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Curso Online: Gestão de Custos e Avaliação de Resultados Módulo 1 Módulo 1 - Importância da Gestão de Custos Maurício Palma Nogueira Engenheiro Agrônomo Coordenador da divisão de gestão empresarial da Scot Consultoria Há alguns anos, tem-se discorrido sobre a necessidade de profissionalização da produção agropecuária. O debate na agricultura do final do século XX foi em torno de como gerenciar a produção de maneira moderna, visando à sobrevivência e ao crescimento da empresa rural ao longo dos anos. As inovações exigidas no campo vão desde a adoção de tecnologias até a administração, que deverá cada vez mais ser baseada em conceitos de mercado e exigência do consumidor. Até o início da década de 90, os produtores brasileiros viviam outra realidade, com o país fechado aos produtos estrangeiros, inflação elevada, mercados regulamentados, etc. A abertura do mercado, o fortalecimento da moeda nacional, o “fim” da inflação exorbitante e a formação de blocos, como o Mercosul, alteraram significativamente as características das condições da agricultura. Os aparentes ganhos com o processo inflacionário desapareceram ao mesmo tempo em que os produtos brasileiros começaram a sofrer concorrência externa de produtos de outros países. Nesse período, também se observou a rápida mudança nos hábitos de compra dos consumidores. Além de modificarem os locais de compra, outros itens entraram no orçamento das famílias brasileiras. Peter Drucker coloca que uma das principais características do século XX foi a redução contínua do preço dos produtos da terra: agropecuários, florestais, metais e minerais. Seu valor econômico, comparado com o dos produtos manufaturados, diminuiu mais e 50% ao longo dos últimos anos. No Brasil, essas mudanças concentraram-se na década passada, de 1991 a 2000. Todas essas mudanças, em um curto prazo de tempo, exigiram ganhos em competitividade, algo que parecia ser distante do empresariado brasileiro. Não se compete com os vizinhos de cerca, como se acreditava anteriormente, mas sim com produtores de outros países e com a preferência do consumidor no momento de alocar suas despesas. Hoje o setor de alimentos compete claramente com uma conta de celular, por exemplo. Alimentos com demanda

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Economia ADM

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  • Curso Online: Gesto de Custos e Avaliao de Resultados

    Mdulo 1

    Mdulo 1 - Importncia da Gesto de Custos

    Maurcio Palma Nogueira Engenheiro Agrnomo

    Coordenador da diviso de gesto empresarial da Scot Consultoria

    H alguns anos, tem-se discorrido sobre a necessidade de profissionalizao da produo agropecuria. O debate na agricultura do final do sculo XX foi em torno de como gerenciar a produo de maneira moderna, visando sobrevivncia e ao crescimento da empresa rural ao longo dos anos. As inovaes exigidas no campo vo desde a adoo de tecnologias at a administrao, que dever cada vez mais ser baseada em conceitos de mercado e exigncia do consumidor. At o incio da dcada de 90, os produtores brasileiros viviam outra realidade, com o pas fechado aos produtos estrangeiros, inflao elevada, mercados regulamentados, etc. A abertura do mercado, o fortalecimento da moeda nacional, o fim da inflao exorbitante e a formao de blocos, como o Mercosul, alteraram significativamente as caractersticas das condies da agricultura. Os aparentes ganhos com o processo inflacionrio desapareceram ao mesmo tempo em que os produtos brasileiros comearam a sofrer concorrncia externa de produtos de outros pases. Nesse perodo, tambm se observou a rpida mudana nos hbitos de compra dos consumidores. Alm de modificarem os locais de compra, outros itens entraram no oramento das famlias brasileiras. Peter Drucker coloca que uma das principais caractersticas do sculo XX foi a reduo contnua do preo dos produtos da terra: agropecurios, florestais, metais e minerais. Seu valor econmico, comparado com o dos produtos manufaturados, diminuiu mais e 50% ao longo dos ltimos anos. No Brasil, essas mudanas concentraram-se na dcada passada, de 1991 a 2000. Todas essas mudanas, em um curto prazo de tempo, exigiram ganhos em competitividade, algo que parecia ser distante do empresariado brasileiro. No se compete com os vizinhos de cerca, como se acreditava anteriormente, mas sim com produtores de outros pases e com a preferncia do consumidor no momento de alocar suas despesas. Hoje o setor de alimentos compete claramente com uma conta de celular, por exemplo. Alimentos com demanda

