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Eixos Urbanos | Av. Nove de JulhoFau-Mack

TFG2 Brbara Bernardi Andrada Pinheiro de Carvalho 305.4192-1 Prof. Orientador - Marcelo Barbosa

Nov 2009

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Agradeo, com todo o meu corao,

- Aos meus amigos, meus sempre grandes salvadores da ptria! Sem eles eu nem teria chegado at aqui; - Sula, minha companheira de aventuras la Ayrton Senna - quase morreu de pavor muitas vezes at as chegadas na ploter; - Ao meu Lo, pelos toques e retoques nicos, pelo apoio e pelo carinho durante todo o trabalho.

- Ao Marcelo, pelos seus conselhos, pelo apoio e pelas nossas elucidativas conversas; - Aos meus pais - em especial minha me - que aguentou zilhes de correrias estressantes de projeto durante infindveis noites; Dedico este livro a todos que estiveram sempre ao meu lado,

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me ajudando de alguma forma, me apoiando e me fazendo feliz.

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ndiceIntroduo 07 Elementos Ordenadores | A origem e disposio dos eixos urbanos 12 Eixos Ortogonais |A instaurao de uma ordem 17 Eixos Ordenadores | A re-instaurao de uma ordem sobre estruturas prestabelecidas 26 Eixos Desordenadores | A poltica viria de So Paulo no anos 70 30 Retomada do Espao | Costurando cicatrizes 34 Avenida Nove de Julho 48 Projeto | Complexo NovedeJulho Estudo de Caso |CDMAC - Centro Drago do Mar de Cultura e Lazer 63 99

Referncias 109 Concluso 117 Bibliografia 120 Anexos 126

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Este livro conta um pouco dos conceitos e da trajetria percorrida para se chegar concepo do projeto ComplexoNovedeJulho, localizado na avenida homnima em sua poro central, na cidade de So Paulo. Para comear a mostrar sua concepo, eu inicio a monografia com um breve histrico sobre como se deu a instaurao do eixo, em suas diferentes formas e aspectos, na arquitetura e no urbanismo desde os primrdios da histria mundial do homem at os dias de hoje. Esta explicao no tem pretenso alguma em discorrer sobre a histria e evoluo geral do urbanismo no mundo, apenas de demonstrar como a instaurao de eixos se liga, desde o incio das civilizaes mundiais, diretamente com: topografia do lugar/ necessidades dos moradores/ interesses polticos e econmicos. Estes trs elementos dificilmente se articulam de forma conjunta, se submetendo quase que sempre - em toda a histria da humanidade - aos interesses polticos e econmicos. So estes interesses que acabam por transformar um lugar - agora tomando por base a cidade de So Paulo - em um produto de suas prioridades: estruturas virias brutais sobrepostas que rasgam a cidade de norte a sul, na tentativa de organizar um trnsito de automveis, esquecendo a harmonia da cidade e de seus habitantes. Estas sobreposies geram nveis, geram espaos esquecidos - os no-lugares - que so os baixios de viadutos e proximidades, terrenos que perderam seu valor comercial devido ao traado de uma via de trnsito rpido, entre outros. Estes lugares so cegos aos olhos das gestes pblicas, que sempre se preocuparam muito mais com os centros financeiros urbanos que com uma poltica eficaz na abordagem dos espaos residuais da cidade.

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Esses espaos, por serem esquecidos, se tornam terra de ningum. Ocasionalmente so ocupados, durante um curto perodo, por uma populao excluda da sociedade. Muitas vezes - agora tomando como exemplo a rea central que est sendo abordada no projeto - so palco para o trfico de drogas e a prtica de roubos e assaltos, entre outros crimes cometidos por marginais que se apropriam dessas remanescncias urbanas. Ao longo do livro, apresentei algumas possibilidades referenciais sobre como utilizar essas reas de sobra de uma forma condizente com o nosso contexto contemporneo e de modo integrador - delicadezas para uma cidade to cheia de cicatrizes profundas - sendo muitas irremediveis - como So Paulo. No busco, com a minha monografia, estabelecer um padro de abordagem dessas reas, pois elas so nicas e absolutamente especficas. Acredito que para cada no-lugar gerado em So Paulo h possibilidades restritas que se enquadram somente a eles. Acredito tambm que estas solues no vo substituir as marcas deixadas por uma poltica viria austera e irresponsvel, e que muitas vezes - como o caso do nosso "querido" minhoco - solues como sua abertura para pedestres nos finais de semana e uso de seu baixio para pontos de corredores de nibus so apenas temporrias, mas que no devem nem podem ser permanentes. A deteriorao causada por um equipamento urbano desse porte vai muito alm da tentativa de re-adequao com solues de uso para baixios de viadutos.

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No final da monografia apresento meu projeto - a concluso de toda a minha pesquisa: uma sugesto de ajuste conectivo atravs de uma srie de nveis em um terreno bastante acidentado e irregular - um resduo de uma rea esvaziada em decorrncia da alterao do centro econmico da cidade para regies mais afastadas (Marginal Pinheiros/ Berrini). Um pedao solto, formado por uma srie de terrenos desconexos, cortado por um viaduto em uma rea muito viva (representada pelo topo do viaduto) e ao mesmo tempo absolutamente deriva (baixio e proximidades do viaduto, na avenida Nove de Julho). As perguntas para estes problemas so: como unir ambas as reas, levando vida e segurana para a avenida? Como traar um eixo de conexo entre espaos e vias que considere as pessoas, que considere reas para o trabalho, ensino e lazer de uma forma agradvel? Como formar um projeto, que quase automaticamente, revitalize a toda a regio? para exatamente estas perguntas que meu projeto ir sugerir respostas nas pginas a seguir.

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A cidade, desde suas configuraes mais primitivas, j se conformava em eixos. Eixos estes "facilitados"1 pela prpria topografia do terreno e concebidos pela conexo entre as atividades dirias de seus moradores, como o plantio, o mercado, a habitao e o culto. Na antiguidade, o primeiro passo tomado antes de se comear uma cidade era identificar a posio do sol. O espelhamento em ordens astronmicas legou um dos primeiros princpios de ordenao do espao. O curso do sol, desde o nascente ao poente, estabelecia luzes e sombras, retas e ngulos, determinando tambm o sentido das ruas e vias, paredes e portas. Assim definiu-se uma das primeiros cdigos do espao regrado, permitindo o desenvolvimento de normas de disposio do espao cada vez mais especficas, expressas nos traados antigos; essas normas tinham por objetivo facilitar a unio entre a cidade, a zona rural e o espao celestial em um todo ordenado e lgico, estando presente em diversas plantas mesopotmicas, gregas e romanas.

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A Topografia, apesar de influir - e muito - no processo de apropriao do territrio e construo de uma cidade, no pode ser considerada o principal elemento ordenador de um territrio.

a ao de um grupo de homens, seus desejos, possibilidades tecnolgicas e estratgias que sempre contaram - mesmo nos perodos mais rudimentares da histria do homem - como os grandes elementos ordenadores da cidade. A prpria plis grega dividia-se em cidade alta e cidade baixa por uma srie de motivos histricos que envolviam migraes de territrios e busca de locais para se proteger, tendo a prpria topografia do lugar uma influncia pouco decisiva na sua concepo. 14

O princpio ordenador das cidades se iniciou com o templo. Este era o primeiro marco de extrema importncia da cidade e, para tal, deveria ser protegido e preservado. Os moradores se uniam em volta do templo. Quer fosse no Brasil ou na plis grega, o primeiro elemento humano ordenador e essencial a qualquer civilizao ou cidade sempre foi o santurio. Desde o princpio, o culto esteve ligado ao poder. E no s ao poder religioso, sempre representado pelo sacerdote, mas ao poder da riqueza e da fora do homem, representado pelos reis e Acrpole de Atenas - O templo acima dos homens (guiageo-grecia.com)15

imperadores da antiguidade. A cidade necessitava de algum para governar e administr-la, algum que decidisse o destino do excedente agrcola e comandasse o investimento em armas para a proteo do territrio. A cidadela, uma das primeiras configuraes de cidade que existiu, era a cidade da realeza - do poder desptico. Um recinto murado e fortificado onde se encontravam o palcio, o templo e o silo, sempre em posio central - de destaque reforando a rigidez e o absolutismo do territrio. A partir da cidadela que se dirigiam as grandes construes, alm da contabilizao da produo, dos tributos e o comando da guerra. As grandes construes tinham por objetivo demonstrar a fora e o poder da cidade, sugerindo a idia de "imprio inabalvel". Quanto mais monumentais estas fossem, mais poder e grandeza elas exerciam perante outras cidadelas. Esta tendncia no incomum ns mesmo nos dias de hoje. Basta olharmos o atual exibicionismo exacerbado de Dubai - conseqncia viva de um pas altamente enriquecido por suas atividades petrolferas com pretenses de se tornar mais uma potncia mundial em lazer e negcios. As relaes na cidadela eram hierrquicas: de um lado estavam a realeza, os sacerdotes, os guerreiros e os escribas; ao redor destes estavam os artesos, os empregados, os camponeses e os escravos. Aqui j fica evidenciado que desde o incio das civilizaes existem hierarquias que comandam as relaes entre os homens e tambm o papel de cada um na sociedade. So essas relaes (logicamente atualizadas e sem a disparidade intolervel

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das pocas antigas) e a importncia entre elas que definem at hoje, na maior parte do mundo, os elementos ordenadores das cidades e, em especial, a nossa So Paulo. No caso da plis grega, a configurao urbana se dividia entre cidade alta e cidade baixa. Na cidade alta, no topo da colina (utilizando-se do rochoso territrio grego) ficava a acrpole, que era fortificada e guardava o templo - a cidade dos deuses. A cidade baixa se desenvolvia com mercados e vida coletiva intensa em torno da gora - um grande local aberto de reunies e decises polticas dos cidados gregos, uma vez que a cidade era governada por um grupo de aristocratas, e no um poder nico absoluto.

