Monografia EF Unirb Murillo Albuquerque-18072012 Final
-
Upload
murillo-junior -
Category
Documents
-
view
198 -
download
1
Transcript of Monografia EF Unirb Murillo Albuquerque-18072012 Final
FACULDADE REGIONAL DA BAHIA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
MURILLO ALBUQUERQUE DA SILVA JUNIOR
PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ENSINO DO KARATÊ PARA O 6º AO 9º ANO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: REALIDADE E POSSIBILIDADES NO
CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A PARTIR DAS ABORDAGENS CRÍTICAS
Salvador/Ba 2012
MURILLO ALBUQUERQUE DA SILVA JUNIOR
PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ENSINO DO KARATÊ PARA O 6º AO 9º ANO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: REALIDADE E POSSIBILIDADES NO
CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A PARTIR DAS ABORDAGENS CRÍTICAS
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educação Física, da Faculdade Regional da Bahia, como requisito parcial para obtenção de grau de Licenciado em Educação Física. Orientadora: Profª. Especialista Fernanda Batista Rocha
Salvador/Ba 2012
BIBLIOTECA ZUZA PEREIRA / FACULDADE REGIONAL DA BAHIA – UNIRB
Silva Junior, Murillo Albuquerque da.
Proposta pedagógica de ensino do karatê para o 6º ao 9º ano na educação básica: realidade e possibilidades no campo da Educação Física escolar a partir das abordagens críticas / Murillo Albuquerque da Silva Junior. -- Salvador, 2012.
64 f.
Orientadora: Profª. Esp. Fernanda Rocha Batista. Monografia (Graduação) Curso de Licenciatura em Educação Física – Faculdade Regional da Bahia – UNIRB, 2012
1. Educação Física Escolar. 2. Karatê. 3. Abordagens Críticas.
I. Título.
CDD796.8153
MURILLO ALBUQUERQUE DA SILVA JUNIOR
PROPOSTA PEDAGÓGICA DE ENSINO DO KARATÊ PARA O 6º AO 9º ANO NA EDUCAÇÃO BÁSICA: REALIDADE E POSSIBILIDADES
NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A PARTIR DAS ABORDAGENS CRÍTICAS
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física da Faculdade Regional da Bahia/ UNIRB.
Aprovada em Julho de 2012.
Banca Examinadora
Fernanda Batista Rocha – Orientadora_____________________________________ Profª Esp. em Administração Pública Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS Flamarion de Santana Santos – Parecerista ________________________________ Profº Esp. Metodologia do Ensino e Pesquisa em Educação Física, Esporte e Lazer Universidade Federal da Bahia – UFBA Lauro Gurgel de Oliveira Junior – Coordenador CLEF ________________________ Profº MS. em Educação Física Instituição Superior de Educação Pedagógica – Cuba
A
Todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida acadêmica e no
desenvolvimento desta monografia.
AGRADECIMENTOS
Deus, neste momento tão maravilhoso, te agradeço por me guiar e colocar
pessoas dispostas a me ensinar com grande sabedoria.
Agradecer é simplesmente olhar com o coração cheio de amor e gratidão por
quem sempre se faz presente em momentos alegres e nos difíceis que a vida nos
propõe.
A minha querida e amada família quanto amor por mim! Sempre solícitos em
tudo. Muito obrigada aos meus tesouros, Julia e Daniel, e minha amada esposa
Edielma Leal Albuquerque por cada ação em meu favor, pela compreensão,
paciência, habilidade pelos momentos mais delicados desta minha trajetória, tendo
amor incondicional em todos os momentos desta jornada.
A minha mãe Alzira Albuquerque, por ter me dado a vida, e estado presente
em todos os momentos, com muito apoio e carinho.
Aos colegas de curso pelo companheirismo e os momentos alegres que me
proporcionaram durante toda a formação.
Ao mestre “Kyoshi1” Dorival Daniel, pela contribuição dada a essa produção
científica, pela formação que tive no estilo Shotokan, pela sua retidão, dedicação e
orientação, me ensinou dentre tantas outras coisas a valorizar a cultura oriental e em
especial o caminho das mãos vazias Karatê-Do. (Meu segundo pai!)
A Profª Esp. Fernanda Rocha Batista pelo seu carinho, dedicação em todos
os momentos desta produção cientifica. Obrigado!
A Profª Dra. Kátia Oliver Sá, sempre atenciosa e disposta a ajudar. Obrigado
pela dedicação e solicitude.
Ao Coordenador Profº MS. Lauro Gurgel, por ter me fortalecido e convidado a
prestar o vestibular, também pela sua valorosa contribuição durante todo o curso.
A todos os alunos do Cajazeiras Karatê Clube, que vivenciaram esta longa
jornada ao meu lado, através do ato de ensinar, aprendi mais do que ofertei, e hoje
evoluir como ser humano.
Ao eterno Deus, que me tirou dum profundo vale e me levou por veredas
planas, que me deu firmeza pra segurar em sua mão e seguir adiante, minha eterna
e sincera gratidão.
1 Kyoshi é um termo usado no Karatê para o Faixa Preta Graduado no 7º Dan (Nível).
Eu lhe ensinarei muitas coisas sobre karatê; por favor, ensine o que você aprender, e do modo como aprender, a meu filho. (FUNAKOSHI, 1998, p. 33)
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Cinco preceitos do Karatê (Dojo Kun)..................................... 41
Quadro 2 Kata e seus significados ........................................................ 44
Quadro 3 Vocabulário Técnico do Karatê .............................................. 45
Quadro 4 Aspectos Metodológicos do Ensino Do Karatê ...................... 46
Quadro 5 Trato do Conhecimento do Karatê, do 6º ao 9º ano a partir da abordagem crítico-emancipatória.......................................
51
Quadro 6 Trato do Conhecimento do Karatê, do 6º ao 9º ano a partir da abordagem crítico-superadora...........................................
53
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 12
1.1 DE ONDE PARTE O ESTUDO, PROBLEMA INVESTIGATIVO,
HIPÓTESE E OS OBJETIVOS..............................................................
12
1.2
1.3
METODOLOGIA ...................................................................................
MÉTODO DE EXPOSIÇÃO...................................................................
20 18 16
20
2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO
KARATÊ ...............................................................................................
22
2.1 FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO
BRASIL .................................................................................................
22
2.2
2.2.1
FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA DO KARATÊ ....................................
Fundamentos da História do Karatê em Okinawa e no Japão .......
28
31
2.2.2
2.2.3
Funakoshi Shihan – O Pai do Karatê Moderno.................................
Karatê no Brasil direto para Bahia.....................................................
33
35
3 KARATÊ NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A
PARTIR DAS ABORDAGENS CRÍTICAS............................................
39
3.1 FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO ENSINO-APREENDIZAGEM
DO KARATÊ: UMA REVISÃO DOS ESTUDOS....................................
39
3.1.1 Aspectos Metodológicos no Ensino do Karatê................................ 46
3.2 FUNDAMENTOS DAS ABORDAGENS CRITÍCAS: AS BASES DO
ENSINO.................................................................................................
47
3.3 POSSIBILIDADES DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA DO
ENSINO DO KARATÊ PARA O 6º AO 9º ANO DA EDUCAÇÃO
BÁSICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A PARTIR DAS
ABORDAGENS CRITÍCAS....................................................................
49
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................. 56
REFERÊNCIAS.....................................................................................
ANEXO A – Exposição de Artigos da Constituição Federal que
Ressaltam os Direitos dos Cidadãos Brasileiros à Educação e
Saúde ...................................................................................................
60
63
SILVA JUNIOR, Murillo Albuquerque da. Proposta Pedagógica de Ensino do Karatê para o 6º ao 9º ano na Educação Básica: Realidade e possibilidades no campo da Educação Física
Escolar a partir das abordagens críticas. 64 fl. 2012. Monografia (Graduação). Faculdade Regional da Bahia – UNIRB, Salvador, 2012.
RESUMO Monografia elaborada no Curso de Licenciatura em Educação Física da Faculdade Regional da Bahia – UNIRB. Tem como problema de investigação a seguinte pergunta: Qual a realidade e as possibilidades de uma proposta pedagógica para o ensino do Karatê do 6º ao 9º ano, na Educação Física Escolar, considerando as abordagens críticas? Tem como objetivo geral apontar a realidade e as possibilidades de uma proposta para o ensino do karatê do 6º ao 9º ano na Educação Física Escolar, a partir das abordagens críticas. Como hipótese, constatou-se que a realidade e as possibilidades de relações entre o campo da Educação Física Escolar e do Karatê, considerando uma proposta pedagógica para o ensino do Karatê do 6º ao 9º ano na Educação Física Escolar a partir das abordagens críticas, requerem um estudo mais detalhado e voltado para as lutas, abordando as necessidades de transformações da prática educativa do esporte da escola que é de suma importância para os estudantes deste nível da educação. O estudo foi realizado a partir de uma pesquisa exploratória bibliográfica, considerando, inicialmente, o levantamento dos fundamentos históricos da Educação Física e do Karatê; buscou-se também na fundamentação teórica, a base para efetivar esta pesquisa e foram expostos os fundamentos da história da Educação Física e apontou-se um pouco da história do karatê, foram apresentados os aspectos teóricos, considerando os fundamentos pedagógicos do ensino-apreendizagem do karatê, as bases do ensino tratada pelos fundamentos das abordagens críticas e as possibilidades de uma proposta pedagógica do ensino do karatê para o 6º ao 9º ano da educação básica na Educação Física Escolar. Nas considerações finais deste estudo, é exposto um resumo marcante do campo teórico investigado, contendo resultados desta pesquisa. Considerando os achados da pesquisa, reconhece-se que a realidade de uma proposta pedagógica que se apresenta na escola, tendo como possibilidade de conteúdo as lutas (Karatê), enquanto processo de ensino prático e teórico em aulas de Educação Física Escolar, pode contribuir para que os educandos e professores de Karatê, ainda que sem formação acadêmica também possam oferecer subsídios importantes para ser tratados de forma pedagógica, oportunizando as possibilidades de um ensino de qualidade, tratando o Karatê como um conteúdo de caráter formativo e educativo no âmbito escolar, a partir de uma proposta que amplie a formação humana. Palavras-Chave: Educação Física Escolar. Karatê. Lutas. Abordagens Críticas.
ABSTRACT
Monograph prepared in the graduation of Physical Education, Faculty of Regional Bahia - UNIRB. Its research problem the following question: What is the reality and the possibilities of a pedagogy for teaching Karate 6th to 9th grade in physical education, considering the critical approaches? Its overall objective reality and point to the possibility of a proposal for the teaching of karate from 6th to 9th grade in Physical Education, as of critical approaches. As a hypothesis, it was found that the reality and the possibilities of relations between the field of Physical Education and School of Karate, considering a pedagogical proposal for teaching Karate 6th to 9th grade in Physical Education from the critical approaches require a more detailed and focused on the struggles by addressing the needs of the educational transformation of school sport that is very important for the students of this level of education. The study was conducted from an exploratory research literature, considering, first, a survey of the historical foundations of Physical Education and Karate; It also sought in the theory, is the basis for effective research and the foundations were exposed in the history of physical education and pointed to some of the history of karate, we presented the theoretical aspects, considering the pedagogical foundations of teaching and the apreendizagem karate, treated the foundations of teaching the fundamentals of critical approaches and the possibilities of a pedagogy of teaching karate for 6 to 9 years of basic education in Physical Education. In the final considerations of this study, is exposed a summary of the remarkable theoretical investigation, containing results of this research. The findings of the research, it is recognized that the reality of an educational proposal arriving at the school, with the possibility of content fights (Karate), while the teaching practical and theoretical lessons in physical education, can contribute to where students and teachers of karate, even without academic training may also provide important support to be treated pedagogical possibilities of providing opportunities for quality education, treating the contents of karate as a formative and educational work in schools, the from a proposal to extend the human Keywords: School Physical Education. Karatê. Fights. Critical boardings.
12
1 INTRODUÇÃO
A presente monografia objetiva trabalhar inquietações a respeito da realidade
e as possibilidades de uma proposta pedagógica para o ensino do Karatê do 6º ao
9º ano na educação básica, proporcionando uma revisão dos estudos que abordam
o Karatê enquanto prática social. Essa pesquisa recupera os estudos elementares
do conhecimento, historicamente produzido para sistematizar uma proposta
pedagógica de ensino-aprendizagem para os educandos do 6º ao 9º na Educação
básica.
1.1 DE ONDE PARTE O ESTUDO, PROBLEMA INVESTIGATIVO, HIPÓTESE E OS
OBJETIVOS
Esse estudo parte da necessidade de reconhecer e identificar nos estudos
produzidos no Brasil, a realidade e as possibilidades da utilização das abordagens
críticas tratadas no campo da Educação Física Escolar, considerando evidenciar,
uma metodologia que possa ser adotada no processo de ensino-aprendizagem do
Karatê, numa proposta a ser desenvolvida com os educandos do 6º ao 9º ano na
educação básica. Mediante a necessidade de promover essa pesquisa, levantamos
o seguinte problema investigativo: Qual a realidade e as possibilidades de uma
proposta pedagógica para o ensino do Karatê do 6º ao 9º ano, na Educação Física
Escolar, considerando as abordagens críticas?
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998,
p. 25) as abordagens críticas surgiram a partir das discussões que vinham
ocorrendo nas áreas educacionais, refletindo diretamente na Educação Física
Escolar, sendo assim na tentativa de romper com o modelo hegemônico do esporte
praticado na década de 80 do século XX, foram elaborados pressupostos teóricos
num referencial crítico, com fundamento no materialismo histórico e dialético.
Com base no PCN (BRASIL,1998, p. 25) podemos compreender que:
Esta abordagem levanta questões de poder, interesse e contestação. Acredita que qualquer consideração sobre a pedagogia mais apropriada deve versar não somente sobre como se ensinam e como se aprendem esses conhecimentos, mas também sobre as suas implicações valorativas e ideológicas, valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico. Busca possibilitar a compreensão, por parte do aluno, de que a produção cultural da humanidade expressa uma determinada fase e que houve mudanças ao longo do tempo. Essa reflexão pedagógica é compreendida como sendo um projeto político-pedagógico. Político porque encaminha
13
propostas de intervenção em determinada direção, e pedagógico porque propõe uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade, explicitando suas determinações.
Portanto, partimos do pressuposto de que a inclusão das abordagens críticas,
no âmbito da Educação Física Escolar no ensino do karatê para os educandos do 6º
ao 9º ano, favorecerá, enquanto práticas sociais, possibilidades de relações sociais,
que ajudarão na organização dos processos e dos conteúdos.
Sabemos também que o ponto de partida para uma análise situacional é uma
efetiva investigação quanto à construção do conhecimento em Educação Física no
âmbito escolar e deve ser interpretado a partir dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), pois eles são a base do trabalho a ser realizado nas escolas e
fonte a ser consultada para a construção dos planejamentos.
Então, para fundamentar está pesquisa bibliográfica, tomamos como
referência as abordagens críticas, o que é apontado nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) de Educação Física para o terceiro e quarto ciclo do ensino
fundamental. Nesse documento, encontramos a justificativa, a conceituação e a
metodologia para trabalhar com eles.
Os PCN (BRASIL, 1998, p. 68) apontam os conteúdos que precisam ser
trabalhados no terceiro e quarto ciclo do Ensino Fundamental. São eles:
esportes, jogos, lutas e ginásticas; Atividades rítmicas e expressivas;
Conhecimentos sobre o corpo. Os três blocos articulam-se entre si, têm vários
conteúdos em comum, mas guardam especificidades. O bloco conhecimentos sobre
o corpo tem conteúdos que estão incluídos nos demais, mas que também podem ser
abordados e tratados em separado. Os outros dois guardam características próprias
e mais específicas, mas também têm interseções e fazem articulações entre si.
