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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL VALTER RODSON DA SILVA SOUZA ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE DIGESTORES ANAERÓBIOS DE FLUXO ASCENDENTE EM SÉRIE FEIRA DE SANTANA-BA 2008

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

VALTER RODSON DA SILVA SOUZA

ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE DIGESTORES ANAERÓBIOS DE

FLUXO ASCENDENTE EM SÉRIE

FEIRA DE SANTANA-BA

2008

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VALTER RODSON DA SILVA SOUZA

ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE DIGESTORES ANAERÓBIOS DE

FLUXO ASCENDENTE EM SÉRIE

Monografia apresentada ao Colegiado de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Roque Angélico Araújo

FEIRA DE SANTANA-BA 2008

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VALTER RODSON DA SILVA SOUZA

ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE DIGESTORES ANAERÓBIOS DE

FLUXO ASCENDENTE EM SÉRIE

Monografia para obtenção do Grau de Bacharel em Engenharia Civil

Feira de Santana-Ba, 2008.

Banca Examinadora: ________________________________________________

Prof. Dr. Roque Angélico Araújo

Universidade Estadual de Feira de Santana

_________________________________________________

Prof. Drª Selma Cristina da Silva

Universidade Estadual de Feira de Santana

________________________________________________

Profª Drª Sandra Maria Furian Dias

Universidade Estadual de Feira de Santana

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Dedico este trabalho às populações que sofrem pelo descaso com o saneamento básico e são massacradas pelo “inimigo invisível”.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao professor e amigo Roque Angélico Araújo pelo o apoio

dispensado e que a frente do Escritório Regional da EMBASA de Feira de

Santana-BA realiza o honroso trabalho de disseminar o saneamento as mais

diversas populações. E com sua produção acadêmica contribui na construção

de uma sociedade sustentável.

Aos parceiros deste trabalho Adriano e Dione (do LABOTEC) pela

compreensão, amizade e ensino durante os ensaios.

Aos grandes amigos José Roque Pinho e Antônio (titia), da EMBASA,

que sem os quais este trabalho ficaria no campo das idéias.

Aos eternos mestres e amigos do grupo REQUALI, Poliano Motta,

Sandra Furian, Silvio Orrico, Thamara Avellan, Eufrozina Cerqueira, Alan

Messias e Admir Luz, pelos dois anos de vivência acadêmica e

companheirismo mútuo.

Aos amigos Danilo Carvalho, William Vilas Boas, Francisco Pedro,

Thiago Ramos, Djavam Aragão, Francisco Carlos, Patrícia Freitas, Fabidom,

Kássio Vilas Boas, Tiago França, Elvilson Teles, Alysson Cerqueira, Eduardo

(Cebola), Hudson, Ziba, Paulo Mascarenhas, Sanilton Gonçalves e tantos

outros que sem a dádiva da existência a minha perderia em sentido.

À minha família querida, minha mãe Léa, avó Carmelita, Tio Leônidas e

irmão Vagner, pela força e exemplo para viver.

À minha filha amada, Elis, por tornar minha vida uma alegria cotidiana.

À minha amada, Annita, por me apoiar, incentivar e ser esta

companheira de vida maravilhosa que é.

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“Devemos somar forças para gerar uma

sociedade sustentável global baseada no

respeito pela natureza, nos direitos

humanos universais, na justiça econômica e

numa cultura da paz. Para chegar a este

propósito, é imperativo que, nós, os povos

da Terra, declaremos nossa

responsabilidade uns para com os outros,

com a grande comunidade da vida, e com

as futuras gerações.”

A Carta da Terra - 2000

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RESUMO

Este trabalho apresenta um estudo de caso sobre o uso no tratamento de

esgotos domésticos do Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente (DAFA),

operando em um sistema em série na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)

do Viveiros “A”, bairro de Feira de Santana-BA. Inicialmente, é feita uma

abordagem a respeito do tratamento de esgoto procurando salientar os tipos de

tratamento aplicados e a importância destes para o saneamento básico. Em

seguida, é realizada a descrição do funcionamento do sistema de tratamento

que utiliza o DAFA. As coletas foram realizadas no afluente e efluente de cada

DAFA e a análise comparativa sobre o funcionamento do DAFA, em projeto e

na prática, subsidiaram a problemática proposta para o estudo da avaliação da

eficiência do 2º DAFA no tratamento de esgotos domésticos em um sistema

composto por DAFAs em série, haja vista que este tipo de sistema vem sendo

aplicado com eficiências iguais para ambos digestores; sem os devidos testes

de sua eficácia no tratamento. Os resultados mostram que não correto

dimensionar os digestores com uma mesma eficiência, necessitando de uma

avaliação econômica para a adoção de sistema de tratamento de esgoto

composto por DAFAs em série.

Palavras-Chave: Tratamento de esgoto, DAFA em série, Eficiência de DAFA.

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ABSTRACT

This work presents a study of case of the use in the treatment of domestic

sewage of Uperflow Anaerobic Sludge Blanket (UASB), operating in a system in

a series of Sewage Treatment Station (TEE) of Viveiros "A", located in Feira de

Santana-BA. Initially, it made an approach with regard to the treatment of

sewage seeking to highlight the types of treatment applied and the importance

of these for sanitation. Then, it held a description of the operation of the

treatment system that uses the UASB. The samples were collected in the

affluent and effluent from each DAFA and comparative analysis on the

operation of DAFA in design and in practice, subsidised the problem proposal

for the study assessing the efficiency of the second DAFA in the treatment of

domestic sewage in a system composed of DAFAs in series, it is seen that this

type of system has been applied with equal efficiencies for both digesters;

without the proper testing of their effectiveness in treatment. The results show

that not the correct scale digesters with the same efficiency, requiring an

economic assessment for the adoption of sewage treatment system composed

of DAFAs in series.

Word-key: Sewerage treatment, UASB systems in series, UASB efficiency.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Leituras da lâmina de esgoto, em centímetros, obtidas na Calha

Parshall de 7,62 cm de garganta, na ETE do Conjunto Viveiros A.................. 43

Quadro 2: Vazões registradas na calha Parshall da ETE do Conjunto Viveiros

A (l/s)................................................................................................................ 43

Quadro 3: Resultados e eficiências parciais e totais da primeira amostra........44

Quadro 4: Resultados e eficiências parciais e totais da segunda amostra ......45

Quadro 5: Resultados e eficiências parciais e totais da terceira amostra........ 45

Quadro 6: Resultados e eficiências parciais e totais da quarta amostra...........45

Quadro 7: DBO e DQO média para todas as amostras.....................................45

Quadro 8: Eficiência média DBO e DQO de campo e de projeto ....................46

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Formas de projeto do DAFA ............................................................26

Figura 2: Estação de Tratamento de Esgoto do Viveiros “A” .........................36

Figura 3: Ensaio de DBO ................................................................................39

Figura 4: Ensaio de DQO ...............................................................................39

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LISTA DE SIGLAS

DAFA – Digestores Anaeróbios de Fluxo Ascendente

EMBASA – Empresa Baiana de Saneamento e Águas

ETE – Estação de Tratamento de Esgoto

CRA – Conselho Regional Ambiental

LABOTEC – Laboratório de Tecnologia da UEFS

UEFS – Universidade Estadual de Feira de Santana

DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO – Demanda Química de Oxigênio

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

IWA - International Water Association

TDH – Tempo de Detenção Hidraúlica

UASB - Uperflow Anaerobic Sludge Blanket

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 14

2. HIPÓTESE E OBJETIVOS........................................................................... 16

2.1 HIPÓTESE.............................................................................................. 16

2.2 OBJETIVO GERAL................................................................................. 16

2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................... 16

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................... 18

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O TRATAMENTO DE ESGOTO ............... 18

3.2 TIPOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO EM FEIRA DE

SANTANA-BA............................................................................................... 21

3.3 APLICAÇÃO DA DIGESTÃO ANAERÓBIA AO TRATAMENTO DE

ESGOTO ...................................................................................................... 22

3.4 O FUNCIONAMENTO DO DAFA ........................................................... 24

4. CONSIDERAÇÕES DE PROJETO DO SISTEMA DE DAFAs EM SÉRIE DA

ETE DO VIVEIROS “A” .................................................................................... 34

4.1 DESCRIÇÃO DA ETE............................................................................. 34

4.2 METODOLOGIA ..................................................................................... 35

4.2.1 Tipo de Pesquisa.............................................................................. 35

4.2.2 Levantamento documental ............................................................... 35

4.2.3 Levantamento bibliográfico .............................................................. 36

4.2.4 Observações de campo ................................................................... 36

4.2.5 Local da pesquisa ............................................................................ 37

4.2.6 Parâmetros pesquisados.................................................................. 37

4.2.7 Pontos de Coleta.............................................................................. 37

4.2.8 Período de amostragem................................................................... 37

4.2.9 Hora da amostra............................................................................... 38

4.2.10 Quantidade de amostras ................................................................ 38

4.2.11 Coleta da amostra, armazenamento e transporte .......................... 38

4.2.12 Determinação das análises ............................................................ 38

4.2.13 Avaliação dos resultados ............................................................... 39

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4.3 TRATAMENTO DOS DADOS................................................................. 40

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................. 43

6. CONCLUSÕES ............................................................................................ 47

7. RECOMENDAÇÕES.................................................................................... 48

8. REFERÊNCIAS............................................................................................ 49

ANEXOS .......................................................................................................... 50

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1. INTRODUÇÃO

A importância do saneamento e sua associação à saúde humana

remontam às mais antigas culturas. O saneamento desenvolveu-se de acordo

com a evolução das diversas civilizações, ora retrocedendo com a queda das

mesmas, ora renascendo com o aparecimento de outras. Mas sempre fora

motivo de preocupação em diversas comunidades, devido a sua importância na

manutenção da vida.