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Pomerium, Cardus e Decumanus Os limites de Roma e do restante das cidades do Imprio Greco-Romano eram to evidentes quanto seus principais acessos, demarcados sempre com um portal de entrada monumental. (mrblogrome.blog.kataweb.it)19

" o eixo que e Corbusier

Imprio Greco-Romano - A Origem do Eixo OrtogonalAtenas estava, at o sc. II dc., descuidada no que diz respeito aos seus espaos pblicos e privados. Mesmo sendo revolucionria em suas instituies e criaes do esprito, a evoluo espontnea da cidade de modo orgnico comprimiu-se ao redor da Acrpole - fato que resultou em uma cidade gloriosa e imponente vista de longe, mas desordenada em suas reas habitacionais e de servios. Este fator levou a cidade a promover a primeira matriz do pensamento urbanstico antigvo de Hipdamos de Mileto: os eixos ortogonais latitudinais e longitudinais. O plano foi colocado em vigor devido s Ordens do momento, que primavam pela democracia, a simetria, a proporcionalidade e o equilbrio em todas as reas de pesquisa gregas. Eram ideais geomtricos transpostos veementemente para o plano social e institucional. A ortogonalidade foi pensada de forma a estabelecer uma cidade salubre, aerada e dotada de insolao; as propriedades do corpo, a ordem do espao e a circulao dos elementos eram levadas em considerao ltima instncia: "a cidade ordenada era o lugar do corpo sadio, imprio da razo disciplinadora".2

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MARSHALL, Francisco. HABITAO E CIDADE:ORDENAO DO ESPAO NO MUNDO CLSSICO. Anos 90, Porto Alegre, n. 14, dezembro de 2000. 20

Cerca 100 anos depois desta unio de princpios que fez da cidade - seus conceitos e projetos - uma das mais completas ferramentas de representao e afirmao cultural jamais concebidas, configurando-se em uma mensagem histrica que atravessou sculos, o discurso se tornou pretexto. A expanso imperial greco-macednica de Alexandre Magno usou o discurso da cidade grega clssica como base de dominao, de administrao imperial e de aculturao em massa. O Imprio greco-romano se favoreceu dos traados ortogonais para difundir a ordem e a fora do Imprio Greco-Romano, assim como sua temporalidade. Seus eixos e limites bem definidos serviam para delimitar sua apropriao do espao. "(...) a operao qual procede o grande sacerdote para a construo de um templo ou de uma cidade e que consiste em determinar sobre o terreno o espao consagrado. Operao cujo carter mgico visvel: trata-se de delimitar no interior e no exterior, o reino do sagrado e o reino do profano, o territrio nacional e o territrio estrangeiro. Este traado realizado pelo personagem investido dos mais altos poderes, o rex." 3. A cidade greco-romana era traada atravs de dois grandes eixos ordenadores e uma linha de limitao: Pomerium - as limitaes e divisas da cidade; Cardus - eixo no meio do qual, espelhando a posio central do Sol e dividindo o territrio em quatro quadrantes, era estabelecido o ponto de3

BENVENISTE, Emile. Le vocabulaires des institutions indo-europennes. Paris: Les ditions du Minuit, 1969. 21

cruzamento no qual traar-se-ia o Decumanus - a segunda via, em sentido leste-oeste. A partir destes dois eixos que se traavam as demais vias da cidade, todas seguindo a mesma lgica normativa. Assim, a romanizao do espao - esta realizada por meio da cidade - se deu durante cerca de mais de dez sculos e em toda a rbita do Mediterrneo. O Imprio Greco-Romano estabeleceu ritos de instaurao do espao - ritos de soberania e, portanto, indispensveis para o estabelecimento de um efetiva possesso sobre o territrio domado. "O traado retilneo e ordenado que encontramos em cada cidade romana implantada, mais do que feito da razo ou delcia do administrador, estilo de corporaes obreiras ou convencionalismo de burocratas, deve ser lido como a correo da natureza, capaz de pavimentar passagem para a glria imperial romana, glria do domnio universal,(...) uma reinauguradora da origem (e suas normas) e afirmadora de uma idia de eternidade, a eternidade de Roma Aeterna. Naturalmente, com as vias e prdios, vo os templos, seus calendrios de ritos (intensos, no caso romano), os locais de espetculos (anfiteatros e hipdromos) e suas agendas, as oficinas e os prdios pblicos, escritrios e moradas e seus horrios, todos eles instauradores de temporalidade, naquela mecnica ntima do cotidiano em que se geram as noes de tempo e espao. Uma nova maneira de perceber o Sol, de deix-lo circular na cidade, de medi-lo em relgios, de associ-lo glria do soberano autocrata ou radiosidade de Apolo.".44

MARSHALL, Francisco. HABITAO E CIDADE:ORDENAO DO ESPAO NO MUNDO CLSSICO. Anos 90, Porto Alegre, n. 14, dezembro de 2000. 22

Aqui fica explicitado o quanto as cidades do Imprio Romano - em especial Roma - so a primeira semelhana urbana que temos s cidades atuais. Seu traado ortogonal ordenado e de sobreposio natureza ultrapassou cerca de 2000 anos, servindo de modelo at os dias de hoje.

Braslia e Chandigarh - cidades criadas com base em um trao ortogonal e setorizado"Reconheo a cidade como moderna quando pode promover a conscincia do indivduo enquanto ser autnomo, livre e emancipado; a pessoa humana que, pela prxis e pelo exerccio das prerrogativas intelectivas e sensveis conjugadas, objetiva-se como entidade indivisvel e nica. Prevalece o sentido hermenutico de alteridade, de distino em oposio ao conceito de massa; ou seja, a modernidade entendida como o advento da subjetividade, o que equivale, no dizer de Habermas, ao "desenvolvimento da cincia, da moralidade, das leis universais e da arte autnoma nos termos da prpria lgica interna destas".5

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GOROVITZ. Matheus. Cidade e cidadania. Contribuio ao estudo da cidade moderna considerada como obra de arte - o caso de Chandigarh e Braslia. N 26.

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Braslia - o traado do avio ( esq.) Chandigarh ( dir.) (candangolandia.df.gov.br) | (holidayiq.com)

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Nesta parte do texto damos um salto enorme da cidade clssica para a cidade moderna, estas em especial - Braslia - capital do Brasil; Candigarh capital do Punjabe e Haryana, na ndia - foram cidades projetadas e planejadas, simplesmente erguidas no meio do terreno (neste ponto se assemelhando bastante s cidades fundadas pelo Imprio Greco-Romano) e posteriormente povoadas. Porm, obviamente que a histria mundial e - consequentemente as relaes ortogonais de eixos, deu um salto gigante at esta poca, sem mais reis absolutos ou Imprios avassaladores. A prerrogativa do mundo como magem concebida pelo indivduo fundamentava a noo de modernidade, por meio da qual os valores eram pensados a partir da prxis humana e no, como no mundo antigo, deduzidos de uma revelao que precede e determina a ao. A cidade moderna buscava ser a representao da cidade democrtica, da cidade para todos, em que "o motorista seria vizinho do poltico e ambos levariam seus filhos para a mesma escola". Ambas as cidades seguem a "Carta de Atenas", o manifesto urbanstico resultante do IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), realizado na cidade de Atenas em 1933. Ele trata da chamada Cidade Funcional, que prega a separao das reas residenciais (organizadas em unidades de vizinhana), de lazer e de trabalho, propondo, no lugar do carter e da densidade das cidades tradicionais, uma cidade-jardim, na qual os edifcios se localizam em reas verdes pouco densas. Ela tambm prega sobre a segregao do trnsito de pedestres e de veculos, acarretando a substituio da

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rua corredor pelo critrio da independncia do agenciamento das edificaes em relao ao sistema virio,. Tais preceitos influenciaram o desenvolvimento das cidades europias aps a Segunda Guerra Mundial; criao do Plano Piloto de Braslia por Lcio Costa; criao do plano urbanstico de Candigarh por Le Corbusier."Dois eixos cruzando-se em um ngulo reto" Risco preliminar de Lcio Costa memria descritiva do Plano Piloto de Braslia

Quanto centralidade, as cidades divergem, uma vez que Braslia tem um centro bem definido atravs de dois eixos opostos, formando uma cruz. Inclusive esta idia bem romana, de estabelecer um centro conhecido e significativo. Ahorizontalidade em volta do centro tambm

mantida, para que o mesmo - em altura - se destaque no cruzamento dos eixos, inclusive a inspirao pelas perspectivas sabiamente traadas vem de Paris, que falaremos mais para frente. No caso de Chandigarh, a malha viria isonmica, isotrpica e isomrfica - nenhuma parte forma ou direo prevalece sobre outra, o que nos referencia bastante ao traado das cidades gregas antigas. Esta espcie de "regra" que Le Corbusier auto-instituiu para o traado da cidade hindu no cria grandes perspectivas e espaos monumentais, traando eixos bem definidos, homogeneizadores e neutralizadores das diferenas. No caso de Braslia, os eixos se dividem em setor monumental, setor residencial e centro urbano, subordinando-se ao programa.

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A Reforma de Paris segundo HaussmannO objetivo principal da reforma empreendida por Haussmann era modernizar Paris que em pleno sculo XIX mantinha muito de sua estrutura medieval, cujo centro era composto de muitos quarteires insalubres. O baro Haussmann foi prefeito de Paris entre 1853-1870, tendo empreendido uma profunda e polmica reforma urbana que inspirou intervenes em vrias outras cidades do mundo. Seu projeto consistia em redesenhar o traado urbano compondo umaProjeto de Reforma de Paris - Haussmann (bhpbrasil.spaces.live.com)

nova cidade mais racional, organizada e harmnica, necessitando para tal uma srie de demolies - o que lhe rendeu severas crticas. Neste perodo a Frana era governada por Luis Bonaparte (sobrinho de Napoleo) que implantou um governo imperial28

assumindo o nome de Napoleo III. Ento, a reforma teria sido uma demonstrao desse autoritarismo, uma expresso de um governo imperial ditatorial. Inclusive outras crticas apontavam o objetivo do governo de cercear e controlar as manifestaes populares, j que a ampliao e o alargamento das avenidas de fato facilitava a atuao da represso policial. Alm disso, todo o embelezamento da cidade, os parques, os novos edifcios e monumentos atendiam muito mais a burguesia do que o resto da populao. Segundo essa crtica, o centro urbano de Paris foi transformado num espao burgus e a populao pobre que antes vivia ali foi alijada para a periferia. Contudo, nos ltimos anos os estudos apontam para uma reviso mais objetiva e menos ideolgica a respeito da atuao de

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Haussmann. Havia dois problemas muito concretos que precisavam ser resolvidos: o da insalubridade (foco de doenas) e o da circulao. Para sanar o primeiro problema era necessrio arejar e iluminar os espaos e promover higiene (problema tpico da cidade orgnica medieval). Mas, sobretudo, tambm era preciso um conjunto de obras de infra-estrutura de impacto negativo (gua, esgoto, gs, rvores), pois se demolia e revirava-se o terreno, causando grandes transtornos. Por outro lado, para dar conta do problema da circulao (pessoas e coisas) era preciso remodelar o traado urbano para que funcionasse uma lgica racional dos diferentes fluxos. Foram construdos trs tipos de boulevards : os de cruzamento, os de ligao norte-sul e leste-oeste e os perifricos que delimitavam os espao urbano (por onde entravam as mercadorias necessrias cidade), sendo este ltimo o limite com o subrbio de Paris, ligando todas as entradas regio central, uma espcie de contorno externo. A reforma se deu em um movimento chamado urbanismo monumental, com grandes perspectivas extraordinrias, como se a cidade fosse feita para resistir eternamente ao crescimento da populao. A haussmanizao aliou urbanismo com arquitetura. Todas as construes formavam um nico monumento urbano interligado por jardins, praas e parques.

