Mônica Utiyama

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Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004 ISSN 1675-8265 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE FISIOTERAPIA MÔNICA UTIYAMA ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ALONGAMENTO CONVENCIONAL E A TÉCNICA DE MÚSCULO ENERGIA NO ENCURTAMENTO DA MUSCULATURA POSTERIOR DA COXA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CASCAVEL - PR 2004

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Monografias do Curso de Fisioterapia da Unioeste n. 02 – 2004

ISSN 1675-8265

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE FISIOTERAPIA

MÔNICA UTIYAMA

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ALONGAMENTO CONVENCIONAL E A

TÉCNICA DE MÚSCULO ENERGIA NO ENCURTAMENTO DA MUSCULATURA

POSTERIOR DA COXA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CASCAVEL - PR 2004

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE FISIOTERAPIA

MÔNICA UTIYAMA

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ALONGAMENTO CONVENCIONAL E A

TÉCNICA DE MÚSCULO ENERGIA NO ENCURTAMENTO DA MUSCULATURA

POSTERIOR DA COXA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus Cascavel como requisito parcial para obtenção do título de Graduação em Fisioterapia.

Orientadora: Profª Maria Goreti Weiand Bertoldo Co-Orientador: Profº André Pegas de Oliveira

CASCAVEL-PR

2004

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TERMO DE APROVAÇÃO

MÔNICA UTIYAMA

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O ALONGAMENTO CONVENCIONAL E A

TÉCNICA DE MÚSCULO ENERGIA NO ENCURTAMENTO DA MUSCULATURA

POSTERIOR DA COXA

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de Graduado em Fisioterapia, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

Profª . Josiane Rodrigues da Silva Coordenadora do Curso

BANCA EXAMINADORA

........................................................................................ Orientador: Prof. Maria Goreti Weiand Bertoldo

Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE

.......................................................................................... Prof. Aneline M. Ruedell

Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE

.......................................................................................... Prof. Rodrigo Daniel Genske

Colegiado de Fisioterapia – UNIOESTE

..........................................................................................

Cascavel, 11 novembro de 2004.

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Dedico este trabalho a todos aqueles que sempre me apoiaram e me incentivaram a vencer obstáculos e a acreditar que tudo é possível, se for segundo o propósito de Deus.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que contribuíram para a elaboração e realização desse trabalho, mas dou graças, primeiramente a Deus, que esteve me dando forças e sabedoria para que eu enfrentasse todas as lutas e creio que essa é uma grande vitória em minha vida.

Agradeço aos professores que me apoiaram e me incentivaram a conquistar esse título, são eles: profº Maria Goreti, profº André Pegas, profº Carlos Albuquerque, entre outros que sempre estiveram, mesmo de maneira indireta, tentando me ajudar.

Agradeço aos meus colegas Alceu Jr e Monique os quais me ajudaram e dispuseram do seu tempo para contribuir com a realização deste trabalho.

Agradeço aos meus amigos Ellen, Maria Fernanda, Thiago que passaram juntos todas as ansiedades, estresses e que vão ficar marcados como amigos e companheiros inseparáveis aonde quer que estejam.

Enfim, agradeço aos meus pais, que sempre estiveram presentes e me deram todo o amor e carinho necessário para eu chegar onde estou. Minha família foi indispensável, pois foi através dela que pude recorrer as situações mais marcantes da minha vida.

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RESUMO

O encurtamento da musculatura posterior da coxa pode ser observado em um grande número de crianças e adolescentes, sendo encontrado significativamente nas fases do estirão de crescimento, causando dores, desconfortos e alterações posturais. O objetivo desta pesquisa foi avaliar, através de duas técnicas de alongamento, qual é a mais eficaz, no sentido de minimizar as alterações decorrentes dos encurtamentos dos músculos isquiotibiais, ou seja, aumentar a flexibilidade dos músculos posteriores da coxa, bem como aumentar a amplitude articular dos movimentos. Dez crianças entre 10 a 14 anos foram submetidas ao alongamento passivo, em membro inferior direito e técnica de músculo energia, em membro inferior esquerdo apresentando pré e pós-avaliação sem grupo controle. O tratamento foi realizado em dois meses (2/semana). Ambas as técnicas mostraram-se efetivas para o alongamento dos músculos posteriores da coxa, não havendo deste modo uma mais eficaz que a outra, verificando que, independentemente da escolha destas, o resultado final não sofrerá discrepâncias significativas. Palavras Chaves: Alongamento Estático, Técnica de Músculo Energia, Isquiotibiais, Flexibilidade

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ABSTRACT

The shortening of the subsequent musculature of the thigh can be observed in a big number of infants and adolescents, being found significantly in the phases of the growth, causing pains, discomforts and alterations postures. The objective of this researches was evaluate, through of two techniques of stretching, which is to more efficient, in the sense of minimize the resulting alterations of the shortening of the muscles hamstrings, or be, increase the flexibility of the subsequent muscles of the thigh, as well like increase the amplitude articulate of the movements. Ten infants entity 10 to 14 years were submitted to the passive stretching, in right lower member and energy muscle technique, in left lower member presenting before evaluation and after evaluation without group control. The handling was carried out in two months (2/week). Both the techniques showed itself cash for the stretching of the subsequent muscles of the thigh, not having in this way a more efficient one than to another one, verifying that, independently of the choice of these, the final result will not suffer significant discrepancies. Key Words: Static Stretching, Energy Muscle Technique, Hamstrings, Flexibility

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS........................................................................................................... 8 LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... 9 LISTA DE GRÁFICO ......................................................................................................... 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................ 11 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 14 2.1 Propriedades dos Tecidos Moles que Afetam o Alongamento ................................... 14 2.2 Propriedades Mecânicas do Tecido Contrátil ............................................................. 14 2.2.1 Elementos Contráteis do Músculo ................................................................................ 15 2.3 Mecanismo Geral da Contração Muscular ................................................................. 20 2.3.1 Base Ultra Estrutural (Física) da Contração ................................................................. 22 2.3.2 Base Molecular (Química) da Contração ...................................................................... 24 2.3.3 Resposta Mecânica da Unidade Contrátil ao Alongamento ......................................... 25 2.4 Propriedades Neurofisiológicas do Tecido Contrátil .................................................. 26 2.4.1 Fuso Muscular .............................................................................................................. 27 2.4.2 Órgão Tendinoso de Golgi ............................................................................................ 29 2.5 Reflexos e Outros Circuitos Neurais Espinhais .......................................................... 31 2.5.1 Reflexo Miotático ou de Alongamento ......................................................................... 31 2.5.2 Inervação Recíproca ..................................................................................................... 32 2.6 Desequilíbrios Estáticos ................................................................................................. 33 2.7 Alongamento Passivo ..................................................................................................... 36 2.8 Técnica de Energia Muscular ....................................................................................... 39 2.8.1 Observações Importantes sobre Avaliações e Uso da Técnica de Energia Muscular... 40 2.8.2 Contra-Indicações e Efeitos Colaterais da TEM .......................................................... 41 2.9 Anatomia dos Músculos Posteriores da Coxa ............................................................. 42 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 46 4 RESULTADOS ................................................................................................................. 50 5 DISCUSSÃO ..................................................................................................................... 53 6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 56 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 57 APÊNDICES E ANEXOS ................................................................................................... 60

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Composição de uma Célula dos Músculos Esqueléticos ....................................... 17 Figura 2: Distribuição e Composição das Diferentes Zonas do Sarcômero........................... 18 Figura 3: Localização e Tipos de Miofilamentos Apresentados pelas Fibras ....................... 18 Figura 4: Filamento de Actina ............................................................................................... 20 Figura 5: Seqüência de Eventos que Levam à Ação Muscular .............................................. 22 Figura 6: Teoria do Filamento Deslizante ............................................................................. 23 Figura 7: Esquema Ilustrando os Possíveis Mecanismos para a Produção de Movimentos de Deslizamento Relativo pela Inclinação das Pontes Transversais ......................................

25

Figura 8: Fuso Muscular ........................................................................................................ 27 Figura 9: Órgão Tendinoso de Golgi ..................................................................................... 30 Figura 10: Músculo Semitendinoso ....................................................................................... 43 Figura 11: Músculo Semimembranoso .................................................................................. 43 Figura 12: Músculo Bíceps Da Coxa ..................................................................................... 44 Figura13: Posicionamento Anterior a Mensuração ............................................................... 47 Figura 14: Posicionamento Durante a Mensuração ............................................................... 47 Figura 15: Alongamento Estático .......................................................................................... 48 Figura 16: Técnica de Músculo Energia ................................................................................ 49

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Valores em Graus da Pré e Pós-avaliação do Alongamento Estático ................... 50 Tabela 2: Valores em Graus da Pré e Pós-avaliação da Técnica de Músculo Energia ......... 51

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Comparação entre Alongamento Estático e Técnica de Músculo Energia – Pré e Pós-Avaliação ...............................................................................................................

51

Gráfico 02: Comparação das Médias Aritméticas do Alongamento Estático e Músculo Energia ...................................................................................................................................

52

Gráfico 03: Comparativo do Ganho de Amplitude em Graus do Alongamento Estático e Músculo Energia ....................................................................................................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ca++: Cálcio ATP: Adenosina Trifosfato ADP: Adenosina Difosfato SNC: Sistema Nervoso Central OTG: Órgãos Tendinosos de Golgi ADM: Amplitude de Movimento TEM: Técnica de Energia Muscular ME: Músculo Energia FNP: Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva MID: Membro Inferior Direito MIE: Membro Inferior Esquerdo

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1 INTRODUÇÃO

Segundo Achour (2001), a flexibilidade apresenta melhor fase do desenvolvimento

da infância até o início da adolescência, diminuindo com o crescimento deste indivíduo, caso

não sejam realizados exercícios de alongamento ou atividades que solicitem amplitudes

significativas de movimento.

