Monografia Mestrado FAITE
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INTRODUÇÃO
Um dos temas mais importantes e falados na Bíblia é sem dúvida o Reino de
Deus e de igual modo, é um dos assuntos que tem gerado mais controvérsias e
debates sobre si na atualidade, bem como ao longo da história. É imprescindível que
aqueles que buscam viver no centro da vontade do Rei, conheçam os desígnios do
Reino e se esforcem por cumprir o que está na oração modelo: “venha o teu reino,
seja feita Tua vontade”.
O Reino tem se desenvolvido através da História da humanidade com os mais
diversos pensamentos e práticas, ora voltadas para o campo social ora voltadas
para o campo tido como espiritual e até mesmo sendo confundido com a Igreja. Uma
questão surge nesse ponto: Até onde a variedade de interpretações ao longo da
História, serviu de forma benéfica para nossa compreensão de Reino hoje? A Igreja
tem cumprido seu papel como súdita real?
Devido a imensidão de interpretações, cada vez fica mais difícil conceituar o
Reino em poucas palavras ou frases, talvez devido a sua grandeza ou devido a um
certo descaso com a totalidade das áreas onde cabem ações do Reino é que exista
tanta dificuldade em conceituá-lo de forma abrangente e clara. Ainda há muito o que
se responder, como quem são os verdadeiros súditos? Onde estão os domínios
físicos desse Reino, se é que existem? O Reino é unicamente espiritual? E como
aplicar as verdades sobre o Reino como a semente de mostarda?
Uma outra verdade incontestável é que há uma diferença muito clara entre a
Igreja e o Reino de Deus, embora nem sempre essa diferença fosse percebida,
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devido a insistência de divulgar a igreja como sendo a totalidade do Reino. E
justamente por não ser bíblica essa limitação, torna-se necessário que o Reino
desenvolva frutos na sociedade a qual está inserida. A liberdade sempre foi e é um
fruto real onde quer que seja pregado o Evangelho do Reino e essa libertação vinha
através da pregação da Palavra (Espiritual) e do serviço (social). Acreditava-se que
mudando a forma de pensar hoje, as próximas gerações padeceriam menos.
Outra entre tantas faces do Reino é o futuro. O estabelecimento do reinado
terreno do Messias, o triunfo de Cristo, a derrota de Satanás, o arrebatamento, o
milênio, a Nova Jerusalém, novos céus e nova terra. A tensão entre o “já” e o “ainda
não”, o mundo caminhando como um todo para uma nova “plenitude dos tempos”,
onde Ele mesmo “enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não
haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.” (Ap. 21).
Enfim, é fascinante buscar conhecer o Reino de Deus e Ele se revelará a todo
aquele que o buscar com sinceridade de espírito, coração quebrantado e disposto a
viver a vida totalmente para Ele, como se não houvesse amanhã.
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1. CONHECENDO O REINO
A oração modelo que Jesus ensinou tem em suas primeiras frases uma
em especial que é bastante interessante: “venha o teu reino”; tal frase tem
despertado em muitos o desejo de uma melhor compreensão acerca do Reino e sua
dinâmica.
No seu sentido amplo, o reino é um símbolo da vontade de Deus que
pode ser realizada em situações particulares através da obediência humilde, mas
que nunca é plenamente concretizada dentro das fronteiras da história por causa
das limitações humanas. O reino fala de uma tensão: como Cristo já veio ao mundo,
morreu e ressuscitou, há uma dimensão presente do reino. Como Cristo ainda não
voltou para pôr fim à realidade presente e instaurar os novos céus e terra, o reino é
também futuro. Assim sendo, o reino está presente em parte, mas a sua
manifestação final permanece uma esperança para o futuro. O cristão sabe que o
reino veio num novo sentido em Cristo, que ele pode vir na sua própria vida, mas
que ainda não veio plenamente. Desse modo, ele vive no mundo presente como um
cidadão obediente desse reino, ao mesmo tempo em que ora com esperança
confiante: “Venha o teu reino”.
Porque o reino é de Deus, ele não virá como resultado do esforço
humano. Não é sustentável a visão otimista de que o desenrolar da história está
trazendo os estágios finais do reino. Este não pode ser entendido como um conceito
evolutivo ou primariamente como um conceito moral e ético. Por outro lado, os
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cristãos sabem que devem orar e trabalhar para que o reino se faça cada vez mais
presente; eles sabem que, pelo menos em algumas áreas ou situações, a realidade
do reino pode se tornar mais palpável neste mundo caído. A proclamação da
presença do Reino é uma declaração de guerra contras as forças do maligno. O
Senhor Jesus "se manifestou... para destruir as obras do diabo"; Ele "andou fazendo
o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele". A
salvação, a libertação e a cura são atos de guerra contra as obras do inimigo, contra
seu reino. Estas obras confirmam a realidade do Evangelho, da proclamação da
presença do Reino de Deus. O Senhor Jesus explicou que Ele expulsava demônios
como prova do fato que Ele tinha vencido o "valente" Satanás e que o Reino de
Deus tinha chegado e a Sua justiça estava sendo estabelecida, trazendo consigo o
direito de uma nova vida e esperança aos filhos de Deus.
1.1 O REINO NA HISTÓRIA
Assim como nos dias de Jesus, ao longo da história da igreja o “reino de
Deus” tem sido objeto de diferentes entendimentos. Orígenes afirmou que o próprio
Jesus era o reino; alguns entendem que o reino se refere a um relacionamento
apropriado com Deus; outros o têm identificado com a igreja visível ou com uma
ordem social transformada; ainda outros têm insistido que Jesus se referia a uma
intervenção apocalíptica da parte de Deus. Esse conceito tem sido utilizado tanto
para sustentar o status quo quanto para inspirar ideais revolucionários e
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contestadores. Desde a época de Agostinho tem havido a tendência de
institucionalizar o conceito do reino identificando-o com a igreja. Embora o reino já
esteja presente no mundo, ele ficaria circunscrito à igreja. Outra posição vê o reino
como futuro, ainda que iminente. É o caso de movimentos apocalípticos como o
montanismo¹ do 2º século e muitos outros através dos séculos.
Nos Estados Unidos do final do século 19 e início do século 20 (1880-
1930), o chamado “evangelho social” deu grande ênfase ao conceito do “reino de
Deus”. Seu principal expoente foi Walter Rauschenbusch (1861-1918), um pastor
batista de origem alemã. Procurando responder aos problemas sociais das grandes
cidades norte-americanas num contexto de crescente industrialização, urbanização
e imigração, o movimento apregoou a “implantação do reino de Deus na terra” e a
necessidade de uma “sociedade redimida”. O reino de Deus passou a ser visto
exclusivamente em termos de transformação da sociedade e justiça social. Um livro
foi particularmente influente no sentido de popularizar as idéias do evangelho social:
Em Seus Passos que Faria Jesus (1897), de Charles Sheldon.
Em seu livro O Reino de Deus na América (1937), H. Richard Niebuhr
demonstrou que o tema do reino de Deus dominou o pensamento teológico
americano desde o início. Esse conceito teve diferentes sentidos ao longo do tempo,
desde a soberania de Deus na época dos puritanos² e de Jonathan Edwards,
passando pelo reino de Cristo na época dos avivamentos do século 19, até o reino
terreno de Deus no liberalismo do início do século 20. Para os liberais, o reino de
Deus “não era um reino celestial de outra vida muito distante e futura, e sim o reino
de amor e justiça nesta terra, tão completamente e tão rapidamente quanto
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possível”. A I Guerra Mundial (1914-1918), a quebra da bolsa de Nova York (1929) e
outros eventos negativos destruíram as esperanças otimistas dos liberais.
O Reino de Deus acontece no aquém, como reino terreno, ou é reino dos
céus no além? Os que conhecem apenas uma face do reino de Deus, afirmam que
ele acontece apenas no além, referem-se sempre de novo as palavras de Jesus: “o
meu reino não é deste mundo”(Jo. 18:36). Kraybill diz que “O reino não aponta para
o lugar de Deus, e, sim, para as atividades do governo de Deus”. A análise
exegética deste discurso de Jesus nos mostra que essa é uma expressão sobre a
origem e não sobre o lugar geográfico do reino. É claro que ele não é deste mundo,
mas de Deus, se não, não poderia curar este mundo doente. Mas em Jesus e por
seu intermédio ele está nesse mundo. Na oração do Pai nosso pedimos para que
venha a nós o teu reino “assim na terra como nos céus” e com o céus imaginamos
como parte da criação que está plenamente de acordo com Deus; e com a terra, a
parte da criação que ainda está restrita. O reino de Deus também é tão terreno
quanto o foi o próprio Jesus, e quem procura ver o seu final dirá: com a cruz de
Cristo, o Reino de Deus está definitivamente plantado nesta terra, não de forma
pleno e total, mas como um pré-estabelecimento do que está porvir.
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2. CONCEITUANDO O REINO DE DEUS
Durante muito tempo, o tema do Reino não foi discutido com
profundidade dentro da Igreja, isto se deve as mais diversas interpretações ou
mesmo reduções da verdade bíblica. O Reino é uma iniciativa própria de Deus em
favor da humanidade. Kraybill diz: “Deus não ficou apenas sentado em uma grande
cadeira de balanço teológica a filosofar sobre como se deve amar o mundo. Deus
agiu.”
