Modernismo 2ª fase (Poesia)

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Modernismo no Brasil 2ª geração – Poesia

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Modernismo no Brasil2ª geração – Poesia

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2ª Geração (1930 – 1945)•Fase de construção;•Amadurecimento das conquistas

modernistas;•Poesia → retorno ao lirismo:

▫Amor;▫Angústia;▫Social;

•Retomada de outras formas de poesia.

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Contexto histórico•Crise de 29:

▫Afetou o mundo todo;▫Período de grande depressão;▫Queda da bolsa de NY;▫População não acompanhou o crescimento

do mercado.•“Revolução” de 30 e Governo Vargas;•Nazismo/Fascismo;•2ª Guerra Mundial;•Bomba atômica.

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Principais autores•Manuel Bandeira:

▫Ativo também na 1ª geração;▫Convívio com a Tuberculose;▫Caráter confidencial e autobiográfico;▫Estilo simples, linguagem confessional;▫Temáticas:

Tom confessional; Infância; Fragilidade da vida; Melancolia; Presença constante da morte.

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O que não tenho e desejoÉ que melhor me enriquece.Tive uns dinheiros — perdi-os...Tive amores — esqueci-os.Mas no maior desesperoRezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.Por outras terras andei.Mas o que ficou marcadoNo meu olhar fatigado,Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:Não tive um filho de meu.Um filho!... Não foi de jeito...Mas trago dentro do peitoMeu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu meninoPara arquiteto meu pai.Foi-se-me um dia a saúde...Fiz-me arquiteto? Não pude!Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.Não faço porque não sei.Mas num torpedo-suicidaDarei de bom grado a vidaNa luta em que não lutei!

TestamentoManuel

Bandeira

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Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. 

Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. 

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.  Pneumotórax

Manuel Bandeira

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Vou-me embora pra PasárgadaLá sou amigo do reiLá tenho a mulher que eu queroNa cama que escolherei Vou-me embora pra PasárgadaVou-me embora pra PasárgadaAqui eu não sou felizLá a existência é uma aventuraDe tal modo inconseqüenteQue Joana a Louca de EspanhaRainha e falsa dementeVem a ser contraparenteDa nora que nunca tive

[...]

E quando eu estiver mais tristeMas triste de não ter jeitoQuando de noite me derVontade de me matar— Lá sou amigo do rei —Terei a mulher que eu queroNa cama que escolhereiVou-me embora pra Pasárgada.Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

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Principais autores•Carlos Drummond de Andrade:

▫Influências da 1ª geração;▫Múltiplas temáticas;▫Diferentes momentos:

1º → + intimista, autoconhecimento; 2º → + social, voltado para o mundo;

▫Temáticas (1º momento): Autoconhecimento, passado, família, origens,

cotidiano;▫Temáticas (2º momento):

Realidade social,existência, metalinguagem, amor, amigos.

1940 – Sentimento do mundo.

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No meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra

No meio do caminho

Carlos Drummond de Andrade

Elementos da 1ª fase

modernista

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E agora, José?A festa acabou,a luz apagou,o povo sumiu,a noite esfriou,e agora, José?e agora, você?você que é sem nome,que zomba dos outros,você que faz versos,que ama, protesta?e agora, José? [...]

José (trechos)Carlos Drummond de AndradeInfluência da 1ª fase modernista

(poesia em fragmentos)

Se você gritasse,se você gemesse,se você tocassea valsa vienense,se você dormisse,se você cansasse,se você morresse…Mas você não morre,você é duro, José!

Sozinho no escuroqual bicho-do-mato,sem teogonia,sem parede nuapara se encostar,sem cavalo pretoque fuja a galope,você marcha, José!José, para onde?

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Quando nasci um anjo torto desses que vive na sombradisse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.[...]

O bonde passa cheio de pernas:Pernas brancas pretas amarelas.Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.

Porém meus olhos nao perguntam nada.O homem atrás do bigodeé sério, simples e forte.Quase não conversa.Tem poucos, raros amigoso homem atrás dos óculos e do bigode.

Poema de sete faces (trechos)

Carlos Drummond de Andrade

[...]

Mundo mundo vasto mundo,se eu me chamasse Raimundoseria uma rima, não seria uma solução.

Mundo mundo vasto mundo,mais vasto é meu coração.[...]

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Não, meu coração não é maior que o mundo.É muito menor.Nele não cabem nem as minhas dores.Por isso gosto tanto de me contar.Por isso me dispo,por isso me grito,por isso frequento os jornais, me exponho[cruamente nas livrarias:preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.Só agora vejo que nele não cabem os homens.Os homens estão cá fora, estão na rua.A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.Mas também a rua não cabe todos os homens.A rua é menor que o mundo.O mundo é grande.