Segundo Jacomeli (2007, p. 93) a existência dos PCN e dos temas
transversais2, se reporta à Constituição da República Federativa Brasileira,
promulgada em 1998. Nela, estão colocados os fundamentos do Estado Brasileiro,
quais sejam, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores
sociais e individuais do cidadão. E ainda buscando amparo na Constituição, o
documento apresenta os objetivos fundamentais da República: construir uma
2 Para Jacomeli (2007, p. 78) os temas transversais, assumiram o compromisso consensual de lutar
por universalizar a oferta de educação fundamental e por ampliar as oportunidades de aprendizagem para crianças, jovens e adultos. São eles: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual, Saúde, Trabalho e Consumo.
14
sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação, conforme preceitua o art. 3º da
Constituição Federal (BRASIL, 2000, p.19).
Fazendo a relação, também apresentamos alguns princípios legais que
orientam o ensino das artes marciais (lutas), no nosso caso o Karatê, comprovando
que podemos ensinar este conteúdo para os educandos do ensino fundamental do
6º ao 9º ano, inserindo-o no planejamento escolar, visando à qualidade de vida e
formação humana integral. 3
As lutas são vistas, desde a antiguidade, como algo indispensável na vida de
muitos povos, colocando-as como essenciais para a sobrevivência do indivíduo,
para sua formação global. É o que também observamos no processo educacional, o
qual deve ser apoiado em bases sólidas, abrangentes e voltados para
a construção da cidadania, para o aumento da qualidade de vida da sociedade.
Analisando, concluí-se que existe uma proximidade muito grande aos objetivos e
benefícios deste conteúdo para os educandos do 6º ao 9º ano.
Apresentamos alguns, princípios legais da Constituição Federal nos artigos 6º,
196, 205, 206 II e VII, 215 § 1º, 216 III, 217 I, que asseguram o exercício
dos direitos e deveres dos cidadãos, os quais, diante uma reflexão implicam nos
objetivos das artes marciais. Estes princípios exponho, no anexo A.
Portanto, segundo Resende e Soares (1996, p. 49), podemos perceber que a
legislação é muito clara em vários aspectos, principalmente no que diz respeito, á
escola e sua função político-social de possibilitar a conservação e a renovação dos
conhecimentos produzidos e acumulados, para que as novas gerações assumam a
responsabilidade de continuarem a construção de uma sociedade com valores
humanistas e democráticos, no sentido finalístico de promover o desenvolvimento
científico, tecnológico e cultural, tendo como referências o bem estar e a qualidade
coletiva de vida.
3 Para Sasaki (1991, p. 17), o karatê colabora para a formação integral do homem e a sua prática
correta desenvolve: agilidade, percepção, raciocínio rápido e correto, boa postura, concentração, responsabilidade, disciplina, liderança, força de vontade, determinação, respeito mútuo, socialização, prevenção e manutenção da saúde, estabilidade emocional, independência, autoconfiança, resistência, espiritualidade etc.
15
Conforme os artigos da Constituição Federal exposto no anexo A, podemos
identificar os princípios legais que orientam para a qualidade de vida e justificam o
ensinamento das artes marciais (no nosso caso o Karatê), nas escolas e
universidades. Então, por este motivo decidimos escrever uma proposta pedagógica
para o ensino-aprendizagem da Educação Física Escolar, do 6º ao 9º ano; utilizando
o karatê como conteúdo.
Nesta proposta trataremos o Karatê como expressão corporal, onde
pretendemos desenvolver um trabalho voltado para atividades que permitam ao
educando, a sua formação através da ampliação de sua visão de mundo por meio
da cultura corporal (prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de
atividades expressivas corporais como: jogos, esporte, lutas, dança e ginástica),
sem perder de vista as características culturais, regionais e locais, além da
ampliação do conhecimento.
Como hipótese dessa pesquisa, apontamos que a realidade e as possibilidades
de relações entre o campo da Educação Física Escolar e do Karatê, considerando
uma proposta pedagógica para o ensino do Karatê do 6º ao 9º ano na Educação
Física Escolar a partir das abordagens críticas, requerem um estudo mais detalhado
e voltado para as lutas, abordando as necessidades de transformações da prática
educativa do esporte da escola que é de suma importância para os estudantes deste
nível da educação. Sendo assim, após uma coleta de dados bibliográficos,
reconhecemos, nos estudos que os conteúdos, neste caso do karatê, sejam tratados
através das abordagens críticas e com um olhar pedagógico, baseado em seus
princípios e nos princípios da Educação Física Escolar, possibilitando a formação de
indivíduos críticos, autônomos e reflexivos, fundamentados no desenvolvimento da
competência social, objetiva e comunicativa, assim desenvolvendo habilidades e
conhecimentos que contribuirão para a autonomia dos alunos, considerando seus
fatores preponderantes para uma proposta de formação humana4.
Portanto, a base teórica de concepção pedagógica que tratamos parte da
concepção crítico-emancipatória e crítico-superadora. É o que chamamos, desde o
início do texto, de abordagens críticas, e que também são encontradas sob a
denominação de concepções críticas; que significam posicionamentos teórico-
4 Compreendemos formação humana, a partir de Leontiev (1997, p. 60) que diz: “O essencial, porém
é que este processo é obrigatório, porque, de outra forma, a transmissão das aquisições do desenvolvimento social e histórico ás gerações seguintes seria impossível a continuidade da história.”
16
metodológicos de abordagens críticas. Assim, essas concepções trouxeram novos
significados à prática educativa; na história e evolução da educação, cujos
fundamentos refletiram diretamente na Educação Física, proporcionaram um avanço
para a formação acadêmica e atuação profissional, conforme Busso e Verditti Junior
(2005,f. 2).
Mediante o exposto, é fundamental considerar que essa pesquisa tem
também como ponto de partida, a crítica ao Sistema Educacional Brasileiro, onde o
conceito de educação parte de uma visão já estabelecida, sendo a escola o centro
de todo o processo de ensino-aprendizagem e tendo o professor como o transmissor
do conhecimento e o aluno reprodutor, ou seja, aquele que cumpre com as
obrigações estabelecidas pela escola.
Superar essa realidade do sistema educacional brasileiro é um desafio para
Educação Física Escolar. É preciso transformar a prática pedagógica na escola e
minimizar, senão sanar os grandes problemas educacionais existentes, até mesmo
na própria Educação Física.
Segundo o Coletivo de Autores (1992, p. 49-55) no Brasil, no início do século
XX, os professores que lecionavam na escola eram de formação militar, e o esporte
desenvolvido na escola, era seguido de padrões do modelo capitalista.
Com base, ainda, no Coletivo de Autores (1992, p. 36):
[...] A perspectiva da Educação Física escolar, que tem como objeto de estudo o desenvolvimento da aptidão física do homem, tem contribuído historicamente para defesa dos interesses da classe no poder, mantendo a estrutura da sociedade capitalista [...]
Portanto, deve-se questionar a forma como são exercidas as aulas de
Educação Física no trato da cultura corporal5 e para isso devemos considerar as
condições de adaptação à realidade social e cultural da comunidade.
Conforme Kunz (2003, p. 125), o processo de transformação didático-
pedagógico da Escola, deverá ser apresentado a partir de uma abordagem crítica e
emancipada, valorizando a prática educacional.
Portanto, a escola, é entendida como um dos importantes espaços de
transição e mediação, entre a individualidade e a coletividade, entre o velho e o
5 Conforme o Coletivo de Autores (1992, p. 50): a cultura corporal é uma prática pedagógica que, no
âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica e lutas.
17
novo, entre o passado e o presente, ou seja, é função desta instrumentalizar os
indivíduos para participação plena na vida pública, como cidadãos.
No entanto, dentro deste pano de fundo amplo, o debate da educação precisa
ser principalmente prático, no sentido de refletir as ações e abordar os aspectos
críticos, ou seja, mobilizar os alunos, os educadores e a instituição de ensino para
as tomadas de decisão, planejamento e uma boa execução das políticas de
educação, garantindo para os educando do 6º ao 9º ano, na Educação Física
Escolar, uma base para legitimar a sua autonomia durante todo o seu período
escolar.
O professor deverá identificar o significado de se movimentar, interagir,
participar, jogar e em particular respeitar as limitações de cada aluno, oferecendo
oportunidade para que o mesmo identifique e possa escolher qual a modalidade
esportiva que se aproxime de suas características. Também deverá realizar
intervenções que contribuam para aproveitar as sugestões dos alunos e modificar as
atividades existentes.
Kunz (2003, p. 125), aborda como ponto principal, que as atividades devem
ser exercitadas de forma prazerosa, com satisfação, possibilitando uma nova
transformação; assim, não é papel da escola ensinar movimentos perfeitos, técnicas,
regras oficiais das modalidades esportivas e sim desenvolver atividades de forma
lúdica, transformadora e de caráter pedagógico.
É de fundamental importância o domínio do professor no trato do
conhecimento dos conteúdos da Educação Física Escolar, e em especifico o
conteúdo lutas, assim como as suas influências aos educandos do 6º ao 9º ano da
educação básica.
Sabemos das dificuldades das crianças em assimilar as técnicas de lutas, por
falta de coordenação, atenção ou motivação. E entendemos que as lutas não se
resumem apenas às modalidades do Karatê, Judô, Capoeira, etc, ou seja, segundo
os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 96):
As lutas são disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa, caracterizando-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. Podem ser citados como exemplo de luta as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até as práticas mais complexas da Capoeira, do Judô, e do Karatê.
18
Está proposta surgiu a partir da minha prática diária como professor de
Karatê, observando as práticas sistematizadas utilizadas por vários autores de livros
voltados para o estudo do Karatê.
Essas atividades tiveram o seu início em Dezembro de 1994, quando alcancei
o título de Faixa Preta e após inúmeros estudos, anotações e vivências atuando nas
diversas áreas do karatê como árbitro, atleta e técnico.
Além disso, está proposta tem como objetivo oportunizar ao professor
de Educação Física estudos teóricos e práticos para desenvolver e aprimorar o seu
conhecimento em relação ao Karatê-Do6.
Então, tendo como base os princípios da Educação Física e os princípios
filosóficos do Karatê-Do, para dar início a está proposta, se torna fundamental a
clareza na definição do que vem a ser pedagogia e metodologia, pois estas
definições conceituais influenciam nas propostas e pressupostos de entendimento
para que a prática pedagógica que ora apresentamos seja viável no processo de
aprendizagem.
Bueno (2000 apud LOMBARDI, 2000, p. 103) esclarece o significado de
Metodologia:
Assim, podemos olhar para a construção do conceito metodologia, e vamos encontrar sua raiz na língua grega onde méthodos significa métodos e logos, estudos. Ainda segundo Bueno (ibidem), o próprio conceito de método deriva “do latim methodus e do grego méthodos, de meta, objetivo, finalidade e hodós, caminho, direção, meio mais eficaz para atingir a meta, o objetivo”.
Ou seja, metodologia é um campo que procura descrever, justificar e
pesquisar os melhores métodos e técnicas de determinada área. Sendo assim, a
metodologia de ensino está voltada para esclarecer os melhores meios, para
possibilitar o desenvolvimento intelectual, com maior qualidade e motivação no
processo ensino-aprendizagem.
Libâneo (2002, p. 10) afirma que a pedagogia:
É a teorização sobre finalidades e formas de intervenção na prática educativa num determinado contexto sócio-histórico. Algo é “pedagógico” à medida que carrega uma intencionalidade, isto é,
6 Conforme Rangel (1996, p. 98): “Alguns autores definem o KARATÊ-DO como uma técnica de luta
com as mãos e os pés desarmados, invocando a tradução literal de KARA = vazio, TÊ = mão e DÔ = caminho, conseguindo assim, “o caminho das mãos vazias”. Nesse estudo usamos, apenas a expressão Karatê, considerando que é a mais comum na literatura. Essa (luta) nomenclatura para identificar essa arte marcial, enquanto conteúdo da Educação Física no âmbito escolar.
19
quando traduz uma ação intencional orientada para objetivos explícitos.
Dessa forma, este estudo visa apresentar conteúdos pedagógicos da
modalidade Karatê com concepções da Educação Física Escolar, na tentativa
de sistematizar uma sequência pedagógica, visando o melhor desempenho dos
educandos no decorrer das aulas de Karatê no âmbito escolar.
Estes conceitos sobre metodologia e pedagogia nos permitem uma reflexão
sobre as possibilidades de práticas pedagógicas aplicadas nas aulas de Karatê.
Com base nos fundamentos teóricos das abordagens da Educação Física
Escolar e dos fundamentos específicos do Karatê, ao elaborar está proposta,
pretendemos trabalhar questões polêmicas a respeito do esporte da escola
proporcionando informações que esclareçam dúvidas de como deve ser abordada a
prática educativa na Educação Física Escolar, para os educandos do Ensino
Fundamental do 6º ao 9º ano.
Para Vago (1996, p. 4), “as práticas culturais do esporte vem sendo
escolarizadas ao longo deste século como um dos temas de ensino da Educação
Física”. Conforme Vago (1996, p. 8), o esporte ganhou forças nos últimos cinquenta
anos até chegar às instituições de ensino, porém a preocupação do autor com base
no depoimento de Bracht, é saber se o esporte praticado na escola é reprodução do
esporte de rendimento, devido ao esporte praticado pela sociedade capitalista
estabelecerem “valores culturais, econômicos e sociais”. Conforme o autor a escola
não fica isenta do mundo fora dela, pois a escola é uns dos espaços onde são
produzidos cultura.
Com base no problema proposto, apresento o seguinte objetivo geral: Apontar
a realidade e as possibilidades de uma proposta para o ensino do karatê do 6º ao 9º
ano na Educação Física Escolar, a partir das abordagens críticas.
Através deste objetivo geral, levantamos os seguintes objetivos específicos
para este estudo:
- Reconhecer a partir dos estudos produzidos no Brasil, os fundamentos da
História da Educação Física e do Karatê;
- Apresentar os fundamentos pedagógicos do ensino-aprendizagem do Karatê
a partir de uma revisão dos estudos bibliográficos;
20
- Identificar as bases de ensino a partir dos fundamentos das abordagens
críticas;
- Reconhecer e apontar nos estudos produzidos no Brasil as possibilidades de
uma proposta do ensino do Karatê para o 6º ao 9º ano da educação básica na
Educação Física Escolar; a partir das abordagens críticas.
1.2 METODOLOGIA
Este estudo foi desenvolvido a partir de uma pesquisa de natureza
bibliográfica. Para a concretização desta pesquisa foram realizados os seguintes
passos:
1. Realização de levantamento exploratório bibliográfico sobre estudos
produzidos referentes ao objeto de investigação.
2. Construção do Portfólio de Pesquisa e elaboração do projeto de
investigação.
3. Leitura e fichamentos das produções bibliográficas do portfólio de
pesquisa.
4. Elaboração de relatórios de pesquisa bibliográfica.
5. Elaboração do TCC/monografia e exposição a uma banca da Faculdade
Regional da Bahia - UNIRB.
1.3 MÉTODO DE EXPOSIÇÃO
Essa pesquisa foi elaborada considerando a necessidade de apresentar uma
introdução, em que expomos os elementos fundamentais do projeto de investigação.
No segundo capítulo expomos os fundamentos da História da Educação Física e
contamos um pouco da História do Karatê. No terceiro capítulo apresentamos os
aspectos teóricos, considerando: 1 - Fundamentos pedagógicos do ensino-
apreendizagem do Karatê; 2 - As bases do ensino tratadas pelos fundamentos das
abordagens críticas; 3 - As possibilidades de uma proposta pedagógica do ensino do
Karatê para o 6º ao 9º ano da educação básica na Educação Física Escolar;
No quarto capítulo expomos um resumo marcante do campo teórico
investigado a respeito de uma proposta pedagógica voltada para reconhecer a
realidade e as possibilidades do ensino do Karatê para o 6º ao 9º ano da educação
básica, a partir das abordagens críticas no campo da Educação Física Escolar.
21
Considerando o exposto anunciamos que no próximo capítulo, tratamos de
fundamentos históricos que alicerçam a área do conhecimento da Educação Física e
do Karatê.
