MODOS DE VER E DE PENSAR O PATRIMÔNIO AGROINDUSTRIAL: A USINA CAMBAHYBA REFLETIDA ATRAVÉS DE UM...

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    MODOS DE VER E DE PENSAR O PATRIMÔNIO

    AGROINDUSTRIAL: A USINA CAMBAHYBA

    REFLETIDA ATRAVÉS DE UM ÁLBUM

    FOTOGRÁFICO

    Marcelo Carlos Gantos

    [email protected]

    LABORATÓRIO DE ESTUDOS DO ESPAÇO ANTRÓPICOUNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE

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    Modos de ver e de pensar o Patrimônio Agroindustrial: A Usina

    Cambahyba refletida através de um álbum fotográfico.

    RESUMO

    Baseados numa experiência de arqueologia visual das Usinas de açúcar do Município

    de Campos do Goytacazes (!" o artigo prop#e re$compor e interpretar atrav%s do uso

    da &otogra&ia e do con'ecimento 'istrico) &ragmentos do patrim*nio agroindustrial do

    +orte ,luminense ela-orados durante a primeira metade do s%culo ..) su-sidiando o

    processo de compreens/o critica do &en*meno da desindustrializaç/o recente do setor

    e suas conseq0ências paisagísticas) sociais e culturais no 1m-ito local2 3 texto narra

    a import1ncia dada ao processo de desco-erta) identi&icaç/o) tratamento)

    contextualizaç/o 'istrica e leitura de dois 4l-uns de &otogra&ia industrial

    correspondentes a Usina Cam-a'y-a2 5iscute$se a noç/o de 4l-um e seu uso como

    &onte iconogr4&ica) monumento e arte&ato cultural dotado de um singular regime de

    visualidade que de&ine um modo conce-er) representar e de ver o passado e sua

    'erança material e imaterial na conservaç/o de uma identidade regional2 ,inalmente)

    se comenta as relaç#es possíveis e os limites e desa&ios entre as vis#es ela-oradas

    so-re o passado e os dilemas do presente associados 6 pro-lem4tica da valorizaç/o

    do 7atrim*nio como campo de con'ecimento e a agenda política contempor1nea2

    Palavra chave:

     Patrimônio Agroindustrial !otografia " Cultura #isual " A$%car

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    Pontos de partida

    3 tra-al'o se prop#e aproximar ao do domínio do 7atrim*nio 8groindustrial a

    discuss/o so-re a potencia 'eurística da &otogra&ia como &onte de ela-oraç/o de

    modos de ver e as  implic1ncias destas con&iguraç#es na &ormaç/o de uma matrizcultural dentro de uma comunidade especi&ica2 Como esta pro-lem4tica se relaciona

    com o tema do 7atrim*nio 8groindustrial9 7artimos do suposto que a noç/o modos de

    ver  indica um :ogo de discursos e de pr4ticas sociais que constituem &ormas distintivas

    de compreender a experiência visual de um coletivo em circunst1ncias 'istoricamente

    especí&icas2 8ssim) -aseados na evidencia do suporte &otogr4&ico) propomos a

    incorporaç/o e uso da noç/o de visualidade (regime"como uma &erramenta conceitual

    útil para de&inir os modos de ver  que criam) sustentam ou derru-am tradiç#es culturais

    coletivas2 8rgumentamos que para ver necessitamos de um aprendizado sensorial e

    cultural -aseado na experiência empírica e em certas ;regras< sociais e dispositivos

    tecnolgicos que mediam e estruturam estas experiências no tempo e no espaço2 8s

    imagens perce-idas se im-ricar/o) ainda) com as circulaç#es de signi&icados e com as

    din1micas dos a&etos) de modo que as relaç#es que se esta-elecemos com as

    imagens s/o guiadas por uma in&inidade de ;regras2

    +ossa 'iptese geral parte do suposto que a &a-ricaç/o e uso de um con:unto de

    representaç#es iconogr4&icas $ coleç/o ou 4l-um$ de&ine um dispositivo que organiza a

    >  3 tra-al'o aqui apresentado interpreta in&ormaç#es preliminares provenientes dos resultados dos

    tra-al'os de ?niciaç/o Cienti&ica so-re min'a orientaç/o e as respectivas monogra&ias de conclus/o decurso pertencente a ,rederico 8lvim Carval'o e @u%sia de =ouza ,rancisco) produzidas dentro G7?3A$Grupo de 7esquisa em ?magem) 3ralidade e AistoriaCCAU+,2

    2

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    experiência social de uma comunidade e % &ator constitutivo de pr4ticas culturais)

    portanto patrimoniais tam-%m2 8lguns destes usos se expressam na apropriaç/o de

    conceitos por parte de certos su:eitos ou grupos sociais para com eles nomear

    aspectos do mundo e (re"compor imagens que condensam determinadas intenç#es

    traduzindo e legitimando vis#es do mundoD

    2 stas construç#es sim-licas operam apartir de seus circuitos de consumo e usos sociais para ela-orar) &ixar e reproduzir

    signi&icados ou ;comunidades de sentido

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     8rqueologia isual aqui proposta n/o de&ine) stricto senso, um sa-er disciplinar2 7elo

    contrario) ela prop#e uma estrat%gia cognitiva plural e a-erta) de desco-erta) leitura e

    re$escritura de um discurso imag%tico localizado nas margens do c1non ou da

    positividade 'istoriogr4&ica tradicional2 xterioridade que nos -ene&icia e mediante a

    qual expressamos a necessidade epistemolgica de deslocamento do lugar do sujeitocognitivo para o do sujeito antropológico, adotando a modalidade de ler e interpretar)

    neste caso as imagens dos El-uns) como textos$discursos produzidos pelo 'omem em

    determinadas condiç#es sem descuidar) tampouco) a id%ia da existência paralela de

    praticas n/o discursivas e da &orca do desejo e da vontade) vistos como motores da

    experiência 'umana2

    +a tril'a de ,oucault) nossa proposta de 8rqueologia isual quer o&erecer a c'ance

    de acesso a uma experiência atual de leitura) nesta oportunidade de um singular4l-um de &otogra&ias so-re o mundo do açúcar do io de !aneiro) su-sidiando novas

    possi-ilidades interpretativas para o patrim*nio agroindustrial &luminense2 7ropomos

    que o 4l-um) enquanto arquivo e arte&ato cultural) &uncione como um verdadeiro

    ;sistema geral da &ormaç/o e trans&ormaç/o dos enunciadosIIKDF"2 ?sto %K

    interpretar seu discurso visual como o-:eto inscrito no que ,oucault c'amou a ;ordem

    do arquivo

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    uso enquanto &onte 'istrica e arte&ato cultural portador de um singular regime e

    padr/o de visualidade epocal) c'ave para o entendimento de uma cultura patrimonial

    modelada pelo excesso e o poder produzido pela riqueza do ;ciclo do açúcar<

    &luminense2

    &otas sobre o a$%car no 'rasil

    3riginaria da ?ndia) a cana$de$açúcar &oi introduzida pelos portugueses no Brasil

    durante os primrdios do s%culo .? estendendo$se desde =/o icente em direç/o a

    regi/o +ordeste e posteriormente para o sudeste num ciclo de quase três s%culos de

    sucesso2 8o longo da experiência colonial a economia do açúcar modelou e conservou

    três traços distintivosK a monocultura) o lati&úndio e o tra-al'o compulsrio) aspectos

    estes que con&iguraram o que Caio 7rado !únior (>IN" sintetizou como a ;grandeexploraç/o rural