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    elstica tendem a perder espao no consumo quando falta capital por parte do consumidor. Dessa forma, caem as vendas e, conseqentemente, os preos dos produtos. Quando se diz que a agricultura brasileira andou segurando a inflao durante o plano Real, no porque houve uma fora do governo para baixar os preos. O que aconteceu que, com o mercado aberto: a moeda fortalecida e estvel, o consumidor brasileiro passou a ter mais poder de deciso, optando por desembolsar menos na compra de alimentos. Como resultado, os produtores agrcolas tiveram seus preos recuados ao longo dos ltimos anos. Segundo artigo publicado na Folha de So Paulo, em maro de 2001, o brasileiro est gastando menos com a alimentao. Isso no quer dizer ele est comendo menos. Significa que os preos dos alimentos subiram menos, nos ltimos anos, em relao aos gastos com habitao. De acordo com o IPC (ndice de Preos ao Consumidor) a inflao acumulada durante o plano Real, de agosto de 94 a dezembro de 2000, foi de 94%. Enquanto os alimentos variaram abaixo da inflao (45% no perodo), os gastos com habitao tiveram aumento superior: 160%. Ainda pelo levantamento de Carvalho (2001), em maio de 2001, um salrio mnimo comprava 1,23 cesta bsica, enquanto em maio de 1995 um salrio mnimo era suficiente para a compra de apenas 0,99 cesta bsica, o que permite deduzir que a agricultura ainda permanece como ncora verde da inflao brasileira. Observe, na Figura 1, a evoluo do poder de compra em nmeros de cestas bsicas adquiridas com um salrio mnimo.

    Como a renda da populao no melhorou consideravelmente nestes ltimos anos, pode-se afirmar que houve perdas nos valores de vendas dos produtos agrcolas destinados alimentao, como leite, carne, ovos, gros, hortcolas, frutas, etc.

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    Figura 1: Nmero de cestas bsicas adquiridas com 1 salrio mnimo ao longo dos ltimo anos

    Fonte: Dieese/Scot Consultoria

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    Figura 1: Nmero de cestas bsicas adquiridas com 1 salrio mnimo ao longo dos ltimo anos

    Fonte: Dieese/Scot Consultoria

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    Observe nas Figuras 2 e 3, a seguir, a evoluo dos preos do leite e do boi gordo nos ltimos anos.

    Essa perda real nos valores comum para a maioria dos produtos agropecurios. Na prtica, dentro da rotina das empresas, esse fato sentido como a necessidade de aumento de escala para que seja possvel manter o mesmo padro de vida ou as mesmas lucratividades. Exemplificando: h dez

    Figura 2: R$ deflacionados por litro de leite em So Paulojaneiro de 1991 a dezembro de 2004

    Fonte: IEA/Scot Consultoria

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    Figura 3: R$ deflacionados por @ do boi gordo em So Paulojaneiro de 1991 a dezembro de 2004

    Fonte: IEA/Scot Consultoria

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    anos um pecuarista com mil cabeas de boi tinha um poder de compra que hoje j no tem com as mesmas mil cabeas. Em outras palavras, o poder de compra do empresrio rural tem diminudo ao longo dos anos. As Figuras 2 e 3, que apresentam os preos de alguns produtos pecurios quando se considera a inflao, permitem concluir que o poder de troca dos pecuaristas, tanto de boi como de leite, vem se reduzindo nos ltimos anos. Ou seja, o produto oriundo da pecuria no se valorizou no mesmo ritmo em que foram valorizados os eletrodomsticos, a gasolina, aluguis, energia eltrica, servios, etc. Competitividade Hoje quase impossvel calcular o preo de um produto a partir dos custos de produo e da definio das margens do empresrio. O exemplo mais vivo, hoje em dia, fora da agricultura, o que retrata a situao que ocasionou a crise das companhias areas. Trabalharam com preos abaixo de seus custos e criaram uma crise que deve se tornar insustentvel dentro de um curto espao de tempo. No conseguem cobrar mais pelos assentos. Se aumentam o preo, reduz-se o nmero de clientes e os custos continuam no cobertos do mesmo jeito. Os preos, portanto, so decididos pelo consumidor. Na agricultura, os preos so formados da mesma maneira e, como observado anteriormente, vm se reduzindo ano a ano. A sada que o setor busque alternativas que possibilitem maior competitividade, sendo possvel manter o nmero de clientes e aumentar as vendas. Jank et al. (1999) definiram competitividade como a capacidade de sobreviver e, de preferncia, crescer em mercados concorrentes ou novos mercados. Citam ainda o autor norte americano Michael Porter, para o qual um dos elementos-chave das vantagens competitivas a presena de fornecedores e distribuidores internacionalmente competitivos, explicitando as relaes verticais de dependncia que so subliminares ao desempenho positivo das empresas. Em resumo, de nada adianta um frigorfico ou uma indstria de suco serem altamente competitivos, se os seus fornecedores pararem no tempo. Portanto todos os elos das cadeias agro-industriais devem ser competitivos, de modo que o agronegcio de determinado produto, como um todo, tenha sucesso. Um bom exemplo o sistema agroindustrial da carne de frango. As indstrias modernizaram-se, abriram mercado, inovaram produtos e tornaram-se competitivas tanto internacional como nacionalmente. O sucesso do produto frango brasileiro no seria to grande se no tivesse sido investido na verticalizao da produo, que praticamente obrigou o produtor a ser eficiente na produo e na ateno qualidade e ao padro do produto. A competitividade dependente da administrao da produo dentro da empresa.