22
2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E DO KARATÊ
Apresentamos neste capítulo fundamentos da Educação Física, das lutas e
especificamente sobre o Karatê, tratando de dados e fatos históricos.
2.1 FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL
A Educação Física desde o seu surgimento é marcada por várias tendências
e fazendo uma retrospectiva encontramos sua consolidação a partir do século XIX.
Ao mergulhar nos conteúdos bibliográficos, localizamos seu início com o parecer
sobre o projeto número 224, de 12/9/1882, de Rui Barbosa a favor da introdução da
“Educação Física” na época ginástica, denominado “Reforma do Ensino Primário e
várias instituições complementares da Instrução Pública”. A partir desta data,
estamos travando uma luta constante para justificar a Educação Física na instituição
escolar.
De acordo com Grespan (2002, p. 14) até a década de 1970, os profissionais
da educação física que acreditavam na formação global do homem, lutaram para a
sua legitimidade dentro do processo educacional e dessa luta conseguiram, pela lei
5.692/71, fazer com que a Educação Física se tornasse obrigatória no ensino
escolar. De encontro com o esforço de Rui Barbosa, a quarta Constituição da
história brasileira, outorgada em 10 de novembro 1937 pelo presidente Getúlio
Vargas, justifica a legitimidade para os profissionais e torna obrigação o
desenvolvimento da disciplina Educação Física nas escolas, fazendo surgir outras
reivindicações especialmente relacionadas à profissão, como por exemplo, a
exigência de currículo mínimo para a graduação. Daí, em 1939, por meio do decreto
Lei n º 1212, que institui a criação da Escola Nacional de Educação Física e
Desportos e estabeleceu as diretrizes para formação dos futuros Professores e
profissionais da Educação Física.
Devido à amplitude de conceitos pré-estabelecidos ao longo da história para o
termo Educação Física, o Coletivo de Autores (1992, p. 50), caracteriza a Educação
Física como:
[...] uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área do conhecimento que podemos chamar de cultura corporal [...].
23
Mediante ao que foi exposto na citação acima, podemos apontar que a
palavra Educação Física pode ser caracterizada como cultura corporal. Então, desde
o seu surgimento, foi inserida como uma disciplina escolar, que consequentemente
passou a ganhar forças no mundo atual, exercendo contribuições importantes para a
sociedade que pratica e reproduz esses conhecimentos.
Tratamos então, dos aspectos Históricos da Educação Física, pois
conhecendo um pouco de sua origem e evolução, poderemos compreender o que é
refletido nos dias atuais.
Com base nos dados históricos do surgimento e evolução da Educação
Física no Brasil, reconhecemos a presença de várias tendências e vamos encontrar
uma disciplina sempre voltada aos interesses da época.
Ao consultar a história da Educação Física, Ghiraldelli Júnior (1998, p. 17),
aponta que inicialmente surgiu a Educação Física Higienista (até 1936), que era
preocupada com a formação de hábitos higiênicos, buscando homens e mulheres
fortes e sadios, e assim, assegurar a “assepsia social” e o saneamento público.
Soares (1994, p. 70) aborda que:
A partir de conhecimentos e de teorias gestadas no mundo europeu, os médicos desenharam um outro lado para a sociedade brasileira e contribuíram para a construção de uma nova ordem econômica, política e social. Nesta nova ordem, na qual os médicos higienistas irão ocupar lugar destacado, também colocava-se a necessidade de construir, para o Brasil, um novo homem, sem o qual a nova sociedade idealizada não se tornaria realidade.
Para Castellani Filho (1998, p. 33-34), os marcos e publicações da história da
Educação Física Brasileira é devido ao professor Inezil Pena Marinho; publicações
estas editadas no primeiro período republicano, período onde são notadas as
relações próximas com o militarismo, época onde foi criada a escola militar pela
carta Régia de 04 de dezembro de 1810, com o nome de Academia Real Militar, dois
anos após a chegada da família real para o Brasil. No período compreendido entre
1824 e 1931 marca o desenvolvimento dos exercícios físicos entre os colonos
alemães que imigraram para o Rio Grande do Sul e a prática desse exercícios
relacionada à preparação física, a defesa pessoal, aos jogos e esportes todas dentro
do âmbito militar.
24
Conforme Ghiraldelli Júnior (2004, p. 35), a primeira fase da história da
Educação Física foi absorvida pela concepção militarista, porém a concepção
Higienista era marcante nesse período da história.
De acordo com Ghiraldelli Júnior (2004, p. 37):
A Educação Física Higienista foi em grande parte, absorvida pela concepção militarista. Não podemos ignorar os primeiros esforços do Brasil republicano no sentido de formar profissionais da área de Educação Física partindo de instituições militares. A primeira instituição propriamente voltada para a formação de professores de Educação Física foi à escola de educação física do exército fundada em 1933.
Percebemos que neste período da história, surgiu certa preocupação com a
formação do professor de Educação Física, pois nesta época as escolas tinham
como professor de Educação Física um militar da força policial.
Ghiraldelli Júnior (2004, p. 22) ainda, assevera que “a Educação Física
Higienista é o produto do pensamento liberal”, fortalecendo assim, que neste período
ainda existisse amarras do pensamento liberal.
Então, entendemos que era depositado na escola as esperanças de que ela
seria capaz de mudar os conflitos sociais e construir uma sociedade mais
democrática e livre dos problemas existente no mundo capitalista. Atualmente
podem ser observadas nas ruas, academias de ginástica e em diversos espaços
públicos (praças, passeios, praias, etc.) com pessoas fazendo atividades para obter
o corpo perfeito; a questão da saúde da estética imposta pelos meios de
comunicação de massa são as relações, ainda enraizadas da concepção higienista
da história da Educação Física, que sobrevivem culturalmente.
Segundo Saviani (1983 apud GHIRALDELLI 2004, p. 22), “o liberalismo7 no
início do século XX em nosso país, acreditou na educação e particularmente na
escola, como “redentora da humanidade”. Sendo nesse período a figura do
liberalismo baiano, Rui Barbosa que por muitos foi caracterizado como “militarista”,
devido ao seu pensamento liberal em seus discursos, invocando sempre o
militarismo e a importância da adoção dessas praticas nas escolas, contribuindo
para melhorar a Educação Física Brasileira.
7 Lombardi (2007, p.11) diz que: “Sendo a liberdade o conceito mais importante do liberalismo, ser
livre no liberalismo é não ser coagido a agir, (a fazer ou a deixar de fazer).”
25
De acordo com Lourenço Filho (1954 apud Ghiraldelli Júnior, 2004, p. 24), Rui
Barbosa manifestou pensamentos em relação Educação Física, afirmando o quanto
ela poderia ser formadora e libertadora:
[...] A ginástica não é agente materialista, mas pelo contrário, uma influência tão moralizadora quanto higiênica, tão intelectual quanto física, tão imprescindível á educação do sentimento e do espírito quanto á estabilidade da saúde e ao vigor dos órgãos. Materialista de fato é sim, a pedagógica falsa, que descurando do corpo, escraviza irremissivelmente a alma e a tirania odiosa das aberrações de um organismo solapado pela debilidade e pela doença. Nessas criaturas desequilibradas, sim é que a carne governará sempre fatalmente o espírito, ora pelos apetites ora pela enfermidade [...].
Como menciona o autor, esse relato foi devido às acusações que Rui Barbosa
sofreu sendo caracterizado como “materialista”. Os depoimentos são devido às
influências militaristas8 que se marcaram presentes por um bom período após o
decreto de 1921, quando se impôs como o método da Educação Física oficial, o
método Francês decretando a Educação Física como disciplina obrigatória nos
cursos secundários e o método francês sendo o único a ser usado para o
desenvolvimento da disciplina na rede escolar.
Nesse mesmo período, nos anos 50 a 60, segundo Ghiraldelli Júnior (2004, p.
40), a Educação Física estava intimamente ligada ao ensino público. No Brasil a
concepção Pedagógicista ganha força no Governo de Juscelino Kubitschek
(Presidente do Brasil que governou de 1956 a 1961).
Para Silva (1950, apud GHIRALDELLI JÚNIOR, 2004, p. 27-28), a Concepção
Pedagógicista se baseia nos modelos americanos e higiênicos ganhando força no
período pós-guerra de 1945 – 1964. Conforme o autor nesse período o pensamento
americano foi o mais marcante, pois:
[...] Segundo a Associação Nacional de Educação Física dos Estados Unidos, são os seguintes os fins da educação: “Saúde, desenvolvimento de habilidades fundamentais para a vida, formação de caráter e desenvolvimento de qualidades dignas de um bom membro de família e bom cidadão, aproveitamento sadio das horas livres ou de folga e finalmente, preparação vocacional” [...] Saúde: a Educação Física pode contribuir igualmente para a saúde física e mental, através de atividades consideradas fisicamente saudáveis e mentalmente estimulantes [...]
8 Conforme Ghiraldelli Júnior (2004, p. 25), “[...] A educação Física Militarista, coerente como os
principais autoritários de orientação fascista, destacava o papel da Educação Física e do Desporto na formação de homem obediente e adestrado [...]”.
26
Habilidades fundamentais: dentre as habilidades fundamentais de toda sorte, de que o indivíduo necessita para assegurar seu completo bem estar e ajustamento, salientam-se as habilidades físicas como uma necessidade fundamental em todas as idades [...] Caráter e qualidades mínimas de um bom membro de família e cidadão: a Educação Física é uma fase de trabalho escolar que
particularmente se presta para o desenvolvimento do caráter [...] Preparação vocacional: certos tipos de atividades físicas, especialmente as competições desportivas, desenvolvem controle emocional e qualidade de comando e liderança [...] Uso contínuo das horas livres ou de folga: o mau aproveitamento desse tempo pode destruir a saúde, reduzir a eficiência e quebrar o caráter, além de degradar a vida [...].
Como se apresenta a citação acima, a Educação Física nesse momento
histórico, tendo a visão do pensamento americano, não exercia nenhuma
intencionalidade pedagógica para formação humana, pois nesse período as
preocupações eram de desenvolver habilidades do cotidiano e produzir saúde.
Nesse período da história, conforme Ghiraldelli Júnior (2004, p. 29-33), a
Concepção Competitivista também ganhou forças no Brasil, na qual o espírito
competitivo, as perfeições no esporte, as marcas e medalhas eram elementos
fundamentais de tal concepção que, inclusive, encontrou na mídia o interesse em
transmiti-los para a sociedade consumista de marcas de produtos expostos pelas
propagandas de televisão, etc.
Kunz (2004, p. 54) afirma que:
O campo do conhecimento da Educação Física parece não apenas ter adotado o esporte como o seu principal objeto de estudo e de intervenção prática como chega até mesmo a confundir-se com ele, num processo referido como esportivização da Educação Física.
Conforme o autor, também era preciso reconhecer que a Educação Física
Competitivista era incentivada pela ditadura pós-64, aonde tal concepção ia no
sentido da proposta de um “Brasil Grande” e obviamente mostrar sua pujança
internacional com o objetivo de fortalecer o interesse governamental.
Para Ghiraldelli Júnior (2004, p. 42 - 46), a Educação Física Competitivista
ganhou corpo de fato com a ditadura militar, que se manteve em rigor no período da
história do Brasil na qual se compreende de 1964 até 1985. Mas, após a década de
70 e 80 a Educação Física teve mudanças, aumentando o número de professores,
que começaram a discutir as práticas educativas em reuniões e congressos, onde
surgiram também, trabalhos científicos e alguns livros que tratavam da disciplina
27
Educação Física Escolar. Daí, tudo começa a “mudar” (grifo nosso). A tão sonhada
liberdade é alcançada e novas tendências surgem.
De acordo com Saviani (2004, p. 45) na década de 90, precisamente no ano
de 1996, o Presidente Fernando Henrique Cardoso, sancionou a Lei 9.394/96 onde
contém as Diretrizes e Bases que vão orientar a educação nacional nos próximos
anos. Os seus 92 artigos representam um novo momento do ensino brasileiro e
neles vemos refletidos os desafios e possibilidades para transformar o trabalho de
diversos educadores e com isso ampliar a formação das crianças.
Também posso acrescentar outros destaques desta lei que torna a educação
no Brasil como obrigatória e de acordo com ela, a educação é um direito de todos e
as crianças precisam ter acesso ao ensino desde os primeiros anos de vida. No
artigo 32, foi instituído que o ensino fundamental será obrigatório, com duração de
nove anos e gratuidade na escola pública, sendo iniciada aos seis anos, tendo como
objetivo a formação básica do cidadão. Já no artigo 26, parágrafo terceiro9 “A
educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente
curricular obrigatório da educação básica”.
Após o lançamento da nova Lei de Diretrizes e Bases - LDB (9394/96), foram
apresentados pelo governo federal documentos direcionados aos profissionais de
educação atuantes nos diferentes graus de ensino. Os PCN têm uma estrutura
básica formada por um documento introdutório, um documento sobre temas
transversais como: (ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural, educação
sexual, trabalho e consumo), e os demais relacionados a cada área de
conhecimento. Já para a área da Educação Física os documentos apresentam uma
estrutura voltada para os princípios norteadores a inclusão, a diversidade e as
categorias em blocos, onde são classificados de forma conceitual, atitudinal e
procedimental.
Os PCN (BRASIL, 1998, p. 49) incorporam a idéia de:
[...] Diretrizes que norteiam os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar uma formação básica comum. [...] O termo „parâmetro‟ visa comunicar a idéia de que [...] se constroem referências nacionais que possam dizer quais os „pontos comuns‟ que caracterizam o fenômeno educativo em todas as regiões brasileiras.
9 Parágrafo com redação dada pela Lei nº 10.793, de 1-12-2003.
28
Para Grespan (2002, p. 15), não basta à nova LDB considerar a Educação
Física como componente curricular obrigatório, o grande problema é como construir,
na prática esse espaço de vivência, ou seja, a luta dos professores de Educação
Física é manter está disciplina com a mesma importância que outras, como
matemática, ciências e português, que tem historicamente seu espaço “reservado”.
Portanto, mediante a esses fatos e interesses políticos, é necessário
reconhecer nos dias atuais a importância da Educação Física para as crianças,
principalmente do 6º ao 9º ano da educação básica, considerando a necessidade
dos professores entenderem a importância de estabelecer um tratamento
pedagógico voltado a estruturar uma proposta de ensino que dê sequência aos
conteúdos ao longo dos anos escolares.
Considerando os novos rumos da Educação Física para o século XXI, de fato
penso que a história da Educação Física no Brasil precisa encontrar a sua definição
e seu espaço, superando e emancipando a compreensão de todo amontoado de
datas e fatos. Enfim, não se pode negar o avanço e as preocupações metodológicas
atuais das produções científicas da Educação Física em todo o país, várias
contribuições como: monografias, teses, artigos e propostas estão surgindo e grande
parte destas produções, buscam um novo caminho para a história da Educação
Física no Brasil. Contudo, após dialogar com vários autores que contam a história da
Educação Física, ou seja, do início até o século XXI, percebemos que existem
muitas lacunas, principalmente no que se refere a esta produção, as abordagens
críticas no âmbito da Educação Física Escolar.
Para finalizar essa seção, retomamos com Grespan (2002, p. 29), propondo
afirmativamente que resta aos professores lutar pelo ensino público de qualidade no
único espaço a eles reservado por lei, que é a escola; este espaço em que temos
que lutar atentos, aproveitando os conflitos e contradições para avançar em ações
concretas no sentido de construir uma aula de Educação Física, condizente com a
escola que precisamos para elevar a cultura do nosso povo.
2.2 FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA DO KARATÊ
Neste capítulo vamos apresentar o que é o Karatê, os principais fatos
históricos que influenciaram na sua origem e evolução, a história e evolução do
Karatê do Japão até o Brasil, também vamos apontar como o Karatê chegou ao
29
Brasil e finalmente aqui na Bahia. Assim para melhor entendermos o Karatê, será
necessário conhecer sua história e evolução, desde sua origem, o lugar onde
surgiram, os hábitos e costumes do povo oriental.