O saneamento básico é o caminho correto para que se evitem milhares

de doenças, mantêm a saúde e bem estar para todos. O afastamento dos

esgotos sanitários, através de sistemas de redes convenientes, colabora para o

menor índice de moléstias de origem hídrica, aumentando a saúde dos

beneficiados e proporcionando mais conforto e melhor qualidade de vida.

A utilização do saneamento como instrumento de promoção da saúde

pressupõe a superação dos entraves tecnológicos, econômicos, políticos e

gerenciais que têm dificultado a extensão dos benefícios aos residentes em

áreas rurais, municípios e localidades de pequeno porte. Pois além de ter que

vencer a barreira financeira que gera entrave à sua aplicação, se fazem

necessário superar ou se adequar aos diversos traços culturais da população.

A maioria dos problemas sanitários que afetam a população mundial

está intrinsecamente relacionada com o meio ambiente. Um exemplo disso é a

diarréia que com mais de quatro bilhões de casos registrados por ano, é a

doença que aflige a humanidade. Entre as causas dessa doença destacam-se

as condições inadequadas de saneamento.

No Brasil as doenças resultantes da falta ou inadequação do

saneamento, especialmente em áreas pobres, têm agravado o quadro

epidemiológico. Que pode ser evidenciado pelos índices de prevalência e

incidência da ausência do saneamento, tais como cólera, dengue,

esquistossomose e leptospirose.

Segundo o Manual de Saneamento da FUNASA (2006), cerca de 90%

da população urbana brasileira é atendida com água potável e 60% com redes

coletoras de esgotos. O déficit ainda existente está localizado, basicamente,

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nos bolsões de pobreza, ou seja, nas favelas, nas periferias das cidades, e nas

áreas rurais.

A coleta e tratamento dos esgotos sanitários são fundamentais para a

garantia da qualidade de vida da população. Entretanto, um dos maiores

fatores de degradação da qualidade da água é justamente a poluição resultante

do lançamento dos esgotos sanitários in natura em corpos d’água.

Nesse sentido, percebe-se que as ações de abastecimento de água e de

esgotamento sanitário, dentre outras ações de saneamento, devem ser vistas

de modo integrado. Pois, investir em saneamento é a única forma de reverter o

quadro existente, em que seres humanos morram todos os dias por

precariedade no saneamento básico ou falta deste. Dados divulgados pelo

Ministério da Saúde afirmam que para cada R$1,00 (um real) investido no setor

de saneamento, economiza-se R$ 4,00 (quatro reais) na área de medicina

curativa.

Para se construir um mundo em que o homem aprenda a conviver com

seu “hábitat”, numa relação harmônica e equilibrada, que permita garantir

alimentos a todos sem transformar as áreas agricultáveis em futuros desertos,

é necessário se construir um novo modelo de desenvolvimento buscando a

melhoria da qualidade de vida das suas populações, a preservação do meio

ambiente e a busca de soluções criativas para atender aos anseios de seus

cidadãos de ter acesso a certos confortos da sociedade moderna, de forma que

este conforto se ampare na idéia de um meio ambiente sustentável e, senão

livre, minimizado nos impactos negativos sobre este.

É nesse panorama que o uso do Digestor Anaeróbio de Fluxo

Ascendente (DAFA) aparece como uma das alternativas para tratamento de

esgoto doméstico quase sempre a custos inferiores, comparando-se a outros

sistemas.

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2. HIPÓTESE E OBJETIVOS

2.1 HIPÓTESE

Nos projetos de tratamento de esgoto com DAFA em série considera-se

o mesmo valor de eficiência tanto para o primeiro quanto para o segundo DAFA

no processo de remoção da carga orgânica biodegradável. Não se leva em

consideração que no primeiro existe o tratamento primário e parcela do

secundário do esgoto, enquanto que no segundo só se verifica o tratamento

secundário.

Neste trabalho considerou-se como hipótese que as eficiências dos

digestores em série são diferentes, ou seja, o primeiro DAFA tem eficiência

maior que o segundo, e é desta forma que deve ser considerado no

dimensionamento de DAFA em série.

A escolha em realizar o estudo nessa área está baseada no intuito de se

obter dados reais sobre a eficiência do sistema de tratamento composto por

DAFA em série, tendo em vista a paulatina aplicação deste sistema e o seu

atrativo custo financeiro, tanto na construção como na operação. Além do que,

à medida que se dissemina, em larga escala, estudos sobre sistemas de

tratamento do esgoto doméstico a custos baixos é significativamente relevantes

do ponto de vista técnico e ambiental, pois, existirão possibilidades de ampliar

o uso do tratamento do esgoto sanitário às mais diversas classes sociais.

2.2 OBJETIVO GERAL

Determinar a eficiência do sistema de tratamento de esgoto composto

por DAFA em série, e de forma individual e total.

2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Medir a DBO e DQO na entrada e saída de cada DAFA; • Avaliar a eficiência em remoção de DBO e DQO em cada digestor,

individualmente;

• Avaliara a eficiência do sistema em série;

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• Comparar as eficiências medidas com as de projeto;

• Definir a eficiência que deve ser adotada em projetos de DAFA em série;

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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE ESGOTO SANITÁRIO E TRATAMENTO

Conforme o Manual de Saneamento da FUNASA (2006), todo esgoto

gerado tem como destino final um corpo d’água. O lançamento destes

efluentes em quantidades superiores à capacidade de autodepuração do corpo

receptor pode gerar contaminação das águas, proporcionarem danos ao meio

ambiente e prejuízos à saúde pública. No que tange a questão da preservação

do meio ambiente, o lançamento de esgotos ocasiona a depleção do oxigênio

dissolvido, podendo provocar a morte de peixes e outros organismos aquáticos

e transmissão de doenças de veiculação hídrica.

Dentre as principais doenças relacionadas a excretos humanos de

veiculação hídrica estão: a disenteria bacilar, o cólera, a leptospirose, a

salmonelose, a febre tifóide, a disenteria amebiana, a giardíase, a hepatite, a

gastroenterite e a poliomielite.

Os esgotos são compostos por constituintes físicos, químicos e

biológicos. Desde que não haja significativa contribuição de despejos

industriais a composição do esgoto doméstico ou sanitário é razoavelmente

constante. Os efluentes contem aproximadamente 99,9% de água, e apenas

0,1% de sólidos. Os esgotos industriais além da matéria orgânica, podem

conter substâncias químicas tóxicas ao homem e outros animais (MOTA,

1997).

Considerando-se que existe hoje uma necessidade crescente com os

cuidados no tratamento de esgotos e afastamento da população dos riscos à

vida por ação de doenças veiculadas por corpos hídricos, os estudos, critérios

de projetos e outros fatores relativos ao tratamento e disposição final deverão

ser precedidos de cuidados especiais. Desta forma consegue-se garantir o

afastamento adequado dos esgotos e igualmente a manutenção, melhoria dos

usos e qualidade dos corpos receptores.

O tratamento de esgoto consiste na redução de microorganismos

patogênicos e, principalmente, estabilização da matéria orgânica. Muitas

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opções de tratamento se baseiam em processos que ocorrem normalmente na

natureza, o qual é denominado de autodepuração ou estabilização.

A autodepuração de um corpo aquático consiste na capacidade de

receber e depurar, através de mecanismos naturais, certa quantidade de

matéria orgânica. Este processo inclui toda assimilação, decantação e digestão

de compostos estranhos, inclusive os metais.

Não existe um sistema de tratamento de esgotos que possa ser indicado

como o melhor para quaisquer condições, mas obtém-se a mais alta relação

benefícios/custos quando se escolhe criteriosamente um processo que se

adapta às condições locais e aos objetivos, em cada caso. Cada processo de

tratamento apresenta vantagens e desvantagens (ANDRADE NETO, 1997).

No Brasil, principalmente no Nordeste, devido a sua grande área e a

grande incidência luminosa durante o ano, recomendam-se sistemas de ação

biológica, como o valo de oxidação, a lagoa de estabilização, os filtros

biológicos e os reatores anaeróbicos, os quais alcançam maiores eficiências

em regiões de clima quente.

A fração de sólidos proveniente dos esgotos é responsável pelos

problemas de poluição nas águas, trazendo a necessidade do tratamento. A

fração inorgânica dos efluentes corresponde a 30% da quantidade de matéria

sólida existente. Seus principais componentes são os detritos minerais

pesados, sais e metais.

