Monografia - Contribuição do Repórter Esso para o radiojornalismo em Ribeirão Preto

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UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO CONTRIBUIÇÃO DO REPÓRTER ESSO PARA O RADIOJORNALISMO EM RIBEIRÃO PRETO AUTORES Bruna Roberta Melges Zanuto - 799.454 Célia Natalina dos Santos - 754.693 Larissa Costa Pereira - 799.114 Leandro Henrique Aparecido Martins - 796.165 RIBEIRÃO PRETO NOVEMBRO/2011

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O rádio brasileiro deu seus primeiros passos no Centenário de Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro. Nessa comemoração foi feita a primeira demonstração de radiodifusão; e essa data foi considerada oficialmente como o surgimento do rádio no Brasil. O cientista Roquette-Pinto fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923. No início, a programação radiofônica não possuía uma grade regular e as notícias transmitidas não possuíam um tratamento especial para o veículo. Os locutores simplesmente recortavam as informações do jornal impresso e liam na íntegra, sem se preocupar com a objetividade na transmissão dos acontecimentos. Em 28 de agosto de 1941, na Rádio Nacional do Rio de Janeiro é veiculada a primeira transmissão do Repórter Esso – A testemunha ocular da história. Autores: Bruna Zanuto, Célia Santos, Larissa Costa e Leandro Martins.

Transcript of Monografia - Contribuição do Repórter Esso para o radiojornalismo em Ribeirão Preto

UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

CONTRIBUIÇÃO DO REPÓRTER ESSO PARA O RADIOJORNALISMO EM RIBEIRÃO PRETO

AUTORES

Bruna Roberta Melges Zanuto - 799.454

Célia Natalina dos Santos - 754.693 Larissa Costa Pereira - 799.114

Leandro Henrique Aparecido Martins - 796.165

RIBEIRÃO PRETO NOVEMBRO/2011

UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

CONTRIBUIÇÃO DO REPÓRTER ESSO PARA O RADIOJORNALISMO EM RIBEIRÃO PRETO

AUTORES Bruna Roberta Melges Zanuto - 799.454

Célia Natalina dos Santos - 754.693 Larissa Costa Pereira - 799.114

Leandro Henrique Aparecido Martins - 796.165

MONOGRAFIA APRESENTADA COMO EXIGÊNCIA PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE BACHAREL EM COMUNICAÇÃO SOCIAL, COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO, SOB A ORIENTAÇÃO DO PROF. MS. GERALDO JOSÉ SANTIAGO

RIBEIRÃO PRETO NOVEMBRO/2011

Autor: Martins, Leandro Henrique Aparecido; Pereira, Larissa Costa; Santos, Célia Natalina;

Zanuto, Bruna Roberta Melges

Título do Trabalho: Contribuição do Repórter Esso para o radiojornalismo em Ribeirão Preto

O presente trabalho foi examinado, nesta data, pela Comissão Examinadora

composta dos seguintes membros:

____________________________________

Prof. Ms. Geraldo José Santiago

____________________________________

Prof. Dr. Sebastião Geraldo

____________________________________

Prof. (a) Ms. Carmen Rita M. Cagno

MÉDIA: 10 (Dez)

Ribeirão Preto, 21/11/2011

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus pais, Valdinei Roberto Zanuto e Sidneia Melges Zanuto, as

pessoas que me ensinaram a viver como muita ética, dedicação e profissionalismo e ao meu

irmão Pedro Antonio Quirino Melges Zanuto que sempre me apoiou em várias etapas da

vida. Dedico também a uma pessoa querida e especial em minha vida Fabio José Soriano

Guedes por sempre estar ao meu lado.

Bruna Zanuto

Dedico a minha família, em especial meu irmão mais velho, Mário Alves dos Santos, 86 anos,

meus professores, e meus colegas da equipe de Monografia que me apoiaram, me ajudaram

nessa minha loucura de busca contínua de aprender sempre mais.

Célia dos Santos

Dedico esta monografia a Deus por sempre iluminar meus passos e colocar em meu caminho

oportunidades únicas. Aos meus pais, Antônio Eurípedes Pereira e Rosemary Costa Pereira,

que tanto me incentivaram a seguir meus objetivos e que são o maior exemplo de coragem,

determinação, humildade e caráter em minha vida.

Dedico aos meus amigos especiais que tiveram a compreensão e respeito em todos os

momentos em que não pude dar atenção, à Daiany Maia que sempre disponibilizava seu

tempo para revisar os capítulos e ao meu cachorro Geninho, companheiro das madrugadas

quando ficava escrevendo este trabalho.

Larissa Costa

Dedico este trabalho aos meus pais, que eu amo muito, e às minhas três amigas que me

aturaram durante um ano e me ajudaram muito para a conclusão do mesmo: Bruna Zanuto,

Célia Santos e Larissa Costa.

Leandro Martins

“O jornalismo é a profissão que requer o conhecimento mais

largo e profundo e os mais firmes fundamentos de caráter".

Joseph Pulitzer

RESUMO

O rádio brasileiro deu seus primeiros passos no Centenário de Independência do Brasil, no dia

7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro. Nessa comemoração foi feita a primeira

demonstração de radiodifusão; e essa data foi considerada oficialmente como o surgimento do

rádio no Brasil. O cientista Roquette-Pinto fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em

1923. No início, a programação radiofônica não possuía uma grade regular e as notícias

transmitidas não possuíam um tratamento especial para o veículo. Os locutores simplesmente

recortavam as informações do jornal impresso e liam na íntegra, sem se preocupar com a

objetividade na transmissão dos acontecimentos. Em 28 de agosto de 1941, na Rádio

Nacional do Rio de Janeiro é veiculada a primeira transmissão do Repórter Esso – A

testemunha ocular da história. Essa data foi considerada por vários pesquisadores, como o

marco do radiojornalismo no Brasil. O programa trouxe para o jornalismo de rádio o texto

sucinto, objetivo, coeso, com períodos curtos, narração vibrante, controle no tempo – cada

edição tinha exatos cinco minutos – e a aparente imparcialidade. Portanto, a pergunta

problema do nosso trabalho foi: O Repórter Esso contribuiu para o radiojornalismo em

Ribeirão Preto? Os objetivos desse trabalho foram levantar essas possíveis contribuições,

relacionar fragmentos históricos da história do rádio e do radiojornalismo no Brasil, verificar

a relação do patrocinador – Esso – com o programa, seus locutores e analisar sua linguagem.

O trabalho foi desenvolvido a partir de levantamento bibliográfico, pesquisa documental

através da busca de imagens, entrevistas com radialistas experientes que viveram e

presenciaram a história do Repórter Esso, além de análise sonora do programa.

Palavras chave: Radiodifusão no Brasil, Repórter Esso, Radiojornalismo.

ABSTRACT

Radio in Brazil gave its first steps on September 7, 1922, on the Brazilian Independence

Centenary, when the first official broadcasting was made. That date has been accepted as the

beginning of radio broadcasting in our country. The scientist Roquete Pinto founded the

“Rádio Sociedade do Rio de Janeiro” in 1923. At first, radio programs did not follow any

regular schedule and the news were not broadcasted in an appropriated way for this means of

communication. The broadcasters cut pieces of information out of newspapers and read them

thoroughly, without worrying about transmissions objectivity. The first “Reporter Esso” news

program was broadcasted by Radio National in Rio de Janeiro on August 28, 1941. The

program slogan was – A testemunha ocular da História (The history eyewitness). That date is

considered by several researchers as a landmark of radio journalism in Brazil. The program

brought to radio journalism objective, cohesive and brief text, thrilling narration, apparent

impartiality and control of time – each edition lasted exactly five minutes – .Therefore, the

key question of our work was: Did Reporter Esso contribute to radio journalism in Ribeirão

Preto? The targets of this work were: to find out any possible contributions, to relate radio

history and Brazilian radio journalism fragments, to check out the relationship between the

sponsor – Esso – and the program, its broadcasters, and to analyze its language. This work

was developed from bibliographical survey, documental research through the search of

images, interviews with experienced radio announcers who lived and witnessed the Reporter

Esso history, besides a program sonorous analysis.

Key words: Broadcasting in Brazil, Reporter Esso, Radio journalism.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: James Clerk Maxwell .............................................................................. 15

Ilustração 2: Heinrich Rudolf Hertz ............................................................................. 15

Ilustração 3: Marconi, à esquerda, demonstra seu equipamento ................................... 16

Ilustração 4: O jesuíta brasileiro Roberto Landell de Moura ........................................ 17

Ilustração 5: Orson Welles, em 1938 ........................................................................... 19

Ilustração 6: Cientista Roquette-Pinto ......................................................................... 21

Ilustração 7: César Ladeira na época da Rádio Mayrink Veiga e Nacional no RJ ......... 29

Ilustração 8: Salomão Ésper, Geraldo Tassinari, Fausto Macedo e Nicolau Tuma ....... 30

Ilustração 9: Dalmácio Jordão, o “Repórter Esso” paulista .......................................... 39

Ilustração 10: Heron Domingues, o próprio “Repórter Esso” ....................................... 46

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Noticiários preferidos pelos ouvintes – 1956 (em %) ................................... 40

Tabela 2: Opinião sobre o Repórter Esso ..................................................................... 40

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

METODOLOGIA ..................................................................................................... 14

CAPÍTULO I – O RÁDIO E O RADIOJORNALISMO ......................................... 15

1.1 Surgimento do rádio ............................................................................................. 15 1.2 Surgimento do rádio no Brasil .............................................................................. 19 1.3 Radiojornalismo: Surgimento e conceitos ............................................................. 22 1.4 Radiojornalismo no Rio de Janeiro ....................................................................... 23 1.5 Radiojornalismo em São Paulo ............................................................................. 26 1.6 Radiojornalismo em Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul .................. 30

CAPÍTULO II – O REPÓRTER ESSO ................................................................... 33

2.1 História do Repórter Esso e seu patrocinador ........................................................ 34 2.2 Expansão do Esso em outros estados e como os ouvintes viam o programa .......... 36 2.3 Estrutura do programa .......................................................................................... 39 2.4 Principais locutores do programa .......................................................................... 42

CAPÍTULO III – O PROGRAMA E SUA CONTRIBUIÇÃO ............................... 47

3.1 Análise da estrutura do programa ......................................................................... 47 3.2 Análise da estratégia e publicidade ....................................................................... 49 3.3 Análise da linguagem do programa....................................................................... 51 3.4 Análise da estética do programa ........................................................................... 54 3.5 Contribuições do Repórter Esso para o radiojornalismo em Ribeirão .................... 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 63

ENTREVISTAS ........................................................................................................ 68

ANEXOS ................................................................................................................... 70

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INTRODUÇÃO

A criação do rádio, aparelho que possui a função de informar e entreter as pessoas

surgiu após vários anos de pesquisa em torno do eletromagnetismo, telefone e telégrafo. Estes

aparelhos despertavam o interesse militar, político e econômico pela facilidade de

comunicação, mas ainda faltava algo. O mundo no início do século XX precisava de um

veículo de comunicação de massa, que fosse unidirecional e que atingisse um grande número

de pessoas ao mesmo tempo e em vários lugares diferentes.

Vários cientistas e pesquisadores, distribuídos pelo mundo todo, contribuíram para

a criação do rádio. Mas quem ficou conhecido como o criador deste importante invento foi o

italiano Guglielmo Marconi, “o italiano foi um industrial astuto e empreendedor (...) e aí

talvez seja o seu grande mérito – aprimorar, desenvolvendo novos e mais potentes

equipamentos” (FERRARETTO, 2001, p.82).

A primeira demonstração pública da radiodifusão foi no centenário da

Independência, em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro. Com grande interesse na nova

tecnologia, um grupo liderado por Edgard Roquette-Pinto, criou a primeira emissora regular

do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro.

Roquette-Pinto definia o rádio como o “jornal de quem não sabia ler, o mestre de

quem não pode ir à escola, o divertimento gratuito do pobre, o animador de novas esperanças”

(FERRARETTO, 2001, p.97).

O ideal de rádio criado por Roquette-Pinto não agradou as classes mais populares,

que na década de 20 e 30 realizaram diversas manifestações para que houvesse uma mudança

na programação elitista da Rádio Sociedade. Seu ideal de programação de rádio era bom, mas

não funcionava da maneira que ele definia o rádio.

Com todos esses acontecimentos o rádio criou uma nova fórmula visando atrair

um número maior de ouvintes, contudo, surgiram várias emissoras espalhadas pelos estados

brasileiros.

A partir da década de 30, o rádio conquistou seu espaço, deixou de ser visto como

uma novidade e se transformou, de fato, em um veículo de comunicação de massa. Esse fator

contribuiu para que a publicidade fosse regulamentada; para o aumento do número de

emissoras e para a concorrência entre elas em busca de audiência e lucro.

Com essas transformações no rádio, as emissoras passaram a revelar talentos da

música, descobrir figuras inusitadas para comandar as programações, criar transmissões em

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auditórios para a interação do público e transmitir pela primeira vez histórias em capítulos

diários, como as radionovelas que despertavam a atenção dos ouvintes em casa.

O rádio foi se inovando e ampliando sua cobertura pelo país adentro, mas o seu

apogeu, a época conhecida como a ‘Era de Ouro do Rádio’, durou de 1940 a 1955,

aproximadamente. E foi nesse período no auge da radiodifusão e durante a Segunda Guerra

Mundial que teve início o principal noticiário do rádio brasileiro, o Repórter Esso, que foi ao

ar pela primeira vez no Brasil dia 28 de agosto de 1941, às 12h55.

Este ano um grupo de pesquisa em rádio da Intercom, produziu diversas

entrevistas e programetes para a comemoração dos 70 anos da primeira transmissão do

Repórter Esso. Durante uma semana foram apresentados sete programetes, um a cada dia da

semana, com duração máxima de cinco minutos, sendo um especialmente produzido para ir

ao ar, no dia 28 de agosto de 2011, às 12h55, exatamente o dia e horário em que o programa

foi veiculado pela primeira vez.

O Repórter Esso foi criado nos Estados Unidos em 1935, com a estratégia política

de boa vizinhança junto aos países latino-americanos. A palavra Esso, foi um neologismo

criado pela reprodução fonética vulgar das iniciais ‘Standard Oil’.

A estreia oficial no Brasil foi através da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. As

notícias eram transmitidas em quatro boletins diários com duração de cinco minutos, de

segunda a sábado, e aos domingos apenas dois.

Esta síntese radiofônica trouxe uma maneira nova de transmitir as notícias. Elas

não eram apenas retiradas do jornal, e sim adaptadas para a linguagem do rádio. Agora tinham

autoria e personalidade própria, descartando o gilete prez1.

Segundo Klöckner (2008), o programa “apresentou novo estilo à informação, com

um noticiário sucinto, ágil e vibrante, (...) e anunciado por uma característica musical que se

tornou inconfundível, adquiriu estatura e autenticidade” (KLOCKNER, 2008, p.50). Nos

primeiros anos, destacou notícias referentes ao estilo de vida americano - o conhecido

‘American way of life’ -, mas alguns autores afirmam que após o fim da Segunda Guerra

Mundial começou a ser veiculadas informações sobre o Brasil.

O programa chegou a ser transmitido em outras capitais, como São Paulo, Belo

Horizonte, Recife e Porto Alegre. Seus locutores de maior sucesso foram: Gontijo Teodoro e

Heron Domingues.

1 Nome jocoso dado à prática de produzir notícias a partir de textos já elaborados – côo press-releases ou mesmo matérias originais publicadas por outros veículos. Refere-se ao ato de recortar e colar – em tempo de computadores, trata-se do conhecido ctrl+c / ctrl+v.

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Utilizando os slogans: ‘O primeiro a dar as últimas’ e ‘testemunha ocular da

história’, o Repórter Esso foi transmitido em catorze países das Américas, por 59 estações de

rádio.

Com o Repórter Esso, “o rádio começou a desenvolver uma linguagem própria,

definindo conceitos de locução vibrante, pontualidade, objetividade e credibilidade”

(KLÖCKNER, 2008, p.50). Ainda segundo o autor, alguns conceitos já existiam e eram

praticados, mas com o programa, eles foram incorporados e aperfeiçoados em um manual

publicado em janeiro de 1957. Esse manual possuía 30 páginas e era atualizado

periodicamente.

O caráter noticioso prendia a atenção dos ouvintes de uma maneira que ficavam

ligados no jornal até o fim. A UPI - United Press International - agência de notícias norte

americana enviava as notícias sobre a Segunda Guerra Mundial, por meio do Código Morse.

Era um alívio quando no fim da apresentação não havia notícias desagradáveis.

A United Press extinguia o uso de adjetivos nas matérias, pois determinava que o

programa deveria ter uma linguagem coloquial. ''As frases deviam ter entre 30 e 40 palavras,

no máximo, e cada notícia não deveria durar mais que 14 ou 15 segundos'' (KLÖCKNER,

2008, p.57).

O noticiário “era patrocinado pela Standard Oil Company of Brazil, produzido

pela United Press e supervisionado pela Agência de Propagandas McCann-Erickson

Corporation - todas empresas norte-americanas” (KLÖCKNER, 2008, p.47).

A responsável pela criação do noticiário no Brasil, a Standard Oil Company of

Brazil - empresa distribuidora de produtos derivados de petróleo -, passou a ser chamada de

Esso Standard do Brasil, a partir do dia 1 de janeiro de 1953.

As multinacionais que se instalavam no país tinham como estratégia de marketing

criar - para sustentar as imagens institucionais - programas radiofônicos no qual veiculavam

suas marcas.

Uma das empresas que aderiu a ideia foi a Colgate-Palmolive Pest Co. “Um dos

programas veiculados pela Rádio Record de São Paulo chamava-se ‘Palmolive no Palco’,

apresentado por Otávio Gabus Mendes (...). A Colgate também patrocinou a montagem de

radionovelas” (JUNG apud CASTILHO, 2008, p. 2).