Segundo Rangel (1996, p. 96) as lutas surgiram desde a origem do homem
com a finalidade de defender-se, proteger territórios ou atacar com o objetivo de
sobrevivência. Sendo assim, a história narra que:
As lutas sem armas apareceram na história dos povos orientais cerca de 3.000 a 4.000 anos. Dados precisos registram conhecimentos de lutas entre monges indianos que viveram há 3.000 a.C., que através dos movimentos e da disciplina por eles gerada, estabeleciam rituais semelhantes à dança.
O Karatê, uma das principais formas de combate à mão desarmada, originou-
se como outros tipos de lutas, dos movimentos de animais em seu constante e
rotineiro exercício pela sobrevivência. Os homens observavam os movimentos dos
animais, quer fossem nas caçadas, quando buscavam sobrepujar outros animais
para deles se alimentarem ou nos movimentos de defesa quando atacados. Não se
pode também fugir do fato de que o Karatê se pauta, exclusivamente na sua função
marcial original, onde a sua matéria-prima é a sobrevivência, a luta e,
principalmente, no combate entre dois ou mais homens.
O homem em contato com a natureza, disputando o espaço com os outros
animais, vivia suas atividades físicas, desenvolvendo uma arte na qual podemos
chamar de naturalista. Conforme, poeticamente, Rangel (1996, p. 96), diz que:
Do tigre, a agilidade; da águia, a leveza; do galo, a perseverança; e até de vegetais, como a rosa, no seu florescer alegre após um período de tempestade, espalhando perfume sem rancor da natureza que em breves períodos tão cruelmente a maltrata.
Na citação acima o autor apresenta a lenda que monges indianos,
observavam estes movimentos, estudavam adaptavam e treinavam para usá-los nas
práticas guerreiras. E com esse esclarecimento compreendemos a forma em que se
instituíram os movimentos do karatê, a partir da observação da natureza. Na sua
pesquisa ele também aborda que a China teve uma grande influência na origem e
evolução do Karatê, devido ao seu povo valorizar os aspectos, guerreiro, filosófico,
educacional e medicinal, entre outros.
30
Entre as várias lendas, sobre a origem do karatê, destaca-se a que fala sobre
o monge indiano Bodhi Dharma, um instrutor de exercícios e técnicas marciais, que
valorizava o exercício físico e técnicas de luta de guerra.
De acordo com Viana (1996, f. 3), BODHI DHARMA, em meados do século V,
caminhou em direção à China para fundar um mosteiro budista. Como ele era um
seguidor do budismo, desenvolveu técnicas de luta sem arma originando o (Shao
Lim Su Kenpo), com o objetivo de oferecer saúde e autodefesa. Bodhi Dharma
orientava seus discípulos para que através da observação das características das
lutas dos animais pudessem desenvolver técnicas, criando assim seu próprio estilo.
Rangel (1996, p. 96), ao abordar sobre as lendas da origem do Karatê,
descreve na sua obra que:
Uma destas lendas descreve as atividades de um médico chinês de nome HUAN T‟O, que criou uma da sequência de movimentos semelhante ao “kata”10 moderno, com o objetivo de aliviar a tensão emocional e fortalecer o corpo.
De acordo com Cartaxo (2011, p. 133), o Karatê (em japonês, Karatê-Do,
“caminho das mãos vazias”) é uma arte marcial desenvolvida a partir do Kenpô
chinês (uma arte marcial chinesa em particular, o Kung Fu da China Meridional)11 e
de métodos autóctones (nativos) de lutas das Ilhas RyuKyu. Já para Rangel (1996,
p.98), alguns autores definem o conceito de Karatê-Do como uma técnica de luta
com as mãos e pés desarmados, complementando a tradução literal de KARA =
vazio, TÊ = mão e DÔ = caminho, conseguindo assim, “o caminho das mãos vazias”.
Particularmente, existe uma lógica no que diz Rangel (1996, p. 98), quando
esclarece que o Karatê-Do é acima de tudo uma ciência que precisa ser estudada,
pesquisada e que dá a cada momento um conhecimento novo do nosso corpo,
através dos movimentos que executamos quando atacamos ou nos defendemos de
algumas investidas dos adversários. Movimentos estes em que não apenas as
mãos, mas todo o corpo está harmonioso e totalmente envolvido.
Contudo, mediante ao conteúdo exposto em relação à evolução e a origem do
karatê no Brasil, trazemos uma inquietação em relação à escola, quando analisamos
os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) – PCN, no que tange ao 3º e 4º ciclos
10
Segundo Paula (1996, p. 67) Kata (luta simulada contra adversários imaginários). 11
Conforme Diana (1996, p. 55) a China Meridional foi considerada "Área Econômica Chinesa", é importante salientar que alguns autores chamam de "triângulo de crescimento da China meridional", onde inclui as novas "regiões administrativas especiais" de Hong Kong e de Macau.
31
do ensino fundamental. Tais Parâmetros afirmam que os educandos devem ser
capazes, quando orientados pela disciplina Educação Física de: participar de
atividades corporais; adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade
em situações lúdicas e esportivas; conhecer os limites e as possibilidades do próprio
corpo, de forma a poder controlar algumas de suas atividades corporais com
autonomia e a valorizá-las como recurso para manutenção de sua própria saúde;
repúdiar as práticas de violência contra o outro, aprender com a diversidade cultural
de maneira plural, desenvolver a capacidade de análise crítica, organizar jogos,
brincadeiras ou outras atividades corporais, valorizando-as como recurso para
usufruto do tempo disponível; etc. (BRASIL,1998, p. 63).
Diante disto, acreditamos que as lutas (Karatê-Do), podem e até devem servir
como instrumento de auxilio pedagógico ao professor de Educação Física, ou seja, o
ato de lutar deve ser incluído na escola a partir do contexto histórico-sócio-cultural
do homem, pois após descrevermos a história e a evolução do karatê, podemos
reconhecer que desde a pré-história o ser humano buscou a sua sobrevivência,
lutando corporalmente e após muitas conquistas a luta se tornou uma política social,
esportiva e educacional, e na escola tornou-se um conteúdo da cultura corporal.
2.2.1 FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA DO KARATÊ EM OKINAWA E NO JAPÃO
Buscaremos neste capítulo, abordar de maneira sintética a história do Karatê
em Okinawa e no Japão. Ao pesquisar um pouco da história da origem do Karatê na
ilha de Okinawa, verificamos que por não haver registros históricos sobre o karatê,
não se sabe exatamente a data em que este teve origem. Porém diversos relatos
apontam para o seu surgimento na ilha de Okinawa, ao sul do Japão, onde na
antiguidade, diversas formas de combate sem armas foram desenvolvidas e
praticadas em segredo.
De acordo com Rangel (1996, p. 97), em 1470, já livre do domínio manchu e
conduzidos por SHO-HÁ-SHI, os chineses guerrearam e conquistaram Okinawa,
(Japão). Então a partir desse momento foi proibido o uso de qualquer tipo de arma
pelos nativos da ilha.
Com essa proibição os okinawenses descontentes passam a procurar
conhecimentos de lutas que só poderiam ser treinadas de forma disfarçadas e
desarmadas, por causa da proibição.
32
Conforme Funakoshi (2010, p. 43), era proibido por lei todos os habitantes da
ilha portar armas:
Na verdade, havia dois decretos proibitivos: um promulgado há cerca de cinco séculos, o outro mais ou menos duzentos anos mais tarde. Antes da proclamação do primeiro decreto, as RyuKyu12 estavam divididas em três reinos guerreiros: Chuzan, Nanzan Hokuzan.
Então, os okinawenses pensando em libertação devido aos decretos que
proibiam o uso de armas, procuraram conhecimentos de luta, que só poderiam ser
exercitados a mãos desarmadas.
Os nativos da ilha de Okinawa receberam seus primeiros ensinamentos
através de mercadores e marinheiros da Província de Fujian que durante as suas
passagens pela China, ensinaram técnicas de chutes e socos e esta luta era
denominada de Kenpô. Os nativos de Okinawa chamavam esse estilo de Okinawa-
tê (mão de Okinawa). Conforme Cartaxo (2011, p. 135) os estilos de Karatê de
Okinawa mais antigos são o Shuri-tê, o Naha-tê e o Tomari-tê, assim chamados de
acordo com os nomes das três cidades em que eles foram criados.
Segundo Rangel (1996, p. 98), mais tarde em 1609, o senhor feudal Shimazu,
atacou Okinawa e a conquistou para o Japão, mantendo também as restrições
quanto ao uso de armas. Nesta época o “Kenpô” chinês também chamado de “Tê” já
tinha adquirido novas características e alguns adeptos, passando a ser chamado de
Karatê.
Funakoshi (2010, p. 45), ao esclarecer o sentido da palavra karatê, aponta
que:
De fato, em Okinawa, usávamos a palavra karatê, mas mais freqüentemente chamávamos a arte simplesmente te ou bushi no te, “a(s) mão(s) do guerreiro”. Assim poderíamos dizer que um homem
estudou te ou que teve experiência em bushi no te.
Então, podemos entender que naquela época o Karatê foi confundido com o
chamado boxe de estilo chinês e a sua relação com o Te de Okinawa que lhe deu a
sua origem, como a arte das mãos vazias.
Conta o autor Rangel (1996, p. 98) que em 1916, após trezentos anos da
reconquista da ilha (Okinawa), o karatê é introduzido no Japão, através dos mestres
12
Funakoshi (2010, p. 43) esclarece que Okinawa, antigamente era a principal ilha do arquipélago de Ryūkyū, localizado entre a China e o Japão.
33
Mabuni e Gichin Funakoshi, onde o principal objetivo era difundir a arte marcial
como esporte. Eles aproveitaram esse momento histórico e realizaram várias
apresentações para o exército nacional e universidades.
Conta Funakoshi (2010, p. 53) que no primeiro ou segundo ano deste século,
Ogawa inspetor escolar da Prefeitura de Kagoshima ficou muito impressionado com
as várias apresentações e demonstração de karatê. Mas foi somente mais tarde que
ele, apresentou um relatório detalhado ao Ministério da Educação, elogiando
entusiasticamente as virtudes da arte. Sendo assim, o Karatê a partir desse
momento histórico, passou a fazer parte do currículo da Escola Secundária da
Prefeitura de Daiichi e da Escola Normal para Homens, determinando o fim da
clandestinidade do karatê.
Mediante ao exposto, podemos apontar a partir dessa demonstração histórica
no século XX, o ressurgir das artes marciais em Okinawa, a transformação de luta
pela sobrevivência para uma prática da Educação Física Escolar. As Escolas, como
Naha-te, Shuri-te e Tomari-te, também aproveitaram desenvolvendo e divulgando a
arte marcial Karatê. Neste período foram revelados mestres como: Itosu,
Higashionna e posteriormente Mabuni, Ogusoku, Miyagi, e outros.
Observa-se então que, em meados do século XX o Karatê foi desconfigurado
enquanto luta social e passou a ser tratado como esporte escolar e dentre vários
mestres do passado que se preocupavam com o futuro do Karatê, o Sensei Gichin
Funakoshi se tornou o pai do karatê moderno do estilo Shotokan.
2.2.2 FUNAKOSHI SHIHAN13 - O PAI DO KARATÊ-DO MODERNO
O Karatê moderno surgiu quando o falecido mestre Gichin Funakoshi (1868-
1957), membro da Sociedade Okinawa de Artes Marciais, foi solicitado pelo
Ministério de Educação do Japão a conduzir apresentações de Karatê em Tóquio,
em maio de 1922. Esta nova arte e toda a sua sistematização de ensino-
apreendizagem, conquistaram os representantes da educação no Japão e a partir
daí foi introduzida em diversas universidades.
Para apresentar este grande mestre, pesquisamos em sua autobiografia que
ele nasceu em Shuri, Okinawa (Japão), em 1868. Muito franzino ele iniciou seus
estudos de karatê visando fortalecer-se e aos onze anos, iniciou seus estudos com
13
Segundo Marinho (1980, p. 46) Shihan quer dizer bússola a ser seguida, titulo honorífero dos grandes mestres.
34
Yasutsune Azato com quem aprendeu o estilo Shuri-te e com Anko "Yasutsune"
Itosu, com quem aprendeu o estilo Naha-te. A mistura destas duas formas primitivas
de Karatê originou o estilo hoje conhecido como Shotokan14.
Naquela época o Karatê, como já foi explicado, era uma arte praticada em
segredo. Em 1916, o mestre Gichin Funakoshi foi convidado pela prefeitura de
Okinawa onde realizou a primeira demonstração pública de karatê fora da ilha
(Okinawa), no Centro de Artes da cidade de Kyoto, no Japão. Evento que mostra a
luta para a sociedade, iniciando a sua divulgação.
Conforme a sua autobiografia o professor e pesquisador Funakoshi é
considerado o pai do Karatê-Do moderno, por tê-lo modificado literalmente e
filosoficamente de “mãos chinesas”, mãos do dominador para “mãos vazias”, mãos
de liberdade. Onde “kara” e “te” tem como sentido figurado, além de defender-se
desarmado, ter a mente livre do egoísmo, da vaidade e da maldade.
A palavra “Dô” foi acrescentada, significando a busca de um caminho ou
disciplina a seguir por toda a vida, na construção da personalidade.
Funakoshi (2010, p. 46), descreve em sua autobiografia a alteração ocorrida
no significado do nome da luta:
Pelo fato de que Okinawa estivera por longo tempo sob a influência chinesa e também porque o que era importado da China era considerado da melhor qualidade e de acordo com a moda, muito provavelmente foi kara “chinês” mais do que o kara “vazio”, mas isso repito, pode ser apenas um mero jogo de adivinhação.
O fato citado ocorre em 1936, quando Funakoshi muda os caracteres kanji
utilizados para escrever a palavra Karatê. O caracter “KARA”, que significava China
é trocado por outro que tinha o mesmo som; o caracter utilizado foi um do Zen
Budismo que significava vazio, passando o Karatê a ser conhecido não mais como
“Mãos Chinesas”, mas como “Mãos Vazias”. Funakoshi defendia o fato de que
“Mãos Vazias” era mais apropriado, pois representava não só o fato de o Karatê ser
um método de defesa sem armas, mas também representava o próprio espírito do
Karatê, que é esvaziar o corpo de todos os desejos e vaidades terrenas.
Em 1943, Funakoshi era um homem de vasta cultura e sabedoria ele criou a
JKA – Japan Karatê Association. Aos noventa anos escreveu a sua autobiografia
14
Conforme Cartaxo (2011, p. 135) o Karatê do mestre Funakoshi, era comumente chamado de
Shorei-ryu, posteriormente o estilo foi chamado por outros de Shotokan por ser Shoto o apelido do mestre. O Kanji Kan significa prédio ou construção e, portanto, Shotokan significa “Prédio de Shoto”.
35
que descreve em detalhes a sua vida, ou seja, a infância e juventude além de relatar
sua luta para aperfeiçoar e popularizar a arte das mãos vazias.
Com o passar do tempo Funakoshi mudou o nome da própria arte de Karatê
Jutsu (Técnicas das Mãos Vazias) para Karatê-Do (Caminho das Mãos Vazias). Esta
mudança foi de vital importância para o crescimento do Karatê, pois assim deixou de
ser visto como um simples método de treinamento e passou a ser um “caminho”.
Este grande mestre nos deixou um legado de ensinamentos e transformou o
que era uma mera técnica de combate, num caminho de crescimento espiritual e
filosófico. Ou seja, o Karatê deixa de ser uma preparação física, unicamente, e
passa a se preocupar com a formação integral do ser humano.
Contudo, entendemos que as modificações introduzidas por Funakoshi em
sistematizar as técnicas dessa nobre arte e integra-lá aos princípios da arte
guerreira e da filosofia Zen tem por finalidade possibilitar aos profissionais de
Educação Física, um modelo de ensino-aprendizagem voltado para o
desenvolvimento da capacidade de persistência, da paciência, da autonomia, da
coragem e do equilíbrio emocional, formando a personalidade das crianças,
principalmente as que estão no 6º ao 9º ano do ensino fundamental da educação
básica.
