Motivos e Meios para quem Pensa Estar em Pé Veja que Não Caia · É o chamado bom combate da fé,...
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Motivos e Meios para quem Pensa Estar em Pé Veja que
Não Caia
Por
Silvio Dutra
Ago/2018
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A474 Alves, Silvio Dutra Motivos e Meios para quem Pensa Estar em Pé Veja que Não Caia / Silvio Dutra Alves Rio de Janeiro, 2018. 67p.; 14,8 x21cm 1. Teologia. 2. Vida Cristã. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252
3
Trato civilizado e educado pode existir, sem a
santidade. A santificação não consiste em se
educar o velho homem, mas em crucificá-lo e se
despojar dele, de maneira que toda a santidade
habita somente na nova criatura gerada pelo
Espírito Santo.
Tampouco vida sem dor e sofrimento neste
mundo, não é o alvo da santidade; muito ao
contrário, por causa de um viver santificado as
tribulações e perseguições aumentam.
A santidade não nos garante o recebimento de
uma reserva em depósito da graça, de tal forma
que poderemos estar prontos para enfrentar e
vencer todas as provações, sentindo-nos
sempre fortes e capacitados para o confronto
com elas.
Na verdade, a promessa divina é que a nossa
força será concedida conforme a necessidade
do dia, e exatamente proporcional a ela
devendo, portanto ser buscada a graça,
conforme somos ensinados na oração do Pai
nosso: “o pão nosso de cada dia dai-nos hoje”, e
também nos ensina o Senhor Jesus que basta a
cada dia o seu próprio mal.
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Daí ser afirmado na Escritura: “Conforme os
teus dias, será a tua força”.
Como caem por terra diante desta verdade
bíblica, as expressões que são muito
comumente ouvidas, como estas:
“Venha para Jesus para parar de sofrer.”
“Os santos no céu acumularam méritos
suficientes para interceder por nós.”
(pensamento católico romano).
“Desde que me converti recebi força e graça
suficiente para ficar sempre de pé.”
“Já tenho Jesus e não preciso ficar orando e
vigiando em todo o tempo, porque a vitória já
está garantida.”
Há um pensamento errado em razão disso, de
quem é crente, por pertencer a Jesus, é sempre
calmo, educado, cortês, cheio de fé, etc. Ainda
que isto seja um dos alvos a ser buscado, não é
uma realidade em perfeição na vida de qualquer
crente, enquanto estiver neste mundo, porque
estamos rodeados de fraquezas, e nosso
suprimento de graça vem do Senhor, quando o
buscamos, e temos por alvo a perfeição em
santificação.
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Toda a plenitude, toda a graça está depositada
em Jesus, e não em nós, nem sequer na
totalidade dos crentes. É então, somente nEle
que devemos buscar a graça que necessitarmos.
A Palavra de Deus nos ordena a cuidarmos para
permanecermos de pé e firmes na fé, para que
não caiamos; que guardemos a nossa coroa para
que ninguém a furte; a orarmos e vigiarmos em
todo o tempo, porque a nossa permanência em
santificação depende disto, porque temos uma
carne para ser mortificada, e um velho homem
para nos despojarmos dele, para que sejamos
revestidos do novo homem.
Estando assim ordenados por Deus para um
conflito com as forças do mal, há uma guerra a
ser travada de muitas batalhas, que somente
cessarão no final desta vida.
É o chamado bom combate da fé, no qual
devemos vestir toda a armadura de Deus, para
que sejamos bem-sucedidos nas batalhas que
empreendermos contra os poderes das trevas e
o mal que habita no nosso próprio coração, para
que dali o expulsemos.
“10 Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor
e na força do seu poder.
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11 Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para
poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo;
12 porque a nossa luta não é contra o sangue e a
carne, e sim contra os principados e potestades,
contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões
celestes.
13 Portanto, tomai toda a armadura de Deus,
para que possais resistir no dia mau e, depois de
terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis.
14 Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a
verdade e vestindo-vos da couraça da justiça.
15 Calçai os pés com a preparação do evangelho
da paz;
16 embraçando sempre o escudo da fé, com o
qual podereis apagar todos os dardos
inflamados do Maligno.
17 Tomai também o capacete da salvação e a
espada do Espírito, que é a palavra de Deus;
18 com toda oração e súplica, orando em todo
tempo no Espírito e para isto vigiando com toda
perseverança e súplica por todos os santos
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19 e também por mim; para que me seja dada, no
abrir da minha boca, a palavra, para, com
intrepidez, fazer conhecido o mistério do
evangelho,
20 pelo qual sou embaixador em cadeias, para
que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como
me cumpre fazê-lo.” (Efésios 6.10-20).
Esta guerra possui várias frentes de batalha,
porque são muitas as áreas em que somos
chamados a atuar:
- Na familiar, no relacionamento entre os
cônjuges, dos pais em relação aos filhos, e estes
em relação aos pais.
- No trabalho, entre empregados e patrões.
- Na sociedade em geral, pela submissão às
autoridades constituídas, no trato com o
próximo, etc.
Deus tem regras para o comportamento do Seu
povo em todas as circunstâncias que for
chamado a viver. É nisto principalmente, que a
fé é provada, no sentido de ser visto se será
obediente aos mandamentos do Senhor ou não.
Além disso, há o combate direto com os
espíritos das trevas, que procuram afastar o
8
crente da comunhão com Deus, insuflando-lhe
dúvidas, desconfiança, e incredulidade nas
promessas divinas, e com isto levá-lo a ficar
deprimido, intimidado, e enfim detido em sua
caminhada feliz com o Senhor.
Tão grandes e sutis são as artimanhas dos
demônios, que para confundir o homem fazem
com que deposite a sua confiança numa fonte
maligna, pela concessão de bens temporários
pelo poder que têm, até mesmo para curar
enfermidades, abrir portas de trabalho, gerar
influências de encantamento apaixonado entre
pessoas, e tudo com vistas a afastá-las de Deus,
pelo compromisso que assumem com estas
“fontes geradoras de bondade e benefícios”
espúrios.
Aqui reside um grande perigo a que ficamos
expostos, quando buscamos apenas a concessão
de coisas sem levar em conta qual é a fonte da
qual elas procedem: se de Deus ou do diabo.
Jesus nos alertou, que especialmente nos
últimos dias, falsos pastores e mestres se
levantariam na terra operando sinais e
maravilhas; que se fosse possível, até mesmo os
eleitos seriam enganados.
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Eles não estão a serviço de Deus, senão do diabo,
para conduzir pessoas ao erro e afastá-las assim,
da verdade - mesmo nas situações em que estes
espíritos do erro atuarem sob o comando de
Deus, que lhes restringe as ações, como foi no
caso citado em I Reis 22.20-23:
“20 Perguntou o SENHOR: Quem enganará a
Acabe, para que suba e caia em Ramote-
Gileade? Um dizia desta maneira, e outro, de
outra.
21 Então, saiu um espírito, e se apresentou
diante do SENHOR, e disse: Eu o enganarei.
Perguntou-lhe o SENHOR: Com quê?
22 Respondeu ele: Sairei e serei espírito
mentiroso na boca de todos os seus profetas.
Disse o SENHOR: Tu o enganarás e ainda
prevalecerás; sai e faze-o assim.
23 Eis que o SENHOR pôs o espírito mentiroso na
boca de todos estes teus profetas e o SENHOR
falou o que é mau contra ti.”
A obstinação de Acabe contra o Senhor foi usada
por Deus contra ele mesmo, por aprofundar-lhe
a convicção do erro em que insistia, através do
engano citado anteriormente.
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Como o trabalho de enganar e mentir, não
poderia ser feito por um anjo eleito de Deus, ele
foi feito por um demônio que se apresentou para
tal, porque a vocação e o prazer deles é o de
enganar.
O mesmo pode ser dito de Balaão, que foi
destruído em sua obstinação, e morreu lutando
contra Deus, apesar de ter tido a Sua Palavra em
sua própria boca, para profetizar em
determinadas ocasiões.
Judas seguiu pelo mesmo caminho, e em nossos
dias, os exemplos se multiplicam nas vidas
daqueles que se apresentam como servos de
Deus, que falam em nome dEle, mas cujo
propósito é sempre o de enganar o coração dos
incautos.
Quão complexo é o mundo espiritual! Quanto
cuidado e discernimento devemos ter para não
sermos enganados!
Em outra consideração que nos cabe fazer, é que
Deus jamais nos levará a ficar devendo alguma
coisa a alguém, seja por empréstimo não
devolvido, ou dívida contraída não saldada, pois
Seu mandamento é que sejamos honestos e
confiáveis em todas as coisas.
