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    V Congreso Latinoamericano de Ciencia Poltica. Asociacin Latinoamericana de

    Ciencia Poltica, Buenos Aires, 2010.

    Capitalismo Sindicalista de

    Conciliao e Capitalismo de

    las Calles: Brasil e Venezuela

    no ps-neoliberalismo.

    Moraes Wallace.

    Cita: Moraes Wallace (2010). Capitalismo Sindicalista de Conciliao e

    Capitalismo de las Calles: Brasil e Venezuela no ps-neoliberalismo. V

    Congreso Latinoamericano de Ciencia Poltica. Asociacin

    Latinoamericana de Ciencia Poltica, Buenos Aires.

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    Capitalismo Sindicalista de Conciliao e Capitalismo de las Calles: os casos de

    Brasil e Venezuela no Ps-Neoliberalismo.1

    Wallace dos Santos de Moraes2

    No incio do sculo XXI, o Estado, pelo menos na Amrica Latina, parece

    retomar seu papel de interveno no mercado. Resta-nos saber se este novo

    contramovimento vai de encontro s leis do mercado em prol do Trabalho ou em prol do

    Capital. deste aspecto fundamentalmente que trataremos neste estudo, sobretudo para

    a relao Capital-Trabalho (K-T). Trata-se de estudo de economia poltica comparada

    entre Brasil e Venezuela, especificamente nos governos de Luiz Incio Lula da Silva

    (2003-2007) e de Hugo Chvez Frias (1999-2007).

    A eminente questo saber se os direitos trabalhistas ficam merc das leis do

    mercado, como temia Polanyi [1944] (2000), ou se ficam sob a tutela do Estado com um

    papel mais social.

    Dentre os casos de ps-neoliberalismo na Amrica Latina (AL), o brasileiro e o

    venezuelano so paradigmticos. O primeiro, como exemplo moderado do

    neodesenvolvimentismo; e o segundo, como modelo mais radicalizado da nova face da

    economia capitalista. O Brasil normalmente figura na Amrica Latina com posio de

    destaque por ter a maior economia, a maior populao e a maior extenso territorial.

    Alm disso, o Partido dos Trabalhadores e Luiz Incio Lula da Silva representam uma

    postura referencial para a esquerda institucional latino-americana desde a dcada de

    1980. Ao mesmo tempo, o governo do PT adota princpios do receiturio liberal que o

    caracterizam como uma espcie de hibridismo entre liberalismo e desenvolvimentismo

    (Boschi, 2007; Sheahan, 2002; Boyer, 2005).

    A economia venezuelana, reconhecida como estritamente rentista (Sheahan,2002; Boyer, 2005), baseada na renda do petrleo, consegue, em meio a grandes

    turbulncias polticas, alcanar os maiores ndices de crescimento econmico da regio,

    nos primeiros anos do sculo XXI. Ao mesmo tempo, se v uma transformao mais

    1 O presente trabalho apresenta as principais concluses de nossa tese, denominada CapitalismoSindicalista de Conciliao e Capitalismo de las Calles: os casos de Brasil e Venezuela no Ps-

    Neoliberalismo na Amrica Latina. Para maiores detalhes dos argumentos aqui desenvolvidos verMoraes (2009).2

    Professor adjunto da UFF. Pesquisador do INCT/PPED e do NEIC/IUPERJ. Doutor e Mestre emCincia Poltica (IUPERJ). Especialista em Histria Contempornea (UFF). Bacharel e Licenciado emHistria pela UFRJ.

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    radicalizada com (re)nacionalizaes de empresas privatizadas, reforma agrria e

    extensos programas sociais (Weisbrot e Sandoval, 2007).

    Embora, no espectro ideolgico, sejam considerados governos de centro-

    esquerda, suas origens, trajetrias, aes no governo, impacto sobre a sociedade e, emespecial, relacionamento com o empresariado diferem radicalmente. Alm de atuaes

    governamentais heternomas, podemos dizer que estes pases possuem sindicatos de

    trabalhadores com reivindicaes bem diversas e tambm com posies das firmas

    igualmente distintas, resultado de conjunturas no anlogas, apesar das particularidades

    comuns de pases latino-americanos com altos graus de desigualdade e pobreza.

    A partir destas consideraes, o que seus governos fizeram de concreto em

    matria de direitos trabalhistas? Como mediaram a relao Capital-Trabalho (k-t)?

    Muitos consideram estes chefes do Executivo como protagonistas do ps-

    neoliberalismo na Amrica Latina (AL). Qual o significado deste momento histrico

    para os dois pases em questo? Quais as semelhanas e diferenas? Qual tipo de

    capitalismo foi produzido no Brasil e na Venezuela?

    O objetivo desta pesquisa encontrar respostas para essas perguntas a partir de

    um estudo histrico das relaes entre Capital e Trabalho. Mostraremos que o pice do

    Direito do Trabalho venezuelano ocorre sob o governo Chvez, e que o governo Lula

    no d continuidade s polticas de flexibilizao trabalhista.

    A transformao poltica nos dois pases ainda segue sem uma denominao

    prpria, sendo compreendida apenas como estdio posterior ao receiturio neoclssico,

    e chamada de ps-consenso de Washington ou ps-neoliberalismo. Com efeito,

    preenchemos esta lacuna e denominamos os capitalismos de Brasil e Venezuela como

    Capitalismo Sindicalista Conciliador e Capitalismo de las Calles (Capitalismo das

    Ruas), respectivamente. Da perspectiva da Variedade de Capitalismos (Soskice e Hall,

    2001), percebemos as enormes diferenas dos dois modelos. As caractersticas

    idiossincrticas de cada um foram marcadas pelo sinal emitido por cada governo no que

    concerne relao K-T. Por consequncia, o brasileiro emitiu um sinal pr-sindicalistas

    e conciliador, pois caracterizou-se pela criao do FNT (Frum Nacional do Trabalho),

    cuja principal produo foi a reforma sindical, na qual atende aos interesses

    corporativos dos sindicalistas das centrais sindicais reconhecidas e das associaes

    coletivas dos empresrios. A criao de rgo tripartite aponta para a conciliao entre

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    K e T, visando governabilidade. Por outro lado, o governo venezuelano imps um

    capitalismo pressionado pelos movimentos sociais nas ruas, ocupaes de fbricas e

    protestos. Com efeito, na Venezuela foram criados novos direitos trabalhistas,

    produzindo uma revoluo legal, pois baseada nas leis, em meio a alto grau de

    instabilidade poltica.

    CAPITALISMO SINDICALISTA DE CONCILIAO: O CASO DO BRASIL

    NO PS-NEOLIBERALISMO

    A criao de direitos trabalhistas quase que se confunde com a histria

    republicana brasileira. Datam do incio da Repblica as primeiras conquistas de alguns

    tipos de direitos para as categorias mais combativas. Estas conquistas assumiram uma

    trajetria crescente desde ento, incrementando-se aps as greves gerais do trinio 1917-

    1919, alcanando todo um arcabouo legal em 1943, com a CLT. Entre a criao da CLT

    e 1964 no h alterao substantiva no mbito jurdico da relao estudada. A ditadura

    militar constitui a primeira crise desta trajetria com a perda, principalmente, da

    estabilidade, dos direitos de greve e de associao. Com a abertura poltica, h novamente

    conquistas de direitos, sobretudo com a Constituio de 1988.

    A partir de 1990, vrios fatores colaboram para o incio de uma nova trajetria da

    relao K-T: o avano das idias liberais, o Consenso de Washington, a chegada ao

    Executivo de uma coalizo de direita, as exigncias de supervit primrio, o toyotismo, a

    substituio do trabalho vivo por mquinas, o abandono da luta direta dos sindicatos em

    favor das esperanas eleitorais e a ditadura do pensamento nico liberal amplamente

    divulgada pela grande mdia. Todos esses fatores fizeram com que direitos trabalhistas

    fossem flexibilizados e/ou retirados. importante destacar que a flexibilizao foi uma

    exigncia das associaes empresariais que, embora tivessem distintas interpretaes

    acerca da conjuntura, tinham pleno acordo quanto diminuio de direitos. Nesse

    sentido, a pauta apresentada pelas organizaes de cpula da burguesia foi praticamente

    toda atendida pelos governos. 3

    Ps-neoliberalismo: o Capitalismo Sindicalista de Conciliao em prol da

    governabilidade

    No contexto ps-neoliberal, brasileiro, existiam quatro possibilidades de caminho

    para a relao K-T: 1) inverter a trajetria iniciada no perodo neoliberal, cr iando direitos;

    3Ver Moraes (2009).

