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Motivações de estudantes acerca de Redes Sociais Virtuais Autoria: Aline Armanini Stefanan, Damiana Machado de Almeida, Luis Felipe Dias Lopes Resumo O objetivo desta pesquisa foi investigar as motivações subjacentes aos estudantes para engajar-se em redes sociais virtuais. Foi aplicado o instrumento proposto por Shin (2010), baseado no modelo TAM de Davis (1989), a 191 estudantes. Os resultados sugerem como principal motivação a diversão percebida, que recebe forte influência do envolvimento percebido, seguida da utilidade percebida, fortemente influenciada pelos sentimentos de conectividade percebida pelos usuários. Comparados com outros estudos que utilizaram o instrumento em outras realidades, concluiu-se que os respondentes diferiram na maneira de pensar sobre a preferência de interação através das redes sociais virtuais dentre os estudos. Palavras-chave: Redes Sociais Virtuais, Motivações, Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM).

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Motivações de estudantes acerca de Redes Sociais Virtuais

Autoria: Aline Armanini Stefanan, Damiana Machado de Almeida, Luis Felipe Dias Lopes

Resumo O objetivo desta pesquisa foi investigar as motivações subjacentes aos estudantes para engajar-se em redes sociais virtuais. Foi aplicado o instrumento proposto por Shin (2010), baseado no modelo TAM de Davis (1989), a 191 estudantes. Os resultados sugerem como principal motivação a diversão percebida, que recebe forte influência do envolvimento percebido, seguida da utilidade percebida, fortemente influenciada pelos sentimentos de conectividade percebida pelos usuários. Comparados com outros estudos que utilizaram o instrumento em outras realidades, concluiu-se que os respondentes diferiram na maneira de pensar sobre a preferência de interação através das redes sociais virtuais dentre os estudos. Palavras-chave: Redes Sociais Virtuais, Motivações, Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM).

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1 INTRODUÇÃO

Com o avanço exponencial da tecnologia e diante de inúmeros produtos, modelos, design e ofertas que o mercado disponibiliza constantemente, as necessidades e desejos dos consumidores sofrem constante mutação, voltando-se para produtos e serviços inovadores e, em sua maioria, ligados à internet. Souza, Ferreira, Hor-Meyll, Silva e Giovannini (2012) afirmam que a internet está sendo percebida como uma tecnologia emergente que gradativamente transforma a maneira como os indivíduos acessam a informação.

O modelo mais utilizado para mensurar e explicar o comportamento do usuário em relação à tecnologia é o TAM (Technology Acceptance Model), desenvolvido por Davis (1989), baseado na atitude, na utilidade percebida e na percepção da facilidade de uso percebida, desencadeando na intenção de uso de tecnologia. Dependendo da tecnologia que está sendo pesquisada, o instrumento pode ser adaptado, como foi o caso da pesquisa de Shin (2010) em relação às redes sociais na qual criou e inseriu novos constructos ao modelo, resultando em sete constructos: Utilidade Percebida, Diversão Percebida, Atitude, Intenção, Fluxo, Envolvimento e Conectividade Percebida. O objetivo dessa nova escala foi buscar investigar as motivações dos usuários envolvidos nas redes sociais virtuais comparadas aos seus comportamentos.

Vários estudos têm explorado os motivos para usar redes sociais virtuais. Kim, Sohn e Choi (2011) apontam a procura de amigos, apoio social, entretenimento, informação e conveniência como principais motivos. Os estudos de Shin (2010) levantam a diversão influenciada pelo envolvimento percebido e a utilidade percebida, influenciada pela conectividade. Brandtzaeg e Heim (2009) sugerem a informação, o entretenimento, a interação social e a identidade pessoal. Do estudo de Raacke e Bonds-Raacke (2008) resultou encontrar amigos e buscar de informações. Jung, Youn e McClung (2007) identificaram seis razões: entretenimento, autoexpressão, avanço profissional, passar o tempo, comunicação com a família e amigos, e tendências.

A maioria dos estudos analisam o contexto de um único país, e pouco se sabe sobre a aplicabilidade e generalização dos resultados para outros contextos culturais. Kim et al. (2011) e Shin (2010) propuseram modelos transnacionais, envolvendo a percepção de vários países. Nesse sentido, o resultado desta pesquisa, aplicada no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, será comparado com os encontrados por Shin (2010) em dois outros países, Estados Unidos e Coréia e com o encontrado por Pinto, Salume, Silva e Freitas (2012), em Minas Gerais, no Brasil, que testou apenas seis das dez hipóteses.

Diante desta perspectiva, percebe-se o seguinte problema de pesquisa: Quais as motivações subjacentes aos estudantes para engajar-se em redes sociais virtuais? Do qual emerge o seguinte objetivo geral de pesquisa: investigar as motivações subjacentes aos estudantes para engajar-se em redes sociais virtuais. Como objetivos específicos: (a) Avaliar as percepções em relação a Utilidade Percebida, Diversão Percebida, Atitude, Intenção de Usar, Fluxo, Envolvimento Percebido e Conectividade Percebida; (b) Testar as relações entre os constructos antecedentes (Utilidade Percebida, Diversão Percebida, Fluxo, Envolvimento Percebido e Conectividade Percebida) e os constructos consequentes (Atitude e Intenção de Usar); e (c) Comparar os resultados obtidos com estudos realizados em outros dois países: Estados Unidos e Coréia, e no Brasil com o estado de Minas Gerais.