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    Pois bem, caso a indstria se modernize num ritmo bem acima que o do produtor, porm passe a exigir normas de produo para que sejam atendidas a rigor, o setor obteria a referida competitividade? No necessariamente. O agronegcio do leite vive uma realidade parecida, pois a inconsistncia de resultados econmicos previsveis provoca oscilaes entre produtores que abandonam a atividade, que reduzem sua produo pela venda de vacas ou pela precariedade de alimentao. H laticnios que, num ano, dispensaram produtores com mais de cinco mil litros dirios, por excesso de leite no mercado e, um ano depois, passaram a correr atrs de produtores com uma produo dez vezes menor, oferecendo preos nominais 20% superiores ao antigo produtor que fornecia mais leite. Na pecuria de corte, trabalhos de exportao ainda podem esbarrar na falta de interesse do produtor em investir na rastreabilidade ou de adotar algum procedimento sanitrio que ele acredite que aumente seus custos. Todos se lembram do caso de Navira, no Mato Grosso do Sul, em que se encontrou febre aftosa em apenas uma propriedade, e todo um Estado pagou com a perda de competitividade. O mesmo ocorreu no Rio Grande do Sul, em Jia. Sempre que o assunto guina para essa linha de raciocnio, as posturas e discusses acabam pendendo para o lado poltico e para a previsvel discusso entre explorao do produtor pela indstria. Porm, at que ponto explorao? Seja por excesso de oscilao nos preos ou pela insegurana em consumir o produto, sempre que o setor perde cliente quem paga as contas toda a cadeia de produo. No caso da agricultura, o mais prejudicado o produtor, que acaba sendo o mais pressionado. A Gesto de Custos como ferramenta indispensvel Segundo Antonialli (1998), administrar uma empresa rural resume-se em exercer as funes de planejar, organizar, dirigir e controlar os esforos de um grupo de pessoas, visando atingir objetivos previamente determinados que podem ser a sobrevivncia, o crescimento, o lucro, o prestgio ou o prejuzo. Para Andrade (1998), as empresas atuantes em qualquer setor podem ser divididas fundamentalmente em quatro reas administrativas: produo, financeira, comercializao e marketing e recursos humanos. Segundo Lee Iacocca, uma empresa se resume a quatro coisas: processos, pessoas, produtos e lucros. Observe a Figura 4.