Enquanto outras empresas optavam por realizar programas radiofônicos voltados

para o entretenimento, a Esso Standard do Brasil, optou por investir no campo jornalístico. ''A

sugestão de criar um noticiário radiofônico partiu da agência de publicidade McCann-

Erickson, responsável pela conta da empresa no Brasil'' (CASTILHO, 2008, p.2).

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Os investimentos publicitários da Esso cresceram consideravelmente com a

monopolização estatal do petróleo no Brasil (criação da Petrobras, em 1953). A empresa

detinha grande parte do mercado de combustíveis no país, sendo o surgimento da Petrobras

um obstáculo não apenas para a Standard Oil, mas também para as demais multinacionais

estrangeiras que faziam a distribuição dos derivados do petróleo, já que estas passariam a

comprar os combustíveis da empresa estatal brasileira.

Segundo Castilho (2008), a Esso foi criticada por tentar controlar a opinião dos

jornais por meio da publicidade, então a empresa resolveu se aproximar dos formadores de

opinião para melhorar sua imagem institucional. Assim foi criado, pelo jornalista Ney Peixoto

Vale (que em 1953 deixou a imprensa para trabalhar na companhia Esso), o ‘Prêmio Esso de

Jornalismo’.

Além do rádio, o programa também foi transmitido pela TV Tupi, tendo início no

dia 10 de abril de 1952. As transmissões do radiojornal foram encerradas no dia 31 de

dezembro de 1968 e dois anos mais tarde, também no dia 31 de dezembro, o programa marca

seu fim na televisão.

A proposta deste trabalho buscou apresentar as contribuições sobre o que

significou o Repórter Esso para o radiojornalismo na cidade de Ribeirão Preto, e

principalmente, as influências deixadas por ele na radiodifusão atual.

O Repórter Esso foi um programa com caráter inovador, que participou de

disputas políticas, ideológicas e culturais, formou opiniões, conquistou a credibilidade de um

público fiel, divulgou grandes fatos históricos em primeira mão, durante aproximadamente

três décadas e entrou para a história.

O programa marcou um momento importante na história da radiodifusão, e a

questão que este trabalho buscou responder foi: O Repórter Esso contribuiu para o

radiojornalismo em Ribeirão Preto?

Contudo, relacionamos fragmentos históricos da história do rádio e

radiojornalismo brasileiro, nos estados onde foram veiculados o Repórter Esso; verificamos a

relação do patrocinador – Esso - com o programa, seus locutores e sua trajetória na

radiodifusão; analisamos a linguagem do programa e citamos as contribuições do mesmo

para o radiojornalismo em Ribeirão Preto, baseado em entrevistas realizadas com

profissionais da época.

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METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas relacionadas à

história do rádio e do programa Repórter Esso. Foi utilizada a pesquisa documental através da

busca de imagens e áudios do programa e de seus colaboradores. Entrevistas com radialistas

experientes de Ribeirão Preto que viveram e presenciaram a história do Repórter Esso. Além

da análise da sonora do programa que foi veiculado no ano de 1947, na voz de Heron

Domingues.

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CAPÍTULO I – O RÁDIO E O RADIOJORNALISMO

1.1 Surgimento do rádio

Um dos primeiros estudos que ajudaram na criação do rádio foi realizado pelo

físico escocês James Clerk Maxwell em 1864, quando ele lançou a teoria de que uma onda

luminosa causava uma perturbação eletromagnética que se propagava no espaço vazio atraída

pelo éter (TAVARES, 1999).

Tavares (1999) explica que Maxwell morreu sem conseguir dar sequência na sua

ideia, mas vinte e três anos mais tarde, em 1887, um estudante alemão chamado Heinrich

Rudolf Hertz, se baseou na teoria do escocês e construiu um aparelho que possuía duas varas

metálicas de oito centímetros de comprimento, “unindo cada varinha aos pólos de um gerador

de alta tensão, carregava-se um condensador, parte integrante do equipamento, que sofria o

mesmo número de alterações” (TAVARES, 1999, p.19). Esse dispositivo construído era

capaz de produzir correntes alternadas de período, extremamente curto, que variavam

rapidamente.

Ilustração 1 e 2: James Clerk Maxwell e Heinrich Rudolf Hertz (Fonte: TAVARES, 1999, p.18)

O jovem alemão ganhou a fama e “as ondas previstas pelos cálculos de Maxwell e

confirmadas pelas experiências de Hertz passariam a ser conhecidas como hertzianas”

(FERRARETO, 2001, p.81).

Giovannini (1987) aponta que a segunda etapa da criação do rádio, aconteceu em

1894 através de uma experiência realizada pelo italiano Guglielmo Marconi. O renomado

16

cientista conseguiu captar, através de uma antena receptora, criada por ele, os sinais do

alfabeto Morse vindos de um transmissor rudimentar localizado a algumas centenas de metros

de distância, “era a prova de que a perturbação eletromagnética das ondas hertzianas podia ser

captada sob a forma de sinais, amplificada e retransmitida a distância como sinal análogo”

(GIOVANNINI, 1987, p.217-218).

As autoridades italianas demonstraram incompreensão, isso fez com que Marconi

emigrasse para a Inglaterra, onde teve o apoio e o financiamento de suas pesquisas pelo

Ministério dos Correios. Marconi patenteou a sua descoberta em 1896, “o inventor, também

versado nos negócios, logo compreendeu as ingentes oportunidades econômicas de suas

descobertas e fundou uma sociedade, a Marconi Company, visando à exploração comercial de

suas patentes” (GIOVANNINI, 1987, p.218). Mas após a chegada da Marconi Company nos

Estados Unidos, o país transformou-se na ‘nação-piloto’ na pesquisa que iria conduzir à atual

configuração técnica do rádio.

Ilustração 3: Marconi, à esquerda, demonstra seu equipamento (Fonte: TAVARES, 1999, p.20)

Paralelo as experiências de Marconi na Europa, “o padre brasileiro Roberto

Landell de Moura obtinha em seus experimentos resultados, segundo os divulgadores de suas

pesquisas, por vezes superiores aos dos cientistas estrangeiros” (FERRARETO, 2001, p.83).

As primeiras experiências de radiodifusão, realizada pelo padre Landell, aconteceram em

1892, três anos antes do físico italiano Guglielmo Marconi (TAVARES, 1999).

Segundo Tavares (1999) foi em Campinas que Landell, utilizou uma válvula

amplificadora, de sua invenção e fabricação, com três eletrodos, transmitiu e recebeu

mensagem através do espaço. No ano de 1900, o governo brasileiro concedeu a Landell, a

17

patente de número 3.279 para “um aparelho apropriado à transmissão de palavra à distância,

com ou sem fio, através do espaço, da terra e da água” (TAVARES, 1999, p.22).

Mesmo tendo criado a transmissão radiofônica no Brasil, o padre não foi

compreendido, sendo chamado de “impostor, mistificador, louco, bruxo, padre renegado,

herege” (TAVARES, 1999, p.25). O ‘padre maluco’ já era acostumado com a designação, pois

Jung (2005) ainda relata que Landell era conhecido como bruxo e teve de ser transferido de

paróquias e até de cidades por causa de suas invenções. Segundo o autor, Landell só obteve

reconhecimento em 1928, depois de morto.

Ilustração 4: O jesuíta brasileiro Roberto Landell de Moura, o verdadeiro inventor do rádio (Fonte: TAVARES, 1999, p.23)

Para aperfeiçoar a transmissão do som sem a utilização dos fios, muitos cientistas

estrangeiros passaram a criar experimentos, como foi o caso do norte-americano Lee

DeForest, do inglês John Ambrose Fleming, sueco Ernest Alexanderson, o canadense

Reginald A. Fessenden, entre outros (FERRARETO, 2001).

“A obtenção da tecnologia necessária para transmitir sons usando ondas

eletromagnéticas não significa o surgimento do rádio. Mais do que tudo representa o advento

da telefonia” (FERRARETO, 2001, p.88). O rádio – aparelho que possui a função de informar

e entreter as pessoas – começa a se delinear somente em 1916, com as experiências de

Fessenden. Neste mesmo ano, o russo David Sarnoff percebe que na Marconi Company existe

possibilidades de utilização da tecnologia existente na época para a criação de um novo

produto. Sem sucesso na concretização da sua idéia, a indústria Westinghouse Eletric and

Manufacturing Company torna as possibilidades previstas por Sarnoff uma realidade

(FERRARETO, 2001).

18

Giovannini (1987) explica que os estudos em torno do rádio, não visavam à busca

de um método para utilizar o veículo como um instrumento de comunicação coletiva, pelo

contrário, “cientistas, técnicos e estudiosos do assunto se desdobravam na vã tentativa de

descobrir alguma coisa que, canalizando por vias obrigatórias a propagação das ondas

eletromagnéticas, garantisse a reserva e o sigilo das transmissões” (GIOVANNINI, 1987,

p.183).

Mas Cunha (2006, p.17) acredita que “o rádio, assim como o telégrafo, era usado

basicamente em operações militares durante a I Guerra Mundial”. Ainda segundo a autora, o

rádio foi a ferramenta que teria salvo, em 1912, 703 passageiros do transatlântico Titanic

graças as mensagens de socorro enviadas por equipamentos de rádio.

Costella (1984) explica que a radiodifusão começa a balbuciar, quando estourou o

primeiro conflito mundial e a utilização das ondas hertzianas foi submetida ao controle dos

governos dos países envolvidos na guerra. “As experiências com o rádio tiveram de se

concentrar em finalidades militares” (COSTELLA, 1984, p.164).

Somente após a I Guerra Mundial que os cientistas pensaram em tirar vantagem da

criação do rádio. “Assim começaram, por mera diversão, nos Estados Unidos e na Inglaterra,

as primeiras experiências de radiodifusão ‘para transmitir apenas cantos, pequenos recitais e o

som de discos gramafônicos’” (GIOVANNINI, 1987, p.184). O autor conta como foi a

utilização do rádio, o mais novo meio de comunicação:

O dia 15 de junho de 1920 representa de algum modo a data da reviravolta na marcha rumo à utilização, em favor do grande público, do novo meio de comunicação. Da estação de Chelmsford é irradiado um concerto da cantora Nellie Melba captado em vastas extensões do território dos Estados Unidos e a bordo dos navios que sulcavam mares distantes. Um ano depois, na Marconi House de Londres, entrava em atividade uma das primeiras estações européias de radiodifusão. Era o começo decisivo de um modo diferente de comunicação que não iria se limitar, é claro, à música e aos concertos (GIOVANNINI, 1987, p.184).

Sem esquecer um fato curioso da história do rádio: a transmissão de A Guerra dos

Mundos. Em 1938, cerca de nove milhões de pessoas ouviram Orson Welles relatando,

através da Rádio CBS, a invasão de seres extraterrestres na terra (CUNHA, 2006).

19

Ilustração 5: Orson Welles, em 1938 (Fonte: TAVARES, 1999, p.209)

1.2 Surgimento do rádio no Brasil

O rádio brasileiro deu seus primeiros passos na década de 20, do século passado

(SAMPAIO, 2004). De acordo com Ortriwano (1989) foi na exposição de comemoração do

Centenário de Independência do Brasil - sete de setembro de 1922 - que houve no Rio de

Janeiro a primeira demonstração de radiodifusão, sendo esta também considerada como a

inauguração oficial da radiodifusão brasileira, desenvolvida pelas empresas norte-americanas

Westinghouse International Co. e a Western Electric Company. Dois transmissores de 500

watts foram instalados na Praia Vermelha e no Alto do Corcovado, local onde o Presidente da

República Epitácio Pessoa transmitiu sua voz, levando informação aos que estavam presentes

na comemoração. No dia seguinte, o jornal A Noite divulgava a experiência que ocorrera:

Uma nota sensacional do dia de hontem foi o serviço de rádio-telephone auto-falante, grande atrativo da Exposição. O discurso do Sr. Presidente da República, inaugurando o certamen foi, assim, ouvido no recinto da Exposição, em Nictheroy, Petropolis e São Paulo, graças à instalação de uma possante transmissora no Corcovado e de aparelhos de transmissão e recepção, nos logares acima (sic) (ORTRIWANO, 1989, p.68).

Desde essa data, Pernambuco e Rio de Janeiro travaram uma disputa histórica de

qual cidade foi a pioneira da radiodifusão brasileira. “Os primeiros defendem que a nossa

trajetória radiofônica teve início em 1919, com o funcionamento da Rádio Clube de

Pernambuco. Os outros argumentam: o mérito cabe á Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que

entrou no ar em 1923” (KLÖCKNER, 2008, p.11).

20

Depois da comemoração, as transmissões de rádio foram interrompidas, já que não

existia um sistema de transmissão regular e captação das ondas sonoras no Brasil. Para

Roquette-Pinto (1989), a regularização só aconteceria em 11 de maio de 1923.

Como não havia aparelhos receptores e nem projetos que tornariam as

transmissões acessíveis a população, o rádio deixou de existir, assim como comenta Sousa:

Não estava clinicamente morto, porém, já que ressurgiu em 1923, ainda que em condições muito precárias, quando o Governo montou, na Praia Vermelha, uma pequena estação que transmitia ‘programas literários, musicais e informativos’. Essas transmissões de fraca intensidade conquistaram um ouvinte fiel e ilustre. Um antropólogo brasileiro, Edgard Roquette-Pinto, foi um dos primeiros ouvintes assíduos de rádio, no Brasil (SOUZA apud ORTRIWANO, 1989, p.68).

Segundo Roquette-Pinto (1989), o cientista já havia se encantado com

demonstrações - anteriores a exposição do centenário - de transmissões de rádio. Após o que

se sucedera no Rio, não perdeu a oportunidade de fundar, junto com Henrique Morize, seu ex-

professor de física, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1923, com o lema

‘pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil’. Antes, já havia

montado com Morize - no mesmo ano que ocorreu a comemoração do centenário - um

transmissor onde passou a divulgar os acontecimentos do dia e tocar músicas eruditas

selecionadas a partir de sua própria coleção de discos.

Ilustração 6: Cientista Roquette-Pinto (Fonte: TAVARES, 1999, p.1)

Como a rádio criada por Roquete-Pinto tinha apenas a finalidade de educar e levar

a cultura aos ouvintes, não eram veiculados anúncios comerciais na emissora. Isso também

ocorreu com outras emissoras que foram criadas após a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,

mas com uma pequena diferença. Nestas, os donos das rádios só não colocavam anúncios

21

publicitários por determinação do Governo. “A maioria das emissoras da nossa radiofonia,

por determinação estatuária, nem mesmo podia aceitar anúncios ou patrocínios comerciais. O

professor Edgard Roquete-Pinto era radicalmente contra a publicidade” (TAVARES, 1999,

p.55).

Já que não possuía anúncios publicitários, assim como explicou Tavares (1999), a

única forma de arrecadação de dinheiro da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro eram as taxas

pagas pelos associados da emissora. Em troca, os ouvintes ‘particulares’ recebiam

agradecimentos nas programações. Isso fez com que muitos considerassem a emissora como

elitista, pois os ouvintes faziam parte de uma classe mais abastada da sociedade. “Esse rádio

da década de 1920, com uma programação intelectualizada e de preços altos, terminava sendo

ouvida pelo mesmo grupo que a produzia, ou seja, era um veículo de comunicação ligado as

camadas altas da população” (CALABRE, 2002, p.21).

Segundo Costella (1984), na década de vinte, as estações começam a se espalhar

por todo o país. Nesse nascimento das rádios, os nomes repetem-se, com monótona

insistência, as expressões ‘rádio clube’ e ‘rádio sociedade’ eram as mais vistas na época. O

autor explica como isso aconteceu:

Essas primeiras radiodifusoras nasceram, na verdade como clubes ou associações de aficionados. Viveram, não da publicidade, proibida pela legislação da época, mas sim da contribuição dos associados, eventualmente reforçada por doações de entidades privadas ou mesmo públicas. O rádio ainda não era um ‘negócio’, não se estruturara como empresa e, comercialmente, mantinha-se virgem. Sua alma era o diletantismo (COSTELLA, 1984, p.178).

A expansão foi acontecendo gradativamente e segundo Cunha (2006, p.20), “no

início dos anos 30, o Brasil já contava com 29 emissoras. Em 1935, Assis Chateaubriand

inaugura a Rádio Tupi. No ano seguinte, começa a funcionar a Rádio Nacional, também no

Rio de Janeiro”.

Para Ferrareto (2001, p.22) a radiodifusão “é a palavra portuguesa equivalente à

inglesa broadcasting, que significa algo como semear aos quatro ventos. Embora utilizada

como tal, não pode ser considerada um sinônimo de rádio, mas sim de emissão de sinais por

meio de ondas eletromagnéticas”.

22

1.3 Radiojornalismo: Surgimento e conceitos

A primeira referência de radiojornalismo diz respeito à cobertura das eleições

norte-americanas de 1920. DeFleur & Rokeach apud Zahar (1993) explica como foi o advento

do radiojornalismo no mundo:

A fim de estimular o interesse pela nova estação, e, é claro, promover a venda de receptores, foi anunciado que a transmissora irradiaria os resultados da eleição presidencial de 1920. Foram telefonados boletins para a estação de um jornal na vizinhança, e os resultados foram irradiados durante a noite de 11 de novembro logo ao chegarem. Uma audiência de entre quinhentas e mil pessoas ouviu pelo rádio a notícia de que Warren G. Harding havia sido eleito presidente dos Estados Unidos. O acontecimento foi um grande sucesso; o sonho de David Sarnoff virara realidade (DEFLEUR & ROKEACH apud ZAHAR, 1993, p.116)

Giovannini (1987) conta que é nesse período que o rádio parte em busca de uma

identidade própria. O autor explica que David Sarnoff é o personagem-chave na história do

mass-media nos Estados Unidos, pois “já tinha intuído há muito tempo que o futuro do rádio

estava na comunicação de massa” (GIOVANNINI, 1987, p.222). Já, em 1921, temos o

advento do radiojornalismo esportivo, com a transmissão ao vivo da luta de boxe de Dempsey

e Carpentier pela RCA – Radio Corporation of America. Cunha (2006) explica como foi que

o esporte entrou na programação de rádio no mundo:

Apesar da tradição do rádio na transmissão de jogos de futebol, o primeiro evento esportivo mundial, que os ouvintes puderam acompanhar ao vivo, foi uma luta de boxe entre o norte-americano Jack Dempsey e o francês Georges Carpentier, pelo mundial da categoria Peso Pesado. O fato ocorreu em 1921 e a transmissão foi realizada a partir da Torre Eiffel, na França. Cerca de 330 mil ouvintes acompanharam a luta, que terminou com a vitória de Dempsey por nocaute (CUNHA, 2006, p.18).

