Monografia Vanessa de Azambuja

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTASFACULDADE DE ADMINISTRAO E TURISMO

    CURSO DE BACHARELADO EM TURISMO

    Monografia

    Anlise da insero dos moni tores locais no desenvolvimento

    turstico da Ilha dos Marinheiros de Rio Grande/RS

    Vanessa Acosta de Azambuja

    Pelotas, agosto 2009

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus, pela a realizao desta faculdade, como tambm por ter colocado

    todas as pessoas que foram fundamentais para a elaborao desta monografia em

    meu caminho.

    A meus pais, por terem sempre me apoiado em todas as minhas decises,

    que mais do que isso, me ensinaram e incentivaram a buscar a realizao de meussonhos e objetivos.

    minha orientadora, a professora Franciane Dias, por ter me apoiado em

    todos os momentos de elaborao deste trabalho.

    A Anna Lcia Morisson, pelo inestimvel auxlio na elaborao desta

    monografia e por todo seu trabalho dedicado Ilha dos Marinheiros, contribuindo

    imensamente para que os ilhus tenham orgulho de sua cultura.

    Aos monitores locais e aos demais entrevistados, que com ateno meconcederam parte de seu tempo para poder contribuir com seus relatos e, assim,

    possibilitar a elaborao deste trabalho.

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    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS.............................................................................................. 5

    LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................. 6

    1. INTRODUO.................................................................................................. 8

    2. REFERENCIAL TERICO............................................................................... 11

    2.1 Histrico e Definio de turismo...................................................................... 11

    2.2 Conceituando planejamento turstico............................................................... 14

    2.3 Necessidade de planejamento......................................................................... 15

    2.3.1 Etapas do planejamento................................................................................ 20

    2.4 Importncia da comunidade local.................................................................... 23

    3. CASO DE ESTUDO: ILHA DOS MARINHEIROS............................................ 26

    3.1 Localizao e acesso....................................................................................... 26

    3.2 Caracterizao do local................................................................................... 27

    3.2.1 Histrico........................................................................................................ 27

    3.2.2 Processo de insero do turismo.................................................................. 29

    3.2.3 Atrativos Tursticos........................................................................................ 40

    3.2.3.1 Cultura de produo agrcola.................................................................... 41

    3.2.3.2 Outras atividades artesanais.................................................................... 42

    3.2.3.3 Roteiro religioso........................................................................................ 42

    3.2.3.4 Eventos..................................................................................................... 44

    3.2.3.5 Gastronomia............................................................................................. 45

    3.2.3.6 Paisagem natural...................................................................................... 45

    3.2.3.7 Roteiro Trilha do Rey................................................................................ 463.3 Infra-estrutura.................................................................................................. 47

    3.4 Monitores locais............................................................................................... 48

    4. APRESENTAO E ANLISE DOS DADOS................................................. 51

    5. CONSIDERAES FINAIS............................................................................. 71

    6. REFERNCIAS................................................................................................ 76

    APNDICES........................................................................................................... 81

    ANEXOS................................................................................................................ 87

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    INTRODUO

    Um dos principais desafios do planejamento turstico a insero da

    comunidade local no processo de desenvolvimento turstico, especialmente pelasquestes sociais que se apresentam. Sabe-se que a tarefa do planejamento da

    atividade turstica dos profissionais formados na rea, mas o ingresso no mercado

    dos profissionais formados ainda novo frente ao tempo de carreira dos

    profissionais que possuem apenas conhecimento emprico, o que facilita o

    costumeiro hbito de no envolvimento da comunidade local haja vista a no

    qualificao turstica desta. E mesmo entre os profissionais formados em turismo

    pode haver este tipo de conduta, sendo que muitas vezes o profissional consideremais a satisfao dos turistas, que so cada vez mais exigentes em relao

    qualidade da prestao dos servios.

    O planejamento no turismo uma ferramenta que, alm de auxiliar na

    elaborao de estratgias para a insero da comunidade local no processo

    turstico, facilita que se minimize os impactos negativos e se maximize os aspectos

    positivos do turismo, resultando em um desenvolvimento sustentvel.

    Em conversa informal com profissional de uma agncia de turismo receptivoda cidade do Rio Grande-RS, percebeu-se que os monitores locais da Ilha dos

    Marinheiros (sendo que esta Ilha um dos importantes atrativos do municpio), estes

    capacitados pelo Ncleo de Educao e Monitoramento Ambiental - NEMA, podem

    no estar sendo inseridos no processo de desenvolvimento turstico desta Ilha.

    Diante de tal fato, este trabalho aborda o planejamento turstico como uma

    eficiente ferramenta de gesto tema que, de imediato, faz emergir mltiplos

    questionamentos, elegendo-se dentre esses a seguinte pergunta central como

    elemento estruturador desta monografia:

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    Os monitores locais da Ilha dos Marinheiros, que corresponde ao Segundo

    Distrito do municpio de Rio Grande, esto inseridos no processo de

    desenvolvimento turstico da localidade?

    Para tratar dessa problemtica selecionou-se tal localidade por esta

    significar um atrativo turstico relevante para a Cidade do Rio Grande, uma vez que

    abriga diversidades histrica, cultural, social e geogrfica, e que to prxima ao

    municpio. Selecionado assim, o caso de estudo, passou-se ento para efetivao

    da proposta.

    Considera-se relevante e oportuno o estudo desta temtica na Ilha, pois com

    esta pesquisa, pretende-se contribuir para suscitar aes articuladas e integradas

    em prol da valorizao dos moniores locais, sujeitos deste estudo.Nesse sentido, esta pesquisa objetiva, de maneira geral, diagnosticar se os

    monitores locais da Ilha dos Marinheiros esto sendo inseridos no processo de

    desenvolvimento turstico desta localidade e, mais especificamente:

    Caracterizar o desenvolvimento turstico da regio na percepo dos

    entrevistados;

    Identificar a forma como os monitores percebem a sua atuao em relao

    ao turismo na localidade e suas principais dificuldades em participar da atividadeturstica local;

    Identificar como os agentes receptivos envolvidos percebem e articulam a

    atuao destes monitores no desenvolvimento turstico da localidade;

    Apresentar um comparativo e analisar as percepes identificadas;

    Apontar formas de maximizar a insero dos monitores locais no

    desenvolvimento turstico local;

    Em termos metodolgicos, esta pesquisa caracteriza-se por ser um estudoexploratrio-descritivo qualitativo, desenvolvida a partir de um estudo de caso,

    buscando a realidade dos fatos e visando anlise e proposio de intervenes.

    Quanto aos meios utilizados, baseou-se no levantamento de dados por informaes

    bibliogrficas e estudo de campo atravs de entrevistas com os monitores locais,

    alm do vice-presidente da Associao dos Guias de Turismo do Rio Grande e

    representante do poder pblico de Rio Grande, responsvel pelo planejamento

    turstico da regio e agentes de viagens que atuam no turismo receptivo.

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    A pesquisa bibliogrfica compreendeu o levantamento de referncias sobre

    o fenmeno estudado junto a publicaes acadmicas na rea de planejamento

    turstico. Foram pesquisados livros, trabalhos de concluso de cursos e consultas

    em artigos da Internet. O referencial terico foi ento sistematizado a partir de um

    conjunto de conhecimentos produzidos nesse material, o que fundamentou o

    desenvolvimento da pesquisa propriamente dita.

    A Pesquisa de campo ocorreu na localidade denominada Ilha dos

    Marinheiros, que corresponde ao Segundo Distrito do municpio de Rio Grande,

    conforme j foi explicitado e, neste contexto, foram sujeitos da investigao os

    monitores locais.

    Esta monografia est estruturada em quatro partes. Na primeira, trata-se deaspectos referentes ao planejamento turstico, tais como: histrico e definio de

    turismo, conceituando planejamento turstico, necessidade de planejamento, etapas

    do planejamento e importncia da comunidade local.

    Na segunda parte, aborda-se o caso de estudo Ilha dos Marinheiros,

    incluindo localizao e acesso, caracterizao do local, histrico, processo de

    insero do turismo, atrativos tursticos, infra-estrutura e sobre os monitores locais.

    Na terceira parte, tm-se a apresentao dos dados e anlise dos resultadosda pesquisa.

    Encerra-se este trabalho de concluso de curso com as consideraes

    finais, destacando-se os principais pontos levantados no trabalho, propondo-se, em

    seguida, algumas formas de interveno no ambiente.

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    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1 Histrico e definio do turismo

    A atividade de deslocar-se de um local para outro realizada desde os

    primrdios, quando os nmades, motivados pela busca da sobrevivncia,

    descobriam novos lugares. Posteriormente, a histria das viagens foi marcada por

    momentos importantes, como a criao de reas de lazer na Idade Mdia, o

    desenvolvimento da navegao durante o Renascimento, o aparecimento do

    capitalismo, entre outros acontecimentos. (CASTELLI, 1990)Entretanto, a verdadeira histria do turismo surge apenas a partir da

    Revoluo Industrial, com o estabelecimento do direito a frias, alm de outros

    direitos trabalhistas. Foi nesta poca que o turismo foi definido, conforme afirma

    Barretto (2008, p.43):

    [...] surge no sculo XVII na Inglaterra, referido a um tipo especial deviagem. A palavra tour de origem francesa, como muitas palavras do

    ingls moderno que definem conceitos ligados riqueza e classeprivilegiada. [...] A palavra tourquer dizer volta e tem seu equivalente noingls turn, e no latim tornare. O pesquisador suo Arthur Haulot acreditaque a origem da palavra esteja no hebraico Turque aparece na Bblia comosignificado de viagem de reconhecimento.

