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1 Monografia Em Gestão Ambiental Produção mais Limpa em Indústria de Conserva de Pescado Cristiane Câmara Julho de 2009

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Monografia

Em

Gestão Ambiental

Produção mais Limpa em Indústria de Conserva de

Pescado

Cristiane Câmara

Julho de 2009

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Índice

Capa.........................................................................................................................1

Introdução...............................................................................................................2

Capítulo 1

Produção mais limpa (P+L) – progresso ambiental e financeiro na visão

coorporativa moderna................................................................................3

P+L como ferramenta ambiental................................................................5

Barreiras....................................................................................................11

Capítulo 2

Conhecendo a atividade industrial onde foi aplicada a ferramenta de gestão

Ambiental P+L........................................................................................13

Como é gerada a borra (rejeito a ser aproveitado)..................................20

Capítulo 3

Transformando rejeito em matéria-prima...............................................22

Cuidados necessários ao implantar o P+L.............................................24

Conclusão..............................................................................................................30

Referência bibliográfica......................................................................................32

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Universidade Cândido Mendes

Instituto Vez do Mestre

MO*OGRAFIA – JULHO DE 2009

Aluna: Cristiane Câmara (K210589)

Curso: Gestão Ambiental – K137 Base: 2009

Tema do trabalho: Produção + Limpa: pouco investimento e retorno imediato.

Título: Co-processamento da borra flotada na Estação de Tratamento de Efluentes (ETDI).

Introdução

Este estudo consiste em testar uma alternativa que viabilize o uso da borra flotada na

ETDI de uma indústria de processamento de pescado como matéria-prima para a produção de farinha de peixe,

que é amplamente usada como componente para fabricação de ração animal, gerando portanto receita ao invés

de ser um custo fixo. Como apoio técnico utilizei o RISPOA/MA (Regulamento de Inspeção de Produtos de

Origem Animal do Ministério da Agricultura) e o APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle)

implantado na indústria.

Tem como objetivo mostrar caminhos alternativos para que os dirigentes percebam

que podem através de pequenas mudanças gerar menos impacto ambiental, bastando apenas usar as ferramentas

de gestão ambiental disponíveis no mercado, como a P + L que foi a ferramenta utilizada nesse estudo, além de

fazer com que os dirigentes da empresa conheçam essa ferramenta de gestão (P + L) e percebam que há muitas

oportunidades de otimização do processo além da que foi abordada nesse estudo, bastando incentivar a mudança

de cultura de seus colaboradores, pois não se trata apenas de gerar menos impacto ambiental mas também de

atuar no sentido de diminuir perdas de processo, ou seja, as modernas ferramentas ambientais disponíveis

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beneficiam não só o ambiente mas também a empresa, pois estimulam fortemente a redução de perdas na fonte

geradora, trazendo portanto benefícios diretos no custo de produção e conseqüentemente na saúde financeira da

empresa.

Foi sugerido que essa borra seja aproveitada juntamente com os demais resíduos

orgânicos (sobras de pescado e vísceras), pois ambos tem a mesma procedência (pescado), sendo que a borra é

um concentrado de proteínas e gorduras, e essa diferença de concentração, apresentação e consistência é que

serão trabalhadas no intuito de achar o ponto certo da mistura, de modo a não prejudicar a eficiência dos

equipamentos usados no processamento e não alterar nenhuma característica química do produto final.

Para que o objetivo desse trabalho seja alcançado é importante que sejam envolvidos

nesse momento facilitadores das áreas de controle de qualidade (auxiliando na determinação do melhor ponto

da mistura e analisando o produto final feito com as misturas a fim de detectar algum desvio padrão) e

manutenção (providenciando as modificações / ajustes necessários no processo para viabilizar o processamento

das misturas).

Tendo como objetivo misturar o resíduo de pescado com a borra flotada e sabendo

que há limitações no processo devido a entupimento das telas caso a borra possua muita gordura ou umidade,

iniciei os testes em laboratório com simulações de porções a serem misturadas, até que 3 misturas foram

selecionadas por apresentarem características próximas às aceitas pelo equipamento. Aprovadas as misturas no

laboratório partimos para os testes na fábrica de farinha e após ajustar o processo uma das misturas foi aprovada

pelo setor de controle de qualidade.

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Capítulo 1 Produção mais Limpa (P+L) – Progresso Ambiental e Financeiro na visão coorporativa moderna. Introdução: Vivemos em uma sociedade que produz bens de consumo e serviços dentro de uma

economia de mercado regida por um sistema capitalista, cujas origens remontam a Idade Média. Esse sistema

desenvolveu-se no renascimento, expandiu-se com a Revolução Industrial e tornou-se um sistema econômico

mundial. Atualmente, com o advento da globalização e com a criação da rede mundial de comunicação – a

world wide web -, as estruturas de produção e consumo passam por mudanças importantes, colocando-nos em

um ambiente que se altera rapidamente, nas dimensões social, econômica e ambiental, exigindo novas formas

de perceber, equacionar e resolver problemas.

O modelo de produção utilizado no século XX baseou-se em algumas premissas e

percepções; uma das mais importantes residia na crença que o planeta Terra teria capacidade ilimitada. Partiu-se

do pressuposto que o planeta seria fonte inesgotável de matéria-prima e que poderia receber e assimilar resíduos

indefinidamente. Também se considerou que a geração de poluentes seria inevitável, não sendo possível

produzir bens e serviços sem o lançamento de resíduos, efluentes e emissões atmosféricas. Além disso,

imaginou-se que a tecnologia poderia resolver todos os problemas que eventualmente surgissem com a

aplicação desse modelo.

Anteriormente aos anos 1970 não havia qualquer tipo de controle ambiental, e os

poluentes gerados pelas empresas eram descartados no ambiente sem maiores preocupações. Os primeiros

órgãos de controle a poluição foram estruturados no início dessa década, as legislações ambientais foram

organizadas e foram iniciados as atividades de monitoramento da qualidade ambiental, o licenciamento e a

fiscalização das indústrias. A preocupação com a preservação do meio ambiente levou ao desenvolvimento e à

implantação de unidades de tratamento de poluentes – emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos

sólidos – com o objetivo de reduzi-los ao final do processo industrial e antes de seu descarte no ambiente. Tais

unidades são hoje conhecidas como sistemas de fim-de-tubo, pois tratam os poluentes que saem pelas

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tubulações de esgotos e chaminés. Podemos dizer que fazem parte do paradigma tradicional de controle da

poluição, que busca proteger o meio ambiente pela redução do aporte de dejetos obtida nesses sistemas.

Esse modelo de desenvolvimento foi conhecido como um sistema aberto, que em uma extremidade entram

insumos como matéria-prima, água e energia, e da outra extremidade saem produtos, bens, serviços e rejeitos.

Os produtos são levados ao mercado consumidor e os rejeitos tratados em sistema de fim-

de-tubo e, em seguida, dispostos no meio ambiente. Um sistema aberto como esse só pode funcionar

indefinidamente se não houver limitações nas entradas e saídas e/ou se a produção for estacionária.

O impacto desse modelo na natureza tem sido extraordinário. Sabemos que, atualmente, cerca de metade dos

rios do mundo estão seriamente degradados ou contaminados. Em meados da década de 19990, 80 países

correspondendo a 40% da população mundial, já sofriam graves restrições no abastecimento de água.

Atualmente, mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso a água potável segura e 2,4

bilhões não têm saneamento básico adequado. Estima-se cerca de 4 bilhões de casos de diarréia ao ano

decorrente de doenças transmitidas por água contaminada, que ocasionam 2,2 milhões de mortes ao ano,

principalmente de crianças malnutridas; esse número de óbitos corresponde ao de um acidente por dia com vinte

aviões jumbo.

