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Orgulho e Preconceito cruzando o Atlântico Moira Bianchi 2015 Edição comemorativa Bienal Rio 2017

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Orgulho e Preconceito cruzando o Atlântico

Moira Bianchi 2015

Edição comemorativa Bienal Rio 2017

45 days in Europe with Mr. Darcy - 2

45 dias na Europa com Mr. Darcy é uma obra de ficção inspirada em

‘Orgulho e Preconceito’ de Jane Austen, cuja primeira publicação ocorreu em 1813. Nomes, personagens, lugares e situações provêm da imaginação da autora ou são usados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais vivas ou falecidas, eventos e locais são meramente coincidências.

Para que o leitor tenha sempre boa companhia e na intenção de sugerir os

acontecimentos vindouros, abrindo cada capítulo há uma frase magistral da Srta. Jane Austen em livre tradução da autora.

Algumas obras primas são citadas como as músicas ‘The long and winding road’ de The Beatles, ‘Garota Sangue bom’ de Fernanda Abreu e ‘Kayleigh’ da banda Marillion; a turnê ‘The Magic Tour’ e a música ‘Crazy little thing called love’ da banca Queen; o filme ‘Le fabuleux destin d’Amélie Poulain’ assim como outras obras de Ms. Austen e seus personagens, poetas românticos, músicas, artistas e escritores contemporâneos.

Layout e capa por Bianchi & Neiva. www.ideiasekits.com.br

Todos os direitos reservados, incluindo de reprodução parcial ou total de qualquer forma. Obra registrada no EDA Biblioteca Nacional – Ministério da Cultura – Brasil -

2015. Direitos à obra da Srta. Jane Austen pertencem ao seu legado.

Direitos aos selos e à fonte TTF da caligrafia de Jane Austen pertencem aos seus criadores.

A autora não detém os direitos de nenhuma obra citada neste livro, mas agradece a inspiração.

Também disponível em Inglês nas versões brochura, ebook e kindle.

www.moirabianchi.com

Copyright © 2015 Moira Bianchi - All rights reserved.

ISBN-13: 978-1512241549

ISBN-10: 1512241547

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Uma nota da autora…

Adoro a obra de Jane Austen – Orgulho e Preconceito em particular - e me descobri ‘escritora’ por causa destes personagens. Depois de quatro romances em Inglês e vários contos publicados em meu blog Hot Rio Chick, essa é a minha primeira tentativa oficial de dar-lhes voz em Português.

Neste livro, originalmente publicado em Inglês em 2013, eu consegui juntar a cidade do Rio de Janeiro à minha paixão por Darcy&Lizzy. Já fazia um tempão que vinha brincando com isso…

A melhor maneira de fazê-lo – e a única no meu ponto de vista – era criar uma protagonista brasileiríssima: uma gata carioca ‘suingue sangue bom’. Me diverti muito na aventura de construir essa Lizzy e dar-lhe um par tão Britânico quanto conseguisse. Trabalhei muito para que essa mistureba desse samba.

Espero que goste de ler tanto quanto gostei de escrever. Minhas outras grandes paixões são meu marido e filho para

quem dedico mais este livro e agradeço por (ainda) aceitarem dividir minha atenção com o computador.

Também agradeço aos meus amigos pelo incentivo, inspiração e feedback, por viajarem comigo pela Europa dando asas à nossa ecdemomania (i.o.w. wanderlust), betas carinhosíssimos; e claro, a todos meus Darcy amigos e amigas que graciosamente esperaram por essa versão em Português.

Last but not least, meus agradecimentos à Ms. Jane Austen que nos presenteou com Orgulho e Preconceitos há 204 anos. Que este livro, de alguma forma, ainda seja digno de comemorar o Bicentenário.

