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Universidade Estadual PaulistaJlio de Mesquita Filho Instituto de Qumica de Araraquara Departamento de Qumica Orgnica

Renan Moraes Pioli

Estudo qumico de Piper tuberculatum

Araraquara 2011

1

RENAN MORAES PIOLI

Estudo qumico de Piper tuberculatum

Monografia apresentada ao Instituto de Qumica, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Bacharel em Qumica

Prof. Dr. Maysa Furlan

Araraquara 2011

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DEDICATRIAS

Aos meus pais Jos Carlos e Joceline...e a todos os meus familiares, por todo incentivo, amor e carinho que me ofereceram, com os quais eu pude realizar o meu sonho de estudar o que gosto. Pela liberdade dada pra eu escolher o que seria da minha vida, mas sempre me dando conselhos e proporcionando todos os elementos para eu dar continuidade ao meu estudo. Obrigado por tudo, sou muito grato. Se tenho hoje esse carter graas vocs. Te amo.

3

DEDICATRIAS

Maysa Furlan,pelo incentivo, pacincia e ensinamentos proporcionados para este trabalho. Apesar da pouca convivncia tenho muita admirao e considerao por voc e respeito pela pessoa que .

Obrigado por tudo!

4

DEDICATRIAS

DEUS...por me conceder sade, paz e amor em toda minha vida, principalmente fora de vontade para realizar o meu sonho..

5

AGRADECIMENTOS

Manon Nogueira, minha namorada, pelo carinho, amor e incentivo que tem dado ao decorrer da minha vida. Por todos os momentos que precisei de voc ao meu lado, momentos felizes e triste. Te amo.

Aos meus co-orientadores e, principalmente, amigos: Fernando Continguiba, Lidiane Felippe e Vnia Formenton pela compreenso, ensinamentos, carinhos, conselhos. Sem vocs esse trabalho nunca poderia ser realizado.

Aos meus grandes amigos de Itapira: Andr Ricardo (Juninho), Adones Guinato, Rai Moyses, Letcia Scholz, Jean Pablo Toledo, Joo Vitor Russo (Xina), e Carlos Eduardo Almeida Rosrio (D), por proporcionar momentos de risada, descontrao e por sempre estarem ao meu lado. Valeu galera.

Aos meus amigos de Repblica (Xurupitas Farm e Etanos): Jatob, Pel, Chucky, Varo, Jen, Bahia, Flvio, Fino, Macaco, Marcatrosso e Xina. Foi muito bom morar com vocs e dividir as responsabilidades.

Aos meus grandes amigos de Araraquara: Gota, Jaspion, Husky, Minhoca, Tonho, Marcelo, Pedro, Guloso e Ja pelos momentos engraados e de descontrao que proporcionaram.

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Aos companheiros de Laboratrio do NuBBE 1.

CNPq pela bolsa pleiteada.

Ao Intituto de Qumica UNESP Araraquara.

7

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 01

Fotos do acervo pessoal mostrando as folhas e infrutescncias de Piper tuberculatum.

21

Figura 02

Fotos

do

acervo

pessoal

mostrando

as

colunas

27

cromatogrficas realizadas visando purificao de substncias presentes em Piper tuberculatum. Figura 03 Figura 04 Figura 05 Estrutura qumica da amida piplartina (01). Estrutura qumica da amida tetraidropiplartina (02). Espectro de 1H-RMN da amida piplartina, obtido a 500 MHz e solvente CDCl3. Figura 06 Figura 07 Ampliao do espectro 1H-RMN da amida piplartina. Segunda ampliao do espectro de 1H-RMN da amida piplartina. Figura 08 Terceira ampliao do espectro de 1H-RMN da amida piplartina. Figura 09 Espectro de13

29 31 35

36 37

38

C-RMN da amida piplartina, obtido a 125

39

MHz e solvente CDCl3. Figura 10 Espectro de 1H-RMN da amida tetrapiplartina, obtido a 500 MHz e solvente CDCl3. Esquema 01 Hidrogenao cataltica da amida piplartina, fornecendo como produto a amida reduzida, tetraidropiplartina. Fluxograma 01 Esquema de obteno das amidas e derivados do cido cinmico, a partir do fracionamento em CC do extrato das infrutescncias de P. tuberculatum. 26 28 40

