Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

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PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO GILDETE VIANA DA SILVA MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS: SEGURANÇA E SAÚDE DOS CARREGADORES AUTÔNOMOS DA CEAGESP SALVADOR 2009

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PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

GILDETE VIANA DA SILVA

MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS: SEGURANÇA E

SAÚDE DOS CARREGADORES AUTÔNOMOS DA CEAGESP

SALVADOR

2009

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i

GILDETE VIANA DA SILVA

MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS: SEGURANÇA E

SAÚDE DOS CARREGADORES AUTÔNOMOS DA CEAGESP

Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação em

Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade

Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do

título de Especialista em Engenharia de Segurança do

Trabalho

ORIENTADOR

Prof. Márcio Jorge Gomes Vicente

Mestre em Sistema de Gestão Integrada / UFF - RJ

Engenheiro de Segurança do Trabalho

SALVADOR

2009

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GILDETE VIANA DA SILVA

MOVIMENTAÇÃO MANUAL DE CARGAS: SEGURANÇA E

SAÚDE DOS CARREGADORES AUTÔNOMOS DA CEAGESP

Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação em

Engenharia de Segurança do Trabalho da Universidade

Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do

título de Especialista em Engenharia de Segurança do

Trabalho.

Aprovada em:

Orientador:

Coordenador:

SALVADOR

2009

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Muitas pessoas, muitas lições aprendidas e neste momento a

necessidade de compartilhar e agradecer:

Aos professores, pelos conhecimentos passados com desprendimento

e em especial ao Orientador Prof. Márcio Vicente pelo

reconhecimento que inconteste me incentiva a trilhar a difícil, mas

gratificante missão de zelar pela vida do trabalhador.

Aos colegas, pelo constante espírito de colaboração.

A Francisco, pela incondicional ajuda de todas as horas.

Aos meus pais (in memorium), pela lembrança das suas presenças e

dos seus ensinamentos.

À CEAGESP, especificamente ao Engenheiro Orlando Fusaro, ao

SINDCAR - Presidente Sr. José Pinheiro e aos carregadores pela

atenção e pelos relatos, sem os quais o trabalho não lograria êxito.

...e aprendi que se depende sempre,

de tanta, muita, diferente gente.

Toda pessoa sempre é as marcas,

das lições diárias de outras tantas pessoas.

(Caminhos do Coração – Gonzaguinha)

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- vi LISTA DE IMAGENS ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- vii LISTA DE GRÁFICOS ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- viii LISTA DE TABELAS ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ ix LISTA DE ABREVIATURAS ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- x RESUMO ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- xi ABSTRACT -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- xii

1. INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13

1.1 Justificativa ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13

1.2 Objetivos ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 15

1.2.1 Objetivo Geral ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15

1.2.2 Objetivos Específicos ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15

1.2.3 Estrutura do Trabalho ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15

2. REFERENCIAL TEÓRICO -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17

2.1 Dados Históricos e Estatísticos ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 17

2.2 Legislação Mundial e Brasileira ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19

2.3 Movimentação Manual de Cargas ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23

2.3.1 Conceituação -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23

2.3.2 A Coluna Vertebral ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 25

2.3.3 Análise de Posturas ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 28

2.4 A Organização do Trabalho ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 31

2.5 A Ergonomia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32

2.5.1 Definições -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32

2.5.2 As gerações da Ergonomia ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 33

2.5.3 A Análise Ergonômica do Trabalho --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 35

3. DELIMITAÇÂO DO PROBLEMA ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37

3.1 A Segurança Alimentar --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37

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3.2 O Sistema CEASA --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37

3.3 A CEAGESP ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 39

3.4 Os Carregadores -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 44

3.4.1 Histórico ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 44

3.4.2 Perfil Sócio-econômico dos Carregadores da CEAGESP ------------------------------------------------------------ 44

3.4.3 Organização do Trabalho ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 50

3.4.4 Descrição da Atividade e os riscos à saúde ------------------------------------------------------------------------------------------------- 55

3.4.5 Legislação aplicável --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 60

4. METODOLOGIA DA PESQUISA ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 62

4.1 Caracterização do Problema ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 62

4.2 Estratégia da Pesquisa ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 62

5. ESTUDO DE CASO ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 64

5.1 Amostragem -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 64

5.2 O Questionário -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 65

5.3 As Respostas-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 66

6. MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO: RECOMENDAÇÕES -------------------- 83

6.1 Envolvimento ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 83

6.2 PROHORT - Gestão e Metas -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 84

6.3 PROSSC - Programa de Segurança e Saúde do Carrregador ------------------------------------------- 87

6.3.1 Medidas Estruturais (física/ social/ educacional) --------------------------------------------------------------------------------- 88

6.3.2 Medidas de Prevenção ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 88

6.3.3 Medidas Organizacionais e Administrativas -------------------------------------------------------------------------------------------- 89

7. CONCLUSÕES ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 91

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 94

9. ANEXOS --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 96

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vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - A Coluna Vertebral

Figura 2 - Vista Lateral da Coluna Lombar ( L1 a L5)

Figura 3 - Disco vertebral normal e lesionado

Figura 4 - Técnica para levantamento de cargas

Figura 5 - Variáveis da Equação de NIOSH

Figura 6 - Diagrama de Áreas Dolorosas

Figura 7 - Análise Ergonômica do Trabalho

Figura 8 - Efeitos da Ação Ergonômica

Figura 9 - A CEAGESP

Figura 10 - Carteira do Carregador

Figura 11 - Mapa de Risco

Figura 12 - Classificação dos Riscos quanto à gravidade

Figura 13 - Pirâmide de Bird

Figura 14 - Triple Bottom Line

Figura 15 - Ciclo do PDCA

Figura 16 - Danos à saúde mais comuns no exercício da atividade de MMC

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vii

i

LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Caminhões de Carga nas Docas

Imagem 2 - Pavilhão denominado Mercado Livre do Produtor

Imagem 3 - Mercado de Peixe

Imagem 4 - Carregador idoso no Mercado de Flores

Imagem 5 - Empilhadeira no setor de frutas da CEAGESP

Imagem 6 - Carrinho para Transporte de Produtos

Imagem 7 - Carregadores transportando sacos, caixas.

Imagem 8 - Tráfego intenso, Irregularidades no piso e Rampa de acesso

Imagem 9 - Biótipo dos carregadores

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viii

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Lesões devidas a MMC / lesões não letais

Gráfico 2 - Faixa Etária dos Carregadores da CEAGESP

Gráfico 3 - Nível de escolaridade dos Carregadores da CEAGESP

Gráfico 4 - Comercialização do ETSP - 2006 e 2007

Gráfico 5 - Nível de Escolaridade (2)

Gráfico 6 - Atividade Anterior

Gráfico 7 - Faixa Etária (2)

Gráfico 8 - Remuneração

Gráfico 9 - Tempo na Atividade

Gráfico 10 - Carga Transportada

Gráfico 11 - Doenças

Gráfico 12 - Dor e/ou Desconforto

Gráfico 13 - Parte do Corpo com Dor ou Desconforto

Gráfico 14 - Intensidade da Dor na Coluna

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ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - AEPS: Quantidade Mensal de Acidentes do Trabalho 2006/2007

Tabela 2 - Pesos máximos em diferentes países para trabalhadores do sexo masculino

Tabela 3 - Volume comercializado ETSP (1968 e 1970)

Tabela 4 - Volume Comercializado no período de janeiro a setembro (2007 e 2008)

Tabela 5 - Valor dos diversos tipos de carga manuseada pelos carregadores

Tabela 6 - Horário de Funcionamento da CEAGESP

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x

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABRACEN - Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento

AEPS - Anuário Estatístico da Previdência Social

AET - Análise Ergonômica do Trabalho

CAT - Comunicação de Acidente do Trabalho

CBO - Classificação Brasileira de Ocupações

CEAGESP - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo

CEASA - Centrais de Abastecimento S.A.

DIRD - Departamento de Identificação e Registros Diversos

CEE - Comunidade Econômica Européia

CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

CLR - Carga Limite Recomendada

CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas

DORT - Distúrbios Osteo-musculares Relacionadas ao Trabalho

FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations

FLV - Frutas, legumes e verduras

IEA - Institute Ergonomics Associations

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

INSS - Instituto Nacional do Seguro Social

LPR - Limite de Peso Recomendado

NIOSH - National Institute for Occupational Safety and Health

NR - Norma Regulamentadora

NTEP - Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário

OIT - Organização Internacional do Trabalho

OSHA - Occupational Safety & Health Administration

OMS - Organização Mundial de Saúde

PROHORT - Programa Brasileiro de Modernização do Mercado de Hortigranjeiros

SINAC - Sistema Nacional de Centrais de Abastecimento

SINDCAR - Sindicato dos Carregadores Autônomos de Hortifrutigranjeiros, Pescados e das

Centrais de Abastecimento do Estado de São Paulo

SISAN - Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SUS - Sistema Único de Saúde

SST - Saúde e Segurança no Trabalho

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RESUMO

Inter-relacionar as visões física, cognitiva e organizacional da Ergonomia se configura na

principal motivação para o trabalho aqui apresentado. O objetivo geral é observar a

organização do trabalho a que os carregadores da Companhia de Entrepostos e Armazéns

Gerais do Estado de São Paulo-CEAGESP estão submetidos e os seus efeitos sobre a

segurança e saúde. A observação deve destacar os aspectos relativos à Movimentação Manual

de Cargas que expõe os trabalhadores a lesões do sistema osteo-muscular. Recorrer a um

inquérito semi-estruturado foi a forma encontrada para levantar dados sobre o cotidiano e as

percepções acerca das condições de trabalho e sua influência na saúde e qualidade de vida de

tais trabalhadores. As respostas às questões colocadas em pauta serviram para as

recomendações de um programa básico no intuito de iniciar uma cultura voltada para a

segurança e saúde do trabalho e assim contribuir para o entendimento amplo do termo saúde

definida pela OMS-Organização Mundial de Saúde como: “Saúde é um estado de completo

bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença”.

Palavras chave: Carregadores, Trabalho, Ergonomia, Lesões.

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ABSTRACT

The relationship among physics, cognitive and organizational visions of the Ergonomic is

configured here as main motivation for the presented work. The general objective is to

observe the organization of work that the loaders of the horticultural market - CEAGESP in

São Paulo - Brazil and their effects on the safety and health. The observation should detach

the relative aspects to the Manual Movement of Loads that exposes the workers to

musculoskeletal lesions. The form found to get data about the daily and the perceptions

concerning the work conditions and her influence in the health and such workers' quality of

life was to go through a semi-structured inquiry. The answers to the subjects put on the

agenda were the recommendations of a basic program with intention of beginning a culture

returned for the safety and health of the work and like this to contribute for the wide

understanding of the term defined health for the World Health Organization - WHO as:

“Health is a state of complete well-being physical, mental and social, and not just the

absence of disease.”

Key words: Loaders, Work, Ergonomics, Lesions.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Justificativa

Na Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, editada em 2002, encontramos a

família ocupacional 7832 (Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias), onde se

insere a ocupação 7832-15: carregador (veículos de transportes terrestres). Dentre as

informações relativas à ocupação, estão as condições gerais de exercício e a formação e

experiência, descritas na íntegra1:

• Condições gerais de exercício

Os profissionais dessa família ocupacional exercem suas funções em

empresas de transporte terrestre, aéreo e aquaviário e naquelas cujas

atividades são consideradas anexas e auxiliares do ramo de transporte. Os

trabalhadores das ocupações carregador (aeronaves) e carregador

(armazém) são contratados na condição de trabalhador assalariado, com

carteira assinada, enquanto aqueles das ocupações ajudante de motorista,

carregador (veículos de transportes terrestres) e estivador atuam como

autônomos e, portanto, sem vínculos empregatícios. Trabalham,

dependendo da ocupação e do tamanho do meio de transporte, em duplas ou

em grupos, sob supervisão ocasional e também permanente, em ambientes

fechados, a céu aberto e em veículos. Podem trabalhar no período diurno e

em rodízio de turnos diurno e noturno. Por vezes podem estar expostos a

ruído intenso e altas temperaturas. (CBO2002)2

• Formação e experiência

Para o exercício dessas ocupações não se requer nenhuma escolaridade e

cursos de qualificação. O tempo de experiência exigido para o desempenho

pleno da função é de menos de um ano. Pode-se demandar aprendizagem

profissional para a(s) ocupação(ões) elencada(s) nesta família Ocupacional,

exceto os casos previstos na Lei 10.097/2000. (CBO2002)3

1 Fonte: http://www.mtecbo.gov.br (acesso em 05/11/2008)

2A Classificação Brasileira de Ocupações - CBO atualmente utilizada no Brasil foi concluída em 2002 e é o documento normalizador do reconhecimento, da nomeação e da codificação dos títulos e conteúdos das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. É ao mesmo tempo uma classificação enumerativa e uma classificação descritiva

3 Id.

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14

Cabe destacar desta descrição duas características que no decorrer do trabalho serão

facilmente constatadas:

...carregador (veículos de transportes terrestres) e estivador atuam como

autônomos e, portanto, sem vínculos empregatícios.

Para o exercício dessas ocupações não se requer nenhuma escolaridade e

cursos de qualificação.

A Movimentação Manual de Carga – MMC atividade inerente à profissão do

carregador é de suma importância na economia mundial e em particular na economia

brasileira, pois insere no mercado de trabalho pessoas que não se enquadrariam num mercado

cada vez mais exigente e especializado. Vale salientar que em algum momento da cadeia

produtiva ou na logística de distribuição, a figura do carregador está presente e sua atividade

requer técnicas corretas além de condições físicas para um melhor desempenho e prevenção

de lesões. De uma maneira geral, a MMC é uma atividade que numa visão simplista não exige

esforço intelectual de quem a exerce e decorre deste fato, a absorção de um grande número de

trabalhadores com pouca ou nenhuma escolaridade.

No contexto estrutural das Ceasas a função do carregador é vital, pois pela suas mãos

passa cerca de 90% de toda mercadoria comercializada e destaca-se que na verdade, passa

duas vezes. Uma na descarga, quando o produto chega dos grandes e pequenos produtores e

outra quando segue para os inúmeros pontos de venda do varejo como: supermercados,

feiras, distribuidores, etc. Há que se considerar que a tarefa do carregador na maioria das

vezes vai além da MMC, pois cabe a ele executar também o manuseio, o empilhamento e o

acondicionamento das mercadorias e da boa prática destas tarefas, resulta a qualidade do

produto e consequentemente a redução do desperdício de alimentos.

Em conformidade com a descrição oficial da CBO2002, encontramos uma mão de

obra na maioria advinda de nordestinos de baixa escolaridade e perfil sócio econômico à

margem do real conceito de cidadão. Os carregadores da CEAGESP – Companhia de

Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo formam um contingente de cerca de

5.0004 trabalhadores, dos quais 70% na condição trabalhista de autônomos, que apesar de

organizados sindicalmente, se configuram numa classe excluída dos direitos preconizados

pela CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas.

4 Informação pessoal: Sr. Raimundo (CEAGESP) em 18/11/2008.

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15

Pensar que 14 milhões de toneladas anuais são comercializados na CEAGESP deve

ser justificativa suficiente para uma análise que leve os órgãos envolvidos com a saúde do

trabalhador a planejar políticas públicas que contemplem categorias como a dos carregadores.

È uma questão que pode diminuir o custo dos produtos agrícolas, pode auxiliar no combate à

fome, pode diminuir a degradação do meio ambiente, dentre outros benefícios. Dar uma

condição digna de trabalho a estes carregadores é só uma peculiaridade que pode colocar as

centrais de abastecimento no rumo da correta valorização do ser humano e do meio ambiente.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Esta pesquisa tem como objetivo abordar a multiplicidade de fatores que concorrem

para os riscos decorrentes da Movimentação Manual de Carga – atividade principal dos

carregadores da CEAGESP.

1.2.2 Objetivos Específicos

Tendo como referência os carregadores autônomos que trabalham na CEAGESP, o

trabalho procura:

• Analisar as técnicas utilizadas para a MMC

• Identificar as percepções dos trabalhadores quanto aos riscos e aos efeitos decorrentes da

MMC

• Refletir conjuntamente sobre a organização do trabalho e mostrar a importância da

atividade dentro do processo de abastecimento

• Apresentar sugestões que impliquem em melhores condições de segurança e saúde

1.2.3 Estrutura do Trabalho

O presente trabalho está constituído de sete capítulos conforme explicitado a seguir:

• Capítulo 1 - Introdução: descreve a justificativa para o trabalho além de definir o público

alvo e os objetivos

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• Capítulo 2 - Referencia a teoria e os argumentos acadêmicos que esteiam a proposta da

pesquisa

• Capítulo 3 - Contextualiza o espaço físico e organizacional da CEAGESP e delimita o

público alvo posicionando-o sobre as relações de trabalho e as características da atividade

• Capítulo 4 - Descreve a metodologia a ser utilizada na pesquisa e o tratamento que será

dado aos resultados obtidos

• Capítulo 5 - Apresenta o Estudo de Caso e fornece gráficos e tabelas que resumem as

informações obtidas a partir do questionário

• Capítulo 6 - Apresenta as recomendações para um programa básico que possibilite a

iniciação de uma cultura voltada para a segurança e saúde

• Capítulo 7 – Conclui e incentiva a dinâmica da produção do conhecimento científico pela

apresentação de novos questionamentos

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

O transporte manual de cargas é uma das formas de trabalho mais antigas e comuns,

sendo responsável por um grande número de lesões e acidentes do trabalho. A medicina, a

engenharia, a fisioterapia, a ergonomia e outras correntes do parecer científico estudam o

assunto. O referencial teórico é extenso e instigante, levando à dificuldade de delimitação do

problema, já que tantas variáveis estão envolvidas, porém, o autor, na tentativa de alcançar o

objetivo do trabalho, escolheu por referenciar quatro aspectos que tornam relevante o tema

abordado:

• Dados estatísticos

• A Legislação mundial e a brasileira

• A MMC destacando a coluna vertebral e as posturas de trabalho

• A Ergonomia e sua contribuição para o entendimento da questão em estudo

2.1 Dados Históricos e Estatísticos

No âmbito nacional, não existe uma verdadeira consciência dos sérios problemas que

acarreta para a saúde dos trabalhadores o manuseio de cargas acima dos níveis máximos que o

ser humano pode suportar. É consenso em todo o mundo, que um dos principais problemas

que enfrentam os trabalhadores que manuseiam e movimentam cargas pesadas é a dor lombar,

derivando-se em problemas crônicos e agudos e é segundo dados da European Agency for

Safety and Health at Work5 responsável por cerca de 1/3 das lesões dos trabalhadores.

(Gráfico 1)

O National Institute for Occupational Safety and Health-NIOSH elaborou em 1981

um relatório, onde se apresentaram as seguintes informações6:

• a sobrecarga mostrou ser a causa das lombalgias em mais de 60% dos trabalhadores com

queixas de dores lombares

5 European Agency for Safety and Health at Work - Agência Européia para a Segurança e a Saúde no Trabalho é responsável por fornecer às instâncias comunitárias, aos Estados-Membros e aos meios interessados informações de carácter técnico, científico e econômico úteis no domínio da segurança e da saúde no trabalho

6 Estes dados se referem ao Estados Unidos da América

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18

1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Gráfico 1 - Lesões devidas à movimentação,elevação ou transporte de carga/lesões não letais7

• menos de um terço dos trabalhadores afastados por acometimento de lombalgias em função

de lesões por sobrecarga, retornou ao posto de trabalho que as desencadeou

• cerca de 25% de todas as lesões ocupacionais nos Estados Unidos, são decorrentes de

atividades com sobrecarga

• o levantamento de cargas estava envolvido com aproximadamente 70% das queixas de

lesões por sobrecarga

• as tarefas de MMC são responsáveis por 23% de todas as doenças ocupacionais, com um

custo estimado de U$ 5,2 bilhões por ano

Como se vê este tema é abordado em todo o mundo e devido a sua importância, foi

objeto de uma campanha realizada em 2007 entre todos os Estados-Membros da Comunidade

Européia com intenção de melhorar os efeitos esperados da aplicação da Directiva

n.º90/269/CEE, do Conselho, de 29-05-90, na redução das lesões músculo-esqueléticas.

No Brasil, não há dados específicos sobre o assunto, mas o Anuário Estatístico da

Previdência Social relativo ao ano de 2007 aponta o registro de doenças ocupacionais e

destaca que as notificações de doenças do sistema osteo-muscular aumentaram 512,3%.

A impressionante variação é creditada ao Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário -

NTEP, mecanismo que relaciona determinada doença às atividades nas quais a moléstia

ocorre com maior incidência. Em vigor desde abril de 2007, o nexo obriga a perícia do 7 Fonte : Comité Sénior da Inspecção do Trabalho - Projecto da União Européia sobre a Movimentação Manual de Cargas 2007. http://osha.europa.eu/pt/topics/msds/slic/mmc/chapter2.htm (acesso em 12/10/2008)

Page 20: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

19

Instituto Nacional do Seguro Social - INSS a aplicar uma lista que relaciona cada uma das

profissões às doenças de maior incidência na atividade. Como resultado dessa co-relação, a

doença é classificada automaticamente como ocupacional. Assim, o que aconteceu,

preponderantemente, não foi um maior número de casos de doenças, mas uma elevação no

volume de moléstias classificadas como ocupacionais. O fato é numericamente representado

pelo Anuário Estatístico da Previdência Social (Tabela 1)

Tabela 1 - AEPS: Quantidade Mensal de Acidentes do Trabalho 2006/20078

Dentro da estatística “Sem CAT Registrada” e sem representatividade, com certeza

estão os casos de lesões dos carregadores autônomos . Trabalhadores em situações instáveis e

sem coberturas previdenciárias eles são mais frequentemente afetados que outros, porém

essas afecções não lhes afastam das atividades, não lhes levam ao serviço médico e não

geram registros.

2.2 Legislação

MERINO (1996) afirma que até hoje não existe uma norma mundial que regulamente

o transporte e manuseio de cargas. Existem convênios que fixam o peso limite, que varia de

20 até 100 quilos, ou mais. (Tabela 2)

Em 1991, o NIOSH - National Institute for Occupational Safety criou uma ferramenta

capaz de identificar os riscos de lombalgias associados à carga física a que se encontra

submetido o trabalhador e propôs um Limite de Peso Recomendado (LPR) e um Índice de

Levantamento (IL). Foi estabelecida uma fórmula para uma situação qualquer de trabalho de

levantamento manual de carga e esta fórmula chegou ao peso limite ideal de 23 Kg, que

representa o valor em que mais de 90% dos homens e mais de 75% das mulheres conseguem

levantar sem sofrer efeitos nocivos. Vale a pena ressaltar que, muitos países já adotaram a

8 Fonte: http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=572 ( acesso 28/11/2008)

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equação NIOSH como base para as suas normas de movimentação manual de materiais e na

comunidade européia há um consenso para definir 25 Kg como peso limite.

PESO MÁXIMO (kg) NORMALIZADOS EM DIFERENTES PAÍSES

PAÍS REF. FREQ. OCAS. PAÍS REF. FREQ. OCAS.

