Monitorando e conhecendo melhor os trabalhos em campo reduzido

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A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes – Consultoria em Ciências do Esporte Prof. Antonio Carlos Fedato Filho Prof. Guilherme Augusto de Melo Rodrigues Monitorando e conhecendo melhor os trabalhos em campo reduzido Dentro de uma programação de treinos durante uma temporada no futebol, podemos apontar muitos tipos de trabalhos, sendo que cada comissão técnica tem sua identidade e sua metodologia que entendem como a mais adequada para aplicar sua filosofia, esse é o momento em que o fisiologista, tendo conhecimento do trabalho da comissão atual no clube, pode implantar formas de monitorar e controlar as variáveis apresentadas na programação de treinos, ajudando a quantificar e a qualificar os trabalhos, mas sempre respeitando a filosofia e a metodologia da comissão técnica, sem querer alterar os trabalhos ou modificar seus métodos, e sim adaptar dentro do próprio trabalho programado formas para alcançar o objetivo final, dando idéias e mostrando os benefícios que pequenos ajustes irão trazer o trabalho. “A monitoração dos trabalhos não é tão simples, pois o futebol é, entretanto um tipo de exercício intermitente onde períodos curtos de alta intensidade são entremeados com períodos mais longos de recuperação ativa ou passiva. Neste tipo de exercício não é possível monitorar a intensidade da mesma forma como fazemos com exercícios contínuos sem bola, por exemplo: um treino de corrida intervalada onde o tempo para cobrir uma distância fixa pode ser facilmente registrado.” (Dr.Paul D.Balsom – 2000). Nesses casos a fisiologia teve uma grande contribuição para o futebol, trazendo para o campo diversas formas para tentar fazer os controles dos treinos mensurando e obtendo informações de suma importância para o desenvolvimento dos trabalhos. Um dos trabalhos aplicado no campo que iremos analisar agora é o “campo reduzido” ou “pequenos jogos”. “Pequenos jogos” é a técnica aplicável ao treinamento no desporto coletivo, onde o uso de quadras ou campos de formato reduzido, combinado com um número menor de jogadores e técnicas especiais, é empregado para obter maiores níveis de condicionamento físico e capacidade técnica com bola. A importância deste estudo, além de apontar os pontos positivos e negativos, é mostrar que nem sempre o “campo reduzido” é sinônimo de um trabalho intenso como muitos profissionais podem achar, depende muito da montagem, regras, dimensões número de atletas programados para o desenvolvimento do trabalho. Para iniciarmos este estudo precisamos saber informações importantes que servirão para entender quais as exigências físicas impostas pelo jogo ao atleta para relacionarmos com as variáveis necessárias para programarmos uma sessão de treino com trabalhos em “campo reduzido”. Entendendo as exigências do jogo O futebol é uma forma de exercício muito exigente e extenuante fisicamente, além de cobrir distâncias maiores que 10 km em velocidades variadas, outras atividades que consomem energia incluem tomada de bola, pular e chutar. Quando você joga futebol, grandes quantidades de energia são produzidas de forma alternada, tanto pela via aeróbia tanto pela anaeróbia. “de um ponto de vista puramente quantitativo a produção de energia anaeróbia corresponde a apenas uma

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O treino físico com bola em pequenos jogos se torna mais efetivo para adaptações musculares locais (periféricas) do que corrida contínua sem bola e trabalha em conjunto com a parte técnica, coordenativa, criatividade, inteligência e motivação.

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A CIÊNCIA DOS PEQUENOS JOGOS Fedato Esportes – Consultoria em Ciências do Esporte

