior à umidade do solo em relação à profundidade (m).

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69

O ciclo diurno médio da temperatura (Figura 4.18) apresentou um comportamento

bem marcado, com valores máximos às 16 h e mínimos às 7 h. Em fevereiro a temperatura

variou entre 22,6 e 27,7 ºC na simulação CANA e entre 22,2 e 27,2 ºC na simulação CTL. Em

agosto, como esperado, as temperaturas foram menos elevadas, variando entre 16,4 e 24,1 ºC

na simulação CANA e entre 15,9 e 23,3 ºC na simulação CTL.

A Figura 4.19 apresenta os ciclos diurnos médios de Rn, H, LE e fluxo de calor no

solo (G) para as simulações CANA e CTL, nos meses de fevereiro (representando o período

chuvoso) e agosto (representando o período seco), para o ano de 2007. Ressalta-se que G foi

obtido a partir do resíduo do cálculo do balanço de energia (G = Rn – H – LE). Os resultados

referem-se aos valores médios da área indicada na Figura 4.12.

Figura 4.18. Ciclo diurno médio da temperatura para as simulações CANA e CTL nos meses de fevereiro e agosto.

Essas variáveis apresentaram um ciclo diurno bem definido, onde no mês de fevereiro

foi observado valor máximo de Rn de 632 W m-2 na simulação CANA e de 576 W m-2 na

simulação CTL (Figuras 4.19a, 4.19b), indicando a quantidade de radiação disponível que é

utilizada pelo sistema solo-vegetação para os processos de aquecimento do ar e do solo, para

evapotranspiração e fotossíntese. H e LE da simulação CANA (CTL) apresentaram valores

máximos de 186 (186) e 422 (430) W m-2, respectivamente. Em relação ao fluxo de calor no

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solo, na simulação CANA verificou-se maior variação, de -112 a 54 W m-2, enquanto que na

simulação CTL variou entre -67 e 12 W m-2. No mês de agosto, Rn apresentou valor máximo

de 596 W m-2 na simulação CANA e de 644 W m-2 na simulação CTL (Figuras 4.19d, 4.19e).

H e LE da simulação CANA (CTL) apresentaram valores máximos de 113 (119) e 382 (489)

W m-2, respectivamente. Observa-se que G variou entre -117 e 146 W m-2 na simulação

CANA, e na simulação CTL de -84 a 84 W m-2. G apresentou uma maior variação no mês de

agosto, mostrando-se ser um termo importante no balanço de energia, tendo em vista sua

magnitude comparável a de H.

Nota-se através das figuras das diferenças (Figuras 4.19c e 4.19f) que Rn teve

praticamente os mesmos valores durante o período noturno, tanto em fevereiro quanto em

agosto. Contudo, no período diurno esta variável apresentou valores maiores na simulação

CANA no mês de fevereiro, e no mês de agosto esses valores foram maiores na simulação

CTL. Em geral, H foi maior na simulação CANA e LE maior na simulação CTL. Este

resultado mostra uma maior quantidade de energia disponível para o processo de

evapotranspiração na simulação CTL, como pode ser observado na Figura 4.17b. G foi maior

na simulação CANA durante o dia em fevereiro e agosto.

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Figura 4.19. Ciclo diurno médio do saldo de radiação (Rn), fluxo de calor sensível (H), fluxo de calor latente (LE) e fluxo de calor no solo (G), em W m-2. Para as simulações CANA e CTL nos meses de fevereiro e agosto.

O ciclo diurno médio de Ki (Figura 4.20) indica uma maior incidência de radiação na

simulação CANA no mês de fevereiro. Isto contribui para explicar que embora a simulação

CANA tenha um maior albedo, observou-se maior magnitude de Rn (Figura 4.19c).

Provavelmente, essa diferença de Ki está relacionada a uma maior cobertura de nuvens na

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simulação CTL em fevereiro, contribuindo para diminuir a quantidade de energia radiante

incidente na superfície.

(a)

(b)

Figura 4.20. Ciclo diurno médio da irradiância solar incidente (W m-2) para as simulações CANA e CTL, nos meses de (a) fevereiro e (b) agosto.

4.2. Análise do impacto da utilização do modelo GEMTM

Foram realizadas simulações com o intuito de avaliar o efeito da utilização do modelo

de vegetação dinâmica. As duas simulações possuem as informações da cana-de-açúcar e têm

as mesmas características e parâmetros biofísicos do cenário CANA analisado no item 4.1. O

que difere entre as duas simulações neste item é a utilização do modelo de vegetação

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dinâmica, tendo sido a primeira simulação realizada com o GEMTM ativado (GON) e a

segunda simulação com o modelo GEMTM desativado (GOFF).

