Morar Contemporâneo

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MORAR CONTEMPORÂNEO Guilherme Freitas Parra

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Este trabalho tem a intenção de criar uma reflexão sobre as formas de morar contemporâneas e as alterações que elas sofreram ao longo dos anos procurando compreender fatores e aspectos que influenciaram a mudança de padrões de moradia.

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MORAR CONTEMPORÂNEO

Guilherme Freitas Parra

Guilherme Freitas Parra

MORAR CONTEMPORÂNEO

Reflexões sobre os novos espaços e suas adaptações do morar na contemporaneidade

Trabalho de conclusão de curso realizado no

Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro,

como requisito para obtenção do grau de

Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora Prof.ª Dr.ª Myrna de Arruda do Nascimento

São Paulo 2015

Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais Gilson Parra e Maria das Graças Freitas Parra, os

quais sempre me apoiaram e me deram forças para continuar e a terminar o que comecei. A eles dedico

esse trabalho, pois graças aos seus esforços cotidianos e ensinamentos me fizeram escolher esse tema.

Agradeço a minha irmã Gabriela Freitas Parra, por todo apoio e credibilidade no meu potencial.

Aos meus amigos, Carol, Victor, Juliana, Eloisa, Eduardo, Laura, Eduardo Flores, Gabriel, Jefferson e

Karina, agradeço o apoio que sempre me deram tanto nos momentos bons como nos ruins, sem eles eu

não chegaria até aqui.

A minha namorada, futura esposa, Maria Teresa do Santos Monteiro, a qual sempre me apoiou, me deu

forças e me ajudou em diversos momentos nessa caminhada sendo minha parceira.

Gostaria também de agradecer, toda a equipe de professores do Centro Universitário Senac, os quais

sempre foram ótimos e bem capacitados. Gostaria de destacar minha Coordenadora Valéria Fialho, por

seu excelente trabalho administrativo e por sua ótima capacidade em lecionar.

E, por fim, agradeço a minha Orientadora Myrna de Arruda do Nascimento, a qual me guiou, me ensinou e

me incentivou a realizar não só esse trabalho, como outros durante o curso. É gratificante estar concluindo

esse curso, com a mesma mestre que me iniciou nele.

Resumo

Este trabalho de conclusão de Curso tem a intenção de criar uma reflexão sobre as

formas de morar contemporâneas e as alterações que elas sofreram ao longo dos anos

procurando compreender fatores e aspectos que influenciaram a mudança de padrões

de moradia. De modo que acaba cada vez mais se tornando menores e fazendo com

que os indivíduos utilizem menos essas habitações.

Palavra-chave: Espaços arquitetônicos residenciais, Morar, Contemporâneo.

Abstract

This final examination intends to create a reflection about contemporary forms of living

and the changes they have undergone over the years trying to understand factors and

aspects that influenced a change in housing standards. This way becoming increasingly

smaller and making that the Individuals use less that kind of dwellings .

Key-words: Architectural spaces Residential, to live, contemporary.

Sumario

Introdução 9

A boa-vida 15

Casas pátios 19

Cabana da Flores Negra 29

Casa Arpel 39

Casa Nômade 49

Casa Bigger Splash 59

Criadores da cultura do inquilino 69

Demandas de uma cidade sem controle 79

Descobrindo um morar 89

Destino de um morar inconstante 97

Considerações finais 111

Referências bibliográficas

Referências das imagens

Introdução

Porque estudar o morar?

Este trabalho tem a finalidade, de construir reflexões, sobre o morar contemporâneo. Para defendermos

esta intenção foi inevitável escolher se discutiríamos apenas “o morar” ou se incluiríamos uma análise

sobre a relação entre “o morar/ o habitar”.

Ao estudarmos a significado do termo “ morar”, identificamos os sentidos de ficar, viver. Duas

qualidades fundamentais para a condição de sobrevivência de todo ser vivo, logo a reflexão sobre o

morar pode ser aplicada a indivíduos do mundo todo, de tal modo que seria difícil trabalhar de forma

tão ampla com um tema, para esse tipo de estudo realizado.

Já quando acrescentamos a discussão sobre o habitar sob o ponto de vista da morfologia da palavra

obtemos o significado de: ocupar como residência, residir, estar domiciliado. O que nos leva

consequentemente a refletir sobre a casa. A casa que é um objeto montado não exclusivamente, mas

primordialmente para a família.

De todo modo, esse “morar/habitar” carrega uma carga histórica enorme e foi necessário delimitar

também um período a ser estudado para podermos dimensionar nosso estudo. No caso dessa pesquisa

escolhemos abordar a transição do moderno para o contemporâneo e identificamos nessa passagem

diversos casos arquitetônicos adotados como “modelos” de discussões específicos e correntes de

pensamento filosóficos a serem estudados.

Ao lado disso, contextualizamos o problema para a situação de nossas vivências e de como também

podemos discutir o problema na escala da nossa experiência pessoal.

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Com este questionamento em foco entramos na escolha do espaço a ser trabalhado a cidade de São

Paulo, que será abordado no segundo semestre desta pesquisa.

Para estabelecermos um “campo de discussão” sobre o período de transição que pretendemos estudar,

apresentamos neste trabalho uma leitura pontual e seletiva da obra “A boa-vida: visitas guiadas um

passeio pela modernidade”, de Iñaki Ábalos.

Nestas visitas, pode-se perceber diferentes maneiras de se habitar a casa, desde a casa formada para a

família, até a casa pensada para somente um indivíduo. Em meio a esses estilos, existem ainda hoje

diversos traços de que o homem contemporâneo, ainda carrega alguns dos costumes e ideais sobre o

habitar, típicos da transição para o pós-modernos, até os dias atuais.

Marcelo Tramontano, arquiteto, professor e pesquisador da USP-São Carlos, coordenador do

Nomads.USP, Núcleo de Estudos de Habitares Interativos, comenta em seus artigos e trabalhos

acadêmicos sobre o habitar contemporâneo e sua história, o edifício e da cidade como fragmentos

urbanos informatizados, além de estudar as relações entre comportamentos e espaços de morar

brasileiros junto a estudos sobre modalidades habitacionais metropolitanas. Assumimos este autor,

portanto, como outra referência teórica necessária para este trabalho.

Com a introdução do Tramontano e a visão de alguns arquitetos, o trabalho começa a entrar agora para

um campo temporal, mas atual, onde busca em referências cotidianas como jornais e revistas, visões,

discussões e reflexões sobre os modos de morar na sociedade do século XXI.

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A falta por moradias já é algo presente desde o passado e no nosso tempo atual ela não poderia ser

diferente, o que mudou foi a demanda bem como o tipo de procura existentes atualmente. Antes a

procura era para a família, hoje entramos num panorama mais individual e “solitário”.

A busca por moradias cada vez menores só cresceu, a necessidade de se viver mais próximo aos

centros ou de seus locais de trabalho. Onde outrora foi o berço da burguesia de São Paulo – depois

esquecida pela mesma – hoje está sendo procurada novamente por sua localização ser tão primordial

nessa megalópole. Não só por uma questão de localização como também por uma questão de

diminuição nos integrantes da família, essa redução vem acontecendo ao longo do tempo e isso gerou

uma consequência, que foi necessária criar uma adaptação.

Dentro dessas adaptações começam a surgir pequenas moradias as quais visam os interesses e

necessidades desses moradores contemporâneos. Essas minimoradias começam a ser exploradas

cada vez mais pelos escritórios de arquitetura e as construtoras/incorporadoras. O projeto tenta ser o

mínimo possível seguindo conceitos de moradias náuticas e até mesmo rodoviárias – barcos e trailers –

para comportar tudo que o morador necessite, atendendo ao maior número de indivíduos que estiver à

procura de moradia.

No entanto, essas moradias acabam cada vez mais entrando num pensamento pragmático, afundando

mais o indivíduo a praticidade e o tornando cada vez menos ligado ao seu espaço, deixando de criar

sua identidade. Esse indivíduo deixa de imaginar um local como seu, para começar a observar o mundo

como um local aberto e disponível.

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A utilização de interfaces digitais que proporcionam uma moradia fácil e barata, desvincula o sujeito da

sua busca por uma individualidade. E por essa tamanha facilidade de busca e procura, transmuta o que

hoje poderia ser a casa da pessoa em um vil quarto de hotel.

Muitas dessas interfaces apresentam tanto hotéis, como também casas e quartos de pessoas, que já

estão considerando seus espaços privados como algo normal a ser aberto para o público desconhecido.

Assim, esse trabalho tem como intenção levantar reflexões sobre esse morar contemporâneo, que

sofreu tantas transformações ao longo dos anos, boas como também ruins.

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A boa-vida

O que é morar?

Iñaki Ábalos, em sua obra “A boa-vida” (2003) nos mostra uma maneira diferente de pensar a casa,

abordando questões do projeto que apresentam outros aspectos a serem avaliados, além do simples

fato de considerar quem a utilizará. O autor nos oferece um percurso, mostrando diversas casas

modernistas do sec. XX, muitas delas referências emblemáticas do conjunto de projetos estudados em

História da Arquitetura do período mencionado.

No entanto, por este estudo ter um carácter mais voltado à pratica do morar, foi decido que se daria

atenção apenas aos capítulos que enfatizam a discussão em espaços e elementos relacionados à

habitação.

A intenção desses estudos de casos é analisar hipóteses de compreensão dos elementos habitacionais

e suas particularidades, para desenvolver posteriormente uma visão crítica em diálogo com autores e

obras contemporâneos como Ábalos e “A boa-vida".

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Casas Pátios

Para quem são essas casas?

Figura 1: Casas Pátio. Cada casa segui uma disposição espacial diferente das demais. Cada casa segui sua

individualidade. Fonte: Pinterest

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O primeiro exemplo escolhido para ser analisado, na obra do referido autor, é um projeto de Mies Van

Der Rohe no qual ele projeta uma “casa individual”, um exemplo das conhecidas “casas-pátios” do

arquiteto alemão. O escritor e crítico começa curiosamente a discutir o projeto, tentando entender o

porquê do partido adotado pelo arquiteto, levando em consideração que Mies estava naquela época,

junto com um grupo de arquitetos, estudando possibilidades de desenvolver casas-pátios, onde o

propósito era a criação de casas de baixo custo para as famílias-tipo, de operários e de burgueses, um

conceito de casas em série.

Porém, desviando deste propósito, Mies parte para outro raciocínio projetual, esboçando em papeis os

modelos das casas-pátios, sempre com nítida Individualização, exibindo soluções próprias para cada

projeto; cada casa tinha sua particularidade, todas seguindo um padrão material, porém com diferenças

espaciais. (Figura 1)

Ao estudar o Existenzminimum¹ Ábalos percebe a diferença espacial mencionada e é dentro dessas

diferenças que Pere Joan Ravetllat² propõe estabelecer um paralelismo entre as casas-pátios e as casas

pompeianas, (Figura 2) e a organização em torno de átrios e peristilos. (Ábalos, 2013, p. 22)

¹ Termo criado no CIAM decorrente ao pensamento de Le Corbusier e os alemães socialistas, onde visa a ideia de um espaço minimo de

vivencia a um ser humano.

² Arquiteto espanhol, que escreveu um artigo comparando as residências pompeianas com as casas-pátios de Mies van der Rohe.