Prof. Antonio Carlos Fedato Filho

Prof. Guilherme Augusto de Melo Rodrigues

Monitorando e conhecendo melhor os trabalhos em campo reduzido Dentro de uma programação de treinos durante uma temporada no futebol, podemos apontar muitos tipos de trabalhos, sendo que cada comissão técnica tem sua identidade e sua metodologia que entendem como a mais adequada para aplicar sua filosofia, esse é o momento em que o fisiologista, tendo conhecimento do trabalho da comissão atual no clube, pode implantar formas de monitorar e controlar as variáveis apresentadas na programação de treinos, ajudando a quantificar e a qualificar os trabalhos, mas sempre respeitando a filosofia e a metodologia da comissão técnica, sem querer alterar os trabalhos ou modificar seus métodos, e sim adaptar dentro do próprio trabalho programado formas para alcançar o objetivo final, dando idéias e mostrando os benefícios que pequenos ajustes irão trazer o trabalho. “A monitoração dos trabalhos não é tão simples, pois o futebol é, entretanto um tipo de exercício intermitente onde períodos curtos de alta intensidade são entremeados com períodos mais longos de recuperação ativa ou passiva. Neste tipo de exercício não é possível monitorar a intensidade da mesma forma como fazemos com exercícios contínuos sem bola, por exemplo: um treino de corrida intervalada onde o tempo para cobrir uma distância fixa pode ser facilmente registrado.” (Dr.Paul D.Balsom – 2000). Nesses casos a fisiologia teve uma grande contribuição para o futebol, trazendo para o campo diversas formas para tentar fazer os controles dos treinos mensurando e obtendo informações de suma importância para o desenvolvimento dos trabalhos. Um dos trabalhos aplicado no campo que iremos analisar agora é o “campo reduzido” ou “pequenos jogos”. “Pequenos jogos” é a técnica aplicável ao treinamento no desporto coletivo, onde o uso de quadras ou campos de formato reduzido, combinado com um número menor de jogadores e técnicas especiais, é empregado para obter maiores níveis de condicionamento físico e capacidade técnica com bola. A importância deste estudo, além de apontar os pontos positivos e negativos, é mostrar que nem sempre o “campo reduzido” é sinônimo de um trabalho intenso como muitos profissionais podem achar, depende muito da montagem, regras, dimensões número de atletas programados para o desenvolvimento do trabalho. Para iniciarmos este estudo precisamos saber informações importantes que servirão para entender quais as exigências físicas impostas pelo jogo ao atleta para relacionarmos com as variáveis necessárias para programarmos uma sessão de treino com trabalhos em “campo reduzido”. Entendendo as exigências do jogo O futebol é uma forma de exercício muito exigente e extenuante fisicamente, além de cobrir distâncias maiores que 10 km em velocidades variadas, outras atividades que consomem energia incluem tomada de bola, pular e chutar. Quando você joga futebol, grandes quantidades de energia são produzidas de forma alternada, tanto pela via aeróbia tanto pela anaeróbia. “de um ponto de vista puramente quantitativo a produção de energia anaeróbia corresponde a apenas uma

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parte menor, mas significativa, do total de produção de energia durante um jogo” (Dr.Paul.D.Balsom – 2000). O nível de lactato sanguíneo no jogo é em média de 5 a 10 vezes maior do que em repouso, mostrando que a energia foi produzida anaerobiamente. Através de monitorações da freqüência cardíaca em jogos, mostrou que ela se mantém de 10 a 30 BPM abaixo da freqüência cardíaca máxima, se aproximando dos 85% da FC máx. ficando em uma faixa entre 140 BPM e 145 BPM durante o jogo. Podemos observar que o jogo impõe um alto nível de intensidade com trabalhos intermitentes exigindo do atleta um bom condicionamento físico tanto central quanto periférico para poder imprimir um alto ritmo de jogo com qualidade. Trabalhos cíclicos e acíclicos Com o passar dos anos pudemos ver a grande evolução em relação à preparação física no futebol, sendo antes um trabalho mais de tradição e simplicidade com treinos físicos normalmente de corrida e sem bola e passando por algumas fases para chegar atualmente com trabalhos mais complexos que envolvem os treinos tradicionais integrados com exercícios físicos com bola atingindo resultados mais específicos. Essa linha segue com uma visão de programação de treinos envolvendo trabalhos cíclicos e acíclicos de várias formas dentro de uma sessão de treino. No trabalho cíclico (movimento repetido constantemente em forma de ciclos) podemos exemplificar com os treinamentos físicos puros, nele trabalhamos os grandes grupos musculares que é a base de sustentação da performance física do atleta. O trabalho acíclico (movimentos sem padrão de repetição, em que não há ciclos) é mais específico para a modalidade, normalmente realizado com pequenos jogos com uma intensidade pré-programada. Desta forma trabalhamos os pequenos grupos musculares e a musculatura de propriocepção, dando ao atleta um ganho de resistência muscular localizada específica de jogo. Através de pesquisas e estudos, constatamos que o ganho de performance física na forma cíclica é diferente do que o ganho na forma acíclica e que existem trabalhos e ganhos diferentes para essas duas formas de performance. Podemos ver que os programas de treinamentos físicos montados com treinos cíclicos e acíclicos, obtiveram uma maior e mais prolongada manutenção da performance física durante a temporada, já programas com apenas trabalhos cíclicos, observamos bom condicionamento físico geral mas grande dificuldade de manter em atividades mais específicas como treino reduzidos e intensos e nos jogos, em contrapartida, as programações com apenas trabalhos acíclicos tiveram bom resultado nas capacidades físicas específicas de jogo mas curto período de sustentação. Constatamos que os trabalhos acíclicos são indispensáveis no programa de treinamento, mas por trabalhar com mais ênfase os pequenos grupos musculares, devemos também acrescentar os trabalhos cíclicos que são esses que darão a sustentação e resistência muscular geral dos grandes grupos musculares. Os pequenos grupos musculares, que são os mais específicos de jogo, têm seu limiar de stress bem menor do que os grandes grupos musculares fadigando muito mais rápido e necessitando dos grandes grupos para a sustentação da performance até o final do período. No início da temporada, os trabalhos cíclicos são de extrema importância, sendo que depois são realizados trabalhos apenas de manutenção para a parte cíclica dando espaço para os trabalhos acíclicos estruturados com os pequenos jogos, assim