Alemanha OIT9 30 55 Honduras OIT 50 -

Brasil CLT 60 - Hungria OIT 50 -

China OIT 80 - Moçambique OIT 55 -

Colômbia OIT 50 - Paquistão OIT 90 -

Equador OIT 50 - Polônia OIT 50 -

Filipinas OIT 50 - R.D.Alemã OIT 15 25 - 45

França MILL. 55 - Tunísia JORT 100 -

Grécia OIT 100 -

Tabela 2: Pesos máximos em diferentes países para trabalhadores do sexo masculino10

PELLENZ (2005) relata que no Brasil a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,

quanto à regulamentação das atividades de manuseio e movimentação de cargas

manualmente, apresenta alguns problemas. A CLT não define as atividades que devem

respeitar o peso máximo de 60kg11, e é pouco clara e nada específica, ficando difícil a sua

interpretação. A questão é também relatada por MERINO (1996), que diz: na inexistência de

uma norma específica para MMC, a Legislação Brasileira é falha e de difícil interpretação no

que diz respeito à regulamentação da atividade. Os pesos limites estabelecidos são muito

elevados em vista dos padrões ergonômicos recomendados, podendo causar lesões osteo-

musculares tanto por impacto (força súbita) como por esforço excessivo. (ANEXO I)

No sentido de preencher esta lacuna, vários projetos de lei estão a tramitar no

Congresso para redução desta carga máxima visando preservar a saúde do trabalhador.12

9 A Organização Internacional do Trabalho - OIT recomenda que em atividades onde o peso exceda a 55 quilos devem ser tomadas medidas o mais rapidamente para reduzi-lo. 10 Referências: OIT - Organização Mundial do Trabalho (1988); MILL. Millanvoye, M. - França (1989); CLT - Consolidação das Leis do Trabalho Brasil (1988); JORT - Journal Officiel de la Republique Tunisiènne (1988) 11 CLT referente às atividades de levantamento e transporte de cargas (artigo 198 da Seção XIV, da prevenção da fadiga, do Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho) 12 PL 5746 (2005) - Marcelo Crivela PMR/RJ: estabelece 30 Kg como peso máximo PL 6130 (2005) - Selma Schons PT/PR: estabelece 25 kg como peso máximo PL 296 (2007) - Marcelo Melo PMDB/GO: estabelece 30 kg como peso máximo

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21

As 28 Normas Regulamentadoras - NR’s criadas a partir da Portaria Ministerial

3214/78, traçaram as diretrizes e Normas a serem observadas e seguidas por todas as

organizações que admitam funcionários como empregados e cujos contratos sejam regidos

pela CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas. Ao longo desses 30 anos, essa Portaria foi

sofrendo algumas alterações e hoje ela é constituída por 33 normas regulamentadoras e cada

uma aborda e define as diretrizes mínimas que devem ser implantadas para se evitar acidentes

e doenças relacionadas ao trabalho. As normas que estão mais relacionadas com a questão em

estudo são:

• Norma Regulamentadora Nº5 (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA):

tem por objetivo a prevenção de doenças e acidentes do trabalho, mediante o controle dos

riscos presentes no ambiente de trabalho e na organização. De acordo com a classificação da

NR - 5, os principais pontos a serem analisados nos riscos ergonômicos são:

1. Esforço físico; deve-se avaliar o tipo de tarefa em função do desgaste físico requerido.

Considerar o metabolismo, o consumo energético, o descanso, a alimentação, as posturas

assumidas, o ambiente físico (calor, frio, etc.), dentre outros aspectos.

2. Levantamento de peso; os principais fatores que interferem no levantamento, carregamento

e manuseio geral de cargas são: o gasto energético e as posturas. É importante avaliar se o

peso de carga é admissível, de acordo com o cálculo da Carga Limite Recomendada – CLR.

3. Existência de posturas inadequadas com sérias conseqüências para a saúde. Dentre elas se

destacam: DORT (doença osteo-muscular relacionada ao trabalho), carregamento e manuseio

de cargas, trabalho em pé, dentre outros.

4. Imposição de ritmos intensos; o ritmo de trabalho não deve interferir nas condições

adequadas de trabalho, de forma a respeitar os limites fisiológicos e psicológicos dos

trabalhadores. O aumento do ritmo do trabalho pode causar: desgaste físico rápido, stress,

acidentes de trabalho, desprazer pelo trabalho, dentre outros fatores negativos.

5. Monotonia e repetitividade; o trabalho repetitivo dos membros superiores pode provocar

graves lesões. A repetitividade é uma característica da tarefa e a monotonia é a vivência

subjetiva da repetitividade. A monotonia é a ausência da variedade de movimentos, ritmos,

estímulos ambientais ou do conteúdo de trabalho na realização das tarefas.

• Norma Regulamentadora Nº9 (Programas de Prevenção de Riscos Ambientais - PPRA):

avalia os riscos ambientais como os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos

ambientes de trabalho, capazes de causar danos à saúde do trabalhador em função da sua

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22

natureza, concentração ou intensidade de exposição e que constitui o PPRA. Dentro dos

riscos ambientais, o grupo IV, que trata dos agentes ergonômicos, faz menção ao trabalho

físico pesado, posturas incorretas, ritmo excessivo, dentre outras (não especifica valores

máximos de carga). Esta norma também se articula com o Programa de Controle Médico de

Saúde Ocupacional - PCMSO previsto na NR-7 e com a NR -6 (Equipamentos de Proteção

Individual) nos casos em que as proteções coletivas sejam inviáveis tecnicamente ou quando

estas não forem suficientes.

• Norma Regulamentadora Nº11 (Transporte, Movimentação, Armazenamento e Manuseio

de Materiais): estabelece os requisitos de segurança a serem observados nos locais de trabalho

referentes ao transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, tanto na

forma mecânica quanto manual, de modo a evitar acidentes no local de trabalho. Em seus

itens, esta norma referencia apenas o trabalho com sacos e especifica situações mais

vivenciadas pelos trabalhadores de portos. (ANEXO II)

• Norma Regulamentadora Nº15 (Atividades e operações insalubres): considera atividades

e operações insalubres, as que afetem a saúde do trabalhador durante o tempo laboral. No caso

das atividades de manuseio de cargas, deve-se considerar as taxas de metabolismo

regulamentadas. Esta norma também não especifica valores máximos no manuseio de carga.

• Norma Regulamentadora Nº17 (Ergonomia)13: estabelece parâmetros que permitam a

adaptação das condições de trabalho às condições psicofisiológicas dos trabalhadores, de

modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Esta norma

é uma das únicas normas regulamentadora brasileiras que atende tanto à preocupação com o

manuseio, quanto com o peso da carga (ANEXO III). Os itens abaixo são relativos e

específicos para a atividade:

“... 17.2. Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.{...}

17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é

suportado inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a disposição

da carga.

13 NR-17 é a norma aplicável nos processos periciais de afastamento do trabalho por lesões no manuseio de cargas e se utiliza o Método de NIOSH para aferição dos possíveis desvios (1994).

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23

17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira

continua o que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas. {...}

17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um

trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança.

17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as

leves, deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho

que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes.

17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas deverão ser usados

meios técnicos apropriados.

a) 17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte manual

de cargas, o peso máximo destas cargas deverá ser nitidamente inferior àquele admitido para

os homens, para não comprometer sua saúde e segurança....”.

2.3 Movimentação Manual de Cargas

2.3.1 Conceituação

A MMC consiste nas operações de movimentação ou deslocamento de cargas,

incluindo a elevação, o transporte e a descarga. Esta atividade, quando desenvolvida de uma

forma continuada, sujeita o corpo humano a grandes esforços, pois envolvem a tensão de

muitos músculos, ligamentos e articulações simultaneamente.

O transporte manual de cargas envolve partes ou todo o corpo e mesmo que a carga a

movimentar não seja muito pesada ou volumosa, a baixa eficiência do sistema muscular

humano torna este trabalho pesado, provocando rapidamente fadiga com consequências

gravosas, aumentando o risco de ocorrência de acidentes de trabalho ou de incidência de

doenças profissionais. Além das tensões musculares, alguns movimentos ou posturas

incorrectos obrigam a um dispêndio energético muscular excessivo e a uma sobrecarga

pulmonar e cardíaca. Para se analisar e adotar posturas e movimentos adequados é necessário

buscar e entender a participação de outras áreas do conhecimento, como:

• Anatomia (ana+tomia = cortar em partes, separar), estuda as estruturas e as relações entre

estas estruturas

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24

• Fisiologia (physis+logos), estuda as funções das diferentes partes do corpo e seu

funcionamento, portanto está intrinsecamente associada à anatomia

• Antropometria (antropos+metros) estuda as medidas do corpo humano e as diversas

proporções de suas partes. Os dados referentes às dimensões variam de pessoa para pessoa e

de país para país, por exemplo

• Ergonomia (ergon + nomos) estuda a interação do homem com os espaços, construções,

instrumentos de controle, utensílios e o meio envolvente

...o binômio ergonomia – antropometria estão relacionados com as medidas

dos segmentos do corpo, forças musculares, posturas, movimentos e

padrões motores de manuseamento, uma vez que, interferem diretamente

com o conforto, a segurança e a funcionalidade. (RIBEIRO, 2007)

• Biomecânica (bio+mecânica) estuda a aplicação dos vários princípios da mecânica aos

seres vivos – mais especificamente ao corpo humano. Analisa a interação do corpo ao realizar

uma determinada ação

Os estudos biomecânicos assumem particular importância nas tarefas de transporte e

levantamento de cargas, comuns a um grande número de atividades, responsáveis por várias

lesões, por vezes irreversíveis ou de difícil tratamento.

... os conceitos relacionados às técnicas de manuseio, levantamento e

carregamento de cargas sofreram mudanças importantes, durante os últimos

tempos, principalmente depois da introdução dos modelos biomecânicos,

que demonstraram não haver muita vantagem na chamada técnica correta

contra a técnica errada. É importante que todo treinamento relacionado a

esse item, considere os novos conceitos ergonômicos relacionadas ao

manuseio de cargas. (PELLENZ, 2005)

Em termos biomecânicos, no processo de movimentação de cargas, o peso dos

segmentos corporais juntamente com a carga transportada corresponde à resistência e a força

muscular exercida para realizar o trabalho corresponde à força de potência. Os vasos

sanguíneos são comprimidos em consequência da contração dos músculos e o fluxo sanguíneo

fica reduzido com a correspondente falta de oxigénio para a combustão. Acontece também,

que a contração muscular repetida ou duradoura dificulta a evacuação de produtos ácidos do

Page 26: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

25

metabolismo e esta dificuldade traduz-se posteriormente no aparecimento da sensação de

fadiga. Esta, por sua vez, pode desencadear uma redução nos reflexos dos trabalhadores, o

que pode estar na origem de alguns acidentes ou incidentes. (PELLENZ, 2005)

2.3.2 A Coluna Vertebral

Várias partes do corpo podem ser afetadas como consequência da incorreta

movimentação de cargas. Citam-se, as articulações dos ombros, braços e pernas e com maior

incidência as dores e lesões na coluna. Destacar aspectos relacionados à coluna faz parte do

trabalho, visto que estas são as afecções mais comuns à atividade dos carregadores.

A coluna vertebral é o eixo ósseo do corpo, situada no dorso, na linha mediana, capaz

de sustentar, amortecer e transmitir o peso corporal. Além disto, supre a flexibilidade

necessária à movimentação, protege a medula espinhal e forma com as costelas e o esterno, o

tórax ósseo. É constituída de 33 vértebras, que se classificam em cinco grupos: cervicais (7),

torácicas ou dorsais (12), lombares (5) e sacrococcígeas (9). (Figura 1)

Figura 1 - A Coluna Vertebral 14 PELLENZ (2005) mostra a grande região sustentadora de peso na coluna. É formada

pelas vértebras lombares e são largas, com corpos mais alargados lateralmente que ântero-

posteriormente. Elas também são mais largas verticalmente na frente em comparação com a

parte de trás. Os discos na região lombar são espessos e mais espessos ventralmente que 14 Fonte: RIBEIRO, 2007

Page 27: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

26

dorsalmente contribuindo para a curvatura lordótica na região. Entre as vértebras existe um

disco que consiste de um anel fibroso e um núcleo pulposo. Fazem parte do complexo

articular entre duas vértebras. O disco intervertebral lombar é abundantemente inervado,

recebendo ramos nervosos comunicantes cinzas dos ramos ventrais e dos nervos

sinuvertebrais. (Figura 2)

Figura 2 - Vista Lateral da Coluna Lombar (L1 a L5)15

A estrutura em discos é pouco resistente a forças contrárias ao seu eixo . É importante

que no decorrer das suas tarefas, os trabalhadores tentem manter os diferentes músculos,

ligamentos e articulações em posições confortáveis. Adicionalmente, as curvaturas naturais da

coluna devem ser “respeitadas” durante a execução do trabalho. Posturas anômalas ou

movimentos bruscos podem lesar os discos intervertebrais, as articulações, os ligamentos e

nervos, provocando dor ou outras perturbações. O resultado de movimentos incorretos

somados ao excesso de peso e repetição são as lombalgias e os entorses.

A lombalgia se dá a partir da evasão de parte do núcleo pulposo por meio do ânulo

fibroso rompido (hérnia de disco). Esta lesão pode ser o resultado tanto de traumas, quanto do

estresse constante sobre a região. Sua ocorrência é verificada, com maior prevalência, entre as

vértebras C6-C7 (6º e 7º vértebra cervical), L4-L5 (4º e 5º vértebra lombar) e a vértebra S1 (1º

sacral). No entanto, os discos L4-L5 e L3-L4 apresentam maior grau de degeneração do que

outros discos da região lombar. (PANJABI et al., 2003 apud PELLENZ, 2003)16. (Figura 3)

15 Fonte: PELLENZ, 2005. 16 PANJABI, M.M. Clinical Spinal instability and low back pain. Journal of Electromyography and Knesiology, v.13, p.371-379, 2003.REILLY.

Page 28: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

27

Figura 3 - Disco vertebral normal e lesionado 17

As situações impostas à coluna vertebral que constituem as causas mais freqüentes de

lombalgia, são descritas como, esforço em flexão, esforço excessivo e esforço inadequado, as

quais isolada ou conjuntamente representam um importante fator de risco de lombalgia.

Quando se levanta a carga na posição o mais ereto possível, o esforço de compressão

distribui-se uniformemente sobre a superfície total de vértebras e discos. Nesta posição

consegue-se reduzir em cerca de 20% a compressão nos discos, em relação ao levantamento

na posição curvada. (Figura 4)

Figura 4 - Técnica para levantamento de carga18

17 Fonte: RIBEIRO, 2007 18 Fonte: http://www.geocities.com/Athens/Troy/8084/Erg_peso.html (acesso em 02/12/2008)

Page 29: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

28

2.3.3 Análise de Posturas

Sabe-se que independente de esforços, a partir dos 30 anos de idade inicia-se um

processo de dessecação progressiva dos discos da coluna vertebral, que sofrem maiores risco

de rompimento e arrancamento, por perda de elasticidade e resistência. Hérnia de disco e

"bico de papagaio" são doenças comuns da coluna em toda a população. A postura no

desenrolar de tarefas pesadas é a principal causa de problemas de coluna, mais precisamente

na hora de levantar, transportar e depositar cargas, ocasião em que os trabalhadores mantêm

as pernas retas e “dobram” a coluna. Quanto maior o peso da carga, maior será a pressão

sobre cada vértebra e cada disco. Quanto mais distante do corpo, maior será a pressão. Cargas

que representam o equivalente a apenas 10% do peso do corpo, já causam problema à coluna.

Seguir normas de movimentação no levantamento de cargas, com posturas corretas é

fator importante para a prevenção no aparecimento de lesões músculo-esqueléticas.

FALCÃO(2003) relata que a dificuldade de identificar e registrar as posturas assumidas por

um trabalhador e os esforços a ele exigidos pela tarefa, fez com que muitos autores

propusessem métodos de registro e análise de postura, visto que a descrição verbal e o registro

fotográfico possuem suas falhas. Para tanto, apresenta vários métodos com enfoques

específicos, atuando em variáveis múltiplas. Dentre eles:

• NIOSH: trata-se de um método desenvolvido pelo National Institute for Occupational

Safety and Health, dos EUA, que revela, por meio de uma equação de seis variáveis – A

Equação de NIOSH, a carga máxima em condições desfavoráveis. As citadas variáveis são

frutos da combinação de fatores epidemiológicos dos distúrbios músculos-esqueléticos,

conceitos biomecânicos, princípios fisiológicos e limites psicofísicos. (CHAFFIN et al, 2001

apud FALCÃO, 2005) 19

A aplicação da equação de NIOSH para o LPR - Limite de Peso recomendado para

MMC é o método oficial utilizado na legislação brasileira. Está no Manual de Aplicação da

Norma Regulamentadora Nº 17, editada em 2002 pelo Ministério do Trabalho e Emprego -

19 CHAFFIN, Don B.; ANDERSSON, Gunnar B.; MARTIN, Bernard J. Biomecânica Ocupacional. Traduzido por Fernanda Saltiel Barbosa da Silva. Belo Horizonte: ERGO Editora, 2001. Tradução de: Occupational Biomechanics.

Page 30: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

29

MTE20 e se aplica às perícias sempre que há questionamentos relativos ao tema. (ANEXO

IV)

Na equação estão relacionadas as seis variáveis: a distância horizontal (H) e a vertical

(V) entre a carga e o corpo; a rotação do tronco (A); o deslocamento vertical da carga (D); a

freqüência do levantamento (F) e a dificuldade de manuseio da carga (M). (Figura 5)

LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM

onde: LPR = Limite de Peso recomendado, calculado em kg;

LC = Constante de carga (adotado o valor de 23 kg);

HM = Função distância horizontal entre o indivíduo e a carga, em cm;

VM = Função distância vertical na origem da carga, em cm;

DM = Função deslocamento vertical entre a origem e o destino, em cm;

AM = Função ângulo de assimetria, medido a partir do plano sagital, em graus;

FM = Função freqüência média de levantamentos, em levantamentos/min;

CM = Função qualidade da pega.

Figura 5 - Variáveis da Equação de NIOSH

20 Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora Nº 17- editado em 2002 pelo MTE com a finalidade de

facilitar a interpretação e aplicação da norma. Fonte: http://www.mte.gov.br/seg_sau/pub_cne_manual_nr17.pdf

(acesso em 2/12/2008)

Page 31: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

30

• Diagrama de áreas dolorosas: divide o corpo em vários segmentos e questiona os

trabalhadores sobre as áreas dolorosas, bem como, o grau de desconforto em cada um dos

segmentos (De 0 a 7 e um nível acima de 3 merece atenção imediata). (Figura 6)

Figura 6 - Diagrama de Áreas Dolorosas21

Os métodos acima são de ampla utilização e poderiam servir de base para estudos mais

profundos e reveladores dos efeitos adversos da MMC. Destaca-se que o método de NIOSH

não leva em conta o risco potencial associado aos efeitos cumulativos dos levantamentos

repetitivos e não considera eventos imprevistos como deslizamentos, quedas, nem sobrecargas

inesperadas. Também não assume a existência de outras atividades de manipulação de carga,

à parte os levantamentos, tais como empurrar, arrastar, carregar, caminhar, subir ou abaixar.

Vale referenciar outros métodos utilizados em maior ou menor escala com a finalidade

de analisar a movimentação de carga, os esforços, a repetitividade, as lesões e tudo que se

relaciona à atividade. A sensibilidade e o conhecimento científico devem conduzir na escolha

do método a ser utilizado isolado ou em conjunto e só para efeito de citação temos:

• a eletromiografia

21 Fonte: RIBEIRO (2007)

Page 32: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

31

• a cinemetria

• o método REBAS (Rapid Entire Body Assessment)

• o método LEST (Laboratoire d’Economie et Sociologie du Travail)

• o método RULA (Rapid Upper Limb Acessment)

• o método OCRA (Occupational Repetitive Action)

• o método OWAS (Ovako Working Posture Analising System )

2.4 A Organização do Trabalho

Do choque entre história individual, com projetos, esperanças e

desejos, e uma organização do trabalho que os ignora, resulta um

sofrimento, que se traduz em insatisfação, medo, angústia do

trabalho, enfim. (DEJOURS, 1988).

Da leitura da abordagem acima, emerge a importância de uma análise ampla da

atividade, partindo de um paradigma antropotecnológico, no qual a noção de contingência e

de mediações cultural e histórica permita compreender comportamentos e sentidos a partir de

uma perspectiva de processo de produção, como inserção de processos de trabalho em um

quadro ampliado de referências histórica, social, cultural, econômica, geográfica, entre outras

(VIDAL, 1995 apud OLIVEIRA, 2005)22. Parece caber no trabalho em estudo, onde todos

estes fatores vão desaguar na visível diferenciação entre a tarefa de levantamento de cargas e

a atividade de levantamento de cargas.

Entendendo melhor e de forma didática, temos: para o trabalhador, a tarefa é o que

define o que tem que ser feito e como os meios para fazê-la estão dispostos. Já a atividade é a

ação como essa tarefa é executada, fruto da integração da tarefa com o homem que a executa.

É da análise e do entendimento real do que é a atividade do carregador, das suas dimensões

físicas, mentais e pessoais que podemos tentar elaborar as relações entre o trabalho e a

saúde.

Voltando à abordagem de Dejours, onde ele aponta a organização do trabalho como

geradora de conflito na medida em que se opõe ao desejo do trabalhador, temos a realidade

limitada do trabalho, advinda muitas vezes do “taylorismo” e do “fordismo” e que acabam por

interferir no conteúdo das tarefas e nas relações humanas. Existem muitos críticos das teorias

22 VIDAL, M. C. R. Antropotecnologia. Rio de Janeiro, 1996. Notas de aula. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia, Doutorado do Programa de Engenharia de Produção.

Page 33: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

32

que relacionam saúde mental (sofrimento) e trabalho, prevalecendo a teoria de que o trabalho

é onipresente e por isso determina as relações com a saúde. De uma maneira geral, resulta em

manifestações individualizadas que podem trazer “sofrimento” ou “prazer”.

Para uns, o trabalho traz consigo a construção da vida e é o fator de status que se

estende para além do ambiente físico do trabalho. Para outros, o trabalho é limitante da sua

liberdade e não traz ganhos, sendo diretamente responsável por danos à saúde.

2.5 Ergonomia

2.5.1 Definições

De forma interdisciplinar, a Ergonomia aborda a atividade sobre os aspectos das

condições de trabalho, desde o trabalho específico, a tarefa, a jornada de trabalho, o horário

de trabalho, salários, além de outros fatores cruciais relacionados com a qualidade de vida.

Fazendo jus a sua amplitude, algumas definições para a Ergonomia:

Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica que trata

da compreensão das interações entre os seres humanos e outros

elementos de um sistema e profissão que aplica teorias, princípios,

dados e métodos a projetos, a fim de otimizar o bem estar humano e a

performance global dos sistemas. (IEA, 2000)23

Ergonomia é a aplicação das ciências biológicas conjuntamente com

as ciências da engenharia para lograr o ótimo ajustamento do homem

ao seu trabalho, e assegurar, simultaneamente, eficiência e bem-estar.

(OIT, 1960) 24

A Ergonomia é uma ciência interdisciplinar. Ela compreende a

fisiologia e a psicologia do trabalho, bem como a antropometria e a

sociedade no trabalho. O objetivo prático da Ergonomia é a adaptação

do posto de trabalho, dos instrumentos, das máquinas, dos horários,

23 Definição de Ergonomia adotada pela IEA - International Ergonomics Association 24 Definição de Ergonomia adotada pela OIT - Organização Internacional do Trabalho

Page 34: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

33

do meio ambiente às exigências do homem. A realização de tais

objetivos, ao nível industrial, propicia uma facilidade do trabalho e

um rendimento do esforço humano (GRANDJEAN, 1998).

Na visão de serviços de Saúde Ocupacional, verifica-se a presença do conceito de

ergonomia como sendo a adaptação do trabalho ao homem e nesse sentido ocorreu a maior

evolução. Compreender o homem, a máquina, o ambiente, a informação, a organização e as

conseqüências do trabalho conduziram a ergonomia para os diversos domínios de

especialização:

• Ergonomia física: o foco está sobre os aspectos físicos da atividade de trabalho que

engloba as questões corpóreas (anatomia, antropometria, fisiologia e biomecânica) e as

questões de meio ambiente de trabalho (ruído, temperatura, iluminação, qualidade do ar, etc.).

Os principais temas abordados pela ergonomia física são: posturas, aplicação de forças, fadiga

física, movimentos repetitivos, ventilação e ruídos dentre outros, interferindo no contexto

físico para evitar posturas e esforços inadequados e garantir conforto ambiental

• Ergonomia cognitiva: refere-se aos processos mentais, tais como: percepção, memória,

raciocínio e resposta motora conforme afetem as interações entre seres humanos e outros

elementos de um sistema. Sua função principal é auxiliar o trabalhador no entendimento das

suas limitações e habilidades, aumentando quando necessário, a probabilidade do acerto na

tomada de decisões

• Ergonomia organizacional: refere-se à otimização dos sistemas sócio técnicos, incluindo

suas estruturas organizacionais, políticas e de processos. Se baseia na premissa de que todo

trabalho se desenvolve no contexto de uma organização, e este contexto, que é peculiar a cada

empresa, obviamente, interfere significativamente no desenvolver do trabalho. Os tópicos

relevantes incluem comunicações, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo,

projeto participativo, novos paradigmas do trabalho, trabalho cooperativo, etc.

2.5.2 As gerações da Ergonomia

Inter-relacionar as diversas nuances da Ergonomia não é tarefa fácil, pois sua natureza

multidisciplinar cria inúmeras facetas e possibilidades de estudos e apreensões sobre as

relações do homem com o seu trabalho.

