Modelos Gestão: Qualidade...

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2.ª edição 2009 Modelos Qualidade Produtividade e Gestão: de Maria Cristina Munhoz Araújo

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2.ª edição2009

ModelosQualidade

Produtividadee

Gestão:de

Maria Cristina Munhoz Araújo

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A687m

Araújo, Maria Cristina MunhozModelos de gestão : qualidade e produtividade / Maria Cristina Munhoz Araújo.

2. ed. – Curitiba, PR: IESDE, 2009.268 p.

Inclui bibliografiaISBN 978-85-387-0909-1

1. Escolas - Organização e Administração. 2. Gestão de qualidade total na edu-cação. 3. Democratização da educação. I. Título.

09-1320 CDD: 371.2CDU: 371.2

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Mestre em Educação pela PUCPR – Área de Gestão da Educação. Especialista em Tecnologia de Projetos Educacionais pela UFPR. Pedagoga, com habilitação em Administração Escolar. Autora de material didático para Pós-Graduação em Gestão Educacional e para a Educação Infantil. Professora de Pós-Graduação nas áreas de Gestão da Educação, Educação Infantil e Séries Iniciais, Educação Inclusi-va e Inovações Pedagógicas.

Maria Cristina Munhoz Araújo

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Sumário

Historicizando brevemente: da administração empresarial à gestão democrática ..................................... 11

Origem e desenvolvimento ................................................................................................... 11

Evidenciando o papel da gestão educacional e o per�l do gestor escolar .......................... 25

Da administração autocrática à democrática ................ 41

Modos de produção e a escola: descompassos e desa�os ..................................................... 59

Breve histórico e desa�os na gestão escolar ................................................................... 59

Administração escolar e transformação social .............. 75

O papel do educando no processo de produção pedagógico ................................. 77

O conceito de produto da educação escolar .................................................................. 78

Natureza do saber envolvido no processo educativo escolar ................................... 78

Na contramão de uma gestão educacional de qualidade: a gestão da qualidade total na escola ........ 87

Referencial teórico .................................................................................................................... 87

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Estabelecendo a qualidade de educação desejada: a escola como construtora da cidadania ...101

Análise dos paradigmas ........................................................................................................101

Especificidade da organização escolar ............................................................................104

Qualidade na educação ........................................................................................................105

A qualidade como processo e qualidade total: estabelecendo paralelos ........................117

Conceitualizando: qualidade e produtividade ............133

Discutindo qualidade ............................................................................................................133

O que se entende por qualidade? .....................................................................................133

De que forma acontece ou se produz qualidade? ......................................................135

Retomando a gestão democrática: instrumento principal para a transformação do processo qualitativo da educação ................................149

Os alicerces da construção e manutenção da gestão democrática ..............................165

Quando se fala em autonomia, deve-se ter claro qual é seu significado ...........167

Instrumentos fundamentais à construção da gestão democrática: programa de formação continuada .....183

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Instrumentos fundamentais à construção da gestão democrática: instituindo o planejamento participativo .....................199

O que é o Projeto Político-Pedagógico? .........................................................................201

Instrumentos fundamentais à construção da gestão democrática: a prática pedagógica baseada na ação-reflexão-ação ................217

Avaliação institucional: instrumento relevante para o aperfeiçoamento da educação ............................225

Qual é a nossa pretensão maior com este texto? ........................................................232

Gabarito .....................................................................................239

Referências ................................................................................259

Anotações .................................................................................267