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    2) continuar e aprofundar a flexibilizao de direitos; 3) cessar a trajetria anterior, mas

    sem a reverso dela; e 4) acabar com a dependncia estrutural do Trabalho ao Capital.

    Tirando os a-mais e os a-menos, a terceira possibilidade foi a adotada pelo

    governo Lula, que instituiu um Capitalismo Sindicalista Conciliador (CSC) em prol dagovernabilidade. O CSC surge a partir do chamado corporativismo setorial, em que os

    sindicatos mais fortes e combativos conseguem obter algumas garantias e influncia

    sobre o governo, enquanto os mais fracos tm poder de influncia muito reduzido,

    quando o tm4(Costa, 1994). Os sindicatos mais atuantes ocupam posies no aparelho

    do Estado5. Por conseguinte, a principal central sindical est ao lado do governo,

    obstaculizando, inclusive, reivindicaes contrrias ao mesmo. 6

    O governo Lula, por um lado, representara a insatisfao da sociedade em geralcom as polticas neoliberais, adotadas desde os anos 1990, e dos industriais, em

    particular, com a alta carga tributria, juros altos e custos do trabalho. Nesse sentido,

    Lula se apresentou como um legtimo representante da mudana. Todavia, a despeito da

    eleio de um presidente crtico dos programas neoliberais, afirma Bresser-Pereira

    (2007)7, a coalizo poltica dominante no Brasil desde o incio dos anos 1990 continua a

    ser formada por rentistas, setor financeiro e interesses estrangeiros no pas.

    O perodo ps-neoliberal, portanto, ainda est muito fluido, suas caractersticasso pouco consistentes. Com efeito, a dependncia da trajetria anterior, neoliberal,

    muito grande. As mudanas so efmeras. Normalmente, identifica-se como uma das

    atribuies principais dos governos ps-neoliberais o fim das privatizaes. Essa

    argumentao central precisa ser problematizada. Primeiro, quase todas as boas estatais

    j foram privatizadas, ou foram abertas para ac ionistas no mercado de aes. Logo, j

    perderam o seu atributo principal de no ficar merc dos ditames do mercado. S

    assim podem-se entender dois exemplos emblemticos: 1) porque a gasolina to cara

    4Os sindicatos em seu conjunto, deveras enfraquecidos com as polticas neoliberais agressivas e com aautomao industrial que reduziu sobremaneira o nmero de trabalhadores nas plantas das fbricas ,no alcanam uma retomada substantiva de poder de presso, como conseguiram no quadrodesenvolvimentista e, pr incipalmente, na dcada de 1980.5O atual ministro da Previdncia Social , por exemplo, e x-presidente da CUT.6 Deve-se levar em conta, ainda, a diminuio do nmero de trabalhadores formais e organizados nossindicatos, associada, evidentemente, ao aumento substantivo do trabalho informal, sem carteira as sinadae com direitos ainda mais reduzidos. Ness e caso, o conceito de dependncia de trajetria ap lica -se,principalmente se observarmos os altos custos para reverso do quadro anterior, criado ou ampliado noperodo de predominncia de polticas neoclssicas caracterizado pela diminuio de direitos, como

    resultado da flexibilizao de muitos deles, mas, sobretudo, por sua completa ausncia para umcontingente enorme de trabalhadores informais, desempregados e com trabalho precrio.7Prefcio do livro de Diniz e Boschi (2007).

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    no Brasil, mesmo o pas conseguindo a autossuficincia em petrleo; e 2) porque os

    juros dos bancos estatais so to altos quanto os dos bancos privados. Cabe frisar que as

    empresas estatais que ainda existem no foram privatizadas nem pelos governos

    anteriores, tipicamente liberais, portanto, no h porque se vangloriar da no

    privatizao. Ao mesmo tempo, no ocorreu nenhum processo de reestatizao; isto,

    sim, figuraria uma quebra com o padro anterior.

    Ps-Neoliberalismo consiste em um Novo Paradigma para a Relao K-T

    no Brasil?

    Com base na pesquisa dos documentos pblicos das entidades empresariais 8 e

    do seu cotejo com as aes dos governantes, temos a seguinte constatao: os governos

    FHC e Lula tm atendido quase na ntegra as exigncias do empresariado com relao

    reforma trabalhista.

    A totalidade das exigncias do empresariado no foi executada pelos ltimos

    governos. Entretanto, isso no significa que mudanas importantes no tenham sido

    feitas, atendendo a reivindicaes da burguesia. Em outras palavras, as mudanas nas

    Leis do Trabalho esto em curso desde 1990, atravs de Leis, Medidas Provisrias,

    Decretos e Portarias que flexibilizam direitos e/ou prejudicam a fiscalizao para o seu

    cumprimento, ou propem uma negociao entre patro e empregado sem que se

    recorra Justia.

    Alm disso, a legislao brasileira j uma das mais flexveis do mundo, pois,

    por exemplo, no h qualquer forma de proteo dispensa arbitrria, no sendo

    respeitada a Conveno 158 da OIT, tal como defendido pelos empresrios. 9

    Vejamos algumas medidas que flexibilizam os direitos dos trabalhadores; elas

    so de cinco tipos:

    1) Leis que preconizam a adaptao total, dependente e subordinada do trabalhador aos

    interesses exclusivos dos empregadores so: Contrato de Trabalho por Prazo

    Determinado (lei 9.601/1998), Banco de Horas ( lei 9.601/1998), Suspenso de Contrato

    de Trabalho (MP 1.726/1998), Trabalho a Tempo Parcial (MP 1.709/1998).

    2) Medidas que aumentam a explorao do trabalhador em detrimento de seu

    lazer/descanso e que atentam contra a reposio de perdas salariais: medida que veda

    8Vide bibliografia.9 importante frisar que o Brasil signatrio desta lei.

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    Clusulas de Correo Automtica dos Salrios, em acordos coletivos; e

    regulamentao do funcionamento do comrcio aos domingos.

    3) J a Lei 8.949/94 das Cooperativasmuito criticada, pois abre brechas para a fraude

    trabalhista est no mesmo patamar de empresas que contratam trabalhadores comoautnomos, terceirizados e agora como cooperativados com o objetivo de negligenciar

    direitos e benefcios, resultando na criao de trabalhadores de segunda categoria.

    4) Ainda temos a Lei 9.958/2000, que instituiu as Comisses de Conciliao Prvia

    (CCPs) e a prescrio do trabalhador rural, que s poder reivindicar na Justia os

    direitos dos ltimos cinco anos de relao empregatcia. Trata-se de flexibilizao de

    direitos que ocorre por modificaes nas leis processuais. As CCPs tm como fito

    negociar os direitos trabalhistas negados pelo empregador ao longo do (ou de algum)perodo trabalhado pelo funcionrio. Assim, sua existncia, na prtica, significa a

    reduo de algum(ns) direito(s) dos trabalhadores em favor do empregador que o(s)

    negou.

    5) A Reforma Sindical tem como uma de suas principais caractersticas a prevalncia

    do negociado sobre o legislado, que significa, na prtica, a possibilidade de desrespeito

    s leis por via de negociao. O trabalhador hipossuficiente, pois desorganizado, o

    maior prejudicado nesta relao.

    6) A lei de falncias (n 11.105, de fevereiro de 2005) que discorre na sua seo XI, no

    art. 149, sobre o pagamento dos credores e dos trabalhadores. Vejamos as prioridades:

    Realizadas as restituies, pagos os crditos extraconcursais, na forma do art. 84desta Lei, e consolidado o quadro-geral de credores, as importncias recebidascom a realizao do ativo sero destinadas ao pagamento dos credores, atendendo classificao prevista no art. 83 desta Lei, respeitados os demais dispositivosdesta Lei e as decises judiciais que determinam reserva de importncias. (...) Art.150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensvel administraoda falncia, inclusive na hiptese de continuao provisria das atividadesprevistas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei, sero pagas peloadministrador judicial com os recursos disponveis em caixa. Art. 151. Oscrditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (trs) mesesanteriores decretao da falncia, at o limite de 5 (cinco) salrios-mnimos portrabalhador, sero pagos to logo haja disponibilidade em caixa.

