MOVIMENTOS DE ALCANCE DE INDIVÍDUOS PÓS ACIDENTE...

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1 CASSANDRA MENDES ASSUNÇÃO E SILVA MOVIMENTOS DE ALCANCE DE INDIVÍDUOS PÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: EFEITO DA COMPLEXIDADE DA TAREFA UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO 2012

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CASSANDRA MENDES ASSUNÇÃO E SILVA

MOVIMENTOS DE ALCANCE DE INDIVÍDUOS PÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: EFEITO DA COMPLEXIDADE DA TAREFA

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO

2012

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CASSANDRA MENDES ASSUNÇÃO E SILVA

MOVIMENTOS DE ALCANCE DE INDIVÍDUOS PÓS ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO: EFEITO DA COMPLEXIDADE DA TAREFA

Dissertação de mestrado apresentada à

Universidade Cidade de São Paulo, como

requisito para obtenção do título de

Mestre, sob orientação da Profa. Dra.

Sandra M. S. F. Freitas e co-orientação

da Profa. Dra. Sandra R. Alouche.

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO SÃO PAULO

2012

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Ficha elaborada pela Biblioteca Prof. Lúcio de Souza. UNICID

S586m

Silva, Cassandra Mendes Assunção e Movimentação de alcance de indivíduos pós acidente vascular encefálico: efeito da complexidade da tarefa / Cassandra Mendes Assunção e Silva --- São Paulo, 2012. 77 p.; anexos Bibliografia Dissertação (Mestrado) - Universidade Cidade de São Paulo. Orientadora Profa. Dra. Sandra M. S. F. Freitas e co-orientação da Profa. Dra. Sandra R. Alouche. 1. Acidente vascular encefálico. 2. Desempenho psicomotor. 3. Atividade motora. 4. Membro superior. I. Freitas, Sandra M. S. F. II. Alouche, Sandra R.. III.Titulo.

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BANCA EXAMINADORA: Profa. Dra. Sandra M. S. F. Freitas _________________________________ Universidade Cidade de São Paulo

Profa. Dra. Mariana Callil Voos _________________________________ Universidade de São Paulo

Profa. Dra. Rosimeire Simprini Padula _________________________________ Universidade Cidade de São Paulo

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter ouvido minhas orações e ter me concedido paciência sempre que as

dificuldades surgiam. Por sempre me provar que com fé ultrapassamos todas as

barreiras.

À minha família, pelo amor incondicional. Em especial à minha mãe, pelo exemplo

de garra e honestidade, pelo incentivo e apoio, por muitas vezes ter deixado de

realizar seus sonhos para realizar os meus e por ter sempre comemorado comigo as

minhas vitórias. Ao meu pai, por desde cedo ter me ensinado que o estudo e o

trabalho são as maneiras mais dignas de se conseguir o que quer. Aos meus três

irmãos e ao sobrinho, que direta ou indiretamente estiveram presentes em todos os

momentos de minha vida, sempre mostrando que a família possui um valor

incalculável. À Fátima, minha eterna babá, pelo zelo e pela preocupação comigo e

com meus irmãos.

À minha orientadora Sandra Freitas, um exemplo de sabedoria, competência e

determinação. Agradeço pelos ensinamentos, companheirismo, carinho, paciência,

incentivo e principalmente, pela confiança e credibilidade. Em meio muitas

dificuldades, ela acreditou que chegaríamos aqui. Tenho certeza que me será

bastante útil o muito que aprendi com ela.

À minha co-orientadora Sandra Alouche, pela acessibilidade, pelo amparo, pela

humildade e prazer com o qual nos transmite seus saberes. Sua contribuição e

apoio foram imprescindíveis para que nosso trabalho se tornasse grandioso.

Aos verdadeiros mestres e doutores do curso de mestrado em Fisioterapia da

UNICID, sempre dispostos a nos passar além de conhecimentos científicos, os

verdadeiros valores desta tão desejada profissão.

À banca de qualificação, pelas críticas e sugestões fornecidas que foram de grande

relevância.

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Às minhas companheiras de apartamento, com as quais dividi momentos de

felicidade e de dificuldades, mas também de muito aprendizado. Em especial, à

minha grande amiga Paola, pela ajuda dada durante o desenvolvimento deste

trabalho que foi fundamental para a concretização de mais um ciclo importante da

minha vida.

Aos participantes voluntários, que nos cederam parte de seu tempo para contribuir

com o nosso trabalho. Sem a colaboração deles, nada disso seria possível.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ................................................................................................. ix

LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... x

LISTA DE ANEXOS ................................................................................................... xi

RESUMO................................................................................................................... xii

ABSTRACT .............................................................................................................. xiii

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 16

2.1 Objetivo geral ................................................................................................... 16

2.2 Objetivos específicos e hipóteses .................................................................... 16

3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 18

4 MÉTODOS ............................................................................................................. 29

4.1 Tipo de pesquisa e local de realização da pesquisa ........................................ 29

4.2 Participantes .................................................................................................... 29

4.3 Critérios de inclusão ......................................................................................... 29

4.4 Critérios de exclusão ........................................................................................ 30

4.5 Instrumentos e procedimentos ......................................................................... 30

4.6 Tarefas ............................................................................................................. 32

4.7 Processamento e análise dos dados ............................................................... 34

4.8 Análise estatística ............................................................................................ 36

5 RESULTADOS ....................................................................................................... 38

5.1 Participantes .................................................................................................... 38

5.2 Variáveis Dependentes .................................................................................... 38

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 60

8 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 62

ANEXOS ................................................................................................................... 67

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação do aparato experimental e da posição do participante durante as tarefas. .................................................................................................... 31

Figura 2: Representação dos alvos A, B e C (círculos em cinza escuro) e do ponto inicial (círculos em branco, P.I.). Figura 2-I: As setas indicam as possibilidades de aparecimento do estímulo em cada direção do movimento (à esquerda, alvo A ou à direita, alvo C, da posição inicial). Figura 2-II: As setas indicam as possibilidades de aparecimento do estímulo da sequência dos alvos (A����B ou C����B) a ser percorrida. Figura 2-III: As setas indicam as possibilidades de aparecimento do estímulo da sequência dos alvos (A����B����C����A ou C����B����A����C) a ser percorrida pelos 4 segmentos de movimento (iniciando à esquerda em A ou à direita em C). .............. 32

Figura 3: Linha do tempo com os eventos que ocorreram em cada tentativa. O tempo de apresentação do alvo ou sequência dependeu do número de alvos a serem alcançados (1, 2 ou 4 alvos, respectivamente, 200, 700 e 1700 ms), sendo que o estímulo imperativo ocorreu 300 ms após a apresentação do(s) alvo(s). ................. 34

Figura 4: Perfil hipotético da série temporal da velocidade da ponteira para as tarefas MD com apenas um segmento (I); MS2 (II) com dois segmentos e MS4 com quatro segmentos (III). As linhas verticais tracejadas indicam o início e o término de cada segmento (Segm). ..................................................................................................... 35

Figura 5: Trajetórias da ponteira, de três participantes representativos, sendo um de cada grupo, de cada tarefa: movimento discreto (MD, em I) e movimento sequencial com dois (MS2, em II) e quatro (MS4, em III) alvos. ................................................. 39

Figura 6: Valores médios de unidades de movimento (em I, UM1) e erro variável (em II, EV1) de cada condição de direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro representam os valores do erro padrão. ................................................................... 41

Figura 7: Valores médios de tempo de reação (TR) para cada direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro indicam valores do erro padrão. ................................................... 42

Figura 8: Valores médios do tempo para o pico de velocidade (TPV1) em cada condição de direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro representam os valores do erro padrão. ............................................................................................................... 43

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Figura 9: Valores médios do primeiro pico de velocidade (PV1) para cada direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) dos grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro indicam valores do erro padrão. .............................. 45

Figura 10: Valores médios do tempo de movimento (TM) e do primeiro segmento do movimento (TSM1) para cada direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) dos grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). TM total para as tarefas MS2 e MS4 são apresentados nas barras em cinza claro. As barras de erro representam os valores do erro padrão. ............................................................................................. 46

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Caracterização dos participantes do estudo (média e desvio padrão, em parênteses). .............................................................................................................. 38

Tabela 2: Valores médios (± erro padrão) da relação TPV1/TSM1 em cada condição de direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os quatro grupos. ........................................................................................................... 44

Tabela 3: Resumo dos resultados da análise estatística realizada para as variáveis dependentes comparando os grupos (AVED vs. CD; AVEE vs. CE e AVED vs. AVEE), direção (ipsilateral vs. contralateral) e complexidade (MD, MS2 e MS4). ..... 47

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LISTA DE ABREVIATURAS

AVE: Acidente vascular encefálico

AVED: Acidente vascular encefálico em hemisfério direito

AVEE: Acidente vascular encefálico em hemisfério esquerdo

ANOVA: Análise de variância

CD: Controle com membro superior direito

CE: Controle com membro superior esquerdo

EV1: Erro variável resultante do primeiro segmento

Kgf: quilogramas-força

LAM: Laboratório de análise do movimento

MEEM: Mini exame de estado mental

MD: Movimento discreto

MS2: Movimento seqüencial com dois segmentos

MS4: movimento seqüencial com quatro segmentos

PV: Pico de velocidade

PV1: Primeiro pico de velocidade

SNC: Sistema nervoso central

TM: Tempo de movimento

TPV: Tempo para o pico de velocidade

TPV1: Tempo para o primeiro pico de velocidade

TR: Tempo de reação

TSM1: Tempo do primeiro segmento

UM: Unidades de movimento

UM1: Unidades de movimento do primeiro segmento

UNICID: Universidade cidade de São Paulo

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA .......................... 68

ANEXO 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................... 69

ANEXO 3: FICHA DE TRIAGEM ............................................................................... 71

ANEXO 4: TESTE DE DOMINÂNCIA MOTORA MANUAL (Oldfield 1971) .............. 73

ANEXO 5: MINI-EXAME DE ESTADO MENTAL (MEEM) ........................................ 74

ANEXO 6: ESCALA DE FULG-MEYER .................................................................... 75

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RESUMO

Indivíduos que sofreram um Acidente Vascular Encefálico (AVE) apresentam

déficits motores no membro superior ipsilesional que dependem do lado da lesão

encefálica e afetam o desempenho na execução das atividades da vida diária, em

particular, em tarefas mais complexas realizadas em direções espaciais diferentes.

O objetivo do presente estudo foi avaliar e comparar o desempenho dos movimentos

do membro superior, discretos e sequenciais, de indivíduos sadios e indivíduos que

sofreram um AVE à direita ou à esquerda. Trinta indivíduos, sendo 10 pós AVE à

direita (AVED) e 10 pós AVE à esquerda (AVEE) usando o membro superior

ipsilesional, e 10 indivíduos sadios, destros, usando os membros superiores direito e

esquerdo executaram movimentos direcionados a alvos com uma ponteira em

contato com uma mesa digitalizadora em duas condições da tarefa: direção do

movimento (ipsilateral ou contralateral ao membro que se movia) e complexidade da

tarefa (movimento discreto com um segmento, MD e movimentos sequenciais com

dois ou quatro segmentos, respectivamente, MS2 ou MS4). As variáveis

dependentes avaliadas foram relacionadas ao planejamento motor (tempo de reação

e tempo para alcançar o primeiro pico de velocidade) e execução (tempo de

movimento, tempo do primeiro segmento do movimento, pico de velocidade, unidade

de movimento, e erro variável). Os resultados indicaram que ambos os grupos de

AVE apresentaram movimentos menos suaves do que os indivíduos sadios. No

entanto, comparado ao grupo de indivíduos sadios, o grupo AVED apresentou maior

tempo de reação e erro variável; enquanto os indivíduos do grupo AVEE precisaram

de um tempo maior para alcançar o pico de velocidade e completar as tarefas. Em

geral, os efeitos da complexidade da tarefa e direção do movimento foram

observados para todas as variáveis com poucas exceções, sendo que alguns efeitos

de direção foram dependentes da complexidade da tarefa. Esses achados

confirmaram a existência de uma especialização hemisférica sobre os movimentos

de alcance e indicam que a especialização é dependente da complexidade da tarefa.

Palavras-chave: lateralidade funcional, membro superior, acidente vascular cerebral,

atividade motora, desempenho sensório-motor

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ABSTRACT

Individuals with a cerebrovascular accident (CVA) exhibit several motor

deficits in the ipsilesional upper limb which depend on the side of their brain lesion

and affect their performance of daily living activities, in particular, when performing

more complex tasks in different spatial directions. The aim of the present study was

to assess and compare the performance of upper limb movements, discrete and

sequential, of healthy individuals and individuals who suffered a right or left CVA.

Thirty individuals, where ten suffered a lesion on the right hemisphere (RCVA) and

10 on the left hemisphere (LCVA), using their ipsilesional arms, and 10 right-handed

healthy individuals, with either arm, performed the aiming movements toward a target

with a stylus in contact with a digitizing tablet under two task conditions: movement

direction (ipsilateral or contralateral to the moving limb) and task complexity (discrete

movement with one segment, DM and sequential movements with two or four

segments, respectively, SM2 and SM4). The assessed dependent variables were

related to the motor planning (reaction time and time to reach the first peak velocity)

and execution (movement time, time of first segment of the task, peak velocity,

movement unity, and variable error). The results indicated that both CVA groups

exhibit less smooth movements than healthy individuals. However, the RCVA group

showed greater reaction time and variable error compared to healthy individuals

while the LCVA group need more time to reach the peak velocity and to complete the

tasks. In general, the task complexity and movement direction effects were observed

for all variables with few exceptions, where some effects depended on the task

complexity. These findings confirmed a hemisphere specialization on the aim

movements and indicated that the specialization is dependent on the task complexity.

Keywords: functional laterality, upper limb, stroke, motor activity, psychomotor

performance

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1 INTRODUÇÃO

O acidente vascular encefálico (AVE) é definido como comprometimento

neurológico focal (ou, às vezes, global), de ocorrência súbita e origem vascular,

cujos sinais e sintomas persistem após 24 horas (ou causam morte) [definição

padrão recomendada pela Organização Mundial de Saúde1]. A interrupção do

fornecimento de sangue para o cérebro pode ser resultante tanto da ruptura (AVE

hemorrágico) como da obstrução (AVE isquêmico) de um vaso sanguíneo, este

último ocorrendo em torno de 87% dos casos2. O AVE é a terceira maior causa de

morte no mundo, estando atrás somente das doenças coronárias e do câncer3. Com

base nas informações do DataSus, de 2005 a 2009 registraram-se no Brasil cerca

de 170.000 internações por AVE/ano, com um percentual de óbitos em torno de

17%4.

O período de tempo necessário para um indivíduo se recuperar de um AVE

depende da sua gravidade e grande parte dos sobreviventes fica com

comprometimentos físicos, cognitivos e psicológicos residuais5. Indivíduos com

comprometimentos motores maiores pós AVE apresentam grande melhora nos

primeiros seis meses após a lesão encefálica, no entanto, depois desse período

essas progressões são mais discretas. Já indivíduos com déficits motores menores

após o AVE evoluem com uma discreta melhora da função motora que pode ser

observada até os 12 meses após a lesão. Apesar da grande melhora ocorrida nos

indivíduos pós AVE mais grave, sua função motora não chega a ser semelhante à

de indivíduos que desde a fase aguda pós AVE já apresentavam menos

comprometimento motor quando avaliado pela escala de Fugl-Meyer6. Apesar de

haver uma melhora da independência funcional para realização de atividades de

vida diária, do primeiro ao terceiro mês após o AVE7, dados revelam que entre os

sobreviventes de AVE isquêmico com idade em torno de 65 anos, 50% apresentam

alguma hemiparesia contralesional e 26% ainda são dependentes nas atividades

cotidianas após seis meses do episódio de AVE2. De fato, uma série de alterações

pode ser observada após a ocorrência do AVE, tais como, redução na coordenação

motora8-10, na força muscular11, 12 e lentidão na execução dos movimentos12-15.