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Apresentação

Prezado aluno,Durante a escrita deste livro, estive por diversas e diversas vezes ao seu lado seja como colega, professor, diretor ou mantenedor, colocando-me no papel com certa facilidade por ter exercido todas essas funções e ainda no exercício do ma-gistério da Educação Superior e na direção e sendo sócia-proprietária de escola de Educação Infantil e Fundamental.Hoje, um dos fatores que me permite escrever sobre educação é justamente a experiência rica na área educacional. Outro fator está calcado na formação acadê-mica em Pedagogia, especialização em Administração Escolar e em Tecnologia de Projetos Educacionais e Mestrado em Educação, na área de Gestão Educacional.Respaldada nessa caminhada, permeada de teoria, prática e re�exão, propus-me a não somente escrever Gestão Educacional, antes preocupei-me em, indepen-dente do cargo/função que você exerça, pois entendo todos como gestores de sua sala de aula, se professor, da equipe de professores, se coordenador, e... con-ceber um programa para a disciplina Modelos de Gestão: qualidade e produtivida-de, que contemplasse conteúdo e re�exões essenciais ao aprofundamento teóri-co, imprescindível à fundamentação da prática, objetivando possibilitar a você o estudo e também a vivência da proposta de uma educação diferenciada da que está posta na sociedade atual, voltada ao capitalismo, numa visão neoliberal.Trago à tona a proposta de uma nova escola, propiciadora de educação para a cidadania e, em decorrência, a gestão democrática, historicizando e contextuali-zando no intuito de elucidar desde a origem e desenvolvimento da Administra-ção Empresarial e a Educacional até a conceituação, fundamentação, construção e manutenção da Gestão Democrática, discutindo no percurso a Qualidade em Educação.Ressalto, neste contexto, estabelecendo paralelos, o desenvolvimento da huma-nidade relacionado à educação e ao trabalho.O indicativo ao aproveitamento do estudo desta disciplina estará no seu cons-tante estabelecimento de relações à teoria já conhecida por você e a sua prática. Além disso, utilize não só as pontuações de leitura nos textos mas vá às referên-cias bibliográ�cas e poderá vislumbrar ainda mais uma educação humanista e igualitária, fazendo com que você amplie o seu conhecimento e seja mais feliz como pessoa e pro�ssional, podendo possibilitar aos seus alunos, professores, a alegria de aprender, desvelando a realidade, a �m de transformá-la, buscando uma sociedade justa e solidária.Desejo a você, expressando o meu respeito e interesse na sua apropriação/cons-trução de um conhecimento, que este livro propicie seu crescimento pessoal e pro�ssional.

Maria Cristina

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Origem e desenvolvimentoAs propostas de administração foram surgindo através dos tempos,

a partir da formação de organizações sociais, como: família, tribo, igreja, exército e estado, bem como mediante o desenvolvimento da sociedade humana.

Desde a Antiguidade, existem ideias de como coordenar os empreen-dimentos. Os egípcios apresentaram princípios administrativos que nor-teiam seus projetos arquitetônicos. Os gregos e os romanos se sobressaí-ram ao dirigir empreendimentos cooperativos, como aventuras militares, obras públicas e sistemas judiciários. Aristóteles, na Grécia, estabeleceu princípios para o desenvolvimento de atividades cientí�cas. Em Roma, estabeleceram-se princípios de governo fundamentados no conceito de ordem. A Igreja Católica Romana estabeleceu diretrizes para sua atuação doutrinária e os princípios de hierarquia.

Em virtude do processo produtivo, a exigência de maior organização fez surgir indústrias, reorganizando a produção artesanal nas famílias, exi-gindo, pois, estudos formais voltados à administração, tendo isso ocorri-do, principalmente, com a Revolução Industrial, na Inglaterra, nos séculos XVIII e XIX.

A teoria administrativa do século XX está respaldada no desenvolvi-mento das escolas: a clássica, a psicossocial e a contemporânea.

A escola clássica foi representada por três movimentos:

A administração cientí�ca de Taylor, que estabelece o caráter cientí- ��co dos processos produtivos e a e�ciência na empresa. Criador da administração cientí�ca, preocupa-se com o controle e a racionaliza-ção do trabalho, dando ênfase ao capital. Taylor buscava determinar cienti�camente os melhores métodos para a realização de qualquer

Historicizando brevemente: da administração empresarial à gestão democrática

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Modelos de Gestão: Qualidade e Produtividade

tarefa e para selecionar, treinar e motivar os trabalhadores. Taylor baseou sua �loso�a em quatro princípios básicos:

o desenvolvimento de uma verdadeira ciência da administração, no �intuito de ser possível determinar o melhor método para realizar cada tarefa;

a seleção cientí�ca dos trabalhadores, a �m de que cada um deles �cas- �se responsável pela tarefa para a qual fosse mais bem habilitado;

a educação e o desenvolvimento cientí�co do trabalhador; �

a cooperação íntima e amigável entre a administração e os trabalha- �dores.