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      ngen'o com capela2 7intura de ,rans !anszoon 7ost (>S>D T >SLO"

    3s engen'os) geralmente) se localizavam a -eira de um rio) um ponto &avor4vel de

    acesso 6s matas e canaviais e tam-%m para o escoramento da produç/o J2 8ssim o

    engen'o constituiu um su-sistema espacial integrante de um sistema mais amplo

    composto porK a" o espaço pastoril sertane:o &ornecedor de alimentos (carnes" e

    mat%rias$primas (couro" para utensílios e artesanatosP -" as pequenas lavouras de

    su-sistência) que o supriam em car4ter suplementar de alimentosP c" os centros

    ur-anos) que atuavam como catalisadores do so-retra-al'o produzido na col*nia para

    a metrpole portuguesa e supridores de cr%ditos e mercadoriasP d" as praças

    a&ricanas) &ornecedoras da m/o$de$o-ra escravaP e" os centros europeus) mercados

    de açúcar e &ornecedores de manu&aturas e serviços diversos2

    +esse esquema produtivo serviam ao sen'or do engen'o um coletivo 'ierarquizado

    &ormado pelo mestre de açúcar) um -anqueiro) um contra$-anqueiro) um purgador) umcaixeiro no engen'o e outro na cidade) &eitores nos partidos e roças) um &eitor$mor do

    engen'o) um sacerdote capel/o e) al%m dos escravos que cuidavam da &azenda e da

    casa) v4rios outros o&íciosK -arqueiros) canoeiros) cala&ates) carapinas) carreiros)

    oleiros) vaqueiros) pastores e pescadores2 ,oi so-re esta -ase produtiva e social que

    se organizou o mundo do açúcar -rasileiro) narrado e cele-rado por Gil-erto ,reyre

    (>INF" e cu:os traços) em-ora adaptados e re$signi&icados con:unturalmente) se

    perpetuaram na -ase material e na estrutura de sentimentos do mundo do açúcar

    campista2 ste modelo aqui a-reviado) a pesar de suas mutaç#es 'istricas) seconservou e reproduz ao longo do +orte ,luminense como uma poderosa matriz

    material e mental de dominaç/osu-ordinaç/o e socia-ilidade &undada num e&icaz

    dispositivo de reciprocidades que as usinas e os usineiros) no decorrer do s%culo ..)

    mantiveram e ;modernizaram< ate seu ocaso recente2

    7 Capistrano de 8-reu lem-ra que ;os engen'os estavam todos na mata) o que se explica pela maior&ertilidade dos terrenos -em vestidos e pela a-und1ncia da len'a) necess4rias 6s &ornal'as< (8BU>ILDK DN>"

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    ( a$%car em Campos

     8tri-uem a 7ero de Gis) &undador da Capitania de =/o Qom%) adentrado o s%culo .?

    o pioneirismo da introduç/o da cultura da cana$de$açúcar no norte &luminenseL2

    Mapa de Huís Qeixeira (c2 >JN" com a divis/o da 8m%rica portuguesa em capitanias2 

     8 noticia do primeiro engen'o de açúcar na regi/o do norte &luminense data de

    meados do s%culo .??) com a &undaç/o do engen'o de =/o =alvador (>SO"2

    ntretanto a cultura da cana$de$açúcar apenas vingaria um s%culo aps com a

    retomada da Capitania por parte da Coroa portuguesaI2 +esse momento se inaugura a

    cultura da cana$de$açúcar na planície goitac4) so-repu:ando a criaç/o de gado)

    empurrada para o interior da regi/o e ;sert#es< de =/o !o/o da Barra2 8 partir do

    incremento dado 6 lavoura açucareira) a planície passaria a prosperar atingindo

    proporç#es signi&icativas na virada do s%culo .??? para o .?.) o que iria modi&icar a

    -ase estrutural da sociedade norte$&luminense (3=C8)>ILK NJ"2 3s sen'ores de

    engen'o da regi/o começavam assim a gan'ar relev1ncia econ*mica e política2 8

    partir do &inal do s%culo .?? uma &orte crise da produç/o no +ordeste -rasileiro)

    8 8ugusto de Carval'o deixa evidenciado isto na transcriç/o das Cartas de 7ero de Gis a Martim ,erreirae ao prprio rei 52 !o/o ???K ;screvo$l'e isto para que o sai-aK neste rio (Manag% T atual ?ta-apoana")como digo) determino &azer nossos engen'os d4gua222 e &azer com os índios muita &azenda) a sa-erKplantar uma il'a que :4 ten'o pelos índios roçada de canas) e assim &azer toda quanta &azenda puder&azer) para que) quando vier gente) ac'e :4 que comer) e canas e o mais necess4rio para os engen'os222 ten'o$os em casa) e em lugar seguro) e de onde o açúcar n/o pode ser mau) sen/o o mel'or da costa)pelo porto ser muito -om e experimentado por ns :42< (>LLLK S"9 !orge enato 7ereira 7into) a&irma que eram tantas as desavenças entre -rancos e índios que 7ero deGis por volta de >NL retornaria ao eino) pois que anos ;depois de ter c'egado) o que restava eram

    dívidas) ruínas e desolaç/oP aquilo que 'avia construído e consolidado) &ora irremediavelmentedestroçado< (>IIK FI"2

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    http://pt.wikipedia.org/wiki/Capitanis_do_Brasilhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Capitanis_do_Brasil

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    determinara o auge da lavoura da cana$de$açúcar no norte &luminense con&irmando

    sua vocaç/o 'istrica>O2

    A$%car e poder: )o 'ar*o ao industrial Usineiro

    egistro de 5e-ret $ ?nício do s%culo .?. no io de !aneiro2

    3 s%culo .?. representara a cume da produç/o açucareira campista) graças 6

    introduç/o das inovaç#es tecnolgicas e de gest/o provenientes da revoluç/o

    industrial e de t%cnicas agrícolas aplicadas no plantio e na &a-ricaç/o do açúcar2 8

    partir da d%cada de >LO e at% &inais do s%culo .?. Campos experimentara um surto

    de desenvolvimento sustentado da agroindústria do açúcar) integrado a produç/o de

    aguardente e ca&%) produtos típicos da regi/o do ale de 7araí-a2 +este momento

    surge na cena 6 &igura de um ator social c'ave da 'istoria do norte &luminenseK o;Bar/o do açúcar>)  artí&ice do boom econ*mico do açúcar e da &ormaç/o de uma

    elite de poder  que alcançar4 em poucos anos a 'egemonia do que denominamos o

    processo civilizatrio açucareiro &luminense>D2 

    7aralelamente ao portentoso investimento induzido pelos co&res do governo ?mperial

    de 7edro ?? para o desenvolvimento empresarial dos grandes engen'os centrais >F) 

    modernas &4-ricas de moagem de cana de propriedade particular e car4ter semi$o&icial

    que se trans&ormariam grandes centros de produç/o e de consumo) desaparecer/o

    10 8t% >JSI segundo comenta 8uguste de =aint$Ailaire 'aviam existido em Campos mais de S usinasde açúcar passando em >JJL para >SLP de >JJI a >LO> aumentou para DOOP > anos mais tarde elecresceu para FSO e en&im em >LDO 'avia no distrito NOO engen'os e cerca de >D destilarias (>IN>K FIL"211 3s grandes sen'ores de engen'os de Campos) de =/o ,id%lis) de Maca% em consideraç/o aosserviços prestados 6 economia nacional &oram recon'ecidos pelo governo imperial durante o s%culo .?.com a concess/o de títulos no-ili4rios212 ntendemos este processo como uma &orma 'istrica peculiar decorrente da emergência da sociedade-urguesa no Brasil e da a-sorç/o sui generis desta &orma de organizaç/o social pelos 'omens doaçúcar &luminense213 +a regi/o norte &luminense &oram montados três ngen'os CentraisK ngen'o Central de @uissam/(>LJJ" o primeiro da 8m%rica do =ulP ngen'o Central de Barcelos (>LJL"P ngen'o Central de 7ureza