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“Balanças justas e medidas justas”, é o
mandamento.
“A ninguém nada dever, senão somente o
amor”.
Então, não pode ser considerado uma bênção,
acumular bens mal adquiridos, mediante o
prejuízo de terceiros.
Se demônios se levantam contra nós e nos
oprimem, será de pouco ou nenhum efeito
repreendê-los em nome de Jesus, em um
suposto exercício da fé, quando nos
encontramos na condição citada
anteriormente, com nossa vida pessoal
comprometida com coisas em que deveríamos
fazer primeiro a devida reparação, ou
restituição do mal que praticamos.
Isto se aplica, sobretudo na área de não
concessão de perdão, e somos alertados
diretamente pelo próprio Senhor Jesus, a
perdoarmos os nossos ofensores, para que não
sejamos lançados em uma prisão espiritual sob
a opressão de verdugos (demônios), da qual
somente poderemos sair depois de pagarmos o
último centavo do perdão que devemos
conceder ao ofensor.
12
Há casos em que a obstinação pela permanência
em uma deliberada posição, contrária a um
possível e necessário arrependimento é punida
por Deus, a ponto de sermos considerados
estranhos para Ele, e sujeitados a Satanás para a
destruição da carne, de modo que nosso espírito
possa ser salvo no dia do Senhor.
Não é sem razão que somos ordenados
veementemente, a ter a devida reverência e
temor a Deus - na verdade, temor e tremor
diante dEle, porque as consequências de um
viver desordenado, contrário à Sua vontade são
terríveis, ainda que não venhamos a perder a
salvação eterna que obtivemos pela fé em Jesus.
“12 Assim, pois, amados meus, como sempre
obedecestes, não só na minha presença, porém,
muito mais agora, na minha ausência,
desenvolvei a vossa salvação com temor e
tremor;
13 porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade.
14 Fazei tudo sem murmurações nem
contendas,
13
15 para que vos torneis irrepreensíveis e
sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de
uma geração pervertida e corrupta, na qual
resplandeceis como luzeiros no mundo,”
(Filipenses 2.12-15).
“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem
acepção de pessoas, julga segundo as obras de
cada um, portai-vos com temor durante o tempo
da vossa peregrinação,” (I Pedro 1.17).
Ainda que não alcançássemos o tipo de temor
filial, que é o ideal que Deus espera de nós, é
melhor ter o temor servil do tipo de um escravo
relativo ao seu senhor, do que não possuir
nenhum tipo de temor dos juízos de Deus que
não nos leve a nos afastar do pecado, e buscar
removê-lo de nossas vidas.
O temor filial - de um filho por um Pai amoroso,
é baseado no respeito, na reverência, no amor, e
não no medo, como é o caso do temor servil. É
este tipo de temor filial que devemos aprender a
cultivar e nunca nos descuidarmos dele, porque
quando o fazemos já não andamos conforme nos
convém diante do Senhor, no cumprimento dos
Seus mandamentos.
Este temor filial não é, no entanto entre seres
separados entre si por um abismo, por um
14
afastamento entre o que é grande e o que é
pequeno, pois há uma união vital do crente com
Cristo, assim como há entre os ramos da videira
e seu caule, e da cabeça com os membros do
corpo.
É nesta união que consiste toda a nossa
santificação. É nEle que somos aperfeiçoados. É
nEle que vivemos e somos transformados.
Essa é a essência mesma da santificação, que
nos revela claramente, que não está fundada em
nossas boas obras isoladas, mas em quanto
temos da própria vida de Jesus se manifestando
em nós. Onde isto faltar, por melhores que
sejam as obras, não haverá nenhuma
santificação aprovada por Deus.
A consequência dessa nossa união com nosso
Senhor Jesus Cristo, é que se vivêssemos em
pecado negaríamos esta verdade, porque se
somos um com Ele, então devemos estar no
mundo como Ele estava; e cheios do Seu Espírito
procurar reproduzir Sua vida perante o mundo.
Daí o apóstolo comparar a nossa união com
Cristo, com a que deve existir entre os cônjuges,
pois além da união vital que há entre a videira e
os ramos, há no presente caso do casamento, a
união em amor:
15
“29 Porque ninguém jamais odiou a própria
carne; antes, a alimenta e dela cuida, como
também Cristo o faz com a igreja;
30 porque somos membros do seu corpo.”
(Efésios 5.29,30).
Esta unidade do crente com Cristo é unidade
espiritual de fé e amor, fundada na verdade da
Palavra, na doutrina verdadeira, a saber, a do
Senhor e Seus apóstolos.
Esta unidade é promovida pelo Espírito Santo e
é vista principalmente, quando os crentes se
reúnem para adorar o Senhor em Espírito e em
verdade.
Seus corações são unidos num mesmo querer e
sentir, e o poder e amor de Deus se faz sentir
entre eles, fazendo-os se sentir um só corpo com
o Senhor e entre eles mesmos.
Outros tipos de unidade são promovidas pela
carne e não pelo Espírito, e assim, não podem
contar com o reconhecimento de Deus para que
manifeste a Sua presença entre eles.
É somente quando se reúnem em nome do
Senhor para adorá-Lo, segundo as condições
que Ele estabeleceu em Sua Palavra para ser
cultuado, que se pode contar com Sua bênção.
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Tudo o que passa, ou fica aquém disso terá
nascido na carne e na carne morrerá, porque
tudo o que a carne pode gerar é carnal, e jamais,
verdadeiramente espiritual.
Toda a unidade verdadeira com Jesus requer
que haja previamente santificação; por isso
somos ordenados na Palavra, a purificar o
coração para nos aproximarmos de Deus.
“19 Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar
no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus,
20 pelo novo e vivo caminho que ele nos
consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne,
21 e tendo grande sacerdote sobre a casa de
Deus,
22 aproximemo-nos, com sincero coração, em
plena certeza de fé, tendo o coração purificado
de má consciência e lavado o corpo com água
pura.
23 Guardemos firme a confissão da esperança,
sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel.
24 Consideremo-nos também uns aos outros,
para nos estimularmos ao amor e às boas obras.
17
25 Não deixemos de congregar-nos, como é
costume de alguns; antes, façamos
admoestações e tanto mais quanto vedes que o
Dia se aproxima.” (Hebreus 10.19-25).
“5 Ora, a mensagem que, da parte dele, temos
ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz,
e não há nele treva nenhuma.
6 Se dissermos que mantemos comunhão com
ele e andarmos nas trevas, mentimos e não
praticamos a verdade.
7 Se, porém, andarmos na luz, como ele está na
luz, mantemos comunhão uns com os outros, e
o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo
pecado.
8 Se dissermos que não temos pecado nenhum,
a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não
está em nós.
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos
purificar de toda injustiça.” (I João 1.5-9).
Nossas orações devem ser segundo a vontade de
Deus, em razão de que a nossa união com Cristo
não é apenas de vida e amor, mas também de
identidade, pois somos parte do Seu corpo, do
qual Ele é a cabeça.
18
Spurgeon se referiu a isto belamente, quando
disse:
“Cristo é a Cabeça e nós somos membros do Seu
corpo. Quão maravilhosa é essa união! Na
primeira metáfora, a da fundação e a da pedra,
tivemos a ideia de apoio; na segunda, a da videira
e dos ramos, a ideia de vida; a união de marido e
mulher nos deu o pensamento de amor; agora,
aqui temos a sugestão de identidade. Há duas
vidas no marido e na esposa, mas há apenas uma
vida na cabeça e no corpo; e, nesse sentido, essa
metáfora revela a verdadeira relação de Cristo
com Seu povo, mais claramente do que
qualquer outra.
Existe uma maravilhosa união entre a cabeça e
os membros do corpo. É uma união da vida e
uma união do corpo que sempre continua. O
marido pode ter que viajar para longe de sua
esposa, mas nunca pode acontecer que a cabeça
se afaste do corpo. Se eu soubesse de um
homem cuja cabeça foi separada do corpo por
trezentos milímetros, ou pelo menos meia
polegada, eu diria que este homem era um
homem morto. Deve haver uma união perpétua
entre a cabeça e os membros, caso contrário a
morte ocorre; e lembre-se, morte não só do
corpo, mas também da cabeça. Quando eles
estão divididos, eles morrem. Quão glorioso é
19
este pensamento, quando o aplicamos ao
Senhor e ao Seu povo redimido! Sua união é para
sempre.