Para conseguirmos formular alguma idéia acerca do Reino façamos uma
análise semântica do que significa Reino. A língua judaica freqüentemente colocava
um termo apropriado no lugar do nome da Deidade. Elwell afirma que o termo
geralmente usado era malekuth ha-elohym, “reino de Deus”, ou malekuth ha-
shamaym, “reino dos céus”. O Novo Testamento grego usa os termos βασιλεια του
Θεου (reino de Deus) e βασιλεια του ουρανον (reino dos céus). Mas analisaremos o
conceito hebraico por duas razões: Jesus não pregou em grego, e sim em aramaico,
língua assemelhada ao hebraico, e seus universos, cultural e lingüístico, eram
hebraicos. Fiquemos com o hebraico, portanto. Jesus era um hebreu, e não um
grego.Sobre esse assunto, diz Isaltino Gomes Coelho Filho [s.d]:
Malekuth é uma palavra preciosa, do ponto de vista de conteúdo. Seu significado é mais abstrato do que concreto. Ou seja, é mais um conceito que uma realidade concreta, visível a tangível. Geralmente, quando o autor de
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Crônicas fala do reinado de alguém, a frase é “no tal ano do
malekuth de....”.
A palavra é usada significando mais o reinado, o governo, do que a instituição
monárquica. Em Daniel 2.37, 4.34 e 7.14 isto se torna mais acentuado porque a
palavra é associada com conceitos abstratos como poder, força, domínio, glória. Em
outras palavras, não é, nem primeira nem necessariamente, uma instituição física. É
conceitual.
O desejo de Deus era que ele reinaria sobre Israel. O diálogo entre os
homens de Israel e Gideão mostra que este, pelo menos, entendeu bem o propósito
divino: “Então os homens de Israel disseram a Gideão: Domina sobre nós, assim tu,
como teu filho, e o filho de teu filho; porquanto nos livraste da mão de Midiã. Gideão,
porém, lhes respondeu: Nem eu dominarei sobre vós, nem meu filho, mas o Senhor
sobre vós dominará” (Jz 8.23-24). A proposta deles vê-se na possível
hereditariedade de domínio, era de uma monarquia, embora a palavra não apareça.
O domínio deveria ser do Senhor, segundo Gideão.
O conceito de reino para nós se liga a uma instituição política. O conceito
veterotestamentário é diferente. Numa alentada obra sobre os ensinos de Jesus, o
teólogo Conner, após rastrear a idéia de “reino de Deus”, fundamentando-o no
direito de Deus como Criador e como libertador de Israel do cativeiro egípcio, entra
na área das definições de sua pesquisa. Diz ele, em certo momento:
“A idéia geral de reino de Deus é o governo ou
reinado de Deus. Como já vimos, sua soberania se estende
sobre todo o universo. Como Criador e Sustentador do
mundo, sua soberania se estende sobre todas as coisas. Isto
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se aplica ao homem em sua ordem moral. Sendo o homem
um ser racional e moral não pode ser regido apenas pelas leis
físicas e mecânicas. Sua obediência a Deus deve ser por
escolha. Mas mesmo que o homem escolha desobedecer,
mesmo assim está debaixo da lei moral. Não pode libertar-se
de suas exigências. Neste sentido, todos os homens são
súditos de Deus.”
Todos os homens são súditos porque Deus é Criador e Rei sobre tudo e
sobre todos. Isto tem respaldo na área da semântica, porque todas as vezes que
malekuth é empregado com referência a Deus, o que está em foco é sua autoridade
ou seu governo como rei do universo. A propósito, podemos ver aqui as passagens
de Salmo 22.28 (“Porque o domínio é do Senhor, e ele reina sobre as nações”),
103.19 (“O Senhor estabeleceu o seu trono nos céus, e o seu reino domina sobre
tudo”), 145.11-13 (“Falarão da glória do teu reino, e relatarão o teu poder, para que
façam saber aos filhos dos homens os teus feitos poderosos e a glória do esplendor
do teu reino. O teu reino é um reino eterno; o teu domínio dura por todas as
gerações”), Obadias 21 (“Subirão salvadores ao monte de Sião para julgarem o
monte de Esaú; e o reino será do Senhor”) e Daniel 6.26 (“Com isto faço um decreto,
pelo qual em todo o domínio do meu reino os homens tremam e temam perante o
Deus de Daniel; porque ele é o Deus vivo, e permanece para sempre; e o seu reino
nunca será destruído; o seu domínio durará até o fim”). A presença do conceito
nestes três livros é significativa. Salmos trata de liturgia, o texto de Obadias é
profético, vindicativo, e o de Daniel põe a afirmação na boca de um pagão. Por todo
o Antigo Testamento o que está em tela é o domínio de Deus, tanto sobre Israel,
como sobre a história e sobre o mundo. Não importa o estilo literário, a unidade
teológica permanece.
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2.1 INTERPRETAÇÕES HISTÓRICAS DO REINO:
O Reino esteve sujeito as mais variadas interpretações e aplicações e com
isso mudando de “forma” a cada novo lugar e época em que era vivido. Vejamos
alguns exemplos dessas interpretações e mudanças.
a) Patrística - Os pais da Igreja foram muito influenciados pela filosofia grega,
eles tentavam fazer uma ponte entra a fé cristã e o pensamento grego. Eles
conceituaram o Reino somente em categorias espirituais. O governo de Deus
era espiritual.
b) Romana - O Reino é identificado com a Igreja. Este era o pensamento da
igreja medieval, muito influenciada por Agostinho.
c) Evangélica - Para muitos evangélicos o Reino é identificado ao novo
nascimento, quando Deus assume o governo sobre a vida do crente. Um
reinado individualista, talvez influenciado pelo movimento Pietista da
Alemanha e o Puritanismo Inglês.
d) Liberal - Os liberais identificam o Reino com uma nova ordem social. Talvez
influenciados pela perspectiva escatológica do pós-milenismo.
e) Apocaliptíca - O reino de Deus é concebido em categorias futuristas. Albert
Schweitzer defende esta corrente, para ele Jesus foi um mestre apocalíptico,
esperava o estabelecimento do Reino em um futuro imediato, o Reino não
chegou e Jesus morreu desiludido.
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f) Carismática - os carismáticos identificam o Reino com o poder de salvar,
libertar o pecador aqui e agora. Para eles o Reino é presente e atua com
poder nos nossos dias.
g) Neo-pentecostalismo – Identificam o Reino com o bem-estar na vida terrena.
Viver o reino é ser próspero, sem doenças ou males nessa vida.
Como vimos o Reino de Deus é uma realidade difícil de ser definida, até
porque não há um consenso entre os variados grupos que alegam ter parte no
Reino de Deus. Para uns é uma realidade futura, para outros ela já se estabeleceu,
para outros ainda, o Reino está sendo estabelecido. Tentaremos conceituar o
Reino de Deus seguindo o pensamento, que hoje é consenso ao menos entre os
eruditos, que o Reino de Deus é tanto uma realidade presente, como uma
esperança futura. A tensão do "já" e do "ainda não". Segundo as Escrituras o Reino
de Deus já chegou com poder através de Jesus Cristo, ele se manifestou durante
seu ministério, e se estabeleceu derrubando o reino do mal que controlava a
existência humana. Mas ele ainda não chegou com toda plenitude. O governo de
Deus ainda não alcançou toda a extensão da terra. Os homens ainda são rebeldes
ao projeto eterno de Deus.
2.2 OS DOMÍNIOS DO REINO
Em todo ambiente onde Deus reina, aí está o Reino de Deus. Onde a
vontade de Deus está sendo cumprida, aí está o Reino de Deus. Podemos conceber
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o inferno como um reino de muitas vontades, mas, no Reino de Deus só há lugar
para uma vontade: a do Rei. O Reino de Deus, que é revelado na pessoa de Cristo,
deve estar manifesto em cada aspecto da vida de um “cidadão” do Reino. Na vida
devocional, na comunhão, no trabalho, no mercado público, na escola, na
universidade, no lazer, na família. Paulo orientou a Igreja de Corinto, em sua
primeira carta, no capítulo 10, versículo 31: “Portanto, quer comais quer bebais, ou
façais, qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus.” O Reino de Deus
santifica aquilo que é comum, o ordinário. Se não fosse a pessoa de Cristo, não
teríamos como fazer parte desse Reino. Para entrar nele, precisamos deixar que
Cristo entre em nós e ali estabeleça Seu Reino.
No livro do Profeta Daniel, encontramos algumas menções sobre as
características do Reino de Deus: grandes são os seus sinais, e quão poderosas as
suas maravilhas! O seu reino é um reino sempiterno, e o seu domínio de geração
em geração. Após o milagre da fornalha de fogo ardente, no capítulo 3, do livro do
Profeta Daniel, um monarca até pouco tempo pagão, Nabucodonosor, mas que
recebia influência do Profeta Daniel, manda aos povos uma mensagem onde, de
início, já reconhece que grandes eram os milagres de Deus, bem como que o seu
Reino é eterno, que Deus estará sobre Ele para todo o sempre.
No Evangelho escrito para os Romanos, por Marcos, no capítulo 1º,
versículo 15, são registradas as palavras de Jesus: O tempo está cumprido, e é
chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho. Jesus começou a
proclamar as boas-novas de Deus, afirmando que já passara o tempo da esperança
em relação ao cumprimento da promessa de que o Messias viria, e que já havia
chegado o desejado e esperado Reino de Deus. Dizia Cristo que era necessário que
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todos os homens se arrependessem e cressem. Dessa forma, Jesus estava dizendo
que a nossa responsabilidade dentro do Reino se expressa dessa forma: o governo
divino no coração humano e na sociedade.
