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MARIA ALICE DA LUZ MONÓLOGO DA SOLIDÃO CURITIBA 2015

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Monólogo da solidão

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MARIA ALICE DA LUZ

MONÓLOGO

DA

SOLIDÃO

CURITIBA

2015

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MARIA ALICE DA LUZ

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ÍNDICE

I n d e c i s ã o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

Isso não é amor, s into mui to! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5

Indireta para garotos sem atitude................................................. 6

E m p o u c a s p a l a v r a s . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

C o n t e x t u a l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

C u i d a d o ! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 0

M e d o d e a m a r ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1

S e m c h a n c e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 3

Amor? É você, amor!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16

D e d e z e m b r o a d e z e m b r o . . . . . . . . . . . . . . 1 8

P o r qu e o a mo r é o a n t i c o r p o d o p o e t a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

A p e n a s a m i g o s ? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 3

U n i v e r s a l m e n t e í m p a r . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 5

P r o n o m e i n d e f i n i d o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 7

O s v e r s o s d e a m o r n u n c a t ê m f i m . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 9

D e v o l t a a d o c e i n f â n c i a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 0

C o n f i d e n t e d a L u a . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2

F a z p a r t e d o p a s s a d o . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 5

M a l d i t o o r g u l h o . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 7

F r a q u e j a n d o . . . . . . . . . . . . . . . . 3 8

P u r a m e n t e a m o r , g e n u i n a m e n t e e u ! . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 9

V e r d a d e i r o . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1

T r a n s f o r m a ç õ e s . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 3

F a d a d o a n a d a s e r a l é m d e p l a t ô n i c o ! . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 4

O o u t r o l a d o d o s 2 0 e p o u c o s a n o s . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 5

N o i t e . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 7

E s b o ç o s . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 9

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A n t e s d e i r . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 0

M a i o . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 3

S i n a . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 4

P e r s e g u i d o r . . . . . . . . . . . . . . . . 5 5

T a n t o q u a n t o e u . . . . . . . . . . . . . . . . 5 6

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INDECISÃO

ode ser covardia. Pode ser minha rota de fuga. Po-de ser o que você quiser... Não vou usar o medo como a carta para vencer este jogo.

Não vou modificar as regras porque o regulamento não permite emendas. Você jura pela posteridade, no calor da inconse-quência adolescente, do plenamente por vez, pelo desejo de mo-mento.

Ainda existe uma criança por aqui.

Não apenas uma.

Duas.

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ISSO NÃO É AMOR, SINTO MUITO!

ara que o amor seja considerado verdadeiro, a luta tem de ser um compromisso de ambos, não um cabo

de guerra onde um vence e o outro sai machucado.

Vergonha de sentir? De dizer? De se permitir viver a ple-nitude?

Não me venha dizer que a decepção moldou a frieza por-que para mim isso significa outra coisa: preguiça. Falta de vontade. Se eu levasse esse agravante em conta, seria uma geleira impassível a tudo e todos, mas não sou.

É por acreditar no amor que eu não o culpo pelos meus de-satinos, pelas minhas decepções. Eu sei que boa parte do meu cas-tigo tem relação com as minhas impensadas escolhas, o que eu er-roneamente chamei de amor.

P

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INDIRETA PARA GAROTOS SEM

ATITUDE

ocê não precisa de mais certezas. O coração bater mais rápido é a maior de todas as suspeitas. O que eu acho é que um homem sem iniciativa acaba por

ver o pôr-do-sol sozinho. Nada mais triste, nem mais merecido. Quem não luta pela sua garota, pode não ter tanto tempo quanto suspeita.

Timidez sim, frieza não. Não saber como lidar com as borboletas no estômago, isso acontece comigo também, mas ser distante acaba com qualquer esperança. Olhando para essa fachada indiferente, eu posso sim pensar que você não gosta de mim, não me acha bonita, não se interessa pela minha vida, mas eu não quero tentar te impressionar porque fazendo isso eu posso me tornar al-guém de quem não gosto para você gostar.

Se você impõe condições para me amar, não ama, é um capricho, raciocínio que até uma criança de 8 anos concordaria. Ou você ama alguém como ele é ou não ama. Mais fácil então criar alguém a seu gosto, alguém perfeito, mas que só vai existir na sua mente.

Enquanto isso, os anos vão passar, ela vai descobrir que você não era tudo que parecia ser e vai largar mão de esperar pela sua atenção. Outro entrará no coração dela e fará o que você nunca fez. Amá-la. Protegê-la. Aceitá-la porque o que se faz no passado não deve ser motivo para execrar alguém.

Se não fossem as escolhas erradas, as decepções e tudo o mais que faz parte do repertório de crescer, ela não seria quem é.

V

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Ele vive a fazê-la sentir-se especial. Toma-a nos braços e apresen-tá-la ao mundo como o "meu amor".

E quanto a você? Vai descobrir tarde demais que a meni-ninha de boba não tinha nada e nunca mais a terá. A atitude que faltou de você, outro teve.

Ela chorou por você. Só Deus sabe o quanto ela padeceu às suas sumidas, a ver que nunca era prioridade na sua lista, era só outra boba agradecendo pelas migalhas porque você nunca se en-tregou.

Hoje, uma mulher, ela tem muita dó de você. Orgulhoso e solitário, intocável, arrogante, cheio de selecionar a dedo a mulher-zinha perfeita, a foda além da imaginação. Esse texto pra você não passa de um clichê, mas finalmente ela acordou e é princesa nos braços de outro, enquanto você é o ogro abestalhado que vai morrer sozinho se continuar agindo como um menininho mimado.

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EM POUCAS PALAVRAS

ode ser que as coisas mudem, vai que sim. Você sabe como a vida é composta de reviravoltas, o próprio ano

mostra isso. Você começa de um jeito e termina de outro. Nesse vai-e-vem de dias imprevisíveis é bom ter algo para acreditar, um amor para chamar de seu, bons amigos para todos os momentos. Os sonhos também seguem por caminhos que nem sempre consegui-mos seguir. Ou eles mudam junto conosco ou então morrem e na pior das expectativas se realizam.

P

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CONTEXTUAL

eu orgulho é meu pior inimigo. A distância, intocá-vel. Então, os planos perdem o propósito frente ao

receio do infinito.

Propagam-se motivos para não ir. Já chega de dúvidas. Eu repudio essa situação.

Te quero tanto quanto na semana passada.

Presa à saudade. Aturdida, a versejar verborragias. A olhar as horas se espreguiçando. Ainda é dia e pra mim não faz a menor diferença.

Reclassifico os poemas. Aos poucos estou voltando a ser quem era. Impossível. Bem-vindo, meu novo eu.

Você em mim, respirando minhas filosofias existencialis-tas, subjetivamente paradoxais, minhas histórias sem fim. Diga-me que é inútil cercar-me de pretextos para estar só.

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CUIDADO!

creditar em mentiras é a pior desgraça que pode existir porque dependendo da entonação ela corre muito mais depressa que a verdade e as pessoas

acreditam, então é preciso tomar cuidado com o que se diz, com as pessoas que você engana porque você pode até ser perdoado, no entanto a confiança quando quebrada nunca mais volta ao normal.

Experimenta quebrar um copo e remendar. Acha que ele volta a ser bonito que nem antes?

Nunca mais.

A

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MEDO DE AMAR?

e sinto tão estranha, tão boba. Me sinto como uma criança perdida em um mundo novo. Sem bússolas nem direção. Por entre as nuvens levi-

tando. Borboletas pelo céu, estômago, gravuras. Um registro de você. Sempre nos pensamentos. Do amanhecer ao descanso. Um consolo para as tantas feridas da alma.