Eles morreriam se fossem separados dEle, e até
Ele deixaria de existir se perdesse os
membros; bem, de um jeito ou de outro, eles são
tão unidos, que Ele não ficará sem eles - e não
pode ficar sem eles, porque significaria que a
Cabeça da igreja estava separada dos membros
de Seu corpo místico. Por essa razão, podemos
cantar:
"E isso eu descobri,
nós dois somos tão unidos,
que Ele não estaria na glória,
deixando-me para trás."
Tudo a que temos nos referido deve ser vivido
pela fé, e tomado somente pela mão da fé, de
maneira que teremos mais da experiência
destas realidades, quanto maior for a nossa fé no
Senhor e nas Suas promessas.
Se ainda não aprendemos a dar total crédito à
Palavra de Deus, quando nossa fé for colocada à
prova, é bem certo que ela falhará.
20
Aqueles que continuam crendo e agindo de
acordo com a Palavra revelada, ou mesmo
obedecendo a direções particulares que tenha
recebido da parte de Deus pelo Espírito Santo,
hão de saber que o Senhor é sempre fiel, e nunca
falhará em cumprir tudo o que tem prometido
fazer.
Ele quer que aprendamos isto, porque é dando-
Lhe toda a nossa confiança, que podemos
melhor experimentar de forma alegre e
sossegada, a comunhão com Ele em todas as
circunstâncias, por mais adversas que possam
se apresentar a nós.
Nisto Deus é glorificado, pois damos-lhe ocasião
para revelar em nossas vidas toda a Sua
bondade, amor e fidelidade.
Nada mais lhe agrada do que manifestar Seu
amor, longanimidade, graça e misericórdia.
Os juízos e correções dolorosas são a Sua obra
estranha, pois recorre aos mesmos por
exigência do atributo da Sua justiça, mas não
que se agrade na morte de ímpios, ou mesmo
em açoitar Seus filhos por conta dos males que
praticam, mas para conduzi-los à verdade, para
o próprio bem deles.
21
Se somos desobedientes voluntariamente, e nos
tornamos endurecidos ao arrependimento,
ficamos imediatamente sujeitos à ação do
Inimigo de nossas almas. Esta é uma lei
espiritual que não pode deixar de ser cumprida,
e explica a razão de ser tão deplorável a condição
daqueles filhos de Deus, que andam de maneira
desordenada, não consentindo abandonarem a
posição de desviados em que se encontram.
Afinal, a Sua eleição foi feita em amor, antes
mesmo da fundação do mundo, para que fossem
santos e piedosos no Espírito Santo.
Sua conversão não foi uma questão de sorte, que
dependeu de terem decidido por si mesmos
crerem em Cristo para serem salvos.
Se assim fosse, haveria o risco de não crerem,
caso cogitassem ser algo não necessário, e por
se encontrarem satisfeitos com o que vinham
sendo em suas vidas.
Mas, como a salvação de nossas almas não é algo
que foi deixado por Deus à incerteza e
instabilidade de nossas decisões, Ele enviou o
Espírito Santo para fazer o trabalho de
convencimento, de que somos pecadores
necessitados da justiça de Cristo, para sermos
aceitos como Seus filhos amados.
22
Não existe, portanto esta hipótese de que
alguém venha a ficar fora do céu, por motivo de
não ter tido a sorte e a ventura de fazer a escolha
certa e necessária.
O tempo, a hora da nossa conversão encontram-
se no poder e decisão de Deus. Ele conhece o
propósito, as circunstâncias, e tudo o que
cooperará de modo adequado para que sejamos
atraídos por Ele a Cristo, para sermos salvos.
Ele conheceu em Sua onisciência todos aqueles
que resistiriam à Sua pessoa e vontade, antes
mesmo de serem concebidos nos ventres de
suas mães, e assim o Senhor os rejeitou antes de
ter sido rejeitado por eles, como foi o caso de
Esaú, faraó nos dias de Moisés, Judas e tantos
outros.
Destes que têm sido rejeitados, muitos se
aproximam dEle e dos Seus assuntos, mas pelos
mais diversos motivos errados e egoístas, como
foi o caso de Judas, e assim permanecem
rejeitados para a salvação.
Crer em Cristo é algo substancial, real e
consciente. Ninguém ao chegar no céu
suspirará aliviado e surpreso, com o fato de lá
estar, e concluir:
23
“Que sorte que eu tive de ter acreditado em
Jesus. Imagine se eu não tivesse crido? Eu não
estaria aqui agora.”
Quando o assunto é assim com alguém, que
considera se terá a sorte ou não de estar no céu,
é melhor que tal pessoa examine-se à luz da
Palavra e diante de Deus, para ver que tipo de
conversão foi a sua, pois por esta forma de
duvidar, tudo indica que não houve uma
experiência real com a fé verdadeira, que é a
única que salva.
Há evidências indicativas da nossa eleição e
conversão. Há uma transformação real de nossa
mente e inclinação, que antes de uma
conversão real, não era para Deus e Sua Palavra
como verdade revelada, e também para o mover
do Espírito Santo.
Toda conversão real vence o pendor da carne, e
estabelece no crente um pendor para o Espírito
Santo.
O que é puro e santo é o que ele ama agora, e não
mais o pecado. A inclinação remanescente na
carne é algo que o desagrada, e fica na
expectativa de vencer pelo poder da graça de
Jesus.
24
Sua sede pela verdade é genuína, e nada além da
verdadeira Palavra de Deus, tal como se acha
revelada na Bíblia, é o que lhe satisfaz, de modo
que preferirá perder amizades, conveniências e
tudo o mais que possuía antes, por causa do seu
amor a Cristo e à verdade.
Todavia, não significa que se sinta livre do
pecado e de tentações, pois sua experiência real
é a relatada pelo apóstolo Paulo no sétimo
capítulo de Romanos.
Ele quer sempre o bem, ele ama o Senhor de
todo o seu coração, e rejeita o mal, todavia está
sujeito a não fazer o bem que prefere, e a fazer o
mal que rejeita, pois nele ainda habita o que se
chama de pecado residente, ou resquícios do
pecado.
Isto decorre que, apesar de ser uma nova
criatura (nova criação) com uma nova natureza
divina, o crente possui enquanto estiver neste
mundo, também uma natureza terrena no qual
habita o pecado. Esta natureza terrena, que é
chamada de velho homem recebeu a sentença
de morte na cruz, mas o livramento completo
dela somente ocorrerá no dia da nossa morte,
quando deixarmos este corpo que possui uma
mente corrompida pelo pecado, sujeita a errar e
25
a pecar ao lado de todo o trabalho da nova
natureza para contê-la.
Quando Jesus disse, que não se coloca vinho
novo em odres velhos, significando que é
necessário nascer de novo, receber uma nova
natureza divina, para que nela seja colocado o
vinho novo do Espírito Santo que dá ao crente o
pendor que há nele para o que é divino, celestial
e espiritual, é comum se pensar, que o crente
ficou livre completamente na conversão, da
velha natureza, do odre velho, que mantém nela
o vinho velho do pecado.
Se não houvesse essa realidade dual, não
haveria necessidade de se ordenar na Bíblia que
mortifiquemos, mesmo como crentes, o pecado
- que nos despojemos progressivamente do
velho homem.
Este é o trabalho da santificação do Espírito
Santo, ao qual devemos nos entregar com toda a
diligência, para contarmos com o agrado de
Deus.
Já fomos aceitos por Ele na justificação e
santificação, mas para contar com Seu agrado
dependemos de andar em santidade de vida,
ainda que não signifique que alcançaremos um
26
dia, o estado de total não pecaminosidade neste
mundo.
Isto está reservado para o porvir, para o dia em
que formos para o céu, pois somente então
receberemos a perfeição total, todavia ainda
sem o corpo ressuscitado glorificado que
teremos somente no dia do arrebatamento da
igreja.
Quando nosso Senhor restaurar todas as coisas
ao estado de perfeição absoluta, depois da Sua
segunda vinda, então e somente então,
estaremos para sempre livres de qualquer ação
do pecado, seja em nosso próprio interior, seja
por tentação externa.
Até lá, devemos andar na fé exercitando-nos na
piedade, aprendendo nas provações a nossa
inteira dependência de Jesus; tanto que a
perfeição total será atingida somente na Sua
volta, para que saibamos que toda a nossa
santificação depende inteiramente dEle, de
modo que toda a glória Lhe pertence, e será
muito glorificado na Sua volta, sobretudo por
esta vitória completa sobre o pecado.
“19 Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para
serem cancelados os vossos pecados,
27
20 a fim de que, da presença do Senhor, venham
tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo,
que já vos foi designado, Jesus,
21 ao qual é necessário que o céu receba até aos
tempos da restauração de todas as coisas, de que
Deus falou por boca dos seus santos profetas
desde a antiguidade.” (Atos 3.19-21).