    Na prtica, significa que ao decretar falncia o empresrio deve pagar todos os

    credores e, por ltimo, quitar suas dvidas com os trabalhadores, caso sobre dinheiro em

    caixa.

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    Em 2005, o governo Lula instituiu a lei n 11.196, que libera a contratao de

    prestadores de servios na condio de empresas constitudas por uma nica pessoa.

    Essa modalidade de contratao, denominada pessoa jurdica, faz com que o

    empresrio fique isento do pagamento de frias, 13 salrio, FGTS, horas extras, aviso

    prvio e transfere ao empregado contratado como pessoa jurdica a responsabilidade de

    recolher os impostos e de contribuir integralmente para a Previdncia. Esta forma de

    contratao constitui grandes vantagens para o empregador e desvantagens para o

    trabalhador.

    Por fim, todas as mudanas atendem a interesses pontuais do empresariado e

    retiram ou diminuem os direitos dos trabalhadores.

    No mesmo diapaso, o governo Lula vetou parte da Medida Provisria 284 quefavoreceria os empregados domsticos no pas, cerca de 6,5 milhes de trabalhadores.

    Depois de forte presso dos meios de comunicao (vrias matrias no jornalO Globo

    e nos telejornais da TV Globo), Lula optou pela reprovao: 1) do pagamento

    obrigatrio do FGTS para o empregado domstico; 2) do pagamento de multa de 40%

    para o caso de demisso sem justa causa pelo empregador; 3) da estabilidade no

    emprego da gestante. Diga-se de passagem, direitos clssicos dos trabalhadores formais

    no pas. O veto aconteceu com uma explicao muito comum ultimamente: com vistasa evitar o aumento da informalidade. A histrica desorganizao dos empregados

    domsticos ajuda a explicar por que esto excludos desses direitos sociais, mesmo sob

    um governo considerado de centro-esquerda.

    Estudo sobre a Reforma Sindical10

    Esta parte do trabalho visa a apontar apenas os principais resultados da Reforma

    Sindical negociada sob o governo Lula, no contexto ps-neoliberal, entre 2003 e 2005,

    no mbito do Frum Nacional do Trabalho FNT11, rgo tripartite composto por

    sindicalistas, empresrios e representantes do Estado.

    A Reforma Sindical finalizada em 2005 apresenta-se como melhor exemplo de

    concertao entre Capital, Trabalho e governo sobre leis trabalhistas, no perodo ps-

    neoliberal. Embora ela no tenha sido ainda aprovada pelo Congresso Nacional, foi

    10Ela composta por duas partes: uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC-369), que altera quatrocaptulos da Constituio e condio prvia para as mudanas na legislao ordinria, e um Projeto de

    Lei com 238 art igos, que pretende fixar as novas bases do movimento s indical no pas.11 O FNT foi organizado pelo governo de Luiz Incio Lula da Silva atravs do decreto 4.796, de 30 dejulho de 2003.

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    assinada pelo presidente da Repblica e enviada como soluo para relaes entre K-T

    no pas. A partir deste estudo teremos mais instrumentos para perceber se o contexto

    ps-neoliberal realmente inaugura uma nova fase da relao K-T no Brasil.

    Sabemos que a estrutura corporativa foi criada no Brasil para favorecer osinteresses do empresariado. Era a maneira de levar para dentro do Estado o conflito

    entre Capital e Trabalho, em uma conjuntura bastante adversa ao Capital. Sob a

    perspectiva da correlao de foras, a conjuntura atual bastante favorvel ao

    empresariado, no pelo seu fortalecimento exclusivo, mas, sobretudo, pelo

    enfraquecimento dos trabalhadores organizados.

    Perscrutando a Reforma Sindical e cotejando com os documentos da CUT

    anteriores participao no FNT, que elaborou a reforma, percebemos que ela atendeus reivindicaes da CUT apenas em parte. 12 No que concerne aos seus interesses

    corporativos e burocrticos, ela foi amplamente vitoriosa, sobretudo quanto ao

    reconhecimento legal das centrais sindicais e do consequente aumento do poder de

    visibilidade de seus dirigentes, da dificuldade para se criar entidades sindicais

    concorrentes, da representao no local de trabalho, no cupulismo, isto , na prevalncia

    das decises da Central diante do sindicato de base, e na ampla proteo aos direitos de

    atuao dos sindica listas.J quanto aos interesses histricos dos trabalhadores, a Reforma deixou bastante

    a desejar. A liberdade foi amplamente restringida, embora muito utilizada no discurso;

    os direitos no foram ampliados; passou a prevalncia do negociado sobre o legislado,

    significando que nem os direitos estipulados em lei estaro garantidos; a conveno da

    OIT contra a dispensa imotivada no vingou; a tutela do Estado continua; em ltima

    instncia, a Justia do Trabalho continua a regular as relaes; e h, ainda, a

    possibilidade de criminalizao do movimento grevista.

    Da perspectiva do empresariado, a reforma foi amplamente vitoriosa.

    Praticamente suas propostas centrais foram contempladas, como a prevalncia do

    12A anlise das proposies da CUT est baseada nos seus documentos pblicos e especficos sobre otema. A escolha da CUT deve-se ao fato de esta ser a maior central sindical do pas. Reforma Sindical:Quem Somos, de Onde Viemos, para Onde Vamos cadernos subsdios (CUT, Secretaria Nacional deOrganizao, 2003). Este documento o mais atualizado (at antes da participao da CUT no FNT) econtm o ncleo duro das posies da Central sobre a reforma sindical. Este texto composto por outrosdocumentos elaborados em diferentes perodos pela prpria CUT, tendo seu Estatuto, Convenes da

    OIT, Regimento Interno do Frum Nacional do Trabalho, Sistema Democrtico de Relaes deTrabalho (ago 1999), O Que Mudar na Estrutura Sindical e nas Relaes de Trabalho? (ago 1996)e textos preparados especificamente para a part icipao no FNT em 2003.

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    negociado sobre o legislado; fim dos juzes classistas e criao de Comisses de

    Conciliao Prvia (CCPs), embora suas argumentaes caminhem na direo da

    necessidade de a reforma trabalhista propriamente caminhar junto com a reforma

    sindical.

    Destarte, vimos que a Reforma no supera o corporativismo reinante na

    estrutura sindical e continua muito dependente da trajetria iniciada na Era Vargas. H

    avanos e retrocessos, mas o corporativismo de Estado, com exceo do fim da

    unicidade, no foi superado. A liberdade continua restringida, e muito. Por fim, o

    resultado que esta Reforma traz mais amplo do que a simples limitao de direitos,

    tem o significado de dizer que o novo ordenamento corporativo desenhado no Brasil,

    mesmo com a participao dos supostos representantes dos trabalhadores, no consegue

    ser diferente daquele em que estes eram alijados, pois os resultados continuam os

    mesmos, com ampla vitria dos interesses dos empresrios sobre os interesses dos

    trabalhadores, embora os sindicalistas tenham seus interesses igualmente atendidos.

    Em resumo, embora assuma o governo o partido dos trabalhadores (PT), nascido

    no bero sindical e com sua principal liderana proveniente deste meio, o poder dos

    sindicatos, diminudo com a dcada neoliberal, no retomado, apenas o da aristocracia

    operria, que tem seus interesses atendidos (vide reforma sindical) e ocupam postosnesses governos. Por isso, a presso pelo aumento de direitos e salrios, por meio de

    greves e lutas diretas, no revivida. A via da negociao (conciliao) a mais usada.

    Por consequncia, os ganhos para a classe trabalhadora tambm so pequenos,

    praticamente efmeros.