Nota-se que a precipitação acumulada nas duas simulações teve uma distribuição

semelhante, com maiores valores em ambas as simulações abrangendo os setores norte e

nordeste da área de estudo (Figuras 4.21a e 4.21b). As diferenças de acumulados chegaram a

1200 mm, com o predomínio de locais onde a precipitação na simulação GON foi maior

(Figura 4.21c). Foi observada uma predominância de significância estatística inferior ao nível

de 90% (Figura 4.21d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.21. Precipitação acumulada (mm) para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

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A umidade do solo média na camada a 1 m de profundidade (Figura 4.22) revela que

na simulação GOFF o solo secou mais, sendo a região central da grade a de maior diminuição,

local coincidente com a região do domínio de estudo onde a precipitação atingiu os menores

valores acumulados. As diferenças de umidade do solo chegaram a 0,15 m3 m-3 (Figura 4.22c)

e a significância do teste t-Student apresentou-se predominantemente superior ao nível de 90

% (Figura 4.22d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.22. Umidade do solo média (m3 m-3) a 1 metro abaixo da superfície do solo para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

Os valores médios do albedo das duas simulações são apresentados na Figura 4.23.

Apesar de serem cenários iguais e a diferença estar no crescimento da vegetação na simulação

GON, a diferença entre os valores de albedo médio chegaram apenas a 0,01. Mesmo

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apresentando pouca distinção, o resultado do teste t-Student indicou significância estatística

ao nível de 99 % em praticamente toda a área de estudo (Figura 4.23d). Enquanto uma

vegetação é estática, a outra está crescendo e, assim, sofrendo alterações em suas

características. Consequentemente, mudanças nos valores do albedo são esperadas. A

irradiância solar incidente (Figuras 4.24a, 4.24b) praticamente não apresentou diferenças entre

as simulações GON e GOFF (Figura 4.24c). O teste t-Student não apresentou significância

estatística acima de 90 % em nenhum local da área de estudo (Figura 4.24d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.23. Albedo médio para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

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76

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.24. Irradiância solar incidente (Ki) média (W m-2) para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

O Rn médio variou entre 120 e 165 W m-2 nas simulações GON e GOFF (Figuras

4.25a, 4.25b), sendo as maiores diferenças, de até 12 W m-2, localizadas nas regiões central e

oeste da grade. A significância estatística do teste t-Student apresentou-se em geral abaixo de

90 % (Figura 4.25d).

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77

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.25. Rn médio (W m-2) para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

Os campos médios de H e LE são apresentados nas Figuras 4.26 e 4.27. Os maiores

(menores) valores H (LE) foram, em geral, encontrados no setor oeste da área de estudo

(Figuras 4.26a, 4.26b, 4.27a, 4.27b). Para as duas variáveis as maiores diferenças foram

encontradas principalmente no setor oeste (Figuras 4.26c, 4.27c). A significância do teste t-

Student apresentou-se predominantemente ao nível de 99 % (Figuras 4.26d, 4.27d).

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(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.26. Fluxo de calor sensível (H) médio (W m-2) para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

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79

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.27. Fluxo de calor latente (LE) médio (W m-2) para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

A temperatura média a 19,1 m acima da superfície mostrou o comportamento típico

dessa variável nessas simulações, com os maiores valores nas regiões noroeste e oeste,

estendendo-se em direção ao centro da área de estudo (Figuras 4.28a e 4.28b). A utilização do

módulo vegetativo dinâmico resultou em diferenças de até 1,1 ºC, predominando os maiores

valores de temperatura média na simulação GOFF em todo o domínio (Figura 4.28c),

provavelmente, devido ao fato de em GOFF o índice de área foliar não variar, estando o

módulo GEMTM desativado nessa simulação, resultando em uma vegetação menos

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desenvolvida e propiciando o maior aquecimento da superfície através da radiação solar. A

significância do teste t-Student apresentou-se superior a 99 % em toda a grade (Figura 4.28d).

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.28. Temperatura média (ºC) para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

O vento horizontal médio (Figura 4.29) evidencia o regime dos ventos de leste como

encontrado anteriormente na Figura 4.10. As diferenças chegaram a 0,4 m s-1 na região norte

do domínio. Em geral, as menores diferenças no escoamento do vento entre as simulações

GON e GOFF foram sobre as regiões sul e leste da área de estudo (Figura 4.29c).

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81

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.29. Vento horizontal médio para as simulações (a) GON, (b) GOFF, (c) diferença (GON – GOFF) e (d) teste t-Student.

A razão de mistura de vapor d’água (g kg-1) indicou maiores magnitudes na simulação

GON (Figuras 4.30a e 4.30b). As maiores diferenças foram encontradas na região oeste da

área de estudo, chegando a 1,2 g kg-1 (Figura 4.30c). A significância do teste t-Student

apresentou-se superior a 99 % em toda a grade (Figura 4.30d).

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82

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4.30. Campos médios de razão de mistura de vapor d’água (g kg-1) para as simulações (a) CANA, (b) CTL, (c) diferença (CANA – CTL) e (d) teste t-Student.

A partir da Figura 4.31 foi utilizada a mesma área da Figura 4.12, ou seja, os

resultados gerados são referentes à média na área que compreende as latitudes 20,4° – 20,7 °S

e as longitudes 48° - 48,3° W.