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Figura 2: Casa pompeiana. Na

imagem acima podemos ver o

fluxo entre os pátios, representado

em vermelho.

Fonte: khanacademy

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Ábalos não se opõe nem concorda com a

comparação, apenas menciona que sendo ou

não legitima a hipótese, pelo menos ela

serviria de base para mostrar o distanciamento

que há nos projetos sob análise. Entretanto, as

casas pompeianas, seguiam um estilo de vida

diferente, pois naquele contexto urbano não

existia uma separação do espaço público e

privado para a família; a casa seguia uma

organização menos privatizada e com

utilização mais mista por uma questão de

parâmetros de ordem espacial e econômica da

sociedade. Já o projeto de Mies adotou um

caminho diverso; o arquiteto fecha a casa em

quatro grandes muros altos enclausurando o

indivíduo, portanto, neste caso, a busca da

privatização é muito maior. (Figura 3 e 4) Figuras 3 e 4 : Casa Pátio de Mies Van der Rohe. Elevação e

planta, mostrando o isolamento que o arquiteto buscava

Fonte: A boa-vida

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Refletindo sobre estes aspectos, Ábalos se questiona: Para que são construídas essas casas? A quem,

a que formas de vida estão destinadas? Que valores traduzem-se nesse espaço privado, e também

– ainda que tais projetos sejam apenas evidências de como este é negado – no espaço público? Quem

são os seus sujeitos? De que noção de homem partem os projetos dessas casas? Que referência

pressupõem? (Ábalos,2013, p. 23)

Mies chega à conclusão de que se a casa não abrigava uma família, logo o arquiteto não tinha com o

que trabalhar, então ele abre mão da família e de todos os conceitos de convívio familiar para trabalhar a

casa de uma maneira mais abstrata. Embora desejasse compreender a natureza da vida moderna, Mies

deduziu que para compreendê-la ele precisa renunciar à memória que a casa guarda da família como

eterna produtora (Ábalos, 2013, p. 23) seguindo um caminho totalmente oposto do existencialismo de

Heidegger.

Sendo assim pode-se perceber na casa-pátio projetada que o uso do seu espaço é imprevisível, pois

não existe qualquer lugar fechado destinado a uma única atividade ou função (Figura 5). O curioso é o

fato também de não existir mais de uma cama neste espaço residencial, levando o autor a interpretar

que a casa seria destinada a um indivíduo solteiro. Tal informação confere todo o sentido

posteriormente, auxiliando Ábalos a refletir sobre como viveria o homem moderno se atendesse

unicamente a sua individualidade? (Ábalos, 2013, p. 24) Por mais que a casa tenha um amplo espaço

funcional, bem adequado, com aposentos abertos e uma cama de dimensões bem generosas, o projeto

não é pensado para atender as demandas de uma família existente e nem para uma futura família

nascente.

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Morar Contemporâneo

³ Nietzsche utiliza o termo Super-homem para mostrar uma nova fase que o homem está a alcançar, é no livro “Assim falou Zaratustra”

que ele argumenta poeticamente esse caminho predisposto.

Os muros altos, como mencionado, além de

servir para privatizar a vida do indivíduo

indicam também um refúgio para longe da

cidade. Propõem assegurar a casa como o

império do “eu”, levando assim a percepção de

um eco do conceito de “super-homem” de

Nietzsche e de Zaratustra³. A solução do muro

representa a busca do sujeito para encontrar

sua autoconstrução. Sua autoconstrução que

depende da desconstrução dos valores que a

sociedade implantou no sujeito ao longo do

tempo.

Figura 5: Casa Pátio de Mies Van der Rohe com

influência de Hans Sedmayr. Fonte: A boa-vida

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Chegará um dia – quiçá muito breve- em que se reconhecerá o que falta a nossas grandes cidades:

lugares silenciosos, vastos e espaçosos, para a meditação. Lugares com largas galerias cobertas para

os dias de chuva e de sol, aos quais não atingirá o ruído dos carros nem o pregão dos mercados, e

onde uma etiqueta mais sutil proibir até ao sacerdote de orar em voz alta: edifícios e construções que,

em seu conjunto, expressarão o que há de sublime na meditação e no isolamento do mundo.

Terão passado os tempos em que o monopólio da reflexão pertencia à igreja, em que a vida

contemplativa era unicamente a vida religiosa. Tudo o que a igreja tem edificado expressa este

pensamento, e eu não considero que suas construções nos bastem, ainda que se subtraia delas sua

finalidade religiosa. Essas construções falam uma linguagem demasiado patética e demasiado rígida,

para que nós ímpios, possamos meditar ali. Queremos traduzir a nós mesmo em pedras e plantas,

queremos passear por nós mesmo enquanto circulamos por essas galerias e esses jardins.

(NIETZSCHE, apud ÁBALOS, 2003, p. 27)

O autor acredita que a melhor forma de definir o projeto de Mies seja através dessa citação de

Nietzsche. Levando em consideração que o filósofo no texto cita um espaço equivalente ao das

casas-pátios, as grandes galerias, espaços isolados da cidade, um ambiente para meditação, o autor

levanta uma reflexão sobre a implantação da casa que também não poderia ser em outro lugar que

não fosse na cidade caótica, pois colocar essa casa num local menos desordenado como o campo,

faria o projeto perder todo o argumento nela impregnado.

O miesiano que mora nessa casa é um sujeito urbano que vive seu dia-a-dia como um homem normal

da cidade, trabalhando, criando vínculos. Mas o espaço do morar dele é um espaço onde, embora ele

possa se manter dentro da cidade, será também um espaço de isolamento.

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[...] o efeito de encontrar-se em um templo, em um lugar de recolhimento, associado, porém à

convicção de que o que tal templo celebra não é divindade alguma, mas, sim, o advento do homem

como protagonista, como agente, como sujeito. (Ábalos, 2003, p.32)

A partir do momento em que ele cruzar os grandes muros, o habitante se manterá só, porém sempre na

posição de espectador, capaz de ver as transformações que ocorrem na cidade. (Figura 6)

Figura 6: Casa Pátio de Mies Van der

Rohe. Croqui representando o

homem de Mies isolado em seu

templo. Fonte: blogspot

Cabana da floresta negra

O que precisamos para habitar?

Morar Contemporâneo

A próxima casa a ser estudada no livro, é a casa existencialista de Heidegger. Ábalos apresenta o

ponto de vista do filosofo, com seu texto “Porque vivo nas províncias” explicando que o habitar para

Heidegger é algo muito mais complexo e corpóreo. O filosofo baseia principalmente a sua reflexão

existencialista na “Carta sobre o humanismo” . Vivian Graça Barreira interpreta um dos trechos da carta

em seu artigo Carta sobre El Humanismo, de Martin Heidegger a seguinte consideração “A verdade do

ser está em sua essência. A humanidade do homem está na sua essência. A essência reside na

ex-sistência do homem. ” (Figura 7)

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Texto onde Heidegger argumenta contra a vida nas cidades e sua falta de conexões.

Publicada em 1947, é uma resposta as perguntas que o existencialista francês Jean Beaufret, enviou ao filosofo pergunta o futuro do

humanismo pós duas guerras mundiais. A carta mostra o pensamento de Heidegger quanto ao humanismo.

Vivian Graça Barcellos Barreira é pesquisadora da CECIERJ, suas pesquisas são voltadas para historia, com ênfase em politica. Revista

Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 5, Nº22, Rio, 2010.

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Figura 7: O homem só é humano por

causa de sua essência de modo que

só é ser por causa da mesma. Por

sua vez a essência está vinculada a

sua existência. Fonte: Do autor

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Abandonando a linha da filosofia que envolve a carta, Heidegger desenvolveu uma concepção capaz de

mudar a linguagem filosófica para uma filosofia voltada para o pensamento arquitetônico sobre a

habitação, com base na sua reflexão do existencialismo. Assim o filosofo reflete que a casa desse

indivíduo que se questiona sobre si mesmo é algo maior que um simples refúgio, é esse

questionamento que habita a casa, a casa deixa de ser a construção para ser o indivíduo existencial

“Nela se pode exercer o autêntico habitar, a plenitude do ser.” (Ábalos, 2003, p.45).

Esta casa, porém, não se transforma em um espaço impermeável de nossos conflitos. Na modernidade,

o desarraigamento do existencialismo acabou aumentando por conta do uso excessivo de técnicas de

construção; a casa perdeu seu sentido existencial e se transformou em um conceito banal de espaço

residencial, também influenciando, os habitantes que ali residiam.

Esse discurso será importante para a revisão da modernidade no final dos anos sessenta e por isso

devemos conhecer está cabana, localizada em Todtnauberg, na Floresta negra, onde o filosofo viveu

com sua esposa.

Heidegger apresenta na conferência “Construir-habitar-pensar” em 1951, na Alemanha, as três

motivações que precisamos aprender para possuir e habitar espiritualmente a casa existencial onde o

filosofo sugere uma volta às raízes, contrapondo o pensamento positivista predominante na época.

“O que ou quanto construir não é tão importante quanto saber porque construir, qual o significado

original dessa ação. ” (Ábalos, 2003, p.46); essa reflexão reconhece que através desse raciocínio

poderemos transforma um mero abrigo em uma autêntica habitação.

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indivíduo que se questiona sobre si mesmo é algo maior que um simples refúgio, é esse

A próxima casa a ser estudada no livro, é a casa existencialista de Heidegger. Ábalos apresenta o

A primeira das motivações do filósofo é uma palestra sobre a origem e significado da palavra

Bauen (construir):

“Prestemos atenção ao que a língua, através da palavra – bauen -, diz, e perceberemos três aspectos:

1.Construir é propriamente habitar.

2.Habitar é a maneira como os mortais estão sobre a terra.

3.Construir, enquanto habitar, é empregado no sentido de construir, cuidar, cultivar, e no sentido de construir,

erigir edificações.

(...) O caráter fundamental do habitar é este cuidar. ”

(HEIDEGGER, apud ÁBALOS, 2003, p.46-47)

Com essa citação pode-se perceber que para o escritor o “cuidar” é a essência do habitar. Por

isso Ábalos cita Heidegger e a sua afirmação de que existe naturalmente uma necessidade de

cuidar do nosso planeta, de não perdermos a relação que temos com a natureza, pois somente

esse cuidar vai nos gerar o habitar autêntico.

Nome dado aos quatro pontos focais que determinam a harmonia que existe no existencialismo: terra e céu, divinos e mortais.

Engenheiro mecânico e historiador da arte escreveu a obra Espaço, tempo e arquitetura; que foi responsável em influenciar

várias gerações de arquitetos. O livro analisa a arquitetura moderna e desde o surgimento até a relação que ela vem a ter com

os métodos de se construir, pintura, ciência entre outras.

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Morar Contemporâneo

Esse pensamento da construção da ideia de habitar revela a inversão de valores que a modernidade

carrega, segundo os quais, todo o padrão progressista e ordenado do positivismo desvincula cada vez

mais o homem da natureza e o distancia da mesma.

Essa explicação etimológica da palavra BAUEN é usada para apresentar a ideia do habitar invertida pela

modernidade. Segundo Heidegger o modernismo além de inverter o conceito do habitar, também alterou

a ideia do espaço; assim chegamos à segunda motivação de Heidegger.

