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MODELO DE MATURIDADE ORGANIZACIONAL APLICADO À
INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL
MENDONÇA, Gabriel Santana1; FRANCA, Veruschka Vieira2
1 Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Sergipe, [email protected]
2 Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Sergipe, [email protected]
Resumo: O presente estudo abrange a indústria da construção civil e suas práticas de gestão.
Cujo setor, no Brasil, ocupa uma posição de destaque e contribuindo com cerca de 10% do
PIB brasileiro. O presente trabalho teve como objetivo validar a aplicação, em uma empresa
do Estado de Sergipe, de um modelo de maturidade organizacional desenvolvido para
empresas de construção civil (CIM3), com o objetivo de diagnosticar o nível de maturidade do
setor de qualidade. Dessa forma, foi possível dimensionar quantitativamente o estágio da
gestão da qualidade da construtora e colaborar para o desenvolvimento de novas ações que
promovam a melhoria contínua e contribuam para a competitividade deste setor.
Palavras-chave: Qualidade; Maturidade ; Construção.
ORGANIZATIONAL MATURITY MODEL APPLIED TO INDUSTRY
CONSTRUCTION
Abstract: The present study covers a construction industry and its management practices.
Whose sector, in Brazil, occupies a prominent position and contributes with about 10% of the
Brazilian GDP. The objective of this study was to validate an application, in a company in the
State of Sergipe, of a registration model organized for civil construction companies (CIM3),
with the purpose of diagnosing the liquidity of the quality sector. In this way, it was possible to
quantitatively quantify the construction quality management stage and the employee to develop
new actions that promote a continuous and contributory solution for a competitiveness of this
sector.
Keywords: Quality, Maturity; Construction.
1 Introdução
O momento atual é marcado pela crescente competitividade entre as organizações que
buscam adotar modelos de gestão mais adequados para promoverem um diferencial
competitivo. Nessa trajetória, as empresas aprimoram seus processos e práticas gerenciais de
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acordo com seu próprio ritmo e delineando o estágio de maturidade em que se encontram,
quanto à sua organização interna.
A indústria da construção civil no Brasil ocupa uma posição de destaque, apresentando
um crescimento de 74,25%, entre 1994 e 2013, e contribuindo com cerca de 10% do PIB
brasileiro (SINDUSCON-MG, 2014). Contudo, apresenta diversas carências quanto à gestão,
que corroboram para a presença de deficiências como: desperdício de materiais, baixa qualidade
dos produtos, retrabalhos nos processos e atrasos na entrega, ocorram rotineiramente
(COLOMBO, 2002).
Portanto, diante deste cenário o presente trabalho pretende ampliar a discussão da
contribuição e aplicação de um modelo de maturidade organizacional no setor da construção
civil, pois para as empresas conseguirem destaque no mercado precisam de um diferencial, o
que pode ser conquistado por meio da melhoria de seus processos com foco na produtividade e
qualidade.
Os modelos de maturidade de processo geralmente descrevem um conjunto de etapas
relevantes para a área de interesse e a escala em que o aumento de maturidade pode ser avaliado.
A maturidade é associada a organizações cujos processos são capazes de produzir melhores
resultados e foram originalmente observados para serem comparados, até que atinjam o maior
estágio de maturidade. A capacidade é geralmente avaliada em relação ao desempenho
eficiente, ou seja, menor tempo de conclusão com menor número de defeitos (MCBRIDE et al.,
2004).
Segundo Wendler (2012), os modelos de maturidade oferecem às organizações uma
possibilidade simples, mas eficaz, de medir a qualidade de seus processos, na medida em que
podem servir como um quadro de referência que apresenta uma abordagem sistemática e bem
direcionada de melhorias, o que garante qualidade, evita erros e avalia as suas próprias
capacidades.
De acordo com Willis e Rankin (2012), um modelo de maturidade adota o princípio de
um caminho evolutivo para melhoria dos processos de uma organização, em que se precisa
percorrer diversas etapas de progressão para se atingir a eficácia da realização de suas tarefas.
Willis e Rankin (2012) propuseram um modelo específico de maturidade aplicado a
indústria da construção civil (CIM3), o qual é dividido em áreas-chave e para cada área são
propostas práticas-chave, que são tarefas e formas para se atingir um objetivo dentro da obra.