A preocupação em transmitir notícias no rádio brasileiro foi uma característica

desde o seu início. Calabre (2005) conta que os noticiários radiofônicos eram montados a

partir de notícias publicadas nos jornais impressos. “(...) os apresentadores se limitavam a ler

as manchetes estampadas nas primeiras páginas e a tecer comentários” (CALABRE, 2005,

p.30). Segundo a autora, só a partir de 1940, com a II Guerra Mundial o radiojornalismo

ganha mais destaque no veículo.

Já, segundo Dias (1999) durante toda a trajetória da radiodifusão brasileira uma

atividade experimentou períodos de maior ou menor sucesso, mas nunca foi banida do meio:

o jornalismo. “Podemos assim afirmar que o veículo e a atividade foram feitos um para o

23

outro” (DIAS, 1999, p.61). O autor também ressalta que para um bom resultado no

radiojornalismo é preciso dos seguintes requisitos: “equipe de profissionais que tivesse

consciência da importância da verdade e, sempre que possível, da isenção da notícia veiculada

pelos seus microfones” (DIAS, 1999, p.63).

Felice (1981) explica que a característica principal do radiojornalismo é o

imediatismo, a instantaneidade, possibilidade de ser levado ao ouvinte um fato

simultaneamente ao acontecimento ou com a diferença de minutos.

Por isso, deve sempre ter precedência sobre os demais assuntos aqueles que tenham acontecido HOJE, que estejam acontecendo HOJE ou que ainda estejam previstos para acontecer HOJE. Essa seria, por assim dizer, a palavrinha mágica para quem trabalha num Departamento de Notícias de rádio e TV: HOJE (FELICE, 1981, p.88).

Zuculoto (2003), assim como Calabre (2005) afirma que o radiojornalismo ganhou

mais impulso durante a II Guerra Mundial. A autora explica também que a notícia dada pelo

rádio busca uma existência própria, tanto na linguagem, quanto na produção.

Ferrareto (2001, p.246) classifica um radiojornal como um “programa jornalístico

que se caracteriza por reunir várias formas informativas (boletins, comentários, editorias,

seções fixas – metereologia, trânsito, mercado financeiro... – e mesmo entrevistas)”.

O Repórter Esso foi um radiojornal transmitido em cinco estados diferentes, na

seguinte ordem de estreia: Rio de Janeiro – na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em São

Paulo – na Rádio Record, em Minas Gerais – na Rádio Inconfidência, em Pernambuco – na

Rádio Clube e no Rio Grande do Sul – na Rádio Farroupilha (KLÖCKNER, 2008). A partir

dessa sequência, apresentaremos fragmentos significativos da história do radiojornalismo em

cada um desses estados até a estreia do Repórter Esso, no ano de 1941. Diante da dificuldade

em encontrar dados bibliográficos confiáveis, unimos a história do radiojornalismo em Minas

Gerais, Pernambuco e Recife em um único sub-ítem.

1.4 Radiojornalismo no Rio de Janeiro

Como já explicamos neste trabalho, o Rádio surgiu no Rio de Janeiro na festa de

Centenário do país, em 1922. Com a grande festa, o antropólogo Roquette-Pinto resolve

fundar, junto com seu amigo Morize, uma Rádio Sociedade que fosse utilizada para difundir a

cultura. De acordo com Zuculoto (2003), já no início da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,

24

hoje Rádio Ministério da Educação, Roquette-Pinto desenvolveu o Jornal da Manhã. Neste, o

antropólogo noticiava através da leitura de jornais impressos o que acontecia no dia-a-dia de

forma amadora, pois não havia uma técnica de locução e apresentação das notícias. Esse tipo

de ‘fazer radiojornalismo’ foi repetido por outras emissoras que foram instaladas no Rio e em

outros estados do país.

Demarcando em casa, as notícias que deveriam ir ao ar com um lápis vermelho,

Roquette-Pinto também fazia comentários e interpretações dos acontecimentos, o que nos leva

a entender que o radiojornalismo da época foi bem diferente do que existe nos dias atuais.

Não existiam repórteres nas emissoras de rádio, o que tornava comum a leitura de notícias de

jornais impressos e agências de notícias - principais fontes de informação das emissoras -, não

adaptadas para a linguagem exigida nos meios radiofônicos, assim como explica Zuculoto

(2003):

(...) a notícia da primeira fase da história do rádio brasileiro é realmente bem diferenciada daquela que se vai consolidar posteriormente. Não é sintética, resumida, imediata, relato puro, nem elaborada mediante requisitos que busquem uma linguagem própria, adequada às características específicas do meio. Baseia-se nas notícias dos jornais impressos, mas vai além, com interpretações e comentários, não ficando restrita às únicas informações que caracterizam a notícia primária, aquela que realmente se tornará hegemônica no radiojornalismo brasileiro, principalmente nas décadas seguintes (ZUCULOTO, 2003, p.2)

Ortriwano (1989) explica que em 1925 e 1926, alguns anos após o início do Jornal

da Manhã, a programação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro se estabilizou, passando a

apresentar também mais três radiojornais: o do meio-dia, o da tarde e o da noite. Os três

também eram apresentados com leituras de impressos.

Com essa estratégia, Roquette-Pinto e outros locutores da época ficavam

vulneráveis a muitos erros de locução. Algumas até mesmo cômicas faziam o ouvinte ter

certeza de que a locução era feita através da leitura dos periódicos impressos, tais como “...

continua na página x”, ou então “... como se pode ver na foto ao lado”. Ortriwano (1989)

relata que esse procedimento foi modificado quando o antropólogo e demais locutores

passaram a recortar as notícias dos jornais e adaptá-las para não correrem o risco de

cometerem erros. A estratégia foi chamada mais tarde de gillette-press ou tesoura-press.

[...]No período anterior ao lançamento do Repórter Esso, o radiojornalismo brasileiro caracterizava-se pela ausência de um tratamento redacional específico para o veículo, ou seja: as notícias eram selecionadas e recortadas dos jornais e lidas ao microfone pelo locutor que estivesse presente no

25

horário. Tesoura e cola eram, na época, os únicos recursos disponíveis para o jornalismo radiofônico (MOREIRA apud ZUCULOTO, 2003, p.3).

A leitura dos periódicos também era feita porque não existiam repórteres nas

emissoras. A notícia narrada em tempo real foi uma hegemonia alcançada apenas com o

surgimento da Rádio Emissora Continental do Rio de Janeiro. Depois desta, outras emissoras

também adeririam o modelo 'em tempo real'. Segundo Bespalhok (2005, p.2-3) “[...] o

radiojornalismo brasileiro começou sem reportagem, portanto sem a voz do repórter ou das

fontes. Tinha-se, desde o início, a figura do apresentador que narrava as notícias ou fazia

comentários”.

De acordo com Ortriwano (1989), em 1936, foi inaugurada a Rádio Nacional do

Rio de Janeiro. Essa rádio passou por muitas dificuldades nos primeiros tempos de sua

existência, mas graças a Celso Guimarães, Oduvaldo Cozzi e Ismênia dos Santos, não deixou

de existir. Eles trabalharam muito para que a Rádio Nacional continuasse no ar até que, em

1940, Getúlio Vargas encampou a empresa A Noite, dona da emissora, que passou a fazer

parte do patrimônio da União. Um de seus destaques aconteceu em 1937, com o programa a

Hora do Brasil. Nele, os locutores noticiavam sobre assuntos oficiais que eram distribuídos

pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda).

O programa funcionava de segunda a sábado e continuou indo ao ar, mesmo com a

queda de Vargas na década de 40, com o nome de A voz do Brasil. “A partir dos anos 90, sua

obrigatoriedade tem sido contestada por várias emissoras e algumas têm conseguido, por

medidas judiciais, não transmiti-lo ou, ao menos, não no horário das 19h às 20h”

(ORTRIWANO, 1989, p.71).

A rádio Emissora Continental surgiu em 1948 “com sede em Niterói, onde ficava o

estúdio de transmissão principal e de onde eram veiculados os anúncios e a programação

musical”, como relata Bespalhok (2005, p.4). A autora também explica que outro estúdio era

localizado na cidade do Rio de Janeiro, onde era veiculada a programação jornalística e

esportiva.

Propriedade de Rubens Berardo, a emissora foi estruturada pelo locutor esportivo

Gagliano Neto que era o diretor superintendente da emissora. Ele organizou a programação no

formato música-esporte-notícia, “embora a rádio procurasse se concentrar mais na informação

e na cobertura esportiva em detrimento da programação musical” (FERRARETO apud

BESPALHOK, 2005, p.4)

Bespalhok (2005) também relata que a Emissora Continental era pequena e

possuía baixa potência. Não era como as emissoras de grande porte do Rio, como a Rádio

26

Nacional. Não realizava grandes programas de auditório ou qualquer outro programa do tipo,

mas o que a tornou tão importante para a história do radiojornalismo brasileiro foram as

grandes reportagens externas que produziu. Com dois carros que ajudavam na cobertura ao

vivo dos acontecimentos, a emissora também foi uma das primeiras a contar com repórteres

na redação. A capacidade de conseguir transmitir em tempo real os acontecimentos do dia-a-

dia acabou culminando na escolha de um dos slogans da emissora: 'A que está em todas'.

Antes das reportagens externas, a Continental também ficou conhecida pela

difusão do radiojornalismo esportivo no Rio e fazia jus a outro slogan: '100% esportiva e

informativa'. Segundo Soares apud Bespalhok (2006), “um dos aspectos que impulsionou o

surgimento da reportagem externa na Continental tem íntima relação com o esporte”. Isso

porque antes de fazer reportagens externas sobre qualquer outro tema, as mesmas eram feitas

no campo esportivo. Bespalhok (2006) relata um pouco da trajetória esportiva da rádio:

[...] ‘De Maio de 1948 a igual mês de 1951’ [...] a Continental irradiou partidas do Vasco da Gama, Bangu e Fluminense no México, Chile e Uruguai, respectivamente; a regata oceânica Buenos Aires-Rio; o campeonato sul-americano de basquete, ocorrido em 1950 no Paraguai e eliminatórias da Copa do Mundo na Espanha, Portugal e Escócia (BESPALHOK, 2006, p.53).

Apesar disso, o que marcou mesmo a história da Continental foram as reportagens

externas, na qual os jornalistas não ficavam mais dentro dos estúdios, mas sim, nas ruas, onde

tudo acontece. Desse modo, um dos pontos fortes da rádio foi a escolha por matérias de

serviço. Há casos em que os repórteres ligavam no corpo de bombeiros, e quando ficavam

sabendo de algum acidente ou algo semelhante, conseguiam chegar no acontecimento antes

mesmo dos próprios bombeiros. Os repórteres também transformavam as notícias divulgadas

pelo Repórter Esso em grandes matérias. Assim que era divulgado algum acontecimento, eles

iam a campo e ficavam duas, três ou até mesmo quatro horas falando sobre o assunto.

(BESPALHOK, 2006).

1.5 Radiojornalismo em São Paulo

No início do rádio, nos anos 20, as pessoas responsáveis pela sua existência eram

grupos de amigos, a maioria elitilizada, ligados a cultura e que buscavam algo novo. Para

conseguir concretizar seus ideais eles: “dividiam os custos das transmissões, compravam

equipamentos, material de escritório e alugavam salas para as transmissões da emissora. Essas

27

pessoas (...) eram motivadas pelo processo de urbanização que atingia os grandes centros da

época” (JUNG, 2005, p.20).

A primeira rádio de São Paulo, Rádio Educadora Paulista, foi fundada em 1923

por um grupo de pessoas com ideais de propagar a cultura. “O grupo, constituído por

Leonardo Jones Jr., Otávio Ferraz Sampaio, Luiz Ferraz Mesquita, Georges Corbisier e Luiz

do Amaral Cezar” (SAMPAIO, 2004, p.103). Hoje, a antiga Rádio Educadora, se chama

Rádio Gazeta.

Sampaio (2004) esclarece que no ano seguinte foi inaugurada a Rádio São Paulo.

Em 1925, Álvaro Macedo inaugurou a Rádio Record. Depois foi a vez da Rádio Cruzeiro do

Sul, que foi criada por Alberto J. Byinton Jr., chefe da firma Byinton & Co - indústria

eletrônica nacional - que mais tarde criou a Byinton&Cia, primeira rede brasileira de

emissoras (FERRARETO, 2001, p.209). Seguindo a ordem, a quinta emissora a ser

inaugurada na cidade de São Paulo foi a Rádio Cultura de São Paulo e a sexta, a Rádio

Difusora de São Paulo.

Paralelo as estreias das rádios na capital do estado, duas cidades, Ribeirão Preto e

Franca, disputam o pioneirismo do rádio no interior paulista. Sampaio (2004) apresenta o

porquê da disputa:

Primeiramente, a AESP em Revista, de 1967, nº7, p.11, publica “Na Franca do Imperador, a primeira emissora do interior”, onde se lê que o Rádio Club Hertz foi para o ar em 8 de novembro de 1925, com o prefixo PRAZ mais tarde substituído pelo PRB-5. (...) Contudo, em seu último número de abril de 1983, publica o jornal da AESP outro tópico de um artigo com o título de “A História do Rádio no Brasil e em São Paulo”, (...). ‘PRA-7 de Ribeirão Preto, a sétima emissora do Brasil. Numa manhã do verão de 1924, uma notícia chegada a Ribeirão Preto pelo telégrafo deixa muito contente o professor José da Silva Bueno, de Física e Química, e entusiasmado pela radiodifusão. Já tinham chegado os equipamentos importados dos Estados Unidos’ (2004, p.107-108).

Quase toda a programação do rádio era ao vivo e o pouco que se fazia era na base

do improviso. O rádio tinha muitas dificuldades como explica Sampaio (2004), os primeiros

programas não possuíam um elenco próprio, nem havia recursos financeiros para isso. A

publicidade era proibida e o diretor de programação contava com um pequeno grupo efetivo

para a administração e para o departamento artístico. Passado algum tempo, o Governo

percebeu que as emissoras não estavam conseguindo cachê suficiente para manter seus ideais

de difusão de cultura, entretenimento e informação, e resolveu liberar o anúncio nas

programações.

28

Na Revolução Constitucionalista de 1932, “experiências de diversos formatos

jornalísticos estiveram presentes nas emissoras paulistas desde o início, mas era a primeira

vez que o rádio era utilizado no Brasil como instrumento de mobilização popular”

(ORTRIWANO, 1989, p.70).

Nesse período, César Ladeira instigava a população a participar da revolução, pela

Rádio Record e ficou conhecido como ‘Locutor da Revolução’. Segundo Ortriwano (1989)

vários locutores se revezaram na apresentação, para deixar a impressão de que Ladeira estava

permanentemente em ação. Na Rádio Cruzeiro do Sul, Mário Ferraz Sampaio e Celso

Guimarães também aderiram ao movimento constitucionalista, conforme Sampaio (2004,

p.35) mesmo explica: “a primeira grande concentração popular deu-se a dois passos da

emissora do Largo da Misericórdia, (...). Para lá acorri tomando notas para a reportagem”. As

emissoras acabaram formando uma só cadeia funcionando em horários pré-determinados.

Ilustração 7: César Ladeira na época da Rádio Mayrink Veiga e Nacional do RJ (Fonte: TAVARES, 1999, p.181)

Segundo Ortriwano (1989), a Rádio Record foi pioneira em vários sentidos, como

por exemplo, foi a primeira líder de audiência; introduziu a programação política nos anos 30,

que era conhecida como ‘palestras instrutivas’, tendo como um dos autores-apresentadores a

figura de Monteiro Lobato; criou a contratação de um elenco exclusivo e organizou a cadeira

de emissoras paulistas para a divulgação da Revolução de 32. Ferraretto (2001) explica que a

partir daí, as emissoras passaram a contratar com remuneração mensal, buscar astros e

orquestras, no intuito de ganhar público e aumentar a concorrência entre elas.

Em 6 de maio de 1937, é fundada a Rádio Bandeirantes AM 840, conhecida na

época como Sociedade Bandeirantes de Radiodifusão – PRH-9 (BUFARAH et al., 2010).

Segundo Bufarah et al. (2010) a Rádio Bandeirantes é o embrião do complexo de

29

comunicação que está instalado atualmente na Capital Paulista. Segundo Ortriwano (1989) a

inovação de programação noticiosa foi lançada pela Bandeirantes, mostrando-se

revolucionária e influenciando a programação das outras emissoras.

O jornalismo esportivo em São Paulo existia desde a década de 30, as emissoras

transmitiam as partidas de futebol, boxe e outros esportes. “Nicolau Tuma é considerado o

pioneiro entre os locutores esportivos: narrou a primeira partida de futebol que o rádio

transmitiu, a 19 de julho de 1931, através da Rádio Educadora Paulista” (ORTRIWANO,

1989, p.71). Ele também era conhecido como ‘Speaker Metralhadora’, pelo fato de falar

muito rápido. Tuma também participou dos primeiros anos da Rádio Record. Segundo

Ferraretto (2001), o termo ‘radialista’, surgiu nos anos 30, na Rádio Difusora de São Paulo,

criado por Nicolau Tuma.