Page 35: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

34

A ergonomia evoluiu dos esforços do homem em adaptar ferramentas, armas e

utensílios às suas necessidades e características. Seria a Ergonomia física mas a partir da

Revolução Industrial, que propiciou o surgimento da fábrica e a intensificação do trabalho, a

ergonomia vai necessitar e fazer uso de novos conceitos e novas abordagens, dando origem a

múltiplos segmentos de aplicação e configurando os vários estágios.

• Num primeiro estágio conhecido como Ergonomia Física, o foco foi o projeto das

interfaces HOMEM-MÁQUINA, que incluíam os comandos e controles, displays, arranjos do

espaço de trabalho e o ambiente físico do trabalho.

• No segundo estágio, o foco passa a ser as interfaces USUÁRIO-SISTEMA e ocorre uma

mudança na preocupação central do aspecto do homem. Deixa-se de ter como ponto principal

os aspectos físicos e perceptuais do trabalho e passa-se para a sua natureza cognitiva. Esta

alteração se reflete em decorrência de uma presença mais intensiva de sistemas

computacionais no meio de trabalho e, consequentemente, o uso de processamento.

• A terceira geração também conhecida como macro-ergonomia, surge devido às constantes

mudanças decorrentes da organização do trabalho e pelo desenvolvimento tecnológico, e se

caracteriza pela aplicação de conhecimentos sobre pessoas e organizações ao projeto,

implementação e uso de tecnologia. É a interface HOMEM-SISTEMA e vem em resposta a

importantes mudanças que estão afetando o trabalho do homem, particularmente com relação

a: tecnologias; mudanças demográficas; mudanças de valores e aumento da competitividade

mundial.

• O atual caminho da macro-ergonomia, a Ergonomia Participativa, segue para os enfoques

constituintes do sistema de gestão e inclui ferramentas semelhantes e bem conhecidas:

declaração de objetivos, tomada de decisões, solução de problemas e planejamento e

condução das mudanças organizacionais. É a GESTÃO ERGONÔMICA, onde o trabalhador

participa ativamente na tomada de decisão no trabalho. Esta evolução favorece mudanças de

sentimentos, crenças, hábitos e costumes.

GUÈRIN (2006) ajuda a compreender como a atividade real dos trabalhadores é capaz

de reformular as condições materiais e organizacionais do trabalho. É essa atividade real que

Page 36: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

35

contribui para produzir as riquezas da empresa, mas também permite dar o sentido que cada

qual atribui, individualmente e coletivamente, ao trabalho. Permitir esta participação pode ser

o grande enfoque a ser dado à atividade dos carregadores.

2.5.3 A Análise Ergonômica do Trabalho

A MMC pressupõe a utilização do corpo do trabalhador como próprio “instrumento”

de trabalho e isto basta para sua inserção numa visão antropocêntrica que valorize o

trabalhador e o homem pelo “saber fazer”.

Uma ferramenta bastante utilizada e que pode resultar em grandes benefícios para o

trabalhador é a AET - Análise Ergonômica do Trabalho, que traça uma análise cuidadosa de

fatores relacionados à segurança, saúde e produtividade do local de trabalho por meio de uma

descrição sistemática da tarefa ou do local de trabalho, baseada em entrevistas e observações.

Por ser uma abordagem ergonômica, se preocupa em visualizar diferentes aspectos, como: os

movimentos corporais do ser humano, necessários para executar uma tarefa e a medida do

tempo gasto em cada um desses movimentos; a delimitação do objeto de estudo a um aspecto

da situação de trabalho e a decomposição em um sistema humano-tarefa; o conhecimento

sobre o comportamento do ser humano em atividade de trabalho e a conexão diferenciada do

que representa para o trabalhador a tarefa e a atividade. (Figura 7)

Figura 7 - Análise Ergonômica do Trabalho25

25 Fonte: http://www.abmbrasil.com.br/regionais/vale_do_aco.asp (acesso em 12/11/2008)

A AET tem como foco a atividade de trabalho das pessoas, como objeto

à situação onde esta ocorre e como finalidade a transformação para

melhor deste sistema.

E

R

G

O

N

O

M

I

A

Atividade de

Trabalho

Situação de

Trabalho

Foco

Objeto

FinalidadeTransformação

Positiva

Tarefa

Execução

Requisitos

Condições

Contexto

Possibilidades

Page 37: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

36

Na análise do dualismo Trabalho x Saúde, não se pode deixar de reconhecer que a

saúde está estreitamente relacionada com a maneira pela qual o homem produz seus meios de

vida, o trabalho. Na percepção ergonômica, todo e qualquer trabalho possui dois

componentes: o físico e o mental, que necessitam de equilíbrio para proporcionar bem-estar e

saúde. (Figura 8)

Esta percepção quando bem aplicada inter-relaciona os fatores (ocupacionais,

antropométricos, psicossociais e comportamentais) e pode resultar em ações visando:

• Melhor qualidade de vida

• Saúde Física e Mental

• Prevenção de Acidentes

• Melhor Ambiente de Trabalho

• Atendimento a legislação

• Contribuir nas certificações

• Melhor organização do Trabalho

Figura 8 - Efeitos da Ação Ergonômica26

26Fonte: http://www.abmbrasil.com.br/regionais/vale_do_aco.asp (acesso em 12/11/2008)

Ação Ergonômica

Conforto Desconforto Doença

Proativa Reativa

Page 38: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

37

3. DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA

3.1 A Segurança Alimentar

No início do século XX se falava em Segurança Alimentar como sendo a

preocupação com o fato de que as nações não ficassem enfraquecidas por conta da sua

incapacidade de alimentar a população em caso de guerras ou de possíveis cercos

econômicos.

Já na atualidade, a preocupação com a Segurança Alimentar tem tido uma ligação

direta com as lutas contra a fome em todo o mundo e passou a ser entendida como uma

estratégia para o desenvolvimento social. No Brasil, a Lei 11.346 de 15 de setembro de 2006,

criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com vistas a

assegurar o direito humano à alimentação adequada e outras providências.

“O direito à alimentação adequada é direito fundamental do ser humano,

inerente à dignidade e indispensável à realização dos direitos consagrados

na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e

ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança

alimentar e nutricional da população.” (Art. 2o – Lei 11.346 de 15 de

setembro de 2006)27

É sob esta visão que o governo e a sociedade organizada devem nortear suas ações

para o enfrentamento de problemas advindos da insegurança alimentar em qualquer um de

seus aspectos. Segundo dados de 2007 da Organização das Nações Unidas para a Agricultura

e a Alimentação - FAO28, cerca de 29% da população brasileira sofrem com a deficiência

alimentar ou a fome. Destaca ainda que o país ocupa posição de destaque no mundo pelos

avanços já conseguidos em termos de formulação e implementação de uma estrutura voltada

para essa ação.

3.2 O Sistema CEASA

È dentro do contexto de fortalecimento da segurança alimentar que se encontra o

Sistema CEASA, uma rede comercial brasileira do agronegócio que atualmente movimenta

27 Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/Lei/L11346.htm (acesso em 15/11/2008) 28 FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations

Page 39: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

38

cerca de 14 milhões de toneladas de produtos hortigranjeiros e cuja movimentação financeira

pode superar a casa dos U$ 15 bilhões anuais. É uma rede descentralizada, com cerca de 40

unidades administrativas, 53 unidades comerciais principais e outras tantas de menor porte e é

o principal responsável por parcela expressiva do abastecimento alimentar da população

urbana brasileira. Gerida pelo Poder Público, mas operada pela iniciativa privada, o Sistema

Ceasa conta com mais de dez mil empresas diretas envolvidas e constitui-se no principal

veículo de comercialização da cadeia produtiva agro alimentar.29

A criação deste sistema remonta à década de 70, concebido em uma perspectiva

sistêmica, com a constituição do Sistema Nacional de Abastecimento - SINAC. ALTIVO

(2008) relata que o SINAC similarmente ao modelo espanhol, tinha como proposta inicial o

estabelecimento de uma rede de informações técnicas entre todas as unidades atacadistas

regionais para servir como ponto de referência aos negócios entre produtores e distribuidores,

propiciando o melhor ponto de equilíbrio da oferta e preços.

O SINAC, no entanto, foi implementado sem dispor de uma visão estratégica

definida, cujo ritmo de expansão acompanhava o período de grandes investimentos em infra-

estrutura que o Brasil experimentou na década de 70. Ainda assim, foi capaz de implantar

estruturas físicas de comercialização nos principais centros urbanos brasileiros. O programa

gerou, sem dúvida, benefícios para o produtor e consumidor, impactando qualitativamente os

segmentos de produção e comercialização. Consoante com o processo de modernização da

agricultura brasileira e com esquemas de incentivos baseado em vantagens e benefícios

economicamente artificiais, o SINAC logrou uma transformação do sistema produtivo

brasileiro de FLV- Frutas, legumes e verduras e fez com que as Ceasas brasileiras crescessem.

No final de 1986, com a crise fiscal do Estado brasileiro, desmontou-se o Sistema

Nacional de Abastecimento brasileiro, com a transferência do controle acionário das Ceasas

para os Estados e Municípios. Como tal medida não foi precedida de qualquer regra de

transição, institucional ou gerencial, rompeu-se a base central de todo o arcabouço

metodológico que norteava a concepção sistêmica da intervenção governamental no setor. O

propósito do estabelecimento de uma rede nacional integrada de informações, ampliação dos

avanços tecnológicos e de comercialização inter-agentes foi definitivamente prejudicado e as

Ceasas assumiram individualmente suas próprias linhas operacionais. A partir desta

desarticulação, boa parte das Ceasas brasileiras passou a apresentar uma série de deficiências

estruturais e conceituais. Tais deficiências implicaram, em maior ou menor grau, na

29 Dados apresentados no artigo: Sistema Ceasa-uma rede complexa e assimétrica de logística (Altivo R.A. Almeida Cunha e José Bismarck Campos, 2008)

Page 40: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

39

obsolescência das estruturas físicas de comercialização e apoio, bem como na precarização

dos métodos de gestão empresarial. (ALTIVO, 2008)

No fim da década de 90, o processo de renegociação das dívidas dos Estados

brasileiros com a União federalizou para uma posterior privatização, duas das maiores

empresas atacadistas, A CEAGESP (SP) e A CEASAMINAS (MG), que representam

conjuntamente mais de 60% do comércio atacadista de FLV.

3.3 A CEAGESP

A CEAGESP - Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo

surgiu na década de 60, quando o crescimento da cidade exigia uma central atacadista de

grande porte capaz de atender a população do Estado. (Tabela 3)

Tabela 3 - Volume comercializado ETSP (1968 e 1970)

Hoje, o ETSP - Entreposto Terminal de São Paulo está entre os maiores do mundo em

volume de comercialização. Por seus portões passam todos os dias mais de 10 mil toneladas

de frutas, legumes, verduras, pescados e flores vindos de todas as regiões do Brasil e do

exterior, e abastece mais de 60% da Grande São Paulo. Em seus 700 mil metros quadrados, no

entreposto da capital trafegam 1.000 veículos de grande porte, 7000 veículos menores e cerca

de 50 mil pessoas/dia. (Imagem 1)

30 Fonte: Relatório da Diretoria – CEAGESP (1970).

Volume Comercializado - ETSP Hortifrutigranjeiros e Pescados30

ANO TONELADAS

1968 1.107.185

1969 1.099.818

1970 1.257.378

Page 41: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

40

Imagem 1 – Caminhões de carga nas docas (GOMES, 2007)

Complementando, são 3.800 permissionários31 que geram 18.000 empregos diretos e

são responsáveis pela receita mensal de aproximadamente 250 milhões de reais provenientes

da comercialização de 243.000 toneladas.

O Terminal completou seus quarenta anos de existência com alguns problemas

visíveis como a precariedade das instalações físicas que necessitam de reformas emergenciais

e a falta de segurança no espaço interno, exigindo maior controle na circulação de pessoas e

veículos. Estes fatores resultaram no deslocamento de considerável volume comercializado

para as grandes redes de supermercado que montaram plataformas próprias de compras.

Embora várias correntes técnicas e políticas declinem para a construção de um novo

terminal, moderno e bem estruturado, a CEAGESP se impõe e apoiado pelo Governo Federal

está buscando outras formas de modernização através da implementação de algumas políticas

estruturais: geração de emprego e renda, incentivo à agricultura familiar e combate ao

desperdício. E o resultado tem se mostrado na evolução do volume comercializado, conforme

demonstrado. (Tabela 4)

31 Permissionário - pessoa física ou jurídica que obtém a permissão ou concessão de uso de área da CEASA.

Page 42: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

41

Tabela 4 – Volume Comercializado no período de janeiro a setembro (2007 e 2008)32

O espaço do CEAGESP foi projetado para ser dividido em setores, conforme as

características do produto-alimento e de sua comercialização:

- Os setores MFE (Mercado de Frutas Estacionais) e HF (Pavilhões de Hortifrutícolas) são

responsáveis pela embalagem e comercialização de frutas;

- O setor MSC (Mercado de Secos e Cereais) é responsável pela embalagem e

comercialização de verduras;

- Os setores AM e BP são responsável pela embalagem e comercialização de batatas, cebola e

alho;

- O setor MLP que significa Mercado Livre do Produtor, é o pavilhão que vende no atacado e

no varejo, flores, verduras e legumes (Imagem 2);

- Pavilhão PBC (Praça da Batata e Cebola) onde se realiza o varejão, a feira dos automóveis e

a venda de flores no atacado;

- Os pavilhões de AP’s (Armazéns de Produtores).

32 Jornal Entreposto: http://www.jornalentreposto.com.br (acesso em 13/11/2008)

Page 43: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

42

Imagem 2 - Pavilhão denominado Mercado Livre do Produtor (GOMES, 2007)

Há outros espaços diferenciados desse conjunto padronizado de edificações de

concreto, como a área destinada à comercialização do Pescado. ( Imagem 3)

Imagem 3 - Mercado do Peixe (GOMES, 2007)

Como pode ser observado, as edificações são divididas em setores e podem ser

identificadas por um conjunto de letras. Estão subdivididas em pequenos estabelecimentos

Page 44: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

43

denominados de boxes e módulos e são alugados pela administração aos permissionários para

a atividade. Outras atividades de apoio como restaurantes, bancos, correios, escolas, oficinas,

estacionamentos, etc. têm espaços físicos delimitados caracterizando a área interna da

CEAGESP num grande complexo. (Figura 9)

.

Figura 9 – A CEAGESP (GOMES, 2007)

Page 45: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

44

3.4 Os Carregadores

3.4.1 Histórico

MESSEDER (2005)33 relata em seu artigo: a atividade do carregador se constitui

numa das mais importantes no desenvolvimento do mundo que conhecemos hoje. Basta

imaginar que em Angola, nos finais do século XIX existiam ainda cerca de 200 mil

carregadores. Só este dado diz alguma coisa acerca da tremenda saga dos negros que, como

bestas de carga, transportaram às costas, através de montes e savanas, os desbravadores. Eles,

na prática contribuíram para assegurar a viabilidade das expedições, o estabelecimento de

rotas, criar redes de contatos e firmar o império.

No Brasil não foi diferente e só no século XX, com o fim da escravidão e com o

início de construção sistemática de estradas e estradas-de-ferro, é que os carregadores

deixaram gradualmente de ser necessários na forma que inicialmente se constituíam. Mas sua

atividade continuou agora sob a liderança dos comerciantes. Enquanto o fluxo comercial ia

aumentando, com rotas fixas e periodicidade certa, os carregadores continuavam a

desempenhar seu papel: carregar o mundo nas costas e parece que é assim que ainda acontece

nos dias atuais.

3.4.2 Perfil sócio-econômico dos carregadores da CEAGESP

“Entre as flores, as frutas e os pescados encontram-se um exército de

homens vestidos com jaleco (ou guarda-pó) de coloração única, que pode

ser cinza, laranja e branco dependendo do setor; eles estão sentados,

conversam, observam, sozinhos ou em grupos em seus carrinhos numerados

ficam aguardando a sua vez, esperando que sejam chamados para o

trabalho. ... eles passam também ligeiros, carregando frutas, legumes,

verduras, peixes, flores e plantas ornamentais; são responsáveis por

transportar ali os alimentos que abastecem boa parte das mesas da

metrópole paulistana, assim como uma parcela do território nacional.Eles

são os carregadores da CEAGESP.”( GOMES, 2007)

Considerando os carregadores autônomos, esta descrição é um retrato fiel do que pode

33 Messeder, Felipe. Carregadores – Os heróis esquecidos, http://www.alem-mar.org (acesso em 15/11/2008)

Page 46: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

45

Faixa Etária dos Caregadores da CEAGESP

3

160

334

453

497

400

369

294

192

94

65

27 20

0

100

200

300

400

500

600

M enos

de 20

20 a 25 26 a 30 31 a 35 36 a 40 41 a 45 46 a 50 51 a 55 56 a 60 61 a 65 66 a 70 71 a 75 mais de

75

Faixa de Idade

Número d eTrabalhadores

ser observado na CEAGESP. Reconhecidos e cadastrados pela administração do entreposto34

estão cerca de 3.500 trabalhadores, exclusivamente do sexo masculino, com relações de

trabalho definidas, embora, nem sempre observadas.

De acordo com informações contidas na ficha cadastral, GOMES (2007) traçou o

perfil dos carregadores autônomos em detalhes, mas no presente trabalho o pesquisador

prefere apresentá-los sucintamente em gráficos e tabelas e tecer alguns comentários como se

segue.

Gráfico 2 - Faixa Etária dos Carregadores da CEAGESP35

Deste gráfico extraem-se três grupos: o primeiro se constitui de trabalhadores com

idade entre 18 e 29 anos (14,2%); o segundo tem trabalhadores com idade entre 30 e 59 anos e

representa o maior contingente (78,0%) e um terceiro com carregadores que têm mais de 60

anos de idade (7,8%). Apesar do esforço físico que a atividade exige, esses trabalhadores que

podem ser classificados como idosos, ainda se mantêm ativos revelando a precarização das

condições de trabalho. A maioria está nesta atividade desde as décadas de 60 e 70 e poucos se

aposentaram, já que a maioria não tem contribuições previdenciárias que lhe concedam o

benefício. Mesmo aqueles que conseguiram pagar regularmente continuam trabalhando, pois

a aposentadoria resultou em valores nunca superiores a um salário mínimo. Para tornar o

trabalho menos árduo, estas pessoas e as que apresentam enfermidades são direcionadas para

34 Número médio considerando a rotatividade mensal dos trabalhadores 35 Em 417 fichas das 3405 analisadas não foi possível definir a data de nascimento.

Page 47: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

46

Escolaridade dos Carregadores da CEAGESP

406

162

2344

60 1135 23

334

0

500

1000

1500

2000

2500

Nível de Escolaridade

Número de Trabalhadores

o Mercado de Flores, onde o carga laboral é mais leve. Parece ser a solução encontrada para

diminuir as agruras da atividade e recompensá-los pelos serviços prestados. (Imagem 4)

Imagem 4 - Carregador idoso no Mercado de Flores

Gráfico 3 - Nível de Escolaridade dos Carregadores da CEAGESP36

36 O entendimento do nível de escolaridade foi obtido a partir dos dados cadastrais cedidos pela Administração da Companhia. Dos 3405, apenas 23 deles não informaram. O vocabulário utilizado para expressar era diverso e o grupo de analfabetos equivale as seguintes categorias: não alfabetizada, nenhum, e analfabeto; o ciclo básico: tanto o completo quanto o incompleto, em que apareceram todas as séries do ciclo e a expressão que corresponde ao antigo primário. O Ensino Fundamental corresponde ao antigo Primeiro Grau e o Ensino Médio corresponde ao antigo Segundo Grau ou o Colegial.

Page 48: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

47

Como já era esperado, numa atividade onde o esforço físico é mais valorizado do que

o intelectual, a pesquisa revelou um baixo nível de escolaridade entre os carregadores. Os

dados mostram um perfil de escolaridade no qual 12% deles são analfabetos, 5% completaram

o ciclo básico ou apenas iniciaram. Grupo predominante, 68% do total não completaram o

ensino fundamental em concordância com o descrito na CBO2002. Observa-se uma

preocupação destes trabalhadores com relação à modernização do mercado onde

equipamentos, legislações, certificações estão na ordem do dia e não permitem a inserção de

pessoas menos qualificadas. (Imagem 5)

Imagem 5 - Empilhadeira no setor de frutas da CEAGESP (GOMES, 2007)

Os carregadores que se designam autônomos ganham pela quantidade de viagens37ou

carretos38 que fazem. Seu rendimento é claramente vinculado ao esforço físico despendido e

muitas vezes é o fator que desencadeia o aparecimento de doenças ocupacionais.

Há um acordo entre os sindicatos dos carregadores e dos permissionários,

intermediado pela CEAGESP que determina o preço das “viagens”. A tabela39 definida entre

as partes deveria possibilitar um rendimento justo à atividade, mas, desde os anos 90 com

o agravamento da crise econômica esse tabelamento perdeu a sua referência e as negociações

37 Viagens: definido com uma carga completa no carrinho e cuja quantidade de caixas e peso transportado depende do produto. Geralmente cada viagem equivale a 400kg. 38 Carreto: quando se contrata uma carga “fechada”, de um caminhão ou carreta. 39 Fonte: SINCAESP-Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo.

Page 49: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

48

quase sempre passaram a ser individuais, entre carregadores e comerciantes. (Tabela 5)

Tabela 5 - Valor dos diversos tipos de carga manuseadas pelos carregadores

Page 50: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

49

Tabela 5 - Valor dos diversos tipos de carga manuseada pelos carregadores (continuação)

Page 51: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

50

Há informações divergentes sobre os rendimentos atuais dos carregadores embora haja

unanimidade em afirmar que no passado se ganhava bem e muitos conseguiram casa própria,

carro, chácaras e até se tornaram permissionários. Em conversa informal, carregadores

contam que há dias em que não se faz nenhuma carga e se torna comum dividir uma marmita

para três carregadores. De modo geral, a sazonalidade e a irregularidade influenciam no

ganho final e estima-se que um carregador aufere aproximadamente dois salários mínimos

por mês (R$ 800,00). O Gráfico 4 apresenta em números a variação do volume

comercializado ao longo do ano.

Gráfico 4 - Comercialização do ETSP - 2006 e 2007 (GOMES, 2007)

3.4.3 Organização do trabalho

A organização inicial se deu sob a forma de cooperativa, evoluindo para uma

associação e desde o ano de 1990 os carregadores estão organizados através do SINDCAR –

Sindicato dos Carregadores Autônomos de Hortifrutigranjeiros, Pescados e das Centrais de

Abastecimento do Estado de São Paulo, que possui sede própria e está localizado num grande

galpão dentro da área do entreposto. Segundo informações de cadastro, cerca de 70% dos

carregadores são filiados ao sindicato.

Ao SINDCAR cumpre representar os interesses dos trabalhadores visando o seu bem

estar, seja através de questionamentos e acordos políticos ou pela conquista de espaços físicos

e sociais que tragam benefícios aos seus afiliados. Na prática, ao longo dos anos, de forma

pacífica (negociação) ou através de greves, várias conquistas aconteceram:

Page 52: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

51

• Melhores condições de trabalho (em 1978, o gerente do entreposto mandava bater nos

carregadores);

• Revisão da tabela de preços dos serviços (greve por melhores rendimentos)

• Combate à corrupção (demissão de diretoria do entreposto)

• Galpão (sede do sindicato, onde também ficam guardados os carrinhos mediante uma

contribuição mensal de R$ 12,00)

• Chuveiro e banheiros (precários)

• Fundo de Amparo ao Carregador – FAC (cesta básica, medicamentos e eventual auxílio

financeiro é dado ao trabalhador afastado por motivo de saúde. A contribuição

mensal para este fim é de R$ 2,00)

• Atendimento médico e odontológico (a partir de 2001, em alguns dias da semana e para

afiliados ao sindicato que contribuem com R$ 6,00/mês e também dá direito a fazer o exame

médico anual gratuitamente. Para os trabalhadores com mais de 45 anos, é exigido a

realização de exames complementares como hemograma, perfil lipídico, glicemia,

parasitológico de fezes, sumário de urina e dosagem de PSA. Por livre escolha, o exame

pode ser feito através de convênio com o sindicato a um custo médio de R$ 80,00 ou pode

ser realizado no SUS)

No entanto, a maior luta do Sindicato está no campo da manutenção do trabalho do

carregador autônomo diante da redução do volume de trabalho. Combater a entrada de

clandestinos em todos os setores do Entreposto é uma das reivindicações.