Dançando com a solidão. Acolhida por um sorriso, o mesmo que me faz adormecer feliz, que me faz sorrir ao recordar, acalentar o coração e amar cada vez mais, sem nada em troca exi-gir.

Não consigo me entender. Eu tenho medo de te perder, mesmo não te pertencendo.

Tenho medo de que você também me ame. De confessar e me arrepender. De entregar meu coração e só abraçar a dor.

Medo de não ser espetacularmente gostosa, interessante. Medo de não precisar te impressionar. Da sucinta inexperiência. De a timidez barrar minhas tentativas de aproximação. De que o silên-cio seja meu porta-voz. De realizar meus sonhos e não saber como agir.

Medo de não saber o que fazer com minha vida quando você for embora. Se precisarmos nos separar. De novo.

Imutável. Sim ou não. Tudo me apavora.

Medo das lágrimas, das noites por demais extensas, das natimortas frases de amor. De não serem suficientemente convin-centes. De serem supérfluas, uma vez que minhas discretas lágri-mas são a maior prova de que pequenos gestos me desestruturam muito mais, assim como algumas palavras possuem poder.

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Medo de não conseguir viver longe dos seus olhos. De admitir que distante de você me recrio e, no entanto, os dias são chatos, sem sentido, que posso até tentar te encontrar em outros beijos e em todos os olhares em que tentar me abrigar, só enxerga-rei seu brilho.

E eu tinha medo de te amar de novo. Medo de te ver e constatar que os anos não puseram fim ao meu sentimento.

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SEM CHANCE

Ele: Você parece triste.

Ela dá mais um sorriso fingido, desprendido, escondendo o choro. Caminha ao seu lado, olhando para a calçada, para o poste iluminado, para as nuvens, menos para ele. Algum tempo de silên-cio. Prender a respiração. Sobrepor o egoísmo. Prometer que ama-nhã recomeçará e sem nele pensar.

Ela: Estou bem...

Ele: Eu te conheço, sei que não está.

Ela: Tem razão. Não está.

Ele: Eu sabia. E aí? Quer conversar sobre isso?

Ela: Acho que quero.

Ele: Então se abre comigo. Fala o que você tem.

Ela: Eu espero que nossa amizade não acabe depois do que eu vou te contar...

Ele: A nossa amizade não vai acabar nunca. Eu já te disso uma centena de vezes. Eu olho pra você e sinto que você não está bem. Você parece estar amedrontada, confusa. Por que não abre o coração comigo? Meu ombro está aqui se você quiser chorar.

Ela: Tem certeza? Eu tô te alertando agora porque pode ser que você não goste muito do que vou te dizer. Pode ser que nos-sa amizade não seja mais a mesma.

Ele: Abre o seu coração.

Ela: Faz tempo que eu tô querendo te dizer isso, mas não sentia coragem...

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Ele: Não entendo por que. Nunca houve segredos entre nós dois...

Ela: Eu não tinha muita certeza no começo por isso me mantive tão calada, mas aos poucos o sentimento foi ganhando for-ça dentro de mim sem que eu percebesse. Você pode não entender por que eu tenho tanto ciúme de você, por que eu me preocupo tan-to com você, por que eu me importo tanto com o que você pensa de mim...

Ele: É normal. Amigos se preocupam uns com os outros...

Ela: É aí que está o grande problema! Eu não tô mais con-seguindo somente te ver como amigo. Na verdade já faz um tempo que isso está acontecendo, por isso não queria te contar... É que eu te amo! Eu te amo...

Uma atitude destemida. Um beijo. Prevalecido, correspon-dido. Correto ou não, o ponto alto da noite. E então o recuo, o a-margo. Depois do doce.

Ele: Não podemos fazer isso. Somos amigos...

Ela: Eu sei que tô confundindo as coisas, mas não posso mais negar que te amo...

Ele: Que eu te amo é certo... Mas como amiga...

Tarde demais para rebobinar o tempo. Dizer ou não, já não faz mais sentido, não mais importa.

Ela: Era isso que eu temia... Não há pior resposta do que essa: ”Somos grandes amigos. Eu te amo como amiga...”

Ele: Então por que falou?

Ela: Porque você me pediu para ser sincera e falar o que realmente sentia. Mas percebi que não é o bastante e nunca será. Você prefere fugir por ter medo de encarar que te vejo como ho-mem, prefere mendigar amor de uma garota que não te vê como você realmente é. Ou talvez eu veja apenas o que quero ver porque é difícil, muito difícil sufocar isso dentro de mim pra te ter como amigo enquanto essa garota aí que tem seu coração nem sequer o valoriza...

Ela escreve poesias para falar sem pudor sobre o seu cora-ção partido. Ele segue iludido pelo inalcançável. E assim essa his-

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tória continua sendo escrita, por você, por mim, por todo mundo que não teve o seu afeto correspondido.

Natural.

Tanto quanto a luz do dia.

Tanto quanto esperar pela declaração que outra pessoa re-ceberá no lugar.

Ou não esperar nada, evitar frustrações.

Engolir o tal do orgulho.

Dar de ombros.

Se esse amor atrapalha a amizade, do que ela é feita, en-tão?

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AMOR? É VOCÊ, AMOR!

té então eu pensava que conseguia viver sem isso. Vivia, claro, só que minha previsível vida muda do avesso e essas transformações estão me deixando

assustada. Não é a questão de conseguir lidar com isso, mas é esse nó... Esse nó no alto da minha garganta, essa vontade de rir, chorar, gritar, sair por aí fazendo o que der na telha, essa vontade de olhar pra mim mesma como já não fazia, de lutar por mim de novo, acre-ditar em todos os sonhos que eu tinha enterrado, que eu julgava não condizerem mais com a minha realidade...

O amor chega, provoca e vai...

Amor, droga.

Amor.

Dentre tantos, você.

Por quê?

Bem você me ajuda a descobrir o amor, a entender que eu até poderia viver sem, só que não conheceria ao certo como é viver e não apenas existir, levar cada dia como se tivesse todo o tempo do mundo para continuar aqui mergulhada em amargura e confor-mismo. Eu não entendia para que servia o pique da juventude. Tudo era sempre muito igual, muito monótono. Eu me sentia inteiramen-te presa ao passado porque assim me sentia protegida, no entanto, não sei do que.

Eu não tinha medo de lutar e perder, mas de vencer e não ter para quem contar. Eu me sentia muito sozinha. Quer dizer, ainda me sinto, contudo agora o amor me acompanha e aceitar que estou amando me torna outra desprevenida porque simplesmente desfa-zem-se as palavras quando me encontro em seus olhos e percebo

A

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que não posso mais brigar contra isso, comigo mesma, inutilmente pensando que viver sem você seria mais fácil, menos chato, que posso controlar as borboletas no estômago e arrancar você de mim e aí que mora o problema: se eu me afastar de você, não, eu não posso querer isso porque posso fechar os olhos e recriar um mundo, mas aonde quer que eu vá, no meu olhar vai se refletir toda espe-rança que seu sorriso me devolveu porque eu encontrei e sou egoís-ta demais para abrir mão do que me faz feliz, mesmo sabendo que ir seja a solução para não sofrer mais. Como se pudesse ser inevitá-vel o fato de amar e não sofrer. Então não se ama.

Meu preço é te ver em outros braços e continuar sorrindo, te cumprimentando, com a alma em pedaços, concordando que seu bem estar vale mais que todas as minhas tentativas de me fazer no-tar. Caberia a você me enxergar. Você o faz. Não como eu desejaria e a você omito. Sobre o que sinto não minto. Pode confirmar, se quiser, ou então que a própria maturidade me ensine pelo que devo sofrer, se é certo te querer ou se você também se afunda em dile-mas, abraçando ao travesseiro e na manhã seguinte age com indife-rença.