A ponte de Heidegger é uma metáfora não somente da espacialidade, mas da capacidade de definir

uma ligação tanto material quanto espiritual; a quaternidade que habita o ser existencialista.

Para o modernismo o espaço é apenas algo material que se pode utilizar para a construção; uma

separação ou união regrada e pré-moldada para definir uma ordem. Assim na conferencia citada,

Heidegger colocou em dúvida todo o pensamento de Siegfried Giedion, em “Espaço-Tempo” , uma vez

que, segundo ele, há dois pensamentos manifestos em um mesmo documento: o do Lugar, Memória e

Natureza em contraste com o do Espaço, Tempo e Técnica; o pensamento existencialista em

contraponto com o moderno.

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De tal modo, o filosofo caminha para a primeira apresentação da casa para o público da

conferencia. O relato de Ábalos volta- se para observar a imagem de Heidegger e sua esposa

dentro da casa (Figura 8) e se pergunta, a exemplo de como fez sobre as casas-pátios, quem é o

sujeito que habita a casa existencial? – reforça – A quem, afinal, esta concepção doméstica

privilegia? (Ábalos, 2003, p.50)

Figura 8 - O domínio da filosofia é o domínio

do lar, a autoridade patriarcal transforma em

um empregado doméstico ou servo de do-

mesticidade. Fonte: A boa-vida (1934, p.43)

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Morar Contemporâneo

Assim, Ábalos interpreta que o indivíduo que mora na casa existencialista é o herdeiro da casa e dos

bens inseridos nela, e o mesmo que irá cuidar dela para passa-la aos seus filhos e assim por diante. O

que habita aquela casa é quem do mina suas características, historias, sua linguagem e que constrói seu

pensamento através dela evocando uma nostalgia que propulsiona o poder da casa existencialista.

É extremamente essencial a hierarquia que se deve seguir priorizando o pai na casa pois é ele quem

trará a segurança e o cuidado para passar a casa às gerações seguintes. Interpretando uma citação de

Heidegger, somente com a profundeza de uma noite escura perante uma tempestade de neve

percebemos a máxima relação do habitante com a natureza. A casa serve como refúgio e abrigo, e

também serve como exemplo para as cidades em sua diferenciação de espaços públicos e privados,

procurando oferecer proteção de algo nocivo.

Sendo assim entramos na última motivação de Heidegger, a exposição da sua casa com fotos,

mostrando sua maneira de morar e da sua esposa. A casa é simples e nele só existe o necessário; não

existem equipamentos tecnológicos, a casa é toda regida pelo homem e assim ele segue o papel

hierárquico dado a ele sobre ela. O uso de equipamentos tecnológicos contrapõe-se por duas razões:

primeiro, a de que

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os mesmos traziam um arruinamento para a natureza externa da casa, e também porque a

introdução da opinião externa conferia uma violência ao habitar. O sujeito existencialista não

deve se isolar do mundo, mas no espaço de sua casa só convém a ele saber o que é o melhor a

ele, ele é quem se protege ou protege sua família das nocividades do exterior. (Figura 9)

Figura 9: Heidegger observando sua esposa o servir a mesa de jantar. Em pleno

domínio sobre a casa. Fonte: A boa-vida (1934 e p.42)

Casa Arpel

A casa é uma maquina de morar?

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A terceira casa apresentada por Ábalos é uma casa cenográfica do artista Jacques Tati,

representada no seu filme “Mon oncle”, um filme de 1957 que na época expôs uma crítica

o habitar e projetar da rígida modernidade. O filme a todo momento nos mostra duas

maneiras de viver e morar, a do tio Hulot, – interpretado pelo próprio artista Jacques Tati –

que mora num cortiço no centro de Paris e a casa da família Arpel, – onde moram a irmã

de Hulot, o marido e o filho – que fica num bairro mais afastado e nobre. (Figuras 10 e 11)

Figuras 10 e 11: A esquerda o Sr. e Sra. Arpel em frente à casa positivista. A direita o cortiço onde o Tio Hulot mora.

Fonte: Mon oncle (TATIT, 1957)

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Nesse filme a abordagem de Tati é clara quanto ao conflito ideológico dos dois personagens, o do tio e o

do senhor Arpel.

Tati mostra a maneira artificial como as pessoas estão vivendo seguindo esse padrão positivista; a todo

o momento Hulot não aparenta entender os costumes que sua irmã e seu cunhado adotaram, e dos

quais se gabam. O tio acaba assumindo o papel de desconstrutor da casa da irmã e dos seus padrões e

espaço. Já o senhor Arpel aparenta a todo o momento se orgulhar da casa e de seus bens materiais. Ele

segue um ideal positivista, portanto, faz sentido também que ele siga tal modelo: sendo o dono de um

fábrica de plástico, sua ideia de vida e de trabalho sempre são voltadas ao progresso, sempre visando à

ordem. (Figuras 12 e 13)

Figuras 12 e 13: Sra. Arpel apresentando sua casa, para uma convidada. Fonte: Mon oncle (TATI, 1957)

Morar Contemporâneo

Corrente filosófica do séc. XIX e começo do séc. XX que defende o conhecimento cientifico e expõem sendo o único capaz a formar

um conhecimento verdadeiro. Somente a comprovação por meio de métodos científicos, que o progresso poderá ser alcançado.

Filosofo francês, fundador da Sociologia e um dos criadores da corrente filosófica Positivista.

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Esse positivismo criticado por Tati e mencionado por Ábalos, acaba se apoderando de certa

forma dos padrões da arquitetura moderna, pois esses padrões sustentam os seus argumentos e

demonstram uma maneira prospera de se viver e evoluir. Não é por acaso que este raciocínio

desencadeia revoltas no campo acadêmico e nos arquitetos da época.

Porém sua apoderação se tornou tão evidente a ponto de entrar nas escolas politécnicas

francesas onde até hoje ainda persiste o predomínio do ideal positivista. Essa linha de

pensamento, seguiu para a ideologização de uma utopia onde a filosofia serviria apenas como

auxilio para a ciência; deste momento para frente o domínio das decisões seriam todos tomadas

seguindo a ciência.

Todo esse progresso ordenado faz com que o positivismo crie a sociologia. O homem e a

sociedade acabam se tornam fenômenos naturais, e se transformando em objeto de estudo para

a ciência, como disse Auguste Comte .

“...os movimentos da sociedade, inclusive os do espírito humano, podem ser realmente previstos, em

certa medida, para cada época determinada, sob cada aspecto essencial, inclusive aqueles que pare-

cem à primeira vista desordenados. ”

(COMTE, apud ÁBALOS, 2003, p.71)

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Nesse filme a abordagem de Tati é clara quanto ao conflito ideológico dos dois personagens, o do tio e o

A argumentação apresentada buscava a criação dessa ciência – sociologia – para mostrar com mais

ferramentas a sua determinação ideal e para poder manipular a arquitetura moderna a sua maneira.

Com esse poder de ordem a família acaba sendo vista como uma estatística, uma ferramenta num

grande sistema que seria a sociedade. Nesse contexto, Ábalos se pergunta novamente: quem habita

esta casa?

E então chega à conclusão que a casa que segue o positivismo só poderia ser habitada por um casal

modelo, que acredita que sua moral esteja ligada ao seu progresso material. O positivismo ensina que

esse progresso só vira no futuro e para isso a família deverá seguir seus dogmas. Essa família acaba

entrando num contexto congênere, para poder entrar no padrão positivista; faz-se necessária essa

perda de diferenças e do senso crítico, para se inserir no mundo positivista. São essas mesmas famílias

-tipo do positivismo que foram a base para o estudo do Existezminimun¹¹.

Essa maneira de pensar começa a mudar o raciocínio projetual dos projetistas e a casa deixa de ser

pensada para o conforto da família para se tornar o espaço necessário; essa casa acaba se tornando

uma imagem para o exterior.

¹¹ Após a guerra, com a necessidade de se construir habitações para as pessoas que haviam perdido as suas casas, surgem vários gru-

pos de arquitetos estudando maneiras de se construir casa de uma maneira rápida. Nesse contexto junto com a modernismo surge o

estudo que visava uma mínima necessário para uma família subsistir.

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O projeto sempre acaba sendo pensando para

ser visível ao lado exterior, a sala deve ser

toda envidraçada, com belo jardim ríspido em

sua frente, parede sempre com cores neutras

e frias, as janelas circulares que mais

parecem dois olhos sempre observando o

exterior, como Jane Jacobs¹² imaginaria, e o

salão se torna o ponto focal da casa, por ser o

espaço de recepção de convidados e por sua

arquitetura panóptica (Figura 14). Os materiais

nele presentes sempre possuem uma

condição moderna, é inaceitável que qualquer

construção siga matérias que evoquem

qualquer tipo de história ou tradição, tudo

deve ser moderno.

¹² Segundo Jacobs (1961) a concepção de janelas viradas para a rua traria a cidade olhos que proporcionaria uma maior segurança, por

conta de tantos olhares sobre a cidade. São as pessoas vivendo a cidade e a protegendo.

Figura 14: Hulot indo embora da casa dos Arpel tarde da noite,

enquanto a casa o observa. Fonte: Mon oncle (TATI, 1957)

46

Morar Contemporâneo

Nesse filme a abordagem de Tati é clara quanto ao conflito ideológico dos dois personagens, o do tio e o

A casa e a família são uma peça na grande máquina que chamamos de cidade; a casa vai servir para

algo muito mais além do que um mero refúgio; ela acaba sendo um painel que retrata a família, e cuida

da cidade.

As manias e a organização da casa são sempre regradas, a senhora Arpel sempre está em busca da

limpeza e de mostrar a eficiência de sua casa, com seus moveis e equipamentos domésticos modernos;

o senhor Arpel também sempre exibindo seus utensílios – característica do positivismo.

Porém só no positivismo, com o pensamento de união e ordem, o primeiro caso estudado por Ábalos

apresenta a construção de conjuntos habitacionais. Estes referenciais do socialismo utópico começam a

definir os contornos da construção na cidade e dos espaços públicos através da habitação. Pois,

somente através da habitação, do lazer, da circulação e do trabalho teria uma cidade organizada.

Constatamos assim que a cidade acaba criando a necessidade de um princípio cientifico que venha a

organiza-la, surgindo o urbanismo.¹³

A cidade passa a ser estudada pela ciência e a ser um reflexo das casas positivistas que determina seus

usos internos, como o microzoning¹ faz com a organização da cidade.

¹³ Principio cientifico, que visava naquela época estudar, organizar e planejar a cidade, de uma maneira mecanizada.

¹ São as formações de grupos urbanos com as mesmas características designadas. 4

4

Morar Contemporâneo

47

Com o maquinismo controlador da das casas modernistas do filme, acaba ficando evidente, que

os Arpel acabam se tornando reféns de seus maquinários e sendo obrigados a seguir a rotina

que a casa designa a eles, assim como o microzoning a cidade.

Fica evidente, pelo pensamento positivista que é impraticável a construção de um “eu “na casa

positivista, é indiscutível comparar o quarto do filho dos Arpel, que é todo pensado por um

terceiro, para a casa de Hulot, que personaliza seu espaço para seu melhor conforto. Ábalos

começo então a recordar com a cena dos Arpel assistindo televisão do lado de fora da sala, o

ponto da fé positivista que levanta questionamentos sobre a maneira de habitar e pensar a casa

positivista.