Na Figura 4.31, o IAF da simulação GOFF não varia com o tempo, devido ao módulo

GEMTM estar desativado. Mesmo com a vegetação estática, o que se pode notar é um

comportamento do albedo semelhante ao da simulação GON, evidenciando que não é apenas

o módulo vegetativo dinâmico que exerce influência no comportamento do albedo nas

simulações.

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(a) (b)

Figura 4.31. Índice de área foliar (a) e albedo (b) para os experimentos GON e GOFF. A linha preta tracejada indica o dia do corte da cana na simulação GON.

A Figura 4.32 exibe os valores de temperatura média mensal (°C) para todo o período

de simulação. Os valores resultantes da simulação GOFF foram superiores na maior parte do

ano. A diferença mais significativa surgiu no mês de setembro, atingindo 1,6 °C. O fato de o

módulo vegetativo dinâmico estar desativado na simulação GOFF contribui para que o solo

mais exposto à radiação solar tenha um maior secamento das camadas e consequente

aquecimento do ar próximo à superfície terrestre.

Figura 4.32. Temperatura média mensal das simulações GON e GOFF.

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Sobre a média mensal de H, nota-se que os maiores valores foram encontrados na

simulação GOFF durante o ano todo (Figura 4.33a), mas, contrariamente, falando-se de LE,

maiores magnitudes foram encontradas na simulação GON (Figura 4.33b), resultado que

apresenta a simulação GOFF como um ambiente mais seco.

(a)

(b)

Figura 4.33. Médias mensais de H (a) e LE (b) para os experimentos GON e GOFF.

A umidade do solo a 1 m de profundidade na simulação GOFF apresentou maior

secamento da camada ao longo do período de simulação (Figura 4.34b). Como visto

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anteriormente, a menor cobertura foliar da simulação GOFF contribui para que o solo esteja

mais exposto e perca mais água devido ao aquecimento e conseqüente evaporação. A

precipitação demonstrou sua ação direta sobre o reabastecimento de água nas camadas do

solo. Na Figura 4.35, o ciclo diurno médio da temperatura mostra que no mês de fevereiro os

resultados das duas simulações foram muito próximos, mas em agosto as diferenças foram

maiores, principalmente durante o dia.

(a) (b)

Figura 4.34. Umidade do solo (m3 m-3) a 1 metro de profundidade e precipitação (mm) para as simulações (a) GON e (b) GOFF.

Figura 4.35. Ciclo diurno médio da temperatura (ºC) para as simulações GON e GOFF nos meses de fevereiro e agosto.

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86

Capítulo 5: Conclusões

Este trabalho buscou analisar, por meio de experimentos de modelagem numérica da

atmosfera, com alta resolução horizontal, os possíveis impactos causados pela mudança no

uso do solo em áreas de cultivo de cana-de-açúcar para a região norte do Estado de São Paulo

e também o impacto da utilização do módulo vegetativo dinâmico, GEMTM, acoplado ao

modelo BRAMS nas simulações. Foram criados dois cenários e o ano de 2007 foi escolhido

como o período de análise, sendo os cenários simulados para o período entre 10 de janeiro e

25 de dezembro. Inúmeras simulações foram realizadas com o modelo e os parâmetros

biofísicos do módulo LEAF-3 foram modificados para a representação da cultura de cana-de-

açúcar. O teste t-Student foi aplicado com o intuito de identificar os locais em que as

diferenças entre as simulações apresentaram significância estatística.

Os resultados apresentados revelaram diferenças significativas entre as simulações.

Primeiramente, a comparação entre as simulações CANA e CTL demonstrou que a condição

da umidade nas camadas do solo foi de grande importância. No cenário em que a cana-de-

açúcar foi inserida, o solo apresentou um maior secamento e uma maior exposição devido ao

menor índice de área foliar deste tipo de vegetação, facilitando a elevação da temperatura da

atmosfera próximo à superfície. O secamento mais pronunciado se deu, em geral, na região

central da área de estudo, um dos locais onde a presença da cana-de-açúcar é dominante.

O albedo manteve-se maior na simulação CANA em todo o período, mas, mesmo

assim, foi observado um maior saldo de radiação sobre a cana-de-açúcar, possivelmente

devido à menor cobertura de nuvens simulada pelo modelo, contribuindo para uma maior

oferta de radiação próximo à superfície. Em geral, os valores médios de temperatura foram

mais elevados com a adição da cana-de-açúcar, principalmente nas regiões central e noroeste

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da área de estudo. Os fluxos de calor sensível e latente tiveram um comportamento

concordante com a situação esperada para os tipos de vegetação estudados. Em geral, foram

observados maiores valores de LE na simulação CTL e maiores valores de H na simulação

CANA.

A distribuição de precipitação durante o ano de 2007 mostrou-se predominantemente

maior quando a cana-de-açúcar foi inserida no arquivo de uso do solo do modelo, ressaltando

que em alguns locais essas diferenças não são verificadas. As simulações CANA, CTL e

GOFF em geral superestimaram os valores médios mensais acumulados de precipitação

quando comparados aos dados do TRMM, principalmente durante o período chuvoso.