Até então eu adormecida banhada em lágrimas. Sem saber por que. Viver sozinha é trabalhoso. Escrever sobre tudo, mesmo que tudo me levasse a falar de amor, do desconhecido para mim. Filosofando para o nada, traçando conclusões, apagando adendos, inserindo algumas vírgulas, repaginando parágrafos; matando o tempo ou então procurando um jeito de fazer com que a noite se passasse mais depressa.

Droga de amor. O vício mais difícil de largar. Dependente desses versos que não me levam a nada.

Por quê?

Por que tinha de ser você?

Bem você...

Até então você era só mais um que a minha frente passava, mas o amor transforma o incerto em decisão e é da magia que eu quero me lembrar. Hoje e sempre, você. Amor. Proibido, reprimi-do, impossível e ainda assim grande demais pra acabar agora, se é que um dia terá fim.

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DE DEZEMBRO A DEZEMBRO

ezembro, dezembro. Tenho a impressão de que há pouco te saudei. O mais ultrapassado dos clichês,

iluminados agora pela sustentabilidade.

É uma pena que o Papai Noel agora seja só um enfeite na estante de casa, que aquele lance de renas e neve estejam apenas no imaginário das crianças. Pena que hoje elas queiram crescer tão rápido.

Teve um tempo que eu era como elas, pensava que quando fosse adulta seria mais feliz e hoje que cresci, tudo que mais tenho vontade é de voltar à época em que minha maior preocupação era ser uma boa menina, esperar meus brinquedos, acreditar que minha simples cartinha chegaria mesmo ao Polo Norte e o bom velhinho, sentado em sua poltrona perto da lareira a leria com o maior cari-nho. Mamãe Noel, fazendo aqueles biscoitos natalinos, chegaria até a sala e ofereceria ao Papai Noel uma caneca de chocolate quente.

Eu não sei como ele dava conta de tantas cartas e de voar pelo céu do mundo inteiro em apenas uma noite sem ficar cansado, sem se esquecer de ninguém, como dizia aquela música. Hoje eu rio dessa pureza toda que eu tinha. Tudo que se perdeu. Assim é a vida, você perde para poder ganhar.

Guarda mais um ano até o último segundo. Já que pode fa-zer isso, zela pela minha esperança também, me deixa sonhar que o ano que vem enfim vai ser o ano que eu vou rir mais do que chorar e que se chorar, que seja por algo que vale a pena.

Que se o amor chegar, não iremos nos desencontrar. Eu saberei o caminho, não terei medo e se tiver, o próprio amor o leva-rá para longe. Juntos aprenderemos, eu posso sentir. Eu posso res-

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pirar sua presença. Dentro de mim ele está, apenas esperando por alguém que também precise de amor, para que juntos partilhemos da nossa maior missão.

Que nesse próximo ano eu viva tudo aquilo que mereço. Vou realizar mais do que planejar. Farei acontecer porque já me esgotei de tanto esperar e nada vir.

Que no ano que vem eu seja dona de mim. Que eu aprenda mais, me estresse menos.

Que a magia do Natal não seja apenas uma lenda.

Que a saudade me atormente bem menos e amenize as culpas também.

Que seja possível visualizar o Sol quando estiver abatida. Que meu sorriso ilumine a mais alguém. Que as vitórias se multi-pliquem e os eventuais escorregões me fortaleçam.

Esse friozinho me faz lembrar a infância, quando eu via aqueles filmes natalinos e sempre sonhava que alguma coisa daque-le tipo iria acontecer comigo. Neve, milagres, tudo.

As músicas todas são tão lindas e eu queria que a bondade da humanidade não acabasse no primeiro gole de réveillon, na pri-meira votação do reality show, que a tão admirável ingenuidade das crianças permanecesse viva em todos os corações de janeiro a ja-neiro, para que aí sim seja possível fazer um mundo melhor porque só falar de nada resolve. Palavras se perdem.

O que me faz chorar é pensar que muitos desses desejos de véspera nunca se realizam. Ah, se eu pudesse pedir qualquer coisa ao Papai Noel. Tanto a dizer, tão pouco tempo a meu favor. Não sei se me comportei o suficientemente bem para ser merecedora de um colo, de um piedoso olhar que não irá me julgar, mas saber que tentei. Sei que é um por vez, felizmente. Mesmo que alguns discor-dem da minha teoria, todo mundo precisa de algo para acreditar.

Promessas não me interessam porque grande parte são en-terradas juntamente ao ano velho, embora os erros persistam para sempre enquanto não avaliados. É isso que poucos entendem.

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O presente simboliza a importância das pessoas na minha vida, ainda que a dádiva de estar aqui em plena harmonia seja a maior das bênçãos. A farta ceia não deveria ser ostentação, mas sim um momento de agradecer por tudo.

Passa-se tanto tempo reclamando que a amargura toma o lugar da sensatez. Insatisfação, impaciência. Pra lá e pra cá. Vive-se do inverso. Então deveria ser inverno. Mas é, acontece que não neva. Os corações é que são frios, cada qual justifica como bem entende.

Na real, como ressaltei antes, os preparativos acabam sen-do mais importante que o espírito em si. Isso é que estraga o mun-do. As pessoas dão importância ao preço de tudo que passam todo tempo tentando ser o que não são e não reconhecem isso, embora tentem e eu não desmereço.

Talvez eu veja por demais, espero que sim. Espero tam-bém me preocupar menos, bem menos e entender mais, não me sentir tão triste quando uma simples canção me faz recordar com um nó na garganta de todos aqueles que amavam o Natal e já não mais podem celebrá-lo, que eu também já não sou mais aquela cri-ança e vou ter que aprender a conviver com ausências, sem nunca perder o amor porque não quer dizer que só porque alguém já partiu que o esquecerei de como se sua existência não tivesse valido. São agora estrelas, procurando por meu olhar. Brilham com força, para que eu as veja e não chore mais. Pouco pode ser muito, mas nem sempre.

E se nesse ano que entra eu puder mesmo ser o que quiser, eu diria que ser feliz é só o que me interessa. De dezembro a de-zembro.

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PORQUE O AMOR É O ANTICORPO DO

POETA

s vezes eu queria te odiar. Porque te amo. Porque queria sua atenção. Porque queria receber um elo-gio seu. Porque sinto ciúmes. Porque lamento per-

der o que não é meu. Porque odeio ter de admitir que isso é ridícu-lo. Porque tenho medo de lutar. Porque vencer o medo é um desafi-o. Porque o pouco, poupando metáforas, é tudo que tenho. Porque o pouco me envergonha.

Porque eu deveria desencanar. Porque posso estar vivendo em vão. Porque sua felicidade é minha dor. Porque se triste você estiver, mais infeliz ficarei. Porque eu queria ser esse alguém que mora em seu coração. Porque queria ser seu primeiro e último pen-samento. Porque queria não pensar mais em você. Porque não que-ria te associar ao amor.

Porque quando te abraçam eu sinto vontade de chorar. Porque por você eu queria ser abraçada. Porque eu queria te fazer sorrir. Porque não sou a razão do seu sorriso. Porque minha timidez me prende aqui nesses argumentos idiotas. Porque eu não teria co-ragem de te dizer nada. Porque eu tenho raiva de ser covarde e me esconder. Porque fugir cansa. Porque estou cansada de continuar calada. Porque permanecer em silêncio pode ser melhor que a rea-lidade.

Porque eu queria outra vida. Porque talvez não seria legal outra vida, pensando bem. Porque eu vivo um sonho solitário. Por-que viver assim machuca e disso você não tem culpa. Porque eu queria que eu você tivesse. Porque você nem sabe quem eu sou. Porque eu queria que você soubesse. E gostasse do que descobrisse. Porque eu me sinto uma idiota por tanto querer.