2.2.3 KARATÊ NO BRASIL DIRETO PARA BAHIA
Apresentamos a seguir uma abordagem sobre o contexto histórico, filosófico e
sociocultural do karatê e do país em que o mesmo surgiu, para que dessa forma
fique mais nítida a função do karatê na sociedade atual.
Conforme os livros e estudos sobre, a história da introdução do karatê no
Brasil, descobrimos que o karatê, surgiu a partir da imigração e instalação dos
japoneses, após a Segunda Guerra Mundial.
Rangel (1996, p. 106) diz que:
O Karatê aportou no Brasil em 1957, quando aqui chegou o mestre Akamine. Muito violento, este professor não consegui implantar a sua arte, pois, pouquíssimos eram os alunos que o procuravam, fato este que o fez retornar brevemente para o Japão.
Apesar do mestre Akamine não ter permanecido em nosso país, podemos
compreender que o Karatê teve o seu início no Brasil em 1957, a partir da formação
da colônia japonesa em São Paulo, outras academias foram surgindo naquela
36
cidade, sendo as mais conhecidas as pertencentes ao Sensei Mitsusuke Harada,
vindo da Universidade de Waseda do estilo Shotokan. Também neste ano o
Professor Shikan Akamine, 7º Grau do estilo Goju Ryu, vem oficialmente ensinar o
karatê no Brasil, no Clube Santos, em São Paulo.
Em 1958, o Professor Yoshihide Shizato, divulga Shorin em Santos, São
Paulo. Neste ano foi fundada no Brasil a NKK – Nihon Karatê Kiokai pelos
professores Sadamu Uryu, Yasutaka Tanaka, Juiti Sagara e Tetsuma Higashino. As
primeiras associações oficiais de Karatê em São Paulo foram: Seibukan do Prof.
Juiti Sagara e a ABK – Associação Brasileira de Karatê, fundada pelo Prof. Shikan
Akamine. Logo após no dia 11 de setembro de 1987 foi fundada a CBK –
Confederação Brasileira de Karatê (CARTAXO, 2011, p. 134).
Segundo Rangel (1996, p. 106), nos anos 60 o karatê nacional continuava a
passos lentos, por falta de recursos necessários, funcionando internamente nas
academias e quando avançava algum estágio alcançava projeção apenas na própria
cidade onde estava localizado.
Rangel (1996, p. 114), afirma que o Karatê foi introduzido na Bahia, através
do japonês Saito, mestre de Judô, que chegou ao Brasil com alguns conhecimentos
da arte das mãos vazias. Antes dessa época as informações sobre o Karatê eram
raras, somente chegavam através de publicações difíceis de serem compreendidas
(em japonês), ou seja, os mestres não entendiam a nossa língua (português),
dificultando assim, o aprendizado do karatê. Então aqueles que desfrutaram deste
conhecimento, consideravam estes ensinamentos, verdadeiras relíquias, porque
aprenderam o karatê com os mestres japoneses.
Em 1963, conta Oliveira (2002, p. 26) que na academia Spartan Gym, Ivo
Rangel conheceu o Karatê através do instrutor Múcio Magalhães, aluno do
engenheiro japonês Masahiro Saito radicado na Bahia. Sendo que Nessa época, Ivo
Rangel trabalhava na PETROBRÁS como laboratorista de análises petrofísicas e
estudava a noite. Porém em 1964, jovem e insaciavelmente curioso, iniciou-se
também no judô, comandado pelo competentíssimo Kazuo Yoshida.
Rangel (1996, p. 106), registra que em 1965, o movimento de integração
nacional do karatê:
[...] surgiu na Bahia, quando uma equipe de idealistas partiu com recursos dos próprios atletas, para o primeiro torneio interestadual realizado em São Paulo, em 1965.
37
Foram pioneiros deste movimento o japonês Eisuki Oishi e os brasileiros Denilson Caribé, Ivo Rangel, Lazaro Gagliano, Carlos Alberto Costa, Renato Pereira e Renato Duarte Filho, integrantes da primeira seleção baiana de karatê.
Assim, a partir desse momento histórico, esta nova motivação, trouxe o
mestre Ivo Rangel de volta para o karatê.
Conforme Oliveira (2002, p. 26) no início do ano de 1968, o professor Sadamu
Uriu veio residir na Bahia, experimentado mestre japonês, excelente nas técnicas de
Kata e Kumite e muito bem relacionado com a colônia japonesa. Ou seja, a vinda de
Uriu, fez crescer o nível do karatê bahiano e a prova deste crescimento foi a
sequência de boas classificações que a Bahia conquistou nacionalmente. Nesta
época também houve a interiorização do karatê, ou seja, ele começou a ser
ministrado em cidades como: Alagoinhas e Feira de Santana e a introdução na
Escola Superior de Arquitetura e Engenharia.
Portanto, Rangel (2011, p. 116) afirma que nesta época, fortes seleções
foram organizadas surgindo outros nomes como Claúdio Mascarenhas, Herval
Macedo, Dorival Caribé, Álvaro Almeida, Dalmar Caribé, Luis Sergio Souza e Alberto
Fonsêca. Em 1969, foi realizado o primeiro exame para a faixa preta em solo baiano,
perante uma banca examinadora composta pelos mestres Tadachi e Sadamu Uriu,
onde seis candidatos inscreveram-se e pela rigorosidade exigida apenas dois
praticantes foram aprovados, Ivo Rangel e Claúdio Mascarenhas.
Conta Oliveira (2002, p. 27) que em 1970, o professor Sadamu Uriu, voltou
para o Rio de Janeiro e entregou a direção técnica do Clube Acrópole e da Escola
Superior de Arquitetura e Engenharia para o Faixa Preta Ivo Rangel. No Acrópole,
Ivo Rangel constituiu sua dinastia, sendo que dentre aqueles que as mais gloriosas
vitórias trouxeram, encontravam-se: Zé Mendes, Valdomiro Santos, Nigro Santana,
Rafael Ribeiro, Hormínio Santos Filho, Dorival Daniel, Carlos Rangel Junior,
Ubirajara Rangel, Silvio Lopes, Pedro Rocha, Damiana Sales, Rita de Cássia, Diana
Peixoto, Laudicea Oliveira, Noelia Brito, Claudia Cristina e Nohama Viana.
Segundo Rangel (2011, p. 118) desde a implantação do karatê no Acrópole
foi:
[...] passagem constante de grandes e até destacados instrutores da atualidade. Lá começaram seus estudos Roberto Pereira, Dílson Soares, Dorival Daniel, Silvio Lopes e Luis Viana, dentre outros. As constantes competições internas, fizeram surgir valorosos atletas. A primeira equipe do Acrópole a disputar competições era formada
38
por José Edmundo, José Firmino Bomfim, Nilton Guimarães, Nigro Santana e Rafael Ribeiro.
Sendo assim, após vinte e um anos de existência o Acrópole, a partir de
1991, fundiu-se com uma nova instituição o Clube Imperador que segundo Rangel
(2011, p. 118) que dispondo de maior estrutura absorveu cerca de noventa por cento
dos antigos karatecas e até hoje, mantém a hegemonia no karatê baiano.
Expomos no próximo capítulo, pontos relevantes para este estudo em duas
sessões e três subsessões, considerando as reflexões sobre o contexto pedagógico
do karatê para os educandos do 6º ao 9º ano da educação básica, tratamos os
conteúdos deste ciclo. Sendo assim, ao expor uma proposta da realidade
pedagógica, destacamos as possibilidades no âmbito da Educação Física Escolar.
39
3 KARATÊ NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR A PARTIR DAS
ABORDAGENS CRÍTICAS
Desenvolvemos neste capítulo, as sessões que tratam dos aspectos
relevantes do tema pesquisado, partindo de pressupostos que norteiam o ensino da
Educação Física Escolar. No decorrer deste capítulo, apresentamos os fundamentos
pedagógicos do ensino-apreendizagem do karatê a partir da revisão dos estudos
das abordagens críticas. Também apresentamos as bases do ensino e as
possibilidades de uma proposta pedagógica do ensino do karatê para o 6º ao 9º ano
da educação básica, enfim todos os argumentos emitidos pelos pesquisadores para
sustentar a presença do Karatê-Do na escola enquanto prática educacional.
3.1 FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS DO ENSINO-APREENDIZAGEM
DO KARATÊ: UMA REVISÃO DOS ESTUDOS
Conforme os dados históricos da Educação Física e do Karatê, expostos no
capítulo II desta monografia, percebemos a possibilidade de vínculos, considerando
que as lutas são incorporadas ao conteúdo das escolas a partir do ensino da
Educação Física Escolar.
Após pesquisarmos em várias bibliografias, sabemos que a prática das artes
marciais (karatê) melhora o desempenho intelectual e o inter-relacionamento
pessoal, à medida que alicerçada na rígida disciplina oriental, aliada a princípios
filosóficos milenares, exigem grau elevado de atenção e concentração na execução
de tarefas de superação.
Considerando a importância que tem o ensino-aprendizagem do karatê,
enquanto garantia de direitos de todos os cidadãos destaco, portanto, que a
aplicação das lutas nas escolas exige adequação às condições sócio-econômicas,
regionalização, cultura e necessidades do aluno, sendo preciso que se pense uma
especificidade, em relação à faixa etária, não podendo ser uma atividade para
criança igual a uma para adulto. É necessário aplicar uma metodologia que, além de
promover uma vivência de situações que estimule o desenvolvimento das
capacidades físicas e habilidades psicomotoras presentes nas lutas, seja também
motivante, estimulante e prazerosa, proporcionando um bem estar e o gosto pelo
aprendizado da arte.
40
Assim, voltamos para o enfoque deste capítulo, ou seja, uma revisão dos
estudos dos fundamentos pedagógicos do ensino-aprendizagem do karatê.
Enquanto proposta pedagógica os PCN (BRASIL. 1998, p. 49) afirmam que o ensino
das lutas objetiva:
A vivência de situações que envolvam perceber, relacionar e desenvolver as capacidades físicas e habilidades motoras presentes nas lutas praticadas na atualidade; vivência de situações em que seja necessário compreender e utilizar as técnicas para as resoluções de problemas em situações de luta (técnica e tática individual aplicadas aos fundamentos de ataque e defesa); vivência de atividades que envolvam as lutas, dentro do contexto escolar, de forma recreativa e competitiva.
Na citação acima, podemos perceber que o posicionamento dos PCN sobre
as lutas, neste estudo o Karatê, é entendido e tratado como cultura corporal do
movimento, logo valoriza as lutas e orienta o professor mostrando que as lutas
devem estar presentes na elaboração do seu planejamento.
Segundo Cartaxo (2011, p. 164) o conteúdo lutas, na disciplina Educação
Física Escolar, é uma prática ainda pouco utilizada por muitas escolas, pelo fato dos
professores não serem preparados nas universidades em função de terem poucas
horas/aulas destinadas à aprendizagem dessa disciplina e ela comporta muito
conteúdo.
Sendo assim, apresentamos as bases filosóficas, os fundamentos básicos
(defesa e ataque) e vocabulários das técnicas mais utilizadas nas aulas de Karatê.
Tudo que consideramos de suma importância para uma boa iniciação para os
educandos do 6º ao 9º ano da educação básica.
Para iniciar apresentamos as bases filosóficas do Karatê, porque acho muito
importante que um professor ou um especialista em karatê, saiba explanar sobre a
história, a filosofia, os códigos de ética e o Lema do Karatê-Do (Dojo-Kun). Estes
instrumentos são usados para poder desenvolver a conduta do praticante no sentido
de obter harmonia com o universo.
De acordo com Sasaki (1991, p. 16), Funakoshi deixa-nos muitos
pensamentos que espelham a filosofia do karatê e suas técnicas, bem como a
sabedoria oriental. São cinco lemas (kun) que têm sido passados desde os tempos
mais remotos até o presente. O Quadro 1 classifica-os:
41
Quadro 1 - Cinco Lemas do Karatê (Dojo Kun)
Hitotsu jinkaku kansei ni tsutomuru koto = esforçar-se para a formação do caráter.
Hitotsu makoto no michi o mamoru koto = fidelidade ao verdadeiro caminho da
razão.
Hitotsu doryoku no seisshin o yashinau koto = criar o intuito do esforço.
Hitotsu reigimo omunzuru koto = respeito acima de tudo.
Hitotsu kekki no yuo imashimuru koto = conter o espírito de agressão.
Fonte: Baseado em SASAKI, (1991, p. 16)
Conforme o que aponta os estudos do mestre Sasaki (1995, p. 27), ou seja,
em relação ao conjunto de preceitos (Kun) citados acima estes são normalmente
recitados no começo e no fim das aulas de Karatê. Tais preceitos representam os
ideais filosóficos do Karatê. O propósito do dojo kun é reforçar a ética, para que
possa servir como parâmetro aos praticantes de Karatê e guia-lós as crianças para a
prática correta do karatê. Sasaki (1991, p. 16) ainda completa dizendo que esses
conhecimentos, que chegaram até nós nos livros deixados pelos grandes mestres,
através do tempo, podem ser considerados uma riqueza cultural à disposição de
todos.
Funakoshi (1994, p. 109-110), afirma que:
Alguns jovens acreditam que o Karatê possa ser aprendido somente de instrutores num dojo, mas estes são simples técnicos, não caratecas verdadeiros. Há um ditado budista que diz que qualquer lugar pode ser um dojo, esse é um ditado que nenhuma pessoa que queira seguir o caminho do Karatê deve esquecer. O Karatê-Do não é somente a aquisição de certas habilidades defensivas, mas também o domínio da arte de ser um membro da sociedade bom e honesto.
Na citação acima o autor procura associar a essência do karatê a cortesia,
fazendo pressupor de que um dos fins da arte marcial seja a harmonia. Há uma
relação direta entre harmonia/arte e moral/cortesia, que liga as obrigações morais a
estabilidade e a paz. Observa-se que em japonês, o Dojo Kun sempre começa com
a palavra Hitotsu (primeiro), pois, para Funakoshi, todos os preceitos são
importantes e devem ser exercidos igualmente.
42
O local de treinamento (dojo), ao contrário do que é mencionado na mídia,
pode ser num espaço físico plano, firme, não escorregadio, arejado e que permita a
execução dos movimentos em sua total amplitude.
Funakoshi em seu livro “Os vinte princípios fundamentais do Karatê”
descreve: o Niju Kun (os códigos de ética), que é a síntese do seu pensamento
sobre como dever ser o espírito do praticante de karatê. Estes princípios têm como
propósito dar subsídios aos professores à cerca da prática cotidiana do karatê,
servindo como guia para o autoconhecimento:
1. O Karatê começa e termina com saudação (rei); 2. No Karatê não existe atitude ofensiva; 3. O Karatê é um assistente da justiça; 4. Antes de julgar os demais, procure conhecer a si mesmo; 5. O espírito é mais importante do que a técnica; 6. Evitar o descontrole do equilíbrio mental; 7. Os infortúnios são causados pela negligência; 8. O Karatê não deve se restringir ao dojo; 9. O aprendizado do Karatê deve ser perseguido durante toda a vida; 10. O Karatê dará frutos quando associado à vida cotidiana; 11. O Karatê é como água quente. Se não receber calor constantemente esfria; 12. Não alimentar a idéia de vencer, pense em não ser vencido; 13. Adaptar sua atitude conforme for o adversário; 14. A luta depende do manejo dos pontos fracos (kyo) e fortes (jitsu); 15. Imagine que os membros dos adversários são como espadas; 16. Para o homem que sai do seu portão, há milhões de adversários; 17. No início seus movimentos são artificiais, mas com a evolução tornam-se naturais; 18. A prática de fundamentos deve ser correta, porém sua aplicação é diferente; 19. Não esqueça se esqueça de seus pontos fortes e fracos, das limitações de seu corpo e da qualidade relativa de suas técnicas; 20. Estudar, praticar e aperfeiçoar-se sempre.