    O ps-neoliberalismo no Brasil pode ser lido como a construo de um

    Capitalismo Sindicalista Conciliador por atender os interesses dos sindicalistas e por

    no mexer com as estruturas estabelecidas pelo Consenso de Washington, porconseguinte, sem atentar contra os interesses do K. O termo sindicalista reporta-se aos

    ministros e ao prprio Presidente da Repblica, oriundos deste meio, e porque sua

    prtica tem sido a mesma da maioria dos sindicatos que propem negociaes com o K

    em vez de enfrentamento. Nos ltimos tempos, no pas, os prprios sindicalistas

    apareceram em pblico defendendo ajuda governamental para seus patres. Esta tem

    sido exatamente a caracterstica do governo Lula socorrer o K em crise. Com efeito, a

    governabilidade foi garantida e o sinal emitido pelo Executivo para a regulao darelao K-T o da conciliao, jamais o do enfrentamento. A reforma sindical o

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    grande exemplo. Seu resultado foi a contemplao dos interesses dos sindicalistas e dos

    empresrios, e no dos trabalhadores.

    Conclumos com o grfico que busca representar o histrico da situao do

    Trabalho associado aos fatores influentes sobre a trajetria da relao entreempresariado e trabalhador no Brasil.

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    Grfico 1: Trajetria da relao Capital-Trabalho e seus desvios no Brasil

    Situa o do TrabalhoAusncia de direitos universais

    Greves erais

    Criao de di reitos isoladosRegulamentao

    da j ornada de trabalho

    Primeiros direitos

    Incorporao do T na institucionalidade

    Revolu o de 1930

    CLT

    Substitui o da estabilidade FGTS

    Greves roibidasforte re resso

    Gol e civil-militar

    Reor aniza o dos mov sociais reves no ABC

    Aumento da licen a maternidade

    Constituio de 1988incremento

    de direitos

    Polticas neoliberais ; fraca resistncia do T

    Flexibilizao da CLT: diminuio de direitos

    Altos ndices de desem re o, trab informal e recrio

    Governo Lula

    Previdncia ara trab. do cam o

    1917-1

    9

    1930

    1943

    1964

    1988

    1978

    2008

    2003

    1991

    Lei da micro e pequenas empresas que probe o fiscal do

    trab. de multar por desrespeito as leis trabalhistas

    Reforma s indical: prevalncia do negociado sobre o

    legisladotempo

  • 7/26/2019 Moraes Wallace (2010). Capitalismo Sindicalista de Conciliacao e Capitalismo de Las Calles Brasil e Venezuela No

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    CAPITALISMO DE LAS CALLES: O CASO DA VENEZUELA

    Escrever sobre a relao Capital-Trabalho na Venezuela requer que levemos em

    conta cinco aspectos centrais: 1) a enorme dependncia econmica do pas da extrao

    de petrleo;132) a parca industrializao; 3) a existncia de um empresariado deverasdependente do Estado e, em sua maioria, subordinado s multinacionais desde o

    descobrimento do petrleo; 4) a formao de uma classe trabalhadora, pouco atuante e

    reformista, cuja aristocracia operria esteve ligada ao partido da Ao Democrtica

    (AD); 5) a extrema desigualdade social. Nesta introduo, esboamos rapidamente a

    importncia destes aspectos para a pesquisa em questo.

    A economia venezuelana difere de maneira significativa das demais da Amrica

    Latina (AL), em particular, da do Brasil, o que reflete em uma peculiaridade da relao

    Capital-Trabalho. Na quase totalidade das economias do continente, os problemas mais

    fundamentais so a escassez relativa de capital e a reduzida capacidade para importar.

    Na Venezuela, historicamente, a situao praticamente oposta: o sistema tende a

    afogar-se em excesso de recursos financeiros, refletindo em ampla facilidade para

    importao (Furtado, 2008:56). Ao mesmo tempo, o carter rentista da economia

    moldou uma sociedade e um aparelho de Estado acostumados riqueza fcil e

    dependentes, em extremo, do vaivm do mercado petroleiro internacional (Lander,

    2005:48; Lpez Maya, 2006). Todavia, o conjunto destes aspectos no implica a

    inexistncia de pobreza; ao contrrio, as particularidades desta mesma economia e da

    utilizao destes recursos produzem, igualmente em toda a AL, seus grandes

    contingentes de pobres e miserveis em meio a enormes riquezas. 14

    13Lander e Lopez Maya (2003:185) asseveram que poucas coisas ocorrem na Venezuela que no tenhamcorrelao, d ireta ou indiretamente, co m o petrleo.14A Venezuela ostenta a rendaper capitamais alta da Amrica Latina. As palavras fortes de Galeano, aseguir, estabelecem a grande questo da Venezuela: um dos pases mais ricos do planeta e

    paradoxalmente tambm um dos mais pobres. As sondas extraram, em meio sculo, uma rendapetroleira to fabulosa que duplica os recursos do Plano Marshall para a reconstruo da Europa; desde

    que o primeiro poo de petrleo arrebentou em torrentes, a populao se multiplicou por trs e ooramento nacional por cem, mas a maioria da populao, que disputa as sobras de uma minoria faustosa,continua to pobre como na poca em que o pas dependia do cacau e do caf (Galeano, 2002:180).

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    Como explicar este paradoxo? Qual implicao incide sobre a relao Capital-

    Trabalho? A resposta a estas questes requer que entendamos um pouco da economia

    venezuelana e sua dependncia da explorao do petrleo. Vejamos.15

    Os enormes recursos petroleiros criaram uma sociedade parasitria, paralembrar-nos do conceito de Manuel Bonfim (1997), utilizado para caracterizar a

    dependncia de Portugal da explorao da Amrica portuguesa.16A Venezuela sofre do

    mesmo mal, pois petrleo-dependente. Sua economia extrai riqueza do subsolo com

    muita facilidade e, historicamente, serviu para subsidiar a acumulao no pas. O

    problema foi que este estmulo fcil serviu menos para a inovao e mais para a

    dependncia do Estado petroleiro. Este foi um dos fatores que obstou o

    desenvolvimento industrial na Venezuela, embora no tenha sido o principal. Destarte,foram muitas as divisas conseguidas com esta exportao que, por sua vez, foraram ao

    Estado a sobrevalorizar a moeda nacional com vistas a melhor utilizar os recursos

    advindos da venda do ouro negro 17 (Furtado, 2008). Se a moeda nacional

    sobrevalorizada, ento, a melhor forma de obter grandes lucros com a importao de

    produtos.18Por consequncia, era mais vantajoso consumir produtos importados do que

    nacionais. Assim, o setor do Capital que mais se desenvolveu na Venezuela foi o

    comercial-financeiro, em detrimento do capital produtivo (Moncada, 1985). Esteaspecto constituiu um ciclo vicioso que obstou o desenvolvimento da indstria no pas,

    e, por conseguinte, da classe operria. Alm disso, a sobrevalorizao da moeda

    resultou na facilidade de importao de tecnologia, feita, com frequncia, pelas

    indstrias multinacionais, gerando a fcil substituio do trabalho vivo pelo morto. Com

    efeito, a indstria venezuelana possua tecnologia avanada, empregava pouca mo de

    obra, mas mesmo assim tinha dificuldade em competir com os produtos importados.

    Alm do mais, a crescente mecanizao da extrao do petrleo conduziu cada vez mais

    15Sobre o tema de economia, nossos estudos esto baseados fundamentalmente nas pesquisas elaboradaspor Celso Furtado para a CEPAL, em 1957 e 1974, nas quais encontramos explicaes fundamentaissobre a economia venezuelana, com determinantes para a relao capital-traba lho.16Na anlise deste autor, a sociedade portuguesa deixou de ser guerreira, inovadora e forte em funo dariqueza fcil encontrada na Amrica terra do pau-brasil , para ser parasitria e, por consequncia,dependente da explorao da terra tupiniquim.17 Nas fases de grande expanso petroleira, a disponibilidade de divisas cresceu mais que a demandaglobal, e, para utilizar as divisas disponveis, o governo apelou para a sobrevalorizao externa da moedanacional (Furtado, 2008:46).18Por outro lado, afirmava Furtado em 1957 (2008:54), se se permitisse o jogo espontneo das foras do

    mercado, a Venezuela tenderia a se transformar numa economia principalmente monoprodutora, comgrande parte da sua populao desempregada ou subempregada e com uma moeda ainda maissobrevalorizada.