“18 Porque para mim tenho por certo que os
sofrimentos do tempo presente não podem ser
comparados com a glória a ser revelada em nós.
19 A ardente expectativa da criação aguarda a
revelação dos filhos de Deus.
20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não
voluntariamente, mas por causa daquele que a
sujeitou,
21 na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus.
22 Porque sabemos que toda a criação, a um só
tempo, geme e suporta angústias até agora.
23 E não somente ela, mas também nós, que
temos as primícias do Espírito, igualmente
gememos em nosso íntimo, aguardando a
adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
28
24 Porque, na esperança, fomos salvos. Ora,
esperança que se vê não é esperança; pois o que
alguém vê, como o espera?
25 Mas, se esperamos o que não vemos, com
paciência o aguardamos.” (Romanos 8.18-25).
“49 E, assim como trouxemos a imagem do que
é terreno, devemos trazer também a imagem do
celestial.
50 Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue
não podem herdar o reino de Deus, nem a
corrupção herdar a incorrupção.
51 Eis que vos digo um mistério: nem todos
dormiremos, mas transformados seremos
todos,
52 num momento, num abrir e fechar de olhos,
ao ressoar da última trombeta. A trombeta
soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e
nós seremos transformados.
53 Porqueé necessário que este corpo
corruptível se revista da incorruptibilidade, e
que o corpo mortal se revista da imortalidade.
54 E, quando este corpo corruptível se revestir
de incorruptibilidade, e o que é mortal se
revestir de imortalidade, então, se cumprirá a
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palavra que está escrita: Tragada foi a morte
pela vitória.
55 Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó
morte, o teu aguilhão?
56 O aguilhão da morte é o pecado, e a força do
pecado é a lei.
57 Graças a Deus, que nos dá a vitória por
intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I
Coríntios 15.49-57)
“2 Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda
não se manifestou o que haveremos de ser.
Sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele, porque haveremos
de vê-lo como ele é.
3 E a si mesmo se purifica todo o que nele tem
esta esperança, assim como ele épuro.” (I João
3.2,3).
Recomendável a todos é a leitura do livro de
John Owen, intitulado “Resquícios de Pecado
em Crentes”, que temos publicado na Web,
numa tradução pioneira para a língua
portuguesa, no qual há argumentos suficientes
para comprovar, que de fato, a experiência do
apóstolo Paulo em Romanos 7, não é aplicável
apenas ao tempo anterior à sua conversão, mas
30
retrata a condição de todo crente enquanto
estiver neste mundo, inclusive do próprio
apóstolo.
Ele clama dizendo ser um homem miserável,
que buscava o livramento do corpo de morte que
carregava, ou seja, o velho homem, que apesar
de morto na cruz, ainda se fazia presente nos
resquícios do pecado que permanecem na
carne, a par de termos recebido uma nova
natureza.
Ele dá graças a Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo, que pela lei do Espírito da vida, em Cristo
Jesus, nos livrou da lei do pecado e da morte.
Há uma lei maior operando no crente, que é a lei
do Espírito; a graça que agora reina, e é muito
maior que o pecado.
Esta liberdade já opera na medida em que
caminhamos no Espírito, mas vemos aqui e
acolá, o pecado ainda operando em nossos
membros, num conflito de vida e morte em que
todo crente está empenhado.
A libertação completa e definitiva já foi
conquistada, porque se diz que fomos livrados
da lei do pecado e da morte, mas isto será visto
de forma completa, somente depois da nossa
31
partida deste mundo, porque Deus determinou
que assim fosse, para uma maior glória de Jesus,
e para vermos o quanto dependemos dEle para
ter vida.
Suas palavras, de que Ele é o caminho, a verdade
e a vida, que veio para nos dar vida em
abundância, que sem Ele estamos mortos em
delitos e pecados, não possuem qualquer
exagero nelas, pois Ele e somente Ele é a fonte
da vida celestial, espiritual e divina; e na
verdade, até mesmo de toda vida natural.
Tudo foi entregue a Ele pelo Pai. Nele habita
toda a plenitude, e sem Ele nada existiria. Um
nada absoluto e completo é o que haveria sem
Cristo. De modo que Ele é tudo em todos.
Felizes aqueles que têm tal reconhecimento e se
entregam a Ele para serem justificados do
pecado, regenerados e santificados, de modo
que possam coparticipar da natureza divina.
“Porque dele, e por meio dele, e para ele são
todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente.
Amém!” (Romanos 11.36)
“5 Porque, ainda que há também alguns que se
chamem deuses, quer no céu ou sobre a terra,
como há muitos deuses e muitos Senhores,
32
6 todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de
quem são todas as coisas e para quem existimos;
e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas
as coisas, e nós também, por ele.” (I Coríntios
8.5,6).
“27 Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos
pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão
sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe
subordinou.
28 Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem
sujeitas, então, o próprio Filho também se
sujeitaráàquele que todas as coisas lhe sujeitou,
para que Deus seja tudo em todos.” (I Coríntios
15.27,28).
“9 desvendando-nos o mistério da sua vontade,
segundo o seu beneplácito que propusera em
Cristo,
10 de fazer convergir nele, na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as
do céu como as da terra;
11 nele, digo, no qual fomos também feitos
herança, predestinados segundo o propósito
daquele que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade,
33
12 a fim de sermos para louvor da sua glória, nós,
os que de antemão esperamos em Cristo;”
(Efésios 1.9-12).
“13 Ele nos libertou do império das trevas e nos
transportou para o reino do Filho do seu amor,
14 no qual temos a redenção, a remissão dos
pecados.
15 Este é a imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda a criação;
16 pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos
céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis,
sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades. Tudo foi criado
por meio dele e para ele.
17 Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo
subsiste.
18 Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o
princípio, o primogênito de entre os mortos,
para em todas as coisas ter a primazia,
19 porque aprouve a Deus que, nele, residisse
toda a plenitude
20 e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua
cruz, por meio dele, reconciliasse consigo
34
mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer
nos céus.” (Colossenses 1.13-20).
“1 Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes
e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a
quem constituiu herdeiro de todas as coisas,
pelo qual também fez o universo.
3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão
exata do seu Ser, sustentando todas as coisas
pela palavra do seu poder, depois de ter feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita
da Majestade, nas alturas,
4 tendo-se tornado tão superior aos anjos
quanto herdou mais excelente nome do que
eles.” (Hebreus 1.1-4).
“8 Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus
pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas,
nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém,
ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas;
9 vemos, todavia, aquele que, por um pouco,
tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por
causa do sofrimento da morte, foi coroado de
glória e de honra, para que, pela graça de Deus,
provasse a morte por todo homem.
35
10 Porque convinha que aquele, por cuja causa e
por quem todas as coisas existem, conduzindo
muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio
de sofrimentos, o Autor da salvação deles.”
(Hebreus 2.8-‘0).
“Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a
glória, a honra e o poder, porque todas as coisas
tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram
a existir e foram criadas.” (Apocalipse 4.11).
Qual crente, em sã consciência, à luz de toda
esta verdade revelada, teria a ousadia de afirmar
estar agradando da vontade de Deus, à parte de
uma real comunhão com Jesus Cristo?
Muita carnalidade e mundanismo terá que
amargar todo aquele que pensa de modo
diferente.
É a própria pessoa de Jesus, a nossa santificação.
Nele e somente nEle que podemos estar
santificados, pois nos foi dado pelo Pai para que
vivêssemos por Ele (I Cor 1.30).
Bem-aventurados são aqueles que sabem e
reconhecem que têm uma natureza
pecaminosa contra a qual lutar, sujeitando-a à
graça de Jesus, para que seja mortificada.
36
São de grande benefício para ajudarem a outros,
a acharem descanso e paz em Jesus, por
removerem o grande fardo de acusação que a
carne e o diabo lançam sobre eles, por
pensarem, que por terem ainda em si estes
resquícios do pecado, não podem de modo
algum agradar a Deus. Devem confiar em Cristo,
no poder de Seu sangue para purificar, e
confessarem seus pecados para serem
perdoados e retornarem à comunhão com o
Senhor.
O que passa ou que fica aquém desta doutrina,
não é o genuíno evangelho de Jesus, que veio ao
mundo para curar os doentes e injustos. Ele veio
para curar pecadores, para recebê-los por meio
da fé nEle, e garantir-lhes a herança de uma vida
perfeita no céu.
Muito desta perfeição será experimentada
como primícias, enquanto aqui vivermos, mas a
colheita completa da festa de Tabernáculos,
ainda aguarda pela vinda do Senhor.