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Prestes Maia e o modelo rodoviarista

A concepo urbanstica proposta por Prestes Maia em 1924 e iniciada por Pires do Rio se opunha a qualquer obstculo fsico para o crescimento urbano ou qualquer definio a priori de um limite para o crescimento da cidade. Essas posies eram totalmente compatvel com a necessidade de espalhar uma cidade considerada densa e explosiva como So Paulo. O uso de nibus a diesel tornariam acessveis - em termos de transportes - os bairros na periferia. A flexibilidade do servio de nibus, ao contrrio dos bondes e trens, cujo raio de influncia era limitado pela distncia entre estaes, combinada com o modelo de expanso horizontal, trazia a soluo para a crise de moradia com a autoconstruo em loteamentos na periferia. O modelo das casas autoconstrudas na periferia desequipada evitava a desvalorizao das regies centrais, ao mesmo tempo que tirava o peso do pagamento do aluguel do custo de vida dos trabalhadores. Dessa forma, configurava-se na cidade a opo pelo modelo rodoviarista do transporte sobre pneus. A implantao efetiva das avenidas propostas por Prestes Maia s ocorreu quando este assume a prefeitura no incio dos anos 40. Nove de Julho, 23 de Maio, Radial Leste: todas fazem parte do plano que acabou por definir, at os dias de hoje, a estrutura urbana bsica da cidade.

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A associao entre construo de avenidas e canalizao dos rios e crregos completa o novo modelo de circulao: os rios se confinam em canais ou galerias subterrneras, sobre os seus antigos leitos implantam avenidas de fundos de vale. Avenida do Estado (sobre o tamanduate), as marginais (ao lado do Tiet e Pinheiros) e o Aricanduva (junto ao crrego de mesmo nome) so exemplos desta estratgia. durante a gesto do prefeito Prestes Maia que este conceito comea a ser implantado: so obras suas a construo da avenida Nove de Julho sobre o crrego Saracura, a avenida Itoror (futura 23 de Maio) sobre o crrego de mesmo nome e a retificao do Rio Tiet, encurtando-o em 20 km e destinando suas margens para a construo da marginal e para a ocupao urbana de sua vrzea. A expanso horizontal ilimitada, concepo coerente com o prprio modelo radioconcntrico de sistema virio proposto pelo plano, foi o elemento que ajudou a configurar a metrpole que temos hoje. Nos anos 40, a verticalizao das reas centrais, somadas consolidao do centro/sudoeste da cidade como plo privilegiado de centralidade, concentrando os bairros residenciais de alta renda serviu para intensificar ainda mais os fluxos virios e, consequentemente, a expans viria. Na mesma dcada construda a Via Dutra e implantada a Via Anchieta, mudando a geografia das zonas de expanso industrial da cidade, principalmente baseado na indstria metalrgica. O novo surto se instala ao longo das rodovias, gerando uma nova expanso no ABC (ao longo da Via Anchieta) e em Osasco (ao

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longo da Via Dutra), intensificando-se nos anos 50 com a indstria automotiva e petroqumica. Nos anos 50 So Paulo se torna a maior cidade e o mais importante centro financeiro do Brasil. Sua expanso to grande que conurba com Osasco, Taboo da Serra, ABC e Guarulhos. Dos anos 50 aos 70 comea um boom populacional no mais estrangeiro, e sim interno. Uma migrao intensa, principalmente do nordeste e de Minas Gerais, comea a se mudar para a cidade, fator que s aumenta ainda mais a expanso viria na cidade. Os anos 70 so marcados pelo deslocamento do centro de consumo das elites, da cidade do centro histrico em direo avenida Paulista e Jardins. At esta data, So Paulo contava com um centro, que possua duas configuraes distintas: o centro tradicional (regio do tringulo), constitudo durante a primeira industrializao (1910-40) e o centro novo (da Praa Ramos Praa da Repblica), que se desenvolveu no ps guerra (1940-60). No centro j se encontravam todo tipo de gente: sede das grandes empresas e das multides de ambulantes vendendo quinquilhas. A formao de um centro nico se d apenas durante o "milagre brasileiro" (1968-73), quando um importante sub-centro financeiro criado na Avenida Paulista. O centro comea lentamente a entrar em decadncia aps esta mudana. Se forma paradoxa, isto acontece justamente quando chega o metr na regio central. Reforando uma circulao radioconcntrica, o metr atrai para o centro os grandes terminais de nibus, enquanto isso as elites deixam de ir ao centro para ir ao centro novo, configurado pela Av. Paulista e jardins, com seus carros particulares, uma indstria que no era acessvel s classes populares.

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nesta poca tambm que muitas ruas do centro so convertidas em ruas de pedestres. Assim, desenhou-se para a rea central um acesso que privilegiava os pedestres e restringia o automveis. Naturalmente o centro foi ocupado - devido ao fcil acesso - pelas camadas populares, enquanto que os jardins eram ocupados pelo automvel e pelas classes dominantes. Aqui fica evidenciado o carter de transformao que o centro da cidade teve de enfrentar com o novo plo da Paulista. Alm disso, a poltica viria desenfreada que respondia ao rpido crescimento da cidade (de 1845 a 1945 So Paulo passou de 30.000 para 2,5 milhes de habitantes) auxiliou na sua degradao. Grandes viadutos foram construdos no boom virio dos anos 40 aos anos 70, rasgando a cidade sem se preocupar com a esttica ou a qualidade do que estava sendo feito. Esta a poltica viria que encontramos hoje, com seus espaos "sobrantes" residuais, suas desvalorizaes imobilirias, seus no-lugares, seus "terrain vagues". O intuito aqui justamente mostrar de que forma se deu a construo desenfreada de So Paulo e como ns, arquitetos, podemos lidar com formas mais amenas e integradoras de resolver a cidade.

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Os no-lugaresOs No-Lugares de Marc Aug so o produto direto de um tempo que ele chama de supermodernidade (ps-modernidade), so espaos de passagem incapazes de dar forma a qualquer tipo de identidade, que se caracterizam por no serem relacionais ou histricos, ou seja, espaos de grande concentrao urbana em trnsito - onde todos so iguais mas ningum especial - no existindo quantidade ou diferena, um ser a mais ou um a menos tanto faz. Dentro deste mundo provisrio e efmero, comprometido com o transitrio e com a solido, classificam-se as vias expressas, as salas de espera, centros comerciais, estaes de transporte coletivo, campos de refugiados e supermercados. H tambm os no-lugares que estamos tratando mais diretamente neste livro, espaos que "sobraram" para aqueles que no possuem emprego, abrigo e lugar na sociedade, grandes espaos antes concebidos para a promoo do mundo operrios ou de restos e anexos de grandes configuraes virias e tornados insensivelmente o espao residual onde se encontram os excludos. Os no-lugares so uma nova configurao social, caracterstica de uma poca que se define pelo excesso de fatos, superabundncia espacial e individualizao das referncias. Segundo o autor, estes espaos residuais so conseqncia de um novo entendimento da categoria tempo, j que devido37

tecnologia e s novidades freqentes "Hoje, o ontem j Histria, tudo se torna acontecimento e que, por haver tantos fatos, j nada acontecimento. Logo, organizar o mundo a partir da categoria tempo j no mais faz sentido.". Aug tambm diz que a fcil mobilidade no mundo, a troca de bens e servios atravs da internet e um grande fluxo de informaes do a impresso de que o mundo encolheu. "Este encolhimento provoca alterao da escala em termos planetrios atravs da concentrao urbana, migraes populacionais e produo de no-lugares aeroportos, por onde circulam pessoas e bens. Hoje, estamos inseridos em todos os lugares, mesmo nos lugares mais longnquos.". Assim, reduzem-se as referncias coletivas e aumenta-se a gerao de um individualismo exacerbado, porm sem identidade, uma vez que as pessoas podem ser de todos os lugares. Em oposio aos no-lugares est "o espao antropolgico", necessariamente criador de identidade, o espao que fomenta relaes interpessoais e move-se num tempo e no espao estritamente definidos, [] simultaneamente princpio de sentido para aqueles que o habitam e princpio de inteligibilidade para quem o observa (p. 51). So identitrios, relacionais e histricos. criador de identidade por trazer em si o lugar do nascimento, da intimidade do lar, das coisas que so nossas, delimita precisamente as fronteiras entre o eu e o outro. O lugar antropolgico deixa espao para acontecer a vida.

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Do no-lugar ao lugarTomando como base os no-lugares, como fazer com que o lugar antropolgico seja "implantado" no no-lugar, caracterizando-o atravs de uma nova forma, alterando sua antiga compreenso para uma nova dinmica de espao? Alguns exemplos projetuais interessantes foram estudados, demonstrando que possvel a criao de um elemento que faa esta converso de forma inusitada e interessante. A aposta nesses projetos est tambm na seqncia de criao de lugares que pode ser desencadeada a partir da criao de um nico espao que mude o perfil do entorno. Ou seja, uma espcie de "contaminao" espacial realizada a partir de um elemento modificador. Explicitarei a seguir alguns casos bem sucedidos desta "contaminao" espacial e que, ainda por cima, se localizam bem prximos rea do projeto.

(flickr.com/photos/jufumero)

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O Telecentro Elevado Costa e Silva

Uma das mais acentuadas intervenes urbanas nos anos 70 os anos do milagre econmico produzido pelas polticas da ditadura militar foi a construo do elevado Costa e Silva, conhecido como minhoco. Um viaduto de 2,8 km de extenso que cruza o centro da cidade em direo zona oeste. Acusado por alguns como um dos responsveis pela rpida deteriorao do centro da cidade a partir dos anos 70, o elevado pode certamente ser indicado como culpado pela deteriorao do entorno imediato, que, graas a sua grande extenso, significa uma considervel rea urbanizada e nos termos da cidade exploso consolidada. Habitaes de classe mdia e comrcio nunca mais Elevado Costa e Silva (flickr.com/photos/fore) se recuperaram dessa incisiva interveno urbana.