Para se cadastrar e conseguir a permissão para trabalhar como carregador autônomo,

primeiro tem que haver disponibilidade de vagas, que é informada à Administração através de

uma comunicação do SINDCAR. Em cumprimento ao acordo entre a CEAGESP e o

SINDICAR, o número de vagas está mantido em 3405 trabalhadores. A indicação de um novo

carregador se dá por ocasião de morte, afastamento definitivo ou desistência do carregador,

que pode “deixar como herança” ou indicar o seu substituto, desde que seja um parente direto

(filho). Em todo caso, a vaga do carregador se configura como um bem e com valor

extremamente disputado. Este sistema parece não condizer com a necessidade de

modernização, tanto das estruturas como das relações de trabalho que deveriam acontecer no

Entreposto.

A rotatividade mensal é de 0,5% não ultrapassando uma média de 20 trabalhadores e

apenas estas vagas são preenchidas, pois há um excesso de carregadores apesar do aumento

Page 53: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

52

do volume comercializado. O fato se deve provavelmente à implementação de sistemas

mecanizados de carga e descarga além da presença indevida de carregadores clandestinos

(não cadastrados). Para o cadastro, o candidato deve apresentar uma série de documentos

conforme discriminado:

• Atestado de Antecedente Criminal e Carteira do D.I.R.D40

• RG; CPF Título de Eleitor, Certificado de Reservista

• 3 fotos 3x4

• Exame médico (realizado no SINDCAR ou através do SUS)

• Comprovante de Residência do candidato (explicitar um ponto de referência)

• Referência Pessoal (nome, endereço, parentesco)

• Comprovante de Registro no INSS

• Comprovante de Inscrição de Autônomo (Prefeitura ou SINCDAR)

Estes documentos são complementados por informações da Ficha de Cadastro, como:

município de origem, estado civil, número de filhos e escolaridade que podem eventualmente

servir de base para traçar o perfil sócio-econômico da categoria. Ressaltamos que a permissão

é válida pelo período de um ano e tem um custo revertido para a CEAGESP de R$ 35,46. Por

ocasião da renovação, o carregador deve apresentar um novo Exame Médico e comprovar o

pagamento da contribuição ao INSS41.

Emitida uma carteira com um Número de Registro, o carregador está apto para

realizar a movimentação manual de cargas (MMC) no setor para o qual lhe foi dada a

permissão, não importando se ele tem conhecimentos suficientes para desempenhar suas

atividades. (Figura 10)

De posse da carteira, o carregador deve ter um carrinho para transporte das

mercadorias. O modelo adotado, salvo pequenas variações, é padronizado na cor cinza que o

identifica como pertencente a um autônomo e pode ser comprado novo (custa R$ 700,00) ou

usado (custa 400,00). Segundo informações pessoais, um carrinho quando “bem cuidado” que

significa passar sempre por manutenções, pode ter uma vida útil de 15 anos. ( Imagem 6)

40 D.I.R.D. - Departamento de Identificação e Registros Diversos ( valor da carteira = R$ 25,21) 41 Geralmente o carregador apresenta um comprovante pago às vésperas da renovação, visando cumprir a exigência e desvirtuando a real finalidade de proteção ao trabalhador. Em Comunicado (DEPEN 38/2008), a CEAGESP informa que a partir de 02/02/2009 será exigido comprovação de regularidade de pagamentos junto ao INSS.

Page 54: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

53

Figura 10 - Carteira do Carregador

Imagem 6 - Carrinho para transporte de produtos

Na seqüência, o carregador deve adquirir um uniforme que se constitui num jaleco42

de cor variada conforme o setor para o qual foi concedida a permissão de trabalho, conforme

explicitado a seguir:

• Uniforme de cor laranja - utilizado pelos carregadores do Mercado de Flores

• Uniforme de cor branca - utilizado pelos carregadores do Mercado de Peixe

• Uniforme de cor cinza - utilizado pelos carregadores dos demais setores

42 O uniforme custa R$ 20,00

Page 55: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

54

Devidamente identificados, uniformizados e munidos do veículo de transporte, os

carregadores podem trabalhar para quem lhe solicitar o serviço. Normalmente, o carregador

possui um ou alguns clientes e para estes presta serviço de forma regular, com dias, horários

e mercadorias pré estabelecidos. É estabelecida uma relação de confiança que pode durar

anos e traz para o carregador algumas vantagens, inclusive orientar e intermediar operações

de compra e venda. Resguardando as particularidades, o trabalho do carregador é o mesmo,

independente do cliente. Transporta número variável de caixas ou sacos, mas o peso sempre

excede o estabelecido. Estudos ergonômicos realizados em 1983 definiu um limite de 300

kg, mas é comum encontrar carregadores transportando 500 a 600 kg, transgredindo as

normas43 que procuram preservar a sua saúde, argumentando a necessidade de maior

rendimento além de atender ao cliente que tem pressa na operação. A perecibilidade do

produto obriga à rápida circulação, sob pena de redução do lucro e esta forma de trabalho nos

remete á observância das exigências da ampliação do capital, que faz o homem disponibilizar

o seu corpo a todo tipo de esforço, intensidade e ritmo. (GAUDEMAR, 1977 apud GOMES,

2007)44

O trabalho autônomo envolve uma gama de fatores que alguns consideram favoráveis,

como a flexibilidade de horários. Ser carregador de alguns setores da CEAGESP como o

Mercado do Peixe e o Mercado de Flores possibilita ao trabalhador exercer uma outra

atividade mesmo que para isso ele tenha que trabalhar muitas horas por dia. Para se ter uma

idéia da logística do Entreposto, abaixo os horários de funcionamento dos diversos setores.

(Tabela 6)

FUNCIONAMENTO

SETOR Dias Horário

Pescado Terça à Sábado 2 às 5

Flores Terça e Sexta 5 às 10

Frutas Segunda à Sábado 6 às 21

Verduras Segunda à Sábado 6 às 21

Tabela 6 - Horário de Funcionamento da CEAGESP

43 A penalidade para a transgressão é a apreensão do carrinho. 44 GAUDEMAR, Jean Paul de. A mobilidade do trabalho e acumulação do capital. Lisboa: Estampa,1977.

Page 56: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

55

Este horário é estabelecido para a entrada de caminhões e a comercialização.

Antecipa-se a estes, o horário de chegada dos carregadores que se deslocam das suas

residências duas horas antes e passam muitas vezes 14 a 16 horas nas dependências do

entreposto. Sem um refeitório próprio, eles comem sentados nos seus carrinhos a refeição

trazida de casa ou comprada no ambiente de trabalho. Têm hábitos alimentares que não

condizem com a atividade, geralmente ricos em gorduras e provavelmente causadores de

dislipidemia.45 A alteração é constatada nos exames médicos e aliada à hipertensão e ao

fumo favorece o surgimento de problemas cardiovasculares.

A estes fatores acrescentem-se as más condições de limpeza do Entreposto. Resíduos

orgânicos em grande volume atraem ratos e baratas; mau-cheiro impregnado nas roupas dos

carregadores do setor de pescados; uniformes molhados e sujos dos carregadores que

transportam caixas de verduras (vêm com lama e nos dias de chuva, a situação se agrava).

Apesar de tudo os carregadores são bem humorados e gostam de conversar.

Provavelmente, a atividade física desenvolvida por eles estimula hormônios e endorfinas

responsáveis pela sensação de bem estar e alivia o estresse a que eles estão continuamente

submetidos. Outro fator é o pleno reconhecimento de que eles desenvolvem uma atividade

que não requer nenhum estudo, apenas habilidades.

3.4.4 Descrição da Atividade e os riscos à saúde

Ser carregador não é tarefa tão simples como se possa pensar. Tem a

carga, a descarga, a distribuição no carrinho, a forma de segurar o

carrinho, o cuidado com a carga, o saber escolher ou conferir a

mercadoria e as relações com o “freguês” e com o “patrão” (é preciso

conquistá-lo com um bom trabalho e criar confiança). Também não pode

“empinar”, que é quando o carrinho alavanca para trás e nada consegue

segurá-lo. Nestas ocasiões, é freqüente perder ou estragar parte da

mercadoria e pior, quebrar a grade do carrinho, este sim, um grande

prejuízo. Além do mais é preciso se cuidar, cuidar do corpo para não

adoecer, e esta tarefa faz parte do trabalho do carregador. (IGUTI,2004)46

45 Dislipidemia é a presença de níveis elevados ou anormais de lípidios e/ou lipoproteínas no sangue. O exame médico constata a alteração além de grande ocorrência de hipertensão arterial. 46 Relato de um carregador autônomo sobre a atividade em artigo da RBSO - Revista Brasileira de Saúde Ocupacional

Page 57: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

56

O ser humano possui grande capacidade para ajustar-se às condições de exposição que

lhe são impostas, adaptando-se rapidamente às situações. Na MMC isto acontece

regularmente e pesquisadores sugerem que a experiência na tarefa pode influenciar nas

respostas do corpo e consequentemente nas lesões resultantes. Porém, é fato incontestável que

o levantamento e transporte de cargas com pesos acima dos limites máximos permitidos, tanto

esporádicos quanto continuamente, provocam dores, deformam as articulações e causam

artrites, além da possibilidade de incapacitar o trabalhador.

Os fatores ambientais são pontos de grande influência neste tipo de atividade, já que o

esforço realizado não depende só do peso, mas também de outros fatores, como: forma,

tamanho, local, sistema de transporte, constituição física do trabalhador, idade, condições

climáticas, etc. e no grupo estudado - os carregadores autônomos, estes fatores estão

sempre associados potencializando o grau de risco da atividade. Vejamos alguns:

• O produto tem forma, peso e tamanhos variáveis - pode ser caixas, sacos, produtos a granel

como melancia, abacaxi, etc. (Imagem 7)

Imagem 7 - Carregadores transportando caixas, sacos

Page 58: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

57

• O local apresenta várias configurações - piso irregular, piso molhado, buracos, rampas de

acesso, tráfego intenso de veículos, corredores de circulação estreitos, etc. (Imagem 8)

Imagem 8 - Tráfego intenso, irregularidades no piso e rampa de acesso

• Constituição física dos carregadores - de todos os tipos: magros, obesos, jovens, idosos,

etc. (Imagem 9)

Page 59: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

58

Imagem 9 - Biótipo dos carregadores

Além dos riscos ergonômicos e de acidentes, há que se considerar a existência de

outros riscos ambientais: os agentes físicos, químicos e biológicos que também são

causadores de danos à saúde dos trabalhadores. (Figura 11 )

MAPA DE RISCOS - CARREGADORES DA CEAGESP

GRUPO 1 VERDE

GRUPO 2 VERMELHO

GRUPO 3 MARROM

GRUPO 4 AMARELO

GRUPO 5 AZUL

Riscos Físicos

Riscos Químicos

Riscos Biológicos

Riscos Ergonômicos

Riscos de Acidentes

Ruído Particulados (poluição)

Bactérias (coliformes)

Levantamento de Peso

Arranjo físico inadequado

Frio Gases (escapamentos dos veículos)

Parasitas (ácaros) (larva migrans)

Postura Inadequada

Iluminação inadequada

Calor Protozoários (amebíase) (leishmaniose)

Ritmo Excessivo de Trabalho

Ausência de sinalização

Umidade Animais Peçonhentos

Esforço Físico Intenso

Piso irregular

Picadas (insetos) Início da Jornada em horário impróprio

Tráfego de veículos

Figura 11 - Mapa de Risco

Page 60: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

59

Salvo pequenas particularidades, a estrutura física da CEAGESP apresenta uma

semelhança entre os diversos galpões, portanto os riscos se apresentam também semelhantes

por todos os setores da atividade dos carregadores. Um Mapa de Risco pode ser elaborado

em função da natureza, concentração, intensidade e tempo de exposição ao agente,

caracterizando-os como: leve, médio e grave, facilitando o entendimento. (Figura 12)

Figura 12 - Classificação dos Riscos quanto à gravidade

Da exposição a estes riscos, várias lesões e doenças podem ocorrer:

• Entorses

• Quedas e atropelamentos

• Varizes

• Problemas musculares

• Problemas na coluna

• Hipertensão e estresse

No estudo em questão, vamos destacar as lesões osteomusculares, embora esta não

seja reconhecida como grave pela maioria dos envolvidos. Para eles, a saúde está associada ao

fato de poder trabalhar, de poder ganhar dinheiro para sustentar a família. Eles se recusam a

reconhecer a doença por entender que ela trará implicações ao orçamento já “apertado” e

também pela própria condição de autônomo que não lhes dá a cobertura previdenciária.

A transcrição que se segue é uma afirmativa desta realidade.

Homem ou mulher, todo estado anormal do corpo traz infalivelmente de

volta a questão do trabalho ou do emprego... Doença e trabalho! Este par

Page 61: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

60

indissoluvelmente ligado guarda um conteúdo específico: a ideologia da

vergonha erigida pelo sub-proletariado não visa a doença enquanto tal,

mas a doença enquanto impedimento ao trabalho (DEJOURS, 1987)

3.4.5 Legislação Aplicável

Resumindo e justificando a inexistência de uma legislação aplicável à segurança e

saúde dos carregadores - trabalhadores autônomos, basta apresentar a NR 1.

NR 1 - Disposições Gerais (101.000-0)47

1.1 As Normas Regulamentadoras - NR, relativas à segurança e medicina

do trabalho, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e

públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem

como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam

empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT.

As elevadas taxas de desemprego favorecem a flexibilização dos direitos e destaca

oportunidades para trabalhadores de alta qualificação com precarização para aqueles que não

se enquadram nas exigências do mercado. Nessa conjuntura adversa e de forma irreversível,

o trabalho autônomo surge como alternativa de renda, mas até o presente momento, sem o

devido respaldo da sociedade e do Estado.

Numa situação diferente, onde estes 3.500 trabalhadores fizessem parte de uma

empresa prestadora de serviços ou fazendo um exercício futurista48, a legislação visualizasse

o entreposto como um grande conglomerado comercial semelhante a um shopping center,

teríamos obrigatoriedade de cumprimento a várias leis e normas, dentre as quais:

• NR 4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho

• NR 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA

• NR6 - Equipamentos de Proteção Individual - EPI

• NR7 - Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO)

47 http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras (acesso em 28/05/07) 48 Há vários estudos que pretendem definir conglomerados comerciais como uma única empresa para fins de cumprimento às NR’s. Situação semelhante já ocorre com os canteiros de obras.

Page 62: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

61

• NR9 - Programas de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA)

• NR11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais

• NR15 - Atividades e Operações Insalubres

• NR17 - Ergonomia

A realidade é bem diferente. Salvo poucos carregadores que contribuem para a

Previdência Oficial, a grande maioria só pode contar com a benevolência dos companheiros

e/ou com o apoio do Sindcar49 nos momentos de necessidade. Às vezes, o “patrão” para o

qual se trabalha há anos, também lhes dá socorro. Independente da origem, o apoio não é uma

obrigação e denota a precariedade das relações de trabalho a que estão submetidos os

carregadores autônomos.

49 Em casos de afastamento, pode receber uma cesta básica e medicamentos por tempo determinado.

Page 63: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

62

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1 Caracterização do Problema

A metodologia científica não deve funcionar como controle pré

sistematizado das estratégias de pesquisa empregadas pelo

investigador, o que significaria o aviltamento de sua liberdade de

pensamento e ação. A compreensão da importância do método para a

pesquisa merece, por isso, ultrapassar os limites formalmente rigorosos.

(MEZZAROBA, 2004)

Devido a sua natureza interdisciplinar, a pesquisa se constituirá num estudo de caso,

na tentativa de abranger as características mais importantes do tema.

LAKATOS (2003) destaca que: o estudo de caso caracteriza-se como uma

metodologia de estudo que se volta à coleta de informações sobre um ou vários casos

particularizados. É também considerado como uma metodologia qualitativa de estudo, pois

não está direcionado a se obter generalizações do estudo e nem há preocupações

fundamentais com tratamento estatístico e de quantificação dos dados em termos de

representação e/ou de índices.

BEZERRA (1998) entende o estudo de caso como a categoria de pesquisa que tem

por objeto de estudo uma unidade (empresa), analisada em profundidade para que as

circunstâncias específicas e as múltiplas dimensões que se apresentam nesta situação,

possam permitir o entendimento do todo.

A escolha do método na visão do autor se deveu ao fato de que o estudo de caso,

embora trate de uma situação particular, traz a reboque outros questionamentos acerca do

objeto em estudo, o que no caso dos carregadores da CEAGESP seria bastante proveitoso.

4.2 Estratégia da Pesquisa

Diante do exposto, a falta de rigidez, a diversidade de métodos e técnicas e a

sensibilidade do pesquisador nortearam os caminhos da pesquisa e numa abordagem

qualitativa e em observação ao pressuposto, a presente pesquisa usou os seguintes

procedimentos:

Page 64: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

63

• Levantamento documental - consultas a documentos, jornais, revistas, periódicos e livros,

que permitiram entender a macro-estrutura social e política da CEAGESP. A caracterização

do ambiente de trabalho e o perfil sócio-econômico do grupo em estudo foram

substancialmente facilitados pela leitura de trabalhos técnicos e científicos realizados

anteriormente.

• Observação participante - procurou avaliar o cotidiano dos carregadores em vários locais

e situações, com o objetivo de verificar o que é seu o trabalho e como fazem para

desempenhá-lo. Também foram coletadas informações com alguns carregadores50 sobre a

atividade de uma maneira geral, suas técnicas, dificuldades e percepções.

• Elaboração do questionário - o questionário semi-estruturado elaborado a partir das

observações resultou em questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que

interessavam à pesquisa, e que poderiam oferecer amplo campo de interrogativas, fruto de

novas hipóteses. Esta etapa possibilitou uma apreensão dos problemas no mundo do trabalho,

tanto no nível concreto das condições de trabalho como do ponto de vista psicossocial.

Proposto ao sindicato, definiu-se a estratégia de abordagem como sendo no espaço físico do

SINDCAR e à hora de saída da maioria dos trabalhadores, que se dá no período

compreendido entre 10 e 15 horas.

• Aplicação do questionário - em abordagens individuais foi apresentado de forma

compreensível, o objetivo da pesquisa e apresentado o questionário cujas respostas foram

registradas pelo pesquisador.51

• Análise dos questionários - procurou compilar as informações em dados que representados

graficamente, facilitou a compreensão e auxiliou na reflexão e nos objetivos do trabalho.

• Análise dos dados - procurou fazer o somatório das percepções do pesquisador e do grupo

pesquisado visando delinear um programa básico de proteção aos carregadores que resultasse

no início de uma cultura voltada para a segurança e saúde.

50 As informações foram dadas por carregadores indicados pelo Sindcar, todos com mais de 15 anos de atividade e que na atualidade estão locados em diferentes setores do entreposto. 51 O fato deveu-se a recusa do entrevistado em responder o questionário de forma pessoal e isolada. Acredita-se que o fato da baixa escolaridade dos entrevistados e a sua dificuldade em interpretar as questões favoreceu este posicionamento.

Page 65: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

64

5. ESTUDO DE CASO: Os Carregadores Autônomos

5.1 A amostragem

Na realização de uma pesquisa, o ideal seria que todos os indivíduos dessa população

fossem pesquisados. No caso, o número de pessoas envolvidas é alto e essa alternativa não é

possível, já que os custos e o tempo necessários tornariam o trabalho inviável. O processo de

amostragem é o instrumento que viabiliza a realização de uma pesquisa de forma barata e

rápida, e quando bem feita permite a generalização da informação da amostra para a

população total da qual foi tirada. Uma amostra de indivíduos de uma população deve conter

essencialmente a mesma variação existente na população, para permitir descrições úteis dela.

Tendo como princípio básico a seleção aleatória, a amostragem probabilística garante

a ausência de vieses conscientes e inconscientes dos pesquisadores e permite estimativas

sobre parâmetros populacionais e de erro, se constituindo em um método eficiente para extrair

uma amostra que reflita corretamente a variação existente na população como um todo.

No caso dos carregadores autônomos como foi visto no Capítulo IV, o perfil

predominante é de pessoas com idade entre 26 e 55 anos e com grau de escolaridade

classificado como ensino fundamental completo.52 Com estas semelhanças, a idéia seria obter

respostas a partir de indivíduos com variações de idade, compleição física, tempo na

atividade, local de trabalho e características da carga, para servir de parâmetros em

subgrupos, porém a primeira dificuldade encontrada foi a indisponibilidade do carregador em

responder ao questionário. Argumentando pressa ou falta de interesse53 a maioria se recusou e

aí, o critério de escolha passou a ser a aceitação da proposta em responder o questionário.

Outra estratégia utilizada foi a de ir à busca dos carregadores no próprio ambiente de

trabalho - o Entreposto. Parece que o SINDCAR para a maioria representa um órgão

regulador e taxador que impõe algumas normas e obrigações, como se fosse um “patrão”.

Talvez eles não percebam a real missão de um sindicato atuante e representativo e na prática,

o sindicato seja apenas o espaço físico onde se inicia e finda a jornada de trabalho.

52 Nas entrevistas realizadas percebeu-se um nível de escolaridade declarado como sendo inferior ao que existe na ficha cadastral e que deu origem ao perfil mencionado. Na maioria das vezes, os entrevistados informaram ter apenas o antigo primário (4ª série) , completo ou incompleto.] 53 Sempre perguntavam “quanto iriam ganhar”, ou diziam “de outra vez eu respondo”. Foi criado como estímulo, um sorteio de uma cesta de natal entre os participantes da pesquisa e resultou numa pequena evolução

Page 66: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

65

5.2 O questionário

Elaborado a partir das observações e das percepções do pesquisador, o questionário54

foi respondido por 38 trabalhadores, cerca de 1,1% do total do grupo em estudo. Este número,

aquém do desejado resultou satisfatório quando foi feita a análise das respostas, pois houve

uniformidade e assertividade que puderam enfatizar a idéia inicial do trabalho.

Criado em grupos de dados, as questões apresentadas aos carregadores foram as

seguintes:

• Dados Pessoais

1.1 Escolaridade: 1.2 Estado civil: 1.3 Nº de Filhos ou Dependentes: 1.5 Idade � 1º Grau Incomp. � Casado/união estável 1.5 Altura � 1º Grau Comp. � Solteiro 1.6 Peso � 2º Grau Incomp. � Separado 1.4 Remuneração(Ceagesp) 1.7 Origem � 2º Grau Comp. � Viúvo �até 500 �500-750 �750-1000 � Superior �1000-1500 �mais de 1500

• Indicadores Gerais de Saúde

2.1 Quantos cigarros você fuma/dia 2.2.Você bebe? Quando: Quanto no período? � Nunca fumei �sim �fim de semana � menos de 2 doses � Parei de fumar. Há Quanto tempo? ___ �não �3-4 dias/sem � entre 3-4 doses � Fumo menos de 10 cigarros por dia �5-6 dias/sem � entre 5-10 doses � Fumo de 10 a 20 cigarros por dia � todos os dias � Mais que 10 doses � Fumo mais que 20 cigarros por dia � Fumo charuto ou cachimbo

Uma dose: ½ garrafa de cerveja, 1 copo de vinho ou 1 dose de destilado

2.3. Atividade Física (futebol, caminhada..): 2.4. Atividade de lazer (passeios, cinema, igreja...): Pratica atividade física regularmente? Tem uma atividade de lazer freqüentemente? � Sim q � Sim

� Não q � Não

Quantas vezes por semana? _______ Quantas vezes por semana? _______

2.5. No final da jornada de trabalho como você se sente,

a. fisicamente b. mentalmente:

� Bem � Bem

� Pouco cansado � Pouco cansado

� Cansado � Cansado

• Descrição da Atividade

3.1. Qual é o setor que você trabalha? 3.2. Há quanto tempo você trabalha nesta atividade?

54 O questionário na sua formatação original encontra-se no Anexo V

Page 67: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

66

3.3. Qual foi a idade que você começou a trabalhar nesta atividade? 3.4 Qual era sua atividade anterior? 3.5 Você tem outra atividade fora do seu trabalho atual? Qual? ____________ 3.6 Qual é o seu horário de trabalho mais comum? _____ Quantas horas/dia(em média)?_______ �Segunda �Terça �Quarta �Quinta �Sexta �Sábado �Domingo 3.7 Você tem pausas regulares? Horas para almoço? ______ 3.8 Qual é o tipo de carga que levanta com mais frequência? �Sacos � Caixas � A granel 3.9 Qual é o peso individual que você costuma carregar? �Até 10kg �10-25kg � 25-40kg � 40-50 kg 3.10 Qual o peso que você costuma carregar no carrinho? �Menos de 200Kg �200-400Kg �Mais de 400Kg

3.11 Recebeu algum treinamento para manusear as cargas? �Técnica? � Segurança?

• Indicadores de Saúde e Segurança no Trabalho

4.1 Você tem alguma doença? medicamentos Sabe quantificar? Foi motivo para ir ao médico? � Diabetes �sim �não glicose ______ �sim �não � Hipertensão. �sim �não pressão ______ �sim �não � Colesterol alto �sim �não colesterol total _____ �sim �não

4.2 Você sente dor ou desconforto em alguma região do corpo durante ou depois do trabalho? �sim �não Qual(s)? ______________

4.3 A dor nas costas é a mais frequente? Qual o grau desta dor? Você já foi ao médico por este motivo? �sim �não �fraca �média �forte �sim �não

4.4 Você já sofreu algum acidente no trabalho?(inclua os pequenos acidentes) Quantas vezes? �sim �não �1 �2-3 �4-5 �mais de 5

4.5 Que tipo de acidente você sofreu?Qual foi a causa?Vc relaciona com a atividade?afastamento? Quantos dias?

4.6 Você acha a sua atividade importante? Como você vê a segurança do trabalho? Dê sugestões.

5.3 As Respostas

Informado sobre o anonimato dado às respostas55 e após a concordância em responder

ao questionário, o carregador convidado a ficar mais à vontade e se sentar se fosse o caso, ia

respondendo as questões e no decorrer da entrevista nitidamente surgia uma descontração e

fluíam mais facilmente as respostas, chegando a se tornar um bate papo de valor inestimável

para a pesquisa.