Somente então, cumprir-se-á a Palavra de
Apocalipse 11.15-18:
“15 O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no
céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo
37
se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele
reinará pelos séculos dos séculos.
16 E os vinte e quatro anciãos que se encontram
sentados no seu trono, diante de Deus,
prostraram-se sobre o seu rosto e adoraram a
Deus,
17 dizendo: Graças te damos, Senhor Deus,
Todo-Poderoso, que és e que eras, porque
assumiste o teu grande poder e passaste a
reinar.
18 Na verdade, as nações se enfureceram;
chegou, porém, a tua ira, e o tempo
determinado para serem julgados os mortos,
para se dar o galardão aos teus servos, os
profetas, aos santos e aos que temem o teu
nome, tanto aos pequenos como aos grandes, e
para destruíres os que destroem a terra.”
Estamos apresentando a seguir, o décimo
quarto capítulo do livro “Resquícios de Pecado
em Crentes”, no qual John Owen discorre sobre
a realidade do pecado atuando na vida de
homens santos, conforme o próprio relato das
Escrituras, e o modo pelo qual eles o venceram.
38
CAPÍTULO 14.
O poder do pecado mais demonstrado pelos
efeitos que teve na vida dos professantes -
primeiro, nos pecados reais; em segundo lugar,
em declínios habituais.
Agora vamos proceder a outras evidências,
daquela triste verdade que estamos
demonstrando, mas o principal de nosso
trabalho sendo passado, eu vou ser mais breve
na gestão dos argumentos que permanecem.
Por isso, então no próximo lugar, o que pode ser
citado é a demonstração que esta lei do pecado
tem em todas as épocas, dado o seu poder e
eficácia, pelos frutos que ela produziu, mesmo
nos próprios crentes. Agora, estes são de dois
tipos:
1. As grandes erupções reais do pecado em suas
vidas;
2. Suas declinações habituais do estado e
condição de obediência e comunhão com Deus,
que obtiveram; que segundo a regra de Tiago,
antes de se desdobrarem, devem ser colocados
à conta desta lei do pecado, e ambas são
evidências convincentes de Seu poder e
eficácia.
39
1. Considere as terríveis erupções do pecado real
que estiveram na vida dos crentes, e devemos
encontrar nossa posição evidenciada. Devo
abordar em grande parte essa consideração,
devo contar todas as falhas tristes e
escandalosas dos santos que foram registradas
na Sagrada Escritura, mas seus detalhes são
conhecidos de todos, de modo que eu não
precisarei mencioná-las, nem os muitos
agravamentos que, em suas circunstâncias são
atendidos. Somente algumas coisas úteis que
tendem à nossa presente consideração podem
ser observadas; como,
(1.) Elas são encontradas em sua maioria, na vida
dos homens que não eram da forma mais baixa
ou do tipo comum de crentes, mas dos homens
que tinham uma eminência peculiar neles, por
conta de sua caminhada com Deus em sua
geração. Tais foram Noé, Ló, Davi, Ezequias e
outros - não eram homens de estatura comum,
mas superiores aos seus irmãos, em sua
profissão, sim, na santidade real. E certamente,
isso deve ser de uma poderosa eficácia que
possa apressar tais gigantes nos caminhos de
Deus para pecados tão abomináveis como
aqueles em que eles caíram. Um motivo comum
nunca poderia tirá-los do curso de sua
obediência; foi um veneno que nenhuma
40
constituição atlética de saúde espiritual, sem
antídoto poderia suportar.
(2.) Esses homens não caíram em seus grandes
pecados no início de sua profissão, quando
tinham pouca experiência da bondade de Deus,
da doçura e prazer da obediência, do poder e do
oficio do pecado, de seus impulsos, solicitações
e surpresas, mas depois de uma longa
caminhada com Deus, e conhecimento de todas
essas coisas, juntamente com inúmeros
motivos para a vigilância.
Noé, de acordo com a vida dos homens naqueles
dias, andou retamente com Deus algumas
centenas de anos, antes de ser tão surpreendido
como foi. (Gênesis 9).
O justo Ló parece ter sido contaminado no final
de seus dias, com as abominações que havia
condenado antes.
Davi, em uma vida curta, teve tanta experiência
de graça e pecado, e tão íntima comunhão
espiritual com Deus, como jamais teve algum
dos filhos dos homens, antes de ser levado para
o chão por esta lei do pecado.
Assim foi com Ezequias em seu grau, que não
era pior.
41
Agora, para se estabelecer sobre tais pessoas,
tão bem familiarizadas com seu próprio poder e
engano, tão armadas e proporcionadas contra o
pecado residente, que tinham sido vencedores
por tantos anos, e ainda assim prevaleceu
contra eles, argumenta um poder e eficácia
muito poderosos.
Quem pode vigiar para ter um maior estoque de
graça inerente, do que aqueles homens tiveram;
para ter mais experiência de Deus e da
excelência de Seus caminhos, da doçura de Seu
amor e da comunhão com Ele, do que eles?
Quem tem melhor mobiliário para se opor ao
pecado, ou mais obrigação para agir, do que
eles?
E, no entanto, vemos com quanto temor foram
atacados.
(3.) Como se Deus tivesse permitido suas quedas
em propósito fixo, para que possamos aprender
a desconfiar desse poderoso inimigo - todos eles
caíram quando receberam novas e
maravilhosas misericórdias da mão de Deus,
que deveriam ter produzido uma forte
obrigação de diligência e vigilância em estreita
obediência.
42
Noé, porém surgiu recentemente daquele
mundo de águas, onde viu o mundo ímpio
perecer pelos seus pecados, e ele mesmo foi
preservado por aquele milagre surpreendente
que todas as épocas devem admirar. Enquanto a
desolação do mundo era uma lembrança para
ele, de sua estranha preservação pelo cuidado
imediato da mão de Deus, ele caiu na
embriaguez.
Ló tinha visto recentemente o que todo aquele
que pensa estar de pé não pode deixar de
tremer, viu, como se fala "o inferno que cai do
céu" sobre os pecadores impuros; a maior prova,
exceto a cruz de Cristo, que Deus jamais deu em
Sua providência do julgamento por vir. Ele viu a
si mesmo e suas filhas livrados pelo cuidado
especial e mão milagrosa de Deus; e ainda
assim, enquanto estas estranhas misericórdias
estavam frescas sobre ele, caiu em embriaguez
e incesto.
Davi foi libertado de todos os seus problemas, e
teve seus inimigos ao redor entregues em sua
mão, e ele faz uso de sua paz em um mundo de
provações e problemas para praticar homicídio
e adultério.
43
Imediatamente após houve a grande e
milagrosa libertação de Ezequias, e ele caiu em
orgulho carnal.
Eu digo que suas quedas, em tais ocasiões
parecem ser permitidas com o objetivo de
instruir todos nós, na verdade que temos à mão;
de modo que nenhuma pessoa, em nenhuma
época, com que mobiliário de graça que tenha
possa prometer-se a segurança, desde a sua
prevalência de outras maneiras, além de
guardar-se constantemente para Aquele que
tem provisões para distribuir, que estão acima
de seu alcance e eficácia. Parece que isso deve
nos fazer vigiar sobre nós.
Somos melhores do que Noé, que teve esse
testemunho de Deus, de que era "um homem
perfeito em suas gerações", e "andou com
Deus?"
Somos melhores do que Ló, cuja "alma justa
estava vexada com as más ações dos homens
ímpios", e, portanto é recomendado pelo
Espírito Santo?
Somos mais santos, sábios e atentos que Davi,
que obteve esse testemunho, de que era "um
homem segundo o próprio coração de Deus?"
Ou melhor do que Ezequias, que apelou para o
44
próprio Deus, que ele o tinha servido retamente,
com um coração perfeito?
E, no entanto qual a prevalência que esta lei do
pecado causou sobre eles, nós vemos. E não há
fim de exemplos semelhantes. Todos eles são
configurados como boias para nos revelar os
bancos de areia, as rochas, com os quais eles
fizeram naufrágio - o perigo, a perda, sim, e
teriam feito sua ruína, se Deus não tivesse ficado
satisfeito graciosamente em Sua fidelidade,
para evitar isso. Esta é a primeira parte dessa
evidência do poder do pecado em seus efeitos.
2. Ele manifesta seu poder nas declinações
habituais do zelo e da santidade, do estado e da
condição de obediência e comunhão com Deus
que alcançaram, e é encontrado em muitos
crentes. Promessas de crescimento e melhoria
são muitas e preciosas o meio excelente e eficaz,
os benefícios são excelentes e indescritíveis; e
embora muitas vezes sejam derramados, em vez
disso, muitos dos santos de Deus desmoronam.