No entendimento de Bartolo (2010, p. 147) a ética destes princípios, é ensinar
que o Karatê não pode ser usado fora do Dojo. Na escola, o karatê deve ser
controlado, pois é inaceitável em um treinamento machucar propositadamente um
colega. O autocontrole é parte inerente do karateca e deve ser incorporado e
ensinado aos alunos da escola, ou seja, o professor deverá mostrar que todos
devem seguir o caminho da retidão, acatando fielmente os vinte princípios.
43
Portanto, a finalidade destes ensinamentos é o aperfeiçoamento do caráter de
quem pratica o Karatê, sendo assim, poderemos usar a história, a filosofia, os
códigos de ética e o Lema do Karatê-Do (Dojo-Kun) para mostrar os benefícios da
inclusão do Karatê-Do e a sua filosofia nas aulas de Educação Física para os
educandos do 6º ao 9º ano da educação básica, fazendo desta ferramenta um
conteúdo de ensino pedagógico e educativo.
Para Nakayama (1977, p. 14) o iniciante começa a prática do Karatê,
aprendendo a moldar o punho, em seguida ele aprende as posturas básicas, as
posições, os bloqueios e os ataques.
As aulas de Karatê podem ser divididas em três partes principais: Kihon
(fundamentos) Posturas básicas; Kata (forma, padrão), uma espécie de luta contra
um inimigo imaginário expressa em sequências fixas de movimentos; Kumite
(encontro de mãos) luta propriamente dita.
Segundo Rangel (1996, p. 36), Kihon é a terminologia japonesa que serve
para nominar o conjunto de golpes fundamentais para a prática do karatê que se
compõe de técnicas executadas com os braços – socos, cotoveladas ou defesas – e
pernas, nas diversas formas de chutes. Apresentamos a seguir, os fundamentos
(Kihon), objetivando o ensino aprendizagem de alunos iniciante no karatê, de acordo
com o autor e o manual da FKIBA – Federação de Karatê Interestilos da Bahia:
1. Oi Zuki ou Tsuki – Soco. Forma de ataque com o punho, avançando ao mesmo tempo em que a perna avança na direção do objetivo. 2. Gedan Barai – Forma de defesa no sentido executada no sentido de cima para baixo, cujo objetivo é bloquear golpes dirigidos principalmente para a região abdominal. 3. Age Uke – Forma de defesa que caracteriza o bloqueio para cima. Protege a cabeça. 4. Soto Uke – Bloqueio de fora para dentro, utilizando como ponto de contato a metade superior do antebraço. 5. Uchi Uke – Defesa no sentido de dentro para fora, também utilizando como ponto de contato a parte do antebraço mais próxima do punho. 6. Shuto Uke – Bloqueio de fora para dentro, utilizando como ponto de contato a metade superior do antebraço. 7. Mae Geri Keage – Chute frontal, com a perna executando o movimento semelhante ao de uma chicotada. 8. Yoko Geri Keage – Chute para o lado, tendo como ponto de contato a borda externa ou toda a planta do pé. 9. Maw Ashi Geri – Golpe de ataque com o pé, que para atingir o objetivo executa uma trajetória circular.
10. Ura Maw Ashi Geri – Chute que se assemelha ao maw ashi gueri, executando uma trajetória inversa. Seu ponto de contato é o calcanhar.
44
Também, no entendimento de Rangel (1996, p. 53) as posturas básicas
(Bases) do karatê, são formas corporais que o praticante adota para uma melhor
execução dos golpes de ataque ou defesa, onde o principal objetivo é o equilíbrio, e
a boa base. As posturas mais utilizadas nas aulas de karatê são:
- Kiba Dachi – Postura caracterizada pelo grande afastamento lateral entre os pés do karateísta, semiflexão dos membros inferiores e força concentrada no centro de gravidade e joelhos, pressionando para baixo. Assemelha-se à posição de cavalgar. -Kokutsu Dachi – Postura recuada que guarda breve semelhança com o Kibadachi. O centro de gravidade fica mais próximo da perna traseira e o pé adiantado, mantém-se voltado para frente. - Zenkutsu Dachi – Postura frontal, coma perna de trás inclinada e em completa extensão, enquanto que a da frente, em semiflexão com a coxa, mantém-se perpendicular ao solo.
Conforme Nakayama (1997, p. 94) os Kata, ou exercícios formais, são
combinações de técnicas fundamentais do karatê, executadas de uma maneira
lógica e predeterminada, simulando uma luta contra vários oponentes, que se
encontra na mente daquele que executa o kata. Através da constante prática desse
tipo de movimento corporal (Kata), o karateca pode desenvolver seu físico, fortalecer
seus ossos e forjar músculos vigorosos. Segue abaixo a relação de Kata do estilo
Shotokan e seus significados:
Quadro 2 - Kata e seus significados
Kata Significados 01-Heian Shodan Paz e Tranqüilidade – Nível I
02-Heian Nidan Paz e Tranqüilidade - Nível II 03-Heian Sandan Paz e Tranqüilidade - Nível III
04-Heian Yondan Paz e Tranqüilidade - Nível IV
05-Heian Godan Paz e Tranqüilidade - Nível V 06-Tekki Shodan Cavaleiro de Ferro - Nível I
07-Tekki Nidan Cavaleiro de Ferro - Nível II
08-Tekki Sandan Cavaleiro de Ferro- Nível III
09-Bassai Daí Romper a Fortaleza
10-Kanku Daí Contemplar o Céu 11-Jitte Dez mãos
12-Hangetsu Meia Lua
13-Enpi Vôo da Andorinha 14-Gankaku Garça sobre a Rocha
15-Jion Templo Amor e Gratidão 16-Bassai Sho Romper a Fortaleza
17-KankuSho Contemplar o Céu
18-Chinte Mãos Estranhas Fonte: Baseado no Manual de Nomenclatura de Kata da FKIBA (2011, p. 3)
45
Para Funakoshi (1998, p. 89) o kumite, ou seja, a luta propriamente dita
deverá ser ensinada para os praticantes de karatê, quando possuir um melhor
entendimento dos fundamentos e dos kata básicos. Mesmo o praticante mais
avançado e já engajado na prática do kumite, não deve cessar nunca o estudo e a
prática dos elementos básicos do karatê.
Para finalizar este capítulo apresentamos o vocabulário técnico do Karatê, ele
é praticado nos 05 continentes, a sua linguagem técnica é em japonês, assim como
a denominação dos golpes. Todo praticante da modalidade deve conhecer os
termos técnicos e nomes dos golpes, estas palavras apesar de serem em japonês
são termos técnicos padronizados universalmente.
Quadro 3 - Vocabulário Técnico do Karatê
1 Iti, 2 Ni, 3 San, 4 Shi, 5 Go, 6 Roku, 7 Shiti, 8 Hati, 9 Kiu, 10 Diu
Kiotskei – Atenção
Dojô- Academia (salão de concentração) Hidari Esquerda Rei – Cumprimento, Saudação Uke – Defesa (bloqueio) Mokusô – Meditação olhos fechados Shiai – Competição Zarei – Cumprimento ajoelhado Shiaijo – Local da competição Ritsu-Rei – Cumprimento em pé Hajimê – Começar Seitô – Aluno Soremadê – Terminar Sempai Classe Superior Ippon – Ponto completo Dangai – Faixa Branca a Marrom Wazari – Meio ponto Yudanhsa – Faixa preta Keikoku – Penalidade igual a wazari Kodansha – Faixa Alto Grau Kiken – Vitória por desistência Tatami- Acolchoado Kiai – Grito Karatê-Gi – Roupa de Karatê Gyaku-zuki – Soco Contrário, invertido Obi – Faixa Shintai – Deslocamento, movimentação Shisei – Posturas Utikomi – Entrada de golpes Shizentai – Posição Natural Kata – Treinamento de forma (luta imaginária) Migui – Direita Kumitê – Luta (combate) Embusen – Linha de atuação Zenkutsu dachi – Postura avançada para
frente Shuto-Uke – Bloqueio com a mão em espada
Kokutsu-dachi – Postura recuada
Ashi - Pé. Kiba dachi – postura do cavaleiro Ashi-Ate-Waza - técnica com os pés. Jodan - altura do rosto, pescoço.
Ashi-Barai - Varrer com os pés (passa pé)
Sensei - Professor.
Chudan - Altura do plexo, altura média. Empi – Cotovelada
Yoko-gueri – Chute Lateral Shu-Gyo – Aprimoramento
Fonte: Baseado em Sasaki (1995, p. 31)
O Vocabulário técnico do Karatê é composto por palavras que hora
relacionamos, são utilizadas durante as aulas e competições e sempre que forem
46
mencionadas deveram ser traduzidas para os educandos. Na escola o professor
poderá utilizar este vocabulário para estimular aos alunos o estudo da língua
japonesa, e assim desenvolver a capacidade de leitura e escrita.
3.1.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS NO ENSINO DO KARATÊ
Como sabemos o professor de Educação Física Escolar deve estar apto a
fazer o planejamento das aulas e dedicar-se ao estudo dos aspectos técnicos e
literários. Portanto, no quadro abaixo apresentamos aspectos metodológicos do
ensino do karatê, para os educandos do ensino fundamental II:
Quadro 4 - Aspectos Metodológicos do Ensino Do Karatê 1. O Professor deve dedicar-se ao estudo dos aspectos técnicos e filosóficos dessa arte, para que possa fazer sua adequação conforme os objetivos individuais, na prática do ensino. Esses objetivos devem ser dosados de acordo com a idade, sexo, nível cultural e habilidade dos praticantes.
2. Cumpre Conscientizar-se de que a prática do karatê visa ao aprimoramento da personalidade e da técnica.
3. Planejar os treinos com objetivos diários, mensais e anuais, adequando ao nível dos alunos.
4. Para orientar os principiantes, enfatizar sempre a metodologia correta em relação à base, postura e eficiência dos golpes; essa metodologia deve harmonizar-se com os princípios da biomecânica dos movimentos. É útil buscar também novas motivações para o treinamento.
5. Aos veteranos, mostrar o caminho correto a trilhar, indicando os reais objetivos da prática do karatê no sentido shu-gyo (estudar), visando ao satori (libertação).
6. Criar hábitos de leitura e pesquisa em relação ao karatê.
7. O professor deve, ele próprio, exercitar-se na disciplina e autocontrole, fazendo que suas atitudes e procedimentos manifestem suas convicções, para exemplo e orientação dos alunos.
Fonte: Baseado em Sasaki (1991, p. 21)
Sendo assim, podemos perceber que no quadro acima foram abordados os
passos metodológicos que devem ser seguidos pelos professores de Educação
Física Escolar, antes, durante e após aulas de karatê.
Está proposta pedagógica do ensino-apreendizagem não tem o condão de
tomar para o Karatê o privilégio da conveniência e unir a expressão corporal com a
qualidade de vida. Antes, é uma proposta embrionária para a exploração técnico-
científica e filosófica para estudantes e professores de Educação Física Escolar, o
qual engloba o Karatê-Do como um todo, difundindo sua arte e restaurando as
origens do Karatê moderno do Sensei Funakoshi que era praticado nas
universidades. Portanto, deve-se priorizar o ensinamento como um todo, sem
47
discriminação, deixando para aqueles que têm anseio de conhecimento avançados
evoluírem na pesquisa científica do karatê.
3.2 FUNDAMENTOS DAS ABORDAGENS CRÍTICAS: AS BASES DO ENSINO
Considera-se relevante compreender, inicialmente, a palavra didática, em
seguida, parafrasear os conceitos presentes na literatura para subsidiar a análise
que será feita sobre as bases do Ensino da Educação Física para os educandos do
6º ao 9º ano da educação básica, a partir das abordagens críticas.
Ximenes (2000, p. 323) apresenta no minidicionário da Língua Portuguesa o
verbete, didática, como “Arte e técnica de ensino”. Diante disso, nos últimos anos, se
têm prestado mais atenção as maneiras de ensinar e aprender, daí surgem muitos
questionamentos. Como exemplo, este estudo que parte de um problema
investigativo “Qual a realidade e as possibilidades de uma proposta para o ensino do
Karatê do 6º ao 9º ano na Educação Física Escolar, considerando as abordagens
críticas?”
De acordo com os PCN (BRASIL. 1998, p. 25) as abordagens críticas
passaram a questionar o caráter alienante da Educação Física na escola, propondo
um modelo de superação das contradições e injustiças sociais. Sendo assim,
compreendemos que neste período o sistema de ensino foi atrelado às
transformações sociais, econômicas e políticas, tendo em vista a superação das
desigualdades sociais.
A partir do Coletivo de Autores (1992, p. 35), o Ensino Fundamental II
compreende o terceiro e quarto ciclo, o qual é caracterizado na seguinte forma:
[...] É o ciclo de organização da identidade dos dados da realidade. Cabe à escola, particularmente ao professor, organizar a identificação desses dados constatados e descritos pelo aluno para que ele possa formar sistemas, encontrar as relações entre as coisas, identificando as semelhanças e as diferenças [...]. Nesse ciclo o aluno se encontra no momento da “experiência sensível”, onde prevalecem as referências sensoriais na sua relação com o conhecimento. O aluno dá um salto qualitativo quando começa a categorizar os objetos, classificá-los e associá-los.
Conforme mencionado acima, pelo Coletivo de Autores, evidenciamos que os
elementos trabalhados para os educandos do 6º ao 9º ano, deverão conter
48
conhecimentos mais sistematizados que procurem ampliar e construir de forma
crítica o seu pensamento.
Assim, podemos compreender a partir do Coletivo de Autores (1992, p. 49),
que a aprendizagem através das abordagens críticas, possibilita aos educandos a
exigência de desmistificar o esporte através da oferta na escola, permitindo criticá-lo
dentro de um determinado contexto sócio-econômico-político-cultural. Com isso,
esse conhecimento deve promover, também, a compreensão de que a prática
esportiva deve ter o significado de valores e normas que assegurem o direito à sua
prática.
Portanto, neste momento trago para o diálogo o Karatê, que carrega consigo
fortes traços da tradição oriental, comumente chamado e identificado como
“filosofia”, termo relacionado aos aspectos da sabedoria, cultura e conduta
existentes nas artes marciais. Desde já se torna importante diferenciar “Karatê” de
“Karatê-Do”. KARATÊ significa “Mãos vazias” e DO significa “Caminho”. Assim
nosso estudo se baseia nos princípios do “Karatê-Do” (Caminho das mãos vazias)
arte marcial que realmente prega a filosofia durante todo seu treinamento,
diferenciando-se do “Karatê” hoje encontrado em diversas literaturas e muitas vezes
praticado apenas como mais um esporte.
O pesquisador Kunz (2003, p. 125), afirma que o processo de transformação
didático-pedagógico da Escola, deverá ser apresentado a partir das abordagens
críticas.
Ou seja, o primeiro passo é identificar o significado de se movimentar, ou
melhor, interagir, participar, jogar e em particular respeitar as limitações de cada
aluno, oferecendo oportunidade para que o mesmo identifique e possa escolher qual
a modalidade esportiva que se aproxime de suas características. O professor deverá
realizar intervenções que contribuam para aproveitar as sugestões dos alunos e
modificar as atividades existentes.
Esse autor, também aborda como ponto principal a importância que as
atividades devem ter, sendo exercitadas de forma prazerosa, com satisfação,
possibilitando uma nova transformação; assim, não é papel da escola ensinar
movimentos perfeitos, técnicas, regras oficiais das modalidades esportivas e sim
desenvolver atividades de forma lúdica, transformadora e de caráter pedagógico.
É de fundamental importância o domínio do professor no trato do
conhecimento dos conteúdos da Educação Física Escolar e, em especifico, as lutas,
49
assim como das suas influências nos educandos do 6º ao 9º ano da educação
básica.