A fim de atingir o objetivo proposto foi realizada uma pesquisa descritiva e quantitativa com estudantes de graduação e/ou pós-graduação. Para análise dos dados foram utilizados os softwares Microsoft Excel, SPSS e AMOS, a fim de realizar estatística descritiva

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do perfil dos respondentes e das dimensões, análise fatorial exploratória e regressão múltipla para o teste das hipóteses. 2 REFERENCIAL TEÓRICO

Esta seção apresenta breve revisão sobre redes sociais virtuais, Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM) de Davis (1989) e do modelo de pesquisa adotado no presente estudo. 2.1 Redes Sociais Virtuais

O estudo de redes sociais não é recente e representa um dos focos de mudança da ciência no século XX. Primeiramente, os cientistas focaram os estudos na explicação dos fenômenos, estudando suas partes detalhadamente, visando compreender o todo; e no século passado o fenômeno passou a ser visto como a interação das partes. A rede social é constituída por atores e suas conexões. Os atores são as pessoas, grupos ou instituições, também chamados “nós” da rede e as conexões são constituídas dos laços sociais, que, por sua vez, são formados através das interações entre os atores envolvidos (Recuero, 2009).

Já a rede social virtual é um serviço que prima pela construção de redes sociais baseadas na web que oferecem aos indivíduos a construção de um perfil público, além de compartilhar conexão com uma lista de outros usuários que também vivenciam uma série de outras conexões estabelecidas dentro do sistema (Boyd & Ellison, 2008). Tais conexões entre os usuários deixam rastros que possibilitam conhecer os padrões das conexões dos indivíduos e a visualização de suas redes sociais. Boyd e Ellison (2008) resgataram o início histórico das redes sociais virtuais, com as redes pioneiras, desde 1997, conforme apresentado na Figura 1. Redes Sociais

Virtuais Histórico

SixDegrees.com

Criada em 1997, permitia aos usuários criar perfis, listar os seus amigos e, a partir de 1998, passou a permitir navegar nas listas dos amigos. Foi a primeira rede social a combinar vários recursos. Promoveu-se como uma ferramenta para ajudar as pessoas a se conectar e enviar mensagens para os outros. A rede atraiu milhões de usuários, mas não se tornou um negócio sustentável e, em 2000, o serviço foi encerrado.

AIM e o ICQ Constituída por listas de amigos, embora estes amigos não ficassem visíveis para os outros.

Classmates.com Permitia as pessoas se afiliar a sua escola ou faculdade e navegar na rede das outras pessoas que também foram filiados. Mas os usuários não podiam criar perfis ou lista de amigos até anos mais tarde.

LiveJournal Lançado em 1999, as pessoas marcavam os amigos que poderiam acessar um blog, um jornal ou um diário para seguirem, gerenciando as configurações de privacidade.

Cyworld LunarStorm

O coreano Cyworld foi lançado em 1999 e adicionou recursos na rede social virtual em 2001. Da mesma forma, a comunidade web sueca LunarStorm remodelou-se como uma rede social virtual em 2000 e continha listas de amigos, livros de visitas e páginas de diário.

Ryze.com Tribe.net LinkedIn Friendster

Ryze.com foi lançado em 2001 para ajudar pessoas a alavancar suas redes de negócios. Seu fundador relatou que primeiramente lançou o site para seus amigos, e para a comunidade de tecnologia, incluindo empresários e investidores. Profissionais ligados a Tribe.net, ao LinkedIn e ao Friendster estavam fortemente entrelaçados pessoalmente e profissionalmente. No final, Ryze nunca adquiriu popularidade em massa, Tribe.net cresceu, o LinkedIn se tornou um negócio com serviço poderoso, e Friendster tornou-se o mais importante, mesmo que apenas como uma das maiores decepções na história da Internet.

Figura 1. Resgate histórico do início das redes sociais virtuais Nota. Fonte: Adaptado de Boyd e Ellison (2008). Boyd, D. M.; Elisson, N. B. (2008). Social Networks Sites: definition, history and scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication. 13 (11).

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SixDegrees.com, criada em 1997, foi a primeira rede social virtual seguida de outras

tantas redes que atualmente estão extintas. Criado em 2006, o Facebook se tornou a mais importante marca das redes sociais virtuais, constituído pelas seguintes características: (1) divulgação de um público ou perfil do usuário, (2) construção de uma lista de outros usuários com quem compartilha mensagens, e (3) a visibilidade das ligações conectadas que permitem aos usuários estender suas redes sociais além de seus vínculos diretos (Boyd & Ellison, 2008).

Choi, Jung e Lee (2013) afirmam que vários estudos buscam descobrir os principais motivos que levam as pessoas ao uso das redes sociais virtuais, e que os cinco principais são para compartilhar opiniões e sentimentos sobre as questões sociais ou a vida diária, a busca de respeito e apoio social, para manter os laços com pessoas, para a constatação de informações e por fim, para diversão. Em sua pesquisa na Coréia, os autores encontraram que manter relações e se conectar com amigos são considerados os motivos mais fortes para a utilização das redes sociais virtuais no país. No entanto, apenas o motivo entretenimento teve uma relação significativa com a intenção de utilizar o Facebook. Isto implicaria que os usuários optam por esta rede porque satisfaz sua demanda por entretenimento mais do que outros sites.

Ainda, constata-se que muitos jogos das redes sociais virtuais estão ligados ao Facebook, tendo se tornado muito populares. Além disso, esta rede tem a vantagem de ter sido a terceira a desenvolver aplicações interessantes e úteis disponibilizando-as por meio do seu site. Assim, os usuários percebem a intensidade da função entretenimento como vantagem de usar o Facebook como plataforma principal de rede social virtual.

Conforme Choi et al. (2013), fatores econômicos, tais como o baixo custo e os benefícios percebidos, incluindo o entretenimento como um benefício potencial, são bastante fortes como grandes condutores na adesão ao Facebook e explicam a variação de 25% na influência sobre a intenção de utilizar o Facebook como a principal plataforma de rede social. Fatores culturais, todavia, podem não ser tão significativos, pois as diferenças culturais são diluídas na sociedade globalmente. Ficou evidente nos estudos dos autores também que o tamanho da rede Facebook não está relacionado com a intenção de utilizá-lo. Isto implica que ter mais amigos não significa necessariamente ficar mais informado e com apoio emocional (Choi et al., 2013).