Agora, enquanto isso deve ser causado
principalmente pela força e eficácia do pecado
residente, e é uma boa evidência disso, devo
demonstrar primeiro, que a própria observação
é verdadeira, ou seja, que alguns dos próprios
santos o fazem muitas vezes, recusando esse
45
crescimento e melhoria na fé, graça e santidade
que poderia se esperar justamente deles, e
então mostrar que a causa desse mal está no que
estamos tratando.
E qual é a causa da apostasia total em
professantes infundados, que deve ser depois
declarada?
Mas, este é um trabalho maior que temos em
mãos.
O prevalecer sobre os verdadeiros crentes em
uma declinação pecaminosa e apostasia
gradual, exige uma colocação de mais força e
eficácia do que sobre os professantes
infundados, que prevalecem para a total
apostasia; como o vento que derrubará uma
árvore morta que não tem raiz no chão,
dificilmente agitará ou derrubará uma árvore
viva e bem enraizada - mas isso vai acontecer.
Há menção feita na Escritura dos "primeiros
caminhos de Davi", que são elogiados acima de
seu último, 2 Crônicas 17: 3. Os últimos
caminhos, mesmo de Davi foram manchados
com o poder do pecado residente. Embora
mencionemos apenas a erupção real do pecado,
ainda que a impureza e o orgulho que estava
trabalhando nele, em seu censo do povo,
46
certamente foram enraizados em uma
declinação de seu primeiro quadro. Aqueles
brotos não cresceram sem lodo. Davi não teria
paralelo em seus primeiros anos, quando
seguiu a Deus no deserto sob tentações e
provações, cheio de fé, amor, humildade,
quebrantamento de coração, zelo e carinho para
todas as ordenanças de Deus; todos os quais
eram eminentes nele. Mas, sua força é
prejudicada pela eficácia e engano do pecado,
suas fechaduras cortadas, e ele se torna uma
presa de velhos desejos e tentações. Nós temos
um exemplo notável, na maioria das igrejas que
nosso Salvador desperta para a consideração de
sua condição em Apocalipse. Podemos citar
uma delas.
Muitas coisas boas estavam ali na igreja de
Éfeso, Apocalipse 2: 2, 3, pelas quais é
grandemente elogiada, mas ainda é carregada
com uma decadência, uma declinação, uma
queda gradual e uma apostasia, versículos 4, 5:
"Abandonaste o teu primeiro amor. Lembra,
pois, de onde caístes, arrepender-te e faz as
primeiras obras".
Houve uma decadência, tanto interna no
coração quanto à fé, ao amor; e no exterior,
quanto à obediência e às obras, em comparação
47
com o que antes tinham vivido, pelo
testemunho do próprio Cristo.
O mesmo pode ser mostrado sobre o resto
dessas igrejas, exceto uma ou duas delas. Cinco
são acusadas de decadências e declínios.
Por isso, é mencionado na Escritura da "bondade
da juventude", e do "amor”, de acordo com o
grande elogio, Jeremias 2: 2, 3,
De nossa "primeira fé", 1 Timóteo 5:12,
Do "princípio da nossa confiança", Hebreus 3:14.
E somos advertidos que "não percamos as coisas
que alcançamos", 1 João 8.
Mas, por que precisamos que olhemos para trás,
ou procuremos instâncias para confirmar a
verdade dessa observação?
Uma declinação habitual dos primeiros
compromissos com Deus, desde as primeiras
conquistas de comunhão com Ele; de primeiro
rigor nos deveres de obediência, é comum entre
os professantes. Para isso, procuremos uma
visão geral dos professantes nessas condições,
entre os quais o melhor dos melhores de nós
será encontrado, em parte ou no todo, em um
tanto ou em tudo, pronto para cair - podemos
48
convencer-nos abundantemente da verdade
desta observação:
(1.) Seu zelo por Deus é caloroso, vivo, vigoroso,
eficaz, solícito, como foi em sua primeira
entrega a Deus? Ou melhor, não existe um
quadro de espírito comum, superficial e egoísta
na maioria dos professantes?
A iniquidade abundou, e seu amor esfriou. Não
era um fardo para seu espírito ouvir o nome,
maneiras, e adoração de Deus blasfemado e
profanado?
Não poderiam ter dito com o salmista, no
Salmos 119: 136: " Os meus olhos derramam rios
de lágrimas, porque os homens não guardam a
tua lei.?"
Não eram suas almas preocupadas com o
interesse de Cristo no mundo, como Eli era
sobre a arca?
Eles não lutavam fervorosamente pela fé, uma
vez entregue aos santos, e todas as suas partes,
especialmente em que a graça de Deus e a glória
do evangelho eram consideradas?
Eles não trabalharam para julgar e condenar o
mundo, por um comportamento santo e
separado?
49
E agora é observado, que a generalidade dos
professantes segue nesse quadro?
Eles cresceram e fizeram melhorias; ou não há
uma frieza e indiferença crescidas sobre os
espíritos de muitos nessa coisa?
Sim, muitos não desprezam todas essas coisas, e
consideram seu próprio zelo como loucura?
Não podemos ver muitos, que anteriormente
foram estimados em formas de profissão,
tornarem-se diariamente um desprezo e uma
censura por seus abortos espontâneos
semelhantemente aos homens do mundo?
Não é com eles como antigamente, com as filhas
de Sião, Isaías 3:24, quando Deus julgou-as por
seus pecados e desejos?
O mundo e o ego não destruíram sua profissão?
Eles não são independentes das coisas em que
anteriormente declararam um acordo singular?
Sim, não são alguns os que vêm, em parte em
uma pretensão, em parte sobre outra, para uma
inimizade aberta, e odiar os caminhos de Deus?
Não lhes agradam mais, porém são maus aos
seus olhos, mas para não mencionar esses
apóstatas abertos mais adiante, cuja hipocrisia o
Senhor Jesus Cristo julgará em breve?
50
Não são quase todos os homens crescidos e
frouxos quanto a essas coisas?
Eles não estão menos preocupados com elas do
que antigamente?
Eles não estão cansados, egoístas em sua
religião, e assim as coisas são indiferentes tanto
em casa, quanto no mundo exterior?
Pelo menos, eles não preferem sua facilidade,
crédito, segurança, vantagens seculares antes
dessas coisas?
Um quadro que Cristo abomina, e declara que
aqueles em quem prevalece não são dEle.
Alguns, de fato parecem manter um bom zelo
pela verdade, mas no que fazem a aparência
mais justa, neles serão considerados mais
abomináveis. Eles gritam contra erros; não pela
verdade, mas por causa do partido e dos
interesses. Deixe um homem estar em seu
partido e promova seu interesse, e seja nunca
tão corrupto em seu julgamento, então ele é
abraçado e pode ser admirado. Isso não é zelo
para Deus, mas para o próprio homem.
Não é "O zelo da tua casa me consumiu", mas
"Mestre, proíbe-os, porque não seguem
conosco".
51
Era melhor, sem dúvida, que os homens nunca
pretendessem nenhum zelo em tudo, além de
substituir esse egoísmo furioso.
(2). O prazer dos homens nas ordenanças e
adoração de Deus é o mesmo que antigamente?
Eles acham a mesma doçura e se deleitam nelas
como fizeram no passado?
Quão preciosa tem sido a palavra deles antes!
Que alegria e prazer eles tiveram em vigilância!
Como correram, para terem sido feitos
participantes disso, onde foi dispensado em seu
poder e pureza, na evidência e demonstração do
Espírito!
Eles não chamaram o domingo de dia deleitoso,
e não foi sua abordagem uma alegria real para
suas almas? E esse quadro ainda permanece
sobre eles? Não há decadências e declínios
encontrados entre eles?
Pode não ser dito: "Os cabelos grisalhos estão
aqui e ali sobre eles, e não o percebem?"
Sim, não são homens prontos para dizer com
aqueles do passado: "Eis aqui, que canseira!"
Malaquias 1:13.
É mesmo um fardo e um cansaço ter que ser
atado à observação de todas essas ordenanças. O
52
que precisamos que seja tão estrito na
observação do domingo?
O que precisamos ouvir com tanta frequência?
O que precisamos dessa distinção em audição da
Palavra?
Insensivelmente um grande desrespeito; sim,
até mesmo um desprezo sobre os caminhos
agradáveis e excelentes de Cristo e Seu
evangelho caiu sobre muitos professantes.
(3) Não pode ser feita a mesma convicção por
meio de uma indagação sobre o curso universal
de obediência e o desempenho de deveres em
que os homens estão envolvidos?