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    ao menor emprego de fora de trabalho, gerando um paradoxo, pois aquilo que mais

    gera capital emprega um nmero decrescente de trabalho vivo (F urtado, 2008).

    Estes fatores tiveram implicaes determinantes sobre a relao K-T no pas. S

    com a compreenso deles, entendemos porque a baixa taxa de juros, 19 junto com apouca tributao, no proporcionaram o crescimento do capital produtivo. 20A partir da,

    existiram outras implicaes para a formao da classe trabalhadora, alocada, na maior

    parte, no setor comercial, e no no industrial. Saber que o capital comercial emprega um

    nmero menor de trabalhadores que o industrial, e no facilita sua organizao poltica

    e econmica, deveras importante para decodificar a formao da classe trabalhadora

    na Venezuela. Alm disso, com base na juno das caractersticas supracitadas, tambm

    deve entrar na conta o grande contingente de desempregados produzidos pelo sistema,gerando a extrema desigualdade com misria em meio a enormes riquezas.

    Com efeito, a trajetria da relao K-T na Venezuela foi pautada pela

    prospeco do petrleo. Como resultado deste fator, o no-desenvolvimento de um

    grande parque industrial, contribuiu para algumas questes: 1) centralidade do papel do

    Estado na economia; 2) poucas indstrias no pas; 3) formao da classe operria tardia

    e, mesmo assim, diminuta em relao a outros pases da AL; 4) dependncia do

    trabalhador do Estado; 5) forte represso do Estado sobre o movimento dos

    trabalhadores; 6) aniquilamento de militantes revolucionrios ao longo de sua histria.

    Esses fatores em seu conjunto explicam a quase que completa ausncia de um

    grande arcabouo jurdico e de meios de fiscalizao pelo Estado sobre os direitos

    trabalhistas at o incio da dcada de 1990. Essa trajetria foi transformada a partir de

    ento.

    Desde meados dos anos 1980, surgem novos movimentos sociais que impem

    aos governantes de turno uma srie de reivindicaes por meio de protestos de rua

    muitos deles confrontacionais. Estas reivindicaes caminham num crescendo at

    culminar com o Caracazo de 1989; desde ento, os movimento sociais no saem mais

    das ruas, impondo-se na pauta poltica e econmica de uma maneira jamais vista na

    19A reduzida taxa de juros resultado da abundncia de recursos financeiros no setor pblico.20 Segundo Furtado (2008:121), a Venezuela possua um baixo nvel de carga fiscal, sendo menos dametade ou da tera parte da que se observa em outros pases da AL. A verdade que a poupana realgerada pelo sistema econmico (excluda a contribuio do setor petroleiro) extremamente reduzida.

    Exemplificando com nmeros, continua Furtado: em um pas da Europa Ocidental, se se adicionamimpostos e poupana lquida, chega-se a cerca de metade da renda nacional, e, em pases como Brasil,essa taxa g irou e m torno dos 36%. Na Venezuela, dificilmente passou de 12%.

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    histria da Venezuela (ver Lopez Maya: 2006; 2003; 2002). Esta se constituiu na

    principal determinante do perodo do Capitalismo de Las Calles. a partir destas

    constataes que se deve entender o incremento de direitos trabalhistas em 1991, sob o

    neoliberalismo.

    At as dcadas de 1980-90, vimos que a Venezuela no tivera um movimento

    social organizado e atuante capaz de impor sua agenda ao Estado. A partir do extremo

    empobrecimento da populao no incio dos anos 80 (entre 1986 e 1997, o ndice de

    pobreza no pas subiu de 38,88% para 48,3%, e o de pobreza extrema de 17, 6% para

    27,6%), h um processo crescente de reivindicaes que culmina com o Caracazo de

    1989. Neste, os populares saram s ruas de maneira massiva para reivindicar diversos

    direitos e melhor qualidade de vida, bem como interferir, sobremaneira, na vida poltica

    do pas. Desde ento, constitua-se, assim, um novo ator poltico na Venezuela, vindo

    das ruas, nos termos de Margarita Lpez Maya (2002)poltica de la calle.

    Quadro 1: Total de protestos entre 1989 e 1999 na Venezuela

    Anos Total de protestos

    Outubro de 1989 a setembro de 1990 675

    Outubro de 1990 a setembro de 1991 546

    Outubro de 1991 a setembro de 1992 873

    Outubro de 1992 a setembro de 1993 1.047

    Outubro de 1993 a setembro de 1994 1.096

    Outubro de 1994 a setembro de 1995 581

    Outubro de 1995 a setembro de 1996 534

    Outubro de 1996 a setembro de 1997 550

    Outubro de 1997 a setembro de 1998 385

    Outubro de 1998 a setembro de 1999 805

  • 7/26/2019 Moraes Wallace (2010). Capitalismo Sindicalista de Conciliacao e Capitalismo de Las Calles Brasil e Venezuela No

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    Total da dcada 7.092

    Fonte: Provea, Situao dos direitos humanos. Informe anual (anos respectivos) inLpez Maya

    et alii, (2002:10).

    O prprio Chvez resultado deste acmulo de lutas populares, que nocessaram com a sua chegada ao Executivo, mas, ao contrrio, se ampliaram. Por

    consequncia, instala-se um capitalismo delas calles de tipo legalista, pois 1) os setores

    hegemnicos no conjunto do movimento so reformistas e no revolucionrios, embora,

    tal como na Europa do ps-guerra, utilizem a palavra socialista para se autodesignarem;

    2) o governo sensvel s presses populares.

    Ao mesmo tempo, muitos dos setores mais radicalizados so cooptados e

    institucionalizados, formando, em sua grande maioria, a base social do governo.

    A Era Chvez caracterizada como Capitalismo das Ruas no apenas pela

    presena dos movimentos sociais nas calles, mas, tambm, porque a oposio ao

    governo, invariavelmente ganha as ruas para expressar seus descontentamentos e at

    ampara-se em movimentos de rua para tentar tomar o poder, ou simplesmente

    desestabilizar o governo.

    A partir da, o governo Chvez tinha vrios caminhos a seguir: 1) manter os

    poucos direitos trabalhistas, e atender as demandas do grande K; 2) flexibilizar direitos,

    seguindo a tendncia mundial; 3) incrementar direitos trabalhistas, e continuar

    atendendo s fortes reivindicaes de rua do movimento social; 4) ou ainda, podia

    acabar com a coao capitalista que subordina o Trabalho ao Capital, atendendo

    reivindicaes no hegemnicas no seio do movimento social.

    Para melhor garantir a estabilidade social da Venezuela, seu governo optou pela

    terceira alternativa. Com efeito, criou novos direitos e, ainda, preocupou-se emestabelecer os mecanismos punitivos para aqueles que descumprissem as normas

    trabalhistas. Por isso, algumas empresas foram estatizadas pelo desrespeito ao Trabalho.

    Alm disso, garantiu a diminuio de jornada de trabalho. Como um plus para a classe

    trabalhadora, aumentou sobremaneira os investimentos sociais com o capital do Estado

    e da PDVSA. Trata-se, portanto, de um governo impulsionado por novos movimentos

    sociais, que, pela primeira vez na Venezuela, olhou para os mais pobres

    prioritariamente. Ao mesmo tempo, no rompeu com a subordinao do Trabalho ao

    Capital, mas ajudou a amenizar a explorao e a garantir a paz social por meio do

  • 7/26/2019 Moraes Wallace (2010). Capitalismo Sindicalista de Conciliacao e Capitalismo de Las Calles Brasil e Venezuela No

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    resgate da crena de grandes parcelas dos movimentos sociais nas instituies,

    amplamente desgastadas desde a dcada de 1980.