Nelas estão as atividades, normas e infraestrutura necessária para se alcançar um objetivo
especifico. Cada prática chave é analisada para se dimensionar a capacidade da construtora de
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realizar com eficiência aquela atividade, posteriormente, relaciona-se esse desempenho com o
nível de maturidade para aquele caso.
2 Procedimentos metodológicos
O método utilizado neste trabalho baseia-se no modelo de maturidade CIM3 para a
construção civil de Willis & Rankin (2012). No entanto, novos parâmetros foram definidos
para a realização deste estudo em relação aos propostos pelos autores.
O nível de maturidade será calculado nas Equações (1) e (2) através de 2(dois) estágios
propostos pelo modelo inicial, no qual o nível 2 analisa a realização da prática-chave, com o
seu devido peso e o nível de desempenho na prática daquela tarefa pela organização. Já o
primeiro e último estágio aborda o somatório das pontuações de cada prática chave multiplicada
pelo peso da APC (Área da Prática Chave).
O cálculo funciona da seguinte forma:
𝐸𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜1: 𝑃𝑜𝑛𝑡𝑢𝑎çã𝑜 Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑃𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑎 𝐶ℎ𝑎𝑣𝑒
= ∑ 𝑝𝑜𝑛𝑡𝑢𝑎çã𝑜 𝑝𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑎 𝑐ℎ𝑎𝑣𝑒 𝑥 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑎 á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑝𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑎 𝑐ℎ𝑎𝑣𝑒 (1)
𝐸𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜 2: 𝑃𝑜𝑛𝑡𝑢𝑎çã𝑜 𝑝𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑎 𝑐ℎ𝑎𝑣𝑒 = 𝑃𝑒𝑠𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑎 𝑥 𝑁í𝑣𝑒𝑙 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑠𝑒𝑚𝑝𝑒𝑛ℎ𝑜 𝑑𝑎 𝑝𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑎
(2)
A escala de pesos utilizada para cada APC é mostrada no quadro 1, ela segue valores de
0 (nenhuma importância); 0,5 (média importância) a 1 (muito importância). Foram atribuídos
os valores máximos a qualidade e custo por se tratarem segundo Al-Aomar (2012) de pilares
para o sucesso de projetos da construção civil, juntamente com o tempo da obra.
A problemática do estudo foi abordada somente na visão da APC de gestão da qualidade,
a qual é o foco do projeto de pesquisa. No quadro 3 estão listadas as práticas-chaves desta área
em especifico e os pesos respectivos de cada uma, em que todas receberam importância máxima
de 1. A respeito do nível de desempenho na prática de determinada tarefa pela organização, as
notas foram divididas como mostra o quadro 2.
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Quadro 1 – Peso das APCs
Área prática-chave (APC) Peso da APC
Gestão da Qualidade 1
Gestão de Custos 1
Gestão Ambiental 0,5
Gestão de R.H. 0,5
Gestão de Saúde e segurança 0,5
Gestão de Suprimentos 0,5
Fonte: Autoria própria
Quadro 2 – Nota por desempenho
Desempenho das atividades Nota
Não realiza a prática 0
Estágio inicial da prática 0,5
Realiza muito bem a prática 1
Fonte: Autoria própria
Ao final do processo de cálculo dos estágios de maturidade, calcula- se o desempenho
em porcentagem da organização em relação a área da prática-chave segundo a Equação (3).
Para qualidade e custos (peso 1), o máximo possível é a pontuação 8, já para as demais (de peso
0,5) a pontuação máxima é 4; considerando que todas as áreas possuam 8 práticas chaves cada
uma.
𝐷𝑒𝑠𝑒𝑚𝑝𝑒𝑛ℎ𝑜(%)
= 100 𝑥 (∑𝑃𝑜𝑛𝑡𝑢𝑎çã𝑜 Á𝑟𝑒𝑎 𝑑𝑎 𝑃𝑟á𝑡𝑖𝑐𝑎 𝐶ℎ𝑎𝑣𝑒 ÷ 𝑃𝑜𝑛𝑡𝑢𝑎çã𝑜 𝑀á𝑥𝑖𝑚𝑎)
(3)
Com o resultado de desempenho, é possível indicar o nível de maturidade da
organização naquela APC. Através dos índices, que seguem a mesma classificação dada por
Willis & Rankin (2012), como mostrado na figura 1, pode-se afirmar o estágio de maturidade.