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Uma pitada de poesia…

The long and winding road that leads to your door Will never disappear I’ve seen that road before It always leads me here Leads me to your door…

The Beatles - The long and winding road

...Olha o jeitinho dela falar Olha o jeitinho dela olhar

Olha o jeitinho dela paquerar Garota carioca

Suingue sangue bom Dá gosto de ver a inteligência

Movendo um corpinho como esse

Garota sangue bom – Fernanda Abreu

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Mapa Mundi

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Índice MAPA MUNDI .................................................................................................................................. 5

PARTE 1

CAPÍTULO 1 .................................................................................................................................... 8

AMSTERDAM

CAPÍTULO 2 .................................................................................................................................. 22

AMSTERDAM

CAPÍTULO 3 .................................................................................................................................. 41

AMSTERDAM

CAPÍTULO 4 .................................................................................................................................. 58

AMSTERDAM

CAPÍTULO 5 .................................................................................................................................. 78

AMSTERDAM

CAPÍTULO 6 .................................................................................................................................. 96

RIO DE JANEIRO

CAPÍTULO 7 ................................................................................................................................ 110

RIO DE JANEIRO

PARTE 2

CAPÍTULO 8 ................................................................................................................................ 125

MILÃO

CAPÍTULO 9 ................................................................................................................................ 156

MILÃO, LUGANO

CAPÍTULO 10 .............................................................................................................................. 176

MILÃO, VENEZA

CAPÍTULO 11 .............................................................................................................................. 199

MILÃO

CAPÍTULO 12 .............................................................................................................................. 217

RIO DE JANEIRO

CAPÍTULO 13 .............................................................................................................................. 235

RIO DE JANEIRO

PARTE 3

CAPÍTULO 14 .............................................................................................................................. 263

LONDRES, MANCHESTER

CAPÍTULO 15 .............................................................................................................................. 293

MANCHESTER, MANNHEIN

CAPÍTULO 16 .............................................................................................................................. 329

MANNHEIN, LONDRES

CAPÍTULO 17 .............................................................................................................................. 354

LONDRES, MANCHESTER

PARTE 4

CAPÍTULO 18 .............................................................................................................................. 383

RIO, LONDRES, ATENAS

CAPÍTULO 19 .............................................................................................................................. 417

RIO DE JANEIRO

SOBRE A AUTORA ..................................................................................................................... 442

OUTROS TÍTULOS DA MESMA AUTORA ................................................................................ 443

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…liefje…

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Capítulo 1

Amsterdam

“Uma considerável fortuna é a melhor receita

para a felicidade que já ouvi falar.”

‘Como foi seu fim de semana, Sr. Bingley?’ Geralmente desconfortável e ansioso perto de riquinhos, William Collins forçava-se a ser atencioso com esses dois. Charles Bingley era amigo de Fitzwilliam Darcy e este era sobrinho de sua chefa e orientadora no Mestrado, Catherine de Bourgh. Uma performance obsequiosa era mais um tijolinho na estrada dourada que o levaria a seu objetivo maior.

‘Collins!’ Bingley exclamou a princípio surpreendido pela inesperada proximidade, cumprimentou o funcionário burocrata com um tapinha nas costas. ‘Foi fantástico!’ Riu alto, chamando a atenção das outras pessoas no refinado saguão do Rosier D’Amsterdam Hotel. ‘Tivemos companhia da maior qualidade.’ Ele sorriu de orelha a orelha. Charles Bingley poderia ser modelo de anúncio de pasta de dentes, não só pelo seu sorriso largo, mas por sua ótima aparência. Um jovem bonito, vinte e poucos anos, cabelo castanho claro que era meticulosamente mantido desalinhado no estilo bed hair, amável e muito educado; era o tipo de cara bem vindo em qualquer grupo.

Ao contrário do seu brother “Will Darcy” que, entretido com seu smartfone, levantou os olhos da pequenina tela com um discreto riso de desdém.

Igualmente bonito, Fitzwilliam Darcy era um homem de poucas palavras. Vinte e seis anos, cabelo escuro, esbelto e muito alto, postura perfeita devida à sua predileção por natação, olhos castanhos-mel; se arrumava de forma impecável raramente dando chance a modismos e sempre seguindo o estilo mauricinho rico que o identificava. Havia herdado o sobrenome de sua mãe como nome de batismo, mas renegava “Fitzwilliam” preferindo ser conhecido como “Will” – no máximo William. Darcy poderia ser tachado enfadonho se não estivesse decidido a aproveitar seus vinte anos fugindo de toda e qualquer responsabilidade. Órfão, herdeiro de uma considerável fortuna, recém-formado: era esse o momento para curtir a vida