À

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Porque você não tem obrigação de ler. Porque queria ser o verso que te toca. Porque não sou melodia. Porque sem asas não sou anjo. Porque se pudesse seria. Porque não está ao meu alcance coisa alguma. Porque sou apenas eu. Porque eu não sou a pessoa mais legal do mundo. Porque meu mundo não tem graça sem você. Porque eu sou uma criança egoísta que às vezes queria que você pensasse como eu. Me esqueço de que te amo por não se parecer nem um pouco comigo. Porque em você encontrei mais que uma companhia, inspiração. Eu encontrei alguém com quem queria que comigo pudesse permanecer ao lado para sempre. E o para sempre chega ao fim, como as frases todas. Infelizmente não posso contra isso.

Porque o impossível é questão de enxergar ou não. E diz o amor que o melhor se vive com os olhos fechados. Então se estima o valor da lágrima. Caindo de seus olhos eu chorarei também, não conseguirei resistir.

Porque eu sei que é amor. Mesmo quando me dizem que tudo passa, eu sei, o amor viverá para sempre, ainda que você e eu já tenhamos partido. Sem conhecê-lo ou então nos iludindo com falsas sensações. Porque é pertinente. Porque apenas um passo re-sumiria esse poema em um beijo. Porque a imaginação me leva ao inferno. Porque é pecado não sentir. Porque não me pertence o fu-turo.

Porque os versos ganham a forma que bem entenderem, depende de você. De mim. Desse momento. Porque o coração de-senhado no vidro embaçado contém seu nome, ainda que nenhuma inicial lá esteja. Porque seu nome é a senha que acende as esperan-ças. Porque eu simplesmente resumiria os porquês com uma frase. Porque eu gosto de complicar tudo. Porque a saudade torna esta noite mais longa. Saudade de recentes lembranças. Sem organiza-ção.

Às vezes eu queria te odiar. Por um minuto que fosse. Porque um minuto se convertem em mil anos de amor e perdão. Porque para quem ama o remédio é amar mais. Porque o amor é o anticorpo do poeta. Porque sem amor, desmoronar-se-iam as inven-ções e as teorias seriam emaranhados de palavras confundindo mi-nha mente. Como a vontade de te odiar, com todo amor.

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APENAS AMIGOS?

beijo poderia ter ocorrido muito tempo antes. Oportunidades não faltaram. Desejo também não. O beijo ganha o sentido que você quiser. Nenhum,

talvez. Se apenas amigos são. Da amizade para o amor basta apenas um passo. Ambos sabem. Ambos talvez não compreendam que muitas vezes esse passo se dá sem que percebam, que queiram.

Amam-se no gelado terreno da desilusão, sem qualquer re-torno, complicando as intenções. Afastando aos gritos, retornando aos prantos. Indecisos demais para confessar. Amedrontados. Ar-riscar deveria ser o lema.

Amam-se quando sorriem, quando as mãos se encontram, se tocam, se entendem, quando são tão pequenos perante o mundo, quando se incluem em ambos os planos e quando estes não possu-em sentido sem incentivo. Subentendida. Sorrateiramente. Um sus-piro pelo fim.

Ela sabe que está amando, que esse beijo não foi apenas um pueril imprevisto, que para ele são apenas amigos. Nada além de bons amigos. E sem olhar dentro de seus olhos. Não pode mais. As lágrimas despencam. Cachoeiras de emoções reprimidas. Pas-sam tanto tempo juntos que muitas vezes não percebam o quanto são relativamente compatíveis e se amem a ponto de se odiar às vezes e esse mesmo ressentimento terminar em questão de minutos, regado a cafunés de conversas até o amanhecer.

Ele insiste para que ela o olhe. Tudo bem, diz ela, mesmo não estando. Fingindo mais uma vez. De tantos segredos comparti-lhados, ele se tornou mais um. Inconfessável, vide as circunstân-cias, aos determinados pareceres, a indiferença dele.

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Contemplando seus vivazes olhos, sabe: já não o vê apenas como seu melhor amigo. O vê como homem. E sabe que se caso permita que esse amor dentro dela cresça, semeará sofrimento e dor. Sabe, mas não pode evitar. Não porque não queira; é realmente por não conseguir. Sabe que não é de hoje e não acabará amanhã. Sabe que é amor, só que ainda não havia discernido os sinais. Tan-tos e tão claros, próximos demais e intocáveis, como a amizade que promete fazer durar.

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UNIVERSALMENTE ÍMPAR

amor me hostiliza. Estou em guerra com o silên-cio. Quantos dias eu ainda terei de lidar com o impasse, nem sequer posso prever. Bom se fosse o

último, se o travesseiro não precisasse mais secar minhas lágrimas, aquelas que durante o dia eu finjo não ser parte de mim, quando cumpro minhas atividades e ao lado dos meus amigos tento ser ale-gre e me mostrar forte, para que ninguém se preocupe comigo.

Com os pés no chão, sem ver o que você nunca mostrou. Eu deveria ter me comportado como uma adulta. Mas você disse que me amava. Sem desconfiança, te correspondi. Você ainda esta-va no passado, por que não me falou que nada estava resolvido? Por que sumir e me deixar à deriva sem qualquer resposta?

Usar-me para ocupar o espaço deixado foi um jogo muito sujo da sua parte, eu esperava bem mais de uma pessoa que se diz tão culta e madura. Você não é nada disso. Sim, eu te digo que você é tão imatura quanto eu, porém eu nunca te prometi que a substitui-ria. Eu nunca tive essa presunção. Queria marcar, te fazer feliz da maneira que podia. E eu me esforcei, sei que sim, também sei que chorar por você é criar mal estar, sensação de pena e eu não quero que você tenha “pena” de mim.

Você não gostaria de estar no meu lugar, teimar com a culpa, reconhecer as próprias fraquezas e declarar que está comple-tamente sozinha. Estou sim. Dessa vez, entretanto, é pior do que as outras porque antes eu tinha a esperança de que algum dia eu en-contraria que fosse me amar de verdade e agora eu não estou certa de mais nada, apenas com medo de ser sempre um tapa-buraco na vida dos outros, sem deixar lembrança alguma, apenas passar, exa-tamente como um segundo faz, passar e ninguém perceber.

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Vejo-te tão feliz nos braços dela, não posso evitar a dor. Eu ainda queria o seu amor, como eu queria. Ser ela, para que você me amasse sem fugir. Para não ser a criança boba que ficou sem doce, que perdeu a boneca preferida. Talvez não passe de uma in-veja boba, querer o que vai perder a graça. Talvez não passe de uma efêmera paixão de estudante.

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PRONOME INDEFINIDO

úsicas repetidas na vitrola virtual com fones de ou-vido. Obrigações e mais obrigações. Os deveres

estão acima de quaisquer prioridades e suspeitas. Foi o modo que ela encontrou para consumir o tempo.

Cuida das palavras, do chão, de quem precisar. Cuida para nunca perder a hora nem o ônibus. Cuida de tudo e todos, mas quem é que toma conta dela? Quem se interessa em saber mais do que aquele sorriso mostra?

Ninguém!

Pronome indefinido a carimbar o fantasmagórico vazio de seus versos, tão cheios de imprimir no papel o preço de um tipo de tristeza que não se chora. A folha em branco diria a mesma coisa.

Ela sabe disso.

Escreve para continuar viva. Sem férias. Sem semanas de preguiça para desregular os bons hábitos mantidos a duras penas. Cada coisa no seu lugar, ninguém vê. Repetiu a música. Aquela dorzinha no peito não deveria (ser), mas é amor.

Ela sabe disso.