8

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Tabela 02

Rendimento da extrao Dados de RMN de 1H e de RMN de 13C da piplartina (01)

25 30

9

LISTA DE ABREVIATURAS, SMBOLOS E SIGLAS

AcOEt - acetato de etila CC Cromatografia em coluna CCDA - Cromatografia em camada delgada analtica CCDP - Cromatografia em camada delgada preparativa CDCl3 - clorofrmio deuterado d - dubleto* dd - duplo dubleto* dt - duplo tripleto* DCM diclorometano E - contrrio (do alemo Entgegen) g - grama RMN 1H - Ressonncia Magntica Nuclear de hidrognio um RMN 13C - Ressonncia Magntica Nuclear de carbono treze Hz - Hertz J - Constante de acoplamento mMol - milimol M - Molar (mol.L-1) m - multipleto* mg - miligrama MHz - megahertz mL - mililitro nm - nanmetro Pd/C - paldio em carvo ppm - parte por milho

10

q - quadrupleto* s - singleto* t - tripleto* tR - tempo de reteno THF - tetraidrofurano Z - juntos (do alemo Zasummen) - dimetro da coluna - comprimento de onda - deslocamento qumico

* Os termos traduzidos foram estabelecidos pela comisso de nomenclatura e traduo em RMN da AUREMN (Associao de Usurio rios de Ressonncia Magntica Nuclear)

11

SUMRIO

1.

INTRODUO .......................................................................................................... 17 1.1. 1.2. 1.3. A Famlia Piperaceae e o Gnero Piper............................................................ 18 A espcie Piper tuberculatum .......................................................................... 19 Amidas naturais, semi-sintticas e sintticas .................................................. 20

2. 3.

OBJETIVOS .............................................................................................................. 22 METODOLOGIA ....................................................................................................... 22 3.1. MATERIAIS E MTODOS ................................................................................... 22 Cromatografia em camada delgada (CCD) ............................................... 22 Preparao da soluo de anisaldedo ..................................................... 23 Preparao da soluo de Dragendorff .................................................... 23 Cromatografia em coluna (CC) ................................................................. 23 Tcnicas espectromtricas ....................................................................... 24 Solventes................................................................................................... 24

3.1.1. 3.1.2. 3.1.3. 3.1.4. 3.1.5. 3.1.6. 3.2. 3.3. 3.4. 3.5.

Coleta e identificao do material botnico .................................................... 24 Preparao do extrato das infrutescncias de P. tuberculatum ..................... 25 Isolamento de amidas das infrutescncias de P. tuberculatum ...................... 26 Obteno dos derivados semi-sintticos ......................................................... 28 Hidrogenao cataltica (BELLETIRE et al.; 1988) ..................................... 28

3.5.1. 4.

RESULTADOS E DISCUSSES ................................................................................... 29 4.1. Substncias isoladas das infrutescncias de Piper tuberculatum ................... 29 Identificao da amida piplartina (1) ....................................................... 29

4.1.1. 4.2.

Derivados semi-sintticos das amidas de P. tuberculatum ............................. 31 Identificao da tetraidropiplartina (2) .................................................... 31

4.2.1.

12

5.

CONCLUSES .......................................................................................................... 32

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................................................... 33 ANEXOS ........................................................................................................................... 35