Lin e Lu (2011) buscaram investigar as atitudes e os fatores que levam os indivíduos, usuários do Facebook e moradores de Taiwan, ao uso das redes sociais virtuais, além de propor possíveis fatores buscando entender por que os usuários continuam a usar as redes sociais. O primeiro resultado mostra que os prestadores de serviços das redes sociais virtuais são capazes de fazer com que usuários e seus amigos sintam-se interessados e se divirtam ao utilizar seus serviços. Sendo assim, os pesquisadores sugerem que os prestadores de serviços continuem a desenvolver cada vez mais aplicações e jogos que proporcionem experiências prazerosas a fim de reforçar efeitos agradáveis quando da utilização do site.

O segundo resultado encontrado sugere que o número de pares e a complementaridade percebida efetivamente reforcem a utilidade e a diversão das redes sociais, proporcionando informações importantes. Amigos e parentes de um usuário influenciam o nível de diversão percebida pelo usuário, também, por meio deles, o usuário tem a oportunidade de conhecer novos amigos, expandindo sua rede social. Por isso, Lin e Lu (2011) sugerem que os profissionais devem constantemente incorporar e desenvolver várias atividades ou aplicações úteis para permitir que as pessoas encontrem outros contatos buscando reforçar a diversão do usuário, aumentando as conexões sociais e intensificando ainda mais a intenção em usar, aumentando o valor da rede social.

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Ainda, as influências dos diferentes fatores sobre o uso continuado da tecnologia da informação variam de acordo com a diferença de gênero. Diversão é o mais poderoso fator que afeta a intenção de uso para homens e mulheres. Entre as razões para atrair os usuários, e aderirem ao uso das redes, a capacidade em despertar o prazer interior é crucial. A pesquisa recomenda que os prestadores de serviços de redes sociais devem desenvolver aplicações específicas para as demandas de diferentes sexos, e promover aos usuários amigos em sua própria rede que ingressem nela para incentivar mais pessoas a usar a plataforma (Lin & Lu, 2011).

Já Ross, Orr, Sisic, Arseneault, Simmering e Orr (2009), aplicaram a pesquisa em estudantes de uma universidade no sudoeste de Ontário, buscando examinar a influência da personalidade e de fatores de competência no uso do Facebook. Os resultados indicaram que os fatores relacionados a personalidade não foram tão influentes quanto a literatura sugeria. Também indicaram que a motivação para comunicar foi influente em termos de utilização da rede social. Sugere-se, desta forma, que diferentes motivações podem ser influentes na decisão de usar ferramentas como o Facebook, especialmente quando as funções individuais da rede estão sendo consideradas.

Para Kwon e Wen (2010) os serviços de redes sociais virtuais podem ser considerados um negócio promissor, inclusive alguns serviços já estão sendo fornecidos comercialmente, como é o caso do Facebook. No entanto, ainda não está claro qual o potencial dos grupos de participantes do serviço de rede social. Além disso, o processo que mostra como um indivíduo realmente decide começar a usar um serviço de rede social pode ser um pouco diferente dos serviços atuais da comunidade baseados na web.

Levando em conta que as pessoas possuem as mais variadas razões para se interessarem e utilizarem redes sociais virtuais e que o Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM) é um dos mais aceitos e utilizados em estudos acerca do tema, na sequência, abordamos suas características. 2.2 Modelo de Aceitação da Tecnologia

Dentre vários modelos criados para medir a aceitação da tecnologia, o TAM desenvolvido por Davis (1989), baseado na Teoria da Ação Racional (TRA) e Teoria do Comportamento Planejado (TPB), oferece suporte para a explicação dos fatores tecnológicos que podem afetar a satisfação e intenções de uso de redes sociais virtuais e tem sido amplamente utilizado para este fim (Shipps & Phillips, 2013). O modelo é baseado na atitude, na utilidade percebida e na percepção da facilidade de uso percebida como desencadeadores da intenção de uso de tecnologia, conforme a Figura 2.

Figura 2. Modelo de Aceitação da Tecnologia

Nota. Fonte: Adaptado de Davis, F. D. (1989). Perceived Usefulness, Perceived Ease of Use and User Acceptance of Information Technology. MIS Quarterly, 319-340.

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Para Davis (1989) são dois os fatores determinantes que levam as pessoas a aceitar ou rejeitar a tecnologia. Primeiro, as pessoas tendem a usar ou não usar um aplicação na medida em que acreditam que vai ajudá-los a realizar melhor o seu trabalho. Esta seria a primeira variável, a utilidade percebida. Em segundo lugar, mesmo que os potenciais usuários acreditam que uma dada aplicação é útil, pode ao mesmo tempo acreditar que o sistema é muito difícil de usar e que os benefícios da utilização de desempenho são determinados pelo esforço de usar a aplicação. Isto é, além da utilidade, a atitude e consequente intenção de uso é influenciada pela percepção de facilidade de utilização.

Dentre várias pesquisas as quais utilizaram o conceituado modelo TAM, Hsu e Chang (2013) buscaram identificar as percepções e atitudes dos alunos em relação ao e-learning, que constitui um fator crítico de sucesso para a plataforma Moodle. Os resultados desta pesquisa indicaram que a percepção conveniência teve um efeito direto sobre a utilidade percebida. As dimensões percepção de facilidade de uso, conveniência percebida, e utilidade percebida, tiveram impactos significativamente positivos sobre a atitude em relação ao uso do Moodle e a intenção continuada de uso foi diretamente influenciado pela atitude em relação ao uso da plataforma.

Nas últimas décadas, estudiosos e profissionais têm cada vez mais buscado entender os fatores que influenciam a aceitação da tecnologia. Teorias e modelos desenvolvidos por estudiosos tendem a se concentrar no papel da cognição e raramente incluem o afeto, como é o caso do modelo TAM, que enfatiza a perspectiva extrínseca perante fatores relacionados aos processos humanos e à mudança social (Lee, Cheung, & Chen, 2005).