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livremente. Bingley riu. ‘Admite, Darce! Foi um ótimo fim de semana, os

melhores dias em Amsterdam que eu já tive!’ ‘Isso é fabuloso, Sr. Bingley!’ Collins tinha uma visão clara do

seu futuro. Ele terminaria o Mestrado com mérito e Lady Catherine o premiaria com a tão sonhada promoção a gerente sênior, dando-lhe a responsabilidade de inaugurar os famosos Hotéis Rosier no promissor Brasil. Ele seria o regente de um sucesso absoluto, as unidades Brasileiras do Hotel honrariam a fama da rede e, por conseguinte, ele seria um famoso businessman. Já estava tudo alinhavado (em sua cabeça) e então ele precisava ser muito atencioso com o amigo do sobrinho de sua chefa. Na verdade, o amigo simpático era o único meio que Collins tinha para se aproximar do esnobe e arisco Will Darcy que também era herdeiro do grupo.‘ Fico muito contente em saber que sua estadia no Rosier D’Amsterdam esteja sendo deveras aprazível. Tenho trabalhado com afinco em algumas melhorias-’

‘Não tem nada a ver com o hotel, Collins.’ Darcy disse, olhos atentos à tela do seu telefone.

‘Perdão, senhor?’ Collins perguntou confuso. ‘Ele conheceu outro anjo.’ Darcy tripudiou da animação do

amigo. ‘E não fui só eu!...’Bingley implicou sorrindo. Finalmente Darcy desviou a atenção do seu celular. ‘Certo...’

Franziu as sobrancelhas. ‘Mas eu não acho que Caroline vai gostar de saber que você está falando dela pelas costas.’

Bingley riu da resposta juvenil do seu amigo. ‘Qual é, Darce? Todos vimos as fagulhas que você trocou com aquela Brasileira gostosinha... Lizzy.’

‘Você viu o que você quis ver porque acredita estar apaixonado pela outra.’ Darcy respondeu e novamente voltou ao seu celular.

‘Jane...’Bingley sussurrou sorrindo. Collins tossiu limpando a garganta. ‘Ah! Alguma semelhança

com a Rainha dos Nove Dias? Longos cabelos ruivos, pele alva?...’ Ele sorriu mecanicamente.

Darcy levantou os olhos e deu outra pequena bufada em sinal de desdém sacudindo a cabeça.

Bingley franziu a testa como se Collins tivesse falado javanês. ‘Acertou no cabelo longo, cara, mas o resto...’Como seu amigo, ele

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sacudiu a cabeça. A lembrança da linda garota lhe fez sorrir e continuou equilibrando-se nos calcanhares. ‘Ela é uma Brasileira encantadora, cabelo castanho claro, olhar doce, voz suave... Linda! Jane!...’

Collins continuou sorrindo porque Bingley estava sorrindo, era contagiante.

‘Encontramos com elas no Sábado e acabamos passando a noite em um bar lá na... Aquela praça que está sempre tão cheia... Aquela cheia de ombrelones e...`

‘Leidseplein.’ Darcy resmungou. ‘Leidseplein!’ Bingley bateu palma enfaticamente. ‘Foi o

máximo, as Brasileiras tinham um grupo grande, eles conversam rindo. Cara, eles falam muito rápido em português! As garotas têm família na Inglaterra, então falam Inglês bem fluente e algumas das pessoas do grupo já moram aqui. Foi ótimo!’

Collins manteve seu sorriso de plástico congelado tentando absorver todos os detalhes enquanto Bingley continuava animadamente falando num golpe só.

‘Daí a gente assistiu o ‘Concertos a céu aberto’ no parque ontem à noite. Nós sentamos em mantas na grama, tomamos cerveja e comemos croquetes. Meu amigo azedo até comeu torta de maçã!’ Bingley deu tapinhas nas costas de Darcy.

‘Eu estava tentando ser gentil.’ Bingley riu. ‘Você estava tentando flertar, Darce! Bem tosco,

por sinal.’ Riu mais alto. ‘Cala a boca, Bingley.’ Darcy retrucou e seu telefone bipou. ‘Aquelas garotas, as Brasileiras, elas têm uma família enorme e

estavam todos no parque... Qual era o nome do parque, Darce?’ Bingley perguntou.

‘Voldenpark.’ Darcy e Collins falaram juntos, um sem paciência e o outro forçando interesse.

‘Isso. Que lugar bonito... Mas nada se compara a ela, meu anjo. Pele bronzeada, cabelos longos...’ Bingley suspirou.