Eles são divididos em três: imaturo, em transição e maduro. O primeiro se caracteriza quando
o uso das práticas-chaves é inconsistente ou feito sem planejamento anterior. Já o segundo, em
transição, ocorre quando a utilização das práticas-chaves é padronizada e consistente para
maioria dos projetos realizados. E por último, a fase madura configura-se na realização das
práticas-chave de maneira proativa (uso de tecnologia ou com técnicas inovadoras), sendo feitas
de forma consistente na grande maioria dos projetos da organização.
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Figura 1 – Níveis de maturidade utilizados no CIM3
Fonte: Adaptado de Willis & Rankin (2012).
A validação da realização das práticas-chaves pela organização, na APC da gestão da
qualidade, é feita com a construção de um questionário desenvolvido neste projeto. A partir
dele, correlaciona-se as práticas-chaves requeridas pelo modelo com perguntas que visam
comprovar que as ações são de fato tomadas pela organização.
Caso a organização não atenda a nenhuma pergunta relacionada a prática-chave, ela
receberá a nota zero no desempenho da atividade, como segue o quadro 3. Já se a empresa
atender parcialmente as perguntas, será atribuída a nota 0,5 (desempenho moderado). Por fim,
se forem atendidas todas as exigências das perguntas selecionadas para a prática chave, deve se
atribuir a nota 1 (valor máximo).
Quadro 3 – Práticas-chaves e o respectivo peso
Praticas chave na área prática-chave (APC) de gestão da qualidade Peso da
Prática
1- Existência de um código nacional de construção para garantir níveis de desempenho aceitáveis. 1
2- A organização utiliza o TQM para garantir e melhorar a qualidade. 1
3- A organização faz uso de normas da ISO para aumentar a qualidade. 1
4- Especificações de qualidade são colocadas no contrato para definir requerimentos de qualidade
em vários aspectos. 1
5- Semanalmente ou mensalmente são feitos relatórios acerca de questões de qualidade durante a
execução da obra. 1
6- Realização de inspeções de qualidade durante as construções. 1
7-Planos de gestão da qualidade são usados nos projetos de construção como um meio de Garantia
de qualidade. 1
8- Preenchimento de listas de inspeções com problemas de qualidade para serem corrigidos. 1
Fonte: Adaptado de Willis & Rankin (2012)
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3 Revisão bibliográfica
Oztas et al. (2007) afirmam que a indústria da construção civil mostra um ritmo rápido
de crescimento neste século. As empresas do ramo têm reconhecido algo novo; a cultura de
qualidade. Os autores alegam também que mensurar a qualidade envolvida permite aos
gerentes saberem o quanto eles estão próximos de suas metas e como tomar as decisões certas
para a melhoria dos processos de trabalho. As práticas adotadas pelo setor da construção, sua
cultura e organização são muito diferentes dos outros setores de produção, assim é preciso
adaptar seus processos para que seja possível transportar as concepções de qualidade e gerar
valor para seus clientes (THOMAS et al., 2002).
Apesar do sucesso da implementação de ideias da produção enxuta em diferentes países,
esses problemas ainda persistem na indústria em geral. Em economias emergentes, como o
Brasil, ainda existe pouca preocupação com a falta de confiabilidade da indústria da construção
em termos de qualidade do produto e seus impactos na duração e custos do projeto e satisfação
do cliente. A construção civil tem sido protegida da competição globalizada. Dessa forma, na
ausência de pressões competitivas para a melhoria na gestão da qualidade, as motivações para
evoluir na qualidade dos empreendimentos estão na insatisfação dos clientes e na exigência do
governo pela conformidade dos sistemas de gestão da qualidade com a ISO9001 (THOMAS et
al., 2002).