Sabemos das dificuldades das crianças em assimilar as técnicas do Karatê,
por falta de coordenação, atenção ou motivação e entendemos que as lutas não se
resumem apenas as modalidades (Karatê, Judô, Capoeira, etc.), sendo assim os
PCN (1998, p. 96) orientam que:
As lutas são disputas em que os oponentes devem ser subjugados, com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa, caracterizando-se por uma regulamentação específica a fim de punir atitudes de violência e deslealdade. Podem ser citados como exemplo de luta as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até as práticas mais complexas da Capoeira, do Judô e do Karatê.
Diante da citação acima podemos visualizar que nas lutas e em particular no
Karatê a parte filosófica está sempre presente, podendo proporcionar aos alunos
mais do que vemos na mídia esportiva, que o Karatê é só mais um esporte violento,
onde apenas se pratica socos e pontapés para conquistas de campeonatos e para
autodefesa. Então, este estudo tem o papel de diferenciar o karatê esporte do karatê
da escola e mostrar que esta nobre arte, é muito mais que simplesmente troca de
golpes. Sendo assim o Karatê pode contribuir para a formação humana dos alunos
do 6º ao 9º ano da Educação básica.
3.3 POSSIBILIDADES DE UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA DO ENSINO DO
KARATÊ PARA O 6º ao 9º ANO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA EDUCAÇÃO
FÍSICA ESCOLAR A PARTIR DAS ABORDAGENS CRITÍCAS
Consideravelmente, nessa seção, apresentamos fundamentos e metodologias
de ensino-aprendizagem do Karatê, já apontados na seção (3.1), princípios
pedagógicos tratados por duas obras clássicas da Educação Física Escolar
Transformação Didático-Pedagógica do Esporte, Kunz (1994) e Metodologia do
Ensino da Educação Física, Coletivo de Autores (1992) e também apresentamos as
possibilidades de uma proposta pedagógica do ensino do karatê para o 6º ao 9º ano
da educação básica na Educação Física Escolar, a partir das abordagens críticas,
tendo como principal objetivo o desenvolvimento da cultura corporal do movimento
humano.
50
Portanto, entende-se por cultura corporal do movimento humano a
competência relativa às habilidades passíveis de educar a criança para a utilização
adequada de seu tempo de lazer através das práticas corporais. Sendo assim,
Bartolo (2010, p. 175) aponta que:
Une-se a essas práticas corporais o Karatê-Do, que será aplicado com base em duas referências pedagógicas: metodológica e sócio-educativa. Caberá ao referencial metodológico dar conta dos aspectos físicos, técnicos e táticos da prática esportiva como outra modalidade esportiva qualquer, já ao referencial sócio-educativo, caberá o trato com valores, princípios e modo de comportamento, que é o pilar desta milenar arte marcial japonesa.
Na citação acima o autor mostra a importância do Karatê e a inclusão desta
nobre arte marcial em propostas pedagógicas voltadas para os educandos do
terceiro e quarto ciclo da educação básica, ou seja, como o Karatê estruturado a
partir dos cincos princípios básicos da Pedagogia: motor, cognitivo, psicológico,
filosóficos e social, trabalhados de forma única e integral, contribuem de forma
significativa para a formação humana dessas crianças.
Seria muita pretensão sugerir um modelo de proposta escolar para ser
aplicada nas aulas de Educação Física, mas é importante ressaltar que a unidade
menor da dinâmica de ensino, a “aula”, sempre deve preceder um planejamento
curricular bem elaborado, de forma que não se desenvolvam “aulas soltas”, com
objetivos momentâneos, mas considerar um processo contínuo de construção do
conhecimento sobre o Karatê.
Sendo assim, tratado nas aulas de Educação Física Escolar, o Karatê
oportuniza o desenvolvimento de caráter dos educandos, pois enquanto conteúdo de
aprendizagem coloca desafios que, potencializam a formação de um ambiente
reflexivo e autocrítico, além de uma melhor compreensão dos problemas que a vida
impõe.
Uma proposta pedagógica do ensino do Karatê fundamentada nas
abordagens críticas da Educação Física Escolar, nos exigiu recuperar o que aponta
a abordagem crítico-emancipatória e crítico-superadora.
Considerando a possibilidade de uma sistematização, apontamos dois
quadros que organizam o processo de ensino nas referidas abordagens críticas,
considerando o trato com o conhecimento dos fundamentos do Karatê, já apontados
na seção (3.2).
51
Portanto, a seguir apresentamos uma proposta do trato do conhecimento do
karatê, do 6º ao 9º ano a partir da abordagem crítico-emancipatória, tratando os
aspectos teórico-metodológicos que articulam em princípios e está voltada para
formação da cidadania, do que mera instrumentalização técnica para o trabalho, ou
seja, uma educação mais emancipadora.
Quadro 5 – Trato do Conhecimento do Karatê, do 6º ao 9º ano a partir da
abordagem crítico-emancipatória.
Tematizações dos Fundamentos do
Karatê
Proposta teórico-metodológica que se articula
em princípios
- História e Origem do Karatê; - O Código de Ética do Karatê; - O Niju Kun (Os vinte ensinamentos) - Vocabulário Técnico do Karatê; - Fundamentos básicos (defesa e ataque); - Posturas básicas (Bases) do karatê: Zenkutsu Dachi, Kiba Dachi e Kokutsu Dachi; -Kihon: Conjunto de golpes fundamentais para a prática do Karatê que se compõe de técnicas executadas com os braços (socos, cotoveladas ou defesas) e pernas, nas diversas formas de chutes; - Atividades teóricas realizadas através de pesquisas, aulas expositivas e análises de filmes: cultura dos países, história das lutas, as lutas no contexto mundial ou regional e as lutas como são mostradas pela mídia; -Kata: são combinações de movimentos de ataque e defesa, previamente estabelecidos em deslocamentos para frente, lados ou para trás, com o objetivo de desenvolver a coordenação motora. - Brincadeiras e jogos recreativos -Jogos Populares de Luta; - Lutas a Distância; - Jogos de Oposição; - Brincadeiras e jogos recreativos; - Jogos de Combate;
- Princípio da totalidade: [...] pressupõe que a Educação Física deva proporcionar ao aluno um entendimento crítico do que se passa na aula, na escola, na sociedade. [...] Esta perspectiva de totalidade deve contribuir na superação de dicotomias relacionadas a corpo-mente, homem-sociedade, sociedade-meio-ambiente, etc. - Princípio da continuidade-e-ruptura: baseia-se na consideração e valorização do conhecimento que o aluno traz consigo, para que, através da vivência/ discussão/reflexão sobre o mesmo, possa romper com o estabelecido, na busca da construção de um novo conhecimento, que não negue o anterior, mas que o inclua e supere em amplitude e complexidade. - Princípio da criticidade: fundamentado nos anteriores, permitindo ao aluno situar-se enquanto sujeito histórico-social, e ao conhecimento que constrói coletivamente, numa perspectiva crítica da sociedade, entendendo os valores e interesses que aderem a esta cultura de movimento e ampliado assim, suas possibilidades de intervenção no contexto social. - Princípio da co-gestão: preconiza e oportuniza aos educandos (as) perceberem e intervirem no processo de ensino-aprendizagem através de co-determinações e ações autônomas e coletivas [...], com vistas a uma perspectiva de educação para o exercício da cidadania emancipada. - Princípio da cooperação: pressupõe que todos os sujeitos envolvidos no processo educativo tenham [ou possam construir] uma intencionalidade coletiva, buscando solucionar os problemas com o grupo, o que leva ao crescimento de cada indivíduo e do grupo como um todo. - Princípio da ludicidade: pressupõe um desprendimento da produtividade mecânica e alienante, [resgatando] a sensibilidade do movimento humano, a criatividade, a imaginação, e o viver/sentir as situações da aula como momentos de prazer. - Princípio da dialogicidade: [percebida como] o selo
52
da educação para a liberdade. Compreende o diálogo como processo fundante da educação, entendendo a palavra como expressão do estar-no-mundo. Por isso é ação e reflexão, é práxis.
Fonte: Proposta adaptada da Obra de Kunz (2004, p. 67)
Na proposta de Kunz (1994, p. 29-30), autor no qual fundamentamos as
possibilidades de uma proposta pedagógica do ensino do Karatê do 6º ao 9º ano da
educação básica na Educação Física Escolar a partir das abordagens críticas, é
apontado que uma:
[...] teoria pedagógica no sentido crítico-emancipatória precisa, na prática, estar acompanhada de uma didática comunicativa, pois ela deverá fundamentar a função do esclarecimento e da prevalência racional de todo agir educacional. E uma racionalidade com o sentido do esclarecimento implica sempre, numa racionalidade comunicativa. Devemos pressupor que a Educação é sempre um processo onde se desenvolvem “ações comunicativas”. O aluno enquanto sujeito do processo de ensino deve ser capacitado para sua participação na vida social, cultural e esportiva, o que significa não somente a aquisição de uma capacidade de ação funcional, mas a capacidade de conhecer, reconhecer e problematizar sentidos e significados nesta vida, através da reflexão crítica.
De acordo com Kunz (2004, p. 68), os princípios de uma proposta teórico-
metodológica devem ser trabalhados e assumidos como elementos imprescindíveis
na construção de uma proposta pedagógica, capaz de contribuir para um projeto
educacional, voltado para a formação humana, penetrando em formas críticas de
saber e de saber-fazer e que conduza os sujeitos a um processo de produção
autônoma e coletiva da cidadania.
Portanto, com base na concepção da abordagem crítico-emancipatória as
aulas de Educação Física devem proporcionar às crianças o aprendizado das lutas e
em especial o Karatê e, por meio deste, contribuir e desenvolver os educandos do 6º
ao 9º da educação básica, fortalecendo o papel da família no processo de
desenvolvimento dos filhos, considerando os aspectos culturais, sócio-econômico,
hábitos e costumes, buscando possibilitar mudanças de comportamento que
favoreçam a qualidade de vida da família tornando–os sujeitos de sua cidadania, no
que tange aos seus direitos e deveres. Na concepção crítico-emancipatória o
professor tem a função de confrontar a realidade do ensino e fazer com que o aluno
se manifeste, participe e questione sobre a aprendizagem e descoberta, procurando
53
entender o verdadeiro significado da aprendizagem sem interferências dos
processos interpostos pela sociedade ou estruturas autoritárias.
No quadro abaixo apresentamos uma proposta do trato do conhecimento do
karatê, do 6º ao 9º ano a partir da abordagem crítico-superadora, tratando os
aspectos teórico-metodológicos que articulam em ciclos. Esta abordagem tem como
base a justiça social, buscando levantar as questões de poder, interesses e
contestações através de uma reflexão pedagógica dentro do processo político
pedagógico intervindo sobre as realidades sociais. A principal obra desta abordagem
foi publicada por um coletivo de autores em 1992, denominada de “Metodologia do
Ensino da Educação Física”.
Quadro 6 – Trato do Conhecimento do Karatê, do 6º ao 9º ano a partir da
abordagem crítico-superadora.
Tematizações dos Fundamentos do Karatê Proposta teórico-metodológica que
articula em Ciclos
- História e Origem do Karatê; - O Código de Ética do Karatê; - Vocabulário Técnico do Karatê; - Fundamentos básicos (defesa e ataque); - Posturas básicas (Bases) do karatê: Zenkutsu Dachi, Kiba Dachi e Kokutsu Dachi; -Kihon: Conjunto de golpes fundamentais para a prática do Karatê que se compõe de técnicas executadas com os braços (socos, cotoveladas ou defesas) e pernas, nas diversas formas de chutes; - Atividades teóricas realizadas através de pesquisas, aulas expositivas e análises de filmes: cultura dos países, história das lutas, as lutas no contexto mundial ou regional e as lutas como são mostradas pela mídia; -Kata: são combinações de movimentos de ataque e defesa, previamente estabelecidos em deslocamentos para frente, lados ou para trás, com o objetivo de desenvolver a coordenação motora. - Brincadeiras e jogos recreativos -Jogos Populares de Luta; - Lutas a Distância; - Jogos de Oposição; - Brincadeiras e jogos recreativos; - Jogos de Combate;
- O segundo ciclo vai da 4ª à 6ª series (hoje, 5º ao 7º ano). É o ciclo de iniciação à sistematização do conhecimento. Nele o aluno vai adquirindo a consciência de sua atividade mental, suas possibilidades de abstração, confronta os dados da realidade com as representações do seu pensamento sobre eles. Começa a estabelecer nexos, dependências e relações complexas, representas no conceito e no real aparente, ou seja, no aparecer social. Ele dá um salto qualitativo quando começa a estabelecer generalizações. - O terceiro ciclo vai da 7ª à 8ª séries (hoje, do 8º ao 9º ano). É o ciclo de ampliação da sistematização do conhecimento. O aluno amplia as referências conceituais do seu pensamento; ele toma consciência da atividade teórica, ou seja, de que uma operação mental exige a reconstituição dessa mesma operação na sua imaginação para atingir a expressão discursiva, leitura teórica da realidade. O aluno dá um salto qualitativo quando reorganiza a identificação dos dados da realidade através do pensamento teórico, propriedade da teoria.
Fonte: Proposta adaptada da Obra do Coletivo de Autores (1992, p. 23).
54
Portanto, após a apresentação do quadro acima, esclarecemos que de acordo
com Resolução nº 3, de 3 de agosto de 2005 do Conselho Nacional de Educação
(2006, p. 6), o ensino fundamental, terá nove anos de ensino obrigatório, onde são
distribuídos em cinco anos iniciais (do 1º ao 5º ano) e quatro anos finais (do 6º ao 9º
ano), sendo este último o que tratamos nesta pesquisa. No quadro, também foi
mencionado os ciclos da educação básica, a partir do Coletivo de Autores os termos
segundo ciclo da 4ª à 6ª series e o terceiro ciclo da 7ª à 8ª séries, que de acordo
com os PCN, hoje chamamos de terceiro e quarto ciclos, ou seja, 6º ao 9º ano da
educação básica.
Então, a partir do Coletivo de Autores (1992, p. 34-35), compreende-se que o
ensino fundamental II, está presente no terceiro e quarto ciclos, no qual é
caracterizado na seguinte forma:
[...] os conteúdos de ensino são tratados simultaneamente, constituindo-se referências que vão se ampliando no pensamento do aluno de forma espiralada, desde o momento da constatação de um ou vários dados da realidade, até interpretá-los, compreendê-los e explicá-los. [...] o aluno se encontra no momento da “experiência sensível”, onde prevalecem as referências sensoriais na sua relação com o conhecimento. O aluno dá um salto qualitativo quando começa a categorizar os objetos, classificá-los e associá-los.
Portanto, a partir da citação acima podemos visualizar a expectativa que a
Educação Física Escolar poderá gerar com a inclusão do estudo da cultura corporal.
Com isso, devem-se estimular estudos e reflexões a respeito desse trato do
conhecimento. Entre eles se destaca uma proposta pedagógica que tenham no seu
contexto os princípios em ciclos da abordagem crítico-superadora. E entre as
principais características, promover o desenvolvimento e personalidade do aluno, ter
um caráter educativo, orientador e facilitador. Que por sua vez conforme
mencionado por alguns teóricos da Educação Física Brasileira está perdendo
espaço para o “esporte de alto rendimento”.
Então, podemos vislumbrar que na escola que o professor aplique, nas aulas
de Educação Física, uma proposta em ciclos com os princípios e fundamentos do
karatê e uma metodologia que articule os princípios da abordagem crítico-
superadora, poderá possibilitar aos alunos, compreender que em determinada fase
da humanidade a disciplina Educação Física Escolar é entendida como trato do jogo,
da luta, da ginástica, do esporte e da dança, ou seja, nesta concepção tratamos do
55
conhecimento da cultura corporal e em paralelo poderemos tratar os problemas
sociais e políticos que são vivenciados pelos educandos na sociedade.