A biodigestão anaeróbica tem se tornado recentemente uma opção

viável para certos tipos de despejos, principalmente os mais facilmente

biodegradáveis, tais como despejos de indústrias alimentícias e agroindústrias.

Este processo baseia-se em uma série de reações em seqüência,

desencadeadas por microorganismos anaeróbicos, os quais promovem a

redução das moléculas orgânicas, tais como gorduras, aldeídos, álcoois, entre

outras.

No processo de conversão da matéria orgânica em meio anaeróbio são

utilizados aceptores inorgânicos de elétrons como o NO3 - (redução de nitrato),

SO4 - (redução de sulfato), ou CO2 (formação de metano). A digestão

anaeróbia representa um sistema ecológico balanceado, onde cada

microrganismo tem uma função essencial. A digestão de compostos complexos

é, normalmente, considerada um processo de dois estágios. No primeiro,

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compostos como carboidratos, lipídios e proteínas são hidrolisados,

fermentados e biologicamente convertidos pelas bactérias acidogênicas em

substâncias orgânicas mais simples, principalmente ácidos voláteis. No

segundo ocorre a conversão destes ácidos orgânicos, gás carbônico e

hidrogênio em produtos finais gasosos (CH4 e CO2) pelas bactérias

metanogênicas que dependem do substrato fornecido pelas acidogênicas,

configurando, portanto, uma interação fundamental ao processo (Chernicharo,

1997).

Segundo Jordão & Pessoa (1995), os processos anaeróbios conseguem

um elevado tempo de detenção de sólidos, diminuindo a quantidade de lodo a

ser descartado e um reduzido tempo de detenção hidráulica, tornando menor a

demanda de área desta alternativa.

Os reatores anaeróbios de manta de lodo, também denominados UASB

- Upflow Anaerobic Sludge Blanket, RAFA – reator anaeróbio de fluxo

ascendente, DAFA, digestor anaeróbio de fluxo ascendente ou RALF – reator

anaeróbio de leito fluidizado, consistem, basicamente, em reatores nos quais

se promove um fluxo ascendente ao esgoto através de um leito denso, em

meio anaeróbio e de elevada atividade biológica (Chernicharo, 1997).

A mistura do sistema é promovida pelo fluxo ascensional e pelas bolhas

dos gases gerados. Estes gases são direcionados por meio de defletores, que

impedem o arraste de partículas sólidas e possibilitam a coleta dos gases para

serem queimados ou aproveitados energeticamente. Sendo assim, os sólidos

sedimentam e retornam à câmara de digestão.

A digestão anaeróbia representa um sistema ecológico balanceado,

onde cada microrganismo tem uma função essencial. A digestão de compostos

complexos é, normalmente, considerada como um processo de dois estágios.

No primeiro, estes compostos são hidrolisados, fermentados e biologicamente

convertidos pelas bactérias acidogênicas em substâncias orgânicas mais

simples, principalmente ácidos voláteis. No segundo ocorre a conversão destes

ácidos orgânicos pelas bactérias metanogênicas que dependem do substrato

fornecido pelas acidogênicas, configurando, portanto, uma interação

fundamental ao processo (CHERNICHARO, 1997).

Apesar das diversas vantagens do reator anaeróbio de manta de lodo,

tais como tempos de detenção reduzidos, baixos custos de implantação e

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operação, reduzida produção de lodo, e um consumo de energia desprezível, o

DAFA por si só não é capaz de atender a padrões mais exigentes de

lançamento em cursos d'água, sendo bastante usual associá-lo a um pós-

tratamento (HAANDEL e LETINGA, 1994).

Quanto aos aspectos legais ligados ao tratamento dos esgotos, a

Resolução CONAMA, classifica as águas doces, salobras e salinas do território

nacional, de acordo com seus usos preponderantes, considerando o nível de

qualidade que o corpo d’água deve possuir para atender às necessidades da

comunidade. Dentre esses usos a Resolução destaca o abastecimento

doméstico, a preservação do equilíbrio e proteção das comunidades aquáticas,

a recreação de contato primário, a irrigação, a aqüicultura, a dessedentação de

animais, a navegação e a harmonia paisagística. Por fim, define que os

efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou

indiretamente, nos corpos d’água desde que atendam aos padrões de

qualidade e não confiram ao corpo receptor características em desacordo com

seu enquadramento.

No planejamento do sistema de tratamento de esgotos, é de

fundamental importância a busca por um sistema que seja viável à realidade da

localidade de implantação, pois, a adoção equivocada de sistema de

tratamento poderá inviabilizá-lo, do ponto de vista operacional e torna-lo, mais

rapidamente, obsoleto.

3.2 TIPOS DE TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO EM FEIRA DE SANTANA-BA

Existem dois tipos de sistema de coleta de esgotos: o sistema unitário,

que consiste na coleta das águas pluviais, dos esgotos domésticos e dos

despejos industriais em um único coletor e o sistema separador absoluto que

consiste na separação da coleta, ou seja, águas pluviais, esgotos domésticos e

despejos industriais possuem distintamente seus coletores de coleta e

tratamentos.

No Brasil adota-se o sistema separador absoluto, exceto em algumas

localidades onde tal método não seja viável por razões das mais diversas

naturezas.

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As formas de se tratar o esgoto doméstico variam em função da

população, da quantidade de malhas de coletores de esgoto, do clima e do

custo de implantação e manutenção do sistema de uma cidade ou povoado.

Dentre os sistemas existentes podemos destacar os que fazem parte da

realidade de tratamento de esgoto no estado da Bahia, mais especificamente

na cidade de Feira Santana, que é a combinação de unidades operacionais dos

tipos: fossas sépticas ou tanques sépticos, DAFAs, Tanques Imhoff, lagoas

aeradas, lagoas anaeróbias, lagoas facultativas e lagoas de maturação. Estes

tipos de unidades combinadas para tratamento de esgotos, exceto a fossa

séptica, aplicadas para tratamento primário e secundário constituem os

modelos adotados pela EMBASA de Feira de Santana.

A fossa séptica com sumidouro, mesmo não sendo tratamento aplicado

pela EMBASA, é de grande importância, haja vista a sua vasta adoção nas

residências da cidade (com cobertura da ordem de 50%) nas áreas onde não

existe sistema público de coleta.

Tanques Imhoff, Lagoas aeradas, Lagoas de estabilização e os DAFAs,

combinados, são aplicados nas ETEs da EMBASA de Feira Santana, buscando

atender as leis e resoluções do CEPRAM e CONAMA quanto as disposições

finais dos efluentes.

De todos os processos mencionados, a NBR 13969/1997 faz menção

quanto às formas de dimensionamento, a eficiência obtida e as corretas

associações para o tratamento primário e secundário. Salvo o tratamento com

DAFA, que vêm sendo largamente empregado, mas que na época de

publicação da norma encontrava-se em estágio de estudo aprofundado,

recebendo apenas uma citação quanto ao processo de digestão anaeróbia.

3.3 APLICAÇÃO DA DIGESTÃO ANAERÓBIA AO TRATAMENTO DE ESGOTO

Segundo Haandel e Lettinga (1994), sistema de tratamento anaeróbio

tenderá a desenvolver uma população bacteriana compatível com a natureza

do material orgânico e das cargas orgânica e hidráulica.

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O Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente Através do Leito de Lodo

(RAFAALL) tem origem no tanque "Hidrolítico" de Travis ou, mais

propriamente, no tanque "Biolítico". Este tipo de reator é um reator de lodo

ativo sobre a fase líquida, com biomassa não aderida e leito pouco expandido.

Na década de 70 foi desenvolvida, na Holanda, uma versão moderna do

RAFAALL chamada UASB (Uperflow Anaerobic Sludge Blanket), que foi

desenvolvido originalmente para águas residuárias industriais, mas que, este

modelo de reator, cujo dispositivo mais peculiar é o separador de fases, teve

aplicações satisfatórias para o tratamento de esgotos sanitários, de modo que

este sistema vem sendo aplicado em grande escala em regiões de clima

quente, devido a característica do seu tratamento anaeróbio (ANDRADE

NETO, 1997).

O UASB que no Brasil inicialmente foi nomeado como digestor

anaeróbio de fluxo ascendente (DAFA) foi desenvolvido na década de 70 pelo

Prof. Lettinga e sua equipe, na Universidade de Wageningen - Holanda.

Saliente-se aqui, que a Holanda tem se destacado a partir do final dos anos 60

pelo substancial avanço no campo da tecnologia da clarificação de águas

residuárias (HAANDEL E LETTINGA, 1994).