O Reino se estabelece dentro de nós para, em seguida, brotar como uma
fonte de água viva; não é interrompido, suspenso, paralizado, estacionado, não é
estancado, é contínuo. João 4. 14 “mas aquele que beber da água que eu lhe der
nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de
água que jorre para a vida eterna.” Impossível conceber uma fonte que não jorra de
dentro para fora. É preciso que haja um manancial, uma considerável quantidade de
água que brote do chão para que um determinado local possa ser conhecido como
fonte. De uma forma muito simples sabemos que ninguém pode dar aquilo que não
tem. Por isso é preciso que o Reino primeiro se estabeleça em nós.
2.3 OS SÚDITOS DO REINO
Não existe uma fórmula mágica para entrar no Reino de Deus. É comum
muitos afirmarem que alguém se torna participante do Reino quando é batizado,
tornando-se assim membro de uma denominação, porém, o Reino de Deus age na
vida dos homens de uma forma não-denominacionalista. Se pudessemos descrever
o desenvolvimento do Reino na vida de uma pessoa, uma sequência lógica poderia
ser verificada, como por exemplo:
1) Ele avança em nossos corações;
2) Transforma nossas vidas;
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3) Transforma Famílias;
4) A nossa própria história.
O Reino precisa ser estabelecido em nós a ponto de afirmarmos o que
Paulo disse: Gálatas 2. 20a “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu,
mas Cristo vive em mim;” Quando formos crucificados com Cristo e Ele tiver
passado a viver soberanamente em nós, então, de uma forma absolutamente
natural, o Reino de Deus poderá ser percebido em nossas vidas brotando pelos
nossos poros, sendo percebido até no aroma que brotará de nossos corpos, pois
onde ele se estabelece, ali ele é visto;
Mateus 5. 14 diz: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma
cidade situada sobre um monte;” O que aconteceria às nossas vidas, famílias,
comunidades e nações se, num piscar de olhos, o Reino de Deus se manifestasse
em toda sua plenitude? Pessoas se converteriam a Ele e passariam a conhecer o
Deus verdadeiro. Relacionamentos seriam restaurados. A prostituição e a violência
acabariam. Haveria provisão para todos. Enfermos seriam curados. A poluição teria
fim. Justiça e paz reinariam sobre a terra. Inimaginável, pensar em tão grande
construção, edificação, milagre, sendo exaltada, mas não sendo percebida. Nós
fomos chamados para passarmos das trevas para sermos a luz que ilumina o mundo
inteiro. Como Igreja de Jesus na terra, encarregados que somos da implantação de
um Reino abrangente, capaz de contemplar todas as áreas da existência humana,
precisamos de um ministério também abrangente, que não pensa pequeno, que não
gasta tempo com questões pequenas e sem valor. Como o Reino pode ser visto em
sua vida ? Ele já foi estabelecido ? Se nossa vida não está sob a direção, a
orientação, o comando de Deus, de forma permanente, talvez seja por isso que o
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Reino de Deus seja tão pouco visto em nossas igrejas e em nossas vidas, porque
ele ainda não se estabeleceu. Se ele estivesse aí, seria impossível não vê-lo.
2.4 O REINO NO ANTIGO TESTAMENTO
O conceito do reinado ou senhorio de Deus era familiar aos ouvintes de
Jesus, estando presente no Antigo Testamento. Desde o início, Deus deixou claro
que ele era o verdadeiro rei de Israel. Quando o povo pediu um rei humano, o
Senhor manifestou o seu desagrado (1 Sm 8.5-7). A idéia de Deus como rei está
presente em todas as Escrituras Hebraicas (Dt 33.5; Jz 8.23; Is 43.15; 52.7), em
especial nos Salmos (10.16; 22.28; 24.7-10; 47.2,7-8; 93.1; 97.1; 99.1,4; 103.19;
145.11-13). Algumas passagens identificam o reino de Deus com o reino de Davi (1
Cr 17.14; 28.5; 29.11; Jr 23.5; 33.17). Esse reino será eterno e só alcançará a sua
consumação em um tempo futuro, assumindo feições escatológicas (Dn 2.44).
Nos tempos de Jesus, a idéia de um messias guerreiro estava sendo
cultivada com vigor. Isto não aconteceu por acaso. Na seita essênia de Qumram, por
exemplo, a expectativa de um messias-rei-guerreiro era intensa. Parece, segundo
Schelke, que o livro de Hebreus tem como motivo secundário, combater o
messianismo de Qumram, mostrando que todas as expectativas messiânicas se
cumpriram em Jesus. Não há outro messias por vir. Comparando a pregação de
Jesus com os ensinos essênios e zelotes, diz Schelke:
“O messianismo de Jesus é diferente do que prega o messias
da guerra santa. Jesus rejeita mesmo absolutamente a guerra
santa, tanto na forma imediata dos zelotes, como na derivada
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da expectativa de Qumram, escolhendo o caminho e o
serviço do sofredor servo de Deus”
O que ocasionou esta mudança foi a frustração que tomou conta dos
judeus após a derrota para Babilônia, em 587 a. C., com o fim de Judá e a
interrupção da dinastia de Davi, como já apontado. No cativeiro esta frustração foi
transformada num processo de reformulação da teologia israelita. A expectativa
messiânica se ampliou porque nos momentos de crise se procura por um salvador.
É aqui, no retorno do cativeiro, que vai nascer o judaísmo. O judaísmo é diferente do
hebraísmo sacerdotalista de antes do cativeiro. É uma religião normatizada por um
livro. O seu nascedouro tem sido identificado em Neemias 8. Uma classe nova vai
surgir, a dos intérpretes da Torah.
Neste período, o do cativeiro e o retorno, floresce a idéia de messias nos
moldes de um rei secular. Parece que a teologia popular se tornou muito forte. O
modelo é Davi, como se pode ler bem em Ezequiel 34.23-24. não é de se estranhar,
porque Ezequiel parece ter sido um líder popular, entre os cativos. Volto a citar o
texto: “E suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi.
Ele as apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o
meu servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”. O que alguns
teólogos do Antigo Testamento chamam de “davidismo” começa aqui. Não apenas a
idéia de que o messias será descendente de Davi, mas a própria espera de um rei
nos moldes de Davi, não se esperava o retorno de Davi, mas um novo Davi. A
primeira declaração de Mateus, que é a primeira declaração do Novo Testamento, é
exatamente esta: “Livro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi...” (Mt 1.1).
Esperar-se um messias guerreiro, portanto, não era algo fora de propósito. Tanto
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que foi preciso que Mateus, escrevendo seu evangelho para os judeus, precisasse
dizer que o filho de Davi era Jesus. E foi por isto que ele, Jesus, premeditadamente,
entrou em Jerusalém montado em um jumentinho. Mostrou que sua montaria era um
animal pacífico, e não um alazão, como os guerreiros macabeus usavam.
Ele não era um guerreiro libertador. Era o Príncipe da Paz. Jesus era um
homem que encarnava o Antigo Testamento. Isto nos adverte para um perigo ao
qual nós também estamos sujeitos: submeter as Escrituras às nossas expectativas.
Não podemos projetar nossos anseios para dentro da interpretação bíblica, fazendo
deles um eixo hermenêutico.
2.5 O REINO NO NOVO TESTAMENTO
Há algo intrinsecamente subversivo sobre o Reino de Deus, que vem
invadindo este mundo tenebroso, derrotando as forças de Satanás e trazendo a
justiça e a presença dos Céus aqui na terra. O Senhor Jesus descreveu o Reino
como sendo "o grão de mostarda que... cresceu e fez-se árvore" e o "fermento que
uma mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até que tudo levedou"
(Lc 13.19-21). O profeta Daniel o viu como sendo "uma pedra que... encheu toda a
terra", "um reino que não será jamais destruído... mas esmiuçará e consumirá todos
estes reinos, e será estabelecido para sempre" (Dn 2. 35,44).
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Quando adentramos o Novo Testamento, observamos que o conceito já
sofreu uma mudança. A perturbação de Herodes, em Mateus 2.3, mostra que ele
entendera que o menino que nascera era postulante ao reino político de Israel.
Herodes não era judeu. Era edomita, mas como todos os edomitas era aparentado
com os judeus e imerso naquela cultura. Assim já nutria o conceito de um reino
político. Em João 6.15, a multidão pretende tornar Jesus um rei político. E em João
18.36 ele faz questão de dizer que seu reino não é deste mundo. Para combater o
conceito já popularizado, ele precisou retornar aos fundamentos do Antigo
Testamento. Contribuiu para este conceito equivocado o fato de que há muito tempo
Israel era dominado por potência estrangeira. Tanto que no dia da sua ascensão, os
discípulos perguntam se era naquele momento que ele iria restaurar o reino a Israel
(At 1.6). Evidentemente, o passado histórico, de uma monarquia institucionalizada,
contribuiu para isto. Mas não foi o único motivo. A fermentação política no tempo de
Jesus levava os judeus a sonharem com a reinstituição da monarquia, mais
particularmente com os tempos de Davi. Aliás, este se tornara um tipo do Messias, a
ponto de, em Ezequiel 34.23-34, Davi ser sinônimo do Messias. Diz o texto: “E
suscitarei sobre elas um só pastor para as apascentar, o meu servo Davi. Ele as
apascentará, e lhes servirá de pastor. E eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu
servo Davi será príncipe no meio delas; eu, o Senhor, o disse”. Não era de se
estranhar. Davi foi o maior rei que Israel conhecera. Desta maneira, o Messias
deveria ser um novo Davi. Esta fermentação política acabou produzindo seitas
estranhas no judaísmo. Se os zelotes eram mesmo revolucionários, um dos
discípulos de Jesus, Simão, provavelmente foi atraído pelo ministério de Jesus,
vendo-o como o possível rei político.