Ilustração 8: Salomão Ésper, Geraldo Tassinari, Fausto Macedo e Nicolau Tuma (Fonte: TAVARES, 1999, p.97)

Jung (2005) explica que o esporte e a experiência de algumas emissoras do grupo

nas transmissões de futebol, fez com que a Byington – primeira rede brasileira de emissoras -

lançasse a Rede Verde-Amarela, durante a cobertura do Mundial da França, em 1938, ele

também aponta os problemas enfrentados na época:

Dificuldades técnicas, como a precariedade das linhas telefônicas, e intransigência política (não conseguiram licença do governo Getúlio Vargas para explorar as ondas curtas) impediram a consolidação do projeto, atrasando o Brasil em, pelo menos, quatro décadas. A falta de autorização talvez resultasse da desconfiança de que a formação de uma rede de rádios poderia se transformar em força sublevadora (JUNG, 2005, p.33).

As emissoras paulistas tiveram muitas dificuldades em seu início, mas foram

evoluindo de acordo com a experiência obtida em seu cotidiano, “caminhando a passos lentos,

o radiojornalismo foi se desenvolvendo no Brasil. Se já estava presente desde as primeiras

30

transmissões, só começa a funcionar de fato, ganhando espaço e importância, com o advento

da Segunda Guerra Mundial” (ORTRIWANO, 1989, p.72).

1.6 Radiojornalismo em Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul

Em Minas Gerais a primeira emissora chegou em Juiz de Fora. A Rádio Sociedade

foi inaugurada em 7 de janeiro de 1926 montada por Cardoso Sobrinho. Ela se destacou pela

excepcional qualidade de sua programação e pelos talentos que ligou a radiodifusão brasileira

(RODRIGUES apud MAUAD, 2009).

Na capital, a primeira transmissão experimental foi em 1926, na Rádio Clube.

Mais duas rádios funcionavam no ano de 1933, a Rádio Triângulo, da cidade de Uberaba, e a

Cultura, do município de Poços de Caldas. Mas, a estação que caiu no gosto popular foi a

Rádio Guarani, inaugurada em 1936, e que trazia maior interação com o público

(RODRIGUES apud MAUAD, 2009). Programas como ‘A Hora do Recruta’, onde os

cantores teriam de se sair bem para não sofrerem punições de um carrasco, eram campeões de

audiência. Também em 1936 surgiu a Rádio Inconfidência, já mais elitizada e tradicional,

possuía programação com concertos de música sinfônica e ópera, além de ter toda a

aparelhagem técnica vinda de Londres, a pedidos do governador Benedito Valadares

(MAUAD, 2009).

Como as outras rádios, ela também teve de se popularizar, pois era o único meio

de comunicação da capital ao interior do estado. Ainda possuía um programa que foi

importante para história do rádio e da política na época, ‘A hora do fazendeiro’ foi criado três

dias depois da inauguração da rádio e era voltado para os trabalhadores rurais. Mais tarde ela

teve uma nova versão: a Rádio Inconfidência FM, também conhecida como Brasileiríssima.

(MAUAD, 2009).

Em Pernambuco, “o rádio como meio de comunicação eletrônica, operando na

velocidade do som, já nasceu ‘glocal’, termo este cunhado recentemente em função das

tecnologias hoje disponíveis: tanto contava os fatos do mundo como os da casa do vizinho”.

(ORTRIWANO, 1989 p.67).

Phaelante apud Lucena (2010) afirma que “a história do rádio no Brasil tem início,

realmente, em Pernambuco, quando pelos idos de 1910 se tem notícia da existência de

amadores em TSF – Telegrafia Sem Fio, que se intercomunicam (...)” (PHAELANTE apud

LUCENA, 2010, p.52).

31

Segundo Ortriwano (1989), as experiências eram feitas por alguns amadores,

existindo documentos que provam que o rádio no Brasil nasceu em Recife, no dia 6 de abril

de 1919, quando com um transmissor importado da França, foi inaugurada a Rádio Clube de

Pernambuco por Oscar Moreira Pinto. Depois se associou a Augusto Joaquim Pereira e João

Cardoso Ayres.

Tavares (1989) também afirma que o registro jurídico de radiotelegrafia mais

antigo no Brasil, está em Pernambuco:

Em 1923, além da sociedade Rádio Rio de Janeiro, era criada, na antiga Capital Federal, a PRA-3 Rádio Clube do Brasil e, em Recife, Pernambuco, a PRA-8 Radio Clube de Pernambuco, cujo registro jurídico de “radiotelegrafia” é o mais antigo do País, datando de 6 de abril de 1919, como Clube de Recepção de “Radiotelegrafia”, transformando-se em “Radiofonia” quando do aparecimento da Rádio Clube, em 17 de outubro de 1923, fundada por Oscar Moreira Pinto, Augusto Joaquim Pereira, João Cardoso Aires, George Gotis e Carlos Lira Filho (TAVARES, 1999, p.52).

Moraes et al. (2004), explica que a Rádio Clube de Pernambuco foi criada em

1919, mas só a partir de 1923 organiza-se como emissora. Os autores abordam também que

na década de 20, as transmissões não tinham hora certa e os ouvintes guiavam-se pela

programação divulgadas nos jornais.

Segundo Lucena (2010), Pernambuco também foi pioneira em outro quesito: “o

percurso histórico da Rádio Clube de Pernambuco traz outro marco, pois foi a primeira a

transmitir, em 1931, ao vivo, uma partida de futebol no Norte/Nordeste. O jogo foi narrado

pelo locutor Abílio de Castro” (LUCENA, 2010, p.53).

Maranhão apud Lucena (2010) expressou que a história do rádio traz ingratidões

na maneira como é contada e que acadêmicos tiram o privilégio da primeira emissora do

Brasil, a Rádio Clube de Pernambuco. Ele complementa que “somente uma boa pesquisa, em

várias fontes, poderá construir e consolidar a verdadeira história do nosso rádio, da sua

cultura, da sua expressão” (MARANHÃO apud LUCENA, 2010, p.53).

Berwanger (2009, p.28) aponta que no Rio Grande do Sul “a primeira transmissão

radiofônica aconteceu nos anos 20. Em Porto Alegre, em 7 de setembro de 1924, foi ao ar a

primeira transmissão da Rádio Sociedade Rio-Grandense”. Porém, ela não é a pioneira, pois a

Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão – AGERT - assegura que as

transmissões se encerraram em novembro de 1924. Assim, segundo Jung (2005, p.21) “em

1925, apareceu a primeira emissora de rádio do interior do Brasil, a Rádio Pelotense, do Rio

Grande do Sul”.

32

Já no radiojornalismo esportivo, Provenzano (2009) ressalta que os jogos de

futebol e outras transmissões esportivas já faziam parte da programação das primeiras rádios

no Rio Grande do Sul. Mas, afirma que “o marco inicial desta trajetória aconteceu no dia 19

de novembro de 1931, na primeira transmissão radiofônica de uma partida de futebol”

(PROVENZANO, 2009, p.2).

Na mesma década, Oduvaldo Cozzi passou a fazer parte da Rádio Sociedade

Gaúcha, que segundo Berwanger (2009) iniciou suas transmissões em 1927, onde narrava a

transmissão dos jogos. Ele foi o criador de um novo estilo de transmissão, não se limitando

em informar apenas o nome do jogador que estava com a bola. Ele narrava “lance por lance,

descrevendo jogadas com detalhes além de comentar a partida durante o intervalo”

(PROVENZANO, 2009, p.2).

Alguns anos mais tarde outras duas rádios surgiram: a Rádio Difusora em 1934 e a

Farroupilha em 1935. Mesmo assim, no interior do estado, até o começo dos anos 50, haviam

poucas rádios. Era consequência de “uma portaria do Governo Federal que limitava

concessões para as cidades do interior do país” (BERWANGER, 2009, p.29).

A rádio Gaúcha também foi a primeira emissora do estado a realizar uma

transmissão internacional esportiva. “Foi no dia 14 de maio de 1949 no jogo entre Grêmio e

Nacional, no Estádio Centenário, em Montevidéu. A narração foi feita por Cândido Norberto

dos Santos” (PROVENZANO, 2009, p.3).

33

CAPÍTULO II – O REPÓRTER ESSO

2.1 História do Repórter Esso e seu patrocinador

No final da década de 1930 o mundo passava por conflitos socioeconômicos de

grandes proporções e foi divido em dois grupos: o Eixo, constituído pela Alemanha, Itália e

Japão e os Aliados, formados por Grã-Bretanha e França, que a partir de 1941 foi liderado

pelos Estados Unidos e União Soviética. Klöckner (2008) aponta que o Repórter Esso surgiu

nessa época, pois os Estados Unidos precisavam manter as Américas juntas e para isso foi

instaurada a ‘Política da Boa Vizinhança’, um plano de unir os países latinos e fortalecer o

grupo dos aliados na II Guerra Mundial.

Segundo Klöckner (2008), o objetivo era um só: o apoio total do Brasil aos

Aliados na Segunda Guerra, e foi o que acabou acontecendo em 1942. Uma das alternativas

para criar essa inter-relação, foi incluir algumas edições do Repórter Esso na programação

radiofônica nacional. A síntese noticiosa já existia na terra do ‘Tio Sam’ desde 1935 e foi uma

das maneiras que o governo americano encontrou de representar seus ideais dentro dos países

latinos, já que a colônia alemã estava presente através das ondas da Rádio Berlim. “O

conceito de imparcialidade do Repórter Esso foi utilizado, então, como arma política, que

colaborou para sedimentar os ideais dos Estados Unidos e na conquista da opinião pública”

(KLÖCKNER, 2008, p.38).

O Repórter Esso saiu da América do Norte e foi para 14 países da América Latina,

entre eles o Brasil em 28 de agosto de 1941. Também com ele, “foi implantado o lide2, a

objetividade, a exatidão, o texto sucinto, direto e vibrante, a pontualidade, a noção do tempo

exato de cada notícia, aparentando imparcialidade e contrapondo-se aos longos jornais falados

da época” (KLÖCKNER, 2008, p.23-24).

Segundo Calabre (2005) saber das notícias pelo radiojornal era como se colocar

em sintonia com todos. “O noticiário era um dos canais de ligação centro-periferia da época”

(CALABRE, 2005, p.11). Para Klöckner (2008), através do radiojornal, o povo brasileiro era

capaz de se informar sobre o mundo e isso afetou várias gerações que cresceram ouvindo a

voz do repórter que era representado em cada estado por um locutor exclusivo. As notícias

que abalavam o mundo, o discurso de um presidente ou do papa, os soviéticos no espaço, tudo

era transmitido, fazendo com que houvesse um vínculo de credibilidade entre locutor e 2 Termo aportuguesado, a partir da palavra inglesa lead, referente à abertura da matéria. No lide é destacado o fato essencial, considerando-se as seis perguntas básicas: O quê? Quem? Quando? Onde? Como? Por quê? RABAÇA e BARBOSA apud KLÖCKNER, 1978, p.278-279).

34

ouvinte, como relata o autor: “os locutores eram ídolos invisíveis e incorporavam o repórter

ao difundir as informações com voz grave e solene, com esse procedimento, a audiência

ficava convencida da verdade absoluta dos fatos” (KLÖCKNER, 2008, p.18).

Mas tudo isso não seria possível sem que grandes empresas estivessem por traz

dos interesses políticos. A Standard Oil Company of Brazil, ou simplesmente Esso, era

patrocinadora oficial do radiojornal e conseguia, através da influência da cultura americana no

povo brasileiro, muitas vezes, manipular as informações junto às agências de notícias que

eram as responsáveis pela divulgação das notícias nacionais e internacionais.

Castilho (2008) afirma que a Esso chegou ao Brasil em 17 de janeiro de 1912 e foi

pioneira em distribuição de produtos a base de petróleo, como querosene e gasolina, além de

instalar as primeiras bombas de combustíveis e abastecer os aviões comerciais brasileiros.

Mas teve que se esforçar para entrar na área da comunicação dentro do país, para não perder

espaço. Isso aconteceu no começo da década de 1940 com o lançamento do Repórter Esso,

além de investir pesado em publicidades em jornais e revistas da época.

Para Klöckner (2008) a UPI – United Press Internacional - era a agência que

enviava informações sobre a Segunda Guerra, além da supervisão de outra empresa

americana, a McCann-Erickson Corporation, uma agência de propagandas. Apesar de seu

manual, o Repórter Esso foi submetido às vontades políticas da época e também foi censurado

pelo DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, pois “as notícias veiculadas não podiam

se contrapor às diretrizes da política oficial, tal fato desviava a atenção dos ouvintes, ainda

mais, para o conflito mundial” (CALABRE, 2005, p.4). O monopólio da informação já existia

no começo do século XX, como demonstra Klöckner:

Fundada em 1907, ainda com o nome de United Press (UP), por E.W. Scripps, proprietário de uma cadeia de jornais nos Estados Unidos, a agência surgiu como resposta ao monopólio da informação, exercido pela Associated Press. Na primeira década do século XX, a AP se recusava a vender o seu serviço às publicações de Scripps nas cidades onde já tinha assinantes. Então, Scripps fundou a UP, com base em seus jornais e em diversas agências regionais. Decidiu, também, vender os serviços para quem quisesse comprá-los, sem direitos de exclusividade em qualquer área. Em 1958, a UP fundiu-se com a International News Service, que pertencia ao grupo de jornais William Randolph Hearst, surgindo a UPI, United Press International (KLÖCKNER, 2008, p.30).

Segundo Klöckner (2008), o Repórter Esso brasileiro era uma cópia do programa

veiculado nos Estados Unidos desde 1935, com notícias da United Press. Antes de chegar ao

35

Brasil, o programa já era exibido em vários países por mais de 60 estações, o que fez do

noticiário a maior rede global de radiofonia.

Como foi dito acima, a Esso não queria perder espaço na mídia, principalmente

com rumores de que outra empresa de petróleo poderia entrar no país, com isso uma agência

de publicidade americana foi responsável por introduzir a parceria entre a empresa e o

programa de rádio, como aponta Castilho apud Jung (2005).

Dornelles (2002) também afirma que no Rio Grande do Sul, os programas de

maior audiência possuíam propagandas de grandes empresas, a maioria internacionais, como

a Esso e Coca Cola.

Segundo Klöckner apud Intercom (2011), o programa conseguiu sua melhor

audiência no período da Segunda Guerra Mundial. Mas Castilho (2008) diz que ele também

se aproveitou dessa popularidade para divulgar assuntos de interesse do governo americano, o

chamado ´o estilo de vida americano´ da época. Ainda para o autor, “empresas como «RCA

Victor» e «General Eletric» lançaram seus produtos no mercado brasileiro. O cinema também

participou ativamente dessa política, sobretudo através dos filmes de Walt Disney, difundindo

o modo de vida americano” (CASTILHO, 2008, p.3).

As transmissões se encerraram em 31 de dezembro de 1968, onde são apontadas

duas causas: “na área profissional o noticiário perdia a credibilidade e no âmbito político a

sua missão havia sido cumprida” (KLÖCKNER, 2011, p.7). Jordão apud Intercom (2011)

avalia que essas não foram as únicas causas para decretar o fim do Repórter Esso, ele afirma

“que o principal motivo foi o alto custo pedido pelas emissoras para a renovação anual dos

contratos e com menos verba que é despendida com o Repórter Esso, o patrocinador encheu

as rádios com spots e jingles e a TV com filmes e todos os outros produtos”.

Apesar de ter finalizado suas transmissões no rádio, segundo Klöckner (2008), o

noticiário não havia morrido por completo, já que permaneceu na TV por mais dois anos após

Figueiredo ter desejado Feliz Ano Novo aos brasileiros em 1968. O noticioso começou sua

carreira no audiovisual em 4 de maio de 1952, na TV Tupi do Rio de Janeiro (Canal 6),

permanecendo no ar até 31 de dezembro de 1970. Assim como no rádio, o Repórter Esso foi

transmitido, além da Tupi, por outras emissoras: “TV Difusora, de São Paulo; TV Itacolomi,

de Belo Horizonte; TV Piratini, de Porto Alegre; TV Itapoã, de Salvador; e TV Vitória, de

Vitória” (KLÖCKNER, 2008, p.145).

Klöckner (2008) também relata que os apresentadores que fizeram a transmissão

do Repórter Esso na TV foram: Gontijo Teodoro no Rio de Janeiro, Kalil Filho e Livio

Carneiro Junior em São Paulo, Luis Oscar Cordeiro em Belo Horizonte, Edson de Almeida

36

em Recife, Helmar Hugo em Porto Alegre e Renato Jorge na Bahia. O autor não cita o

apresentador de Vitória.

2.2 Expansão do Esso em outros estados e como os ouvintes viam o programa

Um ano após a primeira transmissão do Esso no Rio de Janeiro, na Rádio Nacional,

o programa foi implantado na Rádio Inconfidência (Belo Horizonte), Farroupilha (Porto

Alegre) e Clube Pernambuco (Recife) nas quais utilizavam locutor do horário, não tinha

apresentador exclusivo. “Só mais tarde que a agência publicitária encarregada do programa

resolveu fixar-se em vozes próprias, do que resultaria a seleção de Rui Figueira, no Rio

Grande do Sul, Casimiro Pinto Neto em São Paulo, Heron Domingues na Nacional a partir de

1944” (ORTRIWANO, 1989, p.73).