O escoamento horizontal do ar sobre o cenário CTL apresentou-se, em geral, menos

intenso devido à maior rugosidade da vegetação correspondente à Mata Atlântica em relação à

cana-de-açúcar, principalmente na região central da área de estudo.

A utilização do módulo vegetativo dinâmico para simular a cana-de-açúcar mostrou

que, quando este módulo está desativado a umidade nas camadas mais rasas do solo tendem a

diminuir ainda mais, pois o IAF não varia com o tempo e o solo continua mais exposto à

radiação solar, contribuindo para um secamento mais significativo próximo à superfície. Com

o módulo GEMTM desativado a temperatura média foi maior em todo o domínio de estudo,

chegando a superar em até 1,1 °C a temperatura obtida na simulação em que este módulo

esteve ativado.

Este trabalho demonstrou que estudos referentes às mudanças no uso do solo são

imprescindíveis para entendermos como os cenários atuais e futuros podem afetar o

comportamento do tempo e do clima da Terra, fazendo-nos buscar cada vez mais

esclarecimentos sobre estas questões de grande importância.

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5.1. Sugestões para trabalhos futuros

Este trabalho apresentou um estudo de modelagem numérica referente às mudanças no

uso do solo em áreas de cultivo de cana-de-açúcar para o ano de 2007. Maiores testes com o

GEMBRAMS são necessários para detectar a capacidade deste modelo em simular

dinamicamente culturas ao longo de diferentes períodos.

Foram realizadas modificações nos parâmetros biofísicos da cana-de-açúcar. Estes

parâmetros necessitam de mais testes e de comparações para outras localizações do Brasil e

tipos de vegetação, visando ajustes dos mesmos para cada localidade de interesse.

A condição inicial da umidade do solo apresentou-se como um aspecto de extrema

importância, proporcionando um intenso secamento/umedecimento das camadas do solo

dependendo de como esses valores são fornecidos ao modelo. Esse fato necessita ser

analisado mais profundamente, objetivando buscar uma melhor representação da realidade.

Adicionalmente, uma melhoria na estrutura do código para permitir uma maior capacidade de

processamento em paralelo, utilizando uma maior quantidade de processadores, torna-se

necessária para a realização de simulações de longa duração.

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99

APÊNDICE A

Descrição do modelo GEMTM

Extraído e adaptado de Chen & Coughenour (1994)

A.1. Descrição do modelo

A.1.1. Submodelo de microclima

Os processos de microclima considerados incluem a transferência de radiação no

dossel das plantas, balanço de energia na superfície e no dossel, transferência turbulenta

(perfis de vento ou resistências aerodinâmicas), camada limite (laminar) e resistências de

superfície (resistência do dossel e resistência da superfície do solo).

A.1.1.2. Transferência de radiação no dossel

O processo de transferência de radiação incidente no dossel das plantas é complicado

pela multireflexão entre as folhas e pelas interações entre a distribuição dos ângulos das

folhas e os ângulos de luz incidente. A capacidade de reflexão do sistema dossel-superfície-

solo é muito afetada por estes processos. A refletância do dossel também é dependente de

propriedades espectrais da folha e da superfície do solo.

Para modelar a distribuição de radiação e albedo do dossel, para diferentes bandas

espectrais de radiação, foi adotado o modelo de Goudriaan (1977), que é um modelo que

fornece detalhes para a transferência de radiação no dossel. A radiação incidente foi dividida

em visível, infravermelho próximo e radiação térmica. As equações gerais de diferenças

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100

finitas para um dossel com qualquer distribuição do ângulo da folha são (Goudriaan, 1977;

Chen, 1983):

))],()),(1()(1,(

)),()),(1()(,([)()(),()()1,(9

11

ikikjiI

ikikjiIiMkBjkIkMjkI

u

di

idtd

ρεετ

τεερ

+−++

+−+=+ ∑− (A.1)

))],()),(1()(1,(

)),()),(1()(,()[()()1,()(),(9

11

ikikjiI

ikikjiIiMkBjkIkMjkI

u

idiutu

τεερ

ρεετ

+−−+

+−++= ∑− (A.2)

em que Id (k,j) e Iu(k,j) são as densidades de fluxo de radiação descendente e ascendente na

subcamada j; k é a classe de inclinação da radiação incidente; i é o índice da inclinação do

raio incidente; ρ e τ são os coeficientes de reflexão e de transmissão de folhas,

respectivamente; Mi(i) e Mt(k) são as probabilidades de interceptação e de penetração da

radiação com inclinação k ao passar por uma subcamada de folhas; Bl(k) é a distribuição zonal

da radiação espalhada por uma subcamada; ε nas equações (1) e (2) é a função de

distribuição da reflexão/transmissão ponderada pela distribuição do ângulo das folhas. O total

dos fluxos de radiação descendente e ascendente em qualquer subcamada no interior do

dossel, Itd(j) e Itu(j) foram encontrados pelo somatório de Id(k, j) e Iu(k, j) ao longo das nove

classes de inclinação:

∑=

=9

1),()(

kdtd jkIjI (A.3)

No topo do dossel (j=1),

∑=

=9

1),()(

kutu jkIjI (A.4)

⎩⎨⎧

+=

SbSdkBSdkB

kIu

ud )(

)()1,(

ISUNkISUNk

=≠ (A.5)

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101

Na superfície do solo (j= M),

∑=

−=9

1)1,()(),(

kdusu MkIkBMkI ρ (A.6)

em que Sd é a radiação difusa e Sb é a radiação direta incidente no topo do dossel, ISUN é o

índice do ângulo da altura do sol; M é o número de camadas do dossel, igual à IAF/Ls no

modelo; Ls é o índice de área foliar de uma subcamada; sρ é o coeficiente de reflexão da

superfície do solo, que é função do conteúdo de água da superfície do solo.