Sendo assim Ábalos conjectura que o maior estorvo que se carrega do positivismo, não é a

maneira de projetar do arquiteto, mas sim as normas modernas que este nos deixou de legado.

Casa nômade

O morar precisa de uma formula?

Morar Contemporâneo

Ábalos (2003) insere no grupo de estudos de caso sobre o viver/morar/habitar, selecionados para

a obra que estamos analisando, um exemplo que confronta as casas anteriores.

Citando um pensamento de Michael Hays e comentando a existência de diversas maneiras de

pensar a arquitetura nos anos 1970 sobre o foco humanista, Ábalos inclui na discussão os

pressupostos do desconstrutivismo , uma espécie de “estilo arquitetônico” manifesto na era

pós-moderna, caracterizado por elementos não-lineares e pela elaboração de um edifício

fragmentado, distorcendo o princípio básico da construção arquitetônica.

Mencionando a arquitetura de Peter Eisenman, o escritor faz dela exemplo para ilustrar uma nova

maneira de viver a casa, seguindo outros padrões. (Figura 15)

A casa a ser estudada neste contexto, não será uma casa materializada, mas sim casas

construídas no ambiente virtual, que sugerem desconforto para serem utilizadas no nosso meio.

São casas que não seguem as normas e que nos mostram uma outra maneira de pensar e

habitar esses espaços. Torna-se um problema visitar essas casas, não apenas pelos usos e

atividades que nelas se dão, mas também pela sua disposição, materialização e até mesmo o

modo como se desenvolve este projeto.

51

Linha de produção pós-modernista que visa confrontar diretamente ao estruturalismo do modernismo. Com base nos pensamentos dos

filósofos Jacque Derrida e Peter Eisenman o desconstrutivismo caminhavam muito além do que uma simples desconstrução da arquitetu-

ra. Na verdade, existe dentro dele uma desordem controlada e uma aleatoriedade, sua intenção carrega muito mais destacar a edifica-

ção.

15

15

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Morar Contemporâneo

Figura 15: House VI do arquiteto Peter Eisenmann,

situada em Cornwall, Connecticult.

Fonte: Plataforma Arquitectura

Morar Contemporâneo

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Figura 17: Maquete representando a ideia de Dan Graham.

Fonte: “La caixa” foundation

Figura 16: Keaton parado em frente à

casa que construiu, tentando entender o

que houve de errado.

Fonte: One week

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Morar Contemporâneo

A primeira casa analisa é a do ator de Buster Keaton, protagonista do curta One Week (1920). Na

trama do filme, Keaton se casa e ele a esposa recebem uma casa de presente, de um antigo

pretendente da noiva. Os personagens não sabem, no entanto, que a casa precisa ser montada,

seguindo instruções do manual. Porém o antigo pretendente da esposa de Keaton, enciumado, decide

pregar uma peça no concorrente e altera a numeração das caixas de peças pré-moldadas que devem

ser usadas para se montar a casa. Assim a casa acaba ficando totalmente irregular, desrespeitando

padrões e não condizendo com o desenho previsto no manual. (Figura 16)

A próxima casa que Ábalos menciona é uma proposta, que nunca foi materializada de Dan Graham, a

Alterações para uma casa suburbana (1978) (Figura 17). Trata-se de uma proposta radical onde a

fachada frontal é substituída por um pano de vidro e é colocado um espelho continuo no vão, fazendo

assim não existir separação entre o ambiente público e o privado.

O morador deste edifício mantém a privacidade em seu quarto e seu banheiro, porém perde sua

privacidade dos demais espaços domiciliares e o espaço exterior se incorpora ao interior, fazendo assim

com que ambos os planos sejam indistinguíveis e sempre sejam considerados invasores ou invadidos.

Ator e diretor americano de comédias mudas. One week é uma de suas obras, onde o filme retrata a desconstrução da casa e sua

convivência em um ambiente esquizoide para a época.

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Morar Contemporâneo

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Estabelecendo aproximações (Figura 18)

entre as casas de Keaton e Graham e outras

duas casas: a House VI de Peter Eisenman e

a casa de Frank Gehry em Santa Monica,

Ábalos observa que:

As características de Gehry estão mais

ligadas às partes formais e construtivas das

casas do meio virtual.

Em Eisenman as características serão mais

processuais como as do Graham.

Para Keaton existe mais veracidade na sua

atitude maquínica na construção de sua

casa, do que qualquer outro pensamento.

Figura 18: Aproximação entre as casas segundo Ábalos.

Fonte: Do autor

56

Morar Contemporâneo

Ábalos questiona-se sobre o paradeiro do sujeito normal, seguidor de normas, que desaparece e se

torna o sujeito que tem como única característica para sua manifestação a sua incapacidade

intelectual e manual.

Citando Michael Foucault em As palavras e as coisas (1966) a “morte do sujeito” nosso autor

reconhece que ao procurar nas Ciências Humanas entender o poder e o conhecimento que ela

conseguiu arrancar e intensificar, transformando o sujeito clássico e renascentista em nada, o filósofo

francês traça uma genealogia do sujeito normal.

O homem perdeu sua liberdade, foi coisificado e perdeu sua individualidade em fazer coisas que não

sejam do interesse do estado, portanto tornou-se um conglomerado heterogêneo.

O sujeito não desaparece: é a determinação da sua unidade que é problemática, já que o que suscita o interesse e a

investigação é precisamente a sua desaparição (ou seja, esta nova maneira de ser que consiste na desaparição), ou

mesmo a sua dispersão, que, embora não chegue a aniquilá-lo, não nos oferece dele mais do que uma pluralidade de

posições e uma descontinuidade de funções. (BLANCHOT, apud ÁBALOS, 2003, p.147)

Este sujeito contemporâneo aprisionado começa a adquirir distintas formas anunciadas pelos

pensadores contemporâneos: o parasita de Derrida, os nômades de Deleuze e Guattari, ou o

vagabundo de Lyotard, que demonstra a reclusão do sujeito.

A sociologia nos revela que essa nova forma de ser causa diminuição da família e da razão doméstica;

esse sujeito individual é um parasita, um nômade que somente usufrui da cidade todos os recursos

que são conquistados pelo coletivo.

Morar Contemporâneo

57

O foco da questão, portanto, não está no

sujeito individualista, mas na ideia de

abandono da família tradicional que, está se

perdendo. É cada vez mais evidente a

presença da individualidade conforme o texto

de Ábalos decorre. Logo ele nos mostra os

estudos de Toyo Ito (Figura 19 e 20), para a

“mulher nômade de Tóquio”, projetando

minimamente estruturas, que visam apenas à

privacidade do homem contemporâneo.

Figuras 19 e 20: Acima protótipo da casa

para mulher nômade de Tóquio. Em baixo o

interior de outro modelo.

Fonte: Revista Cultural

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Morar Contemporâneo

Inicia-se neste ponto de tensão, abordado pelo autor, a desconstrução da casa, quebrando os signos

e padrões. A família já não é mais o ponto focal dessa habitação de Ito, o espaço acaba se tornando

meramente singular e para suprir necessidades apenas; a casa deixa de ser atraente. Todos os

pensamentos já estudados nas casas anteriores de Ábalos desaparecem com a contextualização

dessa barraca.

Essa mulher nômade é o parasita, sua inserção na cidade é meramente consumista e, passageira,

ela nunca produz como os habitantes. Suas cabanas, pensadas para ficar flutuando, sobre os prédios

mais altos com as mais belas vistas da cidade (Figura 21), causam uma perda de identidade para a

cidade.

Figura 21: Desenho do

protótipo nômade de

Toyo Ito.

Fonte: Ciudad Sistema

Casa Bigger Splash

A procura da casa perfeita?

Morar Contemporâneo

Figura 22: Quadro Bigger Splash, por Daviv Hockney, 1968.

Fonte: UOL foto blog

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Morar Contemporâneo

A próxima casa abordada não se trata também de uma materialização, mas sim da imagem em um

quadro de David Hockney pintado em 1968, A bigger splash. Não é o quadro que será analisado, mas

todo o legado que ele deixou por trás da sua praticidade pintada. A bigger splash mostrava o formato de

concepção da arquitetura do século XX, ideal originalmente americana, porém não só utilizada ou aceita

por eles, o quadro expressava toda a sua relação do exterior/interior, habitar/morar. (Figura 22)

Essa maneira de projetar e morar na casa advém desde o final do séc. XIX e começo do séc. XX com os

filósofos pragmáticos, William James, Charles S. Pierce e John Dewey.

Uma casa visivelmente bem resolvida, com herança do modernismo, contudo sem nenhuma ligação

com a casa de Tati, a casa positivista. Com essa casa os valores positivistas serão distantes, nessa

casa volta a se criar um padrão de tradição doméstica, cuja a cultura contemporânea demonstra

vitalidade.

Foi James que lutou para que a verdade não fosse mais pesquisada, para ele a verdade se adapta e

pode se suceder da ideia, como ele diz:

“chega a ser verdadeira, torna-se verdadeira pelos acontecimentos”.

(JAMES, apud ÁBALOS, 2003, p.173)

Morar Contemporâneo

A verdade deixa de ser absoluta para ser algo acidental. James aceita a verdade traçando

ajustes ao mundo, interpretando que a verdade é feita a partir da realidade e da mente. Mas no

pensamento pragmático a mente e o mundo, estão juntos e logo a verdade é criação do homem,

logo contingente.

O pragmatismo entra então ao mundo como um processo, sem raízes, sem heranças, é uma

ferramenta praticamente e não um ideal a ser seguido. Vem com o intuito de organizar as

“verdades”, colocá-las em discussão e procurar caminhos para a melhor solução final. Para

exemplificar tal seguimento James, utiliza a imagem de um corredor de hotel onde se encontram

diversos mundos diferentes, o corredor acaba sendo o meio de conversação de todos.

O sujeito pragmático, é um indivíduo que convive na atualidade, não resgata heranças ou

aguarda o futuro materialista. Sendo assim Ábalos retorna as imagens da casa de Julius

Shulman, a Case Study House ou os desenhos de Alejandro de la Sota, do seu projeto as casas

para Alcudia, com o questionamento de: como seria a concepção da casa para o sujeito pragmá-

tico? Como retirar os valores para tal concepção? O presente é o que procura o sujeito pragmáti-

co, mas não o presente só atual e sim sua poética escondida, que devemos lapidar até encon-

trarmos uma prodigiosidade.

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Morar Contemporâneo

O sujeito não desaparece: é a determinação da sua unidade que é problemática, já que o que suscita o interesse e a in

Esta tarefa é a de restaurar a continuidade entre as formas refinadas e intensificadas da experiência que são as obras

de arte e os acontecimentos, os fatos e os sofrimentos cotidianos, universalmente reconhecidos como constituintes da

experiência. ” E continua advertindo-nos: “A primeira consideração importante é que a vida desenvolve-se em um

entorno, não meramente ‘em’, mas por causa dele, através da sua interação com ele.

(DEWEY, apud ÁBALOS, 2003, p.177)

Assim a arquitetura e a arte se tornam um marco da experiência habitual. Fazendo a casa criar um

vínculo com a paisagem de modo que a presença desta transformasse um ambiente mais pragmático.