Bespalhok (2006) explica que não só nessas cidades o Esso era veiculado, mas

também chegava a vários locais do país, através das transmissões por ondas curtas da Rádio

Nacional. Calabre (2005, p.5) explica a estratégia criada para atingir o maior número de

ouvintes brasileiros “a McCann-Erickson escolheu para a transmissão do noticiário os

principais centros urbanos, contratando as emissoras de maior audiência e alcance nas cidades

vizinhas para transmitir seu noticiário”. Já Klöckner complementa explicando essa tentativa

de criar uma rede nacional para a transmissão de notícias:

Com cinco rádios transmitindo os noticiários, distribuídos em pontos estratégicos do país, acredita-se que essa foi a primeira tentativa de montar uma rede nacional de divulgação de notícias visando a conquistar não só clientes, mas a opinião pública brasileira. Porém, com a emissão em ondas médias e curtas - as short waves - o espectro da Nacional penetrava na maioria dos Estados brasileiros e chegava também ao exterior (KLÖCKNER, 2008, p.51).

Havia também uma exigência de contrato para que o Repórter Esso começasse e

terminasse pontualmente. Tudo era cronometrado. Klöckner (2008) relata que os horários

variavam um pouco, entre uma emissora e outra, na estreia em 28 de agosto de 1941.

Nenhuma emissora que o transmitia poderia divulgar qualquer notícia uma hora antes e meia

hora depois do Repórter Esso (ORTRIWANO, 1989). Os horários estabelecidos nas

emissoras de segunda a sábado assim se seguiam: início às 8h, na Rádio Nacional (Rio de

Janeiro), como também na Rádio Record (São Paulo) e Rádio Inconfidência (Belo Horizonte).

37

A Rádio Clube de Recife (Pernambuco) iniciava a transmissão do programa às 9h30 e a Rádio

Farroupilha (Porto Alegre) não tinha esse horário de abertura pela manhã.

Na Rádio Naciona, o horário de abertura do Repórter Esso pela manhã era sucedido

por mais quatro ou cinco programas ao longo do dia, até o último às 22h55. A Rádio Record,

Rádio Inconfidência, Rádio Clube de Recife e Rádio Farroupilha seguiam com três programas

e o término variava entre 22h00 e 22h55.

Segundo Klöckner (2008) a agência buscava uma pessoa com voz audível, que não

fosse muito conhecida, um locutor que soubesse como ler com pausas e tivesse uma dicção

correta. Voz preparada e forte, tudo isso na tentativa de desenvolver uma linguagem

específica do rádio. As estações transmissoras do Repórter Esso tinham em 1950 os seguintes

locutores exclusivos: Heron Domingues, Nacional (Rio de Janeiro); Dalmácio Jordão, Tupi

(São Paulo); Aloísio Campos, Inconfidência (Belo Horizonte); Lauro Hagemann, Farroupilha

(Porto Alegre) e Mário da Silva Teixeira, Rádio Jornal do Comércio (Recife).

Ilustração 9: Dalmácio Jordão, o “Repórter Esso” paulista (Fonte: TAVARES, 1999, p.153)

No Rio de Janeiro, estava surgindo outra maneira de saber o que estava

acontecendo, através da rádio-escuta. Bespalhok (2006) relata que depois de finalizada a

Segunda Guerra, o programa passou a noticiar fatos locais, e os locutores da Rádio

Continental – concorrente da Rádio Nacional – ficavam sintonizados, principalmente, nas

edições extraordinárias que pudessem trazer fatos ainda desconhecidos. Calabre (2005, p.39)

ressalta a importância de lembrar “que a edição do noticiário era de responsabilidade local da

emissora através da qual ele ia ser transmitido”.

Bespalhok (2006, p.78) também explica qual a diferença entre a Nacional e a

Continental em relação a divulgação dos fatos locais. “O Repórter Esso se centrava na notícia,

38

em um curto informativo, sem ir ao local de fato, e a Continental ia além, saía às ruas e

procurava a ampliação dessa notícia”.

A popularização do Repórter Esso se consolidou durante as décadas de 1940 e

1950. Isso fez com que aumentasse a preferência carioca e servisse de modelo para os outros

informativos da época. “Em uma pesquisa do Ibope - Instituto Brasileiro de Opinião Pública -,

em 1956, contratada pela Rádio Jornal do Brasil, a preferência dos ouvintes entre os

informativos comprova tal situação” (CALABRE, 2005, p.38). Abaixo, o quadro com o

resultado da pesquisa:

Tabela 1: Noticiários preferidos pelos ouvintes – 1956 (em %)

INFORMATIVOS ÍNDICE DE PREFERÊNCIA

Esso 77,1%

Continental 8,4%

Grande Jornal Tupi 8,4%

Globo no ar 6,3%

A noite informa 6,3%

Mundial 2,1%

Mauá 2,1%

Não informaram 4,2% Fonte: Ibope. Pesquisas Especiais – 1956 apud Calabre (2005)

A Standard Oil Company of Brazil patrocinava o Repórter Esso e tinha a

preocupação de pesquisar o mercado consumidor brasileiro. Calabre (2005) explica que em

outubro de 1952, a empresa encomendou uma pesquisa ao Ibope da audiência do programa,

no Rio de Janeiro. “A empresa buscava conhecer melhor o perfil do consumidor/ouvinte de

seus produtos, saber que meios eles utilizavam para se informar, qual o noticiário que ele

mais ouvia, o que pensava sobre o Repórter Esso, o que mais o degradava no noticiário...”

(CALABRE, 2005, p.40). O resultado da pesquisa, onde o ouvinte dizia o que mais lhe

degradava em relação ao programa, está representado no quadro abaixo:

39

Tabela 2 – Opinião sobre o Repórter Esso

O que mais desagrada Percentual

Poucas notícias nacionais 10,7%

Excessiva importância ao noticiário internacional 14,2%

Muita propaganda 17,8%

Propaganda de guerra 3,5%

É tendencioso 3,5%

Não diz a verdade 3,5%

Muita política 7,1%

Exagera no sensacionalismo 7,1%

O anúncio deve ser no meio do noticiário 3,5%

Poucas notícias do exterior 3,5%

Devia dar notícias comerciais 3,5%

Muito destaque a notícias internacionais 3,5%

Não opinaram 18,6% Fonte: Ibope. Pesquisas Especiais – 1956 apud Calabre (2005)

2.3 Estrutura do programa

Como já foi citado no primeiro capítulo deste trabalho, antes do surgimento do

Repórter Esso, os radiojornais não possuíam uma linguagem própria para o veículo. Eles

limitavam-se em ler as manchetes dos jornais impressos, o conhecido gillette press, e

complementavam com comentários subjetivos. Nessa época não existiam repórteres de rádio,

permitindo que a maior fonte de abastecimento de informação das emissoras viesse das

grandes agências de notícias.

Segundo Klöckner (2008) a causa do desenvolvimento tardio do radiojornalismo

consistia na estrutura precária das emissoras radiofônicas pioneiras. A falta de investimento

por parte dos proprietários, em recursos humanos e tecnológicos fez com que os anunciantes

não dirigissem suas verbas para o veículo emergente. Ortriwano (1989, p.75) afirma que “o

Repórter Esso e o Grande Jornal Falado Tupi foram os primeiros, no Brasil, a mostrar

40

preocupação quanto a uma linguagem específica para o rádio, procurando elaborar a notícia

de forma a atender as características do meio radiofônico e não do jornalismo impresso”.

Para Sampaio (2004, p.128) o sucesso do Repórter Esso se deve aos seguintes

fatores: “constante renovação, seleção cuidadosa das notícias, locução exemplar,

aprimoramento constante acompanhando a evolução do radiojornalismo no mundo”. Fora

tudo isso, o noticiário radiofônico trouxe uma linguagem própria para o rádio, sendo

implantado o lide, os períodos curtos, a falta de adjetivação, a pontualidade e a noção de

tempo exato de cada notícia. A pesquisadora Moreira apud Intercom (2011) afirmou que “o

noticioso trouxe para o rádio a linguagem oral, fez com que o programa de rádio falasse pelo

rádio, no rádio”. Já Klöckner apresenta a organização que o programa levou ao ar:

A organização, ao estilo fordista, estava presente no noticioso e constituía grande virtude para a época: entrar na hora certa, rigidez no controle do tempo, a vibração da locução, o texto elaborado para a linguagem radiofônica: sucinto e objetivo, a exatidão dos dados, dos fatos, a aparência de imparcialidade, tudo embalado por um manual de procedimentos que previa, praticamente, os passos a realizar como se o radialista estivesse numa indústria de notícia. (...) o novo modelo de expor o noticiário no rádio, mais do que apresentar novidades, conferiu um ritmo novo à rotina das emissoras e das pessoas. Até então, os horários de entrada e saída dos programas não eram respeitados à risca, havendo tolerância para pequenos atrasos (KLÖCKNER, 2008, p.45).

A partir daí, a notícia começa a ganhar personalidade e a informação ganha caráter

exclusivo, “o rádio deixa de ser um simples divulgador coletivo das notícias de jornal e passa

a utilizar as características inerentes ao meio: ser instantâneo e ágil, para difundir o fato de

imediato” (KLÖCKNER, 2008, p.28-29).

O Repórter Esso tinha cinco minutos exatos, e no início se caracterizou como um

serviço de informações internacionais de guerra. Ferraretto (2001, p.240) explica que a

principal notícia fechava o noticiário após um comercial e que “tanto o texto informativo

como o publicitário eram lidos pelo mesmo locutor”. Klöckner (2008, p.51) dá mais detalhes

de como era essa distribuição: “a abertura e o encerramento, juntos, duravam 30 segundos.

Outros 30 segundos eram destinados ao comercial. Restavam, portanto, quatro minutos para

as notícias. O total de cinco minutos equivalia, aproximadamente, a 70 linhas ou entre duas e

duas e meia folhas de ofício datilografadas”.

Todas as notícias tinham que se encaixar no seguinte padrão, que Klöckner (2008,

p.57) apresenta: “as frases deviam ter entre 30 e 40 palavras, no máximo, e cada notícia não

deveria durar mais que 14 ou 15 segundos. Cada edição continha, em média, 600 palavras e

divulgava de 13 a 15 notícias”.

41

A chamada do Repórter Esso era padronizada em todas as emissoras: “Prezado

ouvinte, bom dia. Aqui fala o Repórter Esso, testemunha ocular da história, apresentando as

últimas notícias da UPI” ou “Prezados ouvintes, bom dia. Aqui fala o Repórter Esso, porta-

voz radiofônico dos revendedores Esso, apresentando as últimas notícias da UPI”

(FERRARETTO, 2001, p.127).

As notícias do mundo chegavam prontas dos Estados Unidos. Zuculoto (2003)

explica que o texto de cada edição era elaborado pelos redatores do escritório da UP – United

Press - no Brasil. “Após, o noticiário, com as informações internacionais e nacionais, era

transmitido, via telégrafo, para cada uma das rádios que irradiava o Esso, contendo um espaço

para a introdução de notícias locais” (ZUCULOTO, 2003, p.10). A autora também afirma que

essa organização do noticiário permanece mesmo após o fim da II Guerra Mundial. Já para

Dornelles (2002, p.98) “os textos do Repórter Esso podem ser divididos em antes e depois da

II Guerra Mundial. Em ambas as fases, o noticiário atendia aos interesses comerciais e

políticos”.

Com o final da guerra, a síntese noticiosa começou a incluir notícias estaduais e

nacionais nas suas edições. O Repórter Esso até então, não priorizava as notícias locais, o

maior fator que contribuiu para essa situação era a censura instaurada no rádio entre as

décadas de 40 e 60, devido aos interesses conflitantes dos donos de veículos de comunicação

e do poder público.

Enquanto a iniciativa privada pretendia fazer do rádio um meio para expandir seu capital, o governo buscava no veículo a legitimação para a sua política, que nem sempre coincidia com a dos empresários. A programação dos meios de comunicação era bem fiscalizada e, por isso, o Repórter Esso se voltava preferencialmente ao noticiário internacional, não submetido à censura (KLÖCKNER, 2008, p.54).

Segundo Carvalho (2007), o programa deveria ir ao ar em cinco edições diárias,

sendo uma às 8h, 12h55min, 17h55min, às 20h e 22h55min, além das edições dominicais das

12h55min e às 19h50min.

O programa teve dois slogans que acompanharam suas edições: ‘O primeiro a dar

as últimas’ e ‘Testemunha ocular da história’, Klöckner (2008) explica que a frase inicial foi

substituída pela segunda, em 1943. Isso aconteceu devido a principal característica do

programa em confirmar a informação antes de divulgá-la.

No início o Repórter Esso, da Rádio Nacional, não tinha prefixo musical.

Ferraretto (2001, p.127) explica que “o maestro Carioca compôs o tema musical de abertura e

42

encerramento, gravado por ele, junto com o baterista Luciano Perrone e os pistonistas

Francisco Sergi e Marino Pissiali”. Os tambores e fanfarras foram criados com o objetivo de

identificar o programa e convidar o ouvinte para a próxima edição do noticiário.

Calabre (2005, p.34) ressalta que “pela própria natureza do rádio, toda a atenção

da mensagem radiofônica está voltada para os efeitos sonoros”. O programa não utilizava

nenhum tipo de som, durante a divulgação das notícias. A autora complementa que “para a

MacCann-Erikson, o locutor do Repórter Esso não poderia ser ´um papagaio ou máquina de

repetição´ e sim ´um intérprete das notícias que lê´”.

O Repórter Esso se preocupava em prender a atenção do ouvinte e por isso as

notícias tinham uma sequência a ser seguida. “O principal item da edição é colocado como a

notícia final. O segundo fato mais importante a ser noticiado deve abrir a edição”

(MCCANN-ERICKSON apud FERRARETTO, 2001, p.238).

As notícias relacionadas às ocorrências policiais, como suicídios, crimes

horrendos, prisões, desastres era desaconselhado a transmissão, mas Klöckner (2008, p.57)

argumenta que só havia exceção “se significasse fato de grande repercussão para a

comunidade”.

Para criar uma padronização, a United Press, elaborou um manual em 1944,

denominado O Manual Radionoticioso de La United Press em América Latina, que segundo

Carvalho (2007, p.3) “explicava como deveria ser um bom texto e a forma da locução deste”.

O autor complementa que junto com o manual de redação, os locutores regionais recebiam

uma fita-modelo, gravada por Heron Domingues, da Nacional, com orientações básicas, como

a entonação de voz, postura e o ritmo que deveria ser lido as notícias.

Zuculoto (2003) explica que diversos pesquisadores e estudiosos do rádio no

Brasil são unânimes quanto ao papel decisivo do Repórter Esso como um marco na história

do rádio brasileiro, “foi a partir deste informativo que o jornalismo radiofônico realmente

começou a se firmar no Brasil, e, mais que isso, se empenhou em buscar linguagem e modos

de produção adequados à especificidade do veículo” (ZUCULOTO, 2003, p.10).

2.4 Principais locutores do programa

No início da transmissão do Repórter Esso, o programa que marcou a história do

radiojornalismo brasileiro não possuía um locutor fixo na PRE-8 - Rádio Nacional do Rio de

Janeiro - emissora na qual foi transmitida a primeira edição brasileira do noticiário. As

apresentações eram feitas pelo locutor do horário, de acordo com a escala da redação. Em 28

43

de agosto de 1941, às 12h55min, três profissionais do meio radiofônico disputavam a locução

da primeira edição do Repórter Esso: Romeu Fernandes, Rubens Amaral e Celso Guimarães

(KLÖCKNER, 2008, p.49).

Conforme Tavares (1999), o privilégio de transmitir a primeira edição do

programa foi de Romeu Fernandes. Segundo o mesmo autor, “em São Paulo, o ‘Repórter

Esso’ era transmitido pela Rádio Record PRB-9, que teve Artur Piccinini como seu primeiro

locutor” (TAVARES, 1999, p.152). Foi a partir daí que os ouvintes de rádio do Brasil

puderam ter conhecimento sobre as principais notícias nacionais e internacionais - de acordo

com a Esso.

Os locutores do noticiário precisavam fazer uma leitura cuidadosa dos textos que

iam para o ar para que não houvesse erros. Eles também precisavam padronizar as locuções,

para que os programas fossem transmitidos exatamente da mesma forma do que as edições

anteriores. Os cortes das notícias só poderiam ser feitos com autorização da UPI e no final de

cada programa, era obrigação de todos, informar para a agência, quais as notícias que não

tinham sido transmitidas (KLÖCKNER, 2008).

Com o intuito de padronizar ainda mais o noticiário, a McCann-Erickson realizou,

em 1944, um concurso para contratar um locutor exclusivo, pois durante três anos o Repórter

Esso foi apresentado por locutores escalados pela redação das emissoras. “Nessa fase, leram o

noticiário, na Rádio Nacional, os locutores: Rubens Amaral, Romeu Fernandes, Celso

Guimarães, Jorge Curi, Aurélio de Andrade, Saint Clair Lopes, Reinaldo Costa e César de

Alencar” (KLÖCKNER, 2008, p.59).

O concurso para a voz padrão do noticiário teve como vencedor o locutor Antônio

Salgado, que não chegou a ler uma só notícia da UPI nos estúdios da Rádio Nacional. O

motivo da desistência foi a oposição da família, que se recusou a sair de Porto Alegre.

Conforme Tavares (1999) em seu lugar foi chamado, para apresentar o programa, o segundo

classificado, outro gaúcho, Heron Domingues. Ele começou a trabalhar no programa no dia 3

de novembro de 1944, permanecendo até 1962. “O locutor era obrigado a ficar durantes os

intervalos na emissora, esperando as notícias para irradiar uma ‘edição extra’. Era uma

verdadeira escravidão. Havia até mais de dez ‘edições extra’, diárias, por causa da guerra”

(FELICE, 1981, p.60).