A.1.1.3. Balanço de energia do dossel e da superfície do solo

O Solo, o dossel e a atmosfera foram agregados para o cálculo das trocas de energia e

massa. A condutância estomática afeta consideravelmente o particionamento de energia em

forma de calor sensível e latente, e é muito sensível à radiação recebida na superfície da folha.

Por isso, o dossel foi dividido em folhas sombreadas e iluminadas pelo sol, que foram tratadas

separadamente para obter estimativas mais precisas para a resistência do dossel.

A rede de resistência do sistema é mostrada na Figura A.1. Como na lei de Ohm, as

trocas de calor latente e sensível entre a superfície e a atmosfera podem ser descritas com as

seguintes equações:

1 1( ) [ ( ) ] /cp cp cp ss a p s cp aRA RB RS LE RA LE C e T eρ γ+ + + = − (A.7)

1 2 1( ) [ ( ) ] /cp ss ss ss a p s ss aRA LE RB RS RA RA LE C e T eρ γ+ + + + = − (A.8)

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102

Figura A.1. Rede de resistências do balanço de energia da superfície e do dossel.

1 1( ) ( )cp cp ss a p cp aRA RB H RA H C T Tρ+ + = − (A.9)

1 1 2( ) ( )cp ss ss a p ss aRA H RA RA RB H C T Tρ+ + + = − (A.10)

em que cpLE e ssLE são os fluxos de calor latente no dossel e na superfície do solo,

respectivamente; cpH e ssH são os fluxos de calor sensível no dossel e na superfície do solo,

respectivamente; 1RA e 2RA são as resistências aerodinâmicas do dossel médio à altura de

referência e da parte inferior do dossel médio, respectivamente; cpRS e ssRS são as

resistências da superfície do dossel e da superfície do solo. cpRB e ssRB são as resistências da

camada limite do dossel e da superfície do solo (aqui as resistências para o vapor de água e

calor são consideradas iguais); ( )s cpe T e ( )s sse T são pressão parcial de vapor d'água saturados

na temperatura do dossel cpT e temperatura da superfície do solo ssT ; ae é a pressão de vapor

efetiva da água na altura de referência; pC é o calor específico do ar; aρ é a densidade do ar;

γ é o parâmetro psicrométrico.

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103

Existem seis variáveis desconhecidas nas quatro equações acima, cpLE , ssLE , cpH ,

ssH , cpT e ssT , quando as resistências relevantes são dadas. Para fechar o sistema, a equação

do balanço de energia é aplicada para o dossel e a superfície do solo, respectivamente:

cp cp cp cpRNSW RNLW LE H+ = + (A.11)

ss ss ss ss ssRNSW RNLW LE H G+ = + + (A.12)

em que RNSW e RNLW são radiação líquida de ondas curtas e longas, respectivamente. Os

subscritos cp e ss representam o dossel e a superfície do solo. ssG é o fluxo de calor da

superfície do solo, que é obtido a partir do submodelo de dinâmica térmica do solo.

As radiações líquidas de ondas curtas do dossel e da superfície do solo foram

calculadas utilizando a saída do submodelo de transferência de radiação, ou seja, a refletância

do dossel e da superfície do solo, a transmissão e a refletância da superfície do solo para a

radiação de onda curta:

0 0(1 ) (1 )cp vcs vcp ics icpRNSW RNVS RNISρ τ ρ τ= − − + − − (A.13)

0 0(1 ) (1 )ss vss vcp iss icpRNSW RNVS RNISρ τ ρ τ= − ∗ + − ∗ (A.14)

em que 0RNVS e 0RNIS representam a radiação incidente no visível e infra-vermelho

próximo no topo do dossel, respectivamente; vcsρ , icsρ , vssρ e issρ são os coeficientes de

reflexão da superfície do solo e do dossel e superfície do solo para o visível e radiação no

infravermelho próximo, respectivamente; vcpτ e icpτ são os coeficientes de transmissão do

dossel para radiação na faixa do visível e infravermelho próximo, respectivamente. De acordo

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104

com a lei de Stefan-Boltzmann, a radiação de onda longa líquida (térmica) para o dossel e a

superfície do solo pode ser descrita como:

4 4 4 4 4 4[( ) ( )(1 ) ( )]cp cp sky c cp sky c cp slRNLW T T f T T f T Tσ ε= − + − − + − (A.15)

4 4 4 4 4 4[( ) ( )(1 ) ( )](1 )ss ss sky c ss sky c ss cpRNLW T T f T T f T Tσ ε= − + − − + − − (A.16)

em que skyT é a temperatura aparente do céu, sendo estimada a partir de Monteith (1973) e

Goudriaan (1977) por:

21 0.2( 273) 02 1

a a csky

a c

T T fT

T f− + − =⎧ ⎫ ⎡ ⎤

= →⎨ ⎬ ⎢ ⎥− =⎩ ⎭ ⎣ ⎦ (A.17)

em que cf é a fração de céu claro, ε é o fator de sombreamento, calculado a partir de

Goudriaan (1977) através de:

1 bdk LAIeε −= − (A.18)

em que bdK é o coeficiente de extinção para a radiação térmica difusa.