Muitos estudos sobre a função do membro superior em indivíduos que

sofreram AVE abordam os comprometimentos motores presentes no membro

contralesional já que estes se apresentam de forma mais evidente8, 12, 16. No entanto,

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acometimentos motores também estão presentes no membro ipsilesional após o

AVE17-20 mesmo quando o membro superior contralesional apresenta mínimo

comprometimento21. Por exemplo, os comprometimentos motores encontrados no

membro ipisilesional têm sido associados com baixo desempenho do membro ao

realizar tarefas funcionais22. Tal resultado tem implicações importantes, visto que, os

indivíduos que sofreram AVE usam o membro ipsilesional de 3 a 6 vezes mais do

que o membro contralesional nas atividades de vida diária23. Outro fator importante

relacionado ao acometimento em diferentes aspectos dos movimentos dos membros

superiores é se ele estaria associado ao hemisfério lesion. Os estudos investigando

tal associação têm sugerido a existência de especialização hemisférica no

planejamento e execução dos movimentos de alcance de indivíduos que sofreram

AVE17, 18, 20, 22, 24.

No entanto, a maioria dos estudos sobre o desempenho na execução dos

movimentos do membro superior destes indivíduos investigou tarefas que

envolveram apenas movimentos de alcance discretos17, 18, 22, 24. Por outro lado,

muitas atividades da vida diária requerem uma sequência de movimentos, tais como

alcançar um objeto, pegá-lo e transportá-lo para outra posição, e poucos estudos

sobre tarefas envolvendo movimentos sequenciais têm sido feitos25, 26.

Assim, o presente estudo espera contribuir com o entendimento de como o

aumento na complexidade dos movimentos sequenciais afeta o desempenho de

indivíduos sadios e que sofreram AVE e se tal efeito depende do lado da lesão

cerebral. Para tanto, serão investigadas características relacionadas ao

planejamento (i.e., tempo de reação e tempo para o primeiro pico de velocidade) e à

execução (i.e., tempo de movimento total, tempo do primeiro segmento, unidades de

movimento da trajetória, pico de velocidade e erro variável) dos movimentos de

alcance discretos e sequencias de indivíduos pós AVE no hemisfério direito (AVED)

ou no hemisfério esquerdo (AVEE) e compará-las com as de indivíduos sadios.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar o desempenho do membro superior na realização de movimentos de

alcance de indivíduos sadios e indivíduos que sofreram um AVE em função do lado

da lesão cerebral, da complexidade da tarefa e da direção do alvo.

2.2 Objetivos específicos e hipóteses

Objetivo I: Comparar as características dos movimentos relacionadas ao

planejamento e à execução dos movimentos de alcance do membro ipsilesional

realizados por indivíduos que sofreram um AVE no hemisfério direito (AVED) com os

movimentos realizados com o membro direito por indivíduos sadios (controle direito,

CD), em diferentes condições de complexidade das tarefas e direção dos alvos.

Hipótese I: Indivíduos pós AVED apresentarão maiores déficits no

planejamento e na execução dos movimentos comparado aos indivíduos sadios

realizando o movimento com o membro superior direito. As diferenças serão mais

evidentes quando realizando movimentos para alvos contralaterais à lesão cerebral

e com o aumento da complexidade das tarefas (ou seja, com 2 ou 4 segmentos). Em

particular, AVED apresentarão um tempo de reação maior e mais erros na posição

final da mão.

Objetivo II: Comparar as características relacionadas ao planejamento e à

execução dos movimentos de alcance do membro ipsilesional realizados por

indivíduos que sofreram um AVE no hemisfério esquerdo (AVEE) com os

movimentos realizados com o membro esquerdo por indivíduos sadios (controle

esquerdo, CE), em diferentes condições de complexidade das tarefas e direção dos

alvos.

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Hipótese II: Indivíduos pós AVEE apresentarão maiores déficits na execução

do movimento (tempo de movimento maior, pico de velocidade menor, mais

unidades de movimento na trajetória além do maior tempo do pico de velocidade) do

que indivíduos sadios realizando o movimento com o membro superior esquerdo,

principalmente nas tarefas mais complexas (com 2 ou 4 segmentos) e para

movimentos para alvos localizados na direção contralateral ao membro que está

realizando a tarefa.

Objetivo III: Comparar as características temporais e espaciais relacionadas

ao planejamento e à execução dos movimentos de alcance do membro ipsilesional

realizados por indivíduos que sofreram um AVE no hemisfério esquerdo (AVEE) com

os indivíduos que sofreram um AVE no hemisfério direito (AVED), em diferentes

condições de complexidade das tarefas e direção dos alvos.

Hipótese III: os indivíduos pós AVEE apresentarão tempo de movimento

maior, pico de velocidade menor e tempo para o pico de velocidade maior que os

indivíduos pós AVED. Por outro lado, os indivíduos pós AVED apresentarão maior

tempo de reação e maior erro variável que serão ainda mais proeminentes nos

movimentos mais complexos (com 2 ou 4 segmentos) e para alvos localizados na

direção contralateral ao membro que está realizando a tarefa.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

Planejamento e execução dos movimentos de alcance dos membros

superiores em indivíduos sadios

O membro superior é importante para a execução de várias atividades

cotidianas sejam elas relacionadas às tarefas domésticas, de trabalho ou lazer

como, por exemplo, alcançar objetos, cozinhar e alimentar-se, vestir-se, realizar

higiene pessoal (tal como escovar os dentes e pentear cabelos), dirigir um

automóvel, arremessar uma bola dentre inúmeras outras. Alterações no

desempenho dos movimentos com o membro superior podem levar à incapacidade

para manter um estilo de vida independente.

O movimento de alcance realizado com o membro superior pode ser definido

como o posicionamento voluntário da mão em um determinado local desejado. Tal

movimento requer a coordenação de várias articulações e envolve tanto um

planejamento e controle preciso do sistema nervoso central (SNC) como adequado

funcionamento do sistema músculo-esquelético, sensorial e de processos

cognitivos25-27 para sua execução. O planejamento dos movimentos de alcance pode

ser definido como a seleção e organização de comandos neurais para geração de

respostas motoras que dependem das características do ambiente, da experiência

prévia com a tarefa, e dos objetivos da tarefa28. Durante esta seleção, as

características do alvo a ser alcançado, como o tamanho e a localização espacial,

devem ser levadas em consideração para que as estratégias de movimento sejam

determinadas adequadamente, tais como, quais movimentos articulares serão

necessários, quais músculos serão ativados e em qual velocidade os movimentos

serão executados29-31. Além disso, a organização central das funções da

extremidade superior é influenciada por outros fatores como a complexidade da

tarefa32.

O planejamento dos movimentos de alcance tem sido investigado pela

medida do tempo de reação (TR) que indica o tempo gasto para o processamento

da resposta antes do seu início. Assim, o TR é o intervalo de tempo entre o

momento em que um estímulo é apresentado e o início da resposta do indivíduo a

esse estímulo. Estudos têm relatado diferenças no TR quando os movimentos são

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realizados com o membro superior direito ou esquerdo, sendo que um menor TR foi

observado quando indivíduos sadios, destros, realizaram movimentos com o

membro superior esquerdo comparado ao membro direito33, 34. Essa diferença no TR

com a dominância manual sugere que pode existir um papel fundamental do

hemisfério direito no planejamento dos movimentos dos membros superiores. No

entanto, um estudo realizado por Carson et al.35, a vantagem da mão esquerda em

relação à direita para o TR, só foi observada quando as informações dadas

previamente ao estímulo indicavam apenas as possíveis localizações de

aparecimento do alvo. No entanto, quando a posição do alvo a ser alcançado era

conhecida previamente, não houve diferença no TR entre as duas mãos. Já no

estudo realizado por Mieschke e Elliott36 foi observado que a vantagem da mão

esquerda comparada à direita para o TR só ocorreu quando os movimentos eram

realizados para alvos localizados em hemispaço esquerdo. Além da assimetria

manual no TR não ter sido observada para movimentos realizados para alvo

localizado no hemispaço direito, ela também não dependeu do tipo das informações

prévias dadas sobre a localização do alvo. Juntos, os resultados desses estudos

propõem que a assimetria manual/hemisférica para o planejamento motor pode ser

dependente também das características da tarefa tal como a localização espacial do

alvo.

Outra medida que também poderia ser utilizada para investigar o

planejamento dos movimentos de alcance é o tempo para alcançar o pico de

velocidade (TPV) da trajetória da mão em direção ao alvo. Em geral, o TPV é

considerado ser muito curto para que correções ocorram e, portanto, as

características espaciais e temporais ocorridas neste período seriam relacionadas

apenas ao planejamento motor37. Assim, qualquer efeito sobre o TPV estaria

relacionado ao planejamento motor. Sendo assim, alterações tanto em TR como em

TPV em função das características da tarefa, tais como o número de alvos a ser

alcançado38 e a localização espacial de cada alvo34, 36 e do membro superior

utilizado para realizar os movimentos poderiam sugerir uma especialização de cada

hemisfério no planejamento motor.

A execução do movimento do membro superior abrange todos os eventos que

ocorrem após o seu início e pode ser avaliada pela quantificação de uma série de

medidas temporais e espaciais da trajetória da mão, tais como, o tempo de

movimento (TM), o pico de velocidade (PV), o número de unidades de movimento

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20

(UM) e a precisão da posição final da mão. O TM é o intervalo de tempo entre o

início e o final do movimento que inclui a execução da resposta motora inicial em

direção ao alvo e possíveis correções dessa resposta a fim de obter maior precisão

na posição final da mão no alvo. A medida do PV fornece informações sobre as

características temporais e espaciais dos movimentos da mão. O PV é definido

como a velocidade máxima alcançada pelo indivíduo durante o movimento. De fato,

os movimentos discretos de alcance dos indivíduos sadios realizados de uma

posição inicial para um único alvo tendem a apresentar trajetórias da mão com perfis

de velocidade em formato de sino, com um pico de velocidade bem definido.

Estudos têm mostrado que essas duas medidas, TM e PV, são influenciadas pelas

características da tarefa, tal como tamanho e distância do alvo31, 36, 39 ou orientação

espacial do alvo33, 34.

Outra forma de se avaliar o desempenho na tarefa é verificar a precisão na

posição final da mão medida pelo erro variável (EV), que informa o quanto a posição

da mão nos movimentos em direção ao mesmo alvo variou entre as tentativas em

relação à posição média. Um menor EV indica que a posição final da mão foi similar

entre as diferentes tentativas realizadas para a mesma localização espacial. Para

realizar os movimentos com maior precisão é possível que correções sejam

necessárias durante a trajetória da mão em direção ao alvo. Uma forma de

investigar essas correções é pelo número de unidades de movimento (UM, também

chamada de submovimentos) apresentadas na trajetória, onde menores valores de

UM indicam que menos correções foram feitas e, portanto, a trajetória da mão de

uma posição a outra foi mais suave. A UM pode ser avaliada verificando o número

de vezes que a série temporal da aceleração muda de direção (de positiva para

negativa e vice-versa cruzando zero). Juntas, estas medidas relacionadas à

execução do movimento, o TR e o TPV podem descrever características importantes

do desempenho nos movimentos de alcance em diferentes condições de

complexidade determinadas pela direção do alvo22, 30, 33, 34, tamanho do alvo32, 39, 40 e

o número de alvos a serem alcançados32, 41-43. Por exemplo, Fitts39 observou que o

TM gasto pelos indivíduos para alcançar, o mais rápido e acurado possível, dois

alvos de mesma largura, foi maior para alvos mais distantes. Com base neste

estudo, uma relação formal entre a velocidade e a acurácia na execução dos

movimentos foi estabelecida. Mais tarde, essa relação inicialmente proposta para

movimentos contínuos também foi observada em movimentos discretos44.

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21

Outro fator que também tem sido investigado sobre sua interferência nos

movimentos de alcance é a direção dos alvos em relação à posição da mão.

Movimentos realizados para alvos posicionados ipsilateral à mão que está movendo

são realizados mais rapidamente do que os movimentos para alvos contralaterais33,

34, 36. Isso parece ser devido à maior inércia ao longo do eixo do antebraço para

movimentos contralaterais30. Além disso, movimentos para alvos contralaterais

envolvem maiores amplitudes de movimento do ombro e do cotovelo, quando

comparado a movimentos ipsilaterais, os quais exigem principalmente amplitudes de

movimento maiores da articulação do cotovelo45, 46. Assim, tanto as características

do alvo (i.e., tamanho e localização espacial) como o número de alvos podem

determinar a complexidade da tarefa e influenciar o desempenho dos movimentos

de alcance.

Interessantemente, essas características do alvo também contribuem no

entendimento da assimetria manual, uma vez que influenciam diferentemente o

planejamento e controle dos movimentos em função da mão que está realizando os

movimentos. De fato, um modelo de Dominância Dinâmica propõe diferenças no

desempenho entre o membro superior direito (dominante) e esquerdo (não

dominante) em pessoas destras e sadias47. Baseado nesse modelo, o hemisfério

esquerdo (dominante) seria especializado no controle da trajetória enquanto o

hemisfério direito (não dominante) no controle da posição final da mão no alvo47, 48.

De fato, estudos têm descrito que o hemisfério direito é responsável pelo

processamento dos aspectos espaciais do alvo enquanto o hemisfério esquerdo

seria responsável pelo controle dos movimentos49. Sendo assim, com base na

existência de uma especialização hemisférica sobre o planejamento e controle dos

movimentos, é possível sugerir que indivíduos que sofreram AVE unilateral poderão

apresentar diferentes comprometimentos motores ao realizarem movimentos de

alcance em função do hemisfério acometido pela lesão encefálica. Os efeitos da

complexidade da tarefa e da ocorrência da lesão encefálica no planejamento e

execução dos movimentos de alcance serão apresentados separadamente.

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22

Efeito da complexidade da tarefa no planejamento e execução dos

movimentos de alcance

Os movimentos de alcance podem ser classificados em discretos, sequenciais

ou contínuos50. Os movimentos discretos, em geral, são movimentos muito rápidos e

apresentam um início e término bem definidos. Os movimentos sequenciais

consistem numa série de movimentos discretos (que denominaremos no presente

estudo de segmentos de uma tarefa) que formam ações mais complexas, sendo a

ordem dos segmentos, de alguma forma, crucial para o sucesso na tarefa. Em geral,

estes movimentos requerem um tempo maior apesar dos segmentos poderem ainda

apresentar início e término bem definidos. Por fim, os movimentos contínuos são

movimentos organizados de forma que a ação ocorre sem início e término

identificáveis uma vez que os movimentos são realizados de uma forma continua e

repetitiva.

Muitos estudos têm verificado o efeito da complexidade da tarefa por

comparações entre movimentos discretos e sequenciais. Em geral, um tempo maior

é necessário para iniciar os movimentos (isto é, o TR é maior) com o aumento no

número de segmentos na tarefa38, 51. Este aumento em TR estaria diretamente

relacionado ao número de operações neurais envolvidas; isto é, respostas às tarefas

mais complexas, requerem um tempo maior para o planejamento do que respostas

às tarefas mais simples. Sendo assim, movimentos de alcance discretos, ou seja,

direcionados à apenas um alvo, requerem um tempo de planejamento menor

quando comparado a movimentos sequenciais, porque esses últimos necessitam

alcançar mais de um alvo e então, exigem maior processamento de informações

(como a posição espacial de cada alvo) antes de iniciar o movimento. Herbort e Butz

(2009)42 analisaram se indivíduos sadios eram capazes de planejar

antecipadamente o segundo alvo de uma sequência de movimento com dois

segmentos, quando informações da localização do primeiro alvo não estavam

disponíveis. Nesse estudo, os autores compararam três condições nas quais a)

apenas a localização do primeiro alvo era conhecida; b) apenas a localização do

segundo alvo era conhecida e, c) os indivíduos não tinham informação da

localização de nenhum dos dois alvos. Com base nos resultados de que um menor

TR foi observado apenas na condição em que a informação do segundo alvo era

disponível em relação à condição não qual não havia informação nenhuma, os

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autores concluíram que é possível planejar o segundo segmento de uma sequência

com dois alvos mesmo que nenhuma informação do primeiro alvo seja fornecida.

Por outro lado, estudos em que a posição dos alvos é bem conhecida previamente

têm mostrado que o TR aumenta para tarefas mais complexas, ou seja, o TR é

maior para tarefas com maior número de segmentos ou número de alvos a serem

alcançados durante as tarefas. No entanto, é importante ressaltar que esse aumento

em TR com a complexidade da tarefa apresenta um limite superior definindo o

número de segmentos do movimento que podem ser planejados previamente38, 51.