Além de Heron Domingues e Gontijo Teodoro pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro PRE-8, nas demais capitais os locutores titulares foram: Edson de Almeida pela Rádio Jornal do Comércio, de Recife; Lauro Hagemann, Rádio Farroupilha, de Porto Alegre; Aloísio Campos, em Belo Horizonte, pela

44

Rádio Inconfidência de Minas Gerais; Dalmácio Jordão, em São Paulo, pela Rádio Tupi (TAVARES, 1999, p.152).

Heron Domingues conseguiu agregar credibilidade ao noticiário. Os locutores que

apresentaram o Repórter Esso depois dele, recebiam, além de um manual, uma fita gravada

pelo próprio Heron, com normas básicas sobre como fazer a apresentação e locução do

noticioso. “Jamais o locutor deve se apaixonar a tal ponto por um assunto que o ouvinte

perceba que ele está inclinado a aplaudir um determinado ponto de vista, ou idéia ou

personagem” (INSTRUÇÕES... apud KLÖCKNER, 2008, p.59), dizia uma das normas.

Ilustração 10: Heron Domingues, o próprio “Repórter Esso” (Fonte: TAVARES, 1999, p.44)

Heron Domingues, além de ter sido o locutor mais famoso do noticiário, também

ficou conhecido pela grande contribuição ao radiojornalismo brasileiro. Foi ele quem

implantou, em 1948, a Sessão de Jornais Falados e Reportagens da Nacional. Segundo

Ferraretto (2001), este, foi o primeiro departamento de uma emissora no país dedicado ao

jornalismo. A sessão de Jornais Falados e Reportagens fundada por Heron Domingues na Rádio Nacional organizou, pela primeira vez, um sistema de equipe (um chefe, quatro redatores e um colaborador do noticiário parlamentar), rotina e hierarquia peculiares a uma redação de jornalismo radiofônico” (MOREIRA apud FERRARETTO, 2001, p.129)

O famoso locutor fazia jus ao slogan ‘o primeiro a dar as últimas’. No ano em que

terminou a II Grande Guerra, por exemplo, ele colocou uma cama no estúdio e passou a

acampar na emissora, pois a qualquer momento, poderia ficar sabendo do término da guerra, e

sendo assim, poderia ser o primeiro a dar a notícia. Além de acampar na emissora, com medo

45

de perder o furo, Heron também já havia gravado a notícia em uma fita magnética. Caso não

pudesse falar, lá estava a notícia, pronta para ir ao ar. Porém, segundo Tavares (1999), não foi

o que aconteceu. Convencido a ir para casa para descansar, Heron acabou deixando a

emissora no exato dia em que a guerra terminou. Quem deu o furo, foi Décio Luiz, da Rádio

Tupi do Rio de Janeiro, PRG-3.

As informações sobre o que fez Heron sair da Nacional se contradizem com outro

autor. Para Felice (1981), o locutor se sentia muito preso na emissora, e por isso, o próprio

Heron foi quem pediu ao diretor da estação para que pudesse sair um pouco dos estúdios da

Nacional, pois não aguentava mais. Ele queria ver gente diferente.

Conforme Felice (1981), Heron saiu dos estúdios da rádio e foi para o ‘Bar do

Luís’, na Rua Carioca. Quando tomou o primeiro gole do chope, “o chofer que o havia

conduzido com o carro do diretor da emissora entrou correndo, feito louco, gritando que a

guerra tinha acabado” (FELICE, 1981, p.60).

Felice (1981) discorda sobre quem foi o locutor da Rádio Tupi que deu a notícia

sobre o fim da guerra, ele acredita que quem transmitiu o fim da guerra, foi Carlos Frias.

“Informaram-lhe que a Rádio Tupi estava dando a notícia, através de Carlos Frias, fazendo

um verdadeiro comício, dizendo que a guerra tinha acabado” (FELICE, 1981, p.61).

De acordo com Ferraretto (2001), o Repórter Esso foi transmitido na PRE-8 Rádio

Nacional do Rio de Janeiro até 1962, mesma data em que Heron Domingues para de fazer a

locução do programa. Em seu lugar, a voz que representou o noticioso na Rádio Globo foi a

de Roberto Figueiredo, o último locutor que apresentou o Repórter Esso no rádio. Figueiredo

ficou conhecido por ter se emocionado na última transmissão do noticiário que fez história no

Brasil. “A gravação desse noticiário, naquela noite de 31 de dezembro de 1968, expõe uma

situação jamais prevista nos manuais da UP: Roberto Figueiredo se emociona e chora ao

microfone” (KLÖCKNER, 2008, p.62). Roberto Figueiredo – E atenção! Durante 27 anos, o Repórter Esso, a testemunha ocular da história, esteve presente aos mais importantes acontecimentos no Brasil e no mundo, entrando no ar, pela primeira vez, em agosto de 1941. Durante os seus primeiros quatro anos de vida, o Repórter Esso foi sempre o primeiro a dar as últimas da Segunda Guerra Mundial. Assim, nesta sua última edição radiofônica, pode o seu Repórter Esso recordar as mais sensacionais informações transmitidas para todo o Brasil e em toda a sua vida, autêntico recorde de manutenção no ar de um programa noticioso (COLLECTORS apud FERRARETTO, 2001, p.129).

46

Abaixo, estão relacionadas as informações que, segundo Klöckner (2008), foram

as últimas a serem transmitidas pelo locutor Roberto Figueiredo, antes de se emocionar e

finalizar as transmissões do programa no radio brasileiro:

1941 – Os japoneses atacam a base norte-americana de Pearl Harbor. 1948 – O Partido Comunista do Brasil é colocado fora da lei. O Brasil rompe relações com a União Soviética. 1950 – Os comunistas atravessam o Paralelo 38. Começa a Guerra da Coréia. 1954 – Suicídio de Getúlio Vargas. 1956 – A União Soviética esmaga pela força a rebelião anticomunista na Hungria. 1959 – Fidel Castro vence a Revolução Cubana. 1964 – Revolução Brasileira nas ruas. Deposto o senhor João Goulart. 1968 – Estados Unidos em foco. Assassinatos de Martin Luther King Robert Kennedy. Os americanos fariam a primeira viagem em torno da Lua. (KLÖCKNER, 2008, p.62).

Conforme Ferraretto (2001), após informar os fatos que marcaram as transmissões

do noticioso, Roberto Figueiredo, com muito custo e quase aos prantos, conclui a última

edição do Repórter Esso no rádio brasileiro: “O Repórter Esso, um serviço público da Esso

Brasileira de Petróleo e dos revendedores Esso encerra aqui o seu período de apresentações

através do rádio. Boa noite, ouvintes, e feliz ano novo, são os votos da Esso” (FERRARETO,

2001, p.130).

47

CAPÍTULO III – O PROGRAMA E A SUA CONTRIBUIÇÃO

3.1 Análise da estrutura do programa

O programa Repórter Esso é um boletim informativo de cinco minutos,

apresentado apenas por um locutor, que deve, obrigatoriamente, ser exclusivo do programa e

se divide da seguinte forma: prefixo musical inicial – com as fanfarras e tambores -, saudação

do locutor aos ouvintes, apresentação da patrocinadora Standard Oil Company of Brazil e da

agência de notícias da United Press, seguido pela segunda notícia mais importante da edição,

acompanhada de aproximadamente mais oito notícias – podendo variar essa quantidade em

cada edição.

Após essa primeira rodada de notícias, segue a síntese radiofônica com a

publicidade da patrocinadora – que é lida pelo próprio locutor de uma maneira firme e

discreta, conforme entraremos em mais detalhes no sub-capítulo: análise da estética do

programa -, seguido pela notícia mais importante e fechando a edição com o prefixo musical.

Os boletins informativos são curtos, devido ao fato de que nem todos os ouvintes

se interessam por todos os assuntos. Prado (2006, p.9) argumenta: “mesmo que o tema seja

considerado importante para uns, para outros pode não ter a menor relevância”.

Complementando, a importância da curta duração dos boletins, (MOREIRA apud

MEDITSCH, 2001, p.35) relata que no Brasil, o radiojornalismo foi implantado com a

seguinte regra “a imprensa é a análise, o rádio é a síntese”.

Ferraretto (2001) explica que o programa, utilizava a procedência da informação

para abrir o texto, ou seja, na divulgação de cada notícia, o locutor primeiro apresenta o nome

da cidade onde o fato ocorreu, seguido da leitura do texto. Para exemplificar, utilizaremos

uma edição do programa, que foi ao ar no ano de 1947, na voz de Heron Domingues:

Paris – O primeiro ministro Shulman pronunciou estar tarde um discurso na Assembléia Nacional Francesa, depois que esta aprovou o gigantesco orçamento da Quarta República. O senhor Shulman afirmou que os recentes discursos do presidente Truman e do general Marshall, secretário do estado norte-americano, são uma grande fonte de esperança para o povo francês (COLLECTORS).

Conforme já abordado neste trabalho, antes do Repórter Esso, o texto era lido

pelos locutores, sem nenhuma preparação. Ferraretto (2001) explica que o Esso trouxe a

48

necessidade de uma redação adaptada às características do rádio e foi a base para grande parte

das sínteses noticiosas produzidas no país. Segundo Prado (2006, p.8) “as notícias eram lidas

em frases curtas, na terceira pessoa, sem citações textuais ou entrevistas gravadas”, a autora

também enfatiza a credibilidade que a síntese radiofônica da Esso conquistou junto aos

ouvintes.

No início da implantação do programa no Brasil, as notícias, enviadas pela United

Press, eram quase que exclusivamente ligadas a II Guerra Mundial e, na maioria das vezes,

favoráveis aos aliados, conforme explica Klöckner (2008). Segundo a classificação dos

programas radiojornalísticos criada por Lima apud Klöckner (2008, p.86), os noticiosos são

“programas que informam sobre fatos ocorridos no espaço de tempo, entre uma e outra

emissão jornalística, ou previstos para breve ocorrência, e cujo conhecimento, em razão de

critérios seletivos de proximidade, raridade ou conseqüência, deva ser de interesse e

importância”. Ferraretto (2001) admite os benefícios trazidos pelas agências de notícias

internacionais, mas Valdés apud Ferraretto (2001) faz a seguinte observação: Em maior ou menos grau todas as grandes agências de notícias respondem aos interesses políticos, econômicos ou sociais de seus respectivos países. Portanto, (...) a informação que oferecem a seus usuários deve ser analisada cuidadosamente, com critério e independência, com a finalidade de descartar tudo que for subjetivo nos despachos, o que é pior, o caráter tendencioso que, muitas vezes, se constata. (VALDÉS apud FERRARETTO, 2001, p.198)

Meditsch (2001) aborda a relação entre as organizações privadas - com fins

lucrativos - que possuem um programa de rádio e o ouvinte. “O rádio fornece informação ao

público e, em contrapartida, vende a audiência, conquistada por esta informação, aos

anunciantes” (MEDITSCH, 2001, p.81).

Dando seqüência na classificação de Lima apud Klöckner (2008, p.86), os

programas de propaganda são compostos por “informações emitidas com o propósito de

persuadir, de convencer, de levar a audiência à mudança de opiniões e atitudes”. Baseado

nessas duas classificações Klöckner (2008) explica que o Repórter Esso é um boletim

noticioso-propaganda. Como o próprio autor relata, esse cruzamento dessas duas

classificações consiste no “ocultamento do interesse prioritário, da intenção do patrocinador e

do noticiário” (KLÖCKNER, 2008, p. 86).

Santos (2004) complementa que esses interesses são reproduzidos, através de

fatores de ordem social que estão presentes na construção das mensagens, pelos meios de

comunicação. “A difusão de mensagens, pelos meios de comunicação, não é ‘inocente’, pelo

48

necessidade de uma redação adaptada às características do rádio e foi a base para grande parte

das sínteses noticiosas produzidas no país. Segundo Prado (2006, p.8) “as notícias eram lidas

em frases curtas, na terceira pessoa, sem citações textuais ou entrevistas gravadas”, a autora

também enfatiza a credibilidade que a síntese radiofônica da Esso conquistou junto aos

ouvintes.

No início da implantação do programa no Brasil, as notícias, enviadas pela United

Press, eram quase que exclusivamente ligadas a II Guerra Mundial e, na maioria das vezes,

favoráveis aos aliados, conforme explica Klöckner (2008). Segundo a classificação dos

programas radiojornalísticos criada por Lima apud Klöckner (2008, p.86), os noticiosos são

“programas que informam sobre fatos ocorridos no espaço de tempo, entre uma e outra

emissão jornalística, ou previstos para breve ocorrência, e cujo conhecimento, em razão de

critérios seletivos de proximidade, raridade ou conseqüência, deva ser de interesse e

importância”. Ferraretto (2001) admite os benefícios trazidos pelas agências de notícias

internacionais, mas Valdés apud Ferraretto (2001) faz a seguinte observação: Em maior ou menos grau todas as grandes agências de notícias respondem aos interesses políticos, econômicos ou sociais de seus respectivos países. Portanto, (...) a informação que oferecem a seus usuários deve ser analisada cuidadosamente, com critério e independência, com a finalidade de descartar tudo que for subjetivo nos despachos, o que é pior, o caráter tendencioso que, muitas vezes, se constata. (VALDÉS apud FERRARETTO, 2001, p.198)

Meditsch (2001) aborda a relação entre as organizações privadas - com fins

lucrativos - que possuem um programa de rádio e o ouvinte. “O rádio fornece informação ao

público e, em contrapartida, vende a audiência, conquistada por esta informação, aos

anunciantes” (MEDITSCH, 2001, p.81).

Dando seqüência na classificação de Lima apud Klöckner (2008, p.86), os

programas de propaganda são compostos por “informações emitidas com o propósito de

persuadir, de convencer, de levar a audiência à mudança de opiniões e atitudes”. Baseado

nessas duas classificações Klöckner (2008) explica que o Repórter Esso é um boletim

noticioso-propaganda. Como o próprio autor relata, esse cruzamento dessas duas

classificações consiste no “ocultamento do interesse prioritário, da intenção do patrocinador e

do noticiário” (KLÖCKNER, 2008, p. 86).

Santos (2004) complementa que esses interesses são reproduzidos, através de

fatores de ordem social que estão presentes na construção das mensagens, pelos meios de

comunicação. “A difusão de mensagens, pelos meios de comunicação, não é ‘inocente’, pelo

49

fato de estar submetida a diferentes interesses, entre os quais sobressaem aqueles do campo

econômico, mas também devem ser considerados os sistemas de representação social”

(GALLEGO E DEL RIO apud SANTOS, 2004, p.101-102).

Utilizando as Teorias da Comunicação para explicar alguns fenômenos do rádio,

Barbosa (2009) citou a Teoria Funcionalista, que aborda as funções exercidas pelos veículos

de informação na sociedade. “Enquanto as funções se referem a conseqüências de certos

elementos (...) do processo comunicativo, as necessidade se relacionam à apropriação dos

espectadores e determinariam um certo ‘uso’ que estes fariam do material veiculado na mídia,

procurando satisfazer suas necessidades” (ARAÚJO apud BARBOSA, 2009, p.32). Era essa

relação de dependência que o Repórter Esso tinha com o ouvinte, ou seja, 'se não desse no

Esso, não era verdade'. E nas leituras realizadas durante essa pesquisa, constatamos que

muitos ouvintes do programa se sentiram órfãos, quando foi transmitida a última edição do

programa no final do ano de 1968.

Klöckner (2008) explica que a globalização pode ser empregada na análise do

Repórter Esso, devido a sua transmissão em vários países das Américas. “Ao todo 60

emissoras de 15 países do continente americano irradiaram o noticioso, formando,

possivelmente, a primeira e mais ampla rede radiofônica global utilizada por qualquer

empresa em programa permanente e exclusivo” (KLÖCKNER, 2008, p.105).

3.2 Análise da estratégia e publicidade

Fazer a propaganda de alguma coisa envolve uma estratégia de comunicação para

convencer um determinado público a comprar um produto, uma marca, ou até mesmo aceitar

uma ideia. Para Pinho apud Barbosa (2009, p.128) fazer propaganda é “propagar idéias,

crenças, princípios e doutrinas (…) podemos conceituar propaganda como um conjunto de

técnicas e atividades de informação e persuasão destinadas a influenciar, num determinado

sentido as opiniões, os sentimentos e as atitudes do público receptor (...)”.

Nos anos 40, uma das formas de tornar uma marca conhecida no Brasil era a

veiculação do nome da empresa à algum programa radiofônico. Conforme relata Barbosa

(2009, p.128), “o rádio é o meio em que, historicamente a propaganda mais se difundiu em

nosso século, por vezes de maneira perigosa e ardilosa”.

Segundo Castilho (2008) esta estratégia de marketing foi utilizada por grandes

agências de publicidade que se instalaram no país e que detinham a conta de multinacionais

50

com grande influência no mercado. Dentre essas agências, estava a McCan-Erickson, que

tomava conta da imagem da empresa que levaria o seu nome a um dos noticiários mais

reconhecidos da época, a Esso. “Dentre as estratégias podemos destacar a criação do Repórter

Esso no rádio e televisão, investimento da empresa em publicidade na imprensa escrita, e a

constituição do Prêmio Esso de jornalismo” (CASTILHO, 2008, p.1).

No caso específico do Repórter Esso, observa-se, em primeiro lugar, que um conglomerado petrolífero mundial, como a Standard Oil Company, com interesses diversificados pelo globo, aliou-se a uma agência noticiosa (UPA, posteriormente UPI), criando um noticiário radiofônico (e depois televisivo) sob supervisão de uma agência de publicidade própria, a McCann-Erickson, montando uma estratégia para anunciar os seus produtos, associar credibilidade da notícia à empresa e difundir propaganda ideológica. (KLÖCKNER, 2008, p.108).

Não demorou muito para que o programa da empresa fosse aceito pelo Brasil.