13

RESUMOAs espcies da famlia Piperaceae se desenvolvem basicamente em regies de clima tropical e locais sombreados, preferencialmente. Apresentam quatro gneros, incluindo Manekia, Peperomia, Zippelia e Piper, sendo o ltimo gnero o mais abrangente com mais de duas mil espcies. A espcie Piper tuberculatum, conhecida popularmente como pimenta-darta e pimenta-longa, mostra o acmulo de amidas, mais especificamente amidas piperidnicas, piperidnicas e isobutlicas, as quais apresentam potentes atividades biolgicas: antifngica frente a fitopatgenos e patgenos humanos, carrapaticida, ansioltica, analgsica e antitumoral. Baseado na potencialidade biolgica desta classe de substncias, o trabalho ora proposto tem como principal objetivo isolar e determinar a estrutura qumica de amidas presentes na espcie P. tuberculatum, assim como proceder a avaliao biolgica das mesmas, frente a clulas tumorais. O estudo qumico foi iniciado a partir da obteno do extrato em diclorometano:metanol (2:1). O mesmo, foi submetido a fracionamento cromatogrfico utilizando coluna de slica gel (60 Mesh) como fase estacionria e como eluente hexano:metanol no modo gradiente, visando a purificao das amidas. Aps anlise por cromatografia em camada delgada analtica foi possvel vislumbrar o isolamento de uma substncia pura. A estrutura qumica da mesma foi elucidada por tcnicas espectromtricas, incluindo Ressonncia Magntica Nuclear de hidrognio um e de carbono treze (RMN 1H e 13C) e espectrometria de massas, permitindo identificla como piplartina (1). A piplartina (1) foi reduzida utilizando H2 e Pd/C, obtendo-se o derivado (2), que tambm teve sua estrutura qumica determinada por tcnicas de

14

RMN 1H e

13

C. As substncias 1 e 2 sero avaliadas por testes antitumorais para

posterior anlise da relao estrutura qumica:atividade biolgica da piplartina (1) e seu derivado reduzido (2).

7' 2'

O3' 1' 9 7 8 1

O3 2 4 5

O

O N

O8'

N6

H2 Pd/C

O

6'

O

4' 5'

O O

O9'

piplartina (1)

tetraidropiplartina (2)

15

ABSTRACT

The Piperaceae family shows species growing mainly in tropical and shaded regions. These species species belong to four genera, including Manekia, Peperomia, Zippelia and Piper. The latter genus is the most comprehensive, with more than two thousand species. The Piper tuberculatum species, popularly known as pimenta drda and pimenta longa, shows the accumulation of amides, specifically piperidine, piperidone and isobutyl derivatives. These amides show potent biological activities, including antifungal against plant pathogens and human pathogens, ticks, anxiolytic, analgesic and antitumoral. Based on the biological potential of this class of substances, the proposed work has as main goal to isolate and determine the chemical structure of amides present in the P. tuberculatum species, as well as carry out the biological evaluation of them as a potent antitumoral, comparing to tumor cells. The chemical study was performed and the dichloromethane: methanol (2:1) extract was obtained. The hydroalchoolic extract was submitted to chromatographic fractionation using silica gel column (60 mesh) as stationary phase and hexane:methanol as eluent, in a gradient mode, aiming at the purification of amides. The compounds were analysed by thin layer chromatography. The chemical structure of the pure compound was elucidated by spectrometric techniques, including nuclear magnetic resonance of hydrogen one and carbon thirteen (1H and 13C NMR) and mass spectrometry, allowing to identify it as piplartina (1). The piplartina (1) was reduced using H2 and Pd/C. The

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derivative (2) also had its chemical structure determined by techniques of 1H and 13C NMR. Compounds 1 and 2 will be evaluated against various tumor cells.

7' 2'

O3' 1' 9 7 8 1

O3 2 4 5

O

O N

O8'

N6

H2 Pd/C

O

6'

O

4' 5'

O O

O9'

piplartine (1)

tetrahydropiplartine (2)

17

1. INTRODUOBiodiversidade pode ser definida como o conjunto de organismos vivos inseridos em diferentes nichos ecolgicos. Pode ser ainda entendida como uma associao de vrios componentes hierrquicos tais como: ecossistemas,

comunidades, espcies, populaes e genes, em uma rea definida. A magnitude da biodiversidade brasileira no conhecida com preciso tal a sua complexidade, sendo que estima-se a existncia de mais de dois milhes de espcies distintas de plantas, animais e microorganismos. O Brasil o pas com a maior diversidade vegetal do mundo, contando com mais de 55.000 espcies catalogadas num total estimado entre 350.000 e 550.000. Considerando que mais da metade dessas espcies se encontram nas florestas tropicais, cuja rea corresponde a 7% da superfcie da Terra, essas regies devem ser consideradas como prioritrias no estabelecimento de programas de conservao de germoplasma vegetal (CORSINO et al; 2001). As plantas constituem a mais importante fonte de compostos qumicos orgnicos. Enquanto o metabolismo primrio sintetiza compostos essenciais a todas as espcies vegetais, seu metabolismo secundrio produz compostos com diversas funes especficas, entre elas a de defesa contra o ataque de insetos (MIRANDA et al.; 2002).