Darcy sacudiu a cabeça. Para ele, as coisas tinham sido diferentes do ‘copo meio cheio’ de seu amigo. Foi agradável, mas nem de perto tão maravilhoso. As garotas eram educadas e falavam sua língua fluentemente, quando queriam. Elas eram agradáveis e bonitas. Não, elas eram gatas e quando flertavam sabiam muito bem o que estavam fazendo. Em pequenas doses, talvez...

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‘Brasileiras!...’ Collins sorriu para sua boa sorte. Ele poderia (e até gostaria) fofocar sobre a dolce vita desses playboys mauricinhos, mas tinha que tomar cuidado para não dar um fora; havia muito em jogo. Brasil... Só podia ser um sinal. Ele tinha planos para reinar no país em alguns anos, até já tinha uma estagiária Brasileira! ‘Garotas Brasileiras são realmente encantadoras, todos dizem. Digo, eu sei que são. Tenho uma para mim.’

Darcy levantou os olhos e uma sobrancelha, Bingley levantou as duas.

Collins corou violentamente. ‘Não!’ Ele disse quase em um grito. ‘Não... Vocês entenderam-’ Ele gaguejou. ‘Digo, sim... Não, senhores. Eu só quis dizer que a estagiária Brasileira-’

‘Collins, para com essa bobeira de ‘senhor’. Temos quase a mesma idade, cara.’ Bingley sorriu. ‘Mesmo concordando que as garotas Brasileiras são encantadoras, eu não acho que namorar uma estagiária seja correto, sabe?...’ Ele falou em um sorrisinho.

Darcy bufou e retornou ao seu celular. ‘Não, senhor. Bingley! Senhor.’ Collins sentiu sua testa molhada

de suor. Que bobagem ele havia dito! Agora o esnobe playboy ia achar que ele era um safado tarado por estagiárias. E se ele comentasse com a tia? ‘Quero dizer que Charlotte é uma jovem muito inteligente, muito esperta que tem ajudado bastante e-’

Bingley mostrou as palmas das mãos para Collins. ‘Espera, Charlotte?’

Darcy novamente sacudiu a cabeça. “Cacete, Bingley. Sutil como um hipopótamo.”

‘Sim, senhor.’ Collins disse, testa suarenta e tudo. ‘Bingley.’ Ele se corrigiu. ‘Charlotte Lucas, senhor.’ Ele completou.

‘Charlotte! O mesmo nome de uma das Brasileiras que conhecemos. Não pode ser coincidência!’ Bingley acotovelou o amigo. ‘Ouviu isso?’

Darcy não se deu ao trabalho de reagir. ‘Ela está aqui, Collins?’ Charles perguntou tão ansiosamente

que quase se entregou. ‘Sim!’ Ele disse enfaticamente. ‘Manhã de Segunda-feira toda a

minha equipe está trabalhando com afinco e-’ Collins engrenou seu discurso institucional e por sorte viu a magra, alta e loura Charlotte passar pela portaria carregando alguns fichários e conversando com o Maître do restaurante. ‘Ali está ela.’ Ele respirou aliviado e a

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chamou, ansiando por uma forma de escapar do constrangimento. Charlotte parou onde estava, olhou para seu chefe e após

gastar mais alguns instantes conversando com o Maître, foi ao encontro de Collins. Ao se aproximar, reconheceu os dois caras que colaram nas suas amigas e sorriu tentando achar graça em mais uma coincidência.

‘Bom dia.’ Ela disse sorrindo de lábios fechados. Charlotte era a filha mais velha de um adido consular que carregou sua família ao redor do mundo por anos até ser transferido para o Rio de Janeiro. Pulando de cidade em cidade sem passar tempo suficiente para criar raízes, quando chegou à pequena Petrópolis no interior do Rio de Janeiro em sua adolescência, Charlotte mal se lembrava de Londres, onde havia nascido. Seus pais tinham feito questão que ela e seus irmãos estudassem em escolas britânicas pelos três continentes por onde haviam passado, e em Petrópolis não foi diferente. Mas Charlotte logo descobriu que adoraria ter uma vida carioca e foi isso que solidificou sua amizade com a vizinha Lizzy Bennett que tinha o mesmo desejo.