Esse limite superior é visto quando o TR não é afetado pelo número de segmentos e

ocorre para indivíduos jovens e sadios quando a tarefa envolve mais que sete

alvos38, 51, enquanto para indivíduos idosos e portadores da doença de Parkinson

esse limite é menor51.

Os movimentos sequenciais, como esperado, também seriam executados

com um TM maior do que movimentos discretos, já que mais alvos deveriam ser

alcançados. Christe et al.32 em seu estudo investigaram movimentos discretos com

diferentes requerimentos de velocidade e acurácia e movimentos envolvendo uma

sequência pré-definida com velocidade máxima utilizando o mesmo paradigma

usado por Fitts39. No estudo, participantes foram solicitados a realizarem os

movimentos com uma ponteira numa mesa digitalizadora entre dois alvos de

diferentes distâncias. Na condição onde foi requerida velocidade e acurácia máxima,

o TM aumentou linearmente com o aumento da distância do alvo, consistente com

os achados de Fitts39. Já os movimentos sequenciais, teoricamente considerados

movimentos mais complexos, foram realizados com TM maiores quando

comparados aos movimentos discretos de máxima velocidade. Por outro lado, nesta

condição de movimentos sequenciais, o EV foi consideravelmente menor comparado

às outras condições de movimentos discretos. Dessa forma, os movimentos

sequenciais parecem levar um tempo maior para serem realizados, porém

apresentam menor variabilidade na posição final da mão. Esses dois resultados

parecem estar relacionados, uma vez que a menor variabilidade na posição final da

mão pode ter ocorrido devido à maior lentidão do movimento, já que houve um maior

tempo para que ocorressem correções durante o curso do movimento43. No entanto,

não se sabe se características semelhantes a essas, de planejamento e execução

do movimento, em função da complexidade da tarefa, seriam encontradas nos

movimentos de indivíduos que sofreram um AVE.

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24

Planejamento e execução dos movimentos de alcance em indivíduos

que sofreram um AVE

Estudos sobre o planejamento e execução dos movimentos de alcance de

indivíduos que sofreram AVE têm sido feitos para avaliar o desempenho do membro

superior na realização de movimentos discretos8, 13, 27 e sequenciais26, 52. A análise

do número de UM, do TM e do PV tem sido sugerida ser fundamental para

diferenciar o desempenho do movimento do membro superior contralesional de

indivíduos com moderado ou leve comprometimento motor e indivíduos sadios25.

Quando comparados aos movimentos de indivíduos sadios, os movimentos de

alcance realizados pelo braço contralesional de indivíduos que tiveram AVE,

geralmente, são mais lentos11-13, 25, demoram mais tempo para atingir o PV12, 25 e

apresentam mais UM8, 25, 53. Além disso, geralmente, os movimentos são menos

precisos ao final do movimento12. Apesar das diferenças nas características dos

movimentos de alcance quando comparadas aos de indivíduos sadios, os indivíduos

que sofreram AVE também conseguem ajustar essas características em função das

tarefas. Por exemplo, os movimentos do membro superior são ajustados em função

das diferentes distâncias de localização do alvo, ou seja, à medida que a distância

do alvo aumenta, eles aumentam a amplitude e a velocidade do movimento. No

entanto, esse ajuste nem sempre é adequado, de forma que, por exemplo, para

alvos mais próximos as trajetórias da mão tendem a ultrapassá-los e para alvos mais

distantes, as trajetórias tendem a não alcançá-los12.

Os indivíduos que sofreram AVE também apresentam maior facilidade para

alcançar um alvo posicionado ipsilateral ao membro que está se movendo e maior

dificuldade quando os alvos são posicionados em locais altos ou contralaterais ao

membro53. Tal efeito da direção do alvo sobre o desempenho nos movimentos de

alcance tem sido sugerido em outros estudos para indivíduos sadios29, 30. Em geral,

movimentos planares do membro superior realizados no espaço ipsilateral ao

membro que está realizando o movimento exigem principalmente de movimentos de

extensão do cotovelo enquanto movimentos direcionados para alvos contralaterais

exigem além do movimento da articulação do cotovelo, também maior envolvimento

da articulação do ombro. Esta influência da direção pode ser ainda maior para

indivíduos que sofreram AVE uma vez que eles utilizam estratégias diferentes para

executar as tarefas com sucesso. Por exemplo, uma das estratégias usadas por

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indivíduos pós AVE para reduzir os erros na posição final da mão é associar os

movimentos do membro superior com os do tronco, de forma a trazer a mão mais

próxima ao alvo8. Esta estratégia compensatória do movimento do tronco foi

correlacionada com a gravidade dos déficits clínicos (avaliados pela escala de Fulg-

Meyer) e com a coordenação interarticular entre ombro e cotovelo, sendo que

indivíduos que apresentaram maior deslocamento do tronco para auxiliar o alcance

ao alvo tinham maiores déficits clínicos e menor coordenação interarticular8, 10. O

uso desta estratégia compensatória não foi relacionado a uma redução da amplitude

de movimento do ombro e cotovelo, já que, quando os movimentos do tronco dos

indivíduos pós AVE foram restritos, estes tenderam a aumentar a amplitude de

movimento do cotovelo e do ombro. Estes resultados sugerem que na ausência de

restrição do tronco os indivíduos pós AVE não usam toda a amplitude de movimento

livre disponível dessas articulações10.

Apesar da maioria dos estudos ter abordado o desempenho do membro

contralesional, muitas das alterações apresentadas no planejamento e execução dos

movimentos de alcance também estão presentes no membro ipsilesional17-20, 22, 24, 26

mesmo quando o membro contralateral apresenta comprometimento mínimo21. Além

disso, esses déficits no membro ipsilesional já são identificados durante o primeiro

mês que ocorreu o AVE54, 55.

A maioria dos estudos tem sugerido que os hemisférios cerebrais

desempenham algumas funções específicas sobre o controle dos movimentos como

observado por déficits distintos no membro superior ipsilesional de indivíduos que

sofreram AVE17, 18, 20, 22. Por exemplo, tem sido proposto que o hemisfério cerebral

direito tem maior dominância no controle em circuito fechado da execução dos

movimentos. Controle em circuito fechado é mais dependente do processamento de

informações visuoespaciais durante o curso do movimento e nas correções da

posição final da mão17, 19, 20, 56. Já o hemisfério esquerdo, por outro lado, estaria

envolvido no planejamento de movimentos balísticos controlados em circuito aberto,

os quais dependem menos das informações sensoriais no controle dos movimentos

da mão durante sua realização17, 19, 20, 56. Além disso, o hemisfério esquerdo seria

mais especializado no controle do sequenciamento dos movimentos57, 58. De fato,

esses estudos observaram que indivíduos que tiveram AVED apresentaram pior

desempenho durante a realização de movimentos que exigiam maior precisão,

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26

enquanto os indivíduos pós AVEE gastaram um tempo maior para completar as

mesmas tarefas.

No entanto, parece não haver uma função absoluta de cada hemisfério para

processamento em circuito aberto ou circuito fechado. Num estudo realizado por

Haaland et al.18, assim como os indivíduos sadios, os indivíduos com lesão no

hemisfério direito corrigiram o movimento do braço ipsilesional quando o alvo

inesperadamente mudou de posição. Além disso, não foram observados déficits no

planejamento do movimento dos indivíduos pós AVE, independente do lado da

lesão. No entanto, os indivíduos pós AVEE tiveram déficits no controle da trajetória

do movimento e maior TM enquanto os indivíduos pós AVED apresentaram déficits

no controle da posição final da mão no alvo. Estas características apresentadas

pelos participantes parecem ser consistentes com o modelo de Dominância

Dinâmica47. Segundo esse modelo, como descrito anteriormente, o hemisfério

esquerdo é especializado para controlar a trajetória da mão. Por outro lado, o

hemisfério direito é especializado em controlar a posição final da mão24, 47, 48, 59.

Outro estudo também observou erros maiores na posição final do movimento

do membro ipsilesional de indivíduos pós AVED, e sugeriram que estes erros

poderiam estar associados ao aumento da amplitude de aceleração que estes

indivíduos apresentavam quando alcançavam alvos mais distantes24. Por outro lado,

indivíduos pós AVEE prolongaram a duração da fase de aceleração quando

realizaram movimentos para alvos mais distantes. De acordo com os autores, os

achados suportam novamente a idéia de que cada hemisfério controla aspectos

específicos do movimento.

Ketcham et al.26 verificaram se os indivíduos pós AVED apresentavam

alterações no planejamento de movimentos sequenciais (isto é, de dois segmentos)

realizados com o membro ipsilesional. Os resultados do estudo sugeriram que os

indivíduos pós AVED foram incapazes de planejar antecipadamente em conjunto os

dois segmentos, já que o tempo de permanência no primeiro alvo foi entre 220 e 250

ms antes de iniciar o segmento de movimento para o segundo alvo. Tal pausa não

foi observada nos indivíduos sadios, que tiveram tempo de permanência entre 120-

150 ms. No entanto, eles não analisaram variáveis como TR e TPV, que são

comumente usadas para analisar o planejamento motor. Ainda nesse estudo, num

segundo experimento, eles analisaram o desempenho de indivíduos pós AVED na

realização de movimentos recíprocos entre dois alvos que poderiam estar dispostos

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vertical ou horizontalmente. Nos dois experimentos, os indivíduos pós AVED foram

mais lentos (i.e., menor PV e TM) que os indivíduos sadios. Entretanto, não

participaram desse estudo indivíduos pós AVEE e os achados não poderiam ser

associados totalmente com o lado da lesão cerebral. Além disso, os autores não

compararam o desempenho dos movimentos sequenciais com o de movimentos

discretos. Portanto, é necessário saber se existe uma relação entre o lado da lesão

cerebral após AVE e os diferentes déficits motores encontrados no membro superior

ipsilesional ao realizar movimentos sequenciais como observado para movimentos

discretos.

Harrington e colaboradores52 em um estudo sobre movimentos dos dedos

com sequências repetitivas ou heterogêneas foram analisadas as diferenças no

desempenho de indivíduos sadios e pós AVED e ou AVEE. Nesse estudo foi

observado que nas sequências repetitivas não houve diferença no TR entre os

grupos AVE e seus respectivos controles e apenas os indivíduos pós AVEE tiveram

um aumento do TR com o aumento da complexidade da sequência. Além disso,

para a condição com sequências heterogêneas, os indivíduos pós AVEE

apresentaram esse efeito de complexidade tanto para o TR como para a quantidade

de erros, que foi maior com sequências mais longas. Os indivíduos pós AVED, no

entanto, apresentaram um efeito da complexidade somente para o TR e durante

movimentos com sequências heterogêneas, isto é, o TR aumentou com o aumento

da complexidade da tarefa. No entanto, nesse estudo, os alvos eram sempre

dispostos na mesma direção. Assim, não se sabe se esses efeitos também se

apresentariam na execução de movimentos sequenciais para alvos localizados em

diferentes direções espaciais, já que um efeito da direção espacial tem sido bem

reportado para movimentos discretos.

De fato, indivíduos sadios apresentaram um menor TR, menor TM, maior PV

e maior suavidade na trajetória para os movimentos direcionados aos alvos

localizados na direção ipsilateral versus contralateral ao membro superior que

realizou os movimentos60. Os resultados dos indivíduos que sofreram um AVED ou

AVEE utilizando o braço ipsilateral à lesão cerebral foram similares aos dos

indivíduos sadios. A única exceção foi a ausência do efeito do TR em função do

requerimento de maior velocidade na execução comparado ao de maior acurácia

como observado para os indivíduos sadios. Segundo Lin et al.60 estes resultados

sugerem que as características dos movimentos discretos realizados nas condições

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descritas são pouco afetadas pela presença da lesão cerebral, independente da

localização do alvo. No entanto, esse estudo não analisou movimentos sequenciais

e o efeito da direção espacial sobre a realização de movimentos sequenciais ainda

não é claro.

Estudos sobre movimentos sequenciais são importantes visto que esses

movimentos estão presentes durante a realização de muitas atividades da vida

diária. Indivíduos que sofreram AVE geralmente usam o membro ipsilesional como

principal controlador, utilizando-o de 3 a 6 vezes mais do que o membro

contralesional durante as atividades cotidianas23. Assim, avaliações do planejamento

e execução dos movimentos sequenciais realizados pelo membro ipsilesional são

necessárias. Por exemplo, o planejamento e a execução de tarefas mais complexas

(tal como, alcançar um copo e levá-lo até a boca e beber o líquido contido no

mesmo) comparado ao de tarefas mais simples (tal como, alcançar o copo e levá-lo

até a boca mas não beber o líquido contido no mesmo) podem apresentar

características diferentes61. Além disso, o fato de indivíduos que sofreram AVE em

hemisfério esquerdo e direito apresentarem alguns déficits diferentes durante a

realização de movimentos que envolvem o membro superior sugere a existência de

uma especialização hemisférica no controle destes movimentos. Tais diferenças

podem ser ainda mais evidentes com o envolvimento de diferentes complexidades

na tarefa.

Os resultados do presente estudo podem fornecer suporte para um

entendimento maior dos diferentes aspectos que envolvem os déficits do membro

ipsilesional de indivíduos que sofreram AVE, dependendo do hemisfério que a lesão

cerebral ocorreu. Futuramente, esses resultados poderão ainda auxiliar diversos

profissionais da saúde a traçarem estratégias de intervenção que visem à melhora

funcional do membro ipsilesional, de acordo com as limitações motoras

possivelmente encontradas após um AVE unilateral, especialmente na realização de

movimentos sequenciais que compõem diversas atividades de vida diária.

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4 MÉTODOS

4.1 Tipo de pesquisa e local de realização da pesquisa

O estudo foi do tipo experimental e transversal e foi realizado no Laboratório

de Análise do Movimento (LAM) da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID. O

presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da mesma

universidade sob protocolo nº 13508426, CAAE 0049.0.186.000-10 (ANEXO 1).

4.2 Participantes

Participaram do presente estudo trinta indivíduos, de ambos os gêneros,

divididos em três grupos. O grupo AVED foi composto por dez indivíduos adultos

que sofreram um AVE no hemisfério direito. O grupo AVEE foi constituído por dez

indivíduos adultos que sofreram um AVE no hemisfério esquerdo. O grupo Controle

foi composto por dez voluntários sadios, de uma amostra de conveniência, com

gênero e idade (40 a 70 anos) similares aos de indivíduos dos dois grupos de AVE.

O grupo Controle realizou as tarefas experimentais tanto com o membro direito (CD)

como com o membro esquerdo (CE). Os indivíduos dos grupos AVED e AVEE foram

recrutados através da análise dos prontuários da Clínica Escola de Fisioterapia da

UNICID. A seleção dos participantes foi feita com base nos critérios de inclusão e

exclusão previamente determinados como descrito a seguir. Os indivíduos

selecionados tiveram conhecimento prévio dos procedimentos experimentais do

estudo que fariam parte e, ao concordarem em participar da pesquisa, assinaram o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da participação (ANEXO 2).

4.3 Critérios de inclusão

Foram selecionados para participar do estudo indivíduos destros, que

sofreram episódio único de AVE ocorrido há mais de seis meses, com lesão em

território irrigado pela artéria cerebral média e anterior. Os dados pessoais, sócio-

demográficos e clínicos dos participantes foram registrados numa ficha de triagem

(ANEXO 3).

A preferência manual dos participantes foi determinada pelo teste de

dominância motora manual “Edinburgh Handedness Inventory” (ANEXO 4), um

questionário composto de 10 itens sobre a mão que utiliza com maior frequência

para realizar determinadas tarefas. O pesquisador leu os itens ao participante, que

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30

tive como opções de resposta: mão direita, mão esquerda ou ambas. No final o

participante foi classificado como destro, canhoto ou ambidestro. No caso dos

grupos de indivíduos pós AVE, as respostas foram dadas em relação à preferência

manual antes de sofrer a lesão encefálica.

4.4 Critérios de exclusão

Foram excluídos do estudo indivíduos que apresentavam: a) presença de

outras doenças neurológicas associadas; b) queixa de dor antes ou após o

experimento que interferisse na execução da tarefa; c) alterações visuais; d) alguma

apraxia ou negligência que comprometesse a compreensão e execução das tarefas

do estudo; e) alguma instabilidade clínica durante o experimento.