A administração como ciência, de Henri Fayol, que propõe a previsão, a �organização, o comando, a coordenação e o controle como suas fases fun-damentais, apresentando também os princípios da divisão de trabalho. Fayol se interessava pela organização total e acreditava que a adminis-tração era uma habilidade como qualquer outra, que pode ser ensinada, desde que se compreendesse seus princípios básicos.

A administração burocrática de Max Weber, propondo uma estrutura de �poder e autoridade, ou seja, defendia a necessidade de uma hierarquia de�nida e governada por regulamentos e linhas de autoridade claramen-te de�nidos.

A escola psicossocial apresenta a abordagem das relações humanas, repre-sentadas por Elton Mayo e outros, contrapondo-se ao critério da e�ciência eco-nômica trazida pela escola clássica e no comportamento administrativo de Ber-nard e Simon. Essa escola concebe a organização como um sistema orgânico e natural, preocupando-se com a integração funcional em função dos objetivos organizacionais, avançando em relação à escola clássica, mantendo, entretanto, os critérios da e�ciência e e�cácia, mas relacionado ao sistema de decisões.

A escola contemporânea surge no início da década de 1980 e, segundo Hora (2000), em função da instabilidade econômica e política em nível internacional, surgiram questionamentos, levando a novas perspectivas teóricas da administra-ção, sendo críticas, com base na fenomenologia, no existencialismo, no método dialético e nas abordagens de ação, vinculando os atos e fatos administrativos à relevância humana, considerando, portanto, a administração e a qualidade de vida humana dos participantes, imbuídos de suas próprias opções existenciais.

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Critérios adotados nas diversas escolasCabe destacar a diferença signi�cativa, em termos de critérios adotados pelos

teóricos da escola clássica, da psicossocial e da contemporânea, pois re�etem diretamente no sistema educacional. Aquelas de�nem e�ciência – produzir o máximo com o mínimo de recursos e tempo e alta produção – e e�cácia – atingir os objetivos voltados aos interesses organizacionais. Já a contemporânea elege como critério a efetividade – mensuração da capacidade de produzir solução pelos participantes da comunidade. Há, aqui, compromisso com objetivos so-ciais e políticos da comunidade, preocupando-se com o desenvolvimento socio-econômico e a melhoria das condições de vida humana.

Bordignon apud Ferreira e Aguiar (2000), quando enfoca a elaboração do pla-nejamento, utiliza na relação: �nalidade (de�nição da �loso�a, das políticas e objetivos institucionais) e ambiente (orienta as ações de acompanhamento do projeto), além dos tradicionais conceitos de e�ciência e e�cácia (restritos à di-mensão organizacional) os de efetividade e congruência. Estes dois últimos são conceitos que buscam situar a organização no seu ambiente.

Dessa forma, deixa a organização, seja educacional ou não, de estar volta-da apenas ao atingimento de metas internas e passa a um nível mais amplo, abrangendo externamente, movimentos político-sociais. Assim, a efetividade se sobrepõe à e�ciência.

Critérios esses analisados na administração, com base nas teorias críticas, es-tabelecendo como critério-chave a relevância humana na orientação dos atos e fatos administrativos. “A relevância humana é um critério eticamente �losó�co e antropológico, cuja medida se dá em termos do signi�cado, do valor, da impor-tância e da pertinência dos atos e fatos administrativos para a vida dos partici-pantes.” (HORA, 2000, p. 40).

Re�exos na educação brasileiraNessa concepção teórica, está implícita a postura participativa dos responsá-

veis pela administração. Dessa forma, o grau que se imprime ao processo admi-nistrativo de participação, de democracia e de solidariedade é que ampliará as possibilidades de promoção de qualidade de vida humana. Aí, à administração educacional e ao administrador cabem um outro papel: o de coordenador da ação, atentando às características e aos valores dos grupos de indivíduos, com vistas à realização plena desses.

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Modelos de Gestão: Qualidade e Produtividade

Tratamos até aqui das teorias da administração in�uenciadoras da teoria da administração escolar brasileira, denotando que simplesmente copiaram-se os conceitos e as teorias desenvolvidas para outra realidade, com cultura própria, e não educacionais, e foram aplicadas nas escolas brasileiras.