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P+L como ferramenta ambiental

Produção mais limpa, também grafada como produção + limpa ou P + L, é um

conceito desenvolvido pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) que descreve um

enfoque preventivo a gestão ambiental, o qual reflete uma mentalidade de produzir com mínimo impacto,

dentro dos atuais limites tecnológicos e econômicos, não se contrapondo ao crescimento e considerando que

resíduos são produtos com valor econômico negativo. Produção mais limpa requer mudanças de atitude, gestão

ambiental responsável e promoção da inovação tecnológica. O conceito é:

Aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada aos processos,

produtos e serviços para aumentar a ecoeficiência e evitar ou reduzir os danos ao homem e ao ambiente. Aplica-

se a:

• Processos produtivos; conservação de matérias-primas e energia, eliminação de matérias tóxicas e

redução da quantidade e toxicidade dos resíduos e emissões;

• Produtos; redução dos impactos negativos ao longo do ciclo de vida de um produto. Desde a extração

das matérias-primas até sua disposição final;

• Serviços: incorporação de preocupações ambientais no planejamento e na entrega dos serviços.

A Declaração Internacional de Produção Mais Limpa, lançada na 5a conferência de Alto

Nível do Pnuma, em 1998, em Seul, Correia do Sul, tem o seguinte enunciado:

�ós reconhecemos que atingir o desenvolvimento sustentável é uma responsabilidade coletiva. Ação para

proteger o ambiente global inclui a produção sustentável aprimorada e práticas de consumo. �ós acreditamos

que a produção mais limpa e outras estratégias preventivas, como ecoeficiência, produtividade verde e

prevenção a poluição, são opções preferidas. Elas requerem o desenvolvimento, apoio e implementação de

medidas apropriadas. �ós entendemos que produção mais limpa é a aplicação contínua de uma estratégia

preventiva integrada a processos, produtos e serviços, na busca de benefícios econômicos, sociais, de saúde e

segurança e ambientais.

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Alguns benefícios da P+L são listados a seguir:

Benefícios para a organização;

• Solução com visão integrada, proativa, dinâmica que economiza recursos;

• Motivação e envolvimento de todo o corpo funcional em busca de um objetivo em comum;

• Melhoria no desempenho ambiental;

• Redução da quantidade e/ou periculosidade de matérias-primas; redução do consumo de matéria-prima,

energia e água;

• Redução da geração e/ou periculosidade dos resíduos, com conseqüente redução dos gastos com

tratamento, transporte, disposição e remediação destes resíduos;

• Melhoria no ambiente de trabalho por redução do uso de substâncias tóxicas;

• Limitação da responsabilidade futura devido a lançamento de resíduos para o meio ambiente;

• Aumento na eficiência e na competitividade, além de propiciar argumentos para facilitar as exportações;

• Redução e até mesmo eliminação dos conflitos de conformidade legal com órgãos de controle

ambiental;

• Melhoria da imagem da empresa e das relações com o consumidor, com a comunidade e com

trabalhadores;

• Possibilidade de integração com o sistema de gestão ambiental (SGA) da empresa podendo ser, com

vantagens, uma etapa anterior à organização e a certificação de SGA; e

• Modo de evitar que os poluentes sejam transferidos de um meio para o outro (das emissões gasosas para

efluentes líquidos, para resíduos sólidos e vice versa).

Benefícios para a comunidade

• Antecipação e prevenção dos problemas ambientais, em vez de correção e remediação de locais

contaminados;

• Redução nos acidentes ambientais;

• Redução e/ou eliminação de poluentes atmosféricos, líquidos, sólidos, de energia e de seus respectivos

impactos;

• Melhor conservação dos recursos naturais;

• Melhoria da conscientização ambiental;

• Redução de potencias problemas de saúde advindos do lançamento de resíduos no meio ambiente;

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• Redução do conteúdo de tóxicos nos produtos em circulação no meio ambiente;

• Redução de possíveis incômodos e divergências com a organização, devido à emissão de poluentes no

meio ambiente; e

• Melhoria das condições ambientais tanto no presente como para as futuras gerações, devido à

minimização dos impactos causados pelos resíduos gerados e ao uso racional dos insumos.

Benefícios para os responsáveis pelo controle ambiental

• Aumento na eficiência das ações de controle por meio da concentração de tempo e esforços em outras

áreas;

• Promoção da melhoria da imagem pública da organização;

• Promoção da melhoria das relações com a comunidade e com as empresas;

• Aumento na confiabilidade das ações de controle ambiental; e

• Possibilidade de trabalhar não apenas punindo, mas também reconhecendo iniciativas voluntárias bem-

sucedidas, que servem de exemplo para outras empresas e de estímulo aos concorrentes.

Assim sendo, a produção + limpa é uma estratégia em que todos ganham com

harmonização dos interesses de preservação ambiental, desenvolvimento econômico e melhoria do ambiente de

trabalho.

Na verdade, o planeta é um sistema fechado, limitado e esgotável, que não pode sustentar

indefinidamente o crescimento da sociedade humana consumindo bens e serviços produzidos em sistema aberto.

O ser humano já se apropria de quantidade significativa da água que circula no planeta e a mudança do clima

nada mais é do que desbalanceamento do ciclo biogeoquímico do carbono e a demonstração que a espécie

humana pode interferir nos mecanismos de funcionamento da Terra.

Considerando que a população mundial cresce e os padrões de consumo são alterados, é

cada vez maior a necessidade de produção para atender às necessidades da humanidade. Isso significa extrair

grandes quantidades de recursos naturais e despejar igualmente grandes volumes de dejetos. Dentro desse

quadro, para que a qualidade do meio ambiente seja preservada, os padrões de emissão serão cada vez mais

restritivos. Ou seja, para manter a qualidade ambiental, quando o volume de poluentes aumenta e a capacidade

de assimilação diminui, é inevitável restringir os limites de emissão de poluentes das empresas. Caso a única

estratégia de controle ambiental seja a adoção dos sistemas de fim-de-tubo, estes deverão ser cada vez mais

eficientes. Uma vez que o custo de tais sistemas aumenta significativamente para eficiências de remoção acima

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de 90%, conclui-se que o custo de controle ambiental de fim-de-tubo, para garantir a qualidade e a diversidade

dos nossos ecossistemas, se tornará proibitivo.

Enquanto a produção do bem-estar da sociedade moderna tem imposto um elevado

preço à natureza, a divisão dos bens e serviços tem sido desigual, com inaceitável concentração da renda e do

consumo, e existência de vastas populações de excluídos. Cerca de 1,3 bilhão de pessoas no mundo vivem com

menos de 1 dólar por dia; no Brasil, em 2001, estatística do IBGE mostrava que 1% da população mais rica

concentrava quase o equivalente da renda acumulada pelos 50% mais pobres.

A inovação tecnológica e a criação de novos objetos de consumo no século XX foram impressionantes: o avião

(1903), a máquina de lavar (1906), a televisão ( 1926), os primeiros robôs (1928), o transistor (1947), o satélite

artificial (1957), o raio laser (1960), o computador pessoal, o fax, o telefone celular a internet (1993), as fibras

óticas, o ultra-som, a tomografia computadorizada, entre outros. No entanto o acesso à tecnologia é restrito, pois

1 bilhão de pessoas no mundo não tem acesso a moradia, 2 bilhões não dispõem de energia comercial e metade

da população mundial jamais usou um telefone. Tecnologias simples como lâmpadas elétricas, torneiras e

privadas com descarga hidráulica são artigos de luxo para grande parte da população mundial.

Como produzir bens e serviços sem esgotar recursos naturais importantes e sem despejar

poluentes em quantidades superiores à capacidade natural de reciclagem do planeta, ou seja, sem impor à

natureza um preço exorbitante e insuportável?