4.5 Instrumentos e procedimentos

4.5.1 Avaliações para caracterização da amostra

Para avaliar a função cognitiva dos participantes foi utilizado o Mini Exame do

Estado Mental (MEEM)62 (ANEXO 5), que permite a avaliação de vários aspectos

cognitivos, através de perguntas específicas conduzidas sobre diferentes

parâmetros, como: orientação, memória imediata, cálculo, evocação, linguagem,

nomeação, repetição, comando em três estágios, linguagem, escrita e cópia de

desenho. O escore do MEEM varia de zero (sendo esta a pontuação mínima),

indicando maior grau de comprometimento cognitivo, até uma pontuação de 30,

correspondendo à melhor capacidade cognitiva.

Para avaliar a função motora do membro superior, foi utilizada a escala de

Fugl-Meyer63 (ANEXO 6), que se trata de uma escala de pontuação numérica

acumulativa que avalia seis aspectos: a amplitude de movimento, dor, sensibilidade,

função motora da extremidade superior e inferior e equilíbrio, além da coordenação

e velocidade. Uma escala ordinal de três pontos é aplicada em cada item: 0 - não

pode ser realizado, 1 - realizado parcialmente e 2 – realizado completamente. A

pontuação máxima para a extremidade superior é 66 pontos, correspondendo à

função motora normal. A avaliação motora inclui mensuração do movimento,

coordenação e atividade reflexa de ombro, cotovelo, punho, mão.

Para avaliação da força de preensão palmar foi usado o dinamômetro Jamar®

e para avaliar a força de pinça foi usado o dinamômetro Pinch®64. Durante a

avaliação da força de preensão, o indivíduo permaneceu sentado, com o ombro

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31

aduzido e em rotação neutra, o cotovelo fletido em ângulo reto, antebraço e punho

mantido neutro, polegar posicionado em discreta flexão interfalângica. Durante a

mensuração da força de pinça entre polegar e indicador, os demais dedos não

envolvidos ficaram mantidos em semi-flexão. Nessa posição, foram realizadas três

mensurações consecutivas da força em cada tipo de preensão, sendo registrado

como resultado final o valor médio das três mensurações, em quilogramas-força

(kgf). Foram mensuradas a força máxima de ambos os membros superiores do

grupo Controle e apenas o membro ipsilesional dos indivíduos pós AVE.

Para realizar as tarefas experimentais, o participante permaneceu sentado

numa cadeira com regulagem de altura, de forma confortável, apoiando o tronco no

encosto da cadeira. O tronco foi estabilizado na cadeira por meio de uma faixa com

velcros para fixação. Os pés dos participantes ficaram apoiados no suporte da

cadeira e os membros superiores apoiados sobre a mesa de forma a ficarem

posicionados abaixo da altura do ombro (Figura 1). Uma mesa digitalizadora

(Wacom Intuos2 12x12 A4over D1212USB) foi colocada sobre a mesa e de frente

para o participante, conectada a um computador portátil (HP AMD Turion 64), por

onde foram controladas as tarefas do experimento através de um programa escrito

especificamente para aquisição dos dados e apresentação das tarefas em LabView

2009. Em frente à mesa digitalizadora foi posicionado um monitor (Samsung 15’),

conectado ao computador para apresentação dos estímulos visuais referentes às

tarefas. Na tela do computador foram apresentadas as posições do ponto inicial e do

alvo a ser alcançado (Figura 2). Os indivíduos executaram movimentos do membro

superior no plano horizontal segurando a ponteira digital (Wacom Intuos2 12x12

A4over D1212USB) sobre a mesa digitalizadora. Os traçados da ponteira nas

direções ântero-posterior e médio-lateral foram adquiridos a uma frequência de 300

Hz.

Figura 1: Representação do aparato experimental e da posição do participante durante as tarefas.

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32

4.6 Tarefas

O protocolo experimental foi composto por três tarefas de diferentes

complexidades (MD, MS2 e MS4), como apresentado na figura 2. Na primeira tarefa

os participantes executaram movimentos discretos com a ponteira da posição inicial

ao alvo (condição MD, movimento discreto). Para tanto, os indivíduos posicionaram

a ponteira em um ponto inicial (P.I.), de onde o movimento partia, e executaram o

movimento de forma a alcançar um alvo colocado 45° à direita representado pela

letra “C” na Figura 2 [alvo ipsilateral (ou contralateral) quando realizado com o

membro superior direito (ou esquerdo)] ou 45° à esquerda representado pela letra

“A” na Figura 2 [alvo contralateral (ou ipsilateral) quando realizado com o membro

superior direito (ou esquerdo)] do ponto inicial. Os alvos (círculos de 0,8 cm) foram

apresentados a uma distância de 9 cm do ponto inicial (círculo de 0,8 cm)

representado pelas letras P.I. na Figura 2. A representação esquemática de

apresentação dos alvos para condição MD pode ser vista na figura 2-I.

Figura 2: Representação dos alvos A, B e C (círculos em cinza escuro) e do ponto inicial (círculos em branco, P.I.). Figura 2-I: As setas indicam as possibilidades de aparecimento do estímulo em cada direção do movimento (à esquerda, alvo A ou à direita, alvo C, da posição inicial). Figura 2-II: As setas indicam as possibilidades de aparecimento do estímulo da sequência dos alvos (A�B ou C�B) a ser percorrida. Figura 2-III: As setas indicam as possibilidades de aparecimento do estímulo da sequência dos alvos (A�B�C�A ou C�B�A�C) a ser percorrida pelos 4 segmentos de movimento (iniciando à esquerda em A ou à direita em C).

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Nas outras duas tarefas, foi avaliado o desempenho na execução de

movimentos sequenciais através de complexidades distintas determinadas pelo

número de segmentos realizados (2 ou 4 segmentos, respectivamente, MS2 e MS4).

Cada segmento foi definido pelo traçado realizado de um alvo (ou ponto inicial, P.I.)

até outro alvo. A tarefa MS4 com quatro segmentos foi considerada a tarefa de

maior complexidade. Na tarefa MS2, o primeiro segmento foi realizado em direção

aos mesmos alvos (com 0,8 cm de dimensão) apresentados na tarefa MD (A ou C),

a uma distância de 9 cm de P.I. O segundo segmento foi realizado para um alvo (B)

posicionado à frente dos anteriores (na tela do monitor o alvo é posicionado superior

aos alvos A e C) na mesma direção de P.I., com distância de 9 cm do primeiro alvo

(figura 2-II).

Na tarefa MS4, os dois primeiros segmentos ocorreram nas mesmas

possibilidades dos descritos na tarefa MS2 (A-B ou C-B) e os terceiros e quartos

segmentos foram feitos para concluir as sequências A�B�C�A ou C�B�A�C. A

sequência dos segmentos e a posição dos alvos na tarefa MS4 estão representadas

na figura 2-III. Após o posicionamento da caneta no P.I. a sequência dos segmentos

de movimentos a serem realizados pelo participante foi apresentada através da

mudança de cor do alvo de branca para vermelha que teve uma duração de 200 ms.

Após esse tempo, o alvo retornava para cor inicial, ou seja, branca e permanecia

visível no monitor até o final da tentativa. Quando os movimentos eram sequenciais,

isto é, com mais de um alvo, um intervalo de 300 ms foi dado entre a apresentação

de cada alvo (totalizando 700 e 1700ms, respectivamente, para as tarefas MS2 E

MS4). O estímulo imperativo, que indicava que o indivíduo poderia iniciar o

movimento, foi caracterizado pela mudança de cor do P.I. (da cor branca para verde)

e teve duração de 300ms. Quando o indivíduo realizava o movimento, o traçado

referente ao movimento era apresentado no monitor em cor amarela. A figura 3

apresenta o esquema da linha do tempo com os eventos que deveriam ocorrer em

cada tentativa.

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Figura 3: Linha do tempo com os eventos que ocorreram em cada tentativa. O tempo de apresentação do alvo ou sequência dependeu do número de alvos a serem alcançados (1, 2 ou 4 alvos, respectivamente, 200, 700 e 1700 ms), sendo que o estímulo imperativo ocorreu 300 ms após a apresentação do(s) alvo(s).

Previamente ao início das tarefas experimentais, os participantes realizaram

algumas tentativas de familiarização através de 5 traçados específicos utilizando o

material do experimento. Os indivíduos eram solicitados a mover a ponteira de modo

a realizar traçados, continuamente, entre os alvos a partir do P.I. em sentido horário

(PI � A � B � C � PI �...) e anti-horário (PI � C � B � A � C � PI �...),

formando um desenho semelhante ao de um losango. Antes de iniciar as tarefas

experimentais, os indivíduos foram instruídos a realizar o movimento o mais rápido

possível procurando acertar o centro do alvo. Para todas as tarefas, foram

consideradas cinco tentativas corretas, totalizando 6 blocos ou 30 tentativas para

cada participante dos grupos AVED e AVEE que realizaram apenas com a mão

ipsilesional e 12 blocos ou 60 tentativas para cada participante do grupo Controle

que realizaram com o membro direito e esquerdo (a ordem do primeiro membro a se

mover foi alternada entre os participantes). A ordem dos blocos foi randomizada

para cada participante com intervalos entre os blocos. Foram consideradas

tentativas erradas as que o participante iniciou o movimento antes de 100 ms do

estímulo imperativo, que tenha errado a direção do alvo (i.e., ao invés de realizar o

movimento para o alvo A, iniciou para o alvo C) ou que não tenha realizado o

movimento. Essas tentativas foram desconsideradas e refeitas.

4.7 Processamento e análise dos dados

A série temporal do movimento da ponteira nas direções ântero-posterior e

médio-lateral foi analisada utilizando o programa Labview 2009. Inicialmente, os

dados foram filtrados por um filtro passa-baixa, Butterworth, com frequência de corte

de 10Hz. Em seguida, os tempos de início e término do movimento foram

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determinados. O início do movimento foi definido como 5% do PV e o final como 5%

após o PV (figura 4-I a III). Para as tarefas de dois segmentos (MS2, figura 4-II), o

início do primeiro segmento foi definido em função do primeiro PV, enquanto o final

do último segmento foi definido em função do segundo PV. Para os movimentos com

quatro segmentos (MS4, figura 4-III), foi utilizado o primeiro e o quarto PV para

definir, respectivamente, o início do primeiro segmento e o final do último segmento.

Para definir o término dos segmentos (e início dos próximos segmentos), foi utilizado

o ponto mínimo entre os dois picos de velocidade (figura 4-II e III).

Figura 4: Perfil hipotético da série temporal da velocidade da ponteira para as tarefas MD com apenas

um segmento (I); MS2 (II) com dois segmentos e MS4 com quatro segmentos (III). As linhas verticais

tracejadas indicam o início e o término de cada segmento (Segm).

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Para cada tentativa nas tarefas MD, MS2 e MS4, foram analisadas as

seguintes variáveis dependentes relacionadas ao planejamento e execução dos

movimentos:

• Tempo de reação (TR): intervalo de tempo entre a apresentação do estímulo

imperativo (não–antecipado) até o início da resposta do participante;

• Tempo de movimento total (TM): intervalo de tempo entre o início e término da

resposta do participante;

• Tempo do primeiro segmento (TSM1): intervalo de tempo entre o início da

resposta do participante e o alcance do primeiro ponto mínimo entre os dois

primeiros picos de velocidade para tarefas sequenciais. Para tarefa discreta

este tempo é igual ao TM;

• Primeiro Pico de Velocidade (PV1): valor máximo da velocidade da ponteira

em direção ao primeiro alvo. A velocidade foi calculada pela distância

percorrida do ponto inicial ao alvo dividida pelo tempo gasto para percorrê-la;

• Tempo para o primeiro Pico de velocidade (TPV1): intervalo de tempo entre o

início da resposta do participante e o instante que o primeiro PV foi alcançado;

• Erro Variável resultante do primeiro segmento (EV1): diferença de posição

(vertical e horizontal) entre o ponto final do movimento de cada tentativa e a

média dos pontos finais entre as tentativas;

• Unidade de movimento na trajetória do primeiro segmento (UM1): definida

pelo número de vezes que a série temporal da aceleração cruza zero, isto é, a

aceleração muda de direção (de positiva para negativa e vice-versa). Essa

variável representa quão suave foi a trajetória do movimento, isto é, quanto

maior o número de unidades de movimento, menos suave é o movimento (e

vice-versa).

A média entre as tentativas de cada tarefa foi utilizada para análise

estatística.

4.8 Análise estatística

Para analise estatística foi utilizado o programa estatístico SPSS 16.

Análises de variância (ANOVA) com fatores grupo (AVED vs. CD; AVEE vs. CE e

AVED vs. AVED), complexidade (MD, MS2 e MS4) e direção (Ipsilateral e

Contralateral), sendo os dois últimos fatores de medidas repetidas, foram realizadas

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para cada variável dependente. Testes post-hoc com ajustes de Bonferroni foram

utilizados quando necessário. O nível de significância foi mantido em 0,05.

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5 RESULTADOS

5.1 Participantes

Participaram do presente estudo trinta indivíduos, sendo dez com lesão no

hemisfério esquerdo (AVEE), dez com lesão no hemisfério direito (AVED) e dez

indivíduos sadios (grupo Controle, C) os quais realizaram os movimentos de alcance

com o membro direito (CD) e com o membro esquerdo (CE). Todos os participantes

eram destros como determinado pelo Inventário de Edinburgh. As principais

características dos participantes de cada grupo estão apresentadas na Tabela 1.

Nenhuma diferença foi observada entre os grupos; exceto a força de pinça do grupo

AVED que foi menor que a dos indivíduos sadios.

Tabela 1: Caracterização dos participantes do estudo (média e desvio padrão, em parênteses).

5.2 Variáveis Dependentes

As trajetórias da ponteira realizadas por três indivíduos representativos (um

de cada grupo) em cada complexidade da tarefa (MD, MS2 e MS4) e direção do alvo

(ipsilateral e contralateral) são apresentadas na Figura 5. Movimentos do membro

superior direito (CD) e esquerdo (CE) são apresentados para o mesmo participante

do grupo controle.

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Figura 5: Trajetórias da ponteira, de três participantes representativos, sendo um de cada grupo, de

cada tarefa: movimento discreto (MD, em I) e movimento sequencial com dois (MS2, em II) e quatro

(MS4, em III) alvos.

Unidades de movimento do primeiro segmento (UM1)

Os valores médios de UM1 em cada condição de direção e complexidade da

tarefa para os grupos AVED, AVEE, CD e CE são apresentados na figura 6-I.

Valores maiores indicam que os movimentos foram menos suaves. Para

comparações entre AVED e CD, ANOVA revelou um efeito de complexidade

[F(2,36)=7,96; p=0,001], de grupo [F(1,18)=4,77; p=0,042] e interação entre

complexidade e direção [F(2,36)=7,30; p=0,002] mas não indicou efeito de direção

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ou interação entre outros fatores (p>0,229). O grupo AVED teve maior número de

UM do que o CD, isto é, apresentou movimentos menos suaves. A interação entre

complexidade e direção observada foi devido ao menor número de UM para o alvo

ipsilateral na tarefa MD enquanto que o número de UM foi menor na tarefa mais

complexa (MS4) para os movimentos direcionados ao alvo contralateral. Já para

comparações entre AVEE e CE, ANOVA indicou os seguintes efeitos: direção

[F(1,18)=4,79; p=0,042], complexidade [F(2,36)=6,24; p=0,005], grupo [F(1,18)=6,28;

p=0,022], e as interações entre direção e grupo F(1,18)=4,74; p=0,043],

complexidade e grupo [F(2,36)=4,56; p=0,017], complexidade e direção [F(2,36)=

3,38; p=0,045] e complexidade, direção e grupo [F(2,36)= 3,84; p=0,031]. Análises

post hoc indicaram que, para movimentos iniciados para o alvo contralateral, o grupo

AVEE apresentou maior número de UM do que o CE, principalmente na tarefa MD

como pode ser observado na figura 6-I. As comparações de UM1 entre os

participantes dos grupos de AVE revelaram efeito significativo para direção

[F(1,18)=4,63; p=0,045], complexidade [F(2,36)=9,97; p<0,001] e interação entre

direção e complexidade [F(2,36)=7,43; p=0,002]. Testes post hoc indicaram que na

tarefa MD houve mais UM para o alvo contralateral do que ipsilateral para os dois

grupos. Nenhum outro efeito ou interações foram encontrados (p>0,054).