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2.6 NAS PARÁBOLAS
2.6.1 O REINO: UMA SEMENTE PLANTADA
“Disse ainda: O Reino é assim como se um homem lançasse a semente à terra;
depois dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e
crescesse, não sabendo ele como. A terra por si mesma frutifica: primeiro a erva,
depois a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga. E, quando o fruto já está
maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa.”
Marcos 4.26-29
O Reino de Deus esteve sempre presente na boca de Jesus, só em
Mateus, por exemplo, esse termo aparece pelo menos 53 vezes, indicando ser no
mínimo um assunto de grande valor para Cristo. O reino de Deus representa a
salvação para o homem, salvação essa que põe fim a toda forma de vida terrena. E
esta salvação é a única da qual se poderia falar, por isso ela exige do ser humano a
decisão, não se trata de algo que se possa ter ao lado de outros bens ou de algo
alcançável por esforço ou mérito próprio. Bultmann diz:
“O reinado de Deus não constitui um “bem supremo” em
termos éticos. Ele não é um bem ao qual se volta o querer e o
agir humanos, nem uma grandeza a ser concretizada de
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alguma forma pela atitude humana, que de alguma forma
necessitasse dos seres humanos para ganhar existência
própria.”
A parábola citada pressupõe justamente que e crescimento e a maturação
da semente não é algo “natural”, algo de que o ser humano pode dispor, mas que se
trata de algo extraordinário. A vinda do Reino de Deus é algo tão extraordinário
quanto o fato de a semente germinar e crescer sem qualquer auxílio ou
compreensão da parte do ser humano.
Nessa linha de pensamento não devemos imaginar que o reino de Deus
deve ser imaginado como uma grandeza que possa ter sido ou vir a ser concretizada
em uma comunidade histórico-mundana. Ainda citando Bultmann:
“O “reino de Deus” não é uma grandeza que está se
realizando na história humana; jamais se fala, nem é possível
falar, de sua fundação, de sua edificação, de sua conclusão;
fala-se apenas de sua “aproximação”, de sua “vinda”, de seu
“surgimento”. Trata-se de uma grandeza supranatural, não
mundana; e ainda que as pessoas possam “receber” sua
salvação ou entrar nela, não são elas que mediante sua
comunhão e atuação, constituem o reino, apenas, e
unicamente, a ação de Deus é quem faz isso.”
Tal pressuposto demonstra que de modo algum, o que é apresentado é
o crescimento “natural” do reino de Deus e sim visa mostrar a força impetuosa com
que o reinado de Deus viria, sem que ninguém imaginasse ou soubesse como
30
ocorreu. É esse fator que torna o reinado completamente de Deus, sua soberania
em agir.
O que cabe lembrar agora é que esse reino age hoje, agora mesmo está
agindo, seja de forma clara e aberta ou em secreto, o que importa é que ele está se
movendo, se preparando para algo maior, para um acontecimento inédito e único, de
certo modo inesperado, mas iminente, por isso encontramos tantas parábolas
apontando para a necessidade de vigilância, pois não se pode determinar quando o
Senhor desse reino retornará; a única certeza a se ter é que a semente está
crescendo e as espigas começam a surgir, em breve virá o tempo da ceifa. Em parte
é consolador saber disso, pois seria arriscado entregar completamente nas mãos
dos homens a dependência desse reino. É confortante saber que apesar de tudo o
vemos nos jornais, que as noticias com as quais nos deparamos não mostram a
impossibilidade de instauração do reino (nesse caso, o reino futuro), pelo contrário, é
através disso que podemos, como uma vanguarda, sonhar, orar, clamar e aguardar,
pois uma coisa é certa, o REI está voltando!!!
2.6.2 O REINO: UM GRÃO DE MOSTARDA
“O Reino de Deus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e
plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e,
30
crescida, é maior do que as hortaliças, e se faz árvore, de modo que as aves do céu
vem aninhar-se nos seus ramos”
Mateus 13.31-32
Quando se fala em grão de mostarda, alguns pensamentos vem a nossa
mente, como por exemplo: Como uma semente tão pequena, insignificante aos
nossos olhos, pode representar o reino de Deus? O que ela tem de tão especial que
nós ainda não descobrimos? Porque Ele não comparou o reino com algo maior,
como o Império Romano, o mar Mediterrâneo?
Os versos de Mateus 13.31-32 na verdade são a resposta para duas
perguntas feitas por Jesus: Com que se parece o reino de Deus? e Com que
compararei o Reino de Deus? (Lucas 13.18,20) Neste ponto nos ocuparemos com a
primeira pergunta que tem sua resposta no grão de mostarda. O grão de mostarda
era a menor de todas as sementes da Palestina, tão pequena que era difícil
enxergar uma sozinha, porque tinha o tamanho aproximado da cabeça de um
alfinete, contudo, uma única sementinha dessas poderia amadurecer, crescer e se
tornar uma das maiores árvores conhecidas, onde as aves viriam em busca de
repouso e abrigo. A compreensão lógica desse fato nos é prejudicada, porque às
vezes preferimos falar acerca do reino como um grande exército com seu General
Jesus e isso pressupõe uma grandeza estrondosa, mas mesmo esse exemplo tem a
ver com a semente de mostarda, pois exército algum começa grande, sempre tem
seu início “acanhado”, pequeno e depois explode em crescimento, por isso o
30
processo intermediário é tão importante, uma vez que o resultado é um mundo
transformado.
Apesar de ser uma das grandes verdades da pregação de Cristo, essa
comparação teve um efeito psicológico muito bom nos discípulos que viriam a ser
apóstolos mais tarde. Eles deixaram família e emprego para seguir a Jesus e o que
ganharam em troca foi hostilidade dos líderes religiosos judeus, o ódio dos romanos
entre outros resultados “negativos”. Na verdade, o que eles imaginavam quando se
falava acerca de Reino é que Jesus seria um grande líder militar, que marcharia
sobre Jerusalém e derrotaria a opressão romana, sentimento esse que habitava em
vários corações, não apenas nos Doze. Isso nos é mostrado em Atos 1.6, quando
questionam Jesus dizendo: “Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a
Israel? Era preciso tratar essa questão, pois o reino do qual Jesus falava era muito
maior do que o reino de Israel, o que não cabia em suas cabeças. Como poderiam
pensar em algo mundial quando ao olharem para si mesmos viam apenas
pescadores, homens simples, que chance teriam contra o Império Romano inteiro?
Talvez isso os tenha levado a pensar tão “pequeno”, não conseguiram vem em si
mesmos pessoas capazes de mudar a história. De um ponto de vista militar, político
e até mesmo “religioso”, o começo do Colégio Apostólico foi insignificante, pequeno
e começos humanamente insignificantes tendem a nos arrefecer os ânimos. Sobre
começos “insignificantes” Carter diz:
“Talvez você esteja servindo a Deus num canteiro
pequenino da vinha dEle. Talvez sua Igreja não tenha
condições de manter um pastor de tempo integral ou, quem
sabe, seu grupo de estudo bíblico tem só um pouquinho de
pessoas. Você pode se perguntar se seu trabalho para
30
Cristo faz alguma diferença no Reino de Deus. Não se
esqueça da semente de mostarda! O trabalho sempre
começa pequeno, e sua importância não provém do
tamanho, mas de sua vida intrínseca”.
É simples ver esse fator, mesmo em Jesus, nasceu em uma pequena
cidade, não foi muito longe de sua terra natal, não deixou nada escrito de cunho
pessoal, foi rejeitado como líder e Messias pela própria família, sua equipe tinha
apenas 12 pessoas. Mas o sepultamento de Cristo foi como a semeadura de um
grão de mostarda, primeiro teve que morrer, depois a vida brotou e nos séculos
seguintes a tudo isso as pessoas se arrebanharam ao seu redor com fé, como os
pássaros nos galhos dar árvores. Voltando aos discípulos, vem a pergunta: Como
apenas 12 homens fizeram discípulos de todas as nações? Os mesmos que pouco
tempo antes haviam sido chamados de pequeno rebanho.
Mais um fator interessante acerca da semente de mostarda que
amadurece, a Bíblia fala que as aves do céu se aninham nos galhos (Mt 13.32),
alguns compreendem que isto fala sobre a entrada dos gentios no Reino de Deus.
Intrigante é que no Céu uma canção diz que Cristo comprou com o seu sangue
indivíduos “de toda tribo, língua, povo e nação” (Ap. 5.9), por isso não cabe na Igreja
qualquer forma de acepção, de segregação, nenhum de nós pode determinar que
outros se vistam como nós física ou teológicamente ou que pratiquem o nosso
método pessoal de adoração. O Reino é grande o suficiente para todos e tal como a
graça, é inconfinável. Philip Yancey diz:
“De fato, o reino de Deus crescerá na terra quando
a Igreja criar uma sociedade alternativa, demonstrando
30
que o mundo não é, mas um dia será... uma sociedade
que recebe pessoas de todas as raças e de todas as
classes sociais, que se caracteriza pelo amor e não pela
polarização, que se interessa mais pelos seus membros
mais fracos, que defende a justiça e o direito num mundo
apaixonado pelo egoísmo e pela decadência, uma
sociedade na qual os membros competem pelo privilégio
de servir uns aos outros – é o que Jesus quis dizer com
reino de Deus.”