    (>LL" =/o ,id%lis2 ssas ;modernas< unidades industriais) voltadas para a produç/o de açúcar emgrandes volumes a partir da cana) tiveram a miss/o de su-stituir os tradicionais ngen'os 6 traç/o e avapor que 'aviam caracterizado essa primeira etapa da industrializaç/o no Brasil

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    paulatinamente as vel'as engen'ocas cu:os propriet4rios su-metiam$se 6 condiç/o de

    &ornecedores de cana$de$açúcar para os engen'os2 +esse contexto de mudança

    industrial do mundo do açúcar surgiram as c'amadas usinas  e com elas os

    “usineiros”, co$protagonistas deste processo2

    Casa da ,azenda @uissam/2 7intura de C'arles i-eyrolles (>LSF"

    ,oi no ultimo quarto do s%culo .?. que atraídos pelo clima político &avor4vel) 6s

    oportunidades que o mercado mundial o&erecia e 6s vantagens comparativas da regi/o

    para a monocultura da cana) se instalou em Campos dos Goytacazes um grupo de

    empres4rios estrangeiros de origem &rancesa que pro:etaram e construíram na regi/o

    de unidades industriais açucareiras menores2 8 elas denominou$se usine1 $ termo de

    origem &rancês que deu origem 6s ;usinas  sucroalcooleiras2 stas o&ereciam

    características idênticas a uma Grande Central) mas com um &ator di&erencial

    &undamentalK &uncionavam com um estoque -em menor de mat%ria$prima2 5essa

    &orma) a cana$de$açúcar demandada pela usine) poderia passar a ser a-astecida pelo

    prprio dono dessas unidades) &icando nas m/os deles o controle integral de todo

    processo produtivo que ia at% seu escoramento &inal para exportaç/o2

    sta mudança paradigm4tica delinear4 a estrutura constitutiva deste novo grupo de

    poder emergenteK os usineiros) que passar4 a se con&igurar rapidamente como a nova

    classe dominante da regi/o e do pais) montada na modernizaç/o do setor e no surto

    de negcios de setor2 Considerados como modernos empres4rios do açúcar) por

    vezes ;homens !eitos a se mesmo< $como exempli&ica a tra:etria meterica e

    paradigm4tica de Bartolomeu Hisandro>S$ ou sustentados por estrat%gicas alianças

    14  ;&r2 Usine (>JFD"K esta-elecimento industrial munido de m4quinasP lo:a) ateliê) o&icinaLJI" localizada emCampos2 3s donos destas usinas eram) ma:oritariamente) produtores aut*nomos propriet4rios delavouras que 'aviam enriquecido com seus antigos engen'os e que n/o dependiam dos investimentosgovernamentais em &unç/o da disponi-ilidade de capitais no mercado e o cr%dito no exterior o-tido graçasao ciclo ascendente do comercio externo2

    15 7or isso as indústrias de açúcar e de 4lcool em Campos rece-eram o nome de usinas) enquanto nonordeste ainda s/o c'amadas de ngen'os) apesar de estes serem) assim como as usinas) vers#es;modernas< dos antigos engen'os do período colonial216 7ropriet4rio do tradicional complexo industrial da Usina =/o !o/o e uma das &iguras mais eminentes

    dos novos empres4rios do açúcar do s%culo ..2 +a sua auto-iogra&ia in%dita conta o itiner4rio pelo qualc'egou a construir sua &ortuna) &undado no espírito comercial que &oi inculcado durante sua in&1ncia pelopai) a:udando a sua m/e na venda de ;papa de mil'o< na rua2 !4 na sua adolescência) tornou$se ativo

    9

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_da_Fazenda_Quissam%C3%A3http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Ribeyrolleshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_da_Fazenda_Quissam%C3%A3http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Ribeyrolles

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    matrimoniais com &amílias tradicionais>J  $ os usineiros s/o alavancados para o

    cen4rio econ*mico -rasileiro &avorecidos pela a-undancia de divisas provenientes do

    novo boom  comercial da açúcar e sua ;comoditi"a#$o< &inanceira nos mercados

    mundiais2

     7esagem e encaixotamento de açúcar (esq2" e -ene&iciamento de mandioca (dir2" io de

    !aneiro (!ean$ictor ,rond) =%culo .?. "

     

    5entre as inovaç#es trazidas pelo modelo de produç/o industrial açucareiro da

    regi/o) destacamosK a associaç/o de v4rios empres4rios e capitalistas em torno de

    uma mesma unidade central produtivaP a dissociaç/o em campos estanques das

    atividades agrícola e industrial) com o aproveitamento o-rigatrio das canas$de$açúcar

    produzidas pelos propriet4rios rurais agregados como &ornecedores 6 empresaP a

    o-rigatoriedade da amortizaç/o do capital su-vencionadoP a proi-iç/o de ser utilizado

    tra-al'o escravo nas atividades &a-ris e) &inalmente) o direito de serem os

    esta-elecimentos diretamente &iscalizados pelas autoridades governamentais (3scar

    >ILK >LD"2 ste con:unto de mudanças implantadas) principalmente) na gest/o

    administrativa dos negcios e no sistema de tra-al'o do mundo do açúcar) &ar4 parte

    do processo maiorK a modernizaç/o capitalista no Brasil2

     8dentrados nos anos vinte do s%culo passado Campos se mostrava como uma cidade

    moderna que se convertia no maior plo exportador de açúcar do Brasil e posicionado

    como >Jo  produtor mundial) respons4vel de >V do total da produç/o do Brasil

    (7?8 7?+Q3) >IIK>" +essas primeiras d%cadas do s%culo ..) a cidade

    passava pelo c'amado ;Ciclo Eureo< de sua 'istoria) no qual o setor do açúcar $carro

    comerciante) comprando e vendendo garra&as vel'as e sacas at% c'egar a seu primeiro emprego no Ca&%Aig' T Hi&e2 Hogo) viria assumir o cargo de despac'ante da staç/o Campos T Cargas) paraposteriormente virar representante comercial da =tandard 3il Company) experiência esta que l'epossi-ilitou se tornar um -em sucedido empres4rio do transporte de passageiros) primeiro passosigni&icativo para virar usineiro217 =/o comuns as alianças matrimoniais destes prsperos negociantes com &il'as de &amílias tradicionais)antigos produtoras de cana empo-recidas que n/o dispon'am de recursos &inanceiros su&icientes para

    investir na reconvers/o industrial da era das ;usinas

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    c'e&e deste surto de modernidade$ processava uma poderosa reconvers/o produtiva)

    su-stituindo os vel'os e ine&icientes engen'os por ;modernas usinasIDOK>DI"2

    m >IFO existiam instaladas no Município de Campos D> modernas usinas) passando$

    se a duplicar a produç/o em um lapso de quinze anos e 'avendo so-revivido apenasoito vel'os engen'os dedicados produzir 4gua ardente e rapadura2