Erro variável do primeiro segmento (EV1)

Os valores médios de EV1 em cada condição de direção e complexidade da

tarefa para os quatro grupos são apresentados na figura 6-II. ANOVA revelou efeito

apenas de grupo para comparações entre AVED e CD [F(1,18)=9,95; p=0,005],

sendo que o grupo AVED apresentou maior erro que o CD. Não houve efeito de

direção, complexidade ou interação entre fatores (p>0,160) para os grupos AVED e

CD. Para as comparações entre os grupos AVEE e CE, ANOVA indicou apenas

efeito de complexidade [F(2,36)=6,15; p=0,005], em que o erro variável foi maior

durante a realização da tarefa MS4 do que durante a tarefa MS2 (compare os

valores de EV1 entre as tarefas na figura 6-II). Os efeitos principais para os fatores

direção e grupo (p>460) e as interações entre fatores (p>0,182) não foram

estatisticamente significantes. Para comparações entre os dois grupos de AVE foi

observado efeito significativo de complexidade [F(2,36)=5,21; p=0,010] e grupo

[F(1,18)=5,99; p=0,025]. O efeito de grupo pode ser observado na figura 6-II, em

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que, em geral, o grupo AVED apresentou maior erro do que o grupo AVEE. Já o

efeito de complexidade, o erro foi maior ao realizar a tarefa MS4 do que a MS2. No

entanto, não houve efeito para outros fatores e interações (p>0,440).

I

II

Figura 6: Valores médios de unidades de movimento (em I, UM1) e erro variável (em II, EV1) de cada condição de direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro representam os valores do erro padrão.

Tempo de reação (TR)

Os valores médios de TR em cada condição de direção e complexidade da

tarefa para os grupos AVED, AVEE, CD e CE são apresentados na figura 7. ANOVA

revelou que houve um efeito da complexidade [F(2,36)=14,24; p<0,001] e grupo

[F(1,18)=8,32; p=0,01] para comparações entre os grupos AVED e CD. O TR foi

significantemente maior na tarefa MS4 do que na tarefa MD e MS2 e foi maior para o

grupo AVED do que o grupo CD. Nenhum efeito de direção ou interação entre os

fatores foi revelado (p>0,072). Para comparações entre os grupos AVEE e CE,

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ANOVA revelou apenas um efeito de complexidade [F(2,36)=4,31; p=0,021]. Embora

um aumento do TR seja observado com o aumento da complexidade como

mostrado na figura 7 (barras com linhas transversas), testes post hoc não indicaram

diferenças significantes entre cada tarefa (p>0,098). Também não houve efeito de

grupo, direção ou interação entre fatores (p>0,261). Por fim, para comparações entre

os valores médios de TR em cada condição de direção e complexidade da tarefa

para os grupos AVEE e AVED, representados na figura 7, ANOVA indicou um efeito

de complexidade [F(2,36)= 11,17; p<0,001] mas nenhum efeito de grupo, direção ou

interação entre fatores (p>0,246). O TR foi significantemente maior para a tarefa de

maior complexidade (MS4) do que para as tarefas MD ou MS2.

Figura 7: Valores médios de tempo de reação (TR) para cada direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro indicam valores do erro padrão.

Tempo para o primeiro pico de velocidade (TPV1)

Na figura 8 são apresentados os valores médios de TPV1 em cada condição

de direção e complexidade da tarefa para todos os grupos (AVED, AVED, CD e CE).

ANOVA revelou um efeito de direção [F(1,18)=27,64; p<0,001] para as comparações

entre AVED e CD. O TPV1 foi menor quando o movimento começou para o alvo

ipsilateral como observado na figura 8. ANOVA não revelou efeito de complexidade

ou grupo e nem interações entre os fatores e grupo (p>0,378). Para os grupos AVEE

e CE, ANOVA revelou efeito de direção [F(1,18)=23,24; p<0,001], grupo

[F(1,18)=4,89; p=0,040] e interação entre direção e grupo [F(1,18)=4,54; p=0,047].

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As diferenças entre grupo só foram encontradas para o alvo contralateral como

observado na figura 8, sendo que o TPV1 foi maior para o AVEE do que CE. ANOVA

não indicou efeito de complexidade ou interação entre fatores (p>0,305). Finalmente,

para as comparações entre os grupos AVEE e AVED (figura 8), ANOVA revelou

efeito de direção [F(1,18)= 27,11; p<0,001] e interação entre direção e grupo

[F(1,18)=4,52; p=0,048] mas não de grupo, complexidade ou outra interação entre

os fatores (p>0,253). O menor TPV1 para alvos ipsilaterais foi observado para os

dois grupos, no entanto, este efeito de direção foi maior para o grupo AVEE como

apresentado pela maior diferença nos valores de TPV1 entre as duas direções.

Figura 8: Valores médios do tempo para o pico de velocidade (TPV1) em cada condição de direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro representam os valores do erro padrão.

Para verificar se o tempo de ocorrência do TPV1 foi similar entre os grupos

nas diferentes condições experimentais em função do tempo total de movimento, a

relação entre TPV1 e TSM1 foi calculada pela divisão do tempo para alcançar o

primeiro PV pelo tempo total gasto para completar o primeiro segmento do

movimento (TPV1/TSM1*100, em porcentagem). Os valores obtidos são

apresentados na Tabela 2. Valores próximos de 50% indicam que o pico de

velocidade ocorreu aproximadamente na metade do movimento, sendo que os

tempos de aceleração da ponteira em direção ao alvo (fase balística do movimento)

e de desaceleração da ponteira no alvo foram similares. Valores menores (maiores)

indicam um tempo maior na fase de desaceleração (aceleração) do movimento.

ANOVA revelou apenas um efeito de direção [F(1,18)=12,92; p=0,002] para as

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comparações entre AVED e CD (Tabela 2), onde valores menores foram observados

quando o movimento começou para o alvo ipsilateral comparado ao alvo

contralateral. ANOVA não revelou efeito de complexidade ou grupo e nem

interações entre os fatores e grupo (p>0,06). Para os grupos AVEE e CE, ANOVA

revelou um efeito de complexidade [F(2,36)=3,84; p=0,031] nessa relação

TPV1/TSM1, sendo que ela foi maior para tarefas com mais segmentos (i.e., MS4)

comparada a tarefa MD. Uma interação entre os três fatores complexidade, direção

e grupo [F(2,36)=3,61; p=0,037] também foi revelada devido a relação TPV1/TSM1

ter sido menor para o alvo ipsilateral comparada ao contralateral na tarefa MS4 do

grupo AVEE. Para as comparações entre os grupos AVEE e AVED, ANOVA revelou

efeito de direção [F(1,18)= 7,63; p=0,013] e interação entre direção e complexidade

[F(2,36)=4,51; p=0,018] mas não de grupo, complexidade ou outra interação entre

os fatores (p>0,1). Valores menores na relação entre TPV1 e TSM1 para alvos

ipsilaterais foram observados para os dois grupos, principalmente para a tarefa MS4.

Tabela 2: Valores médios (± erro padrão) da relação TPV1/TSM1 em cada condição de direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) para os quatro grupos.

Primeiro Pico de velocidade (PV1)

Os valores médios de PV1 em cada condição de direção e complexidade da

tarefa alcançado pelo membro superior direito (grupos AVED e CD) e esquerdo

(grupo AVEE e CE) são apresentados na figura 9. ANOVA revelou que houve efeito

de direção para as comparações entre AVED e CD [F(1,18)=18,42; p<0,001], AVEE

e CE [F(1,18)=14,63; p=0,001] e entre os grupos de AVE [F(1,18)=23,84; p<0,001],

sendo que o PV1 foi maior quando o movimento iniciou em direção ao alvo

ipsilateral. ANOVA não indicou nenhum outro efeito de complexidade, grupo ou

interação entre fatores para todas as comparações (p>0,053).

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Figura 9: Valores médios do primeiro pico de velocidade (PV1) para cada direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) dos grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). As barras de erro indicam valores do erro padrão.

Tempo de movimento (TM) e tempo do primeiro segmento (TSM1)

Os valores médios de TM (todas as barras em cinza claro na figura 10) e

TSM1 em cada condição de direção e complexidade da tarefa para os grupos AVED

e CD e para os grupos AVEE e CE são apresentados na figura 10. Em relação ao

TM, ANOVA indicou efeito de complexidade [F(2,36)= 390,70; p<0,001] para

comparações entre os grupos AVED e CD. Além disso, ANOVA também revelou

uma interação entre complexidade e grupo [F(2,36)= 4,90; p=0,013] e entre

complexidade e direção [F(2,36)=10,70; p<0,001]. Embora tenha tido efeito de

complexidade para os dois grupos, este efeito foi maior para o grupo AVED, isto é, o

aumento do TM em função do aumento da complexidade foi maior para os

indivíduos pós AVED do que seus controles, principalmente na tarefa MS4. Além

disso, na tarefa MD, o TM foi maior para o alvo contralateral do que ipsilateral,

enquanto que nas tarefas MS2 e MS4 o TM foi maior para o alvo ipsilateral. Os

efeitos de direção (p=0,365) e grupo (p=0,20) e as interações entre os fatores

direção e grupo (p=0,156) ou entre direção, complexidade e grupo (p=0,824) não

foram observados. Para comparações entre os grupos AVEE e CE (figura 10),

efeitos de direção [F(1,18)=6,22; p=0,023], complexidade [F(2,36)=440,24; p<0,001],

grupo [F(1,18)=5,27; p=0,034] e interação entre complexidade e direção

[F(2,36)=3,63; p=0,036] foram observados. O efeito de direção só foi apresentado

para a tarefa MD, na qual o TM foi maior para o alvo localizado na direção

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contralateral do que ipsilateral. O grupo AVEE, em geral, precisou de um tempo

maior para executar os movimentos. Nenhum outro efeito ou interação foi observado

(p>0,094). ANOVA revelou efeito de direção [F(1,18)=4,91; p=0,040], complexidade

[F(2,36)= 466,53; p<0,001] e interação entre complexidade e direção [F(1,18)=5,60;

p=0,008] para comparações entre os dois grupos de AVE. Nenhum outro efeito ou

interações foram encontrados (p>0,073). O efeito de direção só foi apresentado para

a tarefa MD, na qual o TM foi maior para alvo contralateral do que ipsilateral.

Figura 10: Valores médios do tempo de movimento (TM) e do primeiro segmento do movimento (TSM1) para cada direção (ipsilateral e contralateral) e complexidade (MD, MS2, MS4) dos grupos AVED (cinza), AVEE (cinza com listras transversas), CD (branco) e CE (branco com listras transversas). TM total para as tarefas MS2 e MS4 são apresentados nas barras em cinza claro. As barras de erro representam os valores do erro padrão.

O tempo do primeiro segmento do movimento (TSM1) para as tarefas

sequenciais (MS2 e MS4) corresponde ao tempo gasto para os participantes

atingirem o primeiro alvo enquanto para a tarefa MD, o TSM1 corresponde

exatamente ao TM total como apresentado na figura 10. ANOVA indicou que houve

efeito de direção [F(1,18)=9,50; p=0,006] e interação entre complexidade e direção

[F(2,36)=5,15; p=0,011] nas comparações entre AVED e CD. O TSM1 foi maior para

os movimentos realizados ao alvo contralateral do que ipsilateral na tarefa MD. Não

houve efeito para os demais fatores e interações (p>0,257). Para comparações entre

os grupos AVEE e CE, ANOVA revelou efeito estatisticamente significante de

direção [F(1,18)=19,34; p<0,001], complexidade [F(2,36)=3,57; p=0,038] e uma

interação entre direção e complexidade [F(2,36)=3,33; p=0,047]. O TSM1 reduziu

com a complexidade da tarefa, principalmente para os alvos contralaterais. As outras

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interações entre os fatores e efeito de grupo não foram estatisticamente significantes

(p>0,055). Nas comparações entre os dois grupos de AVE, ANOVA revelou efeito

principal apenas de direção [F(1,18)= 18,32; p<0,001], mas houve ainda uma

interação entre direção e complexidade [F(2,36)=5,66; p=0,007]. Na tarefa MD e

MS2, maior TSM1 foi observado para o alvo contralateral, enquanto na tarefa MS4

tal efeito não foi observado. ANOVA não revelou nenhum outro efeito

estatisticamente significante (p>0,077). A Tabela 3 apresenta o resumo dos

principais achados do presente estudo para as comparações das variáveis

dependentes entre cada par de grupos (AVED vs. CD; AVEE vs. CE; e, AVED vs.

AVEE), duas direções de movimento (ipsilateral vs. contralateral) e três

complexidades da tarefa (MD vs. MS2 vs. MS4).

Tabela 3: Resumo dos resultados da análise estatística realizada para as variáveis dependentes comparando os grupos (AVED vs. CD; AVEE vs. CE e AVED vs. AVEE), direção (ipsilateral vs. contralateral) e complexidade (MD, MS2 e MS4).

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6 DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi comparar o desempenho do movimento de

alcance de indivíduos sadios e indivíduos que sofreram um AVE unilateral em

hemisfério direito ou esquerdo, em função da complexidade da tarefa, da direção do

alvo e do lado da lesão encefálica. Em geral, os resultados sugeriram que a

complexidade da tarefa e a direção do alvo influenciaram tanto o planejamento como

a execução dos movimentos de alcance dos participantes. Tais efeitos, no entanto,

foram diferentes entre os indivíduos sadios e pós AVE, sendo estes dependentes do

lado da lesão encefálica. Os efeitos encontrados sobre as variáveis analisadas serão

discutidos separadamente para o planejamento e execução dos movimentos.

Planejamento do movimento

Tendo em vista que o planejamento do movimento de alcance pode ser

definido como a seleção e organização de comandos neurais para geração de

respostas motoras que dependem, dentre outros fatores, das características dos

participantes e dos objetivos da tarefa28, um aumento na duração do planejamento

dos movimentos era esperado com a ocorrência de uma lesão encefálica e com o

aumento da complexidade da tarefa. De fato, o TR foi maior para as tarefas de maior

complexidade independente dos participantes terem sofrido ou não uma lesão

encefálica. No entanto, diferenças em TR entre indivíduos pós AVE e sadios foram

dependentes do lado em que a lesão ocorreu, isto é, maior TR foi observado para o

grupo AVED do que para o grupo CD, mas não houve diferença entre os grupos

AVEE e CE. Esse último resultado é consistente com outros estudos que mostraram

que os indivíduos com lesão encefálica à direita gastaram mais tempo para planejar

o movimento do que os indivíduos sadios realizando os movimentos com o membro

superior direito independente da complexidade da tarefa22, 58, 65, 66. Por exemplo,

indivíduos pós AVED realizando movimentos mais complexos (i.e., alcançar e

segurar um objeto ao invés de apenas alcançar) com o membro superior, também

apresentaram um TR maior do que os indivíduos sadios58. Além disso, esses

achados com indivíduos que sofreram um AVE à direita corroboram aos de outros

estudos em indivíduos sadios que reportaram uma maior vantagem da mão

esquerda para iniciar o movimento (i.e., um TR menor) do que a mão direita33, 34, 36.

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Segundo esses estudos, foi sugerido que o hemisfério direito estaria mais

relacionado ao planejamento do movimento do que o hemisfério esquerdo. Tal

hipótese é baseada na idéia de que indivíduos com lesão no hemisfério direito

apresentam um maior déficit na velocidade com a qual eles conseguem localizar a

posição espacial do alvo65. Sendo assim, o maior TR para os indivíduos do grupo

AVED, no presente estudo, concordam com a primeira hipótese investigada de que

indivíduos com lesão no hemisfério direito levariam um tempo maior para planejar os

movimentos mesmo quando os realizando com o membro superior ipsilesional.

No entanto, apesar dos resultados do presente estudo terem concordado com

a hipótese de especialização do hemisfério direito para o planejamento do

movimento, outros estudos não encontraram essa relação, uma vez que, diferenças

entre o TR de indivíduos pós AVE, independente do lado da lesão, e indivíduos

sadios não foram observadas17, 52. Além disso, comparações entre os membros

superiores direito e esquerdo de indivíduos sadios sugeriram que a vantagem do

membro superior esquerdo para o TR, em relação ao direito, depende das

características da tarefa. Por exemplo, essa vantagem foi observada somente

quando a localização do alvo a ser alcançado não era totalmente conhecida pelos

indivíduos antes do estímulo imperativo. Por outro lado, quando os indivíduos

tiveram, previamente, informações completas sobre a localização do alvo,

semelhante ao presente estudo, não houve diferença no TR da mão direita e

esquerda35. Freitas e Scholz67 também observaram essa ausência de assimetria

entre os membros quando o tempo para iniciar o movimento de indivíduos sadios

(similar a medida de TR) foi avaliado em condições de certeza e incerteza da

localização final do alvo.