A.1.1.4. Resistência aerodinâmica

A resistência aerodinâmica entre duas alturas 1z e 2z é descrita por Thom (1975)

como:

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105

2

1

2 11 2 2

*

( )1( , )z

mz

u uRA z z dzK u

−= =∫ (A.19)

em que mK é o coeficiente de transporte turbulento; 1u e 2u são as velocidades do vento em

duas alturas e *u é a velocidade de atrito. Perfis de velocidade do vento acima do dossel são

descritos usando a função logarítmica:

*

0

ln mu z du

zκ⎛ ⎞−

= −Ψ⎜ ⎟⎝ ⎠

(A.20)

em que κ é a constante de Von Karman, igual a 0,4; d e 0z são, respectivamente, o

deslocamento do plano zero e a rugosidade da superfície. mΨ é uma função de correção de

estabilidade térmica do ar descrito por Businger et al. (1971) e Paulson (1970) como:

2 1

4.7( ) / / 0/ 02ln[(1 ) / 2] ln[(1 ) / 2] 2 tan ( ) / 2

ob obm

ob

z d L z d Lz d Lx x x π−

− − − >⎧ ⎫ ⎡ ⎤Ψ = →⎨ ⎬ ⎢ ⎥− <+ + + − + ⎣ ⎦⎩ ⎭

(A.21)

0.25[1 15( ) / ]obx z d L −= − − (A.22)

em que obL é comprimento de Monin-Obukhov, calculado por:

3* / ( )ob p a aL u C T gHρ κ= − (A.23)

em que g é aceleração da gravidade (9,8 ms-2), e H é o fluxo de calor sensível. Os perfis de

vento dentro do dossel são descritos utilizando uma função exponencial, de acordo com

Campbell (1977) e Goudriaan (1977), tal que:

(1 / )cz zcu u e α− −= (A.24)

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em que cu é a velocidade do vento na altura do dossel cz ; α é o fator de extinção para a

velocidade do vento, sendo modelado a partir de Goudriaan (1977) por:

( ) / (2 )d c m wC LAIz L iα = (A.25)

em que dC é coeficiente de arrasto; wi é um parâmetro que representa a intensidade de

turbulência dentro do dossel (0.6); mL é a distância média entre as folhas e calculado pela

fórmula:

(4 ) / ( )m L cL w z LAIπ= (A.26)

em que Lw é a largura das folhas.

A.1.1.5. Resistência da camada limite (laminar) de folha única e superfície

de solo

A resistência laminar de uma superfície é uma função da velocidade do vento local e

do tamanho geométrico da superfície (Campbell, 1977; Monteith & Unsworth, 1990).

Segundo Goudriaan (1977), a resistência da camada limite de uma folha singular 1RB e da

superfície do solo ssRB é dada por:

0.51 90( / )LRB w u= (A.27)

0.5180( / )ss ssRB w u= (A.28)

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em que ssw é a dimensão característica da superfície do solo. A resistência total da camada

limite do dossel cpRB é calculada com base em 1RB assumindo que as folhas do dossel estão

dispostas em paralelo.

A.1.1.6. Resistência do dossel e da superfície do solo ao vapor d’água

A resistência do dossel cpRS é calculada com base na condutância estomática de uma

única folha e resistência cuticular assumindo que o fluxo de transpiração é de um grande

número de folhas em paralelo (Shuttleworth & Wallace, 1985; Choudhury e Monteith, 1988):

1/ ( / )cp sl sl sh sh cutRS g LAI g LAI LAI R= + + (A.29)

em que slg e shg são a condutância estomática das folhas iluminadas pelo sol e folhas

sombreadas simuladas na fotossíntese e nos submodelos de condutância estomática. cutR é a

resistência cuticular da folha.

A resistência da superfície do solo à perda de vapor d'água, ssRS , foi uma função de

conteúdo relativo de solo-água na superfície do solo, modelada empiricamente a partir de

Chen & Lieth (1992) por:

0 ( / )nss ss sRS RS= Θ Θ (A.30)

em que 0ssRS é a resistência ao conteúdo de água no solo saturado, n é um parâmetro. sΘ é

a quantidade de água no solo saturado na superfície. Θ é o real conteúdo de água no solo na

superfície, que é a saída do submodelo de dinâmica de água no solo.