Algumas falas e comentários foram apreendidos pelo autor e outras foram

transcritas56 de várias pesquisas. Encontram-se apresentadas a seguir de forma descritiva e

55 Procurou-se manter a idéia principal das falas, alterando às vezes as concordâncias no intuito de melhorar a leitura. 56 Manter-se-á o anonimato, apesar de estar nominado no trabalho referenciado.

Page 68: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

67

gráfica no sentido de enriquecimento do trabalho apresentado e no intuito de facilitar a

compreensão do “mundo” dos carregadores autônomos da CEAGESP.

• Escolaridade, idade, origem e atividade anterior :

...eu vim da roça, nunca estudei. Só sei assinar meu nome, meus pais não

me obrigavam a estudar.

...comecei a trabalhar aqui com 19 anos e deixei de estudar. Só fiz a 1ª

série do primário.

... estudo não tenho, profissão não tem também. To com 60 anos e vim do

Piauí ainda novo e não sei aonde vou mais não, porque com a idade que eu

tenho ninguém quer mais não.

Nas respostas obtidas, confirmou-se a baixa escolaridade dos carregadores. A maioria

não chegou a terminar o antigo primário, sendo causa de incômodo e vergonha. Este deve ser

o principal motivo para a recusa em participar da pesquisa. Eles se sentem cidadãos de

segunda classe e a meu ver, a falta de instrução e de informações colaboram para o

desinteresse quanto às questões de segurança e saúde que poderiam ser objeto de

reivindicações entre os órgãos envolvidos na atividade.

... às vezes a gente tem que trocar, a mercadoria vem errada, vem outra

fruta diferente. Ele (o patrão) manda devolver. È a hora mais chata de

trabalhar porque você fica com medo de ser mandado embora ou o cara

mandar a fruta errada de novo, e achar que você não serve pra trabalhar

para ele.

O carregador recebe uma lista do feirante com as quantidades e os produtos que deve

pegar. Ele na maioria das vezes não sabe ler e depende do correto atendimento ao pedido por

parte dos boxes. Se ele tem prática e conhecimento57, ele consegue desempenhar sua atividade

a contento.

57 Ter “conhecimento” significa ter contato antigo com os donos e os empregados dos boxes.

Page 69: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

68

Escolaridade

23,7%

57,9%

15,8%

2,6%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

Analfabeto

s

Primário

(1ª à

4ª s

érie)

Gin

ásio (5

ª à 8

ª série

)

Segundo gra

u

Gráfico 5 – Nível de Escolaridade(2)

... eu vim de Picos no Piauí.. Meu irmão já tava aqui e eu vim aventurar

porque na roça não tem futuro.

Do grupo entrevistado há uma predominância visível de nordestinos que tinham a

agricultura familiar como atividade principal. Os primeiros trabalhadores foram oriundos do

Piauí e com o tempo formou-se uma rede, um complexo sistema de apoio aos conterrâneos

que terminou por gerar muitos empregos dentro do Entreposto. Ou seria de subempregos?

Atividade Anterior

10,5%

89,5%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

Agricultu

ra F

amilia

r

Outro

s

Gráfico 6 – Atividade anterior

Page 70: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

69

...eu vim lá da Cantareira, cheguei aqui com a CEASA, faz 42 anos. Já tô

aposentado, mas continuo vindo trabalhar nas terças e sextas. Já carreguei

muito peso, botava 600, 700 kg no carrinho. Hoje, to nas flores e lá o

serviço é mais levinho. Quando tem peso, os companheiros ajudam..

A idade média dos entrevistados passa dos 50 anos. Há possibilidade de este dado estar

relacionado à disponibilidade em responder as perguntas, pois os mais velhos parecem estar

mais “folgados”, têm menos obrigações e não possuem número considerável de pessoas

dependentes da sua remuneração. Mesmo assim, se observa muitos carregadores com idade

aparente58 entre 50, 60 até 70 anos.

Idade

7,9% 10,5%

39,5%

18,4%23,7%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

20-30 a

nos

31-40 a

nos

41-50 a

nos

50-60 a

nos

+ 60 a

nos

Gráfico 7 – Faixa Etária (2)

• Remuneração e aposentadoria

Olha só, vou te falar uma coisa. Tem gente que tira 2.000 de salário, mas

digamos assim, dez por cento. ... se trabalha em uma firma, tem aqueles que

tem os chefões, os encarregados. Eles têm um salário mais alto. Aqui é o

seguinte, depende muito da sorte, a pessoa tem um serviço que dá pra tirar

isso aí; Mas tem muitos que fica ali na faixa de 700 a 800. Essa é a

média.59

58 Em conversas percebeu-se que a aparência dos carregadores indicava uma idade superior à cronológica, talvez seja consequência do tipo de atividade e da exposição aos raios solares. 59 Relato feito a GOMES (2007)

Page 71: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

70

...fiz apenas dois carretos. Tô aqui desde 5:00 horas da manhã e o ganho

não dá nem pro gasto. No passado, ganhava-se muito, há dez anos. O

serviço tá pouco, mas a gente sempre leva alguma coisa, devido o

conhecimento que a gente tem, é difícil ficar sem fazer nada.

...a gente como autônomo tem uma liberdade, ganha em cima do trabalho.

Se eu quiser, o patrão assina a carteira, mas não tem vantagem, a gente

fica preso, se limita a ele. Aí, a gente não pode fazer mais nada, nem um

biquinho. Não é muito, mas ajuda.

...com o que a gente tem que pagar de taxa pra trabalhar, não sobra para o

INSS. Eu só pago quando tá perto de renovar a carteira e peço a Deus para

não adoecer.

A entrevista apontou rendimentos superiores aos existentes em outras pesquisas.

Parece que a disponibilidade dos mais antigos em responder ao questionário pode ter

conduzido à inobservância de rendimentos inferiores. Os mais antigos trabalham para

permissionários e feirantes certos, como se empregados fossem e assim têm rendimentos mais

elevados e estáveis. Outros são trabalhadores em situação precária, sem conhecimentos e

muitas vezes são subcontratados por carregadores mais experientes e com maior poder de

negociação com os “patrões”. Ganhando bem ou não, na percepção dos carregadores

trabalhar com carteira assinada não lhes trará mais rendimentos e neste caso, não há porque

considerar os benefícios advindos do trabalho formal. Para eles a “liberdade” vale mais e

assim podem ter outras atividades que lhes complementará a renda. Apesar das dificuldades,

ser carregador é uma função bastante disputada e ninguém abre mão dela por motivos fúteis.

Há quem mantenha o cadastro e pague todas as taxas, mesmo exercendo outras atividades

com rendimentos de assalariado. È uma forma de manter o vínculo e garantir a vaga para uma

eventual necessidade.

A maioria também não contribui regularmente para a Previdência Oficial e como

consequência tem-se um contingente de pessoas com idade avançada que continuam

trabalhando, seja por não ter a condição de aposentado ou na melhor das hipóteses é

aposentado, mas percebe apenas um salário mínimo.

Page 72: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

71

Remuneração

13,2%

36,8% 36,8%

5,3%7,9%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

até 5

00 reais

500-750 re

ais

750-1000 re

ais

1000-1500 re

ais

+ 1500 re

ais

Gráfico 8 – Remuneração

• Fumo, bebida, cansaço físico e mental

Quando questionados sobre os temas acima, os carregadores apresentaram respostas

indicativas de bom estado de saúde. O que causou surpresa foi o bem estar mental dos

carregadores e apenas um dos entrevistados termina o seu dia de trabalho com fadiga mental

(estresse). Eles colocam toda sua capacidade laboral na força física e na habilidade em

desempenhar a atividade e isso para eles torna a tarefa fácil. Também não fumam, pelo menos

no momento pois a maioria já deixou de fumar há mais de 10 anos. Quando perguntados

sobre consumo de álcool, eles afirmam beber socialmente, apenas nos fins de semana.

Informações pessoais60 indicam um elevado índice de alcoolismo com trabalhadores

bebendo no ambiente de trabalho, nas inúmeras barracas que existem dentro do espaço físico

da CEAGESP e que o fato é motivo de brigas, mortes e acidentes de trabalho.

• Tempo na atividade e carga horária

...é bem dizer 24 horas aqui dentro da Ceasa e às vezes durmo aqui mesmo

em cima do carrinho.

60 Informações passadas pelo Sindcar e pelos próprios carregadores.

Page 73: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

72

...passa o dia e o cara nem vê. Chego 4:00 da manhã e fico até 8, 9 horas

da noite. Hoje eu só venho nos dias de mais movimento que é segunda,

quarta e sexta feira, mas antigamente eu vinha todo dia.

..cheguei em 1980, no tempo das vacas gordas. Naquele tempo não dava

para parar, era 24 horas e não atendia o público que chegava a 75mil

pessoas. Não se andava nas sextas feiras, a marginal parava. Mas aí veio o

supermercado, a produção própria61 e hoje tem mais carregadores do que

serviço.

No grupo entrevistado, o tempo médio na atividade foi de 25,6 anos. A representação

gráfica confirma a inserção do maior número de carregadores no início dos anos 80 e

apresenta também a dificuldade em conseguir uma vaga nos dias atuais. Apesar das

dificuldades poucos desistem, mudam de atividade ou retornam às suas origens pois a

CEAGESP e o protecionismo do SINDCAR ainda é o caminho para a colocação destes

trabalhadores no “precário” mercado de trabalho.

Tempo na Atividade

28,9%36,8%

21,1%

5,3%7,9%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

0-10 a

nos

11-20 a

nos

21-30 a

nos

31-40 a

nos

+ 40 a

nos

Gráfico 9 - Tempo na Atividade

A precarização do trabalho aparece claramente nos depoimentos e na oposição à

modernização do setor.

61 A produção própria designa os terminais de compra particulares muito utilizados hoje pelas grandes redes de

supermercados e que contribuiu para a redução da comercialização na CEAGESP.

Page 74: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

73

... antes das empilhadeiras a gente tinha mais serviço. Também atrapalha a

circulação e dificulta o trabalho da gente, pois os corredores são muito

estreitos.

A falta de estrutura da CEAGESP e a mudança de hábitos da população contribuíram

para o deslocamento da circulação de alimentos. As dificuldades da vida moderna tiraram do

cotidiano as feiras livres e apresentaram as modernidades e as facilidades das compras em

supermercados com seus horários ampliados e as facilidades de pagamento.

• Treinamento e carga transportada

Porque para subir essas plataformas com o carrinho tem que fazer uma

força muito grande. Se imagina nessa chuva, pra subir a força que a gente

faz é o dobro da força que você faz em linha reta, o dobro ou o triplo na

subida, tem que pedir ajuda.

No começo era meio difícil, porque não tinha treino, não tinha experiência,

aí depois fui aprendendo e peguei prática... os colegas davam umas dicas,

davam uma ajuda, explicavam como é que é [...] aí eu não sabia, aí

quando batia a caixa e caía peixe pra todo lado e machucava a mão, aí foi

aprendendo, aí quando fiquei prático....

Dentre os entrevistados, apenas dois carregadores afirmaram ter participado de

treinamentos relacionados com a atividade. Quando perguntados sobre o conteúdo, constatou-

se que eles entenderam o treinamento como uma palestra ministrada pela CEAGESP com o

objetivo de divulgar a limitação da carga máxima a ser transportada. Nesta palestra foi

explanado os riscos que advêm do excesso de carga e as penalidades impostas para os

carregadores desobedientes. Na sua percepção, os carregadores não absorvem as informações

e procuram apenas “obedecer a lei” para não ser pego pelos fiscais e ficar sem o carrinho.

O carregador iniciante não recebe nenhum treinamento e ainda sofre “booling”62. Os

colegas ficam observando e riem quando o novato empina63 o carrinho, derruba a

carga chegando a perder a mercadoria e tem que pagar para o dono do box.

62 A expressão que vem da língua inglesa é usada para designar atitudes de chacota, piadinhas e agressões entre os indivíduos. 63 É o movimento que o carrinho faz para trás quando é puxado numa rampa, semelhante a um cavalo.

Page 75: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

74

Você só aprende com o tempo e no começo carrega menos caixas. Depois

vai aumentando mas aí é mais difícil arrumar serviço pois o patrão tem

pressa em descarregar o caminhão, senão a fruta estraga.

Só empinei uma vez e tava carregado de morango. Levei um prejuízo que

passei dois meses para pagar. Quando você é indicado já tem quem lhe

conheça e aí diz com fazer. Primeiro você coloca uma caixa no pé do

carrinho que é para apoiar, depois enche. No começo leva 10 caixas,

depois de um dia já leva 15 e assim vai até conseguir levar o que a

fiscalização deixa.

De uma maneira geral os carregadores gostariam de colocar mais carga no carrinho

possibilitando um trabalho mais rápido. (Gráfico 10)

Gráfico 10 - Carga Transportada

Eles entendem que ser um bom carregador é também ser honesto (não desviar

mercadorias) e inteligente ( entender de caixaria, saber que fruta é sensível e saber corrigir64

a mercadoria).

O que é um bom carregador? É aquele que o comprador chega, faz a lista

e entrega pra ele e ele entrega o caminhão pronto. O freguês não precisa se

preocupar, ele paga as contas e vai embora.65

64 Corrigir a mercadoria significa saber escolher e fazer a troca se necessário.

Page 76: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

75

Nesse sentido há concordância com a descrição sobre o zelo: ingrediente necessário

à eficácia de uma organização do trabalho. É a engenhosidade, é o exercício da inteligência

eficiente no trabalho cujas características podem ser enumeradas como saber lidar com o

imprevisto, com o inusitado, com o que não foi ainda assimilado ou rotinizado. (DEJOURS,

2000 apud IGUTI, 2004)66

• Doenças: diabetes, hipertensão e dislipidemia

O serviço médico oferecido pelo sindicato visa cumprir a exigência do laudo médico a

ser apresentado pelos carregadores anualmente para renovação da sua licença. Para obtenção

deste laudo, o carregador se submete a um exame clínico de auscultação e se tiver mais de 45

anos de idade, deve fazer exames complementares (hemograma, dosagens de açúcares e

gorduras, sumário de urina, parasitológico de fezes e o psa). Não há registros para efeito de

acompanhamento ao longo dos anos que evidenciem um controle ou prevenção das doenças

ocupacionais. Nada que se pareça com um PCMSO. (Gráfico 11)

Doenças

21,1%

10,5% 7,9%

60,5%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

Não tem ou

não sabe

Hipertensão Colesterol alto Diabetes

Gráfico 11 - Doenças

65 Relato feito por um permissionário (IGUTI, 2004) 66 DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social, Ed. FGV, Rio de Janeiro, 2000

Page 77: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

76

• Doenças Ocupacionais ou Profissionais

...dor? Tenho um pouquinho, mas no dia seguinte acordo novo e acho

também que é por causa da idade. Quem não tem dor nas costas?

...antigamente os caixotes eram mais pesados e não tinha a fiscalização. A

gente carregava o que agüentava e cabia no carrinho. A gente era novo e aí

agüentava bem, mas hoje a idade e a coluna não permite mais exageros.

Doença Profissional é a doença contraída em consequência de uma exposição, durante

um período de tempo a fatores de riscos decorrentes de uma atividade profissional. Depois de

analisar a atividade e os riscos a que estão submetidos os carregadores, é impossível não

relacionar o alto índice de lesões na coluna com a forma de execução da tarefa. O presente

estudo e as respostas dos entrevistados confirmaram de forma indubitável a cronicidade das

lesões osteo-musculares decorrentes da atividade. (Gráfico 12 )

Gráfico 12 - Dor e/ou Desconforto

Ao grupo que afirmou sofrer dor em qualquer parte do corpo, foi questionado sobre

qual parte do corpo incidia mais as dores e no caso da coluna gerou mais um questionamento

sobre a intensidade da dor. (Gráfico 13 e Gráfico 14)

Page 78: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

77

Dor na Coluna - intensidade

42,1%36,8%

21,1%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

Fraca Média Forte

Parte do Corpo- dor durante ou após o

trabalho

20,7%13,8%

65,5%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

Costas pernas ombros

Gráfico 13 - Parte do Corpo com Dor ou desconforto

Gráfico 14 - Intensidade da Dor na Coluna

• Riscos, danos à saúde e acidentes de trabalho

Entende-se cognição como a capacidade de processar informações, de reagir ao que

percebemos no mundo e em nós mesmos. Parece que no caso dos carregadores, esta

percepção se limita à estreita relação do trabalho com a sobrevivência e de forma inequívoca,

com a liberdade. A grande maioria nunca teve uma relação formal de trabalho e acredita que

Page 79: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

78

suas limitações de escolaridade não lhes trariam melhores rendimentos numa atividade mais

exigente no sentido do intelecto. Por este motivo, eles se consideram satisfeitos e não

conseguem relacionar doenças e lesões à atividade da MMC.

...com o sol na cabeça fica mais difícil porque o pneu do carrinho gruda no

asfalto e dificulta o carrego. Quando chove também não é fácil pois os

buracos ficam alagados e quando a gente vê, já caiu e aí tem de fazer mais

força para tirar o carrinho do buraco.

... já vi muito colega cair e ir direto para o hospital. Acho que estava mal

alimentado e o sol na cabeça aumenta a agitação. O sangue ferve, mas a

gente não pode parar porque senão perde o emprego.

...o pior são os buracos. O sindicato vive pedindo para tapar, mas a Ceasa

não tá nem aí. Ele não se importam com a gente. Se um adoece e se afasta,

tem outro tanto de gente para fazer o serviço.

...e os caminhões correm muito, atropelam e matam. Quando você vê é

mercadoria para um lado e carregador para o outro. Investigação de

acidente? O que é isso?

...se não fosse o clandestino, a gente tinha mais trabalho e ganhava mais.

Também não tem cumprimento à tabela e cada um cobra o que quer. A

tabela só serve para o sindicato mostrar que está lutando por nós. Mas na

prática ela não existe.

...eles querem que a gente aprenda coisa nova, mas isso não dá dinheiro.

Só perde tempo e no fim, outro toma o lugar. O patrão não quer saber se a

gente tem escola. Quer saber se a gente tem força pra fazer o carreto

rápido e sem perder a mercadoria.

A Norma Brasileira de Ergonomia não admite o pagamento por produção quando

existem riscos à saúde dos trabalhadores, uma vez que este tipo de pagamento induz o

trabalhador a ultrapassar os limites fisiológicos em busca de um maior rendimento

financeiro. Os carregadores, à margem da legislação, estão continuamente expostos a um

ritmo excessivo e descompassado de trabalho na busca de manutenção dos seus rendimentos.

Page 80: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

79

Esta forma precária de trabalho atinge os carregadores de várias formas, desde os

riscos e danos à saúde, às formas de pagamento, à organização do trabalho, à invisibilidade

dentre outras. Eles precisam se submeter ao riscos da atividade e não se importarem com as

consequências sejam imediatas ou crônicas, pois mais urgente é obter o pão de hoje.

...eles têm que trabalhar com muita agitação, fazer muita coisa ao mesmo

tempo. Fazer muita força e aí a pressão sobe. O estado constante de rigidez

muscular também eleva a pressão. 67

...para quem trabalha com peso vai ter sempre problemas na coluna, nervo

ciático, varizes. Se você olhar nas pernas dos carregadores, quase todos

têm problemas de varizes. Problemas de joelho, de menisco, porque é muito

peso que se carrega.

A grande maioria dos entrevistados, 79% responderam nunca ter sofrido qualquer

acidente de trabalho mesmo quando explicado pelo autor que o acidente de trabalho não se

relaciona necessariamente a afastamentos. Entre os que sofreram qualquer tipo de acidente,

apenas 13,3% precisou se afastar das atividades, índices difíceis de encontrar em qualquer

empresa com sistemas de gestão de segurança no trabalho implantadas. È estranho mas

compreensível que os carregadores não tenham a noção exata dos riscos a que estão

submetidos. Para eles, perdas de produtos, tropeções, quedas, atropelamentos, infartos,

derrames, mortes, dores nas costas, varizes e outras tantas lesões não estão relacionadas com a

segurança e saúde do trabalhador. A Pirâmide de Bird para eles não deve fazer nenhum

sentido. (Figura 13)

• Anseios e Expectativas

Ao final dos questionamentos, foi solicitado ao carregador que explanasse abertamente

os anseios e as expectativas relacionados à sua atividade. De forma unânime, a principal

reivindicação foi o fechamento dos incontáveis buracos existentes no espaço físico do

67 Relato feito A GOMES (2007) pela médica do SINDCAR.

Page 81: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

80

Figura 13 - Pirâmide de Bird68

Entreposto e melhoria na iluminação para os que trabalham no período noturno. Na percepção

dos carregadores, as condições físicas de conforto são as mais prementes e fáceis de resolver.

Eles estão certos à medida que tais providências só requerem investimentos econômicos e são

de fácil aplicação.

Um outro anseio se refere ao combate do trabalho clandestino. Estas pessoas, muitos

deles empregados de boxes fazendo um “bico”, sem permissão de trabalho, não têm as

mesmas obrigações e portanto não cumprem a tabela de preços dos serviços de MMC,

gerando uma concorrência desleal. Eles se queixam da ineficiência da fiscalização e

argumentam que só existe fiscal para os cadastrados, pois um acordo entre a companhia e o

sindicato só permite a atividade por empregados dos boxes na área das docas descarregando

as mercadorias que chegam do produtor. È proibida também a MMC para os chapas69 de

caminhão.

Nesta observação há uma enorme incoerência quando se observa que muitos deles já

foram clandestinos e na situação de cadastrados trazem parentes e conterrâneos que

desempregados encontram na atividade, mesmo irregular, o único meio de sobreviver. As

68 Estudos mais modernos acrescentam, à base da pirâmide de Bird, um outro nível de ocorrência, anterior e muitas vezes, causas potenciais dos incidentes. Seriam ações e procedimentos de pessoas, de tal forma relevantes, que poderiam causar incidentes, iniciando o processo de futuros acidentes. Estas ações foram denominadas comportamentos críticos. 69 Chapa é um carregador de mercadorias de caminhão (CBO).

Page 82: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

81

contradições aparecem na passagem de clandestino a regular, pois como clandestino a meta é

se tornar regular e depois de regularizado, a luta é contra o clandestino. Estes conflitos estão

cada dia mais presente à medida que ocorre a redução da oferta de trabalho, mas coexistem na

medida em que a solidariedade é a forma de combater uma situação já vivenciada por muitos

dos carregadores.

...você trabalha aqui e aí vem um parente com 17, 18 anos. Serviço aí fora

está muito difícil e então você dá uma mãozinha e ele vem ajudar o pessoal,

tirar uns trocados. Fica esperando uma vaga que surge quando um

cadastrado não aparece para renovar a licença e aí se você tem força70,

você consegue colocar ele legal.

Outra questão abordada refere-se à obrigação em pagar taxas ao sindicato e estar

adimplente com a previdência social. Se não fosse a exigência da CEAGESP, muitos não

contribuiriam para o INSS alegando que o rendimento não permite esta despesa que a seu

ver, deveria ser paga pela Companhia.