Por outro lado, Mieschke e Elliott36 reportaram que a vantagem da mão

esquerda comparada à direita para o TR só ocorreu quando os movimentos eram

realizados para alvos localizados em hemispaço esquerdo, o que não foi o caso no

presente estudo, já que não houve efeito em TR em função da direção do

movimento inicial. Mesmo em tarefas sequenciais dos dedos, que poderiam exigir

um maior tempo para o planejamento dos movimentos mais complexos em função

da lesão encefálica, diferenças no TR de indivíduos sadios e indivíduos que

sofreram um AVE realizando movimentos com seu membro ipsilesional não foram

observadas52. Além disso, em um estudo com indivíduos sadios realizando

movimentos sequenciais dos dedos, Haaland e colaboradores41 reportaram uma

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vantagem do membro superior direito em relação ao esquerdo, para o TR. Isto é, o

TR foi maior para o membro superior esquerdo comparado ao direito, principalmente

nas tarefas mais complexas. Esse resultado também foi encontrado em outro estudo

com indivíduos que sofreram um AVE e sadios realizando movimentos discretos68,

sendo que o TR dos indivíduos pós AVEE foram maiores comparado aos indivíduos

sadios, enquanto essa diferença entre os grupos AVED e controle não foi

encontrada. No entanto, esse resultado não foi observado quando os mesmos

autores avaliaram uma tarefa sequencial52. Portanto, parece que os diferentes

achados para o TR em estudos anteriores podem ser devido à grande variedade de

tarefas experimentais as quais os indivíduos são expostos, resultando em dados

conflitantes.

Embora não tenha sido observado um aumento no TR em função da lesão em

hemisfério esquerdo (grupo AVEE vs. CE e grupo AVEE vs. AVED) no presente

estudo, esse aumento ocorreu no TPV1 que representa a fase balística, inicial do

movimento (i.e., aceleração da mão em direção ao alvo). Tal influência da lesão em

hemisfério esquerdo foi observada principalmente para o alvo contralateral.

Inicialmente, poderia ser pensado que esse tempo estaria relacionado a uma

dificuldade no planejamento dos movimentos sequenciais, já que o hemisfério

esquerdo seria mais especializado nesse planejamento56-58. Assim, uma vez que o

TR foi similar entre os indivíduos pós AVEE e CE, um aumento em TPV1 seria

necessário para: a) finalizar o planejamento dos movimentos para os próximos

segmentos26, e b) compensar a dinâmica intersegmentar que não tinha sido

considerada antes de iniciar o movimento, observada, por exemplo, no maior erro na

direção inicial do movimento24.

Outra hipótese é que esse aumento seja devido às correções da trajetória

pelo uso de informações visuais já que esse tempo foi maior que 200 ms57. No

entanto, essa hipótese não foi confirmada pela análise da relação TPV1/TSM1 que

indica quanto tempo foi necessário para alcançar o pico de velocidade em relação

ao tempo total gasto para completar o primeiro segmento do movimento (Tabela 2).

De acordo com essa análise, nenhum efeito de grupo foi observado, sugerindo que

esse aumento no TPV1 para o grupo AVEE pode ter sido devido apenas a uma

lentidão na execução dessa fase balística do movimento. Esse aumento na duração

da fase balística do movimento também foi observado em indivíduos pós AVEE tanto

em movimentos cíclicos20 como em discretos24. Em particular, no estudo de

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51

Schaefer e colaboradores24, um tempo maior nessa fase foi observado para alvos

que envolveram maior amplitude de movimento do cotovelo apenas para os

indivíduos que sofreram um AVE em hemisfério esquerdo. Outro estudo também

reportou um aumento no TPV1 em indivíduos pós AVE, independente do lado da

lesão, quando estes realizaram tarefas sequenciais envolvendo movimentos de

alcançar um copo, beber o conteúdo e retorná-lo a posição inicial com o membro

parético25. Porém, em relação ao tempo total, essa fase balística do movimento

ocorreu antes para os indivíduos pós AVE (38,4%) do que para os sadios (46%),

sugerindo que a fase de desaceleração do movimento para os indivíduos que

sofreram um AVE, independente do lado da lesão, foi maior. Além disso, no

presente estudo, corroborando aos achados de Murphy e colaboradores25, os

resultados da relação TPV1/TSM1 indicaram que as fases de aceleração e

desaceleração do movimento não foram simétricas, sendo que o TPV1 ocorreu entre

31 a 44% da trajetória para todos os participantes. A única diferença observada

entre grupos na relação TPV1 e TSM1 foi para o grupo AVEE que apresentou

valores menores dessa relação que o CE (38,3% vs. 42,1%, respectivamente) para

o movimento em direção ao alvo ipsilateral na tarefa MS4.

De fato, um efeito da direção do movimento foi observado para todos os

grupos quando o TPV1 absoluto foi analisado. Esse efeito foi devido ao aumento em

TPV1 para direção contralateral à mão que executou os movimentos. Embora no

presente estudo uma análise dos movimentos das articulações envolvidas não tenha

sido feito, é possível sugerir que os movimentos para essa direção envolvem maior

amplitude de movimento da articulação do ombro juntamente com movimentos da

articulação do cotovelo quando comparado ao alcance a alvos ipsilaterais como

reportado na literatura45, 46. O efeito da direção do movimento, por outro lado, não foi

observado no TR. Assim, parece que, embora estas duas variáveis, TR e TPV1,

estejam relacionadas ao planejamento motor, elas representam diferentes aspectos

dos movimentos. O acometimento no hemisfério direito após a lesão levaria um

déficit maior no processamento espacial refletido no TR, principalmente com o

aumento da complexidade da tarefa; enquanto que, sendo a lesão ocorrida no

hemisfério esquerdo, os maiores déficits surgiriam na execução da fase balística do

movimento (maior TPV1, no presente estudo e maior variabilidade na direção inicial

do movimento num estudo de Schaefer e colaboradores22).

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Outro fator que influencia o tempo gasto para iniciar o movimento (i.e., TR) é

a complexidade da tarefa69. Em geral, no presente estudo, o TR foi maior para os

movimentos sequenciais com quatro alvos comparado ao tempo gasto para planejar

uma tarefa discreta, com apenas um alvo. Esses resultados sugerem que o

planejamento dos movimentos sequenciais pode ter ocorrido antecipadamente, isto

é, nesse período não foi levado em conta somente o primeiro segmento da tarefa

(movimento para o primeiro alvo), mas possivelmente, todos ou parte dos demais

segmentos de uma sequência. De fato, isso seria possível visto que nesse estudo a

informação sobre toda a sequência de alvos era fornecida anteriormente ao estímulo

imperativo. Vários estudos também têm reportado um aumento no TR com o

aumento do número de segmentos de tarefas sequenciais, sejam elas de

movimentos de alcance realizados por jovens sadios38, idosos e portadores de

doença de Parkinson 51, ou para movimentos dos dedos em indivíduos sadios41 e

que sofreram um AVE52. Por exemplo, no estudo de Smiley-Oyen e Worringham38 o

TR de indivíduos jovens e sadios para movimentos discretos foi menor comparado

ao de movimentos sequenciais com 2 a 7 alvos. Nesse estudo a diferença do TR do

movimento discreto para o da sequência com quatro alvos foi em torno de 40 ms.

Essa diferença no TR foi menor para os indivíduos sadios (31 ms) no presente

estudo, enquanto foi maior para os indivíduos pós AVE (68 ms). Apesar disso, tais

achados sobre o aumento do TR numa sequência de até 4 alvos sugere que

indivíduos pós AVE são capazes de modular o TR em função da complexidade da

tarefa. Esse resultado é contrário aos achados de Smiley-Oyen e colaboradores51

que observaram que indivíduos idosos e portadores da doença de Parkinson

apresentariam um aumento no TR somente quando os movimentos eram realizados

numa sequência de até três alvos.

Juntos, os resultados dos dois estudos do grupo de Smiley-Oyen citados

acima sugeriram a existência de um limite superior para o planejamento antecipado

de movimentos sequenciais mesmo em adultos jovens e sadios; apesar desse limite

ser maior (i.e., até sete alvos) para os jovens comparado ao de indivíduos idosos e

portadores da doença de Parkinson. Assim, não se sabe se indivíduos que sofreram

um AVE são capazes de planejar antecipadamente uma sequência se esta

apresentar mais que quatro alvos ou se este seria o limite superior para eles.

Futuros estudos deveriam investigar essa questão visto que as tarefas cotidianas

podem envolver inúmeros segmentos de movimentos.

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53

De fato, outros estudos têm mostrado que mesmo em sequências menores,

indivíduos idosos43 e que sofreram um AVE26 não apresentam alterações no

planejamento antecipado em função da complexidade da tarefa independente do

número de segmentos. Ma e Trombly43, por exemplo, não encontraram diferenças

no TR com aumento da complexidade de uma tarefa sequencial simulando a de um

jogo de tabuleiro de damas. De acordo com os autores, essa ausência de efeito da

complexidade sobre o TR pode ter sido devido à instrução dada aos participantes

sobre a velocidade dos movimentos, i.e., para mover numa velocidade auto-

determinada similar a utilizada em atividades do dia-a-dia e não o mais rápido

possível como no presente estudo.

Já no estudo de Ketcham, Rodriguez e Zihlman26, a ausência do efeito da

complexidade sobre o planejamento motor dos indivíduos que sofreram um AVE em

hemisfério direito foi reportada mesmo quando eles tinham que realizar uma

sequência de dois segmentos (i.e., apenas dois alvos). Os autores concluíram então

que os indivíduos pós AVED não planejaram antecipadamente a sequência de

movimentos já que o tempo de permanência no primeiro alvo antes do início do

segundo segmento foi superior ao de indivíduos sadios (>200ms). No entanto, o TR

não foi investigado nesse estudo e talvez tal medida pudesse indicar um efeito da

complexidade daquela tarefa sobre o planejamento motor. Por outro lado, uma vez

que no presente estudo o interesse era avaliar o efeito da complexidade da tarefa

sobre o planejamento do primeiro segmento, o tempo de pausa entre alvos como

investigado no estudo de Ketcham e colaboradores26 não foi avaliado. Assim, futuras

análises deverão ser feitas para investigar também essa questão sobre o tempo de

pausa entre os segmentos nas tarefas MS2 e MS4.

Juntos, os resultados do presente estudo sugerem que os indivíduos pós AVE

apresentaram déficits no planejamento dos movimentos do membro ipsilesional. Os

déficits do grupo AVED estiveram presentes na análise do TR e, para grupo AVEE,

eles surgiram quando a duração da fase balística do movimento (TPV1) foi avaliada.

Além disso, o efeito da complexidade da tarefa e da direção do movimento foi

dependente da variável analisada. Portanto, os achados encontrados indicam que

apesar destas duas variáveis serem relacionadas ao planejamento do movimento,

elas parecem ser dependentes das características específicas das tarefas propostas

nos diferentes estudos.

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54

Execução do movimento

A execução abrange todos os eventos que ocorrem após o início do

movimento e ela pode ser avaliada através de variáveis que representam diferentes

aspectos do movimento. A primeira parte do movimento (i.e., fase da aceleração)

está relacionada ao movimento balístico em direção ao alvo cujo tempo é, em geral,

insuficiente para que ocorram correções da trajetória. Na segunda fase do

movimento (i.e., fase de desaceleração), estas correções seriam feitas, usando

principalmente a informação visual do alvo e a posição da mão no espaço, para

alcançar o alvo desejado com maior acurácia. Quanto mais correções forem

necessárias para manter a precisão do movimento, menos suaves (i.e., maior o

número de unidades de movimento) seriam as trajetórias da mão. No presente

estudo, os indivíduos que sofreram um AVE apresentaram mais UM1 do que seus

respectivos controles, indicando que as trajetórias deles foram realmente menos

suaves (ver figura 5 para indivíduos representativos de cada grupo). Essa ausência

de suavidade nos movimentos tem sido reportada em vários estudos investigando

movimentos de alcance de indivíduos pós AVE9, 25, 60, 70-72, e tem sido atribuída a

uma dificuldade na coordenação entre as articulações envolvidas no movimento9

bem como no planejamento dos movimentos70. Uma hipótese alternativa para

explicar essa diferença na suavidade entre indivíduos pós AVE e indivíduos sadios

seria a da existência de uma especialização hemisférica no controle dos

movimentos. Muitos estudos têm reportado que o hemisfério direito é responsável

pelo controle em circuito fechado do movimento, ou seja, informações visuais e

proprioceptivas são utilizadas e correções ocorrem durante o curso do movimento19,

20, em particular, na segunda fase do movimento (desaceleração da mão no alvo).

De fato, Sugarman e colaboradores72 observaram que o grupo AVED realiza

movimentos menos suaves que indivíduos sadios devido a uma maior porcentagem

de TM gasto em pausas durante os movimentos. Por outro lado, o hemisfério

esquerdo seria responsável pelo controle dos aspectos temporais dos movimentos.

No mesmo estudo foi observado que os indivíduos pós AVEE apresentaram não

apenas um tempo de pausa maior, mas também um maior número de pausas, que

poderiam ser responsáveis por um maior TM necessário para concluir os

movimentos do que o grupo CE. Os achados do presente estudo de que os dois

grupos de AVE apresentam trajetórias menos suaves corroboram aos desses

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55

autores sugerindo uma incapacidade desses indivíduos para planejar e corrigir

eficientemente os movimentos.

Outros estudos têm mostrado que indivíduos que sofreram lesão em

hemisfério esquerdo são mais lentos24, 52, 59, 73 e menos coordenados54 quando

realizam movimentos com seu membro ipsilesional comparado aos indivíduos sadios

realizando movimentos com o membro superior esquerdo. É possível que os déficits

apresentados por esses indivíduos estejam relacionados com a dificuldade de prever

os efeitos da dinâmica intersegmentar e assim, coordenar ações musculares

necessárias durante o movimento9. Tal hipótese é baseada em estudos que

reportaram que o membro superior direito de indivíduos sadios apresenta uma

melhor coordenação interarticular devido ao hemisfério esquerdo ser mais

especializado no controle da trajetória47. Assim, era esperado que uma lesão nesse

hemisfério levasse, entre outras coisas, a um aumento no TM e trajetórias menos

suaves da mão. De fato, os resultados do estudo atual de que maior número de UM1

foi associado a uma maior lentidão na realização dos movimentos discretos para os

indivíduos pós AVEE corroboram essa hipótese de maior especialização do

hemisfério esquerdo no controle da trajetória.

Além disso, esse efeito da lesão encefálica sobre a UM1 foi ainda maior para

os movimentos discretos direcionados a alvos contralaterais, o que é consistente

com estudos em indivíduos sadios que mostraram que movimentos de alcance para

alvos contralaterais são mais difíceis e levam mais tempo para serem finalizados

por, em geral, requererem o envolvimento de mais graus de liberdade e maior

amplitude de movimento das articulações29, 45, 46 e pela maior inércia para mover o

membro superior em direção ao alvo30. Assim, pode ser pensado que movimentos

para alvos contralaterais intensificariam mais ainda os déficits presentes na

execução dos movimentos de indivíduos pós AVEE.

No entanto, as comparações entre grupos AVED e CD e entre AVED e AVEE

também revelaram que na tarefa MD, os movimentos iniciados em direção ao alvo

contralateral foram menos suaves. Esses resultados estão de acordo com o estudo

de Lin et al60, sobre movimentos discretos de indivíduos pós AVE e sadios, no qual

todos os indivíduos apresentaram menos UM para movimentos direcionados ao alvo

ipsilateral do que contralateral. No entanto, esse efeito da direção do alvo parece

não ser uma regra, já que o grupo AVED apresentou trajetórias do primeiro

segmento menos suaves para a tarefa mais complexa (com 4 alvos) direcionadas

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ipsilateralmente. Assim, é possível que exista uma maior interferência da

complexidade da tarefa do que da direção sobre o desempenho do movimento de

alcance de indivíduos sadios e dos que sofreram um AVED.