Por isso achava uma chatice esses caras colados nelas durante o pouco tempo que Charlotte tinha com sua amiga querida de quem sentia saudades já que agora ela não morava mais com os pais. Por pura falta de sorte, seu chefe direto os estava cobrindo de atenções forçando-a a caprichar na simpatia profissional.

‘Charlotte!’ Bingley, em um esforço de cavalheirismo, sorriu trazendo a mão dela aos lábios para um beijo rápido. ‘Que bom te ver! Como vai?’

Ela conteve o riso lembrando-se de Elizabeth resmungando ‘Moçoilos formais. Tão agradabilíssimo que me sinto no tempo de vovó mocinha’. ‘Bem, Charles. Tanto quanto há...’Charlotte checou seu relógio. ‘Cinco horas atrás!’

Ele riu. ‘E você trabalha aqui? Que coincidência!’ ‘Sim, lembra do estágio internacional que Lizzy falou?’

Charlotte perguntou. Curiosamente, só então o indiferente Darcy tirou os olhos do telefone em suas mãos.

‘Charlotte.’ Ele meneou a cabeça. ‘Will.’ Ela respondeu no mesmo tom. ‘Ocupado?’ Ela sorriu e

apontou para o celular. Darcy corou discretamente. ‘Sim, desculpe. Compromissos de

família.’ Não havia nenhuma (boa) desculpa para sua falta de

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educação em não a cumprimentar assim que ela se aproximou deles, ele simplesmente queria ser um discreto e invisível ouvinte da conversa.

Charlotte assentiu com a cabeça e, muito incomodado, Collins trocou seu peso de um pé para o outro. ‘Huh... Srta. Lucas, Sr. Darcy provavelmente tem negócios importantíssimos a tratar.’ Collins tentou engatar seu discurso rebuscado. ‘Ele é sobrinho da grande Lady Catherine e como acionista-’

‘Mesmo? Então ele também é meu patrão. O melhor que tenho a fazer é me ocupar!’ Charlotte fez graça.

‘Absolutamente.’ Darcy disse como se se desculpasse. ‘Sou um hóspede como outro qualquer.’

‘Somos!’ Bingley disse. ‘E você vai trabalhar o dia todo, Charlotte?’

‘Sim. ‘Ela respondeu levantando as sobrancelhas e percebeu Collins ter um espasmo ao seu lado.

‘Quero dizer... Eu pensei...’ Bingley sorriu sem jeito. ‘Bem... Tentei imaginar o que as charmosas Brasileiras teriam planejado para o dia, se gostariam de companhia...’ Ele coçou o pescoço.

‘Ah... Você quer dizer Jane!’ Charlotte disse em um risinho. ‘E Lizzy.’ Esperou para ver se Darcy reagiria ao nome da amiga e o viu endireitar-se. ‘Elas vão passar o dia com a família. Só temos planos para a noite.’ Ela viu a reação de Bingley mudar de triste para esperançosa em segundos e decidiu jogar mais uma isca para, quem sabe, pegar dois peixes de uma vez. ‘Na verdade, Lizzy está vindo aí. Já, já ela chega para pegar os convites da festa de Sábado. O baile beneficente anual do hotel, sabe? Ela mesma pode falar dos planos para hoje... '

Imediatamente Darcy olhou na direção da porta do hotel e corou de novo.

“Na mosca!” Charlotte, em um sorrisinho de lado, pensou vitoriosa. “Viu, Lizzy bobona?”

‘Massa! Quando ela vem?’ Charles quase bateu palmas em seu entusiasmo.

‘Ela acabou de mandar um torpedo dizendo que passaria por aqui no final da corrida.’ Charlotte disse e olhou para o seu próprio celular que estava equilibrado sobre os fichários que carregava. ‘Vocês vão ficar por aqui pelo saguão?’

‘Estamos esperando minhas irmãs descerem.’ Charles

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respondeu. ‘Beleza. Quando ela chegar, eu falo com vocês.’ Charlotte sorriu

educadamente, Charles de orelha a orelha, Collins piscou tentando decidir se a amizade de sua estagiária com os playboys era bom para ele e Darcy prendeu os olhos no seu celular.