E o castigo o qual está presa e liberta dentre vírgulas, reti-cências e conspirações. Refém do clichê. De olhos fechados, apenas esperando que o cansaço a desligue desse plano que não é aquele que fez bem antes de saber que não se tinha tempo para desperdiçar com doces caprichos. De tão doces, amargos.

Melhor repetir a música até que a letra se fixe em todos os pensamentos e os objetivos se cumpram. E que encontre sentido

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nas palavras repetidas, naquela frase sem ponto, no quarto bagun-çado.

Nela.

Especialmente nela.

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OS VERSOS DE AMOR NUNCA TÊM FIM

ão é a primeira vez que meu coração está apertado por não ter maneiras de te contar tantas coisas, desde

banalidades que ao seu lado simplesmente não seriam.

Meu silêncio é fruto do medo que obviamente não foi você que causou. As decepções comprometeram a espontaneidade, aque-le tal de se entregar com os olhos fechadinhos sem medo dos jul-gamentos alheios, do amanhã.

Pecado por pecado comete quem se importa com a novela da vida do outro em vez de protagonizar a própria história. Fui in-serida no papel da figuração, mas não gosto dele porque não me sobra muita coisa a fazer e esperar a sorte mudar não é muito sensa-to.

Não é a primeira vez que te escrevo, preservando sua iden-tidade, te aguardando mesmo quando você não virá, seja no domin-go ou na quarta-feira de Cinzas, adoraria passar o dia do seu ani-versário com você, te chamar de querido bem aos pés do ouvido e ouvir as batidas do seu coração de pertinho para que você possa segurar na minha mão quando eu tiver algum pesadelo e acordar de sobressalto no meio da madrugada, quando a escuridão apaga a calma e sou uma criança imóvel na cama. Não há nenhum daqueles monstros cabeludos do faz-de-conta, mas existem alguns que estão enraizados no nosso subconsciente.

Não é a primeira vez que gostaria de dançar uma música lenta com você, mas não queria jamais que meia-noite encerrasse qualquer esperança. Os versos de amor nunca têm fim.

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DE VOLTA A DOCE INFÂNCIA

u queria ter de volta toda aquela imaginação para transformar um simples pátio em um reino encan-tado, ser condessa, princesa, correr por tardes afora

e voltar cansada porque lutei contra temíveis monstros, salvei o mundo do mal, viajei por ele todo, viajei pelo tempo e retornei a tempo para o jantar.

Como queria fazer de um modesto jardim com gramado raso um bosque onde livremente passeava e nada temia, nem mes-mo a noite, dar poderes mágicos a pedrinhas, acreditar que poderia voar só com a força do pensamento. Eu nunca voei, mas mal tinha convicção de que minha alma era livre e não cabia no meu corpinho esguio.

Parava de chorar muito mais rapidamente que agora por-que a alegria andava de mãos dadas comigo; quando apenas uma oração acendia toda esperança e eu podia acreditar que fadinhas existiam e me traziam moedas quando eu perdesse um dentinho. Eu dormia rápido, pois minhas preocupações eram pequenininhas co-mo eu.

Os machucados eram curados com um beijinho de mamãe, as travessuras todas perdoadas. Eu conhecia o amor mesmo sem ter me apaixonado. Se faltava magia no cinzento céu, dentro de mim ela existia, não importava a época. O bom velhinho me recompen-sava pelo bom comportamento durante o ano e naquela noite mági-ca ele sobrevoaria a Terra toda com seu trenó e mesmo que em nos-sa casa não houvesse chaminé, ele deixaria um presentinho, nem sempre o que eu queria, mas merecia e com o que eu tinha eu fazia do meu mundo muito mais colorido, tanto que eu achava que cres-

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cer era bacana, que eu só seria feliz, mas até hoje eu nunca mais encontrei felicidade igual. Nunca mais.

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CONFIDENTE DA LUA

oite. Fim e começo. Contexto. De prosa com a lua. Ausência. Analogias. Insônia. Você. Mais versos

soltos e insanos. Seremos todos loucos de amor no fim das contas?

Linda, destemida, lírica. Sem rastros. Me encanta o misté-rio. A ela eu me rendo como fiz a um amor que nunca pensei sentir. Era outra adolescente bancando a criança, em partes porque ainda era. Daqueles tempos eu aprendi a peneirar as boas recordações e com elas seguir. Você, quem diria que você, aquele que eu nunca imaginei conhecer, pouco a pouco e sem qualquer pretensão, fez da menina uma mulher?

Pulsava a agonia. Um negócio estranho. Aquilo me inco-modava. Até hoje eu não sei lidar com isso. Meu olhar triste e dis-perso denuncia. Respiro fundo, desconverso, rezo, ouço uma can-ção. Pode ser banal. Início do inacabado. Em uma ponte suspensa de metáforas, balançando conforme o soprar do vento. Eu poderia te ver, passar reto. Você não existia dentro de mim. Não ainda. Não como agora.

Eu procurava preencher meu tempo como bem podia. Ora dormindo, planejando sonhos loucos só para rir um pouco, escre-vendo algumas poesias, já nostálgica mesmo tendo tanto a viver. Ora tentando me livrar do inferno que os mais adultos chamam de escola. Já no fim do ano eu o conheci. Naquele dia eu não senti nada demais, nem nos outros. Cresceu e sem minha permissão. Aos poucos eu gostava de você, mais do que dos outros. Não deveria. Nas músicas eu te sentia; à toa sorria, o motivo ninguém sabia e eu nunca relatei.

Já me senti tão sozinha a ponto de não lembrar nem mes-mo o caminho de casa, nem quem era, por que aqui estava. Eu ha-

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via me esquecido de que amar era o caminho, independente de se-guir ao seu lado. Meu coração é um oceano de segredos. Desnuda-ria um a um, mas é um lamento te dizer que você é um deles. O mais profundo. Eu mergulharia léguas e léguas por um sorriso seu. Viver sem você, confesso. Não é a melhor das perspectivas.

É difícil tocar outros lábios. Eu acabaria procurando por você em um céu qualquer, enquanto as borboletas se negam a feste-jar porque estão no salão errado, então não são e nunca serão bem-vindas. Seria apenas preencher as longas horas a fim de me enganar mais um pouco para mitigar a maldita carência carnal. De volta para casa, maquiagem removida (ou nenhum ânimo para isso) e mais fisgadas. Mais e mais. Mais de você em mim.

Desfazendo os tantos emaranhados sem conclusão, aprendi que o passado fica onde está, independente do quanto tenha sido bom. Claro que dói, mas só assim posso me curar. Estancando as feridas com todo cuidado. Sozinha. Em profunda meditação, apesar de eu não conseguir ficar quieta por muito tempo.

Não sei o que é o amor. Amo, sei que sim. Por isso preferi fugir. Prometi que jamais irei chorar diante de um homem, mesmo você, mesmo que seus braços me envolvessem como a uma criança perdida que busca proteção. Seus lábios por entre os meus. Irresis-tível. Melhor parar. Estão em jogo meus densos instintos, sedentos pelo amor que as estrelas indicaram e eu pensei que estivessem fazendo troça comigo. Tantas poesias já guardadas, tantas lágrimas. Quem ama confessa. Não no meu caso. Melhor assim. Sofro me-nos.

Quer dizer, como assim sofro menos?

Quem ama sofre, não importa a intensidade. Amar é se lançar de olhos fechados em um mundo totalmente maluco, se ver gritando nessas voltas de uma montanha-russa que mexe comple-tamente com todos os sentimentos e você precisa curtir os altos e baixos porque um dia todos os gritos, choros e ruídos serão recor-dações e eu apenas mais uma que por aqui passei. Eu queria o pas-saporte para um universo distinto a todas as minhas expectativas.