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    Portanto, dentro de toda a abrangncia atual das exigncias que pairam sobre o produtor, um dos quesitos mais importantes o conhecimento dos custos de produo dentro da propriedade. Sem um dos itens apontados por Iacocca, a empresa no sobrevive. Sem conhecer os custos, o empresrio no saber se est efetivando ou no os lucros e nem tampouco ter subsdios para tomar decises corretas para direcionar sua empresa aos resultados positivos ou melhores que os atuais. Ressalta-se, de acordo com Reis et al. (2001), que a atividade produtiva primria o segmento mais vulnervel da cadeia agroindustrial, devido s limitaes tecnolgicas e gerenciais. As limitaes tecnolgicas normalmente acabam sendo sanadas por aqueles empresrios que procuram se desenvolver por meio de informaes, participao de cursos, contratao de assistncia e troca de informaes. Nesses casos, o problema da empresa acaba sendo gerencial, nunca por incompetncia, mas sim pela ausncia de dados que possibilitem decises mais eficazes. As tecnologias que so implementadas trazem, como mote de sucesso, os custos e resultados analisados em outras empresas. Pouco se sabe sobre a realidade daquele caso e se aquela ferramenta tecnolgica se aplica naquele momento para aquela situao, naquela determinada empresa. Sem o controle, muitas vezes demora-se para perceber que se est perdendo dinheiro ou deixando de ganhar. Com uma boa gesto de custos, os resultados tcnicos esperados podem ter sua eficcia avaliada com base na expectativa de resultados econmicos dentro da propriedade. Vrios mtodos possibilitam essa avaliao. Dessa maneira, o produtor poderia prever os resultados de seus investimentos. O produtor deve se profissionalizar por completo, ou seja, deve adotar todas as tcnicas e procedimentos modernos de modo que produza com eficincia, buscando escala e reduo de custos. Porm, antes de qualquer tcnica ser adotada na propriedade, o produtor deve agir como um empresrio, encarando o seu negcio de forma a gerar riqueza e, dessa maneira, planejar e calcular cada passo que ser dado em investimento e tecnologia. Em atividades de baixa rentabilidade por unidade, os erros estratgicos devem ser minimizados, quando no for possvel evit-los totalmente.

    PROCESSOS PESSOAS

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    Figura 4

    Fonte: Lee Iacocca/ Scot Consultoria

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    So poucos os fazendeiros que fazem anotaes contbeis de forma sistemtica, no Brasil, apesar de repetidos esforos pelos servios de extenso rural e algumas universidades, no sentido de divulgar mtodos simples de contabilidade agrcola, h mais de duas dcadas (Noronha, 1981). Estima-se que, h alguns anos, apenas 7% dos pecuaristas do Estado de So Paulo usavam algum tipo de contabilidade. Para Lenza (2001), a maior parte dos fazendeiros est mais preocupada em acompanhar os indicadores de produtividade que os de rentabilidade, at porque geralmente seu dia-a-dia mais ligado aos aspectos da produo. Mas, para ter uma viso precisa da rentabilidade do investimento, necessrio que o fazendeiro, no momento da anlise, deixe de pensar como produtor rural e pense como investidor rural. No controle da rentabilidade devem ser agregados conceitos de microeconomia no clculo dos indicadores de desempenho do investimento, como os conceitos de custo de oportunidade. As medies de produtividade so como estatsticas sobre acidentes: dizem tudo sobre os acidentes domsticos, nas estradas e no local de trabalho, mas no dizem como reduzir a sua freqncia (Deming, 1990). Aliar informaes tcnicas com indicadores econmicos de resultados possibilita maior eficcia nas tomadas de decises na empresa. Dessa maneira, possvel encontrar as respostas necessrias s solues dos problemas e solucion-los. Por isso, Antonialli (1998) lembra que a importncia de controlar mensalmente, os custos e o resultado (lucro ou prejuzo) da atividade , justamente, ter subsdios para as tomadas de deciso. As finanas devem ser vistas como o alimento da empresa. Elas devem ser aplicadas nos lugares onde a empresa quer crescer, no desperdiadas em solo estril, no-frtil. Se as finanas forem usadas apenas como um instrumento de controle, a empresa nunca poder florescer (Crosby, 2001). O controle de custos, portanto, no deve ser usado apenas como relato histrico da sade financeira da empresa, mas ainda dever ser essencialmente aplicado nas tomadas de deciso. Quase sempre, o aumento da produo e da produtividade agropecuria associado ao aumento de renda do produtor. Trata-se de uma interpretao equivocada da sociedade urbana, cometida especialmente pelos bancos e por diversas autoridades governamentais (Carvalho, 2001). Segundo Gomes (1999), a complexidade dos clculos (dos custos de produo) recomenda forte interao entre o tcnico que est determinando os custos e com o produtor, na busca de uma interpretao dos resultados que mais se aproximam da realidade. Sem esse cuidado, bem provvel que o tcnico encontre um elevado custo de produo, enquanto para o produtor a atividade vai muito bem ou vice-versa. A contabilidade de custos tem duas funes relevantes: no auxlio do controle e na ajuda tomada de deciso. No que tange deciso, seu papel reveste-se de