    Foi a partir da Revoluo Industrial que o ingls Tomas Cook, em 1841,

    fundou a primeira agncia de viagens registrada no mundo. Desse modo, verifica-se

    que pela primeira vez as viagens de turismo passaram a serem comercializadas de

    forma programada, como pacotes tursticos. (CASTELLI, 1990)

    Em 1919 ocorreu a primeira viagem area comercial com transporte de

    passageiros de Paris para Londres. A partir desse momento, a aviao passou a

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    utilizar o hidroavio como transporte de passageiros, por um longo perodo. Porm,

    a maioria das companhias areas surgiu no incio dos anos 20 e com o surgimento

    de avies mais velozes, houve uma maior contribuio para o turismo. (BARBOSA,

    2002, p. 65)

    J em poca de globalizao, em 1994, a Organizao Mundial do Turismo

    OMT, que tinha sido criada em 1925, declarou que [...] o turismo engloba as

    atividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora de seu ambiente

    usual durante no mais do que um ano consecutivo por prazer, negcios ou outros

    afins. (Ignarra, 2003, apud Dadalto, 2009, p. 5)

    A histria do turismo no Brasil comeou oficialmente apenas na dcada de

    1960, com a criao do Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR. A partir dessemomento at a dcada de 1980, a atividade turstica era desenvolvida de forma

    centralizada, sendo que as decises polticas beneficiavam mais algumas regies do

    que outras e no havia participao da comunidade no planejamento do turismo

    local. Assim ocorria, porque o principal objetivo era o aumento do fluxo de visitantes,

    sem a preocupao com a qualidade dessa atividade. Com a falta de

    democratizao, mesmo o financiamento de projetos tursticos era realizado de

    forma a beneficiar uma pequena parte da comunidade local e/ou uma regio restrita.O mesmo aconteceu com os investimentos em hotis de luxo na dcada de 1970 e

    com a criao do Fundo de Investimento do Nordeste - FINOR e Fundo de

    Investimento da Amaznia FINAM, tambm na mesma poca. (BENI, 2006)

    Com a globalizao1, percebeu-se a necessidade de fortalecimento local

    para a sobrevivncia em todos os mercados, inclusive no mercado turstico a fim de

    que as regies se destaquem como destinaes competitivas, atravs de estratgias

    integradas de desenvolvimento. Assim sendo, nota-se a tendncia do governobrasileiro na atualidade de cada vez mais incentivar a regionalizao e o

    fortalecimento da cultura2 de cada localidade, visando consolidar o pas como

    destino internacional. A regionalizao tambm em funo da preocupao com o

    turismo de massa, visto que com destinos mais diversificados, a tendncia seria

    diminuir a demanda dos locais mais massificados. (BENI, 2003)

    1 A globalizao, de acordo com Held e McGrew (2001, p.13 apud CAZELLI, 2001, p. 10), refere-se auma mudana ou transformao na escala da organizao social que liga comunidades distantes e

    amplia o alcance das relaes de poder nas grandes regies e continentes do mundo.2 De acordo com Tylor (apud LARAIA, 1986, p. 25), o termo cultura [...] este todo complexo queinclui conhecimentos, crenas, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hbitosadquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.

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    Nesse sentido, em 1994, ainda no Brasil, com o lanamento do Programa

    Nacional de Municipalizao do Turismo - PNMT, comeou uma descentralizao da

    atividade turstica. As estratgias desse programa j propunham que as formas

    descentralizadas de planejamento turstico e de gesto seriam mais democrticas e

    consolidariam a participao da comunidade na definio e na conduo das

    polticas, dos programas e das aes de seus municpios voltadas para o

    desenvolvimento do turismo. Quanto aos programas de financiamento, alm do

    Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste - PRODETUR-NE e do

    Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amaznia Legal - PROECOTUR,

    estenderam-se a outras regies do Brasil, como o Programa de Desenvolvimento do

    Turismo do Sudeste - PRODETUR-SE e do Sul - PRODETUR-SUL. (BENI, 2006)Em 2003, foi criado o Ministrio do Turismo - MinTUR para que fomentasse

    as polticas pblicas do turismo. Ento, a EMBRATUR passou a ficar responsvel

    pela promoo turstica do pas. Dessa forma, com o Ministrio do Turismo foi criado

    Plano Nacional do turismo PNT, formado por alguns programas que fomentam o

    turismo, sendo apenas o Programa de Regionalizao do Turismo a ser comentado

    neste estudo. (BENI, 2006)

    O Programa de Regionalizao do Turismo j est promovendo uma maiorautonomia das regies na gesto e no desenvolvimento do turismo, o que facilita a

    participao da comunidade. O planejamento local, importante instrumento no

    desenvolvimento turstico, est envolvendo a comunidade atravs de fruns e

    conselhos de turismo. (GASTAL; MOESCH, 2007)

    Tanto no Brasil como no mundo, com o stress e alguns problemas

    acarretados pela vida moderna, os turistas tm procurado descansar em lugares

    onde possam ter contato com a natureza, a fim de refugiarem-se da agitao dascidades.

    O tempo despendido nos transportes urbanos, a poluio, a violnciaurbana levam seus habitantes a buscarem outros ambientes pararecuperao de suas energias. O habitante das grandes cidades nos finaisde semana e nos feriados prolongados foge para as praias, para asmontanhas, para o verde. (IGNARRA, 1999, p. 35)

    Dessa forma, segundo Dias (2003, p. 64), o turismo no campo o que mais

    cresce, principalmente pela diversidade de tipos de turismo relacionados com a

    natureza que o compe: ecoturismo, turismo rural, espeleoturismo etc. Alm do

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    contato com a natureza, os turistas tambm buscam nestes lugares modos de vida e

    produo tradicionais diferentes ao que encontram em suas cidades, o que significa

    o interesse em conhecer a cultura local. (DIAS, 2003)

    Verifica-se que o grande interesse dos turistas pelas reas rurais uma

    tendncia contempornea, resultando em uma maior necessidade de considerar o

    meio ambiente e a cultura local como objetos de inquestionvel importncia no

    planejamento turstico destas reas.

    2.2 Conceituando planejamento turstico

    Planejar o processo que se destina a produzir um ou mais futuros

    desejados, podendo ser considerado como um sistema de decises. Seguindo este

    parmetro, para planejar necessrio definir polticas e processos de

    implementao de equipamentos e atividades e, seus respectivos prazos. Um

    planejamento turstico deve maximizar os benefcios scio-econmicos e minimizar

    os custos, visando o bem estar da comunidade receptora e a rentabilidade dos

    empreendimentos do setor. (DIAS, 2003)O planejamento se constitui em um sistema, mais especificamente um ciclo,

    assim, partindo de informaes recebidas que decises so tomadas e a partir

    destas decises que se realizam aes. Ao se realizar aes, se obtm resultados,

    aos quais geram novas informaes, o que possibilita o recomeo do ciclo.

    (PETROCCHI, 2000)

    FIGURA 1 Ciclo do planejamento

    Fonte: PETROCCHI, 2000, p. 21.

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    Existem muitos tipos de planejamento, j que muitos aspectos podem

    orientar este processo, estando entre estes: o tempo, amplitude geogrfica,

    administrao, inteno, entre outros. (PETROCCHI, 2000)

    De acordo com o aspecto intencional, tipo de planejamento poder ser

    estratgico, ttico e/ou operacional. Por estratgia, o planejamento definido a partir

    do todo, enquanto, por ttica, o planejamento setorial ou departamental. J o

    planejamento por operao refere-se tarefa ou operao. (PETROCCHI, 2000)

    Em relao ao aspecto temporal, o planejamento poder ser a longo, mdio

    ou curto prazo. Geralmente, o planejamento estratgico realizado a longo prazo j

    que envolve objetivos gerais a serem atingidos. J o planejamento ttico, em geral,

    realizado a mdio prazo e o operacional a curto prazo. Porm, a definio de quanto longo, mdio e curto prazo depender do bom senso de quem responsvel pelo

    planejamento. (PETROCCHI, 2000)

    Quanto amplitude geogrfica, a classificao poder ser mundial,

    continental, nacional, estadual, multirregional, regional, microrregional, municipal (ou

    local). Tambm poder ter como subdivises: urbano ou rural. (BARRETTO, 2002)

    No que se refere ao aspecto administrativo, o mbito do planejamento

    poder ser pblico ou privado, dependendo de quem gerencia os recursos, se ogoverno ou a empresa privada. Tambm poder ser subdividido em centralizado ou

    descentralizado. (BARRETTO, 2002)

    Com a globalizao, est havendo uma maior necessidade de fortalecimento

    local para a sobrevivncia em todos os mercados, assim, uma tendncia de gesto

    governamental, especialmente na rea do turismo brasileiro, cada vez mais

    incentivar a regionalizao, refletindo-se em um planejamento mais descentralizado.

    As formas descentralizadas de planejamento e de gesto caracterizam-se por seremmais democrticas e que podem promover uma maior participao da comunidade

    na definio e na conduo das polticas, dos programas e das aes de suas

    localidades. (GASTAL; MOESCH, 2007)

    2.3 Necessidade de planejamento

    O turismo uma atividade complexa que, de acordo com a Organizao

    Mundial do Turismo OMT (1999) apud Lopes (2009), gera uma receita de 3,78

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    trilhes de dlares ao ano e emprega mais de 250 milhes de pessoas no mundo,

    como tambm interage fortemente com a sociedade, a cultura e o meio ambiente

    das localidades onde ocorre. Dessa forma, averigua-se que o planejamento de

    extrema importncia no desenvolvimento da atividade turstica em um destino, a fim

    de permitir que haja sustentabilidade3 social, econmica, cultural e ambiental no

    local, alm de garantir a competitividade deste destino.

    Caso o turismo no seja bem planejado, pode causar impactos negativos

    econmicos, como, por exemplo, o aumento do custo de vida e a possvel

    dependncia do turismo e, assim, o no desenvolvimento de outras reas. Outro

    problema est relacionado sazonalidade, ou seja, descontinuidade do fluxo

    turstico durante o ano, em decorrncia do clima, do perodo de frias, feriados oufins-de-semana, exigindo um alto investimento em alta temporada e estagnando a

    economia em baixa temporada. (SWARBROOKE, 2000)

    Quanto aos aspectos ambientais e culturais, o turismo faz uso de uma

    variedade de recursos naturais e relacionados cultura, e em alguns casos, podem

    ser o atrativo principal de uma destinao. Dessa forma, a atividade turstica pode

    provocar efeitos adversos sobre esses recursos, principalmente se o turismo for

    caracterizado pelo consumo de massa, sem haver um controle da capacidade decarga do local, resultando em depredao dos recursos naturais e dos patrimnios

    histrico-culturais e em descaracterizao da cultura local. (SWARBROOKE, 2000)

    Os aspectos culturais esto ligados aos sociais, pois a cultura no externa

    aos sujeitos sociais, incluindo padres de consumo e estilos de vida. Neste sentido,

    a desigualdade econmica entre turistas e nativos, provocando preconceito social e

    cultural. Muitas vezes, a cultura que no considerada integrante da sociedade

    urbano-industrial vista como ultrapassada pelos sujeitos desta sociedade, quedetentores de preconceitos, desejam transformar o extico - o diferente, o estranho -

    em uma boa mercadoria para ser vendida atravs da transmutao dos costumes

    3 Em 1987, foi elaborado, pela Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento -CMMAD - da Organizao das Naes Unidas ONU -, o relatrio Nosso Futuro Comum (tambmconhecido como Relatrio Brundtland), que conceituou Desenvolvimento Sustentvel comoSustainable development is development that meets the needs of the present without compromisingthe ability of future generations to meet their own needs (WCED, 1987), podendo ser entendidocomo: satisfazer as necessidades presentes, possibilitando que as geraes futuras tambmsatisfaam as suas por meio da preservao dos recursos. Ou seja, preservar os recursos ambientais

    e culturais para que no s os cidados e turistas de hoje possam usufruir, mas que seusdescendentes tambm possam gozar desses recursos; garantindo nessa perspectiva a atratividadeturstica, possibilitando a gerao de renda, empregos, novos empreendimentos e a qualidade devida.