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Largo do Arouche

Largo do Arouche uma tradicional praa do centro da cidade, prxima Praa da Repblica. A rea do largo repleta de rvores e rodeada por vias de circulao de automveis, com trfego mediano. Sua predominncia de edifcios habitacionais com seus trreos comerciais que abrigam pequenas lojas, bares e restaurantes. Essa sobreposio de funes uma praa central e local ao mesmo tempo d ao Largo caractersticas de passagem e permanncia (contemplao e lazer). Ou seja, esse largo serve, apesar de sua deteriorao, de passagem, descanso e servios na escala da cidade, e como rea de lazer para a populao local, principalmente nos fins de semana. Largo do Arouche (flickr.com/photos/lilgobor) Devido sua proximidade com os bares da avenida Vieira de Carvalho,

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tradicional rea de bares noturnos da cidade, tem intensa ocupao nas noites durante toda a semana, atividade j incorporada pela populao local. Na rea prxima ao elevado Costa e Silva, no extremo leste do Largo, a deteriorao se acentua. rea residual sem qualquer atividade programada, cercada por avenidas, tornou-se rea de estacionamento irregular e de venda de drogas. A partir de um novo programa criado pelo Governo Eletrnico na Prefeitura da cidade de So Paulo (2001-2004) os Telecentros foi pensada uma ao de recuperao do largo que utilizasse novas estratgias cuja nfase fosse a criao de um novo programa para esse espao pblico deteriorado ou pelo menos subutilizado em suas grandes potencialidades urbanas e sociais.

O TelecentroA peculiar situao urbana desse novo stio escolhido aponta para uma questo que pode ser extrapolada para vrios contextos da cidade: o urbanismo rodoviarista dos anos 1960 e 1970 criou uma infinidade de espaos residuais de difcil aproveitamento sob os grandes viadutos que cortam a cidade. Freqentemente o poder pblico apenas inviabiliza, com a construo de planos inclinados e grades, sua ocupao pela populao sem teto.

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A rotatividade de uso dos Telecentros grande demanda de usurios que podem utilizar os equipamentos por tempo controlado exige reas de encontro e espera, no necessariamente vinculadas ao programa estrito desse equipamento. Por causa dessa caracterstica apenas reconhecida a partir da intensa aceitao do programa nas reas perifricas da cidade foi associada sua arquitetura a possibilidade de criao de praas. As quais, alm de acomodarem os usurios que para l se dirigem, acabam se transformando, pela intensa utilizao, em locais de encontros e lazer com maior segurana. Baixio do elevado com atual estacionamento e com o projeto, abaixo. Mudana visvel (vitruvius.com.br) Esse fenmeno, caracterstico dos Telecentros das reas na periferia, poderia ser ampliado e intensificado numa rea central com as caractersticas existentes no Largo do Arouche A estratgia do projeto, situado e no contextual, no procura amenizar o caos de seu entorno, mas extrair da sua forma de expresso que acomode, com preciso, as necessidades funcionais do programa.

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Tal desarmonia revela uma verdade da arquitetura: "a forma ideal e a ideal utilizao".6 O desenho resultante busca linhas predominantes que permitam a ordenao dos espaos internos e sua interface j que no se trata de uma volumetria e a conformao da praa exterior. Perspectiva 2d e maquete do projeto abertura populao (vitruvius.com.br) A nova praa considera a projeo do elevado, que a torna convenientemente semi-coberta, os planos de vedao das reas internas do prprio Telecentro e um equipamento urbano uma espcie de banco de vrios usos indeterminados. Esses limites e suas utilidades conformam e do sentido s propores do espao vazio. Mas, nesse caso, o vazio no residual, ao contrrio, o seu desenho que norteia os principais vetores das construes propostas, com nfase no programa e na ao.6

MEDRANO, Leandro; RECAMAN, Luiz. Espaos pblicos na regio central da cidade de So Paulo. O Telecentro Elevado Costa e Silva. Arquitextos 75 - Vitruvius. Agosto 2006. 44

Academia de Boxe Cora GarridoEste um projeto social criado pelo ex-boxeador Garrido amador Nilson Garrido. conhecido

nacionalmente, motivo de reportagens e tema de publicaes e tambm uma espcie deadministrador Cora da Garrido, uma de Academia de Boxe So Paulo,

localizada sob o viaduto do Caf em aponta-nos no processo possibilidade45

contaminaes constitutivas de espaos residuais urbanos centrais associados s estruturas existentes a partir de um trabalho voluntrio. O lutador, em parceria com sua esposa Cora Batista Garrido mudam a caracterstica de um espao tipicamente residual, ou seja, aberto a qualquer tipo de ocupao - geralmente marginal - quando instauram um lugar esportivo e cultural hospitaleiro, um centro de ressocializao7, que conta com uma academia de ginstica, ringue de boxe, alm de uma Biblioteca e escola infantil. Esta unio de atividades configura uma praa esportiva e cultural, pblica e gratuita. Pleiteando registro para atuar como uma ONG, os Garrido tm procurado estabelecer, em acordo verbal, uma parceria com o poder municipal para continuar criando suas "praas" pela cidade (uma academia foi montada provisoriamente no baixio do viaduto do caf, na avenida Nove de Julho),7

GUATELLI, Igor. Condensadores Urbanos Baixio Viaduto do Caf: Academia Cora_Garrido. So Paulo: MackPesquisa, 2008.

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gerando intensidades vida sob os viadutos, no aceitando e se submetendo representao que esses espaos adquiriram ao longo do tempo. O prof Igor Guatelli se juntou aos Garrido para reformar a sede improvisada da academia em um espao dinmico e interessante. O projeto conta com arquibancadas mveis, vestirios continer, espaos de leitura e de esportes... Sendo que o mais interessante de tudo ser o projeto nunca terminado, podendo sempre se extender sob outros viadutos.

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49 (flickr.com/photos/gaf/)

A Nove de Julho uma via que possui uma srie de configuraes distintas ao longo de sua continuidade, estas ora bem resolvidas, ora precrias. Particularmente, a rea que escolhi para abordar minha pesquisa se localiza em sua poro central (entre a Praa 14 Bis e o Terminal Bandeira). Por ser uma importante artria da cidade que conecta o trecho norte-sul de So Paulo, milhares de pessoas circulam diariamente por ela, sobretudo em transportes coletivos e automveis. Estes pedestres utilizadores dos transportes pblicos - que sem dvida representam a maior parte de ocupao da rea, em especial no alto do Viaduto Major Quedinho - tm uma ntida insegurana ao caminhar pela avenida, seja em direo ao metr Anhangaba - que se encontra nas proximidades - seja pelas escadarias que levam aos viadutos em estilo Dco. Apesar da prpria configurao da via ser convidativa ao pedestre, com suas vias largas e acessos freqentes, o alto fluxo de veculos combinados marginalizao dos baixios dos viadutos causam esta sensao de insegurana. noite, pelo prprio esvaziamento do centro, a situao se torna ainda mais preocupante; mesmo nos fins de semana, em que o fluxo de pessoas passeando diminui, um simples passeio a p arriscado para qualquer um (gostaria de especificar que estas informaes so especialmente baseadas em minha vivncia na avenida h 5 anos em horrios variados do dia).

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Viaduto Major Quedinho

Pensando nisto que surge o projeto: Como fazer para que uma rea em uma localidade estratgica (possuindo uma infraestrutura adequada inclusive para o passeio urbano - caladas largas e acessos em belas escadarias antigas) possa deixar de ser to hostil e perigosa? Uma das concluses a que cheguei - no mbito da arquitetura - foi, justamente, a concepo de um grande equipamento urbano. Um complexo de diferentes atividades que funcione durante o dia e durante a noite; que atravs dos prprios pedestres, moradores e circulantes, ao freqentar este equipamento em variadas horas do dia, requalifique no s o terreno, mas toda a regio.

(Arquivo pessoal)

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Terminal Bandeira

(Arquivo pessoal)

HistricoA avenida, que se localiza no antigo Vale do Saracura, juntamente ao incio da Av. 23 de maio Itoror (no vale do crrego do Anhangaba) foi construda durante a gesto do prefeito Prestes Maia, para a constituio de na poca um dos principais eixos estruturadores de trfego na cidade de So Paulo: o Plano de Avenidas, lanado em 1930.

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Plano de avenidas Prestes Maia (TOLEDO, 1989.)

Curiosidade: Como j foi dito, a esquematizao viria do Imprio Greco-romano usada de base urbanstica at os dias de hoje. Quando o prefeito Prestes Maia desenhou o Plano de Avenidas, ele se basteou no desenho radial de vias - semelhante ao do Imprio - para se acessar o centro de So Paulo. Os primeiros desenhos de Prestes Maia mostravam uma So Paulo monumental, com grandes acessos Principais vias de acesso Roma- acessos divididos em vias radiais (commons.wikimedia.org)54

O sistema Y, idealizado no Plano de Avenidas Prestes Maia de 1930.

de vias largas grandes monumentos, fazendo meno Grcia antiga. O chamado Sistema Y (Fig.3) procurava servir como principal eixo de conexo entre as regies Norte Sul Sudoeste, trazendo o fluxo de veculos da Zona Norte atravs da Avenida Tiradentes passando pelo Parque do Anhangaba e dividindoo entre as Avenidas 23 de maio e Nove de Julho. Sistema Y , no vocabulrio c da prefeitura, o conjunto das trs grandes avenidas que, quando completas, atravessaro toda a cidade desde o Tiet at o vale do Pinheiros, percorrendo os

O Parque do Anhangaba era idealizado como passagem obrigatria no cruzamento da cidade, dividindo os fluxos para as Avenidas Nove de Julho e 23 de Maio. (Imagem Google Earth).

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Avenida Nove de Julho (TOLEDO, 1989).