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1.1.

A Famlia Piperaceae e o Gnero Piper

A famlia Piperaceae considerada de mdio porte, abrange dez gneros e aproximadamente 2.000 espcies. A distribuio dos representantes desta famlia basicamente tropical e apresenta seu habitat em regies sombreadas. Em solo brasileiro esto presentes quatro gneros (Manekia, Peperomia, Piper e Zippelia), alm de mais de 450 espcies. Considerando os quatros gneros, Piper e Peperomia so os mais abundantes em nmero de espcies, o primeiro com mais de 2000 e o segundo com mais de 1700. Essas espcies podem ser encontradas na natureza como ervas, arbustos ou rvores pequenas. As folhas esto dispostas alternadamente podem estar opostas ou verticiladas (essas ltimas com menor freqncia) e podem ou no apresentar estpulas. As inflorescncias das espcies de Piperaceae so espigas, mas em Ottonia so racemos, ou seja, esto posicionadas terminalmente ou axilarmente, porm no gnero Piper esto opostas. As flores no so exuberantes nem chamativas, podem ser uni ou bissexuais, tem ovrio spero com um at quatro carpelos, um lculo e um vulo. Os frutos so do tipo baga ou drupa (INSTITUTO DE BOTNICA; 2011). Espcies da famlia Piperaceae tm sido amplamente estudadas como fonte de metablitos secundrios com atividades biolgica, incluindo anti-Trypanosoma cruzi, leishmanicida, ansioltico, convulsionante e inflamatria (FELIPPE et al.; 2008; REGASINI et al.; 2009). Piper um gnero economicamente e ecologicamente significante que inclui uma gama de espcies vegetais para o estudo de produtos naturais na qumica

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orgnica englobando mais de 2000 espcies em ambos os hemisfrios e distribuindose em regies de climas tropical e subtropical. Algumas dessas espcies so economicamente importantes, tais como: P. nigrum, P. methysticum, P. betle, pois so utilizadas como condimentos. No Brasil, diversas espcies de Piper tm uso na medicina popular para diferentes propsitos (FERREIRA et al.; 2010, CONSERVA et al.; 2011). Plantas deste gnero tm sido valorizadas pelas propriedades organolpticas, medicamentosas e pesticidas. A principal propriedade organolptica da famlia Piperaceae resultou na pimenta preta, preparada a partir de frutos secos de Piper nigrum. As amidas piperina e piperilina tm sido responsveis pelo acentuado sabor picante das especiarias, enquanto a pelitorina contribui para o aroma (Felipe et al.; 2007). As piperamidas so amplamente reportadas com potencial atividade inseticida (NAVICKIENE; 2003).

1.2.

A espcie Piper tuberculatum

Piper tuberculatum uma planta arbustiva conhecida do ponto de vista qumico por acumular amidas e derivados do cido cinmico (Navickiene et al.; 2000). Em algumas comunidades do Nordeste do Brasil, P. tuberculatum, popularmente conhecida como pimenta-darda e pimenta-longa, usada na medicina popular como antdoto para picada de cobra e sedativo (FELIPE et al.; 2007).

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Algumas amidas, substncias com estruturas e propriedades semelhantes s de componentes da pimenta-do-reino, foram isoladas de Piper tuberculatum (Piperaceae) e apresentaram grande potencial contra a broca-da-cana (Diatraea sacharalis) e a lagarta-da-soja (Anticarsia gematalis), responsveis por grandes prejuzos na agricultura nacional.

1.3.