    5urante a vigência do stado +ovo e a criaç/o do ?nstituto de 8çúcar e Elcool

    (?28282") o setor industrial açucareiro &luminense gan'ar4 um poderoso e e&icaz aliado>L 

    político e &inanceiro2 +esse contexto de am-ig0idades e tens#es entre o apelo ao

    populismo) autoritarismo e nacionalismo se a&iançar/o a metamor&ose da Moderna$

    Qradiç/o mpresarial 8çucareira da qual o 4l-um em evidencia constitui um claro

    exemplo da metamor&ose do setor e sua capacidade adaptativo$assimilativa da nova

    ordem2 8s d%cadas de >INO e >IO o-servaram o primeiro momento da mecanizaç/o

    do tra-al'o rural na regi/o) mudança que dispensou grande parte da &orça de tra-al'o

    empregada2 8 introduç/o do transporte em carretas e a mecanizaç/o iniciada nas

    lavouras com a incorporaç/o dos primeiros tratores terminaram de alterar a &isionomia

    e a paisagem do mundo do tra-al'o rural) 6 vez que a nova con:untura do mercado

    a-ria novas possi-ilidades de enriquecimento do setor sustentado no aumento da

    18 3 ?28282 &oi criado pelo governo de Getúlio argas em >IFF a partir dos e&eitos da recess/o vivida

    pela economia mundial durante a Grande 5epress/o de >IDI2 =ua miss/o &oi a de &uncionar com umente &ederal regulador da atividade açucareira e esteve sediado $ ate sua extinç/o na d%cada de >IIO$na cidade do io de !aneiro2

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    produtividade) qualidade dos produtos e mel'oria dos preços para os empres4rios2

    +esse período se atingiram altíssimos patamares de produç/o assim como lucros

    exor-itantes) resultantes da &avor4vel alça dos preços gerada pelos e&eitos da

    segunda guerra mundial so-re os mercados produtores e consumidores2 ste

    momento coincidiu com a 'egemonia do sector usineiro na política regional e nacional2

    Mapa das usinas da regi/o encontrado nas instalaç#es da Usina Cam-a'y-a2

    7aralelamente a esta incipiente &ase de ;modernizaç/o< do setor industrial) com a

    extens/o e aplicaç/o da legislaç/o tra-al'ista no campo) o inicio das lutas sociais dostra-al'adores rurais e a implantaç/o do estatuto da lavoura canavieira na regi/o) &oi$

    se acelerando o processo de expuls/o dos tra-al'adores instalados nas terras dos

    &azendeiros2 5esde a d%cada de >ISO) como resultado das políticas tra-al'istas

    gestadas a partir do stado +ovo) se expandiu e consolidou o modelo de tra-al'o

    assalariado no campo -aseado no tra-al'ador con'ecido como %óia-!ria&  sta

    situaç/o na regi/o do norte &luminense adotou características devastadoras) gerando

    demiss#es em massa sem pagamento de indenizaç#esP que-ra de esta-ilidade la-oral

    e retorno ao regime de tra-al'o de semi$escravid/o e clandestinidade2 ste retrocessose mani&estou na precarizaç/o das condiç#es de tra-al'o do mundo rural) expressa na

    retomada da exploraç/o do tra-al'o in&antil e de mul'eres nas lavouras de cana)

    panorama que) apesar dos avanços na luta sindical e na &iscalizaç/o e controle do

    poder pú-lico conquistado nas ultima d%cadas) ainda persiste na regi/o2

    5ecorrente deste &en*meno podem se apontar duas din1micas perversas associadas

    a esta regress/o produtiva no mundo do tra-al'o ruralK o êxodo maciço de

    tra-al'adores rurais para a cidade de Campos) processo incipiente desde os anossessenta) e a conseguinte !aveli"a#$o  da 4rea ur-ana) &en*meno este que se

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    apro&undaria durante a crise dos anos oitenta) com a agudizaç/o do processo de

    desindustrializaç/o do setor açucareiro2 =imultaneamente) desde o ponto de vista

    &undi4rio) avançou a &ragmentaç/o da pequena propriedade rural produtora de cana

    como resultado dos e&eitos do direito de 'erança) &ato que gerou uma grande

    quantidade de pequenos produtores pauperizados) dependentes produtiva e&inanceiramente dos usineiros e plantadores2

    !4 ingressados na d%cada de >ILO) o avanço da crise do setor sucroalcooleiro

    terminou de alterar a paisagem natural e o per&il produtivo do mundo do tra-al'o em

    Campos e sua regi/o2 8 atividade canavieira de&initivamente a-andonou o lugar

    ostentado por quase um s%culo como &ator privilegiado de emprego e &onte de riqueza

    do município) passando a ocupar na d%cada de >IIO o terceiro lugar2 5a mesma

    &orma) o setor agrícola perder4 sua 'egemonia econ*mica na &ormaç/o do 7?B domunicípio) sendo superado pelas atividades de comercio e serviços e outras indústrias

    su-stitutivas (como a têxtil e a cer1mica"2 +a d%cada de >IIO) o Município de Campos

    contava com apenas uma dúzia de usinas em &uncionamento) das DN existentes em

    >IJD2 8tualmente) o panorama % mais desalentador) &uncionando plenamente apenas

    três esta-elecimentos industriais2 Como decorrência destas mudanças) os

    tra-al'adores expulsos do complexo agro$industrial sucroalcooleiro passaram a

    constituir um ex%rcito ur-ano de -iscateiros) desquali&icados e tra-al'ando e vivendo

    na in&ormalidade e na precariedade estrutural2

    A estrutura da paisagem s+cio"produtiva da regi*o

    Campos dos Goytacazes &oi desde cedo plo de colonizaç/o e ocupaç/o de uma

    vasta 4rea que corresponde 'o:e ao sul do spírito =anto) a Wona da Mata de Minas

    Gerais e as regi#es do +oroeste e +oroeste ,luminense2 8t% a d%cada de >IIO existia

    nessa parte do stado do io de !aneiro apenas a regi/o do +orte ,luminense

    quando ent/o &oi desmem-rada2

     8tualmente) a regi/o +oroeste a-range >F municípiosK 8peri-%) Bom !esus de

    ?ta-apoana) Cam-uci) ?talva) ?taocara) ?taperuna) Ha:e de Muria%) Miracema)

    +atividade) 7orciúncula) =anto 8nt*nio de 74dua) =/o !os% de U-4 e arre$=ai2 8

    regi/o +orte inclui nove municípiosK Campos dos Goytacazes) Carape-us) Cardoso

    Moreira) Conceiç/o de Maca-u) Maca%) @uissam/) =/o ,id%lis) =/o ,rancisco de

    ?ta-apoana e =/o !o/o da Barra2 Aistoricamente) existem con&litos e contradiç/o entre