O antigo Vale do Saracura deu origem

thalwegs com um mnimo de cruzamentos de nvel, do que resultam condies excepcionais de trfego. Uma dessas avenidas a Anhangaba Inferior, projetada para ligar o Parque Anhangaba Ponte Grande, incorporando em grande parte a atual Avenida Tiradentes. o tronco do Y. As hastes ou galhos so a Avenida Nove de Julho, j concluda, e a Itoror, iniciada.. 8 A constituio da Avenida deu-se a partir do traado concntrico de radiais e perimetrais, fator que estabeleceu uma centralidade para So Paulo. Segundo o arquiteto ngelo Bucci, Trata-se de um Plano abrangente, que foi implantado em grande parte e o principal projeto

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(Reproduo da palestra do prefeito Francisco Prestes Maia: Os melhoramentos de So Paulo, publicada em 1945 - Concurso Pblico Nacional para Elaborao de Plano de

Reurbanizao do Vale do Anhangaba. So Paulo, Prefeitura do Municpio de So Paulo, 1980). So Paulo, 1980). 56

responsvel pela atual feio da cidade de So Paulo, no tanto pela sua arquitetura, mas pela sua lgica e avenidas. Atravs dele, Prestes Maia imps uma centralidade cidade, uma centralidade que s encontrava justificativa nos esquemas tericos que ele perseguia como modelos. Desenhou a cidade preso ao esquema rdio-concntrico que lhe imps uma estrutura de funcionamento formada por avenidas radiais e perimetrais..9 No entanto, apesar de resolver o trfego, as vias do Sistema Y simplesmente de sobrepuseram aos fundos de vale, ignorando construes e ruas previamente concebidas, alm da canalizao dos crregos (Fig.4), fator que trouxe durante muitos anos srios problemas de enchentes e buracos, principalmente para a Avenida Nove de Julho. Este modo de imposio durante a implantao das vias, ignorando caractersticas histricas e reais da cidade e levando em considerao apenas a busca por um modelo dco Europeu j em decadncia (BUCCI, ngelo. Anhangaba, o Ch e a Metrpole.), levou a grandes descaracterizaes, como a do Vale do Anhangaba. A implantao do parque previsto nunca fora realizada - uma impossibilidade devido ao trfego intenso que se estabeleceu naquela rea. A prpria Nove de Julho j havia sido pensada para tolerar o trfego rpido e intenso que provinha da Avenida Prestes Maia, o que complicava ainda mais a relao da circulao de pedestres na rea contra a escala de trfego. A Avenida Nove de Julho extremamente original por9

BUCCI, ngelo. Anhangaba, o Ch e a Metrpole. Revista URBS, ano II, n.10, nov / dez 98. Associao Viva o Centro So Paulo 57

suas condies topogrficas: avenida de thalweg e, por isso mesmo, capaz de trfego rpido, livre dos cruzamentos, devido aos viadutos e tneis. As primeiras expropriaes datam da administrao Pires do Rio, a anterior iniciou as obras, que Escadaria de acesso ao Viaduto Nove de Julho (flickr.com/photos/armandovernaglia)

prosseguimos e conclumos, com modificaes notveis, em especial na entrada da avenida e no portal Norte. Agora empreendemos o prolongamento da artria atravs do Jardim Amrica e do Jardim Europa, onde atingir 55 metros de largura. Melhoramentos complementares da Nove de Julho so os jardins do Trianon e da Alameda Ja, e a pracinha Santos Dumont. Um canteiro alongado acompanhar a antiga Rua Saracura. (Idem 5).

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Entre os anos 1940 e 1950 a Nove de Julho, em sua poro central, recebeu uma srie de edifcios de interesse social, devido demanda de moradia para a enorme quantidade O Hotel Cambridge - que hoje disponibiliza seus antigos quartos para salas comerciais - grande propulsor de festas semanais em seu bar, promovendo dinamismo e segurana nas noites da Avenida. (arquivo pessoal).

de operrios que vinham a So Paulo para a formao da mode-obra industrial. Com o esvaziamento do centro a partir dos anos de 1970, estes operrios em parte se mudam para proximidades das novas centralidade paulistanas, como as regies das avenidas Faria Lima e Berrini. Os que ficam, com o aumento da infra-estrutura urbana (trens e metr) no se mantm na regio devido a seu alto custo de vida, fator que promove a regio central da decadncia. A Avenida, que j possua uma topografia de vale - portanto j se encontrava bem abaixo de

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O estado atual da Sinagoga depredao fronte Avenida. (photobucket.com/albums/o241/cacobianchi2/)

outras vias como a Rua da Consolao e a Av. So Joo, acabou por se desvalorizar mais rapidamente nesta poro central, ainda mais por ser uma via de trnsito rpido e por possuir tantos viadutos em sua extenso. Resultado: comrcios em edifcios trreos fechados, terrenos vazios deriva, reas hostis. Hoje a Avenida consta com a presena de cortios, edifcios vazios, estacionamentos, etc. Devido maioria dos edifcios de HIS no possurem comrcio no trreo, o trecho designado para interveno tem um aspecto morto, pois diferentemente do que ocorre na Praa 14 Bis, apenas alguns edifcios possuem o trreo comercial, restringindo o comrcio a uma pequena faixa da Avenida. A Nove de Julho no especfico trecho tambm possui

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um alto ndice de criminalidade, que vem decaindo graas a requalificao da Rua Avanhandava e de outros equipamentos como o temporrio endereo da ONG Cora_Garrido, que conta com uma Academia de Boxe no baixio no viaduto do caf; A freqncia noturna de espaos de eventos como os do Hotel Cambridge, prximo ao hostil Largo da Memria, tambm ajudam a aumentar a freqncia noturna.

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As instalaes atuais de uma filial temporria da Academia Cora_Garrido neste trecho do Viaduto do Caf (A fotografia foi tirada em janeiro deste ano. Atualmente a academia foi removida devido obras no baixio do Viaduto ( arquivo pessoal)

Praa 14 Bis. Integrao ideal entre o ponto de nibus, o Viaduto e a Praa criada em seu baixio. Espao aberto dialoga com comunidade - espao vivo (arquivo pessoal)

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O Complexo NovedeJulho o produto de todos os estudos anteriormente mostrados: uma unio entre todos os conceitos, crticas, buscas e pensamentos de cada um dos elementos explicitados nesta monografia. As palavras acima refletem exatamente o que busquei, desde as aulas de metodologia at o final do TFG2, ao desenhar cada dos pequenos e grandes detalhes do projeto. Um projeto grande - no bvio - que toma como base um terreno difcil e incomum; pensado como um todo - desde sua escala urbanstica escala do detalhe - de uma forma densa em exigente. O Complexo privilegia abertamente o pedestre. ele quem deve ocup-lo em todas as formas de vivncia sugeridas. Tomei por base o passeio que levasse o pedestre, o -conduzisse em direo ao inesperado e ao incomum. Pessoalmente foi um projeto muito realizador e marcante - profissionalmente mais ainda! Nas pginas a seguir entrarei em detalhes sobre sua concepo, levando em considerao uma srie de referncias distintas e um estudo de caso valioso.

integrao

possibilidadespermeabilidade65

rea - Escala bairro

( google earth)66

rea - Escala entorno

( google earth)67

rea - Escala terreno

( google earth)68

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LocalizaoO projeto se localiza entre as seguintes vias:

Vias e elementos importantes vizinhos ao terreno: - Praa Roosevelt - Rua da Consolao - Rua Avanhandava - Rua Augusta - Rua Santo Antnio - Rua Frei Caneca - Largo da Memria - Praa Dom Jos Gaspar - Copan - Teatro Cultura Artstica - Av. So Joo - Rua Maria Paula - Terminal Bandeira - Metr Anhangaba - Viaduto do Caf (Radial Leste) - Viaduto Martinho Prado

- Av. Nove de Julho - Rua Martins Fontes - Rua Dr. lvaro de Carvalho - Viaduto Major Quedinho (corta o terreno) - Viaduto Nove de Julho (Av. So Joo)

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Proximidades e pontos de interessePontos de utilidade pblica:- Ministrio Pblico do Estado de So Paulo - Cmara Municipal de So Paulo - Biblioteca Municipal Mrio de Andrade - Delegacia Regional do Trabalho em So Paulo - INSS - Telesp - CET - Polcia Militar - EMEI Patrcia Galvo

(metro.sp.gov.br)71

O terrenoO terreno escolhido para o projeto , na verdade, a unio de cinco terrenos: 4 estacionamentos e a rea de uma antiga creche em runas do INSS. Uma rea tortuosa e desconexa entre cada um dos terrenos - alguns desses em estado precrio, correndo o srio risco de desabamentos. Esta foi, particularmente, a parte que mais me atraiu desde o princpio no projeto: como transformar uma rea urbana tipicamente residual, um lugar que, aparentemente, no serviria a nada ou a ningum, em um mecanismo de apoio sua vizinhana e, conseqentemente, cidade como um todo.

(Arquivo pessoal)

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Edfcio INSS (Arquivo pessoal)

Vista terreno (Arquivo pessoal)73

O ProgramaPara equipamentos que que o programa assegurassem fosse um devidamente elaborado, ele deveria conter grande fluxo de pessoas circulando pela rea em todos os horrios do dia. Para isto ele deveria conter reas versteis, dinmicas e necessrias quela regio, como escritrios, lojas, praa, praa de eventos, praa de alimentao, escola de vdeo e fotografia, cinemas, etc.

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Edifcio de escritrios | praa de alimentaoO edifcio de uso misto leva em considerao principalmente a maneira como se conformam os acontecimentos pelo Viaduto Major Quedinho at a R. da Consolao. Esta regio bastante comercial fervilha de trabalhadores de todos os tipos durante o dia: de padeiros e mecnicos a altos executivos, o que demanda locais que absorvam este mercado (escritrios) e ao mesmo tempo contemplem a dinmica que j existe, com espaos para refeies, lazer e descanso nas pausas do servio. Para tal, foram criadas duas praas de alimentao: uma no pavimento trreo dos escritrios, contando tambm com lojas; outra em algumas cotas abaixo, contemplando uma agradvel rea verde.75

Cinemas | Auditrio | CafPensando naquelas mesmas pessoas, que basicamente se deslocam ao centro todos os dias unicamente para o trabalho, que foram criadas as salas de cinema, o auditrio e o caf. espaos que contemplam desde reunies de negcios, com direitos a palestras e congressos, at espaos para o fim do expediente, onde se possa assistir a um filme, tomar um caf ou uma cerveja.