Inicialmente a tecnologia DAFA foi desenvolvida para tratamento de

águas residuárias industriais concentradas. A idéia de testar o processo UASB

para tratamento de águas residuárias domésticas nasceu de discussões sobre

tecnologias apropriadas para países em desenvolvimento e seus testes tiveram

início em 1976 (Kooijmans et al, 1986). Aos poucos, este estudo foi sendo

desenvolvido, principalmente para condições tropicais, com o pioneirismo do

seu emprego em escala real feito em Cali, na Colômbia, sob supervisão dos

seus criadores, os holandeses. O sucesso em Cali deu impulso à credibilidade

da tecnologia de modo que este tipo de reator também foi levado para às

condições indianas e unidades operacionais foram instaladas e estão em

funcionamento desde 1989, em Kanpur e Mirzapur, cidades às margens do Rio

Ganges (CAMPOS, 1999).

Em tratamento de esgoto “maduro” (tendo uma população de

microorganismo compatível com o material orgânico afluente) são importantes

para a eficiência do sistema: fatores da natureza do material orgânico a ser

digerido; existência de fatores ambientais adequados para a digestão

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anaeróbia; o tamanho da população bacteriana (eficiência de retenção de lodo

no sistema); intensidade de contato entre material orgânico afluente e a

população bacteriana e o tempo de permanência do esgoto no sistema de

tratamento.

Nestes sistemas anaeróbios existem quatro processos de suma

importância para o funcionamento adequado:

• A hidrólise, que é onde o material orgânico particulado é convertido em

compostos dissolvidos de menor peso molecular. Na prática de tratamento

de esgoto, a taxa de hidrólise pode ser o fator limitante para todo o

processo da digestão anaeróbia;

• A acidogênese, que após os compostos dissolvidos, gerados na hidrólise,

estes são absorvidos nas células das bactérias fermentativas, excretando

substâncias orgânicas simples como ácidos graxos voláteis, álcoois, ácido

lático, e compostos minerais, responsáveis pelo consumo do oxigênio

dissolvido, substância tóxica para as bactérias anaeróbias, caso não seja

removido pela acidogênese facultativa;

• A acetogênese que é conversão dos produtos da acidogênese em

compostos que formam os substratos para a produção de metano, acetato,

hidrogênio e dióxido de carbono;

• A metanogênese, que é o passo que limita a velocidade do processo de

digestão como um todo.

Este processo, de um modo geral, relaciona-se com a cinética da

digestão ou o metabolismo bacteriano.

3.4 O FUNCIONAMENTO DO DAFA

O DAFA em sua coluna ascendente consiste de um leito de lodo, uma

zona de sedimentação e o separador de fases. Este separador de fases é um

dispositivo característico do digestor e tem a finalidade de dividir a zona de

digestão (parte inferior), onde se encontra a manta de lodo responsável pela

digestão anaeróbia e a zona de sedimentação (parte superior). A água

residuária, que segue uma trajetória ascendente dentro do digestor, desde sua

parte mais baixa, atravessa a zona de digestão escoando a seguir pelas

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passagens do separador de fases e alcançando a zona de sedimentação

(HAANDEL e LETTINGA, 1994).

A água residuária após entrar e ser distribuída no fundo do digestor, não

importando a forma de sua chegada, flui pela zona de digestão, onde se

encontra o leito de lodo, ocorrendo à mistura do material orgânico bruto com o

lodo já existente. Neste leito, os sólidos orgânicos suspensos são quebrados e

biodegradados, resultando na produção de biogás e no crescimento da

biomassa bacteriana. O biogás segue em trajetória ascendente com o líquido,

após este ultrapassar a camada de lodo, em direção ao separador de fases

(ANDRADE NETO, 1995).

No separador de fases, as partículas sólidas restantes e o liquido

seguem um caminho (câmara de decantação) e o gás outro (câmara de

acumulação do biogás). Na câmara de sedimentação ocorre a separação da

fase sólida restante da fase líquida. A parte sólida desse pela ação da

gravidade em direção à câmara de digestão e a parte líquida é coletada em

calhas, na superfície do digestor e segue em direção à unidade seguinte. Na

parte interna do separador de fases fica a câmara de acumulação do biogás

que se forma na zona de digestão. A área disponível para o escoamento

ascendente do líquido deve ser de tal forma que o líquido, ao se aproximar da

superfície líquida livre os flocos de lodo não sejam arrastados pelas condições

hidráulicas, ou seja, as partículas tenham sua velocidade de sedimentação

reduzida (ANDRADE NETO, 1997).

Na parte interna do separador de fases fica a câmara de acumulação do

biogás que se forma na zona de digestão. O projeto do DAFA garante pré-

requisitos para digestão anaeróbia eficiente: através do escoamento

ascensional do afluente passando pela camada de lodo, do decantador interno

que garante a retenção de uma grande massa de lodo no digestor. Com o fluxo

ascendente a estabilização da matéria orgânica ocorre na zona da manta de

lodo, não havendo necessidade de dispositivos de mistura, pois esta é

promovida pelo fluxo ascensional e pelas bolhas de gás (HAANDEL e

LETTINGA, 1994).

Existe a obrigatoriedade de se dotar o reator anaeróbio de condições

físicas que sejam favoráveis à imobilização em flocos ou grânulos da biomassa

ativa, ao mesmo tempo em que se garanta sua retenção. Dentro dele constitui-

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se no principal fator de estabelecimento da configuração adequada, visto que a

desagregação ou perda de lodo já imobilizado em maior ou menor quantidade

terá muito a ver com a paralela eficiência do reator.

A mistura e contato da matéria orgânica, a ser biodegradada, com a

biomassa, a imobilização em colônias de massa viva e a sua retenção podem

ser favorecidos com a agitação promovida pela geração e movimentação

ascensional do biogás, porém esgotos muitos diluídos dependerão muito mais

das condições hidráulicas em virtude da pequena produção gasosa.

Os reatores anaeróbios de manta de lodo foram inicialmente concebidos

para tratamento de efluentes industriais como estruturas cilíndricas ou

prismático-retangulares, nos quais as áreas dos compartimentos de digestão e

de decantação eram iguais, configurando-se, portanto, reatores de paredes

verticais. A adaptação destes reatores para tratamento de águas residuárias de

baixa concentração (como os esgotos domésticos) tem levado a diversos tipos

de configuração, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 Figura 1 Figura 1 Figura 1 –––– Formas Formas Formas Formas de de de de seções transversais de seções transversais de seções transversais de seções transversais de projetoprojetoprojetoprojeto d d d doooo DAFADAFADAFADAFA

Em relação à forma dos reatores em planta, estes podem ser circulares

ou retangulares. Os reatores de seção circular são mais econômicos do ponto

de vista estrutural, sendo mais utilizados para atendimento a pequenas

populações, usualmente com uma unidade única. Para atendimento a

populações maiores, quando a modulação se torna necessária, os reatores

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retangulares passam a ser mais indicados, uma vez que uma parede pode

servir a dois módulos contíguos (HAANDEL e LETTINGA, 1994).

No projeto de DAFA para tratamento de esgotos de baixa concentração,

o dimensionamento é feito pelo critério de carga hidráulica e não pela orgânica.

Nesta situação, a velocidade ascendente nos compartimentos de digestão e de

decantação passa a ser de fundamental importância: velocidades excessivas

resultam na perda de biomassa do sistema, reduzindo a estabilidade do

processo. Como conseqüência, a altura do digestor deve ser reduzida

aumentando-se sua seção transversal, a fim de garantir a manutenção das

velocidades ascensionais dentro das faixas adequadas.

A quantidade de esgotos aplicada diariamente ao reator, por unidade de

volume deste, chama-se de carga hidráulica volumétrica. O tempo de detenção

hidráulica é o inverso da carga hidráulica volumétrica. De acordo com estudos

experimentais a carga volumétrica não deve ultrapassar o valor de 5,0

m3/m2.dia, o que equivale a um tempo de detenção mínimo de 4,8 horas

(ANDRADE NETO, 1997).

Uma das rotinas operacionais mais importantes neste sistema de

tratamento consiste em avaliar a quantidade de biomassa presente no reator

através da determinação do perfil dos sólidos e da massa de microrganismos

presentes no sistema e a atividade metanogênica específica desta massa.

Esse monitoramento possibilitará à operação maior controle sobre os sólidos

do sistema, identificando a altura do leito de lodo no reator, possibilitando o

estabelecimento de estratégias de descarte (quantidade e freqüência) e

determinação dos pontos ideais de descarte do lodo, em função dos resultados

dos testes de atividade metanogênica específica e das características do lodo.

A avaliação do lodo anaeróbio também é importante no sentido de

classificar o potencial da biomassa na conversão de substratos solúveis em

metano e dióxido de carbono. Para que essa biomassa possa ser preservada e

monitorada, torna-se necessário o desenvolvimento de técnicas para a

avaliação da atividade microbiana dos reatores anaeróbios, notadamente as

bactérias metanogênicas (HAANDEL E LETTINGA, 1994).

Um aspecto operacional importante em um sistema com lodos em

suspensão como no caso do DAFA é a descarga de lodo de excesso. A

sistemática de descarte do lodo destina-se a extração periódica de parcela

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deste lodo, que cresce em excesso no reator, possibilitando também a retirada

de material inerte que eventualmente venha a se acumular no fundo do reator.