De acordo com Finnermore et al. (2000), a construção civil não tem sido capaz de
avaliar sistematicamente os processos de construção, priorizar melhorias e recursos de forma
apropriada. Como também, por não existir um modelo de processo padrão nas empresas do
ramo, é difícil para essas avaliar e medir o seu desempenho com o tempo e em relação às
concorrentes. Finnermore et al. (2000) chegaram à conclusão que um sistema de gestão da
qualidade que promova mudanças na forma de gestão das construtoras, bem como, outros
mecanismos de controle de processos, teriam benefícios na indústria da construção similares
àqueles que modelos como o CMM (Capability Maturity Model) - Modelo de Capacidade da
Maturidade- já retratava na indústria de softwares.
Devido às características específicas da indústria da construção civil, existem diversos
fatores influenciadores na qualidade, como diferentes equipes e locais de trabalho, o que acaba
por dificultar a medição da eficácia do sistema e assim, o método torna-se subjetivo. Além
disso, existe uma lacuna no desenvolvimento de práticas para mensurar a qualidade no setor da
construção civil (OZTAS et al., 2007). Todavia, os mesmos explanam que qualidade pode ser
expressa em números. Mesmo que as medidas de qualidade tornem as ferramentas e técnicas
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uma avaliação subjetiva, um modelo numérico fornece uma indicação da eficiência ou não do
sistema de gestão da qualidade utilizado. No estudo realizado por Oztas et al. (2007) foi
desenvolvido um sistema de pesos para apontar a eficácia das empresas de construção civil da
Turquia no quesito sistema de gestão da qualidade.
Marossezeky et al. (2002) afirmam que os mecanismos de controle da qualidade são
designados para atender aos requerimentos dos gestores do sistema ao invés de melhorar a
qualidade do produto para o cliente. Embora os empreiteiros se motivem para usar o certificado
da série ISO9000 em seus projetos, a justificativa é mais burocrática do que o interesse em
controlar os processos. Em muitos casos, os resultados para o sistema de gestão da qualidade
tendem a ser abstratos e pouco relevantes para a construção em si (MAROSSZEKY et al.,
2002).
Marossezeky et al. (2002) afirmam que o planejamento em construção civil é pouco
confiável e experiências mostram que menos de 70% das tarefas designadas são realizadas com
os recursos planejados. Ainda segundo os autores, os planejamentos são tomados assumindo
que as obras são estáveis e ocorrem em um processo constante. Contudo, a prática mostra que
os canteiros de obras são complexos, dinâmicos e às vezes, caóticos. Como forma de solução,
eles propõem a elaboração de checklists, que seria uma lista com as atividades de cada trabalho,
e deve ser produzida com a participação dos envolvidos. O preenchimento dela deve ser feito
pelo encarregado do trabalho e logo depois, inspecionada pelo supervisor. Ela pode ser alterada
no decorrer dos processos, caso necessário. E por fim, deve haver uma porcentagem de
conclusão das tarefas, a fim de motivar os trabalhadores a atingirem os melhores resultados e
servir de base para premiações. A tarefa inicial para o gerenciamento do local é preparar um
plano de controle e anexado a este devem existir listas de verificação simples (normalmente
fornecidas como padrão pela organização da empresa). As listas de verificação preenchidas
pelos trabalhadores precisam ser recolhidas e analisadas pela gestão, em caso de falhas de
qualidade, é da responsabilidade tanto dos trabalhadores da construção quanto da gerencia
reagirem para resolver os problemas, imediatamente (MISFELDE; BONKE, 2004).
Marosszeky et al. (2005) propõem a criação de uma lista de verificação entre as
atividades, a ideia é o preenchimento de uma lista que identifique problemas de qualidade em
qualquer trabalho anterior que possam atrapalhar a tarefa subsequente no local ou que o
trabalhador migre para outra área sem finalizar o trabalho que realizava. Na qual, os
responsáveis pela atividade seguinte iriam assina-la, a fim de evitar os retrabalhos. Os mesmos
autores também sugeriram o desenvolvimento e implementação de um Registro de Incidentes
de Defeitos para regular o intercâmbio de informações entre o pesquisador e o supervisor local.