Existe a mesma ternura consciente para não
pecar, que permanece em muitos, como era
antigamente a mesma execução exata de
deveres privados, o mesmo amor aos irmãos, a
mesma disposição para a cruz, a mesma
humildade de espírito, a mesma abnegação?
O vapor das luxúrias dos homens, com o que o ar
está contaminado, não nos sofrerá para dizer.
Precisamos, então não avançar mais do que esta
geração miserável em que vivemos, para
evidenciar a verdade da observação
estabelecida como o fundamento da instância
53
insistida. Que o Senhor se arrependa de
executar o juízo, antes que seja tarde demais!
Agora, todas essas declinações, todas estas
decadências, que são encontradas em alguns
professantes; todas elas procedem dessa raiz e
causa - são todas produtos do pecado residente,
e todas demonstram o excesso de poder e
eficácia dele, para provar que não precisarei ir
mais longe do que a regra geral que, de Tiago já
consideramos, a saber, essa luxúria ou pecado
residente é a causa de todo pecado real, e todas
as declinações habituais nos crentes. Isto é o
que o apóstolo pretende ensinar e declarar
nesse lugar. Devo, portanto lidar com essas duas
coisas, e mostrar,
(1.) Que isso demonstra uma grande eficácia e
poder no pecado;
(2.) Declara os meios através dos quais traz ou
provoca esse efeito amaldiçoado; tudo em
desígnio do nosso fim geral, ao invocar e
advertir os crentes para evitá-lo, e se opor a ele.
1. Parece ser um trabalho de grande poder e
eficácia, a partir da disposição que é feita contra
ele, que prevalece. Existe na aliança da graça
uma abundante provisão feita, não só para a
prevenção de declínios e decadências nos
54
crentes, mas também pelo contínuo progresso
para a perfeição, como;
(1.) A palavra em si, e todas as ordenanças do
evangelho são nomeadas e dadas a nós para este
fim, Efésios 4: 11-15.
O que é o fim de dar aos oficiais do evangelho à
igreja, é o fim também, de dar todas as
ordenanças a serem administradas por eles,
pois são dadas "para o trabalho do ministério",
isto é, para a administração das ordenanças do
evangelho.
Agora, o que é ou o que isso aperfeiçoa?
Eles são todos para a prevenção de decadências
e declínios nos santos, tudo para levá-los à
perfeição, como é dito, no versículo 12. Em geral,
é para o "aperfeiçoamento dos santos",
concluindo a obra da graça neles, e a obra de
santidade e obediência por eles, ou para a
edificação do corpo de Cristo; sua construção
em aumento de fé e amor mesmo de todo
verdadeiro membro do corpo místico.
Mas, até onde eles são designados para carregá-
los assim, para edificá-los?
Isso tem um limite fixado ao seu trabalho? Isso
os leva até agora, e depois os deixa?
55
"Não", diz o apóstolo, versículo 13. A dispensação
da palavra do evangelho e suas ordenanças é
projetada para nossa ajuda, assistência e
adiantamento, até que toda a obra de fé e
obediência seja consumada. É nomeado para
aperfeiçoar e completar essa fé, conhecimento
e crescimento em graça e santidade, que nos é
atribuído neste mundo. Mas, como isto é feito se
as oposições e tentações estão no caminho, com
Satanás e seus instrumentos trabalhando com
grande sutileza e engano?
Porque, versículo 14, essas ordenanças são
projetadas para nossa salvaguarda e libertação
de todas as suas tentações e assaltos; que assim
sendo preservados em seu uso, ou que "falando
a verdade em amor, possamos crescer em todas
as coisas nAquele que é a cabeça, o próprio
Cristo Jesus".
Isto é em geral, o uso de todas as ordenanças do
evangelho, o principal fim para o qual foram
dadas e nomeadas por Deus, isto é, para
preservar os crentes de todas as decadências de
fé e obediência, e conduzi-los para a perfeição.
Estes são meios que Deus, o bom Agricultor usa
para fazer prosperar a videira e produzir frutos.
E eu também poderia manifestar o mesmo, com
o fim especial deles distintamente.
56
Resumidamente, a Palavra é leite e alimento
forte, para nutrir e fortalecer todos os tipos e os
graus dos crentes. Ela tem semente e água, para
torná-los frutíferos.
A ordenança da ceia é nomeada de propósito,
para fortalecer nossa fé, na lembrança da morte
do Senhor e no exercício do amor. A comunhão
dos santos é para edificar a fé, o amor e a
obediência.
(2). Há o que acrescenta peso a essa
consideração. Deus não nos deixa
despreocupados com essa assistência que nos
concedeu, mas está continuamente nos
chamando a fazer uso dos meios designados,
para alcançar o fim proposto. Ele nos mostra,
como o anjo mostrou a fonte de água para Agar.
Comandos, exortações, promessas, e ameaças
são multiplicados para este propósito; veja-os
resumidos, em Hebreus 2: 1. Ele nos diz
continuamente:
"Por que você deixará de se alimentar, por que se
amaldiçoará e decairá?
Venha para as pastagens previstas para você, e
sua alma viverá".
57
Se vemos um cordeiro correr do redil para a
região selvagem, não nos perguntamos se ele
corre o risco de ser devorado pelos animais
selvagens. Se vemos uma ovelha deixando suas
verdes pastagens e cursos de água, para
permanecer em regiões secas e áridas, não
consideramos nenhuma maravilha, nem nos
perguntamos mais se a encontraremos pronta
para perecer, mas se encontrarmos cordeiros
feridos no redil, nos perguntamos sobre a
ousadia e a raiva dos animais selvagens que os
atormentavam ali. Este é o pecado residente.
Tão surpreendentemente poderoso, tão
eficazmente venenoso, que pode trazer
levedura às almas dos homens em meio a todos
os preciosos meios de crescimento e
florescimento. Pode muito bem nos fazer
tremer, ver os homens que vivem sob o uso dos
meios do evangelho; a pregação, a oração, e a
administração dos sacramentos, e ainda se
tornarem mais frios todos os dias do que outros
em zelo por Deus, mais egoístas e mundanos,
mesmo habitualmente declinando quanto aos
graus de santidade que alcançaram.
(3.) Juntamente com a dispensação dos meios
externos de crescimento ou melhoria espiritual,
também há provisões de graça que os santos
têm de forma contínua, Cristo.
58
Ele é o chefe de todos os santos; é uma cabeça
viva, e assim, uma cabeça viva como Ele nos diz
que, "porque ele vive, também viveremos", João
14:19.
Ele comunica a vida espiritual a todos os que são
dEle. NEle está a fonte da nossa vida; que dela é
dito, estar "escondida com ele em Deus",
Colossenses 3: 3.
Esta vida Ele dá aos Seus santos, vivificando-os
pelo seu Espírito, Romanos 8:11; e continua com
os recursos da graça viva que lhes comunica.
É dito que Ele habita em nós; Gálatas 2:20: "vivo;
não mais eu, mas Cristo vive em mim";
"A vida espiritual que eu tenho não é minha, pois
não foi instruída nem é mantida por mim
mesmo, mas é meramente e unicamente a obra
de Cristo; de modo que não sou eu a vida, mas
Ele vive em mim, toda a minha vida sendo só
dEle."
Nem esta cabeça viva comunica apenas uma
vida aos crentes, para que apenas vivam não
mais uma vida pobre, fraca e moribunda, por
assim dizer; mas Ele dá o suficiente para dar-
lhes uma vida forte, vigorosa, próspera e
florescente, João 10:10.
59
Ele não vem, apenas para que Suas ovelhas
"possam ter vida", mas que "elas possam tê-la
com mais abundância"; isto é, de forma
abundante, para que possam florescer, ser
saudáveis e frutíferas.
Assim é com todo o corpo de Cristo; com todos
os membros.
Efésios 4:15, 16, "antes, seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que é a
cabeça, Cristo, do qual o corpo inteiro bem
ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas,
segundo a justa operação de cada parte, efetua o
seu crescimento para edificação de si mesmo
em amor."
O fim de todas as comunicações de graça e
suprimentos da vida, a partir desta cabeça viva e
abençoada é o aumento de todo o corpo, de cada
membro dele, e a edificação de si mesmo no
amor. Seus tesouros de graça são insondáveis;
Seus depósitos são inesgotáveis; Sua vida, a
nossa fonte, cheia e eterna; Seu coração
generoso e grande; Sua mão aberta e liberal, de
modo que não há dúvida, senão que Ele
comunica suprimentos de graça para o
aumento de santidade em abundância para
todos os Seus santos.