A produção mais limpa, bem como outros conceitos que usam o enfoque preventivo,

podem responder a essa pergunta. Dessa forma, a produção mais limpa contribui para um modelo de

desenvolvimento menos predatório e que harmoniza aspectos ambientais com interesses econômicos. Sua

aplicação será, sem dúvida, inestimável na preservação do meio ambiente e na redução de poluentes e impactos,

o que poderá nos acrescentar mais algum tempo para atingirmos o que realmente importa – o desenvolvimento

sustentável e uma sociedade com mais qualidade de visa, justiça social e dignidade.

Os debates em torno do aprimoramento da gestão ambiental no universo corporativo estão

na ordem do dia. A inserção da questão ambiental no campo da gestão empresarial, que, há duas ou três

décadas, poderia ser percebida como um mero modismo, ou uma tendência específica de setores e atividades

com grande potencial poluidor ou intensivos na utilização de recursos ambientais, hoje ocorre de forma

irreversível, inequívoca e generalizada. Considerando que o planeta é um sistema fechado, limitado e esgotável,

que não pode sustentar indefinidamente o crescimento da sociedade humana consumindo bens e serviços

produzidos em sistemas abertos, temos que buscar soluções que nos permitam usar os recursos naturais de

forma mais racional e o mundo corporativo precisa se ajustar, e neste trabalho pude observar que muitas das

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vezes basta um olhar um pouco mais focado e criativo para reduzir o impacto de sua atividade. Foquei este

estudo na ferramenta P+L que usa um enfoque preventivo, ou seja contribui para um modelo de

desenvolvimento menos predatório e que harmoniza aspectos ambientais com interessas econômicos. Sua

aplicação será, sem dúvida, inestimável na preservação do meio ambiente e na redução de poluentes e impactos.

No enfoque preventivo, considera-se que a geração de poluentes não é conseqüência inevitável da produção de

bens e serviços, mas podem ser:

- matérias-primas não convertidas em produtos, por falta de eficiência na produção ou na conversão das

matérias-primas, ou produtos malprojetados;

- perdas de matéria-prima e/ou produtos, por especificações de produtos malfeitas; gerenciamento de

estoques inadequado;

- derramamentos e desperdícios ao longo do processo produtivo, por falta de gerenciamento adequado,

falta de treinamento de pessoal, manutenção preventiva ineficiente ou inadequada, layout inadequado;

- acidentes, por falta de planos de prevenção e atendimento a acidentes adequados;

- perdas de energia, por falta de eficiência no planejamento, projeto ou uso de energia.

Existem vários motivadores importantes para as empresas não gerarem resíduo.

Atualmente há maior responsabilização por passivos ambientais, e a indústria que produzir resíduos tóxicos

responderá pelas conseqüências do seu tratamento e disposição, mesmo que tais operações tenham sido

executadas por outras companhias. Uma vez que diversos tóxicos são persistentes, existe a possibilidade de

lixiviação dos mesmos, quando depositados no solo ou em aterros mal-operados, transporte para outros

compartimentos do meio ambiente e contaminação de seres humanos.

O consumidor está mais consciente e pressiona as empresas para a proteção do meio

ambiente; isso se intensificou após a realização da Conferência das Nações Unidas no Rio de Janeiro (Eco-92).

No Brasil, em pesquisa realizada em 2000 pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES), pela Conferência Nacional da Indústria (CNI) e pelo Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa

(Sebrae) com 1.158 indústrias de diversos portes, verificou-se que o principal motivador para investimentos na

área ambiental era o atendimento a legislação, mas que o segundo motivador era a melhoria da imagem da

empresa.

Outro motivador é a pressão imposta pelo mercado, representada pela necessidade de

manter e incrementar a competitividade industrial dentro de um cenário globalizado, bem como estar preparado

apara atender regulamentações voluntárias, como as instituídas pela série de Normas I.S.O 14000 e outras, e

enfrentar as chamadas barreiras não tarifárias à exportação.

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Dessa forma, às pressões para conformidade ambiental, que nas décadas de 1970 e

1980 eram principalmente representadas pela atuação do governo de exigir licenciamentos ambientais e

executar fiscalizações, hoje se somam as oriundas do mercado e da sociedade, que são mais poderosas, pois

podem implicar a sobrevivência da empresa.

Hoje se compreende que rejeitos não significam apenas desconformidade legal, mas

também responsabilidade continuada do gerador, redução de produtividade e da competitividade, prejuízos a

imagem, redução das margens de lucro e eventual perda de mercados. O ideal é, portanto, não gerá-los.

A prevenção e o controle ambiental devem ser exercidos de acordo com a seguinte ordem de preferência:

• a poluição deve ser prevenida na fonte;

• a poluição que não puder ser prevenida na fonte deve ter seus respectivos rejeitos reciclados de forma

ambientalmente segura e dar sempre preferência à reciclagem dentro do processo;

• a disposição ou outra forma de liberação de poluentes para o meio ambiente deve ser empregada

somente em último recurso e deve ser conduzida de forma ambientalmente segura.

O termo prevenção à poluição foi definido como redução na fonte, referindo-se, mas não se

restringindo, a práticas que:

• Reduzam a quantidade de quaisquer substâncias, perigosas ou não, dos poluentes ou dos contaminantes

que entram em qualquer fluxo de resíduos ou que são liberados no meio ambiente de outra maneira,

incluindo emissões fugidas;

• Reduzam os riscos à saúde humana e ao meio ambiente associados com a liberação de tais substâncias,

poluentes ou contaminantes; e

• Incluam modificações nos equipamentos ou modificações tecnológicas, nos processos ou

procedimentos, reformulação ou replanejamentos de produtos, substituição de matéria-prima e melhorias

nos gerenciamentos administrativos e técnicos da entidade/empresa, que maximizem a redução ou

eliminação de geração de resíduo e poluentes na fonte, em volume, concentração e/ou toxidade, por

meio do aumento de eficiência no uso da matéria-prima, energia, água e outros recursos naturais.

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Barreiras

Há também dificuldades para introdução dos conceitos de P+L, como as descritas a seguir:

Barreiras relacionadas aos governos

• Falta de comprometimento e apoio governamental;

• Ausência de legislação que estimule procedimentos de boas práticas ambientais de P+L;

• Falta de conhecimento da qualidade ambiental da região;

• Inexistência de estrutura de comando – controle ambiental;

• Redução do aparato governamental e aumento das demandas, resultando em estruturas insuficientes para

o atendimento às atividades rotineiras e, menos ainda, para o planejamento e desenvolvimento de novas

atividades; e

• Necessidade de capacitação do corpo funcional para o atendimento de novos desafios.

Barreiras relacionadas às empresas

• Falta de conhecimentos sobre os conceitos e carência de mecanismos na divulgação de informações

relativas a produtos tóxicos;

• Resistência a mudanças, despreparo na área de gestão da empresa;

• Carência de corpo técnico qualificado;

• Dificuldades para investir;

• Falta de mecanismos para incentivos econômicos; e

• Ausência de material no idioma local.

Barreiras relacionadas às instituições de ensino e pesquisa

• Não-consideração do tema ambiental na pauta de instituições de ciência, tecnologia e inovação, sendo

ainda secundário naquelas em que é abordado;

• Forte abordagem nos sistemas de fim-de-tubo nos cursos existentes e predominância do paradigma da

especialização em detrimento da multidisciplinaridade;

• Carência de recursos humanos capacitados e de profissionais especializados nas redes de informação

tecnológica;

• Falta de articulação com os setores produtivos, o que dificulta e/ou inviabiliza a inovação tecnológica;

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• Ausência do tema ambiental, em especial P+L, nos editais dos órgãos de fomento; e

• Falta de sensibilidade aos organismos de fomento para considerar as diferentes naturezas das instituições

e suas necessidades específicas para captação de recursos.