A complexidade da tarefa também influenciou a precisão dos movimentos

dependendo do lado da lesão encefálica (mas não da direção dos alvos). Isto é,

indivíduos pós AVEE e CE apresentaram valores similares de EV1 e estes

aumentaram com o aumento da complexidade das tarefas. Esses resultados

corroboram aos achados de outros estudos sobre o efeito da complexidade nos

movimentos de indivíduos sadios41, 74. A ausência de diferença em EV no atual

estudo, no entanto, contradiz outros estudos que reportaram que indivíduos pós

AVEE são mais susceptíveis a terem pior desempenho do movimento diante de um

aumento da complexidade quando comparado a indivíduos sadios19, 52. Harrington e

Haaland52, por exemplo, observou em seu estudo sobre o desempenho dos

movimentos dos dedos, com sequências aleatórias ou em blocos, que o AVEE

apresentou um maior erro em função do aumento da complexidade quando

comparado ao grupo CE.

Por outro lado, no presente estudo, o grupo AVED apresentou maior erro que

o CD e AVEE independente da complexidade da tarefa. Essa redução na precisão

dos movimentos poderia ser devido à dificuldade dos indivíduos pós AVED em

realizar as correções finais da trajetória da mão levando em conta a localização

espacial do alvo que, segundo o modelo da Dominância Dinâmica, o hemisfério

direito seria especializado. De fato, uma série de estudos em indivíduos pós AVE18,

22, 24, 59 tem apoiado esse modelo de Dominância Dinâmica proposto por Sainburg47,

num estudo feito com indivíduos sadios e destros, o qual prevê que a mão esquerda

apresenta maior precisão espacial do que a direita. Sendo assim, o hemisfério direito

seria mais relacionado com o controle dependente de informações visuais da

posição final da mão no alvo. Mais tarde essa hipótese foi também confirmada em

um estudo sobre a adaptação as rotações visuomotoras da posição de um cursor de

indivíduos que sofreram um AVE59. Nas condições de rotação, foi observado que,

inicialmente, os participantes pós AVED apresentaram maior erro na posição final

que reduziu com a prática. Já o grupo AVEE manteve uma boa precisão desde o

início. Isso mostra que os indivíduos do grupo AVEE conseguem distinguir a

localização real da mão da rotação visual do cursor de forma mais eficaz que o

grupo pós AVED. No entanto, ao contrário dos indivíduos do grupo AVED, que

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sempre apresentaram trajetórias mais retilíneas, os indivíduos pós AVEE

apresentaram maior curvatura da trajetória inicial. Juntos esses resultados sugerem

que o hemisfério direito (intacto nos indivíduos pós AVEE) é responsável pelo uso de

informações visuais para os ajustes finais da posição da mão no espaço. Por outro

lado, o hemisfério esquerdo estaria mais relacionado ao controle das trajetórias

prevendo os efeitos da dinâmica intersegmentar durante o movimento.

Apesar dos resultados do presente estudo concordarem com essa hipótese

de Dominância Dinâmica, uma vez que indivíduos pós AVED, que tiveram o

hemisfério direito afetado pela lesão encefálica, apresentaram maiores erros do que

seus controles, eles também apresentaram movimentos menos suaves do que o

grupo CD similar ao grupo AVEE. Uma explicação poderia ser que os indivíduos pós

AVED realizaram os movimentos em tempo similar aos indivíduos sadios, e talvez

eles não tenham tido tempo suficiente para serem capazes de corrigir a posição final

da mão de forma eficiente, como fizeram os indivíduos pós AVEE e por isso

apresentaram maior EV. De fato, o TM dos indivíduos pós AVEE foi maior e as

trajetórias da mão também foram menos suaves do que as dos indivíduos controles.

Estudos também têm sugerido que a menor velocidade dos movimentos poderia ter

causado a menor suavidade na trajetória, uma vez que correções da trajetória

estariam sendo realizadas75.

O TM também foi influenciado pela direção e complexidade da tarefa além do

lado da lesão encefálica. Com relação ao efeito de direção, este foi evidente apenas

para o movimento discreto, durante o qual o TM foi maior para o alvo contralateral

similar a outros estudos tanto em indivíduos pós AVE22, 60 como com indivíduos

sadios29, 30, 34, 36. Uma possível explicação que tem sido apresentada por estes

autores é a maior inércia do antebraço durante movimentos contralaterais em

associação as maiores amplitudes de movimento do ombro e do cotovelo

comparado aos movimentos para o alvo ipsilateral (realizado principalmente pela

articulação do cotovelo). De fato, os resultados para o primeiro PV corroboram esses

estudos em que menores PV foram observados para alvos contralaterais para todas

as comparações. Interessantemente, era esperado que menores erros também

fossem observados para alvos ipsilaterais, segundo Gordon e colaboradores30. No

entanto, os resultados de EV para o primeiro segmento do movimento contradiz

essa hipótese em que nenhum efeito de direção foi observado para qualquer grupo

ou nível de complexidade.

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58

Embora tenha tido efeito de complexidade sobre o TM para os dois grupos,

este efeito foi maior para o grupo AVED, principalmente na tarefa MS4. Uma das

possíveis explicações para esse resultado é a de que durante os movimentos com

dois e quatro alvos na sequência era necessário percorrer uma maior distância (pelo

menos 18 cm e 36 cm, respectivamente), do que o alcance a apenas um alvo (9cm)

e portanto, gastaria mais tempo, consistente com a Lei de Fitts39. Essa lei prevê que,

quanto maior o índice de dificuldade (determinado pela fórmula ID=T/2*D, onde

T=tamanho do alvo e D=distância do alvo), maior o TM para movimentos

direcionados para alvos de mesmo tamanho mas dispostos em diferentes distâncias.

Apesar de no atual estudo os alvos terem tido mesmo tamanho, para completar as

tarefas discretas ou compostas por dois ou quatro segmentos, os participantes

deveriam percorrer uma distância total maior, que pode ter determinado as

diferenças de TM em função da complexidade da tarefa. Outra justificativa seria a de

que, sendo apenas parte da sequência de movimento planejada antecipadamente, a

outra parte seria controlada durante a execução do movimento fazendo com que um

TM maior fosse necessário para o movimento ser concluído26. De fato, como visto

anteriormente, os indivíduos pós AVED do presente estudo apresentaram maior

dificuldade para planejar os movimentos do que os CD em todos os níveis de

complexidade da tarefa, quando avaliado pelo TR. Portanto, se o planejamento

antecipado não ocorria de forma eficiente, é possível que houvesse necessidade de

maiores ajustes durante a execução do movimento nos indivíduos pós AVED

fazendo com que eles sofressem maior influência da complexidade da tarefa. Em

oposição a esses achados estão os resultados de um estudo realizado por

Harrington e Haaland52 de que o AVEE aumentou mais o TM em função do aumento

da complexidade do que o CE. Segundo os autores como o grupo AVEE evidenciou

maior dificuldade que o CE também na execução de movimentos discretos, esse

aumento em TM para sequências maiores seria apenas devido aos efeitos

cumulativos desse déficit. De fato, o grupo AVEE apresentou TM maior do que o CE

para todas as condições no presente estudo, mas não houve interação com

complexidade da tarefa como ocorreu para comparações entre AVED e CD. Além

disso, o tempo gasto para alcançar o primeiro alvo, ou seja, o TSM1, não foi

diferente entre os grupos. Vários estudos em indivíduos pós AVE têm mostrado que

indivíduos que sofreram uma lesão em hemisfério esquerdo realizam movimentos

mais lentamente do que indivíduos sadios realizando o mesmo movimento com

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membro superior esquerdo24, 52, 73, sugerindo que os indivíduos pós AVEE

apresentam maiores déficits temporais do que espaciais18. No entanto, as

comparações entre AVED e AVEE não confirmam esta hipótese, já que diferenças

entre esses grupos no TM não foram observadas. Tal resultado está de acordo com

os achados de Schaefer e colaboradores22 de que apesar dos indivíduos do grupo

AVEE ter apresentado uma tendência para um TM maior que os do grupo AVED,

eles não foram significantemente diferentes. Essa ausência de diferença entre os

grupos em função do lado da lesão encefálica pode ser devido às sequelas

decorrentes após o AVE que, apesar de algumas características serem específicas

quando cada grupo de AVE é comparado ao de indivíduos sadios, elas não são tão

evidentes quando comparadas entre os grupos que sofreram a lesão encefálica. De

fato, os indivíduos pós AVE de ambos os grupos apresentaram características muito

similares como descrito na Tabela 1. Talvez diferenças maiores entre os grupos no

TM fossem observadas se indivíduos com maior comprometimento fossem avaliados

em tarefas similares a do presente estudo.

Muitos estudos têm mostrado uma vantagem na execução dos movimentos

quando a tarefa apresenta apenas um alvo58, 74, 76. De acordo com esse resultado

era esperado que movimentos executados para apenas um alvo apresentassem

TSM1 (que é igual ao TM para tarefa discreta) menor comparado a tarefas com dois

alvos76. Tal vantagem não foi observada no presente estudo. Pelo contrário, o TSM1

reduziu com o aumento da complexidade da tarefa para os indivíduos realizando os

movimentos com o membro superior esquerdo, independente se o hemisfério

esquerdo foi ou não acometido por uma lesão. Interessantemente, um efeito comum

a todos os participantes sobre o TSM1 foi a direção do primeiro segmento do

movimento, sendo que este foi menor para os alvos ipsilaterais comparado aos alvos

contralaterais. Esse achado está de acordo com os resultados do TM, que foi maior

para alvos contralaterais do que ipsilaterais. Juntos os resultados do presente

estudo, em geral, corroboram aos achados de outros estudos de que o hemisfério

direito é mais especializado no processamento de informações visuoespaciais, as

quais são fundamentais para o planejamento antecipado do movimento e para

correções durante o curso do movimento. Por outro lado, o hemisfério esquerdo

seria especializado em implementar as ações motoras e lidar com a dinâmica

intersegmentar mais adequadamente para se alcançar os objetivos das tarefas.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do presente estudo sugerem que indivíduos que sofreram um

AVE apresentam déficits motores no membro ipsilesional e que alguns desses

déficits estão relacionados ao lado da lesão encefálica. As alterações apresentadas

por indivíduos que sofreram um AVE em hemisfério direito foram relacionadas tanto

ao planejamento (i.e., maior tempo para iniciar o movimento) como a execução (i.e.,

menor precisão da posição final) dos movimentos. Por outro lado, os indivíduos que

sofreram um AVE em hemisfério esquerdo executaram o movimento mais

lentamente do que os indivíduos sadios, tanto na execução de movimentos discretos

como sequenciais. Essa lentidão também foi observada na fase inicial do primeiro

segmento do movimento (fase balística) para os indivíduos pós AVEE. Apesar

dessas diferenças, os indivíduos que sofreram um AVE apresentaram trajetórias

menos suaves quando comparados aos indivíduos sadios, independente do lado da

lesão encefálica. É importante ressaltar que todos esses aspectos dos movimentos

foram modulados em função da complexidade da tarefa, enquanto a direção do alvo

influenciou mais esses aspectos durante os movimentos discretos. Assim, o

presente estudo corrobora aos achados da literatura de uma especialização

hemisférica para o planejamento e controle dos movimentos bem como amplia o

entendimento dessa especialização em tarefas mais complexas executadas em

diferentes direções do espaço.

Esses achados podem contribuir para direcionar terapias de reabilitação

específicas para indivíduos que tiveram um AVE unilateral, dependendo do lado

encefálico acometido. Além disso, os achados de complexidade da tarefa e direção

do alvo influenciando o desempenho do movimento de todos os indivíduos mostram

que as características das tarefas podem ser cruciais quando avaliando o

desempenho dos indivíduos nos movimentos de alcance. Assim, durante a

reabilitação de indivíduos pós AVE é importante fazer uso de tarefas que envolvam

diferentes complexidades de movimento, visto que as atividades cotidianas

envolvem diferentes tipos de tarefas, de mais simples a mais difíceis.

O presente estudo, no entanto, teve como limitação o não acesso a todos os

exames dos participantes pós AVE (devido a perdas dos exames pelos participantes

ou devido as instituições de saúde não disponibilizarem os resultados aos mesmos).

Uma análise destes exames permitiria verificar a possível existência de uma

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associação do volume e da área da lesão com os achados do presente estudo.

Portanto, é necessário que mais investigações sejam feitas sobre o comportamento

motor de indivíduos que sofreram AVE levando em consideração essas limitações e

outras, tais como, diferentes métodos de análise e de mensuração de características

do movimento. Por exemplo, novos estudos poderiam analisar movimentos com

mais alvos numa sequência para observar qual o limite superior do planejamento

antecipado de indivíduos pós AVE; bem como análise de outras variáveis poderiam

ser feitas tais como: o tempo de pausa entre cada alvo da sequência; curvatura da

trajetória e erro constante do primeiro segmento do movimento não analisado no

presente estudo. Além disso, as avaliações dos demais segmentos do movimento

numa sequência e não somente do primeiro segmento poderiam ser feitas, em

particular, do segundo segmento do movimento que permitiria uma comparação

entre as tarefas MS2 e MS4. Futuros estudos também poderiam ser feitos para

verificar se os efeitos observados no presente estudo sobre a especialização

hemisférica seriam mantidos se a velocidade ou a acurácia do movimento fossem

experimentalmente controladas. Assim, embora o presente estudo tem trazido

contribuições para o entendimento do efeito da complexidade da tarefa sobre o

planejamento e execução de movimentos de alcance de indivíduos pós AVE, outros

estudos ainda precisam ser feitos sobre essa questão.

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8 REFERÊNCIAS 1 Organização Mundial de Saúde, Manual STEPS de Acidente Vascular

Encefálico da OMS: enfoque passo a passo para a vigilância de acidentes vascular cerebrais. In O.M.d. Saúde (Ed.), Genebra, 2006.

2 Roger, V.L., Go, A.S., Lloyd-Jones, D.M. and et.al., Heart disease and stroke statistics--2011 update: a report from the American Heart Association, Circulation, 123 (2011) e18-e209.

3 Mackay, J. and Mensah, G., The atlas of heart disease and stroke World Health Organization (2004) 112.

4 Brasil, Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas - trombólise no acidente vascular encefálico isquêmico agudo, Diário Oficial do Estado de São Paulo, Vol. 208, 2010, pp. 111.

5 Helgason, C.M. and Wolf, P.A., American Heart Association Prevention Conference IV: prevention and rehabilitation of stroke: executive summary, Circulation, 96 (1997) 701-7.

6 Mirbagheri, M.M. and Rymer, W.Z., Time-course of changes in arm impairment after stroke: variables predicting motor recovery over 12 months, Arch Phys Med Rehabil, 89 (2008) 1507-13.

7 Voos, M.C. and Valle, L.E.R.d., Estudo comparativo entre a relação do hemisfério acometido no acidente vascular encefálico e a evolução funcional em indivíduos destros, Revista Brasileira de Fisioterapia, 12 (2008) 113-20.

8 Cirstea, M.C. and Levin, M.F., Compensatory strategies for reaching in stroke, Brain, 123 ( Pt 5) (2000) 940-53.

9 Levin, M.F., Interjoint coordination during pointing movements is disrupted in spastic hemiparesis, Brain, 119 ( Pt 1) (1996) 281-93.

10 Michaelsen, S.M., Luta, A., Roby-Brami, A. and Levin, M.F., Effect of trunk restraint on the recovery of reaching movements in hemiparetic patients, Stroke, 32 (2001) 1875-83.

11 Leonard, C.T., Gardipee, K.A., Koontz, J.R., Anderson, J.H. and Wilkins, S.A., Correlation between impairment and motor performance during reaching tasks in subjects with spastic hemiparesis, J Rehabil Med, 38 (2006) 243-9.

12 van Vliet, P.M. and Sheridan, M.R., Ability to adjust reach extent in the hemiplegic arm, Physiotherapy, 95 (2009) 176-84.

13 Haaland, K.Y., Schaefer, S.Y., Knight, R.T., Adair, J., Magalhaes, A., Sadek, J. and Sainburg, R.L., Ipsilesional trajectory control is related to contralesional arm paralysis after left hemisphere damage, Exp Brain Res, 196 (2009) 195-204.