Este descarte tem que obedecer duas recomendações básicas: a

retirada deve ocorrer quando a capacidade de retenção do reator estiver

exaurida e o residual deve ficar em um mínimo de modo que não haja prejuízo

na continuidade do processo de digestão da matéria orgânica afluente. Devem

ser previstos pelo menos dois pontos de descarte, um junto ao fundo e outro a

aproximadamente 1,0 a 1,5 metros acima, dependendo da altura do

compartimento de digestão, de forma a propiciar maior flexibilidade

operacional. Recomendam-se tubos ou mangotes de 100 milímetros de

diâmetro para escoamento do lodo de descarte (ANDRADE NETO, 1997).

Nos DAFAs, o controle do fluxo ascendente é essencial, pois, a mistura

e retenção da biomassa adequada, permitem que o lodo permaneça em

suspensão com uma mobilidade limitada em um espaço na vertical do interior

do reator. A mistura do afluente com essa biomassa é favorecida pela agitação

hidráulica promovida pelo fluxo ascensional, por efeitos de convecção térmica e

do movimento permanente de bolhas de gases produzidos no processo

digestivo da atividade bacteriana. É provável que ocorram situações em que o

movimento ascensional das bolhas gasosas seja o mais importante no

processo de mistura.

Essa dinâmica é essencial para que o processo anaeróbio por meio

desse tipo de reator de manta de lodo se desenvolva e se mantenha em

elevada atividade e com ótima capacidade de sedimentação.

O desenvolvimento do lodo anaeróbio é resultante da transformação da

matéria orgânica no sistema. Como este crescimento é contínuo, isto implica

na necessidade periódica de descarte de parcela do volume de lodo

acumulado, como certamente teria de ocorrer com qualquer outro sistema de

tratamento de afluentes de águas residuárias, sob pena de o processo perder

eficiência na qualidade do efluente.

Caso não haja uma boa separação das fases sólido-líquida, fazendo

com que no reator permaneça a biomassa ao longo de toda sua coluna, e/ou

não sejam feitos descartes periódicos adequados, haverá excesso de lodo

perdido através do efluente, reduzindo a qualidade de seu efluente. O tempo de

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detenção hidráulica também é um fator importante nesta consideração e, na

maioria das vezes, deve estar entre 6 e 10 horas (CAMPOS, 1999).

Para que se tenha controle destes fatores negativos, faz-se necessária

uma avaliação da DQO do efluente decantado. Este procedimento é obtido

com a decantação desse efluente por uma hora em cone Imhoff por uma hora,

sendo que este decantado deve produzir um valor de 40 a 20 % de valor da

DQO do afluente (CAMPOS, 1999).

O tratamento de esgotos utilizando o DAFA constitui um método

eficiente e relativamente de baixo custo para se removerem matéria orgânica e

sólida em suspensão, diminuindo consideravelmente o potencial poluidor dos

esgotos após o tratamento.

Para um mesmo tempo de detenção a razão área/profundidade não influi

marcadamente sobre a eficiência de remoção do material orgânico e a massa

de sólidos voláteis varia muito pouco com o tempo de detenção e a

configuração dos reatores.

Enquanto o reator não estiver cheio de lodo, uma parte do lodo

produzido acumular-se-á no seu interior, enquanto outra parcela será

descarregada junto com o afluente. Esta parte descarregada cresce com a

redução do tempo de detenção hidráulica Para evitar que o lodo produzido seja

descarregado junto com o efluente, diminuindo a qualidade, periodicamente

são executadas descargas de lodo de modo a aliviar o volume de material

sólido acumulado no interior do reator.

Normalmente a capacidade de digestão do lodo acumulado num DAFA

tratando esgoto doméstico é muito maior do que a carga orgânica de modo que

se podem dar descargas grandes de lodo de excesso sem prejudicar a

eficiência ou a estabilidade operacional do reator. Para tempos de detenção

hidráulica de 4 a 8 horas é possível dar descargas de 50 a 60% da massa de

lodo sem prejuízo do seu desempenho. Descargas de 80 % resultam numa

redução temporária da eficiência de remoção da DQO e um aumento da

concentração de ácidos voláteis no efluente, sem, contudo ameaçar a

estabilidade operacional.

O lodo também pode conter uma fração orgânica inerte que se origina

da floculação de matéria orgânica biodegradável, mas particulado presente no

afluente e, dependendo das condições operacionais, é possível que apareçam

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no efluente juntamente com outras partículas não metabolizadas, resultante de

inadequadas condições hidráulicas ou de população bacteriana insuficiente.

Outro problema que pode afetar o rendimento é volume do resíduo endógeno

que, sabe-se, cresce com o prolongamento do período de atividade da massa

bacteriana.

No DAFA as camadas inferiores da biomassa invariavelmente são mais

densas e estacionárias que as superiores, até mesmo como conseqüência da

menor presença ou passagem de bolhas de gás à medida que se aprofunda

mais o leito. O importante é que o mecanismo de entrada do afluente e a

agitação hidráulica sejam suficientes para não favorecerem a formação de

zonas mortas e o aparecimento de caminhos preferenciais ou curtos-circuitos

hidráulicos, empobrecendo a mistura da matéria orgânica com a biomassa.

Independentemente da maior ou menor eficiência do reator, o lodo

formado sempre terá uma fração de material inorgânico em função da

floculação de sólidos minerais suspensos presentes no afluente ou da

presença de sais insolúveis gerados no interior do próprio reator. Essas

partículas inertes normalmente se encontram envolvidas completamente por

uma massa de bactérias, o que dificulta a quantificação da biomassa.

Enquanto o reator não estiver cheio de lodo, uma parte do lodo

produzido acumular-se-á no seu interior, enquanto outra parcela será

descarregada junto com o afluente. Esta parte descarregada cresce com a

redução do tempo de detenção hidráulica Para evitar que o lodo produzido seja

descarregado junto com o efluente, diminuindo a qualidade, periodicamente

são executadas descargas de lodo de modo a aliviar o volume de material

sólido acumulado no interior do reator. Normalmente a capacidade de digestão

do lodo acumulado em um DAFA tratando esgoto doméstico é muito maior do

que a carga orgânica de modo que se podem dar descargas grandes de lodo

de excesso sem prejudicar a eficiência ou a estabilidade operacional do reator.

Segundo Medeiros et al., 1998, para tempos de detenção hidráulica de 4 a 8

horas é possível dar descargas de 50 a 60% da massa de lodo sem prejuízo do

seu desempenho. Descargas de 80 % resultam numa redução temporária da

eficiência de remoção da DQO e um aumento da concentração de ácidos

voláteis no efluente, sem, contudo ameaçar a estabilidade operacional.

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O lodo também pode conter uma fração orgânica inerte que se origina

da floculação de matéria orgânica biodegradável, mas particulado presente no

afluente e, dependendo das condições operacionais, é possível que apareçam

no efluente juntamente com outras partículas não metabolizadas, resultante de

inadequadas condições hidráulicas ou de população bacteriana insuficiente.

Outro problema que pode afetar o rendimento é volume do resíduo endógeno

que, sabe-se, cresce com o prolongamento do período de atividade da massa

bacteriana.

A aceitação do reator anaeróbio como principal unidade de tratamento,

deve-se à constatação de que esta unidade pode remover em torno de 70 % da

matéria orgânica sem dispêndio de energia externa ou adição de substâncias

químicas. Assim unidades posteriores podem ser usadas sem cuidados prévios

para remoção de parcelas remanescentes.

Estações mistas de tratamento de esgotos têm sido projetadas com

muita freqüência ultimamente e funcionado satisfatoriamente, com unidades

anaeróbias seguidas de aeróbias, trazendo melhores resultados, aliados a

menores custos que as tradicionais exclusivamente aeróbias.

A vazão de projeto é o parâmetro inicial mais importante para

dimensionamento de uma unidade de tratamento de esgotos. No caso

específico de DAFAs que operam a taxas elevadas (TDH entre 4 e 6 horas),

variações bruscas de vazão podem levar a sobrecargas hidráulicas

volumétricas, reduzindo o desempenho dessas unidades pois, quando há

perdas de sólidos biológicos conseqüentemente há queda no rendimento do

reator.

Especificamente, os sistemas coletores de esgotos domésticos são

caracterizados por apresentarem significativas variações de vazão. Nos

coletores de esgotos as flutuações mais interessantes para efeito de projeto

são as horárias e dependem da simultaneidade das descargas e das distâncias

a serem percorridas até as unidades de tratamento. As variações diárias e

mensais, as quais estão diretamente relacionadas com a curva de consumo de

água, dependem, pois, dos fatores que afetam o comportamento desta curva e

com as possíveis infiltrações subterrâneas e ligações clandestinas de águas de

origem pluvial.

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Na entrada das estações de tratamento, em função da extensão da rede,

estas flutuações podem estar amortecidas, considerando que, hidraulicamente,

quanto maior o percurso maior será o amortecimento dos picos de vazão,

associado à defasagem entre os pontos de contribuição distribuídos ao longo

da rede coletora.