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    estas duas regi#es que motivaram a divis/o 'o:e vigente2 m termos de economia) o

    +oroeste esteve sempre mais ligado 6 Wona da Mata de Minas e ao sul do spírito

    =anto) pois a ocupaç/o desta 4rea seu deu atrav%s da incorporaç/o da cultura do ca&%

    $que veio da regi/o de Minas e do spírito =anto para o +oroeste$ e a criaç/o de

    gado) principalmente leiteiro) e mais tarde do arroz2 ntretanto) o +orte ,luminenseesteve) desde suas origens) ligado ao cultivo da cana$de$açúcar e ao gado de leite e

    corte concentrado em =/o !o/o da Barra e a comercio &luvial em torno do io 7araí-a

    do =ul2 5esde os primrdios da ocupaç/o da regi/o) seus povoadores usu&ruíram

    economicamente as vantagens geo&ísicas o&erecidas pelo &ato de ser uma extensa

    planície aluvional rodeada de lagos) p1ntanos e -rec's situada na regi/o do Baixo

    7araí-a do =ul2 la &oi sempre descrita e considerada como um local privilegiado e

    vanta:oso para o cultivo do açúcar) como pondera um almanaque de >IDOK

    ;+oda a plan)cie em que se acha situado o unic)pio apropriada ( cultura da

    cana, que se desenvolve e aperfeiçoa ! medida que o consumo do açúcar

    aumenta" &tualmente tem essa cultura car!ter e.tensivo e sem orientação

    tcnica que fora de desejar" 'ontudo com o novo surto que a industria

    açucareira tem assumido ultimamente vê-se que esse processo anacr/nico se

    vão modificando e sendo substitu)do por praticas mais racionais"""""0  (8++U8?3

    C8M7?=Q8) >IDO"2

    3cupando uma 4rea útil de aproximadamente >2OOO XmD) a ;'lan(cie )oitacá,<

    como % con'ecida esta regi/o produtora de cana) se caracterizou naturalmente pela

    a-undancia de recursos 'ídricos (rios) lagoas) -rec's e p1ntanos" e socialmente por

    ser uma das últimas 4reas do Brasil em aca-ar com o sistema escravocrata como

    modo de produç/o2 5e &ortes traços rurais sua ocupaç/o &oi caracterizada pelo

    esta-elecimento e predomin1ncia da grande propriedade como estrutura &undi4ria e

    produtiva) &icando ao longo de sua 'istria dominada pela concentraç/o de terras)

    em-ora a pequena propriedade tam-%m ten'a mantido um lugar de destaque)

    so-retudo nas trans&ormaç#es ocorridas durante as ultima três d%cadas2 Colonos)

    assalariados) residentes) meeiros e um grande contingente de tra-al'adores

    migrantes) constituíram a -ase da m/o de o-ra rural da lavoura da cana) quem :unto

    ao setor dos &azendeiros $ divididos em usineiros e plantadores (ou &ornecedores" $

    con&iguraram tradicionalmente a estrutura scio$produtiva do setor açucareiro

    campista2

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    3 ;canavial< de&iniu o elemento característico da paisagem dominante da regi/o norte

    &luminense2 7erce-emos de acordo com Cosgrove (>ILI" que todas as paisagens

    possuem signi&icados sim-licos porque s/o o produto da apropriaç/o e

    trans&ormaç/o do meio am-iente pela atividade 'umana2 ntende$se por  paisagem

    dominante a paisagem modelada pela cultura dominante) ou se:a) a de um grupo compoder so-re outros) quem decide) de acordo com seus prprios valores) onde ir4

    alocar o excedente produzido por toda a comunidade2 +este sentido a experiência da

    usina Cam-a'y-a nos permite veri&icar a &orma como o excedente produzido e

    concentrado pelos modernos usineiros) &oi material e sim-olicamente construído na

    espacialidade de suas edi&icaç#es) desen'ando uma paisagem dominante que 'o:e

    se trans&orma em residual  so- a &orma de portentosas construç#es em ruínas que

    caracterizaram a monumentalidade evidente do &en*meno da desindustrializaç/o da

    regi/o2

    )esindustriali,a$*o e muta$-es recentes da paisagem a$ucareira 

    3 que signi&ica o &en*meno da desindustrializaç/o9 Y) acaso) este processo uma

    novidade na 'istoria contempor1nea ou consiste apenas numa peculiaridade cíclica da

    economia regional campista9 8 que se deve que esta mudança estrutural apareça

    tam-%m como um dos principais pro-lemas mundiais dos países mais

    industrializados9 xiste alguma raz/o comum que explique este &en*meno glo-al$

    local9

    Com certeza) a nível local) o impacto e avanço contínuo do processo de

    desindustrializaç/o do complexo açucareiro em Campos dos Goytacazes % &4cil de

    constatar e dimensionar quantitativamente a partir das ci&ras totais de &ec'amento de

    antigos esta-elecimentos produtores de açúcar e da so-revivência atual de apenas

    alguns deles2 ?sto se torna relevante aos ol'os de qualquer visitante atento nas marcas

    monumentais desse a-andono) desen'adas durante os últimos D anos na paisagem

    ur-ana e rural do município2 ntretanto) s/o menos visíveis os pro-lem4ticos

    desdo-ramentos suscitados por este &en*meno no meio am-iente e na trama social e

    produtiva da regi/o) :4 que a queda do volume de atividade industrial sucroalcooleira

    vem a&etando pro&undamente o mercado de tra-al'o e alterando a paisagem) a

    geogra&ia econ*mica) política e scio$espacial do município2 8 peculiar índole e &orma

    adotada pelo &en*meno de desindustrializaç/o regional na escala local) traduzida na

    magnitude evidenciada no caso campista e contrastada com os registros da

    experiência dos países desenvolvidos) somente se torna inteligível mediante um

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    es&orço de contextualizaç/o das características que motivaram a acelerada crise do

    complexo sucroalcooleiro e a compulsiva reconvers/o produtiva vivida durante as

    últimas d%cadas pelo setor em Campos dos Goytacazes2

    +o países do primeiro mundo, o processo de desindustrializaç/o tem outra natureza2le se articula e explica atrav%s das trans&ormaç#es recentes ocorridas na -ase da

    estrutura econ*mica do mundo industrial decorrentes do &en*meno da glo-alizaç/o

    dos mercados2 8 -usca de mel'ores relaç#es de custoT-ene&ício) apoiada nas

    vantagens geradas pelo advento do modo in&ormacional de produzir) ocasionou

    violentas trans&ormaç#es no mercado de tra-al'o propiciando a reconvers/o produtiva

    nos países centrais2 stas alteraç#es sustentaram o progressivo a-andono do

    c'amado modelo de R*igh +olumeR ou de escala de produç/o em massa de artigos de

    consumo de pouco valor e sua migraç/o para o desenvolvimento e aplicaç/o doconceito do R*igh +alueR) isto %) a produç/o de artigos de alta tecnologia e grande

    valor agregado2 ste recente &en*meno iniciado na d%cada de >ILO tem gerado como

    principais pro-lemas um crescente desemprego (considerado como ;estruturalILJ quando o 7lano Cruzado se deteriora e se inicia o grande db.cle de

    usinas regionais $ um pro&undo e particular processo de desindustrializaç/o) que se

    instalou nas entran'as do complexo açucareiro da regi/o2

    Qudo começaria $ como assinala 7ereira 7into (7?+Q3) >IIKFOD" $ com o &ec'amento

    da C37,HU) a cooperativa de produtores de açúcar de Campos que operou como

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    sím-olo da última %poca de esplendor das usinas campistas2 ste &ato veio a

    pressagiar a pro&unda crise &inanceira que atingiria o setor como conseq0ência do

    endividamento insustent4vel assumido pelas usinas) situaç/o esta que terminaria com

    um surto de pleitos e execuç#es :udici4rias assim como políticas de retal'amentos e

    entraves &inanceiros) traduzidos na ausência de cr%dito e capital de giro na praça2 stacon:ugaç/o de &atores &uncionaria como e&eito disparador da crise do setor) levando 6