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Marossezeky et al. (2002) citam o empoderamento como mecanismo de gerenciamento
na gestão da qualidade. No qual, foi chamado pelos autores de: qualidade na fonte, assim a
tomada de decisão seria menos burocrática e o tempo de resposta aos erros seria mais rápido.
Dessa forma, os trabalhadores da construção deveriam ter a influência de poder parar a
produção se notassem falhas na qualidade. Como também, poderem decidir sobre a reparação
de falhas de menor qualidade (MISFELDE; BONKE, 2004). Entretanto, os pesquisadores
esclarecem que em relação a gestão da qualidade, deve ser mantido um equilíbrio entre o
empoderamento local e o controle e registros necessários para a garantia de qualidade em todos
os níveis (MAROSSZEKY et al., 2002).
Thomas et al. (2002) afirmam que a qualidade do produto não é só uma consequência
do sistema de gestão e procedimentos, mas sim da coesão organizacional entre os setores. De
acordo com Leão et al. (2013), a integração do controle da produção e qualidade é considerada
uma ferramenta para reduzir os incidentes de trabalhos incompletos e a perda por making-do,
este ocorre quando uma tarefa é iniciada sem todos os recursos estarem disponíveis.
De acordo com Vaidyanathan e Howell (2007), a construção civil está na infância da
gestão da cadeia de suprimentos e processos. Uma das características únicas desse setor seria a
colaboração das empresas em torno da cadeia de suprimentos da construção, necessária para a
conclusão de um projeto. Uma cadeia de fornecimento da construção civil (CFCC) envolve
colaboração entre diferentes firmas. Um robusto modelo de maturidade de CFCC é uma
maneira consistente para as empresas se auto avaliarem, avaliarem outras empresas e também
se organizarem para chegar a maturidade no processo desejado. O que impactaria num melhor
controle e por sua vez, melhor qualidade dos materiais empregados e serviços prestados às
empreiteiras no momento da construção.
Vaidyanathan e Howell (2007) salientam que a maturidade deve ser realizada em etapas,
desde a mudança de um estágio de maturidade para o próximo. Podem existir processos de
mudanças, possíveis instalações de novas tecnologias de ferramenta e até mesmo rearranjos nas
funções das pessoas envolvidas. Alcançar a maturidade organizacional é um processo longo e
não uma solução rápida em curto prazo. É um processo contínuo alcançado fazendo as tarefas
de forma consistente, repetidamente, ao longo dos anos. Os autores ainda complementam que
as empresas devem selecionar parceiros para a cadeia de suprimentos, que possuam um
alinhamento estratégico similar e de mesmo nível de maturidade.No estudo desenvolvido por
Nesensohn et al. (2014) acerca da maturidade na aplicação da construção enxuta, eles afirmam
que o mais alto grau de maturidade é quando se chega ao status que é desafiado a melhorar
ainda mais algo que já é bem executado.
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Ishikawa considera o TQC (Total Quality Control)- Controle total da qualidade- como
o desenvolvimento, projeto, produção, marketing e serviços com o melhor custo-benefício para
que os clientes adquiram os produtos com satisfação. O mesmo guru da qualidade também
acrescenta que para atingir esses objetivos, todas as partes da empresa/organização precisam
funcionar de forma conjunta. Do modelo TQC evoluiu-se na década de 80 para o TQM (Total
Quality Management)-Gestão total da qualidade. O TQM tem como ideia principal que a
qualidade esteja na função do gerenciamento organizacional , ou seja, não se limitando as
atividades de controle; como exemplo um principio do TQM é o relacionamento com
fornecedores (CARVALHO et al., 2005).
4 Resultados
Com o objetivo de aplicar o modelo de maturidade estudado ao longo do projeto de
pesquisa, foram encaminhados e-mails de solicitação para aplicação do estudo a 8 (oito)
construtoras atuantes em Sergipe, mas apenas 1(uma) se mostrou interessada em participar da
pesquisa. Por sua vez, a empresa estudada é uma Construtora Sergipana que atua no mercado
há 30 anos, reconhecida pelo elevado padrão de qualidade com empreendimentos de médio e
grande porte. Cuja política de qualidade dela é: Buscar o aperfeiçoamento construtivo e a
melhoria contínua dos nossos serviços e produtos visando a satisfação do cliente.