Segundo Paro (1993), não constitui absurdo ou heresia utilizar conhecimen-tos desenvolvidos em outra realidade, desde que se faça uma análise crítica e se proceda à adequação dos conceitos e teorias à realidade escolar brasileira. Pode, assim, a teoria da administração escolar situar-se historicamente e desenvolver sua função crítica, retomando a especi�cidade da administração vinculada à na-tureza da educação, pois a natureza do processo educativo é diversa da natureza do processo produtivo.

Assim, administrar uma escola não signi�ca apenas aplicar técnicas e méto-dos desenvolvidos para empresas que não têm qualquer propósito com a reali-zação de objetivos educacionais.

Tais objetivos têm a ver com a própria construção da humanidade do educan-do, à medida que é pela educação que o ser humano atualiza-se como sujeito histórico, em termos do saber produzido pelo homem em sua progressiva dife-renciação do restante da natureza, segundo Paro (1997, p. 7).

A produção teórica sobre administração escolar no Brasil, em sua maioria, acaba adotando os princípios administrativos utilizados nas empresas capita-listas, mesmo que implicitamente. Ocorre, entretanto, que a administração es-colar �ca sendo vista pelos educadores como decorrente, ou mais ainda, mera aplicação da administração geral, “a administração escolar é uma das aplicações da administração geral; ambas têm aspectos, tipos, processos, meios e objetivos semelhantes” (RIBEIRO, 1978, p. 95). Nessa visão, a administração geral passa a ter validade universal, pois seus métodos e técnicas podem ser aplicados em qualquer organização, uma vez adaptados.

Ainda, essa visão de administração traz à luz uma dimensão restrita, valori-zando somente os aspectos administrativos, descontextualizados sociopolítico e economicamente, nas possíveis soluções aos problemas. A citação a seguir evi-dencia o que acabamos de dizer:

A problemática central da escola brasileira, possivelmente da escola em geral, parece situar-se em uma falha de natureza administrativa, qual seja, a sua incapacidade de ajustar-se às exigências da vida contemporânea, ajustamento esse que requer, necessariamente, ação organizada e planejada, realizada por pessoas quali�cadas, a �m de que sejam atendidas as crescentes demandas quantitativas e qualitativas da sociedade atual. (ALONSO, 1978, p. 11)

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Após essas colocações, é importante retomarmos a colocação de Paro, desta-cando a especi�cidade da administração e da escola e a adequação de conceitos e teorias, pois, ao desconsiderar esses elementos essenciais, assume a adminis-tração escolar uma postura acrítica a serviço dos interesses e necessidades do capital, comprometida com os objetivos e interesses da classe capitalista, que detém o poder político e econômico na sociedade brasileira, a �m de assegurar a manutenção do status quo.

De fato, na medida em que a prática da administração escolar é tratada do ponto de vista “puramente” técnico, são omitidas as suas articulações com as estruturas econômica, política e social, obscurecendo a análise dos condicionantes da educação. As normas técnico-administrativas que são propostas como normas para o funcionamento do sistema escolar constituem um produto desses condicionantes. No entanto, elas são adotadas e implementadas como se fossem autônomas, isentas das determinações econômico-sociais. (FÉLIX, 1984, p. 81-82).

Assim como Paro, Félix deixa em suas colocações a clareza de que a adminis-tração é um instrumento que, dependendo dos objetivos a ela destinados, pode servir à conservação apenas do que já está posto e estatuído pela classe domi-nante como também pode articular-se para a transformação social.

A bibliogra�a especializada em administração escolar, como pudemos per-ceber nesta unidade e procuraremos elucidar mais ainda na próxima, quando abordaremos o papel da administração e do administrador, destaca dois mo-mentos distintos: o primeiro, ressaltando a transferência dos princípios e méto-dos da Teoria Geral da Administração Empresarial para a Administração Escolar; e no segundo momento veri�ca-se uma crítica a essa primeira abordagem e a apresentação de novas propostas voltadas à transformação social.

Nesse contexto, e principalmente pelo referencial bibliográ�co utilizado, ci-taremos, no primeiro momento, Querino Ribeiro e Myrtes Alonso e, no segundo, Maria de Fátima Félix e Vítor Paro.