Para Klöckner (2008, p.51) “acredita-se que foi a primeira tentativa de montar uma rede

nacional de divulgação de notícias, visando a conquistar não só clientes, mas a opinião

pública brasileira”. Como explica Ferraretto (2001), com cinco edições diárias pontualmente

às 8h00, 12h55, 18h30, 20h25 e 22h05, indo além dessas, as inúmeras e freqüentes edições

extras, o Repórter Esso também ganhou credibilidade dos ouvintes.

O programa não foi transmitido em qualquer rádio. A escolha foi feita de acordo

com o grau de audiência das emissoras do país. Calabre (2005) aponta que o Repórter Esso

foi produzido em São Paulo, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte, sendo transmitido pelas

emissoras Record (posteriormente substituída pela Tupi), Jornal do Commercio, Inconfidência

e Farroupilha. “Com o objetivo de atingir a quase totalidade dos ouvintes brasileiros, a

McCann-Erickson escolheu para a transmissão do noticiário os principais centros urbanos,

contratando as emissoras de maior audiência e alcance nas cidades vizinhas para transmitir

seu noticiário” (CALABRE, 2005, p.34).

De acordo com a publicação em Cadernos de Jornais apud Ortriwano (1989,

p.73), uma hora antes e meia hora depois da transmissão do noticioso, nenhuma emissora

poderia transmitir nenhum programa de cunho jornalístico. “Esta era apenas uma das severas

normas adotadas pela empresa e por sua agência de publicidade no relacionamento com as

rádios”.

O Repórter Esso também era um produto publicitário que não deixava de fazer

parte da indústria cultural. Apesar de ter o intuito de difundir a marca da petrolífera, também

51

levava informação às pessoas sobre o que acontecia na II Guerra Mundial. De acordo com

Santos (2004, p.28), “o surgimento das indústrias do entretenimento trouxe, como resultado, a

padronização e a racionalização das formas culturais, atrofiando a capacidade de os

indivíduos pensarem de uma maneira crítica e autônoma”.

O espaço de publicidade do programa, além do próprio nome, era de 40 segundos,

conforme instruções do manual gravado por Heron Domingues (COLLECTORS). O locutor

anunciava a marca, não apenas com o intuito de vender, mas também de propagar a ideia da

empresa no país, principalmente na década de 50, quando estava para ser criada a Petrobrás.

Com a monopolização do petróleo, a Esso passaria a comprar os derivados de petróleo da

estatal. De acordo com Castilho (2008, p.5) a Esso, que consequentemente era contra esse

monopólio, também anunciava nos jornais que eram contrários a iniciativa do governo, “em

1956, o valor gasto em publicidade pela Esso e pela Shell, somente para a venda de

combustíveis, somou 31 milhões de cruzeiros. (...) Em 1959, os gastos da multinacional

chegaram a 80 milhões de cruzeiros, aumento de 185% em relação a 1953”.

A Esso denunciada e investigada por uma CPI, quando foi acusada de investir em

publicidades somente nos jornais que eram contra a monopolização do petróleo, de acordo

com Castilho (2008), acabou ganhando uma imagem negativa. E para recuperar essa imagem,

adotou outra estratégia que a aproximaria dos formadores de opinião: o prêmio Esso de

jornalismo.

3.3 Análise da linguagem do programa

Para entender um pouco sobre a linguagem do Repórter Esso temos que ter em

mente que o programa era um produto publicitário da marca Esso, e que de certa maneira,

servia para atender aos interesses comerciais e políticos da época, divulgando também o modo

de vida norte-americano, como já foi relatado neste trabalho, como aponta Klöckner (2008):

Os discursos do Repórter Esso podem ser divididos em antes e depois da Segunda Guerra Mundial. Em ambas as fases, o noticiário atendia aos interesses comerciais e políticos. Patrocinado pela Standard Oil of New Jersey, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo, o Esso anunciava comercialmente produtos no varejo, como combustíveis (gasolina e óleo), fogareiros, entre outros. Na área política, o objetivo seguia o plano de aproximação com o Brasil, determinado pelo Presidente Franklin Delano Roosevelt, conforme artigo da revista da Abert: “A princípio era uma peça de propaganda das atividades do governo dos EUA, durante a guerra,

52

patrocinada pela multinacional de petróleo em vários pontos do mundo” (O PIONEIRISMO apud KLÖCKNER, 2008, p.160).

Ortriwano (2002, p.73) complementa que o programa “surgiu com a preocupação

de defender as posições dos Aliados na Guerra. No começo, era totalmente produzido pela

McCann- Erickson, agência de publicidade que detinha a conta da Esso (...), unicamente com

notícias fornecidas pela UP”.

Levando em consideração que o programa também era publicitário, entendemos

que a tentativa de imparcialidade era, na maior parte dos casos, nula na produção do mesmo.

Para Klöckner (2008) os textos escritos na década de 60 – época do golpe militar e da corrida

espacial – eram curtos, mas nem sempre objetivos, o que em alguns casos, fazia com que o

lide não tivesse os seis elementos que segundo Ferraretto (2001), compõem a notícia (o que,

quem, quando, onde, como e porque). “A linguagem era parcial, enaltecendo a posição dos

Estados Unidos e seus aliados na luta contra os nazi-facistas, os comunistas e os soviéticos,

estes em relação à corrida espacial”. (KLÖCKNER, 2008, p.162)

Entretanto, segundo Klöckner (2008), o manual “Instruções básicas para a

produção do Repórter Esso no rádio: orientação geral e sugestões para as estações de rádio,

locutores e a United Press” editado em espanhol e adaptado pela United Press e pela

McCann-Erickson em 1957, recomendava que os princípios a serem rigorosamente

respeitados na produção do noticiário seriam a “credibilidade, exatidão, pontualidade e

vibração na voz dos locutores. Somente os fatos podiam ser relatados; comentários adicionais

eram proibidos” (KLÖCKNER, 2008, p.56).

O manual também recomendava que o produtor deveria ser imparcial por causa da

associação natural do Repórter Esso à Esso Standard do Brasil.

É justamente esta a razão pela qual as notícias não podem, não devem, de forma alguma, ter qualquer traço de partidarismo, qualquer caráter opinativo. Reportar as notícias por mais duras que elas sejam, expondo todos os fatos, esta é, realmente, a responsabilidade da nossa imprensa livre (KLÖCKNER apud KLÖCKNER 2008, p.56).

Conforme Faus apud Prado (1989, p.36) a adjetivação de um texto amplia “as

possibilidades de impacto radiofônico, podendo modificar o conteúdo informativo”. O que

não era presenciado em todas as notícias divulgadas no noticiário. Como explica Klöckner

(2008, p.161), “tecnicamente, a evolução temporal se reflete nos textos mais diretos, com a

supressão dos adjetivos, e pelo aprofundamento da forma como era feito o Repórter Esso. Os

detalhes foram considerados ao máximo, para dar a impressão de perfeição”.

53

De acordo com Ferraretto (2001, p.26), entende-se por linguagem radiofônica “o

uso da voz humana, da música, dos efeitos sonoros e do silêncio, que atuam isoladamente ou

combinados entre si de diversas formas. Cada um destes elementos contribui, com

características próprias, para o todo da mensagem”. O autor também destaca que os três

últimos elementos trabalham com o inconsciente dos ouvintes, enquanto o que é falado pelo

locutor trabalha com o consciente.

No entanto, utilizamos neste trabalho apenas o uso da descrição para a análise da

linguagem de apenas um dos programas do Repórter Esso, descartando os artifícios da

semiologia para uma análise de discurso. Utilizamos também algumas recomendações do

manual de redação do noticiário gravado por Heron Domingues para que se tenha uma noção

de como deveria ser construída a linguagem dos locutores.

O manual gravado por Heron mostrava o modo como o locutor deveria ler os

telegramas. A leitura era interpretada como uma batalha de guerra. O locutor deveria ler as

notícias com um tom de voz tão forte e violento quanto os fragores do combate. Já os textos

publicitários deveriam ser falados com voz mais suave, pois de acordo com Herreros (2008,

p.342), possui uma ideia comercial, ou seja, pretende convencer o ouvinte a comprar o

produto. “A função da publicidade não é a criatividade, mas a persuasão para que o público

compre alguns produtos e utilize alguns serviços. A criatividade, nesse caso, atua como um

impacto sensorial e de impregnação da memória e emoções”.

Não seria compreensível a leitura dos textos de publicidade, que sugere aliás a tranqüilidade e a paz das noites sertanejas com a mesma entonação inflamada e guerreira que descreve acontecimentos sombrios e tumultuosos. O texto de publicidade do Repórter Esso é a parte mais importante do programa. Em cinco minutos, o cliente não dispõe de mais de 40 segundos e algumas vezes menos para a sua publicidade. Esse tempo não pode ser, pois de maneira alguma desperdiçado. Cada décimo de segundo, cada centésimo tem que ser trabalhado pelo locutor, a fim de tirar o maior efeito possível do escasso tempo (COLLECTORS).

Como se percebe, algumas das notícias que foram transmitidas no dia 31 de

dezembro de 1947 às 22h55, por Heron Domingues, foram escritas em ordem direta com os

verbos na voz ativa, o que segundo Prado (1989, p.40), dá mais força às notícias, destacando

seu interesse. “Pelo contrário, a passiva, além de não ser de uso comum, obriga a uma

modificação nos planos do espaço e do tempo para atribuir a ação descrita ao sujeito

nominado ao final”. Exemplos de notícias que estão com o verbo na voz ativa:

54

O primeiro-ministro Schuman pronunciou esta tarde um discurso(...) A Assembléia Nacional ratificou o tratado do Rio de Janeiro (...) A direção nacional da União Democrática Nacional se reuniu hoje (...) (COLLECTORS).

A aparente imparcialidade também está presente no texto. Porém, fica duvidosa

quando o produtor utiliza alguns adjetivos que podem agregar valores positivos ou negativos

a determinados sujeitos ou modificar o entendimento da notícia, conforme Prado (1989).

Exemplos de notícias com presença de adjetivos:

Paris – O primeiro-ministro Shulman pronunciou esta tarde um discurso ante a Assembléia Nacional Francesa, depois que esta aprovou gigantesco orçamento da quarta República. O senhor Shulman afirmou que os recentes discursos do presidente Truman e do general Marshall, secretário de estado norte-americano, são uma grande fonte de esperança para o povo francês (...) Belo Horizonte – As informações sobre o temporal que está desabando em grande parte no interior de Minas são as mais desoladoras possíveis (...) Washington – O departamento de justiça revelou que está realizando ampla investigação a respeito de possíveis violações das leis de neutralidade dos Estados Unidos, com relação à passagem ilegal de judeus para a Palestina (...) (COLLECTORS).

3.4 Análise da estética do programa

“O som é um fenômeno vibratório capaz de provocar uma sensação auditiva”

(D’ALMEIDA apud MEDITSCH, 2001, p.152).

A música no rádio é algo que ganhou força junto às propagandas, ou informes

publicitários na década de 1930. Mas os primeiros vestígios da fonografia já foram

reconhecidos no começo do século XX. Meditsch e Zuculoto (2008, p.161) também apontam

que para Walter Benjamin, em seu livro 'A obra de arte', havia um grande salto na época da

difusão de comunicação e que o rádio conseguiu “novas formas de percepção da arte ao

permitir a exposição para um número maior de pessoas” e então poder reproduzir para a

massa o som falado e cantado.

Para Barbosa (2009) há uma distância aparente entre os meios de comunicação

visuais, que dão ao telespectador o som e a imagem, para o 'simplesmente' ouvir do rádio,

onde o locutor tem apenas a voz para cativar seus ouvintes. “Isso, fatalmente, desperta a

55

imaginação do ouvinte que logo irá criar na sua mente a visualização do dono da voz ou do

que está sendo dito” (BARBOSA, 2009, p.45).

No começo da ‘era de ouro’ do rádio, como aponta Prado (2006), o homem que

tivesse voz grossa tinha grandes chances de ser um locutor, pois não havia maiores distinções.

Com o Repórter Esso, os locutores teriam de ser mais interpretativos, expressivos e saber

utilizar os diferentes timbres para diferentes notícias.

Barbosa apud Collectors, que era um dos supervisores do Repórter Esso na Rádio

Nacional, disse que ao criar o Repórter Esso no Brasil, a McCann-Erickson exigiu muitas

coisas, pois o sistema de trabalho dos norte-americanos era diferente, então as adaptações

eram realizadas aqui. O primeiro locutor foi Romeu Fernandes, e ele precisava de uma

“invergadura de grande jornal, para impor, enfiar no ouvido do camarada que ta ouvindo lá

uma seriedade”. O locutor era diferenciado e tinha um contrato exclusivo com o programa. O

supervisor do Repórter Esso conta que gravou vários testes, com mais de 40 locutores, para

encontrar o certo, mas não foi fácil. Um dia surgiu o homem que passou no teste e seria o

mais famoso Repórter Esso, Heron Domingues.

Manzo apud Collectors que foi um dos substitutos regulares de Heron na

apresentação do programa, conta que as instruções de como ler as notícias ou marcação de

tempo, eram pré-determinadas pela UPI. O texto teria que ser em ordem direta, não ter

orações intercaladas, tudo para facilitar a leitura e formalizar o padrão. Segundo o locutor, foi

Heron que adaptou as instruções da agência americana aqui no Brasil. Ele numerava as linhas

para que a leitura fosse cronometrada. Um locutor normal lia 15 linhas por minuto, o locutor

do Repórter Esso teria que ler no máximo 16 linhas por minuto, o que em quatro minutos e

trinta segundos - o tempo determinado para notícias - resultavam em 72 linhas. Com a

dinâmica criada era possível determinar o tempo exato que o jornal duraria.

No manual 'falado' que o próprio Heron gravou para enviar aos outros locutores

responsáveis, ele determinava como cada passo do programa deveria ser feito. O 'bom dia'

deveria ser com otimismo, voz clara sem qualquer sinal de sono. O ouvinte tinha que ouvir

uma voz alegre, firme e pontual que o retirasse da: letargia matinal atirando-o à realidade da vida que deverá ser por ele enfrentada dentro de alguns minutos depois do café. Para quem ouve, a primeira impressão é que o locutor dormiu muito bem, que 'madrugou' e está a par de tudo o que aconteceu na madrugada. O ouvinte ficará satisfeito com o otimismo e segurança de nossa voz e nos outros dias tornará a buscar em nós coragem e alento para iniciar seu dia. O locutor do Repórter Esso tem que ser um intérprete das notícias que lê. A voz é um dom maravilhoso que

56

deve ser aproveitado em toda a sua extensão e equivale a cor em todas as suas tonalidades” (COLLECTORS).

Segundo Prado (1989, p.22) “a locução intervêm quatro variáveis importantes: a

vocalização, a entonação, o ritmo e a atitude”. O Repórter Esso utilizava esses recursos, mas

também possuía suas diferenças na forma de interpretar a notícia e passá-la ao ouvinte, soava

como um amigo que conversava todos os dias e ainda o mantinha informado. “O jornalista

radiofônico, que lê os textos que ele próprio elabora, deve sentar-se ante o microfone com a

atitude de quem vai explicar algo a um público heterogêneo” (PRADO, 1989, p.20). Assim,

foi o Repórter Esso, ele ditou o novo ritmo a ser executado na produção e transmissão de

notícias pelo rádio, conseguindo a confiança de seus ouvintes.

Ferraretto (2001, p.286) mostra que existem sons que causam efeitos “sobre a

sensorialidade do ouvinte” e através deles os “efeitos permitem ao público ‘ver’ o que está

sendo descrito e a música possibilita ao ouvinte ‘sentir’ o que se transmite”. Ainda segundo o

autor, existem quatro estilos de inserções sonoras musicais no rádio: a 'característica' que seria

a música tocada no começo e no final de cada bloco ou transmissão; a 'cortina' que é utilizada

entre seções, comentários ou editoriais; a 'vinheta' que utiliza elementos das duas acima, mas

com a diferença importante em associar o texto e a música, servindo para identificar o

programa ou até mesmo o patrocinador; e por último o 'fundo musical' ou BG – background -

que fica em um volume menor ao da voz do locutor e tem, geralmente, função reflexiva ou

expressiva.

Outra questão muito frisada no programa era a leitura dos patrocinadores. A

ausência do comercialismo na voz do Repórter Esso era obrigatória, pois o estilo vulgar da

leitura de anúncios não era absorvido pelo ouvinte. A leitura deveria ser feita pausadamente, sem pressa, ao contrário dos telegramas, assim mais ouvintes seriam atraídos. Frise as palavras fortes e explore as consoantes explosivas labiais e linguais como o 'T', 'B', 'N', use e abuse do 'A' e 'E' bem aberto. Não crie pronúncias, pois ganhará somente a antipatia dos ouvintes. O ritmo na hora da leitura jamais deve ser perdido, um tropeço já causa a pior das impressões. O negrito do jornal impresso deve ser o equivalente às nuances da voz no rádio, pois o maior inimigo do rádio é a monotonia (COLLECTORS).

Para Andrade (2004) a entonação do locutor vai ser diferenciada a cada tipo de

notícia que ele lê e as manchetes têm que ser apresentadas com a voz forte e de maneira

apelativa, contando também com efeitos sonoros. O locutor segue o ritmo e ao ler as notícias

pode utilizar pausas e silêncios para prender a atenção do ouvinte. Prado (1989, p.24) também

exemplifica que a importância do ritmo está em quando “articulamos às ideias em diferentes

57

velocidades, em função do que nos vai ocorrendo constantemente e dos estímulos que

recebemos de nossos interlocutores”.

Meditsch (2001, p.153) aponta que “o timbre se reflete em uma combinação de

múltiplas amplitudes e frequências” e “é o que distingue um instrumento musical de qualquer

outro e uma voz humana entre milhões”.

Em meio ao programa outras formas de emocionar o ouvinte são percebidas.