...a gente paga hoje dois reais por mês para bancar remédios e cesta básica

em caso de necessidade, mas na hora H quando a gente precisa é um

protocolo para receber.

A modernização do mercado que inexoravelmente terá que vir é um outro

questionamento dos carregadores. Eles reclamam das empilhadeiras, dos pallets e reagem

muitas vezes de forma violenta na justificativa de defesa do seu ganha-pão. A substituição

gradativa do sistema de carga e descarga mecanizada é necessária na política pública de

abastecimento e segurança alimentar e deve contemplar a capacitação dos carregadores para o

exercício de outras atividades.

...é um processo lento, principalmente porque a gente precisa rever a infra-

estrutura. A infra-estrutura da CEAGESP é do final da década de 60 e está

ultrapassada tanto para uso de empilhadeiras como para grandes veículos.

70 Força - neste caso é o conhecimento que se tem com pessoas que têm influência dentro do Sindcar.

Page 83: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

82

Então, enquanto isso não for revisto o processo vai ser lento, mas vai

acontecer. Não tem como frear. 71

...você tem que paletizar porque é loucura o cara ficar batendo caixa por

caixa [...]você leva quinze minutos para descarregar um caminhão

enquanto o carregador leva duas horas; quando é embalado a granel,

como vem o abacaxi, o carregador gasta seis horas. Isso é loucura, produto

perecível [...]o cara tem uma condição de vida pavorosa, carregam um

peso imenso e isso não é ser exigente. Tem que dar um outro caminho, tem

de empurrar a modernização e empurrar a capacitação deles junto. É uma

questão de sobrevivência. 72

...porque os atacadistas têm medo dos carregadores. O carregador é

autônomo, é visto como autônomo, ganha como autônomo e põe na justiça

contra o atacadista. Ao mesmo tempo, o atacadista é obrigado a usar o

carregador por causa do sindicato. Os caras sabem que têm que melhorar,

eles não têm nada de burro. O que precisa é de uma decisão de modernizar

para mudar. 73

Diante desta realidade e deste conflito de interesses e necessidades, é que o autor se

deparou com a maior dificuldade do trabalho. Como inserir neste caótico cenário, cheio de

ambigüidades, qualquer conceito de SST que vise melhorar as condições de trabalho, se no

momento a maior conquista dos carregadores seria a permanência na atividade.

71 Relato feito a GOMES (2007) por Flávio Luis Gedas, chefe da Seção de Economia e Desenvolvimento. 72 Relato feito a GOMES (2007) por Anita Dias Gutierrez, chefe do Centro de Qualidade em Horticultura 73 Id.

Page 84: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

83

6. MELHORES CONDIÇÕES DE TRABALHO: RECOMENDAÇÕES

Cultura é o conjunto de características humanas que não são inatas, e que

se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e

cooperação entre indivíduos em sociedade74

A cultura da segurança compreende comportamento, capacitação, investimentos,

manutenção, fiscalização, participação, tecnologia, enfim, uma série de fatores que dependem

de ações contínuas e do acúmulo de experiência. Construir uma cultura voltada para SST -

Saúde e Segurança no Trabalho é a etapa mais complicada na implantação de um programa

de gestão pois envolve mudanças de hábitos, quebra de paradigmas e requer acima de tudo

persistência pois o processo via de regra é extremamente demorado.

Dar o primeiro passo é fundamental. Melhorar as condições do ambiente e do

exercício do trabalho deve ter como objetivos principais diminuir o custo social com acidentes

de trabalho e com as doenças ocupacionais, valorizar a auto estima e proporcionar a melhoria

contínua da qualidade de vida dos carregadores.

6.1 Envolvimento

O primeiro impasse encontra-se na dicotomia dos principais envolvidos. De um lado,

a função pública de regulamentação do comércio e das normas de uso do espaço de

comercialização, e, de outro, a função logística, de realização econômica do comércio

atacadista de alimentos e bens complementares. Essas duas dimensões explicariam a

permanência de Centrais de Abastecimento sob a regulação e propriedade pública e as

dinâmicas privadas de comércio atacadista, estabelecendo dois eixos de problematização, com

dilemas e desafios próprios dessas dimensões, ainda que imbricados em suas conseqüências.

Para entender esta dificuldade, algumas informações se fazem necessárias.

• A Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB75 é a empresa oficial do Governo

Federal, encarregada de gerir as políticas agrícolas e de abastecimento, visando assegurar o

74 http://www.geocities.com/RainForest/Canopy/9555/glossario_ambiental.htm (acesso em 12/01/2009) 75 CONAB criada por Decreto Presidencial e autorizada pela Lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990, tendo iniciado suas atividades em 1º de Janeiro de 1991.

Page 85: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

84

atendimento das necessidades básicas da sociedade, preservando e estimulando os

mecanismos de mercado.

Missão da CONAB: "Contribuir para a regularidade do abastecimento e

garantia de renda ao produtor rural, participando da formulação e

execução das políticas agrícola e de abastecimento".

O surgimento da CONAB representou um passo importante na racionalização da

estrutura do Governo Federal, pois se originou da fusão de três empresas públicas, a

Companhia Brasileira de Alimentos, a Companhia de Financiamento da Produção e a

Companhia Brasileira de Armazenamento que atuavam em áreas distintas e complementares,

quais sejam, abastecimento, fomento à produção agrícola e armazenagem, respectivamente.

• A Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento - ABRACEN76 é uma sociedade

civil de direito privado, de âmbito nacional, de duração indeterminada, sem finalidade

lucrativa e representa atualmente vinte e oito Centrais de Abastecimento de todo o Brasil.

Tem dentre outra atribuições, melhorar o desempenho da cadeia produtiva de abastecimento

e segurança alimentar, de forma a materializar o resgate da sistematização dos procedimentos

operacionais, introduzidos pelo SINAC, nas Centrais de Abastecimento em nível nacional.

• O contexto atual impõe que as Centrais de Abastecimento circunscritas às áreas de locação

e administração do espaço, com ações centradas na cessão de espaço de comercialização,

assumam posturas pluralistas e pró-ativas, permeando toda a cadeia produtiva do setor de

produtos hortigranjeiros. Neste sentido foi criado pela Portaria 17177 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento o PROHORT - Programa Brasileiro de Modernização

do Mercado Hortigranjeiro

6.2 O PROHORT - Gestão e Metas

Propiciar o restabelecimento de um Sistema Nacional de Centrais de

Abastecimento com objetivo de remontar um sistema nacional de informações,

76 ABRACEN criada no dia 25 de maio de 1986. Fonte: http://www.abracen.org.br/Lnk01.htm (acesso em 12/01/2009) 77 Publicada no Diário Oficial da União em 28/03/2005

Page 86: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

85

possibilitar a modernização da gestão dos mercados e dos serviços de apoio, levar

tecnologia à produção, estreitar os contatos com as Universidades e ampliar as

funções das Centrais de Abastecimento. 78

O PROHORT tem como objetivo coordenar ações com vistas à modernização do

setor. Entre ao oito diretrizes básicas, três se destacam como relacionadas à atividade do

carregador:

...modernizar os processos de gestão técnico-operacional e administrativa

das Centrais de Abastecimento; (III)

...Adequar e modernizar a infra-estrutura física, tecnológica e ambiental

das Centrais de Abastecimento; (V)

...ampliar as funções das Centrais de Abastecimento tornando-as áreas

privilegiadas para execução e difusão das Políticas Públicas,

especialmente no âmbito da saúde, educação e da segurança

alimentar.(VIII)

Numa análise ampla, o PROHORT visa colocar as centrais de abastecimento dentro do

conceito de desenvolvimento sustentável e pressupõe interdisciplinaridade, na medida em

que sua evolução nos leva a trabalhar com três macro-temas que compõem o chamado Triple

Bottom Line, ou seja, os aspectos ambientais, sociais e econômicos. (Figura 14)

Figura 14 - Modelo de Sustentabilidade (Triple Bottom Line)

78 Política do PROHORT - Fonte: http://minas.ceasa.mg.gov.br/prohort/default.asp (acesso em 12/01/2009)

Page 87: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

86

Capitaneado pela CONAB, o PROHORT teve como base uma série de diretrizes feitas

à época do SINAC. O resgate de tudo que havia sido planejado entre 1972 e 1988, com

algumas adaptações para a realidade atual deu origem aos princípios do programa79. Estudos,

manuais e procedimentos foram colocados em pauta e lentamente vêm sendo implementados

dentro dos princípios básicos de um sistema de gestão baseados no ciclo PDCA. (Figura 15)

Figura 15 - Ciclo do PCDA

Com políticas e princípios estruturados de forma a possibilitar as etapas de

planejamento, operação e controle, o programa na sua complexidade carece de um corpo

técnico profundamente conhecedor do assunto. Em janeiro de 2007, a ABRACEN enviou um

documento à Presidência da República apresentando a estrutura e abrangência da Associação,

se colocando como parceiro para execução do programa e como fruto desta parceria, o

programa passou por adequações e resultou uma nova redação que deve ser analisada e

aprovada.80

Enquanto fóruns, discussões e definições estão sendo postas à mesa, algumas

mudanças já são percebidas e vários procedimentos e normas estão gradualmente em fase de

implantação. Embalagens, rotulagens, padrões de classificação fazem parte da rotina do

Entreposto e podem representar o início de um novo modelo para as centrais. Medidas que

79 Material disponível em http://minas.ceasa.mg.gov.br/prohort/acervo_tecnico.asp 80 Proposta apresentada na 17ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Hortaliças, realizada no dia 19 de novembro de 2008, na sede do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em Brasília. Fonte: http://www.abracen.org.br (acesso em 12/01/2009)

Page 88: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

87

visem melhorar as condições de trabalho e preservar a saúde dos trabalhadores, acredito que

ainda não foram detalhadas e não devem estar nas prioridades do PROHORT. De forma

genérica, a única referência diz respeito a treinamentos para os carregadores.

6.3 PROSSC - Programa de Segurança e Saúde do Carregador81

A infra-estrutura física ultrapassada do Entreposto é o grande obstáculo para as

condições seguras de trabalho que deveriam ser ofertadas ao enorme contingente de

trabalhadores. Atender este requisito está dentro das metas do programa e no caso da

CEAGESP, houve estudos para a construção de um novo terminal, dentro de padrões

modernos. Definições sobre o assunto são uma incógnita.

Iniciar a cultura de SST, capacitar os carregadores e lhes dar a oportunidade de

exercício da atividade de forma digna está além da complexidade do sistema e pode começar

a partir de princípios básicos. Ignorar que a premissa de cumprimento às normas e leis

relacionadas com a segurança e saúde dos trabalhadores não são válidas e inexplicavelmente

inexistem dentro de um espaço gerido pelo poder público deve ser um desafio.

O autor acredita que a competência do corpo técnico diretamente envolvido e se

necessário, a participação de entidades especializadas em SST e Universidades, poderia em

paralelo às mudanças estruturais dar início um programa direcionado considerando que os

carregadores registrados ou autônomos, estão submetidos a maiores riscos de danos à saúde e

se constituem num passivo social. A ABRACEN como parceira do PROHORT em conjunto

com o SESMT - Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho

e no caso da CEAGESP, com o apoio e a representatividade do SINDCAR, podem dar o

primeiro passo em direção de uma verdadeira mudança nesta área. Destaca o autor a primeira

e básica condição para o sucesso de qualquer programa - o envolvimento das altas direções e

a alocação de recursos.

Confesso que a observação não foi suficiente e o exíguo período de convivência com

os carregadores não permitiram a elaboração de um programa, com todas as variáveis e

aspectos relacionados à SST e por isso a seguir estão apenas algumas recomendações fruto da

sensibilidade do autor. Algumas objetivam melhorar visivelmente as condições de trabalho,

outras esperam nortear a criação de novas atividades que deslocariam os carregadores do

precário mercado de trabalho, onde se inserem atualmente. Espera o autor, saber que elas

81 PROSSC é o nome do programa em SST criado pelo autor.

Page 89: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

88

foram úteis na análise e reflexão e resultaram em medidas práticas no rigor humano do

cumprimento das mais elementares regras de segurança e de responsabilidade social.

6.3.1 Medidas Estruturais (física/ social/ educacional)

• Manutenção adequada das vias de circulação (fechamento de buracos)

• Criação de vias definidas de circulação para os carregadores e veículos (penalidades)

• Melhoria da Iluminação

• Sinalização

• Espaço disponibilizado para cursos de alfabetização e capacitação diversas (parcerias com

entidades especializadas). Programa de incentivos e criação de um banco de mão de obra

(intercâmbio com SINE)

• Espaço disponibilizado para implantação de uma cooperativa para processamento de

alimentos (doces, conservas, legumes cortados, etc.)

• Espaço disponibilizado para implantação de uma cooperativa de reciclagem (madeira,

papelão, plástico)

• Construção de um restaurante escola nos moldes do restaurante popular (refeições

subsidiadas), baseadas no conceito SESI de aproveitamento integral dos alimentos

• Construção de ambulatório médico e odontológico para atendimento a todos os

trabalhadores (custos tripartites)

• Construção de sanitários

• Construção de pequenos núcleos arborizados com bancos

6.3.2 Medidas de Prevenção (cultura prevencionista)

A Cultura de Segurança é o assumir natural de um conjunto de princípios e atitudes,

que tem na prevenção um fator determinante e é este aspecto que deve ser evidenciado.

Antecipar os acontecimentos previsíveis, e mesmo numa margem razoável, ponderar outros

fatores de potencial risco (imprevisíveis) num exercício lógico de probabilidades requer

conhecimentos para a tomada de decisões planejadas. Neste sentido, órgãos institucionais

como a FUNDACENTRO poderiam ser de grande valia com o seu conhecimento técnico-

científico para solução de várias questões relativas à atividade, como:

Page 90: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

89

• Elaborar PPRA

• Definir riscos envolvidos na atividade ( elaborar matriz probabilidade x gravidade)

• Analisar os esforços e os danos à saúde decorrentes da atividade

Método NIOSH - ANEXO IV

Check List para identificação dos riscos da MMC - ANEXO VI

Criar método próprio

• Criar ferramentas e indicadores de controle das medidas prevencionistas

• Criar fóruns de discussão (nos moldes de uma CIPA)

• Elaborar treinamentos específicos para a atividade com linguagem acessível

• Difusão visual da cultura prevencionista (placas, sinalização)

• Projetar ergonomicamente o carrinho utilizado na MMC ( materiais, formas)

6.3.3 Medidas Organizacionais e Administrativas

A enorme capilaridade de atividades e empregos gerados direta e indiretamente na

cadeia de comercialização favorece uma série de deficiências estruturais e compromete a

premente necessidade de melhoria do sistema logístico e organizacional da CEAGESP.

Medidas administrativas duras podem ser tomadas com o intuito de estabelecer, a médio e

longo prazo, a fixação e permanência da atividade do carregador. Estas medidas carecem de

uma fiscalização eficiente e de penalidades exeqüíveis.

• Em discordância com o papel protecionista do SINDCAR e sem avaliar o impacto da

medida, os postos de trabalho dos carregadores deveriam ser redimensionados, reduzidos de

forma gradual visando a utilização integral da força de trabalho dos carregadores. Para

minimizar os efeitos negativos, a capacitação e o deslocamento para outras atividades

poderiam ser considerados e estimulados.

• Combate ao trabalho clandestino (melhorar a fiscalização e criar mecanismos de controle)

• Para o recadastramento anual e continuidade da permissão de trabalho, os carregadores

obrigatoriamente passariam por uma reciclagem, com abordagens sistêmicas das suas

funções, dos seus direitos e deveres.

Page 91: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

90

• De forma idêntica, outras atividades seriam excluídas e redirecionadas de uma forma mais

ordenada permitindo o uso mais racional do espaço físico do Entreposto. Cafezeiras e

ambulantes poderiam atuar nos diversos núcleos de descanso ( ver 6.3.1) e diminuir o

congestionamento de pessoas em circulação, facilitando o trânsito dos carregadores.

• Proibição da venda de bebida alcoólica dentro do espaço físico do Entreposto (potencializa

a ocorrência de acidentes)

• Exigência de cumprimento às normas da ANVISA para comercialização de alimentos

(promover cursos para os envolvidos), melhorando a qualidade das refeições consumidas

pelos carregadores.

• Combate ao trabalho infantil (já existem grupos ligados ao Ministério Público do Trabalho

elaborando medidas). Esta atividade é ilegal e concorre para a diminuição da oferta de

trabalho aos carregadores.

• Combate à prostituição (foi assinado um termo de cooperação entre a Prefeitura de São

Paulo e a CEAGESP em outubro de 2008 e instalado uma base com agentes).

Elencar algumas medidas e acreditar que sua aplicação, como num passe de mágica,

solucionarão os problemas é uma utopia. A interdisciplinaridade, o enquadramento legislativo

e a intervenção governamental são extremamente necessários. Mas a verdadeira mudança

nesta área, tem de processar-se ao nível de mentalidades e comportamentos. O trabalhador é

peça-chave e a memória de todos que deram a vida ou ficaram incapacitados deve servir de

referência para o empenhamento responsável na redução das sinistralidades, das lesões e

doenças profissionais para níveis aceitáveis.

Page 92: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

91

7. CONCLUSÕES

A precariedade das relações de trabalho são comprovadas. Apenas não define se o

carregador queira se estabilizar ou que ao contrário, escolheu a instabilidade. O fato é que esta

situação concorre para a inobservância de regras básicas de segurança e daí decorre danos à

saúde muitas vezes irreversíveis. A doença ocupacional - lombalgia é para os carregadores a

lesão mais freqüente embora, na maioria das vezes, não os leve à incapacitação.

Questionados, ficou evidente que 76% dos carregadores sentem dor ou desconforto durante

sua atividade e deste grupo cerca de 65% sofrem de dores na região da coluna, caracterizada

como média ou forte por 79% do grupo entrevistado. (Figura 16)

Figura 16 - Danos à saúde mais comuns no exercício da atividade de MMC

Page 93: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

92

A cognição humana é a capacidade de adaptação a situações absolutamente diferentes

em curto espaço de tempo e no caso dos carregadores parece ser o caminho mais curto para o

bem viver. As formas de pagamento, a organização do trabalho, os riscos à saúde, os danos às

mercadorias que resultam em prejuízos, a invisibilidade social, enfim, a estreita relação da

sobrevivência com o trabalho não lhes aflige e no intuito inconsciente do equilíbrio entre o

físico e o mental eles “preferem” entender que à medida que a atividade lhes dá a vida, ela

não pode ser responsabilizada pela doença ou pela morte.

Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não

apenas a ausência de doença (OMS).

...ampliar as funções das Centrais de Abastecimento tornando-as áreas

privilegiadas para execução e difusão das Políticas Públicas,especialmente

no âmbito da saúde, educação e da segurança alimentar (Objetivo do

PROHORT)

O preceito da OMS e a iniciativa do MAPA descritos respectivamente acima,

direcionaram o autor para o conceito mais amplo da Ergonomia, com todas as suas visões,

física, cognitiva e organizacional e permitiram as recomendações descritas no capítulo

anterior. Tendo em vista o estudo de caso ora apresentado, pode-se concluir que a CEAGESP

mesmo carente de estruturas físicas que facilitem a aplicação de um programa de SST, pode a

partir de discussões entre as partes interessadas, iniciar de forma coordenada a implantação de

Sistema de Gerenciamento de Segurança e Saúde Ocupacional.

Este programa deve obrigatoriamente envolver a atividade dos carregadores e lhes

apresentar de forma objetiva os benefícios auferidos pela sua implantação. Neste aspecto,

sugere-se o envolvimento da alta direção e a designação de responsabilidades no

gerenciamento e acompanhamento do desempenho das ações estabelecidas. Iniciar com

metas factíveis, de aplicabilidade fácil e de resultados quase imediatos é essencial pois a

visibilidade pode retornar positivamente na adoção de novas medidas. Investir recursos

econômicos em SST é acima de tudo um ato de inteligência racional à medida que diminui o

passivo social e preserva o bem mais precioso que é a saúde e a vida.

Page 94: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

93

O trabalho apresentado era no início a busca de um exercício de aplicação dos

conhecimentos adquiridos ao longo do curso de Engenharia de Segurança. No intuito de

cumprir a exigência acadêmica, o autor procurava ver nos mundo dos carregadores os

conceitos básicos, as normas, as técnicas de MMC e tudo que teoricamente se relacionava

com a atividade.

Surpreendentemente, o tema é instigante e na sua magnitude trouxe um aprendizado

que não se adquire nos bancos de escola ou nos livros. Trouxe lições de vida e de

solidariedade, de resistência e de felicidade. Aí está um bom exemplo.

Trabalhar deve ser um ato normal de realização de cada um, exercitado em

plena segurança e não deve ser, um permanente risco, um desafio ao

perigo, um andar na corda bamba, entre a queda e o abismo, uma entrega

ao acaso e ao incerto, como se o perigo e os riscos fossem necessariamente

fatalidades insuperáveis e parceiros inevitáveis do Trabalho. De todo não.

O trabalho deve exercer-se com racionalidade, com normalidade, com

tudo o que a prevenção e a segurança podem salvaguardar e garantir.(Rui

Gonçalves da Silva)82

ESTA É A MISSÃO DO ENGENHEIRO DE SEGURANÇA!

82 A Prevenção em Segurança e Saúde no Trabalho: ideias essenciais. Rui Gonçalves da Silva. Fonte: http://www-ilo-mirror.cornell.edu/public/portugue/region/eurpro/lisbon/download/ruisilva.pdf (acesso em 16/01/2009)

Page 95: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

94

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTIVO, R.A. Almeida Cunha e CAMPOS, José Bismarck. Sistema Ceasa: uma rede

complexa e assimétrica de logística, 19p, (2008). (acesso em 12/11/2008)

BEZERRA, Luiz Abner de Holanda.. O estudo da biografia de uma empresa como apoio à

intervenção ergonômica. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Engenharia de Produção,

UFSC, Florianópolis, 1998. http://www.eps.ufsc.br/disserta98/bezerra/index.htm (acesso em

10/10/2008).

DEJOURS, Christhope. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. 2ª ed.

Tradução por Ana Isabel Paraguay e Lúcia Leal Ferreira, São Paulo, Cortez-Oboré, 1987.

FALCÃO, Franciane da Silva. Biomecânica. Manaus: UFAM/ FUCAPI, 2005. 109 slides.

wwwp.feb.unesp.br/abilio/NR11.ppt (acesso em 25/10/2008)

GOMES, Sueli de Castro. O Território de Trabalho dos Carregadores Piauienses no

Terminal da CEAGESP: Modernização, Mobilização e a Migração. Tese de Doutorado, São

Paulo, Departamento de Geografia da FFLCH, USP, 2007.

GRANDJEAN, Etienne. Manual de Ergonomia: Adaptando o Trabalho ao Homem. 4ª ed. São

Paulo, Artmed Editora AS, 1998.

GUÉRIN, F. et al. Compreender o trabalho para Transformá-lo: a prática da ergonomia. São

Paulo, Edgard Blucher, 2006.

IGUTI, Mari Aparecida. Os Carregadores de um Entreposto de Abastecimento: Um Trabalho

Precário. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, Vol. 28 - nº 105/106, São Paulo,

FUNDACENTRO, 2004.

LAKATOS E.M e MARCONI M.A. Fundamentos de Metodologia Científica. 4ª ed. São

Paulo, Atlas, 2001

Page 96: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

95

MERINO, Eugênio A. D. Efeitos agudos e crônicos causados pelo manuseio e movimentação

de cargas no trabalhador. Dissertação de Mestrado, Florianópolis, UFSC, 1996.

MESSEDER, Felipe. Carregadores - Os heróis esquecido. Revista além-mar. http://www.

alem-mar.org/cgi-bin/quickregister/scripts/redirect.cgi?redirect=EEFyVuFZEZrdYSdnEW.

(acesso em 10/10/2008)

MEZZAROBA, Orides. Manual de Metodologia da Pesquisa no Direito. São Paulo,

Saraiva, 2004.

OLIVEIRA, Paulo Antônio Barros. Ergonomia e a Organização do Trabalho: O Papel dos

Espaços de Regulação Individual Social na Gênese das Ler/Dort. Boletim da Saúde, Vol.19,

Nº1, Porto Alegre, 2005. http://www.esp.rs.gov.br/img2/v19%20n1_05Ergonomia.pdf (acesso

em 09/12/2008)

PELLENZ, Cláudia Chaguri de Oliveira. Indicadores de levantamento de carga e parâmetros

mecânicos da coluna vertebral. Dissertação de Mestrado, Curitiba, Universidade Federal do

Paraná, Faculdade de Engenharia Mecânica, 2005.