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    dos nativos do meio rural em um produto turstico que os sujeitos da sociedade

    urbano-industrial (neste caso os agentes de viagens) acreditam que sejam aceitos

    pelos turistas. (FIGUEIREDO, 1999)

    Neste sentido, a no aceitao da cultura alheia pode ser chamada de

    etnocentrismo, que segundo Rocha (1984), este termo pode ser definido como ver a

    sua etnia como o centro de todas as outras, ou seja, o etnocntrico v a sua cultura

    como a melhor, apresentando preconceito com as demais culturas.

    Quando o etnocentrismo se configura no preconceito mais especificamente

    em relao lngua, este pode ser chamado de preconceito lingstico. Segundo

    Bagno:

    O preconceito lingstico um conjunto de idias distorcidas que se baseiano mito de que s existe uma nica lngua portuguesa digna deste nome eque seria a lngua ensinada nas escolas, prescrita nas gramticas ecompendiada nos dicionrios. Qualquer manifestao lingstica queescape desse domnio escolar-normativo considerada, pelo preconceitolingstico, errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente, e no raro agente ouvir que "isso no portugus". (BAGNO, 1998,sp)

    O posicionamento etnocntrico acaba por atrapalhar o desenvolvimento da

    atividade turstica, pois, hoje, h uma grande procura pelos atrativos ambientais eculturais, os turistas em geral esto cada vez mais interessados na cultura local dos

    destinos que visitam. Esta afirmao pde-se perceber em entrevista realizada para

    a monografia em turismo O consumo da diferena pelo turismo, em 2005, quando a

    autora entrevistou dez pessoas que costumam viajar a fim de que, atravs de uma

    pesquisa qualitativa, fosse analisado como o consumo turstico entendido. Uma

    das perguntas realizadas pela a autora da monografia foi em relao motivao de

    uma viagem, obtendo como resposta de a quase totalidade dos entrevistados que a

    motivao de suas viagens est ligada a conhecer novas pessoas, fazer amizades e

    de aprender coisas novas no contato com diferentes culturas. (SILVEIRA, 2005)

    As observaes coletadas neste item ratificam a afirmativa de Waimberg(2003) e Urry (1999) de que a principal motivao de viagem a diferena,consumida atravs da vivncia de diferentes paisagens e culturas. Cruza-sea fronteira entre o estranho e o familiar para experimentar aspectos que sediferenciam dos elementos do cotidiano e da rotina e que proporcionammomentos prazerosos de lazer. (SILVEIRA, 2005, p. 30)

    Uma das entrevistadas da pesquisa de Silveira ainda destaca que realizar

    turismo auxilia na diminuio do preconceito, pois atravs da viagem possvel

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    conhecer coisas bem diferentes do que se est acostumado, o que estimula uma

    reviso de conceitos e valores pessoais. (SILVEIRA, 2005, p.30)

    Alm do preconceito, podem ser citados outros impactos sociais, como o

    aumento da violncia e a irritao da comunidade local em relao saturao dos

    equipamentos e servios encontrados nas localidades. (SWARBROOKE, 2000)

    Quando se tem um planejamento adequado, pode-se minimizar os impactos

    negativos e maximizar os positivos, despertando uma maior valorizao dos

    recursos naturais, patrimnios histrico-culturais e da cultura local, menor xodo

    rural ao se criar novos postos de trabalhos com o turismo, entre outros benefcios.

    Desse modo, permite-se que a atividade turstica continue a se desenvolver, j que a

    natureza e a cultura so os prprios atrativos dos destinos. (DIAS, 2003)A complexidade do turismo tambm est relacionada questo de os

    produtos tursticos possurem caractersticas especficas, o que demanda um maior

    cuidado na realizao do planejamento. Algumas caractersticas so:

    Complementaridade - O turismo envolve diversos componentes que esto

    interligados entre si, constituindo a cadeia turstica. Segundo Caballero

    Umpire (1997) apud Silva (2001) os componentes da cadeia turstica so:

    infra-estrutura, incluindo aeroportos, rodovias, telecomunicaes, entreoutros; transporte, abrangendo avies, nibus, trens, txis, aluguel de

    automveis; alojamento, compreendendo todos os meios de hospedagem;

    promoo, inserindo operadoras tursticas, agncias de viagens, entre outros

    empreendimentos, como tambm o governo; indstrias de apoio, como

    bancos, lavanderias, confeces; alimentao, incluindo todos os

    prestadores de servios gastronmicos; e centros de capacitao, como

    administrao de hotis, guias, etc. Dessa forma, quando o turista visita umdestino turstico, ele no usufrui apenas de componentes isolados, mas de

    toda a experincia que se ter durante dado perodo de tempo, sendo

    fundamental que haja um satisfatrio desempenho de todos os

    componentes.

    Intangibilidade - Os produtos tursticos no so tocados, mas sim

    sentidos. Mesmo que se possa tocar a cama e outros componentes de um

    meio de hospedagem, por exemplo, o que o turista compra efetivamente no

    so apenas o usufruto dos bens materiais que encontram nos equipamentos

    tursticos, mas tambm sonhos e fantasias previamente concebidos,

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    incluindo sensaes em relao ao tratamento recebido pelos prestados de

    servios, como recepcionista, garom, entre outros prestadores de servios.

    (BENI, 2004)

    Simultaneidade - O consumo dos produtos s ocorre quando h a

    presena do turista nos meios de hospedagem, mesmo que ele faa a

    reserva antes. Por esse motivo que de nada adiantam estruturas grandes

    e sofisticadas se no houver preparo dos prestadores de servios. (BENI,

    2004)

    Perecibilidade - Se os produtos no forem consumidos quando ofertados

    (no caso do hotel, toda a noite), estes no podero ser estocados. Uma

    estratgia dos meios de hospedagem para diminuir a perecibilidade oferecer descontos em baixa temporada para estimular a ocupao de suas

    unidades habitacionais, como apartamentos, sutes, entre outras. (BENI,

    2004)

    Residualidade - No h possibilidade de troca quando houver insatisfao

    no consumo, pois o servio no deixa nada a no ser uma experincia.

    (BENI, 2004)

    Esta complexidade do turismo demonstra que os turistas esto cada vez

    mais exigentes devido globalizao e seus efeitos: grande nmero de informaes

    que recebem atravs dos meios de comunicao avanados da atualidade, como

    tambm o poder de escolha entre uma infinidade de destinos em conseqncia das

    facilidades de deslocamento proporcionadas pelos tecnolgicos meios de

    transportes. (DIAS, 2003)

    A diversificao de mercado tambm deve ser considerada no planejamentoturstico, sendo que cada pblico (terceira idade, ecoturistas, aventureiros, etc)

    possui diferentes desejos, havendo a necessidade de serem oferecidos produtos

    especficos para estes grupos, a fim de obter uma maior satisfao. (DIAS, 2003)

    Em mbito municipal, a funo de planejamento geralmente do governo,

    mais especificamente das prefeituras municipais. Neste caso, as prefeituras, atravs

    de secretarias de turismo ou setores de turismo dentro de outras secretarias,

    coordenam o desenvolvimento turstico de um destino, intervindo nas relaes entre

    os componentes da cadeia turstica e usando o planejamento como aliado nesta

    coordenao. (DIAS, 2003)

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    Neste caso, o planejamento um aliado para que o governo possa servir de

    regulador das transaes comerciais na rea de turismo, de forma a amenizar as

    desigualdades econmicas. O governo tambm deve servir de articulador entre o

    turismo e outros instrumentos de organizao territorial, tais como: zoneamento, lei

    de uso do solo, secretaria de transportes, entre outros; de forma a realizar um

    planejamento integrado. (DIAS, 2003)

    Todavia, a funo de planejamento tambm pode ser atribuda a agncias

    regionais especializadas e a agncias de desenvolvimento local, desde que tenham

    habilidade para o planejamento. (LICKORISH; J ENKINS, 2000)

    O planejamento, desenvolvimento e operao do turismo devem se parte deestratgias de conservao ou de desenvolvimento sustentvel para umaregio, provncia (estado) ou nao. O planejamento, o desenvolvimento e aoperao do turismo devem ser inter-setorial e integrado, envolvendo vriasorganizaes governamentais, empresas privadas, grupos de cidados eindivduos, permitindo deste modo obter o maior nmero possvel debenefcios (CARDOSO, J . R.; SILVA, I. G., RODRIGUES, G., 2002).

    Contudo, verifica-se que para uma maior satisfao dos turistas e

    conseqente sucesso de um destino turstico, deve-se planejar o desenvolvimento

    turstico local. Dessa maneira, ao se planejar, possibilita-se que se chegue maisfacilmente aos objetivos, pois atravs do traado de dificuldades, se pode escolher

    caminhos alternativos de forma prvia.

    2.3.1 Etapas do planejamento

    Conforme j foi relatado em relao ao tipo de planejamento, h trs tipos,ao se considerar o aspecto intencional: o estratgico, o ttico e o operacional. A

    tendncia dos gestores em rgos pblicos optar pelo planejamento ttico, visto

    que demanda um menor prazo para ser realizado, o que proporciona a divulgao

    imediata do mandato da poca quando estiver em andamento. Caso eles optem pelo

    planejamento estratgico, pode ocorrer que as aes de longo prazo sejam

    concludas pelo mandato posterior e, assim, possam ser promotoras do partido de

    oposio quele que iniciou o planejamento. Entretanto, para que hajasustentabilidade em qualquer rea, as aes mais eficazes so as planejadas a

    longo prazo e que no devem ser quebradas com a mudana de governo. O melhor

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    caminho deveria ser que em primeiro lugar que se realizasse um planejamento

    estratgico, a fim de obter uma anlise geral da situao do desenvolvimento

    turstico no local e, assim, identificar quais so os fatores que mais necessitam de

    planejamento, e, a partir disso, realizar um planejamento ttico, quando se elaboram

    as propostas prticas para se alcanar os objetivos traados no planejamento

    estratgico. (PETROCCHI, 2000)

    Assim, de acordo com a proposta terica de Holanda (1985 apud Barretto

    2002), as etapas do planejamento estratgico so: diagnstico e prognstico.

    Diagnstico a investigao, reflexo, compreenso e juzo dos dados da realidade,

    a fim de que se possa chegar ao prognstico, ou seja, ao estabelecimento da

    situao a qual se deseja alcanar, acompanhado do planejamento dos caminhos aserem seguidos para atingir os objetivos.