O grão de mostarda se encaixa na classe de fator de crescimento externo
do Reino de Deus.
2.6.3 O REINO: FERMENTO NA MASSA
“Disse mais: A que compararei o reino de Deus? É semelhante ao fermento que uma
mulher tomou e escondeu em três medidas de farinha, até tudo ficar levedado.”
Lucas 13.20-21
Essa comparação acerca do Reino de Deus se enquadra como o fator
interno de crescimento do reino, onde se mostra a capacidade de transformar a
sociedade de dentro para fora.
No nascimento de Cristo, foi como se Deus misturasse uma porção
minúscula de fermento na massa da humanidade. O resultado não é difícil de achar,
até mesmo hoje. O fermento celeste operou uma transformação radical na vida dos
30
discípulos e estes não ficaram inertes, pelo contrário, viraram o resto do mundo de
cabeça para baixo (Atos 17.6 – BV).
De forma individual, poderíamos dizer que Deus mistura o fermento do
Espírito Santo na massa do coração dos novos convertidos e começa a transformar
cada parte deles. Assim casamentos são restaurados, viciados são libertos, famílias
inteiras abençoadas, pois da mesma forma que o fermento torna a mistura de
farinha em massa fervilhante, o Espírito Santo, plantado no coração dos cristãos,
põe fim aos atos pecaminosos. A influência do fermento celeste tem início no
caráter pessoal do crente e este quando fermentado, é chamado por Deus para ser
o fermento dEle no mundo através de testemunhos, de ações, de palavras, de
atitudes, enfim, agindo como legítimos representantes de Cristo na terra, fazendo
aquilo que Ele faria.
Algo extraordinário é que nesse caminho, somos usados por Deus para
tocar vidas e às vezes nem imaginamos que estamos servindo para tal utilidade, por
isso devemos estar atentos para sempre estar disponível ao agir de Deus, seja para
ser transformado, seja para levar fermento celeste a outros corações que ouvem de
nós o Evangelho, pois em certas ocasiões podemos, devido a motivações erradas,
perder a capacidade fermentativa, influenciadora.
Saber que o fermento celeste age internamente na Igreja, no Reino, no
mundo, deve nos tranqüilizar e abrir nossos olhos para ver se não estamos sendo
tratados e compreender quando outros estão sendo tratados, porém, mais uma vez
sem querer confinar os métodos do Espírito para isso. O Reino é dEle, e Ele tratará
30
com ele da forma que for devida, não necessariamente pelo método que nos parecer
mais lógico.
3. O REINO E A IGREJA
O Reino não é formado apenas pela Igreja, e esta na verdade constitui
apenas uma parte do Reino, pois se assim fosse, Deus estaria governando a Terra
através da igreja, o que não acontece. Existem muitas distinções entre o Reino e a
igreja. Os termos “Reino” e “igreja” nunca são intercambiáveis na Escritura, como
acontece com os termos “Reino de Deus” e “Reino dos Céus”. A igreja é o conjunto
daqueles que crêem em Cristo e que se associam uns aos outros por causa da sua
fé comum. À luz das Escrituras, a igreja é uma realidade essencialmente
corporativa, comunitária. Ela é descrita como o corpo de Cristo, a família da fé, o
povo de Deus, um rebanho, um edifício e outras figuras que acentuam o seu caráter
de comunidade e solidariedade e seus propósitos da igreja são basicamente cinco:
adoração, comunhão (koinonía), edificação, proclamação (kégygma), serviço
(diakonía). Esses propósitos apontam para três dimensões essenciais da vida da
igreja: seu relacionamento com Deus, seus relacionamentos internos e seu
relacionamento com o mundo. A missão da igreja se relaciona principalmente com
os dois últimos aspectos: proclamação e serviço. Nas 113 ocorrências do termo
“igreja” (ekklesia, no Grego), ele jamais é usado como sendo o Reino. Esse Reino
vai chegar, quando o Rei estiver presente, literalmente, para governar, o que nos
30
remete à Sua Segunda Vinda, quando haverá o julgamento das nações. É claro que
os apóstolos pregaram o Reino de Deus (Atos 8:12; 19:8; 28:23), mas não podemos
substituir “igreja” por “Reino”, nestas passagens. Contudo, existe uma relação entre
ambos. A igreja é constituída de pessoas nascidas de novo, as quais se submetem
ao governo de Cristo em suas vidas, tornando-se, imediatamente, parte do Seu
Reino, sendo-lhes assegurada a participação no (futuro) Reino de Deus, quando
Cristo regressar.
O Novo Testamento não identifica a igreja com o reino de Deus. Obviamente
há uma relação entre ambos, mas não uma coincidência plena. A igreja tem limites
claros, assume formas institucionais, tem líderes humanos. Nada disso se aplica ao
reino de Deus, que é mais intangível, impalpável. Este é uma realidade que
transcende os limites da igreja e que pode não estar presente em todos os aspectos
da vida da igreja. É como dois círculos que se sobrepõem em parte e que se
afastam em parte. Historicamente, a igreja por vezes tem se harmonizado com o
reino, outras vezes tem estado em contradição com ele. Todavia, dada a
importância da igreja no propósito de Deus, ela é chamada para expressar a
realidade do reino, para ser o principal agente do reino de Deus no mundo. Para que
isso aconteça, a igreja e seus membros precisam manifestar os sinais do reino, ser
instrumentos do reino na vida das pessoas, da sociedade, do mundo. Sempre que a
igreja busca em primeiro lugar a glória de Deus, fazer a vontade de Deus, viver uma
vida se humildade, amor, abnegação, altruísmo, solidariedade, etc., ela se torna
agente e instrumento do reino.
O reino pode se manifestar, e com freqüência se manifesta, fora dos limites
institucionais da igreja. Quando isso ocorre, a igreja deve se regozijar com essas
manifestações, apoiá-las e incentivá-las. Todavia, existem aspectos do reino que só
30
a igreja pode evidenciar, principalmente a proclamação do evangelho, das boas
novas do amor de Deus revelado em Cristo. A oração do Senhor é um bom ponto de
partida para se refletir sobre o reino de Deus. Nessa oração, Jesus coloca Deus em
primeiro lugar, como o centro dos nossos interesses e afeições, e relaciona isso com
o reino. “Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu
reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.9-10). O reino de
Deus torna-se presente quando os crentes se unem para invocar a Deus como Pai,
quando reconhecem a sua soberania sobre suas vidas, quando o reverenciam e se
submetem a ele, quando procuram fazer a sua vontade na terra como ela é feita no
céu.
Para que a igreja seja uma verdadeira agente do reino, primeiramente ela
precisa refletir sobre a sua relação com Deus, fazer disso a sua prioridade máxima,
identificar-se com os seus propósitos, associar-se a ele em sua obra de restauração
da criação. A igreja precisa ser teocêntrica, a começar do seu culto. Quando o culto
e a vida da igreja são voltados em primeiro lugar para a satisfação de necessidades
humanas, e não para a glória e o louvor de Deus, a igreja deixa de ser teocêntrica, e
em assim fazendo, não pode ser agente do reino de Deus no mundo. Ao mesmo
tempo em que cultiva a sua vida com Deus, a igreja deve ser um lugar de
relacionamentos interpessoais transformados. Uma igreja teocêntrica será também
um lugar de companheirismo, solidariedade e edificação mútua. Essa é uma das
grandes ênfases do Novo Testamento. Assim como Deus nos amou e nos perdoou
em Cristo, também devemos amar, aceitar e ministrar uns aos outros. Daí o grande
número de exortações em que aparecem as palavras “mutuamente” ou “uns aos
outros”.
30
Como corpo de Cristo, a igreja deve reconhecer, respeitar e até celebrar
certas diferenças; ao mesmo tempo, deve transcender essas diferenças, cultivando
uma vida de união e fraternidade (Rm 10.12; 1 Co 12.12-27; Gl 3.28). Isso fica
especialmente claro no que diz respeito aos dons (capacitações para testemunho e
serviço), que são sempre discutidos em conexão com o corpo de Cristo (Rm 12.3-8;
1 Co 12.1-12; Ef 4.11-12). Os dons espirituais só têm razão de ser quando são
exercidos, não para proveito e exaltação pessoal, mas para a edificação dos irmãos,
para a realização do ministério da igreja. Um dos argumentos que Paulo usa em
favor da tolerância na igreja é o fato de que não se deve fazer perecer “o irmão por
quem Cristo morreu” (ver Rm 14.15; 1 Co 8.11).
Em ordem de prioridade, a relação da igreja com o mundo está em terceiro
lugar, o que não significa que seja algo opcional, secundário. Assim como aconteceu
com Israel, a igreja foi formada para realizar uma missão. Se ela ignorar essa
missão, nega a sua razão de ser e está sujeita ao juízo de Deus, como aconteceu
com Israel. A missão primordial da igreja no que diz respeito ao mundo é a
proclamação do “evangelho do reino”, assim como fizeram Jesus e os seus
discípulos. Corretamente entendido, esse evangelho inclui muitas coisas
importantes. Em primeiro lugar, esse evangelho é um convite a indivíduos, famílias e
comunidades para se reconciliarem com Deus mediante o arrependimento e a fé em
Cristo. Todavia, o evangelho são as boas novas de Deus para todos os aspectos da
vida, pessoal e coletiva. Assim sendo, a legítima proclamação do evangelho não vai
se limitar ao aspecto religioso e à dimensão individual (experiência de conversão
pessoal), mas vai mostrar o senhorio de Cristo sobre todos os aspectos da
existência. Além disso, essa proclamação não ficará restrita ao aspecto verbal, mas
incluirá ações concretas que expressem a amor de Deus pelas pessoas (Tg 2.14-17;
30
1 Jo 3.16-18). Aí podem ser incluídas muitas iniciativas, que vão desde o socorro a
necessidades imediatas até a luta por mudanças estruturais que irão produzir maior
justiça na sociedade. Aqui a Igreja encontra razões para trabalhar em áreas como o
auxílio financeiro a pessoas e instituições, trabalho voluntário, mobilização para a
criação de leis justas, luta pela ética na vida pública, participação em projetos
comuns com outras igrejas e instituições, etc.