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Capítulo 2

Conhecendo a atividade industrial onde foi aplicada a ferramenta de Gestão Ambiental P+L

Introdução: Este trabalho foi realizado nas instalações de uma empresa de conservas de

pescado (sardinha e atum) e que possui também uma unidade de produção de farinha de peixe usada para

fabricação de ração. Localizada no município de São Gonçalo, a beira da Baía de Guanabara possui 400

funcionários distribuídos nas diversas etapas do processo.

Segue abaixo o memorial descritivo do processo de fabricação de sardinhas e atuns que nos serve

de orientação para identificarmos os pontos geradores de resíduos, tanto líquidos (que serão tratados na estação

de tratamento de efluentes), quanto sólidos (que serão usados como base da mistura relatada no capítulo 3)

Memorial Descritivo para fabricação de sardinhas em conserva

ESTE MEMORIAL SE REFERE AOS PRODUTOS ABAIXO:

• Sardinha em óleo comestível;

• Sardinha em molho de tomate;

• Sardinha Boca -torta em Óleo Comestível;

• Sardinha Boca-torta em molho de tomate.

O pescado chega à fábrica em caminhões frigoríficos. No momento da descarga é

classificado quanto à sua qualidade por amostragem, através de observação de suas características

organolépticas* , em seguida é estocado em câmaras frigoríficas a 0ºC.

O pescado a ser industrializado é primeiramente despejado nos monoblocos em tanque

separador de gelo construído em aço inox. Este tanque é provido de instalação hidráulica, permanecendo

sempre cheio de água, sendo o excesso retirado através de “ladrão” e dirigido para canaleta de águas

servidas. O pescado é retirado deste tanque por uma esteira transportadora, em aço inox, e dirigido para um

cilindro de lavagem.

*São consideradas características organolépticas do pescado o odor, sabor textura e observações visuais,

como cor das guelras, olhos e escamas.

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O pescado é eviscerado manualmente. A evisceração manual é realizada em mesa específica

para tal finalidade e provida de sistema contínuo de descarte de vísceras. O pescado eviscerado é recebido

em esteira transportadora em aço inox e é dirigido para um sistema de lavagem, para posteriormente ser

salgado. Na esteira transportadora há uma revisão de pescado mal eviscerado ou de espécies diferentes,

realizada por funcionária. O pescado eviscerado lavado é colhido em monoblocos. Os resíduos da

evisceração são coletados em calha apropriada em aço inox e dirigidas para a farinha de peixe através de

bombeamento.

O pescado eviscerado e lavado segue então para a salmouragem, realizada em tanques de

aço inox.

O pescado é enlatado em uma mesa construída em aço inox, com estrutura tubular e

sistema de transporte das latas em calhas. Estas calhas são acionadas mecanicamente através de corrente de

tal modo que ficam em movimento contínuo, em frente às funcionárias que enlatam. O monobloco com

peixe eviscerado e salmourado é colocado ao lado da funcionária em local específico para tal finalidade. O

monobloco com canecos é colocado acima das calhas transportadoras e em frente ‘as funcionárias, em

prateleiras específicas para tal fim. Após o enlatamento, realizado sobre uma pequena mesa localizada em

frente à funcionária, o peixe enlatado é encaixado nas calhas já referidas para ser retirado ao final da mesa

após a colocação das grelhas, sobre as calhas com as latas. As grelhas são retiradas da mesa,

continuamente, e são colocadas no forno contínuo de fabricação própria onde recebem tratamento por vapor.

A temperatura do forno é controlada pela observação dos termômetros e o

controle de tempo é feito pela regulagem da velocidade do forno. Terminada a operação de pré-cozimento,

as latas seguem, através de fita transportadora, paras as recravadeiras. Durante esse transporte são

submetidas a uma inspeção visual, a fim de que sejam retiradas as latas que apresentam defeitos de

enlatamento e outros, os recipientes metálicos (canecos) são previamente lavados por aspersão de água

quente em máquina própria.

O molho de cobertura (óleo de soja ou molho de tomate) é oriundo de tanque

provido de aquecimento indireto por serpentina de vapor. É aquecido neste tanque e dirigido por gravidade

para as máquinas recravadeiras através de tubulação específica. A operação de recravação é realizada em

mesa construída toda em aço inox. As máquinas recravadeiras encontram-se afastadas do solo 50 cm de tal

maneira que todo o excesso de molho é recolhido em tubulação plástica de pvc de 150mm de diâmetro que

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permite o escoamento do molho para o interior de uma caixa de aço inox, fechada e construída acima do

piso.

Desta caixa o molho é bombeado para o tanque encamisado onde circula vapor

para ser fervido e posteriormente centrifugado para reutilização. A caixa de aço inox que capta o molho é

provida de controle automático de nível. A mesa de recravação possui passarela onde funcionárias podem

circular para fazer revisão ou arrumação das latas.

As latas são transportadas por fita sanitária até as recravadeiras. Uma vez

adicionado o molho, as latas recebem os tampos e em seguida são recravadas. No tampo são marcados a

data de fabricação e o código da recravadeira.

Uma vez recravadas, as latas sofrem revisão na linha de produção. As que

apresentam defeitos visíveis de recravação são retiradas, as demais seguem, através de esteira transportadora,

para a máquina de pré-lavagem fim de remover o molho aderido ‘a lata, seguindo para os autoclaves, onde são

apertizadas.

Os autoclaves são do tipo fixo, descontínuo, sem agitação, vertical, com injeção

direta de vapor, gerado pelas caldeiras Ata 20 Ata 26. O comando do processo é automático através de

minicontroladores e registro em termógrafo e cada autoclave possui um termômetro.

Terminado o processamento térmico inicia-se a operação de resfriamento dentro dos

autoclaves, através de água clorada a nível de 5ppm. A operação termina quando as latas atingem a

temperatura de 40ºC.

Uma vez terminada a operação de esterilização, os autoclaves são abertos e as

latas seguem, por esteira rolante, para a máquina de lavagem. Logo após a lavagem passam por uma cortina

de ar para sua secagem. A seleção das latas é feita na esteira localizada após a máquina de lavar. As latas

defeituosas e os defeitos, quando de recravação, são identificados com relação a cada máquina. As demais

seguem para a embalagem em caixas de papelão.

O armazenamento é feito em local próprio, com as caixas de papelão empilhadas

sobre estrados de madeira, livre de umidade e à temperatura ambiente. A expedição da mercadoria é feita

após revisão e após cumprir um período de quarentena.

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Segue abaixo fluxograma do processo produtivo da sardinha, colorido conforme legenda:

SAÍDA DE EFLUENTE LÍQUIDO EM DIREÇÃO A ETE. ENTRADA DE VAPOR, GERADO PELAS DUAS CALDEIRAS (ATA 20 e 26). GERAÇÃO DE RESÍDIOS RECICLADOS (PAPELÃO OU SUCATA). GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS QUE SÃO DIRECIONADOS A FÁBRICA DE FARINHA DE PEIXE.

FLUXOGRAMA DE PROCESSO PARA A LINHA DE SARDINHA

Recepção da sardinha

Descongelamento VAPOR EFLUENTE

Evisceração

EFLUENTE SÓLIDO/FARINHA

Enlatamento EFLUENTE

SÓLIDO/FARINHA Cozimento

VAPOR EFLUENTE

Líquido de cobertura/recravação VAPOR EFLUENTE

CANECOS E TAMPOS DEFEITUOSOS

Esterilização VAPOR EFLUENTE

EMBALAGEM RESÍDUO/PAPELÃO

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Memorial Descritivo para fabricação de atum em conserva

ESTE MEMORIAL DESCRITIVO SE REFERE AOS PRODUTOS ABAIXO:

• Atum Sólido em Óleo Comestível;

• Atum Sólido ao Natural;

• Atum Ralado em Óleo Comestível.

O atum é recebido de caminhões isotérmicos ou frigoríficos, fresco ou congelado. No

momento da descarga é classificado quanto à sua qualidade por amostragem, através de análise sensorial, de

acordo com a tabela germânica para análise de pescado fresco. Após o recebimento é armazenado em câmaras

frigoríficas.