    Lei do trabalho sob o governo Chvez

    A legislao do trabalho sob o governo Chvez foi caracterizada pela criao dedireitos para os trabalhadores, juntamente com incremento de dificuldades e/ou

    penalidades para aqueles que no a cumprissem. Para ilustrar essa premissa,

    descrevemos, a seguir, os principais pontos da reforma, estabelecidos no dia 28 de abril

    de 2006, quando foi promulgada a Reforma del Reglamento de la Ley Orgnica del

    Trabajo (RLOT).21

    De maneira expressa, foram postos nulos um total de 37 artgos do Regulamento

    da Ley Orgnica del Trabajo, publicado em 25 de janeiro de 1999. Com efeito, as

    mudanas podem ser resumidas nos seguintes aspectos:

    1) Lei modificada: diz respeito ao funcionamento e organizao das chamadas

    Empresas de Trabajo Temporal (ETT). A partir da referida reforma, as

    ETTs passam a ser consideradas como intermedirias e, por consequncia,

    seus trabalhadores passam a gozar dos mesmos benefcios oferecidos aos

    trabalhadores da empresa beneficiria do servio. Ao mesmo tempo, o

    beneficirio da obra ou dos servios responde de maneira solidria ao

    intermedirio. Neste sentido, os trabalhadores contratados pelas empresas de

    trabalho temporrio devem desfrutar dos mesmos benefcios e das mesmas

    condies de trabalho de que desfrutam os trabalhadores contratados pelo

    beneficirio. Portanto, com esta lei, acaba a vantagem das grandes empresas

    de terceirizarem os servios, pagando um valor menor aos trabalhadores e

    no tendo responsabilidade jurdica sobre os mesmos.

    2) Na Reforma da LOT, se manteve o perodo de experincia de 90 das como

    estabelecia o Regulamento derrogado. Todava, enquanto neste era possvel

    extinguir o contrato de trabalho sem pagar indenizao, com a reforma o

    trabalhador ter direito ao recebimento de beneficios proporcionais ao seu

    21A referida lei foi estabelecida pelo decreto n 4.447, de 25 de abril de 2006, emanado pela Presidnciada Repblica e publicado na Gaceta Oficial de la Repblica Bolivariana de Venezuela , n 38.426, a qualderroga parcialmente o Regulamento da Ley Orgnica del Trabajo, de 20 de janeiro de 1999. Para adescrio da referida reforma, tivemos como fontes principais o site:

    http://www.just icia.net/foro/read.php?12,9952,bem como a Gaceta Oficial..., n 38.426, de 28 de abril de2006.

    http://www.justicia.net/foro/read.php?12,9952http://www.justicia.net/foro/read.php?12,9952http://www.justicia.net/foro/read.php?12,9952
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    tempo de trabalho, tais como frias, aviso-prvio e participao nos

    benefcios.

    3) Lei modificada: no caso de um empregado que trabalhe todos os dias da

    semana, tendo um dia de descanso, sendo este outro dia da semana, o patrodever pagar esse dia de domingo trabalhado, seja como de descanso

    semanal ou no, com um aumento de 50% sobre seu salrio.

    4) Lei modificada: perodo de amamentao. A me passa a ter um perodo

    mnimo de seis meses a partir do parto para o aleitamento do seu filho. O

    zelo pelo cumprimento desta norma fica a cargo dos inspetores do trabalho.

    5) Lei modificada: haver aumento para o pagamento de matrcula e

    mensalidades relativas s creches para os filhos dos trabalhadores menores

    de cinco anos de idade. No caso dos trabalhadores que tenham um salrio

    inferior a cinco salrios mnimos, o aumento para o pagamento deste

    benefcio ser de 38 a 40% do salrio mnimo.

    6) Lei criada: a Reforma do Regulamento da LOT probe ao patro a recusa

    obrigao do benefcio de creches e substitu-la pelo pagamento em dinheiro.

    Em caso de instalao e manuteno, pelo patro, de uma creche infantil, se

    por causas no imputveis ao trabalhador se interrompe a prestao do

    benefcio, o patro estar obrigado a indenizar o empregado com o

    pagamento da contribuio em dinheiro indicada na norma regulamentadora,

    pelo tempo que dure a interrupo deste benefcio, outorgando aos

    inspetores do trabalho a faculdade de dirimir as diferenas no prazo de cinco

    das.

    7) Lei criada: no permitido efetuar dispensa massiva de trabalhadores. Caso

    evidencie-se que o patro incorreu em dispensa massiva, o expediente dever

    ser remetido para o Ministrio do Trabalho para que decida sobre a

    suspenso das dispensas, isto , reincorporao dos trabalhadores ao servio,

    e ao pagamento dos salrios atrasados.

    8) Lei criada: nos casos de ramos de trabalhos necessariamente contnuos e por

    turnos, o trabalhador deve, a cada perodo de 7 dias, no mnimo, desfrutar de

    um dia inteiro de descanso.

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    9) Lei criada: todas as empresas que quiserem celebrar contratos, convnios ou

    acordos com o Estado devem ter uma certido negativa trabalhista

    (solvencia laboral) expedida pelo Ministerio do Trabalho.22

    Em 2007, o presidente Chvez estabeleceu decreto sobre a estabilidade dotrabalhador que no pode ser despedido sem justa causa na Venezuela. Em 2008, o

    decreto foi prorrogado por mais um ano.

    Outro decreto-lei estabelecido pelo governo federal, denominado Ley de

    proteccion a las familias, la maternidad y la paternidad, publicada na Gaceta Oficial...,

    n 38.773, de 20/9/2007, prev:

    Garantia contra a despedida arbitrria para o pai, em igual perodo para as mes,

    nos seguintes termos:

    O pai, seja qual for ser estado civil, gozar de segurana no emprego at um ano

    depois do nascimento do filho, sendo necessria a comprovao por meio do

    registro de nascimento da criana. Por consequncia, no poder ser despedido,

    transferido ou prejudicado em suas condies de trabalho sem justa causa

    previamente qualificada pelo inspetor do trabalho. A segurana no trabalho para

    os pais tambm se aplica para a adoo comprovada de crianas menores de 3

    anos.

    No mesmo decreto tambm est previsto o aumento da licena paternidade para

    14 dias contnuos para os pais a partir do nascimento do filho. Caso o filho tenha algum

    problema grave de sade, se estender por igual perodo a licena. Igual extenso se

    aplicar em caso de enfermidade da me. Em caso de falecimento da me, o pai ter

    direito licena maternidade que seria da me. Em caso de parto mltiplo, o perodo de

    licena paternidade ser de 21 dias contnuos.

    O governo de Hugo Chvez Fras (1999-2009) representa o rompimento, no s

    com o neoliberalismo, como tambm com a locupletao das elites daquele pas com os

    recursos do petrleo. Politicamente, seu governo significa o fim do pacto de Punto Fijo,

    de 1958, estabelecido entre os dois principais partidos do pas (AD e COPEI), cuja

    tnica principal foi o acordo em torno da distribuio de cargos no governo,

    22 A certido ser necessria, entre outros, nos seguintes casos: (i) solicitar crditos provenientes dosistema financeiro pblico; (ii) acessar o sistema nacional de garantias, fundo de risco e sociedade decapital de risco; (iii) receber as sistncia tcnica e servios no financeiros; (iv) participar em programasde compras do Estado; (v) renegociar dvidas com o Estado; (vi) receber apoio e proteo integral para a

    inovao e ampliao tecnolgica; (vi) solicitar recursos que favoream a importao de matrias-primas,insumos e/ou tecnologias com vistas a melhorar e ampliar a produo; (vii) participar de processos delicitao; (viii) tramitar e receber divisas da administrao pblica etc.

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    independente de qual deles ganhasse as eleies. Na esfera econmica, representa o

    redirecionamento das divisas advindas da prospeco petroleira em favor de grandes

    investimentos sociais. Socialmente, o governo de Chvez representa a possibilidade de

    vida melhor para a maioria da pobre populao com as misses sociais patrocinadas

    fundamentalmente pelos recursos do petrleo.

    Com relao aos interesses do Capital, os mdios, pequenos e micro empresrios

    (MPMK), organizados na Empreven, tm seus interesses atendidos pelo governo, como

    facilidade de acesso ao crdito, juros baixos e forte crescimento da economia, por isso

    apiam o governo Chvez. Pari passu, a forte interveno do Estado na economia, o

    controle sobre os recursos do petrleo e dos preos de determinados produtos

    desfavoreceram o grande capital venezuelano e transnacional, colocando-os na

    oposio.