Os poucos estudos buscam medir uma única emoção, ao invés de abordar de forma abrangente este aspecto (Kulviwat, Bruner Ii, Kumar, Nasco, & Clark, 2007). Sendo assim, pesquisadores realizaram a fusão de dois modelos que anteriormente ainda não haviam sido relacionados, TAM e PAD (Pleasure, Arousal, and Dominance paradigm of affect). O produto desta união resultou no CAT (Consumer Acceptance of Technology). Os resultados explicam mais de 50% da variância nas intenções de adoção de consumo, um aumento considerável em comparação com TAM. Estes resultados sugerem que a melhora substancial na previsão na decisão em adotar determinada tecnologia é possível através da utilização deste modelo com a integração afeto e cognição.

2.3 Modelo da Pesquisa

A partir do modelo TAM (Davis, 1989), Shin (2010) desenvolveu uma nova escala

levando em conta também fatores intrínsecos, dividida em sete constructos: Utilidade Percebida, Diversão Percebida, Atitude, Intenção, Fluxo, Envolvimento e Conectividade Percebida, conforme a Figura 3. O objetivo dessa nova escala foi de buscar investigar as motivações dos usuários envolvidos nas redes sociais virtuais comparadas com seus comportamentos.

A Intenção e a Utilidade Percebida foram dimensões adaptadas a partir de estudos anteriores relacionados ao modelo de TAM, sobretudo o de Davis (1989). A Diversão Percebida foi elaborada a partir da escala desenvolvida por Nysveen, Pedersen e Thorbjornsen (2005). O Envolvimento foi adotado a partir das perspectivas de Kalyanaraman e Sundar (2006). A Conectividade Percebida foi medida com os itens de Shin (2009) e os artigos de Schroeder (2002). A dimensão Fluxo foi medida utilizando os trabalhos de Trevino e Webster (1992), Rettie (2001), e Shin e Kim (2008).

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Figura 3. Modelo de pesquisa proposto por Shin (2010)

Nota. Fonte: Adaptado de Shin, D. (2010). Analysis of Online Social Networks: a cross-national study. Online Information Review. 34(3), 473-495.

Shin (2010) considera motivação extrínseca como sendo relacionada à performance de uma atividade e pode ser entendida como um auxílio para atingir resultados como melhoria de um processo de trabalho, maximização de recursos entre outros. Já a motivação intrínseca está relacionada com a performance de uma atividade por nenhuma razão do que o processo em executá-la.

A construção das hipóteses de Shin (2010), passou por quatro fases: (1) entrevistas em profundidade com dez estudantes a fim de analisar suas experiências e opiniões sobre as redes sociais virtuais; (2) seis grupos focais de quatro a seis participantes discutiram o uso das redes sociais virtuais e influências em sua utilização; (3) desenvolvimento do questionário por um grupo de professores e pesquisadores da área, bem como especialistas em comunicação e realização de um pré-teste com possíveis usuários de redes sociais virtuais e revisão e modificação da redação dos itens; e (4) teste piloto com 20 alunos que já utilizaram redes sociais virtuais e nova revisão, a partir da qual foi realizado teste piloto final com 22 alunos para examinar a confiabilidade teste-reteste e confiança do construto antes de ir a campo. A Figura 4 apresenta as hipóteses testadas pelo modelo proposto por Shin (2010). Item Hipótese

1 A atitude em relação às redes sociais virtuais está positivamente relacionada com a intenção de utilizar redes sociais virtuais.

2 Existe uma relação positiva entre a utilidade percebida e a intenção de utilizar redes sociais virtuais. 3 Existe uma relação positiva entre a utilidade percebida e atitude em relação às redes sociais virtuais. 4 Existe uma relação positiva entre a diversão percebida e intenção de utilizar redes sociais virtuais. 5 Existe uma relação positiva entre a diversão percebida e atitude em relação às redes sociais virtuais. 6 Existe uma relação positiva entre envolvimento percebido e diversão percebida. 7 Existe uma relação positiva entre envolvimento percebido e atitude em relação às redes sociais virtuais. 8 Existe uma relação positiva entre a conectividade percebida e utilidade percebida.

9 Existe uma relação positiva entre a conectividade percebida e atitude em relação às redes sociais virtuais.

10 Experiência de fluxo tem um forte efeito sobre a intenção de utilizar redes sociais virtuais.

Figura 4. Hipóteses do modelo de pesquisa proposto por Shin (2010) Nota. Fonte: Adaptado de Shin, D. (2010). Analysis of Online Social Networks: a cross-national study. Online Information Review. 34(3), 473-495.

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A hipótese um testa a relação entre atitude e intenção de uso, que tem sido

amplamente estudada (Shin, 2010), podendo ser aplicada às redes sociais virtuais. As hipóteses dois e três testam, respectivamente, a relação entre utilidade percebida e intenção de uso e a relação entre utilidade percebida e atitude; e advêm do fato de a utilidade percebida influenciar a aceitação do usuário final à tecnologia (Davis, 1989).

Já as hipóteses quatro e cinco testam, respectivamente, a relação entre diversão percebida e intenção de uso e a relação entre diversão percebida e atitude; sendo explicadas pelos resultados de Shin (2007), que apontaram a diversão percebida como propósito hedônico que fortemente influencia uso online para fins de entretenimento, podendo ser pressuposto que as pessoas procuram pelas redes sociais virtuais para satisfazerem suas necessidades de entretenimento.

As hipóteses seis e sete testaram, respectivamente, a relação entre envolvimento percebido e diversão percebida e a relação entre envolvimento percebido e atitude; sendo justificada porque a personalização das redes sociais virtuais pode fomentar um maior envolvimento por parte do usuário, o que pode resultar em uma postura positiva em relação às redes sociais virtuais (Shin, 2010).