Mundo grande (trechos)Carlos Drummond de Andrade

[...] Meu coração não sabe.Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.Só agora descubrocomo é triste ignorar certas coisas.(Na solidão de indivíduodesaprendi a linguagemcom que homens se comunicam.)

[...] Então, meu coração também pode crescer.Entre o amor e o fogo,entre a vida e o fogo,meu coração cresce dez metros e explode.– Ó vida futura! Nós te criaremos

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Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.

Mãos dadasCarlos Drummond de Andrade

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Carlos, sossegue, o amoré isso que você está vendo:hoje beija, amanhã não beija,depois de amanhã é domingoe segunda-feira ninguém sabeo que será.

Inútil você resistirou mesmo suicidar-se.Não se mate, oh não se mate,reserve-se todo paraas bodas que ninguém sabequando virão,se é que virão. [...]

Não se mate (trechos)Carlos Drummond de Andrade

Entretanto você caminhamelancólico e vertical.Você é a palmeira, você é o gritoque ninguém ouviu no teatroe as luzes todas se apagam.O amor no escuro, não, no claro,é sempre triste, meu filho, Carlos,mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.

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Principais autores•Vinícius de Moraes:

▫1º momento: Poesia “mística”; Resgate do movimento simbolista (+ Cecília

Meireles) – Explora a sonoridade;▫2º momento:

Celebra o amor e a mulher + sensualidade; Sonetos (resgata a forma clássica); Bossa nova (samba + jazz americano) com

Tom Jobim / João Gilberto.

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De tudo ao meu amor serei atentoAntes, e com tal zelo, e sempre, e tantoQue mesmo em face do maior encantoDele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momentoE em seu louvor hei de espalhar meu cantoE rir meu riso e derramar meu prantoAo seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procureQuem sabe a morte, angústia de quem viveQuem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):Que não seja imortal, posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure.

Soneto da Fidelidade

Vinícius de Moraes

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De repente do riso fez-se o prantoSilencioso e branco como a brumaE das bocas unidas fez-se a espumaE das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o ventoQue dos olhos desfez a última chamaE da paixão fez-se o pressentimentoE do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repenteFez-se de triste o que se fez amanteE de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distanteFez-se da vida uma aventura erranteDe repente, não mais que de repente

Soneto da SeparaçãoVinícius de Moraes

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Principais autores•Cecília Meireles:

▫Intimista;▫Existencialismo;▫Transitoriedade da vida + passagem do tempo;▫Musicalidade / Sinestesia (“Neossimbolismo”);▫+ Poema épico sobre a inconfidência mineira.

•Mário Quintana:▫+ Pessimista;▫Morte;▫Ironia/Humor;▫Melancolia/solidão;▫Tristeza.

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Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?

RetratoCecília Meireles

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Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. 

Fases que vão e que vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. 

Lua adversaCecília Meireles

E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases, como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu... 

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Romance LXXXIV ou dos cavalos da inconfidência Eles eram muitos cavalos, ao longo dessas grandes serras, de crinas abertas ao vento, a galope entre águas e pedras. Eles eram muitos cavalos, donos dos ares e das ervas, com tranqüilos olhos macios, [...]

Eles eram muitos cavalos: e uns viram correntes e algemas, outros, o sangue sobre a forca, outros, o crime e as recompensas. Eles eram muitos cavalos: e alguns foram postos à venda, outros ficaram nos seus pastos, e houve uns que, depois da sentença levaram o Alferes cortado em braços, pernas e cabeça. E partiram com sua carga na mais dolorosa inocência.

Romanceiro da Inconfidência (trechos) –

Poema épicoCecília Meireles

Eles eram muitos cavalos. E morreram por esses montes, esses campos, esses abismos, tendo servido a tantos homens. Eles eram muitos cavalos, mas ninguém mais sabe os seus nomes sua pelagem, sua origem... E iam tão alto, e iam tão longe! E por eles se suspirava, consultando o imenso horizonte! - Morreram seus flancos robustos, que pareciam de ouro e bronze. [...]

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Da vez primeira em que me assassinaram,Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.Depois, a cada vez que me mataram,Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu souO mais desnudo, o que não tem mais nada.Arde um toco de Vela amarelada,Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!Pois dessa mão avaramente aduncaNão haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!Que a luz trêmula e triste como um ai,A luz de um morto não se apaga nunca!

Rua dos CataventosMário Quintana

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Do amoroso esquecimentoEu agora — que desfecho!Já nem penso mais em ti…Mas será que nunca deixoDe lembrar que te esqueci?

EnvelhecerAntes, todos os caminhos iam.Agora todos os caminhos vêmA casa é acolhedora, os livros poucos.E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.

Tic-tacEsse tic-tac dos relógiosé a máquina de costura do Tempoa fabricar mortalhas.

Mário Quintana

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Cynthia Funchalhttp://www.portuguesatodaprova.com.br

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