Você. Um preço impagável. Uma saudade que tão somente a presença atenua. Por vezes em canção, em poesia, em qualquer manifestação por mais simplória. Existe intenção. Verbalizar a im-

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portância de tê-lo aqui; nem tão perto, nem tão longe assim. Na medida para que te ame. Sábado, domingo. Não tem dia. Para você, sempre aqui.

Uma anja sem asas, quem me dera ser... Quem me dera pode cuidar de você. Como nem de mim cuidei, mas com você eu entendi que para ama-lo precisaria amar a mim por primeiro e a-mando a mim posso dedicar mais amor a você, abstendo-me de minhas egoístas vontades para vê-lo feliz. Sendo comigo ou não.

Não resisto. Deveria. Pois sim. A vontade de te abraçar é tão grande que eu abraço o travesseiro e não passa. Eu preciso de você e por ser facultativa a necessidade, preciso mais. Quando to-dos se vão, quando deveria focar a concentração no futuro nem tão distante, mas já próximo; não tanto a ponto de prever. Em um futu-ro qualquer eu te conheci. Hoje, passado recriado.

Embora amor seja muito mais que isso, infinitamente mais que qualquer texto bobo ansiando preencher essa noite com mais alguma criação, inexpressiva que seja. Mentiras não me agradam, por mais que iludam. Você e eu, uma expressão atemporal, um ver-bo perdido em algum diário qualquer com valor unitário, referente a mim.

A Lua muda de fase, a menina cresce e a poesia se recria. A Lua jura pelos que amam.

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FAZ PARTE DO PASSADO

lguns amores são muito mais bonitos no mundo dos sonhos. As ideias ganham vida própria a cada suspiro. Hora de consertar os tempos verbais e o

coração partido. Hora de reconhecer que eu amo a possibilidade de te amar. Tantos anos para entender algo tão simples de se explicar. Nada que envolva amor é tão singelo assim. Não se resume senti-mentos em palavras, apenas se conjuga o necessário para iluminar a sabedoria daqueles que falam sem pensar. A identificação é conse-quência, mas eu nunca poderei, efetivamente, entregar conclusões que saciem sua eterna indignação. A intensidade rasga a sensatez. Em nome do amor.

Te levo para sempre, mas não posso mais ficar aqui e a-gregar sentido ao inóspito. Eu cresci, eu mudei. Eu quero mais que aguardar o que nunca chegará. Eu quero amor, não o seu. Eu quero o que pode ser. Eu quero mais que elogios, eu quero viver. De a-mor, eu quero nascer várias vezes e todas serem como a primeira. Eu quero amor, mais e mais. Te levo nas intocáveis lembranças do interrompido. Te levo na alma, na poesia calada.

Eu amei, só olhei para mim mesma, para o que desejava e não era, nunca poderia. É certo que a dor vem; sem chance de fuga. Seja aonde for, durante a noite o choro vai falar por mim. Lágrimas incapazes de versejar, embora universalmente sejam um idioma só. É isso que se quer, alguém que te olhe com bondade, que te queira sem titubear. O amor não é um escambo, há quem não entenda. Nem sempre você será amado em troca. É o que se quer. Alguém para compartilhar sonhos, derrotas, segredos; alguém que represen-te a denotação de perene; alguém em que você possa enxergar o que lhe faltava, além do próprio amor.

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Eu já implorei por você, hoje prefiro partir. Eu amo o a-mor, mas estou só. Não importa que viva assim. Meu coração não tem mais seu nome. É estranho falar sobre isso com sobriedade. Eu não me imaginava sem você. Não conseguia. No entanto, o próprio amor me ensinou o caminho para longe do passado e eu aceitei re-contar minha vida tendo você como um personagem que fez parte de mime hoje alegra outra estação.

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MALDITO ORGULHO

em que ter muita coragem pra dizer que ama. É mais fácil fingir que se odeia, não se importa. Virar as cos-

tas e pensar que pra trás ficam as dores, mas não. Elas seguem a gente. Pra onde quer que a gente vá. É mais fácil dizer que não tem medo. Que tudo ficou de boa. Mas de alguma coisa a gente tem medo, senão não fugiria. O engraçado é que quando a gente mais tenta escapar é quando na verdade algo muito forte nos impulsiona a querer ficar. E a gente não quer admitir.

Maldito orgulho. Demais, um veneno. De menos, intensa-mente letal.

Há venturas que deveria ser mais fácil, mas aí não se cha-maria amor. Se tanto não ferisse. E sofrer é intrínseco ao ciclo de altos e baixos. Sofrer é viver. Às vezes em dueto com o amor. Cru-enta parceria. Amar é viver. Tudo que implique viver machuca. E mais ainda quando você se desfaz do essencial.

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FRAQUEJANDO

aquele dia eu não via saída pra mim, não via mais vida sem ele. Eu sabia que estava errada. Meu orgu-

lho me obrigou a confessar. Eu já estava humilhada. As horas se arrastavam, me levando junto para o lamaçal dos culpados.

Esperando por uma resposta, a mais pessimista que fosse, não importava desde que viesse. E então eu me dei conta do que mais tinha medo, covardemente fugindo, gritando, me afundando mais. E eu queria estar certa. Queria não sentir o que já era inevitá-vel e sem aviso nasceu. Machucou. Fechar o coração e embrulhar o medo. Não ser mais eu para ser o que ele esperava.

Tentar ser legal e me ver presa nesse jogo sem fim, men-digando palavras de amor, atenção, descobrindo meses depois que o que me prendia ali só existia porque eu permitia e que aquilo que naquela noite parecia o fim do mundo era minha carta de alforria, meu alívio... E o que era amor hoje já é não mais nada...

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PURAMENTE AMOR, GENUINAMENTE

EU.

is que me vejo suspirando pelos mesmos sonhos que precisei enterrar para poder sobreviver aos dias de

frio.

Eu tentei vários jeitos de 'fugir' por puro medo e sei que não se pode fingir reações. A indiferença esconde a fragilidade da mulher que se mostra uma muralha para que não a machuquem ainda mais.

Forte, puro e verdadeiro, bem como diz uma canção.

É, eu estou amando outra vez.

O oceano de segredos se estende aos versos livres que ga-nham vida além das linhas, no coração de quem se permite por um momento viver no compasso dessas ideias sem pé nem cabeça. Pu-ramente amor. Genuinamente eu.

Você mora longe do alcance, do coração. Dentro do meu, admito com todas as forças que não suportarei te perder outra vez. Não, não.

Em dias os quais eu me sentia novamente uma estranha no mundo de feras e a dor me acompanhava. Você sabe que acreditar nas pessoas é um erro e insiste nele, mesmo sem motivos. Te en-contrei, sem querer, sem esperar...

Eu precisei ser dura para seguir e sei que caminhei, ainda que só, sem saber aonde iria chegar. Recriei o restante de mim, porém os sorrisos se restringiram as fotos antigas.

Procurei evitar, me manter indiferente, até que mesmo sem entusiasmo, tenho feito meus sonhos valerem a pena.

E

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Chorei. Não porque ainda preciso amadurecer e sim por-que em tudo que faço deixo uma porção de mim.

De novo, a primavera vem de encontro. Flores de todos os tamanhos e cores. Eu não peço nada a não ser simplesmente estar.

Posso sentir saudades do que jamais aconteceu, mas sei que mesmo quando silenciei o pranto, era a você que procurava. Sempre.

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VERDADEIRO

oragem é continuar amando mesmo depois de tan-tos desencontros e decepções, quando o tempo afasta e a distância arranca as esperanças, quando

de verdade o grande príncipe idealizado e não tão encantado não passa de um homem comum, com tantos defeitos quanto eu, que você também falha, chora, sai do sério, não vai acordar em cima do cavalo branco e vestindo armadura, mas em seus olhos eu quero dormir e acordar até o fim dos dias.