Arquibancada | goraA arquibancada se coloca em uma praa seca, aberta, sem uso previamente definido. um local de possibilidades e acontecimentos76

inesperados, desde apresentaes de msica, dana e teatro at um circo itinerante, ou uma palestra ao ar livre, um ponto de encontro... A gora - aluso feita no s praa na antiga Grcia onde as pessoas se encontravam e os eventos aconteciam, mas tambm praa do Centro Cultural Drago do Mar, detalhado mais adiante - o centro do convvio e do espetculo. Sua arquibancada serve tanto de descanso alunos que acabaram de sair de uma aula na escola at um evento na Virada Cultural. Ela tambm o elemento conector entre as passagens subterrneas pelo Viaduto Major Quedinho, o edifcio de escritrios e o primeiro lance de escadas rolantes advindo da Av. Nove de Julho.

Passagens subterrneas | escadaria | Praa alimentaoO projeto teve, desde o incio, o intuito de agir como um elemento de integrao - um complexo de servios de apoio - aos pedestres que circulam em massa diariamente pela regio. Assim, atendendo a este intuito, o projeto possui no s uma infra-estrutura de servios, mas tambm uma infraestrutura do caminhar.

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Uma das caractersticas mais marcantes do centro de So Paulo so suas ruas estreitas, antigas e tortuosas, que contemplam uma srie de galerias, espcies de "passagens secretas" que apenas as pessoas que circulam a p podem conhecer. Desta mesma forma esto colocadas as passagens, escadarias e rampas que realizam essas conexes no Complexo NovedeJulho. As passagens subterrneas pelo Viaduto Major Quedinho dizem respeito essa permeabilidade de espaos, esse descobrimento do lugar no bvio, incomum. Elas levam as pessoas outra praa de alimentao, esta que se coloca em meio a uma praa verde, agradvel. Como um lugar nico e sutil.

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Praa Nove de Julho | paisagismo

Enquanto a gora a praa dos acontecimentos e dos encontros, a praa Nove de Julho o lugar do passeio, do desfrute, do nostlgico. Seu paisagismo conta com uma srie de nveis de muros de gabio, estes "recompondo" a antiga topografia da rea, na poca em que o Saracura um dos afluentes do Rio Anhangaba - substitua a hoje to movimentada avenida Nove de Julho. Os espelhos d'gua da praa remetem topografia irregular moldada pelas quedas das guas de chuva, que lentamente seguiam rumo ao rio - uma aluso a um tempo desconhecido e inimaginvel para quem j conheceu So Paulo como metrpole. O paisagismo integra tambm praa a um edifcio residencial e um outro79

abandonado - um antigo edifcio do INSS que freqentemente ocupado por frentes de movimento de moradia. No projeto geral, o edifcio no s incorporado ao Complexo, mas tambm transformado em habitao de interesse social, o que contempla a necessidade dos movimentos sociais e tambm do zoneamento imposto na rea.

esquerda, o edifcio abandonado do INSS, freqentemente ocupado por frentes de luta por moradia; direita, o edifcio residencial - ambos tiveram suas reas comuns integradas ao projeto paisagstico do Complexo NovedeJulho. (Arquivo pessoal)80

Escola de Vdeo e FotografiaTendo o projeto como inteno principal a circulao de pessoas, o que confere, naturalmente, segurana rea, um elemento institucional no Complexo acaba por ser a "garantia" de que rechavero pessoas todos os dias caminhando pelo espao. O centro, por ser o corao da fotografia em So Paulo, abrigando tantos as escolas mais antigas quanto as mais novas (Escola Focus e Escola So Paulo), associaes famosas como o foto cineclube Bandeirante (Rua Augusta) e tambm por possuir a sede das principais lojas de fotografias na Rua Conselheiro Crispiniano, serviu de plataforma para a criao de mais uma escola - esta com qualificao profissional - que contemple este eixo fotogrfico na rea.81

Trelia - passarelaO grande elemento integrador de todo o conjunto, de toda a topografia difcil e das reas segregadas, a grande trelia-passarela - pintada em vermelho e formalizada em ao. A grande trelia serve como elemento unificador do projeto em uma rea to desconexa e extensa, alm de servir como marcao visual um ponto focal em uma regio rodeada por edifcios altssimos e pequenos vazios de estacionamentos soltos entre eles.

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Fotos Maquete

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Clculo de reas - programareas dos edifcios pr-existentes no projeto | Viaduto Major Querdinho | Escadaria

rea total de interveno do projeto: 14.791,4 m Edifcio INSS - 667,70 m Edifcio Residencial vizinho - 422,50 m Escada de acesso ao Vd. Major Quedinho - tombada - 116,60 m Trecho Viaduto Major Quedinho - 945,00 m

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Cota 758 - Acesso recepo Escritrios | Lojas | Praa Alimentao | 2.568,00 mRECEPO - 8,50 m REA LOJAS (12 unidades) - 299,30 m PRAA ALIMENTAO - 376,30 m SANITRIOS - 34,60 m CIRCULAO VERTICAL - 159,40 m - Elevadores (7 unidades - 2,60 m cada) - 18,20 m - Escadas rolantes (2 unidades - 23,30 m cada) - 46,60 m - Escada acesso escritrios - 42,80 m - Escadas de fuga - (2 unidades - 25,90 m cada) - 51.80 m CIRCULAO HORIZONTAL - 1029,70 m ESPAOS ABERTOS - ACESSOS - 637,90 m88

Cota 753,50 - Cinemas | Auditrio | 2.535,30 mANTESALA CINEMA 1 - 29,20 m SALA CINEMA 1 - 210 lugares - 404,30 m ANTESALA CINEMA 2 - 18,70 m SALA CINEMA 2 - 234 lugares - 442,50 m SALAS DE PROJEO ( 2 unidades - 16,30 m cada) - 32,60 m AUDITRIO - 274,40 m CAF | LANCHONETE - 141,00 m BILHETERIAS - 16,20 m LOUNGE CINEMA | AUDITRIO - 243,60 m SANITRIOS - 34,60 m CIRCULAO VERTICAL - 127,40 m - Elevadores (4 unidades - 2,60 m cada) - 10,40 m - Escadas rolantes (2 unidades - 23,30 m cada) - 46,60 m - Escadas acesso salas de projeo (2 unidades - 9,30 m cada) - 18,60 m - Escadas de fuga - (2 unidades - 25,90 m cada) - 51,80 m CIRCULAO HORIZONTAL - 770,80 m

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Acesso 753,50 | Cota 751 | Cota 750 | 913,40 m

Acessos e cota 749 | 2.516,40 m

RAMPAS (acesso a partir cota 750 a cota 753,5 - cinemas) - 113,50 m PATAMAR - 65,50 m REA VERDE - 687,40 m

RAMPA (acesso cota 756 a 749) - 621,00 m ARQUIBANCADA - 460,00 m CIRCULAO VERTICAL - 42,00 m - Elevadores (2 unidades - 2,60 m cada) - 5,20 m - Escada de Fuga - 26,00 m - Escada acesso a partir muro - gabio - 11,00 m CIRCULAO HORIZONTAL - 1419,40 m

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Topografia Retomada - Cotas 250 a 242 | 2.335,90 mTOPOGRAFIA RETOMADA - muros de gabio entre as cotas 250 a 242 - 1996,80 m CIRCULAO VERTICAL - 205,40 m - Escadas rolantes (4 unidades - 26,00 m cada) - 104,00 m - Escadaria Escola Vdeo e Fotografia - 65,00 m - Elevadores de carga (2 unidades para a Escola de Vdeo e Fotografia - 7,60 m cada) - 15,20 m - Escada de Fuga - 21,20 m PATAMAR COTA 748 - 129,10 m TRREO ESCOLA FOTOGRAFIA E VDEO | REA EXPOSIES TEMPORRIAS - 290,80 m91

Acesso Praa - Cota 741 | 2.067,80 m

Acesso praa de alimentao - Passagens Subterrneas - Acessos cota 743 | 2.067,80 m

LOJAS - (6 unidades - 25,00 m cada) - 150,00 m PRAA ALIMENTAO - 485,50 m PASSAGENS SUBTERRNEAS - (2 unidades - 95,90 m) - 191,80 m SANITRIOS - 34,60 m CIRCULAO VERTICAL - 102,1 m Escada - acesso passagens subterrneas praa alimentao - cota 143 99,50 m Elevador (acesso trelia) - 2,60 m

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rea Verde | 981,40 m

Escritrios | 1.886,30 m

SALAS DE ESCRITRIO 1886,32 m (16 unidades de 100/ 110 m c/banheiro privativo. Possibilidade de ocupao do andar todo 471,58 m).

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Escola de Vdeo Fotografia | 2.569,20 m1 PAVIMENTO - SALAS DE AULA | AUDITRIO - aprox. 487,70 mSANITRIOS 16,00 m SALA AR-CONDICIONADO - 3,20 m SALA DE AULA 1 - 42,10 m SALA DE AULA 2 - 95,00 m SALA DE AULA 3 - 77,90 m SALA DE AULA 4 - 106,80 m LOUNGE - 34,40 m CIRCULAO HORIZONTAL - 75,90 m CIRCULAO VERTICAL - 36.40 m - Elevadores de carga (2 unidades para a Escola de Vdeo e Fotografia - 7,60 m cada) - 15,20 m - Escada de Fuga - 21,20 m

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2 PAVIMENTO - ESTDIO - aprox. 601,60 m SANITRIOS 16,00 m SALA EQUIPAMENTOS ESPECIAIS (COFRE) | AR-CONDICIONADO - 16,80 m ESTDIO - 393 m PASSARELA ESTDIO - 31,60 m SALA EQUIPAMENTOS - 43,30 m CIRCULAO HORIZONTAL - 58,50 m CIRCULAO VERTICAL - 42,40 m - Elevadores de carga (2 unidades para a Escola de Vdeo e Fotografia - 7,60 m cada) - 15,20 m - Escada de Fuga - 21,20 m - Escada acesso passarela estdio - 6,00 m

3 PAVIMENTO - LABORATRIOS - aprox. 604,20 mSANITRIOS 16,00 m SANITRIO DEFICIENTES - 4,80 m SALA AR-CONDICIONADO - 3,40 m LABORATRIO DIGITAL 1 - 63,70 m LABORATRIO DIGITAL 2 - 68,10 m LABORATRIO DIGITAL 3 - 73,40 m ILHA DE EDIO - 52,40 m LABORATRIOS ANALGICOS (2 unidades) - 39,90 m SALA EDIO DE UDIO | TRILHA SONORA - 18,90 m ESTDIO GRAVAO - 26,30 m CAMARIM CONVIDADOS - 21,10 m JARDINS - 66,60 m CIRCULAO HORIZONTAL - 113,20 m CIRCULAO VERTICAL - 36.40 m - Elevadores de carga (2 unidades para a Escola de Vdeo e Fotografia - 7,60 m cada) - 15,20 m - Escada de Fuga - 21,20 m