Assim, o professor pode adotar para os alunos do 6º ao 9º ano da educação
básica no ensino do Karatê-Do, a aplicação das abordagens críticas, uma vez que
os alunos já possuem maturação necessária que podem contribuir para o melhor
entendimento e questionamentos. Então fica bem claro que cabe ao professor
preparar os alunos para intervir na direção dos interesses da sociedade e formar o
cidadão crítico e consciente da realidade social e tais informações poderão ser
ensinadas dentro das características do próprio aluno.
No próximo capítulo apresentam-se as considerações finais, que envolvem as
reflexões e entendimentos sobre este estudo.
56
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscando na literatura os subsídios para a construção desta monografia,
percebi que as lutas são sugeridas na disciplina Educação Física Escolar, no
entanto, raramente chegam a ser incluídas no planejamento escolar do professor; os
motivos são diversos, indo desde o preconceito ocasionado por estereótipos até falta
de conhecimento sobre a elaboração de uma aula de luta no contexto escolar.
Preocupado com tal fato, objetivei demonstrar com este trabalho, através de
pesquisa bibliográfica exploratória, como o conteúdo (lutas) Karatê, pode contribuir
para que os professores de Educação Física Escolar possam desenvolver nos
educandos do 6º ao 9º ano, métodos voltados para o desenvolvimento intelectual,
formando um ser humano crítico e emancipado.
Baseando-se nos depoimentos e relatos expostos dos autores, ao longo dos
capítulos desta monografia, reconheço que há muito, ainda, a ser pesquisado
referente ao tema investigado. Contudo, considero que essa produção é o primeiro
passo de um ciclo de estudos e pesquisas que pretendo desenvolver ao longo da
minha formação continuada, pois esse estudo requer um aprofundamento devido à
responsabilidade social do tema.
Portanto, este estudo partiu da necessidade de investigar o Karatê e em
especial como ele é aplicado na escola e de que forma vem sendo abordado na
produção do conhecimento. Mediante a essa questão levantamos o seguinte
problema de investigação: Qual a realidade e as possibilidades de uma proposta
pedagógica do ensino do Karatê para o 6º ao 9º ano da Educação Física Escolar na
educação básica, considerando as abordagens críticas em vista dos estudos
produzidos no Brasil.
Como hipótese, levantada na introdução dessa pesquisa, constatamos que a
realidade e as possibilidades de relações entre o campo da Educação Física Escolar
e do Karatê, considerando uma proposta pedagógica do ensino do Karatê para o 6º
ao 9º ano da Educação Física Escolar na educação básica a partir das abordagens
críticas, requerem um estudo mais detalhado e uma proposta pedagógica que,
voltada para as lutas, aborde as necessidades de transformações da prática
educativa do Karatê, de forma que possa ser adequado aos processos pedagógicos
de ensino-aprendizagem no âmbito escolar.
57
Assim, após uma análise crítica do Karatê praticado pela sociedade, tendo
como o modelo de aprendizagem que se pauta em esporte educacional, em especial
o meio social que ele está inserido em todo o país, reconhecemos através dos
dados coletados nos estudos que há possibilidade desse conteúdo no âmbito
escolar ser tratado a partir de abordagens críticas, possibilitando aos educandos
condições para uma problematização, tematização dos elementos, que são fatores
necessários para a formação de indivíduos críticos, autônomos e reflexivo,
fundamentado no desenvolvimento da competência social, objetiva e
comunicativa. De acordo com os elementos investigados e mencionados no decorrer
dos capítulos, referente à origem do Karatê e da Educação Física no Brasil,
percebemos que eles exercem diversas influências advindas do mundo capitalista;
há formas de disputas e de organizações dos grandes eventos esportivos em
especial os primeiros jogos olímpicos, e o esporte praticado pelos militares, onde o
vigor físico era de fundamental importância, entre outros. Sendo assim, todos esses
acontecimentos vêm refletindo no universo da escola e o professor precisa lidar com
essas questões.
Entretanto, os dados abordados nesse estudo consideram que a realidade e
as possibilidades de uma proposta pedagógica do ensino do Karatê para o 6º ao 9º
ano se apresenta na escola e está diretamente associada aos meios de
comunicação, aos conteúdos que a escola elege para serem tratados nas aulas de
Educação Física.
Ao observar a história do karatê podemos perceber que o mesmo passou por
diversas transformações, sempre de acordo com as necessidades da sociedade; em
épocas turbulentas de guerras, ele servia como recurso de combate, quando
momentos mais calmos e tranquilos surgiram, modificações e estas foram feitas para
que fosse praticado a serviço da comunidade, para o bem estar próprio e daqueles
ao seu redor. Quando a ilha de Okinawa foi anexada ao Japão, o karatê mudou, no
nome e na forma, de uma arte okinawana para uma japonesa.
O Karatê-Do (Caminho das mãos vazias) é uma prática social de
desenvolvimento pessoal, através de práticas de luta. Para os japoneses que
desenvolveram o Karatê-Do é uma busca pela formação do caráter, pela formação
de um homem ético.
Considerando os bons históricos, o Karatê-Do foi muito influenciado pelo
espírito samurai, um fenômeno típico japonês, que tinha como principal objetivo
58
formar um indivíduo útil para a sociedade, ou seja, homem de serviço, capaz de
tomar conta da colheita dos fazendeiros de arroz e garantir o seu arroz e a sua
subsistência. Portanto, integrar essas duas importantes formas de vivenciar o
Karatê, foi o ponto de partida para a construção dessa proposta de ensino-
aprendizagem que abarca um conceito ampliado que visa formar os educandos do
6º ao 9º ano, nas esferas corporais, mentais, vitais, sociais, saúde, ambientais e
espirituais.
Porém, a grande questão em discussão desse estudo, assim como de tantos
outros é a forma como o Karatê vem sendo colocado e reconhecido nas aulas de
Educação Física Escolar, que na maioria das vezes é o reflexo fiel do esporte de alto
rendimento que traz consequências sérias para formação humana, provocando
evasão de alguns alunos que não têm habilidades com as modalidades esportivas,
exclusão e seleção dos mais habilidosos, acarretando rivalidades entre os alunos,
influências essas que não condizem com a prática pedagógica do esporte da escola.
O professor de Educação Física ao tratar o Karatê como sendo um dos
conteúdos das aulas de Educação Física, tem como principal desafio
descaracterizar a visão estabelecida pela classe dominante, a qual imprime a
necessidade de competir, ter o melhor rendimento, ganhar a qualquer custo, entre
outros.
Neste sentido, sinalizo que a instituição escolar, a qual tem como função
principal educar para vida, não reproduzir na formação de crianças e jovens os
elementos que são atribuídos pela mídia, ou seja, à escola deve exercer a função de
mediar e mostrar o que se passa pela sociedade e discutir com base nas condições
reais e sócio-econômicas dos estudantes que frequentam a escola, seja está
particular ou pública.
A presença do Karatê-Do no espaço educativo, aplicado a partir de
abordagens críticas, oferece amplas possibilidades de contribuição para a
desconstrução dos estigmas produzidos pela sociedade que concebe e rotula as
artes marciais como violentas e anti-sociais.
Entretanto, considero que por outro lado, é importante que o contexto
educacional trabalhe na perspectiva da inclusão, no sentido de buscar alternativas
metodológicas que propiciem a presença dos sujeitos com suas diferenças e
limitações. O karatê quando tratado pedagogicamente no campo da educação, em
especial no ensino fundamental do 6º ao 9º ano nas aulas de Educação Física
59
Escolar, deve ser apresentado como uma prática social a ser praticada na escola,
visando à construção de conhecimentos milenares e problematizações de valores
sociais que demarcam as relações humanas.
Contudo, considero ainda que essa proposta, não teve como propósito definir
um guia relativo ao desenvolvimento do conteúdo lutas (Karatê) ou formular
diretrizes quanto à conduta do professor de Educação Física Escolar. Procuramos
antes de tudo, debater a respeito do papel do Professor de Educação Física ao
ensinar o Karatê, considerando a realidade e as possibilidades de trabalhar nas
aulas o conteúdo lutas na escola, os quais têm indicações de ensino-aprendizagem
a partir dos PCN. Assim, espero que o esforço de levantamento e sistematização
dos dados e informações que compõem essa monografia, possam servir de
estímulo, para novas pesquisas e aos futuros estudos científicos comprometidos
com o conhecimento das lutas; também esperamos oferecer com este trabalho um
suporte bibliográfico com elementos epistemológicos acerca deste assunto.
Propomos, portanto, uma contribuição na formação dos educandos e
professores de Karatê, ainda sem formação acadêmica para que possam ao se
apropriarem desse estudo, terem subsídios pedagógicos sistematizados, e assim,
possam perceber a necessidade de avançar em estudos de graduação superior para
o desenvolvimento de um ensino de significativa qualidade, solidificando o Karatê
como conteúdo possível e necessário para as aulas de Educação Física Escolar.
Expomos a seguir para finalizar essa monografia a relação do referencial
bibliográfico que dialogamos no decorrer dessa produção científica.
.
60
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: O que é, como se faz. 24ª ed. São Paulo: Loyola, 2010.102 p. BARTOLO, PAULO ROBERTO. Karatê-Do: Uma Visão Multidisciplinar, Santos-Sp: Realejo Edições, 2010. 198 p. BARTOLO, FILHO, PAULO ROBERTO. Karatê-Do: O Caminho da Mão Vazia, Sideral Gráfica e Editora, 1994. 127 p. BRASIL. Constituição Federal de 1988. Brasiliense, 1988. 180 p. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília, MEC/SEF, 1998. 114 p. BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ampliação do ensino fundamental para nove anos: Brasília: Ministério da Educação, 2006. 16 p. BUSSO, G. L.; VENDITTI JÚNIOR, R. Sistematização epistemológica da Educação Física brasileira: concepções pedagógicas crítico-superadora e crítico-emancipatória. Revista Digital EF DEPORTES, Buenos Aires, a. 10, n. 83, abr. 2005. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd83/efb.htm>. Acesso em: 18 de mar de 2012. CARTAXO, Carlos Alberto. Jogos de Combate: Atividades recreativas e psicomotoras. Teoria e prática. Petrópolis-Rj: Vozes, 2011. 279 p. CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. Campinas: Papirus, 1988. 225 p. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física, São Paulo: Cortez, 1992. 119 p. DANIEL, Dorival. Manual de Nomenclatura de Kata - FKIBA. Salvador: 2011, p.11 DESLANDES, Suely F. O projeto de pesquisa como exercício científico e artesanato intelectual. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.) Pesquisa social. 26 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2007. 31-60 p. FUNAKOSHI, Gichin. Karatê-Do Meu Modo de Vida. 7ª ed. São Paulo. Cultrix. 2010. 132 p. GRESPAN, M. R. Educação Física no Ensino Fundamental: 1º ciclo. São Paulo: Papirus, 2002. 153 p. GUIRALDELLI JR., P. Educação Física Progressista. São Paulo: Loyola, 1998. 29-33 p.
61
JACOMELI, Mara R. M. PCNs e Temas Transversais: análise histórica das políticas educacionais brasileiras. Campinas, São Paulo: Alínea, 2007. 212 p. KUNZ, Elenor. Transformação Didática Pedagógica do Esporte. Injui: Unijuí, 2003. 136 p. ______. Transformação Didático-Pedagógica do Esporte. Injuí: Unijuí, 1994. 160 p. ________. Educação Física: Ensino e Mudanças. 3ª ed. Injuí: Unijuí, 2004. 207 p. LEONTIEV, Aléxis. O Homem e a Cultura. In: ADAM, Y. ARGEL, G et. ali. Desporto e desenvolvimento humano. Lisboa, Ed Socialis, Seara Nova, 1977. 47-74 p. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 29 ed. São Paulo: Cortez, 1994, 99 p. LOMBARDI, José Claudine (Org.). Pesquisa em Educação. História, Filosofia e temas transversais. Campinas: Autores Associados/Unc, 2000, 104 p. Disponível em: < http://books.google.com.br/books> Acesso em 20 Ago. 2011. LOURENÇO FILHO, Manuel Bergström. A Pedagogia de Rui Barbosa. 4 ed. Brasília: INEP, 2001, 164 p. LUBISCO, Nídia Maria Lienert. Manual de Estilo Acadêmico; Monografias, Dissertações e Teses. 4. ed. rev. e ampl. Salvador: EDUFBA, 2008. 145 p. MARINHO, Sergio. Karatê-Do: Uma Abordagem Zen. Salvador: Egba: 1980, 84 p. NAKAYAMA, M. O melhor do Karatê: Visão Abrangentes-Práticas: São Paulo, SP: Cultrix, 1977. 144 p. OLIVEIRA, Vitor Marinho de, 1943 - O que é Educação Física / Vitor Marinho de Oliveira. - São Paulo: Brasiliense, 2004. - (Coleção Primeiros passos; 79) OLIVEIRA, R. História do Karatê na Bahia. 2ª ed. Itapetinga, BA: Fundação Biblioteca Nacional sob n.º187.753 livro 320 fls. 480. 2002, 69 p. RANGEL, Ivo. Estudos de Karatê. 4ª ed. Salvador: Ivo Rangel, 1996, 141 p. ______. Estudos de Karatê. 5ª ed. Salvador: Ivo Rangel, 2011, 141 p. RESENDE, H. G. DE & SOARES, A. J. G. Conhecimento e especificidade da Educação Física Escolar, na perspectiva da cultura corporal. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo: supl. 02. p. 49-59. 1996. SASAKI, Y. Karatê-Do: O Caminho Educativo. São Paulo: CEPE/USP, 1995, 63 p. ______. Clínica de Esportes: Karatê. 2ª ed. São Paulo: CEPE/USP, 1989, 40 p. ______. Karatê-Dô. São Paulo: CEPE/USP, 1995.
62
SAVIANI, D. Da nova LDB ao novo plano nacional de educação. Por uma outra política educacional. 5ª ed. Campinas: Autores Associados, 2004, 60 p. Disponível em: < http://books.google.com.br/books> Acesso em 20 Ago. 2011. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. 23. ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007. 304 p. SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física: Raízes Européias e Brasil. Campinas: Autores Associados, 1994, 167 p. STEVENS, John. Três Mestres do Budô: Kano, Funakoshi, Ueshiba. São Paulo: Editora Cultrix, 2000. 45 p. Disponível em < books.google.com.br> Acesso em 20 Ago. 2011 VAGO, Tarcísio Mauro (1996). “O ‘Esporte na Escola’ e o ‘Esporte da Escola’: da Negação Radical para uma Relação de Tensão Permanente – um Diálogo com Valter Bracht”. Movimento, porto Alegre, ano III, n.5, 4-17 p. Disponível em <http//www.ser.ufgs.br/index.php> Acesso em: 10 Out. 2011. VIANNA, J. Valores tradicionais do karatê: uma aproximação histórica e interpretativa. Coletânea do IV Encontro Nacional de História do Esporte, Lazer e Educação Física. Belo Horizonte: UFMG/EEF [S.I.], 1996. 552 p. Disponível em <http://www.efdeportes.com/efd154/Karatê-do-uma-historia-de-vida.htm> Acesso em: 7 Abr 2012. XIMENES, Sérgio. Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. São Paulo: Ediouro, 2000. 980 p.
63
ANEXO A – Exposição de Artigos da Constituição Federal que Ressaltam os Direitos dos Cidadãos Brasileiros à Educação e Saúde
“DOS DIREITOS SOCIAIS
Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção, à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados na forma desta Constituição.” ( p.21)
“DA SAÚDE
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.” ( p.129)
“DA EDUCAÇÃO
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho. ( p.133)
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber.
VII – Garantia de padrão de qualidade.” ( p.133)
“DA CULTURA
Art. 215 – O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e
acesso as fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a
difusão das manifestações culturais.
§1º. O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e
afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional.” ( p.136)
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência a
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
64
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações artísticas e tecnológicas;” ( p.136)
“DO DESPORTO
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-
formais, como direito de cada um, [...]
I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes ou associações, quanto a
sua organização e funcionamento; ( p.137)