---

As diversas nuances de paciência envolvidas no ato de esperar por alguém ou alguma coisa acontecer nunca agradaram Will Darcy. Ele nunca gostou de esperar até a manhã de Natal para abrir os presentes arrumados sob a árvore, ou o Domingo de Páscoa para comer ovos de chocolate nem a eternidade que uma garota leva para se aprontar. No entanto, por educação, ali estava ele: vinte e três minutos esperando pelas irmãs Bingley. Se é que elas viriam.

Todos haviam esticado a noite anterior e as mulheres provavelmente dormiriam até mais tarde, mas Bingley tinha insistido em convidá-las para passear pela cidade mesmo sabendo que elas precisariam de muitos minutos para se aprontar. Pelo menos a espera não foi uma total perda de tempo já que Darcy pôde acalmar sua preocupação fraternal em preciosos minutos online com Georgie e, quem sabe até poderia ver a gata Brasileira de novo. Ela com certeza era atraente - fora de seus padrões, mas atraente.

‘Fora dos padrões’ era o lema dele na atualidade - ao menos Darcy se esforçava para viver a vida bem longe de seus padrões convencionais, estava determinado a viver livre de regras que o atassem.

Algumas, porém eram inevitáveis como a chatice do Baile beneficente do Rosier que aconteceria em alguns dias. Pelo menos ele poderia tirar vantagem da situação. Will Darcy e Charles Bingley tinham chegado à Amsterdam no início da noite de Sexta para aproveitar o final de semana e o Festival de Música Indie que tomava conta da cidade.

Não que tivessem qualquer outro compromisso. Eles que sempre foram bons filhos, bons alunos, bons irmãos e que já tinham completado suas Pós-graduações, poderiam curtir uma folga - folga essa que já durava um ano e que não tinha previsão de acabar. O problema era o peso morto de Bingley (que Darcy fazia força para aturar): suas irmãs Caroline e a recém-casada Louisa mais o marido.

Vinte e cinco minutos. ‘Fora dos padrões’ não era sinônimo para ‘estupidez’.

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‘Bingley, isso já é demais. Não vou perder meu dia preso em saguão de hotel.’ Darcy resmungou e levantou da confortável poltrona. ‘Vou sair e depois a gente se encontra.’

‘É...’ Charles disse miseravelmente. ‘Acho que tem razão.’ Mas assim que ele se levantou, o elevador abriu e Caroline apareceu trazendo consigo seu perfume tão pronunciado que poderia ser outra pessoa.

‘Bom dia!’ Ela disse. ‘Bom dia.’ Darcy resmungou de volta e vestiu seu casaco. ‘Bom dia, Carol. Estamos há meia hora esperando por você!’

Bingley reclamou e deu-lhe um beijo na bochecha. ‘Quando te liguei você disse que já estava vindo.’

‘E vim!’ Ela sorriu. ‘Vou só tomar uma xícara de chá, comer uma fatia de queijo branco e podemos ir. Rapidinho!’

‘Não se apresse, Caroline.’ Darcy disse franzindo a testa. ‘Me ligue quando finalmente sair, Bingley.’

‘Espera, você vai sem a gente?’ Caroline perguntou surpresa. ‘Nós estamos saindo sem você, Carol.’ Bingley respondeu por

Darcy. ‘Espere por Louisa.’ ‘Ela não vem.’ Caroline fez bico. ‘Ela é recém-casada.’ Bingley prendeu os lábios. ‘Bingley, até mais tarde. Caroline.’ Decidido a se livrar da inútil

conversa entre irmãos, Darcy cumprimentou com um aceno. Caroline se desesperou. ‘Mas Charles, você tem que me

esperar. Só estou aqui por sua culpa, você me acordou!’ Ela insistiu. ‘Carol, meia hora...’ ‘Charles!...’ Darcy sacudiu a cabeça, deu um passo na direção da porta e

congelou. ‘Darce, podemos esperar mais cinco minutinhos?’ Bingley

perguntou. ‘Claro.’ Darcy balbuciou. ‘Caroline já gastou sua paciência?’ Bingley zombou rindo. ‘Ela

ainda nem começou a choramingar-` Ele olhou para onde os olhos do amigo estavam atentos. ‘Lizzy!’

Elizabeth Bennett estava conversando animadamente com o porteiro do hotel e se surpreendeu quando ouviu seu nome. Os dois olharam para dentro do saguão e apertando os olhos ela precisou de alguns momentos para reconhecer quem a havia chamado.