Há evidências de que, os ossos em crescimento de uma criança, são mais susceptíveis

à certos tipos de lesão mecânica do que os dos adultos, sobretudo em razão da presença da

cartilagem de crescimento, a qual está presente na placa epifisária, na cartilagem articular e

nos locais de inserção dos principais músculos e tendões da criança. A placa epifisária é o

local do crescimento ósseo dos ossos longos. O momento em que o crescimento ósseo cessa

varia para cada osso, mas geralmente ele termina em torno dos dezoito aos vinte anos de

idade. No término do crescimento, as placas epifisárias ossificam e desaparecem, e a

cartilagem de crescimento é substituída pela cartilagem “adulta” permanente (POWERS,

HOWLEY, 2000).

O encurtamento dos músculos posteriores da coxa não impede a posição em pé, mas

caracteriza a postura com inclinação posterior da pelve e diminuição da curvatura lombar,

aumentando a carga na coluna e limitando a extensão do joelho ou a flexão do quadril e

tronco com o joelho estendido. Esta carga aumentada pode comprometer a função e a

estrutura da coluna lombar (MARQUES, 2000; ACHOUR, 2002).

Vários estudos já obtiveram resultados quanto à comparação de técnicas de

alongamento estático passivo e alongamentos usando a estimulação dos órgãos tendinosos de

Golgi, como a técnica de músculo energia para os isquiotibiais, porém cada um mostrou

resultados diversificados.

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Assim, cabe através deste, comparar a eficácia do alongamento convencional com a

técnica de músculo energia a fim de aumentar a flexibilidade dos músculos posteriores da

coxa em crianças de 10 a 14 anos, bem como aumentar a amplitude articular dos movimentos,

verificando-se assim qual técnica é mais efetiva para tal musculatura.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Propriedades dos Tecidos Moles que Afetam o Alongamento

Os tecidos moles que podem restringir a mobilidade articular são músculos, tecido

conectivo e pele. Cada um tem qualidades próprias que afetam sua extensibilidade, ou seja,

sua capacidade de alongar-se. Quando procedimentos de alongamento são aplicados a esses

tecidos moles, a velocidade, intensidade e duração da força de alongamento irão afetar a

resposta dos diferentes tipos de tecido. Tanto as características mecânicas dos tecidos, quanto

às propriedades neurofisiológicas do tecido contrátil afetam o alongamento do tecido mole

(KISNER e COLBY, 1998).

Quando o tecido mole é alongado, ocorrem tanto alterações elásticas quanto

plásticas. A elasticidade é a capacidade que o tecido mole tem de retornar ao seu

comprimento de repouso após o alongamento passivo. Já a plasticidade, é a tendência do

tecido mole de assumir um novo e maior comprimento após a força de alongamento ter sido

removida (KISNER e COLBY, 1998).

2.2 Propriedades Mecânicas do Tecido Contrátil

Segundo Kisner e Colby (1998), o músculo é primariamente composto de tecido

contrátil mas apresenta-se entrelaçado com tecido não contrátil, como tendão e fáscia. A

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principal fonte de resistência ao alongamento passivo do músculo é a malha de tecido

conectivo que há dentro dele, e não os componentes contráteis ativos.

2.2.1 Elementos Contráteis do Músculo

• Estrutura Macroscópica

A contratilidade celular atinge seu máximo de desenvolvimento nos diversos tipos de

tecido muscular. A organização estrutural do músculo está adaptada ao encurtamento

unidirecional durante a contração. Por causa disto, a maioria das células musculares é

alongada e fusiforme. A matriz citoplasmática é extremamente diferenciada, e a maior parte

do citoplasma está ocupada por fibrilas contráteis (De ROBERTIS, 1993).

Guyton e Hall (2002), afirmam que todos os músculos esqueléticos são constituídos

por inúmeras fibras, que variam de 10 a 80 µm de diâmetro. Cada uma dessas fibras, por sua

vez, é constituída por subunidades sucessivamente menores que se estendem por todo o

comprimento do músculo. Com exceção de, aproximadamente, 2% das fibras, cada uma delas

é inervada apenas por uma só terminação nervosa, localizada próximo da parte média da fibra.

As fibras musculares variam de 1 a 400 mm no comprimento e de 10 a 60 µm no

diâmetro. A membrana celular que cerca cada grupo muscular é chamada de sarcolema

(ENOKA, 2000). Esta consiste em uma membrana celular verdadeira, denominada membrana

plasmática, e em um revestimento externo, constituído por fina camada de material

polissacarídico que contém inúmeras e finas fibrilas colágenas. Em cada extremidade da fibra

muscular, essa camada superficial do sarcolema se funde com uma fibra tendinosa e, por sua

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vez, as fibras tendinosas juntam-se em feixes para formar os tendões dos músculos, que, a

seguir, inserem-se nos ossos (GUYTON e HALL, 2002).

Sendo uma membrana plasmática, o sarcolema fornece transporte seletivo ativo e

passivo através da membrana, uma propriedade essencial das membranas excitáveis. Em

razão dessa propriedade, o sarcolema permite que alguns materiais passem através dele

(transporte ativo). O sarcolema tem cerca de 7,5 nm de espessura. O fluido encapsulado

dentro da fibra pelo sarcolema é chamado de sarcoplasma (ENOKA, 2000).

Dentro do sarcoplasma existem fontes de energia (gotículas de lipídios, grânulos de

glicogênio), organelas, enzimas protéicas e o aparato contrátil (feixes de miofilamentos

arranjados em miofibrilas), assim como grande quantidade de potássio, magnésio e fosfato

(ENOKA, 2000).

Está presente, também, grande número de mitocôndrias, localizadas paralelamente as

miofibrilas, condição que é indicativa da grande necessidade das miofibrilas em contração

para a geração da grande quantidade de energia, a partir do ATP, formado nas mitocôndrias

(GUYTON e HALL, 2002).

Segundo Enoka (2000), o sarcoplasma contém ainda um sistema membranoso oco e

extenso que está funcionalmente vinculado ao sarcolema da superfície e que assiste o músculo

na condução dos comandos provenientes do sistema nervoso. Esse sistema membranoso inclui

o retículo sarcoplasmático, bolsas laterais (cisternas terminais) e túbulos transversos (T),

como ilustrado na figura 1.

O retículo sarcoplasmático percorre a fibra longitudinalmente, paralelamente e ao

redor das miofibrilas. Em locais específicos ao longo da miofibrila, o retículo sarcoplasmático

se alarga formando as bolsas laterais. Perpendiculares ao retículo sarcoplasmático e

associados com as bolsas laterais, se encontram os túbulos transversos, invaginações que se

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ramificam do sarcolema. O termo tríade refere-se a um túbulo transverso e duas cisternas

terminais do retículo sarcoplasmático, uma de cada lado do túbulo T (ENOKA, 2000).

Figura 1: Composição de uma Célula dos Músculos Esqueléticos

Fonte: Fisiologia do Exercício (POWERS e HOWLEY, 2002).

O retículo sarcoplasmático tem organização especial, que é extremamente importante

no controle da contração muscular. Os tipos de músculo de contração muito rápida têm

retículos sarcoplasmáticos particularmente extensos, indicando que essa estrutura é

especialmente importante na produção de contração muscular rápida (GUYTON e HALL,

2002).

• Miofibrilas e sarcômeros

Cada fibra muscular contém várias centenas a vários milhares de miofibrilas,

estruturas cilíndricas e espessas de cerca de 1µm de diâmetro as quais apresentam estriações

transversais regulares que resultam da repetição de uma unidade fundamental , os sarcômeros.

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(De ROBERTIS, 1993; ENOKA, 2000; GUYTON e HALL, 2002).

O limite entre os sarcômeros é a linha Z (ou disco Z) que divide as zonas menos

densas ou bandas I (isotrópica) de dois sarcômeros adjacentes. No centro do sarcômero,

distingue-se uma zona mais densa, de filamentos grossos, que inclui alguns filamentos finos

entrelaçados, a banda A (anisotrópica), a qual esta subdividida em dois semidiscos, pelo disco

H (disco de Hensen), isenta de filamentos finos (De ROBERTIS, 1993; ENOKA, 2000). Esta

estrutura pode ser observada na figura 2.

Figura 2: Distribuição e Composição das Diferentes Zonas do Sarcômero Fonte: Estimulação Eletromuscular: o Futuro do Exercício? (MATIAS e CASTRO, 2002).

Cada grupo de filamentos (grossos e finos), apresentados na figura 3, é preso a uma

banda transversal central: os filamentos grossos se ligam a banda M (disco médio - a banda

localizada no meio da banda A), e os filamentos finos se ligam à banda Z. Uma secção

transversa da banda A mostra que cada filamento grosso (miosina com seis pontes transversas

fazendo protusão) é cercado por seis filamentos finos (pequenos círculos abertos), enquanto

um único filamento fino pode interagir com somente três filamentos grossos (ENOKA, 2000).

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Figura 3: Localização e Tipos de Miofilamentos Apresentados pelas Fibras (Thin filament: filamento fino; Thick filament: filamento grosso) Fonte: Estimulação Eletromuscular: o Futuro do Exercício? (MATIAS e CASTRO, 2002).