Ábalos volta então a analisar a casa pragmática, após levantar diversas elemento críticos no discurso

passado. Começa descrevendo com uma visão pessoal e até com influência de Hockney, levantando

diversos pontos para mostrar que o autor captou a essência do cotidiano daquele momento ali

expressado.

A seguir ele entra na casa de Pierre Koenig, Case Study House (Figura 23). Ábalos objetiva ao olhar

a imagem das duas mulheres conversando sobre as luzes de Los Angeles que o sujeito pragmático, o

protagonista, é essa mulher liberal, que antes não tinha liberdade e era considera em segundo plano

apenas para suprir as necessidades caseiras. É ela que lutou para se igualar e habitar essa casa.

Morar Contemporâneo

65

A casa pragmática não tem um limite, portanto

ela não deve ser encarada como uma

passagem de gerações para gerações, como

também não se estuda seu Existenzminimun.

Ela deve ser dissolvida em respeito a

individualidade dos que ali irão morar ou que

moram.

A casa pragmática é construída a partir de

manifestações da mulher de 1868, que estava

insatisfeita e considerava a casa da época

como espaço de escravidão. Com a luta pela

profissionalização do trabalho doméstico,

começaram a se pensar a casa de uma

maneira mais eficiente, visando um trabalho

mais rápido e prático.

Figura 23: Case Study House, Los Angeles, 1948.

Fonte: UOL foto blog

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Morar Contemporâneo

Somente no final da segunda-guerra mundial, a casa pragmática terá uma maior maturidade. É com

ajuda da revista Art & Architecture que a experimentação pela casa pragmática se tornará materializada.

Seu interior será, invadido por utensílios eletrônicos, pois tornavam mais pratica o cotidiano e por

estarem na moda, como outros utensílios diversos, como sofá, mesas de jantar, mesas de centro, que

eram comprados por catálogos. Sendo assim chegamos no ponto onde Ábalos se pergunta qual é a

materialidade especifica pragmática? E logo em seguida responde, percebendo que não existe uma

materialidade essencial para a casa, seus objetos estão ligados no que está em alta no mercado.

(Figura 24)

Sendo assim a casa pragmática, levou anos para ser aceita, porém provou se tornar uma das mais

bem-sucedidas maneiras de se pensar a habitação. Por ela conter diversas vertentes, adquiridas pela

conversação dos corredores de hotéis, ela acaba se tornando algo equilibrado e menos extremista. O

arquiteto que pensa nessa casa pragmática necessita de muita imaginação e compreensão do todo

mundo, para dar um grande passo e conseguir realizar a concepção dessa casa.

Morar Contemporâneo

Figura 24: O casal de designers e arquitetos Charles e Ray Eames, conversando no

interior da casa. Fonte: Smow

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Criadores da cultura do inquilino

Estamos destinados a solidão?

Quando discutimos sobre o morar contemporâneo percebemos que este vem sofrendo uma

grande alteração nos últimos anos, comparando com o passado de Ábalos de a Boa-vida.

Hoje em dia a população mundial, acabou por herdar uma pré-disposição ao individualismo, cada

vez mais os indivíduos estão se desvinculando deixando de se contatar fisicamente; para

Zygmunt Bauman nós estamos perdendo cada vez mais nossa capacidade de amar tanto ao

próximo como a nós mesmo . Um dos impulsos que causam essa desvinculação, é a tecnologia,

que pelo seu avanço e seu fácil acesso as pessoas, acabou criando na cabeça dos indivíduos a

ideia de que muitas das crianças de hoje são autônomas, por dominarem essas tecnologias.

Essa autonomia por sua vez está sempre dependendo dos aparatos tecnológicos, que nos

mostra que ela somente cria essa ilusão de autonomia.

O homem já não precisa mais sair de casa para manter contato com o mundo. O filme

Medianeiras , por exemplo, nos revela uma situação onde os protagonistas, que vivem suas

vidas em busca de um amor, nos encontros e desencontros da grande cidade, acabam utilizando

das redes sociais para conhecer outras pessoas e até si mesmos. No caso desta trama, os

personagens centrais do romance só vão se conhecer graças a um blecaute.

Sociólogo Polonês que estuda em uma de suas obras como as pessoas estão cada vez mais flexíveis em se relacionar e inseguras.

Com a utilização de equipamentos eletrônicos as pessoas estão cada vez mais se vinculando ciberneticamente com diversos usuários do

que tentando construir um vínculo a longo prazo.

Filme argentino de Gustavo Taretto, onde conta a história de amor de dois jovens a procura de um amor, que não se conhecem e vivem

se desencontrando no contexto da cidade grande.

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Apesar de ambos utilizarem da tecnologia para trabalhar em casa – apesar da protagonista ser vitrinista

e montar suas próprias vitrines, ela também utiliza de programas de computador para desenhar e

realizar suas ideias – o que por um lado nos faz pensar de forma crítica sobre a utilização do espaço.

Antigamente era comum que o ambiente particular do morar, fosse aberto em determinado horário ao

público; portanto, este ambiente particular acabava se tornando um ambiente misto onde sempre

poderia se receber alguma visita, nunca havendo um espaço privado propriamente dito, nas

residências .

No filme citado, os personagens também utilizam a tecnologia para pedir comida e até para relembrar

do passado que ainda os atormenta, acabam passando tanto tempo em seus apartamentos – caixa de

sapato/quitinetes – que não é estranho que eles acabem vivendo a cidade como um espaço meramente

de passagem. Essa desvinculação do homem pós-moderno com o espaço da cidade transforma e altera

o espaço onde vivemos e habitamos.

Uma característica, não necessariamente ligada à tecnologia, mas que problematiza todo o espaço

também é a queda da fecundidade; percebida pela demógrafa Elza Berquó que constatou uma queda de

mais de 50% da taxa de fecundidade nos países: França, Inglaterra, Suécia, Itália, Alemanha e Holanda;

Em A história da vida privada vol.5 é retratada uma história de uma família que morava na França e fazia sapatos em casa. Em uma

determinada greve, o chefe da família ao estar sem recursos furou a greve, com isso o povo se revoltou e foi atrás do fura greve,

trazendo assim um conflito público para o âmbito privado. De certo modo a pessoa, quando trabalha em casa, já não tem sua própria

casa. (VINCENT, 1994 p.25)

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Morar Contemporâneo

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Morar Contemporâneo

entre os anos de 1965 a 1985 . No Brasil desde 2000 existe a previsão de que até o final do ano

de 2015 a queda será de mais de que 40% da taxa de fecundidade²¹. Essa taxa tão baixa,

demonstra as pessoas adotando outros sistemas de família, que antigamente não existiam. A

típica família e os padrões a se conquistar dentro do slogan americano American Dream estão

cada vez mais distantes.

Com essa diminuição sobre o perfil dos integrantes familiares, Marcelo Tramontano (2006) nos

mostra em seus artigos do Nomads²², que os espaços residenciais têm sofrido grandes alterações

espaciais. Houve uma diminuição enorme nos padrões da moradia, não somente em virtude da

taxa de fecundidade, mas também por herança do modernismo.

Darcy Ribeiro (1995), famoso antropólogo brasileiro, conta que pela migração da população nativa

do norte e nordeste do Brasil para o sudeste e sul do país, em busca de emprego nas grandes

cidades, acabou sendo identificada uma falta de moradia pois nenhuma cidade estava preparada

para receber tal contingente populacional²³.

Berquó, E. A família no século XXI: um enfoque demográfico, in Revista Brasileira de Estudos de População, volume 6, no 2; julho/

dezembro 1989.

²¹ IBGE, Projeção da População do Brasil - 2013.

²² Biblioteca digital. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/site/> Maio, 2015.

²³ RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo. 1995.

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poderia se receber alguma visita, nunca havendo um espaço privado propriamente dito, nas

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Morar Contemporâneo

Com isso o povo teve que se adaptar e optar por morar nas periferias da cidade. Enquanto o povo

oprimido morava em pequenos espaços, a alta sociedade morava em grandes casarões bem

localizados nos centros das cidades. Entretanto essa retorica já não é a mesma nos dias de hoje. As

periferias ainda existem e dentro delas existe hoje uma complexidade em resolver seus problemas

urbanísticos e de moradia, que antigamente não existiam ou melhor, se existiam, não tinha impacto

direto na cidade. As periferias sempre carregaram dentro da sua condição de existência a essência de

um morar minimalista, onde as pessoas não têm muita escolha, por questões sociais, econômicas,

étnicas.

A mudança deste cenário ocorreu dentro da cidade e de seus casarões e os padrões da alta

sociedade. Os abastados adotaram outros tipos de moradias ao longo do tempo, residências em

condomínios fechado, grandes apartamentos luxuosos, mansões afastadas da cidade. Eles acabaram

se isolando, cada vez mais, do centro das cidades e deixando a população media/baixo dominar seus

antigos locais. Com a demanda sempre maior do que o número de moradias disponíveis, o número de

edificações residenciais aumentou cada vez mais dentro das grandes cidades. Com essa demanda e a

taxa de fecundidade tão baixa, os novos padrões de moradia começaram a surgir. Os empreendedores

ao observar o tipo de demanda característica, começaram a produzir edificações menores, levando em

consideração que o padrão da família contemporânea já não era o mesmo de antigamente, pois o

numero pela procura de apartamentos para solteiros só aumentou ao longo dos anos.

Morar Contemporâneo

A busca por uma individualidade é visível na nossa sociedade contemporânea. O poeta chinelo

Alejandro Zambra nos trouxe uma reflexão sobre o tema, comentando que, que a solidão é

necessária, ainda mais nos dias de hoje em que as pessoas têm dificuldade em estarem

sozinhas e sentem uma necessidade de estarem conectadas ou acompanhadas de alguma

maneira, mesmo que não seja pessoalmente, pelo menos acompanhadas por equipamentos

eletrônicos .

Seguindo com esse conceito Allain de Botton (1969) cita em seu filme baseado em um dos seus

livros, o pensamento do filosofo Wilhelm Worringer que expõe o motivo de algumas sociedades

ou pessoas escolherem determinados tipos de arquitetura está atrelado a uma necessidade de

acrescentarmos aquilo que falta em nós.

Sendo assim podemos concluir que as pessoas escolhem esses determinados apartamentos

solitários, buscando um local privado, um ambiente onde ela possa se sentir realmente sozinha

para desfrutar do seu conforto pessoal. Entretanto não alcança uma privacidade, por conta da

tecnologia cada vez mais está atrelada as nossas vidas e seu instinto em sempre se manter

conectado.

Poeta chileno, Alejandro Zambra fala sobre a solidão. Direção: Felipe Nepomuceno. Produção: TvZERO. Entrevista,

24'18". Disponível em: http://canalbrasil.globo.com/programas/sangue-latino/videos/3910556.html .

Acesso em abril de 2015.

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Morar Contemporâneo

Entretanto, com toda a transformação que vem ocorrendo nos últimos anos, percebesse que o homem

é o centro desse morar. Ao longo dos últimos anos, em todas as referências estudadas das casas

modernistas do Ábalos, por Botton e até os estudos do Tramontano, percebemos que a casa sempre

está se transformando através das vontades e necessidades do homem.

De modo que as casas estão sempre se adaptando para que o homem tenha uma melhor convivência

e conforto físico e até mesmo espiritual, dentro dos limites que ela apresenta.