    &alência e desativando quase completamente o parque industrial campista2

    3 ponto de mutaç/o para a decadência acelerada do setor pode ser identi&icado e

    datado a partir da trans&ormaç/o mal sucedida das usinas tradicionais em grandes

    Centrais açucareiras2 ste processo inaugurado na d%cada de >IJO (Hei SSN de

    >NOJ>" &oi induzido pelo governo &ederal mediante o c'amado 7H8+8H=UC8)

    programa de incentivo ao desenvolvimento agro$industrial açucareiro e conduzidodesde o ?88 (?nstituto do 8çúcar e do Elcool"2 7osteriormente) esta política industrial

    seria re&orçada pela implantaç/o do 738HC33H (>IJ") outro programa de governo

    criado como soluç/o alternativa para o Brasil superar os e&eitos n/o dese:ados da

    con:untura de crise mundial do petrleo2 ?sto seria possível mediante o incentivo ao

    desenvolvimento de destilarias para a produç/o 4lcool ('idratado e anidro" a partir de

    biomassa,  como passou a ser denominada a cana$de$açúcar enquanto &ator

    energ%tico2 +esse momento as usinas tradicionais produziam uma media di4ria de OO

    a D2OO toneladas) enquanto com a implantaç/o das grandes Centrais produtoras deaçúcar poderiam atingir$se altos níveis de produtividade que iram variar de F2OOO at%

    >O2OOO toneladasdia2 8ssim) a reconvers/o industrial tornou$se condiç/o priorit4ria

    para a expans/o econ*mica do setor dese:ada pelo governo e a classe usineira2 sta

    mudança de rumo exigiu a aplicaç/o de um grande volume de investimentos

    necess4rios para alavancar a modernizaç/o2 ste processo implicava)

    simultaneamente) uma mudança paradigm4tica no sistema produtivo e na mentalidade

    dos usineiros2 ?sto signi&icou uma re$engen'aria empresarial acompan'ada da

    incorporaç/o massiva de tecnologias muito mais so&isticadas e caras na es&era da

    produç/o) assim como tam-%m a construç/o de o-ras civis &ara*nicas) circunstancia

    que redundou na &ormulaç/o de megapro:etos caros e na necessidade de &azer &ortes

    investimentos de capital que ocasionariam endividamentos &a-ulosos por parte dos

    usineiros locais com o setor &inanceiro e o ?88) agentes mediadores deste processo2

    7aralelamente o risco am-iental e o deterioro da paisagem natural da regi/o crescia

    exponencialmente2

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    3utro dato signi&icativo para a compreens/o da reestruturaç/o industrial re&erida) &oi o

    alto custo de manutenç/o das novas Centrais2 ste &ator o-rigava) por um lado) a

    manter um &luxo continuo e crescente de produç/o que implicava o &uncionamento

    a&inado de um esquema de a-astecimento permanente de mat%ria prima2 sta

    din1mica esteve associada diretamente ao logro de altos níveis de produtividade naslavouras) exigindo a ampliaç/o das 4reas de cultivo) a mecanizaç/o das coletas) a

    incorporaç/o de irrigaç/o e o mel'oramento gen%tico das variedades de cana

    disponíveis2 7or outro lado) as Centrais açucareiras demandavam a existência paralela

    de um complexo e e&iciente sistema de in&ra$estrutura de serviços em pleno

    &uncionamento (transporte) estradas) disponi-ilidade de 4gua) sistemas de

    decantaç/o) m/o de o-ra especializada) etc2" que n/o &oi desenvolvido nem

    incorporado em tempo devido 6s di&iculdades &inanceiras apontadas2

    3 processo de adaptaç/o) reavaliaç/o e a:uste das inovaç#es tecnolgicas e das

    pr4ticas e sa-eres exigidos para tornar rent4vel a operaç/o das Centrais açucareiras)

    de&iniram um período de transiç/o que se alongou por quase uma d%cada2 sta

    circunstancia condicionou des&avoravelmente as metas de produç/o a serem atingidas

    at% o ponto dos níveis de produtividade alcançados se tornaram insu&icientes para a

    manutenç/o da saúde &inanceira destes mega empreendimentos2 3 descompasso

    descrito) somado 6 ausência de potencial para resolver o pro-lema crucial da -aixa

    produtividade agrícola e deste modo reverter 6 ociosidade crescente das imponentesCentrais &ato que levaria 6 reduç/o  dos altos custos &inanceiros pagos para a

    so-revivência das empresas) tornaram a inadimplência e a &alência um destino

    inexor4vel para a maioria dos empreendimentos açucareiros da regi/o2

    3 &en*meno da desapariç/o de uma estrutura industrial su-stituída por outra n/o %

    algo novo2 8 novidade radica &undamentalmente na relativa rapidez como isto ocorreu

    na regi/o do município de Campos) deixando repentinamente grandes extens#es de

    lavouras a-andonadas e co-ertas de instalaç#es em desuso) 'o:e em ruínas)

    sucateadas pelo tempo e que &oram aos poucos depenadas pelos e&eitos da crise e a

    voracidade dos interesses em :ogo gerados pelos con&litos decorrentes das &alências e

    seus esplios2 sta realidade coloca em alto risco de perda todo o sa-er t%cnico)

    arquitet*nico) cientí&ico e a tradiç/o cultural acumulada ao longo da 'istria do mundo

    do açúcar campista2 +esse contexto descrito o apelo a 'istoria e a memria visual

    gan'a valor 'eurístico2

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    A gramática da lu,: Cambahyba tempo e escrita fotográfica 

     Usina Cam-a'y-a 'o:e Usina Cam-a'y-a em >INO$O (&oto do El-um"

     8 antiga usina de Cam-a'y-a) 'o:e em avançado processo de a-andono) se encontra

    localizada em Martins Hage) Ddo2 =u-distrito do Município de Campos do Goytacazes)

    !) prximo 6 margem ocidental do io 7araí-a do =ul numa 4rea que) at% meados da

    d%cada de IO) manteve uma notria atividade industrial2 3 ;Complexo 8groindustrial

    de Cam-a'y-aIJI uma 4rea total prpria de S2JSF Aa2 somadas >>>S Aa2 arrendadas das quaisSDOO (L)L" &oi 4rea de produç/o dedicada 6 cana) >FFI Aa2 (>SV" de pecu4ria) DOO