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completando o treinamento físico auxiliando o atleta a alcançar a excelência da performance. Treinamento físico específico – pequenos jogos “A habilidade de um jogador de futebol em manter uma alta taxa de trabalho durante um jogo de 90 minutos pode ser mantida e aperfeiçoada com o treinamento de desempenho” (Dr.Paul D.Balsom). O objetivo do treinamento específico é: - Minimizar o tempo necessário para um jogador se recuperar entre exercícios com movimentos de alta intensidade e, consequentemente, aumentar a capacidade de desempenho de tais movimentos mais freqüentes ao longo do jogo. - Reduzir os efeitos negativos da fadiga no desempenho geral, especialmente próximo ao final do jogo. Os pequenos jogos, sendo bem programados, trabalham o componente central relacionado com o sistema de transporte de oxigênio e o componente periférico que envolve os grupos musculares específicos exigidos no jogo. Em relação ao componente periférico, podemos observar que exercícios contínuos com intensidades moderadas trabalham mais fibras de contração lenta e pequenos jogos ou treinos físicos específicos variando intensidades trabalham fibras de reação rápida (exercício de alta intensidade). Os trabalhos longos se forem uma constante na programação de treino e por terem uma predominância de fibras de reação lenta, afetarão o desempenho específico do atleta como a “explosão muscular” e “aceleração”. Portanto o tipo de trabalho proposto é o que vai determinar o padrão e recrutamento de fibras de reação lenta e rápida nos músculos ativos e o padrão de condicionamento central e periférico. Em alguns estudos científicos foi constatado que os pequenos jogos podem ser usados de uma forma efetiva de treinamento de resistência para jogadores de futebol, mas não é a única forma para trabalhar essa variável, esse treinamento pode e deve ser complementado por diferentes tipos de exercícios intermitentes tanto com bola quanto sem bola. Os estudos constatam que a intensidade de trabalhos dos pequenos jogos é alta o suficiente para manter ou até mesmo aperfeiçoar algumas variáveis mais específicas de jogo e que os treinos físicos sem bola tem uma intensidade similar. O treino físico com bola em pequenos jogos se torna mais efetivo para adaptações musculares locais (periféricas) do que corrida contínua sem bola e trabalha em conjunto com a parte técnica, coordenativa, criatividade, inteligência e motivação. O estudo constatou que em 30 minutos de treinos físicos com bola (campo reduzido – 3 x 3) o atleta toca aproximadamente 100 vezes na bola em diferentes situações, 3 vezes mais do que trabalhos de campo reduzido de 7 x 7. Apesar dos grandes benefícios do treinamento de resistência específica para jogador de futebol com pequenos jogos, existem muitos fatores que podem influenciar atrapalhando na intensidade do exercício, exigindo uma grande organização do treinador, preparador físico e fisiologista. Alguns fatores são:

- número de atletas, quanto maior o número menor a intensidade e menos contato com a bola

- duração dos intervalos - dimensão do campo - as regras influenciam na intensidade

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- disponibilidade de bolas (reposição imediata) A motivação pode influenciar na intensidade, podemos controlar como: - definir claramente para os atletas o objetivo do treino - mostrar a eles os benefícios - monitorar o treino com GPS, freqüência cardíaca, etc. - manter os pequenos jogos competitivos (equipes equilibradas) - organizar as sessões de treino para não perder tempo para iniciar Outros fatores que podem influenciar a intensidade do exercício: - habilidade do jogador (pouca habilidade diminui a intensidade) - recuperação entre as sessões de treinamento - tempo para adaptação ao tipo de treinamento Alguns estudos comprovam a eficácia dos trabalhos bem programados de pequenos jogos. Uma pesquisa executada por Balsom, P., Lindholm, T., Nilsson, J., e Ekblom, B.,com recursos do Centro Nacional Sueco para Pesquisa no Esporte, com o objetivo de investigar a intensidade do exercício nos “pequenos jogos”(3x3) em oito diferentes relações de trabalho/repouso, e comparar as intensidades de quatro desses jogos com a corrida contínua sem bola, descobriram que a intensidade do exercício observada em todos os oito “pequenos Jogos” (3x3) era alta o suficiente para manter ou aperfeiçoar a capacidade de desempenho de um jogador de futebol. Além disso, quando comparada com a corrida contínua sem bola a taxa estabelecida de trabalho/repouso, a intensidade geral estimada era de magnitude similar.