RIBEIRO, I. A. Vall. Movimentação Manual de Cargas e Análise Ergonômica do Trabalho

em Unidades de Beneficiamento de Tomates de Mesa. Dissertação de Mestrado,

Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Agrícola, Campinas,2007.

SANTOS, Tereza L. F. Coletores de Lixo: A Ambigüidade do Trabalho na Rua . São Paulo,

FUNDACENTRO, 2008.

Page 97: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

96

9. ANEXOS Anexo I - Convenção Nº 127 : PESO MÁXIMO

A Conferência Geral da Organização Internacional do Trabalho convocada em Genebra pelo Conselho

de Administração do Departamento Internacional do Trabalho, e congregada na dita cidade no dia 7 de

junho de 1967, em sua qüinquagésima primeira reunião; Depois de ter decidido adotar diversas

propostas relativas ao peso máximo da carga que pode ser transportada por um trabalhador, questão

que constitui o sexto ponto da ordem do dia da reunião, e depois de ter decidido que ditas propostas

revisam a forma de um convênio internacional, adota, com data de vinte e oito de junho de mil

novecentos e sessenta e sete, o seguinte Convênio, que poderá ser citado como o Convênio sobre o

peso máximo, 1967.

Artigo 1

Para os fins do presente Convênio:

a) a expressão transporte manual de carga significa todo transporte onde o peso da carga é totalmente

suportado por um trabalhador, incluídos o levantamento e a colocação da carga;

b) a expressão transporte manual e habitual de carga significa toda atividade dedicada de maneira

contínua ou essencial ao transporte manual de carga ou toda atividade que normalmente inclua,

embora seja de não contínua, o transporte manual de carga;

c) a expressão jovem trabalhador significa todo trabalhador menor de 18 anos de idade.

Artigo 2

1. O presente Convênio se aplica ao transporte manual e habitual de carga.

2. O presente Convênio se aplica a todos os setores de atividade econômica para os quais o Estado

Membro interessado mantenha um sistema de inspeção do trabalho.

Artigo 3

Não se deverá exigir nem permitir a um trabalhador o transporte manual de carga cujo peso possa

comprometer sua saúde ou sua segurança.

Artigo 4

Para a aplicação do princípio enunciado no Artigo 3, os Membros levarão em consideração todas as

condições em que deva ser executado o trabalho.

Artigo 5

Cada Membro tomará as medidas necessárias para que todo trabalhador empregado no transporte

manual de carga que não seja ligeira receba, antes de iniciar essa tarefa, uma formação satisfatória a

respeito dos métodos de trabalho que deva utilizar, a fim de proteger sua saúde e evitar acidentes.

Artigo 6

Para limitar ou facilitar o transporte manual de carga deverão utilizar-se na máxima medida em que

Page 98: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

97

seja possível, meios técnicos apropriados.

Artigo 7

1. O emprego de mulheres e jovens trabalhadores no transporte manual de carga que não seja ligeira

será limitado.

2. Quando se empregarem mulheres e jovens trabalhadores no transporte manual de carga, o peso

máximo desta carga deverá ser consideravelmente inferior ao que se admite para trabalhadores adultos

de sexo masculino.

Artigo 8

Cada Membro, em consulta com as organizações mais representativas de empregadores e de

trabalhadores interessadas, tomará as medidas necessárias para tornar efetivas as disposições do

presente Convênio, seja por via legislativa ou por qualquer outro método conforme a prática e as

condições nacionais.

Artigo 9

As ratificações formais do presente Convênio serão comunicadas, para seu registro, ao Diretor Geral

do Departamento Internacional do Trabalho.

Artigo 10

1. Este Convênio obrigará unicamente àqueles Membros da Organização Internacional do Trabalho

cujas ratificações tenha registrado o Diretor Geral.

2. Entrará em vigor doze meses depois da data em que as ratificações de dois Membros tenham sido

registradas pelo Diretor Geral.

3. A partir desse momento, este Convênio entrará em vigor, para cada Membro, doze meses depois da

data em que sua ratificação tenha sido registrada.

Artigo 11

1. Todo Membro que tenha ratificado este Convênio poderá denunciá-lo à expiração de um período de

dez anos, a partir da data em que se tenha posto inicialmente em vigor, mediante uma ata comunicada,

para seu registro, ao Diretor Geral do Departamento Internacional do Trabalho. A denúncia não surtirá

efeito até um ano depois da data em que se tenha registrado.

2. Todo Membro que tenha ratificado este Convênio e que, no prazo de um ano depois da expiração do

período de dez anos mencionado no parágrafo precedente, não faça uso do direito de denúncia previsto

neste artigo ficará obrigado durante um novo período de dez anos, e daí por diante poderá denunciar

este Convênio quando da expiração de cada período de dez anos, nas condições previstas neste artigo.

Artigo 12

1. O Diretor Geral do Departamento Internacional do Trabalho notificará a todos os Membros da

Organização Internacional do Trabalho o registro de quantas ratificações, declarações e denúncias lhe

forem comunicadas pelos Membros da Organização.

2. Ao notificar aos Membros da Organização o registro da segunda ratificação que lhe tenha sido

comunicada, o Diretor Geral chamará a atenção dos Membros da Organização sobre a data em que

Page 99: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

98

entrará em vigor o presente Convênio.

Artigo 13

O Diretor Geral do Departamento Internacional do Trabalho comunicará ao Secretário Geral das

Nações Unidas, para os efeitos do registro e de conformidade com o Artigo 102 da Carta das Nações

Unidas, uma informação completa sobre todas as ratificações, declarações e atas de denúncia que

tenha registrado de acordo com os artigos precedentes.

Artigo 14

Cada vez que o considerar necessário, o Conselho de Administração do Departamento Internacional

do Trabalho apresentará à Conferência um relatório sobre a aplicação do Convênio e considerará a

conveniência de incluir na ordem do dia da Conferência a questão de sua revisão total ou parcial.

Artigo 15

1. No caso que a Conferência adote um novo convênio que implique numa revisão total ou parcial do

presente, e a menos que o novo convênio contenha disposições em contrário:

a) a ratificação, por um Membro, do novo convênio revisor implicará, ipso jure, na denúncia imediata

deste Convênio, independente das disposições contidas no Artigo 11, sempre que o novo convênio

revisor tenha entrado em vigor;

b) a partir da data em que entre em vigor o novo convênio revisor, o presente Convênio cessará de

estar aberto à ratificação pelos Membros.

2. Este Convênio continuará em vigor em todo caso em sua forma e conteúdo atuais, para os Membros

que o tenham ratificado e não ratifiquem o convênio revisor.

Artigo 16

As versões inglesa e francesa do texto deste Convênio são igualmente autênticas

Fonte:

Ministério do Trabalho e Emprego - MTE

http://www.mte.gov.br/legislacao/convencoes (acesso em 24/11/2008)

Page 100: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

99

Anexo II - NR 11 (Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais)

Publicação D.O.U.

Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978 06/07/78

Alterações/Atualizações D.O.U.

Portaria SIT n.º 56, de 17 de julho de 2003 06/07/03

Portaria SIT n.º 82, de 01 de junho de 2004 02/06/04

11.1 Normas de segurança para operação de elevadores, guindastes, transportadores industriais e

máquinas transportadoras.

11.1.1 Os poços de elevadores e monta-cargas deverão ser cercados, solidamente, em toda sua altura,

exceto as portas ou cancelas necessárias nos pavimentos.

11.1.2 Quando a cabina do elevador não estiver ao nível do pavimento, a abertura deverá estar

protegida por corrimão ou outros dispositivos convenientes.

11.1.3 Os equipamentos utilizados na movimentação de materiais, tais como ascensores, elevadores de

carga, guindastes, monta-carga, pontes-rolantes, talhas, empilhadeiras, guinchos, esteiras-rolantes,

transportadores de diferentes tipos, serão calculados e construídos demaneira que ofereçam as

necessárias garantias de resistência e segurança e conservados em perfeitas condições de trabalho.

11.1.3.1 Especial atenção será dada aos cabos de aço, cordas, correntes, roldanas e ganchos que

deverão ser inspecionados, permanentemente, substituindo-se as suas partes defeituosas.

11.1.3.2 Em todo o equipamento será indicado, em lugar visível, a carga máxima de trabalho

permitida.

11.1.3.3 Para os equipamentos destinados à movimentação do pessoal serão exigidas condições

especiais de segurança.

11.1.4 Os carros manuais para transporte devem possuir protetores das mãos.

11.1.5 Nos equipamentos de transporte, com força motriz própria, o operador deverá receber

treinamento específico, dado pela empresa, que o habilitará nessa função.

11.1.6 Os operadores de equipamentos de transporte motorizado deverão ser habilitados e só poderão

dirigir se durante o horário de trabalho portarem um cartão de identificação, com o nome e fotografia,

em lugar visível.

11.1.6.1 O cartão terá a validade de 1 (um) ano, salvo imprevisto, e, para a revalidação, o empregado

deverá passar por exame de saúde completo, por conta do empregador.

11.1.7 Os equipamentos de transporte motorizados deverão possuir sinal de advertência sonora

(buzina).

11.1.8 Todos os transportadores industriais serão permanentemente inspecionados e as peças

defeituosas, ou que apresentem deficiências, deverão ser imediatamente substituídas.

Page 101: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

100

11.1.9 Nos locais fechados ou pouco ventilados, a emissão de gases tóxicos, por máquinas

transportadoras, deverá ser controlada para evitar concentrações, no ambiente de trabalho, acima dos

limites permissíveis.

11.1.10 Em locais fechados e sem ventilação, é proibida a utilização de máquinas transportadoras,

movidas a motores de combustão interna, salvo se providas de dispositivos neutralizadores adequados.

11.2 Normas de segurança do trabalho em atividades de transporte de sacas.

11.2.1 Denomina-se, para fins de aplicação da presente regulamentação a expressão "Transporte

manual de sacos" toda atividade realizada de maneira contínua ou descontínua, essencial ao transporte

manual de sacos, na qual o peso da carga é suportado, integralmente, por um só trabalhador,

compreendendo também o levantamento e sua deposição.

11.2.2 Fica estabelecida a distância máxima de 60,00m (sessenta metros) para o transporte manual de

um saco.

11.2.2.1 Além do limite previsto nesta norma, o transporte de carga deverá ser realizado mediante

impulsão de vagonetes, carros, carretas, carros de mão apropriados, ou qualquer tipo de tração

mecanizada.

11.2.3 É vedado o transporte manual de sacos, através de pranchas, sobre vãos superiores a 1,00m (um

metro) ou mais de extensão.

11.2.3.1 As pranchas de que trata o item 11.2.3 deverão ter a largura mínima de 0,50m (cinqüenta

centímetros).

11.2.4 Na operação manual de carga e descarga de sacos, em caminhão ou vagão, o trabalhador terá o

auxílio de ajudante.

11.2.5 As pilhas de sacos, nos armazéns, devem ter altura máxima limitada ao nível de resistência do

piso, à forma e resistência dos materiais de embalagem e à estabilidade, baseada na geometria, tipo de

amarração e inclinação das pilhas. (Alterado pela Portaria SIT n.º 82, de 01 de junho de 2004)

11.2.6 (Revogado pela Portaria SIT n.º 82, de 01 de junho de 2004)

11.2.7 No processo mecanizado de empilhamento, aconselha-se o uso de esteiras-rolantes, dadas ou

empilhadeiras.

11.2.8 Quando não for possível o emprego de processo mecanizado, admite-se o processo manual,

mediante a utilização de escada removível de madeira, com as seguintes características:

a) lance único de degraus com acesso a um patamar final;

b) a largura mínima de 1,00m (um metro), apresentando o patamar as dimensões mínimas de 1,00m x

1,00m (um metro x um metro) e a altura máxima, em relação ao solo, de 2,25m (dois metros e vinte e

cinco centímetros);

c) deverá ser guardada proporção conveniente entre o piso e o espelho dos degraus, não podendo o

espelho ter altura superior a 0,15m (quinze centímetros), nem o piso largura inferior a 0,25m (vinte e

cinco centímetros);

Page 102: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

101

d) deverá ser reforçada, lateral e verticalmente, por meio de estrutura metálica ou de madeira que

assegure sua estabilidade;

e) deverá possuir, lateralmente, um corrimão ou guarda-corpo na altura de 1,00m (um metro) em toda

a extensão;

f) perfeitas condições de estabilidade e segurança, sendo substituída imediatamente a que apresente

qualquer defeito.

11.2.9 O piso do armazém deverá ser constituído de material não escorregadio, sem aspereza,

utilizando-se, de preferência, o mastique asfáltico, e mantido em perfeito estado de conservação.

11.2.10 Deve ser evitado o transporte manual de sacos em pisos escorregadios ou molhados.

11.2.11 A empresa deverá providenciar cobertura apropriada dos locais de carga e descarga da sacaria.

11.3 Armazenamento de materiais.

11.3.1 O peso do material armazenado não poderá exceder a capacidade de carga calculada para o

piso.

11.3.2 O material armazenado deverá ser disposto de forma a evitar a obstrução de portas,

equipamentos contra incêndio, saídas de emergências, etc.

11.3.3. Material empilhado deverá ficar afastado das estruturas laterais do prédio a uma distância de

pelo menos 0,50m (cinqüenta centímetros).

11.3.4 A disposição da carga não deverá dificultar o trânsito, a iluminação, e o acesso às saídas de

emergência.

11.3.5 O armazenamento deverá obedecer aos requisitos de segurança especiais a cada tipo de

material.

11.4 Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Chapas de Mármore, Granito e outras rochas.

(Acrescentado pela Portaria SIT n.º 56, de 17 de setembro de 2003)

11.4.1 A movimentação, armazenagem e manuseio de chapas de mármore, granito e outras rochas

deve obedecer ao disposto no Regulamento Técnico de Procedimentos constante no Anexo I desta NR.

(Acrescentado pela Portaria SIT n.º 56, de 17 de setembro de 2003)

Fonte:

Ministério do Trabalho e Emprego - MTE

http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras (acesso em 24/11/2008)

Page 103: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

102

Anexo III - NR 17 ( Ergonomia / 117.000-7 )

17.1. Esta Norma Regulamentadora visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das

condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar

um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.

17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e

descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de

trabalho, e à própria organização do trabalho.

17.1.2. Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores, cabe ao empregador realizar a análise ergonômica do trabalho, devendo a mesma

abordar, no mínimo, as condições de trabalho, conforme estabelecido nesta Norma Regulamentadora.

17.2. Levantamento, transporte e descarga individual de materiais.

17.2.1. Para efeito desta Norma Regulamentadora:

17.2.1.1. Transporte manual de cargas designa todo transporte no qual o peso da carga é suportado

inteiramente por um só trabalhador, compreendendo o levantamento e a deposição da carga.

17.2.1.2. Transporte manual regular de cargas designa toda atividade realizada de maneira contínua ou

que inclua, mesmo de forma descontínua, o transporte manual de cargas.

17.2.1.3. Trabalhador jovem designa todo trabalhador com idade inferior a 18 (dezoito) anos e maior

de 14 (quatorze) anos.

17.2.2. Não deverá ser exigido nem admitido o transporte manual de cargas, por um trabalhador cujo

peso seja suscetível de comprometer sua saúde ou sua segurança. (117.001-5 / I1)

17.2.3. Todo trabalhador designado para o transporte manual regular de cargas, que não as leves, deve

receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá utilizar,

com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes. (117.002-3 / I2)

17.2.4. Com vistas a limitar ou facilitar o transporte manual de cargas, deverão ser usados meios

técnicos apropriados.

17.2.5. Quando mulheres e trabalhadores jovens forem designados para o transporte manual de cargas,

o peso máximo destas cargas deverá ser nitidamente inferior àquele admitido para os homens, para não

comprometer a sua saúde ou a sua segurança. (117.003-1 / I1)

17.2.6. O transporte e a descarga de materiais feitos por impulsâo ou tração de vagonetes sobre trilhos,

carros de mão ou qualquer outro aparelho mecânico deverão ser executados de forma que o esforço

físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua capacidade de força e não comprometa a sua

saúde ou a sua segurança. (117.004-0 / 11)

17.2.7. O trabalho de levantamento de material feito com equipamento mecânico de ação manual

deverá ser executado de forma que o esforço físico realizado pelo trabalhador seja compatível com sua

capacidade de força e não comprometa a sua saúde ou a sua segurança. (117.005-8 / 11)

Page 104: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

103

17.3. Mobiliário dos postos de trabalho.

17.3.1. Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser

planejado ou adaptado para esta posição. (117.006-6 / I1)

17.3.2. Para trabalho manual sentado ou que tenha de ser feito em pé, as bancadas, mesas,

escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e

operação e devem atender aos seguintes requisitos mínimos:

a) ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade, com a

distância requerida dos olhos ao campo de trabalho e com a altura do assento; (117.007-4 / I2)

b) ter área de trabalho de fácil alcance e visualização pelo trabalhador; (117.008-2 / I2)

c) ter características dimensionais que possibilitem posicionamento e movimentação adequados dos

segmentos corporais. (117.009-0 / I2)

17.3.2.1. Para trabalho que necessite também da utilização dos pés, além dos requisitos estabelecidos

no subitem 17.3.2, os pedais e demais comandos para acionamento pelos pés devem ter

posicionamento e dimensões que possibilitem fácil alcance, bem como ângulos adequados entre as

diversas partes do corpo do trabalhador, em função das características e peculiaridades do trabalho a

ser executado. (117.010-4 / I2)

17.3.3. Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos

de conforto:

a) altura ajustável à estatura do trabalhador e à natureza da função exercida; (117.011-2 / I1)

b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento; (117.012-0 / I1)

c) borda frontal arredondada; (117.013-9 / I1)

d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da região lombar. (117.014-7 / Il)

17.3.4. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados sentados, a partir da análise

ergonômica do trabalho, poderá ser exigido suporte para os pés, que se adapte ao comprimento da

perna do trabalhador. (117.015-5 / I1)

17.3.5. Para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé, devem ser colocados

assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as

pausas. (117.016-3 / I2)

17.4. Equipamentos dos postos de trabalho.

17.4.1. Todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados às

características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.

17.4.2. Nas atividades que envolvam leitura de documentos para digitação, datilografia ou

mecanografia deve:

a) ser fornecido suporte adequado para documentos que possa ser ajustado proporcionando boa

postura, visualização e operação, evitando movimentação freqüente do pescoço e fadiga visual;

(117.017-1 / I1)

Page 105: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

104

b) ser utilizado documento de fácil legibilidade sempre que possível, sendo vedada a utilização do

papel brilhante, ou de qualquer outro tipo que provoque ofuscamento. (117.018-0 / I1)

17.4.3. Os equipamentos utilizados no processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo

devem observar o seguinte:

a) condições de mobilidade suficientes para permitir o ajuste da tela do equipamento à iluminação do

ambiente, protegendo-a contra reflexos, e proporcionar corretos ângulos de visibilidade ao

trabalhador; (117.019-8 / I2)

b) o teclado deve ser independente e ter mobilidade, permitindo ao trabalhador ajustá-lo de acordo

com as tarefas a serem executadas; (117.020-1 / I2)

c) a tela, o teclado e o suporte para documentos devem ser colocados de maneira que as distâncias

olho-tela, olhoteclado e olho-documento sejam aproximadamente iguais; (117.021-0 / I2)

d) serem posicionados em superfícies de trabalho com altura ajustável. (117.022-8 / I2)

17.4.3.1. Quando os equipamentos de processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo

forem utilizados eventualmente poderão ser dispensadas as exigências previstas no subitem 17.4.3,

observada a natureza das tarefas executadas e levando-se em conta a análise ergonômica do trabalho.

17.5. Condições ambientais de trabalho.

17.5.1. As condições ambientais de trabalho devem estar adequadas às características psicofisiológicas

dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.

17.5.2. Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e

atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou

análise de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condiçôes de conforto:

a) níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira registrada no

INMETRO; (117.023-6 / I2)

b) índice de temperatura efetiva entre 20oC (vinte) e 23oC (vinte e três graus centígrados); (117.024-4

/ I2)

c) velocidade do ar não superior a 0,75m/s; (117.025-2 / I2)

d) umidade relativa do ar não inferior a 40 (quarenta) por cento. (117.026-0 / I2)

17.5.2.1. Para as atividades que possuam as características definidas no subitem 17.5.2, mas não

apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10152, o nível de ruído

aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB (A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor

não superior a 60 dB.

17.5.2.2. Os parâmetros previstos no subitem 17.5.2 devem ser medidos nos postos de trabalho, sendo

os níveis de ruído determinados próximos à zona auditiva e as demais variáveis na altura do tórax do

trabalhador.

17.5.3. Em todos os locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou

suplementar, apropriada à natureza da atividade.

Page 106: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

105

17.5.3.1. A iluminaçâo geral deve ser uniformemente distribuída e difusa.

17.5.3.2. A iluminação geral ou suplementar deve ser projetada e instalada de forma a evitar

ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos.

17.5.3.3. Os níveis mínimos de iluminamento a serem observados nos locais de trabalho são os valores

de iluminâncias estabelecidos na NBR 5413, norma brasileira registrada no INMETRO. (117.027-9 /

I2)

17.5.3.4. A medição dos níveis de iluminamento previstos no subitem 17.5.3.3 deve ser feita no campo

de trabalho onde se realiza a tarefa visual, utilizando-se de luxímetro com fotocélula corrigida para a

sensibilidade do olho humano e em função do ângulo de incidência. (117.028-7 / I2)

17.5.3.5. Quando não puder ser definido o campo de trabalho previsto no subitem 17.5.3.4, este será

um plano horizontal a 0,75m (setenta e cinco centímetros) do piso.

17.6. Organização do trabalho.

17.6.1. A organização do trabalho deve ser adequada às características psicofisiológicas dos

trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado.

17.6.2. A organização do trabalho, para efeito desta NR, deve levar em consideração, no mínimo:

a) as normas de produção;

b) o modo operatório;

c) a exigência de tempo;

d) a determinação do conteúdo de tempo; e) o ritmo de trabalho;

f) o conteúdo das tarefas.

17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros,

dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho, deve ser

observado o seguinte:

para efeito de remuneração e vantagens de qualquer

espécie deve levar em consideração as repercussões sobre

a saúde dos trabalhadores; (117.029-5 / I3)

b) devem ser incluídas pausas para descanso; (117.030-9 / I3)

c) quando do retorno do trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze)

dias, a exigência de produção deverá permitir um retorno gradativo aos níveis de produção vigentes na

época anterior ao afastamento. (117.031-7 / I3)

17.6.4. Nas atividades de processamento eletrônico de dados, deve-se, salvo o disposto em convenções

e acordos coletivos de trabalho, observar o seguinte:

a) o empregador não deve promover qualquer sistema de avaliação dos trabalhadores envolvidos nas

atividades de digitação, baseado no número individual de toques sobre o teclado, inclusive o

automatizado, para efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie; (117.032-5)

Page 107: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

106

b) o número máximo de toques reais exigidos pelo empregador não deve ser superior a 8 (oito) mil por

hora trabalhada, sendo considerado toque real, para efeito desta NR, cada movimento de pressão sobre

o teclado; (117.033-3 / I3)

c) o tempo efetivo de trabalho de entrada de dados não deve exceder o limite máximo de 5 (cinco)

horas, sendo que, no período de tempo restante da jornada, o trabalhador poderá exercer outras

atividades, observado o disposto no art. 468 da Consolidação das Leis do Trabalho, desde que não

exijam movimentos repetitivos, nem esforço visual; (117.034-1 / I3)

d) nas atividades de entrada de dados deve haver, no mínimo, uma pausa de 10 (dez) minutos para

cada 50 (cinqüenta) minutos trabalhados, não deduzidos da jornada normal de trabalho; (117.035-0 /

I3)

e) quando do retorno ao trabalho, após qualquer tipo de afastamento igual ou superior a 15 (quinze)

dias, a exigência de produção em relação ao número de tóques deverá ser iniciado em níveis inferiores

do máximo estabelecido na alínea "b" e ser ampliada progressivamente. (117.036-8 / I3)

Fonte:

Ministério do Trabalho e Emprego - MTE

http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras (acesso em 24/11/2008)

Page 108: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

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ANEXO IV - EQUAÇÃO DO NIOSH PARA LEVANTAMENTO MANUAL DE CARGAS

O objetivo desta Nota Técnica é a difusão da equação do NIOSH (National Institute for Occupational

Safety and Health, USA) para sua aplicação prática e para o cálculo do peso máximo recomendado na

manipulação manual de cargas, podendo-se, assim, redesenhar o posto de trabalho e evitar o risco de

sofrer de lombalgia devido à manipulação de cargas.