4 PAVIMENTO - ADMINISTRAO | SALA PROFESSORES - aprox. 548,50 m SANITRIOS 16,00 m SANITRIO DEFICIENTES - 4,80 m SALA AR-CONDICIONADO - 4,50 m SALA PROFESSORES - 111,80 m ADMINISTRAO - PROFESSORES - 27,00 m SALAS REUNIO (2 unidades) - 33,80 m JARDIM - 15,60 m ADMINISTRAO GERAL - 172,60 m CIRCULAO HORIZONTAL - 126,00 m CIRCULAO VERTICAL - 36.40 m - Elevadores de carga (2 unidades para a Escola de Vdeo e Fotografia - 7,60 m cada) - 15,20 m - Escada de Fuga - 21,20 m

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5 PAVIMENTO - BIBLIOTECA - aprox. 486,30 m SANITRIOS 16,00 m SANITRIO DEFICIENTES - 4,80 m SALA AR-CONDICIONADO | CASA DE MQUINAS - 7,50 m ARMRIOS - 3,20 m PUFF LEITURA - 11,70 m RECEPO | EMPRSTIMO | DEVOLUO LIVROS - 7,80 m VENDA LIVROS - 10,20 m REA LEITURA - 39,70 m SALA CATALOGAO LIVROS - 15,30 m SALA AR-CONDICIONADO | CASA DE MQUINAS (PLAT. DEFIC.) - 6,00 m COMPUTADORES CONSULTA - 5,30 m REA REVISTAS NOVAS - 2,60 m

LIVROS PERIDICOS - 51,10 m JARDIM - 18,80 m CIRCULAO HORIZONTAL - 180,50 m CIRCULAO VERTICAL - 52,90 m - Elevadores de carga (2 unidades para a Escola de Vdeo e Fotografia - 7,60 m cada) - 15,20 m - Plataforma deficientes - 1,50 m - Escada de acesso midiateca - 15,00 m - Escada de Fuga - 21,20 m 6 PAVIMENTO - MIDIATECA - aprox. 306,70 m SALA AR-CONDICIONADO | ACESSO CAIXA D'GUA - 7,70 m ESPAO DE CINEMA COLETIVO - 47,00 m ILHA DE EDIO - 34,30 m ESPAO AUDIOVISUAL - TV | DVD | VHS - 28,30 m CIRCULAO HORIZONTAL - 75,20 m

CIRCULAO VERTICAL - 31,00 m Escada acesso midiateca - 30,00 m Escada acesso caixa d'gua - 1,00 m COMPUTADORES DISPONVEIS PARA USO (11 unidades) 15,30 m ESPAO CD | MP3 | ESCOLHA DE TRILHAS SONORAS - 6,80 m REA DESCANSO - 2,80 m REA PARA EMPRSTIMOS - CD | DVD | VHS - 58,30 m 7 PAVIMENTO - CAIXA D'GUA - aprox. 21,90 m REA CAIXA D'GUA - 20,90 m ESCADA DE ACESSO CAIXA D'GUA - 1,00 m

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Estacionamento - Cota 746 | 2.727,00 mCIRCULAO HORIZONTAL - Acesso estacionamento - Vd. Major Quedinho - 172,80 m - Circulao de automveis - 795,80 m - Circulao de pedestres - 100,00 m PATAMAR DE ACESSO ELEVADORES E ESCADA DE FUGA 128,40 m CIRCULAO VERTICAL - Elevador (2 unidades, 2,60 m cada) - 5,20 m - Escada de Fuga - 26,00 m

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Viaduto Major Quedinho

rea passarela-trelia | 1141,80 m

ESCADA TOMBADA - ACESSO VIADUTO - 116,60 m PATAMAR ACESSO VIADUTO (a partir das escadas rolantes externas) - 43,70 m REA DO VIADUTO NO PROJETO - 927,10 m99

CLCULO PROJETO REA CONSTRUDA 13.623,40 m REAS EXTERNAS 9839,10 m DESNVEL TOTAL TERRENO 21 mDesnvel de cotas (Gegran)

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(flickr.com/photos/bobindrums)102

O ProjetoO Centro Drago do Mar surgiu de uma estratgia de marketing poltico para o Cear, mais especificamente para Fortaleza, com o intuito de mudar o carter cultural do Estado, investindo na criao de uma imagem "positiva" que fornecia, simultaneamente, um novo espao pblico para a cidade e um novo atrativo para o Estado, criando um novo plo audiovisual para a cidade. (GONDIM, 2007. P.141). Uma citao no livro de Linda M. P. Gondim explicita o grmen de mudana que pretendia ser implantado junto ao projeto Drago do Mar: "(...) a reordenao fsica e revitalizao de parte do setor urbano (...) , tendo como foco de irradiao programtica o "Centro de Cultura do Estado do Cear" e como conseqncia contextual o uso das reas livres com atividades de lazer" (Estado do Cear, 1993b:1). Esses so pontos bem semelhantes ao Complexo NovedeJulho no que diz respeito a um elemento de interveno urbana que tenha condies de criar ambientes agradveis, pblicos, abertos e de carter verstil e artstico, que atraiam pessoas de diferentes idades, gneros e pblicos.

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O ProgramaO programa do CDMAC, ele era bem mais simples, contava apenas com auditrio, sala de vdeo, oficinas de arte, salo de exposies, livraria, loja e cafeteria - sem os atuais planetrio, museus e anfiteatro. O projeto inicial se assemelhava muito mais, no que se refere escala, ao Complexo NovedeJulho, adquirindo depois uma escala monumental que ocupa cerca de trs quarteires frontais praia. No entanto, esta grande escala monumental possibilitou a concepo de uma "rua area" como elemento ordenador, esta ligando os blocos de edifcios que abrigariam as diversas atividades j programadas para o centro cultural. Estes blocos se ligam s cotas de piso (acesso) a cada 25 metros, utilizando para isso escadas, rampas e um elevador panormico. H tambm uma conexo area feita com uma biblioteca pblica pr-existente, alm de uma grande rea de estacionamentos. Os quatro grandes blocos se dividem basicamente entre: 1. Memorial da Cultura Cearense; livraria; salas para a administrao; hall; loja de souvenires; o espao para exposies temporrias 2. Museu de Arte Contempornea do Cear; espao destinado oficinas de arte; Praa Verde | gora - espao reservado para grandes shows 3. Passarela metlica; caf | 4. Salas de aula; auditrio; salo polivalente com espao para lanchonete; anfiteatro; planetrio; cinemas; cinema-teatro104

Todos os blocos esto interligados atravs de passagens areas, sendo em especial uma - particularmente - o elemento mais marcante do projeto: a passarela treliada em ao, pintada em vermelho. A passarela um dos artefatos mais acentuados do projeto principalmente por trs motivos: sua cor vermelho berrante contrasta com o branco do conjunto; sua forma absolutamente geomtrica, ortogonal e repetitiva destaca-se na paisagem como centro de referncia; sua implantao, cruzando a rua Jos Avelino, separa os blocos j citados dois a dois, conferindo unidade ao conjunto. Esteticamente e funcionalmente, a passarela do Drago do Mar o primeiro e mais facilmente identificvel trao de conexo entre o projeto cearense e o Complexo NovedeJulho. Ambas as passarelas conferem unidade tanto esttica e formal quanto de conexo aos conjuntos, so eixos em seus respectivos projetos, vencendo vos e ao mesmo tempo possuindo o trreo livre. Esta liberdade territorial no pavimento de acesso s passarelas areas resulta em espaos completamente livres e que no s sugerem, como possibilitam, uma srie de diversos acontecimentos - inclusive inesperados - nestes espaos "sobrantes". No caso do CDMAC a Rua Jos Avelino, localizada no centro histrico, circulvel apenas para pedestres e, devido sua escala, conta uma vasta rea ao ar livre reservada para bares e restaurantes. O Complexo NovedeJulho, obviamente que em diferente grandeza, confere a mesma liberdade territorial.

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106 (flickr.com/photos/cleidebraga)

A ImplantaoUm dos pontos mais interessantes do Drago do Mar justamente sua implantao. Como j foi citado em itens anteriores, o imenso projeto se estabeleceu em trs quadras que ficavam prximas ao antigo porto de Fortaleza, em sua poro central. O grande centro cultural passou a ter a inteno de, quanto sua implantao, ser um edifcio novo e, naturalmente,pudesse recuperar o seu entorno degradado central de Fortaleza. "A idia era a seguinte: um edifcio novo que, superposto malha dos antigos, criasse uma terceira situao. Essa terceira situao faria com que o novo edifcio fosse uma provocao a uma melhoria de qualidade de uso dos velhos edifcios para ampar-los, porque a melhor forma de conservar dar uso, digamos assim, alm de digno, um uso de visvel utilidade para funes modernas, se no, derruba [inaudvel]. Antigamente se acreditava que tombando se conseguia... [conservar]. [Mas] no, no s isso, voc precisa transformar a zona, tem que fazer com que o edifcio ganhe mais sentido como ele , para algum uso que sirva para a atualidade. (...) ele [Centro Drago do Mar] no um projeto inimigo da arquitetura histrica. Ao contrrio, ele foi um grande esforo para resgatar (...) para tirar aqueles edifcios do fundo da paisagem deprimida em que eles estavam". (Entrevista com Fausto Nilo Costa Jr., em 07 dez 2008).107

Fica evidente outro ponto condizente com o Complexo NovedeJulho, j que a primeira grande inteno do projeto a de justamente reorganizar e redinamizar os fluxos entre a Avenida Nove de Julho e o Viaduto Major Quedinho. Alm de, para tal, criar edifcios de uso misto e espaos de uso coletivo, atraindo diversos tipo de pblico em diferentes horas do dia - fator que possibilita a criao de novos comrcios no entorno, a valorizao de edifcios residenciais pr-existentes e sua recuperao, etc. Assim como no CDMAC, a rea anteriormente degradada passa a ser um nicho de interesse do mercado. O paisagismo do Centro Drago do Mar sempre ocorre de forma bem estratgica, conferindo um caminhar agradvel, alm de espaos de permanncia que tambm so de circulao e especialmente de(flickr.com/photos/cleidebraga)

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acontecimentos, como na Praa Verde | gora. H tambm lugares que so concebidos sem uso direto, como o baixio do planetrio, assim explicitado pelo prprio autor: "(...) ele, [o Centro Drago do Mar] tem funes que no so rigorosamente funes tradicionais. Por exemplo, embaixo do Planetrio no nada; [foi] feito para no ser nada, para voc passar (...).Nessa construo programtica, tem um mnimo que voc sabe que vai acontecer. Os espaos tm que ser desenhados para isso. mas tm coisas que acontecero, que voc no sabe (...). Ento, o que o arquiteto deve fazer? Ele desenha um cenrio que justifica o programa, o que o contratante quer, e deixa abertura para acontecimentos outros. esses acontecimentos no so inimigos do prdio, pelo contrrio, o prdio tem que estar atento a eles, (...), incorporar esses acontecimentos (...).". (Entrevista com Fausto Nilo Costa Jr., em 7 dez 2008)." No Complexo NovedeJulho a arquibancada possui um papel essencial no que diz respeito possibilidade de acontecimentos. uma arquibancada frontal passarela-trelia, sem uso aparente, j que no h nenhum tipo de teatro frente. Porm, a grande passarela que dar o uso a esta arquibancada: tendas, acrobatas, danarinos, msicos... Qualquer tipo de evento deste porte pode acontecer na passarela, pois o evento se dar ao longo dela. Logo, a passarela possui uma pluralidade incrvel de possibilidades em si prpria, fator tambm proporcionado pela passarela do CDMAC, ou pela escadaria da gora. Espaos que so naturalmente versteis e que assumem uma diversidade de usos muito grande, colocando-se como lugares democrticos, abertos e tipicamente contemporneos.