As hipóteses oito e nove testaram, respectivamente, a relação entre conectividade percebida e utilidade percebida e a relação entre conectividade percebida e atitude; explicada pelo fato de a utilização de redes sociais virtuais pode aumentar a sensação de conexão com o mundo, seus recursos e pessoas, sendo considerado um sentimento positivo, na maioria das vezes (Shin, 2010). Por fim, a hipótese dez testa a relação entre a experiência de fluxo e a intenção de uso, já que durante a interação com a rede social virtual, uma forte sensação de imersão pode ser desenvolvida, levando a um comportamento exploratório muito mais completo (Shin, 2010).

Shin (2010) reconheceu que há outras ligações possíveis entre as variáveis do modelo proposto, mas apenas são analisadas as que podem auxiliar na investigação de aspectos motivacionais extrínsecos e intrínsecos da utilização de redes sociais virtuais.

3 MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa de natureza descritiva, de abordagem quantitativa, e do tipo survey. Segundo Diehl e Tatim (2004) a pesquisa descritiva tem como objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento da relação entre as variáveis.

Ainda segundo os autores, a pesquisa quantitativa busca garantir resultados e evitar distorções de análise e de interpretação, garantindo uma margem maior de segurança quanto às inferências. Em relação ao tipo survey, segundo Babbie (2001, p. 96), ela “permite enunciados descritivos sobre alguma população, isto é, descobrir a distribuição de certos traços e atributos. Nestes, o pesquisador não se preocupa com o porquê da distribuição existir, mas como que ela é”.

A pesquisa survey demonstrou atender o objetivo da pesquisa, no qual foi investigar as motivações subjacentes aos estudantes para engajar-se em redes sociais virtuais. A amostra final foi composta por 191 alunos de graduação ou pós-graduação.

O instrumento para identificar as motivações dos estudantes em engajar-se em redes sociais foi organizado a partir do modelo de Shin (2010), o qual se baseou no modelo TAM (DAVIS, 1989), conforme a Figura 3, assim como as hipóteses do estudo (Figura 4).

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A Figura 5 apresenta as sete dimensões, a respectiva definição, autores e número de variáveis.

Dimensões Definição Autores Nº de

Variáveis

Antecedentes

Utilidade Percebida

Extensão em que uma pessoa acredita que as redes sociais virtuais são capazes de ser utilizadas de forma vantajosa e fornecer resultados positivos

Adaptado de Davis (1989)

04

Diversão Percebida

Grau em que a utilização da rede social virtual é percebida como divertida por si só

Adaptado de Nysveen et al. (2005)

04

Fluxo

Sensação de imersão; estado mental em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo por um sentimento de foco energizado e sucesso no processo da atividade.

Adaptado de Trevino e Webster (1992); Rettie (2001); Shin e Kim (2008)

03

Envolvimento Percebido

As redes sociais virtuais podem fomentar sentimento de envolvimento nos usuários, por meio do acesso a informações que eles querem

Adaptado de Kalyanaraman e Sundar (2006)

03

Conectividade Percebida

Sentimento de conexão ou proximidade devido às redes sociais virtuais permitirem aos usuários que se conectem com os outros usuários

Adaptado de Shin (2009) 03

Consequentes

Atitude Atitude em relação às redes sociais virtuais determinadas pelas crenças individuais

Adaptado de Davis (1989)

03

Intenção de Usar

Característica desenvolvida pela atitude que influencia a decisão de utilizar a rede social virtual

Adaptado de Davis (1989)

04

Figura 5. Operacionalização das dimensões Nota. Fonte: Adaptado de Pinto, M. R., Salume, P. K., Silva, F. A., & Freitas, R. C. (2012, outubro). Analisando as motivações para aceitação e adoção de redes sociais virtuais. Anais do Seminário em Administração, São Paulo, SP, Brasil, 15. e Shin, D. (2010). Analysis of Online Social Networks: a cross-national study. Online Information Review. 34(3), 473-495.

Para aplicação deste instrumento e das questões referentes ao perfil foi utilizada a ferramenta formulários no Google Docs e também formulários impressos. Para a coleta dos dados foi encaminhado via e-mail o link de acesso juntamente com as informações a respeito da pesquisa e os formulários impressos foram aplicados de forma presencial em salas de aula de graduação e pós-graduação.

Para a tabulação dos dados foi utilizado o software Microsoft Excel 2010 e para análise foram utilizados os softwares, “Statistical Package for the Social Sciences” – SPSS versão 21 e o software “AMOS”. Foram realizadas análises descritivas (frequências, médias e desvios-padrão) e Análise Fatorial Exploratória no SPSS e Regressão Múltipla para teste das hipóteses no AMOS. Foram seguidos os autores Latif (1994), Hair, Anderson, Tatham e Black (2005) e Malhotra (2006) para análise dos resultados.

Discorridos o percurso metodológico adotado e o modo como foram analisados os dados obtidos no presente estudo passa-se para apresentação e análise dos resultados obtidos a partir da aplicação da pesquisa.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados deste estudo serão discutidos na seguinte ordem: primeiramente, os dados de perfil serão apresentados por meio de análises descritivas, então o modelo será investigado por meio da análise fatorial. Posteriormente, é feita a correlação entre as dimensões e apresentadas suas médias e desvios padrão em comparação com estudos similares e, por fim, são apresentados os testes das hipóteses por meio da análise de regressão múltipla.

Foram investigados 191 estudantes de graduação e/ou pós-graduação, sendo 60,2% respondentes do sexo feminino e 39,8% do sexo masculino; 87,4% cursam graduação e 12, 6% pós-graduação. A média de idade dos respondentes configura-se em 23,41 anos, com desvio padrão de 5,9067, sendo 88,4% dos indivíduos solteiros, tais dados podem ser explicados devido às características predominantes de alunos de graduação e/ou pós-graduação, serem relativamente novos e a maioria ainda solteiros.