Para De Robertis (1993), durante a contração muscular na célula viva, estas

estruturas sofrem alterações características, que podem ser observadas ao microscópio de fase

ou de interferência. Enquanto a banda A permanece constante nos diferentes alongamentos

dos músculos, a banda I encurta-se de acordo com a contração dos mesmos. O encurtamento

da banda I deve-se ao deslizamento progressivo dos miofilamentos finos para dentro do

conjunto de filamentos grossos. À medida que a contração progride, os filamentos finos

penetram na banda H, podendo então se sobrepor formando uma banda mais densa no centro

do sarcômero (inversão das bandas). Finalmente, os filamentos grossos entram em contato e

se concentram contra a linha Z. Esses fenômenos envolvem o mecanismo de deslizamento da

contração.

• Miofilamentos

Os componentes moleculares que participam da contração muscular são os seguintes:

as proteínas miosina e actina, que geram força; as proteínas reguladoras, como a tropomiosina

e as diferentes troponinas; e as proteínas estruturais, como a α-actina (que se encontra na

linha Z), as proteínas da banda M e a proteína C (De ROBERTIS, 1993).

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A miosina representa aproximadamente a metade da proteína total da miofibrila. É

uma molécula grande, contrátil, que se encontra no miofilamento grosso, constituída por uma

região cilíndrica helicoidal (S2) e uma cabeça globular (S1). A parte mais importante da

miosina é a porção S1, uma vez que aí estão localizados uma ATPase e o sítio de ligação com

a actina (De ROBERTIS, 1993).

O miofilamento grosso é formado pela associação lateral de várias moléculas de

miosina. O centro do filamento é liso ao nível da região da banda H, enquanto em cada

semidisco A o filamento é rugoso e apresenta pontes transversais de miosina formadas pelas

extremidades globulares da porção S1. Dentro do filamento grosso, as moléculas de miosina

estão polarizadas em direções opostas aos semidiscos A, em ambos os lados da banda H (De

ROBERTIS, 1993; ENOKA, 2000; GUYTON e HALL, 2002).

A actina, por sua vez, representa aproximadamente 25% da proteína da miofibrila.

As unidades monoméricas se polimerizam em duas cadeias helicoidais nas quais a maior parte

da actina é actina F, em vez da actina G. Essas hélices de actina estabelecem a característica

principal da estrutura do miofilamento fino, que contém também tropomiosina e a troponina,

indicados na figura 4 (De ROBERTIS, 1993).

Figura 4: Filamento de Actina Fonte: Fisiologia do Esporte e do Exercício (WILMORE e COSTILL, 2001).

A tropomiosina é uma proteína reguladora que se encontra formando complexo com a

actina F no miofilamento fino. Já a troponina é um complexo de três proteínas que se une às

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extremidades da tropomiosina e se dispõe sobre o miofilamento fino com uma periodicidade

de 40 nm. Seus três componentes são: a troponina C, que se liga ao Ca 2+; a troponina T, que

apresenta grande afinidade pela tropomiosina; e a troponina I, que inibe a ATPase da miosina.

As troponinas têm sido consideradas como uma espécie de gatilho localizado, que controla o

movimento da tropomiosina dentro do miofilamento fino (De ROBERTIS, 1993).

2.3 Mecanismo Geral da Contração Muscular

A função do músculo é desenvolver ou gerar tensão. Esse processo de geração de

tensão é chamado de contração. A principal função da contração muscular é produzir

movimento. Duas outras funções essenciais associadas com a contração são manter a postura

e produzir calor corporal. Uma vez que a contração muscular é iniciada, uma cadeia reversível

de eventos físicos e químicos é colocada em movimento (ALTER, 1999).

Para Guyton e Hall (2002), o início e a execução da contração muscular ocorrem nas

seguintes etapas seqüenciais (Figura 5):

1. Um potencial de ação dirige-se ao longo de um nervo motor, até suas

terminações nas fibras musculares;

2. Em cada terminação, o nervo secreta pequena quantidade da substância

neurotransmissora acetilcolina;

3. A acetilcolina atua sobre área localizada da membrana da fibra muscular, para

abrir múltiplos canais regulados pela acetilcolina, através de moléculas proteínas

que flutuam na membrana;

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4. A abertura dos canais regulados pela acetilcolina faz com que grande quantidade

de íons de sódio possa fluir para o interior da membrana da fibra muscular. Isso

desencadeia um potencial de ação na fibra muscular;

5. O potencial de ação propaga-se ao longo da membrana da fibra muscular, da

mesma maneira que os potenciais de ação se propagam ao longo das membranas

neurais;

6. O potencial de ação despolariza a membrana muscular, e grande parte da

eletricidade do potencial de ação também se propaga profundamente para dentro

da fibra muscular. Então, induz o retículo sarcoplasmático a liberar grande

quantidade de íons de cálcio que havia sido armazenado dentro desse retículo;

7. Os íons de cálcio geram forças atrativas entre os filamentos de actina e miosina,

fazendo com que cada um deles deslize ao longo dos demais, o que constitui o

processo contrátil;

8. Após uma fração de segundo, os íons de cálcio são bombeados de volta para o

retículo sarcoplasmático, por uma bomba de cálcio (Ca++) da membrana,

permanecendo aí armazenados até a chegada de novo potencial de ação do

músculo: essa remoção de íons cálcio das miofibrilas é responsável pela cessação

da contração muscular.

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Figura 5: Seqüência de Eventos que Levam à Ação Muscular Fonte: Fisiologia do Esporte e do Exercício (WILMORE e COSTILL, 2001).

2.3.1 Base Ultra Estrutural (Física) da Contração

O mecanismo pelo qual os músculos se contraem, relaxam ou alongam pode ser

explicado através da estrutura do sarcômero. A teoria mais conhecida é a do filamento

deslizante (figura 6), a qual afirma que as mudanças no comprimento do sarcômero são

mediadas exclusivamente pelo relativo deslizamento dos filamentos grossos e finos (ALTER,

1999).

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Figura 6: Teoria do Filamento Deslizante Fonte: Estimulação Eletromuscular: o Futuro do Exercício? (MATIAS e CASTRO, 2002).

Quando contraído ao máximo, um sarcômero pode encurtar de 20-50% de seu

comprimento de repouso. Quando alongado passivamente, ele pode estender-se até

aproximadamente 120% de seu comprimento normal. Medidas microscópicas cuidadosas do

comprimento das bandas A e bandas I a partir de um músculo intacto nos estados contraído,

relaxado e alongado provaram decisivamente que as bandas A e, dessa forma, os filamentos

grossos, permanecem sempre constantes no comprimento. De modo semelhante, a distância

entre a linha Z e a margem da zona H também permanece constante em todos os estágios de

uma contração normal, indicando que os filamentos finos de actina também não sofrem

mudança no comprimento. Assim, a mudança no comprimento muscular deve ser devida ao

deslizamento dos filamentos grossos e finos uns aos outros (ALTER, 1999).

Portanto, quando um músculo se contrai, os filamentos de actina e miosina deslizam

um sobre o outro a fim de que cada fibra encurte-se. Para que esse processo ocorra, a linha Z

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do sarcômero deve ser levada na direção da banda A, resultando na contração gradual e

eventual eliminação das bandas I e da zona H (ALTER, 1999).

2.3.2 Base Molecular (Química) da Contração

Para Alter (1999), a fonte imediata de energia para a contração muscular é a quebra

do componente adenosina trifosfato (ATP) que é iniciada pelos impulsos nervosos. Quando os

impulsos nervosos chegam em uma fibra muscular esquelética, eles se espalham sobre seu

sarcolema e movem-se para dentro por meio de seus túbulos T. Isso aumenta a

permeabilidade e inicia a liberação de íons de cálcio (Ca2+), a partir dos sacos do retículo

sarcoplasmático no sarcoplasma.

No estado de repouso, acredita-se que as moléculas de tropomiosina estendem-se no

topo de locais ativos nos filamentos de actina, prevenindo a ligação nas pontes cruzadas de

miosina e filamento de actina (ALTER, 1999).

Uma vez que os íons Ca2+ são liberados, eles se unem com as moléculas de troponina

no filamento de actina – “ligação” dos locais ativos no filamento de actina e simultaneamente,

o complexo da ponte cruzada de ATP descarregado é carregado, permitindo que a actina e a

miosina formem um complexo de actomiosina, como ilustrado na figura 7. Isso ativa um

componente de enzima do filamento de miosina – miosina ATPase -, a qual decompõe a ATP

em ADP e Pi (fosfato inorgânico) com a liberação de energia, permitindo que as pontes

cruzadas articulem-se com um novo ângulo e deslizem sobre o filamento de miosina em

direção ao centro do sarcômero. Conseqüentemente, o músculo encurta-se e desenvolve

tensão. Assim é visível que os músculos são completamente subordinados aos impulsos

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nervosos para ativação. Sem um impulso nervoso, nenhuma tensão muscular pode ser gerada

(ALTER, 1999).

Figura 7: Esquema Ilustrando os Possíveis Mecanismos para a Produção de Movimentos de Deslizamento Relativo pela Inclinação das Pontes Transversais Fonte: Fisiologia do Esporte e do Exercício (WILMORE e COSTILL. 2001).