    Como partes do diagnstico esto o levantamento e a anlise de todos os

    elementos que esto relacionados atividade turstica da localidade onde se

    pretende desenvolver o turismo. Os elementos que devem fazer parte do

    levantamento so: infra-estrutura, atrativos tursticos, servios tursticos e de apoio,

    qualidade ambiental, quantidade e qualidade dos servios, aspectos legais,

    demanda, entre outros fatores importantes. Na anlise verificada a qualidade doselementos, a fim de detectar se o que existe no local est em boas condies para

    uso dos turistas e visitantes; alm de avaliar qual o volume de turistas uma

    localidade capaz de suportar sem que haja impactos negativos irreversveis, ou

    seja, a capacidade de carga do lugar (IGNARRA, 1999)

    Para Petrocchi (2000), este levantamento e anlise so chamados

    respectivamente de inventrio turstico e anlise ambiental. Ainda para o mesmo

    autor, a anlise ambiental dividida em interna, abrangendo pontos fortes e fracosda localidade; e externa, referindo-se a oportunidades e ameaas.

    A anlise interna, no caso de desenvolvimento turstico de uma localidade,

    avalia o potencial interno do prprio lugar, reunindo todos os fatores que esto ao

    alcance do planejador e que ele tem o poder de alterar, como por exemplo, infra-

    estrutura, recursos humanos, cultura e similares. Enquanto a anlise externa,

    tambm no caso de desenvolvimento turstico de uma localidade, estuda os fatores

    externos ao lugar, ou seja, as foras da sociedade que o influenciam, mas que

    fogem alada do planejador, como fatores relacionados economia, demografia,

    tecnologia, entre outros. (PETROCCHI, 2000)

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    Conforme Ignarra (1999, 65), na etapa de prognstico estabelecida a

    situao a qual se deseja alcanar, traando hipteses de cenrios, a partir de

    possibilidade de intervenes do homem no processo de desenvolvimento. O ideal

    sejam traados cenrios antagnicos, a fim de que se possa escolher o caminho a

    ser seguido. Entre as possibilidades podem estar: pessimistas frente a otimistas,

    curto prazo frente a longo prazo, de crescimento acelerado frente a crescimento

    vagaroso. (IGNARRA, 1999)

    Ao se definir os cenrios, na verdade se est formulando os objetivos, os

    quais necessitam de meios para serem alcanados. Os meios podem ser planos,

    programas, projetos e aes. (IGNARRA, 1999)

    A diferena entre plano, programa e projeto est em sua rea deabrangncia e em seu grau de abstrao. O plano a filosofia geral eabrange o sistema por inteiro. O programa abrange um setor e constituiuma proposta prtica e aprofundada do plano. O projeto abrange odetalhamento das alternativas de interveno, constituindo a unidadeelementar do sistema. (BARRETTO, 2002, p. 37)

    Dessa forma, os objetivos dos programas so os objetivos especficos que j

    foram traados para o plano, assim como os objetivos dos projetos so os objetivos

    especficos que j foram traados para os programas, e os objetivos das aes so

    os objetivos especficos que j foram traados para os projetos. (BARRETTO, 2002).

    O plano a parte mais tcnica do planejamento, abrangendo o que foi

    mostrado at est parte das etapas do planejamento, ou seja, o diagnstico como

    um todo e a definio de cenrios e objetivos. (DIAS, 2003)

    Nos programas e projetos entra o planejamento ttico, quando detalhada a

    execuo do plano. Um programa um conjunto de projetos relacionados entre si.

    Por exemplo, um programa de capacitao poderia abarcar projetos como:

    capacitao de garons, de taxistas, de empreendedores, de recepcionistas etc.

    (DIAS, 2003).

    Um projeto a descrio das aes, com exposio, em cada uma delas, de

    objetivo que devem ser alcanados dentro dos limites supostos e de um prazo

    determinado, alm de [...] exeqibilidade tcnica, viabilidade econmica,

    convenincia social e poltica, (DIAS, 2003, p.98)

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    Aps o planejamento, inicia-se a realizao do que foi planejado, passando

    pela parte de implementao (contratao de pessoal, abertura de crdito etc); at

    chegar a execuo dos programas e projetos. (BARRETTO, 2002)

    A execuo deve ser seguida pelo controle e avaliao, os quais tambm

    necessitam de um planejamento prvio. Dessa forma, a dinmica de controle

    constitui-se em: estabelecimento das unidades de medida, acompanhamento da

    ao e coleta de informao sobre a execuo, comparao do executado com o

    programado e correo da execuo ou reviso do projeto. Enquanto a dinmica de

    avaliao procedida no exame dos seguintes critrios: eficincia, quando a

    qualidade dos resultados est de acordo com o investimento; eficcia quando as

    alternativas de ao so identificadas como as melhores a terem sido escolhidas; eefetividade quando h mudanas a partir do alcance dos objetivos da ao. A

    partir do que for avaliado, pode-se comear um novo ciclo de planejamento.

    (BARRETTO, 2002)

    2.4 Impor tncia da comunidade local

    A insero da comunidade local no processo de desenvolvimento turstico

    um desafio do planejamento turstico, visto que o ingresso no mercado dos

    profissionais formados na rea de turismo, e que sabem da importncia de envolver

    a comunidade, ainda limitado. Esta situao d margem para que se realize o

    costumeiro hbito de no envolvimento da comunidade local haja vista a no

    qualificao turstica desta. Alm disso, muitas vezes, mesmo entre os profissionais

    formados na rea pode haver este tipo de conduta, sendo que os profissionais visamsatisfazer os desejos dos turistas, os quais so cada vez mais exigentes e, assim,

    exigem que haja mxima qualidade dos servios.

    No entanto, com o crescimento da globalizao, viu-se a necessidade de

    fortalecer iniciativas locais para que pequenos destinos e simples comunidades

    tenham espao no mercado. Assim, segundo Gastal e Moesch (2007) com a

    existncia de um mercado globalizado, se impe que a gesto turstica das

    localidades permita a participao da comunidade.

    A importncia do envolvimento da comunidade local no processo de

    desenvolvimento turstico tambm est relacionada globalizao, j que com o

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    capitalismo ditando as regras e estas sendo divulgadas por todo mundo atravs da

    mdia, h uma tendncia homogeneizao. Por conseqncia, h uma valorizao

    maior das diferentes culturais locais. Segundo Urry (1999 apud Silveira 2005, p. 12)

    Seja como for, a lgica da globalizao bem conhecida: quanto mais semelhantes

    nos tornamos, maior o sentido de urgncia assumido pela tarefa de identificao

    das diferenas.

    Esta busca pela diferena refletida diretamente no turismo, visto que

    muitos turistas viajam durante seu tempo livre para localidades onde possam

    apreciar diferentes costumes, a fim de fugir de seu cotidiano atarefado. Neste

    contexto, conforme Silveira (2005, p. 11):

    [...] a diferena um elemento fundamental da atividade turstica, ou seja, oindivduo motivado a viajar para vivenciar culturas e territrios diferentesdaqueles com os quais est acostumado a conviver diariamente.

    Dessa forma, destaca-se que o governo deve servir como negociador das

    idias surgidas em meio aos cidados e no seguir o que imposto por partidos,

    alianas polticas ou interesses prprios. Com a participao cidad pretende-se que

    as cidades tenham autonomia internacional e no sejam mais simplesmentereprodutoras de um modelo globalizado. (GASTAL; MOESCH, 2007)

    Alm disso, ao se permitir e estimular a participao da comunidade nas

    decises das polticas pblicas, esta poder expor os interesses locais, buscando

    um desenvolvimento sustentvel. Os nativos conhecem melhor do que ningum as

    caractersticas ecolgicas do meio natural e seu limite de saturao, como tambm

    em relao a outros aspectos, como infra-estrutura e cultura; e, assim, podem

    estabelecer parmetros de sustentabilidade da atividade turstica. (MEDONA,2001)

    Segundo Gastal e Moesch (2007, p. 16), No que j um chavo, a cidade

    boa para o turista seria aquela que boa para seus cidados. Nesta perspectiva, a

    comunidade envolvida tambm se torna mais hospitaleira, resultado de sua

    felicidade em ter suas idias e vontades valorizadas.

    evidente a importncia do fator humano no turismo, em funo da

    crescente comoditizao (=tornar iguais) dos produtos (avies, destinos,preos so similares) e o atendimento pessoal representa uma ferramentainesgotvel de diferenciao (LAGE; MILONE, 2000, p. 52).

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    Outro fator que demonstra a relevncia do envolvimento da comunidade

    local que desse modo a comunidade ter um maior interesse em preservar seus

    atrativos tursticos e em tomar decises sobre o desenvolvimento turstico em sua

    localidade.

    As comunidades locais, por sua vez, aprendem a valorizar seus recursosnaturais e culturais, desenvolvendo maior sentimento de pertencimento e,consequentemente, elevando seu grau de cidadania. A postura cidad levaas pessoas a se tornarem protagonistas nos processos de deciso sobre otipo de turismo e de turistas com os quais esto dispostos a compartilharseu prprio espao de vivncia. (GASTAL; MOESCH, 2007, p. 16).

    O envolvimento da comunidade local no desenvolvimento do turismo

    tambm uma questo social, porque desse modo visa-se promover o

    compartilhamento dos recursos ganhos com a atividade turstica, visto que

    geralmente h uma concentrao do poder econmico nas mos de grandes

    operadoras de turismo, companhias areas, agncias de viagens, redes hoteleiras e

    outras similares. (NECHAR, 2006)

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    3. CASO DE ESTUDO: ILHA DOS MARINHEIROS

    3.1 Localizao e acesso

    A Ilha dos Marinheiros est localizada na Cidade do Rio Grande RS,

    Brasil, fazendo parte do Segundo Distrito deste municpio. Mais especificamente,

    sua localizao est na margem oeste da Lagoa dos Patos, entre os meridianos

    05205 e 05212 de longitude oeste e paralelos 3158 e 3202 de latitude sul.

    (AZEVEDO, 2003)

    FIGURA 2 Mapa de localizao.

    Fonte: Laboratrio de Gerenciamento Costeiro (LabGerco, 2006, p. 6)

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    A Ilha possui uma rea de 39,28 km2 e dividida em quatro localidades:

    Porto Rei, ao sul; Marambaia, ao leste, Bandeirinhas, ao oeste; Fundos da Ilha e

    Coria, ao norte. Seu ponto mais prximo do continente se encontra a 1.500 metros,

    entre a Rua do Rei, na Ilha e a Rua 15 de Novembro, na zona urbana de Rio

    Grande. (AZEVEDO, 2003)

    O acesso Ilha pode ser realizado por terra, atravs da Vila da Quinta,

    passando pela Ilha do Leondio (atravs de uma pequena ponte), necessitando-se

    percorrer 9 km para se chegar ponte por onde se realiza a travessia. Outra forma

    de ter acesso Ilha atravs de barcos que partem da orla Porto Velho, em Rio

    Grande. (AZEVEDO, 2003)

    3.2 Caracterizao do local

    3.2.1 Histrico

    Antes da chegada dos portugueses, a Ilha dos Marinheiros era habitada por

    indgenas, dos quais foram encontrados vestgios arqueolgicos que levam a crerque se tratavam de Minuanos e Charruas. (AZEVEDO, 2003).