Os respondentes foram questionados quanto à utilização de acesso à internet e redes sociais virtuais. Constatou-se que 86,4% acessa a internet várias vezes por dia, uma frequência que pode ser considerada alta, com média semanal de 33,44 horas de acesso e desvio padrão de 26,8894, e 99% deles utiliza redes sociais virtuais, com média semanal de 19,96 horas e desvio padrão de 22,3501.

A frequência de acesso à internet vai de encontro a reflexão de Souza et al. (2012), os quais afirmam que a internet está, cada vez mais, sendo uma tecnologia emergente que gradativamente está transformando a maneira como os indivíduos estão acessando a informação. Com estes resultados, percebe-se que o acesso à internet ocorre várias vezes ao dia, comprovando que a informação é recebida pelo usuário no mínimo diariamente.

Perguntou-se aos respondentes quais eram as redes sociais virtuais que estes acessavam e, partir das respostas, foi elaborado um ranking com as mais citadas. O Facebook destacou-se perante as demais redes sociais virtuais, com 98,42% dos respondentes utilizando esta rede. Outras redes sociais virtuais mais citadas foram Twitter, Instagram, Linkedin, Skype e Orkut, mas em proporções menores em relação ao Facebook.

O destaque da rede social virtual Facebook frente ao ranking encontrado na pesquisa não surpreende, pois segundo Choi et al. (2013), esta rede se tornou a mais importante marca no mundo. Em 2012, registrou mais de 1 bilhão mensal de usuários ativos no mundo todo, que escrevem mensagens em 70 diferentes idiomas. O Facebook é considerado o segundo no tráfego global, logo atrás do Google.

Para a análise fatorial exploratória das variáveis do modelo, foram utilizadas inicialmente as 24 questões aplicadas pelo instrumento de Shin (2010). Como método de extração das dimensões, adotou-se a análise de componentes principais e como método de rotação, a Varimax.

O teste Kaiser-Meyer-Olkin Measure, que deve ser maior ou igual a 0,6 para que a correlação entre cada par de variáveis seja explicada pelas demais variáveis do estudo (Latif, 1994), e o teste de esfericidade de Bartlet, que examina a hipótese de que as variáveis não sejam correlacionadas na população (Malhotra, 2006) obtiveram resultados que podem ser considerados satisfatórios.

Também satisfatórias para a análise fatorial foram as análises de medida para adequação da amostra e da matriz correlação antiimagem. A Tabela 1 apresenta os resultados da análise fatorial exploratória.

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Tabela 1: Análise fatorial exploratória

Dimensão Variável CargaVariância Explicada

KMOAlpha de Cronbach

Utilidade Percebida

(PU1) Eu penso que os serviços das redes sociais são muito úteis para a minha vida em geral.

0,609

64,38 % 0,740 0,815

(PU2) Eu penso que os serviços das redes sociais ajudam a melhorar meu desempenho em geral.

0,671

(PU3) Eu penso que os serviços das redes sociais ajudam a melhorar a eficácia da minha vida em geral.

0,733

(PU4) Eu penso que os serviços das redes sociais fornecem serviços úteis e informações para mim.

0,562

Diversão Percebida

(PE1) Eu acho que os serviços são recreativos (Usar os serviços das redes sociais me alegra muito).

0,804

70,34 % 0,788 0,853

(PE2) Eu acho os serviços agradáveis (Fico satisfeito quando uso os serviços das redes sociais).

0,823

(PE3) Eu acho os serviços emocionantes (Eu gosto de usar os serviços das redes sociais porque é emocionante).

0,525

(PE4) Acho que os serviços são divertidos (Eu me divirto usando os serviços das redes sociais).

0,661

Atitude

(A1) Eu penso que o uso dos serviços das redes sociais é uma boa ideia.

0,710

72,65 % 0,711 0,812 (A2) Eu penso que o uso dos serviços das redes sociais é benéfico para mim.

0,760

(A3) Eu tenho percepções positivas sobre o uso dos serviços das redes sociais.

0,710

Intenção

(I1) Eu pretendo usar os serviços das redes sociais no futuro.

0,806

73,64 % 0,790 0,877

(I2) Eu pretendo usar os serviços das redes sociais, tanto quanto possível.

0,677

(I3) Eu recomendo que outras pessoas usem os serviços das redes sociais.

0,674

(I4) Eu pretendo continuar usando os serviços das redes sociais no futuro.

0,789

Fluxo

(FL1) Durante o uso dos serviços das redes sociais, eu estava absorvido intensamente pela atividade (concentração).

0,730

72,98 % 0,500 0,628 (FL2) Eu sinto fortemente que estou dentro do mundo virtual ao usar os serviços das redes sociais (tele presença).

0,730

Envolvimento

(PI1) Me sinto emocionalmente envolvido nos serviços das redes sociais.

0,551

66,66 % 0,656 0,740 (PI2) Eu posso participar das atividades dos serviços das redes sociais.

0,701

(PI3) Eu posso personalizar o conteúdo e serviços das redes sociais.

0,748

Conectividade Percebida

(PC1) Eu me sinto bem, porque eu posso acessar os serviços a qualquer momento via redes sociais.

0,659

68,04 % 0,696 0,764 (PC2) Eu sinto que estou conectado à realidade externa por poder procurar as informações que quero.

0,703

(PC3) Eu me sinto emocionalmente consolada, porque eu posso fazer alguma coisa interessante com os serviços das redes sociais, conforme minha vontade.

0,679

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Após analisar as comunalidades, excluiu-se uma variável com valor inferior a 0,5: (FL3)

Durante o uso dos serviços das redes sociais eu me sinto no controle, que obteve a carga de 0,432. Para avaliar a confiabilidade dos fatores, foram calculados os Alfas de Cronbach, cujos valores foram superiores a 0,7 indicando confiabilidade satisfatória da consistência interna (Hair et al., 2005).