Porém, nem sempre é possível reunir todas as vazões em um só destino

final a não ser que sejam projetados recalques de uma ou mais bacias de

esgotamento para uma canalização a jusante (sistemas distritais), originando

pulsos de vazões bombeadas que poderão ocorrer de forma simultânea com

outros efluentes de elevatórias, alterando sensivelmente a vazão de trabalho

da unidade de tratamento e reduzindo, pois, seu tempo de detenção e,

consequentemente, seu rendimento.

Em geral, quando se deseja projetar sistemas de esgotos sanitários,

recomenda-se que as variações de vazão sejam cuidadosamente avaliadas,

através de dados de campo ou de dados de áreas com características

semelhantes à desejada, ao invés de adotarem-se dados da literatura.

A vantagem do DAFA está relacionando com a sua eficiência de

remoção de DBO e de sólidos, é o seu curto tempo de detenção hidráulica, em

torno de 6 horas para remoção de cerca de 80 por cento da DBO e 75 por

cento dos sólidos em suspensão. Em sistemas de lodo ativado e em lagoas de

estabilização o tempo de permanência é da ordem de 12 a 24 h e de 20 a 30

dias respectivamente.

A razão área/profundidade não tem influência significativa sobre o seu

desempenho, podendo os valores de área em planta e a profundidade serem

determinados principalmente pelos custos de construção e as características

do terreno disponível para sua construção (Andrade Neto, 1997).

O DAFA é um sistema que não causa transtornos para a população

beneficiada: O sistema é "invisível" (enterrado), não espalha odores e não

causa proliferação de insetos. A produção de lodo biológico é pequena e o lodo

de excesso já sai estabilizado e com concentração elevada, podendo ser

secado diretamente em leitos de secagem. Sua operação e manutenção são

extremamente simples podendo ser feito por pessoal não especializado:

precisa-se reter areia e desentupir tubulações obstruídas. A construção do

DAFA é simples podendo ser usados materiais e mão de obras locais. Os

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custos de construção e de operação tendem a ser bem menores que os de

outros sistemas de tratamento de esgoto (HAANDEL E LETTINGA, 1994).

Porém, o DAFA apresenta uma desvantagem em relação a sua baixa

eficiência quanto à remoção de patógenos e nutrientes, sendo isto bastante

compreensível, considerando-se o baixo tempo de detenção hidráulica deste

tipo de digestor. Entretanto, este tipo de digestor pode ser usado, por exemplo,

em combinação com lagoas de estabilização, podendo-se obter um efluente de

boa qualidade higiênica em um sistema que ocupa menos que metade da área

necessária para um sistema de lagoas convencionais. Por outro lado, a

combinação do DAFA com um sistema de lodo ativado permite obter uma

qualidade excelente do efluente, tendo-se menos que metade do volume de

reatores, da produção de lodo e do consumo de oxigênio de um sistema

convencional de lodo ativado. Dessa maneira, tanto no caso de se aplicar

lagoas de estabilização como no caso de lodo ativado é sempre uma excelente

providência ter um DAFA como pré-tratamento de águas residuárias

domésticas (ANDRADE NETO, 1997).

A aceitação do DAFA como principal unidade de tratamento, deve-se à

constatação de que esta unidade pode remover em torno de 70 % da matéria

orgânica sem dispêndio de energia externa ou adição de substâncias químicas.

Assim unidades posteriores podem ser usadas sem cuidados prévios para

remoção de parcelas remanescentes.

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4. CONSIDERAÇÕES DE PROJETO DO SISTEMA DE DAFA EM SÉRIE DA ETE DO CONJUNTO VIVEIROS “A”

4.1 DESCRIÇÃO DA ETE

A ETE do conjunto Viveiros “A” é uma estação de tratamento de esgoto

do bairro Viveiros composta por três pares de DAFAs em série, situado na

cidade de Feira de Santana-BA. O seu tratamento fora estimado para uma

população de renda menor que três salários mínimos e em um total de 3.560

habitantes.

A geometria dos DAFAs é circular, constituído de paredes em concreto

armado e defletor em fibra de vidro. O seu volume é de 129,1 metros cúbicos.

O tratamento é distribuído em preliminar, primário e secundário, sendo

que o preliminar ocorre por gradeamento e desarenação em caixas de areia de

fluxo horizontal com medidor de vazão através de regime crítico, tipo calha

parshall. O tratamento primário e secundário ocorre pela passagem nos dois

digestores anaeróbios de fluxo ascendente em série, com tempo de detenção

hidráulica de 10 horas cada (20 horas no total), para vazão média.

A Equação da Eficiência Final (Ef) em remoção da DBO para dois

digestores em série de é dada pela expressão:

)1( 121 EEEE f −+=

Sendo:

Ef, a eficiência ao final ou total do processo de tratamento,

E1 e E2, a eficiência individual de cada um dos digestores.

Onde E1 = 80% e E2 = 80% (considerações de projeto) para a ETE Viveiros

“A”

Ef = 0,8 + 0,8 x (1-0,8) = 0,8 + 0,16 = 0,96 (96%).

Para a ETE Viveiros “A”, foi adotado estimado projeto:

Concentrações (mg DBO5 /l)

ETE AFLUENTE EFLUENTE EFICIÊNCIA

Viveiros "A" 587,1095 23,5484 96%

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Para uma vazão média 309.830,40 l/dia (3,586 l/s) e uma carga orgânica

de 587,1 mg/l a carga orgânica total estimada é de 181,9 kg DBO5 / dia.

A carga estimada de DQO fora 1,47 da DBO, ou seja, 267,4 kg/dia. Este

dado permite inferir que a concentração afluente de DQO, em projeto, é de

863,0 mg/l.

4.2 METODOLOGIA

4.2.1 Tipo de Pesquisa

A pesquisa desenvolvida classifica-se como exploratória e descritiva.

Exploratória devido ao estudo que será realizado, abordando coleta de

amostras de efluente de esgoto e descritiva, porque se propõe a descrever a

eficiência real do sistema de tratamento do esgoto doméstico composto por

DAFAs em série.

Esse tipo de pesquisa também irá envolver levantamento bibliográfico.

O levantamento bibliográfico é elaborado a partir de material já publicado,

constituído por livros, artigos de periódicos e atualmente com material

disponibilizado pela internet (GIL, 1991).

Tal estudo apresenta-se como inovador na área de tratamento do esgoto

doméstico, a considerar a sistemática de funcionamento (de DAFAs em série)

pouco usual no cenário nacional; quiçá internacional, haja vista ausência de

menção desta forma de tratamento do esgoto doméstico.

Como a pesquisa trata de confronto dos dados levados em consideração

em fase de projeto com os de funcionamento, foram necessárias coletas de

amostras do esgoto nos pontos importantes para o estudo (afluente do primeiro

DAFA, afluente do segundo DAFA e efluente do segundo DAFA). Estes dados

subsidiarão o estudo da eficiência dos DAFAs em série.

4.2.2 Levantamento documental

Foram pesquisados arquivos da EMBASA em Feira de Santana-BA na

busca de informações sobre o projeto e a operação da ETE em estudo. O

memorial de cálculo da ETE do Viveiros “A”, apresentou dados relevantes para

o estudo em questão.

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4.2.3 Levantamento bibliográfico

Foram feitos estudos sobre o funcionamento do DAFA e sua relação no

tratamento de esgoto doméstico. Tendo-se em vista a paulatina aplicação

deste sistema de tratamento nas mais diversas estações de tratamento dos

esgotos domésticos do mundo, principalmente nas regiões de clima quente.

O estudo de caso envolve um estudo detalhado e exaustivo de um ou

poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado

conhecimento. De maneira que a análise de uma unidade de determinado

universo possibilita a compreensão da generalidade do mesmo, ou pelo menos,

o estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais sistemática

e precisa.

O levantamento irá investigar dúvidas, ainda existentes, a cerca do

tratamento com DAFA e a ausência, em dados reais, de estudos sobre a

eficiência do mesmo operando em série.

4.2.4 Observações de campo

A ETE do Conjunto Viveiros “A” exposta na Figura 2, opera sob

manutenção diária da EMBASA e apresenta resultados satisfatórios quanto a

qualidade final do seu efluente.

Figura 2: Estação de Tratamento de Esgoto do Viveiros “A”.

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4.2.5 Local da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida em dois DAFAs em série, da ETE Viveiros

“A”, localizada no Bairro Viveiros em Feira de Santana-BA.

A ETE em questão faz parte da bacia do jacuípe e apresenta um

funcionamento satisfatório, do ponto de vista de operação e manutenção.

4.2.6 Parâmetros pesquisados

Os parâmetros selecionados para levantamento de dados foram DBO e

DQO da entrada e saída dos dois DAFAs em serie. Não foram realizadas as

análises físico-química de sólidos sedimentáveis das amostras, mesmo tendo

conhecimento de sua relevância para o estudo, devido à limitações de material

do LABOTEC.

Sabendo que a caracterização final de um efluente depende da

realização de vários ensaios (ph, fosfato, oxigênio dissolvido e consumido,

sólidos totais, sólidos voláteis sólidos fixos), o estudo em questão limitou-se ao

estudo da DBO e DQO, por se tratarem de parâmetros confiáveis na

determinação da eficiência do sistema de tratamento.