Amidas naturais, semi-sintticas e sintticas

Piplartina e piperina, dentre outras, so amidas-alcalides isoladas de espcies do gnero Piper. Apresentam citoxicidade frente a algumas linhagens de clulas tumorais (BEZERRA et al.; 2006). Alm das atividades relatadas anteriormente, um estudo constatou que a amida piplartina, tambm conhecida como piperlongumina, eleva o nvel de espcies reativas de oxignio (ROS) e conduz clulas tumorais apoptose (RAJ et al.; 2011). Compostos amdicos so preparados utilizando-se cido carboxlico e a amina de interesse como substncias de partida. H vrios relatos de amidas preparadas pela reao do cido carboxlico com cloreto de tionila (SOCl2) para obteno do cloreto de cido, seguido da adio da amina de interesse (KOUL et al.; 2000). O cloreto de oxalila (C2O2Cl2) substitui com sucesso o cloreto de tionila nestas reaes, pois exige menor tempo reacional, alm de maior rendimento dos cloretos e consequentemente das amidas de interesse (NOMURA et al.; 2003; PAULA et al.; 2000; RIBEIRO et al.; 2004).

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Derivados de amidas esto associados ao amplo espectro de atividades biolgicas, incluindo propriedades antituberculose, anticonvulsionante, analgsica, antiinflamatria, inseticida, antifngica e antitumoral. Derivados da morfolina mostram um amplo espectro de atividades, incluindo bactericida e inseticida. Geralmente, derivados contendo benzilamidas mostram maior potencialidade biolgica quando comparadas a outras amidas (KUSHWAHA et al.; 2011). Com vistas a estudo da relao estrutura:atividade biolgica de amidas frente s uma grande gama de atividades, vrios derivados semi-sintticos foram com vistas a potencializar a atividade biolgica em relao substncia precursora (RAO et al.; 2006).

Figura 01: Fotos do acervo pessoal mostrando as folhas e infrutescncias de Piper tuberculatum

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2. OBJETIVOSa) Isolamento e determinao estrutural de metablitos secundrios das infrutescncias de Piper tuberculatum, visando a busca de substncias biologicamente ativas; b) Isolar a amida pelitorina para teste carrapaticida; c) Obteno da tetraidropiplartina, a partir da reduo cataltica da piplartina.

3. METODOLOGIA3.1. MATERIAIS E MTODOS

3.1.1. Cromatografia em camada delgada (CCD) Para a cromatografia em camada delgada analtica (CCDA), em fase normal, foram utilizadas placas de vidro cobertas com sliga gel 60 (Merck) com 0,25 mm de espessura, e para cromatografia em camada delgada preparativa (CCDP), placas de vidro impregnadas com slica PF254, com indicador de fluorescncia (Merck), com 1,0 mm de espessura. A revelao das cromatoplacas foi efetuada atravs de inspeo em luz ultravioleta, nos comprimentos de onda de 254 e 366 nm (Chromatovus), e tambm mediante uso de reagentes reveladores (soluo de anisaldedo e soluo de Dragendorff).

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3.1.2. Preparao da soluo de anisaldedo Para a preparao da soluo reveladora foram utilizados 0,5 mL de anisaldedo, 10,0 mL de cido actico, 8,5 mL de metanol e 5,0 mL de cido sulfrico concentrado. Esses foram adicionados em um erlenmeyer submerso em um banho de gua com gelo. Esta soluo foi estocada em frasco mbar. Sua utilizao consiste em borrifar a cromatoplaca, aquec-la em estufa a 120 C por 5 minutos, observando-se a presena de manchas de cores caractersticas.

3.1.3. Preparao da soluo de Dragendorff Soluo (a) dissolver 0,85 g de subnitrato de bismuto em soluo de 10,0 mL de cido actico e 40,0 mL de gua; Soluo (b) dissolver 8,00 g de iodeto de potssio em 20,0 mL de gua; Soluo estoque misturar as solues (a) e (b) nas propores 1:1; Soluo para borrifar misturar 1,0 mL da soluo de estoque com 2,0 mL de cido actico e 10,0 mL de gua. O teste ser positivo quando manchas alaranjadas forem observadas na placa, indicando a presena de substncias nitrogenadas.

3.1.4. Cromatografia em coluna (CC) Para cromatografia em coluna (fase normal), foi utilizada slica-gel 60 (Merck), 70-230 Mesh, sendo esta misturada em hexano e em seguida transferida para uma coluna, mantendo-se o fluxo at a compactao da fase estacionria.

24

3.1.5. Tcnicas espectromtricas Os espectros de Ressonncia Magntica Nuclear (RMN) foram obtidos em espectrmetro Varian Unity 500, operando a 500 MHz na frequncia do 1H e a 125 MHz na frequncia do 13C. O solvente utilizado foi CDCl3 (Merck).