14 Krakauer, J.W., Arm function after stroke: from physiology to recovery, Semin Neurol, 25 (2005) 384-95.

15 Shumway-Cook, A. and Woollacott, M., Controle Motor:Teoria e Aplicações Práticas 2 edn., 2002, 610 pp.

16 Cirstea, M.C., Mitnitski, A.B., Feldman, A.G. and Levin, M.F., Interjoint coordination dynamics during reaching in stroke, Exp Brain Res, 151 (2003) 289-300.

17 Haaland, K.Y. and Harrington, D., The role of the hemispheres in closed loop movements, Brain Cogn, 9 (1989) 158-80.

18 Haaland, K.Y., Prestopnik, J.L., Knight, R.T. and Lee, R.R., Hemispheric asymmetries for kinematic and positional aspects of reaching, Brain, 127 (2004) 1145-58.

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19 Kwon, Y.H., Kim, C.S. and Jang, S.H., Ipsi-lesional motor deficits in hemiparetic patients with stroke, NeuroRehabilitation, 22 (2007) 279-86.

20 Winstein, C.J. and Pohl, P.S., Effects of unilateral brain damage on the control of goal-directed hand movements, Exp Brain Res, 105 (1995) 163-74.

21 Pohl, P.S., Luchies, C.W., Stoker-Yates, J. and Duncan, P.W., Upper extremity control in adults post stroke with mild residual impairment, Neurorehabil Neural Repair, 14 (2000) 33-41.

22 Schaefer, S.Y., Haaland, K.Y. and Sainburg, R.L., Hemispheric specialization and functional impact of ipsilesional deficits in movement coordination and accuracy, Neuropsychologia, 47 (2009) 2953-66.

23 Vega-Gonzalez, A. and Granat, M.H., Continuous monitoring of upper-limb activity in a free-living environment, Arch Phys Med Rehabil, 86 (2005) 541-8.

24 Schaefer, S.Y., Haaland, K.Y. and Sainburg, R.L., Ipsilesional motor deficits following stroke reflect hemispheric specializations for movement control, Brain, 130 (2007) 2146-58.

25 Alt Murphy, M., Willen, C. and Sunnerhagen, K.S., Kinematic variables quantifying upper-extremity performance after stroke during reaching and drinking from a glass, Neurorehabil Neural Repair, 25 (2011) 71-80.

26 Ketcham, C.J., Rodriguez, T.M. and Zihlman, K.A., Targeted aiming movements are compromised in nonaffected limb of persons with stroke, Neurorehabil Neural Repair, 21 (2007) 388-97.

27 McCrea, P.H., Eng, J.J. and Hodgson, A.J., Biomechanics of reaching: clinical implications for individuals with acquired brain injury, Disabil Rehabil, 24 (2002) 534-41.

28 Glover, S., Separate visual representations in the planning and control of action, Behav Brain Sci, 27 (2004) 3-24; discussion 24-78.

29 Dounskaia, N., Wisleder, D. and Johnson, T., Influence of biomechanical factors on substructure of pointing movements, Exp Brain Res, 164 (2005) 505-16.

30 Gordon, J., Ghilardi, M.F. and Ghez, C., Accuracy of planar reaching movements. I. Independence of direction and extent variability, Exp Brain Res, 99 (1994) 97-111.

31 Munro, H., Plumb, M.S., Wilson, A.D., Williams, J.H. and Mon-Williams, M., The effect of distance on reaction time in aiming movements, Exp Brain Res, 183 (2007) 249-57.

32 Christe, B., Burkhard, P.R., Pegna, A.J., Mayer, E. and Hauert, C.A., Clinical assessment of motor function: a processes oriented instrument based on a speed-accuracy trade-off paradigm, Behav Neurol, 18 (2007) 19-29.

33 Barthelemy, S. and Boulinguez, P., Manual asymmetries in the directional coding of reaching: further evidence for hemispatial effects and right hemisphere dominance for movement planning, Exp Brain Res, 147 (2002) 305-12.

34 Boulinguez, P., Nougier, V. and Velay, J.L., Manual asymmetries in reaching movement control. I: Study of right-handers, Cortex, 37 (2001) 101-22.

35 Carson, R.G., Chua, R., Goodman, D., Byblow, W.D. and Elliott, D., The preparation of aiming movements, Brain Cogn, 28 (1995) 133-54.

36 Mieschke, P.E., Elliott, D., Helsen, W.F., Carson, R.G. and Coull, J.A., Manual asymmetries in the preparation and control of goal-directed movements, Brain Cogn, 45 (2001) 129-40.

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37 Elliott, D., Heath, M., Binsted, G., Ricker, K.L., Roy, E.A. and Chua, R., Goal-Directed Aiming: Correcting a Force-Specification Error With the Right and Left Hands, J Mot Behav, 31 (1999) 309-324.

38 Smiley-Oyen, A.L. and Worringham, C.J., Peripheral constraint versus on-line programming in rapid aimed sequential movements, Acta Psychol (Amst), 108 (2001) 219-45.

39 Fitts, P.M., The information capacity of the human motor system in controlling the amplitude of movement, J Exp Psychol, 47 (1954) 381-91.

40 Nowak, D.A., Grefkes, C., Dafotakis, M., Kust, J., Karbe, H. and Fink, G.R., Dexterity is impaired at both hands following unilateral subcortical middle cerebral artery stroke, Eur J Neurosci, 25 (2007) 3173-84.

41 Haaland, K.Y., Elsinger, C.L., Mayer, A.R., Durgerian, S. and Rao, S.M., Motor sequence complexity and performing hand produce differential patterns of hemispheric lateralization, J Cogn Neurosci, 16 (2004) 621-36.

42 Herbort, O. and Butz, M.V., Anticipatory planning of sequential hand and finger movements, J Mot Behav, 41 (2009) 561-9.

43 Ma, H.I. and Trombly, C.A., Effects of task complexity on reaction time and movement kinematics in elderly people, Am J Occup Ther, 58 (2004) 150-8.

44 Fitts, P.M. and Peterson, J.R., Information Capacity of Discrete Motor Responses, J Exp Psychol, 67 (1964) 103-12.

45 Dounskaia, N., Ketcham, C.J. and Stelmach, G.E., Commonalities and differences in control of various drawing movements, Exp Brain Res, 146 (2002) 11-25.

46 Dounskaia, N.V., Ketcham, C.J. and Stelmach, G.E., Influence of biomechanical constraints on horizontal arm movements, Motor Control, 6 (2002) 366-87.

47 Sainburg, R.L., Evidence for a dynamic-dominance hypothesis of handedness, Exp Brain Res, 142 (2002) 241-58.

48 Sainburg, R.L. and Kalakanis, D., Differences in control of limb dynamics during dominant and nondominant arm reaching, J Neurophysiol, 83 (2000) 2661-75.

49 Elliott, D., Roy, E.A., Goodman, D., Carson, R.G., Chua, R. and Maraj, B.K.V., Asymmetries in the preparation and control of manual aiming movements. , Canadian Journal of Experimental Psychology, 47 (1993).

50 Schmidt, R. and Wrisberg, C., Aprendizagem e perfomance motora: uma abordagem da aprendizagem baseada no problema,2 edn., 2001.

51 Smiley-Oyen, A.L., Lowry, K.A. and Kerr, J.P., Planning and control of sequential rapid aiming in adults with Parkinson's disease, J Mot Behav, 39 (2007) 103-14.

52 Harrington, D.L. and Haaland, K.Y., Hemispheric specialization for motor sequencing: abnormalities in levels of programming, Neuropsychologia, 29 (1991) 147-63.

53 Kamper, D.G., McKenna-Cole, A.N., Kahn, L.E. and Reinkensmeyer, D.J., Alterations in reaching after stroke and their relation to movement direction and impairment severity, Arch Phys Med Rehabil, 83 (2002) 702-7.

54 Sunderland, A., Bowers, M.P., Sluman, S.M., Wilcock, D.J. and Ardron, M.E., Impaired dexterity of the ipsilateral hand after stroke and the relationship to cognitive deficit, Stroke, 30 (1999) 949-55.

55 Yelnik, A., Bonan, I., Debray, M., Lo, E., Gelbert, F. and Bussel, B., Changes in the execution of a complex manual task after ipsilateral ischemic cerebral hemispheric stroke, Arch Phys Med Rehabil, 77 (1996) 806-10.

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56 Voos, M.C., Piemonte, M.E.P. and Valle, L.E.R.d., Assimetrias funcionais em pacientes com hemiparesia: uma revisão de literatura, Fisioterapia e Pesquisa, 14 (2007) 79-87.

57 Haaland, K.Y. and Harrington, D.L., Limb-sequencing deficits after left but not right hemisphere damage, Brain Cogn, 24 (1994) 104-22.

58 Hermsdorfer, J., Laimgruber, K., Kerkhoff, G., Mai, N. and Goldenberg, G., Effects of unilateral brain damage on grip selection, coordination, and kinematics of ipsilesional prehension, Exp Brain Res, 128 (1999) 41-51.

59 Schaefer, S.Y., Haaland, K.Y. and Sainburg, R.L., Dissociation of initial trajectory and final position errors during visuomotor adaptation following unilateral stroke, Brain Res, 1298 (2009) 78-91.

60 Lin, K.C., Wu, C.Y., Lin, K.H. and Chang, C.W., Effects of task instructions and target location on reaching kinematics in people with and without cerebrovascular accident: a study of the less-affected limb, Am J Occup Ther, 62 (2008) 456-65.

61 Wu, C.Y., Wong, M.K., Lin, K.C. and Chen, H.C., Effects of task goal and personal preference on seated reaching kinematics after stroke, Stroke, 32 (2001) 70-6.

62 Brucki, S., Nitrini, R., Caramelli, P., Bertolucci, P.F. and Okamoto, I., Sugestões para o uso do mini-exame do estado mental no Brasil Arq. Neuro-Psiquiatr, 61 (2003).

63 Maki, T., Quagliato, E., Cacho, E., Paz, L., Nascimento, N., Inoue, M. and Viana, M., Estudo de confiabilidade da aplicação da escala de Fugl-Meyer no Brasil, Revista Brasileira de Fisioterapia, 10 (2006) 177-183.

64 Mathiowetz, V., Kashman, N., Volland, G., Weber, K., Dowe, M. and Rogers, S., Grip and Pinch Strenght: Normative Data for Adults, Arch Phys Med Rehabil, 66 (1985).

65 Fisk, J.D. and Goodale, M.A., The effects of unilateral brain damage on visually guided reaching: hemispheric differences in the nature of the deficit, Exp Brain Res, 72 (1988) 425-35.

66 Smutok, M.A., Grafman, J., Salazar, A.M., Sweeney, J.K., Jonas, B.S. and DiRocco, P.J., Effects of unilateral brain damage on contralateral and ipsilateral upper extremity function in hemiplegia, Phys Ther, 69 (1989) 195-203.

67 Freitas, S.M. and Scholz, J.P., Does hand dominance affect the use of motor abundance when reaching to uncertain targets?, Hum Mov Sci, 28 (2009) 169-90.

68 Haaland, K.Y. and Harrington, D.L., Hemispheric control of the initial and corrective components of aiming movements, Neuropsychologia, 27 (1989) 961-9.

69 Sidaway, B., Yook, D. and Russell, D., Distributed Control in Rapid Sequential Aiming Responses, J Mot Behav, 31 (1999) 367-379.

70 Fang, Y., Yue, G.H., Hrovat, K., Sahgal, V. and Daly, J.J., Abnormal cognitive planning and movement smoothness control for a complex shoulder/elbow motor task in stroke survivors, J Neurol Sci, 256 (2007) 21-9.

71 Rohrer, B., Fasoli, S., Krebs, H.I., Hughes, R., Volpe, B., Frontera, W.R., Stein, J. and Hogan, N., Movement smoothness changes during stroke recovery, J Neurosci, 22 (2002) 8297-304.

72 Sugarman, H., Avni, A., Nathan, R., Weisel-Eichler, A. and Tiran, J., Movement in the ipsilesional hand is segmented following unilateral brain damage, Brain Cogn, 48 (2002) 579-87.

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73 Harrington, D.L. and Haaland, K.Y., Motor sequencing with left hemisphere damage. Are some cognitive deficits specific to limb apraxia?, Brain, 115 ( Pt 3) (1992) 857-74.

74 van Doorn, R.R., The temporal locus of the one-target advantage in rapid aimed movements, Motor Control, 12 (2008) 109-21.

75 van Donkelaar, P. and Franks, I.M., Preprogramming vs. on-line control in simple movement sequences, Acta Psychol (Amst), 77 (1991) 1-19.

76 Adam, J.J., Nieuwenstein, J.H., Huys, R., Paas, F.G., Kingma, H., Willems, P. and Werry, M., Control of rapid aimed hand movements: the one-target advantage, J Exp Psychol Hum Percept Perform, 26 (2000) 295-312.

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ANEXOS

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ANEXO 1: APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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ANEXO 2: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ANÁLISE DO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE TAREFAS MOTORAS DE DIFERENTES COMPLEXIDADES EM PACIENTES PÓS ACIDENTE VASCULAR

ENCEFÁLICO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

O Sr(a) _________________________________________________________

RG no _____________________________, nascido em __________________,

do sexo _______________________, residente a________________________

_______________________________________________________________

na cidade de _________________________, está sendo convidado a participar de

um estudo cujo objetivo é avaliar o desempenho de indivíduos na realização de

movimentos de membros superiores.

O Sr.(a) será posicionado sentado confortavelmente em frente a uma mesa e

terá o seu tronco estabilizado na cadeira por meio de uma faixa de velcro. Nesta

mesa Sr.(a) verá um monitor e em frente à ele uma superfície digitalizadora, que é

sensível aos traçados realizados sobre ela por meio de uma caneta especial. Serão

apresentados alvos no monitor e o Sr.(a) deverá realizar traçados para estes alvos o

mais rapidamente possível, de acordo com as orientações do pesquisador. O

desenho gerado pelo traçado será registrado para posterior análise. O Sr.(a)

realizará tarefas que envolvem diferentes alvos e sequências, de mais simples a

mais complexas. Essas tarefas serão realizadas com o seu braço menos acometido.

Entre as tarefas haverá tempo para descanso. Nenhum dos procedimentos é

invasivo ou envolve qualquer risco potencial para sua saúde.

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Qualquer dúvida ou esclarecimento poderão ser dados pela pesquisadora

responsável, Prof.ª Dr.ª Sandra Regina Alouche, que pode ser encontrada na

Universidade Cidade de São Paulo, Rua Cesário Galeno, 475, CEP 03071-000,

Tatuapé, Telefone: (011) 21781479.

O Sr (a). tem garantia de sigilo de todas as informações coletadas e pode

retirar seu consentimento a qualquer momento, sem nenhum prejuízo ou perda de

benefício.

Declaro ter sido informado e estar devidamente esclarecido sobre os objetivos

deste estudo e os procedimentos aos quais estarei sendo submetido, e sobre os

riscos e desconfortos que poderão ocorrer. Recebi garantias de total sigilo e de obter

novos esclarecimentos sempre que desejar. Assim, concordo em participar

voluntariamente deste estudo e sei que posso retirar meu consentimento a qualquer

momento, sem nenhum prejuízo ou perda de qualquer benefício.

Data: _____ / ______ / ________

_____________________________________________

Assinatura do sujeito da pesquisa ou representante legal

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ANEXO 3: FICHA DE TRIAGEM

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ANEXO 4: TESTE DE DOMINÂNCIA MOTORA MANUAL (Oldfield 1971)

Por favor, indique sua preferência manual nas seguintes atividades, assinalando + na coluna

apropriada. Quando sua preferência for tão forte de modo a você não ser capaz de usar a outra mão,

assinale ++. Se não existir preferência, assinale + nas duas colunas.

Esquerda Direita

1 Escrever

2 Desenhar

3 Jogar uma pedra

4 Usar uma tesoura

5 Escovar os dentes

6 Usar uma faca (sem o garfo)

7 Usar uma colher

8 Usar uma vassoura (mão superior)

9 Acender um fósforo

10 Abrir a tampa de um vidro (mão que segura a tampa)

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ANEXO 5: MINI-EXAME DE ESTADO MENTAL (MEEM)

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ANEXO 6: ESCALA DE FULG-MEYER

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