Na fase da análise fatorial, a dimensão Intenção se destacou com 73,64% da variância explicada, KMO de 0,790, considerado bom e Alpha de Cronbach de 0,877. Após a análise fatorial exploratória, analisaram-se as médias das dimensões, apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2: Análise descritiva das dimensões

Dimensão

Rio Grande do Sul

Coréia Estados Unidos Minas Gerais

Média Desvio Padrão

Média Desvio Padrão

MédiaDesvio Padrão

Média

Utilidade Percebida 3,35 0,7873 3,99 0,59 4,13 0,55 2,91 Diversão Percebida 3,30 0,7755 4,31 0,61 3,79 0,54 3,27

Atitude 3,60 0,7140 3,86 0,41 3,98 0,49 3,34

Intenção 3,79 0,7631 3,59 0,40 3,87 0,41 3,66

Fluxo 3,10 0,8712 3,81 0,62 3,65 0,50 2,87

Envolvimento 3,30 0,7425 4,19 0,62 4,01 0,51 3,09

Conectividade Percebida 3,62 0,7694 3,82 0,63 4,79 0,55 3,22

Nota. Fonte: dados da pesquisa em comparação com Pinto, M. R., Salume, P. K., Silva, F. A., & Freitas, R. C. (2012, outubro). Analisando as motivações para aceitação e adoção de redes sociais virtuais. Anais do Seminário em Administração, São Paulo, SP, Brasil, 15. e Shin, D. (2010). Analysis of Online Social Networks: a cross-national study. Online Information Review. 34(3), 473-495.

Considerando que o instrumento aplicado na presente pesquisa utilizou a escala Likert de 5 pontos, foi possível verificar que no Rio Grande do Sul as dimensões com maior média foram a Intenção, registrando 3,79, seguida da Conectividade Percebida com 3,62, o que demonstra que as duas dimensões são as mais significativas para os usuários pesquisados. Para Davis (1989) a Intenção refere-se a característica desenvolvida pela atitude que influencia na decisão em utilizar a rede social virtual. Já a Conectividade Percebida diz respeito ao sentimento de conexão ou proximidade devido às redes sociais virtuais permitirem aos usuários que se conectem com os outros usuários (Shin, 2009). Por outro lado, a dimensão com menor média foi o Fluxo, que diz respeito ao estado mental em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo por um sentimento de foco energizado e sucesso no processo da atividade (Trevino & Webster, 1992).

De acordo com os resultados, assim como no Rio Grande do Sul, Minas Gerais também registrou a média mais alta na dimensão Intenção. Em segundo lugar, a dimensão Atitude que está relacionada às redes sociais virtuais determinadas pelas crenças individuais (Davis, 1989). Coincidentemente a dimensão com menor média nos dois estados brasileiros foi a Fluxo.

Comparando este cenário, de dois estados brasileiros, com os resultados dos demais países, Coréia e Estados Unidos, verifica-se que os Estados Unidos também registrou como menor média a dimensão Fluxo. Então, das quatro pesquisas, três evidenciaram o Fluxo como a dimensão menos significativa. Ainda, segundos resultados dos Estados Unidos, a média

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mais alta das dimensões foi a Conectividade Percebida, coincidentemente a segunda mais importante para os respondentes do Rio Grande do Sul. A segunda média mais alta foi a dimensão Utilidade Percebida, que seria a extensão em que uma pessoa acredita que as redes sociais virtuais são capazes de ser utilizadas de forma vantajosa e fornecendo resultados positivos (Davis, 1989). Esta dimensão também foi registrada como a segunda maior média, além dos Estados Unidos, também na Coréia, não se sobressaindo nas pesquisas realizadas no Brasil.

Para testar as hipóteses do estudo (Figura 4), foram realizadas análises de regressão múltipla. Assim, o modelo resultante para as dimensões pode ser conferido na Figura 6.

Figura 6. Análise de Regressão Múltipla

A Tabela 3 descreve os resultados do teste das hipóteses. A partir dela, destaca-se a confirmação da hipótese seis, quando temos que 60,8% da variabilidade da diversão percebida deve-se exclusivamente ao envolvimento, então, quanto mais envolvidos os usuários, tendo acesso às informações desejadas (Kalyanaraman & Sundar, 2006), mais eles percebem o uso da rede social virtual como divertido por si só (Nysveen et al., 2005).

Tabela 3: Teste das hipóteses

Hipótese Interação R R2α R2 p

8 Utilidade Percebida Conectividade Percebida 0,520 0,512 0,270 ***

6 Diversão Percebida Envolvimento 0,635 0,608 0,403 ***

3 Atitude Utilidade Percebida 0,313 0,385 0,098 ***

9 Atitude Conectividade Percebida 0,337 0,409 0,114 ***

7 Atitude Envolvimento 0,014 0,016 0,000 0,804

5 Atitude Diversão Percebida 0,234 0,285 0,055 ***

1 Intenção Atitude 0,514 0,474 0,264 ***

10 Intenção Fluxo 0,129 0,162 0,017 0,010

2 Intenção Utilidade Percebida 0,152 0,172 0,023 0,023

4 Intenção Diversão Percebida 0,080 0,090 0,006 0,246

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Outro resultado que se destaca é o da hipótese oito, em que 51,2% da variabilidade da utilidade percebida deve-se exclusivamente à conectividade percebida. Portanto, o sentimento de conexão entre os usuários (Shin, 2009) permite que eles percebam o uso das redes sociais virtuais de forma vantajosa e podendo fornecer resultados positivos (Davis, 1989).

Como esperado pela hipótese um, 47,4% da variabilidade da intenção deve-se exclusivamente à atitude. Davis (1989) versa sobre a atitude em relação às redes sociais virtuais, que são determinadas pelas crenças individuais, como influenciadora da decisão de utilizar a rede social virtual

A partir da análise de regressão múltipla, constata-se que oito das dez hipóteses testadas foram confirmadas, apenas não se confirmou que (H4) existe uma relação positiva entre a diversão percebida e intenção de utilizar redes sociais virtuais e nem que (H7) existe uma relação positiva entre envolvimento percebido e atitude em relação às redes sociais virtuais.