2.3.3 Resposta Mecânica da Unidade Contrátil ao Alongamento (KISNER e COLBY, 1998):

1. Quando um músculo é alongado passivamente, o alongamento inicial ocorre no

componente elástico em série e a tensão aumenta agudamente. Após certo ponto,

ocorre um comprometimento mecânico das pontes transversas à medida que os

filamentos se separam com os deslizamentos e ocorre um alongamento brusco nos

sarcômeros (os sarcômeros cedem). Quando a força de alongamento é liberada,

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cada sarcômero retorna ao seu comprimento de repouso. A tendência do músculo

de retornar ao seu comprimento de repouso após um alongamento de curta duração

é chamada de elasticidade;

2. Após imobilização do músculo por certo período, ocorre diminuição nas proteínas

e mitocôndrias musculares, resultando em atrofia e fraqueza;

3. Se um músculo é imobilizado na posição alongada por um período prolongado de

tempo, o número de sarcômeros em série irá aumentar, dando origem a uma forma

mais permanente (plástica) de alongamento muscular. O músculo irá ajustar seu

comprimento com o tempo de modo a manter a maior sobreposição funcional entre

actina e miosina;

4. O músculo que foi imobilizado em posição encurtada produz quantidades

crescentes de tecido conectivo que servem para proteger o músculo quando este se

alonga. Ocorre uma redução no número de sarcômeros, como resultado da

absorção de sarcômeros;

5. A adaptação dos sarcômeros à posições prolongadas (tanto alongadas quanto

encurtadas) é transitória, se for permitido ao músculo voltar ao seu comprimento

normal após a imobilização.

2.4 Propriedades Neurofisiológicas do Tecido Contrátil

O controle apropriado da função muscular requer não apenas a excitação do músculo

pelos neurônios motores anteriores, como também o feedback contínuo das informações

sensoriais de cada músculo para a medula espinhal informando o estado de cada músculo a

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cada instante. Para isso, os músculos e seus tendões são abundantemente supridos por dois

tipos especiais de receptores sensoriais: os fusos musculares, que se distribuem por todo o

corpo do músculo e enviam informações para o sistema nervoso mostrando o comprimento do

músculo ou a velocidade de variação de seu comprimento, e os órgãos tendinosos de Golgi,

localizados nos tendões musculares e que transmitem informações sobre a tensão dos tendões

ou a velocidade de variação da tensão (GUYTON e HALL, 2002).

2.4.1 Fuso Muscular

O fuso muscular (figura 8) é um receptor de estiramento muscular composto de 2 a

12 fibras musculares intrafusais finas, arrumadas em paralelo com as fibras musculares

extrafusais ou principais (KRIVICKAS, 2001).

Figura 8: Fuso Muscular Fonte: Fisiologia do Exercício (POWERS e HOWLEY, 2002)

Há dois tipos de fibras intrafusais: fibras de sacos nucleares e a fibra de cadeia

nuclear. A primeira contém uma abundância de sarcoplasma e núcleos celulares em uma

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estrutura dilatada, intumescida, em forma de saco – saco nuclear. Essa estrutura não contrátil

está localizada na região central da fibra intrafusal. Nas extremidades distais ou polares da

fibra do saco nuclear estão os filamentos contráteis estriados, perto dos fusos ligados às fibras

extrafusais (ALTER, 1999).

O segundo tipo de fibra muscular intrafusal é com cadeia nuclear, que é mais fina e

mais curta que a fibra de saco nuclear. Além disso, ela contém somente uma única fileira de

núcleos que são espalhados em uma estrutura em forma de cadeia, através da região equatorial

não contrátil. Como as fibras de sacos nucleares, as extremidades polares da fibra de cadeia

nuclear também são compostas de filamentos contráteis estriados. Suas extremidades muitas

vezes conectam-se às fibras de sacos nucleares que se ligam sucessivamente ao endomísio das

fibras extrafusais (ALTER, 1999).

Cada músculo possui um número diferente de fusos, dependendo da complexidade

do seu desempenho. Quanto mais refinada a sua função, maior o número de fusos por unidade

de peso muscular. Existem dois tipos de terminação nervosa sensorial: terminações primárias

(Ia) e secundárias (II) (LEDERMAN, 2001).

Os fusos primários respondem a taxa de mudança no comprimento, criando uma

resposta dinâmica de adaptação rápida. Também reagem à alterações de velocidade,

aceleração, desaceleração e contração muscular. Os fusos secundários respondem a uma

mudança de comprimento estático absoluta, ou seja, são receptores de adaptação lenta que

transportam informações sobre o valor instantâneo do comprimento muscular, respondendo de

forma mínima à velocidade e à força de contração (KRIVICKAS, 2001; LEDERMAN, 2001).

Além dos neurônios sensoriais, os fusos musculares são inervados por

motoneurônios gama, os quais estimulam as fibras intrafusais a se contraírem

simultaneamente com as fibras extrafusais. A estimulação dos motoneurônios gama faz com

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que a região central das fibras intrafusais encurte, o que serve para tensionar o fuso

(POWERS e HOWLEY, 2000).

Para Guyton e Hall (2002), cada fibra muscular intrafusal é uma fibra muscular

esquelética muito pequena. Entretanto, a região central de cada uma dessas fibras não tem

nenhum ou tem poucos filamentos de actina e miosina. Por essa razão, essa parte não se

contrai, quando as extremidades o fazem. Em vez disso, ela funciona como receptor sensorial.

As partes terminais que efetivamente contraem-se são excitadas por pequenas fibras motoras

gama, que se originam dos pequenos neurônios motores tipo A gama, nos cornos anteriores da

medula espinhal. Essas fibras são, também , denominadas fibras eferentes gama, em contraste

com grandes fibras eferentes alfa que inervam o músculo esquelético extrafusal.

O receptor sensorial pode ser ativado por meio dos motoneurônios gama ou beta

fazendo com que as fibras intrafusais se contraiam e alonguem a região equatorial, onde estão

localizadas algumas das terminações de aferentes dos grupos I e II. O alongamento deforma

reversivelmente as terminações aferentes e resulta na geração de um potencial de ação que é

transmitido de volta para o SNC. Como os motoneurônios gama e beta podem ativar o fuso

muscular, eles são às vezes chamados de neurônios fusimotores (ENOKA, 2000).

2.4.2 Órgão Tendinoso de Golgi

Os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) são mecanorreceptores sensíveis à contração

de músculos esqueléticos pelas fibras nervosas aferentes do grupo Ib de rápida condução e

diâmetro médio, em torno de 16 ìm. Estes são receptores sensoriais encapsulados e estão

localizados quase que exclusivamente nas aponeuroses, ou junções músculo-tendinosas

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(figura 9), tendo em média 10 a 15 fibras musculares conectadas em série, os quais são

estimulados pela tensão produzida por um pequeno feixe de fibras musculares (GUYTON,

1992).

Figura 9: Órgão Tendinoso de Golgi Fonte: Fisiologia do Exercício (POWERS e HOWLEY, 2002).

Segundo Enoka (2000), quando um músculo e suas inserções de tecido conjuntivo

são alongados, seja pela tração do músculo (alongamento passivo) ou pela ativação de fibras

musculares esqueléticas (alongamento ativo), os cordões de colágeno são comprimidos e

excitam aferentes do grupo Ib. Por ser ativado dessa forma, o OTG é descrito como monitor

de força muscular. O nível de força necessário para excitar um órgão tendinoso depende do

modo de ativação muscular.

Os OTG transportam informações sobre a força da contração muscular. Esses órgãos

são tão sensíveis a força de contração (baixo limiar), que a contração de uma única fibra

muscular à qual estejam ligados produzirá aumento na sua descarga. A função básica dos

OTG consiste em proteger o músculo e seu envoltório de tecido conjuntivo contra possíveis

lesões induzidas por uma sobrecarga excessiva (LEDERMAN, 2001).

De acordo com Krivickas (2001), o objetivo de um exercício de alongamento deve

ser aumentar o reflexo tendinoso de Golgi e inibir o reflexo do fuso.

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2.5 Reflexos e Outros Circuitos Neurais Espinhais

Um reflexo é um circuito de neurônios que consiste de um neurônio sensorial, um

neurônio de comunicação e um motoneurônio com seu efetor. Quando um estímulo

apropriado é aplicado à extremidade do receptor, um impulso é iniciado, passando entre o

processo aferente para a medula espinhal, onde faz sinapse com um neurônio conjuntivo.

Posteriormente, um motoneurônio é excitado e o impulso nervoso é conduzido para baixo da

fibra aferente para um músculo ou célula glandular (ALTER, 1999).

2.5.1 Reflexo Miotático ou de Alongamento

Sempre que um músculo é alongado, o mecanismo de alongamento é iniciado.

Alongando-se um músculo, estiram-se as fibras musculares extrafusais e os fusos musculares.

A conseqüente deformação, dentro dos fusos musculares, ativa as extremidades primária e

secundária, o que resulta em potenciais de ação em seus neurônios sensoriais do Grupo Ia e II.

Esses neurônios viajam pela medula espinhal, onde terminam nos corpos celulares dos

motoneurônios alfa. Se os aferentes sensoriais produzem suficiente despolarização no

motoneurônio, irá estimular os potenciais de ação. Seu axônio, que viaja para o músculo

esquelético, transmitirá um impulso que resulta em uma contração reflexa (ALTER, 1999).

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A resposta reflexa de alongamento pode ser dividida em dois componentes: fásico e

tônico. A resposta fásica é uma explosão inicial de potenciais de ação que resulta em uma

elevação rápida da tensão muscular, proporcional a velocidade de alongamento, sendo a

estimulação do Grupo Ia aumentada. A resposta tônica, por sua vez, é uma fase posterior de

estimulação lenta persistente por toda a duração de alongamento, que é proporcional a

quantidade de alongamento. A resposta para o alongamento mantido resulta em parte do

efeito dos aferentes do Grupo II (ALTER, 1999).