Foi realizada uma entrevista com um engenheiro Civil da tal empresa para o
preenchimento do questionário elaborado. Além disso, o entrevistado permitiu que toda a
conversa fosse registrada num gravador e que trechos dela pudessem ser escritos no trabalho,
contanto que o sigilo fosse preservado. A partir das respostas dadas pelo engenheiro foi possível
identificar as práticas utilizadas pela empresa em suas obras e as que ainda não realizam.
A Construtora possui seu sistema de gestão da qualidade certificado pela ISO:9001-2008
e também pelo PBPQ-H (2012) nível A. Segundo o entrevistado, a empresa aplica um controle
de qualidade em suas obras, como citado por ele num trecho:
Sim. Inspeções, lista de verificação.... Eu tenho as FVs, que são as fichas de
verificação e os PEs que são os procedimentos de execução. Os PEs explicam
como deve executar e depois para conferir com a lista de verificação
(ENTREVISTADO, 2017).
Como também, ele afirmou que os preenchimentos das listas de verificação são feitos
pelos estagiários e a frequência dessas verificações variam com o tipo de serviço a ser
vistoriado. Já os procedimentos de execução das tarefas, estão disponíveis caso haja dúvida nos
passos para se realizar uma tarefa e passarão por uma reforma para se adequar a alguns itens da
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norma ABNT NBR 15575-1 (norma de desempenho) que não eram realizados. Esses
documentos são visualizados nas figuras 2 e 3.
A empresa passa por auditorias externas de consultorias contratadas, mas também são
realizadas trimestralmente auditorias internas de qualidade feitas por engenheiros da própria
construtora; segundo o engenheiro.
Figura 2 – Listas de verificação
Fonte: Autoria própria
Figura 3 – Procedimentos de execução
Fonte: Autoria própria
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Os pedreiros recém contratados recebem treinamento de qualidade e segurança logo que
entram na empresa, todavia o entrevistado não sabia informar quanto tempo de duração eles
levam. Foi dito também que a construtora possui uma equipe de mão-de-obra antiga e
experiente, em que algumas são especificas para um determinado serviço. Entretanto, eles não
possuem autonomia para o preenchimento das listas de verificação do controle de qualidade.
Essa atividade é destinada exclusivamente aos estagiários e em alguns casos para o Mestre de
obra ou engenheiro. Dessa forma, percebe-se que não há uma prática de empoderamento das
práticas da gestão da qualidade a todos os trabalhadores de obra, porém existe uma
disseminação dos conhecimentos da política da qualidade e práticas a eles quando são treinados.
Em relação a existência de práticas de gestão da qualidade na etapa de elaboração do
plano de projeto do empreendimento, o engenheiro afirmou que recebe o projeto já elaborado.
Estes são feitos por empresas especificas de Sergipe, Bahia ou Pernambuco. Desse modo, ele
respondeu que são raros os casos de compatibilização ao projeto realizado pela equipe dele.
Contudo, o projetista não especifica os materiais, produtos e processos que devem ser
empregados, essa parte é a equipe de engenheiros da Construtora que define.
Sobre a norma brasileira de desempenho da ABNT NBR 15575, o engenheiro disse que:
Um supervisor da obra e outro engenheiro já tomou um treinamento sobre a
norma de desempenho (...) não verificava se atendia, mas com o treinamento
viu que muitos itens já atendia e outros vai ter que mudar (sic).
(ENTREVISTADO, 2017).
Entre esses itens já seguidos pela Construtora, ele citou os casos do revestimento dos
prédios feitos pela empresa que são totalmente revestidos de pastilha e o tipo de laje maciça
empregada. Já que os engenheiros tiveram acesso a laudos de construtoras de outros Estados
que utilizam o mesmo material e as obras destas estavam em conformidade com itens da NBR
15575, como o isolamento acústico das vedações internas e externas dos edifícios. Desse modo,
percebe-se que a equipe de engenharia tem conhecimento da norma, mas não a aplica totalmente
nos empreendimentos realizados.