INTRODUÇÃO

A manipulação e o levantamento de cargas são as principais causas de lombalgia. Estas podem

aparecer por sobreesforço ou como resultado de esforços repetitivos. Outros fatores como empurrar ou

puxar cargas, as posturas inadequadas e forçadas ou as vibrações estão diretamente relacionados com

o aparecimento deste distúrbio. O National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH

desenvolveu em 1981 (NIOSH, 1981) uma equação para avaliar a manipulação de cargas no trabalho.

Sua intenção era criar uma ferramenta para poder identificar os riscos de lombalgia associados à carga

física a que estava submetido o trabalhador e recomendar um limite de peso adequado para cada tarefa

em questão, de maneira que uma determinada percentagem da população – a ser fixada pelo usuário da

equação – pudesse realizar a tarefa sem risco elevado de desenvolver lombalgia. Em 1991, a equação

foi revista e novos fatores foram introduzidos: a manipulação assimétrica de cargas, a duração da

tarefa, a freqüência dos levantamentos e a qualidade da pega. Além disso, discutiram-se as limitações

da equação e o uso de um índice para a identificação de riscos.

Tanto a equação de 1981 como a sua versão modificada em 1991 foram elaboradas levando-se em

conta três critérios: o biomecânico, que limita o estresse na região lombo-sacra, que é o mais

importante em levantamentos pouco freqüentes que, porém, requerem um sobreesforço; o critério

fisiológico, que limita o estresse metabólico e a fadiga associada a tarefas de caráter repetitivo; e o

critério psicofísico, que limita a carga baseando-se na percepção que o trabalhador tem da sua própria

capacidade, aplicável a todo tipo de tarefa, exceto àquelas em que a freqüência de levantamento é

elevada (mais de seis levantamentos por minuto). A revisão da equação, realizada pelo comitê do

NIOSH no ano de 1994, ( WATERS, T. PUTZANDERSON, V.; GARG, A.; FINE, L. 1993 e 1994)

completa a descrição do método e as limitações de sua aplicação (ver tabela 1). De acordo com esta

última revisão, a equação NIOSH para o levantamento de cargas determina o limite de peso

recomendado (LPR), a partir do quociente de sete fatores, que serão explicados mais adiante, sendo o

índice de risco associado ao levantamento, o quociente entre o peso da carga levantada e o limite de

peso recomendado para essas condições concretas de levantamento.

Page 109: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

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CRITÉRIOS: os critérios para estabelecer os limites de carga são de caráter biomecânico, fisiológico

e psicofísico.

CRITÉRIO BIOMECÂNICO

Ao manejar uma carga pesada ou ao fazê-lo incorretamente, aparecem uns momentos mecânicos na

zona da coluna vertebral – concretamente na união dos segmentos vertebrais L5/S1 – que causam um

considerável estresse na região lombar. Das forças de compressão, torção e cisalhamento que

aparecem, considera-se a compressão do disco L5/S1 como a principal causa de risco de lombalgia.

Através de modelos biomecânicos, e usando dados recolhidos em estudos sobre a resistência de tais

vértebras, chegou-se a considerar uma força de 3,4kN como força-limite de compressão para o

aparecimento do risco de lombalgia.

CRITÉRIO FISIOLÓGICO

Ainda que se disponha de poucos dados empíricos que demonstrem que a fadiga aumenta o risco de

danos músculo-esqueléticos, é reconhecido que as tarefas com levantamentos repetitivos podem

facilmente exceder as capacidades normais de energia do trabalhador, provocando uma diminuição

prematura de sua resistência e um aumento da probabilidade de lesão. O comitê do NIOSH em 1991

compilou alguns limites da capacidade aeróbica máxima para o cálculo do gasto energético, que são os

seguintes:

• Em levantamentos repetitivos, 9,5Kcal/min será a capacidade aeróbica máxima de levantamento.

• Em levantamentos que requeiram erguer os braços acima de 75cm, não se superarão os 70% da

capacidade aeróbica máxima.

• Não se superarão os 50%, 40% e 30% da capacidade aeróbica máxima ao calcular o gasto

energético das tarefas de duração de 1 hora, de 1 a 2 horas e de 2 a 8 horas, respectivamente.

CRITÉRIO PSICOFÍSICO

O critério psicofísico se baseia em dado sobre a resistência e a capacidade dos trabalhadores que

manipulam cargas com diferentes freqüências e durações. Baseia-se no limite de peso aceitável para

Page 110: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

109

uma pessoa trabalhando em condições determinadas e integra o critério biomecânico e o fisiológico,

porém tende a sobreestimar a capacidade dos trabalhadores para tarefas repetitivas de duração

prolongada.

COMPONENTES DA EQUAÇÃO : Antes de começar a definir os fatores da equação, deve-se

definir o que se entende por localização-padrão de levantamento. Trata-se de uma referência no espaço

tridimensional para avaliar a postura de levantamento. A distância vertical da pega da carga ao solo é

de 75cm e a distância horizontal da pega ao ponto médio entre os tornozelos é de 25cm. Qualquer

desvio em relação a esta referência implica um afastamento das condições ideais de levantamento (ver

Figura 1).

ESTABELECIMENTO DA CONSTANTE DE CARGA: a constante de carga (LC, load constant)

é o peso máximo recomendado para um levantamento desde que a localização-padrão e em condições

ótimas, quer dizer, em posição sagital (sem torções do dorso nem posturas assimétricas), fazendo um

levantamento ocasional, com uma boa pega da carga e levantando a carga a menos de 25cm. O valor

da constante foi fixado em 23kg. O estabelecimento do valor desta constante levou em conta critérios

biomecânicos e fisiológicos. O levantamento de uma carga igual ao valor da constante de carga em

condições ideais seria realizado por 75% da população feminina e por 90% da masculina, de maneira

tal que a força de compressão no disco L5/S1, produzida pelo levantamento, não supere os 3,4kN.

OBTENÇÃO DOS COEFICIENTES DA EQUAÇÃO: A equação emprega seis coeficientes que

podem variar entre 0 e 1, segundo as condições em que se dá o levantamento. O caráter multiplicativo

da equação faz com que o valorlimite de peso recomendado vá diminuindo à medida que nos

afastamos das condições ótimas de levantamento.

FATOR DE DISTÂNCIA HORIZONTE, HM (HORIZONTAL MULTIPLIER)

Estudos biomecânicos e psicofísicos indicam que a força de compressão no disco aumenta

proporcionalmente à distância entre a carga e a coluna. O estresse por compressão (axial) que aparece

Page 111: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

110

na zona lombar está, portanto, diretamente relacionado a esta distância horizontal (H em cm) que se

define como a distância horizontal entre a projeção sobre o solo do ponto médio entre as pegas da

carga e a projeção do ponto médio entre os tornozelos. Caso H não possa ser medido, pode-se obter

um valor aproximado mediante a equação:

H = 20 + w/2 se V > 25cm

H = 25 + w/2 se V < 25cm onde: W é a extensão da carga no plano sagital

V a altura das mãos em relação ao solo.

O fator de distância horizontal (HM) determina- se como se segue: HM = 25/H

São mais penalizados os levantamentos nos quais o centro de gravidade da carga está separado do

corpo. Se a carga é levantada junto ao corpo ou a menos de 25cm do mesmo, o fator toma o valor 1.

Considera-se que H > 63cm dará lugar a um levantamento com perda de equilíbrio, pelo que se fixará

HM = 0 (o limite de peso recomendado será igual a zero).

FATOR DE ALTURA, VM (VERTICAL MULTIPLIER)

São penalizados os levantamentos nos quais as cargas devem ser apanhadas em posição muito baixa

ou demasiadamente elevada. O comitê do NIOSH estabeleceu em 22,5% a diminuição do

peso em relação à constante de carga para o levantamento até o nível dos ombros e para o

levantamento a partir do nível do solo. Este fator valerá 1 quando a carga estiver situada a 75cm do

solo e diminuirá à medida que nos distanciemos desse valor. Determina- se:

VM = (1 – 0,003 [V – 75]) onde: V é a distância vertical entre o ponto de pega e o solo.

Se V > 175cm, tomaremos VM = 0.

FATOR DE DESLOCAMENTO VERTICAL, DM (DISTANCE MULTIPLIER)

Refere-se à diferença entre a altura inicial e final da carga. O comitê estabeleceu em 15% a diminuição

na carga quando o deslocamento se der desde o solo até além da altura dos ombros. Determina- se:

DM = (0,82 + 4,5/D)

D = V1 – V2 onde: V1 é a altura da carga em relação ao solo na origem do movimento

V2 a altura ao final do mesmo.

Quando D < 25cm, manteremos DM = 1, valor que irá diminuindo à medida que aumenta a distância

de deslocamento cujo valor máximo aceitável se considera 175cm.

FATOR DE ASSIMETRIA, AM (ASYMETRIC MULTIPLIER)

Considera-se como assimétrico um movimento que começa ou termina fora do plano médio-sagital,

como mostra a Figura 2. Este movimento deverá ser evitado sempre que possível. O ângulo de giro

Page 112: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

111

(A) deverá ser medido na origem do movimento e se a tarefa requerer um controle significativo da

carga, isto é, se o trabalhador tiver de colocar a carga de uma forma determinada em seu ponto de

destino, também deverá ser medido o ângulo de giro ao final do movimento.

FOI ESTABELECIDO QUE: AM = 1 – (0,0032A)

O comitê estabeleceu em 30% a diminuição para levantamentos que impliquem torções no tronco de

90o. Se o ângulo de torção for superior a 135o, tomaremos AM = 0.

Podemos encontrar levantamentos assimétricos em várias situações de trabalho:

• quando existe um ângulo entre a origem e o destino do levantamento;

• quando se utiliza o corpo como trajeto do levantamento, como ocorre ao se levantarem sacos ou

caixas;

• em espaços reduzidos ou solos instáveis;

• quando, por motivos de produtividade, se força a redução do tempo de levantamento.

FATOR DE FREQÜÊNCIA, FM (FREQUENCY MULTIPLIER)

Este fator é definido pelo número de levantamentos por minuto, pela duração da tarefa de

levantamento e pela altura dos mesmos. A tabela de freqüência foi elaborada baseando-se em dois

grupos de dados. Os levantamentos com freqüências superiores a quatro levantamentos por minuto

foram estudados segundo um critério psicofísico; os casos de freqüências inferiores foram

determinados por meio das equações de gasto energético (ver Tabela 2). O númeromédio de

levantamentos por minuto deve ser calculado em um período de 15 minutos e naqueles trabalhos em

que a freqüência de levantamento varia de uma tarefa a outra, ou de uma sessão a outra,

deve ser estudado cada caso independentemente.

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FOI ESTABELECIDO QUE: AM = 1 – (0,0032A)

O comitê estabeleceu em 30% a diminuição para levantamentos que impliquem torções no tronco de

90o. Se o ângulo de torção for superior a 135o, tomaremos AM = 0.

Podemos encontrar levantamentos assimétricos em várias situações de trabalho:

• quando existe um ângulo entre a origem e o destino dolevantamento;

• quando se utiliza o corpo como trajeto do levantamento,como ocorre ao se levantarem sacos ou

caixas;

• em espaços reduzidos ou solos instáveis;

• quando, por motivos de produtividade, se força a reduçãodo tempo de levantamento.

FATOR DE FREQÜÊNCIA, FM (FREQUENCY MULTIPLIER)

Este fator é definido pelo número de levantamentos por minuto, pela duração da tarefa de

levantamento e pela altura dos mesmos. A tabela de freqüência foi elaborada baseando-se em dois

grupos de dados. Os levantamentos com freqüências superiores a quatro levantamentos por minuto

foram estudados segundo um critério psicofísico; os casos de freqüências inferiores foram

determinados por meio das equações de gasto energético (ver Tabela 2). O número médio de

levantamentos por minuto deve ser calculado em um período de 15 minutos e naqueles trabalhos em

que a freqüência de levantamento varia de uma tarefa a outra, ou de uma sessão a outra, deve ser

estudado cada caso independentemente.

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113

Quanto à duração da tarefa, considera-se de curta duração quando se tratar de uma hora ou menos de

trabalho (seguida de um tempo de recuperação de 1,2 vezes o tempo de trabalho), de duração

moderada quando é de uma a duas horas (seguida de um tempo de recuperação de 0,3 vezes o tempo

de trabalho), e de grande duração quando é de mais de duas horas.

Se, por exemplo, uma tarefa dura 45 minutos, deveria estar seguida de um período de recuperação de

45 * 1,2 = 54 minutos. Se não for assim, será considerada de duração moderada. Se outra tarefa dura

90 minutos, se não for assim, será considerada de grande duração.

FATOR DE PEGA, CM (COUPLING MULTIPLIER)

É obtido segundo a facilidade da pega e a altura vertical de manipulação da carga. Estudos psicofísicos

demonstraram que a capacidade de levantamento seria diminuída por uma má pega da carga e que isso

implicava a redução do peso entre 7% a 11% (ver Tabelas 3 e 4).

DEFINIÇÕES:

1. Alça de desenho ótimo: é aquela de longitude maior que 11,5cm, de diâmetro entre 2 e 4cm, com

um espaço de 5cm para colocar a mão, de forma cilíndrica e de superfície suave, porém não-

escorregadia.

Page 115: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

114

2. Apoio perfurado de desenho ótimo: é aquele de longitude maior que 11,5cm, largura maior que

4cm, espaço superior a 5cm, com uma espessura maior que 0,6cm na zona de pega e de superfície não-

rugosa.

3. Recipiente de desenho ótimo: é aquele cuja longitude frontal não supera os 40cm, sua altura não é

superior a 30cm e é macio e não-escorregadio ao tato.

4. A pega da carga deve ser tal que a palma da mão fique flexionada em 90o, no caso de uma caixa

deve ser possível colocar os dedos na base da mesma.

5. Recipiente de desenho subótimo: é aquele cujas dimensões não se ajustam às descritas no ponto 3,

ou sua superfície é rugosa ou escorregadia, seu centro de gravidade é assimétrico, possui bordas

afiladas, seu manejo implica o uso de luvas ou seu conteúdo é instável.

6. Peça solta de fácil pega: é aquela que permite ser comodamente abarcada com a mão sem provocar

desvios do punho e sem precisar de uma força de pega excessiva.

IDENTIFICAÇÃO DO RISCO PELO ÍNDICE DE LEVANTAMENTO

A equação NIOSH é baseada no conceito de que o risco de lombalgia aumenta com a demanda de

levantamentos da tarefa. O índice de levantamento que se propõe é o quociente entre o peso da carga

levantada e o peso da carga recomendada segundo a equação NIOSH.

A função risco não está definida, razão pela qual não é possível quantificar de maneira precisa o grau

de risco associado aos incrementos do índice de levantamento. No entanto, podem ser consideradas

três zonas de risco segundo os valores do índice de levantamento obtidos para a tarefa:

1. Risco limitado (índice de levantamento < 1). A maioria dos trabalhadores que realizam este tipo de

tarefa não deveria ter problemas.

2. Aumento moderado do risco (1 < índice de levantamento <3). Alguns trabalhadores podem adoecer

ou sofrer lesões se realizam essas tarefas. As tarefas desse tipo devem ser redesenhadas ou atribuídas

apenas a trabalhadores selecionados que serão submetidos a controle.

3. Aumento elevado de risco (índice de levantamento > 3). Este tipo de tarefa é inaceitável do ponto de

vista ergonômico e deve ser modificada.

PRINCIPAIS LIMITAÇÕES DA EQUAÇÃO

A equação NIOSH foi concebida para avaliar o risco associado ao levantamento de cargas em

determinadas condições, por isso torna-se importante mencionar suas limitações para que não se faça

mau uso da mesma:

• não leva em conta o risco potencial associado aos efeitos cumulativos dos levantamentos repetitivos;

• não considera eventos imprevistos como deslizamentos, quedas nem sobrecargas inesperadas;

• também não foi concebida para avaliar tarefas nas quais se levanta a carga com apenas uma mão,

sentado ou agachado ou quando se trate de carregar pessoas, objetos frios, quentes ou sujos, nem nas

tarefas nas quais o levantamento se faça de forma rápida e brusca;

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115

• pressupõe um atrito razoável entre o calçado e o solo ( m> 0,4);

• se a temperatura ou a umidade estiverem fora da faixa – (19oC, 26oC) e (35%, 50%)

respectivamente, seria necessário acrescentar ao estudo avaliações do metabolismo para que fosse

acrescentado o efeito de tais variáveis ao consumo energético e na freqüência cardíaca;

• torna-se impossível aplicar a equação quando a carga levantada seja instável, situação em que a

localização do centro de massas varia significativamente durante o levantamento. Este é o caso dos

recipientes que contêm líquidos ou dos sacos semivazios.

CÁLCULO DO ÍNDICE COMPOSTO PARA TAREFAS MÚLTIPLAS

Quando o trabalhador realiza várias tarefas nas quais ocorrem levantamentos de cargas, torna-se

necessário o cálculo de um índice composto de levantamento para estimar o risco associado a seu

trabalho. Uma simples média dos distintos índices daria lugar a uma compensação de efeitos que não

estimaria o risco real. A seleção do maior índice não levaria em conta o aumento do risco acarretado

pelas outras tarefas. O NIOSH recomenda o cálculo de um índice de levantamento composto (ILC),

cuja fórmula é a seguinte:

SILC = ILT1 + SDILTi

SDILTi = (ILT2(F1 +F2 ) - ILT2(F1)) + (ILT3(F1 +F2 +F3 ) - ILT3(F1 +F2 )) +...+

(ILTn(F1 +F2 +F3 +...+Fn )- (ILTn(F1 +F2 +F3 +...+F(n-1) ))

onde: ILT1 é o maior índice de levantamento obtido entre todas as tarefas simples;

ILTi (Fi) é o índice de levantamento da tarefa i, calculado na freqüência da tarefa j;

ILTi (Fi + Fk) é o índice de levantamento da tarefa i, calculado na freqüência da tarefa j, mais a

freqüência da tarefa k.

O PROCESSO DE CÁLCULO É O SEGUINTE

1. Cálculo dos índices de levantamento das tarefas simples (ILTi).

2. Ordenamento do maior ao menor dos índices simples (ILT1, ILT2, ILT3 ..., ILTn).

3. Cálculo do acumulado de aumentos de riscos associados às diferentes tarefas simples.

Este incremento é a diferença entre o risco da tarefa simples na freqüência de todas as tarefas simples

consideradas até o momento incluída a atual, e o risco da tarefa simples na freqüência de todas as

tarefas consideradas até o momento, menos a atual:

(ILTi(F1+F2+F3 +...+Fi)- ILTi(F1+F2+F3+...+F(i-1)).

EXEMPLO

Um trabalhador tem como atividade habitual, durante a maior parte de sua jornada de trabalho, a

descarga de sacos e caixas que chegam em seu posto de trabalho em paletes os quais devem ser

colocados em uma cinta transportadora de 75cm de altura (V). Os sacos são de dois tipos, alguns

Page 117: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

116

pesam 20kg e podem ser considerados como tendo boa pega e os outros pesam 25kg e sua pega é

considerada má.

O ritmo de produção e as necessidades de matéria-prima exigem que se descarreguem em freqüências

diferentes. Os sacos de 20kg a 1 por minuto (F1), os de 25kg a 2 por minuto (F2) e as caixas também a

2 levantamentos por minuto (F3).

A altura inicial do palete é de 80cm e, evidentemente, vai diminuindo à medida que se realiza a

descarga. Deparamos, portanto, com dois casos extremos: quando o palete está cheio – e o trabalhador

deve elevar os braços – e quando o palete está quase vazio – e deve agachar-se. Esse exemplo

centralizar-se-á no início da descarga, quando ambos os paletes estão cheios, ocasião em que a

distância de descarga até a correia transportadora é de 80 – 75 = 5cm (D).

Chamaremos de tarefa 1 à descarga de sacos de 20kg, de tarefa 2 à descarga de sacos de 25kg e tarefa

3 à descarga de caixas. As três tarefas são consideradas de duração moderada. A distância horizontal

de pega (H) é de 25cm na tarefa 1 e de 30cm nas tarefas 2 e 3.

Quanto à assimetria do movimento, observa-se que o trabalhador realiza uma torção de 45° (A)

quando descarrega as caixas, e não se observa torção na manipulação de sacos.

As Tabelas 5 e 6 contêm as variáveis e o cálculo dos coeficientes, os limites de peso recomendados e

os índices de risco das tarefas consideradas independentemente.

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Se se quiser calcular o risco total associado à atividade completa deste trabalhador, deve-se calcular o

índice de levantamento composto. Calculados os índices de levantamento das tarefas simples, eles

devem ser ordenados do maior ao menor índice. Nesse caso, a ordem é:

Tarefa 2 (ILT2 = 1,73); Tarefa 3 (ILT3 = 1,1) eTarefa 1 (ILT1 = 0,988).

A FÓRMULA TOMA A SEGUINTE FORMA:

ILC = ILT2(F2)+(ILT3(F2+F3)-ILT3(F2))+(ILT1(F2+F3+F1)-ILT1(F2+F3))

sendo ILT3(F2+F3) o índice de levantamento da tarefa 3 calculado na freqüência soma da freqüência

da tarefa 2 e a tarefa 3 e assim sucessivamente, obtendo-se os seguintes valores:

FM(F2 +F3 ) = FM(2+2) = FM(4) = 0,72

LPR(T3) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FM ž CM = 11,74

ILT3(F2+F3) = carga/LPR(T3) =1,3

FM(F2) = FM(2) = 0,84

LPR(T3) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FMž CM = 13,7

ILT3(F2 ) = carga/LPR(T3) = 1,1

FM(F2+F3+F1) = FM(2+2+1) = FM(5) = 0,6

LPR(T1) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FM ž CM = 13,8

ILT1(F2 +F3 +F1) = carga/LPR(T1) = 1,45

FM(F2+F3) = FM(2+2) = FM(4) = 0,72

LPR(T1 ) = 23 ž HM ž VM ž DM ž AM ž FM ž CM = 16,56

ILT1 (F2 +F3) = carga/LPR(T1) = 1,2

ILC = 1,73 + (1,31,1) + (1,451,2) = 2,17

Conclui-se, portanto, que o índice de levantamento associado à atividade composta das três tarefas é

2,17, o que implica um risco importante do ponto de vista ergonômico. As condições de levantamento

deveriam ser modificadas. Nesse caso, poder-se-ia recomendar:

• colocar a carga mais próxima ao corpo nos levantamentos dos sacos de 25kg e das caixas;

• evitar a torção no levantamento das caixas;

• melhorar a pega dos sacos de 25kg;

• e, evidentemente – ainda que de difícil implantação na maioria das situações, uma vez que implica

uma diminuição do ritmo de produção – reduzir a freqüência de levantamentos.

CONCLUSÕES

O levantamento de cargas é uma das causas de lombalgia e outras patologias musculoesqueléticas

freqüentes no mundo do trabalho atualmente e necessita intervenção urgente.

Page 119: Monografia- Carregadores Da CEAGESP(Gildete)

118

Apesar de suas limitações, pode-se considerar a equação NIOSH para o levantamento de cargas como

uma ferramenta útil e sensível que constitui um esforço a mais para prevenir as alterações na saúde

provocadas pela manipulação de carga.

O caráter multiplicativo da equação permite ver como a situação estudada se afasta da situação ideal

de levantamento e saber quais fatores são mais influentes nesse desvio, o que possibilita atuar sobre

eles em um redesenho do posto.

A equação não assume a existência de outras atividades de manipulação de carga, à parte os

levantamentos, tais como empurrar, arrastar, carregar, caminhar, subir ou abaixar.

Para a equação do NIOSH, considera-se toda atividade de gasto energético insignificante frente ao

levantamento. Será necessária uma avaliação adicional quando a carga é transportada por mais de dois

ou três passos ou quando é sustentada por mais de alguns segundos.

Quanto às posturas forçadas e estáticas, as vibrações, a temperatura, a umidade, etc. são outros tantos

fatores influentes no aparecimento de doenças e que deverão ser avaliados com outros métodos

disponíveis e complementar, assim, a avaliação do posto de trabalho.

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Anexo V - QUESTIONÁRIO APLICADO AOS CARREGADORES

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Anexo VI

Movimentação Manual de Cargas - Lista de Controle de Identificação de Riscos