    Os portugueses da expedio de Silva Paes chegaram a Cidade do Rio

    Grande em 1737, na poca fundada como um povoado chamado Rio Grande de

    So Pedro. (PIRAGINE, 1997 apud AZEVEDO, 2003) Nesta data j utilizavam a Ilha

    dos Marinheiros, ento chamada de Ilha do Marinheyro, para conseguir madeira a

    fim de construir fortificaes e gua potvel, sendo que no povoado a gua era

    salobra. (SOAMAR, 1995 apud AZEVEDO, 2003).Alguns dos indgenas que na Ilha se encontravam foram aprisionados,

    outros negociavam com os portugueses. (AZEVEDO, 2003)

    Logo a Ilha passou a ser chamada pelo nome que at hoje: Ilha dos

    Marinheiros. Isso, provavelmente porque outros marinheiros tenham tambm se

    radicado na Ilha, nas horas de folga, com o objetivo de produzir alimentos que eram

    escassos no continente. (SOAMAR, 1995 apud AZEVEDO, 2003)

    Em 1738, Andr Ribeiro Coutinho assume a intendncia e, em 1739,

    concede as primeiras sesmarias, dividindo a Ilha em trs partes e doando-as a trs

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    Antnios, a fim de controlar o desmatamento excessivo na Ilha. (Registros Gerais

    das Sesmarias e Terras Publicadas, 1737 a 1761 apud AZEVEDO, 2003)

    Entretanto, as terras s foram ocupadas a partir de 1744, quando a Ilha foi

    doada a Maral da Silva Veiga. (FORTES, 1978 apud AZEVEDO, 2003)

    Entre 1763, os espanhis tomam a ento Vila do Rio Grande e os

    portugueses usam a Ilha como ancoradouro para sua frota que pretendia retomar a

    Vila e que acabou fracassando. Em 1776, os portugueses reconquistaram Rio

    Grande. (FONTOURA, 1985 apud AZEVEDO, 2003)

    Em 1795, no relatrio do Engenheiro Rodolpho Ahrons, foi recomendada a

    captao de gua na Ilha como segunda alternativa para melhorar o abastecimento

    da j Cidade do Rio Grande, quando foi construda como caixa dgua com este fim.(SOAMAR, 1995 apud AZEVEDO, 2003)

    No ano de 1799, chegou a Rio Grande o portugus Custdio J os de Souza

    Rey, que mais tarde construiu um trapiche diante de sua chcara e uma passagem

    para uso pblico, ento, esta uma das verses para que o local seja chamado de

    Rua do Rey. A outra verso devido visita do Imperador Dom Pedro II a Ilha em

    1845, conforme descrito no pargrafo referente a esta data neste histrico.

    (SOAMAR, 1995 apud AZEVEDO, 2003)Na terceira dcada do sculo XIX, as matas da Ilha ainda eram extensas e

    acabaram por proteger o Quilombo do Negro Lucas. Aps dez anos da existncia

    deste Quilombo, este caba sendo descoberto e seus habitantes mortos. (RUIVO,

    1994, apud AZEVEDO, 2003)

    Em 1835, a Cmara publicou editais que proibiam o corte da lenha na Ilha.

    (Arquivo Pblico Municipal, 1835 apud AZEVEDO, 2003) Nesta mesma dcada o

    marqus de Lisboa, que estava em Washington, enviou ao comerciante ThomasMessister, que estava em Rio Grande, os primeiros bacelos de parreiras,

    introduzindo a viticultura na Ilha e no Rio Grande do Sul e possibilitando que a Ilha

    tivesse um desenvolvimento acelerado. (GIACOBBO, 1982 apud AZEVEDO)

    Cada vez mais foram chegando portugueses vindos do norte de Portugal,

    trazendo consigo a experincia no cultivo agrcola de terras insulares e a tradio

    pesqueira. Dessa forma, a populao chegou a atingir 9800 habitantes na poca.

    (AZEVEDO, 2003).

    Na data de 18 de Novembro de 1845, a Ilha recebeu visita do Imperador

    Dom Pedro II. (AZEVEDO, 2003)

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    A Ilha serviu como refgio para famlias da parte continental de Rio Grande

    durante a Revoluo Federalista de 1893 a 1895 e da Revolta da Armada em 1894.

    (J ornal Agora, 1999 apud AZEVEDO, 2003)

    A partir de 1900, os mercados de Porto Alegre e So Paulo comearam a

    receber vinho da Serra Gacha, que antes eram abastecidos apenas pela Ilha dos

    Marinheiros. E em 1927, a formao do sindicato Vincola Rio-Grandense Ltda, na

    Serra Gacha, acabou tirando os produtos artesanais do mercado para a entrada de

    vinhos de produo em grande escala. Este fato prejudicou a Ilha, que tinha apenas

    produo primria, o qual conseguiu ainda manter at 1945, quando surgiu uma

    praga que dizimou a plantao. (OLIVEIRA, 1997 apud AZEVEDO, 2003)

    Aps a primeira guerra, a Ilha passou a sofrer um perodo de decadncia.(RAMOS, 1989 apud AZEVEDO, 2003) A partir de 1945 no vieram mais

    portugueses, restando, hoje, somente dois. Este fato escasseou a mo-de-obra

    especializada no cultivo de videiras, visto que os descendentes dos portugueses

    dedicam-se mais ao cultivo de legumes e pesca.

    Alm disso, a falta de condies de sobrevivncia causou um grande

    desestmulo, provocando um acentuado xodo. (AZEVEDO, 2003)

    De acordo com o senso demogrfico do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatstica - IBGE, em 2001, havia 1323 habitantes na Ilha. (AZEVEDO, 2003)

    Hoje, as principais atividades econmicas da Ilha so basicamente a pesca

    e a produo de hortifrutigranjeiros, tendo ainda na produo de flores um

    complemento de renda. (LabGerco, 2006)

    3.2.2 Processo de insero do turismo

    4

    O interesse em desenvolver o turismo na Ilha dos Marinheiros comeou em

    1995, quando Anna Morisson, com o apoio de Dulce Helena Mendona (na poca,

    Tcnica da Superintendncia de Extenso da Fundao Universidade Federal do

    Rio Grande FURG), resolveu fazer a experincia de realizar os primeiros passeios,

    ao mesmo tempo em que dava continuidade as suas pesquisas histricas sobre a

    4 A maior parte das informaes deste tpico foi passada verbalmente, em 2008, por Anna Lcia DiasMorisson de Azevedo, natural da localidade, pesquisadora, membro do Conselho Municipal deCultura, do Conselho Ambiental da Ilha, do Conselho Municipal de Turismo, Diretora Cultural doCentro Portugus e Presidente da Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico OSCIP.

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    Ilha. Dessa forma, conversou com alguns moradores que possuam barcos em

    condies de realizar a travessia de pessoas do centro da Cidade do Rio Grande

    para a Ilha, aproveitando o acontecimento da Festa do Mar5 para a realizao dos

    passeios. A pesquisadora tambm fez contato com a Festa do Mar e com a Marinha

    a fim de obter a liberao para que as embarcaes fizessem os passeios. Nesta

    ocasio, a mesma desempenhava o papel de guia6, quando vestia um traje tpico

    portugus e transmitia todo o conhecimento adquirido em suas pesquisas para os

    visitantes.

    Em 1999, o Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas -

    SEBRAE, atravs de convnio realizado com a Prefeitura Municipal (mais

    especificamente com a Unidade de Turismo da Secretaria Municipal de Habitao eDesenvolvimento SMHAD), elaborou algumas propostas, dentro do Projeto Costa

    Doce7, com a finalidade de preparar a Ilha dos Marinheiros para receber visitantes,

    de modo a permitir uma gerao alternativa de renda para os ilhus e uma maior

    valorizao da cultura local. A participao de Anna Morrison na elaborao destas

    propostas foi fundamental, j que ela j havia realizado pesquisa de campo na Ilha e

    conhecia bem as prioridades dos Ilhus.

    5 Maior evento da Cidade do Rio Grande, composto por feira, programao cultural e esportiva.6 De acordo com a Lei n. 8.623/93 de 28 de janeiro de 1993 (EMBRATUR apud MINISTRIO DOTURISMO) considerado Guia de Turismo o profissional devidamente cadastrado no InstitutoBrasileiro de Turismo EMBRATUR - e que se formou em curso tcnico especfico cujas habilidadesadquiridas so relacionas a atividades de acompanhar, orientar e transmitir informaes a pessoas ougrupos, em visitas, excurses urbanas, municipais, estaduais, interestaduais, internacionais ouespecializadas. Dessa forma, os monitores da Ilha dos Marinheiros no podem ser consideradosguias, apesar de exercerem atividades semelhantes a eles, j que realizaram apenas um curso decapacitao de curta durao e, por este motivo, no podem se cadastrarem na EMBRATUR. Porm,a capacitao de monitores uma alternativa em lugares onde haja dificuldade e falta de condies

    financeiras para que membros da comunidade local se desloquem at o centro dos municpios a fimde realizar Curso Tcnico em Guia de Turismo. Entretanto, a EMBRATUR reconhece a atuao deprestadores de servios de conduo de visitantes que no sejam cadastrados como Guias deTurismo, atravs da Deliberao Normativa N 326, de 13 de janeiro de 1994, que estabeleceu asseguintes condies: necessidade de complementar a oferta e melhoria na prestao de serviosoferecidos aos turistas e viajantes; so considerados condutores somente as pessoas fsicas, cujaprtica, decorrente do tempo de vivncia e experincia em determinado atrativo ou empreendimentoturstico, prprio de certa regio, lhes permita conduzir o turista com segurana em seus passeios evisitas ao local, prestando-lhes orientao e informao especfica e tornando mais atrativa suaprogramao; as normas prprias para cadastro, classificao, controle e fiscalizao destescondutores de visitantes deve ser realizada pelos rgos oficiais de turismo de cada Estado.7 O Projeto Costa Doce tem como objetivo ampliar o fluxo de turistas por meio da formatao,promoo e comercializao de produtos tursticos, consolidando a regio da Costa Doce (que

    compe treze municpios do Chu-RS a Guaba-RS) como um destino turstico. O SEBRAE almejaalcanar este objetivo atravs de projetos e consultorias que envolva seu pblico: meios dehospedagens, servios de alimentao, atrativos envolvidos em roteiros tursticos e agncias deviagens. (SEBRAE, 2008)