2.5.2 Inervação Recíproca

É recomendada em problemas agudos, especialmente nos casos em que os músculos

que requerem liberação estão traumatizados ou dolorosos, e não podem ser usados, de

maneira fácil e segura, em contrações constantes (CHAITOW, 2001).

Os músculos geralmente atuam em pares, a fim de que quando um conjunto de

músculos, os agonistas, sejam contraídos, os músculos opostos, os antagonistas, relaxem. Essa

organização de músculos agonistas e antagonistas coordenados e opostos é chamada de

inervação recíproca (ALTER, 1999).

Quando os motoneurônios de um músculo recebem impulsos excitatórios que levam

à contração muscular, os motoneurônios do músculo oposto recebem sinais neurais, o que

torna menos provável que eles sejam estimulados e produzam contração muscular (inibição).

O antagonista é então inibido quase no mesmo instante que o agonista contrai-se. A inibição

reflexa é controlada por um pequeno neurônio inibitório para os motoneurônios que inervam o

músculo antagonista do par recíproco. Inversamente, se um músculo antagonista fosse

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alongado de forma semelhante, iria mostrar inervação recíproca pelo mesmo processo. Sem

essa inervação recíproca, a atividade muscular coordenada seria impossível (ALTER, 1999).

2.6 Desequilíbrios Estáticos

O desequilíbrio muscular, em geral, envolve fraqueza ou, pelo menos, inibição de um

agonista importante, junto com rigidez ou tensão nos músculos antagonista ou sinergistas.

Esse desequilíbrio muscular causa um padrão de movimento alterado, que é clinicamente

relevante, para sua relação com determinadas habilidades diárias fundamentais. Os

desequilíbrios musculares causam padrões de movimento alterados e contribuirão

invariavelmente para as disfunções dolorosas ou patologia estrutural (CHAITOW, 2001).

O próprio desequilíbrio muscular está na encruzilhada da adaptação do corpo a

qualquer disfunção muscular ou articular assintomática ou a uma lesão. Tratar esse

desequilíbrio e normalizar os padrões de movimentos alterados são atitudes essenciais para

melhorar a integridade biomecânica e cinesiológica do sistema locomotor (CHAITOW,

2001).

Quando uma articulação é mantida numa determinada postura, o grupo muscular no

lado mais relaxado da articulação se encurta e a posição oposta se torna gradualmente fixa.

Quando o músculo reage para proteger o corpo de uma determinada postura incorreta ou para

evitar a dor, certos músculos tornam-se superativos enquanto outros são inibidos e isso resulta

em maior fadiga muscular. Para tal reação protetora, os músculos antigravitacionais são

ativados mais prontamente (ACHOUR, 2001).

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Para isso é necessário também diferenciar as diversas nomenclaturas tais como:

fraqueza, encurtamento e contratura (retração), muitas vezes usadas como sinônimos, todos

significando diminuição no comprimento e na elasticidade (MARQUES, 2000).

Segundo Kendall, McCreaty e Provance (1995), a fraqueza muscular resultará em

perda de movimento caso o músculo não possa contrair-se o suficiente para mover a parte

através da amplitude de movimento parcial ou completa. Para Chaitow (2001), a verdadeira

fraqueza muscular é resultante de doença do neurônio motor inferior (compressão da raiz

nervosa) ou atrofia por desuso. Uma contratura ou encurtamento resultará em perda de

movimento caso o músculo não possa ser alongado através de sua amplitude de movimento

completa (KENDALL, McCREARY e PROVANCE, 1995).

Contratura refere-se a um grau de encurtamento que resulta em acentuada perda de

amplitude de movimento, e encurtamento resulta em perda da amplitude de movimento de

leve a moderada. Uma deformidade fixada, em geral, não existe como resultado de fraqueza, a

menos que se desenvolvam contraturas nos oponentes mais fortes (KENDALL, McCREARY

e PROVANCE, 1995).

Ocorre um estado de desequilíbrio muscular quando um músculo está fraco e seu

antagonista está forte. O mais forte dos dois componentes tende a se encurtar, e o mais fraco

tende a se alongar. Tanto a fraqueza quanto o encurtamento podem provocar alinhamento

defeituoso. A fraqueza permite uma posição de deformidade; o encurtamento cria uma

posição de deformidade (KENDALL, McCREARY e PROVANCE, 1995).

Bienfait (1995) afirma que “os encurtamentos são uma falta de crescimento

aponeurótico”, os quais se devem a uma tensão insuficiente dos tecidos durante o

crescimento. São irreversíveis, sendo que quanto mais a deformação evolui, mais a falta de

tensão se torna importante. Para o autor, uma vez instalado, mesmo leve, a terapia manual é

incapaz de vencer um encurtamento.

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Algumas conseqüências desse encurtamento, segundo Achour, (2001):

• Aumento de gasto energético;

• Desestabilização da postura;

• Utilização de fibras compensatórias;

• Compressão das fibras nervosas;

• Aumento das incidências de câimbras e dor;

• Prejuízo das técnicas nas habilidades atléticas;

• Diminuição da capacidade de trabalho e do lazer;

• O sistema muscular com amplitude de movimento limitado desenvolve nódulos e,

em geral, causa fadiga local, redução na temperatura, aumento metabólico,

restrição da circulação. Pode também manter algumas fibras musculares em

contração crônica.

A retração pode indicar um músculo curto ou tensionado em casos onde é aplicado

tanto para um músculo curto como um músculo distendido. À palpação, os isquiotibiais que

são curtos, quando tensionados, parecem retraídos. Os isquiotibiais que são alongados,

quando tensionados, também parecem retraídos. Do ponto de vista da prescrição do

tratamento, é muito importante identificar a diferença entre músculos alongados e encurtados

(KENDALL, McCREARY e PROVANCE, 1995).

A retração é sempre muscular, para Bienfait (1995), devendo-se ao embricamento

excessivo dos miofilamentos de actina. Ao contrário do encurtamento, esta é facilmente

reversível. Se tratada a tempo, antes do aparecimento da densificação do conjuntivo, o

terapeuta pode fazê-la desaparecer por completo.

Antes de qualquer esforço para fortalecer os músculos fracos, os encurtados devem

ser tratados por meios apropriados; depois disso, ocorre a tonificação espontânea nos

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músculos previamente flácidos. Se o tônus ainda estiver inadequado, apenas posteriormente

os exercícios e/ou procedimentos isotônicos devem ser realizados (CHAITOW, 2001).

Músculos rígidos geralmente mantém sua força; entretanto, em caso extremos de

tensão ocorre alguma diminuição na força (JANDA, 1983 apud CHAITOW, 2001). Nesses

casos, o alongamento do músculo rígido geralmente acarreta uma rápida recuperação da força

e também a tonificação de seus antagonistas através da remoção da inibição recíproca.

Para se obter uma avaliação confiável do encurtamento muscular Janda (1983) apud

Chaitow (2001), faz as seguintes sugestões:

• A posição inicial, o método de fixação e a direção do movimento devem ser

observados com cuidado;

• O motor principal não deve ser exposto a pressão externa;

• Se possível, a força exercida no músculo testado não deve trabalhar sobre duas

articulações;

• O examinador deve realizar, em uma velocidade uniforme, um movimento lento

que cesse lentamente no final da amplitude;

• Para manter o alongamento e a irritabilidade do músculo aproximadamente iguais,

o movimento não deve ser repentino;

• A pressão ou tração devem sempre agir na direção de movimento requerida.

O encurtamento muscular só pode ser avaliado corretamente se a amplitude articular

não estiver diminuída, como seria o caso se existisse uma limitação óssea ou um bloqueio

articular (CHAITOW, 2001).

Em qualquer situação, é preciso atentar-se para as posturas cotidianas e para as ações

motoras, procurando impedir o encurtamento do sistema muscular. Para tanto, devem receber

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orientação para a manutenção correta das posturas básicas nas tarefas diárias e exercícios de

alongamento (ACHOUR, 2001).

2.7 Alongamento Passivo

Os procedimentos de alongamento passivo são classificados pelo tipo de força de

alongamento aplicada, pela intensidade do alongamento, e pela duração do alongamento.

Tanto os tecidos contráteis como não contráteis podem ser alongados através do alongamento

passivo (KISNER e COLBY, 1998).

No alongamento passivo, o indivíduo não contribui para gerar a força de

alongamento quando na ausência de contração ativa. O movimento é realizado por um agente

externo. Este agente pode ser um companheiro ou um equipamento especial, tal como o

equipamento de tração (ALTER, 1999).

Com a técnica de alongamento passivo, o movimento forçado restaura a amplitude de

movimento normal, quando ela é limitada pela perda de extensibilidade do tecido mole. Seu

efeito sobre o músculo é estender a porção elástica passivamente. A extensão maior irá então

permitir maior amplitude de movimento nas articulações afetadas. O alongamento passivo é

indicado porque o agonista ou motor principal é muito fraco para mover a articulação ou

porque tentativas para inibir o músculo antagonista não são bem sucedidas (ALTER, 1999).

Os exercícios podem ser forçados ou não. Os não forçados são feitos para ajudar a

manter o movimento articular normal e são realizados normalmente em uma amplitude de

movimento indolor. Inversamente, os exercícios passivos forçados em geral produzem um

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movimento além da amplitude livre de movimento e estão associados com algum desconforto

para o indivíduo (HARRELSON e LEAVER-DUNN, 2000).