Se a ideia de o homem ser o centro da casa está atrelada a História, poderíamos nos perguntar por

que motivos se dá ou se desenvolve a História? Se a casa é um objeto inanimado que só se adapta

através do ato do ente, por que o homem tem essa atitude?

O homem tem sofrido muita influência da mídia atualmente sobre determinados assuntos. Essa

manipulação de informações que a população sofre diariamente das redes de comunicação acaba

causando uma reação normal quanto aos problemas reais e uma justiça de valores. Essa normalidade

à qual o homem acaba sendo introduzido imperceptivelmente em seus juízos, levanta a possibilidade

do homem estar adaptando seus ambientes de moradia para ambientes cada vez mais minimalistas,

por influência e intenção de agentes externos.

O mimetismo é uma habilidade que algumas espécies de animais têm para se defender ou atacar suas

presas. Para o homem se caracterizaria como uma habilidade que o ser-humano carrega ao longo do

tempo a de se adaptar sempre aos ambientes que convive.

Morar Contemporâneo

O homem é a única espécie capaz de sobreviver em todos os ambientes por ter criado maneiras

de sobreviver. Esse mimetismo poderia nos levar a considerar, que mesmo que possamos sofrer

certa influência de agentes externos, ainda assim teríamos uma ferramenta de adaptação para

nos proteger de tais influências.

No entanto, essa adaptação da qual estamos predispostos a ter por um traço evolutivo, nos leva

muito mais além. É perceptível que está vinculada na essência da sobrevivência, porém,

levamos essa habilidade para nossos hábitos mais mundanos, como por exemplo, viver em

pequenas habitações.

Essa adaptação implantada dentro de nós junto às necessidades da nossa época, que

começamos a traçar novos esboços da nossa subsistência. Sendo assim, podemos observar a

publicação do jornal “Folha de São Paulo” , sobre as casas dos arquitetos consagrados que

projetaram suas próprias casas.

Nessa matéria temos diversos arquitetos que manifestam suas intenções e olhares sobre suas

casas e o modo como eles moram. Entre todos eles, o que mais despertou o interesse de uma

CHIAVERINI, T. Lição de casa: Um passeio pelos imóveis que arquitetos consagrados projetaram para eles mesmos

morarem. [Editorial]. Folha de São Paulo: O melhor de São Paulo Casa & Decoração. n. #258, p.20 - 30, ago./ set., 2015.

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Morar Contemporâneo

Discussão, foi o arquiteto Ruy Ohtake, que em sua entrevista apresentou sua ideia de um morar

contemporâneo. Para ele, a casa deve ser mais que um simples local de permanência e descanso, ele

cita;

“Na nossa casa a gente tem de respirar arte. Tanto pelas obras como pela arquitetura. ”

(CHIAVERINI, apud Folha de São Paulo, 2015, p. 22)

Esse olhar sobre a casa ser muito mais do que ela é em essência começa a mostrar a adaptação do

homem quanto as suas maneiras e necessidades de morar. Para ele é necessário esse tipo de

influência artística na casa, toda via não é uma característica que todos concordariam. Do mesmo

modo que essa necessidade por arte seja fundamental para ele, Ruy não vê necessidade em ter

cozinha e lavanderia. Seu apartamento Duplex é um flat que fornece serviço de hotelaria e somente

por isso o possibilita de não ter esses espaços, que o mesmo julga serem perda de tempo. Essa é uma

característica que ele julga ser a melhor para sua própria moradia, é a identidade que ele quer possuir

no seu espaço para construir sua individualidade.

É seguindo essa linha de raciocínio que agora essa pesquisa começa a travar uma discussão sobre

essa questão de adaptação, busca e perda de identidade, justificando de certo modo um porquê

dessas novas maneiras de se viver. E tentando compreender e traçar – mesmo que especulando –

qual será o caminho que esses indivíduos percorrerão.

Demandas de uma cidade sem controle

A falta de família afeta a vida?

Morar Contemporâneo

A ausência de planejamento urbano adequado para São Paulo resultou em uma cidade de 11,2

milhões de que necessita, se adaptar às dificuldades enfrentadas no cotidiano. Com o

crescimento populacional cada vez maior, precisamos frequentemente enfrentar e nos adaptar

aos problemas saturados dessa megalópole. O morar dentro dessa cidade sofre transformações

assim como as casas de Añaki Ábalos , analisadas no capítulo anterior, cuja característica serve

para representar um modo de habitar específico, dentro de um contexto temporal.

Entretanto, se as casas de Ábalos foram discutidas neste trabalho sob a ótica de seu morador,

não podemos repetir este modelo para o cenário que temos atualmente.

O crescimento populacional gerou um modo de habitar totalmente desvinculado da família

tradicional brasileira/paulistana. Ao invés desse crescimento se dar em família, ele está se

tornando cada vez mais individual. Cresce também em adjunto o interesse, por parte da

população, em desenvolver um modo de viver que procura se individualizar em tudo.

Dados do IBGE recentes indicam que o último aumento registrado de famílias que estavam no

topo dos procriadores aconteceu na década de 60. Após essa época houve uma queda marcante

no número de famílias, em todo país. Se na década mencionada uma família tinha em média 6,28

filhos, hoje está média passou a ser de 1,9 filhos. Ou seja, as famílias estão diminuindo não só

devido a fatores econômicos, mas também por escolha própria.

Idem p. 17.

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Morar Contemporâneo

Conforme observamos no gráfico seguinte, a região sudeste do país foi onde alcançou a maior queda

do número de integrantes de família. O paulistano está cada vez mais diminuindo seu interesse em

constituir uma família tradicional.

Figura 25: Tabela de dados do senso demográfico de 2010.

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2015

Morar Contemporâneo

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Figura 26: Tabela de dados do senso demográfico de 2010 por região.

Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2015

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Morar Contemporâneo

Figura 27: Exemplos de plantas de dois quartos ao longo das décadas. Fonte: O GLOBO, 2015

Morar Contemporâneo

A queda da constituição de famílias em São Paulo gera uma transformação urbana caótico. O

arquétipo de moradia para uma família da década de 60 é totalmente diferente do que se tem para

a família atual. Com base em alguns infográficos, de exemplos de plantas de apartamentos de

dois quartos ao longo das décadas, podemos perceber a mudança decrescente na metragem

quadrada dos apartamentos, entre os anos de 1970 e 2010.

Assim como a imagem acima é perceptível que a metragem quadrada dos apartamentos diminuiu

um pouco mais que 40% entre a década de 70 e a atual. Entretanto essa diminuição não seguiu

nas casas construídas pelos chefes daquela época.

O patriarca das famílias dos anos 60 teve de construir sua casa para abrigar toda a sua família. Ou

seja, essa “casa patriarcal” de dimensões generosas e subdividida, continuou a existir até os dias

atuais e com o crescimento e saída dos filhos surge o problema de administrar a necessidade de

tanto espaço sem função. Ao mesmo tempo, os filhos que saíram destas casas estão começando a

constituir famílias – bem poucos, como mostra a estatística acima – e procurando locais menores

por estarem construindo uma família menor. Com essa queda no número de integrantes da família

e a procura por espaços menores, o mercado imobiliário se molda a partir dessas demandas e

assim começam a surgir diversas edificações com apartamentos de pequenas metragens

quadradas. Toda essa demanda acaba criando a necessidade de se desenvolver ferramentas para

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Morar Contemporâneo

melhor trabalhar com a organização e propor novos usos para as residências grandes que se

tornaram obsoletas e para atender à procura por espaços menores dos novos representantes da mão

de obra produtiva e da sociedade contemporânea. Discutiremos este aspecto posteriormente.

Assim, voltamos ao exemplo do patriarca que com sua casa grande, sem saber o que fazer com tanto

espaço, acaba utilizando de acordos por intermédio de imobiliárias para trocar sua casa espaçosa por

um apartamento menor. Nesses acordos tanto pode surgir um contrato de aluguel em que se permuta

a casa e mais alguma parcela em dinheiro pelo aluguel do apartamento, como também pode ser a

venda do imóvel para a compra de um apartamento menor e utilizar o que restar do dinheiro para

uma aplicação financeira, como recomendam muitos economistas.

No meio desses anos que se passaram, o patriarca dos anos 60 sofre uma metamorfose. Sai da

condição de patriarca, para a de proprietário. Ele deixa de ser o chefe da família, para ser o dono da

casa. Isso influencia diretamente em seus princípios. Ele perde sua funcionalidade, para ganhar um

simples bem material.

Outra opção que o proprietário desta casa de dimensões avantajadas pode considerar é a utilização

desta para locação, disponibilizando os espaços dentro da casa, que não estiverem sendo usados.

Como exemplo temos a plataforma de alugueis e acomodações do Airbnb (Figura 28), que serve para

divulgar a locação da sua casa quando você não estiver nela ou até mesmo a locação de um quarto

ou espaço para a estadia de uma pessoa que esteja viajando. É uma pratica muito comum no

exterior, já conhecida nos sistemas Bed & breakfast utilizado no meio turístico.

Morar Contemporâneo

Voltando à discussão, com o surgimento desses pequenos apartamentos, começa a surgir

também uma demanda de organização para esses pequenos espaços criados para oferecer

moradias práticas, funcionais e economicamente viáveis.

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Figura 28: Portal de interface digital, para busca de aluguel de domicílios ou quartos.

Fonte: AIRBNB, 2015.

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Morar Contemporâneo

A cidade está crescendo e cada vez mais está se expandindo e criando novos recursos que

possibilitam que as pessoas não mais necessitem de alguns utensílios domésticos de uso esporádico,

como máquina de lavar, por exemplo. Muitos edifícios estão começando a oferecer projetos em que

se tem uma área de serviço compartilhada onde as pessoas utilizam das mesmas maquinas de lavar

e de secar por um rodízio organizado entre os condôminos. Existem nestes núcleos residenciais com

ambientes, como a cozinha, que estão cada vez menores, uma vez que não são mais utilizados tão

frequentemente.

A conectividade e com ela a facilidade de solicitar alimentos à distância e até mesmo a disponibilidade

de diversos locais para providenciar refeições nos bairros residenciais, fazem com que as pessoas

diminuam gradativamente o interesse em cozinhar, assim como o protagonista de Medianeiras .

Com todas essas transformações surgindo, percebemos a mudança dos ambientes, em termos de

dimensões e funções, e as novas estratégias criadas para melhor utilizar esses pequenos espaços de

moradia que caracterizam a sociedade contemporânea.

Esses espaços mínimos estão cada vez mais instigando a criação de novos aparatos que sejam

funcionais e compactos. A demanda vem a partir dessa mínima metragem quadrada, que ao mesmo

tempo que está abrindo mão do espaço, ainda anseia por uma maior funcionalidade como na casa de

Jacques Tati, em Mon Oncle . (Imagens nas páginas 19 a 22 – No capítulo 2.3)

Idem p. 71

Idem p. 39 - 48

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Descobrindo um morar

O que é preciso para morar?

Morar Contemporâneo

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Figura 29: Casas Typo A.

Fonte: GAYEGO, 2014

Figura 30: Casa typo B.

Fonte: GAYEGO, 2014

Figura 31: Casa Typo E2.

Fonte: GAYEGO, 2014.

Figura 32: Casa Typo X.