Da mesma forma que encontramos visões diferenciadas em concepções da administração escolar, vamos também encontrá-las na gestão da educação. São autores que a remetem no sentido de reprodução e de justi�cativa para a sua utilização como gestão empresarial, usando inclusive o termo gestão como pre-domínio ao de administração. Outros buscam a ressigni�cação dos conceitos da administração da educação, mediante o contexto das transformações que estão a ocorrer na chamada sociedade do conhecimento.

Diversos são os estudos e para isso vasta a literatura que nos apoia na posição e no acreditar, pois se trata de instituição educacional, e aí voltamos à concepção de homem, de sociedade, de cidadania, de uma gestão educacional que possibi-

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lite a participação ativa e efetiva de toda a comunidade escolar no processo de tomada de decisões.

Uma escola que se propõe a possibilitar a formação para a cidadania deve ter, por pressupostos teóricos fundamentais, a gestão democrática, a autonomia da escola e a construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico. Vemos, assim, a escola como cumpridora de sua função social, seu verdadeiro papel político-institucional, a�rma Ferreira (2000, p. 304).

A gestão democrática da educação é, hoje, um valor já consagrado no Brasil e no mundo, embora ainda não totalmente compreendido e incorporado à prática social global e à prática educacional brasileira e mundial. É indubitável sua importância como um recurso de participação humana e de formação para a cidadania. É indubitável sua necessidade para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. É indubitável sua importância como fonte de humanização. (FERREIRA, 2000, p. 167)

A gestão da educação, hoje, e no nosso entendimento, superou a fase de transpo-sição dos princípios e métodos da Teoria da Administração Empresarial para a Admi-nistração Educacional e encontrou respaldo na participação de todos os integrantes da escola, podendo, assim, construir coletivamente a sua cidadania, constituindo-se na gestão democrática.

Gestão é administração, é tomada de decisão, é organização, é direção. Relaciona-se com a atividade de impulsionar uma organização a atingir seus objetivos, cumprir sua função, desempenhar seu papel. Constitui-se de princípios e práticas decorrentes que a�rmam ou desa�rmam os princípios que as geram. Estes princípios, entretanto, não são intrínsecos à gestão como a concebia a administração clássica, mas são princípios sociais, visto que a gestão da educação é responsável por garantir a qualidade de uma “mediação no seio da prática social global” (SAVIANI, 1980, p. 120), que se constitui no único mecanismo de hominização do ser humano, que é a educação, a formação humana de cidadãos. (FERREIRA, 2000, p. 306-7)

Texto complementar

Da administração escolar à gestão educacional e escolar: um longo caminho de mudanças

(SANTOS, 2008)

O caminho para a mudança será construído no dia a dia, à medida que

vamos compreendendo os problemas educacionais.

Neidson Rodrigues

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[...]

Para Drucker (1993), passamos de uma sociedade industrial para uma so-ciedade de serviços, o que exige nova parceria entre a educação e os negócios. Nos tempos atuais, a educação mudará mais do que já mudou desde a criação da escola “moderna”, há 300 anos. O mesmo autor nos faz um alerta, o de que não se pode limitar a educação apenas ao trabalho da escola, porque toda ins-tituição deve tornar-se um educador, isto é, deve existir para aceitar e propor mudanças. Um novo mundo surge a cada 30 ou 40 anos e os jovens não con-seguem entender como seus pais e avós viviam.

No século XIII, na Europa, ocorreu o êxodo em massa para as cidades, sur-gindo, de um dia para o outro, os grupos sociais diferentes e o comércio entre os povos mais distantes, especialmente com o Oriente Médio. Em meados do século XV, Gutenberg inventou a imprensa de tipos móveis de metal; pos-teriormente, aconteceram a Reforma Protestante de Lutero, a Revolução In-dustrial, iniciada com o motor a vapor; Adam Smith escreveu A Riqueza das Nações. No �m do século XX apareceram os so�sticados meios de comunica-ção e a informática. Tais fatos provocaram importantes e signi�cativas trans-formações no mundo, em todos os aspectos: social, econômico, político, tec-nológico, de usos e costumes, religioso e, acentuadamente, no educacional.

[...]