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    Entre estas propostas esto:

    Tornar a Ilha um ponto de atrao turstica atravs da qualificao dos

    passeios tursticos e de barco, da elaborao de trilhas e do

    desenvolvimento da pesca;

    Instalar uma feira em Rio Grande ou na Ilha para comercializao de

    artesanato, produtos coloniais e hortigranjeiros dos ilhus;

    Implantar um camping, atravs de linha de crdito especial, de forma a

    proporcionar aos turistas um local para acampar e colocar trailers, em uma

    rea dotada de infra-estrutura bsica, com luz, gua e banheiros. Neste

    projeto estava previsto limitao do nmero de usurios atravs de

    determinao de capacidade de carga;

    Proporcionar ao turista um local para pernoitar ou passar alguns dias

    desfrutando dos produtos tursticos oferecidos na Ilha, podendo ser

    construdas cabanas tpicas dotadas de infra-estrutura adequada para

    atendimentos a grupos familiares e/ou agenciados;

    Criar uma casa de cultura, sendo esta um espao para exposies,

    museu, sala de vdeo, apresentaes folclricas, mostras e comercializao

    do artesanato e dos produtos da terra; Oferecer um local para os turistas fazerem suas refeies, onde tivesse

    uma infra-estrutura adequada e fosse oferecida a gastronomia tpica

    portuguesa;

    Possibilitar a produo de doces e salgados, agregando valor aos

    produtos;

    Qualificar as bebidas tpicas da Ilha, atravs do aprimoramento da

    fabricao e da comercializao destas bebidas, alm da diversificao delicores;

    Incentivar o cultivo de flores de melhor qualidade durante o ano todo

    atravs de estufas, possibilitando uma maior competio no mercado, alm

    de incentivar a produo de flores de corte e a jardinagem;

    Promover a criao de camares de maior tamanho, quantidade e melhor

    qualidade, com bom preo e maior aceitao no mercado;

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    Concluir a ponte de acesso a Ilha pela Vila da Quinta, facilitando o

    deslocamento dos ilhus e possibilitando uma maior visitao por parte dos

    turistas;

    Aumentar a segurana atravs da solicitao de atendimento policial de

    Rio Grande tambm para a Ilha dos Marinheiros.

    A partir deste momento, comeou o processo de divulgao da Ilha, quando

    Anna Morisson, vestindo traje tpico dos colonizadores portugueses passou a

    participar de feiras e festas no Rio Grande do Sul, inclusive, mais tarde, participando

    no desfile de carros alegricos da FEARG/FECIS8 em 2008, para mostrar as

    potencialidades e a cultura da localidade.A J urupiga, bebida tpica portuguesa a base do suco da uva que produzida

    na Ilha dos Marinheiros como costume herdado pelos seus colonizadores, tornou-se

    a bebida smbolo da localidade e da Cidade do Rio Grande, e passou a ser

    divulgada e comercializada em eventos importantes e de turismo, como a Fenadoce9

    em Pelotas e o Salo Nacional do Turismo em So Paulo. O produtor recebeu

    alguma ajuda no sentido de cultivar espcies mais resistentes as doenas e sem

    agrotxico pela Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural - EMATER.O SEBRAE prestou muitas consultorias e ministrou alguns cursos na rea de

    gastronomia, como o curso de doces e compotas, visando a qualificao da

    populao local.

    A construo da ponte tambm foi possvel, em 2004, possibilitando o

    trfego de nibus e caminhes e, ento, facilitando o transporte de

    hortifrutigranjeiros para o centro de Rio Grande e o trajeto de turistas.10

    O projeto de criao de camares foi realizado pela Fundao UniversidadeFederal do Rio Grande - FURG (agora Universidade Federal do Rio Grande) e no

    mais retomado por falta de recursos.

    Quanto aos projetos relacionados estruturao atravs de linhas de

    crdito, houve tentativa de realizar estas aes atravs do Programa de Emprego e

    Renda do SEBRAE - PRODER, em parceria com a Prefeitura Municipal, a

    Universidade Federal do Rio Grande - FURG, o Servios Social da Indstria - SESI,

    8 Feira de Artesanatodo Rio Grande e Feira de Comrcio, Indstria e Servios.9

    Feira Nacional do Doce.10 Fonte: www.portalcostadoce.com.br/site/ilhaMarinheirosRural.asp

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    a Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural - EMATER, o Sindicato Rural, a

    Cmara do Comrcio e a Associao das Micros, Pequenas e Medias Empresas do

    Rio Grande AMPERG. Porm, no foi obtido sucesso em nenhuma das tentativas,

    pois os bancos que ofereciam os financiamentos exigiram juros muito altos e

    garantias dos ilhus.

    Em 2003, a pesquisadora Morisson fundou a Sociedade Marinhense de

    Desenvolvimento Sustentvel - SMDS, que tinha como fins:

    Proporcionar o desenvolvimento social e econmico da comunidade

    sustentvel;

    Promover a cultura, defesa e conservao do patrimnio histrico e

    artstico;

    Defender, preservar e conservar o meio ambiente e promoo do

    desenvolvimento sustentvel;

    Promover estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias

    alternativas, produo e divulgao de informaes e conhecimentos

    tcnicos e cientficos que digam respeito s atividades mencionadas neste

    artigo;

    Possibilitar educao gratuitamente, observando a forma complementarde participao das organizaes de que trata esta lei;

    Proporcionar o voluntariado;

    Experimentar, de forma no lucrativa, novos modelos scio-produtivos e

    de sistemas alternativos de produo, comrcio, emprego e crdito;

    Promover a tica, a paz, a cidadania, os direitos humanos, a democracia

    e outros valores universais.

    A partir desta iniciativa, a Ilha e seus habitantes obtiveram alguns benefcios,

    tais como: aumento da auto-estima dos ilhus, fazendo com que os mesmos

    passassem a se orgulhar de suas origens; resgate da histria atravs de pesquisas,

    resultando na edio de um livro; maior ateno voltada para a Ilha por parte das

    autoridades; incentivo a festas populares; entre outros.

    Ainda em 2003, a Prefeitura Municipal do Rio Grande, atravs da Unidade

    de Turismo da Secretaria Municipal de Habitao e Desenvolvimento SMHAD,firmou um convnio com a Universidade Federal do Rio Grande FURG para apoio

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    ao desenvolvimento turstico do municpio, e a partir deste momento passou-se a

    elaborar o 'Plano Turstico Rio Grande, Cidade Histrica, Cidade do Mar'. Entre os

    projetos deste, foram elaborados alguns projetos especficos para a Ilha dos

    Marinheiros, baseado nas sugestes da SMDS, como: o projeto de revitalizao

    urbana do Porto do Rey, incluindo construo do Marco Dom Pedro II, melhorias no

    trapiche, edificao de sanitrios, iluminao, colocao de placas no Porto Rey; e o

    projeto de sinalizao turstica de toda a Ilha dos Marinheiros - ambos os projetos

    como parte do programa de 'Estruturao, Expanso e Melhoria na Oferta Turstica'

    do municpio.(VALENTE, 2006)

    No programa de Promoo do Plano Turstico, estava previsto a divulgao

    de todos atrativos tursticos da Cidade do Rio Grande, inclusive da Ilha dosMarinheiros. (VALENTE, 2006)

    Outras propostas do Plano Turstico, mais especificamente do Programa de

    Coordenao Municipal, estavam relacionadas articulao entre todos os rgos e

    componentes envolvidos na atividade turstica. (VALENTE, 2006)

    Ainda em 2003, novamente houve uma tentativa de realizar outros projetos

    relacionados estruturao atravs de linhas de crdito, desta vez atravs

    Programa de Consolidao das Aes do PRODER - REPRODER, que tambm noobteve sucesso pelo mesmo motivo de 1999.

    Tambm foram oferecidos cursos de artesanato pelo SEBRAE, inclusive

    com orientaes de como calcular preos e outras orientaes em relao

    comercializao. Porm, segundo a pesquisadora Morisson, os ministrantes destes

    cursos eram da regio e no puderam trazer novidades em termos de

    aproveitamento de materiais locais como: folhas de bananeira, juncos, taboa, folhas

    e flores desidratadas e outras. Ainda de acordo com o depoimento dela, tambm ha necessidade de investir em materiais, pois os ilhus no possuem recursos para

    um investimento inicial.

    Em 2004, a SMDS foi qualificada pelo Ministrio da J ustia como

    Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico OSCIP. Alm dos projetos j

    sugeridos para o Plano Turstico, foram acrescentados outros e, sem fins lucrativos,

    a OSCIP dependia de parcerias para a execuo dos seguintes projetos elaborados:

    Recanto de Nossa Senhora de Lourdes: construo de um recanto para

    esttua de Nossa Senhora de Lourdes doada, juntamente com a esttua de

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    Santa Bernadete, pelo escultor rio-grandino rico Gobbi, que tal ao

    realizou por ter ficado entusiasmado com as belezas naturais e com a

    cultura (tendo a religio catlica como forte caracterstica) na Ilha dos

    Marinheiros.

    Marco de D. Pedro II: construo de uma base de alvenaria com jardineira

    beira da Laguna para marcar o local onde D. Pedro II atracou ao visitar a

    Ilha.

    Portais de entrada da Ilha: construo de dois portais de madeira, um na

    entrada da Ilha (chegada pela ponte), e outro na chegada pela Laguna, a fim

    de melhor receber os turistas e controlar a entrada de pessoas na Ilha.

    Sinalizao turstica, ambiental e indicativa: colocao de placas padro

    desde a BR at o contorno da ilha.

    Lixeiras: colocao de lixeiras nos locais mais visitados pelos turistas.

    Restaurante tpico: incentivo a empresrio que tenha interesse em

    construir um restaurante de comida tpica portuguesa.

    Restaurao da Escola Guilhermina Gouveia ou da Sotia: restaurao e

    preservao de uma das nicas construes no estilo colonial rural, onde

    poder ser criado um museu, ser realizada a venda de artesanato e cursosde qualificao.

    Cabanas e pousadas: incentivo a empresrio que tenha interesse em

    construir cabanas, semelhantes ao modelo encontrado na Ilha da Madeira

    Portugal, para hospedagem, aluguel de cadeira e guarda-sol, compra de

    bronzeador, de sanduche e petiscos.

    Criao de camaro em cativeiro: incentivo a projetos desta natureza.

    Observatrio de pssaros: construo de um observatrio de pssaros. Criao do braso e da bandeira da Ilha: contratao de designer para

    criar a arte e contratao de servio de confeco do braso e da bandeira

    da Ilha.

    Camping nas localidades de Marambaia e Bandeirinhas: estruturao de

    campings com os mesmos propsitos j determinados em 1999.

    Quadriciclo: investimento em quadriciclo para aluguel.