Andrade (2004) aponta que sons como o de sirenes, tiros de bala, e principalmente a música

fazem crescer a aflição de quem está ouvindo e, no caso do Repórter Esso e seu contexto

histórico, isso é frequente. Esses recursos servem para ilustrar e exemplificar na imaginação,

o que de fato está acontecendo, como completa Barbosa (2009, p.80): “as emissoras com

maior penetração junto àquele segmento de audiência utilizam bastante os elementos sonoros,

como efeitos especiais, ruídos, trilhas musicais, etc., para atingir uma mobilização eficiente

do seu público”.

A vinheta do Repórter Esso era forte e por isso não saía da cabeça das pessoas.

Prado (2006) mostra que ela poderia ser um ponto de marcação do programa, pois “ao ouvir

determinada música, o ouvinte identifique no ato, de qual programa se trata”.

Assim aconteceu com a vinheta de abertura do noticioso, que Barbosa apud

Collectors, diz que surgiu da união de uma série de discos com fanfarras. Junto ao locutor, o

maestro Carioca ouviu trilha por trilha e selecionou pedaços para depois fazer um

prolongamento no final, criando a vinheta que conhecemos hoje. Ela foi gravada por Barbosa,

Sérgio Marino e o Carioca na própria rádio, somente com dois pistões e um trombone. O som

não ficou bom, então foram para uma gravadora, onde Luciano Perrone adicionou o som da

bateria.

3.5 Contribuições do Repórter Esso para o radiojornalismo em Ribeirão

Neste capítulo, procuraremos demonstrar a influência do Repórter Esso na cidade

de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Para isso partiremos de uma demonstração macro,

ou seja, a própria influência que ele exerceu em todo o país, e partiremos para o micro, a

influência em Ribeirão. Infelizmente, há uma escassez evidente de literatura especializada

com foco o radiojornalismo em Ribeirão Preto, por isso, entrevistamos jornalistas e XXX que

foram contemporâneos ao Repórter Esso.

58

Segundo os autores que foram consultados neste trabalho, o programa que era

conhecido em vários países das Américas, teve muita influência também no Brasil, deixando

a sua contribuição para o radiojornalismo no país. Lopes apud Ortriwano (1989, p.73) afirma

que o noticiário era sucinto, vibrante e com duração de cinco minutos. A autora aponta que

estas características foram repassadas para o radiojornalismo que já era difundido no Brasil.

“A partir daí, o radiojornalismo começa a desenvolver sua técnica específica e a fazer parte do

dia-a-dia” (ORTRIWANO, 1989, p.73).

Ferraretto (2001, p.127) também indica como contribuição do Repórter Esso para

o radiojornalismo brasileiro a forma de divulgar as notícias, que foi importada dos norte-

americanos. “A maior contribuição do Esso foi a introdução no Brasil de um modelo de texto

linear, direto, corrido e sem adjetivações, apresentado em um noticiário ágil e estruturado”.

Para Klöckner (2008) o programa se tornou referência internacional para os

noticiários que tinham formato semelhante. O autor também relata que o Esso regularizou os

horários da programação das rádios, pois até então, a entrada e saída de cada programa ou

noticiário no ar, não era respeitada rigidamente. “Além da pontualidade, com o Repórter Esso

surge uma nova organização nas emissoras. É adotada nova forma de estrutura e de realizar as

coisas, o estilo norte-americano de fazer” (KLÖCKNER, 2008, p.110).

De acordo com Calabre (2002), o radiojornal Esso foi o programa pioneiro dos

jornais contemporâneos que se caracterizam como imparciais, objetivos, informativos e

modernos. “O Repórter Esso serviu de modelo para muitos dos jornais radiofônicos e

televisivos que o sucederam” (CALABRE, 2002, p.43).

No interior, a rádio começou a ser difundida bem cedo, em 1924. A cidade de

Ribeirão Preto foi a primeira a receber uma emissora de rádio no interior do Brasil e isso já

demonstra sua evolução junto ao cenário nacional da radiodifusão. Beschizza (2011), afirma

que “Ribeirão era a única cidade do Brasil que tinha um prédio construído especificamente

para fazer radio, chamado Palácio do Rádio, na esquina da Barão do Amazonas com a

Francisco Junqueira”. E era nesse local que os profissionais produziam programas para o

Brasil todo, como por exemplo, novelas gravadas em fita e programas humorísticos.

Mesmo assim, Beschizza (2011) conta que o rádio em Ribeirão “não tinha as

condições das grandes emissoras, então o jornalismo no caso, era representado pelos

programas informativos, no qual o Repórter Esso era o grande carro-chefe, porque tinha

condições de comprar noticiário através de agências internacionais”.

Naquela época o Repórter Esso “era o padrão que imperava no radiojornalismo do

país”, afirma Liporassi (2011). Antes do noticioso, Morandini (2011) diz que o padrão era

59

“jogar mais com a emoção e não com a técnica”. E ainda completa que o programa tinha

grande importância, pois:

Ele representou uma inovação porque não se limitava a noticiar, mas também interpretava a notícia e foi pioneiro nessa maneira de apresentar os fatos jornalísticos, o que hoje em dia, principalmente na televisão, tornou-se normal na figura dos âncoras do jornal, que além de informar, comentam a notícia. O Jornal da Globo, a meu ver, é uma versão ampliada do Repórter Esso. (MORANDINI, 2011)

Para a maioria desses radialistas, as contribuições foram homogêneas em todo o

país e, consequentemente, influenciaram a maneira de se fazer rádio em Ribeirão Preto.

Gasparini (2011) acredita que o noticioso “popularizou a informação”, já Morandini (2011)

afirma que o Repórter Esso trouxe “a forma de edição extraordinária, a locução vibrante, o

ineditismo, o fato que acontecia naquele momento. Ele trouxe o novo”. Antes o radialista

buscava as notícias através de outras rádios e as recebia pelo telégrafo, “a produção era essa:

copiar das agências noticiosas”, afirma o locutor.

Zaidan (2011) aponta que com o Repórter Esso “chegou ao Brasil o jornalismo de

lide, de informação”, com características próprias para o radiojornalismo e que influenciaram

diretamente o radialista.

Começou com noticias na ordem direta, a não usar adjetivo; com notícias curtas e linguagem mais coloquial. E outra coisa importante, ele estabeleceu o horário da notícia. O país parava na hora do Repórter Esso. A maneira de se passar a notícia mudou tudo, não só em Ribeirão. Todo mundo queria fazer igual o Repórter Esso. Eu cresci imitando o Heron Domingues, querendo ser ele; querendo falar no noticiário como o Heron. Ele era o modelo, vários locutores queriam ser como ele, afinal ele era um modelo importado de jornalismo. (ZAIDAN, 2011)

Beschizza (2011) complementa dizendo que ele “representou o máximo que você

podia exigir de um porta voz noticioso”, assim como Gasparini (2011) diz que “o Repórter

Esso era uma fonte de informação obrigatória”. Zaidan (2011) também lembra que a “edição

extraordinária veio com o Esso e a função social do programa era grande, e também por isso

exercia influência”. O jornalista ainda conta que o noticioso “mudou a forma, o estilo e

agilizou a notícia. Agora, era rápida, contundente, objetiva: era curta e grossa. Com isso ele

ajudou a profissionalizar a informação no rádio” (ZAIDAN, 2011). Schiavon (2011)

complementa que “o Esso além de manter equipes próprias, permitia que o camarada fizesse

carreira dentro do rádio e criasse hierarquia dentro das redações”.

60

Beschizza (2011) ainda completa que o programa inovou “em maior capacidade

para receber e gerar noticia do que os concorrentes. E outra, com uma emissora

poderosíssima, era transmitida no Rio de Janeiro e pegava o Brasil inteiro”. Por esse fato

também, Netto (2011) acredita que o programa foi “uma completa inovação” e que sua

estrutura de apresentação com “programas de apenas cinco minutos de hora em hora,

influenciou as emissoras que ainda fazem isso nos dias de hoje”. Morandini (2011) diz que

em Ribeirão Preto o programa inovou no “estilo diferenciado de falar e ainda tendo horários

diferentes, como o da noite”. Ele ainda conta que alguns radialistas na cidade também

seguiam o estilo do Repórter Esso “tínhamos o José Pizarro, o Beschizza e o Pimentel que

faziam muito bem esse tipo de jornal” (MORANDINI, 2011).

Morandini (2011) completa que o Repórter Esso “era influência no Brasil todo, e

quando noticiava algo do interior era comentário geral, como a morte da Sinhá Junqueira” e é

justamente por essa exatidão em informar que Gasparini (2011) acredita que “a influência se

dava em qualquer um pela credibilidade que o programa construiu”. Já Liporassi (2011)

afirma que “a prioridade na valorização da informação” foi a grande contribuição do noticioso

para o rádio em Ribeirão.

Zaidan (2011) ainda acredita que as influências do Repórter Esso são

reconhecidas em programas jornalísticos de rádio hoje em dia. “A CBN, BandNews, Jovem

Pan, mantêm o noticiário de hora em hora, esse informativo fechado de cinco a sete minutos

em um tom mais parecido com o Repórter Esso do que de conversa”. Assim como no

“'Primeira Hora' primeiro jornal da manhã da BandNews que possui os dois locutores que

leem as notícias na pauleira”. Claro que não utilizando o estilo de Heron Domingues, mas eles

também se “preocupam em ler mais notícias, menores e em menos tempo, colocando um tom

de urgência”. Schiavon (2011) acrescenta que “o Repórter Esso foi o gene inicial do

radiojornalismo brasileiro”.

Segundo os entrevistados, houve influência do Repórter Esso no radiojornalismo

do Brasil. Mas não são todos que afirmam a sua influência para o radiojornalismo em

Ribeirão Preto. Outros vão além, em dizer que a forma de apresentar o programa da época

influenciou até mesmo as formas de suas locuções.

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O levantamento histórico sobre o rádio brasileiro e o radiojornalismo possibilitou

identificar as influências do Repórter Esso nas principais emissoras brasileiras. No entanto,

não consta sequer uma linha sobre as influências do mais importante noticioso radiofônico do

país em uma cidade do interior.

As referências sobre o Repórter Esso em Ribeirão Preto surgiram de uma série de

entrevistas com profissionais da comunicação que vivenciaram o período áureo do mais

conceituado informativo do rádio brasileiro. Destes encontros, reunimos elementos suficientes

para afirmar que o Repórter Esso contribuiu para o radiojornalismo produzido na cidade.

Percebemos as influências do noticioso nas práticas utilizadas pelos redatores e

locutores-noticiaristas no que diz respeito à adoção de uma linguagem específica para o

radiojornal, pois antes, as notícias eram lidas diretamente do jornal impresso, sem nenhum

tratamento adequado. A locução, antes padrão, passou a ser vibrante, como recomendava

Heron Domingues, que se tornou uma referência para os locutores noticiaristas da época e até

os apaixonados pelo rádio que sonhavam com a carreira de locutor.

Encontramos também características do Esso no controle do tempo dos

noticiários. Antes, não havia uma programação com horários fixos ou bem definidos.

O Repórter Esso também trouxe a notícia em ordem direta, para facilitar a

compreensão do texto e a utilização da procedência, ou seja, o local onde o fato havia

acontecido.

A trilha musical tornou-se uma marca registrada do programa, já que os ouvintes

paravam o que estavam fazendo para ouvir o Repórter Esso. A trilha teve papel fundamental

na construção da audiência durante as edições extraordinárias. Bastava os primeiros acordes

para todos correrem para perto do rádio. Sinônimo de credibilidade, outra contribuição

importante do noticioso. O Repórter Esso ajudou a profissionalizar a informação no rádio de

Ribeirão Preto. Os redatores, que também acumulavam a função de locutores/noticiaristas

passaram a se preocupar mais com o conteúdo e com o ouvinte, aperfeiçoando a informação

através do rádio: notícias objetivas e linguagem mais coloquial, exatamente como o Repórter

Esso.

Os depoimentos colhidos indicam, também, que as contribuições do Repórter

Esso ao rádio de Ribeirão Preto são semelhantes às contribuições registradas às demais

emissoras dos grandes centros e que constam da documentação disponível sobre o tema.

Atribuímos este fenômeno ao fato do rádio de Ribeirão Preto, à época, se manter atualizado,

62

atento a tudo o que acontecia nos principais centros produtores de rádio no Brasil (eixo Rio-

São Paulo), principalmente no início da década de 1950, com a PRA-7.

Um fenômeno que não ocorre por acaso, uma vez que nesta época, os meios de

comunicação se pautavam pela massificação da mensagem, na acumulação de audiência.

Princípios preconizados pela indústria cultural, contextualizados por Adorno e Horkheimer

(1985) ao afirmar que “toda cultura de massas é idêntica”, que o rádio não precisa mais “se

apresentar como arte”, uma vez que “não passa de um negócio”. Parafraseando os dois

pensadores, podemos arriscar a afirmar que, mais do que influência, o radiojornalismo

experimentou uma mimese positiva.

63

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ENTREVISTAS

BESCHIZZA3, João Arduini. Influência do Repórter Esso em Ribeirão Preto. Entrevista

realizada por Martins, Leandro Henrique Aparecido, Pereira, Larissa Costa, Santos, Célia

Natalina, Zanuto, Bruna Roberta Melges. Ribeirão Preto, 2011.

GASPARINI4, Welson. Influência do Repórter Esso em Ribeirão Preto. Entrevista

realizada por Martins, Leandro Henrique Aparecido, Pereira, Larissa Costa, Santos, Célia

Natalina, Zanuto, Bruna Roberta Melges. Ribeirão Preto, 2011.

LIPORASSI5, Miguel Antonio. Influência do Repórter Esso em Ribeirão Preto. Entrevista

realizada por Martins, Leandro Henrique Aparecido, Pereira, Larissa Costa, Santos, Célia

Natalina, Zanuto, Bruna Roberta Melges. Ribeirão Preto, 2011.

MORANDINI6, Carlos Antonio. Influência do Repórter Esso em Ribeirão Preto.

Entrevista realizada por Martins, Leandro Henrique Aparecido, Pereira, Larissa Costa, Santos,

Célia Natalina, Zanuto, Bruna Roberta Melges. Ribeirão Preto, 2011.

NETTO7, João Nillo Coraucci. Influência do Repórter Esso em Ribeirão Preto. Entrevista

realizada por Martins, Leandro Henrique Aparecido, Pereira, Larissa Costa, Santos, Célia

Natalina, Zanuto, Bruna Roberta Melges. Ribeirão Preto, 2011.

3 BESCHIZZA, João Arduini. Iniciou sua carreira aos 17 anos. É formado em Direito e trabalha como jornalista e radialista há mais de 50 anos. Apresenta o programa Rota da Verdade, na Rádio Clube de Ribeirão Preto. E passou por todas as rádios de Ribeirão Preto, tanto AM, quanto FM. 4 GASPARINI, Welson é advogado, jornalista e professor. Trabalho no rádio 50 anos. Iniciou sua carreira através de um concurso público para locutores pela ZYR-79. Trabalhou também na PRA-7 (atual Rádio Clube) e, por um breve período, na rádio Record de São Paulo. Foi repórter de rua, locutor comercial, animador de programas de auditório, apresentador de programas musicais e jornalísticos. 5 LIPORASSI, Miguel Antonio é formado em Jornalismo e Direito e trabalha no rádio há 50 anos. Começou na Rádio Cultura de Ituverava. Trabalhou nas seguintes emissoras de rádio e tv Ribeirão Preto: 79, Clube, TV Clube, CMN e Canal 20. A área que mais atuou no rádio, foi a esportiva. 6 MORANDINI, Carlos Antonio, trabalha com jornalismo há 55 anos. Começou aos 13, escrevendo coluna esportiva para o jornal Diário de Notícias e entrou no rádio logo em seguida. Trabalhou nas rádios: Brasiliense, PRA-7, CMN e 79. Na televisão trabalhou na TV Record de Franca, TV Thati Manchete. Atualmente trabalha na Rádio 79. 7 NETTO, João Nillo Coraucci é formado em Direito e trabalha no rádio há 52 anos. Entrou no rádio através de concurso. Trabalhou nas rádios de Ribeirão Preto: Clube, Brasiliense, Cultura, Rádio Capital, Tupi e CMN.

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SCHIAVON8, Pedro Evaristo. Influência do Repórter Esso em Ribeirão Preto. Entrevista

realizada por Martins, Leandro Henrique Aparecido, Pereira, Larissa Costa, Santos, Célia

Natalina, Zanuto, Bruna Roberta Melges. Ribeirão Preto, 2011.

ZAIDAN9, Rubens Abud. Influência do Repórter Esso em Ribeirão Preto. Entrevista

realizada por Martins, Leandro Henrique Aparecido, Pereira, Larissa Costa, Santos, Célia

Natalina, Zanuto, Bruna Roberta Melges. Ribeirão Preto, 2011.

8 SCHIAVON, Pedro Evaristo, mais conhecido como “PORTO ALEGRE”, começou como colaborador no rádio aos 14 anos. Sua carreira profissional deu-se início em 1950, quando foi contratado pela PRD-4 – Rádio Cultural de Araraquara. Foi o primeiro locutor do Brasil a implantar o uso do telefone ao vivo no rádio. Trabalhou na PRA-7 (atual Rádio Clube de Ribeirão Preto), Rádio 79 e em todas as emissoras AM e FM de Ribeirão Preto. Aposentou do rádio em 1997. 9 ZAIDAN, Rubens Abud é jornalista desde os anos 60. Foi locutor e apresentador de programas musicais, de entrevistas e noticiarista em emissoras de rádio de Sorocaba, (Vanguarda e Cacique), São Paulo (Difusora e eldorado), Uberaba (Difusora) e Ribeirão Preto (Rádio Clube, Renascença, Tropical, Mais FM e 79).

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ANEXOS

71

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.216

72

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.219

73

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.220

74

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.263

75

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.267

76

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.269

77

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.277

78

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.221

79

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.218

80

Fonte: KLÖCKNER, 2008, p.217