Fonte: GAYEGO, 2014

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Morar Contemporâneo

Com tudo isso acaba a se chegar numa pergunta curiosa, qual o destino do morar nas grandes

cidades? De São Paulo para as cidades que a constituem – diversidade e peculiaridade – por exemplo

– Paranapiacaba, localizada no município de Santo André, em São Paulo.

Uma antiga vila criada no ano de 1867 pela São Paulo Railway Co . com o intuito de abrigar os

ferroviários que ali criaram a estrada de ferro Santos-Jundiaí (Figuras 27 a 30). No passado era uma

prospera vila com um crescimento promissor, suas casas foram criadas pelos ingleses e seguiam

arquétipos diferentes que eram disponibilizadas aos funcionários a partir dos cargos que eles tinham

na companhia, quanto maior fosse o seu cargo, maior seria a sua casa.

Com a falência da São Paulo Railway Co. o município de Santo André se apropriou das casas e os

casarões da companhia, como pagamento das dívidas que ela havia adquirido.

Hoje é uma cidade cenário praticamente, que muitos a veem como apenas um museu para se contar

a história do que já foi aquele espaço outrora. Recentemente foi aberto para o público a possibilidade

de se adquirir um imóvel da antiga companhia. Era apenas necessário participar do leilão para adquirir

o imóvel e ter conhecimento de que o imóvel seria restaurado conforme foi construída em sua época e

não poderia haver nenhuma alteração, por parte do novo inquilino.

Com a importância do café e do açúcar se tornando tão grande no país, surgiu a necessidade de estabelecer uma via de

transporte segura para transportar pessoas e mercadorias, entre a Serra do mar. Foi assim que surgiu a primeira

companhia ferroviária do estado de São Paulo, no ano de 1867, ligava o planalto paulista com o litoral.

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Morar Contemporâneo

No entanto a utilização desse exemplo de

Paranapiacaba é por esse exato fator da

importância que se criou por esse bem. Por

estar concorrendo a ser considerada pela

UNESCO como Patrimônio da Humanidade ,

aumentaram os interesses em cima dessas

habitações e muitos quiseram adquiri-las. O

ponto a se chegar é que foi necessária a

desvalorização e depois a revalorização, com

um título de importância para reacender o

interesse no individuo contemporâneo para se

morar nesse ambiente. Aquela área ouve a

desvalorização tanto pela falência da

companhia ferroviário como pela sua

localização geográfica ser tão distante dos

centros econômicos das cidades.

Título desenvolvido pela UNESCO, para preservação do bem considerado de importância mundial.

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Figura 33: Festival do inverno, uma das maiores festas onde reúne um

grande público, para visitação da cidade Fonte: TOTAL NEWS, 2015.

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Morar Contemporâneo

E conforme foi mencionado acima os novos moradores dessas casas recém restauradas, não podem

alterar seu contexto, mas podem morar nelas de uma maneira que não convém com a da época. É o

morar na “página da história“ com as características do habitar contemporâneo, um dilema a ser

escolhido versus a perda do patrimônio imaterial que era o morar daquela década de 70 de XIX.

Sendo assim voltamos a questão do interesse do morador contemporâneo e podemos pensar que

aqui no município de São Paulo essa lógica acaba se tornando a mesma nas edificações de grandes

arquitetos, como o Copan de Oscar Niemeyer ou o Edifício Cinderela do Artacho Jurado, são edifícios

com tamanha importância histórica que faz com eles sejam únicos e que tenham o interesse da

grande maioria, por sua questão singular.

Assim percebemos que dentro desse universo de singularidades que seria a possibilidade de compra

de bens históricos, não se encaixam todos. Tanto por uma questão quantitativa, como principalmente

por uma questão econômica que gira em torno dessas singularidades. Desse modo onde se encaixa a

demanda existente das outras pessoas dentro dessas grandes cidades?

Essas pessoas estão à procura de moradia, seja apartamento ou casa. No entanto que sejam bem

localizadas na cidade, por uma questão de facilitar sua vida que se tornou multifacetada pela

convivência na grande cidade e por uma questão de financeira por conta do alto valor do metro

quadrado na cidade de São Paulo.

Morar Contemporâneo

O melhor exemplo para mostrar essa busca, atualmente é o centro de São Paulo, nele está

ocorrendo uma revalorização por parte das pessoas, por procurarem edificações mais baratas,

menores e melhor localizadas, em questões de locomoção para todos os lados da cidade. Pelas

pessoas estarem procurando tanto e pela busca da prefeitura para a revalorização da área, o

mercado imobiliário está cada vez mais investindo em edificações para essas procuras, tanto

novas como retrofits³¹. O que preocupa nessa necessidade é o padrão das moradias, pelos

preços do metro quadrado estarem tão altos. As pessoas necessitam de ambientes menores, por

opção própria e por condições financeiras. Como foi mostrado na tabela do discurso anterior os

indivíduos estão cada vez mais em busca de suas compactas casas pátios³². Assim começam a

surgir projetos como o do escritório de arquitetura Triptyque, que associam o conceito de

miniapartamento ao de um barco. É a busca por apartamentos tão pequenos que chegam a

25 m², onde o sofá se desmonta e serve de suporte para montar a cama.

Essa lógica de funcionalidade que está sendo criado para ambientes mínimos é por conta dessa

demanda de edificações menores. Essa busca transforma os hábitos do indivíduo em outros. Por

exemplo nesse apartamento do Setin Dowtown São Luís, na consolação não existe área de

serviço para o morador poder lavar suas roupas. Uma maneira americana de se usar o espaço,

³¹ Termo utilizado para mencionar uma reforma ou adaptação de algum imóvel que foi restaurado. Como está ocorrendo no

centro de São Paulo com o restauro de alguns apartamentos antigos.

³² Idem p. 19 - 28

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Morar Contemporâneo

pois lá eles utilizam lavanderias compartilhadas

e é o que estão trazendo para São Paulo, como

foi dito acima. Além dessa disponibilidade os

edifícios oferecem sempre ambientes

diferenciados como, piscinas aquecidas e ao ar

livre, saunas, academias e até mesmo serviços

como payper-use³³.

Desse modo, podemos perceber que as

pessoas, além de “otimizar espaço” na

residência, também estão cada vez mais

economizando seu “tempo” buscando facilitar

suas vidas, para perderem menos tempo, com

coisas cotidianas como lavar a louça. Esse

indivíduo está transformando o seu modo de

morar e inevitavelmente a cidade. E

influenciando outros a seguirem um padrão que

para ele é o ideal, mas, no entanto, não é geral.

³³ Sistema “Payper-use” (Pague se usar) é um serviço que alguns apartamentos disponibilizam aos moradores do edifico.

Você contrata esse serviço apenas quando você quiser.

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Figura 34: Apartamento que segue

conceito de miniapartamento Fonte:

OLX, 2015.

Destino de um morar inconstante

A falta de identidade é prejudicial ?

Morar Contemporâneo

Esses miniapartamentos, seguindo conceitos de barcos onde se tem a ideia de um ambiente

prático e articulado. Vagas de garagem sendo estudadas como ambientes mínimos de moradia,

que lembram trailers, porém fixos. Hotéis que cada vez mais oferecem opções de estadia barata e

diversos serviços que já podemos encontrar numa edificação ou até mesmo casa que se

transformam em hotéis para visitantes.

Essas são algumas das transformações que o morar vem sofrendo, na contemporaneidade. Essa

transformação surge a partir da demanda que está sendo criada pelos indivíduos. Esse modo de

vida adaptativo e prático, ligada as ferramentas de comunicação estão, cada vez mais

transformando o indivíduo num viajante. Por mais que o indivíduo construa seu ambiente

característico, ele não necessariamente precisa se fixar naquele ambiente para sempre, como se

fazia nas casas patriarcais. A pessoa tem a opção de poder escolher diversas moradias se for de

sua escolha, a partir de interfaces de alugueis ou até mesmo se quiser escolher ficar em algum

hotel. E ainda assim pode disponibilizar seu ambiente para outra pessoa se quiser.

Sendo assim é possível perceber uma flexibilidade por conta da tecnologia tão avançada. A

possibilidade de poder trabalhar dentro de casa ou até mesmo em outros lugares, ajudou também

nessa transformação de hábitos. Claro que ainda é prioritária a ideia de escritório, e muitas vezes

não existe a opção de fazer um trabalho via remoto. Como também a prioridade ainda é de que as

grandes massas, interpretem que o morar é viver na sua casa própria.

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Morar Contemporâneo

Desse modo as pessoas acabam perdendo um pouco a oportunidade do acaso, ou da vivencia de

novas experiências. Se essa ideia de indivíduo viajante se tornasse mais pratica como os

apartamentos estão se tornando, diversos indivíduos poderiam viver e dormir onde quisessem e

estivessem. Um espaço aberto e disponível a todos. Claro que toda utopia, nem sempre agrada a

todos e essa logico do espaço disponível a todos, gera uma questão de perda de identidade ao

indivíduo. Ao abrir seu espaço a estranhos, esse santuário, pode ser modificado ou destruído.

Dos apartamentos adaptáveis que estão sendo criados, um dos mais em evidencia atualmente é o

projeto Setin Downtown São Luís, localizado no centro de São Paulo. Um empreendimento

residencial que visa apresentar e vender a nova “tendência mundial” de morar em pequenos

apartamentos. O projeto de edificação tem módulos de 18 a 44 metros quadrados, um padrão mínimo

de moradia (Figura 35).

Figura 35: Apartamento de 18m²

projeto do escritório Triptyque da

nova torre Setin Downtown, São

Luís. Fonte: Setin downtown,

2015.

Morar Contemporâneo

O projeto deste empreendimento contém uma

sala com moveis funcionais e adaptáveis, um

banheiro de metragem mínima, uma pequena

sacada e uma cozinha entre o corredor de

entrada e a sala/quarto. Nenhum dos

apartamentos tem área de serviço, pelas

mesmas questões já discutidas acima, e a

edificação como um todo tem uma área de

serviço compartilhada (Figura 36), para os

moradores.

As unidades deste empreendimento são

apartamentos tão pequenos que se

assemelham a quartos de hotéis. Mesmo

inserindo no local, as características e o tempo

de permanência dentro dele não são

suficientes para nos convencer que o indivíduo

está se fixando naquele espaço. Cada vez

mais aparenta que o morador é um viajante e

não um proprietário do lugar.

Figura 36: Área de serviço compartilhada do edifício

Setin Downtown. Fonte: Setin downtown, 2015.

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Morar Contemporâneo

Analisando assim o projeto Office Urban & Hotel, localizado no centro cívico de Curitiba, apresenta

uma certa semelhança com o projeto anteriormente discutido, tanto por apresentar a mesma

metragem – (mesmo o hotel tendo quartos de 30m² estamos aproximando pela maioria) – como pela

disposição de moveis e da utilização do espaço.

O projeto se assemelha muito ao do Setin Downtown, com algumas diferenças como a cozinha, de

que não há necessidade no projeto, pelo hotel ter serviço de quarto, um banheiro mais avantajado, um

espaço maior de circulação e não ter sacada. Neste projeto não existe a necessidade de moveis

adaptáveis e funcionais, tanto por uma questão de espacialidade como para conforto para o hospede.

Claro que se pegar uma planta de um dos quartos da rede de hotéis Íbis, iremos encontrar um quarto

mais compacto ou talvez do mesmo tamanho que o apartamento Setin.