No caso do atum congelado, ao sair da câmara frigorífica é descongelado em tanques

de descongelamento.

A evisceração é feita manualmente utilizando facas e/ou fita-serra em mesas de aço

inoxidável; são feitas incisões para retirada de vísceras e cabeça que são utilizadas na fabricação de farinha de

peixe.

Após as operações acima, as postas de atum são arrumadas em grelhas de aço

inoxidável, estas grelhas em carrinhos do mesmo material e levados ao formo, sendo antes lavadas por aspersão.

Depois de cozido o pescado é deixado esfriar, nas mesmas grelhas, colocadas em estantes

tubulares de aço inoxidável. Após o resfriamento são levadas para mesa de aço inox com fita sanitária central

onde operárias farão a limpeza retirando a pele, espinha e sangacho que são encaminhados ao setor de farinha

de peixe. As partes nobres (claras) são colocadas em monoblocos e levadas para serem prensadas e enlatadas

mecanicamente. O lombo pode ser enlatado inteiro, classificado como produto sólido, ou pode ser triturado

(passando por uma máquina trituradora), sendo então classificado como produto ralado.

Após o enlatamento, recebem então a adição de sal através da dosagem de salmoura. Esta

salmoura é feita em tanque de aço inox dotado de hélice agitadora e serpentina com vapor. O excesso de

salmoura é recolhido em calhas de aço inox e tanque também do mesmo material, dotado de bomba que retorna

a salmoura ao tanque principal. Ao final do dia a sobra de salmoura é descartada e o equipamento higienizado.

O sal utilizado para a fabricação da salmoura é refinado, de uso cotidiano na alimentação humana.

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Após o enlatamento e adição de sal as latas seguem em esteira (fita sanitária) para a máquina de recravar, nessa

esteira o atum recebe seu molho de cobertura (salmoura no caso do produto ao natural ou óleo de soja).

Em seguida as latas são lavadas em máquina com água e vapor, seguindo então através

de esteiras para as autoclaves verticais.

Os autoclaves são do tipo descontínuo, sem agitação e com injeção direta de vapor

gerado pelas caldeiras ATA 26 ou ATA 20. O comando de apertização é automático através de

minicontroladores sendo o tempo e a temperatura do processo registrados em termógrafo.

Após a esterilização as latas seguem para a embalagem onde são revisadas e embaladas

em caixas de papelão específicas e permanece em quarentena para posterior comercialização.

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Segue abaixo fluxograma do processo produtivo do atum, colorido conforme legenda:

SAÍDA DE EFLUENTE LÍQUIDO EM DIREÇÃO A ETE. ENTRADA DE VAPOR, GERADO PELAS DUAS CALDEIRAS (ATA 20 e 26). GERAÇÃO DE RESÍDIOS RECICLADOS (PAPELÃO OU SUCATA). GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS QUE SÃO DIRECIONADOS A FÁBRICA DE FARINHA DE PEIXE.

FLUXOGRAMA DE PROCESSO PARA A LINHA DE ATUM

Recepção do atum

Descongelamento VAPOR EFLUENTE

Evisceração

EFLUENTE SÓLIDO/FARINHA

Cozimento VAPOR EFLUENTE

Fabricação de lombo

EFLUENTE SÓLIDO/FARINHA

Enlatamento EFLUENTE

SÓLIDO/FARINHA Líquido de cobertura/recravação

VAPOR EFLUENTE CANECOS E TAMPOS

DEFEITUOSOS Esterilização

VAPOR EFLUENTE

Embalagem RESÍDUO/PAPELÃO

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Como é gerada a borra (rejeito a ser aproveitado)

A empresa possui um sistema de tratamento de efluentes líquidos onde a

borra lotada, objeto principal desse estudo, é gerada, o tratamento é dividido nas etapas abaixo:

• Pré-tratamento;

• Tratamento primário;

• Tratamento secundário;

• Tratamento do material flotado.

Pré-tratamento: Esta etapa compreende o sistema de peneiramento grosseiro, existente dentro da elevatória

que conduz os efluentes até a peneira auto-limpante.

Também nesta etapa está contemplado o tri-decanter, que atua no setor de farinha de peixe, setor este que gera

água de cola, líquido altamente protéico e concentrado que é gerado no processo de prensa da torta. Este

equipamento divide a água de cola em três partes: parte líquida (clarificada – que é direcionada a ETE), a parte

sólida (que é reincorporada a torta prensada) e a parte oleosa (que é comercializada).

Tratamento primário: Este processo compreende o sistema de equalização dos efluentes e o sistema de flotação.

O processo de flotação ocorre em dois flotadores, que recebem produtos químicos (policloreto de alumínio e

polímero aniônico) separadamente, ou seja, cada flotador possui uma dosagem individual para cada produto.

Tratamento secundário:Este processo se refere ao reator anaeróbio de fluxo ascendente, que se encontra

carregado e 100% aclimatado. Neste processo é introduzido o efluente sanitário.

Tratamento do material flotado: Todo a borra flotada passa por um processo de centrifugação realizado pelo

decanter, neste processo é utilizado cal hidratada e um polímero catiônico para auxiliar o processo.

Vimos que apesar de estar a cada dia sendo menos prestigiada as soluções de

fim-de-tubo são necessárias porém não posso deixar de destacar a hierarquia do gerenciamento de resíduos

como orientador das estratégias de gestão ambiental, que devem ser empregadas com a seguinte ordem de

preferência:

Prioridade 1: Não gerar – investigar as alternativas de eliminar o poluente. Existem controvérsias quanto à

possibilidade de atingir a poluição zero. No entanto, para aqueles que ousarem ser criativos, como poderemos

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ver no estudo de caso que será tratado neste trabalho, há inúmeras possibilidades de eliminar resíduos, por meio

de ecodesign, reformulação de produtos, substituição de matérias-primas e inovação tecnológica, por exemplo.

Prioridade 2: Minimizar – quando não for possível eliminar o poluente, deve-se verificar as possibilidades de

minimizar sua geração.

Prioridade 3: Reciclar dentro do processo – uma vez que os resíduos, efluentes ou emissões já foram gerados,

verificar as possibilidades de reaproveitá-los dentro do processo em que foram gerados.

Prioridade 4: Reciclar fora do processo – uma vez esgotadas todas as possibilidades de reciclagem interna, os

resíduos devem ser encaminhados para reciclagem fora do processo.

Prioridade 5: Tratar e dispor – o tratamento e a disposição só devem ser praticados em último caso e de forma

ambientalmente adequada.

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Capítulo 3: Transformando rejeito em matéria-prima Introdução: Este capítulo tem por objetivo dar um destino mais nobre ao material gerado no

processo de flotação da estação de tratamento de efluentes, pois hoje este resíduo é desidratado por um decanter

e é disposto em aterro industrial, gerando custo com aluguel de caçamba (a caçamba precisa ser própria para

este fim), transporte (a empresa que faz esse transporte deve ser licenciada e habilitada para este trabalho) e

disposição final (este resíduo é disposto em aterro industrial), e como se trata de 100% material orgânico

oriundo de pescado propus estudarmos uma forma de incorpora-lo a torta prensada da fábrica de farinha de

peixe de modo que possa ter o mesmo destino dos demais resíduos de pescado – matéria-prima para fabricação

de ração animal, visto que a borra flotada também é um resíduo de pescado.