Os protocolos de exercícios utilizados em relação a trabalho/repouso foram nos primeiros quatro jogos um total de 18 minutos e nos outros quatro um total de 30 minutos cada

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Os procedimentos foram seguindo um padrão realizando cada sessão (jogo) em dias diferentes e aquecimento padronizado. Foram passadas instruções para os atletas trabalharem no máximo de intensidade durante o período do jogo. Para atingir as intensidades máximas em um campo reduzido 3x3 foram usadas um número de bolas que seria possível a reposição imediata e uma dimensão de aproximadamente de 33 metros x 20 metros (distância observada como ideal também em estudos da Fedato Esporte – Consultoria em Ciências do Esporte).

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Através da analise dos resultados, observando o comportamento da freqüência cardíaca durante os jogos reduzidos, foram encontradas as maiores intensidades nos jogos 1 e 7, onde, por terem estipulado tempos de estímulo que trabalhará a resistência anaeróbia específica de jogo expondo a musculatura dos atletas a acidose dando uma condição de ganho de resistência a ela, com uma recuperação ideal para os atletas conseguirem recuperar e manter uma alta intensidade até o final do treino atingiu o objetivo de um treino de campo reduzido.

Os gráficos abaixo representam o resultado obtido no estudo, observando a alta freqüência cardíaca atingida durante o estímulo e a boa qualidade de recuperação entre os estímulos.

Os outros jogos também atingiram altas intensidades, mas com queda mais acentuada no final devido ao baixo tempo de recuperação e conseqüentemente não atingindo altas freqüências cardíaca como nos jogos 1 e 7. Com base nessa teoria dos “pequenos jogos” a empresa Fedato Esportes – Consultoria em Ciências do Esporte vem aplicando e coletando informações importantes que comprovam os efeitos desse trabalho se aplicado de uma forma organizada e bem programada. Os dados mostraram que seguindo as dimensões (20 m x

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30m), número de atletas (3x3 a 4x4) e colocando regras simples e pequenos gols sem goleiros em 4 pontos diferentes foi onde encontraram as maiores intensidades de estímulos conseguindo durante a temporada juntamente com trabalhos cíclicos manter e ter ganhos em relação as variáveis importantes para o desempenho nos jogos. A figura abaixo mostra um treino de campo reduzido monitorado com GPS e frequencimetro observando as intensidades acima de 100% sendo considerados como estímulos anaeróbios láticos.

Em alguns casos os “pequenos jogos” têm um efeito negativo quando realizado em excesso, pois os atletas, quando realizam essas atividades que normalmente são de curta duração e alta intensidade, não têm o compromisso de dosar as variáveis utilizadas no jogo e com o tempo passam a não dosá-las no próprio jogo, acarretando um gasto excessivo no início da partida, pela forma alucinante que iniciam o jogo e no final ocorre, em alguns casos, a queda de algumas variáveis que levaria o atleta a manter um padrão físico até o final. Conclusão Através destas informações conseguimos observar que o trabalho acíclico com pequenos jogos é de extrema importância juntamente com trabalhos cíclicos dentro de uma programação de treinamento. Através dos pequenos jogos conseguimos uma manutenção e ganho de algumas variáveis específicas do jogo se montados levando em conta os fatores que ajudarão na aplicação de um trabalho com altas intensidades. Em uma programação de treinos com trabalho de campo reduzido podemos treinar de forma física e técnica sendo de grande importância a monitoração e o controle de qualidade realizados pelo fisiologista tanto dos trabalhos físicos quanto dos trabalhos técnicos com o objetivo de observar se as sessões de treinos estão atingindo o objetivo, levando o maior número de informações para a comissão técnica dando tempo para realizar alguma correção ou adaptação na programação de treinamento conseguindo chegar no melhor índice de aproveitamento auxiliando o atleta a alcançar seu desempenho ideal para disputa de uma partida de futebol.