A igreja (instituição humana) pode vir a se tornar um entrave para os
interesses do reino de Deus em várias situações: quando está mais preocupada com
a sua própria sobrevivência, prestígio e poder; quando não consegue abrir mão de
suas peculiaridades a fim de poder dialogar com outras igrejas e grupos; quando
não procura “seguir a verdade em amor” (Ef 4.15); quando se retrai do mundo com
medo de perder a sua identidade ou quando se identifica com o mundo com medo
do escândalo da cruz. O cristão experimenta uma série de paradoxos: o reino já
veio, mas ainda não veio em sua plenitude; vivendo no mundo, ele experimenta as
realidades do reino de Deus e do império das trevas; na própria igreja, existe trigo e
joio, pecado e graça.
Quando mencionamos hoje a expansão do Reino de Deus, estamos falando
do Reino espiritual. Em Grego, a palavra “Reino” é “Basiléia”, significando:
soberania, poder real e domínio. Também se refere ao território ou povo sobre o
qual o rei governa. Desse modo, “reino” é uma designação tanto de poder como de
forma de governo e, no porvir, designará o território e o governo - o reino e o
reinado. A significação básica de “reino” envolve três coisas: um governante, um
povo que é governado e um território, no qual o povo é governado.
30
4. A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO REINO
Um Reino bem estabelecido produz ações práticas na tentativa de gerar
qualidade de vida aos súditos e quando se trata de Reino de Deus, algo maior
permanece como pano de fundo para essas ações, o amor e o valor a vida humana,
sem distinção de cor, classe ou raça. E outro fator importante na vida do Reino é
que busca gerar ações que tragam mudanças reais na vida das pessoas, pois se
suas mentes não mudarem, sua vida tão pouco mudará.
Há muito o que se falar sobre essa área de atuação do Reino, porém nos
deteremos em apenas duas, que tem alcançado um destaque maior ao longo dos
tempos: o auxílio aos pobres e a educação para todos.
4.1 O REINO E O AUXÍLIO AOS POBRES
30
A pobreza sempre fez parte da vida terrena e esforços tem sido
desempenhados no intento de diminuir seu impacto e é fato que nenhum grupo tem
feito mais ações nessa questão que os súditos do Reino e assim estabelecendo um
padrão de assistência que é copiado em todo o mundo. Dos orfanatos do terceiro
mundo a missões de salvação, as necessidades humanas sempre foram alvo do
Reino de Deus.
Estudiosos de todo mundo são unânimes ao afirmar que a Antiguidade não
produziu ou deixou traços de nenhum esforço organizado a favor da caridade.
Escrevendo sobre a Roma antiga, conhecida como o apogeu das civilizações
antigas, Will Durant diz:
A caridade teve pouco alcançe nessa vida mesquinha. A hospitalidade sobreviveu como uma conveniência mútua em um tempo em que as tabernas eram pobres e distantes. Mas o compassivo Políbio relata que “em Roma, ninguém jamais dá nada para alguém sem um propósito” – sem dúvida um exagero.
Surge então na História a pessoa de Jesus e com Ele um grande exemplo de
ajuda aos pobres e oprimidos, bem como do cuidado para com aqueles que sofriam
com a pobreza. Uma de suas parábolas mais conhecidas é a do bom samaritano
(Lucas 10.25-37), onde um homem para e cuida de um estranho, quando nem o
sacerdote ou o levita pararam. Essa parábola causou impacto na civilização
ocidental. No Reino a generosidade com os pobres é incentivada, e em alguns
casos, pessoas eram convidadas a dar tudo o que tinham aos pobres.
No Reino o motivo das doações também era novo. Kennedy diz: “A doação
era feita por amor a Jesus, pois o ensinamento cristão é que Jesus era rico, mas
tornou-se pobre por nós, por isso nos tornamos ricos”. O apoio às viúvas era
enfatizado, bem como aos orfãos, deficientes e enfermos ou para com aqueles que
30
por abraçarem a fé no cristianismo perderam seus empregos ou eram presos. Na
teoria e na prática, a comunidade do Reino de Deus era unida pelo amor, na qual o
auxílio material recíproco era a lei.
Uma inovação no trabalho com os necessitados é que este não era limitado
aos membros de uma igreja. Tanto que o Imperador Juliano, o Apóstata, último
imperador romano a tentar aniquilar a fé dos cristãos, maravilhou-se ao ver como
estes amavam até os pagãos, mesmo sendo seus inimigos. Em um de seus escritos,
o Imperador Juliano disse: “É vergonhoso que os ímpios galileus (cristãos)
sustentem seus pobres e os nossos também, e sabe-se que nenhum judeu jamais
precisou pedir esmola. Todos verão que nosso povo não recebe nosso auxílio”.
Robin Lane Foz citado por Kennedy diz:
Os cristãos auxiliavam os pobres, as viúvas e os orfãos, assim como faziam as comunidades das sinagogas, suas predecessoras. Esse “amor fraternal” em razão de as pessoas irem à Igreja, como se apenas os que fossem membros pudessem conhece-lo. Na verdade esse amor fraternal era facilmente reconhecido. Quando os cristãos eram presos, outros irmãos na fé reuniam-se para levar a eles alimento e consolo. Luciano o pagão conhecia bem essa prática. Segundo Tertuliano, quando os cristãos eram levados para morrer na arena, a multidão gritava: “Vejam como esses cristãos amam uns aos outros”. O “amor” cristão era conhecido publicamente e deve ter desempenhado seu papel em atrair não-convertidos a fé.
O testemunho dos cristãos no auxílio aos necessitados no decorrer dos
séculos ficará gravado para sempre. Entre os Puritanos havia poucos pobres. O Dr.
Leland Ryken em “Santos no Mundo”, afirma:
O que os Puritanos realmente fizeram para ajudar aos pobres? O teólogo anglicano Lancelot Andrews observou em 1558 que as igrejas calvinistas de refugiados, em Londres foram capazes de “fazer tanto bem, nenhum dos seus pobres é visto nas ruas a pedir” [...] W. K. Jordan reuniu uma enorme quantidade de dados sobre padrões de filantropia da Inglaterra
durante a época da Reforma [...] “Uma vasta porção (dos doadores) eram puritanos”, conclui e menciona como um dos “grandes impulsos condutores”
30
por trás do crescimento da caridade voluntária “a emergência da ética protestante”.
A caridade do Reino continuou além da Revolução Industrial. Inúmeros
exemplos de cristãos do século XIX que ajudavam os necessitados são conhecidos,
entre eles:
George Muller e seus famosos orfanatos na Inglaterra;
A Associação Cristã de Moços (1844) e Moças (1855);
Lord Shaftesbury e Anthony Ashley Cooper, que fizeram muito pelos pobres
da Inglaterra;
E a lista continua de forma crescente. Porém, o que entristece nos dias de
hoje quando se fala em termos de serviço social para com o Reino, parece que já
não há tanta importância, como se não fosse missão inerente àqueles que
seguem ao Rei Jesus. Kraybill sobre isso afirma:
“Nos círculos religiosos, o termo “espiritual” ocupa o alto da escada sagrada. Em contraste, a palavra “social” por muitas vezes fica relegada ao degrau mais baixo. As realidades espirituais, conforme prossegue essa lógica, procedem de Deus. Elas são santas. O esforço humano, por outra parte, impulsiona as questões sociais. Estando longe do coração de Deus, as realidades sociais são suspeitas. Espiritual é melhor que social. Esperamos que uma atividade da Igreja não se reduza a “mero evento social” – o que subentende que não teria qualquer significado espiritual”.
Infelizmente a história tem mudado e instituições que não seguem ao Rei
Jesus tem claramente feito muito mais em favor dos pobres que os súditos do Reino
Celeste.
4.2 MUDANÇA DE VIDA: EDUCAÇÃO PARA TODOS
30
Não se pode negar que exista um número grande de pessoas que vivem em
situação sofrível de vida. Quando questiona-se o que fazer para mudar essa
situação, é impossível dissociar uma mudança de mentalidade das pessoas, pois
com um novo pensamento é mais fácil alguém decidir de alguma forma buscar uma
nova vida. Uma dessas maneiras de mudar a mentalidade de grupos é através da
educação, pois ela abre os horizontes do ser humano e justamente por isso é que
ela é também responsabilidade do Reino onde quer que ele chegue.
Um fato inegável é que o Cristianismo é a base para o fenômeno de
educação das massas populares, mesmo porque em suas raízes está o ensino. Diz
sobre essa vertente o Dr. J. D. Douglas:
Desde o início, a religião da Bíblia passou de mão em mão por intermédio de ensinamentos [...] O Cristianismo é por excelência uma religião passível de ser ensinada, e a história de seu crescimento é muito pedagógica [...] Á medida que o cristianismo difundiu-se, foram desenvolvidos padrões educacionais mais formais.