Quero segurar sua mão quando tudo der errado, ser seu porto seguro quando você estiver desamparado. Quero ser o silên-cio que te acompanha, o colo que te embala quando você quer se desligar dos ruídos mundanos, o beijo que te deixa com gotinhas de mel por entre os lábios. Quero ser a mais doce das metáforas, a sua princesa, nem que seja apenas no faz-de-conta. Quero rir de seus trejeitos e manias. Quero rir com você, de você.

Coragem é suprimir o medo e dizer eu te amo. O futuro é o agora. O passado apenas um borrão sem importância, rascunho mal sucedido. Dentre tantas histórias mal escritas, eu tentarei dar um final a este capítulo. Não ser precisa ser feliz nem trágico, apenas verdadeiro.

Seus olhos são o meu caminho, o caminho do amor, o es-pelho onde me encontrei enquanto buscava compreender sua alma. Eu só precisava de um bom motivo para acreditar em mim. Agora eu tenho você. É muito pouco dizer que não quero te perder. É mui-to pouco dizer que eu até poderia viver sem você, mas a primavera iria embora junto contigo e eu te guardarei sim, comigo, para todo o sempre.

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O amor me trouxe as flores de que faltava. Sementes, ape-nas. Um bom início.

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TRANSFORMAÇÕES

amor enobrece, enaltece, enriquece, mas muitos o banalizam, reprimem seus sentidos. Eu amo. Muito.

Família, amigos, meus sonhos. Amo tudo que me faz querer viver.

Amo os amores que me trazem saudade e por algum tempo fizeram dessa existência um sonho.

Amo o pranto que me lapidou. Amo os sacrifícios que te-nho feito em nome desse sonho. Amo tudo que me faz sorrir.

Amo o amor e mais ainda a esperança. Amo lembrar-me dos tempos de criança, pura inocência que se foi, mas o suficiente viveu para em mim habitar.

Amo pensar que o melhor me aguarda. Amo mais ainda ter a humildade para afirmar que cair deu-me muito mais sustentação que viver de flores e escrever um monte de estrofes vazias.

O amor vai além desses parágrafos e tantos outros a definir o que nem mesmo sei. Ainda que ninguém leia minhas desventuras, coragem é insistir e ser grande quando paira a mediocridade em todas as classes e digo mais: sinto-me só e mudo porque de viver faz parte, porém, apesar de aderir a ideias novas e ampliar conhe-cimento de mundo, prevalece o doce da essência.

O

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FADADO A NADA SER ALÉM DE...

PLATÔNICO!

entei consertar um ponto que estava fadado a estragar a peça. Pensei que a solução seria não pensar nem

cobrar muito mais do que mereço.

Seria desonesto exigir o que não posso retribuir. Abando-nei o vício de alimentar ilusões vazias, me acalmar com mentiras e me procurar em projeções imaginárias.

Seria infundado depositar a culpa em alguém impassível a meu mundo particular. As palavras de ódio não passam de tentati-vas, assim como o desejo de ir a luta por aquilo que costumo apeli-dar de amor.

Não há razão nem tempo para disfarces, tampouco cir-cunstância capaz de justificar a loucura de entregar a inocência a alguém que vai atirá-la ao chão, indiferente as lágrimas e cicatrizes, que, posteriormente, serão as grades da minha prisão.

T

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O OUTRO LADO DOS 20 E POUCOS ANOS

rotina continua enlouquecedora. Os horários mudam sempre. Pensamentos infantis cedem espaço a ideias

maduras, ou pelo menos, tento seguir o rumo.

Quanto mais leio, mais percebo que preciso continuar len-do. A ignorância está rondando por toda a parte, inclusive perto de mim.

Nada é permanente, nem o medo.

Ao lembrar-me do que já foi hoje, só posso assegurar que o amor é imortal. Por mais que pessoas queridas sejam obrigadas a partir, o amor não entenderá tal fato como ponto final.

De vez em quando admito: ainda me afundo na tristeza re-vivendo anos atrás. É inevitável não me enraivecer com o acaso, suplicar o que não terei nunca mais.

Nada é impossível, nem o próprio.

Início, desfecho e fim.

A cada novo ciclo uma nova visão.

Faço dessas palavras, amor, para serem parte de mim.

De vez em quando me ofendo com erros que me condena-ram. Não deveriam morar nem no subconsciente.

Quanto mais amo, mais percebo que ainda não sei amar.

Quanto mais idealizo, é quando mais vivo de ilusões.

No exato momento de escrever as conclusões, me deparo com a realidade.

A

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Estou procurando por mim, partes que deixei em algum lugar. Se estive, não sei mais o endereço. Se ainda não visitei, não sei o poderei enfrentar.

Nada vale mais que uma tentativa, independente do suces-so.

Posso não saber as respostas, mas sei o que irei perguntar.

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NOITE

oje escrevo na satisfação de quem já esteve no chão, de quem rastejou léguas pelo mundo cão e pode tirar

as vendas dos olhos para ver a beleza que me cerca...

Hoje, depois de muitos anos fugindo de minhas convic-ções, lhe escrevo com toda sensibilidade que reneguei para que não me conhecesse como realmente sou...

Hoje quero muito mais que apenas falar de amor, quero perder todo o tempo do mundo, mas ao seu lado...

E quero muito mais que desculpas esfarrapadas e roupas molhadas...

Preciso ouvir as batidas do coração no silêncio de uma noite que humilha qualquer idealização...

Hoje não quero sentir vergonha de minhas experiências e falhas, pois já conheci o rigor do inverno e não me amedronto ao garoar...

E quero lhe falar de todas as estradas que percorri até me encontrar com você...

Hoje não quero saber o que dizem as notícias na televisão, quero te redescobrir na inexperiência de quem pela primeira vez aceita o verdadeiro amor...

E quero lhe recitar poemas no silêncio de minha timidez, versos ao improviso de quem não se agarra mais ao medo de fa-lhar...

Hoje a canção tem um significado bem diferente de quan-do a ouvia a muitos anos, na inocência da menina moça governada

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pela fértil imaginação de quem se contenta com a certeza de não possuir...

E quero só você num sonho escrito pela realidade...

E quero muito mais que velhos clichês que não cabem no contexto...

Hoje eu quero sorrir sem ter medo de chorar amanhã e quero chorar sem recriminações, em meus olhos quero te refletir, te sentir, guardar cada pedacinho seu, voar guiada pelas asas da ima-ginação de quem já deixou de sonhar e quase morreu por isso...

Se cair, sei que em seus braços estarei segura...

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ESBOÇOS

ngario mil motivos para não padecer a espera dessas notícias que não chegam.

A cada amigo, uma máscara a se desfazer. Estou deixando as minhas no meio do caminho.

Estou abrindo mão desse teatrinho de ilusões desfeitas e disputas ridículas entre egos em ebulição. Escrever para você me faz sair atrás da amplitude de significados que recriem a breve sen-sação de estar falando de amor pela primeira vez.

Escrever para você abrevia as fronteiras da alma e retoma a plenitude da poesia sem cobranças. Tenho saído beneficiada nesse processo.

Em versículos divagam-se as presunções...

É vero que a melancolia reforça a atenção ao sensato por-que as decepções já me fizeram despencar de insuperáveis abismos.

A opressão já me fez romper limites, mas alguns deles são necessários ao crescimento.

Amplifica-se a solidão e o tesão que se propaga nas cordas do violão. A acústica não me parece nada mau...

Se não lembrasse você...

O passado e suas arriscadas conclusões.

O amor e suas palavras ao vento que me mantiveram im-passível a você por todo esse tempo.