Segundo Alter (1999), o alongamento passivo pode não ser a técnica favorável para

tratar a tensão ou tentar recuperar a amplitude de movimento muscular especialmente após

lesão (JACOBS, 1976 apud ALTER, 1999). Segundo Jacobs, parece haver pelo menos quatro

razões pelas quais o alongamento passivo é contra indicado. São elas:

• O alongamento extremo pode fazer com que os órgãos tendinosos de Golgi se

aqueçam além do seu limite;

• O alongamento passivo pode ser doloroso;

• Não há retenção de flexibilidade porque o desequilíbrio muscular não é

erradicado pela mensagem inibitória breve do órgão tendinoso de Golgi.

Conseqüentemente, não há aprendizado motor e nem melhora na capacidade para

o movimento ativo do músculo tenso ou seu antagonista;

• Se o alongamento passivo ocorre muito rapidamente, o complexo do fuso

muscular pode ser ativado e o reflexo de alongamento resultante iniciaria a

contração do músculo, anulando, assim, o verdadeiro objetivo do procedimento.

O músculo a ser trabalhado (músculo alvo) é lentamente alongado (para que seja

inibida a deflagração do reflexo de alongamento) e contido numa amplitude confortável

durante 15, 30, podendo chegar até a 60 segundos (MCATTE, 1998).

Segundo o estudo realizado por Bandy e Irion (1994), o alongamento de 30 e 60

segundos é mais efetivo àquele de 15 segundos, embora não haja diferença significativa entre

o alongamento de 30 e 60 segundos.

Enquanto a posição é mantida, a sensação de alongamento diminui, e a pessoa que

esta alongando avança, suavemente até um alongamento mais profundo, mantendo então a

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nova posição (MCATTE, 1998). O alongamento passivo é geralmente considerado um

alongamento de curta duração (KISNER e COLBY, 1998).

Na fase final do exercício de alongamento, deve-se manter a posição por

determinado tempo e retornar o membro acompanhando lentamente a direção do movimento,

a fim de fornecer relaxamento muscular, podendo assim, permanecer maior tempo no

alongamento ou ainda aumentar ligeiramente a amplitude de movimento (ACHOUR, 2002).

Realizado displicentemente, ou com uma técnica inadequada, o alongamento passivo

pode causar lesão muscular. Esse procedimento é arriscado porque a pessoa que está ajudando

no alongamento não pode perceber as sensações da pessoa tratada, e pode alongar

demasiadamente o músculo (MCATTE, 1998).

2.8 Técnica de Músculo Energia (TEM)

A técnica de energia muscular utiliza as contrações isométricas e a articulação é

mobilizada até a barreira motora nos três planos do espaço. Pode ser definida como uma

forma de tratamento manipulativo osteopático no qual o paciente usa ativamente seus

músculos, sob solicitação, a partir de uma posição precisamente controlada em uma direção

específica, resistindo ao movimento com uma contra-força igual, evitando assim que se

produza qualquer movimento (ALTER, 1999; RICARD e SALLÉ, 1996).

A força necessária não é muito elevada e não deve, em nenhum caso, produzir

incômodo ao paciente. Quilos de força podem ser utilizadas em se tratando de músculos

grandes, mas alguns gramas de força devem ser usadas quando músculos fracos, curtos e

pequenos estão sendo tratados. Há ainda aqueles que afirmam que não mais que talvez 20 a

25% da força de uma paciente deva ser empregado (ALTER, 1999).

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A força controlada deve ser aplicada lenta e relaxadamente. Depois de um período de

contração de três segundos, solicita-se ao paciente que, gradualmente, interrompa sua

contração, enquanto o terapeuta diminui sua contra-força. A articulação não deve ser forçada,

mas somente mantida contra a barreira. Cada contração é seguida por um período de

descontração de alguns instantes (RICARD e SALLÉ, 1996).

Para Ricard e Sallé (1996), pratica-se três ou quatro séries de três contrações. Depois

de cada série, no tempo do relaxamento, o terapeuta aproveita o novo comprimento muscular

adquirido para mobilizar a articulação visando encontrar uma nova barreira muscular.

O terapeuta utiliza uma força ligeiramente superior àquela desenvolvida pelo

paciente de forma a movimentar a articulação contra a barreira.

A cada contração isométrica estimula-se os receptores de Golgi que se descarregam e

que inibem os motoneurônios alfa e gama. A cada novo comprimento ganho, o fuso

neuromuscular é estirado e voltando a encontrar pouco a pouco seu comprimento normal.

2.8.1 Observações Importantes sobre Avaliações e Uso da Técnica de Energia Muscular,

segundo Chaitow, (2001):

1. A força do operador pode se combinar precisamente com o esforço do paciente

(produzindo assim uma contração isométrica), impedindo que ocorra um

movimento – e produzindo como resultado uma resposta neurológico-fisiológica

(através dos OTG) envolvendo uma combinação de: inibição recíproca do

antagonista do músculo que esta sendo contraído, bem como relaxamento pós-

isométrico do músculo que esta sendo contraído;

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2. A força do operador pode superar o esforço do paciente, movendo assim a área ou

articulação na direção oposta àquela na qual o paciente esta tentando movê-la;

3. O operador pode combinar parcialmente o esforço com o paciente, permitindo

assim, embora levemente em atraso, o esforço do paciente.

Outros pontos relevantes também devem ser introduzidos, envolvendo, por exemplo:

1. Se a contração deve começar com o músculo ou articulação presos na barreira de

resistência, ou quase nela;

2. Quanto esforço o paciente usa (20% de força, ou mais, ou menos);

3. A extensão de tempo em que o esforço é mantido (7 a 10 segundos ou mais, ou

menos);

4. Se, em vez de uma única contração mantida, deve-se usar uma serie de contrações

rápidas, de baixa amplitude;

5. O número de vezes que a contração isométrica (ou sua variante) é repetida;

6. A direção na qual o esforço é feito – em direção a barreira de resistência ou

afastando-se dela;

7. Deve-se incorporar uma respiração mantida e/ou movimentos oculares específicos

para aumentar os efeitos da contração;

8. Que tipo de resistência é oferecida;

9. Se o esforço do paciente é combinado, sobreposto ou não completamente

combinado – uma decisão baseada nas necessidades precisas dos tecidos – para

atingir relaxamento, redução na fibrose ou tonificação/reeducação;

10. Se o músculo ou articulação deve ser levado para sua nova barreira após a

contração , ou se é apropriado alongar ou não a área/músculo além da barreira;

11. Se qualquer alongamento é subseqüente (a uma contração) deve ser totalmente

passivo, ou se o paciente deve participar do movimento, sendo este último

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considerado por alguns como desejável, a fim de reduzir o perigo da ativação

reflexa do alongamento (MATTES, 1990 apud CHAITOW, 2001).

2.8.2 Contra-Indicações e Efeitos Colaterais da Técnica de Energia Muscular

No caso de haver suspeita de alguma patologia, não se deve usar TEM até que seja

estabelecido um diagnóstico preciso. A patologia (osteoporose, artrite, etc.) não exclui o uso

de TEM, mas sua presença deve ser estabelecida de modo que a dosagem da aplicação possa

ser modificada conforme a patologia (quantidade de esforço usado, número de repetições,

introdução de alongamento, etc.) (CHAITOW, 2001).

Os efeitos colaterais, afirmado por DiGiovanna (1991) apud Chaitow (2001), são

mínimos com a TEM, ocasionalmente ocorrendo alguma rigidez ou sofrimento muscular após

o tratamento. Segundo a autora, se a área tratada não for bem localizada ou se for usada muita

força contrátil, a dor pode aumentar. Às vezes o paciente está com muita dor para contrair um

músculo ou pode ser incapaz de cooperar com as instruções ou posicionamento. Nesses,

casos, a TEM pode ser de difícil aplicação.

2.9 Anatomia dos Músculos Posteriores da Coxa

A região posterior da coxa é composta pelos músculos em seqüência, de lateral para

medial, bíceps femoral, semitendinoso e semimembranoso, os quais também recebem a

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denominação de hamstrings ou músculos do jarrete, tendo como origem comum à

tuberosidade isquiática, profundamente ao músculo glúteo máximo, mas um deles, o bíceps

femoral, tem outra inserção no corpo do fêmur. Possuem também, um suprimento nervoso

comum a partir do nervo isquiático (LIPPERT, 1996; MOORE, 1994).

Os músculos posteriores da coxa transpõem as articulações do quadril e do joelho;

portanto, são extensores da coxa e flexores da perna; ambas as ações não podem ser

realizadas, plenamente, ao mesmo tempo. Estes seguem para baixo na face posterior da coxa e

seus tendões são visíveis atrás do joelho (MOORE, 1994).

O semitendinoso (figura 10) tem um tendão distal muito longo e estreito que, após

espalhar-se na articulação do joelho, move-se anteriormente para fixar-se na tuberosidade da

tíbia, face medial (DANGELO e FATTINI, 1998). Ele é fusiforme com um longo tendão

semelhante a um cordão, arredondado, que se inicia no terço inferior da coxa. Possui uma

fixação proximal à tuberosidade isquiática, comum com o músculo semimembranoso e com a

cabeça longa do bíceps femoral (MOORE, 1994).

Figura 10: Músculo Semitendinoso Fonte: Cadeias Musculares (MARQUES, 2000)

O músculo semimembranoso (figura 11), como seu nome indica é metade

membranoso e largo, percorrendo a parte média da coxa e situando-se profundamente ao

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semitendinoso, inserindo-se na superfície posterior do côndilo medial da tíbia (LIPPERT,

1996; MOORE, 1994). Este músculo reforça também dinamicamente as estruturas capsulares

posteriores e mediais do joelho, afasta o menisco medial posteriormente e apóia o ligamento

cruzado anterior para prevenir a translação tibial anterior (GALLASPY, 2000).