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108

A.1.2. Submodelo de dinâmica térmica do solo

A temperatura do solo e sua distribuição desempenham papéis importantes, não só em

trocas de energia e massa entre a superfície terrestre e a atmosfera, mas também nos processos

biológicos e físico-químicos abaixo do solo, tais como a respiração e transformações da

matéria orgânica do solo. A dinâmica térmica do solo é modelada resolvendo a equação de

condução de calor em condições de contorno dadas. Para o transporte de calor na vertical, a

equação de condução é:

s sh h

T TC kt z z

∂ ∂∂ ⎛ ⎞= − ⎜ ⎟∂ ∂ ∂⎝ ⎠ (A.31)

em que sT é a temperatura do solo; hC é a capacidade térmica do solo; hk é a condutividade

térmica do solo; z é a profundidade do solo.

A capacidade térmica do solo hC ( 1 3JK m− − ) é uma função do conteúdo de água no

solo Θ e calculada de acordo com De Vries (1975):

6(0.3 ) 4.18 10hC = +Θ × × (A.32)

A condutividade térmica do solo hk (W 1m− 1K − ) é calculada de acordo com Ben

Mehrez et al.(1992):

0.50.06 0.5hk = + Θ (A.33)

Na superfície do solo, o fluxo de calor no solo ssG é dado por:

0/ |ss h s zG k T z == ∂ ∂ (A.34)

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109

A.1.3. Submodelo de dinâmica de água-solo

O transporte de água no solo é modelado com base na lei de Darcy e da conservação

de massa. Quando apenas o movimento vertical da água é considerado, a equação é dada por:

w ww w

w

k St z z

∂Ψ ∂Ψ∂Θ ∂ ⎛ ⎞= − −⎜ ⎟∂Ψ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠ (A.35)

em que wk é a condutividade hidráulica do solo; wΨ é o potencial total da água, que consiste

no potencial matricial do solo, mΨ , e no potencial da gravidade; wS é a taxa de absorção de

água pela raiz em uma unidade de volume do solo. A condutividade hidráulica do solo wk é

dependente do conteúdo de água e características hidráulicas do solo (ou textura). De acordo

com Campbell (1974), a condutividade hidráulica em solo não saturado, Θ , é modelada

como:

2 3( / ) bw s sk k += Θ Θ (A.36)

em que sΘ e sk são a quantidade de água no solo saturado e a condutividade hidráulica

saturada, respectivamente, e b é uma constante; sΘ , sk e b são dependentes da textura do

solo. Na literatura existem muitas formulações empíricas relativas ao potencial matricial do

solo ( mΨ ) para o conteúdo de água no solo. A partir de Campbell (1974) e Clapp e

Hornberger (1978), o potencial matricial do solo é modelado por:

/( / )/( / )( / 1)

bs is s

ms is s

wwm n

− Θ Θ ≤⎧ ⎫Ψ Θ Θ ⎡ ⎤⎪ ⎪Ψ = →⎨ ⎬ ⎢ ⎥Θ Θ >− Θ Θ − Θ Θ −⎪ ⎪ ⎣ ⎦⎩ ⎭ (A.37)

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em que sΨ é o potencial matricial do solo saturado, que é uma função da textura do solo,

com b , sk e sΘ constantes; iw é o conteúdo solo-água relativo no ponto de inflexão do mΨ

(0,92). As expressões para os parâmetros m e n são dadas por:

2(1 ) / [ (1 )]2 / ( ) 1

i i i i i

i i i

m w b w wn w b mw

−= Ψ − − Ψ −= − Ψ −

(A.38)

em que iΨ é o potencial matricial correspondente à iw .

A captação de água pela raiz wS é uma função da diferença entre o potencial de água na

planta e do potencial de água no solo e das resistências ao longo da via de transporte de água,

modelado com a seguinte equação:

( ) / ( )w plant w soil rad xylS R R R= Ψ −Ψ + + (A.39)

em que wΨ , é o potencial hídrico do solo, plantΨ é o potencial hídrico da planta na base do

caule. soilR é a resistência hidráulica ao transporte de água do solo circundante médio à

superfície da raiz. radR é a resistência à água em toda a superfície da raiz ao xilema. xylR é a

resistência no xilema. Segundo Gardner (1960), soilR é uma função de densidade de

comprimento radicular RLD , raio da raiz rootr e condutividade hidráulica do solo wk e

modelado como:

2ln[1/ ( )] / (4 )soil root wR RLDr k RLD zπ π= Δ (A.40)

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As resistências radR e xylR são simuladas empiricamente a partir de Chen & Lieth (1992) e

Hillel et al. (1976):

0

0

/ ( )/

rad rad

xyl xyl

R R RLD zR R z RLD

= Δ=

(A.41)

em que 0radR e 0xylR são parâmetros para uma única raiz.

A captação total de água pela raiz é igual à quantidade total de transpiração do dossel,

quando a capacidade de água da planta é ignorada. Então, o equilíbrio hídrico da planta é

dado por:

cp wE dl S dz=∫ ∫ (A.42)

em que cpE é a taxa de transpiração foliar e l é a área foliar.