    Aa2 (D)V" reserva legal e DO Aa2 (O)F>" 4rea inaproveitada219 

     8 escrita visual contida nos ;El-uns de Cam-a'y-a< se concentra num con:unto de

    DOL &otogra&ias in%ditas de um total FID distri-uídas ao longo das >OL paginas que

    comp#em os dois 4l-uns desco-ertos interior das ruínas da usina2 =em data precisa e

    sem autoria declarada) se presume por analogias com outras &ontes da %poca DO) que

    as &otos &oram ela-oradas aproximadamente entre >IN e >IO por um &otogra&o

    pro&issional vindo de &ora da cidade de Campos2 +/o existem in&ormaç#es so-re a

    existência nem conservaç/o de outros 4l-uns deste tipo na cidade) raz/o pela que se

    intui que &oi um tra-al'o encomendado a algum pro&issional especialista neste tipo de

    la-ores em &unç/o a qualidade das &otogra&ias e apresentaç/o2

    19 =8+Q8+8) 8ndr% =antos (>ILN" 3 sucesso da crise na regi/o de Campos) 5issertaç/o de Mestrado

    U,!) p4g2 DSN20 3 tra-al'o de dataç/o das &otos &oi realizado con:untamente com o pro&essor Heonardo asconcelos(C,Q$Campos" e o ex usineiro !orge enato 7ereira Pinto.

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     3 &ormato dos El-uns) de cor verde) % retangular com dimens#es de FN cm de altura x

    NI cm de largura2 8s &otogra&ias s/o todas em preto e -ranco) de taman'o de

    >>x>Jcm2 e dispostas em ordem de N &otogra&ias por &ol'a2 Cada &ol'a possui duas

    legendas explicativas que servem didaticamente como guia para o leitor2

     

    7agina do El-um da Usina Cam-a'y-a2

    ?nicialmente o tra-al'o se concentrou em de&inir a unidade de analise ou -locos

    discursivos tem4ticos contidos no El-um de Cam-a'y-a2 3s -locos &oram

    classi&icados em sete categorias que identi&icam a composiç/o do patrim*nio dausina) a seguirK

    Categoria >K Casa do Usineiro (N &otos"

    Categoria DK Qerras pertencentes a usina T tra-al'adores rurais (S &otos"

    Categoria FK ila de empregados e oper4rios da Usina (DJ &otos"

    Categoria NK Maquinaria) acessrios e implementos agrícolas (D &otos"

    Categoria K di&ícios ) dependências e instalaç#es da Usina (F &otos"

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    Categoria SK eículos e a-astecimento (DD &otos"

    Categoria JK 8nimais de criaç/o (FO &otos"

    7osteriormente a esta categorizaç/o inicial das imagens) aplicou$se) inspiradas nas

    orientaç#es metodolgicas de 8na Maria Mauad (>IIS") duas &ic'as de elementos2

    Uma primeira re&erida 6s in&ormaç#es de !orma do conte/do das &otos (número do

    4l-umP numero da &otoP local retratadoP tema retratadoP pessoas retratadasP o-:etos

    retratadosP atri-uto das pessoasP atri-uto da paisagemP categoria retratadaP qualidade

    da &oto(-oa razo4vel e ruim"2 7osteriormente se aplicou outra dedicada a registrar a

    !orma de e0press$o das &otogra&ias) -aseada no tipo de enquadramento privilegiado

    pela &otoK ?K direç/o da &oto esquerda) direita e centro) ?? distri-uiç/o dos planosK 7G

    geral) 7M m%dio) e 77 primeiro planoP e enquadramento ???K o-:eto central2 8s

    in&ormaç#es coletadas constituíram a -ase de nossa interpretaç/o2

     8s &otogra&ias agrupadas e divididas em eixos tem4ticos relatam e ordenam de &orma

    visual um pro:eto de leitura so-re o cotidiano do tra-al'o da usina) descrevendo

    detal'adamente as estruturas materaisi) as &ases) tare&as e articulaç#es que d/o

    ordem e sentido a estrutura de &uncionamento do complexo agroindustrial2 =/o

    sequencias previamente roteirizadas e produzidas so-re a totalidade das tare&as da

    usina) compondo um discurso visual sumamente did4tico so-re o dia a dia do mundo

    do tra-al'o do acucar) su-lin'ando suas amenidades e) so-retudo) a modernidade e

    magni&icência do empreendimento2 3 registro &otogr4&ico das instalaç#es da usina se

    nos apresenta com uma verdadeira viagem documental e pedaggica pelo interior da

    usina) sinalizada e orientada atrav%s de -reves e e&icazes legendas explicativas

    mecanogra&adas atri-uídas a cada uma &otos2 las conduzem &acilmente ao leitor

    curioso para um passeio visual que se inicia no exterior) :ustamente desde nos portais

    do :ardins da casa do usineiro) e prossegue pelo interior da &a-rica) apresentando seus

    edi&ícios externa e internamente) suas maquinarias grandiosas) as rotinas de tra-al'o

    e seus ar&i&ices alin'ados nos mais variados postos de tra-al'o com seus instrumentos

    e munidos de indumentarias apropriadas) assim tam-%m como percorre as instalaç#es

    su-sidiarias e anexas do complexo agrícola com suas lavouras) mostrando a

    diversidade e riqueza de paisagens e tare&as que compon'am o dia a dia de

    Cam-a'y-a2

    Um dos El-uns consigna em sua legenda inaugural seu propsito evidenteK“

    industria #ucareira e lcooleira esta con!inado um papel importante na economia

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    nacional& 2aremos a3ui uma demonstra#$o das atividades 3ue encerram uma usina

    campista, a 4ambahba2 8 apropriaç/o e uso da noç/o de ;El-um &otogr4&ico comemorativo< como produto

    ideolgico &ormulador de novos signi&icados a partir de uma ela-oraç/o est%tica

    -aseada em valores de numa sociedade ;moderna< vista em desenvolvimento)

    su-metida a uma ordem disciplinar do stado centralizado) pautada na ausência de

    con&lito) o apelo ao nacionalismo) 6 :ustiça social e o progresso econ*mico) entre os

    pontos mais destacados) tal como &ora preconizado desde >IFI pelo stado a traves

    da aç/o do 5?7$ 5epartamento de ?mprensa e 7ropaganda e cu:o exemplo

    encontramos na o-ra malograda do El-um ;ida Getuliana

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    F2 5enotar a import1ncia do tra-al'o e da materialidade das condiç#es de vida

    alcançadas dentro da usina (moradia) educaç/o) saúde) alimentaç/o" associadas 6

    &igura do usineiro como patr/o) o que equivale 6 identi&icaç/o do Usineiro com o

    stado enquanto provedor de -em estar) trans&ormando as conquistas sociais dos

    tra-al'adores em realizaç#es do usineiro instituídas tradicionalmente na regi/o so-rea &orma da d4diva e suas express#es paradigmaticasK o paternalismo e o coronelismo2

    N2 7romover a mitologia do usineiro -aseada na imagem de provedor dos po-res)

    valores prprios do 'umanitarismo crist/o adotados pelo arguismo e -aseados na

    caridade e o assistencialismo2

    +este sumario exercício de uso da &onte &otogr4&ica e es-oço de um regime de

    visualidade associado aos valores produzidos pela ideologia tra-al'ista da ra argas)