Figura 11: Músculo Semimembranoso Fonte: Cadeias Musculares (MARQUES, 2000)

Segundo Moore (1994), a ação dos músculos semitendinoso e semimembranoso além

das ações comuns de extensão da coxa e flexão da perna, podem rodar medialmente a tíbia

sobre o fêmur, particularmente quando o joelho esta semifletido.

O bíceps femoral, mostrado na figura 12, possui duas cabeças e é póstero-lateral. A

cabeça longa origina-se na tuberosidade isquiática, enquanto a cabeça curta tem origem na

porção lateral da linha áspera. As duas porções se unem, espalhando-se pelo joelho,

posteriormente, indo fixar-se lateralmente na cabeça da fíbula (separado em volta do

ligamento colateral fibular) irradiando-se na fáscia lata (LIPPERT, 1996).

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Figura 12: Músculo Bíceps da Coxa Fonte: Cadeias Musculares (MARQUES, 2000)

O tendão arredondado do músculo bíceps pode ser facilmente observado e palpado

quando o joelho esta fletido contra resistência. Como os outros músculos posteriores, a cabeça

longa do bíceps estende a coxa na articulação do quadril. Ambas as cabeças fletem a perna na

articulação do joelho e rodam lateralmente a perna quando esta se encontra fletida (MOORE,

1994).

Cumulativamente, os músculos isquiotibiais apóiam o ligamento cruzado anterior,

ajudando a prevenir a excursão anterior da tíbia sobre o fêmur e reforçando a cápsula medial e

o ligamento colateral medial. Esses músculos desempenham função importante na

deambulação e realizam uma ação extensora com o apoio do calcanhar. Durante a corrida,

estes músculos são ativos por mais tempo nas fases de oscilação e de apoio inicial da marcha

(GALLASPY, 2000).

• Fraqueza

A fraqueza simultânea dos músculos mediais e laterais permite a hiperextensão do

joelho. Quando essa fraqueza é bilateral, a pelve pode inclinar-se anteriormente e a coluna

lombar pode assumir uma posição lordótica. Se a fraqueza for unilateral, pode resultar uma

rotação pélvica (KENDALL, McCREARY e PROVANCE, 1995).

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A fraqueza dos isquiotibiais laterais causa uma tendência à perda da estabilidade

lateral do joelho, permitindo um impulso na direção da posição de pernas arqueadas na

sustentação de peso. Já a fraqueza dos mediais reduz a estabilidade medial da articulação do

joelho e permite uma posição de joelhos valgos com uma tendência a rotação lateral da perna

sobre o fêmur (KENDALL, McCREARY e PROVANCE, 1995).

• Contratura

A contratura ao mesmo tempo dos isquiotibiais mediais e laterais resulta em uma

posição de flexão do joelho e, se a contratura for extrema, ela será acompanhada por uma

inclinação posterior da pelve e um achatamento da coluna lombar (KENDALL, McCREARY

e PROVANCE, 1995).

• Encurtamento

Restrição da extensão do joelho quando o quadril é fletido, ou restrição da flexão do

quadril quando o joelho é estendido. (MARQUES, 2000). O encurtamento dos isquiotibiais

não provoca uma inclinação pélvica anterior, mas uma inclinação pélvica posterior e um

achatamento da coluna lombar geralmente são vistos em pessoas que apresentam

encurtamento dos isquiotibiais (KENDALL, McCREARY e PROVANCE, 1995).

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo foi Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa –

CEP/UNIOESTE. A partir disso, todos os participantes leram e assinaram um termo de

consentimento, livre e esclarecido, informando-os dos procedimentos e de seus direitos,

conforme anexo 1.

A pesquisa envolveu 10 crianças, entre 10 e 14 anos, sendo a avaliação realizada

comparativamente em uma mesma criança. Todas foram tratadas com o alongamento passivo

e técnica de músculo energia, apresentando pré e pós-avaliação sem grupo controle.

Os critérios de exclusão foram: crianças abaixo de 10 e acima de 14 anos, déficit de

sensibilidade ou alteração da mesma, processo inflamatório ou infeccioso agudo nas

articulações ou ao seu redor, problemas neurológicos, e aqueles que já fizeram ou estão

realizando outro tipo de técnica de alongamento e tratamento fisioterapêutico.

A mensuração (figuras 13 e 14), com o intuito de verificar a flexibilidade dos

isquiotibiais, foi realizada com a utilização do goniômetro, obedecendo aos critérios de

Marques (2000), onde o paciente se encontra em decúbito dorsal, com 90º de flexão de

quadril para se verificar a extensão do joelho. O braço fixo foi posicionado paralelo à

superfície lateral do fêmur dirigido para o trocânter maior, o braço móvel, paralelo à face

lateral da fíbula dirigido para o maléolo lateral e o eixo ficou sobre a linha articular da

articulação do joelho (PINFILDI, PRADO e LIEBANO, 2004).

Realizou-se a aplicação do tratamento duas vezes por semana, num período de dois

meses, na Clínica de Fisioterapia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE),

totalizando 20 sessões.

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Figura13: Posicionamento Anterior a Mensuração. Fonte: dados do autor (2004).

Figura14: Posicionamento Durante a Mensuração. Fonte: dados do autor (2004).

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O alongamento passivo, como mostrado na figura 15, foi aplicado no membro

inferior direito com o paciente em decúbito dorsal com extensão do joelho e flexão do

tornozelo, apoiando a parte posterior do mesmo, mais especificamente o tendão calcâneo, no

ombro do terapeuta. Este procedimento foi repetido 3 vezes mantendo o alongamento de 30

segundos, com intervalo de 20 segundos.

Figura 15: Alongamento Estático. Fonte: dados do autor (2004).

Já a técnica de músculo energia (figura 16) foi realizada, em membro inferior

esquerdo, na mesma posição do alongamento passivo sendo solicitado ao paciente, empurrar o

ombro do terapeuta enquanto este resistia ao movimento. Praticou-se então, três séries, de três

contrações (RICARD e SALLÉ, 1996).

Os participantes foram submetidos à reavaliação ao final da pesquisa, sendo utilizado

para tal o mesmo procedimento da primeira avaliação. Os resultados foram posteriormente

comparados.

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Figura16: Técnica de Músculo Energia. Fonte: dados do autor (2004).

Para análise estatística dos resultados foi realizado o teste ANOVA (Análise de

Variância) com posterior diferenciação através do teste TUKEY, com significância,

estabelecendo α=0,01 para verificar a diferença entre os tratamentos.

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4 RESULTADOS

Nessa pesquisa foi comparada qual técnica de alongamento é mais eficiente para o

tratamento do encurtamento dos músculos isquiotibiais. Foram, utilizadas duas técnicas,

avaliando o valor da amplitude de movimento no início e término da pesquisa para ambos

membros inferiores de um mesmo indivíduo.

As tabelas 1 e 2 mostram os valores em graus da ADM das técnicas de alongamento

estático no membro inferior direito e músculo energia no membro inferior esquerdo,

respectivamente, onde foram avaliadas no início e término da pesquisa, chamadas de pré-

avaliação e pós-avaliação.

Tabela 1: Valores em Graus da Pré e Pós-Avaliação do Alongamento Estático

Nº de voluntários Pré-avaliação Pós Avaliação 1 152º 167º 2 155º 162º 3 166º 175º 4 147º 172º 5 158º 170º 6 155º 168º 7 155º 166º 8 165º 172º 9 160º 171º 10 165º 172º

Fonte: dados do autor (2004).

Notou-se, através dos dados colhidos nas tabelas anteriores, um aumento em graus

significativo, embora na tabela 2, a qual foi realizada a técnica de músculo energia, dois

indivíduos apresentaram diminuição na amplitude articular do movimento na pós-avaliação.

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Tabela 2: Valores em Graus da Pré e Pós-Avaliação da Técnica de Músculo Energia

Nº de voluntários Pré-avaliação Pós Avaliação 1 155º 168º 2 160º 158º 3 175º 172º 4 160º 177º 5 160º 178º 6 151º 170º 7 163º 168º 8 165º 174º 9 160º 175º 10 165º 172º

Fonte: dados do autor (2004).

O gráfico 1 mostra a comparação entre a pré e a pós-avaliação para as duas técnicas,

o qual indica que ambas tiveram aumento da amplitude articular, tendo o alongamento

estático inicial 157,8º (Desvio Padrão ± 6,23º) e final com média 169,5º (Desvio Padrão ±

3,77º) – significativo com p<0,001; o alongamento por Músculo-Energia 161,4º (Desvio

Padrão ± 6,41º) e média final de 171,2º (Desvio Padrão ± 5,76º) – significativo com p<0,01.

Gráfico 1 - Comparação entre Alongamento Estático e Técnica de Músculo Energia - Pré e Pós avaliação

155

160

165

170

175

180

Estático M-EnergiaAm

plit

ud

e A

rtic

ula

r (º

)

Pré Pós

O gráfico 2 descreve a comparação das médias aritméticas e seus respectivos desvios

* **

*p<0,001; **p<0,01 Fonte: dados do autor (2004).

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padrão para as duas técnicas, indicando uma maior variação no alongamento estático 11,7

(Desvio Padrão ± 5,410). Para a técnica de músculo energia teve-se uma média de 9,8 (Desvio

Padrão ± 8,000), apresentando, dessa forma, uma mínima diferença não considerável

estatisticamente, tendo ambas p>0,05, com valores significativos.