    Conclumos com o grfico representativo da dependncia de trajetria da relao

    Capital-Trabalho e seus desvios na Venezuela.

  • 7/26/2019 Moraes Wallace (2010). Capitalismo Sindicalista de Conciliacao e Capitalismo de Las Calles Brasil e Venezuela No

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    Situa o do Trabalho

    Ausncia de direitos

    Primeiros direitos trabalhistas

    Criao do DTV c poucos direitos Regulamentao da

    jornada de trabalho

    Descoberta do petrleo

    IncorporaodoTna

    institucionalidade

    Ditadura de Prez Gimenez

    Pacto de Punto Fi o

    Bonan a etroleira

    Re ulam. frias aviso rvio etc

    Funda o da Fedecmaras

    Caracazo

    Ley orgni ca del trabajo: red jorn trab; frias at

    30 dias; part do trab nos benefcios da empresa

    Tentativas de ol es militares

    Polt

    icasneoliberais

    Reforma da Ley orgni ca del trabajo: diminuio

    dos benefcios do aviso prvio e incorporao de

    benefcios ao salrio

    Gov. Chvez; Constituio de 1999: aumento de

    direitos, diminuio da jornada de trabalho

    Estatizao de empresas que

    desrespeitam os direitos trabalhistas

    Queda dos re os do

    Nacionaliza o do etrleo

    Criao de novos direitos

    trabalhistas (RLOT)

    Sur em NMS

    1936

    1948

    Grfico 2: Trajetria subsidiria da relao capital-trabalho e seus desvios na Venezuela

    1958

    1973

    1991

    1997

    1999

    2006

    Tempo

    1983

    1917

    1936

    1948

  • 7/26/2019 Moraes Wallace (2010). Capitalismo Sindicalista de Conciliacao e Capitalismo de Las Calles Brasil e Venezuela No

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    Comparaes finais

    Para efeito de concluso, a principal constatao que Brasil e Venezuela

    produziram capitalismos muito diferentes ao longo de suas histrias. No contexto ps-

    neoliberal, essas diferenas continuaram, abarcando desde as posturas dos governos, at

    a formao e posio, tanto dos empresrios, quanto dos trabalhadores.

    A segunda constatao foi a enorme diferena da produo legislativa no mbito

    do Direito do Trabalho. Enquanto, em 1943, o Brasil j possua todo um arcabouo

    jurdico a CLT tratando da relao K-T e da interveno do Estado nesta, com

    inmeros direitos para os trabalhadores, na Venezuela esse ordenamento jurdico s

    ganha forma quase equivalente em 1991, mesmo assim ainda com menos direitos que o

    brasileiro. Algumas explicaes para esta disparidade precisam ser lembradas e estodiretamente associadas formao dos atores sociais. Vejamos.

    1) A industrializao no Brasil ocorre muito antes que na Venezuela. A explicao para

    o atraso industrial venezuelano foi a dependncia do petrleo, que trouxe abundncia de

    divisas, mas gerou, ao mesmo tempo, subdesenvolvimento com cmbio valorizado.

    Assim, foi mais vantajoso importar, o que representou, por sua vez, obstculo para

    desenvolvimento da indstria venezuelana.

    2) A industrializao do Brasil trouxe o movimento operrio no incio do sculo XX,

    permeado por militantes revolucionrios que estimularam as lutas operrias. Nesse

    sentido, vrias greves foram deflagradas no Brasil e, aos poucos, os trabalhadores

    conquistaram direitos. A prpria interveno do Estado na relao K-T foi uma

    exigncia do empresariado, que se sentiu acuado. Na Venezuela, a militncia

    revolucionria foi diminuta e em nenhum momento conseguiu hegemonia no

    movimento operrio, pois, dentre outros motivos, justamente no momento de formao

    da militncia operria em todo o mundo, vivia sob ditaduras.

    Percebemos, destarte, que, sem luta, o trabalhador dificilmente conquista

    direitos. Ademais, os empresrios, pelo menos no Brasil e na Venezuela, no mostraram

    grande apreo pelo aumento de direitos ao trabalhador que levassem diminuio de

    seus lucros. Com efeito, na Venezuela, os direitos do trabalho so tardios, porque

    praticamente inexistiu um movimento trabalhista de orientao revolucionria. O direito

    do trabalho s assume a forma equivalente CLT depois do maior protesto da histria

    do pas, em 1989, o Caracazo fruto de uma crescente insatisfao popular contra a

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    ordem estabelecida, que culmina com a vitria eleitoral de Chvez, o candidato

    antissistema.

    Detectamos o curso de trajetrias bem distintas do Executivo nos dois pases. Na

    Venezuela, podemos dizer que o governo Chvez adota um projeto nacional-desenvolvimentista, pois cria estatais; re-estatiza empresas antes privatizadas; aumenta,

    sobremaneira, a interveno na economia por meio de controle de preos, ofertas de

    produtos a preo de custo para a populao em mercados populares; e aumenta os

    direitos sociais e o emprego pblico. J Lula, no deu nenhum passo reverso do

    processo de privatizao no neoliberalismo, no reduziu os juros de maneira substantiva

    e no incrementou significativamente os direitos sociais, embora tenha aumentado o

    nmero de funcionrios pblicos e investido em programas de polticas focalizadas.

    Caso tomasse algumas das medidas salientadas, seria gerado, no pas, um clima de

    conflito, todavia a opo do governo foi a da conciliao, pela governabilidade.

    A principal caracterstica do governo Lula foi cessar a retirada e/ou

    flexibilizao de direitos, que estavam em curso sob o neoliberalismo; tambm no

    criminalizou, nem estimulou, as reivindicaes trabalhistas. Como um governo que

    tem uma grande base sindical, muitos sindicatos pararam as reivindicaes na

    expectativa de que o Estado fosse atender aos seus interesses. Por todos os motivosexpostos, cunhamos o capitalismo brasileiro, no que concerne relao K-T, de

    Capitalismo Sindicalista de Conciliao, pois os representantes do K e do T no se

    apresentam em campos opostos e irreconciliveis.

    O Capitalismo Sindicalista de Conciliao deve ser melhor entendido como

    um amparo s instituies do Capital em crise, que se encontravam na UTI. No bojo, o

    governo Lula no produziu mecanismos em contrrio s regras neoliberais, mas em

    socorro s instituies favorecidas por elas. Assim, buscou encontrar remdios para

    salvar o Capital e os cnones do neoliberalismo. Por conseguinte, o grande K

    socorrido com medidas liberais de desonerao de impostos e outras formas de retirada

    de controle do Estado. No sculo XIX, estas medidas chamavam-se livre mercado.

    Em outras palavras, o Estado no impe limites obteno de lucros pelos capitalistas e

    ainda retira impostos, tributaes e os ajuda, quando quebram, financiando-os. A

    categoria sindicalista, para designar o capitalismo brasileiro, foi escolhida por dois

    simples motivos: primeiro, o Presidente da Repblica oriundo do mundo sindical,

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    assim como vrios de seus ministros e outros funcionrios do Estado. Mas o principal

    motivo foi que a legislao trabalhista produzida no perodo atendeu amplamente aos

    interesses dos sindicalistas, beneficiados com garantias para o pleno exerccio de sua

    profisso, enquanto os trabalhadores no tiveram incremento substantivo de direitos.

    Ademais, a lgica produzida pelo governo tem sido a predominante no meio sindical,

    desde pelo menos o neoliberalismo, a saber, a lgica da conciliao e do socorro ao

    patro em crise. Portanto, o sinal emitido pelo governo o da opo pela

    governabilidade, e no pelo enfrentamento. No se atentou contra os privilgios das

    elites dominantes. Nesse sentido, o governo desestimulou a luta do Trabalho contra o

    Capital e sinalizou sempre para uma sada concertada, conciliada. Em resumo, o

    governo Lula pode ser enquadrado como ps-neoliberal, pela cessao de suas

    reformas, todavia, no pode ser considerado como contra o neoliberalismo e seus

    objetivos, pois socorre o Capital e favorece o status quo construdo pelas polticas

    neoclssicas. Foi a opo pela conciliao, pela governabilidade, que descartou as

    mudanas abruptas, principalmente contra os donos do poder o Capitalismo

    Sindicalista de Conciliao com vistas Governabilidade.