3.1.6. Solventes Os solventes utilizados para cromatografia em camada delgada analtica e preparativa (CCDA e CCDP) e cromatografia em coluna (CC) foram de grau P.A. A concentrao dos extratos e das fraes foi realizada sob presso reduzida, utilizando-se evaporadores rotativos Bchi.

3.2.

Coleta e identificao do material botnico

As infrutescncias de Piper tuberculatum foram colhidas no perodo entre os dias 7 e 10 de Fevereiro de 2011, na Casa de Vegetao do Instituto de Qumica Campus UNESP Araraquara. A identificao da planta foi feita pelo professor Dr. Guillermo E. D. Paredes (Universidade Pedro Ruiz Gallo Peru). A exsicata da planta (Kato-163) est depositada no herbrio do Instituto de Botnica, So Paulo SP.

25

3.3.

Preparao do extrato das infrutescncias de P.

tuberculatumAs infrutescncias foram secas em estufa a 40 C por 7 dias. Aps a secagem, estas foram modas em moinho eltrico e submetidas extrao com metanol e diclorometano (2:1), alm de acetato de etila, em ultrassom por 20 minutos.

Tabela 01: Rendimento da extrao.

Massa seca (a) 803 g

Massa do extrato (b) 48,8894 g

Rendimento (b/a) 6,1 %

26

3.4.

Isolamento de amidas das infrutescncias de P.

tuberculatumO extrato de infrutescncias foi submetido cromatografia em coluna (CC) utilizando como fase estacionria slica gel 60 (Merck) e fase mvel e eluio gradiente em ordem crescente de polaridade (misturas de hexano, acetato de etila e metanol). Obteve-se 14 subfraes que foram agrupadas em 8 subfraes aps a revelao com anisaldedo. As substncias foram isoladas conforme o fluxograma 01.

Fluxograma 01: Esquema de obteno das amidas e derivados do cido cinmico a partir do fracionamento em CC do extrato das infrutescncias de P. tuberculatum.

Extrato de infrutescncias de P. tuberculatum 48,8894 g

Cromatografia em coluna: slica comum Eluio gradiente: hexano at metanol 8 subfraes

Subfrao Fr.4 20,3212 g

Fracionamento em CC Eluio: Hexano a metanol 13 subfraes

Subfrao Fr.3 20,3212 g

Fracionamento em CC Subfrao Fr.5 4,1507 g Fracionamento em CC Eluio: Hexano a acetato de etila 14 subfraes Eluio: Hexano a acetato de etila 16 subfraes

ppt. Fr. 6 1,1967 g substncia 1 (E)-piplartina

Fraes enriquecidas com amida pelitorina

27

Figura 02: Fotos do acervo pessoal mostrando as colunas cromatogrficas realizadas visando purificao das substncias presentes em Piper tuberculatum.

28

3.5.

Obteno dos derivados semi-sintticos

Modificaes estruturais foram realizadas em amidas presentes em Piper tuberculatum, dentre elas hidrogenao cataltica, visando a reduo das ligaes duplas.

3.5.1. Hidrogenao cataltica (BELLETIRE et al.; 1988)Esquema 01: Hidrogenao cataltica da amida piplartina, fornecendo como produto a amida reduzida, tetraidropiplartina.

O O N O O

O

H2 Pd/C p, 7dias

O O N O O

O

A substncia 01 (piplartina) foi submetida hidrogenao cataltica (na proporo de 5% de Pd/C 10% em relao massa da amida utilizada na reao. O solvente utilizado foi o acetato de etila (30 mL), presso ambiente, durante 7 dias. Aps a obteno do produto reduzido este foi submetido purificao em coluna de slica utilizando mistura de solventes em ordem crescente de polaridade.

29

4. RESULTADOS E DISCUSSES4.1. Substncias isoladas das infrutescncias de Piper

tuberculatumMediante estudo qumico dos metablitos secundrios de Piper tuberculatum isolou-se duas substncias j conhecidas na literatura: piplartina (1) e pelitorina (2), alm de algumas substncias derivadas do cido trimetoxicinmico, sendo identificadas por RMN de 1H e RMN de 13C.