4.2.7 Pontos de Coleta

As coletas foram realizadas no afluente do primeiro DAFA, afluente do

segundo DAFA e efluente do segundo DAFA, da ETE do Conjunto Viveiros “A”.

Com a intenção de se obter a DBO e DQO na entrada do DAFA 1 e saída

deste (conseqüentemente entrada no DAFA 2) e saída final no DAFA 2.

4.2.8 Período de amostragem

O período de amostragem foi de junho a agosto de 2008, em um total de

quatro amostras. Este período fora definido em função da disponibilidade de

recebimento (e posterior realização do ensaio) por parte do LABOTEC; outro

fator importante na quantificação das amostras diz respeito à disponibilidade do

operador das ETEs da EMBASA, que não dispunha de tempo hábil para

acompanhamento e realização de mais ensaios. Portanto, a definição da

quantidade das amostras ficou relacionada a aspectos técnicos e operacionais,

para a realização dos ensaios.

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4.2.9 Hora da amostra

As amostras foram coletadas na parte da manhã, devido a

disponibilidade do operador da EMBASA e o horário de recebimento das

amostras por parte do Laboratório de Tecnologia (LABOTEC) da Universidade

Estadual de Feira de Santana.

4.2.10 Quantidade de amostras

Foi realizado um total de quatro coletas de afluente e efluente dos

DAFAs como amostra representativa para o estudo, e em conformidade com as

disponibilidades do LABOTEC e operador da EMBASA.

A medida da vazão foi realizada em um período de cinco dias, pela

manhã e tarde de cada dia, com o intuito de se obter a vazão média de entrada

nos DAFAs.

4.2.11 Coleta da amostra, armazenamento e transport e

As amostras foram coletadas seguindo às recomendações técnicas do

LABOTEC e acompanhadas por um profissional habilitado da EMBASA. E

foram realizadas na parte da manhã de todos os dias de coleta.

Após as coletas, as amostras foram devidamente condicionadas e

imediatamente transportadas ao LABOTEC para os procedimentos de entrada

neste e conseqüente realização dos ensaios.

4.2.12 Determinação das análises

As analises de DBO, Figura 3 e DQO Figura 4, foram realizadas no

Laboratório de Tecnologia - LABOTEC da Universidade Estadual de Feira de

Santana - UEFS, conforme estabelece o Standard Methods For The

Examination of Water and Wastwoter, 19ª Edition.

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Figura 3 – Equipamento usado para ensaio de DBO

Figura 4 – Equipamento para ensaio de DQO

A realização dos ensaios foi supervisionada pelos técnicos do LABOTEC

e os resultados dos ensaios disponibilizados após o período de dez dias.

4.2.13 Avaliação dos resultados

O estudo a ser realizado avaliou a eficiência na remoção de DBO e DQO

dos DAFAs em série; coletando as amostras, na entrada do afluente no

primeiro DAFA, na saída do efluente do primeiro DAFA e entrada deste no

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segundo e no efluente do segundo. De posse destes dados e dos dados de

projeto, será aferida a eficiência do sistema de tratamento composto por

DAFAs em série.

Os resultados de DBO e DQO obtidos foram tabulados em quadros, e as

eficiências dos DAFAs foram calculadas individuais e em série. Com os

resultados obtidos nas analises foi feita a comparação com os resultados

obtidos de projeto e os obtidos de forma teórica.

4.3 TRATAMENTO DOS DADOS

Por se tratar de um trabalho comparativo, os dados coletados seguiram

o mesmo procedimento de tratamento, para fins de cálculo, do projetado. Pois,

é uma forma de atestar as condições de projeto com as de funcionamento.

Os resultados foram relacionados e tabulados, utilizando o programa

Excel Windows 2003, para comparação entre sistema projetado e o posto em

funcionamento.

Os dados referentes à eficiência na remoção da Demanda Química de

Oxigênio (DQO) serão avaliados a partir dos dados coletados, pois não fora

estipulada em projeto. Sendo avaliadas condições do sistema de DAFAs em

série, de forma teórica e prática; ou seja no afluente e efluente de cada

digestor.

A eficiência do sistema será mensurada a partir da fórmula, para DBO:

100]/)[( ×−= AFEFAFDBO DBODBODBOE

O mesmo raciocínio se aplica para a DQO:

100]/)[( ×−= AFEFAFDQO DQODQBODQOE

Todos os dados obtidos foram comparados com os limites estabelecidos

em projeto.

Segundo Chernicharo (2007), a eficiência do DAFA está associada ao

Tempo de Detenção Hidráulica (TDH). Tal conclusão está baseada em

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estudos, realizados em escala piloto pela International Water Association

(IWA).

Este estudo conclui que o TDH influencia a remoção da DBO de 40% a

80% e a remoção da DQO de 40% a 90%, sugerindo as seguintes equações

para constatação prática e dimensionamento dos DAFAs:

50,070,01(100 −−= xTDHxEDBO

Na qual:

EDBO = Eficiência do DAFA, em termos de remoção de DBO (%);

TDH = Tempo de Detenção Hidráulica;

0,70 = Constante empírica;

0,50 = Constante empírica;

35,068,01(100 −−= xTDHxEDQO

Na qual:

EDQO = Eficiência do DAFA, em termos de remoção de DQO (%);

TDH = Tempo de Detenção Hidráulica;

0,68 = Constante empírica;

0,35 = Constante empírica;

A estimativa da concentração, no efluente final, de DBO e DQO é

definida pela seguinte equação:

100/)( OFO SESS ×−=

Na qual:

S = Concentração final de DBO ou DQO no efluente (mg/l);

So = Concentração final de DBO ou DQO no afluente (mg/l);

EF = Eficiência de remoção de DBO ou DQO (%);

Aplicando estas equações na análise dos dados coletados, pode-se

obter a eficiência prática do sistema, mesmo que este apresente um sistema

composto por DAFAs em série. Pois o raciocínio aplicado, em projeto, fora o

mesmo de um sistema individual.

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Para tanto, se deve seguir o cálculo das eficiências para todas as

amostras coletadas. Após estes cálculos, foi confrontadas as eficiências de

projeto com as constatadas na prática; para se obter um panorama real da

eficácia no tratamento de esgotos domésticos utilizando-se um sistema

composto por DAFAs em série.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para o cálculo da vazão média final do sistema, foram feitas medidas

diárias em uma Calha Parshall de três polegadas, as leituras das lâminas de

esgoto podem ser observadas no Quadro 1.

QUADRO 1 – Leituras da lâmina de esgoto, em centíme tros, obtidas na Calha Parshall de

7,62 cm de garganta, na ETE do Conjunto Viveiros A.

TURNO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA

Matutino 4,0 4,0 4,0 4,5 4,0

Noturno 7,5 8,0 7,0 8,5 7,0

De posse das leituras na calha Parshall pode-se obter a vazão de cada

turno de coleta, aplicando-se equações ajustadas para a calha específica,

conforme se observa no Quadro 2.

QUADRO 2 – Vazões registradas na calha Parshall da ETE do Conjunto Viveiros A (l/s)

TURNO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA

Matutino 1,34 1,34 1,34 1,60 1,34

Noturno 3,44 3,79 3,10 4,15 3,10 Média Diária 2,39 2,57 2,22 2,88 2,22

Com estes resultados pode-se inferir que a vazão média do sistema foi

de 2,454 l/s. Com esta vazão, próxima da real, será avaliado os critérios de

projeto ao qual fora concebido o sistema de tratamento composto por DAFAs

em série.

Tempo de detenção hidráulica para a vazão média medida em campo

(2,454 l/s), para cada DAFA será:

TDH = VOLUME DO DAFA = 129,1 = 14,613 h.

VAZÃO MÉDIA 2,454X3,6

A vazão média encontrada (2,453 l/s) foi inferior á vazão média adotada

para o projeto (3,586 l/s). Observa-se que a vazão média de campo teve como

base medições em horas indicadas na literatura, ou seja, os consumos médios

ocorrem pela manhã entre 7 e 8 horas e à noite entre 18 e 20 h. Na pesquisa

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fez-se a leitura de vazão pela manhã e pela noite aproximadamente uma hora

antes do recomendado, conseqüentemente a medição da manhã deve ter

ficado abaixo da média e da noite a maior que a média, logo, o resultado médio

encontrado deve ser aproximadamente igual á media real da unidade.

Como a vazão média calculada foi menor que a vazão média adotada

em projeto, o TDH calculado (14,613) ficou superior ao estimado no projeto

(10,0 h). As concentrações finais de DBO e DQO calculadas conforme

metodologia de projeto segue regra inversa.

A estimativa da eficiência em DBO e DQO de um DAFA para a vazão

média, medida em campo (2,454 l/s) é:

EDBO = 81,7%.

EDQO = 73,4%

A estimativa da concentração, do efluente final, de DBO e DQO para a

vazão média (2,454 l/s) medida em campo é de:

SDBO = 107,441 mg/l para SoDBO = 587,1095 mg/l.