Mesmo durante a Idade das Trevas, na qual a maioria das pessoas era
analfabeta, eram padres e monges que mantinham o conhecimento vivo. Muitos
idiomas foram transcritos pela primeira vez por missionários cristãos, para que as
pessoas pudessem ler a Bíblia. Para esse processo os missionários aprendiam o
idioma e traduziam a Bíblia para a lingua nativa. Fornecendo a Bíblia no idioma do
povo, os súditos do Rei estavam automaticamente promovendo a alfabetização em
todo o mundo.
A idéia de educação para todos veio diretamente da Reforma, apesar de
tentativas de uma reforma educacional antes do século XVI. Um caso notável
aconteceu no reinado de Carlos Magno, na França do século IX, que contratou
professores para levar a educação ao máximo de pessoas no Império Romano,
30
porém, após sua morte todo empenho extinguiu-se. Quando a Bíblia tornou-se
novamente o foco do cristianismo é que a educação para as massas surgiu.
O proeminente educador americano e autor, Dr. Samuel Blumenfeld declara
que as raízes do ensino das massas remetem à Reforma e, especialmente a
Calvino. Os reformadores acreditavam que a única forma de manter a Reforma
protestante e consequentemente a liberdade por ela alcançada, seria fazendo com
que as pessoas lessem a Bíblia. Citando Blumenfeld:
A idéia moderna de ensino popular, ou seja, de ensino para todos, surgiu primeiramente na Europa durante a Reforma protestante, quando a autoridade papal foi substituida pela autoridade bíblica. Como a rebelião protestante contra Roma originou-se em parte como resultado do estudo e da interpretação da Bìblia, tornou-se óbvio para os leitores protestantes que se eles quisessem que o movimento da Reforma sobrevivesse e florescesse, seria absolutamente indispensável a divulgação da literatura bíblica em todas as camadas da sociedade.
Calvino deixou-nos um enorme legado com suas teorias de ensino e suas
aplicações práticas, as quais podem ser encontradas na Academia de Genebra, que
era modelo para muitos colégios e universidades antigas, fundadas pelos Puritanos
e seus sucessores. Ele também defendia que o propósito da educação é tornar
Deus conhecido entre as pessoas e ensiná-las a glorificá-lo como Deus e acreditava
que deviamos também estudar as verdades de Deus no seu “segundo livro”, a
natureza.
Em Genebra estimulou a educação para todos, que se tornou um modelo
para nossos dias em todo o mundo. Tudo era feito de acordo com as Escrituras, e
este era o legado da Reforma.
Calvino também tinha opiniões contundentes acerca de quem deveria educar
as crianças. Afirmava que a Bíblia deixa claro que a responsabilidade final não
compete ao Estado nem a Igreja, mas aos pais, que aliados aos demais fatores de
30
educação podem produzir uma sociedade capacitada para mudar sua realidade
presente e futura.
O cristianismo não somente contribuiu para a educação no Ocidente, mas,
nos dois últimos séculos, missionários cristãos foram os que primeiramente
educaram milhões de pessoas no terceiro mundo. Fundaram escolas nas selvas,
criaram a escrita de linguas e alfabetizaram inúmeras pessoas. Um missionário
americano que serviu nas Filipinas, Frank Laubach (1884 – 1970), desenvolveu um
método de ensino que até hoje é usado na alfabetização e estima-se que mais de
cem milhões de pessoas aprenderam a ler pelo método Laubach em pelo menos
duzentos países.
Se realmente quisermos gerar mudança de vida em uma sociedade, pelo
menos dois caminhos devem ser seguidos, o da Palavra pregada e o da Educação,
pois assim o homem será liberto em duas esferas, a espiritual e a intelectual. Onde o
Reino de Deus chegou trouxe consigo educação para o povo e, infelizmente essa
vertente tem sido abandonada ou pelo menos trocada por meros movimentos
“espirituais”. Precisamos urgentemente voltar as veredas antigas, mas que davam
certo.
Somente pela multiforme graça de Deus, as vidas serão mudadas, não com
um processo mágico, mas com esforço e dedicação. A libertação começará nas
mentes e alcançará toda sociedade.
30
5. A RELAÇÃO FUTURO – PRESENTE
“...em sua coxa estava escrito Rei dos reis e Senhor dos senhores”
Apocalipse 19.16
Existe um eterno conflito entre o “já” do reino e o “ainda não”, ambos
gerando debates e posturas opostas dentro da Igreja. É claro por demais o fato de
que o Reino de Deus é algo existente no presente, porém, afetado por aquilo que
acontecerá no futuro, ou seja, o mundo caminha como um todo para uma nova
“plenitude dos tempos”. Mas assim sendo, que postura deveríamos ter diante do
mundo no qual vivemos? Devemos agir como uma vanguarda conformada com a
situação, que espera e sonha com a instauração desse reino ou tentar agir como
agentes de transformação histórica, colocando algumas de nossas esperanças
ainda neste mundo?
O próprio Jesus pareceu ter uma postura quanto a isso quando Pilatos, o
governador romano, perguntou a Jesus sem rodeios se ele era o rei dos Judeus, ele
respondeu: “O meu reino não é deste mundo. Se fosse, os meus súditos
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combateriam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas agora o meu reino
não é daqui”. Fidelidade a um reino “não deste mundo” também tem estimulado os
mártires cristãos que, desde a morte de seu fundador, têm encontrado a resistência
dos reinos deste mundo. Crentes desarmados utilizaram-se desse texto contra seus
perseguidores romanos no Coliseu. Quando Jesus afirma isso está falando de um
reino que é imanente, que transcende as fronteiras e às vezes as leis de nações e
impérios. Em outra ocasião, Jesus foi interrogado pelos fariseus sobre quando viria o
reino de Deus. Ele respondeu: “O reino de Deus não vem com aparência visível.
Nem dirão: Ei-lo aqui! ou Ei-lo ali! porque o reino de Deus está dentro de vós!”.
Visivelmente, o reino de Deus opera por um conjunto de regras diferentes
de qualquer reino do mundo, age de um modo transformador, modificador na vida
das pessoas. Mais uma vez citando Kraybill: “Abalos radicais acompanhariam o
Reino. Caminhos antigos seriam alterados a ponto de se tornarem irreconhecíveis” e
“Os que jogam no Reino seguem regras novas. Dão ouvidos a outro treinador”.
O reino de Deus não tem fronteiras geográficas, nem capital, nem sede
de parlamento, nem adornos reais visíveis. Seus súditos vivem bem no meio de
seus inimigos, não separados deles por uma cerca ou muro divisório. Ele vive e
cresce dentro dos seres humanos. Na verdade, os problemas parecem surgir
quando a igreja se torna demasiado externa e fica excessivamente acomodada com
o governo. Temos de continuamente nos perguntar: Nosso alvo principal é mudar
nosso governo ou ver vidas transformadas para Cristo dentro e fora do governo? É
nosso alvo primordial mudar o reino externo, político ou promover o reino
transcendente de Deus? Numa nação como o Brasil, os dois facilmente se
confundem. Cada vez que surge uma eleição, os cristãos debatem se este ou
aquele candidato é o “homem de Deus” para o cargo. Tenho dificuldade em imaginar
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Jesus pensando se Tibério, Otávio ou Júlio César eram os “homens de Deus” para
o Império. Os políticos de Roma eram quase irrelevantes para o reino de Deus. O
ponto em questão para aqueles que vivem em confronto pessoal com a idéia acerca
do reino e a atual situação do mundo poderia ser retratado na pergunta: Como
poderia um verdadeiro Messias permitir que tal mundo continuasse existindo? A
única explicação possível encontra-se nos ensinamentos de Jesus de que o reino de
Deus vem em estágios. É “agora” e também “ainda não”, presente e também futuro.
Às vezes Jesus enfatizava o aspecto presente, como quando disse que o reino está
“próximo” ou “dentro de vós”. Em outras ocasiões disse que o reino jaz no futuro,
como quando ensinou seus discípulos a orar: “Venha o teu reino, seja feita a tua
vontade, assim na terra como no céu”. Essa parte do Pai Nosso mostra que a
vontade de Deus não está aparentemente sendo feita na terra como é feita no céu.
Sob alguns aspectos importantes, o reino ainda não veio completamente. Durante
um período de tempo, o reino de Deus deve existir junto com uma rebelião ativa
contra Deus. O reino de Deus avança lentamente, humildemente, com a aparência
de um exército secreto de invasão atuando dentro dos reinos governados por
Satanás. Como C.S. Lewis expressou:
“Por que Deus está aterrissando disfarçado
neste mundo ocupado pelo inimigo e dando início a uma
espécie de sociedade secreta para solapar o diabo? Por que
não está aterrissando com força, invadindo-o? Será que não
é suficientemente forte? Bem, os cristãos pensam que Ele vai
aterrissar com força; não sabemos quando. Mas podemos
imaginar por que está demorando: quer dar-nos a oportu-
nidade de nos juntarmos a Ele livremente [...] Deus vai
invadir. Mas fico imaginando se as pessoas que pedem que
Deus interfira abertamente em nosso mundo entendem bem
como será quando o fizer. Quando isso acontecer, será o fim
do mundo. Quando o autor caminha pelo palco, a peça
acabou.”
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Os discípulos mais íntimos de Jesus tiveram dificuldade em captar essa
visão dupla do reino. Depois de sua morte e ressurreição, quando compreenderam
finalmente que o Messias viera não como rei conquistador, mas revestido de
humildade e de fraqueza, mesmo então um pensamento os atormentava: “Senhor,
restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?”. Sem dúvida estavam pensando num
reino visível para substituir o governo de Roma. Jesus repeliu a pergunta e ordenou
que levassem a sua palavra até os confins da terra.