As mudanças levam a uma nova dicotomia de valores, não literária e cien-tí�ca, mas entre “intelectuais” e “gerentes”. Enquanto os primeiros se preocu-pam com palavras e ideias, os segundos imporiam-se com pessoas e traba-lho. O grande desa�o �losó�co e educacional é transcender essa dicotomia. Dowbor (1997) aponta os grandes eixos dessas mudanças que atingem o início do século XXI:

O progresso tecnológico � – a informática revolucionou todas as áreas, em particular as do conhecimento; a biotecnologia provocou profun-das modi�cações na agricultura e na indústria química e farmacêutica; as telecomunicações transmitem mensagens, imagens, sons, em gran-de volume e com impressionante rapidez e e�cácia; as novas formas de energia, especialmente o “laser”, são aplicadas na medicina, no co-mércio etc., por novos materiais, incluindo as cerâmicas, supercondu-tores e variados tipos de plásticos.

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A internacionalização � – o processo de globalização responsável por boa parte dos avanços tecnológicos...

A urbanização � – apesar de fenômeno discreto, em meio século, vem provocando o êxodo rural.

As polarizações � – a distância entre ricos e pobres ultimamente vem aumentando a um ritmo não conhecido em épocas anteriores.

A dimensão do Estado Moderno � – a modernização institucional e política determina a opção pelo neoliberalismo.

Dryden e Vos (1996) indicam as tendências que moldarão o mundo de amanhã:

A era da comunicação instantânea � – grande capacidade de armaze-namento de informações e de torná-las disponíveis em diferentes for-mas para todos os lugares e a qualquer momento, como a informática e, em especial, a internet. Atualmente, pelos meios modernos de co-municação, não ouvimos falar de guerras, catástrofes, acontecimentos políticos e sociais etc., nós os vemos diretamente no momento em que acontecem. Não se pode falar hoje em educação escolar sem o uso das modernas tecnologias.

Um mundo sem fronteiras econômicas � – a transferência de dinheiro, em todo o mundo, alterou a natureza das transações e do comércio mun-dial. Ao sistema educacional não pode bastar um número limitado de in-formações, para não se manter à margem da tecnologia e do mercado.

Três passos para uma economia única � – embora se proponha uma economia mundial única, pela globalização, estão se destacando três blocos comerciais: Europa uni�cada, as Américas e os países asiáticos. Se, no comércio do século XIX, o destaque foi britânico, e no século XX foi o norte-americano dos Estados Unidos, a previsão é que o próximo será dos países orientais, liderados por Japão, Coreia e China, os cha-mados “tigres asiáticos” e/ou outros emergentes, designados pela sigla “Bric”: Brasil, Rússia, Índia e China.

A nova sociedade de serviços � – há consenso quanto à mudança de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços, em que as demandas educacionais serão muito grandes e exigirão novas meto-

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dologias de ensino. A educação sempre acompanhou o método in-dustrial de produção, hoje em pleno declínio. Por isso, os currículos atuais ainda são divididos em matérias e disciplinas, para se trabalhar em unidades em um semestre ou em um ano letivo e avaliar, na maio-ria das vezes, por provas ou testes padronizados.

De grande a pequeno � – na economia industrial tradicional, predo-minavam as grandes empresas com administração centralizada; hoje ocorre a divisão em pequenas equipes de projeto, autônomas e com gerência própria, fazendo desaparecer a hierarquia piramidal. A nova empresa exige mais o raciocínio criativo e habilidades conceituais.

A nova era do lazer � – as expectativas de vida aumentaram e, conse-quentemente, o lazer é bastante valorizado.

A forma mutável do trabalho � – atualmente, há uma tendência de di-minuir o número de adultos em idade de trabalho em emprego em tempo integral nas empresas tradicionais, nos serviços administrati-vos essenciais. Boa parte trabalhará:

projetos especí�cos, normalmente por períodos curtos; �

trabalhadores em meio período e sazonais, com dois ou três dias �por semana, nos �ns de semana ou em temporadas (turismo e ou-tras formas de lazer);

grupos familiares, fazendo o que lhes apraz, e que exigirão uma �educação que os habilite a ser seus próprios gerentes, divulgado-res e comunicadores.

Mulheres na liderança � – no emprego, aumento signi�cativo de mu-lheres em posições de liderança no mundo todo, especialmente nos países desenvolvidos. A presença feminina está mudando a �loso�a das empresas e o encaminhamento dos negócios.