    O governo Chvez, alm de cessar as reformas pr-mercado, permitiu e, em

    alguns casos, at estimulou as reivindicaes trabalhistas. Ele chegou a estatizar pormeio de indenizaes algumas firmas que no respeitaram os direitos dos

    trabalhadores. Tambm diminuiu a jornada de trabalho sem reduo de salrios uma

    reivindicao histrica dos trabalhadores. Aps a promulgao da lei de terras de 2001,

    distribuiu mais de 1 milho de hectares de terras improdutivas entre camponeses pobres,

    democratizou muitas das decises do governo sob forma de referendos e plebiscitos e,

    ainda, criou diversos programas sociais atravs das misses sociais de barrio

    adentro. Tudo isso vem sendo feito em pleno acordo com as leis do pas e atendendo as

    reivindicaes das ruas, por isso chamamos de Capitalismo de Las Calles, que impe

    uma Revoluo legal. importante reafirmar que Chvez produto e pressionado

    pelo crescente movimento social venezuelano despertado em meados da dcada de

    1980, vindo num crescendo desde ento.

    A grande questo que o neoliberalismo produziu efeitos absolutamente

    distintos para a organizao da classe trabalhadora nos dois pases. Enquanto na

    Venezuela foi produzido um vistoso movimento social, descrente dos partidos polticose das instituies do sistema, que manifestou de maneira acintosa seus

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    descontentamentos e desejos nas ruas, com manifestaes inclusive confrontacionais;

    no Brasil, o perodo do neoliberalismo caracterizou-se pelo declnio acentuado da luta

    do trabalhador urbano, a greve, seu principal instrumento de presso, praticamente

    inexistiu na dcada de 1990 e isto no significa dizer que foi resultado de ganhos de

    benefcios. Somente o trabalhador rural atuou ativamente nas manifestaes nos anos

    1990 e por isso muitos sem-terra beneficiaram-se com meios de produo. Esta foi a

    dependncia de trajetria para o perodo ps-neoliberal. No Brasil, a luta do T urbano

    foi canalizada para as esperanas eleitorais, resultando em enorme dependncia dos

    governantes. Criou-se, inclusive, um falso consenso de que as greves, manifestaes e

    as ocupaes de terra atrapalhariam a vitria eleitoral dos seus representantes que, por

    sua vez, aparecia como grande panacia. Resultado: luta praticamente inexiste, com o

    movimento cooptado e institucionalizado. Da a velha mxima: sem lutas, sem direitos.

    No caso venezuelano, a dependncia foi oposta, pois o clamor das ruas vinha crescendo.

    Ao mesmo tempo, Chvez era a expresso momentnea dos movimentos sociais que

    apostaram, mas no depositaram todas as suas esperanas na eleio do chefe do

    Executivo, pois j estavam calejados de tanta decepo. Por isso, continuaram a presso

    sobre o novo governo, exigindo o cumprimento de suas promessas de campanha e

    impondo-lhe novas demandas. Da arrancaram direitos do Estado. Em comum, tanto o

    governo Chvez quanto o governo Lula caracterizaram-se por institucionalizar os

    movimentos proletrios. No caso do Brasil, arrefecendo em grande medida a luta,

    inclusive do trabalhador rural. No caso da Venezuela, a luta continua nas ruas, mas

    muitas delas seguem a pauta do governo.

    Com efeito, afirmamos que o Capitalismo de Las Calles no reproduziu o

    neoliberalismo, no criou o socialismo, mas simplesmente implementou polticas muito

    fceis de identificar para um mnimo conhecedor da histria. Trata-se de polticas

    desenvolvimentistas, empurradas, tal como no perodo do ps-guerra, por presso do

    Trabalho. Por consequncia, as anlises superficiais tratam o governo Chvez como um

    absurdo incomparvel e anacrnico que gera a fria do grande capital. o alto preo de

    romper com a trajetria anterior.

    A teoria Varieties of Capitalism assevera que existem diferentes posturas das

    firmas quanto s polticas sociais e, em particular, com relao s polticas trabalhistas

    nas LMEs e nas CMEs, sendo estas mais favorveis implementao e garantia dedireitos aos trabalhadores. Afirmamos que esta dicotomia no existe no Brasil, pois as

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    instituies de classe pesquisadas no se apresentaram como defensoras de uma poltica

    diferente da liberal. A principal Federao dos capitalistas na Venezuela comunga do

    mesmo liberalismo, contrrio ao incremento de direitos sociais. Apenas a Empreven se

    apresentou como defensora da ampliao de direitos para os trabalhadores, apoiando o

    governo por crditos. Portanto, a forma idlica de generosidade do Capital nos pases

    pesquisados s se aplica quando o governo forneceu, em troca, fortes subsdios e exigiu

    fidelidade.

    Ao mesmo tempo, tanto no Brasil, quanto na Venezuela, h uma contemplao

    do MPMK. Decerto, esses interesses so diferentes nos dois pases. Na Venezuela,

    organizado na Empreven, tem seus interesses atendidos, como facilidade de acesso ao

    crdito e alto grau de crescimento da economia, por isso apia o governo Chvez; aomesmo tempo, o grande capitalrepresentado pela Fedecmarascompe a vanguarda

    da oposio ao governo, porque este renacionalizou a PDVSA, que garantia altos

    lucros ao grande capital transnacional. No caso do Brasil, FIESP, FIRJAN e CNI tm

    interesses atendidos pelo governo, principalmente os pequenos, mdios e micro

    empresrios, mas os anseios do grande capital, como queda dos juros e da carga

    tributria, no foram totalmente contemplados.

    Por consequncia, na Venezuela, o MPMK chega a admitir a diminuio dajornada de trabalho e at as nacionalizaes de empresas que desrespeitam os interesses

    nacionais. No Brasil, justamente o MPMK que exige, com maior intensidade, a

    retirada de direitos dos trabalhadores. O grande capital nos dois pases busca ditar os

    rumos dos governos por meio de todas as formas de presso, por vezes at golpista, no

    segundo caso.

    Ao mesmo tempo, o caso venezuelano ratifica a teoria variedades de

    capitalismo, segundo a qual cada pas produz um capitalismo prprio. As reformas

    pr-mercado na Venezuela iniciam-se em 1989, junto com os demais pases da regio,

    respeitando a onda neoliberal ditada pelos organismos internacionais (FMI, BID, BIRD)

    e pases imperialistas (EUA, Inglaterra e outros). Todavia, a correlao de foras entre

    K-T e Estado produziu o que podemos chamar de anomalia do Consenso de

    Washington, pois incrementou direitos aos trabalhadores ao mesmo tempo em que fez

    liberalizaes.

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    Finalizando, o ps-neoliberalismo tem significados diferentes nos dois pases.

    Na Venezuela, pode ser conside rado como o Capitalismo de las Calles, que produziu

    uma Revoluo Legal, caracterizado por atender as demandas das ruas e caminhar no

    sentido de desconstruir aquilo imposto no neoliberalismo, com polticas

    desenvolvimentistas, gerando alto grau de instabilidade poltica, pois os interesses

    contrariados, embora de um nmero pequeno de eleitores, so muito fortes poltica e

    economicamente. Nestas condies, a Venezuela passa por um momento estritamente

    diferente do neoliberalismo com reverso de suas polticas.

    J no caso brasileiro, o ps-neoliberalismo pode ser considerado como o

    Capitalismo Sindicalista de Conciliao, que produziu Governabilidade, elogio dos

    EUA etc., por no contrariar os mesmos fortes interesses contidos na Venezuela. OExecutivo no Brasil, conciliador, no adotou polticas concretas em contrrio ao

    neoliberalismo, ou que o desconstrusse, e, ainda, procurou socorrer suas instituies em

    crise. Todavia, pelo menos nas polticas trabalhistas, no h a continuidade da retirada

    e/ou flexibilizao do direito do trabalho, embora a reforma sindical produzida

    atendesse, prioritariamente, aos interesses dos empresrios e dos sindicalistas.

    Por fim, segue grfico histrico-comparativo da situao do Trabalho nos dois

    pases.

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