Com relação a gestão de suprimentos, foi respondido que a empresa exige laudos de
qualidade dos fabricantes de materiais utilizados nas obras, como alumínio, bloco cerâmico e
vidro. E somente compra areia, bloco cerâmico e brita de fornecedores que possuam a licença
ambiental do produto.
Através das informações obtidas sobre as práticas da gestão da qualidade, da Construtora
estudada, será possível calcular o nível de maturidade organizacional na APC da qualidade.
Para isto, serão utilizadas o método de maturidade exposto nos procedimentos metodológicos
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deste trabalho. Com isso, pode-se desenvolver o quadro 4 com as notas de desempenho de cada
prática chave e consequentemente, as notas finais do estágio 2 e 1 desta APC.
Quadro 4 – Maturidade da APC (Qualidade) da Construtora
Peso da APC (Qualidade) Prática chave Peso da p.c. Nota Estágio 2 Estágio 1
1
PC1 1 0,5 0,5
6
PC2 1 0,5 0,5
PC3 1 1 1
PC4 1 0,5 0,5
PC5 1 1 1
PC6 1 1 1
PC7 1 0,5 0,5
PC8 1 1 1
Fonte: Autoria própria
Nesta configuração de pesos, a nota máxima possível para o estágio 1 seria de valor
8(oito) se todas as práticas chaves recebessem uma nota de desempenho máxima de 1(um).
Todavia, as notas atribuídas a cada prática chave basearam-se nas respostas dadas pelo
entrevistado a cada pergunta do questionário que é relacionada a uma PC. Dessa forma,
percebe-se que a empresa não deixa de cumprir nenhuma PC, mas algumas são realizadas de
forma inicial e precisam evoluir, já outras são executadas com um bom desempenho.
Por fim, o desempenho final da empresa nesta APC é de 75% (6/8), por meio do uso da
Equação (3), o que identifica um modelo de maturidade em transição caracterizado por práticas
chaves já padronizadas como o preenchimento de listas de inspeções com problemas de
qualidade para serem corrigidos ou a realização de inspeções de qualidade durante as
construções.
5 Considerações finais
A execução de boas práticas da gestão da qualidade é fundamental para a satisfação do
cliente. Dessa forma, investir e melhorar essa área numa construção torna-se uma ferramenta
para se destacar no mercado. O presente estudo colabora para o levantamento do estado da arte,
no dimensionamento quantitativo das ações das empresas na área da qualidade, o que facilita
para a empresa se conhecer internamente e desenvolver melhorias para sua gestão.
É recomendável a empresa estudada ampliar a autonomia dada aos pedreiros para uma
identificação in loco e mais rápida dos problemas de qualidade, se adequar totalmente a ABNT
NBR 15575 e treinar sua equipe de engenharia para se inteirar dos requisitos desta. Como
também, ter uma maior participação nas diretrizes de qualidade feitas no plano de projeto da
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obra e disponibilizar os índices de qualidade com dados sobre retrabalhos/defeitos para todos
os engenheiros e trabalhadores do empreendimento.
Como benefícios deste artigo, pode-se indicar uma adaptação mais objetiva de um modelo
de maturidade organizacional já existente; a disseminação do uso de modelos de maturidade no
setor de construção civil; o diagnóstico quantitativo do estado da arte de práticas da gestão da
qualidade em uma construtora sergipana e a disseminação de técnicas de gestão para a melhoria
do nível de competitividade das organizações.
O estudo limitou-se a analisar as práticas chaves da gestão da qualidade na construção
civil, mas outras áreas podem ser analisadas por este método de maturidade organizacional.
Vale ressaltar que a pesquisa buscou o contato somente de empresas reconhecidas pelo serviço
prestado e que se utilizassem de práticas da qualidade em sua gestão interna. Uma outra
limitação foi o número baixo, somente uma, de construtoras do Estado que se disponibilizaram
a participar da pesquisa. Assim, isto impossibilitou uma comparação de práticas utilizadas entre
diferentes construtoras de Sergipe.
Agradecimentos
Agradeço a CAPES-CNPq pela bolsa financeira de apoio a esta pesquisa, a Professora
Débora De Gois do Departamento de Engenharia Civil Da UFS pelas colaborações e a
Orientadora Dra. Professora Veruschka Vieira Franca.
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