SDQO = 229,56 mg/l para SoDQO = 863,0 mg/l

Os resultados dos parâmetros de DBO e DQO medidos em campo para

cada amostra e media bem como a eficiência, no tratamento do sistema de

esgoto do conjunto Viveiros A estão registrados nos Quadro 3, 4, 5, 6, 7 e 8.

QUADRO 3 – Resultados e Eficiência parcial e total da primeira amostra

Tipo de

unidade

Local

da

coleta

DBO

(mg/l)

Eficiência

%

DQO

(mg/l)

Eficiência

%

DAFA 1 Entrada 500 1600

DAFA 1 Saída 140

72,0 680

57,5

DAFA 2 Saída 80 42,9 600 11,8

Eficiência Total DBO 84 DQO 62,5

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QUADRO 4 – Resultados e Eficiência parcial e total da segunda amostra

Tipo de

unidade

Local

da

coleta

DBO

(mg/l)

Eficiência

%

DQO

(mg/l)

Eficiência

%

DAFA 1 Entrada 700 3520

DAFA 1 Saída 145

79,3 800

77,3

DAFA 2 Saída 90 37,9 320 60

Eficiência Total DBO 87,1 DQO 90,9

QUADRO 5 – Resultados e Eficiência parcial e total da terceira amostra

Tipo de

unidade

Local

da

coleta

DBO

(mg/l)

Eficiência

%

DQO

(mg/l)

Eficiência

%

DAFA 1 Entrada 700 4200

DAFA 1 Saída 110

84,3 459

89,1

DAFA 2 Saída 60 45,6 231 71,5

Eficiência Total DBO 91,4 DQO 94,5

QUADRO 6 – Resultados e Eficiência parcial e total da quarta amostra

Tipo de

unidade

Local

da

coleta

DBO

(mg/l)

Eficiência

%

DQO

(mg/l)

Eficiência

%

DAFA 1 Entrada 550 1640

DAFA 1 Saída 85

84,5 640

61

DAFA 2 Saída 70 17,6 459 28,3

Eficiência Total DBO 87,2 DQO 72

QUADRO 7 – DBO e DQO média para todas as amostras

Tipo de

unidade

Local da

coleta

DBO(mg/l)

Campo

DBO(mg/l)

Projeto

DQO(mg/l)

Campo

DQO(mg/l)

Projeto

DAFA 1 Entrada 612,5 587,11 2740 863,0

DAFA 1 Saída 120 117,4 644,8 236,5

DAFA 2 Saída 75 23,5 402,5 64,8

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QUADRO 8 – Eficiência média DBO e DQ O de campo e de projeto

Unidade Ef. DBO

Campo

(%)

Ef. DBO

Projeto

(%)

Ef. DQO

Campo

(%)

Ef. DO

Projeto

(%)

DAFA 1 80,4 80,0 76,5 72,6

DAFA 2 37,5 80,0 37,6 72,6

DAFAs 1+ 2 87,8 96,0 85,3 92,5

Observando-se o Quadro 7, verifica-se que a DBO média de campo

(612,5 mg/l) para o primeiro DAFA foi pouco superior à DBO média adotada em

projeto (587,1095 mg/l). Quanto à DQO média, verifica-se que a medida em

campo (2.740 mg/l) se encontra muito superior à adotada em projeto (863,0

mg/l), diferença esta possivelmente decorrente de lançamentos de resíduos

orgânicos minerais, não biodegradáveis.

Conforme o Quadro 8 a medida das eficiências em remoção de DBO e

DQO (87,8 e 85,3 respectivamente) para os dois DAFA em série e para a

vazão média medida em campo ficaram inferiores às eficiências adotadas em

projeto (96,0 e 92,5 respectivamente). Incoerente, considerando que o tempo

de detenção real (14,603 h) ficou superior ao tempo de detenção adotado em

projeto (10,0 h) e a vazão de projeto (3,586 l/s) foi superior à vazão medida em

campo (2,454 l/s). A justificativa está nos fatos de que as eficiências do

primeiro DAFA ficaram muito próximas das adotadas em projeto, enquanto as

do segundo DAFA ficaram muito abaixo.

Verifica-se no Quadro 7 que a DBO média afluente ao 1º DAFA (612,5

mg/l) medida em campo ficou pouco superior à adotada em projeto (587,11

mg/l). Entretanto, para o efluente do 2º DAFA o valor da DBO medida em

campo (120,0 mg/l) se encontra pouco superior à estimada em projeto (117,4

l/s). Para o segundo DAFA o valor da DBO medida (75,0) ficou superior à

adotada em projeto (23,5).

Pelos dados do Quadro 8 verifica-se que os rendimentos medidos para o

primeiro DAFA (80,4% e 76,5% em DBO e DQO respectivamente) se

encontram próximos dos adotados em projeto (80,0% e 72,6% em DBO e DQO

respectivamente), enquanto os rendimentos medidos para o segundo DAFA

(37,5% e 37,6% em DBO e DQO respectivamente) são diferentes e inferiores

aos adotados em projeto (80,0% e 72,6% em DBO e DQO respectivamente). O

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resultado da eficiência medida no experimento no segundo DAFA se encontra

abaixo da eficiência adotada em projeto porque no 1º DAFA ocorre remoção de

matéria orgânica sedimentável e dissolvida e no 2º DAFA só ocorre remoção

de matéria orgânica dissolvida, o que se queria demonstras na hipótese

adotada.

6. CONCLUSÕES

A DBO e DQO médias medidas em campo se encontram superiores às

adotadas em projeto.

A DQO média medida em campo se encontra muito superior ao

esperado para esgoto sanitário, muito provavelmente decorrente de

lançamentos de matéria orgânica mineral.

A vazão média de esgoto medida em campo se encontre abaixo da

adotada em projeto, muito provavelmente decorrente do per capita de água real

ser inferior ao adotado no projeto.

A eficiência para o 1º DAFA e do 2º adotado em projeto foram iguais a

80%.

A eficiência para o 1º DAFA medida em campo se encontra muito

próxima da eficiência encontrada em projeto.

A eficiência do 2º DAFA medida em campo se encontra abaixo da

eficiência adotada em projeto, como esperado, ou seja, de acordo com a

hipótese do trabalho.

Para tratamento com DAFA em série, a eficiência a ser adotada para o

segundo DAFA não deve ser igual à do primeiro, para o experimento deve ser

da ordem de 46% da eficiência deste para remoção de DBO.

Como o sistema fora projetado para a obtenção da concentração final de

DBO emtorno de 23 mg/l e a concentração média medida foi de 75 mg/l, logo, o

sistema não atende à finalidade do projeto.

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7. RECOMENDAÇÕES

Quando houver necessidade de se remover mais que 70 - 80% da

matéria orgânica de um esgoto, utilizar ou não DAFA em série deve ser uma

decisão econômica e não só técnica.

Quando for necessário remover mais que 70 – 80% da matéria orgânica

utilizando DAFA em série para tratamento devem-se adotar rendimentos

diferentes para o primeiro e segundo. O segundo deve ser da ordem de 46%

do rendimento do primeiro, aplicado na DBO afluente ao segundo.

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8. REFERÊNCIAS

Van Haandel, C., Lettinga, G. (1994). Tratamento Anaeróbio de Esgotos: Um manual para Regiões de Clima Quente , Epgraf, Campina Grande-PB, 240 p. Andrade Neto, Cícero O. de (1997). Sistemas Simples para Tratamento de Esgotos Sanitários: Experiência Brasileira, ABES, Rio de Janeiro-RJ, 301p. GIL, Antonio Carlos, Como Elaborar Projetos de Pesquisa . São Paulo, Atlas, 1991. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de Pesquisa em

Administração. São Paulo: Atlas, 2006.

Jordão Pacheco, E., Pessoa Arruda, C. (1995). Tratamento de esgotos domésticos. 3ª ed. ABES, Rio de Janeiro-RJ, 720p. Manual de Saneamento . 3ª ed.rev. – Brasília: Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), 2006, 408 p. Campos, J. R. (1999). Tratamento de esgotos sanitários por processo anaeróbio e disposição controlada no solo, PROSAB, Abes, Rio de Janeiro, 435 p. Chernicharo, C. A. L. (2007). Reatores anaeróbios , 2ª Ed. SEGRAC, Belo Horizonte, 246 p. Medeiros Filho, C. F. (2000). Efeito da variação temporal da vazão sobre o desempenho de um reator UASB , Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Campina Grande – Brasil. MOTA, Suetônio. Introdução à Engenharia Ambiental . Rio de Janeiro, ABES, 1997.

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ANEXOS

Fotos da ETE do Conjunto Viveiros A.

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GRADE PARA RETENÇÃO DE SÓLIDOS GROSSEIROS, CAIXA PA RA RETENÇÃO DE

ÁRIA E CALHA PARSHALL PARA MEDIÇÃO DA VAZAO.

DAFA EM SÉRIE

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ETE DO CONJUNTO VIVEIROS A – UNIDADES EM SÉRIE

PONTO DE COLETA DO EFLUENTE DO 1º DAFA, AFLUENTE DO 2º.