4.1.1. Identificao da amida piplartina (1) A amida piplartina foi isolada em grande quantidade, 1,1967g, logo na primeira coluna cromatogrfica, apresentado-se sob a forma de pequenos cristais brancos. A identificao desta foi atravs da comparao dos dados de RMN 1H e 13C da literatura (NAVICKIENE; 2002).

Figura 03: Estrutura qumica da amida piplartina (1).

7' 2'

O3' 1' 9 7 8 1

O3 2 4 5

O8'

N6

6'

O

4' 5'

O9'

30

Tabela 03: Dados de RMN 1H e RMN 13C da substncia piplartina (1).

Posio 2 3

Dados de RMN 13C Experimental 165,8 125,8

Dados RMN 13C (Navickiene, 2002) 165,8 125,7

Dados RMN 1H Experimental 5,98 (dt; J3,4 e J3,5=10,0:1,5 6,88 dt (J4,3 e J4,5=9,5; 4,3) 2,42 (m) 3,98 (t; J=6,5) 7,36 (d; J=15,5) 7,61 (d; J=15,0) 6,74 (s) 6,74 (s) 3,83 (s) 3,81 (s) 3,83 (s)

Dados RMN 1H (Navickiene, 2002) 5,95 (dt; J3,4 e J3,5=9,38: 1,6) 6,91 dt (J4,3 e J4,5=9,8; 4,2) 2,42-2,45 (m) 3,99 (t; J=6,5) 7,38 (d; J=15,5) 7,63 (d; J=15,6) 6,77 (s) 6,77 (s) 3,85 (s) 3,84 (s) 3,85 (s)

4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9

145,4 24,8 41,6 168,9 121,0 143,8 130,6 105,5 153,4 145,5 153,4 105,5 56,2 60,9 56,2

145,3 24,6 41,5 168,8 121,0 143,6 130,5 105,4 153,3 145,5 153,3 105,4 56,1 60,8 56,0

(a) 125 MHz, CDCl3 (b) 500 MHz, CDCl3.

31

4.2.

Derivados semi-sintticos das amidas de P. tuberculatum

4.2.1. Identificao da tetraidropiplartina (2) A amida tetraidropiplartina (03) foi obtida pela reduo cataltica da substncia piplartina, consistindo em reduzir as ligaes duplas presentes pela reao com o hidrognio, sob uma superfcie de Pd metlico ativado com carvo como (catalisador). Foi confirmado o produto da reao pela avaliao dos espectros de Ressonncia Magntica Nuclear de hidrognio um (RMN 1H), que mostrou apenas um sinal de hidrognio aromtico em 6,40, atribudo aos hidrognios 2 e 6 do anel aromtico. Observou-se tambm dois tripletos em 2,87 e 2,44, sendo estes atribudos aos hidrognios 8 e 9, respectivamente. Os hidrognios 3 e 4 so atribudos respectivamente aos sinais: tripleto em 1,51 e multipleto 1,43. Pode-se afirmar que as ligaes duplas no-aromticas da molcula foram hidrogenadas, pois os sinais dos hidrognios 9, 8, 3, e 4 anteriormente encontrados no espectro da piplartina no foram observados no espectro da tetraidropiplartina.

Figura 04: Estrutura qumica da tetraidropiplartina (2).7' 2'

O3' 1' 9 7 8 1

O3 2 4 5

O8'

N6

6'

O

4' 5'

O9'

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5. CONCLUSESA espcie Piper tuberculatum mostrou-se uma excelente matriz de amidas, onde foram identificadas duas amidas no extrato: piplartina e pelitorina. A hidrogenao cataltica da amida piplartina tetraidropiplartina em Pd/C ocorreu com elevado rendimento. A amida pelitorina ser encaminhada para testes carrapaticidas, aos cuidados da pesquisadora Ana Carolina de Souza Chagas, da Embrapa So Carlos SP. As amidas, piplartina e tetraidropiplartina sero encaminhadas para teste de atividade biolgica antitumoral, aos cuidados da Profa. Dra. Paula Rahal UNESP So Jos do Rio Preto.

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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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ANEXOS