Os debates em torno do aprimoramento da gestão ambiental no universo corporativo

estão na ordem do dia. A inserção da questão ambiental no campo da gestão empresarial, que, há duas ou três

décadas, poderia ser percebida como um mero modismo, ou uma tendência específica de setores e atividades

com grande potencial poluidor ou intensivos na utilização de recursos ambientais, hoje ocorre de forma

irreversível, inequívoca e generalizada. Considerando que o planeta é um sistema fechado, limitado e esgotável,

que não pode sustentar indefinidamente o crescimento da sociedade humana consumindo bens e serviços

produzidos em sistemas abertos, temos que buscar soluções que nos permitam usar os recursos naturais de

forma mais racional e o mundo corporativo precisa se ajustar, e neste trabalho pude observar que muitas das

vezes basta um olhar um pouco mais focado e criativo para reduzir o impacto de sua atividade. Foquei este

estudo na ferramenta P+L que usa um enfoque preventivo, ou seja, contribui para um modelo de

desenvolvimento menos predatório e que harmoniza aspectos ambientais com interessas econômicos. Sua

aplicação será, sem dúvida, inestimável na preservação do meio ambiente e na redução de poluentes e impactos.

No enfoque preventivo, considera-se que a geração de poluentes não é conseqüência inevitável da produção de

bens e serviços, mas podem ser:

- matérias-primas não convertidas em produtos, por falta de eficiência na produção ou na conversão das

matérias-primas, ou produtos malprojetados;

- perdas de matéria-prima e/ou produtos, por especificações de produtos malfeitas; gerenciamento de

estoques inadequado;

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- derramamentos e desperdícios ao longo do processo produtivo, por falta de gerenciamento adequado,

falta de treinamento de pessoal, manutenção preventiva ineficiente ou inadequada, layout inadequado;

- acidentes, por falta de planos de prevenção e atendimento a acidentes adequados;

- perdas de energia, por falta de eficiência no planejamento, projeto ou uso de energia.

Segue o memorial descritivo do processo de fabricação da farinha de peixe

Os resíduos de pescado (vísceras e pedaços não aproveitados para a fabricação de

conservas) chegam a fábrica de farinha de peixe por bombeamento, passam primeiramente por peneira rotativa,

que separa o sólido e o deposita em um tanque coletor. A parte líquida segue para a ETE.

Os retraços são retirados do tanque coletor por um transportador sem-fim, que os

conduz até o processo de cozimento, depois de cozido o pescado é prensado, neste momento ocorre à geração

de água de cola que é encaminhada ao tridecanter para ser tratada. Neste tratamento a água de cola é separada

em três fases: fase sólida (que é reincorporada a torta prensada), fase oleosa (gerando óleo de peixe) e fase

líquida - clarificado (que é encaminhada a ETE).

Após o processo de prensa a torta passa pelo processo de secagem, tornando-se,

portanto farinha de peixe, segue então para o processo de moagem e é imediatamente ensacada. O óleo de

peixe é acondicionado em bombonas plásticas com capacidade de 60 L.

Para realizar esse ensaio modificamos o produto químico usado para auxiliar a

flotação (fase físico-química do tratamento de efluente onde é gerada a borra em questão), de modo que a borra

não represente risco a saúde do animal que irá se alimentar da farinha que geraremos com ela. Iniciamos um

ensaio no laboratório visando achar uma proporção de mistura que não afete o processo de secagem, pois caso a

umidade do bolo esteja fora dos padrões não conseguimos obter um produto seco o suficiente para permitir uma

boa performance para fabricação de ração. A empresa gera cerca de 600Kg por dia de material flotado e produz

cerca de 10.000 Kg de farinha de peixe por dia, sendo assim, testamos uma proporção de 16 Kg de farinha para

cada Kg de borra flotada e a mistura se manteve apta para uso. Depois de aprovado em laboratório fizemos um

teste na planta onde inicialmente a borra foi dosada manualmente pelo operador e o resultado não foi

satisfatório, pois apresentou uma falha no processo se secagem, devido à nova textura do material que está

sendo processado. A equipe de manutenção da fábrica apropriou o sistema de secagem, aumentando o tamanho

da haste que mexe a torta e trocou o motor que movimenta essa haste, tornando-o mais eficiente e iniciamos um

novo teste desta vez com sucesso total, a farinha saiu do processo seca e com a umidade certa, seguindo a

exigência da empresa que compra este produto. Por fim Foi desenvolvido um sistema de aplicação automática

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deste material na torta prensada e modo que seja sempre possamos garantir que será aplicado sempre da mesma

forma e quantidade.

Cuidados necessários ao implantar o P+L

Uma vez introduzidas as primeiras oportunidades, ou seja, implantados os projetos

pioneiros de P + L, é necessário dar seqüência para que o processo dentro da empresa seja contínuo. A idéia de

melhoria contínua é a mesma que se aplica aos Programas de Qualidade (por exemplo, ISSO 9000) e aos

Programas Ambientais (por exemplo, ISSO 14000).

Para que o processo de P + L seja integrado à gestão da empresa é recomendável que

algumas ações de ordem tática sejam adotadas:

- Definir indicadores de desempenho ambiental monitora-los e divulgá-los sistematicamente, para

mostrar os ganhos obtidos com o processo. Os indicadores deverão ser simples e o mecanismo de coleta

e processamento de dados preferencialmente deve ser automático;

- Definir periodicamente metas de melhoria a serem atingidas, fazendo uso dos indicadores. Essas metas

deverão ser factíveis, porém desafiadoras e deverão constar do planejamento orçamentário da empresa;

- Estabelecer procedimentos internos para que as atividades de avaliação de novos produtos, serviços e

processos considerem os critérios de P + L;

- Disseminar o conceito de P + L e prover o treinamento necessário;

- Engajar os fornecedores e prestadores de serviço, estendendo as ações de P + L a toda a cadeia de

agregação de valor;

- Estabelecer mecanismos de monitoramento para identificar condições de mercado e possíveis

tendências, como, por exemplo, pesquisas com consumidores e clientes; acompanhamento de legislação

e políticas; acompanhamento da evolução de custos de matéria-prima; custos de disposição de resíduos;

aparecimento de novas tecnologias; exemplos de aplicação de P + L em concorrentes e similares;

- Promover alterações no sistema contábil e no sistema de informação, visando, por exemplo, à introdução

de custeio baseado em atividades, contabilidade ambiental, análise do ciclo de vida, etc..

Para que a produção mais limpa possa trazer os benefícios econômicos e ambientais

esperados, é necessário que o método e as ferramentas sejam utilizados de forma sistemática. O processo se

inicia com a identificação da necessidade de P + L e com o planejamento das ações que se seguirão.

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A inclusão de P + L no plano orçamentário da empresa dá ao tema a visibilidade e a

relevância necessárias. A formação de um grupo de coordenação é recomendável enquanto o processo não está

integrado as rotinas de gestão, entretanto não se deve perder de vista a necessidade de que a participação se

estenda a todas as pessoas que trabalham na empresa. Com o tempo, essa participação deverá ser estendida

também aos fornecedores e prestadores de serviço, de forma a abranger toda a cadeia de agregação de valor.

Na etapa de geração de opções, todas as alternativas devem ser levadas em conta: as

relacionadas ao produto, à embalagem, aos serviços associados, aos processos de fabricação, as matérias-primas

e insumos, às práticas de gestão, etc. A priorização das opções deve ser feita com base em critérios objetivos,

utilizando-se dados e fatos originados das etapas prévias de levantamento e prospecção.

A implantação deve ser precedida de um planejamento cuidadoso para evitar eventuais

desvios em termos de custos, prazos e qualidade de resultados. Indicadores de desempenho devem ser definidos,

medidos e divulgados e, sempre que possível, os ganhos devem ser traduzidos em valores monetários.

Na medida que o processo avance e ganhe consistência, mudanças estruturais na forma de

planejar, organizar e controlar a empresa poderão ser feitas: introdução de técnicas de custeio baseado em

atividades, contabilidade ambiental, novos critérios de desenvolvimento de produtos, como o ecodesign,

utilização de ferramentas como análise do ciclo da vida do produto entre outras.