A primeira vinda de Jesus não resolveu o problema do planeta Terra,
antes apresentou uma visão do reino de Deus para ajudar a quebrar a maldição
terrestre da ilusão. Apenas na segunda vinda de Cristo o reino de Deus aparecerá
em toda a sua plenitude. Até lá trabalhamos por um futuro melhor, sempre olhando
para trás, para os evangelhos, para o modelo de como será o futuro. Quando Jesus
vivia na terra fez os cegos verem e os aleijados andarem; ele vai voltar para
governar num reino que não terá enfermidades nem incapacidades. Na terra ele
morreu e ressuscitou; na sua volta, a morte não existirá mais. Na terra ele expulsou
demônios; na sua volta, ele destruirá o maligno. Na terra ele veio como um bebê
nascido numa manjedoura; ele vai voltar na figura deslumbrante descrita no livro do
Apocalipse. O reino que ele iniciou na terra não foi o fim, apenas o começo do fim.
Nós, na igreja, os sucessores de Jesus, fomos deixados com a tarefa de
apresentar os sinais do reino de Deus, e o mundo que observa vai julgar os méritos
do reino por nós. Vivemos num período de transição — uma transição da morte para
a vida, da injustiça humana para a justiça divina, do velho para o novo —
tragicamente incompleto, mas marcado aqui e ali, num momento ou noutro, com
indicações do que Deus vai um dia realizar em perfeição. O reino de Deus está
irrompendo no mundo, e podemos ouvir seus arautos.
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CONCLUSÃO
O Reino de Deus teria muito mais a ser falado, muito mais a ser admirado e
muito mais a ser vivido por nós. Podemos aprender durante a história o quanto o
reino é apaixonante, cativante e desejado e devemos com sinceridade, perceber que
ainda muita coisa pode e deve ser feita, mas também compreender que a maior
realização do reino somente deve ser aguardado, não com nostalgia, mas com
fervor e esperança. A melhor parte de tudo isso é ter a convicção de que esse reino
não é utopia, não é mais uma fantasia da Disney que o ser humano aceita com tanta
facilidade.
Não deve ter sido fácil para os grandes homens de Deus ao longo da história
aguardar a chegada desse reino, pois como cristãos, sempre desejamos uma
melhora social para a situação do mundo presente e nem sempre esperar sem
poder “fazer nada” é algo tão simples. Se questionássemos a várias pessoas sobre
o que poderia ser feito para mudar, haveriam as mais diversas respostas, desde
ações políticas conjuntas às religiosas, ações intercessórias da Igreja, trabalho
comunitário e muito mais, porém, haverá um ponto que só nos restará confiar em
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Deus e aguardar Sua ação no momento determinado por Ele.
No nível eclesiástico atual do reino é muito bom saber que o Reino é bem
maior que as denominações e que um dia veremos barreiras denominacionais
derrubadas, inexistência de preconceitos com determinado grupo por práticas
peculiares. Como seria bom se os súditos do reino presente-vindouro trabalhassem
em união em nossos dias. Enfim, a verdadeira e multiforme graça através do reino,
uma vez mais mostrando-se inconfinável.
Fica a lição de que o reino é bem mais prático e maior do que muitos pensam
e este requer mais ação e menos teoria e um desafio, um chamado a viver o
evangelho do Reino em sua plenitude, onde literalmente “convém que Ele cresça e
que eu diminua” (João 3.30).
E por fim, enquanto o reino não chega na sua totalidade devemos buscar
contribuir o máximo possível para que se cumpra ainda em nossos tempos, mesmo
que em escala bem menor que na futura o que a Bíblia fala em Filipenses 2.10-11
que diz: “para que ao nome de Jesus, se dobre todo joelho, nos céus, na terra e
debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de
Deus Pai.”
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BIBLIOGRAFIA
Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e
Sociedade Bíblica do Brasil, 1999
BULTMANN, Rudolf, 1884-1976. Jesus. Editora Teológica,São Paulo 2005
CARTER, Tom. 13 perguntas cruciais que Jesus quer fazer a você. São
Paulo: Editora Vida 2003
CONNER, Walter. Las Enseñanzas Del Señor Jesús. El Paso: Casa Bautista
de Publicaciones,
YANCEY, Philip. O Jesus que eu nunca conheci. São Paulo: Editora
Vida.2004
KRAYBILL, Donalb B., O Reino de Ponta Cabeça, Editora Cristã Unida, 1993,
Campinas-SP.
ELWELL, Walter (ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. S.
Paulo: Edições Vida Nova,1990, 3º vol.
SCHELKE, Herman. A Comunidade de Qumram e a Igreja do Novo
Testamento. S. Paulo: Edições Paulinas, 1972.
Santos no Mundo: os puritanos como realmente eram, S. J. dos Campos: Fiel,
1992.
DOUGLAS, J. D. Novo Dicionário Internacional da Igreja Cristã
30
BLUMENFELD, Samuel. O ensino público é necessário? Boise. Editora
Paradigma, 1985.
COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Palestra sobre O Reino de Deus no Antigo
Testamento, Escola de Pastores, 2002 - Niterói
ANEXOS
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ANEXO I
TERMOS UTILIZADOS NA MONOGRAFIA
1. Montanismo é um movimento cristão do segundo século fundado por Montano.
Os montanistas declaravam-se possuídos pelo Espírito Santo e, por isso,
profetizavam. Segundo estas profecias, uma outra era cristã se iniciava com a
chegada da nova revelação concedida a eles. Esse movimento surgiu na Frígia
(Ásia Menor Romana, hoje Turquia), pelos anos 170 d.C. Havia duas mulheres,
Priscila e Maximila, que eram as porta-vozes proféticas de Montano e dizia que o
Espírito Santo falava através delas. Fez muitas predições proféticas enganosas,
pois jamais foram cumpridas, como a de que a aldeia de Pepuza, na Frígia, seria a
Nova Jerusalém. Proibia certos alimentos, exigia jejuns prolongados e não permitia
o casamento de viúvas, como também negava o perdão de pecados graves ao novo
convertido, mesmo após o batismo (com confissão e arrependimento). Montano
queria fundar uma nova ordem e reivindicar seu movimento como sendo um
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movimento especial na história da salvação. O principal motivo de Montano era lutar
contra a paralisia e o intelectualismo estéril da maioria das igrejas organizadas na
época. Infelizmente, ele também caiu em extremos enganosos.
Esse movimento foi condenado várias vezes por vários sínodos de bispos, tanto
na Ásia Menor como em outros lugares encontrou fortes oposições, destacando-se
entre elas a de Apolinário, Bispo de Hierápolis. Foi submetido ao crivo de Roma
(177), quando os confessores de Lião intervieram junto a Eleutério. Seu
alastramento na Ásia e outras partes (193-196) suscitou novas refutações, como a
de Apolônio e de Serapião de Antioquia e levantou violentas oposições nos meios
romanos.A Igreja montanista se espalhou pela Ásia Menor, chegou a Roma e ao
norte da África. Seu adepto mais famoso foi, sem dúvida, Tertuliano - o maior
teólogo de então.
2. PURITANISMO - foram os “Peregrinos”, nos anos 1620. Eles foram seguidos por
milhares de Puritanos nos anos 1630 e estes deixaram suas fortes marcas em sua
nova terra, tornando-se a mais dinâmica força nas colônias Americanas.
Reportando-nos à Inglaterra, os Puritanos foram influentes pessoas na vida política
do país, até que o Rei Charles não tolerou mais suas tentativas de reformar a Igreja
da Inglaterra. Estava montada a perseguição. Veio então a idéia de que a única
esperança seria deixar o país. Quem sabe na América eles poderiam estabelecer
uma colônia cujo governo, sociedade e igreja fosse totalmente baseadas na Bíblia.
A “Nova Inglaterra” poderia vir a ser a velha Inglaterra sem todos os defeitos de
incredulidade e corrupção. “Puritanos” foi um termo ridiculamente usado durante o
reinado da Rainha Elizabeth.
Eles eram os cristãos que desejavam uma Igreja da Inglaterra isenta de qualquer
liturgia, cerimônia ou práticas que não estivessem absolutamente com base bíblica.
A Bíblia era sua única autoridade, e eles defendiam que deveria ser usada em todos
os níveis e áreas da vida. Os Puritanos defendiam tenazmente que o Senhor e o
Seu culto eram importantes o suficientemente para que fosse reservado um dia
inteiro na semana para total dedicação ao Senhor. E os Puritanos dedicavam
seriamente o domingo ao Senhor. Os sermões tinham importância vital para a vida
intelectual dos Puritanos e eles raramente gastavam menos do que uma hora nas
exposições. Os instantes de oração podiam ser igualmente longos. A princípio não
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havia cânticos de hinos nos cultos dos Puritanos. Apenas os Salmos ou textos
parafraseados da Bíblia eram cantados. O primeiro livro impresso na América foi o
“Livro Geral dos Salmos”, uma versão métrica dos Salmos de Davi, impresso em
1640. A família era a instituição básica mais importante da sociedade Puritana, e
funcionava como uma igreja em miniatura. Estabelecida por Deus antes de qualquer
outra instituição e antes da queda do homem, a família era considerada o
fundamento de toda vida civil, social e eclesiástica. Todos os dias, pela manha e a
noite, a família se reunia para cultuar, a aos domingos se alegravam em poder
cultuar junto com outras famílias.