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ConclusoMesmo em diferentes escalas, a inteno de ambos os projeto quanto a conceito urbano o de priorizar o pedestre, o caminhar, o explorar, o descobrir... A re-construo de uma rea a partir de um projeto que, como um "bom parasita", contamina pouco a pouco todo o entorno de sua implantao, melhorando-o, tornando-o novamente digno e funcional. Um projeto feito para todos, desde as pessoas que simplesmente passam pela rua - sem qualquer tipo de pr-conceito ou pr-seleo - at aquelas que querem fazer uso de seus espaos de uso tcnico, de lazer e comercial.

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Conjunto Nacional

O Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, uma grande obra arquitetnica que unifica desde habitao at reas de comrcio, servios e entretenimento. Em uma rea degradada como a da Avenida Nove de Julho em sua poro central, um grande equipamento que unisse esses elementos, levando vida 24 horas localidade, resolveria a questo de falta de segurana e degradao urbana.

(arcoweb)112

Passarelas da Rua Alcantra - Madrid

Na rua Alcantra, em Madrid, o espao de circulao curto e o grande desnvel existente impediram a abertura de uma via para veculos. A soluo encontrada por moradores do bairro foi a criao de 4 elevadores e 5 lances de passarelas, para se movimentar mais confortavelmente at suas casas.

(Urban Spaces)113

Horizontalidade com espaos vazados integrados Centro Digital do Ensino Fundamental

Com um vasto terreno como o escolhido, umas das idias possveis para o projeto a de um grande edifcio linear vazado, conectado atravs de passarelas em nveis superiores e por um grande praa integradora e de carter pblico no nvel trreo, ambos conectando-se em cota ao Viaduto Nove de Julho.

(Arcoweb)114

Estrutura metlica - Centro de Convenes Cotia

A estrutura metlica permite grandes vos em diferentes nveis, ideal para um terreno topograficamente acidentado como o que foi escolhido para o trabalho.

(Arcoweb)

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Praa integradora - Praa Victor Civita

Devido grande rea do terreno, uma das idias propostas a de uma grande praa integradora de todos os edifcios vazados.

(Arcoweb)

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Usos diferenciados em diferentes nveis - Museu Rodin

Assim como no Museu Rodin, a proposta de que o projeto possua conexes atravs de passarelas e diferentes nveis. Ele tambm possuir diferentes usos de acordo com cada cota (comrcio e servios, institucional, lazer e entretenimento).

(Arcoweb)

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Referncia de projeto em meio urbano consolidado nas proximidades da rea Passagem So Bento

O terreno em que se localiza o projeto fica em frente Avenida Prestes Maia e limitado lateralmente por empenas cegas de edifcios de garagens e escritrios. No fundo o terreno faz divisa com o imponente muro de arrimo em pedra do conjunto arquitetnico tombado do Mosteiro e Colgio de So Bento, visvel a partir do Anhangaba. A Passagem, alm de servir de acesso atravs de escadas rolantes e elevadores a uma galeria comercial sob o Ptio do Colgio, realizando a ligao do Vale com o Largo de So Bento, ter um edifcio institucional da COHAB e os acessos a uma torre de escritrios, ao Colgio de So Bento e a trs andares de garagens. A construo de um projeto que se utiliza de um grande desnvel do terreno tanto para a circulao e acesso de pessoas quanto para a constituio de um programa um dos objetivos do Complexo NovedeJulho, que unir acessos da Avenida Nove de Julho com o Viaduto Major Quedinho. (Vitruvius)118

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Este trabalho teve como inteno mostrar como e porque o eixo se configura atravs da arquitetura em diversos momentos de diferentes formas. Tratando basicamente dos eixos virios, pude mostrar como desde o princpio das civilizaes um trao de ordem, extremamente humano, o ortogonal e como ele se d nas nossas cidades at hoje. So Paulo um caso peculiar, pois no uma cidade que teve uma plano diretor nico com um nico modelo a ser seguido e muito menos uma cidade medieval, que crescia organicamente ao longo de sculos. So Paulo uma cidade de eixos - muitos eixos - eixos sobrepostos, enterrados, elevados... uma cidade que conecta tudo e ao mesmo tempo desconecta muita coisa. Quis demonstrar como uma cidade desconexa, sem eixos bem traado, de torna vulnervel implantao de qualquer eixo! Viadutos como o minhoco so elementos que nunca deveriam nem ter sido construdos! Isso sem contar a estruturao virias catica, cinza e massificada ao longo das marginais e da radial leste. Vivemos hoje a conseqncia direta de uma escolha feita h quase 100 anos: o automvel. Esta escolha gerou o congestionamento dos dias de hoje, a feira, a degradao, a poluio area e sonora, os espaos soltos. O desafio das prximas dcadas justamente a reverso deste quadro, a criao de uma cidade mais justa, agradvel e respeitosa. A soluo do problema do trfego, alm de ser insuficiente, gerou mais problemas ainda. O meu projeto busca restaurar o centro sem apelao histrica. Afinal, que importncia tem a histria da Avenida Nove de Julho no imaginrio paulistano? Que importncia tem o terreno escolhido para a implantao do projeto com a memria da cidade? Nenhuma. Aqui, a histria est comeando

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a ser traada. Tivemos 100 anos de dinmica construtiva intensa e, ao mesmo tempo, falta de identificao com o lugar aonde vivemos. Daqui em diante s nos resta preservar as histrias que nos sobraram para comear a construir novas. Sem modelos arquitetnicos, sem referncias bem marcadas. A reconstruo de So Paulo a construo de uma identidade, de um lugar antropolgico. A nossa histria polifnica, com muitas razes e culturas diferentes. A histria da So Paulo que nossos filhos e netos vero daqui a 100 anos, da identidade da cidade, somos ns que estamos construindo, agora.

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Teses, dissertaes e publicaesBUCCI, ngelo. Anhangaba, o Ch e a Metrpole. Revista URBS, ano II, n.10, nov / dez 98. Associao Viva o Centro So Paulo CARPINTRO, Marisa Varanda Teixeira. Tempo e Histria no Plano de Avenidas. Urbana, ano 2, n 2, 2007, Dossi: Cidade, Imagem, Histria e Interdisciplinaridade. CIEC/UNICAMP. ANELLI, Renato. Calades paulistanos em debate o futuro das reas de pedestres do centro de So Paulo. Portal Vitruvius, mai / 2005. ANELLI, Renato. Redes de Mobilidade e Urbanismo em So Paulo: das radiais/perimetrais do Plano de Avenidas malha direcional PUB. Portal Vitruvius, mar / 2007.125

FRIDMAN, Maurcio. SANTINO, Camilla. Registros da vida urbana. So Paulo. Centro. Portal Vitruvius, fev / 2004. WILHEIM, Jorge. Vamos preservar o Vale do Anhangaba. Portal Vitruvius, ano 5, vol. 11, jun. 2005, p. 135 So Paulo. RIBEIRO, Olympio Augusto. Arquitetura: restaurao e reciclagem. Portal Vitruvius, ano 5, vol. 9, abr. 2005, p. 128 So Paulo. GORSKI, Michel. Ser o Banco Imobilirio o responsvel pela decadncia do centro? Portal Vitruvius, ano 7, vol. 11, jun. 2007, p. 186 So Paulo.

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Despejo da antiga sede do INSS na Av. 9 de julho: As famliasNo dia 16 de julho, cerca de 400 famlias foram despejadas do prdio do INSS na Av. Nove de Julho. Por fora de medida judicial, as famlias tiveram de abandonar o imvel e ceder lugar s baratas. Durante a noite, a retirada dos pertences aconteceu sem tenso e cerca de sete caminhes ba levavam os mveis para um depsito. A maioria das pessoas no tinha a quem recorrer e dormiu(flickr.com/photos/panopico)129

embaixo dos viadutos prximos ao prdio. s famlias foi oferecido passagem rodoviria de volta para cidade natal, opo descartada pela imensa maioria, uma vez que mantm vnculos afetivos e profissionais na capital. Tambm foi ofertado abrigo nos albergues municipais Boracia, COM-Metodista, Lygia Jardim e Portal do Futuro. Opo considerada risvel, uma vez que os albergues em poca de frio na cidade esto ainda mais lotados, e a prefeitura municipal, ignorando o aumento do nmero de pessoas em situao de rua, fechou, recentemente, trs abrigos. A antiga sede do INSS na Nove de julho, tambm com entrada pela rua lvaro de Carvalho, havia sido ocupada na noite do dia(flickr.com/photos/panopico)130

12 de abril numa ao simultnea da Frente de Luta por Moradia (FLM). Na ocasio, sete imveis abandonados ganharam funo social, inclusive o edifcio da avenida Prestes Maia, n 911, smbolo do descaso do poder pblico e da luta por moradia digna. Passados cerca de dois meses, dois imveis continuam ocupados, um terreno na avenida Teotnio Vilela (zona sul) que pertence ao INSS e o acampamento Alto Alegre, em So Matheus (zona leste).

(flickr.com/photos/panopico)131

O projeto Complexo NovedeJulho segue anexo.

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