Observa-se um aumento paulatino de experiências de produção mais limpa e um crescente

interesse pelas ferramentas propiciadas pela estratégia preventiva. Existem diversos casos de sucesso relatados,

demonstrando ganhos econômicos e ambientais em empresas de diferentes portes e em várias regiões. No

entanto, deve-se reconhecer que o sucesso da P + L está aquém do desejável. Não há dúvida que as mudanças

estão em curso e que, por pressões do mercado, de concorrentes e consumidores – além das previsíveis

dificuldades de abastecimento de insumos fundamentais, como água e energia -, as empresas inevitavelmente

buscarão a ecoeficiência. A questão é como acelerar o processo e fazer a transição entre as práticas de fim-de-

tubo já adotadas e as medidas de produção mais limpa.

Inicialmente, há que se reconhecer que o apoio governamental é limitado e que o

envolvimento de órgãos ambientais estaduais é pequeno, com algumas exceções. A Cetesb, agência ambiental

do estado de São Paulo, organizou um setor dedicado ao assunto em 1996 e desde então desenvolve diversos

programas e atividades. A instituição assumiu compromisso formal ao assinar a Declaração Internacional de

Produção Mais Limpa do Pnuma, por ocasião de seu lançamento em 1998, na Coréia do Sul.

Deve-se mencionar a atuação do Centro de Recursos Ambientais da Bahia (CRA), que

desenvolve instrumentos legais de comando-controle inovadores, que incluem a produção mais limpa e a gestão

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ambiental, e também a do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), que atua no tema por meio do Projeto

Desperdício Zero.

A Ministério do Meio Ambiente (MMA), por meio da Secretaria de Qualidade

Ambiental nos Assentamentos Humanos, Unidade de Produção Mais Limpa, com apoio da Agência Alemã de

Cooperação Técnica, organiza a política nacional de produção mais limpa e a Rede Brasileira de Ecoeficiência.

Para tanto, incentiva a criação de fóruns estaduais de P+L que promovam o diálogo entre os representantes do

governo, iniciativa privada, sociedade civil e ciência e tecnologia, para os quais a Mesa-redonda Paulista de P +

L tem sido uma referência.

Os resultados e benefícios dessa iniciativa serão inúmeros, pois a Rede em construção terá

a virtude de respeitar as diferenças e as vocações regionais, trocar experiências e informações, fomentar as

ações legais e organizar um diálogo nacional com atores que efetivamente atuem na área. Pretende-se levar para

o Comitê Gestor Nacional de Produção Mais Limpa as discussões emanadas da rede – para que as mesmas

possam ser traduzidas em políticas públicas -, o que será uma oportunidade para suprir lacunas nas políticas

nacionais, orientando-as para a sustentabilidade. Por outro lado, ao apontar os órgãos ambientais dos Estados

como os interlocutores entre os fóruns estaduais e o MMA, promove-se a inserção dos conceitos de P + L nas

entidades governamentais, ensejando-se que os mesmos possam, no futuro, permear os sistemas de comando-

controle.

Existe uma percepção geral de que as legislações de controle de poluição ambiental

orientam as organizações a adotarem sistemas de tratamento de emissões, ao legislarem, por exemplo, sobre as

eficiências de tais sistemas e os padrões de emissão. É preciso compreender o contexto em que tais legislações

foram definidas, a forma como se estruturaram, os conhecimentos existentes a época, os paradigmas em vigor e

a forma como se estruturaram, os conhecimentos existentes à época, os paradigmas em vigor e a forma como

expressavam o pacto social.

As legislações de controle de poluição ambiental tradicionais, do ponto de vista técnico e de

maneira simplificada, baseiam-se na seguinte lógica:

- Definição de padrão de qualidade para o meio ambiente que garanta seu uso para fins determinados;

- Caracterização de não-conformidades pelo lançamento de poluentes que alterem a qualidade definida e

prejudiquem os usos pretendidos;

- Punição às não-conformidades.

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A qualidade ambiental e os poluentes são medidos por equipamentos sofisticados de

laboratório, realizando-se também, o cálculo estatístico da margem de erro das análises. É possível, portanto,

definir com precisão qual deve ser o padrão ambiental a ser obedecido e, da mesma forma, medir as

características das emissões sólidas, líquidas e de energia, podendo-se emitir julgamento sobre a existência de

não-cumprimento da lei, intitulada não-conformidade. Dessa forma, o órgão ambiental pode atuar municiado

por evidências que podem ser discutidas e definidas nos tribunais de justiça. Aliás, qualquer legislação que crie

obrigações para as empresas – ou seja, do tipo comando-controle – tem que prever a forma de medida das não-

conformidades como base para a atuação dos agentes fiscais e imposição de penalidades.

Seria possível criar uma legislação semelhante que, em vez de regular o tratamento e a

destinação dos poluentes, obrigasse as empresas a evitar ou minimizar a geração dos mesmos? Para tanto,

segundo a lógica apresentada, seria necessário:

- definir o padrão de poluição;

- caracterizar as não-conformidades;

- penalizar as empresas não-conformes.

Segue abaixo algumas medidas que poderiam ser tomadas para controlar as empresas:

- proibir as tecnologias mais sujas. Como exemplo, a lei federal 9.976 de 3-7-2000, veta a instalação de

novas empresas produtoras de cloro pelo processo de eletrólise com tecnologia baseada em mercúrio e

diafragma de amianto.

- Outra forma é regular os insumos, como na Resolução Conama 267 de 14-9-2000, que proíbe a

utilização de substâncias que degradem a camada de ozônio, ou a lei 11.365 de 17-5-1993, que obriga a

utilização de lenha de reflorestamento nos fornos à lenha no município de São Paulo.

- Pode-se também legislar sobre a destinação de produtos pós-consumo, incluindo sua reciclagem, como

na Portaria ANP 125 de 30-7-1999, que regulamenta a atividade de recolhimento, coleta e destinação

final do óleo lubrificante usado ou acabado, e nas resoluções Conama 257, de 30-6-1999, 263, de 26-8-

1999, que dispõem sobre o descarte e o gerenciamento adequado da pilhas e baterias usadas, e coleta e

destinação de pneus.

- Outra forma é o governo, em seus diversos níveis, estabelecer programas de poluição mais limpa em

suas instalações, ou usar seu poder de compra para promover a ecoeficiência.

- Também há legislações que tratam da adoção da gestão ambiental por parte das empresas, ou que

oferecem benefícios para os que adotarem produção mais limpa, como previsto no artigo 5 do decreto

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47.400 de 4-12-2002, que abre a possibilidade de as empresas paulistas demonstrarem ganhos de

desempenho ambiental e obterem ampliação nos prazos de renovação das licenças. A tendência para a

aplicação dessas leis é adaptar as exigências caso a caso.

Sabe-se que a produção mais limpa não poderá resolver todos os problemas ambientais,

bem como não há conhecimentos tecnológicos disponíveis no momento sobre produção de bens e serviços com

emissões zero. Assim, é necessário praticar todas as etapas da hierarquia de gerenciamento de resíduos,

priorizando a produção mais limpa, mas integrando-a as tecnologias de fim-de-tubo.

Muitas empresas já dispõem de sistemas de tratamento que deverão ser ajustados às

novas características dos efluentes quando as indústrias adotarem práticas de P+L. É improvável que um

empresário contrate um consultor para implantar um programa P+L e outro para ajustar/implantar o sistema de

fim-de-tubo e obter as licenças necessárias. Assim, o profissional mais preparado para o mercado é o que

domina não só as metodologias de P+L, mas também as tecnologias de fim-de-tubo, com uma visão de gestão

de aspectos ambientais.

A apreensão dos conhecimentos sobre sistemas de tratamento e impactos ambientais é

mais complexa que o treinamento sobre as metodologias de produção mais limpa. Assim, o especialista em

sistemas de fim-de-tubo que domina a produção mais limpa está em uma posição vantajosa no mercado de

consultoria.