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    suma importncia, pois consiste na alimentao de informaes sobre valores relevantes que dizem respeito s conseqncias de curto e longo prazo sobre medidas de corte de produtos, fixao de preos de venda, opo de compra ou fabricao, etc. (Martins, 1998). A contabilidade de custos, quando acumula os custos e os organiza em informaes relevantes, pretende atingir trs objetivos principais: a determinao do lucro, o controle das operaes e a tomada de deciso (Leone, 1998). Segundo Landim (2001), num momento em que tanto o mercado interno quanto o externo aumentam suas exigncias quanto qualidade dos produtos, a propriedade rural passa a ser exigida em relao sua otimizao administrativa. Nesse contexto, surge a necessidade de profissionalizao do administrador da propriedade, cujas atribuies, alm do planejamento, englobam a organizao das informaes e controle da produo. Andrade (1998) lembra que nas empresas existem basicamente trs nveis: a) Estratgico, em que so estabelecidos os objetivos gerais e as estratgias empresariais; b) Gerencial, em que se determina como alcanar os objetivos propostos no nvel estratgico e; c) Operacional, em que so executadas as rotinas de produo e as implementaes das tcnicas adotadas e planejadas pelo nvel gerencial (veja figura 5).

    exatamente no nvel estratgico da empresa que a maior parte da ateno do empresrio deve estar voltada. nesse nvel de administrao que as informaes tcnicas e econmicas sero analisadas, a fim de que se possa destinar ou cortar recursos da empresa para reas especficas. A prpria metodologia de avaliao, assim como a sistemtica dos clculos, deve ser muito bem definida pelos gestores da empresa, de modo que as informaes no sejam interpretadas sobre ticas diferentes e distorcidas entre si.

    Figura 5: Nveis de administrao

    Estratgico

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    Figura 5: Nveis de administrao

    Estratgico

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    Operacional

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    Grande parte dos empresrios rurais brasileiros acaba controlando apenas o fluxo de caixa, acreditando ser o total dos seus custos de produo. Nesse caso, muitas vezes ocorre o empobrecimento do produtor, que gradualmente vai perdendo a capacidade de investir, sucateando seus bens de produo, sem ter como descobrir as causas do seu lento fracasso na atividade. Entre os que controlam os dados financeiros, os ndices e os investimentos, comum os que acabam no sabendo tomar decises a partir dos dados, especialmente pelo fato de no estarem preparados para elaborar e avaliar um relatrio de custos. De nada adianta coletar os dados se no sero tomadas decises a partir dos mesmos. Uma grande fazenda avaliada pela Scot Consultoria possua um dos melhores sistemas de contabilidade rural, automatizado, com vrias apresentaes grficas e extremamente detalhado. No entanto, por ocasio da contratao da consultoria, planejavam parar um projeto de intensificao, pois acreditavam ser o gargalo e a causa do prejuzo na atividade. Avaliando corretamente os dados que eles mesmos poderiam facilmente ter em mos, a empresa estaria cessando um dos projetos mais rentveis da atividade pelo simples fato de m interpretao dos dados. At alguns anos atrs, as empresas cresciam e sobreviviam por meio do prprio crescimento do mercado. A demanda aumentava e os produtos podiam ser remunerados a preos mais elevados, dentro da realidade econmica da poca. O ganho maior por unidade de produto permitia a sobrevivncia do empresrio que negligenciava os prprios custos de produo. Hoje em dia, a sobrevivncia, o sucesso e o crescimento da empresa so determinados por sua capacidade de competir no mercado. Cada vez mais, encurtam-se os espaos para erros estratgicos em empresas, sejam elas rurais ou urbanas. Pases ricos resolvem problemas dos seus agricultores com subsdios. Na realidade brasileira, com o subsdio fora de cogitao, a alternativa que resta a competitividade. O produtor que no controlar os custos e no tomar decises fundamentadas nos dados levantados, provavelmente no sobreviver na atividade. Os investimentos s podem ser alocados eficientemente caso haja conhecimento dos componentes dos custos de produo. Sem o acompanhamento, acaba-se investindo em itens desnecessrios que se traduzem em maus resultados financeiros ao final do exerccio. A anlise dos custos to fundamental como o conhecimento do mercado para a sobrevivncia de qualquer atividade agrcola.

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    O sucesso, que antes era normalmente obtido com trabalho duro e dedicao, hoje s possvel com um excelente modelo administrativo nos trs nveis: estratgico, gerencial e operacional.