60
De onde então, é que nem todos eles prosperam
de acordo com isso?
Como você pode vê-lo muitas vezes em um
corpo natural, então o mesmo sucede aqui.
Embora o assento e a elevação do sangue e do
espírito, na cabeça e no coração sejam
excelentes e sadios, ainda pode haver um
membro murchando no corpo; um pouco
intercepta as influências da vida para isso, de
modo que, embora o coração e a cabeça
executem o seu ofício em dar não menos
recursos do que a qualquer outro membro,
contudo todo o efeito produzido é apenas para
mantê-lo em perdição absoluta, tornar-se fraco
e decair todos os dias.
A queda e decadência de qualquer membro no
corpo místico de Cristo, não é pela falta de Sua
comunicação de graça para uma vida
abundante, mas da intercepção poderosa que é
feita da sua eficácia, pela interposição e
oposição do pecado residente. Por isso, é aí que
a luxúria cresce forte. Muitas vezes, Cristo dá
muita graça, onde muitos dos seus efeitos não
aparecem. Ele gasta sua força e poder para
resistir aos contínuos assaltos de violentas
corrupções e desejos, de modo que não pode
apresentar suas virtudes adequadas para uma
maior fecundidade.
61
Como um remédio virtuoso, isso é adequado,
tanto para verificar os humores viciosos e
nocivos, quanto para confortar, refrescar e
fortalecer a natureza, se o temperamento for
forte e prevalecente, gasta toda a sua força e
virtude na subjugação e correção, contribuindo
muito menos para o abrandamento da natureza
do que de outra forma, se não se encontrar com
essa oposição; assim é com a graça de cura que
abundamos nas asas do Sol da Justiça.
É forçada, muitas vezes, a apresentar sua virtude
para se opor e contrariar, e em qualquer medida
subjugar desejos e corrupções prevalecentes.
Quão saudável, e florescente, quão frutífera e
exemplar em santidade, pode haver uma alma
com essa graça que é continuamente
comunicada a ela por Cristo, que agora, por
causa do poder do pecado interior, não está
apenas morta, mas fraca, murchando e inútil!
E isso, se é alguma coisa, é uma evidência
notável da eficácia do pecado residente, que é
capaz de dar tal parada ao poderoso e eficaz
poder da graça, de modo que, não obstante os
suprimentos abençoados e contínuos que
recebemos de nossa Cabeça, contudo muitos
crentes diminuem e se deterioram, e isso
habitualmente, quanto ao que alcançaram -
62
seus últimos modos não respondendo aos
primeiros deles. Isso torna a vinha na "colina
muito frutífera", para produzir tantas uvas
selvagens, e faz com que muitas árvores sejam
estéreis em campos férteis.
(4.) Além dos suprimentos contínuos de graça
que constantemente, de acordo com o mandato
da aliança são comunicados aos crentes, o que
os impede de não terem sede de indigência
total, há, além disso, uma disposição no Senhor
Jesus Cristo para dar um socorro peculiar às
suas almas, conforme suas ocasiões exigirão.
O apóstolo nos diz que ele é "um Sumo Sacerdote
misericordioso" e "capaz" (isto é, pronto,
preparado e disposto)" para socorrer os que são
tentados", Hebreus 2:18; e somos nessa conta
convidados a "vir com ousadia ao trono da graça,
para que possamos obter misericórdia e
encontrar a graça para ajudar em caso de
necessidade", isto é, graça suficiente, adequada
a qualquer provação especial, ou tentação que
possamos estar sofrendo.
O nosso Sumo Sacerdote misericordioso está
pronto para distribuir essa graça especial, além
das constantes comunicações dos suprimentos
do Espírito que mencionamos antes. Além das
fontes que jamais falham da graça comum da
63
aliança, Ele também tem dúzias refrescantes,
peculiares para períodos de seca; e isso é
extremamente vantajoso para os santos, para
sua preservação e crescimento na graça,
podendo ser adicionado muito mais.
Agora, eu digo, apesar de tudo isso, e o resíduo
da mesma importância; tal é o poder e a eficácia
do pecado residente, tão grande é o engano e a
inquietação, tantas são suas artimanhas e
tentações, que muitas vezes muitos deles caem.
Pelo crescimento e melhoria, toda essa provisão
é feita, mas ainda como foi mostrado recuam e
se recusam a permanecer na caminhada com
Deus.
A força de Sansão se evidenciou
completamente, quando ele partiu sete cordas
novas com as mãos, com as quais estava preso. O
humor nocivo no corpo, que é tão teimoso como
o fato de que nenhum recurso dos remédios
mais soberanos pode prevalecer contra ele,
deve ser considerado. Tal é o pecado que existe,
se não for vigiado. Quebra todas as cordas feitas
para amarrá-lo; isso desencadeia os
instrumentos designados para arrancá-lo, e
resiste a todos os medicamentos de cura,
embora nunca tão soberanos; e está, portanto
seguro de superar a eficácia.
64
Além disso, os crentes têm inúmeras
obrigações sobre eles, desde o amor, o
mandamento de Deus, crescer em graça, e
avançar para a perfeição, pois eles têm meios
abundantes para que o façam. O fato de ser
assim, é uma questão de grande vantagem,
lucro, doçura e satisfação para eles no mundo. É
o fardo, o problema das suas almas, que não o
fazem, que não são mais santos, mais zelosos,
úteis e frutíferos; eles o desejam acima da
própria vida.
Eles sabem que é seu dever vigiar contra esse
inimigo, lutar e orar contra ele; e assim eles
fazem. Eles desejam mais sua destruição, do que
o gozo de todo esse mundo e tudo o que o
dinheiro possa pagar. E, no entanto, apesar de
tudo isso, tal é a sutileza, a fraude, a violência, a
fúria, a urgência e a importunidade desse
adversário, que frequentemente prevalece para
trazê-los para a condição triste mencionada.
Os crentes têm um bom vendaval de
suprimentos do Espírito; eles atendem com
diligência, oram constantemente, ouvem
atentamente e não omitem nada que possa levá-
los à sua viagem para a eternidade, mas depois
de um tempo, levando a considerar seriamente
pelo exame de seus corações e maneiras sobre o
progresso que fizeram, eles acham que toda a
65
sua assistência e deveres não conseguiram
sustentá-los contra uma forte maré, ou corrente
de pecado residente.
Deus os guardou de fato, para que eles não
fossem conduzidos e divididos em rochas e
bancos de areia, os preservou de pecados
grosseiros e escandalosos, no entanto, eles
perderam sua boa condição espiritual, ou
voltaram atrás e estão enredados em muitas
decadências vorazes; que é uma evidência
notável da vida do pecado residente sobre o qual
estamos tratando.
Agora, porque o fim de nossa descoberta desse
poder do pecado é para que possamos ter
cuidado para evitá-lo em sua operação, e por
causa de todos os efeitos que produz, pois não há
situação mais perigosa ou perniciosa do que a
última insistida, ou seja, que prevalece sobre
muitos professantes para uma declinação
habitual de seus modos e conquistas anteriores,
apesar de toda a doçura e excelência que suas
almas encontraram. Devo, como foi dito, no
próximo lugar considerar de que jeito e meio, e
para fins de ajuda geralmente prevalece nesse
tipo, para que possamos instruir-nos melhor a
encarar isso.
Até aqui as sábias palavras de John Owen.
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Quão real e oportuna é esta palavra para que,
principalmente possamos entender qual é a
causa de tantos decaimentos na Igreja; por que
apesar de serem tantas as boas ministrações da
Palavra verdadeira, e as instruções ministeriais
para um viver santo, há todavia esta tendência
para não permanecer de pé, senão cair.
Muitos crentes estão caídos, pensando estarem
de pé, porque têm sido enganados por Satanás e
pelo pecado residente, que lhes impede de
fazerem progresso espiritual em uma
verdadeira santificação de suas vidas.
Somente uma verdadeira fidelidade, humildade
e diligência em se submeter a Cristo, à Palavra,
aos deveres ordenados, à congregação com os
santos no dia do Senhor, à vigilância, ao
arrependimento, à confissão podem garantir
uma permanência de pé, naqueles que nisto se
exercitam diariamente, carregando sua cruz e
negando o ego, para seguirem a Jesus.
Votos e compromissos temporários, não
garantirão a vitória sobre o pecado residente, e
muito menos contra Satanás. Somente um
exercício contínuo na piedade, na fidelidade aos
deveres ordenados, principalmente no que diz
respeito ao crescimento na comunhão da Igreja,
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podem levar a um viver verdadeiramente
piedoso e santo.