Figura 37: Apartamento de 30m²

projeto do hotel da Office Urban &

Hotel. Fonte: Brasil Brokers, 2015.

Morar Contemporâneo

No entanto a discussão desse trabalho não é a comparação de espaços entre apartamentos e

hotéis, mas sim a reflexão acerca do morar para o indivíduo contemporâneo, que está cada vez

mais se tornando um viajante dentro do seu próprio universo da cidade.

Partindo para um outro ponto de vista, porém não tão desvinculado do anterior. Um estudo

realizado por uma equipe de estudantes da Escola de Construção SCAD, localizada em Atlanta

nos Estados Unidos, mostra-nos um projeto de micro habitação do tamanho de vagas de carros.

Figura 38: Acima temos a imagem de um croqui da planta dos módulos, todos têm a mesma disposição. Ao todo são

4 tipos de casa, com a mesma disposição sempre, porém temos diferentes decorações. Todos os moveis são

adaptáveis e funcionais assim como no apartamento do Setin. Fonte: ArchDaily, 2015.

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Morar Contemporâneo

Figura 39: Exterior de um dos módulos de habitação

construídos pela SCAD. Fonte: ArchDaily, 2015.

Figura 40: Decoração de um dos módulos de

habitação construído pela SCAD.

Fonte: ArchDaily, 2015.

Figura 41: Decoração de um dos módulos de habitação

construído pela SCAD. Fonte: ArchDaily, 2015.

Morar Contemporâneo

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O projeto foi aplicado dentro um estacionamento na sede da escola em Atlanta, os protótipos

deveriam seguir a regra de conter todas as comodidades básicas julgadas por eles, que seriam;

banheiro, cozinha, quarto e sala. Tudo isso dentro da dimensão de uma vaga de carro 5m de

comprimento por 2,5 de largura.

Observando seu exterior podemos perceber que as dimensões são pequenas e remetem muito a

lembrança de um trailer, porém fixo. Sua estética é chamativa e bem vivida, pois seguia o tema

que eles designaram. Como o conjunto era de quatro tipos de casas, cada uma tinha seu tema

especifico e cada morador – voluntario para vivenciar a experiência por uma semana – poderia

escolher sua moradia.

Assim como nesse projeto de micro habitação, e no apartamento do Setin, vemos cada vez mais a

utilização de moveis adaptáveis, que possam servir para serem encaixados em quaisquer lugares,

para fornecerem múltipla funcionalidade.

Assim começamos a perceber que essa demanda dos apartamentos pequenos criou uma demanda

por soluções rápidas, eficazes e baratas, no contexto da produção arquitetônica contemporânea.

Essas minis moradias, nem sempre recebem convidados, mas se e quando os recebem, como os

moradores se adaptam?

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Morar Contemporâneo

Figura 42: Movel adaptado para miniapartamentos. Mesa de jantar que se torna a cama de casal.

Fonte: UOL, 2011.

Figura 43: Movel adaptado para miniapartamentos. Mesa de escritório que se torna cama de solteiro.

Fonte: UOL, 2011.

Morar Contemporâneo

São moveis como essa mesa/cama, que estão sendo utilizados e fabricados já dentro desses

espaços. A mesa de jantar que tem espaço para quatro lugares acaba sendo pressionada pela

cama de casal que desce da parede. É a economia de espaço, junto com a de dinheiro, soma-se

junto com a de tempo também.

A mesa de escritório que abaixa e seu fundo desce para se transformar numa cama de solteiro.

Cada vez mais se vê diversos projetos desse tipo, com adaptações e funcionalidades, sempre na

lógica do baixo custo para satisfazer a relação espaço/dinheiro/tempo. Eles estão agora mais

presentes nessas habitações mínimas que estão sendo criadas.

Partindo por esse caminho que o indivíduo está trilhando, de cada vez se tornar um viajante,

podemos pensar que futuramente o morador poder escolher onde morar na cidade;

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Figura 44: Portal de interfaces digitais, para busca de aluguel de domicílios.

Fonte: HOTEL URBANO/ TRIVAGO, 2015.

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Morar Contemporâneo

pode-se imaginar que além de casas ele também poderá escolher passar noites em algum hotel, onde

muitas vezes se oferece mais conforto do que o indivíduo tem no seu próprio apartamento.

Com isso podemos supor que a utilização de interfaces digitais será mais utilizada, pois interfaces do

Hotel Urbano, ou do Trivago e outras, oferecem ao viajante um tipo de catalogo de hotéis que são

avaliados por hóspedes e por serviços de hotelaria, criando uma rede de informações entre hospedes

que vivenciaram a experiência de ficar naquele hotel, e que podem comentar sobre a qualidade do

mesmo com futuros clientes. Essas redes deverão oferecer mais ofertas por diárias e até pernoites,

uma vez que a demanda se tornara maior para as pessoas que estão à procura de passar apenas uma

noite em determinado lugar. Talvez esta seja a transformação que assistiremos no futuro: o Hotel se

convertendo em um Motel.

O viajante contemporâneo terá opções de ficar em seu apartamento, de utilizar da rede de hotéis

disponíveis nas interfaces digitais ou utilizar de outras interfaces digitais para alugar seu espaço e

alugar o de outra pessoa ou acordos com outros moradores para troca de apartamentos.

Uma dessas interfaces, seria a do Airbnb, já mencionada no capítulo anterior (Figura 28). Muitas vezes

a oferta se refere ao apartamento vazio com um espaço mínimo ou mesmo grandes apartamentos, se

for da escolha do usuário, também pode ser escolhido um quarto na casa de uma pessoa

desconhecida – uma das opções do patriarca, que agora é proprietário.

Morar Contemporâneo

Assim como menciona o slogan na capa de entrada da rede do Airbnb, a ideia é exatamente essa,

“sentir-se em casa”. No entanto entramos em um dilema, como nos sentiremos em casa, uma vez

que não carregamos mais “uma dentro de nós”? Esse viajante está se desvinculando cada vez

mais de tudo o que o rodeia. O individualismo que o indivíduo contemporâneo, está adotando,

segue muita mais, além do fato dele não querer mais conceber uma família, ele também está se

desvinculando da sua autoconstrução como sujeito inserido na sociedade.

Esse novo ser, além do super-homem de Nietsche, longe do patriarca do passado, que carrega o

funcionalismo modernista como modelo e referência, e que viaja como um nômade e é prático

como um pragmático, é o que definirá os parâmetros sobre o novo morar.

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Considerações finais

O que é o morar?

Morar Contemporâneo

O morar das casas que Ábalos estudou, serviram como base para evidenciar diversas formas de se

habitar e viver. O indivíduo é quem constroi a casa e o indivíduo é quem a habita. Logo, poderíamos

dizer que o homem é o centro do universo do morar. O ser humano vem ao longo de toda a sua

história buscando controlar aquilo que ele deseja. A necessidade em se sentir o centro do universo,

vem por essa vontade de sempre manter o controle. No entanto, quando não segue o que ele

almeja, o mesmo se sente fora do meio. O que falta para esse sujeito é a percepção de que nós

somos os centros de nossos próprios universos e que isso inevitavelmente acaba gerando

influência no universo do nosso morar.

O espaço do nosso morar é o que define a nossa identidade dentro da casa, o tipo de móvel que

escolhe, o tipo de cortina ou roupa de cama, os eletrodomésticos que escolhemos ter. Todas são

micro necessidades que nós acreditamos ser necessárias a nós mesmos – até quando somos

influenciados por qualquer força externa. Contudo essa identidade é ameaçada quando o sujeito

perde a necessidade de obter a sua casa.

O homem está passando por um momento de racionalidade e pragmatismo. Onde antes – como nas

casas de Ábalos – tínhamos uma reflexão sobre o morar e o indivíduo a partir da sua necessidade

construía sua própria casa; hoje temos os modelos montados, por um grupo que determinou o que

seria preciso para o sujeito contemporâneo viver. Um prática visando resolver os problemas de

custo e demanda contemporânea.

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Morar Contemporâneo

Porém, perde-se uma coisa importante que é a autonomia do seu espaço, pode-se pensar que o

homem ainda tem controle sobre o interior de sua casa, mas o ambiente pensado por esse grupo,

está tornando-se cada vez menor e é preciso maiores buscas de soluções fáceis e práticas para

resolver esses miniespaços.

Projetos são desenvolvidos, para moradores que julgam não ser importantes determinados espaços

dentro da sua casa – Área de serviço, cozinha – pois o indivíduo contemporâneo está mais inserido no

mundo moderno e não vê tempo para executar ações cotidianas. Esse grupo responsável por projetar

para esse sujeito, busca soluções para auxiliar a economizar seu tempo e as encontra o morador se

satisfaz, sem perceber a perda de vínculo com o espaço da sua casa. Não se pode excluir o fato de

que realmente ajuda e facilita a vida desse sujeito, porém será que – assim como o uso das novas

tecnologias – esse sujeito consegue saber ponderar e evitar perder mais vínculos com seu espaço? O

uso dos novos avanços da tecnologia de forma desponderada acaba se tornando maléfica ao ser

humano. Onde antes o indivíduo saía para comer alguma coisa em algum restaurante, hoje ele se

mantém em casa e faz o pedido por algum aplicativo ou solicita pelo seu telefone móvel. São essas

novas tecnologias que evitam que o homem crie uma necessidade de espaços dentro da sua casa.

Morar Contemporâneo

A ameaça de perder a casa vem baseada nessa ideia de má utilização dessas novas tecnologias que

estão sendo utilizadas. A necessidade que antes o homem tinha em ter sua casa está diminuindo,

começou com o tamanho do espaço, – pelo número de moradores ser menor – depois podemos

perceber a falta de vontade do sujeito em realizar ações corriqueiras, – Lavar louça, lavar roupa –

agora temos a má utilização das tecnologias, que poderão levar o homem a procurar novas maneiras

de morar, sem necessariamente ter seu espaço físico.

O homem estar se tornando evidentemente um viajante é de algum modo bom, se refletirmos que ele

se adapta e compartilha diferentes espaços com diferentes pessoas. No entanto é ruim se

pensarmos que ele não consegue obter um ótimo aproveitamento disso, se exercer essa

necessidade apenas para momentos de resoluções do cotidiano. Desvincular-se de tudo o que ele é,

o torna cada vez mais frio e calculista, a perda dessa identidade faz com que ele se pareça a cada

dia mais com uma máquina que não necessita de um local em especial, e pode ser lançada para

qualquer armazém, contanto que exerça a sua função corretamente.

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Morar Contemporâneo

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Referências das imagens

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Figura 02: Disponível em: < https://www.khanacademy.org/humanities/ancient-art-civilizations/roman/wall-painting/a/

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Figura 03 e 04: Disponível em: < ÁBALOS, Iñaki. A boa-vida. Visita guiada às casas da modernidade. P.14 >

Figura 05: Disponível em: < ÁBALOS, Iñaki. A boa-vida. Visita guiada às casas da modernidade. P.22 >

Figura 06: Disponível em: < http://eamotrildecoracion.blogspot.com.br/2011/12/pabellon-aleman-exposicion-universal-

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Morar Contemporâneo

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Morar Contemporâneo

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Figura 29: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015

Figura 30: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015

Figura 31: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015

Figura 32: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015

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Morar Contemporâneo

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Morar Contemporâneo

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