    -uscou$se adicionalmente integrar ao ato interpretativo o interesse patrimonial de

    resgatar e preservar certos vestígios materiais que exempli&iquem e testemun'em por

    igual um ciclo tecnolgico e um sistema de tra-al'o que &or:aram a riqueza de uma

    clase e alavancaram um setor vital da economina exportado do pais) a agroindustria2

    3s 4l-uns em evidencia n/o somente narram detal'es e peculiaridades de um ciclo

    industrial no seu peculiar momento de apogeu) sen/o que tam-%m constituem uma

    etapa na continuidade dos desco-rimentos e os avanços aos que muitas vezes d/o

    lugar) assim como podem ser parte das repercuss#es geradas na evoluç/o doso&ícios) procedimentos e modos de viver de uma determinada sociedade no tempo2

    m contraste com as experiências de desenvolvimento patrimonial das regi#es

    açucareiras do nordeste (eci&e) 7ernam-uco" e de =/o 7aulo (7iracica-a") onde o

    senso de preservaç/o das ;tradiç#es< da industria sucroalcooleira permanece presente

    e associado 6 vitalidade) import1ncia e sucesso deste setor na economia) a política e a

    cultura regional) em Campos dos Goytacazes paradoxalmente se preserva a

    invisi-ilidade desta 'istoria sendo a recuperaç/o deste passado e do patrim*nioassociado ao mundo do açúcar um assunto negligenciado) :4 que o mesmo e

    apresentado como met4&ora de algo inerte e traum4tico2

    3 &racasso econ*mico recente do empreendimento açucareiro na regi/o expresso na

    desindustrializaç/o avancada e irreversivel) somado ao &en*meno da ;demonizaç/o<

    da classe do setor dos usineiros pelo discurso político recente) gerou um &orte

    sentimento de &rustraç/o que passou a ser cristalizado no imagin4rio coletivo das

    novas elites como representaç/o meta&rica que associa Campos ao lugar do ; já !oi 

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    potencia enunciativa das &otos que comp#em os 4l-uns de Cam-a'y-a nos convida a

    recompor e de-ater o mundo de tra-al'o e a vis/o da classe dos usineiros) sua

    riqueza intrínseca e os limites que o-staculizam a revis/o da 'istria da regi/o2 sse

    passado) da mesma &orma que os 4l-uns a-andonados dentre as ruínas da vel'a

    usina) permanece oculto e sendo univocamente associado ao arcaísmo da sociedadee) desta &orma) sistematicamente negligenciado como re&erencial patrimonial desua

    comunidade2 3 mundo do açúcar em Campos dos Goytacazes reduzido a

    monumentalidade de suas ruinas se torna invisível e desta maneira tra-al'oso para

    sua rea-ilitaç/o) tornando qualquer pro:eto de re$quali&icaç/o do complexo

    agroindustrial campista uma operaç/o delicada e complexa2 3peraç/o que demanda

    cuidado em sua a-ordagem) &ormulaç/o e tratamento) :4 que qualquer tentativa de sua

    reivindicaç/o) ainda que critica) se torna polêmica) em &unç/o das desaveniencias

    recente e das sensi-ilidades existentes a &lor de pele quando se &az re&erência 6discuss/o política do assunto) pelos &ortes interesses em :ogo na apropriaç/o política

    e usos desse passado2 8 este &en*meno se somam os e&eitos decorrentes das

    controv%rsias e litígios :urídicos ainda em a-erto e) &undamentalmente) as &eridas que

    o açúcar causou na trama pro&unda da sociedade campista) uma comunidade

    marcada a &ogo pela escravid/o) a desigualdade) a su-$cidadania e o atraso num

    contexto de ;modernidade< inconclusa que 'o:e demanda se completar para acol'er

    os -ene&ícios provenientes do -oom atual do ciclo petroleiro2

    /eferencias bibliográficas

     8BU) Capistrano de (>ILD" Cap0tulos de hist+ria colonial e os caminhos do

    povoamento do 'rasil2 BrasíliaK UnB2

     8H8+G8) !o/o de2(>LLL" Almana1 mercantil industrial administrativo e

    agr0cola da cidade e munic0pio de Campos2 CamposK Monitor Campista2

     88U!3) icardo Benzaquem (>ILS" “ dono da casa7notas sobre a imagem do poder no mito +argas” 2 eligi/o e =ociedade) vol2>F) n2D) :ul'o

     8UM3+Q) !acques e M8?) Mic'el (DOOF" )icionário te+rico e cr0tico de cinema 2

    CampinasK 7apirus ditora2

    BUCA) +oel (>ISI" Prá2is do cinema 2 =/o 7auloK ditora 7erspectiva2

    C88HA3) 8ugusto de2 (>LLL" Apontamentos parta a hist+ria da Capitania de 3.

    4homé. CamposK =ilva) Carneiro Z Comp2

    ,[5?Q) !úlio (>IOO"3ubs0dios para a hist+ria dos Campos dos 5oytaca,es desde

    os tempos coloniais até a proclama$*o da rep%blica 2 CamposK !2 8lvarenga ZCompan'ia)

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    ,[) Gil-erto(>INF" Casa grande 6 sen,ala7 forma$*o da fam0lia brasileira

    sob o regime da economia patriarcal2 N2 ed2 io de !aneiroK !os% 3lympio2

    ,3UC8UHQ) Mic'el2 (>II" Ar8ueologia del saber2 M%xicoK =iglo ..?

    G35H?) Maurice (>IIS"2 ;8as coisas 3ue se devem dar, das coisas 3ue se devem

    vender e da3uelas 3ue n$o se devem dar nem vender, mas guardar 

    IJI" O engenho central do om !ardim na economia baiana" alguns

    as#ectos de sua história $%'()%*%+, io de !aneiroK 8rquivo +acional2

    7?8 7?+Q3) 8nt*nio Carlos2 (DOON" ;@uem que-rou a casa de meu paiIN" Formação do Brasil contemporâneo (col*nia"2 D2 ed2

    =/o 7auloK Brasiliense2

    7853) Maria mília (>IJI" O mundo das usinas; problemas da agroindstria

    açucareira no munic!pio de "ampos #19$$%19&' :2 +iteri2 5issertaç/o (Mestrado"

    U,,) >IJI2

    $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$(DOOD" &as 4erras dos Canaviais. Campos dos 5oytaca,es

    ?@

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    $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$(DOOO" 9m 'usca do Progresso" (s 9ngenhos Centrais e a

    Moderni,a$*o das Unidades A$ucareiras no 'rasil2 io de !aneiroK 7apel Z irtual2

    =8?+Q$A?H8?) 8uguste de (>IN>" #iagens pelo distrito dos diamantes e litoral do

    'rasil2 =/o 7auloK +acional) (Brasiliana) v2 D>O"2

    =8+Q8+8) 8ndr% =antos (>ILN" ( sucesso da crise na regi*o de Campos)5issertaç/o de Mestrado) U,! se

    =?H8) u-ens i-eiro Gonçalves da (DOOO )igitali,a$*o de acervos fotográficos

    p%blicos e seus refle2os institucionais e sociais: tecnologia consciDncia no

    universo digital2 Qese de 5outorado U,!C3) io de !aneiro) se2