Combinando as equações A.39 e A.42, o potencial de água na planta pode ser

encontrado com a seguinte equação:

/ ( )

1/ ( )w soil rad xyl c

plantsoil rad xyl

R R R dz E dl

R R R dz

Ψ + + −Ψ =

+ +∫ ∫

∫ (A.43)

A.1.4. Submodelo de crescimento da planta e produção de biomassa

O submodelo de crescimento da planta e produção de biomassa inclui: fotossíntese da

folha, condutância estomática, respiração da planta, particionamento de fotoassimilados,

desenvolvimento da planta (fenologia) e dinâmica de distribuição da zona de raízes. O

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carbono entra no sistema através da fotossíntese e é distribuído entre as folhas, caules e raízes.

Uma porção é respirada na conversão da assimilação do material estrutural. A alocação de

fotoassimilados entre diferentes partes é dependente da fase de crescimento da planta

(fenologia) e das condições ambientais (como o estresse hídrico).

A.1.5. Dinâmica da distribuição espacial da raiz

A distribuição espacial das raízes, além do seu crescimento, é um importante

determinante de absorção de água e nutrientes, balanço de água e nutrientes das plantas. O

modelo de captação da água das raízes exige a distribuição do comprimento da raiz como

entrada. O padrão da distribuição espacial das raízes é resultado da interação entre a planta e o

solo. Vários fatores influenciam o crescimento das raízes e sua distribuição espacial,

incluindo a disponibilidade de fotoassimilados, umidade do solo, temperatura, nutrientes e

suas distribuições, salinidade, aeração e toxicidade química. Desses, apenas os efeitos da

umidade do solo, temperatura e disponibilidade de carboidratos foram considerados. O

crescimento radicular consiste em vários processos simultâneos, incluindo ramificações,

extensão e morte. A zona de raiz é dividida em várias camadas com profundidades que são

consistentes com as camadas de água do solo e temperatura. O crescimento do sistema

radicular e sua distribuição espacial são representados pela dinâmica da densidade de raízes

nessas camadas do solo. O peso seco total disponível para o crescimento da raiz, ou seja, a

taxa de crescimento de peso seco total da raiz dWr/dt, é atribuído a cada subcamada da zona

de raízes em proporção à sua força de escoamento.

A intensidade do desaparecimento do crescimento radicular (root growth sink

strength) é representado como a taxa de crescimento radicular potencial PRi de cada camada

com a seguinte equação:

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i i i iPR B E D= + − (A.44)

em que Bi é a taxa de aumento de peso da raiz por ramificação, Ei é a taxa de aumento do peso

da raiz por extensão, e Di é a taxa de diminuição do peso da raiz por senescência e morte.

A taxa de ramificação Bi foi assumida como dependente da densidade radicular

existente RWDi, e influenciado pelo potencial matricial do solo ψ mi e pela temperatura do

solo Tsi com a seguinte relação:

1 2[1 ( / )] ( ) ( )i r i i m mi siB b RWD RWD RWD f f T= − Ψ (A.45)

em que RWDm é a densidade radicular máxima (peso seco de raiz por unidade de volume de

solo) e br é uma constante. As funções 1f e 2f representam os efeitos do potencial matricial

do solo e da temperatura no crescimento radicular, respectivamente. Seus valores variam de 0

a 1. A taxa de extensão Ei é modelada com a seguinte equação:

1 1 , 1 2 , 1 1max{( ),0}(1 / ) ( ) ( ) /i r i thr i m m i s iE e RWD RWD RWD RWD f f T z− − −= − − Ψ Δ (A.46)

em que e r é uma constante, e RWDthr é o limiar da densidade radicular para a extensão da raiz

em uma camada inferior adjacente. izΔ é a profundidade da camada i. Aqui a extensão da raiz

para cima é ignorada. Por razões de simplificação, a redução da densidade de raízes, devido à

senescência e morte foi assumida ser proporcional à densidade de raiz existente em peso:

1[1 ( )]i r i mD d RWD f= − Ψ (A.47)

Uma função exponencial decrescente com potencial matricial do solo foi adotada para

o modelo 1f (WESTGATE & BOYER, 1985; CHEN & LIETH, 1993), de modo que:

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( )1( ) 1 m thr

mf e β− Ψ −ΨΨ = − (A.48)

em que thrΨ é o limiar de potencial matricial do solo para o crescimento da raiz, e β é um

coeficiente. A função do índice de temperatura do solo 2f foi modelada utilizando uma

equação de Arrhenius modificada (CHEN & LIETH, 1993):

1 2 3 32

1 2

[1 exp( / )]exp( / / )( )

1 exp( / )opt s opt

ss

a a T a T a Tf T

a a T+ − −

=+ −

(A.49)

em que a1, a2 e a3 são parâmetros, e Topt é a temperatura ideal para o crescimento da raiz. Estes

valores da taxa de crescimento potencial são normalizados, de modo que a força de

escoamento relativa Si ou a fração particionada para cada camada é:

1/i i j

jS PR PR

=

= ∑

(A.50)

A dinâmica da densidade de raízes em cada camada é dada por:

/ /i i rdRWD dt S dW dt= (A.51)