A tendência mundial é associar a produção mais limpa ao consumo sustentável, como

forma de agregar a dimensão social e avançar na busca do desenvolvimento sustentável. As mesas-redondas de

P+L européia, asiática e africana já alteraram suas denominações, incluindo o consumo sustentável em seus

objetivos. Busca-se mudar a cultura da sociedade e das organizações, conscientizando-as para o consumo

racional da água, energia e demais recursos naturais, combatendo o desperdício e o consumo desenfreado. O

consumo sustentável promove a reciclagem e orienta as opções de compras para produtos ecológicos,

constituindo-se em forma de pressão formidável sobre as organizações.

Espera-se que a produção mais limpa e o consumo sustentável, associados a programas de

redução de desigualdades sociais, estejam presentes no cotidiano das pessoas, nas políticas públicas e no

planejamento estratégico das instituições privadas, governamentais e não-governamentais, afinal, todos temos

direito ao futuro.

Para que a internalização do conceito e a aplicação das ferramentas de produção mais limpa

em empresas industriais e empresas de serviços seja efetiva é conveniente que se sistematizem as ações, por

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meio de aplicação de um processo metódico para continuamente identificar, avaliar e implementar as

oportunidades de melhoria que se apresentem, visando otimizar o desempenho econômico e ambiental.

A aplicação de P+L nas empresas é considerada por muitos como um projeto. Considerando

que um projeto é a realização de um empreendimento não-repetitivo, caracterizado por uma seqüência lógica de

eventos e que portanto, tem começo, meio e fim, parece mais adequado associar a aplicação de P+l à idéia de

que a atividade é contínua, repetitiva, cíclica e não-linear, ou seja, está sempre sendo realizada e aperfeiçoada,

buscando sempre a concretização de objetivos e metas mais ambiciosos.

As etapas do processo de implementação de P+L, que devem ser seguidas para facilitar o

alcance dos objetivos, são:

1 - planejamento e organização- onde são identificados os fatores que mais fortemente afetam o desempenho

ambiental e econômico da empresa;

2 - identificação de oportunidades – Definido por onde vamos começar, o próximo passo é fazer a prospecção

de oportunidades de melhoria. Uma ferramenta importante nesta etapa é o fluxograma de processo, como o que

foi usado no estudo de caso tratado neste trabalho (fluxograma da fábrica de sardinha e atum), onde podemos

identificar com mais clareza os setores geradores de resíduos;

3 - análise de viabilidade – Uma vez que as oportunidades de melhoria estão identificadas, há a necessidade de

analisar a viabilidade de cada uma delas para, então, se estabelecerem prioridades de implantação. A viabilidade

deve ser avaliada dos pontos de vista técnico, econômico e ambienta;

4 – implantação – Caso a proposta de melhoria seja de simples implementação e já tenha demonstrado sua

viabilidade na análise teórica, como ocorreu no estudo de caso abordado neste trabalho, poderá ser introduzida

sem a necessidade de um planejamento mais elaborado. Entretanto, para aquelas propostas mais complexas,

para implementação cara e tecnicamente complicada, faz-se necessário um planejamento detalhado para evitar

desvios em termos de cumprimento de prazos, custos e qualidade da solução implantada.; e

5 – manutenção do processo – Uma vez introduzidas as primeiras oportunidades, ou seja, implantados os

projetos pioneiros de P+L, é necessário dar seqüência para que o processo dentro da empresa seja contínuo. A

idéia de melhoria contínua é a mesma que se aplica aos Programas de Qualidade (por exemplo, I.S.O 9000) e

aos Programas Ambientais, por exemplo, I.S.O 14000), é importante nesta fase definir os indicadores

ambientais que serão usados como mecanismos de monitoramento da performance contínua da modificação

proposta.

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Conclusão

A adoção de práticas de redução de rejeitos na fonte trazem muitos benefícios, pois se

evita custos diretos e indiretos, tangíveis e intangíveis associados à geração dos rejeitos, a empresa é mais

produtiva e conseqüentemente mais competitiva, os investimentos para redução da geração de poluentes são

feitos dentro do processo produtivo, com maior possibilidade de retorno, o que provavelmente não ocorreria se

fossem adotadas soluções fim-de-tubo e a empresa descobre melhores oportunidades de tratar as questões

ambientais.

As empresas percebem que os aspectos ambientais não estão dissociados do negócio da

empresa. O enfoque moderno é considerar os aspectos ambientais durante a concepção, o planejamento, a

organização e a operação da empresa e não aguardar que os resíduos sejam gerados para depois procurar tratá-

los e descartá-los, além disso, percebem que a geração de rejeitos faz parte da equação da produtividade e da

competitividade empresarial. Em outras palavras, as empresas que buscam gerar menos resíduos por meio do

aprimoramento de seus processos produtivos tornam-se mais eficientes.

Neste trabalho analisamos detalhadamente o processo de industrialização de todos os produtos fabricados

pela empresa, onde observamos os setores que mais contribuem para a geração de resíduos, tanto sólidos que

servirão de matéria-prima para a fábrica de farinha de peixe, quanto os líquidos que são encaminhados a estação

de tratamento de efluentes. Abordamos também todas as etapas do tratamento de efluentes, que foi importante

para percebermos o momento exato em que a borra flotada é formada, sendo assim temos todas as informações

necessárias para entráramos no capítulo 3 onde trataremos especificamente do experimento proposto neste

trabalho.

A empresa possui todos os pré-requisitos necessários para desenvolver esse estudo,

além de possuir toda a estrutura de laboratório e equipe treinada para acompanhar e apontar não-conformidades,

também possui flexibilidade quanto aos ajustes necessários no processo produtivo, facilitando a obtenção do

resultado final proposto.

Destaco a importância de implantar as ferramentas ambientais disponíveis, pois

nos permitem além de deixar de gerar certos resíduos para o meio ambiente podem gerar receitas para a

empresa, como foi o caso da empresa em questão que deixou de ter custos com o aluguel de caçamba,

transporte especializado de resíduos e aterro industrial e passou a gerar mais farinha de peixe, produto este que

possui uma ótima aceitação de mercado.

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Imaginemos a equação abaixo:

M = P + R

Onde M = matéria-prima

P = produtos

R = resíduos

A empresa através da implantação da ferramenta P+L, em um ponto de seu processo

produtivo, melhorou seu desempenho, obtendo maior quantidade de produtos P com a mesma quantidade de

insumos, e conseqüentemente R é menor, ou seja, a emprese gerou menos

rejeito.

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Referências Bibliográficas

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auditorias de sistema de gestão da qualidade e/ou ambiental. \rio de Janeiro: ABNT, 2002.

• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14010: 2003. Gestão Ambiental:

avaliação de locais e organizações. Rio de Janeiro: ABNT 2003.

• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001: 2004. Sistemas de gestão

ambiental: requisitos com orientações para uso. Rio de janeiro: ABNT, 2004.

• BANCO NACIONALDE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL.

“ Balanço social e outros aspectos da responsabilidade corporativa”. Em Relato setorial, número 2, Rio de

Janeiro, BNDS – Área Social da Gerência de Estudos Setoriais, março de 2000.

• COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL & programa das nações unidas

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• INSTITUTO BRASILEIRO DAS INSTITUIÇOES DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Relatório anual –

2003. Brasília: Ministério da Ciência e tecnologia. Disponível em www.acv.ibict.br

• CONSELHO EMPRESARIAL BRASILEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

(CEBDS), WWW.CEBDS.COM/COEFICIÊNCIA/FRM-ECOEFICIENCIA.HTM

• Regulamento de Inspeção de produtos de origem animal – RISPOA – Ministério da Agricultura.

Disponível no site do ministério.

• Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – implantado na empresa estudada, elaborado pelo Dr.

Waldemar Tocantins.