    Dia da Feira: parceria na divulgao deste evento, alm da confeco desacolas e balaios, como tambm sinalizao das propriedades participantes.

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    Trilha Veredas da Lucinda: melhorias na trilha Veredas da Lucinda, com

    construo de pontes e observatrios e investimento em venda do kit trilha

    (bons, botas, camisetas, repelente).

    Limpeza da Ilha: coleta de lixo, oficinas de arte com o lixo e educao

    ambiental.

    Votao para nomear o Largo da Marambaia.

    Alfabetizao de adultos, passeios culturais ou passeio de estudo com

    aulas de biologia, ecologia e geografia: parceria para pagamento de

    professores para promover a educao.

    Aluguel de cavalos: incentivo aos ilhus que tiverem interesse em alugar

    seus cavalos.

    Incentivo s festas tradicionais: confeco de calendrio, montagem de

    palco, organizao de atraes, ajuda na confeco de arcos de papel de

    seda.

    Organizao de uma exposio itinerante para contar a histria, a cultura

    e o potencial turstico da Ilha dos Marinheiros atravs de banners: busca de

    parcerias para organizao de exposio que poder passar por todas as

    localidades da Ilha.

    Festival e confraria da J urupiga: Investimento para maior produo de uva

    e da J urupiga e, posterior, estruturao de eventos com a temtica sobre a

    J urupiga, alm da divulgao destes eventos.

    Caracterizao dos Ternos de Reis: parceria para a confeco dos trajes

    e confeco do boi de reis.

    Rancho Folclrico Cancioneiros da Marambaia: a partir da caracterizao

    dos ternos, se incentivar a formao do grupo folclrico Cancioneiros daMarambaia, que poder ter casa museu e apresentar outros ramos do

    folclore tpico como as marchas juninas. Realizar parceria para adquirir os

    trajes importados.

    Cursos de qualificao, criao de logomarcas e orientao: busca de

    parceria para o oferecimento de cursos e criao de logomarcas em relao

    aos produtos j comercializados.

    Cursos para condutores/monitores locais: formao de parcerias para opagamento de professores e compra de materiais.

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    Cursos de artesanato: qualificao do artesanato j existente e

    desenvolvimento de novas tcnicas dentro das caractersticas locais.

    Melhor estruturao da OSCIP: atravs da construo de um local para

    sede, aquisio de materiais de escritrio e computador, alm da criao de

    logomarca, papel timbrado e cartes da OSCIP.

    Caf Tpico Portugus: Investir neste empreendimento como atrativo

    turstico da Ilha.

    Identificao dos Passeios de barcos e da pesca na Lagoa.

    Os projetos executados foram: o do Recanto de Nossa Senhora de Lourdes,

    onde, em 2007, ocorreu o Natal Luzes de Lourdes e todos os anos ocorre a Festa de

    Nossa Senhora de Lourdes em 11 de fevereiro; o do Marco de D. Pedro II; e o dos

    portais. Estes projetos foram executados pela OSCIP com patrocnio de algumas

    entidades.

    Em 2005, criada a Secretaria Municipal de Turismo, Esportes e Lazer

    SMTEL, que entra em funcionamento a partir de janeiro de 2006, possibilitando a

    continuidade elaborao e execuo de projetos do Plano. (VALENTE, 2006)

    O projeto de sinalizao turstica, o de recuperao do trapiche do PortoRey, e o da criao de uma logomarca para a Ilha, foram executados pela Prefeitura

    com o apoio do SEBRAE, do Ncleo de Educao e Monitoramento Ambiental -

    NEMA e de outras secretarias da Prefeitura Municipal. (VALENTE, 2006)

    Quanto ao Caf Tpico Portugus, houve orientao do SEBRAE para o seu

    funcionamento e da OSCIP com relao aos pratos tpicos e logomarca. Entretanto,

    o Caf servido apenas para grupos e mediante agendamento, havendo uma

    carncia de estruturao para atender poucos visitantes e em qualquer dia.Morisson tambm relatou que a limpeza pblica na Ilha tambm melhorou

    bastante, sendo at mesmo colocadas algumas lixeiras.

    Quanto divulgao da Ilha, esta foi realizada, juntamente com os demais

    atrativos tursticos da Cidade do Rio Grande pelo site Rio Grande Turismo, pela

    elaborao dos materiais institucional do municpio e pelos roteiros oficiais do

    municpio, conforme folder encontrado nos anexos I e J .

    Alm disso, a Ilha tambm divulgada em eventos que a Costa Doce,atravs do SEBRAE, e/ou Secretaria de Turismo participam, como o Festival de

    Turismo de Gramado, o Salo Nacional do Turismo, entre outros. (VALENTE, 2006)

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    Em relao ao Programa de Coordenao Municipal, alm de vrios rgos

    terem estado envolvidos no processo de desenvolvimento turstico da Ilha dos

    Marinheiros, houve tambm a incluso da OSCIP no Conselho Municipal de

    Turismo. (VALENTE, 2006)

    Tambm em 2005, o Ncleo de Educao e Monitoramento Ambiental -

    NEMA elaborou o Projeto de Melhoramento Turstico da Ilha dos Marinheiros como

    parte do Programa Costa Sul11, mais especificamente do componente do programa

    denominado Manuteno da pesca estuarina tradicional e gerao de alternativas

    (introduo de fontes alternativas de emprego para os pescadores e suas famlias,

    que, entre outras alternativas, estava a promoo de oportunidades de ecoturismo).

    O projeto inclua: sinalizao do sistema de visitao da Trilha do Rey com onzeplacas informativas e indicativas; construo de uma escadaria para transposio

    das dunas; reimpresso do material educativo/informativo composto por folders e

    cartazes; realizao de um curso de formao de monitores locais; confeco e

    fixao de bancos, sombreiros e lixeiras em locais estratgicos da trilha; e

    construo de um painel/prtico na estrada por terra da Ilha dos Marinheiros.

    (NEMA, 2007)

    Foram executadas as seguintes aes: colocao das placas informativas,reimpresso dos folders e cartazes educativo/informativo - conforme anexos G e

    H, colocao de lixeiras e a realizao do curso de formao de monitores locais.

    Paralelamente, houve um trabalho de qualificao do artesanato local na Ilha

    atravs do NEMA.

    O curso de formao de monitores locais foi realizado em 2005 e veio a

    coincidir com a proposta do Plano Turstico, mais especificamente do programa de

    Qualificao Profissional, de qualificar os servios tursticos do municpio.De acordo com a declarao da representante do NEMA, todas as aes

    que esta entidade realizou na Ilha tinham a inteno de mostrar aos participantes

    que estes poderiam converter as qualificaes adquiridas fora da Ilha dos

    Marinheiros, como, por exemplo, um curso de agronomia, e juntar com o

    conhecimento adquirido com as aes da referida entidade, para aproveitar em

    11 O Programa Costa Sul foi executado pela Universidade Federal do Rio Grande FURG, sob a

    coordenao do Laboratrio de Gerenciamento Costeiro LabGerco e financiado pelo BancoInteramericano do Desenvolvimento - BID. O programa ocorreu de 2005 a 2008 e tinha como objetivocontribuir restaurao da qualidade ambiental e produtividade da pesca no esturio da Lagoa dosPatos como uma base para recuperao econmica das comunidades litorneas.

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    algum trabalho na localidade. Dessa forma, o NEMA estaria desmistificando a idia

    de que trabalhar na Ilha no tem futuro.12

    Ainda dentro do Programa Costa Sul, e tambm em relao ao componente

    Manuteno da pesca estuarina tradicional e gerao de alternativas atravs da

    alternativa promoo de agricultura ecolgica atravs de associaes de

    produtores locais, o NEMA orientou o produtor da J urupiga para a produo de uvas

    agroecolgicas sem agrotxico.

    Em 2006, ainda no Programa Costa Sul, relacionado ao componente

    Preparao de um Plano de Manejo Integrado para o esturio da Lagoa dos Patos,

    foi elaborado um plano de manejo ambiental especfico para a Ilha dos Marinheiros

    j que esta localidade tambm faz parte do mencionado esturio - pelo LabGerco daFURG. O plano de manejo englobou: diagnstico ambiental e scioeconmico da

    localidade, incluindo pesquisa com os ilhus a fim de obter a percepo deles sobre

    os principais problemas e suas propostas para o manejo da ilha; e elaborao das

    proposta de manejo ambiental (relacionadas as linhas estratgicas de gesto

    compartilhada, transporte, produo sustentvel, turismo e proteo ambiental) e

    zoneamento ambiental. (LabGerco, 2006)

    A partir deste plano foi criado o Conselho Ambiental da Ilha, cujo um dosassuntos debatidos sobre o desejo de desenvolver um turismo controlado para o

    local. Porm, ainda nenhuma providncia foi tomada para controlar o nmero de

    visitantes.

    Em 2007 foi concluda a colocao de saibro na estrada que contorna a Ilha

    dos Marinheiros, num total de 32 km, pela Prefeitura Municipal, atravs da

    Secretaria de Obras e Viao SMOV.13

    Tambm em 2007, a Secretaria de Turismo lana o passeio tursticodenominado Trilha do Rey, com a finalidade de incentivar o turismo interno,

    oportunizar que a comunidade possa conhecer ou retornar a um dos mais belos

    locais do municpio, alm de promover o aumento da renda dos ilhus e sensibilizar

    para a preservao do patrimnio natural e cultural. O passeio foi operado pela

    12 Informao fornecida verbalmente, em junho de 2009, por Carla Valeria Leonini Crivellaro,Gegrafa, Mestre em Educao Ambiental e Diretora do Ncleo de Educao e MonitoramentoAmbiental NEMA.13

    Fonte: www.riogrande.rs.gov.br/internet/index.php?acao=V&perfil=1&id=4423

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    Agncia de Viagens e Turismo Cassinotur14, que levava um grupo por dia com o

    nmero mnimo de dez e no mximo de vinte cinco pessoas, de barco, para fazer a

    Trilha do Rey. Os visitantes iniciavam o passeio pela Rua do Rey, onde,

    acompanhados por guia turstico e monitores locais, podiam, atravs de trilha

    ecolgica, curtir as belas paisagens de matas, lagoas e dunas, e aps, conhecer a

    vida cotidiana dos ilhus em suas chcaras e atividades de pesca. Tambm eram

    apreciadas casas e capelas em estilo portugus, o Recanto de Nossa Senhora de

    Lourdes e o artesanato local. O passeio inclua ainda um caf tpico portugus e a

    visita ao galpo da J urupiga.15

    No ano de 2008, foi realizado o projeto Educao ambiental para o

    desenvolvimento do turismo sustentvel na Ilha dos Marinheiros/Rio Grande-RSpela estagiria da Secretaria de Turismo na poca, Aline Borges, com o apoio da