Apesar de não ter sido constatada relação positiva entre a diversão percebida e intenção de uso, percebe-se que foi significativa a relação entre a diversão percebida e atitude, onde 28,5% da variabilidade da diversão percebida deve-se exclusivamente à atitude em relação às redes sociais virtuais.

A outra hipótese negada, em que não foi apontada relação positiva entre envolvimento percebido e atitude, mostrou que, neste estudo, o sentimento de envolvimento com as redes sociais virtuais não resultou em postura positiva em relação às redes sociais virtuais, ao contrário do que havia sido proposto por Shin (2010).

Comparando aos estudos de Shin (2010), na Coréia, não se confirmaram outras duas hipóteses, pois não (H3) existe uma relação positiva entre a utilidade percebida e atitude em relação às redes sociais virtuais e nem (H9) existe uma relação positiva entre a conectividade percebida e atitude em relação às redes sociais virtuais. Mas nos Estados Unidos, as duas hipóteses que não foram suportadas em nosso estudo, também não se confirmaram, mais uma, pois não se demonstrou (H5) existir relação positiva entre a diversão percebida e atitude em relação às redes sociais virtuais. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As interações entre as pessoas tem sido cada vez mais estudadas e por consequência, as redes sociais virtuais e as razões que levam as pessoas a se interessarem e utilizá-las. Este estudo, que investigou as motivações subjacentes aos estudantes para engajar-se em redes sociais virtuais, resultou na confirmação de oito das dez hipóteses testadas, baseadas no modelo de Shin (2010).

Percebe-se que, na amostra pesquisada, o Facebook destaca-se perante as demais redes sociais virtuais, com 98,42% dos respondentes utilizando esta rede. Na comparação dos resultados da pesquisa aqui no Rio Grande do Sul, Brasil, com o estudo de Shin (2010) nos Estados Unidos e na Coréia, conclui-se que os usuários dos três países claramente diferem na maneira de pensar sobre e preferência de interação através das redes sociais virtuais.

Os resultados de Shin (2010) mostram que, para os usuários coreanos, a principal motivação é diversão, muito influenciada pelo envolvimento percebido, enquanto que para os usuários norte-americanos, a motivação principal depende da utilidade percebida, fortemente influenciada pelos sentimentos de conectividade dos usuários. Em nossa pesquisa, a principal motivação, assim como nos resultados da pesquisa aplicada aos coreanos, foi a diversão percebida, que recebe forte influência do envolvimento percebido, seguida da utilidade

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percebida, fortemente influenciada pelos sentimentos de conectividade percebida pelos usuários, que foi predominante nos norte-americanos.

Consideram-se limitações o fato de ter sido estudada como amostra apenas um estado do Brasil. Portanto, deve-se tomar cuidado ao generalizar os resultados para outras situações. Estudos futuros devem realizar pesquisas em diferentes regiões e culturas para investigar e comparar os resultados.

Como sugestão, a complementação do estudo quantitativo com método qualitativo traria maior clareza e compreensão do fenômeno pesquisado. Assim, para pesquisas futuras seria interessante analisar se o Facebook, rede social mais indicada pelos respondentes, se mantém em função dos serviços de entretenimento oferecidos. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Babbie, E. (2001). Métodos de Pequisas de Survey. Belo Horizonte: Ed. UFMG. Boyd, D. M., & Elisson, N. B. (2008). Social Networks Sites: definition, history and scholarship. Journal of Computer-Mediated Communication. 13(11). Brandtzaeg, P. B., & Heim, J. (2009). Why people use social networking sites. Lecture Notes in Computer Science, 5621, 143–152. Choi, J., Jung, J., & Lee, S. (2013). What causes users to switch from a local to a global social network site? The cultural, social, economic, and motivational factors of Facebook’s globalization. Computers in Human Behavior, 29, 2665–2673. Davis, F. D. (1989). Perceived Usefulness, Perceived Ease of Use and User Acceptance of Information Technology. MIS Quarterly, 319-340. Diehl, A. A., & Tatim, D. C. Pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas: métodos e técnicas. (2004). São Paulo: Prentice Hall. Hair, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, W. C. (2005). Análise Multivariada de Dados. (5a ed.). Porto Alegre: Bookman. Hsu, H., & Chang, Y. (2013). Extended TAM Model: Impacts of Convenience on Acceptance and Use of Moodle. US-China Education Review A, 3(4), 211-218. Jung, T., Youn, H., & Mcclung, S. (2007). Motivations and self-presentation strategies on Korean-based ‘‘Cyworld” weblog format personal homepages. CyberPsychology and Behavior, 10(1), 24–31. Kalyanaraman, S., & Sundar, S. (2006). The psychological appeal of personalized content in web portals, Journal of Communication, 56(1), 110-132. Kim, Y., Sohn, D., & Choi, S. M. (2011). Cultural difference in motivations for using social network sites: a comparative study of American and Korean college students. Computers in human behavior, 27, 365-372. Kulviwat, S., Bruner Ii, G. C., Kumar, A., Nasco, S. A., & Clark, T. (2007). Toward a Unified Theory of Consumer Acceptance Technology. Psychology & Marketing, 24(12), 1059–1084. Kwon, O., & Wen, Y. (2010). An empirical study of the factors affecting social network service use. Computers in Human Behavior, 26, 254–263. Latif, S. A. (1994). A Análise Fatorial auxiliando a resolução de um problema real de pesquisa de marketing. Caderno de pesquisas em Administração. São Paulo. Lee, M. K. O., Cheung, C. M. K., & Chen, Z. (2005). Acceptance of Inter-net-based learning medium: The role of extrinsic and in-trinsic motivation. Information & Management, 42(8), 1095-1104.

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