A instigante obscuridade e sua dramática relação com o ponto final. Há quem desse a morte como certa... Tenho tentado me livrar do vício por hipóteses...

A

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Tenho tentado ser segura o bastante para eternizar nesse noturno manuscrito o desejo de me desgarrar do medo. De amar. De perder. De perder você, principalmente.

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ANTES DE IR

u não deveria chorar na sua frente. Não deveria fraquejar, demonstrar meu cansaço. Não é por sua compaixão que luto. Um pouco de amor por hoje e

tão só. Eu poderia resistir mais um pouco e guardar as lágrimas para depois. A escuridão me é frequente e eu caço inspiração para pisar nas areias movediças da discriminação.

Eu chorei em silêncio te vendo em outros braços, mas as-sim quis você. Choro agora por não saber o que fazer com esse a-mor que a cada dia cresce, alimentado pelo desejo não de pertencê-lo; de te contemplar, ao menos uma vez por dia. Choro por trans-formar em poesia palavras que gostaria de te dizer e nunca poderei.

Choro porque nem só de sorrisos se faz a mãe das canções, dentro de si tantas lágrimas esconde a lua, porque em seus braços encontro o consolo negado pelo mundo. Choro também porque abrir mão de um sonho essencial à vida implica deixar ir à juventu-de. Choro porque sou outra criança boba esperando os tantos mila-gres prometidos que nunca se manifestaram, dentre eles o amor, o mais importante. Choro porque o sentido é deixar ir. Seu amor para longe daqui, minha ilusão para a caixinha de causas impossíveis.

E então é isso... Eu não queria que me visse chorar mesmo sabendo que apenas um abraço seu derruba quaisquer argumentos, por esse instante equivalente à eternidade, o calor de seu corpo me aquece. Um punhado de você em mim. Mil versos não bastam. Eu preciso de um bom motivo para me conter e peço para que as pala-vras não façam troça de minhas tentativas porque insistente como sou, creio mais uma vez e de pequeninhas esperanças sobreviverei esta noite, acreditando sim que você me quer bem. Eu gostaria sim que tudo fosse diferente, mas não é. Foge da minha compreensão,

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do total de linhas permitidas. Só, antes de ir, lembre-se de que antes de ferir meu coração outra vez, que nele você mora. Para sempre, se souber se comportar, valorizar. O amor nasce, no entanto, como qualquer ser, necessita de dedicação e cuidados, requer sua vontade de fazer o progresso ser nosso objetivo. Não apenas meu. O amor é um sonho que nos torna sim um só coração, entretanto, eu não sei vivê-lo sozinha.

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MAIO

eu medo é voltar a respirar o néctar dessas flores e perder o olfato de novo, mesmo sabendo que a pri-

mavera sempre volta e amor que é amor permanece cravado nesse tronco onde seu nome e poesia são o mais perfeito par.

Pode ser segredo. Que seja assim. Que viva dentro de mim, em forma de amor.

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SINA

oje pode ser um novo dia. Falar de amor, minha sina, causa principal.

Tudo me leva até você, ainda que nem em 1000 anos eu seja digna de merecer seu amor.

Sonho impossível. Inconfessável vício.

Acalma um desmemoriado coração e me perdoe pela pou-ca retórica. A aprendiz ama em versos e silencia os próprios anseios para permanecer próxima de seus olhos.

Se amar não fosse doloroso, não existiriam canções, nem suspiros abafados por travesseiros e seus segredos. Palavras ensaia-das para jamais serem ditas.

Quase posso te abraçar e então a febre de saudade me des-perta desse vão sonho desfigurando sorrisos e feições, invisível corredor afora.

Amanhã...

Algum dia...

Eternamente...

Até que o medo não faça mais de mim outra tola represen-tada por um refrão...

Amanhã, quem sabe...

Bom dia!

Até pode ser...

Amando se aprende a viver!

H

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PERSEGUIDOR

eixe os sentimentos no rascunho. Antipatia de vez em quando livra do mal e do que mais precisar.

Não tenha medo da solidão. Pense duas vezes antes de a-brir o coração para um estranho. Você nunca vai conhecer verda-deiramente o intrínseco de alguém e quando pensa já ter todas as cartas na manga, a ventania vai te levar ao início de tudo.

O amor simplesmente não se exige, não nasce na renúncia. Nada que tente dizer será o suficiente pra explicar ou contestar o que quer que seja.

Tem pessoas que pensam ser o centro do mundo e acabam se tornando espaçosas demais.

D

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TANTO QUANTO EU

omo pode?

Sonhos...

Aqueles em que te sinto por perto com tanta verdade que chego a chorar quando desperto.

Mas não posso clamar por aquilo que não é destinado a ser. Infame blasfêmia. O que peço a Deus, muito mais do que ter você, é para aquietar meu coração e aprender a ser só, a nunca ul-trapassar a linha, não tirar meus olhos do que ao alcance está. Para não mais sofrer. Nem de amor, nem de coisa alguma. Mera utopia. Estou sofrendo justamente por querer que algum dia esse sonho seja a minha realidade. Ou melhor, a nossa. Que um dia você me ame até mais do que te amo.

Viver sem sonhar é ceifar as asas da imponente águia, ti-rar-lhe a graça do voo. Encobrir o Sol e ver as flores, uma a uma, despetalarem-se e as noites serem longas demais. Eternas. Essa ideia me sufoca do princípio ao fim.

Tantas vezes o sonho é melhor que a realidade, tão belo que viver a rotina é uma chaga à pureza. E o que me resta. Ser outra que não pode ser princesa porque nunca terá um príncipe, nem um final perfeito a exemplo dos filmes da Disney.

Porém, aquele cintilante feixe de esperança, persistente tanto quanto um atleta disposto a se superar, me indica que devo crer inabalavelmente na vida e, sobretudo, em mim. Nunca, hipóte-se alguma, desistir do que me faz feliz, pelo que dirão. Porque di-rão, quer goste ou não. Mas sabe-se que os sonhos que moram no coração estão protegidos.

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Anoitece mais uma vez. Calmamente. O Sol muda de rota, a Lua vem, as persianas fecham-se. Folhas de papel estão espalha-das pela cama, em busca de um amplo significado para o que se deve ser dito, apesar de o subentendido possuir intenso vigor e ser o grande jogador. Estrategista. Egoísta. Orgulhoso. Tão inseguro quanto o menino com uma rosa vermelha por entre as mãos, para o seu primeiro encontro.

A mesma música até os ouvidos cansarem-se. Coincidên-cia é um artefato eufemístico para definir desejo. Se a saudade afas-ta, o pensamento aproxima. E aqui está você. Em mim. Aonde quer que eu vá. Sorrindo está. Não me interessa tanto assim conhecer a fundo os pormenores do futuro. Estou no tempo certo, sendo quem deveria ser. Sem medo. Sem recuar. Sem me criticar.

O amanhã virá depois de hoje. Virá, como tiver de vir. Se uma surpresa boa trouxer-me, tanto melhor. Se não, será o que será. E eu serei consequência do que vivi. Poderia você ser a mão que se encaixa a minha e segue comigo. Talvez. Para não dizer nunca. Fazer silêncio, uma boa alternativa. Conformada não sou, nunca serei. Por pensar demais é que passo algumas noites em claro.

Versejando pelas paredes o que nunca vou te entregar. Cantando e esquecendo-me da letra. Mentalizando firmeza nas ati-tudes, nos passos. Cristalizando o pranto. A casa é tão grande. Nunca estive antes assentando meus pés naquele piso amarelado. Sentindo sua presença. Seus braços abrigam meu corpo. Amparam-me. Dizem que "sim". E eu entendo que sim. Tanto quanto eu. Simplesmente amor. Somos, finalmente, nós. Fielmente dois.