    Secretaria Municipal do Meio Ambiente SMMA. Este projeto veio a coincidir com a

    proposta do Plano Turstico, especificada no Programa de Sensibilizao e

    Educao para o Turismo: de sensibilizar a populao para o turismo. O projeto foi

    composto por aplicao de uma palestra para os alunos das quatro escolas

    existentes na Ilha e visita aos moradores do local, a fim de transmitir alguns

    conhecimentos sobre turismo e sensibilizar sobre a importncia da preservaoambiental para desenvolvimento da atividade turstica. (BORGES, 2008)

    3.2.3 Atrativos tursticos

    A Ilha dos Marinheiros considerada um patrimnio da cidade de Rio

    Grande pela preservao de valores herdados da cultura portuguesa, incluindoatividades tradicionais como a cultura da produo agrcola, que sempre teve um

    papel decisivo no suprimento de hortifrutigranjeiros Cidade do Rio Grande, e a

    religiosidade.16 Alm disso, a Ilha detentora de riqueza natural, composta por uma

    beleza cnica e variedade de ambientes. (LabGerco, 2006)

    14 A Agncia de Viagens e Turismo Cassinotur foi a primeira agncia a formatar e operar o roteiroTrilha do Rey desde os primeiros passeios agenciados para a Ilha dos Marinheiros, por volta do ano2000 - que mais tarde veio a se beneficiar com a formatao da trilha ecolgica deste roteiro pelo

    NEMA, por volta do ano de 2005 -, e por este motivo foi escolhida como a agncia operadora dolanamento oficial do referido roteiro.15 Fonte: www.riogrande.rs.gov.br/internet/index.php?acao=V&perfil=1&id=573916 Fonte: www.riograndevirtual.com.br/ilhadosmarinheiros/curiosidades.htm

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    Dessa forma, os tipos de turismo desenvolvidos na Ilha so: turismo rural,

    ecoturismo e turismo religioso.

    O turismo rural desenvolvido em reas onde a paisagem predominante

    formada por campos, se opondo ao que encontrado em grandes centros urbanos.

    Nestas reas, o turista tem a oportunidade de participar das atividades prprias da

    zona rural como: andar a cavalo, passear de carroa, ter contato com a produo

    agrcola, consumir produtos rurais, entre outras atividades. (OLIVEIRA, 1998)

    Como na Ilha, alm de campos, tambm so encontrados matas, lagoas e

    dunas, nesta localidade tambm praticado o ecoturismo. O ecoturismo

    compreende no somente o usufruto dos atrativos naturais, como tambm dos

    atrativos culturais, neste sentido, para o Grupo de Trabalho Interministerial (1994, p.19), ecoturismo :

    [...] um segmento da atividade turstica que se utiliza, de forma sustentvel,do patrimnio natural e cultural, incentiva sua conservao, promove aformao de uma conscincia ambientalista e garante o bem-estar daspopulaes envolvidas.

    Quando os turistas visitam a Ilha a fim de conhecer o Recanto de Lourdes e

    as capelas encontradas na localidade, realizam o roteiro religioso. Neste sentido, oturismo religioso definido como o praticado por pessoas interessadas em visitar

    locais sagrados. (OLIVEIRA, 1998, p. 59)

    O perodo quando a Ilha recebe mais turistas nos meses de temperatura

    mais amena e principalmente no vero, quando os visitantes usufruem dos

    seguintes atrativos17:

    3.2.3.1 Cultura de produo agrcola

    A Ilha dos Marinheiros a maior e mais frtil do Estado do Rio Grande do

    Sul. No passado, alm de abastecer a Cidade do Rio Grande com a produo de

    legumes, frutas e fabrico de vinhos, exportava em larga escala para outros estados.

    17 Informaes passadas verbalmente por Anna Lcia Dias Morisson de Azevedo, natural dalocalidade, pesquisadora, membro do Conselho Municipal de Cultura, do Conselho Ambiental da Ilha,do Conselho Municipal de Turismo, Diretora Cultural do Centro Portugus e Presidente daOrganizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico OSCIP.

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    Atualmente responsvel por mais ou menos 80% da produo de hortalias

    consumidas da cidade. (AZEVEDO, 2003)

    do plantio de hortifrutigranjeiros, flores, atividades artesanais, como a

    produo da J eropiga/J uropiga, que vivem os habitantes da Ilha. (AZEVEDO, 2003)

    As flores cultivadas na Ilha so: rosas, palmas, perptuas, zabumbas, crista-

    de-galo, margaridas, hortnsias, escovinhas, junquilhos, rabos-de-galos, rapazinhos,

    jasmins, copos-de-leite, cravos, esporinhas, saudades, boca-de-leo, dlias, maias,

    goivos e muitas outras. Os ilhus organizam seus buqus com formas especiais e

    utilizam uma palma que chamam de afeitos para encher e ornamentar. (AZEVEDO,

    2003)

    Quanto a J urupiga, esta somente fabricada em Portugal e na Ilha dosMarinheiros, sendo que na Ilha, atualmente, produzida e comercializada por uma

    nica famlia em larga escala. O processo de fabricao ocorre em janeiro e

    fevereiro, e esto acarretados nele diversos traos culturais, conforme no anexo A.

    (DALCHIAVON; OLIVEIRA; PEREIRA, 2004)

    A J urupiga comercializada nos Mercados Pblicos de Pelotas e de Rio

    Grande, em alguns estabelecimentos comerciais da prpria Ilha, da cidade e do

    Balnerio Cassino - onde a comercializao intensificada na poca de veraneio - ediretamente com os produtores in loco ou mediante encomenda. (DALCHIAVON;

    OLIVEIRA; PEREIRA, 2004)

    3.2.3.2 Outras atividades artesanais

    O artesanato tpico da Ilha dos Marinheiros tambm composto pelaproduo de cestos de vime, tapearia, redes de pesca, bordados, trabalhos em

    madeira - como escultura de barcos, entre outras belezas artesanais fabricadas

    pelos moradores. (AZEVEDO, 2003)

    3.2.3.3 Roteiro religioso

    A Ilha dos Marinheiros tem uma religiosidade muito forte decorrente de sua

    colonizao portuguesa. Dessa forma, podemos encontrar o seguinte roteiro:

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    Recanto de Lourdes foi construdo no Porto do Rey, onde podem ser

    apreciadas duas imagens esculpidas pelo artista rio-grandino rico Gobbi: de N. S.

    de Lourdes e de Santa Bernadete.18 A Festa de Nossa Senhora de Lourdes, que

    ocorre no local e atrai muitos fieis a Ilha, realizada em 13 de fevereiro.19

    Capela So J oo Baptista - a mais antiga, datada de 1850. Construda por

    D. Faustina Centeno da Silva (irm de Bento Gonalves) e de Boa Ventura Centeno

    (descendente de J ernimo Ornellas). A capela apresenta singela beleza em sua

    arquitetura e pelas obras de talha que so as imagens em seus altares. Entre as

    imagens colocadas nos nichos destaca-se a imagem de So Loureno, pois sua

    portinha de vidro sua. A explicao dos fiis diz que So Loureno sofreu martrio

    numa grelha, fato que acentua a crena popular. A maior festa em homenagem aSo J oo ocorre no dia 24 de junho.20

    Capela da Santa Cruz, - a construo mais recente. A f na cruz

    desencadeou a construo da mesma no sc. XIX. . D. Luisa de J esus dos Santos,

    nascida em gueda, Portugal, migrou para o local. Mulher muito catlica provocou

    em seu marido o desejo de erguer no campo uma cruz junto com os amigos. As

    pessoas faziam pedidos a Santa Cruz e as oraes comearam a ser atendidas.

    Com isso foi construda no local uma pequenina capela onde cabiam quatropessoas, feita de madeira e palha, Os milagres se sucederam e foi construda uma

    maior para 15 pessoas (1986). Em 1935 foi ento construda a atual capela que traz

    em sua arquitetura caractersticas do estilo gtico. O local hoje habitado por

    pescadores que veneram o smbolo da cruz.21

    Capela de Nossa Senhora da Sade - localizada nos Fundos da Ilha, possui

    algumas caractersticas da arquitetura colonial portuguesa. Foi construda por

    vontade de portugueses que moravam no local. A primeira capela foi construda em1895, a segunda em 1928 e a atual em 1976.22

    O folder referente a este roteiro pode ser encontrado nos anexos E e F.

    18Fonte: www.riograndevirtual.com.br/ilhadosmarinheiros/curiosidades.htm

    19 Fonte: www.portalcostadoce.com.br/site/ilhaMarinheirosRural.asp20

    Fonte: www.riograndevirtual.com.br/ilhadosmarinheiros/curiosidades.htm21

    Fonte: www.riograndevirtual.com.br/ilhadosmarinheiros/curiosidades.htm22

    Fonte: www.riograndevirtual.com.br/ilhadosmarinheiros/curiosidades.htm

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    3.2.3.4 Eventos

    Cada capela tem sua festa tradicional:

    Na Capela da Santa Cruz se realiza, no dia 3 de maio - data escolhida pela

    comunidade para louvar a cruz, quando a capela decorada com arcos de papel de

    seda e por esta passam procisses. (AZEVEDO, 2003)

    A festa tradicional da Capela de Nossa Senhora da Sade realizada no dia

    18 de agosto ao trmino da plantao da cebola, quando se encontram queles que

    no moram mais na Ilha, reza-se, come-se e diverte-se. (AZEVEDO, 2003)

    A festa de So J oo realizada no dia 24 de agosto, quando ocorre uma

    procisso e fogos, conforme j acontecia no passado com a iluminao de fogostrazidos pelos navios alemes, fazem parte da tradio. (AZEVEDO, 2003)

    Tambm a religiosidade manifestada por festas catlicas, como os santos

    reis (6 de janeiro) e os Santinhos (dia de So Manoel, Santo Antonio, So Pedro e

    So J oo), quando, em ambas as festas, na calada da noite grupos de msicos se

    deslocam para festejar essas datas. Os instrumentos so enfeitados com fitas

    coloridas e carregam estandartes com a imagem dos trs Reis Magos. Tambm

    usam um boi, feito de couro, papel e tecido no qual, uma pessoa faz os movimentospor baixo. Ao entrarem nas residncias fazem uma encenao com os mesmos. Na

    casa so oferecidos doces e licores, o estandarte levado em todas as peas da

    dona da casa para receber a proteo dos Santos Reis. (AZEVEDO, 2003)

    Outra festa tpica o Baile de Chita trata-se de um baile onde as moas se

    vestem de chita. Durante o baile escolhido o traje mais bonito conforme manda a

    tradio. Na organizao do baile trabalha uma comisso que dirige a festa. As

    diretoras se vestem de branco e os diretores de terno. Na en