A década do cérebro � – nos anos 1970 ocorreu a explosão espacial; nos anos 1980, a voracidade e a ganância; nos anos 1990, o uso do homem-cérebro: a aprendizagem exige raciocínio, leitura, discussão, conhecimento.

Nacionalismo cultural � – a economia única cria um contramovimen-to denominado nacionalismo cultural. A globalização torna os países

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economicamente independentes, porém cresce o desejo de cada povo de valorizar sua língua, suas raízes e cultura. Quanto mais a tecnologia se desenvolve, maior deve ser o esforço para manter a nossa herança cultural: música, dança, linguagem, arte e história.

A crescente subclasse � – nas cidades grandes, especialmente na peri-feria, vegeta uma subclasse de pessoas presas em um ciclo autoperpe-tuador: sem poder de ganho, sem autoestima, que sofre o preconceito de toda ordem, o fracasso escolar, a violência, a subnutrição, o desem-prego, a dependência às drogas, a falta de perspectiva, com muitas jovens que engravidam precocemente e se casam sem preparo.

O envelhecimento da população ativa � – o per�l demográ�co está mudando. A expectativa de vida nos Estados Unidos, por exemplo, conforme dados da U.S. National Center for Health Statistics (DRYDEN; VOS, 1996), que em 1860 era pouco mais de 40 anos, em 1950 passou para 75 anos. A geração com mais de 60 anos representa um dos maio-res recursos não explorados para o futuro da educação.

A nova onda do “faça você mesmo” � – a confusão da estrutura com o funcionamento é um fenômeno típico da era industrial. Grandes em-presas surgiram para “fornecer” educação e saúde, o que ocasionou a confusão de educação com instrução, saúde com tratamento de do-ença e hospital, e lei com advogado. O slogan “faça você mesmo”, mais do que pintar a casa e cuidar do jardim, envolve assumir o controle da própria vida.

Empreendimento cooperativo � – o comunismo soviético entrou em colapso na década de 1990; o mesmo ocorre com o capitalismo estilo “jogo de cassino”. Ambos estão sendo substituídos pelos novos con-ceitos de “empreendimento corporativo”: parcerias, posse de ações, distribuição de lucros, educação continuada, divisão de tarefas, hono-rários �exíveis, equipes de projeto etc. Os empresários �nanciam cur-sos para o desenvolvimento pro�ssional dos funcionários.

O triunfo do individualismo � – em todo o mundo, valorizam-se as po-tencialidades e responsabilidades individuais. O consumidor é o “rei”, com direito a escolher os melhores produtos e serviços. A própria edu-cação, para alguns, torna-se uma escolha pessoal.

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Historicizando brevemente: da administração empresarial à gestão democrática

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A escola precisa encarar a mudança como necessidade e não só transmitir conteúdo aos alunos – o que Paulo Freire (1975) denominou de “educação ban-cária”, isto é, o ato de depositar, transferir, transmitir valores e conhecimentos como em uma operação �nanceira mecânica e informatizada. A educação deve ser a problematizadora e rompedora dos esquemas verticais de ensino caracte-rísticos da “educação bancária”.

Há nas escolas uma cultura que impede – e ao mesmo tempo rechaça – qualquer proposta de reformas, muitas vezes, planejadas com critério.

[...]

Dica de estudoO vídeo Princípios e Bases da Gestão Democrática (parte 1). Disponível em:

<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp>, possibili-ta uma visão histórica da caminhada da gestão democrática, com imagens verídi-cas, e mais importante ainda, conta com a participação de educadores e também autores, os mais atuantes e reconhecidos no país na área de Gestão Educacional, como: Vitor Henrique Paro, Isaura Beloni, Jamil Cury, Ilma Passos e outros. A con-tribuição dos educadores referidos, além de facilitar o entendimento do processo histórico traz à tona a discussão da conceituação, ou seja, a compreensão do que vem a ser gestão democrática.

Atividades1. Analise o texto e responda: qual foi a real necessidade do desenvolvimento

das teorias administrativas?

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Modelos de Gestão: Qualidade e Produtividade

2. A partir da leitura da aula, faça uma síntese dos elementos mais signi�cativos das escolas: clássica, psicossocial e contemporânea.

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