Gráfico 2 - Comparação das Médias Aritméticas do Alongamento Estático e

Músculo Energia

89

101112131415161718

Estatico ME

***p>0,05 Fonte: dados do autor (2004).

O gráfico 3, por sua vez, relata que a porcentagem da diferença entre as duas técnicas

foi de 7,41% para o alongamento estático e de 6,07% para a técnica de músculo energia,

constatando-se com isso, que os valores apresentados são estatisticamente iguais, indicando

uma semelhança na aplicação das duas técnicas e aumento proporcional em graus.

Gráfico 3: Comparativo do Ganho de Amplitude em Graus do Alongamento Estático e Músculo

Energia

7,41%

6,07%

0%

2%

4%

6%

8%

Nº de individuos

grau

s em

po

rcen

tage

m

alongamento estatico

musculo energia

***

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Fonte: dados do autor (2004).

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5 DISCUSSÃO

O grupo muscular envolvido foi à musculatura posterior da coxa (isquiotibiais),

onde, segundo Alter (1999), várias sugestões têm sido feitas para explicar o declínio na

flexibilidade experimentado por crianças crescendo para a adolescência. Uma explicação

previamente mencionada é que, durante períodos de crescimento rápido, os ossos crescem

muito mais do que os músculos se alongam. Como resultado, há um aumento na tensão

musculotendinosa sobre uma articulação. Uma outra hipótese é que a diminuição na

flexibilidade, especialmente nos isquiotibiais, tem relação com a posição sentada prolongada

na escola.

Em geral, a maioria das literaturas relata que a técnica de músculo energia, por ser

similar em várias maneiras aos métodos da FNP (facilitação neuromuscular proprioceptiva), a

qual envolve as técnicas de contração-relaxamento, manter-relaxar e inversão do agonista, e

por ter a mesma base neurofisiológica, é mais eficaz quando comparado ao alongamento

estático (ALTER, 1999), embora haja alguns resultados que estatisticamente são

insignificantes (KOSLOW e LUCAS, 1984) como o verificado nessa pesquisa.

Uma das hipóteses para ambas as técnicas terem apresentado resultados

estatisticamente iguais com significante aumento da amplitude articular, pode ter sido a falta

de precisão do goniômetro, ou mesmo a prática de atividades diárias do individuo, os quais

vieram a intervir no desempenho dos participantes. O curto período do tratamento também

seria outra hipótese, uma vez que para se obter a característica plástica do músculo é

necessário um período prolongado de tempo, a fim de aumentar o número de sarcômeros e

conseqüentemente manter uma forma mais permanente do alongamento muscular.

O alongamento estático é um meio eficaz de melhorar a flexibilidade, pois minimiza

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a ativação do reflexo do fuso, ativa o OTG se mantido longo o suficiente, não requer um

ajudante e é improvável causar sofrimento muscular (KRIVICKAS, 2001), porém esta técnica

pode não ser a mais favorável para tratar a tensão (CHERRY, 1980 apud ALTER, 1999) ou

tentar recuperar a amplitude de movimento muscular especialmente após lesão (JACOB,

1976, apud ALTER, 1999).

A técnica de músculo energia, por sua vez, também favorece a melhora da

flexibilidade uma vez que a cada contração isométrica é estimulado os receptores de Golgi

que se descarregam e que inibem os motoneurônios alfa e gama. A cada novo comprimento

ganho, o fuso neuromuscular é estirado e voltando a encontrar pouco a pouco seu

comprimento normal (RICARD e SALLÉ, 1996).

Os resultados obtidos com o uso da técnica de energia muscular podem estar

relacionados a uma incapacidade de localizar o esforço muscular de modo suficiente; a menos

que a tensão muscular local seja produzida na região precisa da disfunção do tecido mole, o

método tem probabilidade de não atingir seus objetivos. (CHAITOW, 2001).

Segundo Shrier e Gossal (2000), embora a FNP seja a técnica mais efetiva para

aumentar a amplitude de movimento, o mecanismo desta se mostra diante da tolerância ao

alongamento e o músculo tende a suportar uma contração excêntrica durante tal prática. A

sensação aumentada de alivio de dor pode ajudar o desempenho de tal técnica, mas

teoricamente aumenta o risco de lesões quando comparado com alongamento estático.

Prentice (1983) apud McAtee (1998) comparou o alongamento estático por FNP para

o aumento da flexibilidade em nível da articulação do quadril, tendo verificado que, embora

ambos os métodos tivessem sido eficazes, a FNP foi significativamente melhor que o

alongamento estático. Cornelius e Craft-Hmm (1988) apud McAtee (1998) compararam o

alongamento passivo e três tipos de FNP. Esses autores determinaram que as técnicas de FNP

foram mais efetivas que o alongamento passivo.

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Para Bandy e Irion (1994), a FNP de contração-relaxamento e manter-relaxar envolve

o uso de uma curta contração isométrica no músculo, sendo alongado mais efetivamente que a

técnica de alongamento estático.

Funk et al (2003) compararam cinco minutos de alongamento estático e FNP no

desempenho de flexibilidade dos músculos isquiotibiais de atletas, demonstrando que a

técnica de FNP, depois dos exercícios, aumenta precisamente a flexibilidade dos músculos

isquiotibiais e, se executado freqüentemente, pode melhorar a atuação desses atletas.

Nenhuma diferença foi observada com o alongamento estático.

Koslow e Lucas (1984), indicaram que não houve diferença estatística significante no

aumento da amplitude muscular, sendo que ambas as técnicas se mostraram efetivas para o

alongamento dos músculos posteriores da coxa, como os resultados igualmente obtidos nesta

pesquisa.

De tal modo, essa pesquisa é de grande valia, uma vez que veio a contribuir para a

ampliação do acervo bibliográfico, pois abrangeu uma técnica freqüentemente utilizada na

prática clinica, o alongamento estático, e uma técnica que muitas vezes é pouco empregada ou

mesmo desconhecida por muitos profissionais, técnica de músculo energia, que traz

semelhantes benefícios.

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6 CONCLUSÃO

Na pesquisa realizada verificou-se que, embora haja vários estudos comparando a

eficácia das técnicas de alongamento convencional e músculo energia, poucos mostraram

resultados pronunciados para aumentar a amplitude muscular e a flexibilidade dos músculos

isquiotibiais. Para aqueles que mostraram uma técnica mais efetiva que a outra, notou-se que

alguns apresentavam divergência quanto à sua aplicação, levantando discussões acerca de

seus métodos. A partir disso, realizou-se esta pesquisa para que se pudesse tentar abranger

todos esses questionamentos comprovando-os ou não.

Assim, por meio da comparação das médias dos grupos, conclui-se que os resultados

são estatisticamente iguais, verificando dessa forma, que ambas as técnicas são efetivas para o

aumento de flexibilidade, bem como para aumentar a amplitude articular dos movimentos na

musculatura posterior da coxa dos indivíduos, não havendo deste modo uma mais eficaz,

verificando que, independente da escolha destas, o resultado final não sofrerá discrepâncias

significativas.

Portanto, qualquer que seja a técnica utilizada, é de imprescindível importância à

realização de alongamentos, com sua devida orientação a partir de uma avaliação

fisioterapêutica, no sentido de prevenir futuras deformidades, principalmente na fase de

estirão de crescimento, pois, uma vez instalado um encurtamento, este se torna irreversível

devido à falta de tensão dos tecidos durante o crescimento.

Deste modo, é indispensável ter um embasamento holístico, observando não somente

o encurtamento de um segmento, mas avaliando a deformidade tomando o individuo como

um todo, analisando as posturas cotidianas e orientando a manutenção correta das posturas

básicas nas tarefas diárias deste.

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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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ANEXO 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Nome da pesquisa: Estudo comparativo entre o alongamento convencional e a técnica de músculo energia no encurtamento da musculatura posterior da coxa em crianças de 10 a 14 anos. Pesquisador responsável: Maria Goreti Weiand Bertoldo Colaborador: Mônica Utiyama Este trabalho compara as técnicas de alongamento convencional de técnica de músculo energia em pacientes que apresentam o quadro de encurtamento da musculatura posterior da coxa. Os voluntários selecionados para este trabalho estarão realizando o tratamento com a técnica de músculo energia no membro inferior esquerdo e a técnica do alongamento convencional no membro inferior direito, com freqüência de duas vezes por semana, durante 2 meses. Todos os voluntários serão submetidos à avaliação e reavaliação para verificar o andamento da recuperação da musculatura. Ao término do trabalho, estes serão informados dos resultados por ele obtidos.

Sua participação será muito importante para o sucesso desta pesquisa. Assinatura do pesquisador:________________________________________ Tendo recebido as informações anteriores e, esclarecido dos meus direitos relacionados a seguir, declaro estar ciente do exposto e desejar participar da pesquisa. A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento a dúvidas sobre os

procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados com a pesquisa; A liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do

estudo; A segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter confidencial das

informações relacionadas com a minha privacidade; Compromisso de me proporcionar informação atualizada durante o estudo, ainda que possa

afetar minha vontade de continuar participando. Em seguida, assino meu consentimento.

Cascavel, _____de __________ de 2004. Nome do menor: ________________________________________________________ Nome do responsável:____________________________________________________ RG do responsável:______________Assinatura do responsável: ___________________ Telefone para contato __________________

Telefone do pesquisador: (45) 3266596